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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Procuradoria Geral da República

Nº 8015 – RJMB / pc

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 30.586 / DF


RELATORA : Ministra CÁRMEN LÚCIA
IMPETRANTE : PROCOMP Indústria Eletrônica Ltda.
IMPETRADO : Relator dos Procedimentos de Tomada de Contas 025.255/2010-0
e 014.166/2005-0 no Tribunal de Contas da União

MANDADO DE SEGURANÇA. ATO DO TRIBUNAL DE CONTAS DA


UNIÃO. INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE ACESSO E EXTRAÇÃO DE
CÓPIAS DE DOCUMENTOS DE NATUREZA SIGILOSA POR INOBSERVÂNCIA
DE NORMA PROCEDIMENTAL: RESOLUÇÃO TCU Nº 191, DE 21.06.2006,
ARTS. 97, § 1º C/C ART. 101, § 2º. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO
CLARA E OBJETIVA DA IMPRESCINDIBILIDADE DAS INFORMAÇÕES
PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. I – ALEGAÇÃO DE
VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA: INOCORRÊNCIA. II – PUBLICIDADE E DIREITO DE ACESSO
À INFORMAÇÃO: INEXISTÊNCIA DE NEGATIVA.
1. O requerimento de extração de cópia do anexo I do TC 014.166/2005-0,
de caráter sigiloso, foi indeferido em razão do não atendimento de normas
de conteúdo formal (Resolução TCU nº 191/2006, arts. 97, § 1º c/c art.
101, § 2º), que exigem do interessado a comprovação da necessidade das
informações sob sigilo para o exercício do seu direito de defesa.
2. O caráter sigiloso dos documentos do anexo I do TC 014.166/2005-0 foi
conferido pelo acórdão nº 5.128/2010-TCU-1ª Câmara, que sequer é objeto
do presente mandado de segurança.
3. Não tendo o relator do TC 014.166/2005-0 adentrado na questão relativa
à possibilidade de restrição do direito de acesso à informação ou publicidade
de documentos administrativos, mas, tão somente, indeferido requerimento
de extração de cópia de documento sigiloso em razão do não atendimento
de requisitos de ordem formal, não há que se cogitar, em razão do
conteúdo do ato coator, de negativa de acesso à informação ou de
violação aos princípios da publicidade, do contraditório e da ampla defesa.
4. Não há violação ao princípio da publicidade e tampouco negativa do
direito à informação no ato ordinatório que indefere pedido de acesso e
extração integral de autos de processo administrativo por inobservância de
regra procedimental exigida para o atendimento do pleito.
5. Parecer pela denegação da segurança e pela prejudicialidade do agravo
regimental.

Procuradoria Geral da República


SAF Sul Quadra 4 Lote 3 – CEP 70.050-900 – Brasília/DF
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Parecer nº 8015 / RJMB no MS 30.586 / DF

Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar, fundado nos


arts. 5º, LXIX e 102, I, d, da CF, impetrado por PROCOMP Indústria Eletrônica
Ltda. em face de ato do Tribunal de Contas da União que indeferiu o pedido
formulado pela impetrante de obtenção de vistas e extração de cópias do Anexo
I do TC nº 014.166/2005-0, em razão do caráter sigiloso atribuído a tal
documentação a pedido da Caixa Econômica Federal.

Sustenta a impetração o direito líquido e certo da PROCOMP de ter


pleno acesso aos autos da Representação nº 014.166/2005-0, convertida no TC
nº 025.255/2010-0, pois instaurada para apurar supostas irregularidades no
contrato firmado entre a PROCOMP e a Caixa Econômica Federal, no qual se
apurou a existência de débito da impetrante em favor da CEF no valor de R$
8.051.372,44, proveniente da liberação indevida de glosas.

Aduz, para demonstrar seu direito líquido e certo, o seguinte:

a) o indeferimento de acesso aos documentos viola o princípio da


publicidade e o direito à informação na medida em que não se pode negar o
acesso a documentos referentes a tomada de contas na qual a impetrante
figura como averiguada e que pode culminar com sua responsabilização;

b) a violação aos princípios do contraditório e da ampla defesa ao


passo que os documentos aos quais se negou o acesso foram utilizados com o
fim de atribuir à PROCOMP a condição de averiguada e possível responsável
pelo ressarcimento de valores liberados pela CAIXA, não podendo a natureza
sigilosa do documento prejudicar a plenitude do direito de defesa;

Requer, ao final, o deferimento da medida liminar e, no mérito, a


concessão da segurança para, confirmando a liminar, determinar a imediata
disponibilização dos documentos do anexo I do TC 014.166/2005-0, em curso
perante o TCU, permitindo-se, inclusive, a extração de cópias.

Informações prestadas. Liminar parcialmente deferida.

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Interposto agravo regimental pela União sustentando o desacerto da


decisão concessiva da liminar porquanto ausente o fumus boni iuris, dada a
ausência de violação a qualquer princípio constitucional que discipline o acesso
a informação, assim como aos princípios do contraditório e da ampla defesa,
pois a natureza sigilosa dos documentos do anexo I do TC 014.166/2005-0 se
deu a pedido da CEF nos termos do Decreto nº 4.553/2002, não tendo sido
utilizados tais documentos para incluir a impetrante no TC 025.255/2010-0.

Em síntese, o relatório.

O pedido formulado pela PROCOMP solicitando a disponibilização de


cópia do anexo I do TC 014.166/2005-0 foi indeferido por não atender aos
requisitos normativos e regimentais, dado tratar-se de peça de natureza sigilosa
(Resolução TCU nº 191, arts. 97, § 1º e 101, § 2º).

Dispõem os arts. 97, § 1º, e 101, § 2º, da Resolução TCU nº 191:

“Art. 97. As partes, diretamente ou por intermédio de seus


procuradores, poderão pedir vista ou cópia de peça de processo
em andamento ou apensado a outro em tramitação, mediante
solicitação dirigida ao relator, segundo os procedimentos previstos
nesta Subseção.
§ 1º É assegurada a advogado da parte a obtenção de vista ou
cópia de peça de qualquer processo não-sigiloso, nos termos do
art. 7º, inciso XIII e XV, da Lei nº 8.906, de 1994.”

“Art. 101 Deferido o pedido para recebimento de cópia, a parte


deverá apresentar comprovante do recolhimento da importância
correspondente ao ressarcimento de custos.
…..............................................................................................
§ 2º Poderá ser fornecida cópia de processo, julgado ou não,
mesmo de natureza sigilosa, ressalvados os documentos e
informações protegidos por sigilo fiscal, bancário, comercial ou
outros previstos em lei, a dirigente que comprove, de forma
objetiva, a necessidade de informações para a defesa do órgão
ou entidade federal, estadual ou municipal.” [grifo nosso]

Os requerimentos de extração de cópias foram assim formulados:

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“PROCOMP INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA, já qualificada no


processo em epígrafe, vem, respeitosamente, perante V. Exa.,
ressalvado o seu direito de apresentar alegações de defesa no
prazo legal, requerer juntada dos anexos instrumentos de
mandato e do contrato social da PROCOMP, bem como requerer
vista dos autos para obtenção de cópias reprográficas.” (Doc. 4)

“PROCOMP INDÚSTRIA ELETRÔNICA LTDA, já qualificada nos


autos do processo de tomada de contas especial em referência,
vem, por sua advogada, constituída nestes autos, requerer cópia
do anexo I dos autos principais, bem como do anexo I do TC nº
014.166/2005-6, que está apenso a esses autos.” (Doc. 07)

O ato impugnado no mandado de segurança indeferiu o pedido de


disponibilização e extração de cópias do anexo I do TC 014.166/2005-0 em
razão do desatendimento de norma de conteúdo formal, tendo em vista a
natureza sigilosa da documentação (reconhecida pelo acórdão nº 5.128-TCU-1ª
Câmara) e a ausência de demonstração da indispensabilidade do acesso a tal
documentação para o exercício pleno do seu direito de defesa.

De fato, dos requerimentos dirigidos ao relator do TC 014.166/2005-0


não consta a demonstração, clara e objetiva, da imprescindibilidade do acesso à
documentação revestida de caráter sigiloso para fins de exercício do direito de
defesa, razão pela qual foram de pronto indeferidos com base nos arts. 97, §
1º, c/c o art. 101, § 2º, da Resolução TCU nº 191, de 21.06.2006.

O objeto do ato impugnado é, tão somente, o descumprimento de


requisitos necessários para a extração de cópia de documentos sigilosos por
quem seja parte interessada na tomada de contas e não a possibilidade de
restrição à publicidade de documentos administrativos, a qual foi objeto do
acórdão nº 1.528-TCU-1ª Câmara, que decidiu conceder ao anexo I do TC nº
014.166/2005-0 caráter sigiloso e que não é impugnado no presente writ.

O indeferimento do pedido de acesso e extração de cópia de peça de


caráter sigiloso em razão da inobservância dos requisitos normativos e
regimentais pertinentes não implica violação aos princípios constitucionais da

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publicidade, do contraditório e da ampla defesa e tampouco representa negativa


do direito de acesso à informação.

Ressalte-se, por oportuno, que o disposto nos arts. 97, § 1º c/c art.
101, § 2º, da Resolução TCU nº 191/2006 se coaduna com o art. 24 da Lei nº
8.159/91, que estabelece a possibilidade de exibição de qualquer documento
sigiloso, por determinação judicial, sempre que indispensável à defesa de
direito próprio ou para esclarecimento de situação pessoal. Tanto que apenas
autoriza a extração de cópia de documentos de natureza sigilosa quando
comprovado, pelo interessado, a imprescindibilidade das informações para o
exercício do seu direito de defesa.

Diante de todo o exposto, opina o Ministério Público Federal pela


denegação da segurança e pela prejudicialidade do agravo regimental.

Brasília, 25 de outubro de 2012.

Rodrigo Janot Monteiro de Barros


Subprocurador-Geral da República

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