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helena martins-costa

“estatuária”
exposição de fotografia

[Quase Galeria/Espaço t de 22 de julho a 14


de setembro]
[com extensão na Galeria de Escultura no
Museu Nacional de Soares dos Reis]
“A obra da artista, natural de Porto Alegre, Brasil, versa em geral sobre álbuns de retratos, itens
que destacam algum momento na história e no espaço doméstico da família, que representam
um conjunto de valores e normas e formam uma determinada imagem exibida socialmente. Por
vezes é possível ver nestes um ethos de classe, uma espécie de síntese de valores que traduz
todo um imaginário visual popular a partir da sua lógica de representação. Este tipo de álbum
tende a ser valorizado, não tanto pelo seu conteúdo imediato (as qualidades estéticas de
composição ou grau de semelhança ou realismo apresentado pelos retratados) quanto pela sua
capacidade de conferir o estatuto de índice ou referência de uma época e de indivíduos. É neste
espaço que se insere o interesse de Helena Martins Costa, quando se apropria de retratos
antigos, geralmente recolhidos em espólios de amigos ou em feiras da ladra. Como se a vocação
de permanência da imagem-retrato estivesse comprometida já à partida, restando à fotografia
apenas assumir esta insuficiência e apostar no incerto apelo evocativo e nostálgico que lhe é
imputado. Para a sua exposição no Carpe Diem Arte e Pesquisa, Helena Martins Costa traz a
série intitulada Estatuária, composta por 9 trabalhos inéditos, onde a artista trata de questões
em torno da pose através da aproximação entre a fotografia e a escultura. A artista apresenta
fotos de esculturas de logradouros públicos, de performers de rua (estátuas vivas) e de
fotografias antigas de estúdio onde pessoas posam como personagens históricos.“
Paulo Reis
(texto para a exposição homónima no Carpe Diem – Arte e Pesquisa em junho 2010)
Os retratos, quando são memórias 3D, encerram presenças assertivas. Ninguém questiona
estátuas inconcludentes. Talvez sejam perversas, caso da estátua na fonte do Jardim barroco,
ficcionado no Contrato do Desenhista de Peter Greenaway.
Na série Estatuária, o enigma persiste – tableaux vivants. Contam-se histórias antropomórficas,
onde em bronze, pedra ou carne, se dissemelham ou apresentam afinidades. O denominador
comum reside na existência congelada, uma ousadia que zela a expetativa vital, roçando a
condição acronológica. Os homens e mulheres que suspendem a ação em artérias públicas,
iludem os transeuntes, derivas no domínio do tempo. Subvertem o ritmo das metrópoles,
aviltando o luxo da demora, esperando moedas que caiam num chapéu ou porque algum gozo
lhes assuma a decisão de vida – artistas de rua vestindo-se de estátuas. Por outro lado, vejam-se
os retratos daquelas pessoas que, nos inícios da fotografia, se vestiam e se fingiam estátuas.
Envergando figurinos de esculturas queriam parecer-se com pessoas. Pelo tempo dilatado das
poses, convertiam-se em figuras mitológicas, religiosas ou históricas. Os seus gestos atravessam
as conveniências dos comportamentos sociais, assegurando ações indizíveis. Delineavam
intenções secretas - “petit divertissement” - detendo-se em impulsos, raciocínios insondáveis.
Acercam-se dos “tableaux-vivants”, antepassados de certas variantes performáticas,
interrogando o gosto dos públicos contemporâneos.
“És feliz? pergunta a estátua na fotografia. Logo as demais repetem a frase, olham os visitantes,
congelam-lhes a respiração, antes de formularem qualquer réplica. Bem-haja(m) as figuras
fotografadas em plena ação de resistência, estoicas e lúcidas.
Maria de Fátima Lambert
…”As fotos são dos espectáculos: "Catástrofe" de Beckett; "O Marinheiro" de Pessoa;
"Beckett: O Quê - Onde" a partir de Beckett; "A Noite Antes das Florestas" de Koltès;
"Cinemascope" e "In Situ - In Transit" realizado no MNSR e que continha inúmeras alusões
à estatuária e utilização de técnicas de imobilismo e mesmo uma cena inteira de 'stop
motion' e suspensão do tempo em que os figurantes permaneciam todos imóveis
enquanto os espectadores se deslocavam livremente no espaço.”

Francisco Alves (email, 24.out.2016)

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