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RESUMO:
A Região de Ribeirão Preto, composta por mais de 80 municípios à nordeste do Estado de São Paulo foi, no quadro
brasileiro, uma das primeiras a ser largamente exposta à produção e às trocas globalizadas das atividades agrícolas. A
etapa de desenvolvim ento econôm ico que se inicia em meados do presente século conheceu seu impulso definitivo na
década de 70. Com as m etam orfoses desencadeadas pela revolução científico-técnica e com as novas formas de produção
material e não material por ela apropriadas, a região se transformou num palco de modernizações sucessivas, o que
modificou toda sua geografia, dando novo sentido ao seu tempo e ao seu espaço. Uma de suas novas características, é um
processo acelerado de urbanização e crescimento urbano, promovidos entre outros, pelas novas relações entre a cidade
e o campo, desencadeadas pelas novas necessidades do consumo produtivo da agropecuária moderna.
PALAVRAS-CHAVE:
Meio técnico-científico-informacional, com plexo agroindustrial, consum o produtivo, cidade do cam po, urbanização
corporativa.
ABSTRACT:
The region of Ribeirão Preto, com posed of more than 80 cities in the Northern of São Paulo State was, in Brazil, one of the
first cities to be largely exposed to global production and exchanges of agricultural activities. The stage of econom ic
development that starts in the beginning of this century knew its definite impulse in the 1970s. Through the metamorphosis
provoked by the technical-scientific revolution and through new forms of material and non-material production provided
by it, this region has been transformed into a scene of successive modernization, what has changed all its geography,
attributing a new sense to its time and to its space. One of its new characteristics is a quick process of urbanization and
urban growth, promoted, among other factors, by new relations between city and countryside, provided by the new
necessities of productive consumption of modern agriculture.
KEY-WORDS:
Informational-scientific-technical means, agroindustrial complex, productive consumption, countryside city, corporate
u r b a n iz a t io n .________________ _________________________________________________________________________________________________
A Região de Ribeirão Preto (SP) 1 foi, no momento de m ecanização do território, a região tem
q u a d ro b r a s ile ir o , u m a d a s p r im e ir a s a s e r se mostrado um verdadeiro cam po de provas para a
largam ente exposta a m odernização inerente ao difusão de inovações, especialm ente associadas às
período té cn ico -cie n tífico . D e sd e o p rim e iro n o v a s d e m a n d a s da p ro d u ç ã o e d a s tro c a s
globalizadas das atividades agrícolas. A etapa de
d e s e n v o lv im e n to e c o n ô m ic o que se in icia em
1 -Consideramos aqui a divisão político-administrativa da m eados do presente século conheceu seu impulso
Secretaria de Planejam ento do Estado de São Paulo, que
dividia este estado em 1 1 regiões adm inistrativas até
meados da década de 80, entre as quais a de Ribeirão divulgação dos dados censitários, a Região de Ribeirão Preto
Preto, composta por 80 municipios a nordeste do Estado seria co m p o sta pelas m icro rreg ió es h o m o g én eas de
de Sáo Paulo. Considerando a divisão utilizada pelo IB G E Barretos, Serra de Jaboticabal, Ribeirão Preto, Araraquara,
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para a Planalto de Franca, Serra de Batatais e Alta Mogiana.
74 Denise Elias
definitivo na década de 70. Desde então, a regiáo ser este Estado o núcleo do padrão agrário moderno
tem acum ulado progressivam ente recursos técnicos (Muller, 1985 e 1988), a m odernização da atividade
e financeiros, aum entando a com posição técnica e agropecuária da região considerada foi um a das mais
orgánica de seu territorio, transformando-se numa importantes e com plexas de todo o país, atingindo
d a s p r in c ip a is m a n c h a s d e m o d e r n iz a ç ã o ín d ic e s de d ifu s ã o de in o v a ç õ e s d ific ilm e n te
agropecuária do país. com paráveis aos de outras áreas.
As tra n s fo r m a ç õ e s fo ra m s u b s ta n c ia is Antes m esm o da g en eralização do atual
quanto a form a, o tipo e a intensidade das relações período histórico, a região já m erecia destaque pelo
de toda a natureza, m etam o rfo seando o espaço seu dinamismo econôm ico propiciado pela produção
antigo e criando um novo, no cam po e nas cidades, cafeeira, quando no final do século X IX , firmava-se
caracterizado pela grande quantidade e diversidade com o a principal produtora do Estado de São Paulo
de fíxos artificiais e fluxos de todos os tipos e e, consequentem ente, do país. A acum ulação de
in te n s id a d e s , a ss im c o m o p e lo s n o v o s n ex o s capital propiciada com o café deu-lhe o dinam ism o
p resid id o s p elas cid a d e s e produzidos tanto no capaz de vencer a crise do final da década de 20,
cam po, quanto fora da própria Regiáo de Ribeirão advinda com a queda internacional do preço deste
Preto. Com as m etam orfoses desencadeadas pela produto, e de diversificar sua produção, dando lugar
revolução científico-técnica e com as novas formas ao desenvolvim ento de outras culturas, com o a de
d e p ro d u ç ã o m a te ria l e n ão m a te ria l p o r e la cana-de-açúcar, arroz, milho, feijão, algodão etc.
propiciadas, a região se transform ou num palco de Desde os anos 60, a região vem conhecendo
m odernizações sucessivas, o que modificou toda sua um processo dinâm ico de m odernização agrícola,
geografia, dando novo sentido ao seu tempo e ao que se intensifica sobrem aneira na década posterior,
seu espaço. Uma de suas novas características, é p assando por m u d an ças rad icais. D esde então,
um p r o c e s s o a c e le r a d o d e u r b a n iz a ç ã o e acum ula, p rogressivam ente, recu rso s técnicos e
crescim ento urbano, promovidos, entre outros, pelas financeiros, que foram capazes de m udar sua base
n o v a s r e la ç õ e s e n tr e a c id a d e e o c a m p o , técnica e organizacional. O uso intensivo de ciência,
d e s e n c a d e a d a s p e la s n o v a s n e c e s s id a d e s do tecnologia, informação, capital financeiro e industrial
consum o produtivo da agropecuária moderna. foram os principais vetores de sua m odernização.
As diversas políticas públicas em preendidas pelo
E s ta d o f e d e r a l, s e ja m in e r e n t e s à p e s q u is a
1 A m o d e rn iza ç ã o a grop ecu ária tecnológica, ao crédito agrícola, à im plantação de
in fra - e s tru tu ra , e n tre o u tr a s , fo ra m ta m b é m
Ha Região de Ribeirão Preto, o processo de im prescindíveis ao processo que se sucedeu.
m odernização agropecuária inerente ao atual sistema A m a g n itu d e do c a p it a l c o n s t a n t e e
temporal foi um dos mais intensos do Brasil em geral financeiro im plantado, o elevado grau de acesso às
e do Estado de São Paulo em particular. A adoção políticas agrícolas, assim com o o contingente de
de novos sistemas técnicos e de novos sistemas de força de trabalho, braçal e especializada, que se
ação (Santos, 1994) aum entou sua produtividade e deslocou para a região deram os sustentáculos de
sua produção, transformando-a numa das principais sua m odernização, atendendo aos propósitos da
produtoras agrícolas de São Paulo 2 Considerando b urguesia n acio n al e das grandes holdings que
p a ss a ra m a d o m in a r os s e to re s a s s o c ia d o s à
2 Se considerarm os a produção média da região e do agropecuária m oderna.
Estado de S á o Paulo, no trienio 1979/80 1980/81, A m odernização da agropecuária da Região
teríam os a Região de Ribeirão Preto com o a principal de R ib e irã o P re to im p lic o u num p r o c e s s o de
utilização intensiva de capital e tecnologia, com
produtora de soja (6 2 % ), assim com o de laranja (4 1 % ),
intuito de aum en tar a in ten sid ad e e o ritm o do
cana-de-açúcar (4 0 % ), m ilho (2 5 % ), am endoim (2 3 % ),
t r a b a lh o e, c o n s e q u e n t e m e n t e , a u m e n t a r a
tendo ain d a p articip ação im portante na produção de ve lo cid a d e de rotação do capital das p rin cip ais
algodão (2 9 % ), café (2 0 % ) e arroz (1 8 % ). No ano de 1983/ em p resas ag ríco las e ag ro in d u striais. In ú m e ra s
84 detinha 2 7 % de toda a área agrícola deste Estado, 3 4 % pesquisas tecnológicas voltadas para a produção
da sua produção e 2 7 % do valor da produção (Seade, 1988, agropecuária, envolvendo vários setores industriais
p. 41-42). com o o quím ico, o m e câ n ico , o de e n g en h aria
Regiáo de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 75
a agropecuária da região nas últimas três décadas. m od erna tem o poder de im por esp ecializaçõ es
Desenvolvem-se m antendo inúm eras relações com territoriais cada vez mais profundas. Dessa forma,
os dem ais setores da econom ia, seja o agropecuário as d e m a n d a s d a s p r o d u ç õ e s a g r íc o la s e
para a obtenção de matéria-prima; o industrial para agroindustriais m odernas têm o poder de adaptar
o b te n ç ã o d e m á q u in a s e e q u ip a m e n to s , as cidades próximas às suas principais dem andas,
c o n s e r v a n t e s , e tc , a lé m d e in f lu e n c ia r o convertendo-as no seu laboratório, um a vez que
desenvolvim ento de inúm eras atividades com erciais fornecem a grande m aioria dos aportes técnicos,
e de serviços, localizadas não som ente na região. financeiros, jurídicos, de mão-de-obra e de todos os
Podem os afirmar que, na Região de Ribeirão d e m ais p rodu tos e s e rv iç o s n e c e s s á rio s a sua
Preto, a ên fase ao d e se n vo lvim e n to eco n ô m ico realização. Quanto mais m odernas se tornam estas
voltado para a conquista de m ercados internacionais atividades, mais urbana se torna sua regulação.
de produtos alim entares industrializados ou semi A cada sopro de m odernização das forças
in d u s tria liz a d o s a c a b o u c ria n d o as c o n d iç õ e s produtivas agrícolas e agroindustriais, as cidades da
técnicas e eco nô m icas para uma organização de região se tornavam responsáveis por responder às
atividades agrícolas integradas à indústria e, assim, d e m a n d a s c re s c e n te s de um a s é rie de n o vo s
propiciando o desenvolvim ento de grande número produtos e serviços, dos híbridos à mão-de-obra
d e a t iv id a d e s in d u s t r ia is m o d e r n a s , s e ja m especializada, o que fez crescer a urbanização, o
agroindustriais, de insum os para a agricultura ou tam anho e o núm ero das cidad es. As casas de
ainda de m áquinas e equipam entos para am bos os co m é rcio de im p lem en to s agríco las, se m e n te s,
setores. O resultado é um significativo volum e de grãos, fertilizantes; os escritórios de 'm arketing', de
p r o d u ç ã o in d u s tr ia l a s s o c ia d o à a t iv id a d e c o n s u lto ria c o n tá b il; os c e n tr o s de p e s q u is a
agropecuária, culm inando num processo intenso de biotecnológica; as em presas de assistência técnica,
fusão ou integração de capitais destes dois setores de tran sp o rtes; os se rv iç o s do e s p e c ia lis ta em
e co n ô m ico s, que passam a ser controlados por engenharia genética, veterin ária, a d m in istração ,
grandes em presas nacionais e m ultinacionais. meteorologia, agronomia, econom ia, adm inistração
pública, entre tantas outras se difundiram por todas
as cidades da região. Diante disso, a m odernização
2 A a c e le r a ç ã o da urb an ização agropecuária não apenas am pliou e reorganizou a
produção m aterial, agrícola e industrial, m as foi
O im pacto de todas essas transform ações d e te rm in a n te p ara a e x p a n s ã o q u a n tita tiv a e
econôm icas na dinâm ica populacional e na estrutura qualitativa da produção não material.
dem ográfica foi intenso. Concom itan em ente a uma O resultado é uma grande m etam orfose e
v e rd a d e ira re v o lu ç ã o te cn o ló g ica da p ro d u ção c re s cim e n to da e c o n o m ia u rb a n a d as c id a d e s
agropecuária e agroindustrial, ocorreu uma revolução p ró x im as das p ro d u ç õ e s a g ríc o la s m o d e rn a s ,
d em o g ráfica e urbana, m arcad a por um grande p aralelam en te ao d ese n vo lvim en to de um novo
crescim ento populacional, principalm ente urbano. patamar das relações entre cidade e cam po, que
Em com um com todo o Terceiro Mundo, a região p ode ser v is lu m b ra d o m e d ia n te os d ife re n te s
tem a p r e s e n t a d o um a c e le r a d o p ro c e s s o de c i r c u i t o s e s p a c ia is d e p r o d u ç ã o e c í r c u l o s d e
urbanização e um notável crescim ento urbano. c o o p e ra ç ã o (Santos, 1986) que se estabelecem entre
Um a das características do processo de estes dois espaços. O crescim ento da produção não
m o d e rn iz a ç ã o das a tiv id a d e s ag ro p ecu árias na material é devido ainda ao crescim ento populacional
Região de Ribeirão Preto é o desenvolvim ento de e à revolução do consum o, erigida sob os auspícios
um a gam a muito extensa de novas relações entre o do c o n s u m o de m a ssa , q u e im p õ e in ú m e ra s
cam p o e as cid ad es. Isto se d eve à integração necessidades com o se naturais fossem, associadas
crescente destas atividades ao circuito da econom ia à existência individual e das famílias.
urbana, um a vez que a cidade passa a ser o seu A Região de Ribeirão Preto é um exem plo
local de realização da regulação da agropecuária. im portante de que, nas condições brasileiras, os
Isto se dá tanto pelo fato de seus produtos lugares que m ais rapidam ente respond eram aos
se re m c a d a vez m ais e n treg u es aos m e rca d o s apelos de uma produção agrícola e agroindustrial
urbanos para serem processados e consum idos, globalizadas estão entre os que mais fizeram surgir
m a s, p r in c ip a lm e n te , p o rq u e a a g r o p e c u á r ia inúmeras atividades que escapam às classificações
Região de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 71
parte considerável das agroindústrias se localizam destas atividades desen volveu áreas urbanas de
no cam po, junto à produção de suas matérias-primas. grandes dim ensões, cujos vínculos se d evem às
Essas agroindústrias tèm o poder de criar muitas interrelações, cada vez maiores, entre o cam po e as
novas relações, próximas e distantes, cujos circuitos cidades. As cidades se desenvolvem atreladas às
esp aciais da produção e círculos de cooperação a tiv id a d e s a g ríco la s m o d e rn a s c irc u n d a n te s e
buscam nexos distantes, criando uma gama de novas dependem , em graus diversos, dessas atividades,
r e la ç õ e s s o b r e o t e r r it ó r io , tr a n s fo r m a n d o c u ja p ro d u ç ã o e c o n s u m o se d ã o d e fo rm a
radicalm ente as tradicionais relações cidade-campo, globalizada.
sendo que estes dois espaços passam a emitir e O crescim en to do con su m o produtivo e
receber uma grande quantidade de fluxos de matéria c o n s u m p t iv o ; as n o v a s p o s s ib ilid a d e s de
e de in fo r m a ç ã o . O r e s u lta d o foi u m a to ta l instantaneidade e sim ultaneidade da inform ação e
reorganização do território regional, urbano e rural, do capital financeiro; o aum ento da dem anda de
o n d e se d e s ta ca a ex p a n sã o do m eio técnico- trabalho intelectual; o aprofundam ento da divisão
científico-inform acional no cam po e nas cidades. social e territorial do trabalho, etc, levaram ao
Tudo isso fez da urbanização da Região de fortalecimento e aum ento do núm ero de cidades
Ribeirão Preto um fenôm eno bastante complexo, locais e interm ediárias, fazendo a v a n ç a r a sua
dado a m ultiplicidade de variáveis que nela passam u rb a n iz a ç ã o . A m e d id a q u e a a g r ic u ltu r a se
a interferir, com o a m odernização agrícola associada m o d e r n iz a v a , o n ú m e ro e o t a m a n h o d a s
ao s e t o r in d u s tr ia l, c o m a c o n s e q u e n te aglomerações urbanas ficavam maiores.
especialização destas produções; o crescim ento da As novas qualidades do espaço geográfico
produção não material, seja associada ao consumo da Reg ião de R ib e irã o Preto , a d v in d a s com a
produtivo ou ao consum o consum ptivo; o aumento expansão do m eio técnico-científíco-informacional,
da quantidade e da qualidade de trabalho intelectual; são tanto cau sa q uanto efeito do p ro ce sso de
intenso processo de êxodo rural; a existência do m o d e rn iz a ç ã o c ie n tífic o - té c n ic a da p ro d u ç ã o
agrícola não rural; a migração descendente, etc. Tudo agropecuária e agroindustrial. O dinam ism o destas
isso torna inviável considerar apenas as antigas atividades se dá, desde então, associado ao circuito
relações cidade-campo, uma vez que até mesmo o s u p e rio r da e c o n o m ia , g e ra n d o a d ifu s ã o de
urbano é diferente do que havia há 30 anos atrás. A inúmeros fixos e fluxos, prom ovendo importantes
m edida que se aprofundava a divisão do trabalho taxas de crescim ento econôm ico e urbano.
agrícola e agroindustrial, m ais intenso e complexo Os dados relativos à p o p u lação total da
se tornava o processo de urbanização. Região de Ribeirão Preto nos dão um contingente
A intensa difusão de capital, tecnologia e de 985.617 habitantes em 1950 e de 2.380.010
inform ação nas atividades econôm icas da Região de habitantes em 1991. O crescim ento da população
Ribeirão Preto aum entou a divisão das tarefas e foi, assim, superior a 1.394 mil habitantes num
funções produtivas e administrativas. Paralelamente, período de 40 anos, eqüivalendo a um percentual
processou-se uma alteração qualitativa e quantitativa de 1 4 1,5 % . rio m esm o período, sua popu lação
de a n tig a s fu n ç õ e s , p r o m o v e n d o g ra n d e s u rb a n a p a s s o u de 3 8 4 .3 7 3 p a ra 2 .1 5 7 .5 8 7
transform ações no m ercado de trabalho regional e h a b it a n t e s , p e r fa z e n d o um c r e s c im e n t o de
na repartição dos empregos, assim com o no volum e 1 .7 7 3 .2 1 4 p e sso a s v iv e n d o em a g lo m e ra ç õ e s
e na distribuição da população na superfície regional, urbanas, ou de 4 6 1 % se quiserm os considerar em
com a oco rrên cia de um acelerado processo de term os relativos. Dessa forma, em quatro décadas,
urbanização e de m ultiplicação e crescim ento das enquanto a população total cresceu 2,4 vezes, a
cidades. p o p u la ç ã o u rb a n a se m u lt ip lic o u 5 ,6 v e z e s ,
evidenciand o um crescim ento m uito superior da
população urbana em relação a população total.
3 A U rbanização r e c e n te Som ente na década de 70, o increm ento
urbano foi em torno de 5 0 % , eqüivalendo a cerca
A Região de Ribeirão Preto faz parte do Brasil de 492 m il no vo s h ab itan tes. Um c re s c im e n to
a g ríc o la m o d e rn o , c u ja u rb a n iz a ç ã o se d e v e bastante significativo, que pode, num p rim eiro
diretam ente ao crescim ento e m odernização das m om ento, passar d e sap e rce b id o para a grande
atividades agrícolas e agroindustriais. A expansão maioria dos brasileiros, para os quais o gigantismo
Região de Ribeirão Preto: O Brasil agrícola m oderno 79
do hom em foram largam ente substituídos pelos significativa do dinam ism o econôm ico, social e pela
insumos industriais, que possibilitaram o aum ento expansão do meio técnico-científico-informacional.
da produção e da produtividade da terra. Por outro São motor de inúm eras outras atividades em todos
lado, especializou-se na p ro d u ção de culturas os d e m a is s e to re s e c o n ô m ic o s , a s s im c o m o
voltadas às dem andas de m odernas agroindústrias, re s p o n s á v e is por um p ro c e sso c o rp o ra tiv o de
especialm ente cana e laranja, respectivamente, para o rganização do esp aço , um a vez qu e tanto os
a produção de açúcar, álcool com bustível e suco e s p a ç o s a g r íc o la s q u a n to os u r b a n o s s ã o
concentrado de laranja. organizados de acordo com seus interesses.
Com a introdução da ciência, da tecnologia O que se deu na região foi a construção de
e da in fo r m a ç ã o à p ro d u ç ã o a g ro p e c u á ria e um lu g a r p r o p íc io ao e x e r c íc io de c a p it a is
agroindustrial, processou-se uma contínua renovação hegemônicos. Sua adaptação progressiva e eficiente
de suas forças produtivas, que passaram a responder aos in te re s s e s d e ste s c a p ita is , e s p e c ia lm e n te
com velocidade às necessidades colocadas pelos associados à m odernização da produção agrícola e
a g e n te s e c o n ô m ic o s h e g e m ô n ic o s do se to r, agroindustrial, vincularam -na à g lo b aliz açã o do
refletind o nu m a in te rre la çã o c re s ce n te com as sistem a alimentar, transformando-a num a das áreas
demais atividades econôm icas. agrícolas que mais têm desenvolvido a urbanização
As tra n s fo rm a ç õ e s foram s u b s ta n c ia is e cidades de vários tamanhos.
quanto à forma, ao tipo e à intensidade das relações A u rb a n iz a ç ã o tem se d a d o de fo rm a
de todas as naturezas, transform ando o espaço aglomerada e concentrada, avolumando-se com o
antigo e criando um novo, no cam po e na cidade, êxodo rural, a m ig ra ção d e s c e n d e n te , co m a
caracterizado pela grande quantidade e diversidade e x p a n s ã o da p ro d u ç ã o não m a te ria l, co m o
de fixos e fluxos, assim com o pelos novos nexos trabalhador agrícola não rural, com a nova divisão
presididos pelas cid ad es e produzidos tanto no social e territorial do trabalho na região, entre outros.
campo, quanto fora da região. Com as metamorfoses A R e g ião de R ib e irã o P re to é um dos
desencadeadas pela m odernização agropecuária, a exem plos brasileiros mais im portantes de que o
expansão dos com plexos agroindustriais e de novas p ro c e s s o de m o d e r n iz a ç ã o da a g r ic u lt u r a
form as de p ro d u çã o não m aterial, a região se desenvolveu formas novas de organização espacial.
t r a n s fo r m o u nu m p a lc o de m o d e r n iz a ç õ e s Com o patamar de integração interna e com o resto
sucessivas, dando novas formas e funções ao espaço do país, possibilitado com a construção de estradas
geográfico. vicinais, rodovias e toda sorte de um num eroso
A e x p a n s ã o do m eio técnico-científico- conjunto de sistemas de engenharia, chegou-se a
inform acional, na cidade e no campo, a aceleração uma qualidade superior de seu sistema urbano. Hoje,
da urbanização e o crescimento numérico e territorial a espessura do sistem a espacial (M. San tos, 1993 a,
das cidades foram, em termos espaciais, os impactos p. 125) da região é muito maior do que há 20 ou 30
mais contundentes do processo de modernização anos atrás, exatamente pela expansão da ciência,
da atividade agropecuária e da organização dos tecnologia e informação, que criou as condições para
c o m p lex o s ag ro ind ustriais, m otor princip al das a maior divisão social e territorial do trabalho e maior
transform ações, já que só se realizam integradas ao s o lid a rie d a d e o rg a n iz a c io n a l, c u lm in a n d o em
circuito da econom ia urbana. Destacaríamos, assim, grandes m udanças na hierarquia entre as cidades
a o rg an iz a çã o das cid a d e s do cam po, que se que a compõem.
organizam de form a corporativa, em função das A m o d e r n iz a ç ã o t e c n o ló g ic a da s u a
d e m a n d a s d e s ta s a tiv id a d e s , assim co m o as produção agropecuária dem onstra que partes do
ag ro in d ú strias co m o ag lu tin ad o ras de circu ito s c a m p o b r a s ile ir o a c o lh e r a m e d ifu n d ir a m
espaciais de produção e círculos de cooperação que rapidamente grande quantidade de novos capitais.
unem cam po e cidade num processo uníssono de A evolução das forças produtivas, assim com o as
produção. tra n sfo rm a çõ e s das form as de o rg an iz ação do
O s s e t o r e s in d u s tr ia is a s s o c ia d o s à trabalho e do emprego foram intensas e acabaram
tran sfo rm a çã o da cana e da laranja exercem a por promover mudanças substanciais à produção do
h e g e m o n ia na re g iã o . S ã o e s te s ra m o s da território da área pesquisada, resultando uma nova
agroindústria que mais têm provocado a difusão de organização espacial, com estrutura, função e forma
fixos e flu x o s, re s p o n d e n d o por p a rte m uito distintas dos períodos anteriores.
82 Denise Elias
Bibliografia
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(Este artigo foi elaborado em outubro de 1996)