You are on page 1of 8

150

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

Mandado de Segurança nº: 0063906-08.2013.8.19.0000


Impetrante : SHEMPO INDÚSTRIA COMÉRCIO DE ELETRO
ELETRÔNICOS E SERVIÇOS LTDA
Advogado : Elissandra Lopes Malandrin
Impetrado : EXMO SR PREFEITO DO MUNICÍPIO DE VOLTA
REDONDA
Impetrado : EXMO SR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE GOVERNO
DO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA
Relator : Desembargador ANDRÉ RIBEIRO

MANDADO DE SEGURANÇA. REQUERIMENTO DE


CERTIDÕES, POR ALEGADO ATRASO NO PAGAMENTO.
Direito à obtenção de certidão que é corolário do Estado
Democrático de Direito. Administração Pública que deve se pautar
pelos princípios da publicidade e transparência, (art. 37, CF), pois
“todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que
serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade”,
bem como de obter “certidões em repartições públicas, para a
defesa de direitos e esclarecimentos de situações de interesse
pessoal” (art. 5º, XXXIII, e XXXIV, “b”, CRFB). Lei nº
12527/2011, art. 7, VI que dispõe sobre o direito fundamental de
acesso a informações dos órgãos e entidades do poder público
pertinentes à administração do patrimônio público, utilização de
recursos públicos, licitação e contratos administrativos. Direito do
impetrante, e de qualquer pessoa, à obtenção das certidões.
CONCESSÃO DA SEGURANÇA.

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Mandado de


Segurança nº 0063906-08.2013.8.19.0000, onde figuram como Impetrante
SHEMPO INDÚSTRIA COMÉRCIO DE ELETRO ELETRÔNICOS E

ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH:000031928 Assinado em 03/02/2015 16:05:41


Local: GAB. DES ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH
151

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

SERVIÇOS LTDA e Impetrados EXMO SR SECRETÁRIO


MUNICIPAL DE GOVERNO DO MUNICÍPIO DE VOLTA e EXMO
SR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE GOVERNO DO MUNICÍPIO DE
VOLTA REDONDA.

A C O R D A M os Desembargadores que integram a


Vigésima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio
de Janeiro, por unanimidade de votos, em conceder a segurança, nos termos
do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 03 de fevereiro de 2015.

Desembargador André Ribeiro


Relator

2
152

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

Trata-se de mandado de segurança interposto por


SHEMPO INDÚSTRIA, COMÉRCIO DE ELETRÔNICOS E SERVIÇOS
LTDA em face do EXMO SR. PREFEITO DO MUNICIPIO DE VOLTA
REDONDA e EXMO SR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE GOVERNO
DO MUNICÍPO DE VOLTA REDONDA objetivando, liminarmente, a
obtenção de certidões pormenorizadas referente a informações descritas às
fls. 03/05, necessárias por motivo do atraso na quitação de débito por parte
da impetrada (Contrato de Locação de Equipamentos).

Alega a impetrante, em suma, que foi contratada pelo


Município para a prestação de serviços de locação de equipamentos através
de licitação. Sustentou que os serviços foram executados corretamente,
porém a Prefeitura não cumpriu com sua obrigação, pagando pontualmente
todos os demais contratados, com prática de inversão na ordem cronológica,
o que é vedado pelo artigo 5º da CRFB/88, Lei n. 8666/93 e suas alterações;
que o não pagamento viola os Princípios da legalidade, igualdade,
impessoalidade e moralidade, sendo explícita e inequívoca a violação à
própria ordem constitucional vigente; que já suportou todos os custos da
atividade em questão impedindo que tais recursos sejam destinados ao
desempenho de suas atividades operacionais, razões pelas quais requer a
concessão liminar do mandamus a fim de determinar a impetrada que no
prazo de cinco dias junte aos autos as certidões pleiteadas e, ao final, requer
o encaminhamento de Oficio ao Representante do Ministério Púbico local,

3
153

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

acompanhado de cópia integral do presente Mandado de Segurança,


inclusive com os documentos que o instruem, a fim de que adote as medidas
necessárias à apreciação da suposta modalidade criminal capitulada no
artigo 92, caput, da Lei Federal n° 8.666/93, com as alterações que lhe
foram introduzidas pela Lei Federal n° artigo 1°, XV, do Decreto
Lein°201/67.

Decisão às fls. 109/111, indeferindo a liminar pleiteada.

Informações prestadas às fls. 116/119, requerendo a


extinção do feito, em razão da ilegitimidade passiva das autoridades
apontadas como coatoras, bem como da falta de interesse de agir, uma vez
que a impetrante teria formulado pedido alternativo de pagamento do
débito. Quanto ao mérito, argumenta que foi efetuado o pagamento de todos
os valores devidos à contratada, o que enseja a denegação da segurança.

Parecer da Procuradoria de Justiça, às fls. 133/135, pela


concessão parcial da segurança.

Manifestação da impetrante às fls. 139/140, no sentido


de que não foi efetuado o pagamento total do contrato.

Instados a se manifestarem às fls. 142, os impetrados


quedaram-se inertes.

4
154

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

É o relatório. Passo a decidir.

Inicialmente, pondere-se que os pressupostos para a


utilização da via especial do mandado de segurança, bem como, para sua
concessão, são a existência de direito líquido e certo, ato de autoridade e ato
ilegal ou praticado com abuso de poder. Nesse sentido, em relação ao
direito líquido e certo, esclarecedora a lição do sempre lembrado Hely
Lopes Meirelles:

“Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na


suaexistência, delimitando na sua extensão e apto a ser exercido no
momento da impetração. Por outras palavras, o direito
invocado,para ser amparável por mandado de segurança, há de ser
expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos
econdições de sua aplicação ao impetrante; se a sua existência for
duvidosa; se a sua extensão ainda não estiver delimitada; se o seu
direito depender de situações e fatos ainda indeterminados, não
rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros
meios judiciais (in “Mandado de Segurança”, RT, 13ª ed.,1991, pág
13/14)”.

Verifica-se pelos documentos trazidos que a impetrante


firmou contrato de prestação de serviços de locação em que alega ter
efetivamente cumprido, aduzindo que o impetrado não cumpriu com suas
obrigações, tendo, inclusive preterido os pagamentos administrativos, razão
pela qual pretende a expedição das seguintes certidões, com as respectivas
justificativas:

5
155

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

a) Justificativa da falta de pagamento dos créditos da


Impetrante, relacionando, inclusive, eventuais nulidades ou
irregularidades administrativas em relação ao crédito
pleiteado;

b) Informar quais os critérios adotados, do ponto de vista


orçamentário, para o pagamento do crédito em questão, ou,
o planejamento para tanto.
Justificativa: Atendimento às determinações contidas nos
artigos 4º, § 1° e 5°, § 1°, ambos da Lei de
Responsabilidade Fiscal, editada sob n° 101/2000).

c) Relação dos fornecedores pagos pelo Município de Volta


Redonda, no período de 11/11/01 à 28/06/12, com indicação
da razão social, número de inscrição no C.N.P.J./M.F.,
endereço, número das duplicatas, valores, datas de
vencimento e datas dos efetivos pagamentos.
(Justificativa: comprovar a hipotética prática do crime
tipificado no artigo 92, da Lei Federal n° 8.666/93, bem
como, o desrespeito às disposições legais contidas no artigo
5º, caput, do mesmo Estatuto, portanto, implicando na
pratica do ato de improbidade insculpido no artigo 11 0,
inciso I, da Lei Federal n° 8.429/92, e ainda, dos demais
dissertados na presente peça; se prestando a instrução das
correspondentes Representações Criminais perante o
Ministério Público Local, se for o caso - art. 14, § 1°, c/c, o
art. 22, da Lei Federal n°8.429/92).

d) Justificativas das quebras de ordem cronológicas dos


pagamentos efetuados no período indicado na letra "b",
indicando: as relevantes razões de interesse público, prévia
justificativa da autoridade competente e extrato de suas
publicações (art. 5°, caput, da Lei Federal n° 8.666/93).
(Justificativa: comprovar o hipotético desrespeito às
disposições legais contidas no artigo 5°, "caput", da Lei
6
156

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível
Federal n° 8.666/93, portanto, implicando na pratica do ato
de improbidade insculpido no artigo 11°, inciso IV, da Lei
Federal n° 8.429/92, bem como, nos demais dissertados na
presente peça; se prestando a instrução das correspondentes
Representações Criminais perante o Ministério Público
Local, se for o caso - art. 14, § 1°, c/c, o art. 22, da Lei
Federal n° 8.429/92).

e) Qualificação do agente público responsável pelos


pagamentos efetuados.
(Justificativa: comprovar a autoria, especialmente, do
hipotético crime tipificado no art. 92, da Lei Federal n°
8.666/93, bem como, do hipotético ato de improbidade
previsto no artigo 11º, inciso I, da Lei Federal n° 8.429/92;
se prestando a instrução das correspondentes
Representações Criminais perante o Ministério Público
Local, se for o caso - art. 14, § 1°, c/c, o art. 22, da Lei
Federal n° 8.429/92).

É certo que o direito de obtenção de certidão é corolário


do Estado Democrático e de Direito e que a Administração Pública deve se
pautar pelos princípios da publicidade e da transparência, na forma do
disposto no art. 37, caput, da Constituição Federal, sendo certo que “todos
têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da
lei, sob pena de responsabilidade”, bem como de obter “certidões em
repartições públicas, para a defesa de direitos e esclarecimentos de
situações de interesse pessoal” (art. 5º, XXXIII, e XXXIV, “b”, CRFB).

7
157

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Vigésima Primeira Câmara Cível

E, ainda, a Lei nº 12527/2011, que regula o direito


fundamental de acesso a informações, estabelece no seu artigo 7º, VI, o
dever dos órgãos e entidades do poder público de fornecer “informação
pertinente à administração do patrimônio público, utilização de recursos
públicos, licitação, contratos administrativos”.

Assim, merece prosperar a pretensão do impetrante,


posto que cabível a qualquer pessoa o requerimento de certidões, bastando
que o impetrante as apresente nos termos em que foram requeridas,
apresentando suas justificativas, caso as entenda devidas.

Isto posto, voto no sentido de conceder a segurança,


determinando que os impetrados apresentem as certidões requeridas.

Desembargador André Ribeiro


Relator

You might also like