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Princípio de Demarcação de Karl Popper


Um princípio em Filosofia da Ciência que estabelece a natureza das hipóteses.

Neste artigo, trataremos de esclarecer um princípio fundamental em todo o tratamento das hipóteses a poderem ser
consideradas em Teorias Científicas, sobre sua natureza mais íntima, e as que não constituem objeto de ciência nem
podem ser consideradas como postulados científicos, e são tratadas apenas nas pseudociências e na fé.

O Princípio (ou Critério) de Demarcação de Karl Popper, ou como é tratado no jargão do meio,
simplesmente demarcação, é um conceito fundamental no estabelecimento de hipóteses a serem consideradas em
Teorias Científicas. A questão é abordada em sua obra Conjecturas e Refutações, onde trata de suas idéias
principais no campo da Filosofia da Ciência, e seu objetivo é estabelecer um critério fundamental para distinguir
ciência* do que não fosse ciência* e pseudociências.[1]

Gravura medieval com associação entre medicina e a


astrologia (home.fuse.net).

*Dentro de sua definição, adequada, por exemplo, às


ciências naturais e as fundamentais no entendimento do
mundo, como a Física, ou como dizemos, ciências
popperianas, diversas de um sentido mais amplo do termo
ciência, que inclui desde matemática até ciências
jurídicas, uma definição mais léxica.

Karl Popper (1902-1994)

Ele afirma que as hipóteses a serem consideradas como


fundamento de uma teoria científica, e exatamente aquelas
que tem de ser corroboradas pela experimentação e
observação de fenômenos**, tem de serem amparadas na
verificabilidade empírica[2], ou seja, tem de ser causas e
fenômenos detectáveis, como por exemplo nas ciências
naturais, os agentes naturais, os processos da própria
natureza, seus mecanismos físicos e químicos, por exemplo
(e devemos alertar que todo mecanismo químico e seus
decorrentes, são mecanismos físicos).
**Aqui é de se destacar que Popper trata a questão sempre
por um enfoque experimental, de verificação por meio da
repetição de experimentos para a corroboração da hipótese, ou o seu descarte, pelo “falseamento” (obter-se um
resultado que não cooorbora a hipótese)[3], enquanto posteriores filósofos da ciência, como Kuhn, abordam de
maneira diferenciada, pela existência de ciências altamente formais (matematica e observacionalmente estruturadas),
como a Astrofísica e a Cosmologia, ou mesmo partes da Geologia, e outras com componentes históricos, como a
Paleontologia e outras partes da relacionada com esta Geologia, que não se permitem experimentos, mas a
permanente observação da regularidade de fenômenos e construção de cenários indetectáveis, mas coerentes com o
observado (como o interior das estrelas ou ambientes ecológicos do passado terrestre).[4]

Thomas Kuhn (1922-1996)

Assim, por exemplo, no surgimento da vida na Terra, não pode-se considerar um agente externo jamais detectado,
nem que não deixou vestígios de sua existência e ação, nem muito menos um ente sobrenatural, transcendente ao
real, nem muito menos metafísico (pelo próprio termo “além do físico”), pois o limite de profundidade no tratamento do
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científico, no sentido “popperiano”, é o natural, é o físico, é o
detectável. Assim, as entidades de tradições religiosas, sejam
quais forem elas e sua conceituação no sentido de tais fés, não
são permitidas serem colocadas como premissas da construção
de uma teoria científica, nem podem ser a base de sua
fundamentação mais profunda, como por exemplo, que tal ente
criou o universo, ou os seres vivos.***

***Estas questões são fundamentais no abandono de mitos de


criação de origem religiosa qualquer como objeto de ciências,
como o Criacionismo Bíblico.

Exatamente em acordo com tal princípio de fronteira do que seja


o científico (no sentido de ciência sob a definição de Popper, que
é a mais formal para o termo), está o princípio de falseabilidade,
de que as afirmações científicas não são a afirmação daquilo que
é, mas a afirmação daquilo que jamais se evidenciou em
contrário. Assim, as afirmações científicas não são dogmáticas,
mas afirmadas como aproximadas da verdade na medida em que
podem ser submetidas aos testes e observações, e disto
provadas falsas, logo, falseáveis.[3]
Nas palavras de Popper: O critério de demarcação inerente à
lógica indutiva, isto é, o dogma positivista do significado, é
equivalente ao requisito de que todos os enunciados da ciência
empírica (ou todos os enunciados “significativos”) são suscetíveis
de serem finalmente decididos, com relação à sua verdade e
falsidade; diremos que eles devem ser decidíveis de modo
conclusivo. Isto significa que sua forma deve ser tal
que deve ser logicamente possível tanto verificá-los
como falseá-los.[5][6]
Tentar-se colocar premissas que não sejam naturais
(logo, não detectáveis) como base de uma teorização
científica é um vício, e nas palavras novamente de
Popper: A tarefa primordial para uma demarcação
entre a ciência e a metafísica consiste em libertar a
metafísica.[7]Chegando-se a afirmar que só se pode
falar de ciência, tudo o resto é absurdo, o que recebe
pesadas críticas[8], mas os critérios oriundos do
Princípio de Demarcação, para as hipóteses a serem
adotadas no campo das ciências naturais, continua
de pé.
O filósofo Kant (1724-1804) já havia tratado da
questão da colocação de afirmações da Metafísica, e
em especial, as oriundas de tentar sustentar a fé
pelos raciocínios lógicos chegando à conclusões aos
moldes de Tomás de Aquino (1225-1274).[6]

Immanuel Kant

Sempre existe tratamentos para a questão


perturbadora do que seja a vida, como o chamado
“Design Inteligente”, e mesmo diversas, como
procurar-se tratar os fenômenos biológicos como se
não fossem bioquímicos, logo químicos, logo físicos,
ou em outras palavras, de uma transcendência dos
processos biológicos em relação aos físicos, em fenomenologias que não são
evidenciáveis, logo, também quebrando demarcação, procurando colocar
novas demarcações específicas para estes campos, como se observa em
diversas publicações[9]. Tais textos buscam o estabelecimento de
argumentações teleológicas, já tratadas em Hume (1711-1776).

Referências
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1. Elimara Maria Fernandes; Karl Popper e a “natureza” da filosofia
www.urutagua.uem.br
2. Francisco Ramos Neves; KARL POPPER e THOMAS KUHN: reflexões acerca da epistemologia
contemporânea; R. FARN, Natal, v.2, n.l, y 143 - 148 .jul./dez. 2002.
www.revistafarn.inf.br
3. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1993.
4. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
5. Karl Popper; Lógica da Investigação Científica; em Os Pensadores; Abril Cultural, São Paulo,1975.
6. Luiz Meirelles; Karl Popper, a questão do método científico e seus critérios.
www.paradigmas.com.br
7. K., Popper, O futuro está Aberto, Lisboa, editorial Fragmentos, 2ª ed., s/d., p. 60.
8. Alexandre Marques; A DOUTRINA DO FALSEAMENTO EM POPPER
www.cfh.ufsc.br
9. Arthur ARAÚJO; FÍSICA E BIOLOGIA: POSSÍVEIS LIMITES DE DEMARCAÇÃO CONCEITUAL;
Trans/Form/Ação, São Paulo, 29(2): 19-31, 2006
www.scielo.br

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