You are on page 1of 11

Denise Elias

Departamento de Geografia - UEC

RESUMO:
A Região de Ribeirão Preto, composta por mais de 80 municípios à nordeste do Estado de São Paulo foi, no quadro
brasileiro, uma das primeiras a ser largamente exposta à produção e às trocas globalizadas das atividades agrícolas. A
etapa de desenvolvim ento econôm ico que se inicia em meados do presente século conheceu seu impulso definitivo na
década de 70. Com as m etam orfoses desencadeadas pela revolução científico-técnica e com as novas formas de produção
material e não material por ela apropriadas, a região se transformou num palco de modernizações sucessivas, o que
modificou toda sua geografia, dando novo sentido ao seu tempo e ao seu espaço. Uma de suas novas características, é um
processo acelerado de urbanização e crescimento urbano, promovidos entre outros, pelas novas relações entre a cidade
e o campo, desencadeadas pelas novas necessidades do consumo produtivo da agropecuária moderna.
PALAVRAS-CHAVE:
Meio técnico-científico-informacional, com plexo agroindustrial, consum o produtivo, cidade do cam po, urbanização
corporativa.

ABSTRACT:
The region of Ribeirão Preto, com posed of more than 80 cities in the Northern of São Paulo State was, in Brazil, one of the
first cities to be largely exposed to global production and exchanges of agricultural activities. The stage of econom ic
development that starts in the beginning of this century knew its definite impulse in the 1970s. Through the metamorphosis
provoked by the technical-scientific revolution and through new forms of material and non-material production provided
by it, this region has been transformed into a scene of successive modernization, what has changed all its geography,
attributing a new sense to its time and to its space. One of its new characteristics is a quick process of urbanization and
urban growth, promoted, among other factors, by new relations between city and countryside, provided by the new
necessities of productive consumption of modern agriculture.
KEY-WORDS:
Informational-scientific-technical means, agroindustrial complex, productive consumption, countryside city, corporate
u r b a n iz a t io n .________________ _________________________________________________________________________________________________

A Região de Ribeirão Preto (SP) 1 foi, no momento de m ecanização do território, a região tem
q u a d ro b r a s ile ir o , u m a d a s p r im e ir a s a s e r se mostrado um verdadeiro cam po de provas para a
largam ente exposta a m odernização inerente ao difusão de inovações, especialm ente associadas às
período té cn ico -cie n tífico . D e sd e o p rim e iro n o v a s d e m a n d a s da p ro d u ç ã o e d a s tro c a s
globalizadas das atividades agrícolas. A etapa de
d e s e n v o lv im e n to e c o n ô m ic o que se in icia em
1 -Consideramos aqui a divisão político-administrativa da m eados do presente século conheceu seu impulso
Secretaria de Planejam ento do Estado de São Paulo, que
dividia este estado em 1 1 regiões adm inistrativas até
meados da década de 80, entre as quais a de Ribeirão divulgação dos dados censitários, a Região de Ribeirão Preto
Preto, composta por 80 municipios a nordeste do Estado seria co m p o sta pelas m icro rreg ió es h o m o g én eas de
de Sáo Paulo. Considerando a divisão utilizada pelo IB G E Barretos, Serra de Jaboticabal, Ribeirão Preto, Araraquara,
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para a Planalto de Franca, Serra de Batatais e Alta Mogiana.
74 Denise Elias

definitivo na década de 70. Desde então, a regiáo ser este Estado o núcleo do padrão agrário moderno
tem acum ulado progressivam ente recursos técnicos (Muller, 1985 e 1988), a m odernização da atividade
e financeiros, aum entando a com posição técnica e agropecuária da região considerada foi um a das mais
orgánica de seu territorio, transformando-se numa importantes e com plexas de todo o país, atingindo
d a s p r in c ip a is m a n c h a s d e m o d e r n iz a ç ã o ín d ic e s de d ifu s ã o de in o v a ç õ e s d ific ilm e n te
agropecuária do país. com paráveis aos de outras áreas.
As tra n s fo r m a ç õ e s fo ra m s u b s ta n c ia is Antes m esm o da g en eralização do atual
quanto a form a, o tipo e a intensidade das relações período histórico, a região já m erecia destaque pelo
de toda a natureza, m etam o rfo seando o espaço seu dinamismo econôm ico propiciado pela produção
antigo e criando um novo, no cam po e nas cidades, cafeeira, quando no final do século X IX , firmava-se
caracterizado pela grande quantidade e diversidade com o a principal produtora do Estado de São Paulo
de fíxos artificiais e fluxos de todos os tipos e e, consequentem ente, do país. A acum ulação de
in te n s id a d e s , a ss im c o m o p e lo s n o v o s n ex o s capital propiciada com o café deu-lhe o dinam ism o
p resid id o s p elas cid a d e s e produzidos tanto no capaz de vencer a crise do final da década de 20,
cam po, quanto fora da própria Regiáo de Ribeirão advinda com a queda internacional do preço deste
Preto. Com as m etam orfoses desencadeadas pela produto, e de diversificar sua produção, dando lugar
revolução científico-técnica e com as novas formas ao desenvolvim ento de outras culturas, com o a de
d e p ro d u ç ã o m a te ria l e n ão m a te ria l p o r e la cana-de-açúcar, arroz, milho, feijão, algodão etc.
propiciadas, a região se transform ou num palco de Desde os anos 60, a região vem conhecendo
m odernizações sucessivas, o que modificou toda sua um processo dinâm ico de m odernização agrícola,
geografia, dando novo sentido ao seu tempo e ao que se intensifica sobrem aneira na década posterior,
seu espaço. Uma de suas novas características, é p assando por m u d an ças rad icais. D esde então,
um p r o c e s s o a c e le r a d o d e u r b a n iz a ç ã o e acum ula, p rogressivam ente, recu rso s técnicos e
crescim ento urbano, promovidos, entre outros, pelas financeiros, que foram capazes de m udar sua base
n o v a s r e la ç õ e s e n tr e a c id a d e e o c a m p o , técnica e organizacional. O uso intensivo de ciência,
d e s e n c a d e a d a s p e la s n o v a s n e c e s s id a d e s do tecnologia, informação, capital financeiro e industrial
consum o produtivo da agropecuária moderna. foram os principais vetores de sua m odernização.
As diversas políticas públicas em preendidas pelo
E s ta d o f e d e r a l, s e ja m in e r e n t e s à p e s q u is a
1 A m o d e rn iza ç ã o a grop ecu ária tecnológica, ao crédito agrícola, à im plantação de
in fra - e s tru tu ra , e n tre o u tr a s , fo ra m ta m b é m
Ha Região de Ribeirão Preto, o processo de im prescindíveis ao processo que se sucedeu.
m odernização agropecuária inerente ao atual sistema A m a g n itu d e do c a p it a l c o n s t a n t e e
temporal foi um dos mais intensos do Brasil em geral financeiro im plantado, o elevado grau de acesso às
e do Estado de São Paulo em particular. A adoção políticas agrícolas, assim com o o contingente de
de novos sistemas técnicos e de novos sistemas de força de trabalho, braçal e especializada, que se
ação (Santos, 1994) aum entou sua produtividade e deslocou para a região deram os sustentáculos de
sua produção, transformando-a numa das principais sua m odernização, atendendo aos propósitos da
produtoras agrícolas de São Paulo 2 Considerando b urguesia n acio n al e das grandes holdings que
p a ss a ra m a d o m in a r os s e to re s a s s o c ia d o s à
2 Se considerarm os a produção média da região e do agropecuária m oderna.
Estado de S á o Paulo, no trienio 1979/80 1980/81, A m odernização da agropecuária da Região
teríam os a Região de Ribeirão Preto com o a principal de R ib e irã o P re to im p lic o u num p r o c e s s o de
utilização intensiva de capital e tecnologia, com
produtora de soja (6 2 % ), assim com o de laranja (4 1 % ),
intuito de aum en tar a in ten sid ad e e o ritm o do
cana-de-açúcar (4 0 % ), m ilho (2 5 % ), am endoim (2 3 % ),
t r a b a lh o e, c o n s e q u e n t e m e n t e , a u m e n t a r a
tendo ain d a p articip ação im portante na produção de ve lo cid a d e de rotação do capital das p rin cip ais
algodão (2 9 % ), café (2 0 % ) e arroz (1 8 % ). No ano de 1983/ em p resas ag ríco las e ag ro in d u striais. In ú m e ra s
84 detinha 2 7 % de toda a área agrícola deste Estado, 3 4 % pesquisas tecnológicas voltadas para a produção
da sua produção e 2 7 % do valor da produção (Seade, 1988, agropecuária, envolvendo vários setores industriais
p. 41-42). com o o quím ico, o m e câ n ico , o de e n g en h aria
Regiáo de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 75

genética, entre outros, desenvolveram uma gama mas m u n d ia l3


muito grande de novos produtos na tentativa de Processou-se, assim , um a d e sv in c u la çã o
sup rir as d e fic iê n c ia s do so lo ; as d o e n ça s das crescente da produção agrícola regional do consum o
plantas; de conseguir um m aior rendim ento por alimentar, uma vez que foi dada prioridade para o
hectare; de produzir, no laboratório, sem entes mais atendimento das dem andas das agroindústrias, que
produtivas; de construir m áquinas para irrigar o solo; passaram a constituir o motor principal da agricultura
produzir venenos para as pragas das plantações; regional, eixo central dos processos em ergentes
v a c in a s p a ra o g a d o e u m a q u a n tid a d e desde então. A cana-de-açúcar e a laranja foram as
incom ensurável de outras inovações capazes de culturas que mais cresceram em área plantada, em
diminuir a dependência dos fatores naturais para a produtividade, que mais absorveram inovações, que
realização da produção. receberam crédito agrícola, que m ais tiveram a
O a s p e c to te c n o - e c o n õ m ic o da d iv is ã o do tra b a lh o a p ro fu n d a d a e tc , s e n d o
m odernização agropecuária reside na alteração da responsáveis por grande parte da renda total gerada
parte fixa do capital constante, ou dos meios fixos na região, assim como pelas m etam orfoses sociais
de produção (tratores, arados com tração mecânica, e territoriais nas últimas três décadas 4
cam inhões, colheitadeiras), e na parte circulante do As agroindústrias altam ente capitalizadas e
capital constante, ou dos elem entos de custeio da te c n o ló g ic a m e n te a v a n ç a d a s , em e s p e c ia l as
produção (fertilizantes, d efensivos, antibióticos, citrícolas e sucroalcooleiras, m as tam bém as de
carrapaticidas), que passaram a participar de forma óleos vegetais, carnes, laticínios, conservas e doces,
cada vez m ais pesada na estrutura de custos da bebidas, biscoitos, calçados, papel e celulose, etc,
a g ro p e cu á ria (M uller, 1990 b, p. 111). Com a emergem concom itantem ente à evolução das novas
introdução destas variáveis à produção da região, formas de produção e gestão que passam a dom inar
processou-se um a co ntínu a reno vação das suas
forças produtivas.
Com um número muito grande de inovações 3 Segundo Pat Roy Mooneu (1987, p. XX II), desde os
para a produção agrícola foi possível mudar a base primordios da agricultura, cerca de 500 tipos de vegetais
técnica desta atividade, que passa a utilizar, cada foram cultivados e em mil anos houve redução para 200,
vez mais, produtos industrializados com o fatores dos quais apenas 80 foram comercializados. Atualmente,
fundam entais para a produção, adaptando-se às apenas 20 vegetais sáo cultivados, representando 9 0 % da
d ieta h u m a n a ; d e ss e s , o trigo, o arroz e o m ilh o
necessidades de m aior rentabilidade dos capitais
representam mais de 7 5 % do consumo de cereais
investidos no setor. A partir da década de 60 de
4 No inicio da década de 70, a produção de alimentos
forma intensiva, grande parte dos insumos utilizados
ainda ocupava uma parte significativa da área plantada da
para a realização da produção agropecuária não mais
regiáo, sendo o milho a cultura que ocupava a maior parte
provém do laboratório natural, mas sim da produção desta (28,5%), seguido pela cana (2 1% ), o arroz (1 3 ,5 % ) e
social com andada pelo capital industrial, mostrando o algodão (1 1%), que ocupavam 7 4 % da área cultivada.
que, na região, nada mais acontece somente de Dez anos mais tarde a cana despontava com o a mais
aco rd o co m as fo rças da natureza, ou seja, é importante cultura (33% ), seguida pela soja (2 0 % ), cuja
necessário muito mais do que terra e trabalho para produção era insignificante dez anos antes; a produção de
sua realização. citrus (14,5% ) vinha em terceiro lugar e a de café (1 0 % )
em quarto lugar em ocupação de área plantada (Toyama,
O u tr a im p o r ta n te c a r a c t e r ís t ic a da
1982, p. 74).
m odernização da produção agropecuária da região Desse modo, em 1980, a maior parte da área plantada
é sua especialização. A rapidez das transform ações (67,5%) encontrava-se ocupada com produtos destinados
técnico-económ icas propiciou que, em pouco mais principalmente às agroindústrias: a cana-de-açúcar para a
de uma década, sua atividade agropecuária se reor­ produção de açúcar e álcool combustível; a laranja para a
g a n iz a sse , e s p e c ia liz a n d o - s e na p ro d u çã o de produção de suco co n cen trado e a soja para o óleo
algum as p o ucas culturas, que possibilitam uma comestível, farelo e rações.
m aior rentabilidade financeira, assim com o uma Dados dos Censos Agrícolas (1970 e 1980) indicam que,
durante a década de 70, o arroz, o algodão e o milho foram
m aior integração com m o d ern as agroindústrias,
as cu ltu ras que m ais tiveram su as á re as p lan ta d a s
substituindo a tradicional produção de alim entos diminuidas, respectivam ente, 5 9 ,5 % , 4 9 ,5 % e 3 6 ,5 % .
pelas matérias-primas agroindustriais, colaborando, Durante a mesma década, a área ocupada com matas e
assim, para a erosão genética não apenas regional, florestas naturais diminuiu 3 5 ,5 % (ou 87.817 ha)
76 Denise Elias

a agropecuária da região nas últimas três décadas. m od erna tem o poder de im por esp ecializaçõ es
Desenvolvem-se m antendo inúm eras relações com territoriais cada vez mais profundas. Dessa forma,
os dem ais setores da econom ia, seja o agropecuário as d e m a n d a s d a s p r o d u ç õ e s a g r íc o la s e
para a obtenção de matéria-prima; o industrial para agroindustriais m odernas têm o poder de adaptar
o b te n ç ã o d e m á q u in a s e e q u ip a m e n to s , as cidades próximas às suas principais dem andas,
c o n s e r v a n t e s , e tc , a lé m d e in f lu e n c ia r o convertendo-as no seu laboratório, um a vez que
desenvolvim ento de inúm eras atividades com erciais fornecem a grande m aioria dos aportes técnicos,
e de serviços, localizadas não som ente na região. financeiros, jurídicos, de mão-de-obra e de todos os
Podem os afirmar que, na Região de Ribeirão d e m ais p rodu tos e s e rv iç o s n e c e s s á rio s a sua
Preto, a ên fase ao d e se n vo lvim e n to eco n ô m ico realização. Quanto mais m odernas se tornam estas
voltado para a conquista de m ercados internacionais atividades, mais urbana se torna sua regulação.
de produtos alim entares industrializados ou semi A cada sopro de m odernização das forças
in d u s tria liz a d o s a c a b o u c ria n d o as c o n d iç õ e s produtivas agrícolas e agroindustriais, as cidades da
técnicas e eco nô m icas para uma organização de região se tornavam responsáveis por responder às
atividades agrícolas integradas à indústria e, assim, d e m a n d a s c re s c e n te s de um a s é rie de n o vo s
propiciando o desenvolvim ento de grande número produtos e serviços, dos híbridos à mão-de-obra
d e a t iv id a d e s in d u s t r ia is m o d e r n a s , s e ja m especializada, o que fez crescer a urbanização, o
agroindustriais, de insum os para a agricultura ou tam anho e o núm ero das cidad es. As casas de
ainda de m áquinas e equipam entos para am bos os co m é rcio de im p lem en to s agríco las, se m e n te s,
setores. O resultado é um significativo volum e de grãos, fertilizantes; os escritórios de 'm arketing', de
p r o d u ç ã o in d u s tr ia l a s s o c ia d o à a t iv id a d e c o n s u lto ria c o n tá b il; os c e n tr o s de p e s q u is a
agropecuária, culm inando num processo intenso de biotecnológica; as em presas de assistência técnica,
fusão ou integração de capitais destes dois setores de tran sp o rtes; os se rv iç o s do e s p e c ia lis ta em
e co n ô m ico s, que passam a ser controlados por engenharia genética, veterin ária, a d m in istração ,
grandes em presas nacionais e m ultinacionais. meteorologia, agronomia, econom ia, adm inistração
pública, entre tantas outras se difundiram por todas
as cidades da região. Diante disso, a m odernização
2 A a c e le r a ç ã o da urb an ização agropecuária não apenas am pliou e reorganizou a
produção m aterial, agrícola e industrial, m as foi
O im pacto de todas essas transform ações d e te rm in a n te p ara a e x p a n s ã o q u a n tita tiv a e
econôm icas na dinâm ica populacional e na estrutura qualitativa da produção não material.
dem ográfica foi intenso. Concom itan em ente a uma O resultado é uma grande m etam orfose e
v e rd a d e ira re v o lu ç ã o te cn o ló g ica da p ro d u ção c re s cim e n to da e c o n o m ia u rb a n a d as c id a d e s
agropecuária e agroindustrial, ocorreu uma revolução p ró x im as das p ro d u ç õ e s a g ríc o la s m o d e rn a s ,
d em o g ráfica e urbana, m arcad a por um grande p aralelam en te ao d ese n vo lvim en to de um novo
crescim ento populacional, principalm ente urbano. patamar das relações entre cidade e cam po, que
Em com um com todo o Terceiro Mundo, a região p ode ser v is lu m b ra d o m e d ia n te os d ife re n te s
tem a p r e s e n t a d o um a c e le r a d o p ro c e s s o de c i r c u i t o s e s p a c ia is d e p r o d u ç ã o e c í r c u l o s d e
urbanização e um notável crescim ento urbano. c o o p e ra ç ã o (Santos, 1986) que se estabelecem entre
Um a das características do processo de estes dois espaços. O crescim ento da produção não
m o d e rn iz a ç ã o das a tiv id a d e s ag ro p ecu árias na material é devido ainda ao crescim ento populacional
Região de Ribeirão Preto é o desenvolvim ento de e à revolução do consum o, erigida sob os auspícios
um a gam a muito extensa de novas relações entre o do c o n s u m o de m a ssa , q u e im p õ e in ú m e ra s
cam p o e as cid ad es. Isto se d eve à integração necessidades com o se naturais fossem, associadas
crescente destas atividades ao circuito da econom ia à existência individual e das famílias.
urbana, um a vez que a cidade passa a ser o seu A Região de Ribeirão Preto é um exem plo
local de realização da regulação da agropecuária. im portante de que, nas condições brasileiras, os
Isto se dá tanto pelo fato de seus produtos lugares que m ais rapidam ente respond eram aos
se re m c a d a vez m ais e n treg u es aos m e rca d o s apelos de uma produção agrícola e agroindustrial
urbanos para serem processados e consum idos, globalizadas estão entre os que mais fizeram surgir
m a s, p r in c ip a lm e n te , p o rq u e a a g r o p e c u á r ia inúmeras atividades que escapam às classificações
Região de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 71

m ais tra d ic io n a is das a tiv id a d e s e c o n ô m ic a s , é uma total remodelação do território e a organização


p articu la rm e n te do terciário. Nesta região, para de um novo siste m a u rb an o , h o je m u ito m ais
m elhor entenderm os sua urbanização, temos que com plexo do que há 30 anos, com um a veloz e
nos preocupar com a existência das novas atividades incessante substituição do meio natural e do meio
com erciais e de serviços, nem sem pre disponíveis técnico pelo meio técnico-científico-informacional
em form a de estatísticas, mas fundam entais para o (Santos, 1985). Cada vez que o território da Região
reconhecim ento da realidade. de Ribeirão Preto era reelaborado para atender à
Os anos 70 fo ra m de r a d ic a is p r o d u ç ã o d o s c o m p le x o s a g r o in d u s t r ia is ,
tra n s fo rm a ç õ e s para in ú m e ra s v e lh a s e novas superpunham -se novos fixos a rtific ia is so b re a
atividades terciárias, com a instalação de muitos natureza, aum entando a com plexidade dos seus
novos fixos e, consequentem ente, a constituição de sistem as técnicos. O território tornava-se, assim,
muitos novos fluxos, de m atéria e de inform ação, cada vez mais rígido, mais rugoso, prom ovendo uma
seja internam ente nas cidades, seja entre as cidades u r b a n iz a ç ã o c o r p o r a tiv a (San to s, 1993), isto é,
e o cam po, seja entre as cidades. A intensificação e em preendida sob o com ando dos interesses das
especialização da produção aum entou as trocas, grandes firmas. Dessa forma, o conhecim ento do
a s s im c o m o as p o s s ib ilid a d e s de flu x o s processo de expansão do meio técnico-científico-
in te rn a m e n te à re g iã o , da m e sm a fo rm a que inform acional na Região de Ribeirão Preto parece
possibilitou a m aior integração com o território ser, a partir da análise do fenôm eno espacial a nível
nacio n a l. N esse p ro ce sso , intensificaram -se as regional, um a das via s de re c o n h e c im e n to da
relações com a cidade de São Paulo, a metrópole sociedade e do território brasileiros atuais.
mais com pleta do Brasil (Santos, 1990), assim como A Região de Rib eirão Preto constitui-se,
com o porto de Santos, por onde escoa grande parte dessa forma, numa das áreas mais m odernas do
da produção regional. B r a s il a g r í c o la (S a n to s , 1 9 9 3 ), c o m g ra n d e
Com a fluidez possível graças à construção d esenvolvim ento de áreas urbanas, cujos nexos
d o s m o d e rn o s s i s t e m a s d e e n g e n h a r i a d o s e sse n cia is devem -se às in te rre la ç õ e s ca d a vez
transportes e das com unicações, intensificaram-se m aiores criadas no contexto da globalização da
as tro cas de tod as as naturezas, com grandes produção e do co n su m o de produtos agrícolas
impactos na vida social e no território, reformulando in d u strializad o s. A m o d e rn iz a çã o da a tiv id a d e
o sistema urbano antigo. A expansão dos complexos agrícola e agroindustrial, em especial, redefiniu o
agroindustriais (Muller, 1989) não teve repercussão consum o do cam po, que deixou de ser apenas
apenas na estrutura técnica das suas respectivas consum ptivo para ser cada vez m ais p r o d u t i v o
ativid ad es e c o n ô m ica s, m as cau so u profundos (S a n to s , 1988), c ria n d o d e m a n d a s até e n tã o
im p a c to s n as r e la ç õ e s s o c ia is de p ro d u ç ã o , inexistentes, ampliando o processo de urbanização.
transformando o conjunto de norm as e padrões que As c id a d e s da re g iã o tê m , a s s im , se
regulavam tais relações. O resultado é uma nova desenvolvid o atreladas às atividades agrícolas e
divisão social e territorial do trabalho, com grandes agroindustriais circundantes e dependem , em graus
impactos na estrutura dem ográfica e do emprego, d iv e rs o s, d e s sa s a tiv id a d e s , c u ja p ro d u ç ã o e
que cu lm in a m com um p ro cesso a ce le ra d o de co n su m o se dão, em g ran d e p arte, de fo rm a
urbanização. globalizada. No período técnico-científico, as cidades
O a p ro fu n d a m e n to da d ivisõ es so cial e se m u lt ip lic a r a m na re g iã o e p a s s a r a m a
territorial do trabalho agrícola regional, possíveis a desem penhar muitas novas funções, transformando-
partir das c o n d iç õ e s de in s ta n ta n e id a d e e de se em lugar de todas as form as de co o p eração
sim ultaneidade que se verificam com a revolução e rig id a s p e la p ro d u ç ã o a g r íc o la e in d u s tr ia l
tecnológica, fez com que as relações entre as cidades a s s o c ia d a s a o s c o m p le x o s a g r o in d u s t r ia is
da região se tra n s fo rm a s s e m , a u m e n ta n d o as hegemônicos, notadam ente associados à cana e à
diferenças entre as mesmas, as quais se tornam cada laranja.
vez mais distintas um as das outras, muito embora Na Região de Ribeirão Preto não é apenas a
inúm eras características sim ilares existam, dadas c id a d e q u e tem fo rç a p ara r e c e b e r e e m itir
pelo processo uníssono que as gerem. num erosos e variado s fluxos. Hoje, m uitas das
Uma vez que se organizaram para atender atividades realizadas no cam po não são mais apenas
às dem andas das atividades econôm icas, o resultado agrícolas, mas tam bém industriais, um a vez que
28 D enise Elias

parte considerável das agroindústrias se localizam destas atividades desen volveu áreas urbanas de
no cam po, junto à produção de suas matérias-primas. grandes dim ensões, cujos vínculos se d evem às
Essas agroindústrias tèm o poder de criar muitas interrelações, cada vez maiores, entre o cam po e as
novas relações, próximas e distantes, cujos circuitos cidades. As cidades se desenvolvem atreladas às
esp aciais da produção e círculos de cooperação a tiv id a d e s a g ríco la s m o d e rn a s c irc u n d a n te s e
buscam nexos distantes, criando uma gama de novas dependem , em graus diversos, dessas atividades,
r e la ç õ e s s o b r e o t e r r it ó r io , tr a n s fo r m a n d o c u ja p ro d u ç ã o e c o n s u m o se d ã o d e fo rm a
radicalm ente as tradicionais relações cidade-campo, globalizada.
sendo que estes dois espaços passam a emitir e O crescim en to do con su m o produtivo e
receber uma grande quantidade de fluxos de matéria c o n s u m p t iv o ; as n o v a s p o s s ib ilid a d e s de
e de in fo r m a ç ã o . O r e s u lta d o foi u m a to ta l instantaneidade e sim ultaneidade da inform ação e
reorganização do território regional, urbano e rural, do capital financeiro; o aum ento da dem anda de
o n d e se d e s ta ca a ex p a n sã o do m eio técnico- trabalho intelectual; o aprofundam ento da divisão
científico-inform acional no cam po e nas cidades. social e territorial do trabalho, etc, levaram ao
Tudo isso fez da urbanização da Região de fortalecimento e aum ento do núm ero de cidades
Ribeirão Preto um fenôm eno bastante complexo, locais e interm ediárias, fazendo a v a n ç a r a sua
dado a m ultiplicidade de variáveis que nela passam u rb a n iz a ç ã o . A m e d id a q u e a a g r ic u ltu r a se
a interferir, com o a m odernização agrícola associada m o d e r n iz a v a , o n ú m e ro e o t a m a n h o d a s
ao s e t o r in d u s tr ia l, c o m a c o n s e q u e n te aglomerações urbanas ficavam maiores.
especialização destas produções; o crescim ento da As novas qualidades do espaço geográfico
produção não material, seja associada ao consumo da Reg ião de R ib e irã o Preto , a d v in d a s com a
produtivo ou ao consum o consum ptivo; o aumento expansão do m eio técnico-científíco-informacional,
da quantidade e da qualidade de trabalho intelectual; são tanto cau sa q uanto efeito do p ro ce sso de
intenso processo de êxodo rural; a existência do m o d e rn iz a ç ã o c ie n tífic o - té c n ic a da p ro d u ç ã o
agrícola não rural; a migração descendente, etc. Tudo agropecuária e agroindustrial. O dinam ism o destas
isso torna inviável considerar apenas as antigas atividades se dá, desde então, associado ao circuito
relações cidade-campo, uma vez que até mesmo o s u p e rio r da e c o n o m ia , g e ra n d o a d ifu s ã o de
urbano é diferente do que havia há 30 anos atrás. A inúmeros fixos e fluxos, prom ovendo importantes
m edida que se aprofundava a divisão do trabalho taxas de crescim ento econôm ico e urbano.
agrícola e agroindustrial, m ais intenso e complexo Os dados relativos à p o p u lação total da
se tornava o processo de urbanização. Região de Ribeirão Preto nos dão um contingente
A intensa difusão de capital, tecnologia e de 985.617 habitantes em 1950 e de 2.380.010
inform ação nas atividades econôm icas da Região de habitantes em 1991. O crescim ento da população
Ribeirão Preto aum entou a divisão das tarefas e foi, assim, superior a 1.394 mil habitantes num
funções produtivas e administrativas. Paralelamente, período de 40 anos, eqüivalendo a um percentual
processou-se uma alteração qualitativa e quantitativa de 1 4 1,5 % . rio m esm o período, sua popu lação
de a n tig a s fu n ç õ e s , p r o m o v e n d o g ra n d e s u rb a n a p a s s o u de 3 8 4 .3 7 3 p a ra 2 .1 5 7 .5 8 7
transform ações no m ercado de trabalho regional e h a b it a n t e s , p e r fa z e n d o um c r e s c im e n t o de
na repartição dos empregos, assim com o no volum e 1 .7 7 3 .2 1 4 p e sso a s v iv e n d o em a g lo m e ra ç õ e s
e na distribuição da população na superfície regional, urbanas, ou de 4 6 1 % se quiserm os considerar em
com a oco rrên cia de um acelerado processo de term os relativos. Dessa forma, em quatro décadas,
urbanização e de m ultiplicação e crescim ento das enquanto a população total cresceu 2,4 vezes, a
cidades. p o p u la ç ã o u rb a n a se m u lt ip lic o u 5 ,6 v e z e s ,
evidenciand o um crescim ento m uito superior da
população urbana em relação a população total.
3 A U rbanização r e c e n te Som ente na década de 70, o increm ento
urbano foi em torno de 5 0 % , eqüivalendo a cerca
A Região de Ribeirão Preto faz parte do Brasil de 492 m il no vo s h ab itan tes. Um c re s c im e n to
a g ríc o la m o d e rn o , c u ja u rb a n iz a ç ã o se d e v e bastante significativo, que pode, num p rim eiro
diretam ente ao crescim ento e m odernização das m om ento, passar d e sap e rce b id o para a grande
atividades agrícolas e agroindustriais. A expansão maioria dos brasileiros, para os quais o gigantismo
Região de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 79

do c re s c im e n to v e g e ta tiv o e dos m o v im e n to s Entre 1950 e 1980, um p ouco m ais da


migratórios já são dados culturais. Paralelam ente, a metade de toda população rural deixou o cam po, o
realidade da Região de Ribeirão Preto mostra ainda que som ou um total próximo a 320 mil pessoas. Se
uma redução relativa e absoluta da população rural, co nsid erarm o s som ente a d écad a de 70, a que
em benefício da população urbana, outra condição registrou os m aiores índices de c rescim en to da
importante da urbanização acelerada. Em meados econom ia, com uma difusão sucessiva de inúm eras
do presente século, cerca de 601,2 mil pessoas ainda inovações, reorganizando a produção e o espaço
residiam na zona rural da Região de Ribeirão Preto, agrícola e urbano da região, c e rc a de 123 mil
número que dim inuiu para 222,4 mil pessoas em pessoas, ou 3 0 % da população rural, deixaram de
1991 . residir no campo, engrossando o contingente de
urbanos. Em alguns municípios, o campo se esvaziou
quase com pletam ente, passando a ter um núm ero
m uito pequeno de população residente, ficando
ainda mais livre à difusão científico-técnica e ao
aumento da com posição orgânica do território, o
que permitiu o aum ento da produtividade e do valor
da terra.
A taxa de urbanização da região era de 3 9 %
em 1950, tendo alcançado um índice superior a 9 0 %
em 1991, ocorrendo mais do que uma inversão da
relação entre população urbana e rural: se em 1950,
6 1 % da população regional ainda viviam no cam po,
nele residiam m enos de 1 0% em 1991.
Os números supracitados deixam evidenciar,
se co m p a ra d o s aos do B rasil, que o ritm o de
urbanização da região foi ainda mais veloz do que o
do país, s a b id a m e n te de g ran d e v e lo c id a d e .
Poderíamos usar o estudo de Francisco Vera e Eliseu
A lves (1985), que fizeram um p aralelo entre a
urb an ização dos Estad o s U nidos e do B ra sil e
chegaram à conclusão que no primeiro país, foram
necessários cem anos para que o percentual de
urbanização se elevasse de 3 0 % para 7 0 % , enquanto
no Brasil, o mesm o ocorreu em aproxim adam ente
40 anos, entre 1940 a 1980.
A Região de Rib eirão Preto p reciso u de
apenas 30 anos, de 1940 a 1970, para passar de
um índice a outro. A urbanização galopante ocorrida
no região fez com que sua taxa de urbanização, em
1980, já estivesse entre as maiores do Estado de
São Paulo, de longe um dos mais urbanizados do
país Em 1980, dos 80 m unicípios que form avam
a região considerada, 69 possuíam a população
urbana superior à população rural, sendo que em
1950 a relação era de 59 para 5 municípios.

5 Somente a Região Metropolitana de São Paulo, a Região


Administrativa do Litoral e a Região Administrativa do Vale
do Paraíba apresentavam índices superiores, que eram de,
respectivamente, 9 6 ,7 8 % , 9 2 ,8 5 % e 8 6 ,9 1 % , para o ano
de 1980 (Fonte: Seade, Informe Demográfico n 1, 1982).
80 Denise Elias

A fo rm a ç ã o de im p o rta n te s co m p le x o s C o n sid e ra ç õ es finais


agroindustriais fez crescer o núm ero e o tamanho
das cid ad es, generalizando-se a urbanização do A R egião de R ib e irã o Preto é um a das
t e r r it o r io e d a s o c ie d a d e . A m o d e r n iz a ç ã o principais representantes do Brasil agrícola m oderno
tecnológica da produção agropecuária, geradora de e um dos exem plos m ais im portantes de que o
inúm eras novas dem andas, teve forte impacto no p ro c e s s o de in o v a ç õ e s c ie n tífic o - té c n ic a s na
espaço, acelerando não som ente a urbanização 6 produção agropecuária desenvolve formas novas de
m as tam bém m ultiplicando o número de cidades, desenvolvim ento urbano, cujos vínculos principais
c o m o m e io m a is e fic a z p a ra s a tis fa z e r su a s associam-se diretam ente aos sistem as técnicos e de
necessidades de produtos e serviços especializados. a ç õ e s q u e p a s s a m a d o m in a r as a tiv id a d e s
Em 1940, a região possuía 48 cidades, contra as 80 agropecuárias.
cidades existentes em 1980 e as 85 em 1993. As c id a d e s da re g iã o se d e s e n v o lv e m
Desde a década de 70, a urbanização da atreladas às atividades agrícolas circund antes e
Região de Ribeirão Preto mostra uma tendência à dependem , em graus diversos, destas atividades,
aglom eração da população e da urbanização, com cuja produção e consum o se globalizam. Com o
um im portante crescim ento do número de cidades p ro c e s s o de m o d e r n iz a ç ã o a g r o p e c u á r ia e
locais, aqui consideradas com o as que possuem agroindustrial, as cidades passam a realizar todo o
mais de 20 mil habitantes. Em 1940, apenas quatro tipo de regulação necessária a sua concretização,
cidades atingiam este patamar populacional, número seja técnica, financeira, de mão-de-obra, jurídica,
que chega a 16 cidades em 1980 e a 25 em 1991. permitindo a participação da região no novo sistema
alimentar globalizado.
Nas ú ltim a s très d é c a d a s , a região de
Ribeirão Preto tem se mostrado altamente permeável
ao n o v o , d ifu n d in d o r a p id a m e n t e in ú m e ra s
inovações tecnológicas, adaptando-se rapidamente
às novas d em an d as da p ro d u çã o e das trocas
globalizadas, notadam ente no tocante à atividade
agropecuária e agroindustrial.
A etapa de desenvolvim ento econôm ico que
se inicia no período técnico-científico conhece seu
impulso definitivo na década de 70. Desde então, a
região tem acum ulado progressivam ente recursos
técnicos e financeiros, aum entando a com posição
técnica e orgânica de seu território, que adquire
g ra n d e flu id e z , tra n s fo rm a n d o - s e n u m a das
principais m anchas de m odernização agropecuária
do país, não som ente difundindo inovações, como
também com poder de produzir novas tecnologias,
n o vas fo rm as o rg a n iz a c io n a is , o c u p a c io n a is e
espaciais.
A evolução das forças produtivas atuantes
na atividade agropecuária possibilitou uma radical
transform ação de seus sistem as técnicos, que se
a c o m p a n h o u de m u d a n ç a s ra d ic a is nos se u s
sistem as de ações. Os insumos naturais e o trabalho

das variáveis e dos n exo s m o d e rn o s . Trata-se, na verdade,


6 A ch a m a d a u rb a n iza çã o da so cie d a d e fo i o re su lta d o de m e táforas, p o is o u rb a n o ta m b é m m u d o u de fig u ra e
da d ifu s ã o , na so c ie d a d e , de variáveis e n exo s re la tivo s à as d iferen ça s atuais e n tre a cid a de e o c a m p o sã o dive rsas
m o d e rn id a d e d o p re s e n te , c o m re fle x o s na cid a d e . A das que re co n h e cía m o s há alguns p o u c o s d e c ê n io s .(M.
u rb a n iza çã o d o te rritó rio é a d ifu sã o m a is a m p la n o espaço Santos, A Urbanização Brasileira, 1993, p. 125).
Região, de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 81

do hom em foram largam ente substituídos pelos significativa do dinam ism o econôm ico, social e pela
insumos industriais, que possibilitaram o aum ento expansão do meio técnico-científico-informacional.
da produção e da produtividade da terra. Por outro São motor de inúm eras outras atividades em todos
lado, especializou-se na p ro d u ção de culturas os d e m a is s e to re s e c o n ô m ic o s , a s s im c o m o
voltadas às dem andas de m odernas agroindústrias, re s p o n s á v e is por um p ro c e sso c o rp o ra tiv o de
especialm ente cana e laranja, respectivamente, para o rganização do esp aço , um a vez qu e tanto os
a produção de açúcar, álcool com bustível e suco e s p a ç o s a g r íc o la s q u a n to os u r b a n o s s ã o
concentrado de laranja. organizados de acordo com seus interesses.
Com a introdução da ciência, da tecnologia O que se deu na região foi a construção de
e da in fo r m a ç ã o à p ro d u ç ã o a g ro p e c u á ria e um lu g a r p r o p íc io ao e x e r c íc io de c a p it a is
agroindustrial, processou-se uma contínua renovação hegemônicos. Sua adaptação progressiva e eficiente
de suas forças produtivas, que passaram a responder aos in te re s s e s d e ste s c a p ita is , e s p e c ia lm e n te
com velocidade às necessidades colocadas pelos associados à m odernização da produção agrícola e
a g e n te s e c o n ô m ic o s h e g e m ô n ic o s do se to r, agroindustrial, vincularam -na à g lo b aliz açã o do
refletind o nu m a in te rre la çã o c re s ce n te com as sistem a alimentar, transformando-a num a das áreas
demais atividades econôm icas. agrícolas que mais têm desenvolvido a urbanização
As tra n s fo rm a ç õ e s foram s u b s ta n c ia is e cidades de vários tamanhos.
quanto à forma, ao tipo e à intensidade das relações A u rb a n iz a ç ã o tem se d a d o de fo rm a
de todas as naturezas, transform ando o espaço aglomerada e concentrada, avolumando-se com o
antigo e criando um novo, no cam po e na cidade, êxodo rural, a m ig ra ção d e s c e n d e n te , co m a
caracterizado pela grande quantidade e diversidade e x p a n s ã o da p ro d u ç ã o não m a te ria l, co m o
de fixos e fluxos, assim com o pelos novos nexos trabalhador agrícola não rural, com a nova divisão
presididos pelas cid ad es e produzidos tanto no social e territorial do trabalho na região, entre outros.
campo, quanto fora da região. Com as metamorfoses A R e g ião de R ib e irã o P re to é um dos
desencadeadas pela m odernização agropecuária, a exem plos brasileiros mais im portantes de que o
expansão dos com plexos agroindustriais e de novas p ro c e s s o de m o d e r n iz a ç ã o da a g r ic u lt u r a
form as de p ro d u çã o não m aterial, a região se desenvolveu formas novas de organização espacial.
t r a n s fo r m o u nu m p a lc o de m o d e r n iz a ç õ e s Com o patamar de integração interna e com o resto
sucessivas, dando novas formas e funções ao espaço do país, possibilitado com a construção de estradas
geográfico. vicinais, rodovias e toda sorte de um num eroso
A e x p a n s ã o do m eio técnico-científico- conjunto de sistemas de engenharia, chegou-se a
inform acional, na cidade e no campo, a aceleração uma qualidade superior de seu sistema urbano. Hoje,
da urbanização e o crescimento numérico e territorial a espessura do sistem a espacial (M. San tos, 1993 a,
das cidades foram, em termos espaciais, os impactos p. 125) da região é muito maior do que há 20 ou 30
mais contundentes do processo de modernização anos atrás, exatamente pela expansão da ciência,
da atividade agropecuária e da organização dos tecnologia e informação, que criou as condições para
c o m p lex o s ag ro ind ustriais, m otor princip al das a maior divisão social e territorial do trabalho e maior
transform ações, já que só se realizam integradas ao s o lid a rie d a d e o rg a n iz a c io n a l, c u lm in a n d o em
circuito da econom ia urbana. Destacaríamos, assim, grandes m udanças na hierarquia entre as cidades
a o rg an iz a çã o das cid a d e s do cam po, que se que a compõem.
organizam de form a corporativa, em função das A m o d e r n iz a ç ã o t e c n o ló g ic a da s u a
d e m a n d a s d e s ta s a tiv id a d e s , assim co m o as produção agropecuária dem onstra que partes do
ag ro in d ú strias co m o ag lu tin ad o ras de circu ito s c a m p o b r a s ile ir o a c o lh e r a m e d ifu n d ir a m
espaciais de produção e círculos de cooperação que rapidamente grande quantidade de novos capitais.
unem cam po e cidade num processo uníssono de A evolução das forças produtivas, assim com o as
produção. tra n sfo rm a çõ e s das form as de o rg an iz ação do
O s s e t o r e s in d u s tr ia is a s s o c ia d o s à trabalho e do emprego foram intensas e acabaram
tran sfo rm a çã o da cana e da laranja exercem a por promover mudanças substanciais à produção do
h e g e m o n ia na re g iã o . S ã o e s te s ra m o s da território da área pesquisada, resultando uma nova
agroindústria que mais têm provocado a difusão de organização espacial, com estrutura, função e forma
fixos e flu x o s, re s p o n d e n d o por p a rte m uito distintas dos períodos anteriores.
82 Denise Elias

A m odernização da produção agropecuária com põem o circuito superior da econom ia agrícola


não provocou m udanças apenas no espaço rural da e agroindustrial.
r e g iã o , v is t o q u e fo i d e t e r m in a n t e p a ra o As cidades passam a ter sua unidade devido
desenvolvim ento dos dem ais setores econôm icos, principalm ente à interrelação com o cam po, com as
seja o Industrial, com ercial ou o de serviços, tanto atividades agrícolas e agroindustriais, sendo campo
p ú b lic o s q u an to p rivad o s. A e c o n o m ia urb an a e cidade participantes de uma m esm a corrente de
c r e s c e u p a r a le la m e n t e à m o d e r n iz a ç ã o da relaçõ es uníssonas, desenvolvendo-se inúm eros
agricultura, re sp o n d en d o com presteza às suas c irc u ito s e s p a c ia is da p ro d u çã o e c írc u lo s de
necessidades. cooperação entre estes dois espaços. Ma região
A e x p a n s ã o do m eio técnico-científico- considerada, as atividades agrícolas e agroindustriais
in fo r m a c io n a l foi n e c e s s á r ia p a ra q u e fo s se m o d e rn a s têm o p o d e r de c o m a n d o da vid a
estabelecida a solidariedade organizacional entre as econôm ica e social das cidades e do sistema urbano,
organizações hegem ônicas que passaram a gerir as o que faz com que cada cidade se organize com a
principais produções da região, uma vez que oferece feição do seu cam po, aum entando, dessa forma, a
os m eio s para a c o e s ã o entre as em presas. A distinção entre as cidades, considerando que cada
g lo b a liz a ç ã o da p ro d u ç ã o a g ríc o la da reg ião cultura agrícola, cada indústria tem necessidades
pressupôs a existência da segunda natureza, cada específicas em m om entos determ inados.
vez mais artificial. O espaço inteligente/luminoso A expansão dos sis te m a s de e n ge n h a ria dos
h o je e x is te n te é, a s sim , ta n to c a u s a q u a n to transportes, das com unicações, da eletrificação e de
co n seq ü ê n cia do processo de globalização, pré- toda sorte de infra-estrutura urbana deu-se com
condição e resultado, capaz de oferecer os meios grande velocidade e de forma com plexa na Região
técnico-espaciais para a produção e o consum o de Ribeirão Preto. O resultado foi o aum ento da
globalizados. com posição orgânica e técnica deste território, com
D essa form a, poderíam os afirm ar que a crescente substituição do m eio natural e do meio
Região de Ribeirão Preto passou por um processo técnico pelo m e io té c n ic o -c ie n tífíc o -in fo rm a c io n a l,
acelerado de globalização de sua econom ia e de seu facilitando a penetração do novo e do externo e a
espaço, com grande difusão das variáveis inerentes difusão de nexos té cn ic o s e e c o n ô m ic o s mais
ao p e río d o té cn ico -cien tífico , p ro m o ve n d o um complexos, geridos por uma cooperação estranha à
processo intenso de urbanização, que se mostra história local, que desde então aumenta sua conexão
caótico uma vez que as cidades são organizadas para com c irc u ito s e sp acia is de p ro d u ç ã o e círcu lo s de
servir aos interesses das grandes em presas que co o p e ra ç ã o distantes da organização regional.

Bibliografia

ELIA S, Denise. M eio té c n ic o -c ie n tífíc o -in fo rm a c io n a l 1940-70" SP, Seade, In fo rm e D e m o g rá fic o n2


e u rb a n iz a ç ã o na Região de R ibeirão Preto. Tese 1, 1983 (Reim pressão).
de doutorado, Depto de Geografia -FFLCH / USP, . C a r a c t e r í s tic a s g e r a is d o p r o c e s s o d e
1996. in d u s tria liz a ç ã o p a u lis ta . Sã o Paulo, Seade,
"E x p a n s ã o do M eio T é c n ic o - C ie n tífic a - 1988.
In fo r m a c io n a l" in: E n s a io s d e G e o g ra fia MOONEY, Pat Roy. O e sc á n d a lo das s e m e n te s : O
C o n te m p o râ n e a M ilt o n S a n to s : O b ra d o m ín io na p ro d u ç ã o de a lim e n to s . SP, Nobel,
R evisitada. SP, Hucitec, 1996 (p. 210-219). 1987
FUN D AÇÃO S IS T E M A ESTA D U A L DE A N Á L ISE DE MULLER, Geraldo. A D in á m ica da a g ric u ltu ra p a u lista .
DADOS. "População Urbana e Rural do Estado SP, Seade, 1985 (Série S P 1980, v. 2).
de São Paulo: Resultados do Censo de 1980" e . "O Núcleo do Padrão Agrário M oderno" SP e m
"Evo lu ção da População Urbana e Rural nas 1 1 p e rs p e c tiv a , 2(4): 50-56, SP, Sead e, out/dez
Regiões Administrativas do Estado de São Paulo, 1988.
Região de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 83

. C o m p le x o a g r o in d u s tr ia l e m o d e r n iz a ç ã o . "A m etrópole: m o d e rn iz açã o , in v o lu çá o e


agrária. SP, H u citecEd u c, 1989 (Estudos Rurais; s e g m e n ta ç ã o " C o m u n ic a ç ã o ao S im p ó s io
10). "T rends a n d ch a lle n g e s o f u rb a n re s tru c tu rin g ",
. "Em prego, Renda e Capitalização: Diagnóstico IS A IU P E R J, Rio de Ja n e ir o , 26 a 30 de
e Tend ên cias da Dinâm ica Agrária Paulista" setem bro de 1988(c) (datilografado, 12 pag).
ra s c u n h o , Araraquara-Unesp/FLC, n9 10, 1990. . A u rb a n iz a ç ã o b ra sile ira . São Paulo, Hucitec,
SANTOS, Milton. P ensando o e sp aço d o h o m e m . São 1993(a).
Paulo, Hucitec, 1982. . Técnica, espaco, te m p o . G lo b a liz a ç ã o e m e io
E spaço e m é to d o . SP, Nobel, 1985. té c n ic o - c ie n tífic o - in fo rm a c io n a l. S ã o Paulo,
SANTOS, Milton e SOUZA, Maria Adélia A. (org). A Editora Hucitec, 1994(b).
c o n s tru ç ã o d o espaço. São Paulo, Nobel, 1986. TOYAMA, Nelson Kazaki. C re s c im e n to a g ríc o la e
"A R e g iã o C o n c e n tr a d a e os C ir c u ito s e m p re g o : Caso da re g iã o de R ib e irã o P reto n o s
Produtivos" Texto apresentado com o parte do a n o s 70. Dissertação de Mestrado, FEA-USP,
relatório de p esquisa do projeto 'O Centro 1982.
Nacional: Crise Mundial e Redefinição da Região VERA , Fran cisco e E lise u A lves. "U rb a n iz a ç ã o
Polarizada' 1986 (datilografado). Desafio à produtividade agrícola" C o n ju n tu ra ,
. M e t a m o r f o s e s d o e s p a ç o h a b it a d o . v.39 (3), março de 1985, p. 159-167
F u n d a m e n to s te ó r ic o s e m e to d o ló g ic o s da
geograFia. SP, Hucitec, 1988 (coleção Geografia:
Teoria e Realidade, série Linha de Frente).

Endereço da autora: Rua Capitão Rabelo, 399 Telefone: (01 1) 681 78 70 Fax (011) 950 07 02
C E P 02039-010 Sáo Paulo SP
(Este artigo foi elaborado em outubro de 1996)

You might also like