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ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO (FICHAMENTO)

Thiago César Carvalho dos Santos

Dia 02-04

Texto base: Problemas de Gênero - feminismo e subversão da identidade

Capítulo 1: Sujeitos do sexo/gênero/desejo. Seção 6: Linguagem, poder e estratégias de


deslocamento.

Judith Butler inicia a seção ressaltando a teoria de Monique Wittig a qual delineia uma construção
performativa de gênero nas práticas materiais da cultura, questionando explicações que confundem
“causa” como “resultado”. Assim, que pensaríamos como causa da opressão, nada mais seria a
marca dessa mesma: “o mito da mulher”. A premissa de Wittig é boa, qual seja que práticas que
efetivamente contestem a instituição da heterosexualidade compulsória, poderiam apagar ou
obscurecer a marca do sexo. Desta forma, o desejo homossexual, transcenderia a categoria dos
sexos, como subversão ou proliferação dessas.

Essa premissa é radicalmente diferente de Luce Irigaray, que entende a “marca” de gênero como
constitutiva da economia significante hegemônica do masculino. Sendo assim, a linguagem
determinaria ontologicamente as estruturas e seres. Wittig discorda dizendo que a linguagem não
seria um instrumento misógino em suas estruturas, e que teorias como a Irigaray reconsolidariam a
lógica binária de masculino e feminino.

Assim, Wittig contrói uma economia alternativa dos prazeres, organizada para além da construção
reprodutiva da genitalidade. Podendo ser considerada uma leitura “invertida” de Três ensaios sobre a
teoria da sexualidade de Freud, “O corpo lésbico” valoriza outros aspectos da sexualidade, em uma
“política pós-genital”.

Contudo, não estaria a inversão de Wittig presa novamente na relação binária oposicional? O
perverso-polimorfo1 passa então a ser o telos da sexualidade humana.

Butler afirma que uma resposta psicanalítica feminista possível para a Wittig é que ela subteoria e
subestima o significado e a função da linguagem em que ocorre a “marca do gênero”. Explica que,
em Lacan, como na reformulação pós-lacaniana de Freud por Irigaray, o “sujeito” masculino é uma
construção fictícia, produzida pela lei que proíbe o incesto (Édipo) e impõe um deslocamento infinito
do desejo heterossexualizante. Por sua vez, o feminino nunca é uma marca do sujeito, mas da falta,
significada pelo simbólico. Assim, as posições masculinas e femininas são instituídas por meio das
leis proibitivas.

Cita, então, os trabalhos de Jaqueline Rose e Jane Galop, que teorizam o feminino como uma
ausência não representável, produzida pela negação (masculina). É nessa perspectiva, como
repudiado/excluído, que o feminino constituiria uma possibilidade de crítica e ruptura com esse
esquema conceitual hegemônico. Ressaltam a instabilidade inerente da diferença sexual, eis que a
proibição (lei paterna) que contrói a identidade seria ineficaz, permitindo o ressurgimento do
recalcado, denunciando sua incoerência.

A partir desses três eixos de teorias acerca da construção da diferença sexual, Butler aponta que
haveria uma disputa normativa se haveria uma sexualidade resgatável “antes” (Irigaray), “fora” (Rose)

1
Capacidade de experienciar prazer de múltiplas maneiras, como os bebês.
ou “depois” (Wittig) da lei. Ressalta a falta de acorco em como delimitar essa “lei” ou conjunto de
“leis”.

Trás então os ensinamentos de Foucault para relembrar que sexualidade e poder são extensivos, e
não seria possíovel uma sexualidade subversiva ou emancipatória que possa ser livre da lei, já que
essa é fundada e produzida pela proibição hegemônica. Aponta, que o foco não deve ser na “lei” ou
“leis”, que são invariavelmente e inopinadamente produtivas, mas no poder. Esse último, que abrange
as funções ou relações diferenciais jurídicas (proibitivas e reguladoras), mas também as produtivas
(inintencionamente generativas). Tais produções sim se desviam de seus proprósitos originais e
movilizam inadvertidamente possibilidades de “sujeitos”.

Afirma serem problemáticas tanto uma sexualidade pós-genital de Wittig, eis que continua a construir
a sexualidade das mulheres nos termos de uma homosexualidade ou lesbianismo “liberados”, quanto
o retorno de Irigaray à biologia, já que acaba por excluir/descartar aquelas mulheres que não
compreendem sua sexualidade como parcialmente construída nos termos da economia fálica.

Se a sexualidade é sempre construída nos termos do discurso e do poder, uma sexualidade


normativa “antes”, “fora” ou “além” torna-se uma impossibilidade cultural, e essa ideia acaba por adiar
a tarefa de repensar possibilidades subversivas da sexualidade eda identidade nos próprios termos
do poder.

Assim, Butler tenta pensar como operar no interior da matris do poder, por meio da repetição de uma
lei, que não represente sua consolidação, mas seu deslocamento. E se pergunta se haveriam formas
de repetião que não constituam simples imitação, reprodução e, consequentemente, consolidação da
lei?

A sugestão de resposta surge da relação entre cópia para o original, que é a mesma de uma cópia
para uma cópia. Assim, o original nada mais é do que uma paródia da ideia do natural e do original.
As ambiguidades e incoerências nas práticas heterossexual, homossexual e bissexual, suprimidas e
redescritas no interior da estrutura, são configurações culturais de confusão do gênero que operam
como lugares de intervenção, denúncia e deslocamento dessas reificações.

Butler então se pergunta o que constituiria a possibilidade de inversão, subversão ou deslocamento


efetivos nos termos de uma identidade constituída, já que os regimes de poder do heterossexualismo
e do falocentrismo buscam o tempo todo se implementar pela repetição constante de sua lógica/sua
ontologia? Afirma que se as ficções reguladoras do sexo e do gênero são, elas próprias, lugares de
significado multiplamente contestado, então essa própria mulplicidade de sua construção oferece a
possibilidade de uma ruptura de sua postulação unívoca.

Butler não quer fazer uma ontologia do gênero, mas uma genealogia da ontologia do gênero,
buscando compreender a produção discursiva da plausibilidade dessa relação binária. O gênero é a
estilização repetida do corpo, um conjunto de atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora
altamente ríogida. Assim, a genealogia política das ontologias do gênero desconstruiria a aparência
substantiva do gênero. Nosso trabalho seria, agora, mostrar como a própria noção de sujeito, só
inteligível por meio de sua aparência de gênero, admite possibilidades excluídas à força.

Assim, inicia a próxima sessão apotando que o sexo, já não mais visto como uma “verdade”, mas
uma significação performativamente ordenada, pode ocasionar a proliferação parodística e o jogo
subversivo dos significados de gênero.
Capítulo 3: Atos corporais subversivos. Sessão 4: Inscrições corporais, subversões performativas. p.
188-201.

Butler inicia o capítulo apontando que as teorias e as políticas feministas, em sua grande parte, tem
se preocupado com a elaboração de uma “política das mulheres”, a partir da identidade feminina.
Questiona então como essa identidade é modelada, e o que circunscreveria esse lugar como “corpo
feminino”. Por sua vez, aponta que a própria caracterização sexual parece pressupor uma
generalização do “corpo” que tem precedentes cristãos e cartesianos. O corpo é visto como um vazio
profano, matéria inerte que nada significa. Essas estruturas não fogem, assim do dualismo e sua
hierarquia implícita, eis que mente/corpo são redescritos como cultura/natureza.

E então vai tentando ver o papel do corpo em Foucault, já que aparentemente esse tem sido dado
como um dado prima facie, sem admitir uma genealogia. Foucault aponta o corpo como a superficie
inscrida pelos acontecimentos. Sendo assim, o objetivo da história seria sempre destruir o corpo.
Esse estaria sempre sitiado, sendo sujeitado pelos valores e significados da história – uma destruição
sacrificial.

Entretanto, se é pressuposta uma destruição, é possível se afirmar um corpo anterior à sua inscrição
cultural, uma materialidade anterior à significação e à forma. Recusada a presunção de existência de
algum tipo de fonte pré-categórica de ruptura, ainda será possível dar uma explicação genealógica da
demarcação do corpo como essa prática significante?

Butler utiliza a teoria de Mary Douglas, que sugere que os próprios contornos do “corpo” são
estabelecidos por meio de marcoções que buscam estabelecer códigos específicos de coerência
cultural (natureza/cultura), como um ponte de partida para compreender a correlação pela qual os
tabus sociais instituem e mantem as fronteiras do corpo como tal. Ela sugere que o que constitui o
limite do corpo nunca é meramente natural, mas que a superfície, a pele, é sistematicamente
singificada por tabus e transgressões antecipadas. As fronteiras do corpo se tornam os limites do
social per se. Assim, “o corpo é um modelo que pode simbolizar qualquer sistema delimitado. Suas
fronteiras podem representar qualquer fronteira ameaçada ou precária”.

Todos sistemas sociais são vulneráveis em suas margens, e todas as margens seriam perigosas
(Douglas). Em se tratando do corpo, todo tipo de permeabilidade não regulada – um sistema aberto –
constitui lugar de poluição e perigo (ex. Sexo anal e oral entre homens, não sancionados pela ordem
hegemônica).

Por sua vez, esse conceito se converge com a discussão de Kristeva sobre a abjeção. O “abjeto”
designa aquilo que foi expelido do corpo, descartado como excremento, tornado literalmente “outro”.
A construção do “não eu” como abjeto estabelece as fronteiras do corpo, que são também os
primeiros contornos do sujeito.

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