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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

AUTORIZAÇÃO DECRETO 92937/86 DOU 18/07/96 – RECONHECIMENTO PORTARIA


909/95, DOU 01/08/95.DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIA –
CAMPUS XXII
EUCLIDES DA CUNHA – BAHIA
CURSO: LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS
ALUNO (A): Clériston Jesus da Cruz
Disciplina: CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO PORTUGUÊS
BRASILEIRO
Professor (a): Maurílio Antônio Dias de Sousa Data: 10/06/2015
Turma: 2012.1, 7º período. Turno:
VESPERTINO

FICHAMENTOS

A LÍNGUA COMUM NO SEU ASPECTO BRASILEIRO (PORTUGUÊS DO BRASIL)


E AS REPERCUSSÕES NA LÍNGUA LITERÁRIA. CARÁTER CONSERVADOR DA
PRONÚNCIA PADRÃO BRASILEIRA.

SILVA NETO, Serafim da. História da Língua Portuguesa. 3 ed. Rio DE Janeiro:
Presença Edições/MEC., 1979, p. 604-630.

“A língua comum, como se sabe, é o vínculo que torna possível a compreensão entre uns
e outros, é o instrumento principal de comunicação social que se sobrepõe às mil e uma
variedades locais profissionais. A língua escrita é a sua utilização estética. Assim, a
língua portuguesa escrita sobrepõe-se à linguagem grosseira dos Índios e dos Negros, ao
falar rústicos e rude dos colonizadores oriundos da província ou das baixas classes, como
um meio superior de manifestação e de comunicação. As escolas foram fundadas cedo,
graças à iniciação particular ou ao trabalho pertinaz da Companhia de Jesus.” (SILVA
NETO, 1979, p. 604-605).

“Houve desde o primeiro século quem se deliciasse com a leitura das maiores obras de
arte portuguesa tais como a ‘Eufrosina’ e a ‘Diana de Montemor’, - houve um poeta
imitador de Camões: Bento Teixeira, autor da ‘Prosopopeia’, - houve, entre outros
escritores, a grande figura do Padre Antônio Vieira, um dos maiores prosadores da língua
e um dos homens mais cultos da Europa do seu tempo.” (SILVA NETO, 1979, p. 605).
“Cabe também aqui uma observação de Sousa da Silveira. Quando formamos diminutivos
de palavras que têm ó tônico, mantemos o timbre da vogal: corpo-corpinho, folha-
folhinha; quando, porém, a palavra tem a mesma estrutura mas se perdeu a noção de que
se trata morfologicamente de um diminutivo, a vogal pretônica tende a atenuar-se:
folhinha (= fulhinha, calendário), corpinho (= curpinho, colete de senhora).” (SILVA
NETO, 1979, p. 611).

“No Rio de Janeiro, como já dissemos, é grande a oscilação. De uma lado, trabalha sempre
a velha tendência para atenuar as vogais átonas e as tendências de harmonização vocálica;
de outro constante tutela da língua escrita. Por isso, de uma lado se pronuncia coragem,
coração, porteiro, correto, c de outro durmir, chuver, fugueira.” (SILVA NETO, 1979,
p. 613).

“Alguns fatos tornam provável que em certas zonas da Hispânia – entre as quais algumas
que depois vieram a fazer parte de Portugal – se tenha mantido o –u final latino: assim
haveria, até certa época, distinção entre as palavras que originalmente tinham –u e aqueles
que, em Latim, terminavam em –o. Mais tarde estas últimas também passaram a
pronunciar-se com –u: esta é a situação atual de Portugal e da maior parte do Brasil.
Vejamos os argumentos que se podem apresentar a favor de uma antiga (anterior ao
século XVI) pronúncia –u final:

1 – grafias medievais com o todolus (por todolos), Carapezus (por


Carapeços): vj. Leite de Vasconcelos, nos ‘Opúsculos’. II, pág. 299;
2 – a metafonia do tipo põrcu >porco em contraste com põrcos>porcos;
3 – Os empréstimos que o Malaio tomou ao Português no século XVI
apresentam –u: separatu, sordadu, kédju;
4 – as imitações que, no século XVI, os Espanhóis faziam da Língua
Portuguesa incluíam formas como sagradu, risu, mas não falo,
cuantos.” (SILVA NETO, 1979, p. 615-616).

“É um tanto diferente o caso de –e final, que hoje se prununcia como -i no Brasil e que
no Português europeu normal quase sempr se elide: momt’, perdest’, etc. Aqui é natuarl
que durante muito tempo se tivesse pronunciado –e final, visto que no Latim era essa a
terminação: monte, dente, ponte, iste, fonte, nocte, gente, etc. Contudo é natural que antes
da perda que agora se observa no Português europeu, tivesse ele passado pela pronúncia
–i. Com efeito, além de ser a pronúncia do Açoriano, do Madeirense e dos falares
ultramarinos (Cabo Verde, Goa, Ceilão), existe hoje em Portugal em áreas periféricas:
Sul (Algarve e Alentejo), Beira Beira e Norte (Entre Douro e Minho). Dessa maneira a
pronúncia carioca (e quase geral brasileira) representa, também aqui, a conservação de
um estado fonético antig. É de Verney (1736) a primeira afirmação explícita que que o -
e final se pronunciava como –i (cf. ‘Verdadeirp método de estudar’, ed. Organizada pelo
Prof. Antônio Salgado Júnior, I, 1949, pág. 105).” (SILVA NETO, 1979, p. 616).

“Há, ainda, um fonema de pronúncia carioca, diferente carioca, diferente, como veremos,
de outras regiões do País, que merece breve atenção. Trata-se de s final de sílaba,
chamado comumente chiante, mas que se pode descrever como arquifonema palatal, pois
se realiza como “s” antes de fonema surdo ou em pausa, e como “z” antes de fonema
sonoro. Tal fonema que fora relegado da norma no Congresso de Língua Nacional
Cantada, foi, pelo contrário, aceito no Congresso de Língua Falada no Teatro, com o
fundamento de que pertence igualmente à pronúncia padrão portuguesa.” (p. 617).
“Finalmente, é preciso dizer que a pronúncia carioca(e cremos que de todoo Brasil) não
precedeu à evolução de sç em s operada em Lisboa em época recente: descer desser,
piscina>pissina. Aqui foi como noutros casos, a grafia (sc por c) que conduziu a essa
pronúncia.” (SILVA NETO, 1979, p. 619).

“Por outro lado, a pronúncia carioca é uma síntese oriunda das colaborações de todos os
Brasileiros que afluem para a grande cidade. Com efeito, o último recenseamento
revelava que na população do Rio somente pouco mais de 50% são cariocas natos; a
fração restante distribui-se por Brasileiros dos Estados, sobretudo Pernambucanos,
Baianos e Alagoanos. (SILVA NETO, 1979, p. 619).

ALGUNS EXEMPLOS DE PRONÚNCIAS REGIONAIS

“Ao lado e em contraste com essa pronúncia, há vários traços confinados à linguagem
regional. Infelizmente os dialetos, as peculiaridades regionais, estão ainda muito
insuficientemente estudadas. Vejamos, contudo, alguns exemplos expressivos, fazendo
previamente a observação de que podem pertencer a dois tipos: a permanência de
pronúncias portuguesado século XVI (da língua padrão ou de falares regionais) ou a
persistência de antigas pronúncias de aloglotas.” ((SILVA NETO, 1979, p. 622).
“Mas não ficam por aí os fatos referentes às nasais. Na linguagem popular e regional de
todo o País, perde-se a nasalidade final: virgem (virgẽ ou virgẽi) pronuncia-se virge,
homem (homẽ ou homẽi) pronuncia-se home. Igualmente o ditongo final –ão perde a
nasalidade e reduz-se a o na linguagem rústica: quiseram (quiserão) e foram (forão), por
exemplo, reduziram-se a quisero e foro. Pensamos que se trata, aqui, de uma reduçãp
paralela a órfão>orfo, Cristóvão>Estevo.” ((SILVA NETO, 1979, p. 623).

“Ainda na pronúncia do Nordeste, numa área por definir, mas com toda a segurança muito
extensa, todas as vogais protônicas são abertas; assim: dezembro, tolerar.” ((SILVA
NETO, 1979, p. 624).

“Finalmente, é muito importante um traço de vocalismo referente a uma área do Sul do


País, que tem a parte meridional de São Paulo como ponto de irradiação e se estende, pelo
sul do Mato Grosso, o norte do Paraná, e daí até o Rio Grande do Sul. Trata-se da
pronúncia de –e e –o finais, que assim se pronunciavam, ao invés de reduzir-se a –i e –u,
como na maior parte do domínio linguístico português.” ((SILVA NETO, 1979, p. 625).

“Começaremos o consonantismo referindo importante traço de um dialeto bastante


conhecido em todo Brasil: o baiano. Aí o complexo it se palatalizou, numa africada que
é ts: dessarte uma palavra como oito se pronuncia otsu, muito profere-se mutsu e assim e
assim por diante. Devemos lembrar que o mesmo traço de pronúncia se documenta nos
falares crioulos portugueses.” ((SILVA NETO, 1979, p. 625).

“No que se refere à palatal-masal nh há na pronpuncia do Nordeste, um traço muito


curioso: é que o fonema se mantém como nasal, mas se desconsonantiza: Antonho, por
exemplo (que é a pronúncia popular de Antônio) se pronuncia Antõio (Marroquim, pág.
86).” ((SILVA NETO, 1979, p. 627).

“Há que falar, agora, de uma área muito carregada de tipicismo: entende-se por três
Estados: sul de São Paulo, sul de Mato Grosso, e norte do Paraná, mas devemos
reconhecer que está ainda longe de ter sido traçada com rigor. Em todo o caso, om ponto
de irradiação parece ter sido São Paulo e o povoamento bandeirante (...).” ((SILVA
NETO, 1979, p. 628).
“Aqui referimos, por alto, alguns dos traços mais salientes das pronúncias regionais
brasileiras, sobretudo para opô-los à pronúncia culta carioca, que é a única que se pode
classificar, sem mais nada, como pronúncia padrão brasileira, ou do Português do Brasil.
O que, poré, se torma cada dia mais indispensável e urgente, é o estudo, minucioso e
rigoroso, da fonética das vparias regiões d Brasil, vasto campo de experiências onde a
Língua Portuguesa desenvolveu as suas virtualidades.” ((SILVA NETO, 1979, p. 630).

A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de Filologia Portuguêsa. 4 ed. São Paulo:


Edição Saraiva, 1963, p. 221-229.

“Com a catequese e a destruição do elemento aborígene o domínio do português foi


completo, mormente, no litoral, ao ponto de não saberem falar o tupi ou o guarani os
próprios descendentes de tais povos. Quando depois os principais da terra começaram a
estudar, a formar-se, iam todos para Coimbra e de lá traziam o padrão de seus escritos, da
sua expansão literária.” (BUENO, 1963, p. 221).

“Daqui o aparente paradoxo de que, sendo o nosso país muito mais novo que velho Reino,
possui ainda hoje, um tipo de língua mais velho e antigo, Tal paradoxo existe apenas aos
olhos dos que destas coisas não se preocupam sendo naturalíssimo aos que de linguística
fazem seus estudos. Assim se deu com o latim: quando a Hispânia ministrava a Roma
seus grandes literatos, a língua deles conservava numerosos arcaísmos já então
desaparecidos na capital do mundo.” (BUENO, 1963, p. 221-222).

“Quem ouvir um rústico paulista ou mineiro, tendo o ouvido bem lusitano, notará
imediatamente que os ditongos perdem a subjuntiva: caxa, pêxe, rôbo, rôpa, (caixa, peixe,
roubo, roupa); que ch, g, (j), valem tch, dg/; chapéu, janela soam tchapéu, dginela; que
não há diferença entre sç, ç, c, dando-se ainda o valor arcaico de tç: assim esta frase: Não
cnheço mêce – aparece desta forma: Num conhetço metçê. Os verbos descer, nascer são
ditos detcer, natcer, ou melhor ainda: detcê, natcê; que o s, z, finais têm o valor de ç:
dez, vez, mês, três são ditos: deç, vêç, mêç, trêç, pronúncia já registrada por Gonçalves
Viana (Apost. I, 158) como arcaica e dialetal em Portugal.” (BUENO, 1963, p. 224).
“9º) estou estudando – Na linguagem do Brasil predomina a construção gerundiva
enquanto preferem os portugueses atuais a infinitiva: Estou a estudar. É questão de
preferência e não de correção pois, ambas são excelentes. Pelo exame dos autores
clássicos notamos que a construção brasileira é clássica e arcaica, Foi depois do século
XVIII que começou a predominar a sintaxe infinitiva, que também é empregada entre
nós. [...].” (BUENO, 1963, p. 228).

“Outras construções ainda há que são tidas e havidas como brasileirismos e que não
passam de velhas conservações legitimamente portuguesas. Não continuamos a passa-las
em revistas, bastando as que aqui estão para comprovar o nosso acerto: o cunho
diferencial já existente entre a língua portuguêsa de Portugal e a do Brasil reduz-se a
arcaísmos.” (BUENO, 1963, p. 229).

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