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trut
uradeAç
o|Vol
ume5|Númer
o2
recebido: 26/01/2016
aprovado: 12/02/2016 Volume 5. Número 2 (agosto/2016). p. 79-98 ISSN 2238-9377
Revista indexada no Latindex e Diadorim/IBICTo
RESUMO
O dimensionamento de barras de aço sob compressão centrada conforme a NBR 8800
de 1986 tinha por base as múltiplas curvas europeias. A base escolhida para a ABNT
NBR 8800:2008, no entanto, foi o AISC, norte-americano. Apesar de ambas levarem a
resultados similares, a formulação é diferente. Neste trabalho apresenta-se uma
detalhada e didática introdução sobre o comportamento dessas barras de aço. São
abordados tópicos relacionados à teoria clássica de flambagem, que é válida somente
para barras ideais, e o efeito de imperfeições geométricas e do material. Apresenta-se,
também, um estudo simplificado da estabilidade do equilíbrio de barras com rigidez
concentrada.
Volume 5.Inclui-se
Número 1uma dedução p.da
(março/2016). curva para ISSN
21-38 dimensionamento
2238-9377 de barras
constituídas por materiais elástico-lineares e a comparação entre resultados obtidos
de várias curvas.
ABSTRACT
The design of steel columns recommended by Brazilian standard NBR 8800:1986 was
based on Eurocode 3 curves. The Brazilian standard ABNT NBR 8800:2008, however,
was based on the North American specification AISC. The North American and
European curves although lead to similar results, their equations are very different. In
this paper, detailed and didactic introduction on the behavior of columns is presented.
Topics related to the classic buckling theory (bifurcation point), the effects of the
geometric imperfections and of the material behavior are included. A simplified but
interesting study of the stability of systems of rigid bars connected by springs based on
the minimization of the total potential energy is presented. The buckling curve for
elastic materials is derived and comparisons between several curves are presented.
* Correspondent Author 79
1 Teoria clássica de flambagem
A teoria clássica de flambagem (Euler) tem por hipóteses que as barras sejam ideais,
ou seja, que possuem as seguintes características: material homogêneo de
comportamento elástico-linear, sem tensões residuais, sem imperfeições geométricas,
força centrada e que não ocorra instabilidade local ou global por torção ou
flexotorção.
d2v M
2
=− (1)
dw EI
π 2 EI π 2 E A
Ne = = (2)
l2 λ2
w
σe = Ne/A
F
v λ
F
Figura 1 - Barra biarticulada solicitada. Figura 2 - Hipérbole de Euler (σe x λ).
a
Segundo a ABNT NBR 8681:2003, “ações são as causas que provocam esforços ou deformações nas estruturas. Do
ponto de vista prático, as forças e as deformações impostas pelas ações são consideradas como se fossem as
próprias ações “. A mesma norma usa como símbolo de ação a letra F. Assim, neste texto, será usado o símbolo F
para força externa, para não confundir com a força normal solicitante N, que é um esforço interno.
b
A ABNT NBR 8800:2008 usa o símbolo Ne para indicar a força axial de flambagem elástica, sem distinguir a força
normal aplicada (externa) da força normal solicitante (interna). Apesar de isso poder trazer confusão em alguns
casos, neste texto, será mantido o símbolo dessa norma, visto que são estudados casos em que essa simplificação
não afeta o entendimento.
80
Na Figura 2, é mostrado o gráfico σe x λ, conhecido como hipérbole de Euler, em que
σe = Ne/A. O emprego da forma linearizada, equação 1, permite deduzir a força que
provoca flambagem, mas não a configuração pós-crítica, ou seja, seus deslocamentos
transversais são indeterminados. Empregando uma expressão mais precisa (ainda sem
ser exata) para a curvatura, ou seja, a equação 3 em que v é a ordenada associada a
deslocamentos transversais, é possível encontrar a relação entre a força normal
aplicada e o deslocamento no meio da barra, vmáx , conforme Figura 3, para material
elástico-linear. O gráfico apresentado é conhecido como trajetória de equilíbrio.
1 M − v"
= = (3)
(
ρ EI 1 + v' 2 3/2 )
Como se pode observar na Figura 3, ao se aplicar na barra biarticulada uma força axial
superior a Ne, há duas soluções possíveis de equilíbrio (vide item 3.2 deste texto),
ocorrendo um ponto de bifurcação nas trajetórias de equilíbrio. Uma, instável (em
linha tracejada), em que a barra permanece na posição reta e outra, estável, em que a
barra se deforma à procura do equilíbrio, porém com deformações incompatíveis com
os materiais usualmente empregados na construção civil. Ao fenômeno do
aparecimento de um ponto de bifurcação (Ne) na trajetória de equilíbrio apresentada
na Figura 3, se denomina flambagem de Euler ou simplesmente “flambagem” (vide
item 3.3 deste texto). Valores máximos do deslocamento, vmáx, para valores de F pouco
superiores a Ne são mostrados na Figura 4 (Fruchtengarten 1988). Para F > Ne, as
deformações são muito elevadas para a construção civil, conduzindo as peças
estruturais usuais à sua capacidade resistente.
F
M
material 8 F 1 F
F elástico-
0,3
v max = − 1 1 − − 1 l
ℓ 0,25 π Ne 2 Ne
κ 0,2
v L
/x 0,15
á
vm 0,1
Solução
0,05
Ne mais
Solução precisa 0
aproximada 1 1,01 1,02 1,03 1,04 1,05 1,06 1,07 1,08 1,09 1,1
F/N e
vmáx
π2E
λi = (4)
fy
c
Apesar de esta seção tratar da teoria clássica de flambagem, na qual é perfeitamente aceitável
considerar o K, julgou-se relevante fazer os comentários que se seguem. Em casos práticos, as barras
sempre estarão submetidas a imperfeições iniciais e, nesses casos, a ABNT NBR 8800:2008 recomenda
que se adote K = 1, porém considerando-se os efeitos das imperfeições iniciais equivalentes,
geométricas e do material. A norma brasileira também aceita K ≤ 1, desde que demonstrado. Em anexo,
a ABNT NBR 8800:2008 aceita valores superiores a 1,0 para barras isoladas. O autor julga que essa
concessão somente vem a confundir o novo procedimento para dimensionamento em que se considera
K = 1, na presença de imperfeições.
82
λ λ
λ0 = =
λi π2E (5)
fy
NR
λ ≤ λ i → λ 0 ≤ 1 NR = Ny = fy A ∴ =1
Ny
π 2 EI NR π2E 1
λ > λ i → λ 0 > 1 NR = N cr = 2
∴ = 2 = 2 (6)
l N y λ fy λ0
δ0
δt = δ0 + δ =
F (7)
1 −
Ne
δ0 δ
83
A dedução apresentada a seguir foi inspirada em SALES et al. (1994) com
complementações do autor deste artigo.
F M
σ max = + (8)
A W
F M δ0
σ max = +
A W F (9)
1 −
Ne
χ Afy δ0
fy = χ fy +
W F (10)
1 −
Ne
F
= χ λ 02 (11)
Ne
A δ0
χ 2 λ 02 − χ 1 + λ 02 + +1= 0 (12)
W
2
δ0 A 2 δ0 A 2
1 + + λ0 − 1 + + λ 0 − 4 λ 02
W W (13)
χ= 2
2 λ0
84
δ0 A λ Ar π2 E
= 0 (14)
W n W fy
χ =
(1 +α λ 0 )
+ λ 02 − (1 + α λ 0 + λ 02 )
2
− 4 λ 02
(15)
2 λ 02
Ar π2 E
α= (16)
nW fy
alfa =0,1
0,8
alfa=0,23
0,6
χ
0,4
0,2
0
0 1 2 3
λ0
Figura 8 - Relação entre χ e λ0 para material elástico-frágil com imperfeição
geométrica em função de α.
85
3 Material de comportamento elástico não linear
Para os materiais com comportamento elástico não linear que seguem um diagrama
σ x ε, conforme Figura 9, deve-se criar uma esbeltez-limite, λr, para aplicação da
expressão de Euler, equação 2. λr pode ser determinada igualando-se a força crítica,
N e = π 2 E A λ 2r , àquela que provoca a tensão correspondente ao limite de
π2E
λr = (17)
σp
σ
χ
αt (ε) 1
fy 1
σp σp/fy λ20
tan α = E/fy
tan αt = Et/fy
α ε λ0
fy
σp
Figura 10 - Gráfico χ x λ0 para material
Figura 9 - Diagrama tensão-deformação
elástico não linear, sem imperfeição
de um material elástico não linear.
geométrica.
Et
χ= E (18)
λ 02
86
3.2 Material elástico não linear (com imperfeição geométrica); estabilidade do
equilíbrio
A energia potencial total de um sistema estrutural (V) pode ser definida como a
diferença entre a energia potencial dos esforços internos ou energia de deformação
(U) e a energia potencial dos esforços externos (W). Segundo o teorema de Lagrange-
Dirichlet: “É condição suficiente para a estabilidade de equilíbrio de uma configuração
de um sistema que a energia potencial total seja mínima (∂V/∂ϕ = 0). Esse teorema,
proposto por Lagrange e demonstrado por Dirichlet, é válido para sistemas
conservativos e discretos e será aplicado para casos simples (Figura 11) de uma barra
com uma mola representando a rigidez à flexão concentrada na base e imperfeição
simulada por meio de um ângulo ϕ0.
F
F
ℓ(1-cos ϕ)
ϕ0
l ϕ
M = f(ϕ)
87
Tabela 1 – Análise da estabilidade do equilíbrio
ϕ K ϕ2 K (ϕ − ϕ 0 )
2
∫
ϕ
U= Kϕ=
0 2 U= ∫ϕ0
K (ϕ − ϕ 0 ) =
2
V=U–W= K ϕ2 - F ℓ (1 - cos ϕ) K (ϕ − ϕ 0 )
2
V=U–W= - F ℓ [cos ϕ0 – cos ϕ]
2 2
∂V ∂V
= K ϕ − F l sinϕ = 0 = K (ϕ − ϕ 0 ) + F l sin (ϕ ) = 0
∂ϕ ∂ϕ
K ϕ K ϕ − ϕ0
F= F=
l sinϕ l sin ϕ
ϕ2 ϕ4 (ϕ − ϕ0 )2 (ϕ − ϕ0 )4
V = U - W = K − − F l (1 − cos ϕ) V = U - W = K − − F l (cos ϕ0 − cos ϕ )
4 2 4
2
∂V
( )
= K ϕ − ϕ 3 − F l sinϕ = 0
∂V
∂ϕ
[
= K (ϕ − ϕ 0 ) − (ϕ − ϕ 0 ) − F l sinϕ = 0
3
]
∂ϕ
K ϕ − ϕ3 F=
K [(ϕ − ϕ ) − (ϕ − ϕ ) ]
0 0
3
F= l sin ϕ
l sinϕ
88
2E+ 06
2E+ 06
1E+ 06
F F
N 1E+ 06
800000
600000
400000
imperfeição crescente
200000
1 E +0 6 1 E +0 6
sem imperf
sem eição
imperfeição
1 E +0 6 1 E +0 6
1 E +0 6 1 E +0 6
8 0 0 0 0 0 8 0 0 0 0 0
N
F 6 0 0 0 0 0 F 6 0 0 0 0 0
imperfeição
imperf crescente
eição crescente
4 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 0
2 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0
0 0
0 0 2
. 0 4
. 0 6
. 0 8
. 1 1 .2 1 .4 0 0 .1 0 .2 0 .3 0 .4 0 .5 0 6
.
ϕ ϕ
Com base na Tabela 1 e Figuras 12 a 15, a Figura 16 apresenta a relação entre a força
normal aplicada e o deslocamento lateral no centro da barra, vmáx, para materiais de
comportamento linear e não linear.
Como se pode notar, no caso de barras com imperfeições constituídaas por materiais
elástico-lineares,, não ocorre bifurcação na trajetória de equilíbrio e, portanto, não
ocorre flambagem e sim flexão composta. No caso de materiais de comportamento
não linear,, também não ocorre ponto de bifurcação, mas há instabilidade a partir do
89
ponto em que não há solução para equilíbrio, PIMENTA (2008). Esse ponto é
denominado “ponto limite” (vide item 3.3 deste texto).
σ σ σ
fy
material Sem material fy - σr material elástico-elástico
N não linear N
N elástico-linear imperfeiçõe não linear
ε s ε ε
Ncr Ponto-limite
Ponto-limite
Ncr
N
Com
imperfeições
vmáx vmáx
δ1<δ2<δ3<δ4 vmáx
As normas brasileiras ABNT NBR 6118 e ABNT NBR 7190 passaram a seguir essa
nomenclatura. A ABNT NBR 8800:2008, tentando facilitar o entendimento dos leigos
no assunto, usa "associado à flambagem", ao se referir à compressão. O autor pensa
que, ao contrário de se tentar facilitar o entendimento de algo impreciso, se deveria
usar a linguagem correta, com as devidas explicações, como faz a ABNT NBR 6118, que
90
vai além e diferencia ponto-limite com reversão (no caso de cascas ou treliças
abatidasd) e sem reversão (no caso de barras). Convém lembrar aqui, parte do texto da
subseção 15.2 da ABNT NBR 6118:2014.
Essas considerações, obviamente, são estendidas às chapas. Por exemplo, nos perfis
formados a frio, considerando-se as imperfeições e a configuração pós-crítica,
nitidamente não se pode chamar, genericamente, de flambagem local (ou distorcional)
de chapa e sim de instabilidade local (ou distorcional).
d
“snap-through”
e
A teoria da estabilidade elástica, como o próprio nome diz, não é aplicada na plasticidade. Assim, esse
assunto pode se tornar mais complexo, ao ocorrer um terceiro ponto crítico que só é encontrado
empregando-se métodos numéricos. Esse aprofundamento escapa do escopo deste trabalho. O autor julga
que o apresentado no texto é suficiente para se compreender os fenômenos apresentados.
91
As normas brasileiras destinadas ao dimensionamento de estruturas de aço, ABNT NBR
8800:2008, ABNT NBR 14762:2010 e ABNT NBR 16239:2013 precisam se alinhar às
demais normas brasileiras. O termo flambagem deve ser evitado nas referidas normas
pela sua imprecisão. Aliás, seguindo a linha da ABNT NBR 6118:2014, o autor
recomenda que as normas de estruturas de aço deixem de usar "comprimento de
flambagem" e passem a usar "comprimento efetivo", a fim de evitar uma confusão que
ainda persiste para alguns engenheiros de estruturas de aço.
4 Material elastoplástico
α ε λ0
0,2 fy
σp
5 Dimensionamento
π 2 (EI) ef
Ne = (19)
l2
N e = π 2 EI ef l 2 .
σ σ
fy fy
f y - σr
arctan E
ε ε
(a) (b)
(a) aço sem tensão residual (b) aço com tensão residual
93
As extremidades das mesas apresentam tensão residual de compressão (para perfil
laminado ou perfil soldado com chapas das mesas não cortadas a maçarico). Se, para
efeito de raciocínio, as tensões residuais de compressão forem concentradas nas
extremidades das mesas, como se pode observar na Figura 22, cada seção transversal
deverá terá duas curvas χ x λ0, uma para a direção x-x e outra para y-y. Elas integram
as múltiplas curvas usadas pelo EUROCODE 3 (2005), conforme item 5.2 deste texto.
σr,com
p.
d d
x x y y
( 20)
1
Para λ0 > 0,2 χ =
[ ]
0,5 1 + α (λ 0 − 0,2) + λ 02 + [0,5 (1 +α (λ 0 − 0,2) + λ 02 )] − λ
2 2
0
94
imperfeição inicial “equivalente”. Em vista da variabilidade dos resultados, o Eurocode
3 apresenta quatro curvas que se diferenciam em função de α, o qual varia entre 0,21
e 0,76. Na Figura 23 apresenta-se a relação entre χ e λ0 conforme o EUROCODE 3
(2005) e conforme a equação 15, válida para material elástico-linear (item 2.2 deste
texto), com α = 0,15. Nota-se que as grandes alterações conceituais inseridas pelo
EUROCODE 3 (2005) não afetam demasiadamente a aparência da curva.
A ABNT NBR 8800:2008, inspirada no ANSI/AISC 360-05 (2005), recomenda uma curva
única para dimensionamento de pilares, conforme equação 21.
2
para λ 0 ≤ 1,5 → χ = 0,658λ 0
0,877 (21)
para λ 0 > 1,5 → χ =
λ 02
1 1
0,8 0,8
0,6 0,6
χ
0,4 0,4
0,2 0,2
0 0
0 0,5 1 1,5 2
0 0,5 1 1,5 2
λ0 λ0
95
Na Figura 26, compara-se a ABNT NBR 8800:2008 aos resultados do estudo anterior
(item 2.2) válido para material elástico-linear. Apesar de as hipóteses para a dedução
da curva da ABNT NBR 8800:2008, que tem por base o ANSI/AISC 360-05 (2005),
incluírem imperfeições (PIMENTA, 1997), ela se ajusta à média dos valores
determinados para material elástico-linear.
0,8
0,8
0,6
χ/γ
0,6
χ 0,4
0,4
0,2
0,2 0
0 1 2 0 1 2 3
λ0 λ0
7 Conclusão
Analisou-se neste trabalho a relação entre a força normal resistente de pilares de aço e
a esbeltez, para vários modelos constitutivos, incluindo elastoplasticidade e
imperfeições geométricas.
96
As diferenças de formulação são acentuadas entre as normas europeia e brasileira. No
entanto, as diferenças entre resultados são reduzidas na prática de projeto, em vista
de que o coeficiente de ponderação das resistências γ vale 1,1 na ABNT NBR 8800:2008
e 1,0 no Eurocode 3 (2005).
8 Agradecimentos
9 Referências bibliográficas
97
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto.
ABNT NBR 6118:2014. Rio de Janeiro.
BRASIL, R. M. L. R. Instabilidade elástica das estruturas. Notas de aula. São Paulo. 1991.
JANSS, J.; MINNE, R. Buckling of steel columns in fire conditions. Fire Safety Journal, v.
4. 1981. Amsterdam.
RONDAL, J. MAQUOI, R. Single equation for SSRC columns strength curves. Journal of
the structural division (ASCE). v. 105. n. St 1. 1979.
1
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São-
Carlense nº 400, margot.pereira@usp.br
2
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de São Carlos, Rodovia
Washington Luís, km 235, snardin@ufscar.br,
3
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, Av. Trabalhador São-
Carlense nº 400, analucia@sc.usp.br
Resumo
O pilar misto parcialmente revestido é fruto da associação de um perfil de aço e concreto
armado trabalhando em conjunto. Nesses pilares, o perfil de aço, normalmente com seção I ou
H, tem apenas a região entre as mesas preenchida com concreto armado. A utilização de
barras longitudinais e estribos é a forma mais usual e recomendada por norma para as
armaduras do concreto posicionado entre as mesas do perfil I. No entanto, a presença destas
armaduras pode dificultar a concretagem, aumentar os desperdícios com material e mão de
obra, além de comprometer a industrialização do elemento misto. Nesse contexto, o presente
estudo busca avaliar o comportamento estrutural do pilar misto parcialmente revestido
quando as armaduras convencionais na forma de barras imersas no concreto são substituídas
por fibras de aço distribuídas aleatoriamente. Para avaliar a eficiência estrutural e os efeitos da
substituição proposta foram realizados alguns ensaios exploratórios utilizando modelos físicos
representativos de pilares mistos parcialmente revestidos. Ao todo foram ensaiados três
exemplares de pilar parcialmente revestido: dois submetidos a compressão centrada, sendo
um com armadura convencional e outro com fibras de aço e um submetido a compressão
excêntrica. Nos exemplares com fibras foi utilizada taxa de 1,5% em fibras de aço com 25 mm
* Autor correspondente 99
de comprimento. Embora seja um estudo exploratório, os resultados experimentais apontam
para a viabilidade estrutural da substituição das barras de armadura por fibras de aço tendo
sido verificada a sua contribuição na prevenção da fissuração do concreto e na sua integridade
durante todos os estágios de carregamento.
Palavras-chave: Pilar misto parcialmente revestido. Concreto com fibras de aço. Análise
experimental.
Abstract
Partially encased composite column is the result of the combination of a steel section and
concrete working together. In these columns the steel section, typically I or H-shaped, is not
completely encased in concrete, being filled only the space between the flanges. The most
common and recommended way for reinforcement is the use of longitudinal steel bars and
stirrups. However, the presence of these reinforcing bars between the flanges can result in
concreting difficulties, increase waste with materials and loss of industrialization of the
composite element. In this context , the present study aims to evaluate the structural behavior
of the partially encased composite column when reinforcing bars immersed in concrete are
entirely replaced by steel fibers. In order to evaluate the structural efficiency of the
replacement and its effects some tests were conducted with representative specimens of
partially encased composite columns. Three specimens were tested: two specimens under
concentric loads, with conventional reinforcing bars or with steel fiber, and one specimen with
steel fibers and under eccentric loads. In the specimens with steel fiber concretes were used a
rate of 1.5% of fibers with length of 25 mm. The experimental results showed the structural
viability of replace the steel bars by steel fibers because the fibers prevent premature cracking
of concrete contributing to the concrete integrity during all stages of loading.
Keywords: Partially encased composite column. Concrete with steel fibers. Tests.
1 Introdução
Os elementos mistos de aço e concreto são formados pela associação de perfis de aço,
concreto estrutural e algum mecanismo que promova o trabalho conjunto aço-concreto.
Inicialmente, o concreto exercia a função de revestir e proteger os perfis de aço; mais tarde,
observou-se que o concreto também poderia assumir função estrutural. Assim surgiram os
100
primeiros elementos mistos de aço e concreto que, com o tempo, se mostraram
estruturalmente muito eficientes, reunindo as boas características do aço e do concreto e
minimizando os aspectos menos favoráveis de cada um desses materiais. Além disso,
vantagens construtivas como redução de desperdícios de materiais e mão de obra podem ser
associadas ao elemento misto de aço e concreto por meio da pré-fabricação, restando apenas
as etapas de içamento e montagem para realização em canteiro de obras. Ao comparar
soluções em elementos mistos e em concreto armado verifica-se que a primeira permite
reduzir ou eliminar formas e escoramentos, reduzir o peso próprio da estrutura em
decorrência de elementos mais resistentes e estruturalmente mais eficientes, e aumentar a
precisão dimensional. No contexto dos elementos mistos de aço e concreto encontram-se os
pilares parcialmente revestidos que são constituídos por um perfil de aço, usualmente de
seção I ou H, com a região entre as mesas preenchida com concreto armado (Figura 1a). Os
primeiros pilares parcialmente revestidos investigados pelo meio técnico eram compostos por
perfis de aço de seção compacta (Figura 1a) e foram incluídos em diversas normas de
dimensionamento/verificação, por exemplo na ABNT NBR 8800:2008. No entanto, além da
necessidade de armaduras na forma de barras, a utilização de perfis compactos faz com que
uma parcela considerável da capacidade resistente do pilar misto advenha do aço. Na busca
por alternativas para eliminar as armaduras e reduzir o consumo de aço na forma de perfis,
grande parte dos estudos se voltaram para pilares com seções formadas por chapas finas
(VINCENT e TREMBLAY, 2001; CHICOINE et al., 2002; TREMBLAY et al., 2002 e CHICOINE et al.,
2003).
bf
b
t
t
barra
barra
(a) (b)
Figura 1 – Pilar misto parcialmente revestido: (a) seção típica; (b) seção modificada.
Diferentemente das seções compactas inicialmente estudadas, a seção de aço com chapas
finas apresenta mesas e alma com a mesma espessura reduzida, unidas por soldas e
101
reforçadas com barras transversais ligando as mesas (Figura 1b). As barras transversais
distribuídas ao longo de toda altura do pilar são utilizadas com o propósito de minimizar os
efeitos das instabilidades locais decorrentes da utilização de chapas de pequena espessura na
composição do perfil I. Parâmetros como dimensões da seção transversal, espaçamento das
barras transversais, sequência de carregamento, tipo de solicitação e características do
concreto foram investigados num extenso programa experimental. Os resultados
experimentais mostraram a eficiência das barras transversais para postergar o aparecimento
de instabilidades locais, além de melhorar a ductilidade e a resposta pós-pico do pilar misto.
Posteriormente foi avaliado o efeito da adição de fibras de aço ao concreto da região entre as
mesas quando são utilizadas seções I não compactas (PRICKETT e DRIVER, 2006). O estudo
contemplou dois tipos de concreto: concretos de resistência usual e de alta resistência e, como
esperado, os pilares com concreto de resistência usual apresentaram maior ductilidade.
Contudo, a redução no espaçamento entre as barras transversais e a adição de fibras de aço ao
concreto de alta resistência melhorou a ductilidade. Portanto, como já sabido de outras
aplicações, também no caso dos pilares parcialmente revestidos, a associação de concreto de
alta resistência e fibras de aço é extremamente benéfica para reduzir o comportamento frágil
característico do material concreto. Resta agora investigar se, de fato, tal adição pode
substituir as armaduras no caso do pilar parcialmente revestido. Vale lembrar que nesse caso
específico as armaduras são obrigatórias pois é preciso minimizar a fissuração e o
fendilhamento do concreto entre as mesas do perfil.
No Brasil, estudo experimental recente avaliou a substituição das armaduras usuais na forma
de barras e estribos por tela soldada e tal substituição se mostrou bastante interessante
(PEREIRA, 2014; PEREIRA et al., 2016). No entanto, a tela soldada também necessita ser
adequadamente posicionada entre as mesas e demanda algumas etapas para sua confecção e
fixação.
No contexto dos pilares mistos, o presente estudo tem o objetivo de investigar a substituição
da armadura convencional, exigida pela ABNT NBR 8800:2008, por fibras de aço para pilares
mistos parcialmente revestidos. Para isto, a metodologia utilizada foi a realização de três
ensaios exploratórios cujos detalhes são descritos a seguir.
102
2 Investigação experimental
Como este estudo tem caráter exploratório e visa avaliar a possibilidade de substituir a
armadura convencional na forma de barras por fibras de aço, três exemplares de pilar
parcialmente revestido foram utilizados na investigação experimental (Tabela 1). Um exemplar
com concreto armado foi utilizado como referência (exemplar R) para avaliar possíveis
mudanças no comportamento e na capacidade resistente decorrentes da substituição das
barras de armadura por fibras de aço. Dois exemplares sem barras de armadura, apenas com
concreto com fibras de aço, denominados PEC-C e PEC-E, foram submetidos a compressão
centrada e excêntrica, respectivamente.
Exemplar Características
R (referência) Exemplar em concreto armado com barras de aço e submetido a
compressão simples
PEC-C Exemplar em concreto com fibras de aço e submetido a compressão
centrada
PEC-E Exemplar em concreto com fibras de aço e submetido a compressão
excêntrica
3,18 3,18
3,18
Ø 5mm
131,36
131,36
125
85
4 Ø 8mm
20
20 40,91
3,18
3,18
SFRC
60,91
a) b)
12,7
T5 T6 T7
30
Face 3
T1 T5
T2
300
T3
500
10
T4
Face 4
Face 2
T6
1000
Face 2
330
720
Face 1 T1
E2
E2 Face 3
450
T7
Face 4
340
Face 2
12,7
E4 Face 1
A força de compressão centrada (exemplar R) foi aplicada apoiando a base da rótula universal
diretamente sobre o topo dos exemplares R e PEC-C (Figura 4a). No caso da força excêntrica
(exemplar PEC-E), sua aplicação foi feita utilizando uma chapa em forma de meia lua com seu
centro deslocado de 10 mm em relação ao eixo central do pilar (Figura 4b). Com isso, a força
de compressão excêntrica foi aplicada com 10 mm de excentricidade. O carregamento foi
aplicado em duas etapas: 1) etapa de escorvamento na qual foi aplicada força de compressão
equivalente a 30% da máxima prevista a fim de verificar o funcionamento dos equipamentos e
avaliar o procedimento de aplicação da força; 2) ensaio até a ruptura. Uma vez concluído o
escorvamento e retirada toda a força de compressão aplicada, o ensaio propriamente dito era
iniciado com a aplicação da força de compressão a uma velocidade de 0,005 mm/s até que
fosse atingida a força máxima resistida por cada exemplar. Após isso, no trecho pós-pico, a
105
velocidade de aplicação do carregamento era reduzida pela metade visando o melhor
acompanhamento dessa fase.
2.2 Resultados
- Caracterização dos componentes da seção mista
106
Aço armaduras Resistência ao escoamento (MPa) - barras de 5 mm 674,3
Resistência ao escoamento (MPa) - barras de 8 mm 569,3
- Configuração final
A configuração final dos exemplares ensaiados é mostrada a seguir (Figura 5). Os três
exemplares apresentaram instabilidade local das mesas e esmagamento do concreto sendo
que os primeiros sinais de instabilidade local ocorreram para uma força correspondente a 70%
da força máxima. No exemplar submetido a compressão excêntrica (PEC-E, Figura 5c) a
fissuração do concreto concentrou-se na face mais comprimida ocorrendo,
predominantemente, após a força máxima ter sido atingida (trecho pós-pico).
107
(c) Exemplar PEC-E
Os exemplares foram ensaiados com controle de deslocamento e isto permitiu conhecer sua
resposta nos trechos pré-pico e pós-pico, ou seja, até a capacidade resistente ser atingida e,
posteriormente. Os valores de força última (Tabela 4) correspondem aos máximos valores de
força aplicados em cada exemplar e indicam que não houve perda de capacidade resistente
devido à substituição das barras de armadura (exemplar R) por fibras de aço (exemplar PEC-C).
Isso pode indicar que nenhuma perda de capacidade resistente decorreu desta substituição.
Naturalmente, estes primeiros resultados experimentais carecem de investigações mais
aprofundadas para confirmar o observado aqui. Entre os dois exemplares com fibras de aço, a
diferença na capacidade resistente deve-se ao tipo de força aplicada, centrada ou excêntrica,
respectivamente nos exemplares PEC-C e PEC-E. Nenhuma comparação com valores de força
resistente normativos foi realizada haja vista que normas de dimensionamento/verificação
como a ABNT NBR 8800:2008 não contemplam a substituição de armaduras investigada no
presente estudo.
108
PEC-E 816,0
- Comportamento global
O comportamento global dos exemplares ensaiados pode ser avaliado a partir das curvas Força
vs. Deslocamento vertical do pistão (Figura 6). Verifica-se que os três modelos apresentam
praticamente a mesma resposta nos trechos iniciais de carregamento (Figura 6),
independentemente do tipo de armadura ou solicitação. A substituição das barras de
armadura por fibras de aço não trouxe mudanças significativas nos valores de capacidade
resistente a compressão (Tabela 4) e na resposta global dos exemplares submetidos a
compressão centrada para o trecho pré-pico (exemplares R e PEC-C, Figura 6a).
Comparando o comportamento global para um mesmo percentual de força aplicada (tomada
em relação à força máxima em cada exemplar) - Figura 6b - verifica-se que até próximo de
0,2Fmax o comportamento dos três exemplares é praticamente idêntico. A partir deste ponto a
curva correspondente ao exemplar submetido a compressão excêntrica (PEC-E) começa a se
distanciar das demais, apresentando maiores deslocamentos verticais.
Comparando somente os exemplares submetidos a compressão centrada observa-se a
completa similaridade de comportamento global em todo o trecho ascendente. No entanto,
no trecho pós-pico a mesma semelhança não é observada; o exemplar com barras de
armadura apresenta maior capacidade de deformação e capacidade resistente residual que os
demais.
O exemplar com fibras e submetido a compressão simples (PEC-C) apresentou queda brusca
logo após a força máxima ser atingida e, posteriormente, manteve capacidade de deformação
bem inferior ao exemplar com armaduras usuais (R) e semelhante ao apresentado pelo
exemplar armado com fibras e submetido a compressão excêntrica (PEC-E).
Algumas hipóteses podem ser apontadas para justificar a menor capacidade resistente residual
nos exemplares com fibras: 1) efeito da substituição das barras de armadura por fibras de aço
nos exemplares PEC-C e PEC-E; 2) ausência de estribos soldados à alma do perfil e promovendo
uma ligação mecânica claramente definida como no exemplar R. Nos exemplares com fibras
não há a ligação mecânica perfil-concreto via estribos e pode haver uma tendência de
separação entre o concreto e o perfil de aço.
Somente a realização de novos ensaios nos quais esse aspecto possa ser investigado de forma
mais aprofundada poderá apontar qual a causa da redução na capacidade resistente residual
observada nos exemplares com fibras de aço.
109
Força aplicada (kN)
Ref
1000 PEC-C
PEC-E
800
600
400
200
0
0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0
Deslocamento do pistão (mm) a) Força aplicada
0,4 PEC-C
0,2
0,0
0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0
Deslocamento do pistão (mm) b) Força aplicada/Força última
Figura 6 – Comportamento global dos exemplares ensaiados: Força vs. Deslocamento vertical do
pistão
O comportamento global dos exemplares ensaiados também pode ser avaliado a partir dos
encurtamentos registrados pelo transdutor T1 (Figura 3a). Estes encurtamentos são
convertidos em deformação total a partir da divisão dos valores de encurtamento pela base de
medida (igual a 720 mm, Figura 3b). Feito isso, observa-se para a deformação total (Figura 7) o
mesmo padrão de comportamento no trecho pós-pico já destacado para o deslocamento do
pistão. Após atingir a força máxima, os exemplares com fibras apresentaram redução bastante
acentuada da força aplicada sendo que o exemplar submetido a compressão excêntrica (PEC-
E) apresentou capacidade resistente residual bem inferior aos demais (Figura 7).
110
Força aplicada (kN)
1000
800 R
600 P EC-E
400 F ace 3
Face 3
PEC-C
10
F ace 2
Face 4
Face 4
Face 2
200
F ace 1 T1 Face 1
0 T1
0 -1 -2 -3 -4 -5 -6
Deformação (‰) a) Força aplicada
0,8 R
0,6
PEC-E
Face 3
PEC-C
0,4 Face 3
10
F ace 4
Face 2
Fac e 4
Face 2
0,2
Face 1 T1
Face 1 T1
0,0
0 -1 -2 -3 -4 -5 -6
Deformação (‰) b) Força aplicada/Força última
111
As deformações no exemplar submetido a compressão excêntrica (PEC-E, Figura 8b) foram
bastante similares entre os pontos E2 e E4, que estão localizados em faces opostas. Isto
confirma que a excentricidade ocorreu apenas em torno do eixo de menor inércia (faces 2 e 4).
Por outro lado, nos exemplares submetidos a compressão centrada (R e PEC-C, Figura 8a)
aparentemente ocorreu alguma excentricidade acidental que gerou flexão no eixo de maior
inércia. Esta possibilidade pode explicar as diferenças nos valores de deformação axial
registrados nos pontos E2 e E4 desses dois exemplares.
Força aplicada (kN)
1000 PEC-C: E2
800
600 R: E2 R: E4
PEC-C: E4
400
200
0
0 -2 -4 -6 -8
Deformação axial nas mesas (‰)
a) Exemplares com compressão
centrada
800
600
Fa ce 3 E2
400
10
PEC-C: E2
200 PEC-C: E4
Fa ce 4
Fa ce 2
PEC-E: E2
PEC-E: E4 Fa ce 1 E4
0
0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -2,0 -2,5 -3,0 -3,5 -4,0
Deformação axial nas mesas (‰) b) Exemplares com fibras de aço
Figura 8 – Deformação axial no perfil de aço
112
- Deslocamentos horizontais
200
T6
400
600
T7
800 Ref
PEC-C
Face 3 PEC-E
1000
-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5
Deslocamento horizontal (mm) a)
0 Altura (mm)
T2
200
T3
400
600 T4
800 Ref
PEC-C
Face 4 PEC-E
1000
-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5
Deslocamento horizontal (mm) b)
Figura 9 – Deslocamentos laterais para força última: (a) Face 3; (b) Face 4
3 Conclusões
113
parcialmente revestidos. A partir dos resultados experimentais desse estudo exploratório é
possível elencar algumas observações importantes:
• Os valores de força máxima obtidos para os exemplares de referência (R) e com fibras
de aço (PEC-C) submetidos a compressão centrada indicam que não há perda na
capacidade resistente a compressão devido à substituição das barras de armadura por
fibras de aço;
• Como esperado, a aplicação de força excêntrica resultou em diminuição da força
máxima e esta redução foi de 15% para os exemplares ensaiados;
• O exemplar com armadura convencional (R) apresentou maior capacidade de
deformação e capacidade resistente residual que os demais indicando que pode haver
uma associação entre o uso de fibras de aço e as reduções observadas. Essas reduções
também podem ser causadas pela inexistência de ligação mecânica aço-concreto
promovida pelos estribos que foram suprimidos nos exemplares com fibras (PEC-C e
PEC-E).
• Por fim, os exemplares com concreto com fibras de aço apresentaram comportamento
estrutural que requer avaliação mais detalhada e a realização de um extenso programa
de ensaios a fim de confirmar e elucidar os resultados encontrados neste estudo
exploratório.
Com base nos resultados apresentados acredita-se que a substituição das barras de armadura
por concreto com adição de fibras de aço seja promissora. Entretanto, por se tratar de um
estudo exploratório é necessária uma investigação mais profunda onde possam ser avaliados
outros parâmetros como, por exemplo, dimensões da seção transversal, esbeltez do pilar e
excentricidades para comprovação do comportamento conjunto aço-concreto no elemento
misto sem armadura.
4 Agradecimentos
114
5 Referências bibliográficas
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186p. Dissertação (Mestrado em Estruturas). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
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VINCENT, R.; TREMBLAY, R. (2001). An Innovative Partially Composite Column System for High-
Rise Buildings. Proceedings, North American Steel Construction Conf., Fort Lauderlade, FL., p.
30-3 a 30-17, 2001.
115
recebido: 04/02/2016
aprovado: 24/03/2016 Volume 5. Número 2 (agosto/2016). p. 116-132 ISSN 2238-9377
Resumo
Este trabalho apresenta uma estratégia para modelagem do comportamento dos painéis de
cisalhamento do Sistema Light-Steel Framing (LSF), os quais são responsáveis pela
transferência do carregamento lateral para as fundações e pela rigidez do sistema contra
deslocamentos laterais excessivos. O deslocamento lateral em um painel é principalmente
devido a: (i) flexão do painel, (ii) tombamento do painel (iii) cisalhamento do painel, e (iv)
deformação local nas ligações placa-perfil. Estudos recentes demonstraram que a deformação
local na região da ligação placa-perfil e, consequentemente, a rigidez da ligação possui
comportamento altamente não linear. Portanto, os modelos desenvolvidos via MEF
consideram além das não linearidades geométrica e de material, o efeito da deformação local
na região da ligação placa-perfil. Os modelos foram validados satisfatoriamente por meio de
resultados experimentais disponíveis na literatura.
Palavras-chave: Método dos Elementos Finitos. Perfis Formados a Frio. Light-Steel Framing.
Painéis de Cisalhamento.
Abstract
This paper presents a numerical strategy for computational modeling the behavior of Light-
Steel Framing (LSF) shear walls, which are responsible for transferring the lateral loading
applied to the structural system to its foundation and stiffening the structural system against
excessive lateral displacement. The Lateral displacement is mainly due to: (i) panel bending, (ii)
panel overturning, (iii) panel shearing, and (iv) local deformation at the stud-to-sheathing
connection region. Recent studies have shown that the local deformation at stud-to-sheathing
connection region and, therefore, connection stiffness has a highly non-linear behavior. Thus,
the finite element (FE) models developed in this paper not only considers material and
geometric non-linearity, but it also simulates the local deformation at the stud-to-sheathing
connection region. The FE models developed were successfully validated against experimental
results reported in the literature.
Keywords: Finite Element Method, Cold-Formed Steel, Light-Steel Framing, Shear Walls.
2 Objetivo Geral
O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma estratégia para a modelagem
numérica de painéis de cisalhamento (shear walls) via Método dos Elementos Finitos
(MEF).
117
por necessitar de menos tempo e recursos para as simulações do que um ensaio
experimental.
Neste trabalho a modelagem via MEF de painéis de cisalhamento do sistema LSF foi
realizada utilizando o software Abaqus v6.12. Os modelos consideraram os Perfis
Formados a Frio (PFFs), os elementos de fechamento em OSB (Oriented Strand Board)
ou em placas de gesso e a interação entre os materiais que é representada pelo
comportamento das ligações parafusadas.
118
(a) (b)
Figura 1 – Montagem do ensaio e detalhes: (a) Vista frontal; (b) Vista posterior (Liu,
Peterman e Schafer, 2012)
119
Um painel do sistema LSF, quando submetido ao esforço lateral pode apresentar
quatro parcelas que contribuem para o deslocamento resultante, que são: os efeitos
de flexão, de tombamento, de cisalhamento e da resposta não linear das ligações
(devido à deformação local das ligações placa-perfil), conforme a Figura 3 (Serrette e
Chau, 2003). Como os ensaios experimentais utilizados impedem a parcela de
tombamento do painel, o modelo numérico deve responder à aplicação da força
horizontal conforme o somatório das outras três parcelas de deslocamento.
Figura 3 – Modelo dos efeitos que contribuem para o deslocamento lateral (Serrete e
Chau, 2003)
Os perfis metálicos, o OSB e a placa de gesso foram discretizados por elementos finitos
do tipo casca, disponíveis na biblioteca do Abaqus como Shell S4R. Tais elementos são
quadriláteros com dupla curvatura e, portanto, possuem 4 nós com 6 graus de
liberdade cada. Este elemento apresenta transmissão de tensão e deslocamento
convencional e regra de integração reduzida, com formulação disponível para grandes
deformações tanto para chapas delgadas como espessas, de acordo com o Abaqus
6.12 Documentation (Dassault Systèmes, 2012).
120
3.2 Considerações para os materiais
(a) (b)
Figura 4 – Comportamento tensão x deformação considerado: (a) aço; (b) Gesso e OSB
121
traz prejuízo para a obtenção do carregamento de colapso do sistema, principalmente
quando se realiza a aferição da resposta do modelo, por meio da comparação dos
resultados obtidos numericamente com resultados experimentais, garantindo-se a
coerência da resposta dentro do campo das hipóteses consideradas.
Tendo isso em vista, Vieira Jr (2011), ao estudar painéis sujeitos a compressão, faz uso
de molas para cada grau de liberdade em cada conexão da placa no perfil. Os modelos
desenvolvidos neste trabalho utilizaram a convenção de eixos da Figura 5, a qual
mostra o perfil em planta com a representação das molas translacionais na direção X, e
na direção Z e da mola rotacional em torno do eixo Y, todas no ponto i.
122
Figura 5 – Vista das ligações como molas em planta (Adaptado de Vieira Jr, 2011)
Para as molas rotacionais, foi considerado que não há resistência ao giro em torno do
eixo dos parafusos, ou seja, kØz = 0. Já os giros em torno de X e de Y são restringidos
pela flexão do parafuso em conjunto com a placa de fechamento e o contato desta
placa com a mesa do perfil, mas representam pouca influência na resistência à carga
horizontal do painel, razão pela qual se considerou uma conexão rígida também para
kØx e kØy.
123
O modelo do comportamento de ligação com OSB apresentado na Figura 7a foi
idealizado com base nos resultados de Vieira Jr (2011). A estratégia adotada consistiu
em considerar uma curva na qual o trecho inicial apresenta comportamento linear
elástico até 40% da carga máxima resistida pela ligação (0,4Pmáx), cuja deformabilidade
é o valor de k da mola, seguido de um trecho plástico até a carga máxima e seu
respectivo deslocamento, onde ocorre a ruptura.
(a) (b)
Nas ligações com o gesso, a simplificação apresentada na Figura 7b tem por base o
comportamento observado em resultados de ensaios experimentais de ligação com
gesso, como aqueles conduzidos por Peterman e Schafer (2013). O trecho inicial com
deformabilidade k segue até a carga última da ligação, em seguida há um patamar até
o deslocamento da carga máxima (δPmáx) e posterior ruptura (Figura 7b).
5 Resultados
Na Figura 8 pode-se observar uma vista de cada face do painel completo com os
materiais diferenciados pela cor (OSB é marrom, gesso acartonado é cinza e o aço em
cinza mais escuro) e o posicionamento dos Point-Based Fasteners (em verde).
125
Tabela 1 – Coeficientes de mola das ligações placa – perfil
A carga última da ligação com OSB (Pmáx) e o deslocamento para esta carga (δPmáx) para
translação em X e Y valem respectivamente 2.572 N e 15,72 mm; na ligação com o
gesso valem 382 N e 8,7 mm, com base nos ensaios de Vieira Jr (2011).
126
Figura 10 – Deformada da wall 1 aumentada 5.
Na Figura 11 pode-se observar uma vista de cada face do painel completo onde os
materiais são diferenciados pela cor (OSB marrom; aço na cor cinza) e os Point-Based
Fasteners (em verde). A discretização do modelo utilizou elementos de tamanho
aproximadamente 10 mm.
127
Figura 11 – Vistas do painel 1c ensaiado por Liu, Peterman e Schafer (2012)
O aço utilizado possui Modulo de Elasticidade (Es) igual a 200 GPa e demais
propriedades determinadas via ensaios de caracterização realizados por Liu Peterman
e Schafer (2012), conforme Tabela 2. O OSB apresenta as mesmas características do
painel anterior (item 2.4.1) e o coeficiente de Poisson (ν) adotado igual a 0,3 para
todos os materiais.
Os coeficientes de mola adotados nas ligações entre a placa OSB e os perfis metálicos
para o modelo estão mostrados na Tabela 3 em N/mm. Os valores de kx e ky foram
determinados nos ensaios de Peterman e Schafer (2013).
128
A carga última da ligação (Pmáx) e o deslocamento para esta carga (δPmáx) para
translação em X e em Y valem, respectivamente, 2.113 N e 6,73 mm com base nos
ensaios de Peteman e Schafer (2013).
129
Painel Completo Apenas os perfis metálicos
6 Conclusões
130
considerar a fase de descarregamento ou “softening” do sistema (trajetória pós-
colapso) é algo desejado e pode ser objeto de trabalhos futuros.
7 Agradecimentos
8 Referências bibliográficas
AMERICAN IRON AND STEEL INSTITUTE. Monotonic tests of cold-formed steel shear walls with
openings. Specifications for the design of cold-formed steel structural members. Paper 65.
RP97-1, 1997.
LIU, P.; PETERMAN, K. D.; SCHAFER, B. W. Test Report on Cold-Formed Steel Shear Walls. CFS-
NEES, Research Report – RR03, 2012.
131
RODRIGUES, F. C. Steel Framing: Engenharia, IBS/CBCA, Rio de Janeiro, 2006. (Série Manual da
Construção em Aço.)
SERRETTE, R.; CHAU, K. Estimating the Response of Cold-Formed Steel Frame Shear Walls. AISI-
Specifications for the design of cold-formed steel structural members. Paper 98. RP03-7,
2003.
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Journal of Constructional Steel Research. 1069-1093, 2004.
VIEIRA JR, L. C. M. Behavior and Design of Sheathed Cold-Formed Steel Stud Walls Under
Compression. Baltimore, Maryland, EUA: Ph.D. Dissertation, Johns Hopkins University, 239 p.,
2011.
132
recebido: 17/02/2016
aprovado: 21/06/2016 Volume 5. Número 2 (agosto/2016). p. 133-142 ISSN 2238-9377
Resumo
Neste trabalho é apresentado um estudo de intervenção para melhoria do sistema viário
urbano da região da Praça Itália, na cidade de São Carlos – SP – Brasil, o qual envolve
principalmente a substituição de um antigo viaduto ferroviário de concreto armado por um
novo viaduto em aço, de maior vão, e que permitirá o alargamento da avenida situada sob ele
com o consequente ganho em segurança e conforto aos motoristas e pedestres. A maior
complexidade nesse caso consiste na necessidade de implantação do novo viaduto
praticamente sem a interrupção da linha férrea, uma vez que não há como desviar o intenso
tráfego ferroviário.
Palavras-chave: viaduto ferroviário, estrutura de aço, malha viária.
Abstract
This paper presents a study to improve the urban transport system of the Italia Square region
in São Carlos - SP - Brazil, which involves the replacement of an old reinforced concrete railway
viaduct for a new steel viaduct with greater span and that will allow the extension of the
avenue underneath it with the consequent gain in security and comfort to drivers and
pedestrians. The greater complexity of the study is to build the new viaduct deployment
without interruption of the railway, since there is no way to divert the heavy rail traffic.
Keywords: railway viaduct, steel structure, road system.
1 Introdução
A região de estudo deste projeto é a da Praça Itália, na cidade de São Carlos, SP. Nesta
área densamente urbanizada, há o entroncamento em nível de seis vias e ainda um
viaduto ferroviário, construído em 1967, chamado viaduto José Pizanelli (Figura 1) que,
apesar de ainda atender à demanda da linha férrea, tornou-se um gargalo no
transporte viário: sob ele há o estreitamento da rua João Lourenço, que vem causando
Atualmente existe um projeto oficial de substituição desse viaduto por outro também
de concreto armado. Trata-se de um projeto inserido num de maior abrangência, que
também envolve, por exemplo, projetos de remodelação viária e drenagem para a
região. Entretanto, esse projeto, que ganhou a licitação feita pela Prefeitura Municipal
de São Carlos, está com suas obras paralisadas desde 2012. A construção do novo
viaduto não foi iniciada, pois a empresa responsável pela ferrovia permite que a
interrupção do tráfego ferroviário seja de no máximo cinco horas, tempo insuficiente
para a execução do novo viaduto tal como foi concebido.
(a) (b)
Figura 1 - Vista aérea da região do estudo (a) e vista aérea do viaduto existente (b).
2 Metodologia do estudo
Para avaliar a situação do local, foi feito um levantamento de dados que envolveu:
levantamento planialtimétrico realizado in loco, levantamento via Google Earth do
traçado das vias ferroviárias e um levantamento dos estudos já realizados no local pela
Prefeitura Municipal de São Carlos.
Definido o projeto básico viário, foi necessário avaliar como este seria implantado. A
seguir, são discutidas brevemente as propostas elaboradas.
135
3 Propostas
Atualmente existem duas linhas ferroviárias sobre o viaduto: a linha principal, que
neste trabalho foi denominada simplesmente “linha”, e outra, destinada ao desvio do
tráfego, denominada “desvio”. Segundo a concessionária responsável pela via, ambas
as linhas devem necessariamente ser mantidas no traçado. Assim, a proposta adotada
de intervenção deve contemplar tal imposição.
A primeira proposta avaliada, P1, consiste na manutenção do traçado das duas linhas
atuais. Para tal, a execução do projeto envolve a construção do novo viaduto
exatamente no mesmo local do atual. Já a proposta P2 consiste em deslocar as duas
linhas férreas paralelamente, o que envolveria a execução de um novo viaduto
paralelo ao atual e, portanto, um ajuste no traçado vigente.
136
Figura 4 – Estratégia adotada para substituição do viaduto.
137
Em síntese, o plano de execução proposto consiste em um novo viaduto montado em
duas partes, cada qual suportando uma linha férrea, sendo a montagem de cada parte
independente. Portanto, durante a montagem, apenas uma linha férrea estará em
funcionamento.
Durante a montagem, caso seja necessário promover desvios, seja por cruzamentos,
ultrapassagens ou formação de trens, esses deverão ser feitos no desvio mais próximo,
situado na cidade de Itirapina.
Além disso, a Figura 4 mostra que as fundações do novo viaduto serão executadas
distantes das atuais, de modo que seja possível montar o novo viaduto sem
interferência com o existente para que seja possível manter a integridade de cada
metade remanescente do viaduto de concreto. Isso é necessário visto que, durante
toda a montagem, eles estarão suportando as solicitações de uma das linhas.
Vale ressaltar que, dessa forma, serão necessárias poucas horas de interrupção do
tráfego ferroviário (menos de cinco horas) decorrentes apenas da realocação das
ligações entre as duas vias.
4 Concepção do viaduto
138
Figura 5 - Ilustração do viaduto novo.
A carga móvel considerada foi o trem-tipo brasileiro TB-270 (Figura 7), conforme a
norma brasileira ABNT NBR 7189:1985, referente a ferrovias sujeitas a transporte de
carga em geral. As forças concentradas simulam os eixos da locomotiva (270 kN/eixo),
139
enquanto as forças distribuídas simulam conjuntos de vagões carregados (90 kN/m) e
vagões descarregados (15 kN/m).
6 Projeto da fundação
A escolha do tipo de fundação deu-se pelas condições geotécnicas do local bem como
pelas interferências com construções existentes. A solução adotada foi o tubulão a céu
aberto, em concreto armado, considerando a resistência característica à compressão
de 20 MPa e vergalhões em aço CA-50.
Com base na capacidade de carga dos tubulões, calculada com base em Cintra e Aoki
(2003, 2011), resultaram tubulões com fuste de 80 cm a 100 cm, diâmetro da base de
200 cm a 380 cm e profundidade de 13 metros.
7 Conclusões
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2. Em se tratando de uma região densamente edificada, a solução adotada foi
construir o novo viaduto no mesmo local do existente, evitando-se assim
alterações no traçado da via férrea e onerosas desapropriações;
8 Agradecimentos
9 Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681: Ações e segurança nas estruturas
- Procedimento. Rio de Janeiro, Brasil, 2003.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7189: Cargas móveis para projeto
estrutural de obras ferroviárias. Rio de Janeiro, Brasil, 1985.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas - Projeto Geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2011.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Tensão Admissível em Fundações Diretas. São Carlos:
Editora Rima, 2003.
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