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Pré-candidatos dizem o que

pensam sobre aborto; tema volta


ao STF em agosto
Felipe Amorim, Gustavo Maia e Luciana Amaral
Do UOL, em Brasília 04/07/2018 04h00 > Atualizada 05/07/2018 19h58

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Kevin David 13.nov.2017 - /Estadão Conteúdo

Manifestantes protestam na avenida Paulista contra PEC que proibiria aborto

A descriminalização do aborto volta à pauta do STF (Supremo Tribunal Federal) em


agosto, com audiências públicas comandadas pela ministra Rosa Weber, em
processo no qual o PSOL pede que seja permitida em todo o país a realização do
aborto até a 12ª semana de gravidez, por decisão da gestante e sem a necessidade
de nenhum tipo de autorização legal.

As audiências públicas públicas são uma forma de o STF reunir informações


técnicas e argumentos diversos sobre o tema, antes de o processo ser levado a
julgamento. Mais de 40 participantes, como instituições de pesquisa e entidades da
sociedade, foram selecionados para apresentar sua visão sobre o tema nas
audiências, que serão realizadas nos dias 3 e 6 de agosto.

O debate será realizado a dois meses do primeiro turno das eleições, quando serão
escolhidos o presidente da República e os membros do Congresso.

A reportagem perguntou aos pré-candidatos à Presidência da República qual a


opinião deles sobre o tema e como tratarão a questão caso sejam eleitos. Dos
presidenciáveis consultados pelo UOL, 8 defenderam manter a lei como está e
apenas dois disseram que o aborto deve ser descriminalizado. Outros 2
responderam que a legislação deve ser discutida.

As respostas dos presidenciáveis você vê nesse texto, mais abaixo.

O tema do aborto voltou ao debate público com a recente aprovação pela Câmara
dos Deputados da Argentina (https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2018/06/14/por-quatro-votos-camara-argentina-aprova-legalizacao-do-
aborto-projeto-vai-ao-senado.htm) de um projeto de lei que permite a prática até a
14ª semana de gravidez, e apenas por decisão da mulher. Lá, o texto ainda precisa
ser aprovado pelo Senado para se tornar lei.

Cacau Fernandes 3.mai.2015/Agência O Dia/Estadão Conteúdo


Manifestantes fazem passeata contra a descriminalização do aborto no Rio

No Brasil, na ação ao STF, o PSOL diz que tratar como crime o aborto por iniciativa
da gestante equivale a tornar obrigatória a gravidez, o que fere o direito das
mulheres à liberdade para decidir sobre a própria vida e sexualidade.

"Em um contexto de descriminalização do aborto, nenhuma mulher será obrigada a


realizá-lo contra sua vontade. Porém, hoje, o Estado brasileiro torna a gravidez um
dever", diz o texto da ação.

"A criminalização do aborto e a consequente imposição da gravidez compulsória


compromete a dignidade da pessoa humana e a cidadania das mulheres, pois não
lhes reconhece a capacidade ética e política de tomar decisões reprodutivas
relevantes para a realização de seu projeto de vida", afirma o partido no processo.

O tema ainda encontra resistência na população.

Pesquisa Datafolha, de novembro do ano passado, aponta que, para 57% dos
brasileiros, o aborto deve ser considerado crime
(https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/12/1947128-cresce-apoio-a-
descriminalizacao-do-aborto-aponta-pesquisa-datafolha.shtml). Esse percentual era
de 64% em dezembro de 2016. O número de brasileiros que declararam
ser contrários à criminalização do aborto cresceu de 23% para 36% na última
pesquisa.
O presidente da República não tem o poder de, sozinho, mudar as leis do país, que
são alteradas por meio de aprovação pelo Congresso Nacional (Câmara e Senado).
Mas o presidente tem o poder de vetar projetos de lei aprovados no Congresso, que
por sua vez, pode derrubar o veto presidencial numa segunda rodada de votação.

Atualmente, projetos que tratam do tema estão parados no Congresso. Em


novembro do ano passado, uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou uma
proposta de emenda à Constituição que inclui a proteção à vida "desde a
concepção". Para críticos do texto, isso poderia inviabilizar o aborto em qualquer
dos casos hoje legalmente permitidos. O projeto ainda não foi votado pelo plenário
da Câmara.

Por ser uma proposta de emenda constitucional, o texto precisa ser aprovado em
duas votações na Câmara e duas no Senado, e não é exigida a sanção do
presidente da República para passar a valer.

A reportagem do UOL perguntou aos pré-candidatos qual a opinião deles sobre a


descriminalização do aborto no país e quais medidas adotariam sobre o tema, se
eleitos. Veja as respostas, publicadas na ordem alfabética dos nomes dos pré-
candidatos.

Carine Wallauer/UOL

Alvaro Dias (Podemos)

"Acredito que a legislação atual é bastante abrangente ao estabelecer as


excepcionalidades nas quais o aborto é liberado. Quando há o estupro, o risco de
vida da mãe e a questão dos fetos anencéfalos, a lei possibilita a realização do
aborto. Esta é uma jurisprudência já firmada pelo Supremo Tribunal Federal e,
portanto, entendo que a legislação já é suficiente para solucionar grande parte dos
casos em que a interrupção da gravidez é solicitada pelas mães.
Acredito que a legislação referendada pelo STF e o Código Penal oferecem as
garantias necessárias para a questão."

Ze Carlos Barretta/Folhapress
Eymael (PSDC)

"A democracia cristã é contrária à descriminalização do aborto e pela manutenção


da alternativas [atuais da lei]. Nossa linha é sempre clara, sempre com definição, é
não ou é sim. Nós temos hoje uma preocupação muito grande de que a
Constituição seja cumprida. Então o próximo presidente da República tem que
cumprir a Constituição e fazer cumprir a Constituição. Nossa Constituição é
responsável pelo nosso maior período democrático e não autoriza e não deve
autorizar o aborto."

Marlene Bergamo/Folhapress

Flávio Rocha (PRB)

"Sou contrário à legalização do aborto. Entendo a vida como um valor absoluto e


inegociável. Abortar sob qualquer pretexto é aceitar que algumas vidas valem mais
do que outras. Não apenas como cristão, mas sobretudo como um humanista não
posso aceitar isso. O Executivo deve atuar buscando evitar o aborto e minorar o
sofrimento das mulheres quando o aborto desgraçadamente acontece. Já temos
vários estudos mostrando que mulheres que abortam entram num círculo vicioso de
culpa, depressão e até mesmo dependência química. Por isso a prevenção é tão
importante. Evitar este flagelo será uma prioridade. E para isso atuaremos com
políticas transversais, seja na questão da assistência social, emocional, mas
também nas frentes da educação e da saúde."

Kleyton Amorim/UOL

Geraldo Alckmin (PSDB)

"Ao governo federal cabe o estabelecimento de políticas públicas voltadas à


prevenção da gravidez indesejada, com ações educativas voltadas não só às
mulheres, mas também aos homens, que precisam ser chamados à
responsabilidade. A legislação atual, que julgamos adequada, prevê o aborto em
casos de estupro, risco de vida para a mãe ou quando o feto é anencéfalo. A
discussão sobre o tema não diz respeito apenas ao Executivo: ela passa
necessariamente pela sociedade, seus representantes no Congresso e pelo
Judiciário."

Reprodução/Facebook @guilhermeafif

Guilherme Afif Domingos (PSD)

"Hoje você tem uma legislação do aborto que já prevê os casos em que se pode
abortar. E eu estou de acordo com esta legislação. A ampliação eu não considero.
Sou contra."

Edson Lopes Jr./UOL

Guilherme Boulos (PSOL)

Guilherme Boulos (PSOL)

"Eu apoio a ADPF apresentada pelo PSOL. Segundo um levantamento feito pelo
Ministério da Saúde, 4 mulheres morrem por dia por complicações de aborto. Chega
de tratar esse tema como um tabu. Todo mundo sabe: as mulheres que têm dinheiro
pagam o procedimento num hospital privado, enquanto as pobres morrem em
clínicas clandestinas. É uma questão de saúde pública.

O Brasil precisa deixar o atraso e acompanhar países como Noruega, França e


Uruguai, onde o aborto é completamente legalizado. Segundo a OMS (Organização
Mundial da Saúde), os números mostram que quem opta pela despenalização tem
taxas mais baixas de interrupção da gravidez e de mortes. Também sustentam
essas cifras o acesso à prevenção, com educação sexual para nossos jovens e o
fortalecimento de uma política integrada de saúde da mulher, com psicólogos e
entrega gratuita de anticoncepcionais."

Pedro Ladeira/Folhapress
Jair Bolsonaro (PSL)

"Sempre me posicionei contra a legalização do aborto. Sou contra por uma questão
religiosa, porque sou cristão. Como presidente, manteria minha posição contrária à
legalização. Defenderia que a legislação continuasse como está em relação às
possibilidades de aborto [estupro, risco de morte para a grávida ou feto anencéfalo].
Não faria nenhuma alteração."

Juliana Santos/Divulgação/Câmara de João Pessoa

João Goulart Filho (PPL)

"Eu nasci em uma família católica e na essência moral e de posicionamento


pessoal, eu sou contra a interrupção da gravidez e da gestação da vida vida
humana. Por outro lado, acho que é um assunto que a sociedade brasileira deve
decidir. A permissão ou não da interrupção da gravidez é assunto para ser resolvido
em plebiscito ou consulta popular nacional.

Em minha visão, os casos em que a interrupção da gravidez é necessária, são


exceções. E, para a garantia da integridade física e psicológica da gestante,
deverão ser realizados apenas na rede pública e por decisão que não pode excluir
nem o médico nem o assistente social, além da mulher, é claro. Pior de tudo são os
abortos paralelos das mulheres mais pobres que sofrem atrocidades em clínicas
clandestinas ilegais.

Acho que o interesse da mulher não é interromper a gravidez, é ter o filho e cuidar
dele. O Estado precisa garantir esse direito dando a assistência necessária, e não
está garantindo. Essa é, em minha opinião, a principal causa do elevado número de
abortos que assola o país. Sou de opinião, por fim, de que não se deve jogar sobre
os ombros de uma mulher sozinha a resolução de um problema social. A luta central
é para que o Estado garanta plenamente o direito à maternidade."

Danilo Verpa/Folhapress
Levy Fidelix (PRTB)

"A minha posição é que devemos respeitar o que está na Constituição Federal,
onde há o direito inviolável assegurado aos que aqui nascem possuem proteção
total. Devemos levar em consideração que dentro de um corpo também existe uma
vida espiritual. Corpo e alma. Esta alma pertence a Deus, não nos cabe abortar de
maneira nenhuma, a não ser em casos de anencefalia, porque não existe vida a ser
protegida quando não existe cérebro.

Se eleito, eu respeitaria o que a Constituição prevê. É lamentável que o STF queira


mudar a Constituição Federal. Não cabe ao STF usurpar a competência originária
dos congressistas que interpretaram os anseios populares ao promulgarem essa
Constituição Federal. Esta ADPF [a ação no STF] para mim é uma incongruência
total. O aborto para mim é neste caso passível de crime."

Leonardo Benassatto/Reuters

Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

A assessoria de imprensa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma


nota com a posição dele sobre o tema:

"O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre destacou, em toda sua vida
pública, que tem duas posições sobre o tema aborto. Como homem, marido e pai
de cinco filhos, sua posição é contrária ao aborto. Mas o ex-presidente também
ressalta que ninguém em sã consciência faz aborto por opção. É uma circunstância
indesejada, na qual as mulheres – e, infelizmente, às vezes mulheres bem jovens –
se encontram num contexto de muita fragilidade. Por isso, ele também destaca que,
politicamente, como homem público e governante, sua posição é que o aborto tem
que ser tratado como uma questão de saúde pública. O Estado não pode ficar
alheio a uma situação que existe e negar assistência, pois sabemos que esta é uma
situação que atinge mais gravemente as mulheres mais pobres.
Para Lula, o Estado deve continuamente ampliar os programas de atenção à saúde
integral da mulher, amparando essa mulher e atuando pela redução da mortalidade
materna e neonatal. O Estado, laico, também deve discutir a legislação que
restringe a autonomia da mulher sobre seu próprio corpo."

FILIPE JORDãO/JC IMAGEM/ESTADÃO CONTEÚDO

Manuela D'Ávila (PCdoB)

A pré-candidata do PCdoB não respondeu o pedido de entrevista da reportagem do


UOL. Em entrevistas anteriores, Manuela D'Ávila disse considerar a questão um
tema de saúde pública. "Defendo que o aborto seja tratado como um problema de
saúde pública, é a segunda causa de morte materna", disse, à Folha de S.Paulo
(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/11/1936692-nao-se-combate-o-crime-
com-jargao-de-internet-diz-manuela-davila.shtml).

"Não existe nenhuma mulher que seja favorável ao aborto. Mas é um tema
importante a ser debatido com as mulheres, por ser uma questão de saúde pública",
disse. "Todas nós sabemos que somos contra o aborto, mas que mulheres ricas não
morrem quando o fazem, enquanto as mulheres pobres morrem", afirmou a pré-
candidata ao UOL, em novembro do ano passado
(https://universa.uol.com.br/noticias/redacao/2017/11/11/aborto-e-feminismo-o-que-
pensa-manuela-davila-pre-candidata-a-presidente.htm).

Ricardo Borges/UOL

Paulo Rabello de Castro (PSC)

"Sou a favor da vida desde sua concepção. Os casos de exceção são previstos na
atual legislação brasileira. A legislação atual é suficiente para atender os casos
excepcionais."

Marlene Bergamo/FolhaPress
Vera Lúcia (PSTU)

"Eu defendo a descriminalização e a legalização do aborto. Aborto é uma questão


de saúde pública e não de polícia. O Brasil registra cerca de 1 milhão de abortos
todos os anos e uma média de 4 mortes por dia por complicações. É a quarta causa
de morte materna no país, sendo que as mulheres que morrem são as
trabalhadoras e pobres, a maioria negras que não tem condições de pagar 4 ou 5
mil reais por uma clínica de alto padrão com assistência médica adequada. Por
outro lado, as mulheres que abortam são na maioria casadas, com filhos, trabalham
e têm uma religião, isso é uma evidência de que o aborto também está ligado às
condições de vida da classe trabalhadora.

A falta de creches e escolas em tempo integral onde deixar os filhos para poder
trabalhar, o medo do desemprego, os baixos salários, a saúde precária, tudo isso
faz com que as mulheres trabalhadoras, diante de uma gravidez indesejada, vivam
um dilema: por um lado não tem assegurado pelo Estado as condições para exercer
a maternidade de forma digna, e por outro são obrigadas a recorrer ao aborto
clandestino, muitas vezes contra suas próprias convicções religiosas, colocando
sua saúde e sua vida em risco porque a legislação proíbe a prática. Isso sim é um
crime, cometido pelo Estado contra elas. Eu defendo educação sexual para
prevenir, contraceptivo para não engravidar, aborto legal e seguro para não morrer.
É pela vida das mulheres trabalhadoras

Legalizaria imediatamente o aborto, essa seria a primeira medida, entretanto cabe


ressaltar que a legalização por si só não resolve a questão, é preciso junto com isso
criar as condições para que as mulheres possam exercer esse direito de forma
segura através da rede pública do SUS e assistidos por profissionais capacitados."

Outros pré-candidatos

A reportagem do UOL procurou os demais pré-candidatos entre os dias 25 e 29 de


junho. Não responderam aos contatos Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo),
Rodrigo Maia (DEM), Ciro Gomes (PDT) e Aldo Rebelo (SD).

Procurado, o pré-candidato do MDB, Henrique Meirelles, informou que não se


manifestará sobre o tema.

Guilherme Boulos só respondeu nesta quarta-feira (4), quando a reportagem já


estava publicada.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com o deputado Cabo Daciolo


(Patriota-RJ).

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