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A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E A JUSTIÇA GRATUITA

NO PROCESSO DE CONHECIMENTO

Pedro Augusto Zaniolo

SUMÁRIO: 1. Introdução - 2. Histórico - 3. Requisitos para a obtenção do Benefício - 4. A


Assistência Judiciária e a Justiça Gratuita no Processo de Conhecimento - 5. O Papel
das Instituições de Ensino Superior e da Defensoria Pública no Acesso à Justiça - 6. Do
Cabimento do Benefício às Pessoas Jurídicas - 7. As Taxas Judiciárias - 8. Os
Honorários Advocatícios e de Perito - 9. Da Revogação do Benefício - 10. Da Cessação
da Exigibilidade - 11. Conclusão.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo destina-se a indigitar a funcionalidade dos institutos da


assistência judiciária e da justiça gratuita no processo civil brasileiro, bem como o
grau de relevância no processo de conhecimento, em particular.
A desigualdade social que assola nosso país representa entrave ao acesso
à Justiça. Um cidadão não pode depender de sua situação financeira para ingressar
em Juízo buscando a tutela jurisdicional, conforme rezam os princípios e ditames
constitucionais. A parte necessitada poderá, então, recorrer à assistência judiciária
gratuita, decorrência do Estado Democrático de Direito, passando a constituir
Defensor Público e obtendo dispensa das custas processuais, auferindo a
gratuidade da Justiça, instituto de direito pré-processual.
Ao mesmo tempo em que é condição primordial para o exercício da
cidadania, o acesso à Justiça também constitui preliminar lógica do exercício de
todos os demais direitos, provendo sustentação à dignidade que o conceito de ser
humano necessariamente envolve. (KNOERR).
No parecer de alguns doutrinadores, a expressão “assistência judiciária” é
mais abrangente que “justiça gratuita”. (ZANON, 1990, p. 26). Muito oportuna se
apresenta a lição do Prof. Nehemias Domingos de Melo (2004):

A Assistência Judiciária, enquanto instituto de direito administrativo, é posta


à disposição do hipossuficiente como condição primeira para seu ingresso
no judiciário, quando então, lhe é fornecido além das isenções de custas e
atos processuais, defensor público. De menor abrangência, o benefício da
justiça gratuita é instrumento eminentemente processual que pode ser
solicitado ao juiz da causa tanto no momento inaugural da ação quanto no
curso da mesma, significando dizer que a dispensa das despesas
processuais é provisória e condicionada à manutenção do estado de
pobreza do postulante, podendo ser revogada a qualquer tempo.
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Na prática, infelizmente nem tudo corre às mil maravilhas, conforme idealiza


a Constituição Federal pátria. Alguns Juízes sequer dão importância a esse louvável
instituto, muitas vezes deixando de analisar o pedido do benefício ou criando óbices
para a sua concessão. Conforme bem observa J. J. Calmon de Passos (2002), os
processos sob a égide do favor, adquirem maior lentidão, comparados aos demais:

E se não pretendermos fazer de conta que ignoramos a realidade, sabemos


perfeitamente que os processos em que os litigantes gozam do beneficio da
assistência judiciária gratuita andam mais lentos que a tartaruga da fábula,
sem contar com a vantagem que ela teve de o coelho cochilar à sombra da
árvore, o que jamais acontece com os litigantes abonados em relação a
seus adversários beneficiários da assistência judiciária gratuita.

2. HISTÓRICO

Não se pode precisar ao certo quando surgiram os primeiros traços dos


serviços de assistência judiciária à população carente.
O Código de Hamurabi, Rei da Babilônia, datado do séc. XXI a.C., com seu
texto de 3.600 linhas, distribuídos em 282 artigos, já contemplava os denominados
decretos de eqüidade. (ALTAVILA, 1995, p. 37-38). Historiadores o apontam como
primeiro documento realmente preocupado em evitar a discriminação nos
julgamentos. (ROCHA). Outros registros remontam à fundação de Roma (séc. VIII
a.C.), onde aos patronos (poderosos do povo), caberia a “proteção” dos menos
favorecidos (os clientes), explicando-lhes as leis, inclusive defendendo-os em Juízo.
(PLUTARCO, 1991, p. 64).
Em Atenas, coube ao legislador Sólon (séc. VI/VII a.C.) abolir as Leis de
Draco, instituindo o julgamento popular, onde os magistrados apenas o presidiam e
o povo era quem manifestava sua decisão, através de seixos brancos ou negros. Foi
um marco na evolução do direito de defesa, mas a preocupação com o acesso à
justiça permanecia em debate entre os filósofos gregos. A partir desse período, há
registros seguros do recolhimento de taxas visando à manutenção dos Juízos.
(ROCHA).
O advento do Cristianismo permitiu que se fizesse uma distinção entre as
esferas política e religiosa. (FERRAZ JR., 2001, p. 61). Sob essa influência, o
Imperador Constantino (séc. III/IV d.C.) promulgou o Edito de Milão, que proibia a
perseguição dos cristãos, bem como dava início ao processo de implantação do
Cristianismo como religião do Império. Teria sido o primeiro documento a determinar
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que os pobres estavam isentos do pagamento de custas e seriam defendidos


gratuitamente. Reconhecidamente, surge o embrião da assistência judiciária gratuita
com o intuito de garantir ao necessitado o acesso à Justiça. Entretanto, somente
mais tarde foi criada a assistência judiciária gratuita. (ROCHA).
A consolidação do Direito Romano deu-se com Justiniano (séc. V/VI d.C.),
com o Digesto ou Pandectas e as suas Institutas, passando à Idade Média como
Corpus Juris Civilis. E foi Justiniano quem incorporou definitivamente ao Direito
Romano a prática de dar advogado às partes que não o tivessem, transformando a
assistência judiciária em um dever do Estado. (ROCHA). Direito justinianeu,
portanto, é o decorrente do Corpus Juris Civilis, representando a fase terminal do
Direito de Roma, à qual se prendem as transformações posteriores. (CRETELLA
JÚNIOR, 2002, p. 12).
Durante o período medieval, praticamente nenhuma evolução significativa foi
registrada desde Justiniano. Na Inglaterra feudal (século XIII) surge a Magna Carta,
verdadeira linha divisória na história dos direitos e garantias individuais e, portanto,
do acesso à Justiça. Mais tarde, as idéias de Locke, Rousseau, Montesquieu e
outros filósofos europeus ganharam força mundial. (ROCHA).
Na Declaração de Direitos da Virgínia, em data de 12 de junho de 1776,
antecipando a Revolução Francesa, os norte-americanos afirmaram que “Todos os
homens nascem igualmente livres e independentes” e que “Toda autoridade
pertence ao povo”. (ALTAVILA, 1995, p. 251). A Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 1789, em seu art. 3º, aduzia que “O princípio de toda soberania
reside essencialmente na nação”, tendo análoga importância histórica. (FERRAZ
JR., 2001, p. 73).
A Revolução Francesa de 1789 é outro marco consagrado na evolução dos
direitos humanos. Porém, a assimilação da assistência judiciária como garantia
fundamental de acesso à Justiça só ocorreu em 1791, ou seja, posteriormente à
Constituição Americana. Somente em 22 de janeiro de 1851 foi publicado, na
França, o primeiro Código de Assistência Judiciária, oficializando essa denominação
ao serviço público de assistência jurídica ao cidadão. (ROCHA).
No Brasil, para o constitucionalista Celso Ribeiro Bastos (1989, p. 374-375),
a assistência judiciária tem suas raízes nas Ordenações Filipinas, diploma de suma
importância na história do Brasil porque, por força da Lei de 20 de outubro de 1823,
vigorou por estas terras até 1916, advento do Código Civil.
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A Constituição de 1934, em seu art. 113, nº 32, instituiu a concessão da


assistência judiciária aos cidadãos necessitados, criando órgãos especiais e
garantindo a isenção de emolumentos1, custas e taxas. (ROSAS, 1999, p. 47).
Em 1935 houve a implantação do primeiro serviço de assistência judiciária
promovido pelo governo brasileiro, no Estado de São Paulo e, em seguida, no Rio
Grande do Sul e Minas Gerais. (CAMPO, 2002, p. 7-8).
A Constituição de 1937, dita “Polaca”, restou silente quanto à matéria, que
somente foi disciplinada pelo Código de Processo Civil de 1939. Sete anos depois, o
art. 141, § 35, da Constituição Federal de 1946 restabelecia a garantia
constitucional. Até o surgimento da Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950, que
estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados,
fazia-se uma interpretação sistemática entre a Constituição vigente e o CPC de
1939. Não houve maiores modificações na CF de 1967, com a Emenda
Constitucional nº 01/69, haja vista que o benefício continuava a ser concedido aos
necessitados. (CAMPO, 2002, p. 8-9).
O Professor Luís Roberto Barroso (2001, p. 98), com a maestria que lhe é
peculiar, leciona que o artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988,
prevê, entre os direitos e garantias fundamentais, a assistência judiciária integral e
gratuita, proporcionada pelo Estado àqueles que comprovarem insuficiência de
recursos. Entretanto, visando facilitar o amplo acesso ao Poder Judiciário (inciso
XXXV), o ente estatal poderá conceder assistência judiciária gratuita, mediante
presunção juris tantum de pobreza, decorrente de asserção da parte de que não
possui condições de pagar as custas do processo e os honorários advocatícios sem
prejuízo do sustento próprio ou de sua família.
O supracitado dispositivo é complementado pelo inciso LXXVII: “São
gratuitas as ações de habeas corpus, e, na forma da lei, os atos necessários ao
exercício da cidadania”.

1
Para o Desembargador paulista Maurício Vidigal (2000, p. 28), os emolumentos “constituem a
contraprestação pecuniária recebida por delegados do Poder Público, chamados tradicionalmente de
escrivães”.
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3. REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO

O benefício da assistência judiciária gratuita será concedido tão-somente


aos que preencham os requisitos legais, com fulcro no art. 5º, inciso LXXIV da CF/88
e na Lei nº 1.060/502 (Lei de Assistência Jurídica ou LAJ).
Na exegese do art. 10, da LAJ, os benefícios são individuais (direito
personalíssimo). A concessão a um cônjuge, por exemplo, não é estendida em favor
do outro, nem se transfere a herdeiros e sucessores, havendo necessidade de
serem concedidos benefícios em casa caso ocorrente. Ainda, o deferimento em prol
de uma parte em um processo, não a exonera das custas e despesas em outro.
(VIDIGAL, 2000, p. 67).
O artigo 2º da Lei de Assistência Jurídica estabelece o seguinte:

Art. 2º - Gozarão dos benefícios desta lei os nacionais ou estrangeiros


residentes no País que necessitarem recorrer à justiça penal, civil, militar, ou
do trabalho.
Parágrafo único. Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele
cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

A lei prevê a concessão do benefício a estrangeiros, desde que residentes


no Brasil3. Brasileiros têm direito ao favor, mesmo residindo no exterior. (VIDIGAL,
2000, p. 23).
O conceito de necessitado está presente no parágrafo único do art. 2º. Não
importa se o requerente possui patrimônio, rendimentos, se constituiu advogado
particular ou está na absoluta miséria, para que seja beneficiário da justiça gratuita.
Mister se faz que, no momento, não possua condições de arcar com as custas e os
honorários, sem prejuízo próprio ou de sua família. Com efeito, preleciona Yussef
Said Cahali (1997, p. 155) que:

O beneficiário da gratuidade não consiste na isenção absoluta de custas e


honorários, mas na desobrigação de pagá-los enquanto persistir o estado
de carência, durante o qual ficará suspensa a exigibilidade do crédito até a
fluência do prazo de cinco anos, a contar da sentença final.

Neste sentido, oportuna a transcrição dos seguintes julgados:

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O texto original da lei, datado de 5 de fevereiro de 1950, foi modificado várias vezes, com última
alteração feita pela Lei nº 10.317, de 6 de dezembro de 2001.
3
Convenções entre o Brasil e outros países também poderão estabelecer o direito de estrangeiros
não residentes em nosso País de obter o benefício da assistência jurídica gratuita.
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AGRAVO DE INSTRUMENTO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA –


A concessão de Assistência Judiciária Gratuita independe da condição
econômica de pobreza ou miserabilidade da parte, importando sim a
demonstração de carência financeira, nem que seja ela momentânea,
conforme se depreende do art. 2º, § único da Lei 1.060/50 e artigo 5º,
LXXIV da CF. Agravo de instrumento. Decisão monocrática dando
provimento. (TJRS – AGI 70006492433 – 12ª C.Cív. – Rel. Des. Marcelo
Cezar Muller – J. 04.06.2003) (grifos nossos)

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – PRESENÇA DE REQUISITOS –


CONCESSÃO – RECURSO PROVIDO – Apresentando a requerente os
requisitos constantes no artigo 4º da Lei 1.060/50, impõe- se-lhe o
deferimento dos benefícios da gratuidade judiciária; não justificando, a sua
denegação, o fato de ter a solicitante constituído advogado particular.
(TJMG – AG 000.297.725-4/00 – 8ª C.Cív. – Rel. Des. Sérgio Braga – J.
10.02.2003) (grifos nossos)

O art. 5º, inciso LXXIV, da Carta Magna, preceitua que:

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que


comprovarem insuficiência de recursos;

Destarte, há decisões de nossos Tribunais no sentido de que o requerente


deverá comprovar a insuficiência de recursos, através da uma declaração de
pobreza (na acepção jurídica da palavra):

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA – PESSOA JURÍDICA –


CONCESSÃO – A parte gozara dos benefícios da assistência judiciária,
mediante simples afirmação de que não está em condições de pagar as
custas do processo e os honorários advocatícios, sem prejuízo do sustento
próprio. Por sua vez, o juiz, se não tiver fundadas razões para indeferir o
pedido, deverá julgá-lo de plano, no sentido do deferimento. Concessão,
também, a pessoa jurídica, em face do contexto social e das sérias
repercussões, inclusive, de subsistência familiar, por eventual impedimento
do acesso ao Judiciário, por razões apenas econômicas. Princípio
constitucional de livre acesso a Justiça. Aplicação dos arts. 2º, parágrafo
único, 4º, 5º e 6º, da Lei nº 1.060/50, em consonância com o art. 5º, XXXV,
da Constituição Federal. Agravo provido. (TJRS – AGI 70006161657 – 5ª
C.Cív. – Rel. Des. Leo Lima – J. 08.05.2003) (grifos nossos)

Outras entendem que o advogado poderá fazê-la em nome de seu cliente,


desde que possua poderes para tal:

PROCESSO CIVIL – JUSTIÇA GRATUITA – DECLARAÇÃO DE POBREZA


AFIRMADA – Pelo advogado. O pedido para ser contemplado com os
benefícios da justiça gratuita pode ter fincas em declaração de pobreza
firmada pelo advogado com poderes para o foro em geral, dispensada a
exigência de poderes específicos, e pode ser formulado em qualquer fase
do processo, inclusive na apelação. Recurso parcialmente conhecido e,
nessa extensão, provido em parte. (STJ – RESP 543023 – SP – Rel. Min.
Cesar Asfor Rocha – DJU 01.12.2003 – p. 00365) (grifos nossos)

As conseqüências da falsa declaração de pobreza estão previstas no art. 4º,


§ 1º, da Lei de Assistência Jurídica, ou seja, multa de dez vezes o valor das custas,
valor que quase nunca é aplicado, mesmo nos casos de revogação do benefício.
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Ressalte-se que não é devida a multa em caso de cessação do estado de


miserabilidade do beneficiário, sendo razoável quando caracterizada a má-fé da
parte ou desejo inequívoco de iludir o Juiz a respeito de suas condições financeiras.
(VIDIGAL, 2000, p. 39).

4. A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E A JUSTIÇA GRATUITA NO PROCESSO DE


CONHECIMENTO

Como não há limitação legal no Código de Processo Civil nem na Lei de


Assistência Jurídica, a jurisprudência tem esclarecido que a assistência judiciária
tem cabimento em todo e qualquer processo, sem exceção, desde que observados
os pressupostos para a sua concessão. (ZANON, 1990, p. 33).
O processo de conhecimento, basicamente se desenvolve entre a petição
inicial e a sentença. Tem como finalidade a composição de uma lide por meio de
uma sentença do órgão jurisdicional, tomando, na generalidade dos casos, um
procedimento típico, padrão. Tais são as fases lógicas do processo de
conhecimento: postulatória, probatória e decisória. Está compreendido, no Código
de Processo Civil, do artigo 1º ao 565. (PROCESSO, 2004). O objeto do processo
de conhecimento é a pretensão ao provimento denominada de sentença de mérito.
(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2003, p. 302).
Ainda, conforme lecionam Maria da Glória Colucci e José Maurício Pinto de
Almeida (2000, p. 129): “Se no processo se objetiva a declaração da vontade da lei
ao caso concreto (sentença de mérito), diz-se que o processo é de conhecimento”.
O art. 19, do Código de Processo Civil, dispõe acerca das custas
processuais, necessárias à Administração da Justiça:

Art. 19 - Salvo as disposições concernentes à justiça gratuita, cabe às


partes prover as despesas dos atos que realizam ou requerem no processo,
antecipando-lhes o pagamento desde o início até sentença final; e bem
ainda, na execução, até a plena satisfação do direito declarado pela
sentença.
§ 1º - O pagamento de que trata este artigo será feito por ocasião de cada
ato processual.
§ 2º - Compete ao autor adiantar as despesas relativas a atos, cuja
realização o juiz determinar de ofício ou a requerimento do Ministério
Público.
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Em nosso ordenamento jurídico não há a possibilidade de recolhimento


tardio das custas, cabendo à parte, ou efetuar o preparo, conforme disposto no
supracitado artigo, ou requerer assistência judiciária, consoante lhe permite a Lei nº
1.060/50. (TJRS – AGI 70006589543 – 10ª C.Cív. – Rel. Des. Luiz Ary Vessini de
Lima – J. 18.06.2003).
O art. 4º, da Lei nº 1.060/50 preceitua que o autor deverá postular o
benefício na petição inicial. No art. 6º, do mesmo diploma legal, abre-se uma
exceção a essa regra, permitindo a qualquer das partes formular idêntico pedido,
mesmo com a ação em curso, evitando que causas supervenientes possam implicar
na insuficiência de recursos para fazer frente às despesas processuais, como por
exemplo, a elevação do valor da causa. (CAMPO, 2002, p. 68).
Para os pedidos formulados antes da propositura da ação, o Juiz deverá
nomear advogado que represente o necessitado, segundo disposição expressa dos
parágrafos 1º a 4º do art. 5º, da LAJ. Se requerido na inicial, será apreciado de plano
pelo Juiz, caso não tenha razões para indeferi-lo (caput do supracitado artigo). Se a
ação estiver em trâmite, a petição com o requerimento será autuada em apartado, a
fim de que não seja suspenso o andamento do processo (art. 6º do referido diploma
legal).
A decisão que concede ou nega o benefício ao requerente é interlocutória,
portanto cabe agravo de instrumento. De acordo com o art. 17, da Lei nº 1.060/50,
se for concedido ou negado o benefício no curso da ação, ou mesmo antes de sua
proposição, caberá interposição do recurso de apelação, bem como da decisão que
julga a impugnação do direito à assistência judiciária, disposta no art. 4º, § 2º, da
mesma lei.
Nos termos do art. 9º da Lei de Assistência Jurídica, como o benefício se
estende por todo o curso do processo, inclusive perante qualquer Juízo e Tribunal, e
abrange todo e qualquer ato necessário para o bom exercício da defesa, se o favor
for concedido no processo de conhecimento, persistirá nos processos de liquidação
e de execução, a não ser que seja revogado o benefício (VIDIGAL, 2000, p. 65):

Art. 9º - Os benefícios da assistência judiciária compreendem todos os atos


do processo até a decisão final do litígio, em todas as instâncias.
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Neste contexto, o seguinte julgado:

PROCESSUAL CIVIL – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA –


ABRANGÊNCIA – 1. A Assistência Judiciária Gratuita concedida no
processo de conhecimento abrange todos os atos até o final do litígio, nos
termos do art. 9º da Lei nº 1.060/50, inclusive os embargos à execução.
Precedente. 2. Agravo de instrumento improvido. (TRF 4ª R. – AI
2003.04.01.047845-1 – RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Nylson Paim de Abreu –
DJU 07.01.2004 – p. 386) (grifos nossos)

Corroborando esse entendimento, a Corregedoria-Geral da Justiça do


Estado do Paraná, através do Ofício Circular nº 185/01, de 5 de novembro de 2001
(publicado no Diário da Justiça de 20 de novembro de 2001), veiculou aos
Magistrados:

Levo ao conhecimento de Vossa Excelência, para as medidas que se


fizerem necessárias, que os atos judiciais derivados de processos onde
existe parte beneficiária da justiça gratuita (Lei nº 1.060/50) e no interesse
desta, ainda que seja para surtir efeitos no foro extrajudicial, são isentos de
custas e emolumentos.

5. O PAPEL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E DA DEFENSORIA


PÚBLICA NO ACESSO À JUSTIÇA

Os Escritórios Modelo ou Núcleos de Prática Jurídica das Universidades e


Faculdades de todo o Brasil vêm prestando assistência jurídica gratuita à população
carente. Contando com a colaboração de profissionais e estagiários dos cursos de
Direito e Serviço Social, o rol de serviços, nas áreas cível, criminal e trabalhista, vai
desde uma simples orientação até o ajuizamento de ações pertinentes aos casos
trazidos a lume.
A experiência prática objetiva, também, apresentar aos alunos do curso de
Direito o efetivo exercício profissional, dando oportunidade para que conheçam as
diversas atividades jurídicas existentes e tenham contato com a experiência dos
profissionais de Direito. Mister frisar que somente a parceria teoria-prática é capaz
de formar cidadãos e profissionais competentes, aptos para um trabalho digno do
papel que desempenharão na sociedade.
O legislador constituinte se preocupou em disciplinar, no art. 134, da CF/88,
que a Defensoria Pública é o órgão do Estado cuja incumbência é a de prestar
assistência jurídica aos necessitados (CAMPO, 2002, p. 109):
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Para De Plácido e Silva (2004, p. 151), Defensoria Pública é a “instituição


que se encarrega de promover a concessão da justiça gratuita e costuma fazer a
indicação do advogado que funcionará no pleito”.
Maurício Vidigal (2000, p. 6) entende que, enquanto a Defensoria Pública
não estiver totalmente organizada em todos os Estados, os serviços de assistência
jurídica integral4 deverão ser prestados por Procuradores dos Estados, advogados
conveniados ou mesmo contratados para tal.

6. DO CABIMENTO DO BENEFÍCIO ÀS PESSOAS JURÍDICAS

Os Tribunais têm reconhecido a litigância sob o manto do auxílio legal, mas


somente em casos onde figuram entidades pias e beneficentes sem fins lucrativos, o
que não responde à altura aos reclamos da doutrina, que reconhece na pessoa
jurídica a possibilidade de obtenção do benefício. (CAMPO, 2002, p. 60-61).
Como se verifica das decisões a seguir, a jurisprudência majoritária é firme
na manutenção de que não se estende o benefício da assistência jurídica gratuita às
pessoas jurídicas:

Via de regra, o benefício da assistência judiciária gratuita não se estende às


pessoas jurídicas, por se tratar de benefício individual, que se extingue com
a morte do beneficiário (Lei nº 1.060. de 1950, Arts. 2º, parágrafo único, 4º,
10 e 12). (Ap. 188.011.399, 23.3.88, 3ª CC TARS, Rel. Juiz CELESTE
VICENTE ROVANI, in JTARS 66-394. em.) (grifos nossos)

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – Pedido. Requerimento por pessoa jurídica.


Inadmissibilidade. Benefício que só pode ser concedido à pessoa física.
Observância do disposto no artigo 2º e parágrafo único da Lei nº 1.060/50.
Recurso improvido. (1º TACSP – AI 1057289-5 – (40867) – Mogi das
Cruzes – 8ª C. – Rel. Juiz Carlos Alberto Lopes – J. 07.11.2001) (grifos
nossos)

Todavia, em contrária senda, manifestaram-se assim os Tribunais:

PROCESSUAL – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – JUSTIÇA GRATUITA – LEI


Nº 1.060/50 (ART. 2º, PARÁGRAFO ÚNICO) – As pessoas jurídicas
necessitadas também podem ser beneficiárias de assistência judiciária.
(STJ – RESP 321997 – MG – 1ª T. – Rel. Min. Humberto Gomes de Barros
– DJU 16.09.2002)

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – PEDIDO – Requerimento por pessoa jurídica.


Admissibilidade. Observância do disposto no artigo 2º e parágrafo único da
Lei nº 1.060/50. Recurso provido. (1º TACSP – AI 1.130.503-8 – São Paulo
– 8ª C. – Rel. Juiz Carlos Alberto Lopes – J. 18.09.2002)

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A assistência jurídica integral é a prevista no inciso LXXIV do artigo 5º da Constituição Federal e
não se confunde com a assistência judiciária (justiça gratuita), prevista na Lei nº 1.060/50.
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7. AS TAXAS JUDICIÁRIAS

No escólio de Humberto Theodoro Júnior (2004, p. 84), taxas ou custas


judiciárias “são as verbas pagas aos serventuários da Justiça e aos cofres públicos,
pela prática do ato processual conforme a tabela da lei ou regimento adequado.
Pertencem ao gênero dos tributos, por representarem remuneração de serviço
público”. O art. 3º, da LAJ, elenca as taxas judiciárias que o beneficiário da
assistência jurídica gratuita estará isento de recolher:

Art. 3º - A assistência judiciária compreende as seguintes isenções:


I - das taxas judiciárias e dos selos;
II - dos emolumentos e custas devidos aos Juízes, órgãos do Ministério
Público e serventuários da justiça;
III - das despesas com as publicações indispensáveis no jornal encarregado
da divulgação dos atos oficiais;
IV - das indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados,
receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem,
ressalvado o direito regressivo contra o poder público federal, no Distrito
Federal e nos Territórios; ou contra o poder público estadual, nos Estados;
V - dos honorários de advogado e peritos.
VI – das despesas com a realização do exame de código genético – DNA
que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de
paternidade ou maternidade. (Inciso incluído pela Lei nº 10.317, de
6.12.2001)
Parágrafo único. A publicação de edital em jornal encarregado de
divulgação de atos oficiais, na forma do inciso III, dispensa a publicação em
outro jornal. (Incluído pela Lei nº 7.288, de 18/12/84)

Cabe ressaltar que, nos termos das disposições constitucionais do art. 95,
parágrafo único, II e do art. 128, § 5º, II, “a”, Juízes e membros do Ministério Público
não podem receber custas e emolumentos. (VIDIGAL, 2000, p. 28).

8. OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS E DE PERITO

Yussef Said Cahali (1997, p. 226), elucida muito bem a questão dos
honorários advocatícios, citando clássica lição de Giuseppe Chiovenda:

Cabe à parte beneficiada pela assistência a defesa gratuita a defesa


gratuita, como função honorífica e obrigatória da classe dos advogados e
procuradores, salva a estes a repetição dos honorários pela parte contrária
condenada nas custas e despesas (e pelo próprio constituinte, quando, por
vitória da causa, ou por outras circunstâncias, venha a cessar o seu estado
de pobreza).
12

O advogado nomeado pela assistência judiciária para representar o


necessitado não poderá exigir quantia em dinheiro ou mesmo qualquer outro
benefício do mesmo, pois tal ato é ilícito. Terá direito, entretanto, aos honorários
previstos no art. 22, § 1º, da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB) e aos oriundos da
sucumbência, caso seu cliente seja vencedor da causa (art. 23). Assim, o advogado
constituído pelo requerente da assistência judiciária, poderá receber dele os
honorários contratados. A questão relativa aos honorários da parte vencedora é
tratada no art. 11, da LAJ. (VIDIGAL, 2000, p. 30).

Art. 11 - Os honorários de advogados e peritos, as custas do processo, as


taxas e selos judiciários serão pagos pelo vencido, quando o beneficiário de
assistência for vencedor na causa.
§ 1º. Os honorários do advogado serão arbitrados pelo juiz até o máximo de
15% (quinze por cento) sobre o líquido apurado na execução da sentença.
§ 2º. A parte vencida poderá acionar a vencedora para reaver as despesas
do processo, inclusive honorários do advogado, desde que prove ter a
última perdido a condição legal de necessitada.

Parte da jurisprudência tem entendido que, em consonância com o § 2º do


art. 11 e art. 12, da LAJ, a parte vencida, beneficiária da assistência judiciária
gratuita, deverá ser condenada em honorários, porém essa verba só poderá ser
exigida caso o vencido perder a condição de necessitado no prazo de cinco anos
(ARRUDA, 1998). A respeito, citem-se os seguintes julgados:

O benefício da assistência judiciária abrange apenas as despesas e


honorários de advogado do próprio beneficiário, não o isentando, quando
vencido na demanda das despesas processuais e honorários suportados
pela parte contrária. (Ap. 215.491-2, 22.3.88, 8ª C 2º TACSP, Rel. Juiz
MARTINS COSTA, in RT 629-188.)
O beneficiário da Justiça gratuita vencido suporta a sucumbência,
observada, porém, a ressalva do art. 12 da Lei 1.060: se não puder pagar
durante cinco anos a contar da sentença final, a obrigação ficará prescrita.
(Ap. 1.067-89, 11.12.89, 1º CC TJRJ, Rel. DORESTE BAPTISTA, in ADV
JUR. 1990. p. 237. v. 48749.)
Diante deste quadro, Ridalvo Machado de Arruda (1998) assevera: “Ora, a
se admitir tal entendimento, seria impor ao pobre a esdrúxula condição de ficar na
miserabilidade até que se completassem os cinco anos, só para não ter que pagar
os honorários advocatícios do vencedor”.
Contudo, alguns Tribunais, em contrário rumo, já decidiram:

A concessão do benefício da justiça gratuita importa tanto da isenção do


pagamento de custas pelo assistido e de honorários ao assistente judiciário,
quanto na isenção de reembolso de custas e honorários de advogado da
parte contrária, quando vencido o beneficiário da assistência judiciária. A
exceção, relativa à purga da mora em despejo por falta de pagamento,
13

decorre de texto expresso de lei posterior, derrogatório da isenção geral


instituída no Art. 3º da Lei n. 1.060-50). (Ap. 187.009.238, 10.6.87, 3ª CC
TARS, Rel, Juiz ÉLVIO SCHUCH PINTO, in JTARS 63-366, em.)
Benefício que isenta o vencido beneficiário do pagamento de honorários
advocatícios do vencedor, a menos que este, por ação própria provoque a
revogação do benefício, e suspende a exigência das custas processuais,
por ele, beneficiário, devidas, por cinco anos. Aplicação no Art. 12 da Lei nº
1.060-50. (Ap. 187.037.543, 1.9.87, 2ª CC TARS, Rel. Juiz WALDEMAR
LUIZ DE FREITAS FILHO, in JTARS 64-330.)

O parágrafo 1º, do art. 11, estabelece limitação ao valor dos honorários


advocatícios, até o máximo de quinze por cento sobre o líquido apurado na
execução da sentença. Materializa-se o entendimento nos seguintes julgados:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO – NECESSIDADE DE INTEGRAÇÃO – 1.


Apontando a parte embargante que houve condenação em honorários fora
dos limites do art. 11, § 1º, da Lei nº 1.060/50, dele não cuidando o Acórdão
recorrido, impõe-se a integração, ainda mais considerando a divergência
jurisprudencial que existe sobre o ponto. 2. Recurso especial conhecido e
provido. (STJ – REsp – 297716 – MG – 3ª T. – Rel. Min. Carlos Alberto
Menezes Direito – DJU 01.10.2001 – p. 00211)

EMBARGOS DECLARATÓRIOS – AJG – VERBA ADVOCATÍCIA FIXADA


EM PERCENTUAL QUE EXCEDE À LIMITAÇÃO DA LEI 1.060/50 –
PREQUESTIONAMENTO – Equívoco na fixação dos honorários de
advogado em 20% do valor da condenação. Afronta ao art. 11, § 1º da Lei
1.060/50. Limitação ao percentual de 15% que se impõe. Ausência de
omissão substancial na apreciação da controvérsia jurídica central, segundo
estabelece o art. 535, II do CPC. (TJRS – EDcl 70005256284 – 9ª C.Cív. –
Rel. Des. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino – J. 27.11.2002)

Doutrina, a propósito, Artemio Zanon (1990, p. 58-59), que “O beneficiário da


assistência judiciária é isentado de depositar e de pagar quaisquer despesas
processuais, inclusive honorários de perícia no curso do processo de conhecimento”.
Observa, ainda, que se o beneficiário for impelido a pagar, parcial ou totalmente, os
honorários do Perito e do Assistente Técnico, poderá lançar mão do agravo de
instrumento, o qual tem logrado êxito isentante.
A jurisprudência de nossos Tribunais trilha o mesmo entendimento,
decidindo que:

A assistência judiciária compreende isenção dos honorários de perito (Lei nº


1.060-50, art. 3º - V): é integral e gratuita. Desse modo, o seu beneficiário
não se acha obrigado a depositar quantia alguma, respondendo pela
remuneração a não-beneficiário, se vencido, ou o Estado, ao qual incumbe
a prestação da assistência. Recurso especial conhecido e provido. (REsp.
5.529, 11.2.92, 3ª T STJ, Rel. Min. NILSON NAVES, in DJU 9.3.92, p. 2578)
(grifos nossos)
14

9. DA REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO

A Lei de Assistência Judiciária a prevê a revogação do benefício da


assistência judiciária ou da justiça gratuita, por provocação da parte ou ex officio
(arts. 7º e 8º), nos casos em que não mais residam os requisitos legais que
permitiram a sua concessão.

Art. 7º - A parte contrária poderá, em qualquer fase da lide, requerer a


revogação dos benefícios de assistência, desde que prove a inexistência ou
o desaparecimento dos requisitos essenciais à sua concessão.
Parágrafo único. Tal requerimento não suspenderá o curso da ação e se
processará pela forma estabelecida no final do artigo 6º desta lei.

Art. 8º - Ocorrendo as circunstâncias mencionadas no artigo anterior,


poderá o juiz ex officio, decretar a revogação dos benefícios, ouvida a parte
interessada dentro de 48 (quarenta e oito) horas improrrogáveis.

A parte contrária, pretendente à revogação, deverá ilustrar o pedido, a


qualquer tempo, formando-se uma espécie de incidente, processado na forma do art.
6º, segunda parte, da LAJ, ou seja, em apartado. (ZANON, 1990, p. 140).
A expressão “parte contrária” deve ser interpretada de forma ampla,
compreendendo qualquer interessado que integre a lide, inclusive o Ministério
Público, na qualidade de fiscal da lei. (VIDIGAL, 2000, p. 57).
Neste diapasão, os Tribunais já decidiram:

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA – REVOGAÇÃO – PROVA – ARTIGOS 4º E 7º,


DA LEI Nº 1.060/50 – A Assistência Judiciária Gratuita será deferida
mediante simples declaração da parte de que não está em condições de
arcar com as despesas do processo, sem prejuízo próprio ou de sua família,
gozando referida afirmação de presunção juris tantum de veracidade.
Incumbe à parte adversa demonstrar, através de prova concreta e robusta,
que o beneficiário da gratuidade judiciária tem perfeitas condições de
suportar os gastos do processo, sem comprometimento de seus
compromissos habituais. (TJMG – APCV 000.307.102-4/00 – 8ª C.Cív. –
Rel. Des. Silas Vieira – J. 18.11.2002) (grifos nossos)

APELAÇÃO CIVIL – IMPUGNAÇÃO A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA


GRATUITA – TEMPESTIVIDADE – APLICAÇÃO DO ART. 7º DA LEI Nº
1.060/50 – De acordo com o art. 7º da Lei nº 1.060/50, a parte pode requer
a revogação da Assistência Judiciária Gratuita em qualquer fase da lide, não
sendo necessário que a impugnação seja ajuizada concomitantemente com
a resposta. Recurso provido. (TJRS – APC 70006415699 – 16ª C.Cív. – Rel.
Des. Claudir Fidelis Faccenda – J. 18.06.2003) (grifos nossos)
15

10. DA CESSAÇÃO DA EXIGIBILIDADE

Não se pode olvidar, conforme lição de Artemio Zanon (1990, p. 180), que “a
justiça gratuita isenta, poder-se-ia assentar dispensa, a parte do ônus e demais
encargos processuais em qualquer instância, mas o favor não é definitivo”.
Segundo dispõe o art. 12, in fine, da Lei nº 1.060/50, a exigibilidade cessa
em definitivo, decorridos cinco anos a partir da sentença final:

Art. 12 - A parte beneficiada pela isenção do pagamento das custas ficará


obrigada a pagá-las, desde que possa fazê-lo sem prejuízo do sustento
próprio ou da família. Se, dentro de 5 (cinco) anos, a contar da sentença
final, o assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará
prescrita.

Maurício Vidigal (2000, p. 75-76) observa que a lei não esclarece a natureza
da perda do direito de exigir o pagamento dos ônus da sucumbência. O fato de ela
mencionar que a obrigação ficará prescrita, não significa que estamos diante de
prazo prescricional, porque a perda da exigibilidade não depende da inércia do titular
do direito; nem de decadência, pois o direito não é exercitável e ela constitui perda
de direito que não pode ser exercido. Por derradeiro, assevera que:

Somente haverá obrigação de pagamento se verificada a condição, isto é,


se em cinco anos houver perda da impossibilidade de arcar com o
pagamento. O prazo, assim, não se suspende ou interrompe por ato do
credor conservativo do direito: passados cinco anos do trânsito em julgado,
a obrigação fica extinta sem jamais ter sido exigível.

Assevere-se, por oportuno, que, na opinião de Arruda (1998):

O § 2º, do art. 11 e o art. 12, da Lei 1.060/50, não podem ser aplicados, sob
pena de ferirem os princípios constitucionais de acesso à justiça e da
isonomia processual. O direito de acesso à justiça e de defesa está
garantido na nossa Constituição e não pode ser obstaculizado pela falta de
recursos financeiros daquele que foi reconhecido pobre na forma da lei.

Eis o entendimento de nossos Tribunais acerca da cessação da


exigibilidade:

PROCESSO CIVIL – DESISTÊNCIA DA AÇÃO – AUTOR BENEFICIÁRIO


DA JUSTIÇA GRATUITA – CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS
ADVOCATÍCOS – CABIMENTO – 1 - Pedida a desistência do feito, é
correta a decisão que a homologa, condenando, ainda, a parte autora no
pagamento dos honorários advocatícios, ainda que seja ela beneficiária da
justiça gratuita; 2 - Não tem o beneficiário da justiça gratuita isenção da
condenação ao pagamento das verbas sucumbências, ficando, porém, tais
verbas inexigíveis enquanto permanecerem a situação de pobreza da parte,
até o prazo máximo de 05 anos, quando tais valores prescrevem, conforme
preceitua o art. 12, da Lei nº 1060/50; 3 - Apelação improvida. (TRF 5ª R. –
AC 305852 – (2000.81.00.001356-7) – CE – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Paulo
Gadelha – DJU 03.09.2003 – p. 865) (grifos nossos)
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APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO PROVIDOS


PARCIALMENTE – CONDENAÇÃO COM EFEITOS DE SUCUMBÊNCIA –
INCIDÊNCIA DO ART. 12 DA LEI Nº 1.060/50 – RECURSO PROVIDO
PARCIALMENTE – Estando a parte sucumbente amparada pelo benefício
da assistência judiciária, ocorrerá a condenação, ficando sobrestado a
cobrança pelo prazo de cinco anos, conforme hipótese do artigo 12 da Lei
nº 1.060/50, provendo-se o recurso parcialmente. (TJES – AC
035000151304 – 3ª C.Cív. – Rel. Des. Jorge Góes Coutinho – J.
18.11.2003) (grifos nossos)

11. CONCLUSÃO

Nos espetáculos culturais há uma segregação da população que padece


necessidade.
A Justiça é um grande palco onde os atores encenam trazendo os fatos ao
Juiz.
Regra geral, em uma peça teatral, mediante paga, pode-se ter acesso a ela.
Da mesma forma que o necessitado somente poderá assisti-la caso seja de natureza
não onerosa, deverá necessariamente auferir o benefício da assistência judiciária
gratuita para que possa ter seus direitos amparados pela tutela jurisdicional.
Em um País com alta porcentagem de penúria como o Brasil, tal quadro
deveria ser revertido, ou melhor, invertido, caminhando na mesma esteira dos
princípios constitucionais trazidos a lume pela lei fundamental e suprema de 1988.
Mesmo com o advento de uma lei ordinária específica, a nº 1.060/50, que
prevê normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados, em vigor
há mais de meio século, na prática ainda há muito que ser feito.
O sonho da Defensoria Pública ainda está restrito aos grandes centros.
Magistrados não dão a devida importância aos institutos da assistência
judiciária e da justiça gratuita, muitas vezes deixando de acolher os pedidos,
preocupados com outras matérias e formalismos processuais, deixando que muitos
processos sejam autuados sem a expressa concessão do benefício.
Constata-se, na prática, que os processos agraciados com o benefício têm
andamento muito mais compassado que os demais, o que deveria ser exatamente o
contrário.
Considerando que poucos cidadãos brasileiros têm real conhecimento de
seus direitos, imagine-se acerca da possibilidade de consecução da gratuidade para
o acesso à Justiça. Tal fato é decursivo de que o atendimento assistencial
promovido pelas Universidades e Faculdades, bem como pela Defensoria Pública,
17

não é suficientemente propalado em meio à comunidade carente, permanecendo


restrito a uma pequena parcela da sociedade.
À luz do texto constitucional, como poderia uma pessoa pagar as taxas
judiciárias, buscando a proteção do Estado para a composição da lide, enquanto
outra goza da prerrogativa de isenção das mesmas? O princípio da igualdade ou da
isonomia, previsto no caput do art. 5º, da CF/88, estabelece como preceito que
“todos são iguais perante a lei”.
Considerando-se, ainda, que o art. 5º, inciso LXXIV, da CF/88, prevê a
assistência jurídica integral - que não se confunde com a assistência judiciária e
justiça gratuita (previstas na Lei nº 1.060/50) - uma forma de tratar com reverência
os regulamentos ditados pela Lei Suprema seria mediante a extensão do benefício
da gratuidade a todos, sem qualquer distinção. Destarte, o Estado, sociedade
politicamente organizada, deveria arcar com a integralidade das custas, necessárias
à Administração da Justiça, o que, caso fosse colocado em prática, além de ser algo
radical, certamente encontraria uma série de óbices pelo caminho.
18

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São Paulo: Saraiva, 1990.
SOBRE O AUTOR

Pedro Augusto Zaniolo é Engenheiro Eletricista com Habilitação em


Eletrônica e Telecomunicações pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do
Paraná (CEFET-PR) (1988), Especialista em Ciência da Computação (ênfase em
Redes e Sistemas Distribuídos) pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-PR) (1995), Especialista em Marketing, pela Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (ISAD/PUC-PR) (1999) e Acadêmico de Direito, atualmente cursando o
quinto ano (9º período) na Faculdade de Direito de Curitiba (2000-2005). É Técnico
Judiciário do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, onde ocupa o cargo de
Assessor de Gabinete de Desembargador. Atua desde 2001 como Perito Judicial em
ações cíveis no Foro Regional e Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba, nas áreas de Informática, Telecomunicações e Eletrônica.

SOBRE O TEXTO

- Elaborado em 5 de outubro de 2004.

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