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INTRODUÇÃO
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Artigo apresentado como requisito parcial de conclusão do curso de Letras pelo Programa
Especial de Segunda Graduação, no curso de LETRAS, mediante acordo de convênio
consolidado entre os parceiros: FACIG, FAERPI, FAISA e INET em consonância com a
Legislação vigente (Lei nº 9394/96, Parecer CNE/CES nº 744/97 e Lei nº 11.788/08).
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Aluno do curso de Segunda Graduação em Letras. Matrícula R.A. nº LES-00057.
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socioeducativa de internação, sobretudo ao observar o modo e a freqüência com
que realizavam leituras diversas, nos momentos de lazer.
Durante o estágio observou-se a ausência de um incentivo por parte dos
professores de língua portuguesa em não contemplarem em suas aulas nenhuma
menção a obras literárias brasileiras tão pouco de outras. Contudo, o cotidiano dos
adolescentes neste CASA, sobretudo no horário de lazer desses educandos, era
permeado de acesso a livros de diversos temas, isto é: auto-ajuda, histórias em
quadrinhos, literatura nacional, e literatura de autores estrangeiros, aventura,
suspense e até mesmo livros didáticos eram disponibilizados.
Esse fato chamou-me a atenção e pude identificar um número significativo de
alunos despertados pela leitura, contudo, sem nenhum direcionamento pelos
professores. Nas aulas observadas, há o predomínio de conteúdos de gramática
sem nenhuma proposta que levassem os educandos a compreenderem o sentido da
literatura nacional.
Assim, enseja-se que as informações aqui apresentadas nos referenciais
bibliográficos durante a pesquisa possibilitem ampliar e desenvolver novos saberes
sobre a temática desenvolvida; e que os resultados possam auxiliar em
apontamentos para um melhor aproveitamento da leitura em suas diversas
possibilidades.
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Segundo Cosson (2006, p. 102): “o letramento literário faz parte dessa expansão do uso do termo
letramento, isto é, integra o plural dos letramentos, sendo um dos usos sociais da escrita. Todavia, ao
contrário dos outros letramentos e do emprego mais largo da palavra para designar a construção de
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percepção social. Os alunos, nessa perspectiva aprendem a ler e a escrever
tornando-se pessoas com um diferencial social e com aumento de repertório
lingüístico. O papel relevante da literatura é refletido por Cosson (2006, p.17), o qual
afirma:
É possível inferir que as obras literárias fazem com que os alunos sejam
transportados para um mundo não real e ao mesmo tempo trazer esse mundo não
real para a realidade. A literatura pode, assim, transportar o aluno leitor para outros
universos e auxiliar na construção e na reconstrução de sua subjetividade e olhar o
mundo com outras perspectivas.
Abramovich (1997, p.17) destaca que ao ler diferentes obras o aluno pode
sentir emoções importantes, “como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o
medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e
viver profundamente tudo o que as narrativas provocam [...]”. A leitura torna com que
a as pessoas entendam melhor o mundo que as cerca, visando uma comunicação
mais assertiva sobre determinados assuntos ou temas.
Diferentes autores discutem e refletem acerca da importância do ensino de
literatura visando à formação de alunos leitores e apreciadores dos clássicos da
literatura nacional, especialmente, e de outras reconhecidas mundialmente como,
por exemplo, a obra de Fiódor Dostoiévski, dentre outros.
Por esse motivo, essa pesquisa de cunho bibliográfico, com o amparo da
pesquisa de campo, visa trazer em discussão aportes que argumentem a favor
dessa questão, sobretudo o ensino da leitura nas aulas de literatura. Além disso, as
sentido em uma determinada área de atividade ou conhecimento, o letramento literário tem uma
relação diferenciada com a escrita e, por conseqüência, é um tipo de letramento singular”.
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reflexões advindas neste ensaio visam trazer em discussão possíveis metodologias
que podem favorecer a prática do letramento literário para alunos da educação
básica que tem acesso as aulas de língua portuguesa.
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considerável em relação à disseminação do ensino de literatura e do costume de
leitura e inaugurou-se, sobretudo no século XXI a conhecida “Crise da Leitura”.
Em princípio, diferentes autores destacam que essa crise ficou presente no
ambiente escolar, tendo em vista a entrada de alunos que faziam parte de uma
camada social com menos recursos financeiros ou de pouco ou nenhum acesso aos
bens materiais/culturais considerados eruditos.
A leitura era um bem efetivado entre os alunos mais favorecidos
financeiramente e culturalmente, ou seja, não ocupava o mesmo lugar no contexto
social e familiar de alunos pobres os quais começavam a adentrarem no ambiente
escolar no início do século XX (SEGABINAZI, 2013).
A ausência de contato com as obras literárias poderia estar relacionada aos
aspectos econômicos, uma vez que a grande maioria dos pais e responsáveis pelos
alunos menos favorecidos economicamente eram trabalhadores operários. Nessas
famílias não havia tradição nem tão pouco incentivo a leitura. Já os alunos das
classes burguesas eram incluídos, desde a infância, num universo cujos pais eram
leitores em meio a uma quantidade de recursos que poderiam promover o hábito da
leitura bem como o incentivo a essa prática.
A ausência do hábito pela leitura foi atribuída a esses novos alunos por um
longo período, isto é, responsabilizou-se a eles o esvaziamento pelo gosto e pelo
costume das obras literárias.
De acordo com Nobile (2003, p. 29): “o primeiro passo para a formação do
hábito de leitura é a oferta de livros próximos à realidade do leitor, que levantem
questões significativas a ele. Também o trabalho com a literatura requer o mesmo
direcionamento”. Essa proposta talvez seja uma dos elementos que auxiliem no
incentivo à leitura; o professor é, portanto, o mediador responsável por essa ação.
No início do século XX, até os dias atuais, houve a necessidade de a escola
adequar-se a esses alunos e buscar formas de mostrar-lhes as obras literárias
visando à assimilação pelo gosto da leitura. Além disso, houve a necessidade criar
políticas públicas educacionais de incentivo a leitura e um aparelhamento qualitativo
de acervo das bibliotecas escolares como aponta Vieira (2008).
Contudo, os aspectos concernentes ao distanciamento do hábito pela leitura
nas escolas deveriam estar muito além da simples quantidade de acervos
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bibliográficos, mas de metodologias que incentivassem o acesso dessas obras com
um direcionamento didático que conquistasse os alunos.
Inúmeros questionamentos em relação à organização dos espaços das
bibliotecas de escolas públicas em relação aos profissionais que seriam destinados
por mediar o livro e o aluno-leitor foram investigados conforme apontam as
pesquisas de Paulino (2006), Cosson (2006) e Rösing (2009).
Vieira (2008) constata que boa parte das bibliotecas presentes em escolas
brasileiras possuía profissionais sem capacitação e formação na área de atuação,
fato este que resultava numa problemática para, por exemplo, indicar a leitura dos
grandes clássicos da literatura. Além disso, essa carência na formação desses
profissionais impossibilitava que planejassem ações pedagógicas que pudessem
ampliar a forma que os alunos encaravam o ambiente da biblioteca.
Estamos no ano de 2017 e anos se passaram desde que Ziberman (1991)
trouxe em discussão o que chamou de “Crise na leitura”. O que parece, tendo em
vista pesquisas neste âmbito, é que estamos cotidianamente mergulhados no
excesso de julgamentos cujo centro está a ausência de educandos leitores nas
escolas.
Diversas pesquisas são realizadas visando à compreensão das possíveis
causas que culminaram no rompimento do habito da leitura em salsa de aula na
contemporaneidade em face à valorização das aulas de literatura no ambiente
escolar. Arana e Klebis (2015, p. 26671) refletem o quanto a escola despreparada
em suas dimensoes administrativas e pedagógicas produz a falta de incentivo para
alunos e alunas sentirem-se atraídas pela leitura. Para essas autoras:
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autora apontam uma tendência, por parte dos professores, de utilizarem a literatura
para realização de exercícios e análises gramaticais.
Ainda conforme Silva (2012) alguns professores indicam uma falta de
interesse dos alunos por textos literários em detrimento da utilização das novas
tecnologias, sobretudo as redes sociais facilmente e atrativamente acessadas por
aparelhos celulares.
Ao que parece os textos literários tem desaparecido no ambiente escolar e
seu uso não tem sido aproveitado para que o aluno compreenda a importância no
seu desenvolvimento educativo escolar e como meio de analisar e compreender a
sociedade em que vive.
No próximo tópico traçam-se alguns apontamentos teóricos que visam refletir
possíveis metodologias para que professores encontrem possíveis caminhos de
incentivo a leitura na educação básica.
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Diferentes e variadas investigações científicas da área de humanas afirmam
que a escola deixa a leitura à deriva sem rumo, apenas ensinando sobre a leitura
sem ter profundidade no assunto, não formando verdadeiros leitores.
Conforme já apontamos, existe uma situação de crise nas escolas, pois o
desafio é formar leitores com criticidade, posto que ela [a leitura] é uma mera
decodificação, e o leitor como alfabetizado. Silva (1989) confirma esse cenário e dá
ênfase à crise “da leitura na escola” ao identificar a relação triangular existente entre
o leitor, o texto e a realidade social.
Neste âmbito de crise “da leitura na escola”, Perroti (1993, p. 83) considera
que promover a leitura de forma isolada já não basta mais. “É imprescindível refleti-
la no contexto de um processo de produção cultural da sociedade e da escola”.
Os PCN (BRASIL, 1998, p. 14) orientam em relação “à compreensão da
leitura como uma pratica social complexa, e isso requer sua inserção, em sala de
aula”. A leitura é de suma importância e essencial na concretização do processo
ensino-aprendizagem dos educandos. Ler obras literárias abre espaço para a
criação de uma dependência leitora, fator este que facilita aos alunos a
compreensão de outros sabres advindos de diferentes disciplinas.
Assim, as práticas de leitura em sala de aula com o incentivo e esforço do
professor podem tornar cada aluno leitor fiel. Ainda de acordo com as orientações
dos PCNs:
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de
selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que
podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar
estratégias de leitura adequada para abordá-los de formas a atender
a essa necessidade (BRASIL, 1998; p. 15).
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projeto/sarau pode levar a formação de um leitor competente e por que não na
formação de leitores e escritores/produtores de poemas e outros gêneros.
No estágio realizado para compor parte da formação em letras, pude observar
o quanto os alunos/adolescentes internos da Fundação Casa estão ávidos pela
leitura. Talvez o confinamento lhe proporcione um comportamento de introspecção o
qual por meio da leitura encontram mais sentido neste momento em que vivem.
Ao que pude constatar, faltam propostas de incentivo a leitura de uma
maneira sistemática, sobretudo voltada às atribuições dos professores. Nas aulas de
língua portuguesa, há o predomínio de exercícios gramaticais e pouca ou quase
nenhuma menção as obras literárias brasileiras.
Não foi possível identificar também nenhuma orientação de leitura seja ela
qual for. Mas, os alunos em momentos de lazer eram vistos, em sua maioria,
realizando leituras diversas como já pontuamos no início deste artigo. Falta-lhes um
direcionamento para que compreendam o que aduz Marcushi (2010), isto é, que
sintam na leitura o vínculo com “a vida cultural e social” e saibam dessa importância
para vivenciarem atmosferas educativas que garantam o seu ser-estar no mundo
como reflete Freire (1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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longo da vivência de estágio para regência e observação das aulas de língua
portuguesa. Essa experiência revelou que dos três docentes que ministram aulas de
língua portuguesa, há a ausência de uma metodologia voltada para o ensino de
literatura, o que corrobora com as reflexões teóricas no que tange ao esvaziamento
dessa prática nos tempos atuais.
É importante também citar, que na escola pesquisada não havia um ambiente
voltado à biblioteca. Os alunos recebiam os livros dos pedagogos socioeducativos
uma vez por semana, por meio do que eles chamavam de biblioteca itinerante. Os
livros ficavam disponíveis numa caixa de plástico e os alunos os pegavam nos
momentos de lazer ou com o tempo livre.
Isto posto, é evidente que professores de língua portuguesa, pedagogos e
pais tem sua parcela de colaboração no sentido de investirem na formação de
leitores quando da passagem destes na educação básica. Certamente dado esse
incentivo, sobretudo pela escola, pode haver um maior sucesso não só no
desenvolvimento do hábito de ler dos educandos, como também no aprimoramento
de aspectos sociais, cognitivos, lingüísticos e criativos tão importantes na formação
da cidadania.
Para que essa proposta ganhe copo, é importante e imprescindível que a
formação docente seja dinâmica e constante visando desenvolver novas e
inovadoras práticas de incentivo à leitura. Isso certamente passa por uma formação
em que o docente também seja por experiência um leitor. A escola, por meio do
ensino de Literatura, deve, assim, ser um espaço que estabeleça a mediação para
que os educandos despertem na leitura um momento de prazer, de lazer e de
emoção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
DALVI, Maria Amélia; RESENDE, Neide L.; JOVER-FALEIROS, Rita (orgs). Leitura
de literatura na escola. São Paulo: Parábola, 2013. COSSON, Rildo. Letramento
literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
em: 01 de agosto de 2017.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
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SILVA, Ana Cristina Champoudry Nascimento da. Entre a Crise e a Mudança: a
constituição do ensino de leitura como objeto de pesquisa em investigações
acadêmicas. 2012. 105f. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação.
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
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