You are on page 1of 73

m 11111 vt">n r,1~antc que o fir-

E maria corno pensador de


primeira ordt'm, Virilio nãn deixa
pedra sobre pedra e mostra como.
de Espan a ao Vietnã, da Revolu ·
ção Francesa à era da cihernt1ica.
passando pelos teóriuVi e pro1ago-
nistas do confli1<> e da guerra S u11
Tsu, Maquiavel. Napoleão.
ClausewiLZ, Hitler, Sta lin. M,w. a
História perde c,paço, o h u mano
fica subJugado à verngcm da
ace leração, e a ve loc1d;ide c o
movimento deqroe111 "Tempo: é
o qul' e le chama de "Estad o dl'
urgência·. onde • J'il ra r ,1gn 1[1,·a
mor rer".
Velocidade e Política
Nesta cativanll' reílexãn sohre a
implu,ã11 tia lflç1u1 ,a. Vtri lio 1110,-
tra como o h11rncni a,,un1e
primeiro a rua. para depo1, perce-
ber que o c,paço ,1ue conta é zi
est rada, o rnovinwnto. Espa rt a
sucumbiu porque nãu na vt'go u . A
lngla 1e rra se firm,iu como potC:·n-
cia porque comrolou o, m,1res -
as au 10-e,1r;idas dJ época - ctei-
xa ndn aç nutra~ p,11énc1a,
e uroptia~ ,e dig lad1art·n1 c,11
guerra~ pe l11 umtrole da rnas,a
con111wn 1a l q11an do 11 qul' i:-<>nta-
va er.:i o movimr.: n to a, v ia; de
C<lllluni<a,ào. o aceçq1 1·ap1do às
u>lc"\rnaç, a Vl'ioddJck dl' de,lc1< a-
m,·ntu. A e,se íl'~pe110. L'l1l ln ll )(ll
de poi1nen 10 a Fran.;o" Ewa ld 111,
Maqaz111e Lltrnaire de n ovembrn
de 1995, Viri li o nos r(' vt'!J como
lo i ,1 11 pre,~n d idl • ,edo pL" I" impa(•
to da vcloudade cnnj ugacla , 11111
t'çça l,JrmJ consagr.1 da de lil7LT
pol11ica <jllt' C, a f:!Ue1Ta "Uni dia.
e111 1940. es1amn, almoçando O
rádio J11u11eia <jUt: o \ alemães
c,1.'io t•1n Orl L;Jns. Poucn tempo
depub. ouv1nHJç u111 baru lho
<:strat1 h n na rua . Como wdn, os
men ino,. me rrec1p11 c> para ver.
m um vôo rasan1e que o Ílr·
E maria como pensador de
primeira urdem. Viril10 não deixa
pedra sobre pedra e mmtra cnn111.
de E,pana ao Vietnã. da Revolu-
ção Francesa à era d,1 C1herné11ca.
passando pelos tcoricos e prn1 ag,,-
nb1a, du conf/110 l' da ).( UCrrJ 5 1111
Tsu, Maquiavel, Napoleã,1,
Clausewítz, Hi1ler, SlJJin, Mao, il
Hi~1ó na perck c~paç,1. o h umilno
[TCa ~uh111gado à Vt'rligem da
aceleraçàt>. e.: a velocidade l u
lll<lVÍlllt'lll<l dcq1nern O Tempo t'
o que ele chama de "Eqado de
urgéncia" nndt· ·p.1,a r ,igni litJ
mu i rt•r"
Ncst,1 rntivante rdle"ào mbrc a
Velocidade e Política
implo,ãn da !TJ~1ú11c1, V1rilil1 JlHl',·
ira como " h o m e m a s~u me
primeiro a rua para depoh perce-
bt>r que ,1 e~paço q ur nm 1a é a
estrad J. o m,1vimc111,J. E~parra
s11cumb1u porque não navt>g,HJ A
lngl;:itcrra se f1rmll11 C<Hllll pnt{·n -
cia por<.Jut· con trolou n\ mares -
a, au 10 -es1rada~ da cpoca - dei-
xando as nu tra, plllência,
européias ~t· diglad1arern c m
gue1ra5 pe lo co11t rok d,1 mc1\,a
cn111inen 1al quando , J que <Pn lJ-
va era o 111ovinwn10. a\ vias de
cumun icação, o ace~~" rápido ;is
colô111as, a \'t'IOud:ide de dcslüra -
me n to A cs,e rt·spcit11, cn1 longo
depoimen10 ,1 F1i1 nÇ,H~ bwa ld no
Magazme Littéra1re de novembro
de 1995. Virilio n , ,s rt', e la como
fui s urpree nd ido cedo pelo im pac-
to da veloddade um1ugJd<1 cor11
c~~J lorma con~agrada de fazn
polítira que é a gue rra· "Um dia,
1·m 194 0, l'~tamos a lmoçando O
rád io a nu n<.ia q ue o, alcm5es
c~tão em Orléan, Pouco 1e111po
depois. ouvimo, um har ulhn
estranho na rua. Como tudos o~
menino,, me prec,piw pa ra ve r·

l
Paul Virilio

Velocidade e Política

Tradução de
Celso Mauro Paciornik

Prefácio de
Laymert Garcia dos Santos
Publicado originalmente cm 1977 sob o título Vitesse etpolitique por
l CM- 0 0100231-5

-: .-~---,
Edicions Galilée, 9, rue Linné, 75005, Paris.
© Prefácio: Laymert Garcia dos Santos, 1996 Índice
Tradução: Celso Mauro Paciorn ,k

G /', t.. _. f.~ / Revisão de Tradução:Angel Bojadsen PRÉFACIO 9


-.Y 81 "t V f:isíí.o de 7exto. Marise Leal e Helo,sa Ma.cario PRIMEIRA PARTE
J2?1/4'f,,~a.ptr. Nuno Bmencourt / Letra & Imagem A REVOLUÇÃO DROMOCRÁTICA 17
. r"'- .. /. /lustmção da Capa· Ayao O kamoco, sem ciculo,
e,.. --· - cécnica m,sca s/rda, 80xi00cm, 1995
ZJ . À y-1 f / . . 1. Do direito à rua ao direito ao Estado 19

Projeto Grdflco: Luiz Antonio F. Souza


T A ········- . . ······•··J ºmporiçiio: Magda Azevedo e Ysayama Esrúd10
2. Do direito à estrada ao direito ao Estado 3 7

- - Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


CPO _____ . . . ..
--- . Dados
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) SEGUNDA PARTE
Virilio, Paul
Velocidade e política/ PaulVirilio; tradução O PROGRESSO DROMOLÓGICO 47
Celso Mauro Paciornik. - São Pau.lo : Estação Liberdade, 1996.
1. Do direito ao espaço ao direiro ao Estado 49
Título origiml: V ir.esse er politique.
2. A guerra prática 59
1. Mudança social 2. Revoluções- Hiscória
3. Velocidade I.Tímlo.

96-1626 CDD-306.2
TERCEIRA PARTE
Índices para catálogo sistemático
1. Velocidade e política : Sociologia política 306.2
A SOCIEDADE DROMOCRÁTICA 65
1. Corpos incapazes 67
ISBN 85-85865-12-1
2. Assalto aos veículos metabólicos 79
1996
3. O fim do proletariado 95

FOTOCOPIAR ESTE LIVRO 1: ILEGAL E VIOu\ OS DIREITOS DO AUT OR 4. Uma segurança consumada 113

Todos os di ceitos para a língua portuguesa reservados à


EDITORA ESTAÇÃO LIBERDADE
Av. Dr. Arnaldo, 11 55 QUARTA PARTE
01255-000 São Paulo - SP
Tel/Fax (O 11) 872-9515 O ESTADO DE EMERGÊNCIA 121
.._

"Eu não queria ser


um sobrevivente"

Jean Mermoz
Prefácio

Velocidade e PoLfrica é um livro de 1977, o terceiro de Paul Virilio,


depois de Bunker Archéologie e de L'insécurité du territoire, dois textos
dedicados às relações entre a guerra t :) espaço. Ao escrever seu segundo
texto, o autor desembocara num capículo intitulado "Veicular", no q ual
tentou responder a uma questão que se impunha: "Onde estamos quan-
do viajamos? Qual é esse 'país da velocidade' que nunca se confunde
exatamente com o meio arravess,1do?" Seguindo suas incuições e associ-
ações, Virilio percebeu que ocorre uma mudança de estado, um trans-
porte, pois passamos a habitar um não-lugar - e se pôs a buscar o
sentido dessa mudança. Deslocamento, trajeto, transporte, projeção,
transmissão, veículo - em " Veicular" todas essas noções começaram a
se precipitar para configurar a descoberta desse não-lugar como um
novo país ou continente, o da velocidade; mais ainda: p;ira determ inar
com o uma "aristocracia da velocidade" nele se consricuía visando dominar
0 espaço. Em "Veicu lar" despontava o sentido da velocidade.

O pr6prio Virilio, numa longa entrevista a Sylvere Lorringer, narra


a gênese de Velocidade e Política-. "Em 'Veicular' comecei a adivinhar
cercas coisas. Dei-me conta de q ue a questão da guerra resumia-se na
que5cão da velocidade, de sua organização e produção, enfim, em cudo
0 que ª circunda. Assim, depois de L'insécurité du territoíre, publiquei

um texto que era menos rico em desenvolvimento, '111as mais rico do

9
ponto de vista teonco. ( ...) É um livro rápido, mas um livro-chave. velocidade e política. É essa articu lação que o autor tenta cons-
cu1ar l "A revo 1uçao
-
Não é O número de páginas que conra: eu nunca escrevo coisas longas. ruir _ dai a elaboração do 1vro em quatro parres:
Meu grande ponto de referência não é Clausewitz rnas Sun Tsu. Sua ~romocrácica'', " O progresso dromológico", "A sociedade dromocrática"
Arte da Guerra tem apenas 120 páginas. Velocidade e Política é um pequeno e "O estado de emergência".
Livro importante porque foi o primeiro a levantar a questão da velocidade. Na primeira, V irilio procura mostrar como a dinâmica d,1s revolu-
É uma introdução a um mundo totalmente novo que nunca havia sido óes modernas se alimenta da enorme energia desencadeada pela
mostrado a ntes. Não foram muitos os autores que tocaram na vdocida- ~ransformação do proletário-operário em proletário-soldado e do prole-
de. É claro que existe Paul Morand, algum Kerouac, mas isso é lirerarura. tário-soldado em proletário-operário; isto é, como nas revoluções as massas
Para uma visão mais política da velocidade, há Marinetti e os futuristas são produtoras da velocidade necessária para tomar de assalto o ~oder.
italianos, e depois Marshall Mcluhan, que deu um p asso nesta direção - No entanto, embora produtoras, as massas não controlam essa velocidade,
e isso é tudo. Velocidade e Política não é tão importante pelo que diz, e são antes massas de manobra nas máos de uma classe industrial-militar
como pela questão que levanta." ' que, esta sim, capitaliza o movimento, e investe-o na ocupação e no
O depoimento de Virilio diz o essencial sobre a relevância d e seu controle dos territ6rios e de tudo o q ue neles circula . As revoluções
pequeno livro, e como ele chegou a concebê-lo. Velocidade e Política, modernas instauram a ditadura do movimento, põem em prática a idéia
que tinha como s ubtítulo n a primeira edição fra ncesa Ensaio sobre poütica de nações em marcha.
Dromologia*, é uma introdução à 16gica da corrida, à lógica que toma Na segunda parte, "O progresso dromológico", Virilio irá analisar
como referência absoluta, como equivalente geral, não mais a riqueza e como a velocidade do assalto, que antes se exercia sobre o espaço territorial,
s im a v elocidade. A "quest ão que levanta" é , precisamente, a da se transforma ao abandonar a terra, e seus obstáculos, e desaparecer no
pertinência dessa mudança de perspectiva, e da releitura da hist6ria do horizonte. Em v~ de visar-se um po nto no espaço e no tempo, agora
Ocidente que ela implica. pretende-se dominar não através do confronto mas de uma estratégia
Tal releitura, porém, s6 se justifica se a própria evolução histórica indireta, na qual um constante deslocamento de forças gera uma ameaça
estabelecer o primado da velocidad e. Assim como Marx concebera a permanente. É o domínio dos ingleses sobre os mares, cri,mdo uma zona
riqueza como equivalente geral a partir do advento do capitalismo, de insegurança global que permite prolongar indefinidamente as hostüi-
Virilio vai considerar a velocidade como valor a partir do advento d a dades. A lógica da corrida se transfigura. muda de plano, enquanto a
revolução técnica e de sua conexão com a revolução política. Nesse velocidade começa a se desterritoriali:z.ar, e a atenção se desloca do pr6-
sentido, se a 16gica da riqueza se expressa numa economia política, a prio elemento (terra, m ar) para o dinamismo dos corpos aucomotivos.
lógica da corrida se explic itaria numa concepção ceónca capaz de arei- Esboça-se, a partir daí, roda uma evolução, na qual a velocidade vai se
afirmando como id éia pura e sem conteüdo, como puro valor, que ame-
1
aça ultrapassar até mesmo o valor do capital. No mar, com os ingleses,
Paul Virilio/Sylverc Lotringcr, Pim: \\1/ar, New York, Sem,orexr(e). 1983.
opera-se a transferência d a vitalidade natural para a vitalidade tecnológica,
Na edição brasileira, Guerra Pura - A militarizaríío do cotidirmo, São Paulo,
Brasiliense, 1984. Tradução de Eh:a Miné e Laymerr G. dos Santos. Aprese ntação no mar a velocidade deixa d e ser metab6lica. passando a referir-se a si
de Laymert G. dos Santos. · mesma. Como escreve Virilio: "É precisamente no momento em que o
* N . T. - Tanto esta palavra (dromologia) como ourras que aparecem no decorrer esquema do evolucionismo tecnológico ocidental sai do mar gue a subs-
da obra (d romocrátíco, dromocracia, dromocrata) são neologismos em pregados pelo r_ânci~ da riqueza começa a desmoronar (...) Tal como na origem da fleet
auror como variantes da palavra grega «dromos" que exprime a idéia de "corrida", "cur- m_ bemg, a manutenção do monopólio exige que a todo novo engenho
so», "marcha". A única palavra dicionarizada em português com este prefixo é
seJa logo contraposto um engenho mais rápido. Mas com o limiar das
"dromoman ia", que significa "mania de vaguear; pendor mó rbido para a vida erra nre",
conforme o Dicio nário Brasileiro de Língua Portuguesa (MIRADOR).
velocidades se eScre1ran
· d o sem parar, fica cada vez mais · d'º
1r1c1·1 con ce b er 0

10 11
engenho rápido. Ele freqüentemente se roma obsoleto antes mesmo de e militares, a desordem urbana, a desestabil ização do Estado-nação,
ser aproveitado; o produto está literalmente gasto antes de ser usado, foram criando um cltrna de insegurança que os analistas políticos hoje
ultrapassando, assim, na "velocidade", rodo o sistema de lucro da denominam "a nova (des)ordem mundial" e que Vírilio já antecipara.
obsolescência industrial!" Com efeito, Velocidade e Política aponta até mesmo para a transformação
Tornando-se a medida, a velocidade passa então a dividir a huma- da segurança numa das principais commodit ies do capitalismo con-
nidade em povos esperançosos (os que a capitalizam o suficiente para temporâneo, e para a correlata promoção do gangscerismo (que tem na
continuarem projetando-a infinitamente) e povos desesperançosos (imo- chantagem, na venda de proteção, a sua pnncipal atividade) ao estatuto
bilizados pela inferioridade de seus veículos técnicos, vivendo e subsis- de política oficial. Mais ainda: o livro já rematiza como a segurança
tindo num mundo finito). Tornando-se a medida, a velocidade deve passar pela imobilização dos corpos, pela supressão das vontades e
transforma-se na "esperança do Ocidente" - esperança de supremacia, dos gestos.
evidentemente, consubstanciada no veículo, isro é, no veror tecnológico. Depois de anunciar que a revolução dromocrática institui a dita-
N a terceira parte, "A sociedade dromocrática", Virilio se volta para dura do movimento, que o progresso dromológico estabelece a
os efeitos gue o investimento na velocidade tecnológica provoca nos velocidade descerritorializada co mo valor supremo, e que a sociedade
corpos. O objetivo é mostrar como a lógica da co rrida, desinvestindo dromocrácica instaura um regime de dominação exercido através do
da cerra e do mundo, e investindo progressivamente no vecor, promove controle do movimento, Virilio conclui seu rápido imight sobre a lógica
um verdadeiro assalto à natureza do homem. De um lado, há as elices da corrida com algumas considerações sobre o estado no qual passamos
dromocráticas, que prezam a mobilidade acima de tudo, porque sabem a viver - estado de emergência. E escreve: "A manobra que consistia
que dominar significa poder-invadir e ocupar uma posição dorninanre, ontem em ceder terreno para ganhar tempo perde rodo se ntido;
o que as leva a buscar próteses cada vez mais sofisticadas. De outro, há atualmente, o ganho de tempo é questão exclusivamente de verores, e o
os proletários-soldados e os proletários-operá rios, c11jos corpos serão território perdeu seu significado ante o projétil. De fato, o va lor
despotenciados, induzidos a uma morte lenta. E se a progressiva estratégico do não-lugar da velocidade suplantou definitivamente o do
desterritorialização significa para as elites uma inrensificação do domí- lugar, e a guestão da posse do tempo renovou a da posse rerrirorial. "2
nio, para as massas, significa desenrai-zamenro, destruição do habita t, Assim, a guerra e a política não são mais travadas pelo controle e ocupação
privação de identidade, exclusão, perda d a anima, do movimento. Nesse do espaço, mas pelo domínio do e no tempo. A dissuasão e a auromação
contexto, enquanto a guerra moderna vai prescindindo cada vez mais expressam, nos campos militar e civil, esse avanço da lógica da corrida
do proletário-soldado, a automação d a produção vai tornando obsoleto gue troca a estratégia pela logística, desloca o conflito do estágio da
o proletário-operário, prenunciando o fim do proletariado. ação para o da concepção e a ntecipa o co nfronto, gerando um
A esse respeito, é interessante notar como a leitura de Virilio, antes perman ente estado de tensão.
mesmo que os anos 80 começassem a torn ar evidente a progressiva Velocidade e Política é, portanto, como que urna espécie de captação,
superfluidade do proletariado, já previa: "(... ) foram-se os tempos em numa vertigem, das implicações político-militares da desvalorização
que a energia cinética do proletariado dominava a vida política após cer do mundo enq uanto teatro de operações e campo da liberdade de ação
dominado o campo de baralha ( ...) . Doravante, o corpo animal do humana. 3 O livro é o registro de uma descobe rta fecunda - a supremacia
proleta riado está desvalorizado como acontecera, antes dele, com os do não-lugar sobre o lugar - cujos diversos aspectos e implicações Virilio
corpos das ou eras espécies domésticas." A análise crua, chocante, revelava
uma tendência que os faros posteriores só vieram confirmar. A progressiva 1
Grifo do auror.
obsolescência do proletariado, mas também a crescente latino-am eri- J "H ' . . .
urra. acabou o conr:uo com a rerr:1 imunda!" - exclama o fucunsca Mari nem,
canização dos países industrializados, a fusão dos interesses industriais em 1905.

l2 13
passará a explorar em todos os seus textos subseqüentes. É significativo uma realidade segunda; como as próprias noções de relevo ou de volume
que, quase vinte anos depois de seu lançamento, em 1995, o autor não afetam mais apenas a matéria e sua terceira dimensão, mas também
publique Vitesse de libération4, meditação sobre as transformações ope- a própria realidade da quarta dimensão, provocam então uma 'catástrofe
radas em nossa percepção desde que os astronautas da Apollo 11 se temporal', esse acidente do tempo real que hoje vem sobrepor-se à
emanciparam da força da gravidade terrestre a 28.000 km/hora, e "caí- antiga 'catástrofe material', cuja marca o tempo profundo de nossa
ram para cima". Ali, Virilio escreve: "Na Terra, a velocidade de liberação 'geologia' ainda conserva."
' é de 11.200 km por segundo. Abaixo dessa aceleração, rodas as velo-
cidades estão condicionadas pela atração terrestre, inclusive a de nossa Laymert Garcia dos Santos, abril de 1996.
visão das coisas. Força centrífuga e centrípeta, de um lado, resistência
ao avanço, de outro, todo movimento de deslocamento físico, horizon-
tal ou vertical, depende portanto da força de gravitação na superfície
do globo. Como então não tentar estimar a interação dessa gravidade
com nossa percepção da paisagem mundana?"
Vitesse de libération é um ensaio sobre o que acontece quando a
atração terrestre é superada. Assim, em virtude de seu próprio tema,
pode-se dizer que esse livro é a continuação ou a retomada de Velocidade
e Política. Muitas e enormes mudanças sociais, econômicas e tecnológicas
ocorreram no intervalo que separa os dois volumes, e seria até supérfluo
enumerá-las. Mas se há uma que se tornou patente para todos, é a que
se refere ao encolhimento do mundo, a essa estranha contração que foi
aproximando tanto todos os lugares, rodas as suas faces. a ponto de
fazer dele uma interface. Virilio pressentiu que a revolução da informação
e o movimento de globalização conduziriam tal processo. Por isso mes-
mo, é tentador deixar-lhe a última palavra, como um convite para que
o leitor descubra também o que se anuncia em seu último texto:
"Já fundamentalmente depreciado pela poluição material das subs-
tâncias (atmosfera, hidrosfera, litosfera...), nosso planeta também o é,
embora mais discretamente, pela poluiçáo imaterial das distâncias (estas,
dromosféricas) que nos leva a nos emanciparmos do "solo de referência"
da experiência sensível da geografia - graças principalmeme à aquisição
de uma velocidade dita de liberação -, mas que também nos obriga a
perder as referências, o contato com as superfícies da matéria, para
inscrever nossa ação interativa no excra-campo de um espaço sem gravi--
dade, para teleagir instantaneamente na trajetória cibernética de

• Paul Virilio, Vitme de l1biration, Coll. J..:Espace critique, Paris, Galilée, 1995.

14 15
Primeira parte

A revolução
dromocrática
Do direito à rua ao direito ao Estado

"Esta massa de ind111fduos qur a menor umdnde


militar apreunt11 no olhar, umda numa 11iagrm comum "

CLAUSEWITl, 1806.

Em todas as revoluções, a circulação é uma presença paradoxal.


Em junho de 1848, observa Engels: "Os primeiros ajuntamentos acon-
tecem nos grandes bulevares, ond,e a vida de Paris circula mais intensa-
mente." Menos de um século mais tarde, Weber comenta sobre o
desaparecimento de Rosa Luxemburgo e K. Liebknecht, como se estivesse
tratando das conseqüências de urna colisão, de um engavetamento: "Eles
invocaram a rua e a rua os matou!" A massa não é um povo, uma
sociedade; é uma multidão de passantes. O contingente revolucionário
não atinge sua forma ideal nos locais de produção e sim na rua, quando
deixa de ser, durante algum tempo, substituto técnico da máquina e
torna-se, ele próprio, motor (máquina de assalco), isto é, produtor de
velocidade.
Para a multidão de desempregados, de operários desmobili2ados e
sem ocupação, Paris é uma malha de trajetórias, uma sucessão de ruas e
avenidas por onde eles erram boa parte do tempo sem objetivo, sem
destino, sob o assédio de uma repressão policial encarregada de controlar
sua vadiagem. Para os diversos bandos revolucionários, como os apaches'

1 A imprensa pansiensc populam.ou o rermo depois da agressão de um veiculo


ur?,ano, _na rua de Bagnolcr, por um bando de malfeitores cujo célebre "capacete doura-
do serviu-lhe de mspiraç:ío.

19
e outros grupos suspeitos dos bairros periféricos, na hora H será mais trânsito destinados a acelerar a trombada, o choque acidental, obiecivo
imporranre conservar a rua do que ocupar este ou aquele edifício. final da manifestaçao de rua, da desordem urbana. "A propaganda deve
Em 1931, durante as luras travadas pelos nacional-socialistas contra ser feita diretamente pela palavrn e pela imagem, não pelo escrito",
os partidos marxisras na capital alemã, observa Joseph Goebbels: "Quem afirma ainda Goebbels, ele mesmo um arauto do audiovisual na Ale-
conquistar a rua, conquistará também o Estado!"2 manha. O tempo de leitura implica o de reflexão, uma desaceleração
O asfalto seria então território político? O Estado burguês, seu que destrói a eficiência dinâmica da massa. Se algum monumento é
poder, será a rua ou estará na rua? Sua força virtual e sua extensão ocasionalmente ocupado pela malta, ele será rapidamente transforma-
estarão nos locais de circulação intensa, na via rápida? do em lugar de passagem onde cada um entra e sai, leva e traz; trata-se
Assim, escreve ainda Goebbels, a respeito dos combates de Berlim: de uma tomada com ocupação temporária, o saque pelo saque, como se
"O ideal militante é o combatente político dentro do Exército Pardo, viu em 1975, por ocasião da queda de Saigon.
enquanto Movimento... e obedecendo a uma lei que às vezes nem mes- Existe, ao longo de toda a história, uma errância revolucionária
mo conhece, mas que poderia recitar em sonho... assim, colocamos em não expressa, não revelada, a organizas;ão de um PruMEIRO TR,füSPQRIE
marcha seres fanáticos ..." COLETrvO que, no entanto, é a própria revolução. Assim, a velha convic-
Ele compara então, cientificamente, os estenogramas de seus di- ção de que "toda revolução é feita na cidade", vem da cidade, e a expres-
versos discursos, os que fizera no interior e depois, em Berlim, cons- são "ditadura da Comuna de Paris", utilizada desde os acontecimentos
tatando que o "conglomerado sociológico informe" da capital exigiu a de l 789, não deveriam sugerir tanto a clássica oposição cidade/campo
invenção de uma "nova linguagem de massa". quanto a opesiyã0-es.taçãol.circ.ulaç_ão.
"O ritmo da metrópole de quatro milhões de almas palpita como Apesar das investigações comprobatórias sobre os traçados urba-
um sopro ardente em meio às pregações dos propagandistas... Fal ou-se nos, a cidade não foi prioritariamente percebida como habitat humano
aqui uma língua nova e moderna que nada mais tem a ver com as pene~ado por uma via de comunicação _rápj__dll (rio, estrada, litoral, via
formas de expressão arcaicas e, por assim dizer, populares; este é o início férrea ...). Ao que parece, esgueceu-se que a rua é tão-so~e l!..f!Iª
de um estilo ardstico inédito, primeira forma de expressão animada e estrada atravessando uma aglomeração urbana, ainda que, a cada dia,
galvanizante." entretanto, a legislação sobre a "limitação de velocidade" dos veículos
A rebelião recompõe a matilha (a original, dos caçadores/das nas cidades nos evoque essa continuidade do deslocamento, do
razzias) . Conduzir os bandos de "soldados perdidos" do exército operário, movimento, que apenas a lei da velocidade pode modular. A cidade é
seus DROMOMANES\ é para seu líder, o mesmo que sublevá-los, apenas uma parag~n, um__ponto sobre a via sinóptica de uma trajetó-
"conduzi-los ao ataque como uma matilha de cães" - precisava Sainc- ria, antigo talude de fortificação militar, plataforma de vigilância, fron-
Just - , cadenciar a trajetória da massa móvel com métodos de teira ou margem, onde se associam instrumentalmente o olhar e a
estimulação grosseiros, sinfonia polêmica, transmitida de longe em lon- velocidade de locomoção dos veículos. Como já disse em outra oporcu-
ge, de um a outro, polifónica e multicolorida\ como sinais e placas de nidade, existu.12enas a circwa.ç.ãoJJa.bitáv.eL...l, e esta é particularmente
evidente hoje, por exemplo, no Japão, naquelas imensas batalhas revo-
lucionárias que se reduzem à mera colisão, à provocação do choque
2. Kampfum Berlin, publicado dois anos ances da ro~ada do poder pelos nac,onal-
socialisras, em 1931, e dedicado por Joseph Goebbels "'A velha guarda berlinense do
com o serviço de manutenção da ordem urbana , onde a massa
Partido". supertreinada de militantes está armada com aparelhos audiovisuais,
3. Dromomanes. Nome dado aos desertores na época do Ancien Rég1me, ( , ern psi- câmeras, gravadores, etc. Ela está consciente do caráter cinético de sua
quiatria, :i marn3 deambularória (dromomania).
4. Mannerti e comentários de Giovanni Lisca. Poetes diiujourd'h11i, Seghers. 5. "Circularion habirable" Abril de 1966. Archiucture Pnnc,pe, Nº 3.

20 21
ação, da instantaneidade de sua preseRça, d~saparecendo logo em se- progress, movimento de progressão, de procissão, simultaneamente via-
guida da rua que filma e grava, eles, os próprios passantes, para quem a gem e aperfeiçoamento, marcha equiparada ao progresso rumo a alguma
proibição de estacionar acumula-se à de se congregar. Escam~;eou-se, coisa melhor, peregrinação que inundou a Idade Média. 6 A rua é como..
igualmente, 0 slogan tão revelador dos revolrosos de 1848: Massas um novo litoral; o domicílio, um porto do transporte de onde se pode
desesperadas", escreve Engels, "que reclamavam pão, t rabalho ou a mor- ~dir a importância do fluxo....soc;ial, prever seus transbordamentos._As
te." Na verdade, a palavra de ordem desses "bacalhóes operários", como portas da cidaru:., se11s postos fu.ca.is,__e snas alfândegas são....harrcir,is,
eram chamados, e que deviam ser deportados à força para o interior, ou filtros à fluidez d as._1U.aS$_as.,_ ao pocleLcle jlW.etração da.s__b_urdas
engajados no exército, era: "Nós FICAREMOS!" ..• nós estacionaremos!Tanto migratórias. As antigas praias pantanosas e malsãs que rodeavam a cidade
a utopia socialista do século XIX quanto a ut.2.P.ia dem~áúca..d.a.ág.ora_ f;;rcificada, os congoplains do escravo americano, as velhas forcificaçóes,
a~iga foram literalmente enterradas sob o vasto canteiro de obras~ as periferias pobres e as favelas, mas também o hospício, a caserna, e a
construção urbana, ocultando o ·aspecto antropológico fundam~tal da prisão, resolvem mais um problema de circulação que de enclau-
r~lução, da 121oletariza_ção: o fenômeno migratório. suramento ou de exclusão. São todos lugares imprecisos porque, entre
Em 21 de setembro de 1788, Arthur Young observa em seu célebre duas velocidades de trânsito, agem como freios à penetração, à sua
diário: "Desde minha chegada a Nante5, tenho ido ao teatro que foi aceleração. Sit~ados, desde a origem, nas vias de comtmicação terrestre
recentemente construído em bela pedra branca. Era domingo e, conse- ou fluvial, elas são posteriormente comparadas a cloacas, a águas
qüentemente, ele estava cheio. Meu Deus! exclamava intimamente. É estagnadas. A interrupção do fluxo (do progresso), a brusca~de
para este espetáculo então que conduziam todas aquelas charnecas, aque- motricidade cria.....i.n.elu.cax.dm.Clili:..-lU).la.....C.OJ:.C.lJ.P_Ç~.RSLOrgânica das
les desertos, aqueles lamaçais, aquelas brumas, aqueles terrenos massas. "Espa.çQLneu.tros, espaços sem gênero", escreve Balzac, ''.onde
pantanosos percorridos ao longo de 300 milhas? Passais sem grande to..dos o..s ..ri.cios,. tudos.....os...infortún.ios...de Paris encontram asilo." É- a
transição da mendicância à abundância, da miséria das cabanas de terra origem do subúrbio, simultaneamente jurisdição de proibição e dis-
a esplêndidos espetáculos que custam 500 libras por sessão." tância linear e horária, isto é, depósito e divisão de carga da matéria
A cidade nova com sua riqueza, suas organizações técnicas i nédiras, social como de mercadorias, de víveres, e daquele gado ao qual o prole-
suas universidades e seus museus, suas lojas e suas festas permanentes, tariado "braçal" é equiparado há milênios, animais um tanto selvagens
seu conforto, seu saber e sua segurança, parecia um ponto fixo ideal transformados em bestas de carga ou de guerra. As condiçóes de explo-
onde vinha encerrar-se uma penosa viagem, um desembarcadouro final ração das massas proletarizadas ilustram, perfeitamente, aliás, a definição
da migração das massas e de suas esperanças depois de uma travessia de d~,mesticação de Geoffroy Saint-Hilaire:
perigosa, de cal sorte que se confundiu, até recentemente, urbano e Domesticar um animal é habituá-lo a viver e a se reproduzir nas
urbanidade, que se tomou por um lugar de trocas sociais e culturais o habitações dos homens ou ao seu lado." O "direito de alojamento" não
que não passava de um entroncamento rodoviário ou ferroviário. é, como se pretendeu, "o direito à cidade". Como o bando inorgânico
Confundiu-se LLma encruzilhada com a via para o socialismo. de animais selvagens, a multid~12,rolerária rr_g em si uma ameaça,
Se as m un ici palidades__alugaru....i.....p.r~ço....d.~..NUO- e...so brecarr:egam de u112a carga de mistério e de ferocidade. Pgmice-se que ela, em sua
im.posto.LaS Janelas e fucna-das que dãe ~ara as ruas, os p6nicos, é que condição de "doméstica", congregw-se e ret>~G--pe.HG--da- 11.1.orada.
rodos esses detalhes_arqui.tetô.n.i~orni.dlio burguês comportam, dos.homens,~ suas vistas - os problemas do habitat humano propria-
tcadicionalmente, a po.s.sibilidade de comércio e informação. As vitri- mente dito são absolutamente diferenciados dos do plantel proletário,
nes das prostitutas holandesas reproduzem, ainda hoje, aquelas an tigas
bow-windows, cujo peitoril saliente permitia uma visão panorâmica de ~-~Pdgnms progress; La cité à traven thmoire, p. '153. coleção Esprir. Lewís Mumford,
tudo que chegava e partia. O espetáculo da rua é a circulação, o pilgrim's l a cite proch · Ed' . •
ame, ltlons du Seuil, 1964.

22 23
de seu alojamento no galinheiro do castelo. nos subúrbios da praça e ~ r a ç a s à organização arquitetônica de seus espaços mcer-
forte. Tal como o estábulo ou o cercado, o alojamenro provisório das 11058, pf.rmiJJ!....JlmlangAL.i.ndefi12.id.ameute o C!Jmbate-, com seus orifícios,

massas migrances implica seu relativo afastamento da moradia dos ho- seus ressaltos, suas chicanas, suas alcas muralhas... o recinto fortificado
mens, isco é, da cidade. A bur.guesia extrairá seu poder inicial e s11as da Idade Média cria um campo artificial, faz desse campo um palco
caraç_cwfiliqs de classe menos d~ comércio e da indústrja (que, como onde a coação pode ser exercida tanto no plano físico quanto no
se sabe, não lhe eram específicos - con hecc-se o papel crucial do psicológico.. Depois de Maquiavel, Vauban preconizará energicamente
monasricisrno, da cavalaria, etc., no domínio dos bancos, das esta maneira de evitar a carnificina e eliminar o inimigo pela simples
indústrias ... ) d ~e dest!!:_Énplantação estratégica, _!!l!!PJkc_enda....o_ construção de um universo ropológico constituído "de um conju nto de
"do_micilio fixo" como valor (monetário, soóal)+ d.a_e_5_p~u~ão fundiária mecanismos capaz de receber uma forma definida de energia (nas cir-
enquanto venda e tFá-ÚEo do imóvel (do imobiliário), desce direito de cunstâncias, a massa móvel dos agressores), tran~formá-!a e, finalmente,
residir por crás das muralhas das cidades fortificadas: direito à s.eg~ restituí-la sob uma forma mais apropriada ..."
e à preservação em meio à perigosa migração d~!IU11J.lndo de petegri- Reorganizada segundo o mesmo princípio, a fortaleza comunal
nos, compradores, soldados, exilados, deslocan.do-se...a.os.-milhá.es. A continua sendo um "campo de armadilhas" estendido ao adversáno,
partir de LQ.Z.Z...(a Comuna de Cambrai), as "liberdades urbanas" vão se mas este último muda uma vez mais de natureza, passando a ser
estender, pouco a pouco, a todas as cidades comerciais - pode-se doravante um inimigo social. Além de sua função militar, a muralha
identificá-las facilmente em um mapa. Elas estão ~ logicamente dessa praça forte assume uma função de classe; é sua concepção
io.s.talad.as....à.sJUatgens.-das--prin€Í-prus-v-ias íltw-iai-s---eu--«1:.resues, ao passo polioccética que a capacita a prolongar indefinidamente o enfrenramento
que as regiões de difícil acesso, como a Bretanha ou o M,..;iço Central, social. A burguesia comunal cria um novo fenômeno , uma espécie de
apresentam poucas ou nenhuma cidade. A instauração do poder bur- guerra prolongada e paciente que teria roda a aparência da inércia da
guês com a revolução comunal já pode ser comparada a uma "guerra de paz, sem as efusões sangrentas da anciga guerra civil, das explosões
libertação nacional", pois opõe diretamente urna população autóctone sazonais e das movimentações violen tas do campo de batalha camponês.
a um ocupante militar vindo do Leste que pretende organizar sua con- O poder burguês é militar antes de ser econômico, mas ele se relaciona
quista. A garantia das libecdades ucba • as é, em primeiro lugar, ~ - mais precisamente à permanência oculca do estado de sítio, ao
ganização do amigo sítio galo-romano segundo a fórmula do cast~lo surgimento das praças fortes, essas "grandes máquinas imóveis diferen-
fQ.!1ifu:.a.do, a construção daquelas fortalezas impenetráveis que nada temente fabricadas" 9 . Da mesma forma, a decadência da burguesia
tinham a temer das máquinas de guerra de enrão, e tudo a ~ cons- enclausurada e a perda de sua voncade própna, estarão relacionadas ao
tantemente, das suq~resas e a edis trazidos de fua~ do ex.ceri.u.r, de longe, fracasso de sua técnica militar (no âmbito dos conflitos terrestres), naquele
com a massa nômade. Se a organização da antiga vi/la, sua transforma- momento em que, como observa Montesquieu: "Com a invenção da pólvo-
ção em castelo pelo colonizador feudal, erguia suas paliçadas e seus ra, não há mais lugar inexpugnável."
taludes de cerra contra rodos os perigos e flagelos naturais sem distin- Clau.sewitz mostrou admiravelmente os mercenários da.s grandes cida-
ção, a arquitetura do castelo fortificado que o sucedeu perde este caráter des italianas, e depois, das européia.<., prestando serviços às economias pode-
rural e torna-se genuinamenre.roilicar. Ela visa agora um único inimigo: rosas, as únicas capazes de fornecer ao empresário militar um orçamento cada
o homem de guerra. Além do mais, o gue diferencia aionaleza antiga-e
a. da Idade Média européi~ apesar de sua aparente semelhança, é que
8. Paul Virilio, L'insécurité du temtoire, p. 77 e seguintes, coleção Monde Ouvert,
Stock, 1976.
7. Idem. A presença fundiária considerada, em si, como suficiente, anres da presen- 9. Curso de fortificaçáo permanente da Écolc d'application du gé111e et de l'arcillerie,
1888. Citação de Vauban.
ça especulativa.

24
25
va mais substancial: bens e valores transferíveis que ele poderá levar consigo ao não é de deter os exércicos, de contê-los, e si_m dominar e._ati...fo.c.ililar seus
final de seu contrato de engajamento (donde "essa combinação evidente entre m ~ s . ! ' Por volta de 1870, o ~o_:onel ~elair observa: "Toda forta-
a moeda e o que parece fundá-la, seu significado militar". Marx a Engels, 25 de jez,a, d eve possuir uma certa cond1çao parncular, uma certa força de
setembro de 1857), mas não percebeu claramente seu papel como conselheiro resistêr1Cia que, entre os h omens, chama-se de boa saúde. Em tempos
téoúco, como engenheiro (fàbricame de engenhos). Ora, são precisamente os de paz, nós, oficiais de focri6cação, somos e ~~c!_e n_ianter ,~s
engçnheiros miliçm:s q1 ie, cooforme_a.s_circwistãncias.....,s_ã~r fortalezas em b_oro....estado_rfe_saúde... " E um pouco mais adiante: A
~ des.trui.Las seguranças privadas no interi0r-da..cidadela_burg~a. É esta, -;:rte defensiva d eve estar em contínua transformação; ela não escapa à
pois, a conjuntw-a não expressa de onde;;_ai.rão..as ..'..' class~ antrQ2ófugas", não · ,
lei geral d e nosso mun do: estacionar e morrer.
" I1

somente a bucguesiy11.as também a classe militar permanente. A definição A fortaleza comunal é uma cidade-máquina, a tal ponto que
marxista do capitalismo '_'.çonsnmidor da v i ~ ~ funàooeHI~ Cormontaigne, Fourcroy e muitos engenheiros do século XVIII, em
QlOllO~' aplica.,,se. beITL à burguesia, mas enquanto associada a seu con.s_eJhciro seus "diários fictícios de,cercos" ou seus "momentos da fortificação",
téçnico militar, .inventando simultat1.eamcute QUn.úos.de produzir e-destruir_ fazem abstração das tropas encarregadas de sua d efesa, como se ela pu-
aquilo que ele produz, empresária de guerra que estará na OJlgwl. dos exércim.L. desse funcionar sozinha, e o general Villemoisy constata, no século
de Estado e, mais tarde., do complexo industrial-militar. Assim como o XIX, sua superioridade técnica: "Em trezentos cercos feitos pelos euro-
coru/Qttiere soubera rentabilizar seu sistema de ruína influindo na organização peus desde o início d o século, apenas em uma dezena de casos a
econômica da cidade, a burguesia comunal traz em si a mesma associaçáo fortificação sucumbiu primeiro." Os militares aparecem então ~orno
ambígua de riquaa e de produção da destruição. dependentes da con cepção geral da praça forte. Carnot preco111za, a
A formação do amálgama. fatal produziu-se na prática como um encon- esse respeito, a divis;io. do trabalho: "Está comprov_ado que ~ bravura e
tro fortuito: "A importância estratégica de uma posição não resLLlta de com- a indústria que, tomadas separadamente, não senarn suficien tes, po-
binações mais ou menos hipotéticas e sim da própria configuração da região: dem, ao ser reunidas, multiplicar-se mutuamente." Depois de Vauban,
será um entroncamento importante de v ias de comunicação, o ponto de os defensores da cidade fortificada não serão ocasionais. O decreto de
cnu.amento de numerosas estradas ou a confluência d e vales." Como vimos 28 de setembro de 1886 determinará ainda a permanência dos gover-
anteriormente, em todo o lugar onde essas condições foram preenchidas, há nadores das cidades fortificadas em seus postos, tanto em tempo de paz
centros populacionais; onde há circulação, há aglomeração urbana. Em suma, como de guerra. Da mesma maneira, a guarnição ficará adstrita a t~refas
as._condiçõe.s que fac1!kLram-9_nascimento das grandes cidades são--as_mesmas cotidianas, cad a um de seus integrantes com uma função defimda e
q~ am importantes os pontos estratégicos. 10 A solução impôs-se por si
invariável, repetida dia após dia. . ..
mesma e, até o século )(X quase sempre se decidiu transformar os centros Os ocupantes da Linha Maginot, por sua vez, haviam adgumdo o
mais populosos em grandes fortalezas. A Defesa Naciamil...Q»Htfll:HHl hábito de cham á-la de "a fáb rica". Muito tempo depois do desman-
misturando, d~ a ~ a quase-mediellal.,-os-milit-8:r"eMtos ci\<Ís.-ru.jos telamento da velha cidade comunal e até o.sé.mio XX, quando sub_sistem
re.cursos não deixavam o e~ército....ind.ifereru.e (abasrecimenr.o,-mãe-d~-.
as grandes fo rtificações, o5-Ill.ÍÜtar.es....co.n.ti..n.uaf1LLJ_e ab~ te_cer junco .~
obra, alojamento, armamento, etc.), os....pi:úpci~Rtktmemos-do capi-
sey__an.tigo e.m.prega.d.oL.bur.guês, tornando-se lentamente compradores ,
i:al i~mo. A img bilidade de suas rig_uezas é Cjye 12.~müe sustentar e Qs interesses do empresário de guerra continuam mesclados aos do
diretamente Q..S_§tado de sítio!
capital.is.mo em esquemas estratégicos permanentes: e m ~ Barere
Se a praça forte é uma máquina imóvel, a tarefa específica do en-
genheiro militar é lutar contra sua inércia. "A finalidad e d a fortificação
. . vo m .,1.,car Junca-se
1.1 . Idem. Aí também o o bJet1 . ao csqueina da forrnlcza
_ urbana.
_
.
Desde a origem, é na cidade que se coIocam os probl emas da' saúde, da evacuaçao
10. Idem.
dos Md ejews".

26 27
.,.

compara a jovem República (a Comuna de Paris) a uma grande f ! : d ~ , ou das vias férreas, os sistemas de pedágio rodoviário que com tanta
e pede que a..Erançn-i-me-im não ,eja wair que 1:!:_m vasto campa....m,ilitar. O insistência o governo quer instaurar às portas mesmas de uma capital
triunfo político da revolução bw-guesa consiste em estender, ao conjunto do despovoada pela seleção, os quartéis-generais das forças policiais
território nacional, o estado de sírio da cidade-máquina comunal, imóvel no instalados nas proximidades, todo esse aparato é tão-somente a
interior de seu talude logísaco e de seus alojamentos domésticos. Em 1795, reconstituição das diversas peças do motor da fortaleza, com seus flancos,
ela confiará aos novos exércitos de Carnot o encargo de rechaçar para longe o suas gargantas, suas passagens subterrâneas, suas chicanas, a admissão
assalto das massas popuJares vindas dos subúrbios, cercar o bairro Saint- e o escapamento de suas portas, todo esse controle primordial da massa
Antoine, coagir os operários apavorados a entregar :is armas a seus 20 mil pelos órgãos da defesa urbana.
soldados gue "já não se lembravam que eles pertenciam ao povo"(Babeuí). Viu-se também, durante a ocupação alemã, com que faciJidade os
O poder político do Esrado .s.ó é, pois, secundariamente, "2..padec pseudo-alojamentos sociais de subúrbio (Drancy, por exemplo) podi-
oi;ganizado de uma..clas.s.e._p..ara_a..npressá.Q_de....o.ll.tra''. Num plano mais am, como o velho hospício, transformar-se em agulhas ferroviárias
material, ele é pólis, polícia, isto é, serviço de manutenção do sistema viário, desviando para outras viagens, outras deportações. É próprio de todos os
na medida em que, desde a aurora da revolução burguesa, o discurso regimes autoritários, seja qual for sua ideologia, trazer para o primeiro
político nada mais é do que a retomada mais ou menos consciente de plano o papel moderado dos exércitos e das polícias (atente-se para sua
uma série de bandeiras da velha poliorcética comunal, confundindo a rivalidade) com respeito à ordem menosprezada da circulação política.
ordem social com o controle da circulação (das pessoas, das mercadorias), Pode-se mesmo dizer que a ascensão do t o ~ i t a m e n t e
e a revolução, o levante, com o engarrafamento, o estacionamento ilíci- eci,uiparável ao desenvolvimento do controle estatal sobre a circulação
to, o engavetamento, a colisão. Os resultados das eleições municipais, das massas e, portanto, desde a origem, facilmente identificável na his-
na França, foram exemplares a esse respeito, pois reinscreveram no ter- tória ~ ~ - ;ndes organi,smos adminisu:at.ivos do..Esr.ad.o : é Sully, ele
ritório nacional, em 1977, o velho esquema de Barere, dividindo a próprio grande mestre das vias públicas, quem tira ",a administração
França em duas: no centro, o núcleo decisório da capital, onde a direita das fortificações" do marasmo, com o edito de l 604, e lhe imprime
triunfa, e ao redor o vasto campo militar do subúrbio e do interior que uma forma moderna que persistirá até o século XX, a despeito de todas
votou na esquerda porque está consciente de estar se transformando em as aparentes revoluções. Como observa Tocqueville, "os intendentes das
um interior onde as atividades produtivas se debilitam. Ao contrário, forcwcações acumulam, da maneira mais ambígua, os encargos civis do
essas eleições mostram também o quanto o discurso da oposição está Estado com seus encargos militares". No reinado de Luís XIV, Mesrine
dominado pelo esquema retrógrado da poliorcécica burguesa, confun- será encarregado de recrutar companhias permanentes de mineiros,
dindo a aptidão para o movimento de massa com a aptidão para o sapadores, barqueiros, que serão a origem do corps du génie* e substi-
assalto, a ultrei'a do pilgrim's progress. Mais ainda, este_esquema-polítiw/ tuirão os engenheiros voluntários, os inspetores do trabalho improvisados
policial admitido finalmentc:.:-nos.-úlcim.0&-anos peF todas as ideologias ou os empreiteiros civis de obras públicas, como o célebre Tarade, que
p~sa canto no planejamento urbano quan..to na organiz~ão _planetá,ria. estava encarregado simultaneamente do sistema viário parisiense. Assim,
A_p.a_ssag.em da "grande máquina imóvel" ao Estado=liláquina e, .fmal:: às vésperas da revolução burguesa de 1789, ao corpo de engenheiros
mffire, ao plaoeta-m,l,'!llina, ..realiza-~e sem dificuldade. r>olitica de pro- militares seria atribuída, providencialm ente, uma tarefa nacional:
gresso, de mudmça, são p.alav.ca,s_vazias-se. não se-enxergar por uás da
nlegaló ole elétrica da cidage que não pát'a, a silhue.ta.._escu.ra da velha
foualez,a,..lutand0--G{;}11Wl..Slla.infrcia e para_quem parar significa. ,morrer. * Corps du génie: subdivisão cécnica das forças armadas terrestres encarregada, desde
Em todas as latitudes, o alojamento social, cidade-dormitório ou o século XVIII. na França, dos rrabalhos de fortificação, organiz.ação do terreno e das
vias de con1Urncação. Mais genericamenre, génie sena a arte do araquc e da defesa dos
de trânsito, implantado nos limires das cidades, à beira das auto-estradas
postos, locais, etc. (N. do T.)

28 29
encarregava-se não só da construção/destruição da muralha urbana, mas sistema viário, a previsão econômica, os problemas genet1cos,
também da expansão do talude logístico ao conjunto do temtório ("o alimentares, etc. Foi também um engenheiro e diretor de fortificações,
vasto campo militar da nação", de Barere). Não é preciso dizer mais Charles de Fourcroy, que muito naturalmente publicou, em 1782, um
nada sobre a reputação excepcional do corpo de engenheiros militares, dos primeiros organogramas conhecidos, e seu "Ensaio para uma tabela
a partir do século XVII, reputação que transformar-se-ia, no século poleométrica ou divertimento de um apreciador de mapas _sobre os
XlX, num verdadeiro culto, na filosofia, no romance. O engenheiro é ramanhos de algumas cidades com uma planta ou rabeia oferecendo
celebrado como "sacerdote da civilização" (Saint-Simon), imagem per- comparação dessas cidades por meio de urna mesma escala" foi o pn-
versa da qual voltaremos a falar, mas que surge muiro naturalmente meiro quadro contemporâneo, com dupla entrada, do mapa científico
depois daquela do "castramerador", ele próprio padre ou homem de da França dos Cassini.
Igreja, encarregado de ensinar "a arte de delimitar os campos e cidades Este pensamento militar que pretende, pela planificação funcio-
fortificadas com traçados geométricos". (Mas como observa o coronel nal, eliminar os acasos que lhe parecem sinônimos de desastre e ruína,
Lazard, já não se tratava de uma arte especificamente militar e sim de confunde-se perfeitamente, no final do Ancien Régime, com o pensa-
uma espécie de reino da geometria descritiva projetada sobre os locais, mento da d.asse política burguesa, seu gosto pela nomenclarura racional,
sobre o conjunto da natureza... ) 12 A classe militar na.o nasce dos estados- sua incansável atividade de escriba totalitário (enciclopedista}, a osmose
maiores ind1ados do Ancien Régime, gabinetes onde se viam marechais se fazendo à porta das cidades, membrana permeável entre a estrada e a
e oficiais generais alternando-se, às vezes cotidianamence, no comando rua. O chefe da primeira municipalidade parisiense era, como se sabe,
dos exércitos tradicionais. Esses não se aventuravam, em tais condições patrão da Hanse. 13 A prefeirura controlava o porto de areia, e a nave
e mesmo que dispusessem de orçamentos consideráveis, a apresentar permaneceria como o emblema veicular do que não era mais que uma
alguma unidade de pensamento ou uma grande criatividade estratégi- nauta-cidade. As mesmas preocupações apareciam, ainda por volta de
ca. A única atividade militar que reivindica então uma continuidade 1749, nos trabalhos do oficial de marechalato Guillaute, por exemplo:
no plano das idéias é o projeto logíst1co da fortaleza urbana. É dessa "Fim das revoltas, das ocupações, dos tumultos", escreve Guillaute. "A
carga logística equívoca que nasce o amálgama do planejarnento dos ordem pública reinará se cuidarmos de organizar o tempo e o espaço
combates e da organização dos territórios, batizada de "Defesa Nacio- humano entre cidade e campo por meio de uma regulamentação severa
nal" pela revolução burguesa. do trânsito, se nos preocuparmos tanto com os horários quanto com os
Vauban é um precursor, neste caso. Grande leitor de Vitrúvio e nivelamentos e a sinalização, se pela normalização do habitat roda a
obcecado pelo modelo colonial romano, ele considera que as bases da cidade se tornar transparente, isco é, familiar ao o lhar policial."
guerra são geopolíticas e universais, que a geografia humana não deve
ficar à mercê da sorte e sim de técnicas de organização capazes de con-
trolar espaços mais ou menos vastos, impérios mais ou menos Atualmente, muita gente descobre, com arraso, que !J.r na vez p~s-
duradouros. Esse novo pensamento militar englobava, além do amigo ~do o "pnmetro
· · transporte ço1euvoa · " ri cevo111çao,- o s0C1a · 11srno
· .
esvazia-
sej>ruscam ence d.t:_qualquer coDte.ú.do..-p.elo._rn.e.nos....nl-Ífüar (a Defesa
Nacional) e _policial (a segurança, a delação, os campos militares).
12. Vauban, ~oronel Lazard, Librairic Alcan, l934. Prefácio de Weygand: "O auror
ressalta, nos escritos de Vauban, a expressão "país fortificado", que ele aproxima com Já é tempo de se render às evidências: a revolução é o movimento,
felicidade, de "regiões fortificadas";.º ho1~em do ginie não é sempre um prec:irsor? mas o,..moYimenro não é 11ma rev..olução. A política nada mais é que
Quando o coronel Lazard estuda ma1s parucularmente o engenheiro no grande homein
de guerra, ~le insiste em inocen'.á-_lo de qu~quer fo~malismo. Ele afirma e prova que 0
verd,rde:ro sistema de Vauban conststtu em aplrcar a fortíficaçiio ao terreno. Não encontramos 13. A Hansc parisiense, a quem se poderia chamar de os "mercadores de água e
nada melhor, ulrima.mente, quando se tratou de proteger nosso solo." que rraficava.rn com o uso dos rios". (Ver Ancimnes fois françaues, t. XVIII).

31
30
uma caixa de câmbio; a revolução, apenas o over-drive: a guerra djssuade a massa móvel, designa que o novo Estado revolucionário não
"continuação da política por outros meios" seria antes uma perseguição está ali, na cidade, na rua, e sim lá longe, distante, na imensidão de
"policial" em maior velocidade, em outros veículos. A ultima ratio, uma campanha universal e intemporal. "Abraçar", exclama Grégoire,
justamente gravada nas peças de artilharia de Luís XIV, exprimia per- "a extensão dos séculos como a dos départements... livrar-se de um
feitamente esse procedimento de mudança de velocidade: a peça de preconceito muito arraigado que quer circunscrever a República a um
artilharia é um veículo misto que sinretiza dois tempos de deslocamen- território muito acanhado!" (27 de novembro de l 792) . Enquanto
to, o da carreta, tracionada mais ou menos rapidamente, e o do projétil, atribui novas propriedades e bens imobiliários para si própria, no local,
fulminante, rumo à explosão, como argumento último da razão. Da e ameaça com a pena de morte os questionadores do princípio da
mesma forma, o "socialismo político" devido a sua natureza política propriedade (18 de março de 1793), o que a burguesia oferece como
(p6lis), normalmente fracassa quando cessa a aceleração da guerra civil territórios a seus "convocados': são as estradas da Europa. "Onde estão os
rumo à colisão urbana ...
pés, está a pátria" (ubi pedes, ibi parria), já dizia o Direito Romano.
Há quem veja com maus olhos a atual multiplicação dos desfiles em Com a Revolução Francesa, todas as estradas tornam-se nacionais.'
cidades, das manifestações deambulacórias e até mesmo dos "ralis de
desempregados" como o de .tbril de 1977, por exemplo, em Thionville.
Eles não percebem claramente, após a apoteose esportiva de maio de O movimento sans-cu!otte parisiense precedeu o "levante em mas-
1968, a eficácia profissional ou social de tais performances. Entretamo, sas" de 1793, assim como, bem mais tarde, a sinistra aventura das
tais tipos de competição urbana, de corridas com obstáculos, têm um Seções de Assalto hiclerianas precede a mobilização alemã para a guerra
objetivo preciso que clássicos da cultura revolucionária ocidental como o total. Como as S.A., os sans-cufottes são dromornaníacos, "estafetas do
Pravda recordavam, ainda no verão passado: "O desfile nas ruas é a melhor terror" lançados na dianteira da Revolução pelas ruas de Paris. O decreto
preparação possível dos trabalhadores para a luta pela tomada do poder... " de 21 de março de I 793 legaliza sua função específica: esm militantes
Já durante o Ancien Régime, quando a pessoa física do monarca políticos enfurecidos são apenas os agentes logísticos do terror, membros da
era identificada com o Estado, estar lá significava presença do Estado, "polícia": delação dos "suspeitos", vigilância dos bairros e dos imóveis,
ocorrem agitações e cenas de revoltas tão logo fica incerto o local de entrega de certificados de civismo, prisões, mas também abastecimento,
moradia do rei. O povo de Paris entra ininterruptamente Palais Royal circulação e transporte marítimo dos gêneros alimentícios, controle dos
adentro, contempla o soberano e retira-se mais rranqüilo. Da mesma preços... E m maio eles serão integrados ao exército do Interior, e lançados
forma, para as massas proletárias vindas dos campos e dos subúrbios, o em colunas infernais nas estradas dos departamentos; um ano mais
simples fato de entrar no cenrro de Paris, de palmilhar suas avenidas e tarde, seus chefes serão executados, como aconteceu com os chefes
suas ruas opulentas, são formas bem concretas de diminuir uma dis- supremos das S.A., em 30 de junho de 1934, na "noite dos longos
tância social e política real e mensurável entre a massa e o poder cons- punhais" .
tituído do Estado burguês. Com efeito, os movimentos de massa do A revolução nada mais é gue.2. desvio qg velho assalto social. Carnot,
Ancien Régime, errando à procura da pessoa do monarca/Estado, como- bom mer~h~o do Génie, canaliza sua vaga humana para longe da
prefiguravam esta nova organização dos fluxos de circulação denomina- fortaleza comunal, para as "zonas dos exércitos" . Ele retira seus
da, arbitrariamente, de Revolução Francesa, e que é tão-somente a orga- contigenres prioritariamente das forças populares parisienses. O soldado
nização racional de um rapto social. O "levante em massa" de 1793 é 0 do Ano II é arrancado da rua que pretendi:i conquistar e engajado na
rapto das massas.
viagem irracional, a deportação da "marcha forçada" longa e mordfera.
O discurso difundido pela propaganda revolucionária é, para a "O novo exército" escreve Carnor, "é um exército de massa esmagando
cidadela burguesa, como seu antigo discurso religioso; ele afasta e sob seu peso o adversário numa ofensiva permanente, ao canto da

32 33
dissuade a massa móvel, designa que o novo Estado revolucionário não
uma caixa de câmbio; a revolução, apenas o over-drive. a guerra
"continuação da política por outros meios" seria antes uma perseguição está ali, na cidade, na rua, e sim lá longe, discante, na imensidão de
uma campanha universal e intemporal. "Abraçar", exclama Grégo,re,
"policial" em maior velocidade, em outros veículos. A ultima ratio,
"a extensão dos séculos como a dos départementf, ... livrar-se de um
justamente gravada nas peças de artilharia de Luís XIV, exprimia per-
feitamente esse procedimento de mudança de velocidade: a peça de preconceito muito arraigado que quer circunscrever a República a um
anilharia é um veículo misto que sintetiza dois tempos de deslocamen- cerritório muito acanhado!" (27 de novembro de 1792). Enquanto
to, o da carreta, cractonada mais ou menos rapidamente, e o do projétil, atribui novas propriedades e bens imobiliários para si própria, no local,
fulminante, rumo à explosão. como argumento último da razão. Da e ameaça com a pena de morte os questionadores do princípio da
mesma forma, o "socialismo político" devido a sua natureza política propriedade ( 18 de março de 1793), o que a burguesia oferece como
(pólis), normalmente fracassa quando cessa a aceleração da guerra civil territórios a seus "convocados'; são as estradas da Europa. "Onde estão os
rumo à colisão urbana... pés, está a pátria" (ubi pedes, tbi patria), já dizia o Direit_o R~rnano.
Há quem veja com maus olhos a atual mulciplicaçáo dos desfiles em Com a Revolução francesa, todas as estradas tornam-se nacionais!
cidades, das manifestações deambularónas e até mesmo dos "ralis de
desempregados" como o de abril de 1977, por exemplo, cm Thionvillc.
O movimento sans-culotte parisiense precedeu o "levante em mas-
Eles não percebem claramente, apó s a apoteose esportiva de maio de
sas'' de 1793, assim como, bem mais carde, a sinistra aventura das
1968, a eficácia profissional ou social de tais performances. Emretamo,
Seções de Assalto hicleri,mas precede a mobilização alemã para a guerra
cais tipos de competição urbana, de corridas com obstáculos, têm um
cotai. Como as S.A., os sans-cuíottes são dromomaníacos, "estafetas do
objetivo preciso que clássicos da cultura revolucionária ocidental como o
Pravda recordavam, ainda no verão passado: "O desfüe nas ruas é a melhor terror" lançados na dianteira da Revolução pelas ruas de Paris. O decreto
de 21 de março de 1793 legaliza sua função específica: esses militantes
preparação possível dos trabalhadores para a lura pela tomada do poder... ''
Já durante o Ancien Régzme, quando a pessoa física do monarca
políticos enfurecidos são apenas os agentes logísticos do terror, membros da
era identificada com o Estado, estar lá significava presença do Estado,
"polícia": delação dos "suspeitos", vigilância dos bairros e dos imóveis,
emrega de certificados de civismo, prisões, mas também abastecimento,
ocorrem agitações e cenas de revolt:1s tão logo fica incerto o local de
c irculação e transporte marínmo dos gêneros alimentícios, controle dos
moradia do rei. O povo de Paris entra ininterruptameme Palais Royal
preços... Em maio eles serão integrados ao exército do Interior, e lançados
adentro, contempla o soberano e rettra-se mais tranqüilo. Da mesma
em colunas infernais nas estradas dos departamentos; um ano mais
forma, para as massas proletárias vindas dos campos e dos subúrbios, o
simples fato de entrar no centro de Paris, de palmilhar suas avenidas e tarde, seus chefes serão executados, como aconteceu com os chefes
supremos das S.A., em 30 de junho de 1934, na "noite dos longos
suas ruas opulentas, são formas bem concretas de diminuir uma dis-
tância social e política real e m ensurável entre a massa e o poder cons- punhais".
A revolução nada mais é gue o desvio do velho assalto social. Carnot,
tituído do Estado burguês. Com efeito, os movimentos de massa do
Ancim Régime, errando à procura da pessoa do monarca/Estado, como bom membro do Génie, canaliza sua vaga humana para longe da
prefiguravam esta nova organização dos fluxos de circu lação denomina- fortaleza comunal, para as "zo nas dos exérc itos" . Ele retira seus
da, arbitrariamente, de Revolução Francesa, e que é tão-somente ,\ orga- concigen tes pnoritariamente das forças populares parisienses. O ~oi dado
nização raciona.! de um rapto social. O "levante em massa'' de 1793 é o do Ano II é arrancado da rua que pretendia conquistar e engapdo na
v iagem irracional, a deportação da "marcha forçada" longa e mortífera.
rapto das massas.
O discurso difundido pela propaganda revolucionária é, para a "O novo exército'' escreve Carnot, "é um exército de massa esmagando
cidadela burguesa, como seu antigo discurso religioso; ele afasta e rob sezt peso o adversário numa ofensiva permanente, ao canto da

33
32
Marselhesa." O hino nacional é cão-somente urna canção de estrada, 'dé' . "A aptidão para a guerra é a aptidão para o movimento" , e
essa J ia. d , . "
cadenciando a mecânica da marcha. Em suas memórias, Poumies de la recisando, que se deve avaliar a força e um exercito como
acrescenta, P . d ,,
Siboucie observa: "Jamais se cantara tanto .. . a canção era um poderoso " ·ca multiplicando sua massa por sua veloc1da e .
eJJl mecan1 , . , . .
meio revolucionário, a Marselhesa' inflamava as popu!ttçóe,..." }-!e el, que admirava os revoluc1onar10s franceses, escreve, em Ja-
Tanto o matemático Carnoc como o doutor Poumies não se enga- . de gl807, a um amigo: "Todo francês aprendeu a encarar a Morre
ne1ro II . . . _ ,,
nam a esse respeito. O canto re~ári.l:.Lé uma ene_rgia.-~que " e singul:umenre compara as ve 1as 111st1tu1çoes a esses
d e frente...
impulsiona a massa para o campo de batalha, para aquele ripo de Assalto e criança que ficaram 'tão apertados que sufocam a marcha e
c al çad os d ,, .
que Shakespeare já descrevia como "A Morre matando a Morte". E é dos uais os revolucionários souberam se desembaraçar . Sempre a 111-
disso que se trata, com efeito, pois é preciso carregar sobre a artilharia cons~íente metáfora dinâmica, a nova dialética do campo de batall:a
inimiga, e o único recurso do soldado de infantaria é precipitar-se contra uanscrica em termos filosóficos e políticos. O soldado frances
os canhóes, matando, no próprio local, seus operadores. Mas, para isso, uipado encara efetivamente sua Morte de frente na garganta negra
su beq , · "b
ele dispõe de um tempo extremamente reduzido: aquele que os da boca de fogo para a qual se atira correndo, e seriam necessanas ocas
artilheiros precisam para recarregar sua peça. Tão logo o tiro é disparado, de sete léguas" para aguele "exército de an~e~" ~e que fala ~oethe,
o infante precisa atirar-se então para a frente na direção dos canhões "aquela tropa de anões, quando se esperava ass1sm a chegada de gigantes
inimigos; sua vida vai depender da velocidade de sua corrida. Se for à Alemanha... ". Isto era normal, já que provavelmente seu tamanho
muito lento, morrerá literalmente desincegrado pelo tiro direto das havia sido avaliado por sua velocidade na estrada, que se havia imaginado
bocas de fogo ... N.e.sJ.a__JHWa- g.ue.~ f o r ~ t ã o do as longas passadas de indivíduos enormes, que se havia pensado neste
tempo ganho e UQ.bxe_os...pajét~a---e54:™is sua facor novo: o enorme desenvolvimento da energia cinética das massas revo-
marc a o precipita; a velocidade significa Tempo_ ganho-, no sentido lucionárias. Este discurso assimila a .aqy_iú00 _rl_as_alta§ v_d ocidades do
mais a soluto, Jª que ele se -torna Tempo humano diretamente arranca- Assalto, da invasão e até da explosão à "mecânica" de uma revolução
.do à Morte - daí essas insígnias funestas da dizimação arvoradas, ao simbolizada, primeiro, pela conquista da rua, e depois, "soltando-se"
longo da história, pelas tropas de Assalto, isto é, as tropas rápidas (ban- na estrada. Significativamen te, cada combate totalitário reproduzirá
deiras e uniformes negros, caveiras dos uhlan*, das SS, etc.). Além disso, esse procedimento: os nacional-socialistas alemães, inimigos da bur-
porém, o que mais se pode pensar dessa revolução que logo reduzir-se- guesia ou, ao menos, pretendendo sê-lo ainda gue para rnobilízqr os
á a um Assalto permanente ao Tempo? A ofensiva perpétua dos exércitos dromomaníacos das "Seções de Assalto", se assenhoram do Estado alemão
de massa de Carnot é a volta do velho "correr para a frente". A salvação cidade por cidade, ou melhor, rua por rua, antes de se expandir auto-
já não está na fuga; a salvação está em "correr para sua Morre", "matar estrada por auto-estrada até os temcóríos vizinhos, como se a "colocação
sua Morte". A salvação está no Assalto simplesmente porque os novos em marcha" das massas alemãs pela pregação dinâmica de seus líderes já
veículos balísticos romarp a fuga inütil; eles vão mais depressa e mais não pudesse ser contida. Após a conquista da rua e o massacre das
longe que o soldado, eles o alcançam e ultrapassam. O homem, no Seções de Assalto, o motor nacio nal-socialista reencontrou seus
campo de batalha, aparentemente só tem salvação in t roduzindo-se de condutores ordinários: a pequena e média burguesia administrativa, o
maneira suicida na própria traJetória da velocidade dos engenhos. É a grande capital que, desde os anos 20, lhe fornecera importantes subsí-
isso que o impele, sem piedade, a nova jurisdição milicar que literal- dios, a Reichswehr e os veículos de Rommel e de Guderian, levando a
mente o encerra "entre dois fogos"! A salvação geral só poderá vir, doravante, frente militar para longe, "para onde estão os carros de assalto"• Con: a
da massa toda alcançando a velocidade. Napoleão I exprime claramente guerra-relâmpago nacional-socialista, o antigo e obsoleto muro-fronteira
desaparecia, substituído ostensivamente pela via rápida. A naçáo alemã
• Uhlan: lanceiro nos :mrigos exércitos a lemães, russos e austríacos. (N. do T.)
já não está mais exatamente onde _se postam suas famosas boras, símbo-

35
34
los de seu exército, mas sob as esteiras de seus carros, na força motriz de 2
seu "front de aço". Como escrevia Ratzel, no final do século XIX: ::.A_
guerra consiste em passear suas fronreir~s ptlo território alheio". O fronr_
é d(]IflJ!arrJe apenas uma isóbare guerreira renov.anda_os a n ~
fondaçáo- Para o gromocraca da guerra total, por~.. a cicfade aoces rãa Do direito à estrada ao direito ao Estado
cobiçada não está mais na cidade. Varsóvia, declarada arcaicamen te
"~idade aberta", em setembro é destruída pelos ataques aéreos.

"O atamr foi diferente 1egundo a época da


inv.-nção das rruiqumas d,, destruir... "
ERRARD, dito de Bar-lc-Duc

Desde a tomada do poder, o governo nazista oferece ao proletariado


alemão esportes e transportes. Acabam-se as revoltas, não há necessidade
de muita repressao; basta esvaziar a rua prometendo a todos a estrada: é o
objetivo "político" do vo/,kswagen, verdadeiro plebiscito já que Hitler con-
venceu 170.000 cidadãos a adquiri-lo apesar de não haver um único dis-
ponível. O "NSKK" (Nacional Socialistisches Krafrfahr Korps, o corpo
automorivo nacional-socialista) foi organizado localmente e segundo as
categorias de veículos particulares. Ele logo congrega meio milhão de auto-
mobilistas que se exercitam na condução dos veículos em terrenos difíceis,
na prática do tiro em movimento, etc. Cada membro desses dubes "espor-
tivos" retomava assim praticamente as técnicas premonitórias do cnme
motorizado de Bonnot ou de AI Capone, mas é bem verdade que se Brecht,
em l 94 l. em A Resistível Ascensão de Arturo Ui, d iverri u-se fazendo de Ltm
gângsrer o sósia de Hitler, as sim ili rudes excedem a mera paródia: a corrida
ao poder do migrante da civilização americana é, cal como a tragédia fascista
~u ª aventura anarquista de Bonnot, em 1911, inseparável da revolução
0
~ transportes. Como Mussohni ou Hitler, as grandes figuras do gangs-
~~ ~ - .
encano começam na rua onde elas erram como mendigos, como
estrangeiros - O rnmoso
e__ ]'1m eo t0s1mo · · ·ai mente varred or d e rua e,
r · ·m1c1
ro1
como
u b muito d ·
s e seus compatriotas, ele cruzou com perfeita · natur·al"d
1 ad e o
m ral do bazar político na condição de cabo eleitoral, de lobista.

36 37
Depois, as municipalidades ficarão sob a influência da "tropa par- ·d de craca-se aí de atos de governo, isto é, o sistema viário político
da" de seus SA porque, novamente aí, a apoteose automonva dos _ar~os velocl a ' 1 d" , . "
. d o J·uscamente limitar o "poder de assa ro_extraor
v1san . . . 1-nano que a
20 com seus raptos, fuzilamentos, com bates de rua, as perseg~1~o~s
desenfreadas de seus veículos blindados, não passa de um ep1sod10 m~n·zaça-0 das massas desenvolve. Essa frustraçao 1J1f11g1da. ao condutor
b uscamente privado tanto da embriaguez das altas velocidades como da
técnico do assalto dromocrácico feiro à cidade e a suas riquezas por uma e:briaguez aJcoólica, esta proibição veicular é cambém a constituição,
massa migrante vinda da Europa ou da Ásia, até se transformar no
Assalto ao pr6prio Estado americano. Al Capone não era suste~t ado, pdo Estado, de um novo . porvir. . . . .
' "Os milhares de Jovens moconsr.as que se 1111c1am na mecarnca, no
então, em escala nacional, pelo Partido Republicano, e não devia sua ádio (no enduro de moto ou no trânsito) estão", como observa V. Bush,
"formação" à sua passagem voluntária pelo exército americano? As tropas
desconhecidas do gangsterismo aparecerão, aliás, à luz do dia durante a
:m 1940, em Modern Arms and Free Men, "em verdadeiros campos de
creinamento... e, no dia da prova, esse treinamento poderá facilmente, e
úlcima guerra, por ocasião da libertação da Itália, e essa genre rransformar- num tempo mínimo, transformar-se em capacidade de construir o com-
se-á então em "bons cidadãos americanos". plexo aparato da guerra." De uma margem à outra, um discurso simétri-
Num outro plano, compreende-se melhor como o governo dos
co se desenvolve.
Estados Unidos conseguirá superar a crise econômica dos anos 30 e Esse tipo de exploração permanente da aptidão para o movimento
curar as massas americanas da "tencação da rua". Também aí a experiência da massa inorgânica enquanro solução social náo é exclusiva dos países
dos dromocracas .do gangsterismo não foi inútil. O golpe de gênio ficou industrializados. O problema dos calçados foi colocado pelo exército de
por conta da substicuição da repressão direta da rebelião e do próprio massa à indústria civil antes do problema dos veículos. Em 1792, as
discurso político pelo desvelamento da essência desse discurso: _ª intendências conseguem fornecer às tropas de "va-nu-pieds"* duzentos
capacidade de transporte criada pela produção em série de automóveis pares de sapatos quando eram precisos 80 mil. 1 Entretanto, "sendo a
(desde 1914, na Ford) pode se transformar num assalto social, numa marcha um ;nstrumenco esrrarégico mesmo fora do engajamento", como
revolução suficiente e capaz de modificar, uma vez mais, o modo de já se viu, esse tipo de Assalto é desferido primeiro contra Tempo e pode
vida dos cidadãos, transformando todas as necessidades do consumidor, ser realizado de maneira teórica quando não se dispõe de meios materiais.
remodelando integralmente um territ6rio que, no comCJço do século, Hoje em dia, os partidos de oposição organizam lucas em torno do
não custa lembrar, possuía apenas 400 quilômetros de estradas. "tempo de transporte" dos trabalhadores. Trata-se aí, novamente, de "tem-
O doutor Helmut Klotz observa, em 1937, que "'O Corpo Auto- po a ganhar" e remontamos às origens da "metamorfose" social, ao nível
motivo Nacional Socialista' é uma organização que, dentro de limites da "revolução dos crês oi tos" tão cara aos homens de 1848 - oi to horas de
estriros, pode ser imediatamente úcil à motorização do exército alemão". trabalho, oito horas de sono, oiro horas de lazer. Fato ainda mais notável,
Ele considera que a motorização freqüentemente é pouco vantajosa em essa reivindicação tem, ao ser apresentada, desde a origem, o mérito sin-
grandes distâncias, mas reconhece que no caso de distâncias pequenas, gular de criar a Unidade entre todos os partidos, entre todos os movi-
ela tem o poder de aumentar de maneira extraordinária as Forças de mentos revolucionários, dos moderados aos extremistas. Esta espécie de
Assalto. "guerra do tempo" movida pelos trabalhadores ''tem rodas as vantagens
Na margem oposta, a perpétua transformação da estécica bárbara de uma reivindicação revolucionária sem os seus inconveniences" 2 • A
do veículo americano fabricado em série, o exagero provocador de sua
carroceria, de seus enfeites, manifestam a permanência da revol ução • Va-nu-p1ed; indigente, misedvel. (N. do T.)
social (progress no american way of life). M as, ao mesmo tempo, es~e 1. Quando, na mesm3 época, as indústrias de arm:1mento~ já conram com grupos
grande corpo auromotivo foi emasculado, sua dirigibilidade é pred.na de produção de 5 mil operános.
e seu potente motor é contido. Como no caso das leis de limitação da d' 2- la Frrmce et les hu.it heu.m. André-Fr~nçois Poncet e Emile Mireaux, Société
études ec d'informarions économ1ques, 1922.

38 39
República dos Sovieces também julgou oporcuno introduzi-la no outo- a "conquista da liberdade de ir e vir", tão cara a Montaigne,
va é que ' , . - , .
no de 1917, e a república alemã, em 1918. poderia se cransforn'.,ªr, num pass~ ele 111ag1_ca, él11 "Jrtça~ a _mobzfzdade.
Quanto à república francesa. ela cerne um l O de maio sangrento O "levante de massa de l 793 é a inscauraçao ele uma pnme1'.a dttadum
após a guerra. Com efeito, para aquela data de 1919 prepara-se, uma
domovimento substituindo sutilmence ,1 lrberdade d
de movimento dos
. . E d
vez mais, um enorme desfile de rua, e o governo sabe que a única palavra primeiros dias da revolução. A realid~de_do !)º e1 n_ess: p'.·uneuo ·sta o
de ordem será pelas "oito horas" .. . mas os chefes socialistas não acabavam moderno aparece, para além da cap1calrzaçao da vJO!enc1a, corno capi-
de se investir das responsabilidades do poder? Um deles não dirigia o talização do movimento. Em suma, o 14 de julho de 1789, a coma~a
Ministério do Armamento? Conceder as "oito horas" era então "conser- da Bastilha, foi um erro verdadeiramenre foucaldiano do povo de Pans:
var um selo definitivo, guardar na paz o que fora a união sagrada na famoso símbolo do encarceramento era uma fortaleza já vazia. Os
0
guerra". revoltosos descobrem escupefaros que já não há mais ninguém para
Nesse 1° de maio de 1919, o proletariado está novamente desmo- "libertar" por trás de suas formidáveis muralhas. _
bilizado, tendo acabado de deixar as trincheiras, e reencontra a "morte O esquema estratégico da revolução oferece, às duas cl,1sses domi-
diante de si'' nas ruas da cidade. Depois das confraternizações dos nantes, seu proletariado específico: a ''nação em marcha" do proletariado
primeiros dias, o que se tomou por "ingratidão do pessoal da retaguar- militar do exército de massas atirado sobre o "terrirório viário" e um
da'' pata com suas tropas de assalto é tão-somente o retorno à normali- proletariado industrial, um "exército operário': _c omo é cl~a•~~do, ~ue
dade, ao sentimento de desconfiança e ao desprezo do citadino pelas permanece encerrado no vasto acampamento md1tar do terrnono nacio-
massas giróvagas que reencontram sua liberdade de movimento e volcarn nal. Pode-se distinguir claramente encão duas funções (ou melhor, fun-
a ficar disponíveis para a batalha política... Em 1936, a própria natureza cionamentos) da base proledria assim mobilizada, porque jamais os
desses "lazeres das oito horas", que permanecera até então misteriosa, termos da proletarização foram mais radicalmente colocados do gue
se revela: os lazeres são as férias remuneradas e as férias remuneradas, a pela Convenção em seu decreto de fevereiro de l 793: "Os jovens irão à
viagem ... inclusive a "última viagem", como ressalta, de forma bizarra, lura" enquanto "os homens casados, as mulheres e as crianças ficarão
urna célebre canção dessa Frente Popular supostamente eufórica... Re- adscriros à fábrica" (de armas, de vestuário, de barracas, de curativos,
volução do transporte e não da felicidade ... para o terreno de camping, etc.), em suma, ao aprovisionamento logístico. Percebe-se, pois, que a
o albergue/caserna da juventude, sempre os acampamentos, o vasto :iova burguesia industrial cende a enriquecer capitalizando os "gestos ., (o
acampamento do tem tório. Mas não iria declarar-se a guerra na Espanha, ato) produtivos do prolecanado industrial (a burguesia gi rondina e os
e a não intervenção francesa não transformar-se-ia no cúmulo da Frente fornecimentos de guerra, o Banco Suíço com Perrégaux, etc.) e a classe
Popular que se paralisa ao recusar os desdobramentos dessa ültima militar capitalizando o ato destrutivo da massa móvel, a produção da
viagem? destruição realizada pelo poder de assalto do proletariado. .
A história mostra que a degenerescência das burgues1as
enclausuradas conduz., fatalmente, à degradação das massas produtivas
A manipulação abusiva do discurso dromocrático pelos políticos e à ascensão dos métodos de prolecarização militar no Escado. Na v'.da
da burguesia deveria ter nos alertado, há muito tempo, sobre suas real, os Estados marxistas, por exemplo, aparecem primeiro como_ dit~-
verdadeiras intenções revolucionárias. duras da motricidade, totalitarismo programando e explorando mmuci-
Os eventos de 89 pretendiam ser uma revolta contra a sujeição, osamence wdas as formas do movimento de massa. Depois da queda de
isco é, a coação à imobilidade simbolizada pela a ntiga servidão feudal Phnom Pe nh, o Camboja se transforma, segundo as raras teScemunhas,
que ainda subsistia, aliás, em cercas regiões como o Jura, revolta contra num "vasto acampamento m1.11tar . ". 1nut1, ·1 v1ruper
· ar contra' Marx e os
a resrriçao à moradia e a prisão arbitrária. Mas o gue ninguém imagina- soviéticos " inventores do gulag' ... quando na verdade se traca apenas de

40 41
um paroxismo do movimento de proletarização militar. Com efeito, • Esses campos para onde são enviadas pessoas sem ;ulgamento já
brutais. . ~ • 'd .
segundo sua exata expressão, os Khmers vermelhos co nsideram o · os alertar com sua denom1naçao genu1r1amente me 1ca. a
deveriam n . .
conjunto das populações civis de seu próprio país, seus milhões de -- cem a ver com a programação mecânica dos corpos enfermos
reed ucaça 0 . dº ºd
homens, de mulheres e de crianças, como "prisioneiros de guerra". Os e. · ces· ela pretende consertá-Los. O delmqüenre ou 1ss1 ente
ou d er1c1en , , . , . .,
novos dirigentes do Cambop aplicam, ao que parece ao pé d:i letra, .d ló ico não é mais considerado como um adversano pol1t1co. Ele Jª
t eo g
,
. ., . " . " dºd
direito ao tratamento ps1quiatnco gracu1ro conce 1 o pe os
1,
uma dissertação enrregue, vinte anos antes, na Sorbonne, por Kieu
11ao cem . . .
Samphan. Ali se percebe de onde vem o vírus que assola este malfadado elos americanos a seus incelecrna1s. A certeza matenalista
russos ou P . . .
país. O esquema utópico da revolução cambojana é apenas a antítese chega aqui à sua forma absoluta, po,1s .ª simples h1pór~se d_e ambu!f
do esquema da revolução burguesa: as grandes cidades foram brutal- • ortància a um pensamenco antago111co, a um conceito diferente, é
1mp . . , c1· .d, .
mente esvaziadas de seus habitan res, que foram massacrados ou devol- totalmente esvaziada. O cl1ss1dente e um corpo, sua _1~s1 enc1a, um
vidos para o campo; alguns bairros foram arrasados, substituídos por delito postural - por exemplo, sua indolência, sua lasc1_v1dade. Ost~n-
arrozais; não há mais qualquer tráfego entre cidade e campo; a circula- sivamente, não há tanto delito de opinião quanto delito gestual; e .ª
ção praticamente desapareceu, permanecendo na cidade despovoada superação da confissão.3 Os corpos são culpados de _não estarem _mais
apenas alguns batalhões de infantaria, os chefes Khmers e algumas mis- sincronizados; é preciso recolocá-los na linha do pamdo, na velocidade
sões diplomáticas. Mais que uma revolução, é o fim trágico do cerco da de um povo inteiro em manobra para o gual tudo é motivo para exercí:
fortaleza comunal tomada enfim por seus assaltantes. cios físicos públicos, do clássico manejo de armas ao relaxamento e a
No Vietn ã "libertado", descobrem-se o utros tipos de mobilização ginástica na rua, nos campos, nas fábricas, aos e:portes colerivos ~~ à
proletária. Depois da queda de Saigon, a primeira preocupação dos dança, às excursões de vigilância telúricas e ecológicas, etc. Por ocas1ao
exércicos revolucionários foi colocar no trabalho de reconstrução log(scica da revolução cultural chinesa, lia-se freqüentemente nos rostos de Mao
(estradas estratégicas, vias férreas, pontes, etc.) gente tão "indigna" e de Chou-En Lai, como que um embaraço diante desses milhões de
quanto as ptostitutas e os ociosos traficantes da grande cidade meridional, indivíduos brandindo como robôs o ·'livrinho vermelho". A revolução
mas foi também ensinar sua juventude fardada com uniformes novos a de civüização desejada pelo poeta iria se reduzir a esse conjunto ginástico,
"encenar" sua alegria de estar livre, fazendo-a conhecer assim a singeleza a outra face de uma vasta campanha de delação em massa que se afixava
de um poder que se limita à coação e ao adestramento dos corpos. A
ditadura do proletariado é tão-somente essa ditadura do movimento
3. A superação da confissão. Na Idade Médi.i, a pergunta é feita sob tortura a um
(do aro) que revelam as grandes festas totalitárias, com suas imensas
corpo "conhecedor da verdade" que deve deixá-la escapar à revelia de sua vontade. No
multidões cinéticas, suas esparrnquíadas e festas ginásticas sempre tão século XIX, a tortura é abolida, não por human idade, mas porque se percebeu que codo
enaltecidas nos países do Leste quanto na era do fascismo . Este ato (rodo movimenro humano) deixa algum rraço externo, alguma impressão m:uerial
sincronismo que integra milhares de indivíduos em formações involuntária. Desde enrão, faz-se falttr ciennficamence as provas, faz-se com que elas,
geo~étric~s, como o antigo "quadrado" da manobra rn ilirar, que integra de cerro modo, "confessem" em lugar do suspeito. apresenrando seus 111Jícios materiais
segundo um discurso/percurso coerente. Com sua justiça colocada desde logo na forma
o d1nam1smo das multidões numa decoração ca leidoscópica,
tcarral de um diálogo, os anglo-saxões rapid,1111ente verificaram que, a parm de provas
desenhando, conforme o gosto, slogans ou retratos gigantescos dos líderes macena1s 1dênricas, de mesmas matérias, er;, possível exrrair diversos discursos coeren-
do Parrido, perm itindo que o militante revolucionário se come, por tes mutuamente excludentes pela simples modificação da ordem das matérias: A p_si-
um curro momento, um pouco do corpo de SraJin o u Mao. tanálise, de cerro modo . pegou o bastfo, substiruindo :i materialidade dos in~fcio~
O mais interessante, porém, é que esses campos de reeducação exteriores pelas impressões interiores do deliro. A confissão pbiquiácnca é obtida ª
~~vclia da vontade do suJeiw. Ela. franqueia ~eus lábios à força. mas s_o b ª form~ de
dos quais os vietnamitas, acompanhando os chineses, tanto se orgu~ 1
~dfcios e materia is incocrcnres que serão recxamin:1dos pelos mc~anismos da ciê~-
lham, parecem eliminar do sistema a repressão sangrenta ou os castigos cia psicanalítica. A que:,táo não está somente em que o fluxo concmuo da confissao

42 43
nos muros de Pequim, como, cem anos antes, na C omuna de Paris Acompan 11am1o Lenm, · Mao, qualificaria o povo de "força motriz
A • • _

(Estado policial, dizia dela Cluseret), como na revolução cambojana, h . , . " ao impo r-se a importanc1a da conquista de fontes de en_er
com seus "kang-Chh/op". O socialismo iria se reduzir a uma socialização da 1scona ,e 1og1st1co
' · na' 111ed1da
ia. A metarora po l't·ca segue de perto. o progresso H , . ~
g que e Ia as p 1·ra ~~ História. A ciência mil1rar, tal como a d isron:i., ·e
1 1 . .
da informação? Finalmenle, é normal que a revolução política resu ltasse
nessa redistribuição da função (do poder) policial a todos os militantes, em a percepção persistente do cinet1smo dos corpos esaparec1-
como o foi com qualquer agente do transporte militar, atrelado, desde apenas_ umersamenre os corpos podem sur~ir como os veículos da h1stó-
dos e rnv ' d. "
o Ancien Régime, ao estabelecimento da transparência social, à observa- '
ria, como , . IIl
seus vetores dinârrncos. N apoleão . preten ia que para o
'
A • ,,

ção das posturas e movimentos não adequados ao corpo social mas, ao homem de guerra, a recordação é a propna c1enc1a .
mesmo tempo, ao corpo territorial, corno na vigilância telúrica, espécie
de polícia ecológica que renova o controle urbano e parece uma solução
de futuro para o poder.
Castro, trocando seus trajes desalinhados de guerrilheiro por um
uniforme à Pinochet, Brej nev se vestindo de marechal, a presença ma-
ciça de chefes militares cobertos de medalhas em rodas as tribunas
socialistas do mundo, nos informam: os últimos capitaJizadores do ato
(produtivo), os verdadeiros ditadores do movimento são eles. Foi ddes
e não de vagos filósofos ou ideólogos que nasceu, em J 789, a idé.ia
política de nações em marcha, as massas do novo proletariado militar
tornando-se projlteis na metade do século XIX, com o triunfo da artilharia
industrial e a generalização da g uerra de m áquinas: "Os canhões pesados",
escreve Trotsky, em 1914, "inculcam na classe operária a idéia de que
quando não se pode contornar o obstáculo, resta ainda o recurso d e
desccuí-lo, as fases estáticas de sua psicologia cedendo lugar então às fases
dinâmicas'.

psiquiárrica não é 11111 aro de vontade cio s ujeito. Esd em que da seq uer concerne ao
1nstanrc cio del ice, !is circunsr:lncias conhecidas apenas pelo sujeira e sim a um co njun-
to que vai do nascimenro do acusado ao d iagnósrico de um 1ulgamenro fi nal. Quando,
por meio de tesre.s, ouve-se ainda uma confissfo, está evidenrc que não se rrara mais
do relato do crime comerido por seu auror. Este fo1 p;i rricu la rmente completado pelo
ressurgimenro de zonas de marg111alizaç.ío nos sisrernas urbanos e, rn,1is ainda, pelo
crimmo1tm atualmente experi mentado pela po lícia. Pode-se pensar que em ral nível as
lac unas e os azares derivados da ordem das ma térias poderiam desaparecer, pois com a
inform:írica o d iscurso d:1 acusação poderia se rornar absoluramenre coerenre o u, pdo
men o,, próximo da coerência absoluta, representando, sirnulcaneamentc, cm nome do
s ujeiro e em nome do objeto Com isso, seria possível dispe nsar roral me nte a confissiio
ele um acusado, que e-Sra ria menos informado sobre seu próprio deliro que o computador_
Esce, n:io sendo mais detentor da "verdade", nada reria a confessar. Em g rande medida,
o esquema do trabalho social na França já funciona assim.

44
45
Segunda parte

O progresso
dromológico
1

Do direito ao espaço ao direito ao Estado

"O rer dertínado à ágzta é um ser em vertigem. Ele morre


a cada minuto, um cewir, algo de ma substância perece."
BACHELARD

Um a caricatura inglesa do século XIX mostra Bonapar te e Pitt


calha ndo, a golpes de sabre, uma grande torta em forma de globo
terrest re, o francês apossando-se dos continentes, e o inglês reservando
o mar para si. Trata-se de uma outra partilha do universo na q ual, em
vez de se enfrentarem sobre um mesmo rerreno, nos limites de um
campo de baralha, os adversários optam por criar uma lura fís ica
fundamenta l entre duas humanidades, uma que povoaria a cerra, e outra,
os oceanos, inventando nações que não seriam mais terrestres, pátrias
nas quais não se poderia colocar os pés, pátrias que não seriam mais
países. O mar é o mar livre, a associação do dêmos ao elemento da
liberdade (de movimento). O "direito ao mar" é, ao que parece, uma
criação especificamente ocidental, como seria, mais ta rde, o "direito ao
espaço aéreo", elemento em que o marecha l-do-ar Goering sonhará
instalar die fliegende Nation, o dêmos nazisca. 1 "Todo alemão deveria
aprender a voar... Dormem asas na carne do ho mem." Ante o vôo dos
primeiros foguetes, Hitler, que sente a derroca militar se aproximar,
pode dizer a Oornberger: "Se tivesse acreditado em vosso trabalho, não

1. F. Tl11ede e E. Schm:1.he. Die fliegende Nation, Ed. Umon Deursche Yerlagansralr,


Berlim, 1933.

49
teria havido necessidade de guerr:1 ... " ou, ao menoJ, n ão tcrir, havido Não se ver forçado a um combate desesperado mas provocar no
necessidade de luta.' adversário um desespero prolongado, infligir-lhe concínuo:5 _so~ru1:en-
Vencer sem lura um adversário continental que se lança e se esgota s morais e materiais que o enfraqueç:im e destruam; a esrraceg1_a 111d1reta
incessantemente nos limites espaço-temporais do campo de baralha ter- ~ e desespera r um povo sem derramamento de sangue. Corno d.1z o
pod . .
restre é o que conseguiri:i, como se sabe, a Inglaterra. Tal como Napoleão,
Hitler seria vencido pelos homens da fleet in being2 , que extrairiam a
adágio: "O medo é O mais cruel dos assassinos; ele _n_ãdo dmata pr:~:~,
mas vos impede de viver." Afinal, a invenção da fel1c1_ a e, :ssa 1 1a
vitória continuamente de sua inacessibilidade para o combare, do aban- nova na Europa, segundo Saint-Just, era, para os con.t1nenca1s, apenas
dono do princípio nocivo de que é preciso atacar o inimigo ráo logo ele é um modo de resistir àquela coação moral vinda do mar, àquela perda
percebido, encurrar a disril.nc1a entre ele e nós. A jleet in being é a logíJtica
de sua substância.
realizando plenamente a estratégia como arte do movimento dos corpos não Em 1914, 0 bloqueio aliado levou dois anos para pro~uz1r _s eus
vistos, é a presença permanente de um;i frota invisível no mar podendo primeiros efeitos nas populações civis alemãs, mas esses efeitos amda
golpear o adversário em qualquer lugar e a qualquer momento, aniquilando seriam sentidos bem depois do fim dos combates terrestres; eles sellam
sua vontade de poder com a c1üção de uma zona de insegurança global um fator indireto do marasmo. Foi este desespero prolongado que pre-
onde ele nunca estará em condiçóes de ''decidir" com segurança, de querer, parou O terreno para a política passional do nazismo, para a domesticação
isto é, de vencer. Trata-se, pois, sobretudo, de uma nova idéia da violência fascista do povo alemão. Da mesma forma, o rápido desmoronamento
que não nasce mais do enfrenramenro direto, do derramamento de sangue, material e moral que se constata arnalmenre na Europa ocid~ntal nad_a
mas das propriedades desiguais dos corpos, da avaliação da quantidade mais é senão O resultado longínquo da reviravolta geoesrrarég1ca ameri-
de movimentos que lhes são permitidos n um element0 --scolhido, da cana criando, a distância, em nosso continente, uma nova crise econô-
verificação permanente de sua eficácia dinâmica. Se Napoleão julgava a
mico-psicológica. . , . . . .
força de tun exército em termos mecânicos, Maurício da Saxónia foi um Desejada por povos de comerciantes, a estrateg1a mdireca tepro-
dos primeiros a compreender, no conttnentc, que a violênaa pode se redu- duz num outro elemento, os efeitos da velha poliorcécica comunal. Da
zir ao movimento apenas: "Não sou a favor das batalhas", afirmava ele. '
mesma forma que o antigo "estado de sírio", ela permlte • " pr~ 1ong~ar
"Escou persuadido de que um general hábil pode fazer a guerra durante indefinidamente as hostilidades" contra o conjunto das populaçoes nao
toda a sua vida sem se ver obrigado a isso." Na Europa Ocidencal, no encanto,
mais "civis", mas "continentais".
um espaço reduzido e ac1denrado, não se poderia pretender ''descruir o Ela representa a renovação do capitalismo porque é justamente a
adversário" sem ser forçado, algum dia, ao enfrenr::unento direto en tre massas superação técnica da velha praça force, ultrapassada, desmanrel~d: p~lo
mil irares cada vez mais nwnerosas: a sicuação de enclave da Alemanha é o
poderio dos novos exérciros escarnis, uma resposta às ex1genc 1~s
melhor exemplo dessa coação histórica criadora de um belicismo sangren- econômicas exorbicantes da classe militar continental, à sua pretensao
to e imperativo, o da teoria prussiana. Em compensação, em seu imenso
de dominar os fluxos de circu lação terrestre.
sanruário marítimo, a home Jleet podia evitar quase indefinidamente a Finalmente, o liberalismo econômico ilustra perfeitamente a defi-
batalha. Ela náo se via coagida pelo adversário a algum com bme desesperado,
nicão de Errard de Bar-le-Duc: o assaltar é diferente conforme a époc~ ~
contanto que, mesmo estando presente, ficasse fora de alcance. · ' · d. a b, ~ rguesia a
T
invenção das máquinas de destruir. Essa b rusca res1stenc1a
. . I ,
concepção de guerra cerncona e, e ora em 1ame , O pnnc1p10 de um
d d .
2. "Desde o final do século XVII, afleet m being, fórmul,1 imaginada pelo almiran- c,b.10, ap 1·1ca a gue1r,..1 cocal sobre ,,o mar
te Herbert. mmcara a passagem <lo esMr ao estando no exercício da coação sobre 0
capitalismo que, tornan d o-se a nn
adversário. É o fim do aparelho naval e da guerra de perco: o n1ímero e o poder de fogo
, • • 1 1
e nas colon1as, que !itera mente sa ta a gra 11 e ma'quina móvel
d " d l , .para ,,
dos navios alinhados rornam-se secundários." Paul Virilio, Essai mr linséwrír,5 du terrztoire, a "máquina imóvel", fazendo d os oceanos um vas " to campo
. og1st1cod ,
Stock, 1976. arrastando atrás de s1. um pro1ecanac . 1o acre 1·,1do ao funcionamento o

50 51
veículo marinho, proletariado de remadores parecendo um "erdade1ro políticas e eco110111ic:1s e ,lté os limite:. d.1s kis FísiLt5 dcYidas 21 gravidade
mo tor do engenho, acelerador no mornenrn do combate. terrestre e à ex1gü idade conc1nental. Mas 0 direito ao m ar cot11ou-se,
com muita prcsrez.1 .1li:is, o direito ao crime, a urna vio lénoa ig ua lmeme
ili1111t,1d.1. F.m pot1co rempo "o império dos mare~" S11bstirui n mar
A jleet zn bcmgcria uma nova ideia dro111ocrác1c:1; não ~e crara ma1~
livre. O cron1srn do século XVll percebe su,1~ premissas desde a nurgem,
da rravess1a de um conttne nrc, de um oceano, de urna cidade a outra,
onde rcrna ".1 horrível indústria dos nat1fragosos rnassc1crn ndo e pdlun-
de uma margem a oucrn. A j!cet in bcíng inventa a noção de um deslo-
do os soh 1eviventes dos naufrigios que provocam com ~11.1s si nalilações
ca'.nenco_ que não reria desrino no e~paço e 110 te m po. Ela impóc a idéia
enganad oras... " Olhando do mar, ele vê apen,1s "os excessos am,agmcios
pr1mord1al do desaparecimento na distância e não mais nos riscos da
pel,1 prática do mm "
con~agração. Ela realiza conrinu;imence uma cornd,1 par,1 mais longe.
"O m onstruoso despocismo que, e1~1 nome dos 1110 11 opól10s co-
O hm do_en genho coma-se aqui, necessaria mente, e pouco importa
merc1a1s, .1~pir.1 :1 tlo111im1çrfo ewlusiva dos occ.111os... espécie de di1eiro
como, o nao-rero1 no, desci no normal da 111,1q1.11 na flu cu~ nre abandonada
de conqt1ista exercido pelos holandeses depois de VeneLa, da Espanha
à deriva ou simulando o naufrágio, corno aqueles submarinos que parn
ou de Lisboa." E um pouco mais adi.111te, ele observa: "O terrível é que
escapar de seu~ perseguidores antecipam seu d esaparecimento largando
rodas essas poderosas organizações malÍrim.1s nfo for:1111 obra dos Esc;:1.-
destroços fictícios e combustível, como aq ueles velhos navios de i uerra
dos, mas um produto espontâneo do génio mercantil dessas nações,
que eram arrasrados para o alro mar pela ú luma vez para serem afunda-
resran do ao Estado o p.1pel postenor de sancioná-las e assumi-las." Afinal,
dos '.1ª ap~t~ose de uma derradeira explosão, encenação de grandes Fu-
não é d e se estranhar q ue renha sido precisamente um trafican te, u m
nerais r~anumos em q ue a embarcação é sugada pelo vórrice líq uido do
pirata como L1ffote, a fin :.u1e1ar a publicação do manifesto de Marx.
rurb ilhao, sugado por sua própria corrida para o não-rerorno.
Sua visão do Estado 111te1nacio11al surgindo da socied ade como "seu
Go rd on Pym ou Moby D ick são ve rd adeiras n a rr ati vas
produto em d e rer111in ado momento de sua evolução" , assemelha-se
ancecipatórias do cruzeiro nuclear. O s ubnurino estratégico não precisa
mui to àq uele impéno espontâneo dos "carroceiros do mar", de onde
'.r ~ pane alguma; ele se contenta em, perman ecendo no mar, Ficar
nasce a primeira naçfo industrial d o mundo m o derno, situada em roda
1_nv1sível: mas seu fi m temporal já está m arcado. Aliás, desde q ue ;1 jleet
e nenh um a parcc, obcecada pelas trocas comerciais, sujeita exclusiva-
zrt bezng se tornou um dado fund amental do Direito ao m ar, os
mente aos interesses econômicos, cnc3miçada no abocanhamenro e na
expl_oradores, deKobridores e amantes de expedições de t0dos os upos,
destruição de corpos e be ns de seus advers,írios. Estado da d icadur,1
se ainda procura'.11 no~as cerras,. vão igual mente se prender à invenção
rotal id rra c uja população "rompeu as ,tmarras'', abando no u a cerra,
?ªs passagens, _rsto e, da realização d.-l viagem c 1rcul,1r abso luta,
primeiro povo que corresponde perfeitamente à det1111çJo do proletariado
11~m terrupra, pois não com porra ria n em p;irrid:i, nem chegada, realna-
industrial de Marx: "Os operários náo têm p:ítria ... é preciso corrar o
çao do anel d e nao- retorno já prefigurado pelas rotas ma1íri111:1s circu-
cordão umbilical q ue liga o crabalhado1 à cerra... " Na lnglarerr,t, ,Hé o
l.lres ou triangu lares d o mercancil1s1110 europeu.
sécu lo XIX, pratica-se a razia de m ari nheiros simplesmente Fech,111do-
C;~i~~a_-se assim ~,os oc;a~os uma 1~ova categoria do direito políti-
se os 11ortos por ordem d o rei e arregim e n c:indo os ho me ns do mar à
co. O d11e1~~ ao mar, , na . origem, enn d ade m.1is afcc1va e poérica do
força. N a França d o século XV I 1. co m a 111dustrializaç:.io da guerra
que rac1onal , como Jª se drsse· ~ faro que ,as c 1d ·,1de~., 111ed 1re rr,lneas,
' .1s
marítima exigindo um pessoal oda vez m:1Ís numeroso, inscaura-se o
n açó_e~ insula,~es su pe rpo,~oa?as, p obres e de pequen.1 s uperfície q ue
levantamento e o regist ro de rod~ :.1. populaç:ío licorâ nca, que é "declarada
. o m ar criando um dêmos rnarít"
a rn b1c1ona111 arar • 11110 , 11 ,,-1 o parecem
disponível e alistada num t'1nico e grande exérciro, servindo por rumos
querer se subordrn.1r a qualquer lei terrestre an(lga. O mar livre clevcna
n a guerra, nos n egócios, nos tr.-lb~ lho; de organização do cerricório": é a
compensar rodas as coações sociais, rel1gios;is' mora' s to<J..,
' 1-, 1.,5 ", 5 opressoes
-
isso que ch amamos sistema de classes. Essa pnrneira operação de

52 53
prolerarização militar buscada pelo Estado precede, de pouco, a nos sirnarmos em algum lugar sobre a cerra, que nos situemos, ao menos,
Revolução Francesa. Ela é uma espécie de pnmeiro acesso das massas no Tempo, isto é, na mecânJCa planetária. Por esta simples razão, os
· ao transporte coletivo. Aliás, faro bastante raro à época, as pessoas ingleses permanecerão por muito tempo como os melhores relojoeiros
preocupam-se com a "nacionalidade" do novo proletariado. Deportado do mundo; o domínio do mar exige o domínio do Tempo, exige "visar
da guerra total, ele precisa justificar suas origens; se é estrangeiro, terá a lua", como se dizia então.
de se naturalizar ao cabo de cinco anos; a deserção é severamente repri - Foi muito narnralmentc, po rtanto, que a fórmula moderna da
mida, e o Estado pratica o controle social das famílias declarando-se guerra popular nasceu por influência inglesa sobre os insulares (Paoli,
"protetor das mulheres e das crianças" dos trabalhadores requisitados. na Córsega, sob Luís XV), sobre uma nação de navegadores. a Espanha,
Entretanto, também aí a expansão da guerra foi tal que a proletarização contra o Império francês. De fato, a guerra popular não é mais no ter-
viu-se associada à repressão Judiciária e policial: recrutou-se ao acaso. e ritório. Ela preconiza a dispersão dos corpos militares na própria soci-
os proletários viram-se confundidos com a tropa dos deportados e de edade (o soldado novo estará ali "como um peixe n'água" - a alusão a
marujos condenados ao trabalho forçado que os tribuna is "fabricavam" um elemento líquido não está aí por acaso). Tal como a guerra marítima,
em grande número sob a pressão do governo. No século XVll, o a guerra popular é uma guerra de encontros marcados de corpos
proletariado marítimo já é lireralmenre um povo de condenados, de dinâmicos... Ela se reporta, além disso, "aos excessos consagrados pela
"malditos da cerra". À oposição teórica de Marx e Engels aos proud- prática do mar", à violência absoluta, ao desaparecimento da moral e
honianos junta-se, finalmente, a reflexão de Colberc deplorando a inépcia das leis a nreriores. A guerra popular é roca!.
dos franceses para criar um império marítimo todo-poderoso, bem como Na História do Ocidenre, não atentamos suficientemente para o
seu atraso no campo da colonização: "Enquanto se divertirem em festas momento em que se operou esta transfe rência da vitalidade natural do
populares nada de companhias... Eles abandonam o melhor negócio elemento marinho (aquela facilidade de ali erguer, deslocar e fazer des-
do mundo para não perder a diversão no campo e, mais ainda, não lizar engenhos pesados) para uma vitalidade tecnológica inevitável\
querem grandes embarcações, querem apenas pequenos barcos para que aquele momento da história em que o corpo de transporte técnico vai
cada um tenha o seu.. ."3 A criação do direito ao mar, cal como é pensado sair do mar como o corpo vivo inacabado do evolucionismo, deixando,
então, não bate com esta aptidão para a felicidade terrestre feita de ao se a rrastar para fora, seu meio original, e tornando-se anfíbio. A
simplicidade e independência que se encontra no Sul. Da mesma forma, velocidade, como idéia pura e sem conteúdo, emerg~ do mar, como
a uropia social nascerá menos dos antagonismos de classe gue do ódio à Afrodite, e quando Marinetti exclama que o universo enriqueceu-se de
Terra, e poderíamos prosseguir indefinidamente o jogo das compara- uma beleza nova, a beleza da velocidade, e contrapõe o carro de corrida
ções entre o projeto social e os planos de império dos mares em que à V itória de Samocrácia, ele esquece de que se trata, na realidade, de
Marx se enterrou. 4 uma mesma estética, a do engenho de transporte. Tanto o acoplamento
Parece ma.is interessante, porém, considerar o aspecto cronomé- da mulher alada com o vaso de guerra amigo como o de Marinetti, o
trico desse império que movimenta sua violência na invisibilidade da fascista, com seu b6lido rodoviário cujo volante ("haste ideal que
proteção marítima, nação flutuante que se equipara à História, essa a travessa a terra") ele ma neja, saem desse evolucionismo tecnológico
o utra máquina de remontar no Tempo. Com efeito, a vitóna (a decisão) c uja realizaç~o é mais evidente que a do mundo vivo. O direito ao mar
no mundo sem referências e sem acidentes da fleet in being exige, se não cria o di reiro à estrada dos Estados modernos, tornando-se assim Esta-
dos rotali tários.
3. Correspondê ncia administrativa sob Luís XIV.
4. "O materialis mo é o filho legítimo da Grã-Bretanha." Marx, Contribution à l1nstoire 5. Ver Manifeste du ji.tturisrne, N11viga1wn Ttzctile e comenc:írios de G iovanni Li5ca,
du mtllénaliJme français. Marinecri, Seghers.

54 55
Quando Norman Angell con~tara, em The Creat !l/11rion. que a de conceber o engenho dpido Ele frequentemente se torn.1 obsoleto
guerra tornou-se agora econom:camente jiítrl porque não se funda mais anct:~ mt:smo ~lt: ~er aprovo::1udo; o produto está licer:1lmence gasco antes
no roubo praticado contra o "grupo do exterior ", isto é. sobre a riquezd de ser usado, ultrapassando ass1111 , na "velocidade", todo o ~1sr1::ma de
portátzl, e si m no crédito e no contra to comercial. ele se engana ao lucro da obsolescência industrial!
pensar que isso deve1ia suprimir radicalmente o "conquistador", e ~eu Quando as nquezas, as cap1 raliz.1ções, os modos de produção saí-
discurso perde um pouco de rigor. O que efeuvamenre revela a mudanç:1 ram de seus antigos enclaves, não foi para acender às croc:is, ao livre
de natureza da riqueza é somente a mudança de velocidade da economia comércio, e até a sua socialização, portanro, 111as II seu poderio vnruLar
mundial , a passagem da unidade móvel à uniJade horária, a guerra do pr6prio, ao máxuno de sua eficiênci:i dmfünica. Eis :11 a "f:1ri_lidade" de
Tempo. uma riqueza desap,1rec1da na essênc1:i do progresso dromolog1co.
Com a jleet in bcing, a I nglacerra concentra seus esforços na inova- O homem ocidenr:11 pareceu superior e dom111ante apesar de uma
çfo técn ica no cmn po dos cransporrt:s e. mais precisamente, na fabricn- demografia pouco nume10s,1 porque p:ireceu mais rrípido. No genocídio
ção de engenhos rápidos. É disso que ela ma dJret,11ncnre sua colonial ou no ernocíd10, ele é o sobrevwentt' porque é efetivamente o
superioridade econômica e, sobretudo, a 011entaçáo que fez d el.1 a sobre-vivo - Vlf·, a palavra francesa para vivo concentra pdo menos três
primeira grande nação industnal, modelo de rodas as 011cr.1s, criando significados: prontidão, velocidade (vitesse. em francês) equ1p.1rada à lJIO-
"este sentimento p 1imordial de unta superioridade cécrnca confund111 - lêncta (que vem de força viva, aresta viva, etc.), à própria vida (estar vivo é
do-se com o sentimento de uma superioridade geral". De faro, não há estar em vida!)
mais "revolução indusmal" e sim "revolução dromocrácica", náo há mais Com a realização de um progresso de npo dromocrático, a humani-
democracia e sim drornocracia, náo há mais estratégia, e s11n dromologia . dade vai deixar de ser plural. Para cair 11:1 siruaçii.o de fato, ela renderá a ~e
.É precisamen te no momento cm que o esquema do evolucion ismo cindir exclusivamente em povos e>perançosos (a quem é permitido esperar
tecnológico ocidental sai do mar que a subsdnc1a da riqueza começa a pelo amanhã, pelo futuro :i velocidade que eles capitalizam dando-lhe~
desmoronar, que roma corpo a 1uína das nações e dos povos mais acesso ao possível. isco é, ao pro;eco, à dt:cisão, ao 111finito - 11 velocida.de é
poderosos, e são conhecidas, a esse respeito, ,is recentes decla rações de a ey>erança do Ocidente).
Carter sobre o fim do ideal de vida americano. Ê a velocidade como E povos desesperançows, 1mobil1zados pela inferioridade de seus veí-
narureza d o progresso clromológ,co que arruin a o progresso, é a culos técnicos, vivendo e subs1scindo num mundo finito.
permanência da guerra do Tempo que cria a paz roca!, a pnz da inanição.<" Assim, a lógica :iprox11nada do s,1ber/ poder é el11111nada, cedendo
O caso do super-sôrnco S.S.T., seguido do c;1so cio Concorde, ilustram luga1 ao poder/mover, 1~ro é, ao exame das cendêm.i:is, dos íluxos. Isto é
perfe1tamente esse sistema de ruína (de cal forma ruinoso, que os &ca- tão evidente que há cinco anos não se ensina mais geografia na Escola
u • ,, 7
dos avançados precisam se associar para perseverar na p rodução dessas M1lir,1r na França, e a polícia expen111enra aru ai mente o crzmznostat .
m,iquinas submetidas à lei exclusiva da velocidade). Tal como na origem Impérios de rerritórios imensos como a China. apesar de suas ren-
da fleet in being, a manutenção do monopólio exige que a codd nova c;iuv::i~ de "modernização", tiveram de se submeter, desde o sécu lo XIX,
máquina seja logo contraposta uma m:íquina mais rápida. Mas com o ;i e~sa nova ordem, pura e sem conceüdo, nada enconuando para con-

limiar das velocidades se esrreitando sem parar, fica cada ve1. mais di fícil tr:ipor à sua penetr,1ção, e hoJe os exército~ populares chinese~ e
viernamit:is realizam uma d1tícil rev1s:ío, dcsdobr:indo-sc num exército

6. P,tz de gucrr,1, paz de ma:iiçáo (Bria ml) "... ninguém p,,de m:11~ desejar, l,oje cm
r - d l d 1eru1ona1s da polic ia
dia, o renascimento do regime 1nrernac1onal de 1939 porque, com efc1ru, àqud.1 <'.po- 7. A superação d.1 confo,ão· !Od .1s as 1111O1111.içocs.1, ,
,r1ga 3s
lf · N ,onal de Rosny-so111•
c.1, rcçravam .1penas as ruína~ de um sistema.• Trabalhos da Sociedade da~ Naçõcç u,11íl11i11do p.1r,1 o cu111p ur.1dor crnrral do cunrnnt1o e1a 1o <-1•1 ac
sobre a passage m da economia de guerra ~ economia ele pnz, cm m.iio J c J 943 l.lois: CRIMINOHA1 (v1s11.l lo1..1ç.'tn J c manchas c, tatimc~~)

57
56
técnico (rápido) e num exército do povo, 1ep1ese11udo como "valor
2
animal" (lento) e, neste caso em p.mic11Lu, "valor de sobrevivência" em
caso de cataclisma nuclear. Vale lembrar, a esse respeito, que ern 1932
as populações chinesas da região de Shangai Já haviam desempenhado
seu papel: com efeito, elas estiveram cnrre a~ primeiras do mundo a
sofrer, da parte dos Japoneses, a expenéncia dt ataques aéreos massivos
visando a desrruiç:io coral dos centros urbanos. Os esrados-111a1orcs A guerra prática
alemães logo se debruçaram aren rarnen te sobre a rei 11c1dêncrn social
desses ataques para a elabo1ação de seus propnos "planos de segurança":
simulação de alertas, exercícios, programas de abngos em cidades, ecc.,
que, no espírito dos dirigentes políticos, deveriam contribuir fortemente "Hu,.,.a' acabou o conrnto ,om ,1 urm imunda!"
para o preparo psicológico dos cidadão~ alemães. Por um justo rerorno
MARINETTI, 1905
das coisas, agora são os chineses que se 111spiram largamente nessa
mobilização nacional-soc1alisra.
Na guerra do Tempo, o porvir social das populações rornou-se o ir
além da hora zero como derrade11a esperança revoluc1onána!
Extrair do povo em armas um elemenco militar puramente técrnco
Em 1914, os estados-maiores europeus ainda eram clausewirzianos
era uma decisão política capital para os dirigentes chineses porque, em
ou napoleônicos; rrarava-se, pata eles, de exercer sua vontad·e· numa
nenhum outro lugar os exércitos e as populações permaneceram c:io
guerra terrestre de penetração rápida, de baralhas curtas e dec1S1vas. A
biologicamente associados, inclusive no sistema de produção. Essa
vantagem desse tipo de conflito era escamotear os problemas_ colo~a~os
unidade revolucionaria é destruída brutalmente pelo surgimento de
pela organização miltcar dos territórios, já que o esforço logísuco ex1g1do
uma outra evidência: a luta de classes é substirufda pela disputa entte
seria pouco importante e, sobretudo, pouco constante; uma guerra de
os corpos técnicos dos exércitos segundo sua eficácia dinâmica, aviação
cerca fo rma sem terreno ou, ao menos, roçando-o apenas!
contra marinha, exército de cerra contra polícia/política, etc., situação
Ainda estamos aqui no espírito do Congresso de Viena. Os pode-
esta esboçada cancaruralmenre, Jesde há muito tempo, na Aménca
Latina. res monárquicos europeus, que sentem a aproximação do g~lpe de
misericórdia, têm um derradeiro sobressalto. Como C lausew1tz, em
¼m Kriege, eles tentam desesperadamente correr o ferrolho entre gu~r-
rn absoluta e guerra total. A guerra rotai é ubiquicária. Ela se realiza
primeiro no mar porque a proteção marítima não apresenta nenhum
obstáculo natural permanente a um movimento veicular de d11nen.são
planetária. Entretanto, esse ripo de conflito torn.licário pode ser realiza-
do em cerra com a condição de erguer infra-estruturas duradouras para
a ubiqi.iidade. Como observa Vauban, a guerra deve ser capaz de cobrir
imediatamente rodos os lugares habitáveis do universo.
"Ubique quo fas et gloria ducunr", a engenharia inglesa acabou redu-
zindo significativamente sua divisa para UBIQUE... POR TODA A PAR:E, I sto
significa o universo reordenado pela engen h ana · m1·1·irar, a terra comu-

58 59
nicante" como um único e mesmo calude procetor enquanto infr.1-es-
trurura de um campo de b;ir,1lha fururo. 1 É esre o mundo que se onde Ferry 2 observa· "O gcneral-com:rndame nfo é mais um chefe de
transformou "de pai~agem-ateliê em paisagem-planificada, em espaço guerra e sim o ministro dr um taritórw", temcorio este onde o poder
imperial. .. ", como constara Lukács .1 respeito do socialismo alemão. civil esperava criHalmtr a baralha e encenar seu prolera,iado militar
Quando Renan recebeu Lesseps na Academia, cemurou-o por ce, "na numa guerra absoluta, "sem limitaç;io no uso da violência", mas que
busca da paz, encontrado a guerra" ao fazer do canal de Suez um novo não se estenderia, não podena sei levada para o tntel ior. É .1 guerra de
Bósforo. Transcorrido u111 século, .1 profecia de Renan se manrinha: a desgaste. Nos est,1dos-111a1ores, o fone desgaste das tropas e dos mace-
perfuraç~o do canal de Suez era um velho sonho politécnico para O qual n:iis, forma modern:i da d1zin1.1ção, era ainda, no começo da guerra,
sucumb~ram numerosos engenheiros saint-simonianos Sua realnação um ponto positivo n:i carreira de um general! Era considerado um sinal
era cnrao considerada pelos especialistas mil1tarcs co 1110 um novo de grande atividade do chefe militar, de sua personalidade, e até mesmo
1nd1cad~r d_e confiabil1dade no conjunto da~ comunica<yóes da orcodoxia de sua arte, no Jargão das escolas de gueira - "impiedade",
rnternac1011a1s, um ponro de aceleração considerável na rrama de "uso ílimirndo da força" que permitem, segundo Clausew1rz, não recuar
inferências da estratégia mundial. Ao " redesenh.tr o mapa do mundo" diame de nenhum derramamento de sangue. Mas também aí o general
. (( '
a bna-se uma via para o transporte da guerr.1", para o Orienre. assim prussiano foi rapidamente superado. Ele pensava, como nrnítos de seus
como Pª:ª.
os nov~s trustes verticalizado~. Com a grande revolução contemporâneos, que a situ.1ção soci.11 dos Estados c1viliz,1dos acabaria
geoestrateg1~a d~ sectrlo XIX, a organização econôm1Ca e soci,11 começa tornando suas guerras bem menos cruéis e desrrutivas que as d as ourras
a depender mteiramence da organi1açfo do espaço de ariv.idade como nações: .1penas alguns meses depois do início das hostilidades, Ferry
lu?ar de transferência, e o fenômeno da guen.1, a se auto-alimentar, nos mostra a que ponto isso chegaria, visro que uma das tarefas mais
ena as fomes de seus própnos conílicos, multiplicando-os. continua-se novas para as pessoas engajadas na atividade logística é a avaliaçilo
morrendo por Sllez 011 P,111arná racional da obsolescênaa dos exércitos, a dificuldade de calcular os danos
, . Em 1914, t~dav1a, a Frar~ça rural e fechada ainda er.1 pouco pro- produzidos p_ela nova guerra industrial com rapide t suficiente para
p1c1'.1 ao desenvolvimento da ub1qüidadc do rr.rnsporre rnilit.1r. O rnnílico compensar, em tempo hábil, o desaparecimento puro e simples dos
trazido por seus pesados engenhos móveis não t:irdou em afundar com dois pamdos no campo de bacalh.l, o que jamais tinha-se visto
eles. A guerra deixava de sei um curro e agradável passeio, uma viaoem anteriormente. A guerra de desgaste volunt:í.na era, s1mulraneamence,
turfstrca. Os adversários enrrincheir,1m-se do mundo e e mpreendem a primeira guerra de desapa,ecimenro e consumo. Desaparecimento,
baralhas sem precedentes que durarão, como em Verdun, um ano _ de no local , dos homens, dos rnatena1s, <las cidades, das paisagens; e con-
fevereHo a dezembro de 191 G. Os exémtos ;á não podiam ir r vir. sumo desenfreado de munições, de marenal, de mão-de-obra. Pouco a
O re~exo francês é enr:i.o s1gn1ftcarivo. Quer-se preservar inicial- pouco, os elegantes planos de engajamento ou as o,dens de ataque
mente a distância política e retoma-se novamente O esquema comunal cedem lugar a novas considerações: consumo de obuses por metro cor-
fiador da ordem interna. O país é corr:ido em dois por uma linha de rido de trincheira, programa d e produção, orçamento e avaliação de
demarcaçáo:
. uma
. . França "civil" , a reraguard
• .I , con1 seu governo d emo- estoques. Durante u111.1 ofensiva, em 1917, por exemplo, consome-se
crát1co, suas :mv1dades econômicas• e indusrr 1"-. 15 , seti 11 ovo matriarca
· do
de mulheres provedoras (que emprestará• un1 c"ra'ter ., <
,r 'd
, UVI oso .1~
l uras 2. Abd Ferrv, l" g11erre r•ue d'm bm tr d'en h,mt. Carras, no1as , d1scur~os e 1d:uónos.
feministas), e uma França "militar", a zona dos exércitos . ccr ra fc01t1uca
. 'L' d a Gr,1ssec ~direur, 1920. O clcpur.1clo cio, Vosge,, mono pela Franç.1 em 15 de ~erembro
de 1918, deixou aos cuid.1dos de su.1 mulhc1 a publ1cação des~a obra "a p,urir da
dcsmubiliz.ição coral do cxcrciro frances e sem levar em consideração reclamações in-
1. Réplica récnica da engenharia m1l11ar .10, impérios ror-,u11r-·,1110s
· J o engenhc:iro
• rerc~sc1ras ", "Jupld liç~o do campo de bJt.1lha e do Conselho ele .Minfanos. ensinando,
marírimo e do capicali5mo liberal.
desde oç p1 1me110~ mc.1cs de i;ucrr.1. a nc:ccss1d;1Je do conrrole p.,rbmenrar". Nu mero-
s.is passagens aqui comentadas são exrr.1íJas dessa obra capital.
60
61
6.947.000 obuses de 75 mm do lado francês, ou seja, 28% dos estoques em seu entusiasmo, e depois ser bruscamente ceifada por uma metra-
exisrences... mas fala-se também de "consumo cocid1ano de artilharia". lhadora insuspeita e o campo de batalha se cobrir de cadáveres em
A teoria de estado-maior desaparecia, então, nisso que doravante se alg uns minu tos." .
chama de "a guerra prática", que torna a guerra cômoda, isto é, de um Este bravo capitão tivera então uma idéia genial. para remediar o
desgaste mais facil, que a impede de afundar em suas próprias impossi- estacionamento das rropas. Ele concebera "veículos blindados capazes
bilidades. O Ministério da Guerra e o do Armamenro são separados de percorrer rodm os terrenos" e, a partir de 25 de novembro de 1915,
com o famoso Loucheur à frente prefigurando os Bush e os Speer, os passara a defe nder a fabricação em grande escala desse novo ripo de
tecnocratas da guerra cocal. A guerra de desgaste representa um limiar: engenho. E m 31 de janeiro de 1916, colocava-se em conscrução
a sociedade burguesa acred itara e ncerrar a violência absolm a no gueto quatrocentos blindados, e mal eles surgiram no campo de bacal!1a seu
da zona dos exércitos mas, privada de espaço, a guerra se a lastrara, efeito psicológ1Co foi enorme. Os generais logo reclamaram milhares
como que espalhada pelo Tempo humano, - a guerra de desgaste era desses "forcins auwmóveis" ao Ministério do Armamento, esses novos
também a guerra do Tempo. Como as tropas do Ano II, a massa m óvel objetos técnicos que materializavam com ranra perfeiçáo um pensa-
de 1914 fora jogada "ultreia" , mas a baralha finalmenre se reduzira a mento estratégico indo de encontro a uma obsessão do G rande
uma série de ações individuais, uma guerra de suboficiais, uma seqüên- Frederico: "Vencer, é avançar!" Logo mais, Ferry poderá escrever, po uco
cia de corridas breves para a morce sucedendo-se dia após dia, mês após a ntes de ser ceifado no ataque a Vauxaillon: "O moral francês atingiu
mês, no mesmo lugar, ou ainda, de "prolongados lazeres" para homens um grau de exaltação ina udito. No mês passado, os licenciados de Parnay
imóveis, aguardando o fim n o mesmo lugar, pregados ao chão pela consideravam sua licença lo nga demais; eles partiam novamente para o
porência dos bombardeios. Os alojamentos proletá rios na "zona dos front como se vai em direção à folicidade... e viam -se já na Mosela, no
exércitos" substitui a cloaca da "zona urbana". A terra de ni nguém ror- Reno! Dou rédeas soltas a todos os meus sonhos..."
nou-se um subúrbio, um espaço neutralizante onde já não se c umpre a A velocidade é a esperança do O cidente. É ela que sustenta o
promessa do movimento, e a perda do movimento é, a curto prazo, moral dos exércitos. O que "faz da guerra um desgaste cômodo" é o
para a fortaleza nacional, a perda da boa saúde, e d epois, a morte. As transporte, e o veículo blindado capaz de circular em qualquer terreno
revoltas e os motins dos soldados recusando-se a panicipar do assalto elimina os obstáculos. Com ele, a terra não ex1sre mais. M elhor do que
substituem a desordem da malra urbana, o escacion amento das massas veículo para qualquer terreno, deveríamos chamá-lo sem terreno: ele sobe
n_a cid~~e, antes d e_ se tornar, em me io ao caos, "guerra civil pura e pelos r.-11udes, t ranspõe os bosques, panna na lama, arranca na passagem
sm1ples , com o previra Engels a Lassalle, ou ainda desvio para o interi- arbustos e pedaços de paredes, derruba portas; ele foge do vel ho trajeto
or da "torrente de energia do proletariado" (Trotsky) . Em 19 17, n.a linear da estrada, da via férrea. É e.oda uma nova geometria que ele
França, a guerra nacional perdia, junto às massas, seu velho prestígio oferece à velocidade, à violência. Ele Já não é apenas auto-móvel mas
revolucionário simplesmenre porque não conseguia mais "avançar", não também projétil e lançador esperando ser emissor-rádio; ele p rojeta e
alcançava mais a velocidade superior do Assalto, não vencia mais a cor- se projeta. Com ele, novamente, a Morte m a ra a Morte já que faz frente ,
rida contra a morte, contra a m áquina. vitoriosa mente, à rem ível metralhadora alemá. O capitão de Poix rern a
A viagem da massa realizava-se ainda da rua a té a ferrovia, a rua visão proférica de um campo de baralha lireralmenre coberto pela °:~sa
onde se desfilava cantando e ma rcando passos em meio à população desses fonins auto-móveis. Após deixar a rua, o proletariado militar
c itadina que aplaudia a partida da remível multidão a rmada. Depois, perde contato com a estrada. Agora tudo pode se transformar em
0
o plantel militar se erg~ia às pressas sobre a palha dos vagões d e gado, trajetória provável de seu Assalto. O campo de batalha fico~• como
m as tudo acabava muno depressa, como observa o capitão de Poix: talude IJlarÍtimo: sem obs tácul os, inteiram ence percorrido pelos
" ... eu vira tantas vezes nossa infantaria partir para o assalto, magnífica e ngenhos rápidos, os "couraçados da te rra".

63
62
A guerra de desgaste, por falrn de espaço, desdobrara-se 11 0 Tempo. Terceira parte
A sobrevivência era a duração. O assalto em qualguer terreno, ou me-
lho r, sem terreno, estende a g uerra por u m ter reno que desaparece,
esmagado pela infinidade de tr,tJetórias possíve1~. Vemo-nos bna~camence
diante de um novo "direito à terra". To1.tlirái 10, como o di1cico 111,iríti-
mo, ele implica uma outra fenomenologia do desnno para .1s mc1ssas. A
corrida dos carros de Assalto prolonga a corrida desvairada dos r.íx1s
de1J<ando as ruas de Pai is, em I 9 l 4, para inveslir sobre o 11arne, "dcnc1-
deira batalha romântica na qual se concluía a parte a1ca1ca da guerra"
Qean de P1errefou). A velocidade do transporte milirnr já 111i.o é apenas
"met,ifora de um escoamento vertiginoso do tempo existencial" O velo-
címetro do carro de assalto é, l1ceralmenre, para seus passage11os,
"q uantificador existencial", medida do sobre-vivo!
A sociedade
t inreressance observar a atirude dos estados-maiores 111gleses nesse dron1ocrática
m o mento capital do p rogresso dromo l6g1co: desde os primeiros assaltos
continentais, o povo do mar sai uma vez mais ao largo, pouco mteressa-
do em se meter numa baralha concrnental mfrangível. "Poderíamos
dizer que ele prefere a guerra de máquinas'' à guen a corpo-a-corpo,
melhor djzendo, de engenhos. Eles têm 500 mil homens no mar e 3
milhões nas fãb1icas e arsenais. Sc: participam com e1 iden te má vontade
dos comandos unificados, serão, por outro l,1do, 'os primeiros a querer
lançar n um campo de baralha terrestre, ao norce da Somme, 05 "coura-
çados de terra", engenhos de assalto "sem terreno" que conrinuaráo
apreciando, como se pôde ver novamente, no desem), em 1942 .. .

64
Corpos 111capazes

"O l'llf/J, mttr c11m rnnji1rto!"

M c\RICHAL GOL:ll11'G

Hermann Goe1ing rornara-se aviador durante a guerra de 1914


porque era reumático e, na infanrariJ., as longas marchas forçadas eram-
lhe penosas.
No curso de diversos co11f11cos, sobretudo a pa1t1r do século XVJI,
tomara-se consciénci.1 do :igrav:imenro cios problemas de invalidez mi-
litar. Uma ind1íscn,1 florescence se desenvolvera: a ortopedia. Descobri-
ra-se gue os desgastes causados na mccâlllca cios corpos sobreviventes
pelas máquinas de guerra podiam ser compens:idos por outras 111:iqui-
n:is, as próteses. Se, na França, os deficientes silo reformados, ficando
dispensados do serviço militar, o mesmo não acontece 11,1 Alemanha:
em 1914, o cxérctco alemão pr:iricamente nfo adm ice n existência de
irrecuperáveis porque: decidiu J;mciounliznr os deflcwues jlsicos uctl1zando
cada um deles just,11nenre segundo sua deficiência: os surdos-mudos
s5o empregados n,1 attilharia pesada, os corcundas, na condução de
automóveis. etc. Paradoxalmente, a d1t.1dura do mov11nenro exercida
sobre a massa pelo poder mil1t.1r resultava na promoç:ío dos corpos
incap:icttados. A u rtl 1lac;·ão do veículo céc11 1co é cão equiparável à prótese
cirúrgica que levou algum tempo para o estado-maior frnncê~ confiar carros
de :issalco a alguém que não emvesse "doente, impaludado, na proporção
de um 9ua1 to do pesso,11, compondo-se o resto de jovens reabilirados que
jamais haviam en fremado o combate... " (Relatório Renaudel) ·

67
Em 1921, Marinetti metaforiza sobre o veículo blind,1do: o super- llor.:s do Marrocos, mas sobretudo com dezenas de milhares cios inf:rn-
homem é um homem enxertado, tipo desumano reduzido a um princípio gáveis colonos d:1 li:dochina Outros indígenas. como os 111algaches,
condutor e, portanto, decisório, corpo animal sumido no superpodcr do são empregados prefere11c1almcnte em comb,ne... Se a guerr:t 110 111:11,
corn:rndo-se pcrmanenre e coral, e~teve na origem elas pri mei1 as mobt-
corpo metálico capaz de aniquilar o tempo e o espaço com suas perfor-
mances dinâmicas. Foi em vão que se tentou classificai a obra de lvbrinctri lizaçócs de 111:1.ssa, a perspectiva da guerra coral sobre o continente exige,
segundo mil critérios artísticos ou políticos; na verdade, o Futurismo com toda a evidência, desde 1914, um novo projeto social, um tipo
deriva de uma arte apenas, a da guerra, e de sua essência, a velocidade. inédito de prolerarização.
O Futuri~mo fornece a visão 111,1is ac.lbada do cvolucioni~rno A guerra prrltzca dividl' o Assafro cm duas jàsi'J, a primeira cl::is quai~
dromológico de seu tempo: a medida do sobrevivente dos anos 20! é a criação da ossatura original dos fururos campos de baralha. Essa
No plano real, porém, o corpo humano que se envolve na "alcova de ossawra são as novas vias, as novas estações, o alargamenco das estradas,
aço" não é aquele do dândi guerreiro :itrás de sensações raras da guerr:1 e d:is vias férreas, o telefone, as rnnche1ras, .1s linhas de evacuação . os
sim o corpo que se tornou duplamente inc1paz do proledrio-soldado. abrigos, etc. A paisagem, a reira é agora destinada. consagrad,1 definit1-
Privado, desde sempre, de vontade, ele agora precisa ser fisicamente vamente, à guerra 1 eh massa cosmopol ita dos trabalhadores, um exército
auxili:i.do por uma prótese veicular para poder realizar sua taret.l históric.1, de operános falando rodas as línguas, Babel d:1 logística... Tanto o arsenal
o Assalto. A superpotência cinética do drornomaníaco é bruscamente como o pessoal militar ,1ssu111em agora um ctpo de comporramenro
desvalorizada. A guerr;i de desgaste j:í havia revelado o desprezo com pacífico, ou melhor, político; eles retornam à rede vi:í.1 ia... Instalam-se
que se mantinha uma massa móvel reduzida à inação, bem como :1 assim as premis~as do que vir:í a ser a dissuasão. a reduç:io do poder a
natureza dos tratamentos que lhe eram reservados. A g,,,erra pd.ric.1 favor ela escolha da melhor crajecória, a sobrevida em vez ela vida. O
desvelava sua impotência como agente dromocr;ítico dominante, moror e status quo é o desgaste da cerra. Em 1924, o monge militar Teilhard de
C hard in escreveu em Nlon uni11ers. "Ainda remos necessid:lde de canhões
produtor ele velocidade sobre o continente. Entrernnro, depois ele o con-
cada vez mais parentes. de blindados cada vez maiores, par,1 materializar
flito cotai ter consagrado a falência das teorias de estado-maior e o triunfo
da guerra industrial, sentia-se, em compensaçao, dos dois lados. uma nossa rigressão do mundo."
A inteligência dromocrácica núo se exerce contra um adve rsário
necessidade insaciável de mão-de-obra operária. Os procedimentos de
prolerarização militar se revelavam mais do que nunca i nd issociávets militar mais ou menos determinado; ela se exerce como um assalto
permanente ao mundo e arrav~s dele, como um ,1ssalto :t narnrez.-i do
dos de prolecarização industrial p:ira os gener.iís que haviam se
homem. O desaparecimento ela f,1u11a e da flora, a anu lação da~
transformado, involuntariainente e a con trngosto, em ''org:rniz:1dores
de territórios". economias naturais, ~~o apenas a lenu preparação de desrru1ções mais
Ferry observa: "Todos sabem doravante que existe a estrutura de um brurais. F::rz.em parte de u111,1 economi,t mais vasta, a do bloqueio, do
campo de batalhtt... Toda a organização técnica do terreno é necessária e cerco, isto é, das escratégias ele inanição. A gue1 ra econômica gue assola
se forem precisos 200 mil homens p:tra realizá-la, o Ovoverno neuociará atualmente a Terra é t:i.o-sornenre a j:,sc lenta da guerra declarada, de
0
com seus a11.ad os... ""H á países como a lt:ília ou Porcug:il com reservas um assalto dpido e breve por vir, porque é ela que perpetu a, na não-
admiráveis de homens ... Os recrutamentos que a guerra exige passariam batalha, o poderio militai corno µoder de classe. A casra dos caçadores/
até desapercebidos", escreveu um comissário, em ournbro de 1916. Os raziadores sempre foi im produciva, apesa1 de abastecei· seu g1upo de
governos negociam e intercambiam prontamente seu plantel de crnb,i- alimentos. Simulcrneamente .10 desenvolvimento da ciência d::ts armaS,
lhadores, gabando "sua resistência às baixas temperaturas, sua sobrie- ela nunca descuidou cios mécodos de inanição, do que hoje se chama
dade e resistência no trabalho"; eles se abasrecem, em granclc medida.
n::ts possessões coloni::tis, de crioulos e negros do Senegal, de trabalha- 1. Pierre Nord, Doubl,· crim~ mr la l1gni: Mt1gim11.

69
68
de jood power. Assim, quando Veneza, essa nação Autuante, ess,1 p:1rria .u1 d',genas liaviam
. 'aprendido
. . a se ow;inizar
o
mil1t:1rmenre no, Oeste; quanro.
onde nunca se punha "os pés em cerra", deixa de ser a primeira pocéncia aos outros sarélites colo111a,~, eles colabor:w,1m com ,1 pol1t1c:i grcg,1. ,F~,
econômica e marítima devido ao descobrimento da América e :1 nova então que Acenas renunciou ao seu sistema de penetração extens1~0 (rap1-
política atlântica da Europa, logo ela se volta, prcmoniroriamente, p:ira do) para ,1dorar um sist~rna de pene~r,1~ão intensivo (lenrot os engapmen~os
o interior, para o potencial :igrário e ,1 propried:ide do solo, porque sabe rnilicares no interior foram subsm111dos pela revogaçao das ec~no1111as
que a perda do sea power reprcsenca a ameaça im ediata de ter de se . wrais do interior (reforma ag1ária, urbanização. criação de ofic1n,1s e de
11,1 • d. ,
submeter ao food power: sempre :1 lei das du;1s hum::1111dades. T:1111bém fábricas, etc.). As comjm* de Atenas espalhadas por roda ,1 bacia me 1terr:1-
os Estados Unidos, depois de seu primeiro insucesso no processo de nea, desabal
~ , 1do sob,e as economias das grandes cidades, criaram unrn rnl
l ..

conquista intensiva, dos anos 30 (o "declarar a paz ao mundo"), levam inAação nas trocas que fo1 fatal para o equilíbrio de Esparra. em_ particubr,
hoje uma guerra imp iedosa contra ,1 Europa Verde (campanha conua que optara pela solução oposta. a preser~~ção do_a~arelho do Estado 1~e~a
os camponeses, aquisição das indúsmas alimencíc,as, gue1 ra da colza, anulação do movimento (milttarlmonetano). 1 Austotcles escreveu o ep1rn-
etc.). É justamente a "futilidade d,l riqueza" que funda a conquist:i. A fio do sistema de Licurgo· "O objetivo essencial de codo sistema social deve
política americana dó d6la1 não passa de um dos signos do rrcscirnr:nto ser organizar a insciwição milic.~r como rodtZS m outras." Em Esparta, acon-
intr:rmvo do poderio militar americano 111omenrane:11ne11re despojado teceu o contrário. Na primeira democr:icia helênica encontram-se j,1 reunidos
de seu crl'scirnento extensivo pelo fracasso no Vietnã e o status qllo nuclear; a maioria dos grandes temas do Ocidente. exceto o principal: a mobilidade.
mas convém também admirar a rapidez com qLte os E~t:1dos Unidos Apesar de ter sacrificado tudo p,1ra fazer do Esrado uma máquina de guerra
souberam substituir os bomb:1rdeios geocstratégicos sobre o Vietnã do exclusiva., a cvencuaJidade de sua colocação em movimento por um conflito
Norte (destruição sistemática da flora, da fauna, do meio rural .. .) por real parecia temível aos lacedemônios, como se os azares e as incercez..1s d::i
11111 im p ressionante abandono de material tecnológico no momento baralha pudessem quebrar sua excremamenre precisa mecânica milicar. 4
mesmo em que se retirava m apressadame nte, transform,111do seus Já se disse dos esparranos que eles foram um povo sem história,
adversários em seu melhor cliente, como deixam transp:1recer as recentes que foram, na realidade, um povo que, por sua hostilidade a qualquer
declnraçóes de Giap. 2 Métodos dromológicos imellloriais: 110 sécu lo forma de metamorfose conscitucional, recusou a História como referência
XVII, quando Colbert lança sua polític:i econômica com a intenção ele cinética de sua existência. Primeiro não se voltando para o mar e seus
fomentar umn "riqueza nacional", ''um produto nacional", ele prepara impérios veiculares, isola11do-se assim do conjunto d.is cidades helénicas
o esforço de guerra de Louvo1s ''cuidando de ger:ir 11ecess1d,1des", de- para se instalar no coração da Grécia e colonizar os messênios, gregos
sencadeando em seus vizinhos, segundo Sir Wi lliam Temple, "o consu-
mo prodigioso de seus tfo numerosos produtos".
" C01 uj:1~ de Atenas - 111ucd.1 d.1 G1éci:1 Ant1g.1, .tssi m cha.n1.1d.1 porque rr.121.1 :1
Louvois inspirava-se di ,· etamence 11,1 proletarizaç~o ronuna par.\ cstamp:i de uma coruJ,l, nn homenagem a P:il:i, Ace1u,. (N. do T.)
seus canteiros ele obra da guerra. Colberr, por sua vez, reproduzia o 3. E!.pa,t.1 cqu1po11-,c com visr.1s ., rc:1 lizaç:io d t· SCll rour de fi11n~ .. N~o 1~0.ckría-
sistema econômico ateniense que acabara destruindo o poderio 1110s nos forrar a d1sccrmr nessa .1d.1pt.1ç:in algo além d e uma e,,oluç:ío :111ro'.11.mc:1 A
mancí1:1 metódica (; ccn:11. com que rud o foi oricnr.1Jo para um ob1cc1vo unico no~
lacedemônio: como escreveu Lyautey, em 190 L, "a tática de penecraçfo obrig:i a ver aí a 111tervcnç:ín de um o rdrnador co n,cicn re: ri orisrhu.í,1 de um º'.' ~o:J
econômica equivale perfeitirn1enre a todas aquelas ensinadas na Escola de homem trabalhando num,, mesma cl,reç:io e CJ llC tran,fo1 m.1r:1111 a:- inscin11ções pnm,n-
.
vas para fazer dei.is o :igngê e o Cosmo,, e' uma 1Hporese
· · " ., "D'·
nece,,an,1. '" Grundla,,cn
·o
Guerra"... A expansão dromocrática da Grécia c heg:ira, rarnbém ela, a ser
des spa1ra11ischen Lebcns '' M. E Nib,o n cm Kií,i, volume XII. .
bloqueada em todos os sentidos pelos scat11s quo militares: os bárbaros . 1o por on d e envercclou na enc1 uz1-
. I10 o 1,snnac
4 . Espa1Ta p:igou o preço d o c.,mm .,
lhada de rumm do sécl!lü V III :1.C., condcn:111do-sc :, 1mobd ,dadc no século Y I, ª,JHt-
s outro~ 11c cnos
scntandn a1m:1s como um ,okhdn no dc,filc no momcnro cm q,_,e 0 •
2. Agosto Jc 1977. O, parlamentares americanos aprovam a concc,s:ío de C1éd11o, . • ,111f,c~nvos d ~ 111sto
. 'r' a
1.
tomavam n partir em um dos mov1ma1tm p11m f/ fi·ente 111a1s "~ · . ·
do Banco Mundial par:1 ú Vietnã, mas também para o Camboj.1 t: para Angol.1. helênica. Arnold Toynhct, \¼r mui Cívilnzruion. Oxfo rd Un,ver5iry Pre~s.

71
70
como eles. Depois, eludindo durante quase dois séculos, a parcir d:1 geral e positivo da história reria emergido 110 s~~ulo ~~Il i ; s,ó te:.i ~
experiência de Licurgo, as conseqüências de seu poderio milirar, ao fornecido m:1tcnal para obras 1111po1 rances a p.irrn do ,e<.:_u lo XIX, e c1r.1
esquivar-se das seqüelas de suas vitóri,1s. E ser:í jusrnmenre a virória 0
exemplo de um grupo de eruditos, j11ristff), cm surl rnruona, que propõe,
sobre Arenas que subvertcd a pcrfciçfo do Estado milic:1r esparrnno: "A na mecade do século XVI. segundo a expre%5o de um deles, La
época em que a Lacede111ô111a sofreu os primeiros sintomas de su.1 doença Popeliniere, um:1 "1déi,t da hisró11a pe1 feira". Na me~ma ép~ca, o~ novos
social coincide com o momento em que ela abateu o fmpério ateniense Escados europeus rendiam a rcst,1belecer entre eles a noçao de guerra
e se apoderou de seus metais preciosos ... "(Plu rnrco, Vida de Agis). Jegfcima, legalista. mesmo (à maneira romana, Tiro Lívio, 1. '32, 5-J 5)
O que as armas não tin ham co11seg11ido fazer, a guerr;1 econômica A idealidade histórica do Escada se desprende no momen tO em que ;i
consegui ra, e o dilema do status quo, do não-cng:1jame11to milit::ir, esr:1v:1. própria guerra renasce sob fo1 nus ideais e, devido à cc11trali1.,1çfo,
resolvido de uma vez por rodas, não somente para o mundo medicerd.- disriiwue-se recnicamencc d;1 ~imples expedição pun1t1va e :1fosta-se
neo como para o mundo ocidencal futuro de uma vez por rodas. dos c:mpromissos locais para se reaproximar de um conce1co original
Depois do desmoronamento da máquina imóvel de Licurgo resr:1 - rigoroso. Com efeito, a história progride 11:1 velocidade do sistema de
va, na metade do século 111, apenas uma centena de espartanos propri- armamento~. No final do século XV eh ainda é, para Commynes\
etários d e parcelas do Estado. O resw da população, segundo PlurJrco, uma lembrança esdvel, um modelo a reproduzir; os anais s5o sazo11:1is,
transformara-se numa multidão misedvel e sem qu:dquer esraturo legal. como a gu erra. recomando rodos os anos, na primaver:1; o tempo linear
massa social a quem o Estado militar não cus111ara a viver sen:io p;i.1.1 é eliminado, como j:\ acontecia com a fo 1taleza antiga, onde "o inimi-
uma guerra que não ocorreria mais, e que j:1 nã.o sab1c1 m:1is o que fazer go-tempo" er:t vencido pela resistência esr:í.tica do material de constru-
de sua existência. Quando o próprio Esrndo p:1.ssou a viver apenas dos ção, pela duração. A criação histórica começa .1 func io nar também _à
sonhos do p assado, da sobrevivência de alguns costum es s,1dicos, rodo maneira das antigas máquinas de guerra q ue executavam seus movi-
o mundo espartano afundou na anom ia. mentos destrutivos no próprio local, mesmo depois da invenção das
O Ocidente repete, i ncessa11cemenre, :1 liç;io de Plurarco, "obede- bescas e das carap1dr,1.s (po1 volca de 405. no cerco de Morz,1) . Se Hegel
cendo a uma lei que nem mesmo conhece m,1s que poderia I ecitar dor- "se aborrece com a leirn ra de Tiro Lív10, ao vê-lo reperi r uma boa centena
mindo": o estt:tcionarnento é a morte aparece-lhe eforivameme como a lei de vezes os relaros das ba ralhas contra os Vokos", concencando-se, às
geral cio Mundo. O dromocrata s u foca incansavelmente o democrata d:1 vezes, e m dizer "naquele ano houve urna guerra vitoriosa contra os
revolução ongi nal de L1curgo ... de Mao. B asta ouvir os discursos co 1- Volcos", lamentando ainda o "c:1r.ícer abstrato" dessa representação. é
re11tes dos novos d irige n tes chi neses fo lando de "bens de consumo" que o conteúdo histó ri co é liceralmenre o de um comunicado
para saber que o velho pens,1.dor só conseguiu reta r<hr :i 1nsr;1.urnção do (comparável ao que representam, 110 século XIX, a monórona minúc1,1
temível sistema de crescimento intensivo do Ocidente na China, dos re btórios da polícia secreta para uma sociolog1a que conieça a se
veiculado pouco irnporca se pelo marxis mo ortodoxo ou pelo liberalismo! expandir na massa , as primeiras efemérides das sociedades planejad as).
Da mesma forma, Hitler só pôde desencadear a guerra-relâmpago Trata-se de obras mais pníricas, aliás, do que H egel imaginava, e se T i to
vale ndo-se do sistema eco nômico cio doutor Schachr, e Roosevelt, :1 Lív10 retoma incansavelmellte a litania de seus come11rár1os6, é que a
g uerra coral, graças ao New Deal.
O estacio namento é a morre, lei ger:il do n1t1ndo· o Esrado-forra- ·· Commyncs ou Crn1111i11es, Philippe <lc l.1 Clycc, cro n isr., h1~rórico fr.rncês qu,c
·
viveu 110, século, X\t r,XVI . :iuror te
I M cnu11reJ,
' · J ,vro q u e • do, 1cinados de Lu,s
, e1-a c·i
leza, seu poder e suas leis estão nos loc:tis de grande circulação. Georges
XI e Ch.1rlcs VIII . (N. do T.)
Huppert, num livro recenre5 , ataca a idéia segundo a qual o sentido , . . . rnedn ica do rran,c e .1
G. Anre~ da h1scor i:1-poc111a 011 c.111ro mmco, cx,Hc a ·
. . . _ . · hdc. "N:io somos gucr-
pcrsi1rcnc,a de ,u.1, curr,1, 111vocaçoc, ,1uL cr1;11n a 1111 .11111111C • . • ,
'í. G.:orgc1 Hupperr, l'idéc de l'hmoirt' pmjiute, Flamma11011, 1973. • . " (Leu ,s). E csre cam-
rciros 111.1,, de repen te, acrcdHa111<l, se-los e a gucrr.1 começa. ·

73
72
repctiçao era então o meio comum de se ati ngir campos mais vastos, Grécia antig:i 0 11 os bortijj • argelinos O p:ipcl feudal é semicolonial
um projeto c:m Ltl rso. o matet ial de consrruç:10 do rel:ico so podendo pois disrtngue perfe1ramenre o domímo dr1 ··1-r11 .1tr:1.vés d.t ocnpação
fun cionar quando repetido ce 1n vezes, porciue a0 ser repetido, elrn1ina- milit:ir de sua propriedrtdc ji111diríria po r p:uce do '.ltttóccone. Para o
va os azares e fozia da Razão 11as históri:1s uma m áq uina de guerra empc- Estado dromocrrí.tico, o domínio ela terra jrí é o domí,úo de suas dimensões.
nhad:i em nela desdobrar suas figur:is por duplic1ção Era n:itural, O d ireiro cadastral antigo não perpernava outra coisa, como escreve
igualmem e, que no m omenro cm que a arnlharia e :i vi:1ção 111ilit,1r se 0 coronel Barrader, em Fossatum Aji-,caC': "A Formação de ce11tt'trias é o
transformavam , norachmc:ntc com Su lly, e111 parre do sistema do Esta- fund:rn1enco mesmo da educação d.15 massas, de su:1 civilização.'' .. . "a
do, a linguagem histórica literalmente passa do comparativo :10 positivo, marca í ndelével de uma ro111ad,1 de posse que divide pnrrt dominr.tr... "
isco é, sem compttrrt(rto de mtemidr,tlei O acesso à história rorna-sc aces~o Esta clicocomia indelével é a qtte cxisce entre a n:itureza do poder/mover
ao mov imcnco, resu ltado longínquo do acesso ,10 poder d.1queles "err:rntes do invasor e '.l relativa impotência de se mexer, de se desloc:ir, do pro-
dos confins, vadios do Apocalipse, vivendo sem preocupações marcriais prietário fundi:írio ou do trabalhador/p rodu tor seclent.írio preso à sua
à beira de seus abismos civilizados" (J. Gracg), daqueles povos que apa- parcela, entre a geografi,t do habitante e a geometria do passante. O
recem e desaparecem nas fronteiras do Império romano, "zombando da traçado da via ,omana, dur:inte a m a101 parte do tempo, é a penas um
guerra" e aos quais, .1crescenra Tiro Lívio, não era possível chramenrc se traço con tínuo. re~ervado, do c~qnema ger:il de centuri,t<,:Ío . É rudo
impor. No início de nossa era, essas elites dromocr,üicas vindas d a muito simples, porta ll[o. O Es rado militar esr:í. na estrada; o pagamento
Germânia, das margens do DanLÍbio 011 alh ures, avanç:m1 fina lmente do imposto cadastral é avaliado por metro percorrível e, porranco,
sobre a Europa Ocidental. Repentinamente, não é mais a força que cria defensável, poder-se-i;1 dizer. pelo exército, pela tropa de cavaleiros,
o direiro mas a mvasfo, o poder/invad ir. À hierarquia do reide, nascida "essa povoação de luxo". A função semicolon1al sempre foi uma extor-
sobre o itinerário do êxodo dese nfreado da multidão de caçadores/ são para dar proteção onde a segurança da massa produwra é garantida
raziadores, segue-se o protocolo da parada e ela d ivisiío. Quando esse pelo tributo, pela rerribuiçiio de uma supervisfo cécnica eficaz do
poder dromocrúico se ancora abusi,,amente no território europeu, ele tert ic6rio. Do mesmo modo, a aclmintscração carolínge:1 ser:í uma
não muda, durante .1lgu111 tempo, a natureza de seu esquem,1 consrim- "administração q ue cavalga" por conr:1 de um Estado dromocr:ítico pouco
cional e, sob su,t aparência dispersa, a organização d.1 sociedade feudal interessado em subverter sua constitui çiio interna, fundar direiws
conrinuad sendo a de uma tropa em march.1 . "As rclnções emre os fundiários heredic,írios, ou mesmo em :11npl1 ar os domín ios reai~, exceto,
diversos senhores eram precisamenre definidas e. apes:ir das negocia- precisamente, ao longo dos gr;1ndes vetores (a Mosela, por exemplo) .
ções e das disputas, guando uma guerra importante ou um:1 cruzad.1 Ali reside "naturalmente" sua morfologia, proc urando meter a mão em
reunia essa genre sempre arm;id,1, cad,1 cav;1le1ro sabi,i exatamente onde todos os meios de comunicação, na ideologia religiosa, moeda, s:iber,
se co locar." A distribuição hiedrquica já é uma ordem d e percurso, e a comércio exterior, meios de cransporce e de informação, etc.
ordenação do território, um teatro ck operações. A arquiterura das casas Os capitulares carolíngeos aconselham aos "senhores da terra" ins-
de comando desempenh:i o mesmo papel qu<:: as cidadelas tess,Hicas da tal:idos n as antigas 11d/11s roman.1s, pouco :i pouco transform::idas pelo
uso em c:1sas de comando, que limitem o culrivo e tratem de preparar
hém o ubjcri vo do prep:iro p~icológico do, corpos de dirc, das reunicíc, políric:,s, da~ a aliança dos pequenos e médios propnet.í.rios autóctones, e :ué mesmo
ccri111í\nia~ rnili wrcs ... Inversamente, as aurnndaJcs esparrnna, dcscncor.1j,1m os hahiran- que lhes concedam um cerro direito de defesa mi lirar local. A dominação
rcs loca" de c11 lrivar o canro, "esra arte que, como observ:1 Toy nbec, rem porém innca~
do conj unto rerritonal pelo ocup,111te do donjon (torrcfio fonificado,
a11nid.1des com a do soldado, a ponro c.le ser considerada como :1 mel hor picpar:i~.ín l':lr: t
:1 for111.1çfo rn 1l1 rar no mundo ocidcnr.11 moderno'' Maç eia ,gualmencc proibido .ios
do latim clomin us, senho1) é ai11 da cllllen izacfa pel:i precaried:ide dos
c,p.irranm h11sca1 1ccordc, nm grandes jogos .1 tléricos pan-helén1co, - cm ,uni:i, quJlquéi
.ilus;io :1 11111a progre,;fo c1nérica er., eliminada da consriruição • llordp- consrruçõc, fomfic1d:1, 11.1 Áfric.1 do N,11te. (N. do T.)

74 75
meios m;iteriais daquela que 11ão passa de uma minoria mil1r:ir dispersa e conn
• ,
fotograro • num livro de memóri.1s que sua primeira cfim:1ra
. escura
_
e esrrangeira, adscrita, portanto, a um controle limitado do esp:1Cro e ·esta luminosa em sua janela fechada. Nesse sentido, o corrcao
era uma fl , .
das sociedades, à soliciraçfo de um;i concnbuição por pane do corpo
fortificado original desempenha o papel da cronoforografia de .Marey: a
social aucócrone. Foi t:tmbém por razões de segurança que os nobres ronda militar oferece ao invasor um:1 visão constante do mi:10 social.
francos prderir:1111, a1m: a co111plex1d.1de impenemível d ,1 c1cl.lde original,
uma primeira mformação sobre o meio. .
a cransp.irência de u m campo povoado, e logo superpovo:1clo, ele rraba-
A prerrogativa social forma-se a parnr do ponto ~e v1sra ª'.ues de
lh aclores mais 011 menos independenres, ocupaclos in1cialmenre cm v:1s- se liaar à da fortuna ou do n:1sc1menro, a partir da pos1~ão rclanva q~te
tos trab:dhos de cultivo e depois na conserv:1çJo do 111eio c1rcu11d:rnre.
se cinsegue ocupar e depois organi1,a1 m~m espaço do11:111a~1do ~s traJe-
Além disso, porém, " tmnsJJarh1cr11 ria ârca cultivada é a m:1nuren~·ão rórias elo movimenro, os pontos estratégicos de com u111caçno: no, mar,
do direito específico do invasor sobre o terricóno onde pretende ~e
escrad a, Po,1 [e· D aí :iquela
· · ' extraordiw\ria
' · diversidade nos rr ttamenros
.
fixar, ele seu pocler de penetração. Erguer o ouce1ro, e depois. o rorre:io sociais na Idade Média, diversidade que traduz simplesmen ,e a vari_c-
forrificado, corresponde ainda ao domínio elas dimensões , este se dade das visões geogdficas sobre um "reino" gue, aré o séculc, Xl><:, n_:10
tr:rnsformando em perspectiva, geometria do o lh:1r .1 partir do ponto
aparece nos cexcos corno u m conjunto cerrironal formal. O direito
fixo ubiqüttário e não mais, como an teríormc11te, a partir do 1cincr:irio
heredid.rio, concedido a contragosto cm 877 por Carlos-o- Calvo
sinótico dos cavaleiros. É sig n ificativo observar aí o culcivo da terra
(Capiwbr de Kiersy), rransformad a posse do lug:1r dom_in:111t~ em
circunscrito a uma exploraç:io intensiva cbs parcebs desmatadas e não
domínio social permanente. Um exemplo célebre é o dos Grnnald1 , em
estendido aos ermos m ais próximos através de um novo salro :1 freiire
Mônaco: desde a pré-história, o rochedo domi nando o mar é .un~ pon-
da aventura p1one1ra. 7 Explicou-se este fenômmo de contençii.o por um a to privilegiado; ele mudar.í de mãos dive rsas vezes, na Anrigu1dade,
insuficiência das técnicas agrícolas, m as, ao q ue parece. é preci~o ve 1
antes de os G rimaldi asruciosamente ~'- apoderarem dele. Do século X
que nesse caso, além das necessidades materiais evidentes - caça, roleta,
em diante, essa família jamais deixad ele auferir honras e privilégios
recolh imento de madeiras p,ira construção num .1 fl oresta p1óxima, etc..
dessa apropriação inicial de 11111 ponto de vista dominante. P:ira se falar
- , pesavam mais as necessidades esrra régicas imperiosas cnad:1s pelas
entfo de sociedade de classes, é preciso fozé-lo designando as classc:s
insuficiências técnicas do protetor militar q u e as cio agricu lcor ou d o por seu lugar, como esboçamos a 11 te1iorm enre. Se há luras_ ele classes,
desmatador, aos quais o senhor clevia prestar assistê ncia e socorro e111
e las se travam abe1 ca men re n os cam pos, visando a conqu 1s t:1 de 11111
caso de perigo. Descobertas recentes desvendar,1111 as reh1ções exi5tente~
ponto dominante. Q uando a cid adela ou a forraleza é sir_i ada, não _se
entre os limites do roçado e os da visão humana a partir de um sítio
traca apenas de um acontec1menco mi litar o u mesmo P?líc1co, mas sim
elevado. O pioneiro é chamado mai5 clar:imeme ele pathfi.11rlcr"' pelos
de 11111 acontecimento social... conflitos graves explodiam, por exem-
anglo-saxões. O roçado, o ab.1stccime nto de hortaliças pelas parcelas, o
plo, quando a missão de proceçfo, os limites da apropriação militar,
recuo da escuridao flores cal sií.o, na verdade, a criaçií.o de u 111 :rn reparo
eram infringidos pelos vassalos, de '}Uem os " sen 110 res cl a rer:a "
militar como cam po Lle visão, um claqueles desertos fro11teiriços a que
pretendiam cornar-se donos, isro é. reunir exclusivamente em s~tas maos
se refere ]Íl lio César e que, segundo ele, representam a glória do Jmpério
os dois esquemas de :ipropriaçfo espac1,1I elo território, esp, ,l1a'.1do o~
porque são como que invasiío per111:1neme eia cerra pe lo olh:u- do
autóctones e tentando reduzir seus d escendentes à funçáo de :,'rv1 ca,att,
dromocraca e, mais ainda, o nde :i rapidez dessa visão privada 1de.1lmenre
ao destino ele escr:ivos arrendar:írios da parcela, m:io-de-06 1 a privada
de obsdculos faz com que o distanciamento rtproxrmc... U m con hecid o
de seu direito de defesa militar.

7. Gcorgcs Duby, Guerriers etpnysnm, G:1 llim:ml.


• Pr11hjimla- do inglês: b.1t1.:dor, guia, explorador de rocas. (N. do 1~)

76 77
2

Assalto aos veículos metabólicos

FRUll 1m:o 11. .1 sc11~ ,old.1dos

A fase exrensiv:1 do As,al to exige morres rápidas. ;1 fa~e twepar:uó-


ria e 11He nsiv,1 lllílige mo rres leIHas. C o mo escreve o ce11c 11re -gencral
von JV!ecscl1 em Wic wiirtlc ci11 11eua J<rieg rw sschm? d111 ance m :1110s 30:
"Na gue rra que se cornou roral, tudo é fi'ont! M as em me io ao novo
fi~ont tor.11, co11vé111 comprec:nder n _ji-ont csp1ntw1! ela w1çrío... u n to 11:1s
questões pr:íricas pa r,1 a preparação do 1c:u111a111en ro q uan co nas ques-
rõe~ mi litares cc6ric 1s, a q uestão 11101:il esci cm prnnciro plano.''
Na~cida do 111a1, ,1 guen a tocai vis.1, segund o o alm1 r:111ce FriedriLh
Ruge: "desrru1r a ho11 1a , a idenndade, ,1 própria alma do advers,í.rio".
Atingindo os povos com 11101cc lenta pela desrruiç:ío de seu habi rar, ,1,
formas úl timas da guerra ecológic1 mode111a rerom am bizarramente: ":1
al111.1'' em sua~ definições pnm1rivas, "ecnolôgicas" " 111a11a" , su bsc~nci.1
porc nc ial n ão di ~·eren c1:1d a d o me io , n ão ind1 v1dua l rn as pl ura l.
mul nfo rme, "fluidifo 1111e", m:1is 011 menos coagulada aq ui ou ali 110~
corpos (soci .1is, :inim:1i s, ra n rnri,1is.. ).
O p rogresso d ro rno lógico, ,10 impo1 .1 idéia de do 1, u po~ de co 1pos,
rnbudnos de su:1 situação 110 esp:iço, 1111 póe r:1111 b~m a idéia de dois
ripos de .dma, uma, fr.1c 1s, indecisas e vulncr:í.veis porCJue ,, rribur~rias
,,
d e se u h:1b1r:ir, o urr.1s poderos:1s po rqut: coloc,11.1111 seu 111a:1a , s ua
voncade, fo ra de :ilc,ince, graças à rn,1 dc:sterrirn11ali1,:1ç:ío, :1 sofisncaç_ão
de su:i econom ia e de seu ponro de \'Ísra . Cl.1usewirz 11ão diz o utra coisa

79
quando responde à pergunta: "O que é a g uerra?'' por "a guerra é um tracionando engenhos, presença fan rasmagórica no relato histórico de
ato de violência visando s ubmeter o adversário ú nossa vontade''. Não uma população Autuante ligada à ,,uisfação d,ts exigências d;1 lugíscica.
se pode excluir da gue rra o problem:i das vontades, a inda que Clausewicz Nos diferentes d omín ios descritos no~ polípricos no século IX, na
mutile imediatamente sua d efiniçiío e a derurpc apressa11do-sc cm afirmar Europa ocidental, menciona-se a existência desses forcwes cuja massa
que não exisre v10li?11 ....1a moral fora dos conceiros do Esrndo e da lei. pmais foi inferior a J 6% da população recenseada. São rrabalhado_res
Com efeito, mais que objetivos de gL1erra políticos e inreligemes, m:1is migrantes indo de um 111.kleo populacional a ou tro sem que o cu ltivo
que riv:dicbdes socia is ou nac1011ais, a defi nição de Clausewirz fÍ s ugere das terras e sua ocupação lhes seja con ced ida, exceto n a Germània e.
n crirtção ela )resença no mundo" de corpos Jcrn vo11tnd1' M:1is do que rnlvez, na Champanha. Assim, esses excedentes sociais, tfio p:1recidos :1
com a a rre da gucrr;i, pensa-se aqui na "récnica dos corpos animais". esse "quarto mundo" dos subúrbios periféricos con temporâneos, nascem
dicotomi a indelével e ntre o poder/mover do invaso 1 e a 1elariva d ireramence do Fenômeno de preservação estratégica de q ue se tra tou
impotência dos reba nh os de rra balhadore5 p:1ra libe rt,11 sem anteriormente, do controle social fe udal e depois, comunal.
movimenros. lmpõe-se ao longo da H1st6ri:1, conform e as épocas e .1s Com efeito, o funcionamento o rgân ico da fortaleza só podia ser
latitudes, a multidão de corpos sem a lma, mortos-v ivo~, ,.11111b1~, assegurado pela inspeç:ío de seus 11 mices, d,ls cifras sob re as populações
possuídos, etc. fm põe-se a destruiç~o lenta do oponente, do adversário, e das áreas de extens:ío. O cálculo estratégico se identifica com o cálculo
do prisioneiro, do escravo, economia da violência mili tar equiparando estatístico. A fortalen, com s uas e ntradas e saíd as, é um prim eiro es-
o planrel humano ao :m eigo rebanho roubado do c:1çado r/r::1Z1ador e, quema do calculador estratégico. A fixação da sociedad e armada da
por extensão, nas soC1edades européias que se milnarizam, se m odem i- Tdade M édia implicava então o d esaparecimenro de um habitar até
z:.rn1 , a destruição dos corpo~ sem alm a cbs c rianças, das mulhe res, dos então concebido como comum, o desaparecimento do espaço civil, isro é,
homens de out ras cores, dos proledrios. Na guerra total, o poder nazista do di rei to ordinário d as pessoas ao espaço, à sua qualificaçfo. J:'i não se
11 iio fod ou tra coisa ao criai· um front social interno contra os co rf)OS pode mais falar de "sociedad e de classes" sem pesquisar o esquema
estrangeiros dos j udeus, do~ ciganos, dos eslavos. Os ompos de poliorcético da sociedade medieval, esta volta ao velho d1he. a Razão
deporrados niio p.usam de locais de expcrimen r,1ção onde o phn re i é seletiva substi tuindo o direito civil pelo direito político, como n a ref:lexão
tratado indusrrialm eme. Exploração nas min;is, nos can teiros d e obras aristotélica: " O s ar istocratas buscam a pluralid ade das posições
log ísticas, s ubmissão a experiên c ias m édicas, sociais, recuperação fo1al fortificadas. As acrópoles convêm aos regimes oligárquicos e os lugares
das gorduras, dos ossos, dos cabelos... ou solução fin al mais Feliz, valor p lanos, aos democratas." Como a política é uma questão de terra, assiste-
de rroca contra o utras fontes de energia, co!llbustível, cam i nhõcs e ve- se ent:ío a um verdadeHo corte do tempo e do espaço humanos que põe
ículos militares por meio de países neutros, roda uma econom i::i. cl:íssi - fim à nação de pax rivile; os conflitos sociais nascem com as nvalidades
ca que é a do reftm, do rapto, elo deslocamento, formas privilegiadas da entre os que ocupam e conservam um ecossistema como o lugar que os
violê ncia d romocrát 1ca.
especifica como família ou que os agrupa e merece pois todos os sacri-
A precios;i lição dos ca111pos e dos gubgs niio foi perce bida n:ío só fícios, inclusive a morre st'.1b ita, porque se ''ser é habitar", c m língua
porque foi abusivamente apresentada como 11111 fenô meno 1deol6gico, germânica a ntiga o buan. o não-morar, é não ser m ais, e a m orte imedi-
m:1s rambém por pnrecer nm fenômeno esdcico, um encbu~mamen co. ata é prefe rível à morre lenra para quem n ão é m a is aceito, o rejeitado,
S 11,1 absoluta "desumanidade" era ape nas :1 reintroduç:ío ostensiva do isto é, o homem privado de espaço específi co e, portai1to, de identidade.
bestiário social original na História, da m assa imensa dos corpos domés- E rn suma, a Idad e Média das fortalezas s ubstituiu o acolhim ento
ticos, dos corpos desconhecidos e irreconhecíveis. Efetivamente, 0 que primitivo, a anciga hospiralidade sagrada em razão de u~a rejeição
é o prnle tariado, desde :1 A ntiguidade, sen ão um a categon a de corpos soci.11 permaneme como primeira necessid ade para o íunc1onamen~o
111rei rame11re domesticados, classe ao mesmo tempo prolífica e d e sua m áq uina de gue rra. Para esta sociedade que se fecha. a repressao

80 81
legal só pode ser co.tçfo à parricl.1, ;;10 êxodo. ou sep. à de,tcri itona-
lização como perda de idcnridadc re ill ,J vc: J,e 1· rrisó1io
. ' c-1r1c.:".lll
• :, •.do ai11d.1 pén,1cho "-' c.:st.rndarrc n.1
• . 1' 11a'vel nrouss;ío chs 1mJa1rti drt (lft'ITtf.
Q 3 c:x,.xdc:nLeb d e~.1parc-:cm 11 0 mo, imcnLo tor-r,ldu d.L vi,1gc:11,, 1n rei 111 • r . ~ . ., , .
aqueles q ue a ordem poliorcéric.1 reie1ta em quantidade cad.1 vez m:11or.
o problema do :1lopmcnro p1ov1so 110 dcs,c g11 u-n~m.1d1s1110 g11c:1-
. se coloc" v1' como o d:i residência 11,1ss:ige1r,1
reiro
0
r ~
no ho~p1c10,
. _ no laz,1rero.
tornam-se forças ns1c.1s cm movimento em lugar nenhum. cm 1n11;1,
O 111011,isricismo milir.11· 1cspo11dc1.i com mun.1 prcc:~,1~ .t ~,se probl.:-
115o visr,1~. os i11tcrsríc1m 11:iu 111-:11sudvei5 do esquema esrrarég1co, nurn
movi men rn roler,1do de percgri nações ,11 risc,1d.1~, cruzadas de cri.ui ças, 111a. r.al Como o rno11:1s tic1smo regul.H responder,\ .a f1x:1ç;10 . da. g1ro-
norna dl·,111 0 m bti<..u 1..0111 .1 cri.1ção dos cl,1usl1os. O LM,tdo 11llerv1r,1 em
de gente pobre, de "gente v:1g,1bund.1 e sem proftssfo, rodos mendigos J • •

·1ch substiwindo a ca, idade pública e os impostos locais como o


v:1l1dos", proibidus d e pe1n1,u1eccr por m:11s de 24 horas no interior d.1 segu , , · • - f.
"franc sa/é" pelos s1,cem:1s de rcn~a, an[es que a 1c11_ra6il 1z,1ç.10 d,1 orç:1
forralez,1 comu 11:1l , expulso, ,1 chicote de ourr.1, Licladcs. Os p10priM
de tr:ibalho dos excedemes soc1.11s se torne a sol uçau mais evidente, a
cirnd1110~ eram proibidos de ,1lmg.í-los sob pena de mult.1s. Ess,1s gra11des
coação ;10 trabalho fabril precedendo de, pOL~co :1 ob, igc1to1,ic.:d,:c!c do
1111grações rerm1n:11:im com :1 Guerra dos Cem !\nos A ,1nilha1i,1 estava
serviço milir,1r, pelo menos 11.1 h.1n'r.1 Co.1<,,10 muno é~peu.11 p que
efetiv:rn1e11 ce revolucion;llldo o~ dados do campo de barnlh,1.
não devi.1 atent.tr conrra as p1enogativa, du~ µrod urore~ 1ndepe11de11te,
M,1s .1 p.utir do século XII .rnmenwu co11s1deravelme11cc a 1111-lu-
rncia dos meros monet:irim, anunciando também o fim do st:1tu~ quo
o trabalho fabril n fo pode escapar à d ir.1dura do movimento; ele repete,
em cada loc1I. o encci-ramcnco num ciclo cinéci.co ~orçad o e :ihsurdo,
111cd1eva l, esse cão enaltecido eq uilíbrio d:is orga111z;içóes polític:1 e
equivc1lendo à morte lema do excluído. Le,_nbro-me de rer morado, h:í
milHar. O tr:1dic1onal sisn:111::i medieval de se rviço mdir::11 obngaróno
cerca d e t rinta anos , ,\s margen, do Lotre. perco de um h osp ita l
dos v;issalos v111ha :1comp:1nh:1do de 1erribuiçóes, e logo mai, os cava leiros
receberiam soldos Por muiw tempo ainda, o pesso:1! militar será esco-
psiqui,ítrico provincial e. criança, ter me csp:111t:1do com a visão de
coortes de ,ilien::idos empurrando carrin hos de 111iio ,Hé o len o seco d o
lh 1do p1·eferen cialmcnre entre os ttd:1lgos, os c:içulas das famílias ser-
rio . Eram obrigados por seus guardi:ies a enche- los de are ia, empurd-
vi n do, por exemplo, como pm·tiw!arcs e recebendo s:i lários baseante
los até mai s longe, descarreg.í-los na ág ua p:1ta depois recomeçar
elevados, alé que :is exigências ,le recruca111enw ro1 nem excusas a, origem
interminavelmen te esr:1 seqiiência de 111ovi111encos aberrances sob um
dos mercenario,. EsCl':1de1ros e depois mna-mouros, Esc:1rbon l.1rdão e
sol de ch umbo. De tem pos em cempos, um desses 1n isedveis se
Rinoceronce. descendentes dos a11ti-he1ó1s de Plauto, "inimigos co-
prccipir.iva, urrando, no Loire ...
mum de rocb .1 humanid.1de", d1z1,1 dele, lsócrates. OhJeco~ l(inerantes
Do mesmo moclo, no século XVI 1, por exemplo, o hospÍCto da
de 111crcados e feita,, co1110 o resto do, meeiro~, s1u co11d1ção. desde :1
Charné de Tours reria, como muicos ou rros. que renunciar parcialmeme
Antiguidade, cm nada difere da do escravo que c m tempo de guerra
:1 suas oficinas de produção de 5eda ante as ameaças dm produtores cl.1
pod ia ser emancipado e 111co1por:ido como soldado. pri11cip1l111ente no
cidade, e acamonar os indig-:m cs 1m dob.1gc111 e f1:1çfo dos ftos de sed;1.. .
co m bare 11:ival , que ex1gi.1 um 1111111 cro significativo de manobras
Na mesma época, a corvéia 1mpost:1 aos c:1mpo11cses foi s1gnit1c.1-
medn 1cas coorcknad.1s, ao passo q ue u co111b,1rc: tcrrc,tre ainda era con-
riv:1111en te exp andicl:1, pelo Estado. do rranspone dos m endigos ao hos-
siderado assunro d e "homc n~ livres''. O prolc:t:u-i.1do 111il1tar vê-se m1~-
píc10 o u :1 derenç:io. ao rransporre da ge nte de gucrr:1 e do rrab:i lho
tur.1do ao êxodo pcrm,rnente d:i 111:1ssa móvel, d.1 qual é nnundo, as~i,11
torçad o, cuja sorre rorn:1va-sc dor:1v:111tc p,1rcc1d:1. lg ual men~~- ess::i
como o trabalhador migr:mtc do sc:culo XIX CHI o trabal hador cla11des-
ti11 0 do séc ulo XX O esrrade 1ro c1rcul.1, como seu nome i11d 1ca: e le
corvéia resultante do p,1cto d e scn11 co lo n17.1çiio fcucLil era J-1 um: 1
prolet:i rização, uma mobilizaçfo do rr:1Li:1lh.1dor camponês p:ira ,l raref-a
vive na estr::ida: es111 é seu c,paço de classe. Cle v1:1ja .1[ds d-: ocu paçóes
log1st1ca,
'· 111,1s ram 6 cm
' a 1,' a b :11xo
· ua~ con d 1ç.10
- operar ·' 11, . JuísXlVdecla-
0 •

sa1.on,1i,, incertas, c:1 1 como sed pintado pos[eriormence por C.dlot,


rou, cerro d ia, c1 Colbert: "Se queres s,1ber o q ue é econom ia, va, ª
"capitano de bttroni", fonforrão, esf:irrapado e mutilado, v:-1gabundo
FI andres; ver.1s o quão poL1co c uscaram as 1orri e - es dos locais con -
•fj1c:1ço

82 83
quistados." O rei fazia .1lusão aos importantes trabalhos de aterro e
ce d er, a Pagar o que devem ' para que eles re to m em a estrada. Essas
construção empreendidos por Louvo is. Seguindo o exeni p io romano, a I de soldados com objetivos limirados vão dc~cmpenhar cnrrt;>-
ele confiara a execução das obras d1ret:unente aos soldados, mas median- revo ras , , . . . d
um papel importante na evol ução pol1t1ca no 111ter1or os
te pagamento irrisório e mantendo-os sob disciplina milit:11'. Ao lado da ranto d" - '6 ·
· tos escacais
._onJun • porque •.
a satisfação d e ~uas re1v1n ,caçoes contn u1
. _ .
trajetória do migrante, há aquela da migração da prole ram.ação mi.litar, recipitar o desenvolvimento dessa obngaçao mate11al das popu-
confundindo-se amb:1.s, freqüentemente, desde a Antiguidade. Garlan p:tra P · " - ·d 1 "
lações laboriosas ~ produuns para ~o~ _e ssas . povoaçoes e u_xo . que
compara essas estradas e esses mercados onde se concencrav:1. uma rnão-
t nram os anugos senhores provrnc1a1s. O imposto, esc.1 vassal.1::,em 0

de-obra especializada com su as tribos e suas raças, à do cabo Tain.ue, ao sup a cl " ·
econôm ica, é cobrado às vezes diretamente por solda os, um m e10
su l do Peloponeso, po1 exemp lo. Mais rarde, será a criação de um circ ui to
logístico original ex1g1do pelo aumento do recrurnmcnto d,1s forç1s de
expeditivo, desaprovado por Colbert, que prescreve ªº: c;le~ores (esses
·
an1n1, a,·s ter1·1've1s , como agon • são chamados) usar de v10lenc1a somente
trabalho a nacionais pelas comissóes ou os condottteri - a famosa estrada
como último recurso". Assim, o tesouro público se capacita para melhor
espanhola comp:trável, segundo Parker, à trilha Ho-Chi-Minh. Ao longo
manter exércitos permanences, parJ conter as numerosas deserçóes com
dessas trajeróri:is, constroem-se abarrncamencos provisórios - os leitos
a garantia de pagamentos regulares. Período mitigado em que'. co1;10
são fornecidos pelas comunas - , criam-se serviços de saúde perto dos mostra Clausewi cz, o ofício militar dificilmen te se realiza com o dmbe1ro
asilos, necessários em razão das condições precárias de exisrencia desses dos cofres. As tropas de vagabundos são recrutadas em toda parte, em
miseráveis que escapav,1m da detenção ou da prisão par:i corna,-se
casa ou nos vizinhos, sem se importar com seu passaclo ou com sua
soldados. Até o século XIX, a caserna será um espaço hospitaleiro onde
origem. Muitos homens capacirados não tinham e~tão qualq_ue r outra
as doenças venéreas e as epide mias como o rifo farão mais estragos e ntre saída senão viver como aventu re iros, e aré bandidos, dominando o
os soldados que as b:iralhas e os Ferimentos de g uerra. Com os conAícos c;impo, "esrafeta indo à frente, nada tendo que pagar sobre os campos".. . *
de massa e de movimento, a morce por esgornme nco dos soldados de
Muito já se falou sobre a mecânica dos corpos do proletário/solda-
infantaria tomará proporçóes espantosas, segundo Chambray.
do desde Babeuf ou Engels, sobre a obrigatoriedade de servir na má-
Paralelamente, verificar-se-á uma evolução forçada dos as ilos que quina de guerra, de um número invariavelm ente repetido de manobras
reconstituirá a unidade do proletariado m6vel, como constara o doutor coordenadas (cerc;i de dez para cada ti ro de canhão disparado no século
Wasserrhur em seu relat6rio de J O de junho de 1884 sobre o estado do XVIII, por exemplo). investigaram-se, mais tarde. as con d1çóes de
hospital de Sélestat, onde doentes mi luares e feridos de guerra ficavam
existência do proletariado obreiro sem , como Engels, abandonar com
deitados lado a lado com portadores de tifo, cancerosos e indigentes. isso o desprezo e a repuls., que cercam , desde um tempo imemorial, a
As reivindicações sociais do proletariado mil,rar permanecerão, massa móvel dos corpos sem vontade: o trabalhado, colocado em liber-
por muito tempo, :tquelas, vitais, de s u :1 mera s u bsistência. Ela s se dade vigiada pela lei Chapelier dur,111te a revolução de 1789: o corpo
estendem aos soldos, à seguran ça do emprego, à assistência aos inváli- da mulher, enclausurado, colocado no h arém ou na casa "fechada" (d e
dos e acidentados (d e trabalho) . As rebeliões e revoltas, e mbora tolerância), tendo seu sexo vendido ou alugado e até mesmo aferrolhado,
freqüentes, não são de grande envergadura e visam, e m geral. os atrasos
fonte de lucro para seu proprietário passageiro ... Corpos de "crianç~
de pagamento do soldo ... atrasos que chegav::1111, às vezes, a dez a nos. abandonadas", objeto ideal para adesrrnmenro; o "pnízaro" (recruta) e
Os revoltosos se organizam muitas vezes em grupos de combate autô- arrancado ainda muito jovem das famílias de escravos cristãos antes de
no mos, e legem um chefe (Electo espanhol, Ambosatalem ão, etc.) assis rido ser prolet;irizado militarm en te. No século XV, as baralhas de G ra ndson
por um conselho democrático. E essas tropas proletárias retornam
imediatamente à reivindicação inicial, tentam se apoderar de uma praça
* -r
iroca d"ilho frnncês, cuia
· nmn
· e..,nrrn d uz1vc
, 1: "es1arene
r vcna nc devam, nc do,vanr
fone e aí se manter até que seus empregadores sejam tin;ilrnen reobrigados
rien payer sur lts champs". (N. do T.)

84 85
mas cambém sobre o cinema espetacular onde se .1ss1sre ao sacrifí-
e de Morar rnoscram a 1mporr~11cia arribuída, 110 exercito suíço, ~ ete .,
cio de uma grande quantidade de animai.<. A esse respeICo, é interes-
presença das crianças abandonadas que são lançadas na vanguarda da
sante citar a resposta de um palhaço, o "dublê" Dominique Zardi, que
tropa para enganar o adversário; e las não passam de pequenos
fora inrerpelado a esse respeito através da seção de le1cores do France-
delinqüentes recolhidos nos subúrbtos, rnisedve1s estafetas descmados
Sozr sob o ríwlo "o calvário das fer,,s", publicada em 16 de agosto de
a uma morre cerra. Vauban, no século XVII, constata ao voltar de uma
l 977: "Os pequenos comediantes são colocados sob a mesnu msígnia
inspeção que o Reino é posto e111 perigo... "por essas pr::iças forte~ vigi-
(q ue os animais); eles também são cratados como irmãos inferiores,
adas por guarnições formadas de companhias de crianç;1s, de pobres
sacudidos, malrracados, rebaixados ... é verdade que sou um baixinho
pequenos miseráveis que são arrancados violencameme de seu lar ou
que são escamoteados de cem maneiras diferentes". Como o rapto, o duro.. o que fiz, animal algum teria Jê'ito; mm e11 jarnars fiz mal rz um
animal, a uma criança ou a uma mulhrr, pois como se sabe isso é mais ou
lcidnapping. era um procedimento cLíssico do dromocrara, era normal
também que a revolução militar de 89 colocasse lega lmente 0
menos a mesma coisa." O corpo p1ivado de razão do dublê é equiparado
ao de outros animais doméscicos, colocado sob a mesma imígnia; suas
proletariado infantil para rrabalhar.
performances profissionais são também equiparadas diretamente, neste
Em 1846, a Revue des deux mondes assmaL, que 1u França, no d e-
caso, às do animal por esse dicador do movimento, o direcor. São co-
curso de um ano, 32 nul cria111,.as foram abandonadas, ou ~eja, uma em
nhecidos os tratamentos e cerimoniais que cercav,1111, nas sociedades
cada trinca foi privada de estado civil, ou seja, de identidade. Georges
antigas, o ca.samemo da "mulher de carga", e que consistiam na troca
Sand, .ª quem isso comovia, rememora em François !e Chrzmpi 0
de animais entre as partes. Nos exérciros e nas polícias. subsistem pro-
proced1menro do abandono, quando a criança é confiada a um viajam c
letariados animais, cujo exemplo moderno é o uso rece11te de mamífe-
que parte com ela em diligência e a abandona em pleno campo. Assim.
ros marinhos, fora a sobrevivência dos regin1emos de cães adestrados
a per~a da iden cidade pode ser comparada à excl u são de um gru po
para o combace de infantaria e dos serviços de higiene assegurados por
geografico, ou à colocação d a criança "que ainda n ão atingiu a idade da
essas ''capitanias de gatos" de que fala Malraux referindo-se :'i batalha de
raz.ão" em movimenro numa trajetória, numa estrada.
Azincourr. Corpos-veículos dos cavalos comparados, na Idade Média, a
Persist~ ~qui a diferença entre o "liberal" e o "mecânico", o que é
projéteis, corpos dos elefantes-carros de assalto, bulldozer, rr:irores e
pura mocnc1dade, que deriva do maquinal e porranto pode ser
também os corpos dos bois, dos camelos, ou ainda, das mulas, espécie
~xecutado, _q'.1er pelos ignorantes, quer pelos animais (Equicob 95):
de veículo para rodos os terrenos. Q uanto aos pombos, esses animais
Sendo a atividade m;rnual cão ignóbil para a sociedade antropocêntrica
predadores, eles são meios de comu nicação cup propriedade está
do ren ascimento, quanco para a da ldade Média", observa Anthony
reservada a uma elite social, eh própria predador,t: foram as prontas
Blunt em Artistú: Theory in ltaly 1450-1600. Com efeito, o corpo do
informações obtida~ por in termédio desses pombos-correios que
~rabalhador não é equiparável a um modelo humano, ele próprio
permitiram a J acq u es Coe ur* e n riquecer ,tind a nuis no mercado
idealmente composto, h omem vitru viano*, essencial mente rno:í.vel e
econômico, em especial no marítimo. Mas é impressionante observar,
hari:1o_nioso fois contido nos círcu los e nas grades da geometria
em seu hocel de Bourges, as rncdid:1s do imposto sobre o sal, verdadeiras
eucl1d1ana, s 1111bolo de sua superioridade social pois que esta é a
manjedouras descinad:1s a medir o imposto do planeei cios "trabalhado-
geometria da trajetória do invasor, do dominador.
É curioso ver se insraurar atualmen te um debate sobre O craca-
rnento que se dá aos animais, seu ab;u1dono, sua excinção, a v ivissecção, • Jacques Cocu r (c. 1395- 145Ci). R1C() co mercr:rnrc de 11ourge, e rc,01ireiro rea l de
Carlos VII . de,envolvcu o comércio com o Levame, perminndo a comolid.1ç:io d.i
moeda e a cnaçfo de um exercito nacwnal. Acusado d e práricas de exro1são, foi preso
' Virruviano - referente a Marco Pollio Virnívio, ~rquircm ronnno do ,éru lo J
a.C. (N. do T.) em 1451 mas conscgu111 Fl! ~ir. fo 1 pmccno1mcncc reabilir.,do por Luís Xl. (N. do T.)

87
86
res/produrores" conforme a quanridade de ~,e! que lhes era necessana roximaçfo mais ou menos disranciad:i, noções de repartição.
urna aP
como corpos/animais subsi:.tentes, literalmente o preço de seu suor, , ,r • arde Arrhur Young Chapcal e Lavoisier construíram seus quadros
1v1a1s e. , '
pois o movimento físico provoca um conmmo de sal cinco vezes supe- lstl·cos com base 110 modelo indutivo dos quadros ele Yauban, mas
esrat
rior ao do corpo em repouso. Gandhi realizaria na Índia uma ação de com a diferença que em dois terços das vezes e_les levaram a erros de
envergadura conrra os ingleses :i. respeito da taxação do sal, como rconomza • r
Previsa 0 .
/v1a·,s
, adiante
· , Moreau observa que _,is cihas de. Vaub;lll
, cornam-
.
da violência e da morte Lenta mjligidrr ao po110 colonizttdo pelo zm;asor se fáceis de en render po1 sua trrmsfarmrtçao _em medulas m:tncas... A
ocidental. Mas a co nvicçfo m:i.is difundida ainda hoje a respeito dos aJ111,a Jl,.ão sobrevive mais e não preexiste mais ao dcsap:irecunenro de
corpos giróvagos privados de identidade, desses mortos-vivos, é que seu corpo-veículo ou máquina, mas como Razão potencial e, s~bretudo,
eles devem ser ocupados, habitados, possuídos por voncades alhei:i.s. É Razáo cien d fica , pode .igi1 sob, e corpos estra nhos, d 1s rn 11c1ados no
este o exato sentido do "Nio pensai!" de Frederico li. É significativo rempo e 11 0 espaço, corpos animais, terriconais, vegetais, corpos sern
referir-se, a esse respeito, à desqualificação do querer entre certas vontade, corpos ainda não nmcidos tornando-se corpos cécn1cos ou ob-
categorias sexuais, sociais ou raciais, à condição imposta aos descen- jetos das téc11icas. Eis a verdadeira do_minaç~~ s~ci:;,L o bestiário ~os
dentes dos escravos negros nos Estados Unidos, seu combate pelos direitos engenhos. O cavalo de raça não age 111ais, ele e agido por seu cavaleiro
civis, o direito de voto que é tão-somente o dzreito de querer do "homem graças à correia de transmissão da brida, aos aceleradores das esporas,
livre" e que não é concedido a corpos sem alma, nem mesmo n;i Franç;i, ou então ele roma o freio nos dentes, volta ao descontrolado, ao selva-
depois da lei de 27 de agosto de 1791 gue vinha agravar a1nd;i mais a gem ... ele se exprime!
tendência, exigindo que o eleitor fosse proprietário fundiário: semp re a A Razão (como na Bíblia) é par,1 o corpo, neste caso, uma forma
incapacidade de decidir do corpo giróvago, assim como o das mulhe- de sua morte. Significacivamence, no início da idade CLí.ssica, o espetá-
res, que enconrrarão tanta dificuldade parn obter o direito de \'OCO , de culo oferecido pelos dementes ou pelos 1·ossessos escava n:i moda, como
fazer parte do curioso universalismo republicano! ocorre hoje com os drogados. Investiga-se a desordem motora de suas
Aqui se observa a importância poHtica e social da "razão do liberal" atitudes mcxplidve1s e de seus di$cursos; sente-se que o possesso. como
(do mar livre à guerra livre), com respeito não à dcsrazão mas à ausência o animal, não sofre mesmo quando grita, fala ou se lamenta. Não c:1be
pura e simples ele razfo dos corpos dos ignorantes, relação fielmente pois apiedar-se dele. Daí o arsenal judiciário e depo is "médico" cios
reproduzida canto no organograma marxisrn quanco no capitalista, ainda tratamentos rnfligidos di:i após di,1 :1 esses corpos sem alm:i por seus
que em grau menor... por algum tempo Com o advento do poder donos, seus carrascos, seus ;uízes ou seus médicos: que imaduras,
dromocrárico, assiste-se a uma espécie de perversão da transmigração picaduras, extração de unhas e remoção de cabelos na prepac1ção para
prim1t1v:1: a alma, tornando-se mdividual, erans-formou-se em Razão, o elerrochoque. O corpo é uma casa vazia onde, se n:io romarn10~
ou seja, sede de uma regra de preparação preventiva de nossas ações, de cuidado, sucedem-se locatários perturbadores, uma casa que convém
nossos movimenros, e até do conjunto de nossos destinos; não sem tomar desconforrável, e a psicanálise ,1inda hoje trabalha pracicamenre
resistir, aliás, àquela confusão enrre o senso comum e a hipótese com essas cre nças sob a pretensão de u.111 retOL no do inconsciente à
geométrica dos espíritos superiores, os dos milirares Turcnne e Yauban, expressão de um consciente razo;ivel. Mais do que casas, porém, esses
os de burgueses como Colbett, como observa Moreau de Jonnes em corpos são veículos metabólicos, e os pseudodemónios de que se, ce:ua
seu État économique et social de la France de 1589 à 11J 5 - a esratíscica livrá-los são antes de rnats nada inteligências, também elas em mmSito,
é anripánca a nossos hábiros arraigados; a de Vauban, que cirou suas que ocupam abusivamente " o assento do moronsca · " , um:i vez mais
' 'à
conclusões numa base de 1 para 25.000, não poderia obre, nos.so assen- maneira do cavaleiro que, moncado no lombo de seu cavalo, e~pern ter
timento absoluto, mas na falta de qualquer levanramento cadastral era assim "o motor à sua disposição". As "inteligências" escr:rnhas tnsuflam
inevirável recorrer a métodos indutivos para estabelecer, por meio de um dinamismo invulgar aos corpos vagos, ordenando-lhes ge5tos ade-

89
88
:r'ras M..,s J·.-1 nío 5e11.1 esr.1 a aventura do rnonastrcr~1110 111ilrt.11,
quados A antiga meremps1cose imaginava uma pletor.1 de inrcligi:ncias prtll1 •1 • · "· ' ' ' . , .
r.,rmanclo o corpo 1111st1co de Crrsro num (.orpo de cxcrcrro. num.1
em busca de uma matéria 111d1fercnc1.1da. Lia sentia que O movimcnro rran Stv
de rransn~ rgração devia realtz:tr-sc de modo narur:11, parricul.trmente ordem de marcha?
Muito anrcs dos pi1arns, das tropas de assalto, dos delinqüentes, o
pe,lo 11asc1ment? e _:i mor~e cm qualquer <..orpo, criando assim, para
monge m1lrtar se compraz.ia no ,1rsenal da morte e do terror. De faro, \t:
alem das orga111zaçoes sociais, uma espécie de igualdade física. Outra
a rnilitanz.ação das sociedades faz agor,1, de c:1d:1 cid.1dão, u111,1 máqumrt
observ~ç:ío. q,uanclo o desmatador se tramforma em conquistador, este
potcnc'.al poenco da popul:1çiio cede lug.u a seu potencial milirar, a tle guerra, o monge soldado é, neste pl:tno. um modelo~ um ~rccu.r~or.
A reforma das grandes ordens desti11,1d.1~ a sup1111111 a g1rov:ig1a nul1rar
t~ansmrgração poéuca das alma~ cede lugar à sua conquista, isro é, à
é 0111;1 revolução consider.ívcl, pors .1 "solidão" do monge é estendida a
viagem dos corpos e,. portanto, à sua clesccrritonaliz.1çío e desigualda-
dos grupos .umados 1111porcantes e ,111,1oonais. A instauraç:io do a~1Cis1~10
de. Com a posse 1a10.1vel, o as~.1lro ao veíudo merabólico é, literalmente,
monárquico no seio da 11atureza, do tempo, do espaço, das orga111zaçoes
um ª~? de piratana. O doutor O l1vemtein refere-se ~ psicanálise como
sociais e hu111.1nas qut: ele renega, a renúncia aos gosros pesso:11s, à iden-
uma 11/ava~ca de penetração no psiquismo, a 111 a 1s forre, a mais
ud;ide, prefigur.1111 o niilismo da 1evolução d.ts cécnrcas dr que fal:i
rm~~rranre ... , sempre a referência inconsciente à violencia e ao direito
Heidegger. O monge, voluncanamente ausente de si mes1110 :io JUr:11
do_ poder/rnvadrr", a suas técnrc.u mecán,cas. É muno prov.ívd que os
silêncio. castidade e. sobretudo, obed1ê11cia, roma-se vdc1do de seu
ps1q~11atras russos que foram acusados de v1olênc1a política por seus
confrades 1eunido~ em Conoresso "diretor" de consc1ênc1a, ess.1 co1 reia de trammissão condutora d,1
, . b , este ,rno , seJ -~
'm ac-.inal
rr , os mars· rrers
e-.' a
"o 1dem", espécie dt: "Raz:io" superior e un,,ersal Como ~e sabe, o
etrca de seu ofício. Ourros prancam ,\ rc:pressão e O rremamemo à maneira
monasticrsmo é mais uma inve11çi10 n1ilirar que religiosa, enconrrad,1
de Sk11111c1, as curas de Sakol para drogados: "Eles jn não se chog:im,
· da 01·1ve11ste111 ... morro~-vivos
ma<- erram como J·ombr.'flS" , consraca arn
em rodas as larrrudes . Quando se desenvolve a noçfo de Es tJdo,
multiplicam-se s1111ultaneamenre, desde a Antiguidade, as seicas mili-
sempre pronto~ .1 receber insólitos passageiros. A enccn.1ção so<..i,11 do
tares. É natural que a concepç,'ío moderna do Escado, de Hegel, 01 igine-
amor hum:ino e, ralvez, uma das denadeiras remativ.1s poécrc:is da ,tlma
fluida encarnada aq ui o u ali ' o desvelamenro brutaI d o ato socr:i
· J, a se na Prússia, antigo domínio da Ordem Teutôn ica, seculanzado em
d '
e uca_ç.'ío sexual ou .i pornogra~1.1 como revelações técnicas, urna outra
1525 São carnbém os carbonários que, com suas organizações em
11,1a~eira de mspecionar os corpo~ dos "ignorantes". o desdobramenro
"células", fornecerão um modelo p:trn outros .1grupamentos revolucro-
nários, aqueles movi mentos clandescinos que se corn:i.rão os eixos de
logi,co do g111ás10 de esportes. A célebre culrnra física •·~ueca" sucede 0
uma guerra terrorista sistemática na Rússia, port:idores de um niilismo
amalgarn:i moderno cb estrada e do sexo, corpos 111011 cados ao sabor
dos encontros, colrsõc~ Jexu:i,s
, , · r:ip1·d amcn te esquecida\, cairo~, motos perpétuo muito semelhanre à guc1 r,1 permanente movrcb pel.1~ grandes
que se rouba, viol.i, .1b:111dona 1 ordens, pnmeiro contra os muçulmanos, depois, na América. contra os
eslavos, ou conti a Napoleão, na Espanha, em forma de guerrilha ...
"A_ boa c~nduc:i•: n~o é 1~a1s II moml ensinada na escola ptíblrca;
Dugesclin, 111cstre secrcro do Templo M ili tar, r.1mbérn se desracarn
agora sao :is leis de cr:rns1ro cuJo ensino rorn,1-se obrig:uório nas classes
nisso. 2 Do 111esmo modo, puritanismo e industrializaç:io progridem
juntos nos p:iíses anglo-s,n.óes e, com o internato 111dusn i.11, o trabalho
I . •·o homem é O 1'·"'·1SC•ro d., mulher e n~o .1omcnrc quando Jc ,cu 11,1,c, mcnr1 ,
fabril dos corpm sem alma das cri::inç:is e das mulheres i redentor, pois
mas rambcm ' ''1 > SamueI BurICI, pn<Ier•1c-1a d izer'
i· . cm suas rcbçõc.1 se>.11ai,... Pai.,fra,e·in
que :1 ·cmea é o meio . CJUl o macho cnco111rou de ,e rcprodu,ii·, 111" e,• p.11~1 1111• ,10
. J o. Nc11c
111un , ,enmlo, .1 mulher . e o 1>runeiro mc,o , le rransporrc. ' 1a c.1pcc1l:,
• • seu . l (H M ) Clairv,rnx. Biblicm.:-
primeiro vc1c1ilo. O segundo sena a mo111ana com o .1copla' 1n enw Je corpo,
. d'1,p:ue1 2. Ver c<pccnlmenrc. ,lílJlll\OÇ. Je \.1onmonl
. ,rntc·•
F ~rncG • ron
· cm Lcc1uc
. lic11x

aparclbdos 0
p.ua a m1gr.1ç.10, a v1.1gcm comum.· Paul Vi1ilio • M.llt111f!JjtflJe
, / e.is de Besançon e de Carpc111 r.i,. Lordre de C,tl111r1wa por ·ranc,s ,ur ·
, I' . t lJ fltWt/<lt:r
e, 1t1011~ d~ M ,n111r, ma,o de 1977 " ' librnirc-cdirc111. 1955. etc.

91
90
eçses corpos 5ão colocados cm mov1menco por almas razoáveis, almas ' ·.1 11css·i· 11 oç:i.o
esforço e su:i c1enc1. · de :Jtwucl
t'
da cerr.1. A força armada
.
de engenheiro e11carreg,tda~ de definir suas ,lCltudcs, seus gestos. Arbcn seuern reuma fo1ça de ocup:iç:io militar e é nesse plano que o gue11e1ro
macht frei; o~ campos de reeducação naz.isl:i.s ou chineses recuperam és p . . Jre pervertido. Cuuosamenre, a guerra rotai e, depois,
arece CO l110 p,l . . 1 C
essa velha convicção c111ética. ap, s quo nuclear, tendem .1 aproximá-lo desse p~pel o11g1na . , ~m
Nesses difcrenres exemplos, o conquistador e o guerreiro assu- º/~:u o pnnc1p10 da dissuasão não e apen,1~ uma fórnrnb est~ateg1ca
mem uma função que aparece como uma perversão da função do p:i.dre. e e1 ' bém o pagamento do ,1luguel da terra por seus hab1c,rnces,
Para os Judeus-cristãos est,í tudo dito desde ,1s primeir.1s páginas da mas ram · ' d d fi 1do
1· alrnence de .ieu termo (limite e fim) O guc1re1ro :ip,101 .1, e • ica1 _
Bíblia: o guerráro é uni padre perverttdo. Com efeito, o primeiro assassmato ner do c1uclear munJíal , esc;í em condic,.õcs de cx1g1r de popul.1çoes
0 cerca · d d d·
gira em corno do modo de ocupação do solo produc1vo, de su:1 explora- am tod lS mdí"e11.1s um aluguel exorb1c.111te, a as as l·
que se cor nar , . . ::i . d ,. A r - d
ção e, sobretudo, do aluguel recebido em t1oca po1 Deus. Deus aceirn mensões alcançadas "pelo metro percorrido, protege ~ . unç.w o
praz.erosamenre o sacrifício p:igo pelo pascor Abel e recusa o do agricul- . ·1·
herói protetor 1111 nar e co e 1 cor de imposcos não é, pois .•1bsolutamen-
. h ,.
tor Caim. É diretamente em torno do aluguel da term que surge a ima- '
te lim1t.ível ou, calvez, mesmo, •ct e, :
' enm1c,1ve l com u "comércio
.
umano
. .
,
gem do primeiro matador de homem. e ali também tudo é dito em mo o entende Cl.1usewir1, por exemplo. A v1olaçao da hospir.1lidade
algumas linhas: o sojrrmr:nto do solo "abrindo sua boca' e pondo-se :i. tad.1co pelo guerreiro ou pelo monge sold ad o i1,5.o é ,a sua
( iv111a ) da cerra
.
. . 1 d . z is em nome de um
urrar ao beber sangue humano pela primeira vez, o corpo terrirorial .. - a c~1)1taliz·1ç'io
aqu1s1çao, ·• ' ' de seu soo e e suas nque .. d' s·
capaz de se neg:1r. (Ela não te dar.1 mais seu fruto, diz Deus... seds um Estado do qual ele seria o instrumento (.,_ alavanc:i: como_ iz ~ a••~~
errante percorrendo e invad indo ;1 cerra.) Agric ultor bruscamente
descerncorializado, o primeiro matador de homens é imediar:i.menre
Jus.t i) . É tudo isso como cxp:i.nsiio indefinida
.
da propria v1olaç.10.
Al . d n-
andr:s conquistadores clar.1menre 11111c.ua111-n,1: e~.11_1 te con cen '
nomeado construtor de âdadcs (plebeu). ;: com avançar, cuidando apenas de encontra~ um Imute e, p~~tanto,
A impordnc1a do padre (do mago), do patriarca, de,·e-se .'\ sua um e:um, para seu pode 1 de penerraç'ío· • •
se fredcc ICO 11 declar.1 que vencer •
cap.1cidade de estabelecer e rc:,dizar esse comemo de troc.1 com m deu- é avanç:u", Napoleão l afirma que q11erfimd11r e ,,ão pom11r A c~nqu1sta
ses/natureza, de aten uar-lhes os cap1 ichos, as violê ncias. É ele quem, é ieduzida a busca, a façanha é o movimento. Napoleão m~1rer:1 pobre,
grnças a seu empirismo científico, sabe fozer com que o sacrifício e o como um monge-soldado, em seu pequeno un1f?rme cinza que. no
aluguel da terra sejam aceitos (ele colem, fixa e 1ecebe o imposto; o campo de baralha, o discmguia de ~eus esmdos-nuior~~ e: de se'.is rne-
dízimo ou, hoJe em dia, o óbolo, são remancscênc1as disso) Quando 5e rais engalanado5 e mc:m:nários, realçando assím o caráter desprendido que
cria um comércio de bens trocáveis com "o escrangc1ro" no litoral me- precend1,1 im pnmll' • .1, sua a1te 1111·1 1c.u. I)••1dres pe1 vert1clos, muçulma-
..
diterrâneo, é curioso observai que a troca se d.í de íorm:i. semelhante (e nos, crise.ias ou outros, de~envolvendo ao 111e51110 tempo que O infei:~o
mesmo hoJe, em cerros povos nômades) Nfo h;í conc.1co físico ou o arsenal da guerra, 1111sruranc1o a pob iez.i . . c0111 0 ódio cio mundo e
mesmo visual entre as duas paires. A 111ercado1ia é deposu,lda na prai,l, com a polític:i bancá na exerci·d a p1ec1s:11ne11 te em , corno do I apto e1e
na beira da estrada, onde o estrangeiro a recolher.í .10 passar, deixando pessoas e dos s1scemas d e resgate, proreç,·10 soci·1I •
desembocando d dIH
no lugar o valor acercado e pamndo e m segu ida. Ele passava como uma ·t
perversão da caridade em aux1 10 :ios corpos, · da F
1obrel'1 em po er
.
0

sombra pelo território alheio, onde m:il pousava os pés, como aquelas dinheiro Isso mdo ,1 c.1I ponto que. qu,1m1o esses g randes • mec:rn 1smos
almas, aquelas vontades que habitam os recintos mv1s1ve1s ou inóspitos do romano dos monges
deixarem de funcionar convc111encemence, 0 papa e
do unive1so. Os entrepostos coloniais, os porros francos, reproduz.em , d egurança m1 Iirnr
ruirá, arrastando consígo cambem ~eu s1ste 111 a e s . 1. O mesmo se
ainda, à sua m,meira, esse procedimento de troca foc.1 das L0nvenç.ões d e segurança soc1a· 1, .1 I nqu1s1çao
· · - e seu 1,oder tempor.t · ·indo cive-
militares. Como vimos, o guerrei10, o matado r dromocrua e . d -r d e perderam qu,
passa LOm os grandes conquista oies. 1 0 os s d , Assalto
est1 ucurador de cidades-encruzilhadas, concemra ao longo da históna ram de renunciar . a, v10laçao
. . das naçoes.- A gra nde1a to a esta n 0 '

9j
92
na dimcnçfo empresr.1d.1 pel.i d1sd11cia. A guerra é o J.Ss.1lro, porque a
gucn,1 é ,1 viola'rão pc:rma.nentL da ho~p1r.1lid,1de d.1 rerra, M1.1 pLnetr.1- 3
ção. Aqui, impõe-se nova.mence o olh,1r sob1e o velocfmec1u do cano de
wrrida, do bólido de combarc como med1d:i ex1srencial do guem:iro,
escoamento vc1tiginmo do tempo, imposto da rapidez sobre o metro
percorrido que an uína o habit:111ce da terra mas desrrói si mui raneamen re O fim do proletariado
.i. substância de seu conquistador e mede as ho1as que resr.1111 ao sobre-

vive11Cc. Em s uma , co mo no 1ero1 no do a nel ropológico, seu


desap:1rec1111ento depende d ,1 respost.1 que ele sabed dar, no esp.1ço e
no tempo, à questão de Alexandre o G1ande, ao p1oble ma de seus
limites.·' A performance do imaso1 se parece com ,l de seu homólogo
· - pro,etar1t1
"Podeis jaur 11m,1111mr'f'tlfflO , , mm a cond1ção ti,· i711e 11J mm ,11 tlêem
esportivo, ,tqueles campeões olímpicos cujos reco1de~ prog1edir:im pri- rle não ,11,mr: 5r vm jogam an cima doH bnlfllhúer de mrrm d,· ,·11mf1nu,.,
11ordem
me110 em horas ganll.l~, depois em mrnuros, segundos, fr.1çóes de se- n revolur,1o pmleuirin r o 11fldn s,í11 f/ mesma WISII..
gundo. Quanto m:iis r:ip1dos e compe tiri vos eles se rorn:im, mais ANnRt M~t.R.\UX. Fntretiem
irri sórios <io os avanços que conseguem , dececc.1veis ,lpen:is pela
elecrônic:i. O campeão :ilgum di.1 des.1p.1recei.í nos linutes de seu propno
reco1de, 1...01110 já prenuncia a manipulação bio lógica d e q ue ele é objeto,
pa1ecida com esses métodos de sobrevivência médica amficial que se Houve coincidência, com roda a 1...erteu. mas não h}í convergê nci.i
concede :ios moribundos. O engenho é també m, para o drornom:inínco, entre O progresso dromológico e o que se convenciono~• chamar d~
uma prótese d e sobrcv1da. É nodvcl que os primeiros veículos piogre5 so humano e social. O desdobiamenco pode ser ,1ss1m resumido.
automonvos, a zorra milir.tr de Joseph Cugnor, em 1771. por exem- l°. Uma sociedade sem veículo recnológ1co, na qual a mul~cr
plo, sej.1m movidos :i vapor, situando-se já co mo o l1mrce d a desempenha O papel de esposa logística , mãe da guerra e do cam1'.1hao.
mercmpsicose do corpo .111imal, etapa da e\olução h1srónca. da pass.1- 2º. A submissão rndistinta dos corpos sem alma como ve1c11l0s
gem do veíc.:ulo meraból1co pata o veículo tc.:c11ológ1co. cu~pindo ~lia meraból 1cos. .
fum.1ça como um 1Htimo alento, urna derradcir,1 manifestação simbólic.i 3º. O império da velocidade e dos veículos tecnológ1~0~.
d:1 potência motn7 dos co1pos vivos. 4º. Concorrência e depois derrota do veículo merabol1co para o
veículo tecnológico te rrestre. , . , .
Pode-se logicame nte concluir com uma ulc11na ~1nc.~.
5". Fim da ditadura do proletariado e fim da H1srón a na guerra
do Tempo. • - d
Se voltarmos às definições de Goebbels e de Engels, ,1 1rn ençao 0
••
miluante · , • ou a1gu111 outro) não
(revolucLOn,írio-opc;r,mo ' p101Jóe r apenas
,
uma figura degradada do proletário-soldado A prolern_mação operar1.1.
é a penas uma forma de mil1carizaçiío, uma form:t prov1son.1.
A partir de 1914, a força motll7 e, po1 r:inro. po1m , ·c~.. , do prolern-
nad o, Já - de •1xav:i ·t
• nao - nos campos d e ba t aIlia• europeus.
1 11soes · Em com-
]. l::.11conr1;1-se a,1ui. r,1Jve1., um~ d.n c:tU\JI profund.1s d.1 opo~,ç.10 c~p:111,111;1 .1 . , I de obras d:i guerrn
qu.1lq11er form;1 de mobilidade p.1ra a prescrvaç:io do siHcma de L1curgo
pensação, ela amda era ind1spensavc nos c.111te1ros I
. . . b · 'á
Cont1nental. A classe nulirar, a que m ca e v1g1, - • • l:t vai co nceder- he

94
95
pois a ilusão de poder dominar, poder subverrer a forraleza burguesa. comportamento dos chefes milica1es portugueses que voltaram a seu
Esta já esd arruin<1cla, pe1 furada por todos os !.ido:, pelo!> me ios de país após uma longa e ~an grenca <;,unpanha de repress:io co_lonial. De
comunicaçfo ultra-rápidos, o rádio, o telefone, a televisão, co11de11ad ,1 faro, com esses generais marxistas q ue C unhal cortep1, ,1 d1tadura do
por seus antigos defensores à destruiç:io instantânea gr;iç.1s à estratégia proletariado recoma seu ~en_tido militar inicial e eles constat~m,_ c~mo
anticidade da guerra rotai. EntrcrnnLO, conheceremos mais tarde os cécnicos da guerra, que se foram os tempos em que a energia c1net1ca
limi tes dessa pcrmmiio militar, em Praga, Varsóvia, Beirute .. e também do proletariado dom inava a vida política após ter dom inado o campo
em Paris, e m maio de 68, quando depois da tomada do Odéon o poder de batallia, aqueles tempos cm que, segundo Lenin, a classe oper:iria se
prevê o uso de blindados conrra a revolta popular a qualquer momento. via repentinamente cercada de atenções e solicitações pelos próprios
No correr dos anos 20, é normal ver a "ameaça bolchevique" se capitalistas. De ora em diante, o corpo animal do proletariado está
estender de Munique às portas da Índia enqu anto o governo francês desvalo rizado, como acontecera, a.ntes dele, com os corpos das outras
inicia uma nova política de assistência social. isso tudo se tornou neces- espécies domésticas. O fim da ditadura do proletariado é cão-somente
sário pelo remanejamen to logístico das nações indusmais-milirares n a a versão comu nista das constatações feitas pelo exército fra ncês, p or
Europa e no mundo e, no enranco, codos se espantam ao descobnr, na exemplo, suprnnindo o conselho de revisão (lei ele 9 de julho de 1970)
parte XIII do preâmbulo do Tratado de Paz de Versalhes, que 1-ná e das que foram feitas em 1975, do lado liberal, pelos membros da
doravante "condições de ex istência p:ua a classe operária que são in- Co missão Trilacerai, sobre a crise da democracia: "Cheg~unos ao reco-
compatíveis com a paz mundial. .. "; para "o equilíbrio das forças mili tares nhecimento de que, se há limires potencialmente desejáveis para o cres-
no mundo" seria uma fó rmula mais apropriada! cimento econômico, h á também limites potencialmente d esejáveis para
É o novo amálgama que Jünger revela parc ialmente, um pouco a extensão indefinida da democracia." A crise d;is democracias liberais
mais tarde, e m 1932, em seu ensaio Der Arbciter (figura do trabal ha- representa o fim d e um tipo de mobi lização dos cidadãos . A
d or engloban do o militar e o industrial), obra essa 911e encontra ria pseudofigu ra histórica centra l elo produ tor-dom inan te é descarta?ª
u ma vasta assistência e tornar-se-ia, rapidamente, um verdadei10 pro- simultaneamente pelos dois grandes b locos ideológicos, O proletaria-
g rama político para os alemães.. . do/ operá rio é p roclamad o im presc,ível ao m esmo t empo que o
Do mesm o modo, a Un ifo da Esquerda será um engodo na med i- consumido r/produtor do mundo capitalista, A esse respeito, a experi-
da em que ela até aqui se obstina em que, na expresssão do gener;:il ência revolucionária do MFA era exemplar, pois pretendia transferir o
C luserec, "o exército connnua sendo uma incógn ita na equação social''. conjunto das forçds da esquerda porm g uesa para um o ut ro nível, o de
Ela só se fortaleceu , em suma. por seu silêncio sobre a questão milt rar, uma "civilização do exército". Assim, em 1975, o c:1.pitão de fragata
e é mev ,dvel que se desagregue em corno do problema ela Defesa nacional, Correia Jesuíno, alçado a "ministro ela Comunicaç:io Social" (lembra-
em g ue se enfrentam os com uníscas, adeptos desde sempre cio modelo mos aq ui a prolecarização m aríti m a por M. ele Yalbele, amigo capitão
marxista ele proletatiz;içfo milirnr, e os radicais e socialist;is que, desde geral das galeras, sob Luís XlV), pinta os oficiais "de esquerd a" como
maio ele 1968, investem num socialismo "de face human,i" cap az de "etnólogos que escudam um povo primitivo" porque, segu ndo ele, o
atrai r um eleitorado novo e um tanto despolitizado. Foi sob os auspícios povo português é s ubdesen volvido. J.-F. Revel, ao tratar desse asrn_n~o
dos gene rais portugueses do Movimento das Forças Armadas (MFA) no l'Express (14 de abril de 1975), indicava que, sendo a renda media
que se :rn unciou "o fim da ditadura do proletariado" no Sul da Europa. do portugu ês comparáve l à d o bretão ou do galês, ele não via _0 1_1de
Não é preciso ve r nisso, como pretenderia Georges Marchais, uma b oa · • aquele su bdesenvo1v1mento.
res1d1a · Ti11.d o ·isso, com e ereJto,
• • exp!ICavel
e' 111
nova, um ab randamento da vontade ideológica, com "a palavra ditadura a partir de referên cias econô micas se não se coloca em quest:i.o tun ~e~sa-
provocando uma ressonância desagradável aos ouvidos desde a experi- menco 1111·1·nar d ro mo 1' ogteo
' · em via
· d e reco ]ocar em q t 1esr'lo ' a' paruc1pa-
. . _
ência fascista". Nao se pode caxa r, aliás, de humanismo ex;icerbado 0 ção de cada um no conjunto escarni, de problematizar essa pamcipaçao.

96 97
Igualmente, se o problema nuclear tende a faler explodir a União da raiz e essência imtituuonal cio povo porque nele 11ascermn" , devemo~
Esquerda, em J 977, e meno~ po1 c.iu~a de uma quesrão de megacons compreender que se rrat,1 :1Í do rerorno a um,1 siruaçáo bem anterior ;10
que por uma questão de vetores p0Lit1cos do rf{IIJO p{lder nuclear. Sem gue marxismo político, a uma negação do Estado-pólis pe las forças
nos apercebêssemos, a arma nuclmr 111odijico11 Logicarnent1' 11 constituição revolucionárias prolednas. O jorn al Le Monde anunciava, em agosro de
política dos Estados no mundo. Como constata um ;unsca: "É preciso 1977, que o general Pinocher eli m rnara a D [NA, sua polícia políric:i,
admitir que a arma nuclc;ir revelou-se uma fonte de direiw co11stÍtL1c1- em favor de uma pol ícia 111 il 1tar. As coisas se simp l ificam ... É
on:1l modificando nossa constituição efetiva." Aí também não é rnnro a efetivamente o fim do Estado de democracia razo:ivel que se arricula
explosão fi nal que conta na dissuasâo, e sim questões como as q ue sio num processo aparridário em que os sindic;ltos e os grupos mnis
colocadas pelos artigos 5 e 15 da Constituição france~a de 1958 ao disparatados e menos "socializados" são chamados a desempenhar o
dirigente solitário que se rornou chefe do Estado e dos Exércitos, o papel principal. Caminhamos para a explo~:io dos sistemas de produção
presidente da República, respons;ivel pela integridade do território n;i- nac10nais, assim como para a 111dividuaçáo sindical t,11 como existe nos
cional. A velocidade da decisão política depende da sofisticação dos Estados Unidos, por exemplo, onde o trabalho humano depende menos
verores: como transportar a bomba? Com que velocidade? A bomba é da produtividade que do jogo de interesses envolvendo o mercado de
política, nos comprazemos em repetir. Ela é política não por urna mão-de-obra, permitindo, com ,l I uptura d,1 unidade de ação política,
explosão que não deveria se produzir, mas por ser a última fo rma da todas as manobras imagináveis, as mais dispersas, as mais selvagens, até
viação militar. o l11111te da próp1a sobrev1vê11c1,1 dos vel hos Escados políticos. Assim, o
Ta11to a b11rgues1.1 política co mo os pa rtidos "revoluc1onár1os" , fim d a democracia chilena foi prevista e orquestrach pela CIA e pela
anestesiados por um longo período de coexistência, de pleno emprego, ação exercida sobre o sistema vi;frio pelos si ndicatos dos c.uninhoneiros,
pela euforia de um crescimento contínuo, estão verificando. na E uro- das telecomunicações. etc. Mas o que pensar da situação de falência das
pa, "que se pode fazer de tudo com uma baioneta, menos sentar-se velhas fortalezas u, banas, da praça de Nova York, de Montreal? O jogo
sobre ela". A revolução proledria passa agora, obrigatorzarnente, pelas sind ical, subsrituído pelo Jogo das associações criminosas, rende a su-
revoluções da insriruição milirar no seio do aparelho constitucional d o plantar ;1f cornpletarnenre a administração e os serviços do antigo em-
Estado e, com efeito, os principais <\tores que toma ram a iniciativa nesses pregador burguês. A o rdem reina no Bronx graças à máfia que, ela
últimos anos não são mais os grandes parndos políticos e sim o ex~rciw, própria, se internacionaliza, te11 t,1 ndo agora uma colabor.1ção sem in-
os sindicatos e até mesmo os sind icatos dentro d os exércitos. É termediários com a classe milirnr, como revelou um recente escândalo
interessante o bservar aq ui o c:1ráte1 anacional desses acontecimenros colocando em questão as relações existentes en tre generais israelenses e
porque se a C .F.D T. se lanço u no apoio cio smdicalismo mi litar. membros do gangsrerismo 1nrernacional. Longe de um jogo polírico--
propondo os "Estados-Gerais do Soldado", nos Estados UniJos, a fomos,1 militar que se desterritorializa. desinteressando-se de qualq uet forma
centrnl AFL-CTO declarou-se, n:i. mesma ocasi:ío, disposta a tomar sob de fixação sedentária nacional ou outras. tanto os pequenos del inqüenres
suas asas os sindicatos de soldados. Ocorre aqui algo de fundamental co mo as grand es assoc iações crim inosas assistem a um,1 sin gu lar
que ninguém avalia claramente: esd se cri;indo 11111 diálogo :tparridário revalorização de seu artesa11 ;1to local. A classe militar, separ,tda cada vez
entre as forças do tr~balho e a classe mi litar no mundo e, a curto prazo, mais de seu parceiro burguês, abandona a ru,1, a estrada. esses vetores
urna "larinizaçfo" da Europa muiro p.uecida com a do connnentc s11 1- demodés, em favor das pequenas e médias empre~as da extorsfo em troca
americano. Se o general Vargas Priero, "considerado como um dos chefes d e proteção. Em Nova York, o~ sindicatos mun icipais tendem a
m::iis capazes e mais progressistas do exército peruano (Le Monde, 4 de substituir a atividade produtiv,1 de seus membros pela simples gestão
novembro de 1975), declara numa en rrevista recente que "a vanguard a da crise, to rn ando-se administradores e ba nqueiros. Na Itália,
autêntica da revolução peruana é constitufda por su,1s forças armadas, multiplicam-se os assassinatos, os seq üestros, os crimes e os deliros. Os

98 99
inreresses financeiros confundem-,t com o:. de uma mulridão de continu.1 a se diverri1 enormemente com a f.1l ca de info1 m,1ç:io e de
gnipelhos dito, revoluc1onános. A Jllst1ça esta em cnsc, fala-se de ,111alisc do, '·,111timdiraristas", análi~e esdric.1 em face de ,eu potencial
libertação dos povos e subtraem-se bilhões. A opini:io pública indigna- dinâmico.
se com o amálgama. mas essa potênci.1 crim111osJ que emerge da massa A resposta à, fesr.1ç ccologicas do La1zac, à tragédia ck /\1Jlv1lle, é
nada mais é senfo o retorno de urrnt reivmd1mrii.o políúca de descontrole a opanríio Daneter, nome rir.ido ''da divmdade grcg.1 que person1ftc;1\.1
porque a velha erologia nacional os ideais sociais- ro1 nou-se subalterna a Terr.1" Por que c1:i preciso que eles a ch:un:is~em Dcmerer, que ~e
e não mobiliza rnais. aprescnr,1Sse111 como ocupantes e domin.1do1es do phrnera Terra, que
Podemos interpierar então as v1s1las de surpres,1 de lídt:res políti- violenrassem e danificassem o~ campo~ se n:io porque .1 operação I arzac,
cos como Marchais e Chcvenement aos trabalhadores em seus escritórios o ma1ç ingenuamence possível. pretendia privá-lo~ de sua função prin-
e fabricas, niío como uma provocação ao patronato e .io poder, e :.irn Clpal. u poder/invadir! Por que era preci~o que, neste momento, os
como tentativas inconfessas de retom,1d.1 d,1 ba,e pdos representantes "amigos <la cerra" tl\'C\sem perdido contato com ela e niío rives<em
de ideologias revolucionárias de,valorizadas. Enquanto o Partido Co- JUSt,unence re~iwdo? Sep como for, a term111ologia utiliz:1d,1 por Jacques
mu~1sca ~r.tcassava rocalmenre, em Portugal, nas suas tent:mvas opor- Tsna1d no Le Mondr de 9 de sete111br0 de 1977 faz sonhar: "Entre o
tunistas Junco ao5 chefe, militares, o PC fr,1ncês, hesirantc: por um término das colheic:1, e a aberturn da remporada de caça, o exército d,
momento, pareci,1 se reaproximar das corajosas soluções it.1lianas de terra 01g,111iwu, nos confim d.1 Be.rnce e do Perchc, sua p111neira mano-
Berlmguer cujo famoso "compromisso histórico" tem :,penas o sentido bra cm terreno livre, isco é, fam dar r,tmdns e dos c11mmho1, numa região
de uma desesperada e derrade1rn união dos partidos rrndicio11ais diante de 2 mil quilômetros quadr.1dos de cerras de cultivo e prad:uias." Eles
da :1meaça de desap.irec1menco puro e simples que pesa sobre eles, mn- realizaram, na Beauce, uma "111,1nobra-espedculo" para manre1 as rebi-
to do in terior como do exterior. ções de boa vizinhança do exército com ris popularões cwis. Os agricultores,
Na Fmnça, enquanto se tent,l conservar .1~ massas p1 esas a convic- que se 1ecordam da aJuda craL1da pelo exército no ,1110 passado guando
ções estratt;lgicas e sociais u Itrapassad.1s, o exerci to já dispers,1 çcu pessoal d,1 grande sec:i, ,\ceirar.1111, ao <]Ue p,1recc, sem resmung:ir muito, o exercício
pelos pontos chaves das atividades civis e subsmui a políci;1 em w.1s Demerer . A deus:, Demerer está do nosso lado, gara nte o co1onel de
tarefus de controle viário. O trab.1lho do proletâno/milirar é dorav,ince Rochegonde, que comanda. a segunda brigada mocoriz..,da. Um outro coronel
o policiamento das esrr.1das ou aeroponos, a coleu de lixo na via públic,1 nfirm.1, por sua vez: "Snmos apenas gcre,;tó da Segurança Nacional e, nessa
(no que se nd1cula1 izaram políncos como o dcmocrar,1 Abraham Bearne, condição, devemos p1e~car contas." O exército ap1oveir,1 c~~.•s m.mobras
o "pequeno" prefeito de Nova York), e rambérn ,ts telecomu11icações e o cm campo aberto para conduw, por exemplo, o reconhernnenco ofensivo
socorro de emergência, ceira~ operações de pre.\ltígio como O combate à de uma brigad.1 a 50 <]llilômetros dc- ~u:i b.m: com operações de relações
poluição, campanhas pela preserv,1ção de síno~ ;irqucológ1cos ou pes- públicm no dep.11 camento de Eure-er-Ln1r." Não se encerram os d1omocracas
qui sas_ sobre o câncer. a organiz;iç:io de numeros,is m:rnifesrnçõcs nos gulag~ ou nos c.11npos, 11c111 me~rno os do Larzac
espomvas e culturais (a Festa nas Tuileries, o exército no Salão d.1 O I nscicuco de Alt05 Esmdos de Defc:.a acional (1 H EDN) gas-
Criança), importantes empreendimenros internacionais, salvamento de 1ou seis meses p.1ra c5tnmrrar, Juntamenrc com cspec1,d1st.1s da pub!t-
crianças em Biafra, hosp1ra1s ambulante~ par.1 prime 110s socorros c:m ciclade, uma campanh,1 de ne~ anos {ao cu~to de 60 milhões de franc~s)
zon:1s devastadas por caraclismos nacur:11s ... e mesmo em Enrebbe 0 p,1ra scn5ibiliz.ir o p1iblico ~obre .1 noç:io ele defesa e de proceçao,
"sa1vamento"de u_m ~rupo de rerens. e, Num universo socia l inquietante. '
co1woc..rndo t0dos os meio~ de info1 mação para 111ud:11 a imagem de
formado de .1ssoc1açoes profusamente descrirns e mostradas como cri- m:irca do exército (/ t Monde, 9 ele maio de 197 5). . _
minosas, o exército aparece como u~1,l força de p1oteçiío, um refugio Jod le Theule, depucaclo d:i UDR, relator especia l da C?inissao
ante o sucateamento dos empreendimentos subversivos. O exérci to de Fmanças, n111a· 1 motivos · 1egmmo~
' · ·
par,l ~e 1nqu 1erar
· , cm seu 111forme

100 101
a respeito "da programação mi lita r para 1977/82" , com "a folrn de
polnicos existentes, nos reveb efet1vamence o grande movimento de
informações condbeis sobre o emprego das verbas", esta l'flgmdade que
ida e vincb do totalitarismo dromocrático ent1e metrópoles e colônias
im pede urna apreciação das inflexões de nossa política de defesa... O
que, esboçado durame o esforço logístico sem precedentes da Primeira
exército busca reencontrar sua ;iuconornia de ação, se redefinir ele pró-
Guerra Mundial, vai real1z:u, por volt:1 dos anos 20. a singular unidade
prio como ser11iço público capaz de assumir com ordem e segurança o maior
da civi Iização ocidental, "esta i nco rpo ração da ação colo 111 ai na vida
número possível, ou mesmo a totalidade, das caretas de defesa civis e
nacion,11 corno solução para os graves problemas que a evo lução da
militares, imitando aqui, novamente, o empreendimento comunal e
humanidade imporá. amanhã, ao mundo", declarava Albert Sarr:mt,
ind~1srr_ial ~om sua~ _iniciativas paralelas. Percebe-se entáo a gue ponto
ministro francês das Colônias, em 1921. Pa1a compreender a sociedade
o sind1cal1smo rnilnar enal tecido pela Liga Comunista, 0 P,1rrido
dromocrátic.i e seu estabelecimento é cercamente mais útil reler o código
Soci~lista Unificado (PSU) ou a C.F.D.T. em nome dé reivind icações
negro do pacro colonial do que qualquer outra obra com pretensões
1msonas, entra finalmente no p rojeto social do exércico. É 1·evel;idor
sociológicas. "Não é preciso", escrevia Colberc, "que se constitua nas
aliás, ver se constituir a primeira seção sindical no 19~ Grupo d~
colônias urna civilização constante.. ", antiga legislação que subsistirá
Engenhana, mostrando assim que este corpo conrinua ainda na
vanguarda do pensamc:nro revolucionário rni lit:irl em nossas colônias até 1848, e declarava o negro rn611el - o escravo
negro é antes de mais nada urn bem suscetível de ser deslocado, sua
Ba!~ac, dirigin~o-se após 1830 ao campo de baralha de Wagram
existência legal é fu nção exclusivamente de sua qual idade móvel, do
com o ~m de _a,mpLwr sua análíse social, já se colocava a questão do
verdadeiro terntorw r0 hzstorwdade, aquele teat ro estratégico que, grnças
transporte de que ele é objeco. O sucesso elo jazz negro-americano após
1914, aquela gcsticulaçfo desenfreada revelada pelo primeiro filme
ao progresso dos m eios de com u111cação (a utilização do relégrafo, po 1-
falado a mericano colorindo o rosro de uma estrela de cinema branca e
exem plo), cornara-se repenrmamente global. Os aconrecimen ros exter-
sujeitando-a ao rirmo do escravo móvel, dá o que pens;ir sobre a culrnra
nos e in ternos podiam doravante reagir, quase insrn n taneamentc, uns
hoje dominante nesse país, na reflexâo profunda de Baldwin: "Ama-
aos outros. A essa coação temporal oriunda do campo de baralhares-
nhã, sereis rodos negros!" De faro, desde ;:i origem, não há no sistema
po.r:dera ª.aiação da nov:i "polícia secreta", q ue ele cons idera a revolução
americano medida comum entre o valor das mensagens envi:id,,s e a
social mais 1mporta1~ te de seu tempo, aquele momen to em gue, após
operação necessária para a sua transmissão. Mais que o conteúdo ela
um prolongado penod<.1 de repressão ostensiva e sangrenta exercida
mensagem, os meios de sua mediatização parecem instrumentos de
c?n:ra as p~~ulações civis pelo "exército do interto1" ela Revolução, a
primeira necessidade nos Estados Unidos, primeiro em SLW relação marí-
VJO_lencia miltrar deixa de ser forçosamente perceptível de longe, pelo
tima cóm a Europa metropolirana e com :1 África fornecedora de mao-
uniforme, para repousar em sistemas concatenados de vigi lância e
de-obr,l, depois, pel:1 constituição de um cerro centralismo de Escada
~dação. Esses primeiros trabalhos de penetrnção, "de invasão'' clandes-
sobre um imenso território onde, para governar, é preciso primeiro se
tina do coi:?o social tin ham, como j,1 observamos, um objerivo p reciso:
a exploraç~o, por_ suas forças armadas. do potencial bruro da nação
instalar e depois comun icar. Os meios de comu nicação são o~ instru-
(:uas capa~1dades 111du_scna1s. econô m icas, demográficas, cu lturais, cien- mcnros p1·ivilegi,tdos da União, os únicos capazes de controlar o caos
social da pan-human idade americana, garantias de uma cerni coesão
nficas, _polrnca~, morais ... ) ~· e_m seguida. a penetração soci,J é ligada à
evoluçao .fulminante das tecn1cas cívica e, com isso, ela própria segurança civil. [ nvers:1111e11ce, como no
_ , de [Jenecração
, , m·i·t·
1 1 ,11• em que cad a
modelo colonial ant igo, a democrncia american.i não fod esforços efeti-
avanço ve1cu_lar anula um_a diferença a ma is enrre exérciro e civd iz;ição.
O fascismo, definindo-se ;:i si próprio , n~,, Alei11an 11a. corno vos para a integr,lção das etnias, das facções, nu ma civilização conscan,re,
num modo de vida soci;il verdadeirameme comunitário, porque e ª
Ostlwlomsation, ou sep, instauração de uma sicuaça- , , 0 colon1a · j no Leste
do continente e uropeu, pretendendo subverter ali os co llJ· Ull tos s6 CIO- ·
segregaçáo que justifica ,1 hegemonia do sistema da mídia sobre O qual
repousa a n;icureza da auroridacle do Escada americano. Esca é uma das

102 103
enredados muito frt:qtic1Heme11ce na culrur,1 de ciice e lubirnados ,1
r.1zõc5 do velho 1:1cismu c de su.1 :,obrc,·1Yênc.i.1 110~ ho/11 orlarliío, cb [JI ivilegi:ir mai~ .1 mensagem que ,cu veícul1~. eles_ dific.:111,11.:~llt: ,1l~a1'.çu:10,
Aménca livre, e poderemos pe1cebe1 1;1111bc111 que;: ,1:, g1:u1<1t::, c.011vul- por meio da, propag:mdas ideológica5, a perfe1rn ehc.tc1a logtmc1 d\)
sões 1nrern;is e extern.1s dü, F,r,1clo, l l11icfr,, c-r,11·:ío lig:id:1., clircramenrc
"reclucioni~mo" patriócico americano i\,Lrn r.udc, depois d.1 guerr;i t0tal,
aos acon recimento, d, 01110logico, /1, récn icas mes1na: clt: penen :l(,iÍO e isto t'., depois da desr1uiç:í~1 exren~i\,l d.1 idrnud:ide d.1, n:1çõe, eurnpéi,1, (.1
de tr.1nsmi5sfo, d~ mensagem de r.idio reca,dacla de Pe.1rl-l--Lirbou1 ,10 (Juerr,1 cor,11 é, r:d como .1 g,uerra colon1:1l, unu empresa ele :1111qudan1c1Ho
caso dos gravadores de \Varerg:Hc ou cio .1,,a,,1n:1to de Kennedv: ~ .
das civilizações pernunemes), oco11e a ev.Ku,1ção dos e,roques americanos
poderíamos pc1correr rod.t :i non1enclamra. Ci.t1zm f<1t11r, o proclu;o para a Europa. tvbs nova me me não a1ulisa1110,, na oc~,iã?,, esre afluxo de
111.iís hem :1c:1baclo d,1 culcu1;1 ,-ívic:1 .unerica,u (b,1rizJtl.i, a posrcrio1i, insrrumenrns e objeros desc111b.1rc1dus pelus libl'rty-sh1p!. r111harno, arnda
de pnp-cu!tm·c'), é 111e110s \Xldl 1;1m Randolph He:H,r, o 111agn:ir,1 cl.1 tH.:cessichde de c.1nega1 de s1gn 1r1C1\-oe~ esrénL,t:,, Íu1i...io11.1is ou ourr;1~, o
imprensa que sc1v1u de modelo :i Ormn \X1elles, elo que I loward Hughes. mundo dos c1t ros gig,111te\, ,1 plctot a dos objeto\ do111émc0s nas cozinhas
o c1cl.1Cl::io 1m·1sívcl. Ek. Hc.usr. envi:w.1 .liml.i uma 111cns:1l!;clll; I-h;ghe,
runLrnces onde 1usra111eme n:ío 5c p1cpar.1 qu.ilque1 refetçiío, conrenc:mdo-
COll(ClltOU-Se com especular i11d,re rencc111 enre sobre rucl0' que per:111te 5e com s:1ndukhes e conservas. rodo esse cspcc;1rnlo de "obJet1vid.1de sem
env1á-l.1. Incorpora perfeit.ll11e1ae a crítica rn:us r.~cl ,cal d.is teo1 1,l\ pensamento que desvaloriz;i o p1óp1 io concetto de consciência", par.1sitage111
111undiali;c.1, dt.: f-ulkr ou de l\kLuh.111. [stt: homem, 111tci1 .unente
clandestina d.a rocalidade dos vetores ord111;111os d.1 ;11re de trocn e de
:isoc1:1I e isobdo do mundo, que nutre um medo 1111;og1110 do co11taro comunicar, v1;1 códigos técnicos resulranres d1n:rn111enre dos sisrem:1s de
h umano, a quem o ldliro dt: seus raro, vi,irantes apavora, ocup.1-se
entreranrn :ipena, de míd,a, do :ieroc,paci.1! :10 cinema. do petróleo aos produção.
bicom ramos enc~o técnicas do corpo e da alma escranh:1me11ce sofis-
campo, de .w,aç:io, d.1s sa la; de JO!;OS ao star-;J•stem, cio desenho do ticadas na culrn1 a pop :11nericana. Corno j;1 obse, vamos, o corpo sem alm,1
su ri:i de Jane Russel ;10 de t1111 bo111b.1,deiro. Sua existênci.1 adquire um é u corpo ajudad0 pelas próteses récrncas e, a propósito. dos Esrados
111
valo1 exe111pl.1r. Hughes só ,e 111tcrcss.1 pelo que rransirn. Su.1 vid:t s.1lcica Unidos, é bom não \C esquecer d,1 crimolog,a da pabvr.1 confort, do antigo
de um vetor a outro :1,s1m como, hú duze11ros ;mos, o pod::rio dessa
cermo francês assisrm,a', referência ao velho bescd rio social dos corpos
,~ação amenc:ina que ele adora. N.1d:1 ,n.11s desperta su:1 ,ensibi lid.1de at111"idos em marcha e largados na e,tr,Kh. Desencadeada desde os anos
Ele :ic,16a de niorrcr cm pleno ceu, dentro de um av1:io. 20,: desneutralizaç:io dos meios ele co111u111c1ção' ,1bre c:-1mtnho para o
Do mesmo modo. os mérndos co111erc1,1is :llnericano~ rriunC1r:1111 que ciumamos de "guerra do mercado doméstico", campanha ideológ1c1
11a Europa, em 1914, graças i1s dimensões logímcis 1mp1evisus toma- massiva direrarnenrc enclereçad.1 ao quehra-cabeç,1 famil iar que el;i
das pelo conflit0. Os Estados Unido~ ganh,mam :il, um:1 das p n me1r,1s pretende puder manter i: .ué mesmo reivenrar como "recepd.ntlo infi-
guen.1s do petróleo, coloc.,tndo o 1uen....1do liancês n.1s mãos da ~candarcl 1
nito ela, merc:1dori,1s ele Lon:,umo", e que rransrorrn,ir-se-i, muiw rap -
Oil, encur~dando nmso exército, '7llt: parrira p;H:1 o comb.ne com qu.icro- damentc, na ve1dadeir:1 domesr1c,1ção ;inimal du ud:1dão :1merica110.
cenros vagoes-tanques enquanro os americ.mos possuí.1111 111.iis de 20 miL Faro sig11ificar1vo: o governo dos E~r:1dos Unido~ nno julgar:í neces:.\ri_o
Uma vez mais, não for,1 o obJCW do co11~u1110 e silll O seu veror de cncrcg.1 1
j nst,1t11 ar. em seu próprio rcrri ró no. um ve1dade11 o regi me de .1ss1sre11c1,
que criara o mercado' "
social. Ele esr:wa realmente e0nvenc1clo, i1 époc1, de que :1 promoção da
Rcconqu1srada a paz, é inrcressante obscrv.ir o ,·ecuo dos americ.mos civil i1.1ç:io cio confort, parcrnalisra e human idn:1. deve'.·ia sub cirnir
5

110 mercado . europeu, e . especialmenrc 1n• F1·111ç·1


, • , 011clc :,-u-.1,- e mpt·c~.1s ~e e· , · 1 • • • si· c,· t,;c·1ucf/ dns corhM,
pnre1rame11ce a ,1ss1srenoa ~ou.1 graça~ ,1 r/;)t 01 11 < • 1
revelaram incapaLes de 1111planrar seri.1mcnrc seus produtos, "cometendo
erros g10s~eiros de ps1cologi.1 em ~ua5 camp:lnhas nublic,t~1
r " i,is'' CI,«ra1nente,
.
a cultur:1 européi,1 1eS1Sre ,1i nd:1 vironmamemc ao cerco culrur,11 dos Grados
1 1) C.1ivdli, / ,1 fi11 rir !:t '"·"'· édHHJl1~ Bn,.s.11d. l ':132. "Culnuc p,oro-pop <:r

Unidos. Governos rocalir:írios tentarão insral.u verore, co ,ii ,,l;\\t:IS,lll,l~


J i)··i·' , .· cu\w rc c111,1pccnne"

105

104
i_ndo do robô para serviço~ dom1:sricos ao psíqu1at1 ., de cmpres,1 , ou .10
onde r1 inc.1 ;1 qu.1re11c.1 mil opcràno~ são larn,;ados no <..ombau.: Como o
ulc,mo modelo de vdculo, um pouco como vigora hoje, naquele p:iís,
processo revoluc1oná1 io de proler,1riz,1ção do ciabalho na~ce da guerra
um _gosro romanesco pelos corpos biônicos 1ernincscenre5 do fumrismo
de massa:. e do mov1111ento. o mico do· opedno d.i mct.lfísic1" (imagem
fascista, corp~s humanos ~nde <..ercos ó1 gãos sao su bsncu ídos por en-
bíblic.a da pnmeira dor do homem maldito por Deus, maldizendo e
xertos
. tecnolog1cos, permitindo que esses novos hc.ro' 1s d.1 1..1e11c1,1
• <.1· rur-
·
matando, por sua vez, par., submrní-lo em sua obr.1 de uiaç:io) tomn
g1ca reali1em proe1as físicas sobre-humanas • · Mas ·
,1 poli't'c 1 f'
1,1 lO CO!l OltO
corpo, ele c:imbém, nos grandes campos de baralha da guerr~ industrial.
sucedeu a do strmding; cada pesso,1 via-se 1epemmameme como alvo do
Tedh.ud de Chardin, por exemplo, acrcdira. como .1 maioria de ~eus
conrrole d~ seus vizinhos, alvo da comparação com a imagem p.idrão
contemporàneos, que a guerra é um dos princ1pa1s fe1 mencos do
do consu1111~or amenc~no ideal, modelo de civismo, cujos gestos, m.inias
prog1esso récn ico, ma~ é "ao vivo" que ele é abalroado pcb idé1:1 do
e,a:irude: diante da v1d.1 ~r~m .,gor~ difundidos incans:ivelmente pelo
"homem in,Kabado", quando daquela "rne~quecível expe11ência do
radi~, .ª, 1~11prensa, a relev1sao e o crnem:1. submergidos por ant'incios
fronc", es<..revc ele cm 1917 Em 1945, ao fim da guerra mundial, ele
publ1c1ranos. No plano político, é .1 époc,1 do matarrhismo, das listas
observa: "A guerra é um fenômeno orgânico de autropogêm·s1' que o etis-
negras, da caça · àsdbruxas anti-amencan.is. dos processos de: inrelecr u,us tian1smo Já n;10 consegue suprimir, assim como a morre." Ele recoma o
e artistas d es1gna os, ainda no 1elarório eh Tril,ueral de 19-5 como
com de Tácito parn recear :iquela P,,z das nações que recobri1<t o mundo
ameaças à dem~~rac.ia po_r sua capacidade de insp11ar ,1 fnrm;:çiio de
com "a crosra das banaliJ,,des, o véu da monotonia" (A Nostalgin do
grupos desmobilizados e 1necupedveis
Frrmt, 1917) "Algo como uma luz se excing111r-se-,í sobre a cerra." A
_ Com ef:1to, a sc.-gurança (:,oc1al) ao modo americano implica. 0
dcsnwbzlzznçrío ser.\, para o memb10 da "Ci-o,siere Jmme" (esta epopéia
subdesenvo lv1me11ro
, culrunl , " 0 E' 1111p1ess1on.111re
, da, populaç;; · . · ver os
do assalto aucomouvo), a tmobiliZllçíio na ,11Hi-revolução-evolução En-
Estados_ demo~ranc?!> modernos , anglonando-se de esrar as~emado, so-
quanto a lcnra preparaçfo ela guerra exige meses, e .ué mesmo anos, o
b1 e ma1om~s silenc1~sas. À sua maneira, o silêncio do povo amencnno
assalro decisivo dur.1 apenas uma hora, alguns minutos acé. Exisre .ilgo
tornou -se cao op1ess1vo quanto o do povo russo
no olhar evol ucion.íno-revolucionáno sobre os corpos engajados no
cinensmo histórico reminiscente daquele homossexualisn10 fac:il dos
gene1,1is .111c1gos, dos dé~por,1s escl.Hecidos, dos sulc:\os. fozendo aque-
. A h1erarqu1a das alrns velocidades de penetr:iç:io e de assalto fez. e
las "milíci.,s muito agradáveis de ver por aqueles que não escavam des-
desfez O espec~ro do p1olecário como numa fusão de imagens de cincm,,,
t111,1dos a receber seus go lpes''' repetirem incansave l mente suas
aqte 1~ mut,iça~ que começa com a d1v1são wcial l~O cl:ir:1 com:1nd:ida
manobras; rodos fic.1m po~suídos de um desc:jo 111concrolável pela c,11 ne
pe a onvenç~o e prosst:gue naquele olhar mais mrvo ck J\farx e de
Engels, que nao ~onseguiram discernir a figur:i 111íc1ca do Trabalh.idor submissa do prolerário/soldado, e~t.1 massa podero~a de "m,iquina5 111ó-
ve is . . obedecendo cegamente ,10s impu bos de seus conduco1es"
m esmo naquel'.1 pz1da cão rica d:i prolecanzação i11dusma l que foi a
Inglaterra do seculo XIX. f::.ngels n•ío consegu1u • deKo b rtr . Jru espcamc . (Babeuf). /\~ forças de trabalho milicare~ não sJO mais co,1gidas .1 se
seu neanderrhal vender mas J. se encrcga1 .10 empres:trio de guerra. Silo o que a mulher,
. da evolução hisrórical • ... e 101
e .
somente e;: 111 ;unho de•
184 8 que a 1mage111 finalmente se formo n~s r d e depois a montaria, eram para o cavaleiro na baralha, ajudando-o a
•• "_ 11 , ., uas e pans, · num
pa 1co da guerra c1v1I tao povoado quanto O d a 1n.ira · li1:i de Leipzig · ·• e avançM. morrendo debaixo dele 011 provocando sua morre Alexandre
11:10 é nada sem a disposiçf10 ele Bucéfalo, Ricardo 111, cll1 Bosworrh,
perde ao mesmo rempo o cavalo, a vida .. e seu remo ... O proletariado
2. "Teria eu podido 1mag111.1r, porém, que es1.1 c,oluç'io 1 · · 1 mil,car, depois oper,í1io, ci 11ét1co, infinito e renascendo prolificamence
•· d' - 1 • · llHonc.1 ., l\O1m~mcnre
nece,1,1r1a cm con ,çoe; l ererm11uda;
.,
comritufa um rcc·110 l 1'' p10u1c1111
. , folmc.1va
110mcn1 ab.uxo dos ;elvngcns.. 1:.ngels, A N()llfl Gflzl'fll Renmw "
1. C.11r.1 Jo emb.1ix.1dor Glmh111 <le Bu~hccq .1 t h.ule, Q11111r

106 107
prestadores de serviço, s:io empreg,.1dos essencialmenrc n,, conscruçfo
ede siI mesmo,J· . c.11 rega no espaço e no remno r
o gu 1~., 1. , .·
llSlOI ICO que 0
de obras encomendacbs pelo M111i~téno d.1 Guerra vias est1atég1cas,
dava ga, o mge L e in~pir.1 ,eu< movimentos ' e qL, ...'" e' ram)l é m um 1..11ere ,..
via~ férreas, aeroporros, fabncas. O proJeto fasc1su, finalmente, é t.1111-
e lguerra..
ll d e11111, Trotsky, Sr,11111 , )\1[10
. A c.ngu1.1. revo 1uc1011arn
. , . do
riaT,a ,a or, bém uma espécie de compromisso intervindo 11 0 conflito que opõe de
· 1menos desenhada pdo ~istem1• ,11dL1St 11.· ª1 que pc 1o •.• sist ' n longa data no seio do Estado, a anscocrac1a. o~ milir,1re~ e ,1 burgue~i.1,
1111 irar, n1ve a, em \lll11.l, u111a d1spar1dadc c111éric-i entr g , · e: la
uerra r~p,(la O "A d · e ucrr.1 1..11ta e disputando enrre si o seu p1oletari.1do .
g ' ' l ·• d · · ro o vapor
, . ar r.wes
' ta 1 1.1ma" ' e1o n11lisra Nerch.11cv
.1p0\W o a guerra cerronsrn s1sren1.1cica, n:io é um:t f10-ur1 :i . , . ' Na Alemanha, a prescaç5.o de serviço tornar-se-;\ obngaró ria cm
sim uma pro . - . . . b • ( e ICCOIIC,l e 1928; os que tent,llll se esquivar rornam-sc vítima~ de desprezo, de
v1dade ~bng;t~s;~~1odotecn1<.l,1 se~1;1. rcmed ,a, .1 distorção o1 iunda da bre- exclusão soci:11. de delaç5o, como precedentemente aconreci.1 com o
. ass,1 to ue5trunvo po I _
d,15 :tgres~ôes A "'v0IL1ç;-10 11· , . r uma ace e1aç,10 do nrino de~enor ou o "escondido·• do tempo de gucrr:1. Em 1934, o, campos
· ... • 1sronc 1 e ago ·1
liter.1lme,H1.. ,, r 1
~ • ra m.rnr,c ª em mov1mcnro de rrabalho cotai mente no, matizado~ rornam-se campos de detenção e
.r 0 Ili// motor fl expioJrw!
. O Í.1~c1smo alc:1115.o ted as rnesmas 1r -. . . pode, :io se i transformados em c,unpos de co ncentração e campos ela
Isto se torna ''d,e tocaie l'v •1o b'I 1
I m,lC lllllg
,. ~ 'eocup,1~oes;
'csr. . , . . em 1Heidegger morcc em meio à md1fercnça geral, sem que se retire de seu frontão a
de poder e realizaç·ío d • . _J , ' .1g10 ult11110 e a vonr.1de div1,a orig111al, "Arhcit mKhr hei" ... O de~lizamenro é, de faro, perfe1-
• , a essenc1a oa tecn,ca: o n11lis1110" O 1 ..
soldado poderá perse(7u,r 11 _ • • pro etar10/ ramenre natural. A carne do prolec:í.rio-opcrário n~o é diferente da do
ass.1lto t f, 1 b a nao-gurrr,1, sua tarda revoluc1011.ína o prolcrário-milirar, como escre\e Clausewm: "A exploração do sold,,do
, r.ms ormac o em ,1gressão contra . .'
do mundo (Bakun1n) _J .ª natureza E a p,1n-dest1u1ç;i.o é como a da~ outras minas."
, os granc1es cann:.-, ros de b I' .
consagram a rerr.1 à "uerr ,~ co d o r:is geopu mcos que O, países comunist.t5, por sua vez. realizavam ostensivamente, no
b ,, nserv,1n O pin O op á · d f''.
sua figura visível, ou dando.lhe fi . . er, no a meta ,s,ca momento em que ele o formulava, o desejo de Teilh.ud de C hardin, die
pr.ír1ca, ISlO cornes:a por uma e;sr~i~g~;rª. ~~r ~11e1_0 da educaç:to. Na tot1tfc Mobilrnachung;. mais que a supressão da classe burguesa é o
desempregado 1 - P e .1~s1sre11c1a huma111tári:1 aos des.1parecimenro de seu proletanado-produc,vo Na Chin,l, a parrir de
uai Hei ' s a emaes , pa5sa , . . depo1s par,1 um se,..,,ço \Olunrár10 ao
1964, o slog.111 revolueto11,11io era ""Jomar o exército como modelo", e o
q I de~~er :hamara os inceleu11:1is, "serviço do cr.1balh d 6
povo intei ro era compel1clo a usa, um uniforme p:uccido, espécie de
e e ,1s armas , e ,sro resL1lr"1 " •a' no e1esd obr-1111e . 1 o,:1 1o. S:t er
dos acampamentos ue . b . · nco exemp :ir t ,1 rntóna vestimenta ambígua e assexuada do trabalhador-soldado, ao passo que
misrurando d· . q . ,cce_ em esses pr1me1ros voluntários, tm 1926, na França, pelo contrário, o soldado era cl1,1m,1do a vestir, com freqüén-
' ' 1 m,rnc,r,i rn.us co moven te , ·
cudances Isso d .· ' operai 10·' · campo nese\ e es- cia cada vez maior, mesmo quando dos desfi les oficiais, o brim , uniforme
.
cm que se fazia Pº ci 'ª
. p:i~sar por e t
x remamente ]'b ' era! num momemo
' . se1n11, em rodo o mundo .d 1 . do operário.
;111gusriancc de mio-d b , . oci enta • um.1 necess1d,1de A gr1mdeZ11. toda estri 110 assalio! craduç:i.o abusiva de Piarão ou pa-
' 1 1
e-o • , ex1genc1a 1n s·1c· · 1 d •
poucos .1110s depois esqL 'd· , . . ' _,ave a guerr.1 mdustri,d rifiase do /orcing amencano? 1 O fascismo só foi aucorir:hio na medida
iec, .1, e que exige 1
ção no t1 abalho das _ ,,mu rnne,unenre a coloca- cm que se quis ,ncegralmenre dromocraca: "o espaço vícal" é :ipenas um
. popu 1açoes e sua domesr,ca ã 0 l
estatais paramilitares na Et I · ç, po1 )uroci:1c1,1s d(;saparec1111ento da geogrnf1a da Europa. transformada numa área, num
' 1ropa,tooucrol 1do d A I'
Mar , (O Bureau lncernac,onal do T rab a li10' (B no ) ecn ,111c1co
e, . e no 6 Além- deserto sem qualidades. aberro à expansividade de um.1 organizaç:10
a ,:1,, enne as dua~ guena~ o c d ' i cne ra, gere ."social" inteiramente func1onaliz.1d:i pela hierarquia da velocidade, esta
• , onJunto e P' obl d -
110' lllllndo); ,10 "loránó' amcrica o - . d e mas a mao-dc-obra
. J' o n cor respon e: n:is c I' • .
a organ,zaçfo do trabalho penal ' o o111,1s, o Jff/Otl((,
, ... enquanto na Bulgíria ~ 4. "Tod.1 grnnJc cmpres.1 e pcngosà'. f(,rmul.1 que Heidegger rran,forma h véspe-
o rrabalho civil coma-se obngarório desde 1920 ' ' por exemplo, r,1s da g11.:rr.1 mun di .11 l1ltma 11aJ11çflo menos abus iva do que parece cm "Todaª
sob um,1 direção geral ligada ' • ao M'1111scerio , de Ob,' p.11a pambo~ . osmas sexos,

15 u, 61 1cas, 05 grande-ta cst,1 no as~.,lro".

109
108
hier:1rquia que r11era o nacio11.d-soc1alismo na~ rn.1, de Berlim antes de amenre com ~u.1 ,u m.1-veículo cm :1poteose p1rocéc11ic:i . porque a {rltima
retornai, corri a guen :1 mum11:1l, a su:1s ongem culrn1:1i, de elite. Desde medfora do corpo-velocidade é seu desap,ueumentu final nas clu111::s
da explosão. Assistir 110 rcnasârll(:11to do jososmo, esre é o temor 111an1-
a ongem, o coq;o soberbo do Homem de Assalco, do ariano lou ro e 11
naturista, é deliberadamente exib ido pcl:1 prop.1ganch nazist:1. Aquilo fescaclo por mu icos apos a revelação do, crnnes perpetrados c011r_r:1
hurnanidadt: pelo~ 11aL1,r,1,. O q ue quc1 que f.,çamos, como o í.,~0~1110
que o esddio de Berlim coloca em cen:i 11:1 celebrnç:io da limrg1.1 olímpica
nunc:1 esd mono, ele não precis:i 1e1usce1, não por pequenas b1scorias
é muito precis:imente um,1 hierarquia dos corpos 11.1 ordem das
velocidades de penetração. O corpo esporrivo é um corpo prittinico• s:ido-museográficas e comerciais, e ,im porque ele repre,enrou 111~u das
ele próprio projéril e proJer:rnte A exciração do recorde de velocicL1de revoluções cultur,lÍs, políticas e sociais mais acab.icbs do Oc1de1He
ou de discància é a do assalro, o p1 incípio mesmo d:1 performance es- dromocrat:i com o J11es1110 direito que os 1mpé1 io, do mar ou o
po1 tiv~. Essa cont:1gem regressiv.1 no tempo e no csp:1ço é :ipenas a empreendimento colonial, e ele cercamente cem menos a cerner do
re~rral1zação da corrida para ~ua "grandez,1 ,1bsolur:1", cbqucla cirga "futuro" do que um comunismo que de niarxisca ,ó tem 0 nome, e ,para
quem O fim da dicadu1a do p1okcariado fo1 :i confos:io de sua falenc1a
militar ciue co meça com uma 111:1rch.1 lenta e geométric1 e prosseoue
com uma aceler:i.ção cada vez mais forte do corpo pa1a chegar ;10 111 t sp; histórica.
O fascismo esc:í vivo porq11e .1 i;uerra cor,11. e depois a paL cowl,
ftn.il
Com a guerra total, .1 tora/e lvfohifrnachung adquire seu sentido engapram os e5c:idos-maiores dos grandes corpo~ 11acion,1i, (os exércitos,
pleno. Não h,i m:1is medida social comum entre o corpo triunfonce do as forças de produção) num novo processo espaço-temporal , o un iverso
p1olet,írio/solcbdo, ser superior que, segundo a velha expressão inglesa, histórico num mundo kantiano. O problem:1 não é nu1s o ele uma
hiscoricid:1de 110 tempo (cronológica) ou no e,p:iço (geográfica), mas
~ossu 1 "a m:ignificência do deslocamento", esse solcL1do alem:i.o que
investe com rodo ímpeco 11:is extensões ili111icad,1s ela estepe 011 do e m qual espaço-rempo? .
des~rco, e o corpo cio proletario/operário ellcarregado de gar,rnri1 o esforço Em artigo recente, eu colocava em quest:ío J necessidade d~ rever
log1mco. Ma~sa cios refornudo~, dos prisioneiros e deportados imernos noss:1 concepção tísica da história\ de :1d1111ci-b enfim por aquilo em
cios ca m pos, corpos inc.1pazes, suspeiros.. . que ela se rransfornu: . .
" ... isco que, em resumo, foz d.1 co ndunbd1dade da guerr,l esse
, Para o fascista iraliano que passa direramente do recorde esportivo
a g uerra absoluta, a exaltação do co rpo-velocidade é total, é a "Poes ia projeco coerence que proferimos no rernpo e no espaço e que podemos,
do bombardew" de Mussolrni. Para M,mnetti, segu indo cl'Annunzio, ao repeti-lo, impor ao ,1dversário não o instrumento, mas a origem de
o "dandy-guerreiro'' é o '\'1nico sujciro capaz, sobrevivendo e sahoreando, urna linguagem cot,1lidna da Histó1ia, o esforço 111úrno dm Estados
no combate, ,1 potência do 5011ho rnec.ílico do corpo humano", 0 europeus e, depois, do mundo, rumo i1 essencia absolura da guerra (a
acoplamento _com 11111 eleme nto técnico muirn nuis incômodo que 0 velocidade), adquirindo ass1111 o srnudo d,1 comad.1 de poder absoluro
por parte da inteligência militar ocidental ~obn: a hisróri:1 u11ivers;,1I._A
cav:110, o :inngo veículo metabólico d,1s el rces g ue1 reiras: vedetas dpi-
d:is ou "corpedos" cavalgados debaixo do mar por hon1ens-r:1s ariscocra- história pur:i seri:1 entJo ,1pen:1s a rr,1duçiio do puro avanço escrat~g1c.o
ras em busca da frota ingles:i. Os camicascs japoneses realiz:irão esse no terreno, seu poder ~eri:1 o de precedei e ~er deFinHiv.1 e u h1ston:1d0r
son ho sinérgico d:i e lite militar no csp.1ço, des111regi:1ndo-se voluncari- sena um mero mpar,o tia g11erm do tm1po. ''

• l'rir:\n,co
, . • deriv:idu cio g re~o. Prirancu
. o· de r,,...11 ,11
{JHÍrane) , lu<•ar · ,-10 tos1 pnr.ln , C),
n.1• Grec1a Annga. . onde
, tomavam
, • rcfe,çõc,. :\~ cusr·1s
' do E.sr,,I,,
• , ,-,1,'-m
... d e 1t:\, g1,ln( 1e
numero ck fu11c1on,mos p11hl11.:os e cerro~ c1d.1dãos a quem ~e t·oricel 1·" f,. (-;l l f)l'IVI
· 'I't:tf! t)
em 1ccompensa por serviços prcsrados ;i p~m.1. (N. do T.) "' 5. l'.1111Vi1ilio, "Lo gucrre l>lllt", Cmirp1c, orrrubrn, 1975

111
l 10
4

Uma segurança consun1ada

"Níío JI' di,,,de 11 srg11rrmça. "

1v1 Pots1Al UWSK1,4dem.uçode 1976

"A revolução avança mais depressa do q t1e o povo". declarava, no


começo d os aconcecimcncos ponugueses, o general-presidenre Cost:1
Gomes.
Como isso seria possível? Simplesmeme po rque, no fina l das con -
tas, as pretensas revoluções do Ocidente nunca foram fei ras pelo povo e
sim, pela instituição militar O liberalismo econômico fo i táo-50 mente
um pluralismo liberal da ordem. d as velocidades de penetração. Contra
o modelo pesado do e nclave burg11ês e o esquema singular d a pesada
Mobilmachung ma rxista (controle plan ificado ostensivo do movimento
dos bens, das pessoas, das idéia~), o Ocidente propôs, desde há mu ito
tempo, a diversidade de sua hierarq uia logística, a uropia de uma riqueza
nacional investida no .Htto móvc l, 11:is viagens, 110 ci n e m a, n as
performances. .. Um capitalismo transformado no dos jet-set e dos bancos
d e dados inscanr[meos, roda uma ilusão social su bord inad a. na verdade,
à es cracégia d e guerra fria . Não nos enganemos: os drop-out, geração
bear, automóveis, trabalhado res migrantes, curiscas, campeões olímpi-
cos. agentes de viagens. etc., .1s d e mocrncias industriais- militares sou-
beram fazer, indiferem eme nce de todas as categorias sociais, soldados
desconhecidos da ordem das velocidades. das velocidad es cuja hierarquia o
Estado (Estado-maio r) controla cada va mais, d o pedestre ao foguere,
d o metabó lico ao tecnológico. Our,inre os anos 60, qu a ndo um.

113
americano nco queria prova, seu êx ito soc1;1.I, de 11::io co111pr:1,·a "o maior Com o problema palestino, a guerra popubr romara. bruscamente um
carr:ío americano'' e sim um "con1p:icro e uropeu", mais 1·ápido e ágil. ímpeto rnund1alísta. Co m deito, J t;ítica. que COllSJStC em a.barca, de
Dar cerro é alcançar o po der de uma velocidad e m;,ior, ter a impress:io m aneira difusa os ternrónos mais extensos para esc,1par aos poderosos
de escap,ir da un:rn111lldade do cnqu:idramenco cívico. Desde ,1 guerra núcleos da repress5o mil,r.ir, n :io podi,1 rc, qu.liqucr sentido para eles,
mundi;il, j,í. 11:io se pode mais foi.ir propriamente de guerras estl'angei- já que a causa mesma de sua lura era justamente ,t privação de território
ras, externas, co mo dizia, co m muita propnedade, o prefeico de Filadélfia o-eogdfico Eles não dem orarnm encfo para se instala, literalmente nos
durame um ve ráa quente americ.1 110: "Agor,1, as fronté'iras passam por fusos horário~ dos aeroportos mundi:us. o~ novos soldados desconhe-
dentro das cidades." Quer sep a esrrJ da, quer sej;1 ,t rua, tudo parnc 1pa cidos, vindos de parte alguma e 11áo encontm11do mais terreno estratégico,
da d errade ira fortificação 110 deserto fronteiriço . O muro d.e Berlilll hatem-se no tempo estratégico. na relatividade do tempo de transporte. Como
beneficiou-se, neste vcr5o de 1977, dos últtmos aperÍC 1çoa111emos em náo h,í estrada que n ão seja, cm tílrima insdncia, e~rratégíca, não há
m atéria de m inJ.~ e sis temas .1udiov1suais, uma verdadeira reforma! mais desde agora, a bem dizer, avi,1çfo civi l, e é natural gue supers~n1-
Depois de Belfost, Beirute nos mostro u a velha c idade comunal d es- cos como o SST a me ricano ou, m ais reccnremenre, o Concorde, se;am
moronada sob os golpes dos migrantes palestinos. Viveu-se ali não mais obJeto de interdiçfo e de polêmicas ac,tloradas: su as alr;is performances
o velho esrado de sítio, m:is uma espécie de estado de e mergência per- s5o milirarmenre pouco supordvcis e reprodu1em nos vetores do sr:itus
mane nte e sem objetivo Par.i sobreviver na cidade, era preciso manter- quo nuclear, o fenô meno do assa lto automobilizado dos :1110s 20 nas
se informado pelo rádio, dia após dia, sobre a situação estratégica do ru as da cidade burgues:i.
próprio bairro de moradia. C1da pe5soa tra nsformava SCLI ,rnromóvel Em 4 de 111a1ço de J 97G. Michel Poniacowski, então minisrro do
num carro de assalto abarro tado de :irmas para garantir sua liberdade Interior d:1 França, d eclarava; "Não se divide :i segurança!" Para ser mais
de movi m e nto. N ão somente :1 violênci;1 não se distingi.iia mais pelo exaro, ele devcri,1 té'r dito: Doravante, não se divide m ais a segurança.
uniform e, mas os combatentes tr,12.iam o rosto coberto, como assalcanres Três meses 111:1is tarde, o presidente G iscard d'Estaing declararia num
à mão armada; eles não desepvam ser reconhecidos por cvenru:iis vizi nhos discurso feiro n.1 Escola Militar: "Temos newsúladc, .10 l:1do dos m eios
ou p arceiros sociais .. espécie de retorno ao guerreiro indígcn;i, à "gu err;i supre mo~ de nossa segu ranç.t, de uma espécie de presença de segur:inça,
livre", c omo q ue a recuperação d e um ce rro subdesenvolvim e nto 1sro é, de ter um corpo social orgam:wdo em função dessa necessuirule de
tecnológico d as m assas cm m:itéria de armamentos, uma nova et:lp:1 na segurança." Pouco depois, Olívier Stirn, secretário d e Estado dos DOM-
desinformação dos cidad ãos, paralelo à clesurba11 1zaçio. Quando o Estado TOM (Deparr:1menros e Tc:rritó rios Franceses do Além-i\hr) :1fir111;1va
am ericano recusa-se a aJ udar Nova York em crise, o brigando hospitais ao Conselho d e Ministros, em 25 de agosto "A evacuação d os habir:111-
e escolas a fechar, reduzindo a assisrênc1,t soci:1 1, e a c idade náo é mai~ rcs da ilha de B,1sse-Terrc. a m eaçada pela erupção do vulcão de la
vamd:i, tr,ic.1-se da d ,sso luç:i.o d.1 cidad e em seu próµrio s ubúrbio. a Soufrierc, demonstrou m possihi!idades de reaçiío imf'r011ú{lda da socu:d{lde
Futura au roges tão popular do m edo c ivil. .. a guerra popular concribu - liberal." O que se assistiu em seguida foi que a proteção civil e social
íra amplamente par;-i fazer d os modos de so brcv1 ven cia 110 campo de nesse gênero de assunto não é mais co nre mpo rânca da catástrofe. E la. a
bata lh,1 um modo d e existência. O Estado modc, no retoma a formu l:i precede e, have ndo necessidade, a inve nta.
em s ua nov:1 revoluçáo logística: quando o rei de Marrocos decide recu- D e foco, esta m anipulação deliberadame nte terrorista da necessi-
perar o $,iara esp anhol no outono de 1975, ele nfo env ia p.1r,t lá seu~ dade d e segurança por pane do poder responde perfeiramenre ao con-
exércitos, mas atira no lug:ir os "marchadores da paz". m assa mise rável junto das questões inédiras colocadas :is democracias pela evolução da
reunida 11::1.s cidades e jogada d esarm ad a n o deserro, à frente d os estratégia nu.clcar - o novo isolacionismo do Escado nuclear que, n~s
blindados mar roquinos ... como se, afinal, se tratasse agorn d e uma Estados Unidos, por exemplo, esra re novando cocalrnenre a e 5 rratégia
his tóri;i ecológic,1 a ser resolvida mais enrre civ is do que cnrre 1nd irnres. , · na pratica.
po11r1ca ' · u ·~ ·
R ecn·ar a mao por m e io d e un1a nova unanimidade
<

114 11 5
da necessidade, como foi a cri::tçáo fantasmagórica da necessidade cio coloniais portuguesas fundam , em seu próprio país, um "M111istério
carro, da geladeira, peb mídia... haverá a criaç:ío ele um sentimento das Comunicações Sociais". Quanro ,10 general Pinochet, que nfto tem
comum de insegurança desembocando 11:uuralrnente num n ovo tipo o hábito de medir as palavras, ele muito s1111plcsmente cria, no Chile,
de consumo, o da proteção, que ocup:irá progressivamente o primeiro "o Departamento de Assuntos Civis"!
plano e tornar-se-á o Ílm de todo o sistema de mercadorias. É isto aproxi- Os trabalhadores sociais declaravam, há alguns anos, na hança,
madamente que Raymond Aro11 dizia recentemente quando acusav,1 a em pleno período de prosperidade econômica: " Nós somo~ rrabalh:1-
sociedade liberal de ter se mostndo ocimtsta por canco tempo! A dores como os outros porque somos membros reparadores do ,1parelho
promoção 111dtvisível da necess1ciade de segurança já compõe um novo social-produrivo." Após 68, eles se mosrravam menos enfáticos: "Os
modelo de cidadão, não mais aquele que enriquece a nação consumindo, rrabalhadores sociais senrem, de forma aguda, a ambigtiidade da noção
mas o que investe pnmeiro 11,1 segurança, que gere melhor sua proteç::io de trabalho social e são scmíveis aos equívocos que ela pode conter." De
e, finalmente, que paga para consumir menos. Tudo isso. na verdade, é fato, na nova economia de sobrevivência, não se crara mais de participar
menos contradicóno do que parece. A sociedade capitalLsca, desde ,1 de uma sociedade de abundância (mais ou menos Fútil). Berlinguer
origem, associou estreitamente a política :i libertação do medo, :i. declarava em janeiro de 1977: "A austeridade, somos nós que a queremos
segurança social ao consumo e ao conforto. O anverso cio movimento para mudar o sistema e construir um novo modelo de deJenvolvirnento."
forçado é, como vimos, a assistência, e é a p,ircir da guerra ele movimento E, bizarramente, ele se refere logo depois ao sistema de transportes. "à
que a invalidez dos corpos incapazes toma uma consistência social através revisão do mito do carro individual com a reorganização das cidades. A
das reivindicações do trabalhador militar. Se o Trat.ido de Paz ele Vers;1lhes solução ojerecída para o problema dos transportes deveria provocar uma
se preocupa com a assistência é que a facalidade da Defes,1 nacional transformação radical dos mecanismos do hstado através da modificação
exige e impõe, doravante, aos Estados, uma ação social plan ificada como da natureza das empresas". Assim, por todos os lados. o poder veicular
parte da defesa geral. Como observa Gilbert M ury, as primeiras verda- da m.u;sa móvel vê-se reprimido e reduzido. Das limitações de velocidade
deiras assistências sociais náo são 11eutras, já que surgem nocadamente ou de combustível à supressão pura e simples do cano individual. o
no "Partido Social Francês" do coronel de la Roque. Vale lembrar também mico do carro é condenado a desaparecer junto com o do trabalhador,
que os promotores da nova "segurança social'' na Grã-Bretanha (Sir agente histórico cenrral do Estado Jogísc1co A austeridade alardeada
Beveridge, por exemplo, em 1942) fizeram dela urn objetivo da guerra por Enrico Berlinguer teve, como se sabe, conseqüências desastrosas,
cocal e ela iria aliás encontrar no continente europeu movimentos multiplicando, mesmo no seio do PCl, as comparações com o regime
similares de inspiração fascista ou petainisra, como o Secours naàonal, espartano. 11as cercamente teria sido mais justo falar apen,ts no fim do
por exemplo. É interessante observar aí a convocação de certos membros sistema de Licurgo, na decomposiç~o da anomia de uma "sociedade''
das forças de delaçáo fascistas cujo pessoal se ocupou anceriorrnente de cujos membros teriam sido adestrados, dur.inte séculos, unicamente
tarefas de vigilância e de repressão das populações civis, bem como su.,1 para "o Assalto" e não saberiam mais o que Fazer de suas vidas quando
integração no novo pessoal ela assistência social, um pouco co1no ocorre essa ocupação lhes tivesse sido bruscamente recusada. Retirai do Oci-
hoje, quando se aproveita da experiência de antigos detentos de direito de ntal o carro o u a moro, o que lhe restará para fazei sen ão concluir a
com u m. É que as at ividades desses técnicos ela normalização são realização da profecia de M .1.S. Bloch que, desde 1897, anunciava: "A
insepadveis dos desígnios hegemônicos da administração de Estado: ::is guerra, tendo se transformado numa espécie de parcid;i empacada na
tarefas do "trabalhador social" se rn ulc1plicani e se metamorfoseiam ao qual nenhum cios ex-'rcitos cem possibilidade de prevalecer, eles ficarão
sabor das oportunidades. Conhecido aqui e agora como curar, anima- frente a frente, ameaçando-se sempre, mas incapazes de atirar um golpe
dor, educador, etc., ele preenche, aliás, outras missões: na descolonização, decisivo. Eis o futuro : não o combate mas a fome, não a matança mas a
os "assuntos indígenas" se transformam em "assuntos sociais", e as tropas bancarrota das nações e o desmoronamento de codo o sistema social."

117
116
Num conjunto cujo equilíbrio prcdrio é ameaç.1do por qualquer relhos telefónicos munidos Je um sistema de ,1larme cone~tado ~ um
inic1ati,·a impensada, a segur.mça é doravante compad.vcl :i :1.t1senc1a de terminal da policia. Por cd~ da operação enconrra1'.1-:.~ _"' Un1.10 ~.1c1onal
movimento e a prolcram.ação é ampliada da supressão cfos vonrndes :-i dos Departamentos de Asmtê ncia S00.11, o M111 1sren o da Saude, ma~
dos gesros, faro esce que cem no crcsc1menro do desemprego sua melhor cambém o Mm1sténo do Interior.
e mais evidente imagem Redismbu1-se a obra social, põc-,c em evi- Os cartazes que promovem a grande campanlu p.ua .1 scguranç.1
dência as performance~ dos deficientes físicos e meneais, os recordes de personalidades ido~as , as monr.1gens audiovisua•~. coda es~a
nos jogos olímpicos de enfc:rmos, impõe-se ;1 convicção nov.1 de q ue a incoxic,ição é l.1rgamen te d ifu ndida nas residência~. nos clubc:\,, nas s~la~
imporência do corpo para se mover não é, afinal, 11111 problema grave. de espera, verdadeiras ordens de mobilização policial, cudo fornecido
Bizarramente ainda, o exército ,1cha-se por trás dessas in ic1ativ;1s
gratuitamente, basca fazei um simples ~edido~ .
filnntrópLCtu. Vale a pen,1 reler as me111ón,1s do ;1bade Ül1ol, este cm.1 Para outr,is camad.,s sociais, a 111an1pulaçao da necessidade de se-
rural que criou, a parci1 do nada, centros para crianças débeis meneais, gurança toma formas diferentes: desde a Antiguidade, o mec,11 precio-
centros desrinados a ,ur ancá-las dos hospicai~ ps1quiámcos: " Um visi- so O ouro-padr:io é '"valor-refúgio", suced:rneo parn a a11s1ed.1de e, com
tante às vezes se espanca .10 ouvir d1Le1 por aqui que um.1 de nossas ' símbolo dJ seguran1,-.1 mdiv1clu.1I. bce va1or "de s~guro" . como SL
isso,
cri:rnças est,1 '110 exército' . Isso não quer dizer que nosso infeliz peq ueno s.,bc, foi livremente cr.rnsfendo para um.1 mulcidfo d~ sistemas de croc_a.
débil mental fo i alistado no serviço militar; designamos si mplesmeme Enm:ranro, a 1ecolocação em quest:io do ouro- refugio como padr,10
por esse vocábulo o edifício que nos foi oferecido pela Caixa Econômica básico do sistema monetário lembr.1 muito os aconcecimenros do banco
Militar que, depois disso, nos proporcionou muitas out1:u .1judas." E é Law, pouco antes da R,!volução Francesa. Ele contribuiu para abalai ,1
o general Malbec, d irero1 dessa mesma caix,1 econômica nacional milicar '\cguridade social" e reencontramos aqui, em pleno status quo nucle.ir,
gue lança a rcrrível fórmula desses cc:nrros: "Do berço ao rúmulo!". O as razões que levavam o Estado esparc.1110 a recusar o uso dos metal'>
exército jamais fez ou cr,t coisa ..
A redistribuição da assistência social v1s,1, finalmente. func1onal1Lar
preciosos como uma das consequências da não-guerra. <? Esc,1do, ' .H~-
resst1do em exercer plenamenre a v1gilânc1a da populaçao 110 dom1n10
,1 dcfic1êncin como fiz.e ra. Já ern 1914, o velho Estado prussian o. A d a defesa, p riva os ind ivíd uos d os meios de se ga:at'.rir, ,1 n áo se r
aj uda fi nanceira tom:i a fe ição de uma rem uneração, de um sali no . no engajando-se a fundo n,\ máquina de guerra laced~mon1ca.) . _
momento em que o governo insiste em recompensar os cidadãos que se O pr6pi io código de produção visa sempre o rece~caculo 111t1n1co
comporrem como auxiliares da polícia sendo delatores. A segurança do consumo", mas este coma-se con~umo de segurança mtegr,11. A ,u.CJ-
ind ivisível d iscerne no vel hote azedo e excl uído do sistenu econômico lizaç:io ucópic:1 dos reílexos de defesa provoca 11111a modi ficação na este~1ca
pela insigniric.'incia de sua aposc111.1do1ia e de 5ua rend.1, um último e 11 ,1 natureza da produção. A reform.1 da empres,1 ganh.1 um senndo
proletáno, um.1 espécie de atenta scnnnela, imóvel em meio à ag1c:1ção completamente diferente daquele que lhe fo1 confendo pcl~. poder. As-
fre nética do todo social Já se começa a top.ir nas ruas com esses :.eres si m, 0 surgimento de "prod utos sem nome igualmente bons e: pass~dos
do o utro mundo, velhos c:irreg:i ndo no pul so um sistema de alarme •
desapercebidos no merc.ic1o, parece-me um aco 11rcc·11nenco mcmo ravel:
eletrônico 111.1ior que um relógio, inrerl igado a u m cenrro de escura. as mercado11,1s de grande consumo são apresentadas. a prerex~o de eco-
Gilberc Cocceau está na 01 igem desse ripo de .1ção social com a Fondat1011 nom,a, em em ba I.,gens b rancas, ••:111on1mas
' " , sem a s marca~
, • v1srosas das .
Delta 7, cujas realizações são mtí lttplas mas que, para deslanchar, re::- _ . d . . · , ca mpanha de anti-
fi rmas. Sua pro moçao e ,1ssum1 ,1 por um,1 1111t::nsa , ' _
corre u também à ajud.1 fin anceira do Exérciro (a Aeronáutica, em p.1r- , - ,,pro dL1tos 11vres" , 1·sto é• que
publicidade Segundo nos d izem, sao . . nao
t1cular). Seus beneficiários eram nocadamence crianças vietnamitas que . 1osos d o ve li10 rnarketing aliciador.
fazem mais apelo aos méco d os d uv1c •
fic.1ram su rdas com os bombardeios e que receberam aparelhos acúsri- . -1 é ela que organiza a
Doravante, :1 repulsa foz vender m,m que a acraç, o: ' fi _
cos, e velhos q ue, em Poiriers e em Paris, receber:i m graru1 carne11ce apa- . , .a soCJal em corno e1os o b.Jt:to~
nova ex1stenc1 . , da P10 ceçáo. Se as 1rmas sao

118 119
convidadas a moderar seus esforços publicidrios pelos comitês de deíes.1 Quarta parte
do consumidor é que ourras forças de produção amb1c1onarn desenvol-
ver os seus, corno os membros do IHEDN de que se fola va
anteriormente. Depois dri guerra do mercrzdo doméstico, n guerra do mer-
cado mzfitar. Já não se trata mais de aliança democdcica arravés do
sistema de consumo/produção, mas de plebiscitar direran1e11re a cbsse
militar através do sistema de objetos 011, mais precisamente, de um
desenvolvimento tecnológico e industrial em matéria de armamenro,
como declarava Mário Soarc~ após sua derrota nas eleições porrnguesas,
em abril de 1976: "Não renho necessidade de govern ar com políticos;
posso perfeitamente fazê- lo com militares e especialistas." Os novos O estado
dirigentes chineses exibem a mesma linguagem. O "socialismo militar"
não nasceu no Peru ou no Portugal da cléc;ida de 70 mais do que na
de emergência
Berlim dos anos 30, ou no século passado, com Bismarck e Napoleão
III com o "social-imperialismo". A eliminação do sócio ela burguesia
política é apenas a realização de um sonho estratégico repousando 1111 i-
camen te na especul ação científica e tecnológica; nações militarizadas
que d ispensam, doravante, seus exércitos (a força do mínimo vital, do
genera l Gallois)
Para Chusewirz, o Esrndo político j.í é: "u1n meio não condutor que
impede a descarga completa" Numa tal fórmula, a natu rez::i da ambição
da classe militar é perfeitamente revelada e a situação arómica, projeta-
da... "Com Bonaparte (general/ chefe de Estado) a guerra era conduzida
sem perder um minuto e os conrragolpes se sucediam quase sem remissão.
Não ser;í natural e necessário que este fenômeno nos renha remetido ao
conceito original d11 guerm corn rodas suas deduções rigoros;is? "A efici-
ência dinâmica é a qua lidade principal ela máqu ina de Estado, e o Estado
nuclear, t'ilrima etapa do progresso dromológico, garnnce a coesão do
conceito graças ao computador estratégico. Em face dessa última 11d-
quina de guerra e subjugado por ela mantém -se o lÍltimo proledrio-
rni lirar, o corpo doravante despt0vido de vo made do presidenre d a
Repüblica, chefe supremo de um exército desaparecido. O corpo do
presidenre assemelha-se ao dos antigos jove ns alistados imobiliz;.1dos
e nrre dois fogos ; seu derradeiro aro será ainda o Assalro.

120

·;,i pr,nmdiío é ti próprirt mc11.ir1 dr1 gurrm "

5UN l~l,

O estreitamento das distâncias transformou-se numa realidade


estratégica com conseq üências econômicas e políticas incalculáveis
pois equivale à negação do espaço.
A manobra que consistia ontem em ceder terreno para ganhar
Tempo perde qualquer sentido; atualmente, o ganho de Tempo é
questão exclusivamem e de vetores e o terriróno perdeu seu significado
ante o projécil. De foto, o valor estmtégico do não-lugar da velocidade
suplantou definitivamente o do lugar, e a questão da posse do Tempo
renovou o da posse cerritorial. Nesse escreicamenro geográfico q ue se
1
assemelha ao movtmenw telúrico descrito por A lfred \'{legener , o
b inômio "fogo-movimenro" ganha um novo significado: a distinçfo
emre poder de destruição do fogo e poder de penerrrtçáo do rnovirnenco,
do ve ículo, tende :1 perder su a '·validade". Com o veror supersônico
(avião, Foguete, massa de o ndas), a penetração e a destruição se confun -
dem, a instantaneidade da ação :i. distância corresponde à derroca do
::idversário SUi preenctido 111<1s cam bé m, e sobrec11clo, à derrota do mun-
do co 1110 cam po, como distância, como matéri:1.

l, "L1 gcnese lk, c,rntin, nt, ct de, océan,. / J,àn-ic rlcs trr111rl111wm co11tme111r!Íes.
A lfred \X'cgencr, 1 ibra,rie N,zcr cr B.1srar,I, 1937 (Tr:id uç.:\o francesa ,cgundu a glt inra
edição alem:,.)

123
A penetração imediata 011 prestes a acontecer identifica-se com uma homogeneização geoesrrntégica do globo :inunciad_a, aliás, desde
a destruição instantânea das condições do meio, uma vez gue, após a 0
fim do século XIX, noradam enre pelo rngl_és lvlack~n~er. em sua
distâucialespaço, é a distância/tinnpo que acaba de~apa rece ndo na teoria do "World-hland", onde a Europ:i, a Asia e a .Afr1ca c~mpu-
aceleração crescente das performances veiculares (precisão, alc:rnce, nham um único continente em detrimento d~s Améncas, reona ~ue
velocidade). arece se realizar atualmence com a desqualificação das local1zaçoes.
O binômio fogo-movimento subsiste apenas, desde então, para Las é preciso observar que a indiferenciação das posiç_õ~s
designar um duplo movimento de implosão e de explosão, com o eoesrratégicas também não é o efeito Ílnico das performances veton~1s,
poder de implosão renovando o amigo poder de penetração dos veículos !orque depois da homogeneização buscada e finalmente .adqu11·,1da
subsônicos (meios de transporte, projéteis.. . ) e o poder de explosão, o pelo imperialismo marítimo e aéreo,, de .igora em ~,ante e a
da destruição dos explosivos moleculares clássicos. Neste objeto mmiaturização espacirzl-cstratég1ca que esrn na ordem do d,a.
paradoxal, ao mesmo tempo explosivo e irnplosivo, a nova máquina de Em 1955, 0 general Chassin declarava: "O fato de que a ter'.a é
guerra conjuga um duplo desaparecimento: o cle,apareczmento da redonda não foi suficientemente estucl:ido de um ponto de vista
matéria na desmtegração nuclear e o desaparecimento dos lugares no militar." De l:í. para d isto se fez ... mas no pro?resso bal~scic~ d_as
0

extermínio veicular. .É preciso observar, porém, que a desintegração da armas, a curvacura da terra não cessou ele perder 1mportanc1a. J a nao
matéria é constantemente retardada no equil íbrio dissuasivo da coexis- são mais os continentes que se agrupam e sim o todo plan ed:io que
tência pacífica. aind.i que não aconteça o mesmo com o extermínio encolhe ao ritmo dos progressos da "co rrida" armamentista. A
das discâncias. Em menos de meio século, os espaços geográficos transhção continental que se encontrava, curiosamente na mesma
estreitaram-se continuamente ao sabor dos avanços da celeridade, e époc:i, nos trabalhos do geofísico Wegene~, com a deriva das placas'. e
se no começo dos anos 40 ain da era preciso m edir em nós a velocidade de Mackinder, com O amálgama geopolíc1co das terras, cedeu luga1 a
da "força de ataque" marítima, o maior poder de destruição à época, um fenômeno relúnco e técnico de contração do mundo q ue nos faz
no começo dos anos 60, esta rapidez se mede em mach, ou seja, em
·
hoje penetrar num u111verso topo1ogico
' · · I.· o }.ace a j,àce de todas
artt· fiic,a
milhares de q uilômerros/hora, e é provável que as pesquisas atuais ctS wper.ficies do globo. _
sobre a.Iras energias permirirão, em breve, a aproximação da velocidade O antigo duelo entre cid a d es, g uerra entre naÇoes
a . , o conflito
.
da luz, com a arma a laser. permanente entre os impérios marítimos e as potências concJ11e1~-
Se, como pretendia Lenin, "a estratégia é a escolha dos pomos rais, tudo isto desaparece subit:imente cedendo lu gar a u.m:.i oposi-
de aplicação das forças·•, somos obrigados a considerar que esses ção inaudita : a colocação em contato de codas as localtdac.~,es, de
"pontos" hoje não são mais pontos de apoio geoestratégicos pois ;1 partir cada a matéria. A m:issa planetán:i fica sendo apen:.is uma massa
de um ponto qualquer já se pode atingir um outro onde quer que esteja, crítica", um precipicado resultante da extrema redução. do t~m.po
t 11
em tempo recorde e com a precisão de alguns poucos metros... Temos de relação, remível fricção de lug.ires e elemenros ontem ai~cl~ diS l -
de admitir que a localização geogrri.fira parece ter perdido definitivamente tos e separados pelo tamp5.o repentina mente anacron ico_ das
seu valor estratégico e, ao comrário, este mesmo valor é atribuíd o à não distâncias. Numa obr:i publicada em 1915, La genese des contznent~
·
el des océans, Alfred Wegener escrevia que , n a ongem, a
" Te rra so
Localização do vetor, de um vetor em movimento pennanenre, pouco
importa seja ele aéreo, espacial, submari no ou subrerrâneo, contam pode ter tido uma face " . O que parece provave, l, lev::indo-se
• e m conta
. _ , . f . Terra venha a ter
apenas a velocidade do móvel e a não detectabilídade de seu curso. capacidades d e ,nre rconexao, e que no uru 10 a '
Da guerra de movimento das forças mecanizadas, c hegou-se à apena~ uma interface.. . . ld ·
_ 'da essenc1a os estt-
estratégia dos movimentos brownianos, espécie de guerra cronológica e Se :i velocidade aparece en tao como a recai • . ,,
_ 1 "corrida armamenusta
pendular que renova a annga guerra popu lar e geográfica através de los de conflitos e de con f7 :igraçoes, a arua

125
124
efotiv.1mentL não p:1~,;a 'do 11nn111I11·11to rlr1 ror11rlt1". t('}1r/o o fim rio for\,I> '-ontr.l ,ls pott>11<..i,1~ nH:g.uónic.1, do 11udea1 do que em 111ohil1d-
nw11rlo como r/i1tâ11011. 11111 /, 1nmr1 u1mpn 1/e nçao !.is em séri.::s de muv1111enco~ perpémos, 1mprcvi~Í\e15. ,1uu1,u1l<.~ L, p,111.111-
O termo d1ssu,1sjo reflete a .11nbigLi1cl.lde dess.1 snuaç:ío em que ro, t'\rntegiomenr,, d1r:11e, por 1'g11m re111p0 :1.md:1. espe1emos De:
a :1J111:1 subH1wi .1 prore\JO d.1 co u1 .iça, em que as poss ihd1d.1dcs da faco :1 g11c1 r.1 repou,,1 ,tgora 11nc11 ,1rnc11re 11es,.1 desn:ptl:1ç;in do rempn e'
ofe11~a e d.1 oknsiva g.uanrcm po1 s1 so, a defesa, tod.1 .1 defensi, .1 dos lug;res. r.12:io por que a 111,1nobr.1 ta11im. que comi~te em sofi..,tic..11 o
co111r.1 a d1111cns:ío nplos1va d.1s .u111;1s est1.1t~gicas m.is nenllll111.1 con- vecor ~nelho1 .111do comc111te111cnce ~11;1 performance. rnplantou agora m-
tra a d 1111e11sao · i111plos1va" da~ pt:1 foi 111:111ces dos vetores, uma ve1 wlmcnce a 111a11obr.1 tfÍt1ct1, como vi111m ,tnte11ormen1e;; O general Aillt-1e1
que, ,10 contrario da 111.1nutc:11ç:ío da C1\:dibilid.1de de uma "forç.1 de :u.1quc' det,1lha 1sso cm sua / li,toi>·,· dr lí1m1t'IIIC11f esuevendo· A tlcfi,uçiío dn
(nuclear), eb exige o :iperfeiço,1111enm incessante das µ1oc1:ts dm en genhos, progrttmns d<' mmrm1l'IIIOJ rom011-St' 11m rln, rlcmr11tns c~1t11cini.- rl(I ,e't:at(((,111
ou ~ep, de \U:1 c:1p:1Cid.1ck dL· redmir ,1 nad.1 ou qu.1~c 11.1d.1 o esp,1ço Se 11 ,1 .rnnga guerra '-onvenuonal .11nda se podia l.il.1r de cxcrcitos de
geo~r.Hico. Com cic1w, s1:111 a violcnc.1:1 da , doc1dack .1 cl.is ;11 mas n:io : 61as ~,n · c.amp:inha. 110 cst,1g10 .iru:11. ~c i:ssa 111.rnob1 ·1 ~ubsiste, cl.i
111 1110
seri.1 r:iu te1111vel. Dt·Jnrmm J1'/'lr1 ho;l , entlio, ;m111ciro clesrtcel,•rm, desarmar 11 fo precis.1 rn:1is de "campanha" , ,1 111v.1são do instante: suce~e à invasão
a rnrml.1 para o fim Q11alq1m tmuulo que 1/(ío limitm " vdo,itlaJe e/ena do rei rnóno. ,\ conc,1gcm rcgrcs~iv.1 coma-se o c.m1po de enfri:ncamenco.
cornrla (a ,·eloc1dadc dos meios de co111unic1ç;1n d.1 de\írniç:io) não 1nm a úlum:1 frontcir,1
tarrí rnt11s os nrmarnel!lu::. cstrttt~(.;JCOJ unu vez que o e55cncial d.1 e~trntegia Os bloco~ :i.ntagôn1cos podem mu,ro facdmence p1n~c1evcr ,1 perspcc-
consiste agora em manter o náo-lugar de um.1 desloc...1liz.1çio geral do5 tiv,1 ,l.1s guerr:is bacre1 iologic.1, geode!>1c..1 ou 111eceorol..ígic:1. .N,'.'e~d.1de,
meios que, .1pe11as eb. permitL ,111lda g.111har :1s frações de segundo indis- 0 que esr:í cm causa :1cualmcnte com os acurdos sobre :1 l11111raçao da~
pens:íveis para a lil,e1cbde de ,u,..10. Como escrevia o general fullcr: "Qu.111- ann,1~ escr.1tég1cas (SALT 1) n:io é 111 rn o explosivo e \illl o vecor, o vetor
do os comb.ttemes se l.111çavam da1dos. a velocidade 1111c1al dessa .1rm.1 de entrega 111fdear ou, mais ex.1tame11tl ainda, sua perÍ01 m,rncc. O monvo
era cal que .<,e podi.1 pe1cebe1 5u:1 n.1jctoria e evitai seus efeitos com a é simples ali onde .1~ dcfl:i.grações do explosivo (molccula1 Oll nuclear)
ajuda do escudo, 111.1s qu,uulo o dardo foi subsmu1do pela b.1la, a ,·eloud,1- conriibuíam p.tr:t tomar o espaço 1111propno p:ira a cxistênc.1.1, .1gor.1 ~:ío
de er.1 r:'io g1:rnde qut. .1par.1r o golpe wrnou-5c impossível" ... 11npos~1vel :1-s do 1mplosivo (vekulos vewrcs) que reduzem .1 nada o ccmpo ele agir e.
peb es9wva do corpo m .1s possível pdo rec uo para .dém do alcance da pol1ricame11ce. o de dec.idir SL. h:í nrn1s d e trinta .111os. o explosivo nucle.ir
arm.1, possível também graç1s ao abrigo de terra .tlém cbquele p1oporc1- cnccrr.n:a o ciclo d,1s guerrm do c'J/Hl1 o. neste fin.tl de ~éculo, o 11nplos1vo
onado pelo escudo, 1.<,to é, po.<,5Ívcl pelo espaço e pela marém t\cual mcn- (111,11s do que rcrritó1 ios inv.1d1dos poliric:1 e c:conomi<.:1mencc) rnaugura
ce, ,1 redução do tempo de .1lc1ta re... ulr:ime d,15 velocid,1des wpt:r.'>ôniL,IS a f!.ULTrn rio tempo. L111 plen:1 coex1srência p,1cíftc,1, sem cleclar.1ção de
dos meios de .1ssalco dc1,a t,10 pouco ccmpo p.11 .1 a den.:cç;i_u, ,1 1dentific1 h~s1ilid.1de~ 1. mais seguramente cio que por qu.1lquer ripo de conílico, a
ção t:, portanto, pa1,1 .1 pronr:1 respo5t.1, que cm caso de at:1quc su1p1cs.1 cc:kndadc nos livr.1 deste mu ndo Precis.1t11os nos 1endcr à cvidé11ci:1:
seua preciso que a .1uwridadc supre111.1 .1sw1111sse o rt5L0 de .1b:111do11::11 .1 hoJC, ,l velocidade é .1 gue1r,1, .1 úlunu guena
prenog:inva da dec1sfo, auco1 iundo o escalão mais baixo do si,tema de lvl.1s volcemos .1 1962, :to m omenro op1ul do cam de Cuha. N.1queb
de/-es,1 ,1 d esencadeai, 111Manranc.1me11re, o cli..,paro do.., 111ísse is .1numí~~eis. opo1 tuniclacle, a d cmora do aviso p i ~v10 ele g11e 1ra er.1 :1111da de 15 rnúmtos
As du.1s grandes pott'llet.1s polínt.as p1 cfe, iram se entender p;ir,1 rcn unt 1.11 par.1 as duas supe1 pocc:nc1.1~. A impbnraç:io do, foguercs russo~ 11•1 ,111.1
a isso. ren1111c1a11do po1 or.1 a deíes.1 ann míssil de Castro ameaç.1v,1 bai»ar este 111ccrv:1lo p:11.1 JO .,egu11rlos, par,, os
N:ío c..011rn11do com o c~paço, a ddes.1 ativa exige, pelo mcno~. o amencanos, o qul' era inacc1távcl pa1a o prc~1dente Kennedy, qualquer
tempo maten,11 de intervir Or,1, é escc "matcn,11 de guc.:rra" que desap,1- -
que: fosse ·
o n~co d e 511,1 catcgonc:1
· · rccus.1 Sa l)emos O que :iconreceu• em
_
rece 11.1 .1celc:raç;10 chi~ performances do.<, meio~ de comu111cação da desuui- 'd ! - d / / d · · I 1· 1
segu 1 .1: :1 1nsca aç:10 .1 111 HI ,reta, 1a o te e l'I c, ve 1-111ell10 e 1 111tercont·xao

ção e rest:1 .1pen:1s .1 dcíesa µ,1ssiva que comisre menos cm bl111d.ir su,1s do, chdes d(. Estado1

127
126
Dez anos m.1i5 r;irde, cm 1972. qu.1ndü .1 demora do alen,1 nor- que quando um piloto esd no c..ontrolt:, Podemos nos perguntar se
mal não pa,,a de alguns minuros - dez p;ira os mís~e1s b.1lísncos, dois cheoaremos a um contro le autom.üico das armas 11Ucleares onde a
D
somente par:-i as ar111,1~ s;ire]17ada~ - Nixon e Brejnev assinam. cm margem de erro sei i,t menor que a ,L1 decisão hum:i.na, mas os
Moscou, um primeiro acordo de limiraç:10 de armamcntm csrrarégi- progressos possíve is :irneaçam reduzir a pouco, ou nad,l, o tempo
cos. Os adve1sários/parce1ros pretendem guc esse acordo vise menos a deixado à decis:io humana para inre1 vir no sistema."
limitação n umérica das armas que ,1 conservação de um poder políri- É brilhante. A contração no cempo. o desaparecimento do espa-
co propnamenre " I1uma110,, . p. , que o~ progressos con,rance.s da rapi- ço rernconal depois do fim da cidade forrif1cada e da couraça,_ resulrn
dez a111c;1ça111 trazer, dia desses, ;1 demora do aviw prévio de guerra em que as noções de ava11re e atrás designam tão-somenre o furnro e
nuclear para aq11lm rio minuto firrídico, abolrndo assim todo o pod-:r o pa;sado numa fo1111.t de g uara em que o " presente,, ten de a
de reflexão e decisio do chefe de Estado, em Favor d,, uma automação desaparecer na 111sra11caneidade da decisão.
pura e simples dos sistemas de defesa e deixando a deci5ão d,t5 O ultimo poder sen::i enr5.o mais o d,1 antecipação que o da ima-
hostilidades para alguns program.1~ ele computadores estr:irégicos A ginação, até o ponro em que governar seria apenas prever, simular,
máquina de gue1ia, ({pós ti:r.sirlo o equivalente de uma gurrra total graças memorizar :tS simulações: ponto em que o aru:il "lnsticuro de Pesqui-
à ma capacidade de dcJtrniç ,íu com o 5ubm,11i110 nuclear lanc,:,1-mísseis sa" poderia se colocar como modelo desse úlnmo poder, a umpia. A
capaz de aniquilar, sozinho, quinhenras c 1d:1des, rransforma-sc perda do espaço material implica governar apenas o rempo. O Minis-
subiramenre na dec1s:ío 111esnu cfo gll erra em raz:ío dos reflexos do tério do Tempo esboçado em cada vetor realizar-se-ia enfim nas dimen-
computador esrrarégico. O q ue rest;ir1a enciío da~ razões "políticas" sões do maior veículo possível, o vetor-Estado. Toda a história geogr,1fica
d:i d issuasão? Lembremo- nos de que entre os motivos que levaram o da d ivisão das terras, das regiões, tudo isso acabaria em favor da mera
general de Gau lle a fazer a populaç:ío aprovar ,1 decisão de eleger o rcconstituiçtio do tempo e.o poder seria comparável apenas a uma espé-
presidente da Repúblic.1 por sufrágio universal, em 1962, liav1:1 a cie de "meteorologia'', ficção predria onde a velocidade to rnar-se-ia
credibil1dacle d.i dissuasão, e a legi timidade do referendo era 11111 ele- sub.íramenre um descino, uma forma de progresso, ou se;a, uma
mento fun d:imencal dess,1 mesma dissuasão . Que subsistirá disso rndo "c ivi lização", na qual cada velocidade seria parcialmente um
n:t :turomaçiío da dissuasão, na auromação da decisiio ? "departamento" do tempo.
Do cstrtdo de JÍtÍo das guerras do espaço rzo estado de 11rgí-ncia da Como escrevia Mackinder: as forças de impulsão exercem-se sem-
guerra do tempo, n:io será preciso esperar mais 911e .1lg11mas décadas pre no mesmo senrido. Ora, esse sentido (1nico da geopolítica é aquele
em que a era po lítica do homem de Estado terá des:1p,11ecido dando que conduz à imediata comutação das coisas e dos lugares. A guerrn
luga1 ?tquela outra, apolítica, do ap,1 relho de Est:ido. Face ao ;1dvento não é "um depósito de fogo" corno pretendia Foch iludindo-se sobre
de um tal regime, convém se perguntar sobre algo que é bem mais o fut u ro dos exp losivos químic..os; a guerr.1 é, desde sempre, um
que u m fenómeno temporal. Ncsce fim de sécu lo, mcerm-se o tempo depósito de movirnrnco, um ,1 fábrica de velocidade. O impulso
do rntmdofiuitoe vivemos as premiss.1~ de uma pa1,Hloxa l miruru-urizaçrío tecnvlógico, úl rima forma da guerra de movimento . desagua, com a
da açiio que o utros preferem b:iri zar de automação. Andrew Srratron dissuasão, na cfosol11ção do que separava mas também distznguia, e
escreve: esra não-discinção corresponde a uma cegueira polít ica parn nós. lsro
''Acredita-se ger:d111enre que .1 automação supri111e a pos~ibi l1- é o que se vê no decrero do general de Gau lle, de 7 de janeiro de
dade do cri o hum:1110 . Cerro, ela rrnn5fere essa possibil1cLide do 1959, s uprimindo a distinção entre rempo de paz e tempo de guerra.
esdg10 da aç:ío ao esdgio da co ncepç:io. A ringi111os agora O ponro Aliás, nesse mesmo período e apesar da exceção viemamica que confirma
em que as possibilidades de u111 :1cide11re duramc os 1111 1111 rus críti - a regra, a guerra encolheu de alguns anos para .i.lgu ns dias, p:ira algumas
cos da arerrissagem de um avi:io guiado ,turomatic:1mente é menor do horas aré. Nos anos 60, opera-se uma murnção: a passagem do tempo

128 J29

de guerra à guerra cio te111po tle p,u., dc;c.t paz towL que ourros :1i11da
... , e m t •1vor, p1 ov1ve
os es r:1 dlstls \ lmence , de um:i interconex:io ,dos.
nomeiam de ··coexisrê11c1a p,1cífic.1". A cegueira da velo.. i<lade do3 meios sistemas de computadores, modernas máquinas de calcul~r a csrracegta
de comu11 ic1ção da dcsrruiçiío 11 ;10 é uma libertaç;10 da s ujc 1ç:io e, portanto, .,1 pol', t,·c~.,. (Lembremo-nos• de tJUe .1 prim..:1ra tarefa
, dos
geopolítica e sim o extermínio do espaço como campo d.1 liherdade compu cado1e.', foi r..:3olve1 .1; equ.1~·óe, comp_k~.1~ e .',llllul~ ;~i~e.is ,
de aç:i.o política. Bast,1 ci r.mnos os controle, e as norm ,1~ ob11garórias desti nadas a fazer com que se encontrem as traJetorias do proJc:nl de
das infr:1.-esrrurur:is Ferrm·i:fri.1s, aéréas e das :1.uco-est1 adas par.i co nstatar artdh.u ia antué1ea e .1 do avi:io)
a fune,ra relaç-:ío: quanto 111a13 cresce a rapide7, mais decresce a liber- Eis aí claramente o temível choque dos elementos na~c1dos das
dade. A automob il1dade do aparelho gera, finalmente , a :rnro-mficicn- " e rações anfíbias", esta pro xi midade extrema das partes cm que_~ trnc:-
cia cb auto111:1ç:10 O que se produz no exemplo do pi loco d e corrid.1. Jatiodade drt mforrnaçii.o cria a cnse irnaliatarnoill', <.:.<,t.1 fragilidade
que é ape nas o vigil.111re acento das prob.tbi l1dade~ cac.1s trófic.1s de do poder de raci-ocinar que é apenas o efeito de um a mini.nunn~ão
seu movimento, 1ep1oduz-~e 110 pl.rno políucu, pois a~ condições d,i açiío resul r.inre da mi111aruril;ição do e~paço como campo de a_ç ao.
exigem Ltma açiío e m tempo real. '- Um gesro imperceptível sobre uma ceda de com~urador ou :u,'.cla
A círulo de exemplo, romemos uma s1ru:1çiío de c rise: ''Desde o de um " pmna aéreo" c1r1 egando um a caixa de b1sco1to , envolvida
0
comc:.,.o da guc:rra dos Seis Dia;, em 1967, o pres1den re Johnson escav,1 em esparadrapo pode m resul tar num encadeamenro catascrofi~o a nres
insc,1!:ido nos com:111dos da Cas:1 Branca, uma 111:ío guiando ;l Sexta in imaoin,í.vel. Omitimos deliberadame nte. ,10 lado do risco _de
Frora, a oucra sobre o telefone vermelho. A necess idade ele l,gaç:10 prolife~ação ligado às nov,1s possibilidades de aqui_siçã~ do explosivo
e nrre os dois surgiu claramente lfUando um ataque isrielense co ntra o nucle,u por pesw::is irresponsáveis, 11,í aqueL1 proltreraç~o _d o risco re-
navio ele reconhecimento a mericanolibcrty provocou a in ccrvenç:ío dos sultante de vetores que tornam efetivamen te 1rresponsave 1s os que os
aparelhos de um porca-aviões da frora . Moscou examinava cada som- po~sue m ou conseguem.
bra nos rada res com a me~nu atençáo que \'v;ishingron: os russo5 iria m
interpretar a mudança de rumo dos :w1ões e 5tia convcrgénc1.1 como
um :iro de agressfo? É aí que intervém o telefone vermelho: \v'ashingcon No início dos a nos 40, Paris escava a seis dias de marcha das
exp licou ímediara111entc as razões d ess a operação e Moscou fronreiras . ,\ rrcs horas de carro e a um.1 hora de avi:'to ... Hoje, a capi tal
tranquilizou-se (citação de H:irvey Wecler). esd. ;1 a lguns m inutos de qualquer lug.i r e em qu:lq uer lugar ; algun~
Ne~re exemplo de ação polír1Co-esrratégica em rempo real, o chefe minutos ele seu fim, :1 ponto de se inve1 ter a cendenc1a que a re_ poucm
de Estado é efetivamen re um "Gr:inde Timoneiro", m .1~ o ca r:iter anos ,uds era dr avançar seus meios de desn lllÇ:lO para a proximidade
prcsrig10s0 do guia histórico dos povos cede I ugar :10 m:ii; prosa ico e, do terncório ;idvcrs:í.rio, como no caso de C uba. A acualidade escá no
afinal de co ntas, b:u1.1I, do "piloro de teste'' cenra11do 111.inobrar su,1 ·
desengapmento ,e , mov1rnem
geogr:u1co · 0 J,,-,,l·11oresulrante
e,. . dospro(Tres-
i, .

m.iq uina com uma margem de libe rdade rest11ra. Depois de ~;e "esr:1- sos dos vetores e ci.1 duplicaçiío de ~eu alca nce (vep-se o subm.arino
clo de crise", rran5correr,1m dez :mos e a co r-ricl:-t a r111 a 111e 11tis r:1 fez americ:rno Trident, CUJOS novos mísseis têm um alcance de 8 a 10 mil
avançar ai nda mais a miniarnrizaçiío de~s.1 margem de ~cgu 1;111 ç.1 quilômetros ern vez dos 4 a 5 mil dos Posciclon).
política, aproximando-nos do ltm,ar crítico e m que ;is po;.<, ibilid,1d es •
Assim, as diFcrentes forças nucle:11es escr:neg1c,1s
' · . (:imenca, . \:1S
· e SOVI-
de uma ação propriamente hu m:rna desaparecerão num " Est:1eio de ,en.cas) não rcrao - 111 .us
. de patru li1a1. as pai.ªi:-(Te11s cios co11t1ne11re3-alvos;
emergência" em que rer:io cessado :is com un ic1ções tele fóni cas en rre elas pocler:'io do1av,111re se renr.1r para d enrro los :l 11.111ires
· ce J
su,as próp1 ,as
·
aguas • •
terrirona,s. Con1r1rma-sc assim ·
o .1 b.rn d ono de um;i forma , . de con-
. .
. , , . , . . , , erra geodcs1ca, ti iir.1-
2. Em rcrmos de conrrole, o significado dcss<.: rcm po é funç,ío J" carnpn rernpo ,al f11 to geoesrraté<>1co. Apos a renuncia 1ecip1oc,1 a gu
crn cujo inreno1. perce11ç:io, dC,l\,ÍO e :tção 1ntcrvQrn. se agora cio aban b •
don o poss1vc l d as b .ises a\anç.
, • · • c hegando a esre
;icb~

130 131
extraordinário abandono da soberania amencana sobre o ema! do Pana- vers,lrJOs e sim pelo aperfeiçoamenro mesmo dos verores emprega-
má... sinal dos rempos, dos tempos da guerr:1 do tempo. dos. A dissuasão parece ter repentinamente passado do est::ígio do
É preciso observar, porém, que este movimento esttacég1co de fogo, isto é, do explosivo, ao do movirnenro dos vetores, como se
recuo não tem mais nada em comum com o recuo dos exércitos conven- surgisse um t'ilwno grau de dissuasão nuclear, ainda mal dominado
cionais que lhes permitia "ganhar tempo perdendo espaço". No recuo pelos atores do jogo estratégico mundial. Com efeito, aí também é
devido ao aumento do alcance dos verores balísticos, ganha-se efetivamente preciso volrar às realidades estrntégicas e táricas do armamento parn
tempo perdendo o espaço das bases avançadas (fixas ou móveis) mas esse ten t ar apreender a atualidade logí~tica. Como dizia Sun Tsu: "As
tempo é ganho sobre as próprias forças, sobre a performance de seus armas são ferramentas ele mau augúrio", elas são em primeiro lugar
próprios engenhos e não sobre o inimigo já que, simetricamente, remidas e temíveis como ameaças, e isto bem antes de serem usadas.
este último acompanha esse desengajamenco geoestratégico. Tudo se Seu cadter "ameaçador" se divide em três componentes:
passa repentinamente como se o próprio arsenal se transformasse no ini-
• a ameaça de suas performances no momento de sua inven-
migo (interno) de cada um dos protagonistas, ao avançar rápido demais.
Similarmenre ao recuo no disparo da arrna de fogo, o movimento de ção, de su:. produção;
implosão das performances balísticas tende a reabsorver o campo de • a ameaça de sua utilização contra o inimigo;
forças estratégicas. Com efeito , se os adversários/parceiros não recuas-
• o efeito de seu emprego mortal para as pessoas, destrutivo
sem seus meios de comunicação da destruição aumen rando seu
para seus be ns.
alcance, a velocidade superior desses meios já teria reduz.ido a nada
a demora na decisão de seu uso. Assim como os parceiros desse jogo Se esses dois t'dtimos componentes da arma são desgraçada-
abandonaram, em 1972, cm Moscou, o projeto de uma defesa por mente conhecidos e experimentados desde há muito tempo, o pri-
míssil antimíssil, eles trocam, cinco anos m ais tarde, a vantagem da meiro , em compensação, o rnau augt,rio (logístico) da invenção de
prontidão por um alcance superio1 momentâneo de seus mísseis suas performances. geralmente é menos percebido e é neste nível que
intercontinentais. Ambos parecem temer, sem deixar de busd-lo, a questão da dissuasão se coloca entretanto: pode-se dissuadir urn
aliás, o efeito multiplicador da velocidade, dessa atividade velocida- adversário de inventar novas armas ou então de aperfeiçoar as
de, tão cara a todos os exércitos desde a revolução. performances? De forma alguma.
Diante da curiosa regressão contemporânea dos acordos sobre a Estamos, pois, diante do seguinte di le ma:
limitação dos armamentos estratégicos, convém voltar ao princípio • A ameaça de uso (segundo componente) da arma nuclear
mesmo da dissuasão. O arremesso das armas antigas ou o disparo impede o terror da utilização eferiva (terceiro componente), mas
das novas jamais riveram por objetivo essencial marar ou destruir o para que esta ameaça subsista e perrnica a estratégia de dissuasão, é
adversário e seus meios, mas sim dissuadi-lo, isco é. obrigâ-lo a preciso desenvolver o s is tema de ameaça que caracteriza o primeiro
interromper o movimento em curso, fosse o rnovime nro físico, ag u ele componente: o mau augúrio do mrgirnento de novas perji;rmances para
que permite ao assaltado conter o assa ltante, fosse o d a invasão, os meios de comunrcação da destruição. Claramente, as grandes
pouco importa. "A aptidão para a guerra é a aptidão para o movi- manobras logísticas se resumem à sofisticação perpétua dos meios
mento", aquilo que um es trategista chinês exprimia com estas pala- de combate e à substituição da investicb geoescratégica pela investida
vras: "Um exércico é sempre suficien temente forte quando pode ir e tecnológi ca. Se as armas antigas dissuadiam de interromper 0
vir, se estender ou se encolher, como ele quer e gu:indo e le quer." movimento em c urso, é preciso se render à evidência de que a_s novas
Ora, esra liberdade de movimento es rá entravada há a lguns armas dissuadem de interromper a corrida arrnamentirta. Ma1~: elas
anos, não mais pela capacidade de resistêll'cia ou de reação do; ad- exigem, em sua lógica tecnológica (dromológica), o desenvolvimen-

132 133
ro exponenc1:1l não m :1is du 11ú111eru do; engen hos dcsrruidores, pn1~ políuco-militarcs Lonre111pod 11 eos, co m o p1cc1sa H. \v'eeler:
seu poderio cresceu ( basra co mparar :1q11i os milhões de p rojéce1s "T ecnologicamente poss ível, a ccn tr;il iz;1ção tornou-se p o litic.1.m e n -
dos dois grand<!s co11/li ros 1111111dia1s e 05 poucos m ilhaies de. fogue- ce nec.c:ss,íri,1 ." [sc.1 síntese lcmbr,1 .1 famos,1 fórn1ul:. de Saint-Jmr:
tes dos arsenais corrente\), t' sim de sua~ pojàrmrmccs globais. Com o "Qu;indo os povos podtn1 sei oprimidm, eln o '>:ÍO "Cnm a diferen-
pote ncial descrutivo atingindo os limites possíveis, acravés da arma ça, porém, de que esta opressão rec.11o logística n :io co nce rne mais
ccrmonucle:1r, :1s "csrratég1as logíscic:1s" d os advers;írios se orienr:im, uma somente aos povos, m as também aos " tomadores de decisões". Se
vez m ais, para o poder d e penerraç.í.o e a Aexibilidade ele utilizaçfo. ;iinda ontem a liberdade d e manobra (esta ::tpt id 5o pa1a o 111ov1men-
O equilíbrio do terror é ,1pe11as um arritício no estágio da 111düstna co q ue se 1dcntit1ca com .1 apr1dfo p:11 ,1 a guerrn) exigi;i, às vezes,
da guerra onde rc: i11.1 um <lcscquil íb rio co nsL111tc , um,1 cx.icc:rb,1.ç.í.o dde g,tçóc:~ de podei par,1 o c:sc ,11:h.l sub;iltcrno, com a redu~:ão dessa
ext remad:i Capazes de inventar con ri nu:unente novos meios de destrui- margem de 111:111obra resultante cio progresrn dos meios d e comuni-
ção, c:m compens,1Ç10, nos mostramos incapazes 11:i.o só de desrru1 1· os cação da deHruição, assistimos .1 uma conce1uração extrema das res-
que produzimos (os "dejetos" d:1 indL1scria milic:1r são c:io d1Fíce1s d e reciclar po n sab il id,tdes nesse co m a dor de d ecisões so li r.ír10 em q11e se
quanto os da indúscri.1 nuclear), mas, sobrecudo, de ev1c:1r a ameaç,1 de rr;insformou o chefe de Estado. Esta contração, entretanto, est á longe
seu surgimento. de terminar, eb prossegue: .1 0 sabo r da cor1id,.1 a1mament1sra, na
A g uerra deslocou-se assim do esdgio da aç;io ;10 est,íg10 da concep- c adê ncia das n ov,1s c.ap acid,1d c:s dos verorcs, até a lg um dia exp ropiar
ção que caracteriza, como vimos, a automação. Incapn de concro hr ;i esse último homem. Com efeito, o movime nto que restringe o
emergência dos no vo s m e ios d e d estru 1ç;io, a diss u;isfo equivale, final- número de projéteis é o mesmo q11e reduz ;i n ,1da , ou quase n;ida, a
mente, à c riação de seqüê ncias de aucomac1smo~, procedirnencos indus- decis:io d e um ind1v ídL10 pnvado de conselho . É a mes ma manobrn
triai~ e: científicos re:icion;-írios dos qua is se faz ;iuse me q uak1uer escolha que hoje lev:1 a aba ndonar os territórios, depois as bases avanç.1das,
polínca. Tornando-se "esrracég1cas", isro é, conj ugando a ofensa e a defe - e que levar;Í a re nunciar, algum dia, ii d ecis::ío human a sol i d.r ia, em
sa, são ;is ;irmas nov,15 q ue dissuadem de interromper o mov1111en co d a fa,,or da mini,1tu11 z .1ç:io absoluta do campo político qu e é a
corrida armamentisca, e a "escrarégia logística" de sua produção roma-se automação
um;i fat;ilidade, a fatalidade da produção dos meios d e d estruiç:ío como Se no tempo do grande Frederico, vencer l'rrt avr1nçar, para os
farnr obrigat6no da n:io-gue rr;i, círc ulo viCJoso e m que .1 focalidade da adeptos da dissuas:io, vencer é rec11rlr, é d e ixar de lado os lug,ires, os
produção s ubstin11 ,1 da descru1ç:ío. A maq ui na de g ue rra j,í não é somen- povos e o indivíduo aré o ponro e m que o prog re ~~o dromológi co
te rnda a g uerra, eh se rr:insform,1 no inimigo prmcipal dor parcctros pareça reco mar à propulsão por reaçfo que 1esulca da ejeção d e uma
adversários, privando-os de su a libe1clacle d e movimenro '. Arra~cado~, à cerra quancid:1de de movimento, produto d e uma m assa por uma
sua revelia, para a se1vidão sem g1,1ndeLa d.1 diss uasão , o, procago11isras velocidade no si:ntido oposto rio que .1c quer imprimir.
praticam ago r:i .1 políric.1 do pior o u, 111,1is ex;namence, ";t apolítica do Nesta guerra de rcccss!in e ntre o Lesre e o Oeste, co 11re mpori1ne:1
pior" que facalmc ntc faz com que ;i 111:íquin.1 de guerra ven ha :1 se rorn,H, 1150 da ilusória limi t a ção dos ar111a111e11tos e ~t1arég1c os e si m d ,1
algu m dia, ;i própna decisfo da guerr:i, rea liza ndo assim a pe rfeição de lirnitr1çíio rir, e,tr11t/gir1 m es m:1 , a pou2nci;1 d,1 explosfo termonuclear
sua auro-sufic1ên ci;i, a ruuornaçâo drt dissuasão. serve d e horizonte .1rrificial à corrida que aumrnt;i .t potênc1:1 da
A proximidade sugesciv~ dos termos "dissuas:io" e "auro maç5o" implosfo veic uh r. A i111po~s ibil 1dad c el e inte rrompe r o progresso do
permite co mpreender m e lhor o e ixo est1 uwrador do~ aconrecimenros poder d e pe nc crnç:10 de outra forma que por um ato defe 110 advc::rs,í rio,
res ulta e m neg.1r a cstr;itégia com o co1thccnne11to pré11zo. O cará ter
3 O ~11bm~r1110 nuclc~r l.111ç.1-mbu, (SNLE) d1spik S07.1 n l111 de um po,leno de
:lt1 tom:írico n :i.o ma is unicame n te cl.is ,1rmas . do~ meios, ma.s também
dc, m11çfo cqu1valenrc .10 d e todo) os explosivoi urili7ado, d u, a m c a ~Cl:(llnd.1 Guerra
Mund,al. do com.indo, equ ivale ;i neg;ir ;i cap:1C1dade de raci o cínio , rucht

134 135
miso11111eren.1 l\ perfri~ío d;1 ordem de Frederico 11 realizou S<.: Lülll :i ble e o .1spn.to 'l,eogní/iw.
dis5u,15áo que leva a reduLit não ,ó .1 l1bt"rd,1de de ,11,.:io e de dec1s,ío • Ourrora rcsponsáve1~ pelas operações, os ,meigos chefes de guer-
mas também a de ,011eq1ção A l{,gica dn~ ,i,rcma~ ele a rm;1 mc11tM ra, estrategi~tas e ourros tanlOS gcncr:us são recuados e confinados 11.1\
escap,1 cada ve7 mat\. ao5 quadro, millf.m.:,, lfall\fenda ()li<:: e: p.1r;1 o diversas a;1v 1dactes Ol' manutc:111,,10. cedc:ndo lug,H ,w 1..IKÍL d'- Esr.1do
cngenh<.:iro rcspon~ável pela pesqut5,l e o desenvolv1mento, 11.1
,1pen:1s ...
cxpecc:niva, evidentemente. da auto-suficiênci.1 do sistema.
J-b dois ano:,, Alex.111dre S.inguincm escrevia .. forna-5e c1ch
Este é 0 ;ispecrn polít iro
vez mais inconcebível construir aviões de ataque cust.111do com su.1s
Mas e~ta rarefaç:'io qu,111tic1t1va e qu.1!1canva não pár:i: o própno
peça~ ele reposição muicos ht!hõe, de francm antigo~ por unidade
parn u:1nsporr:1r bomb,1s c.1p;izes de destruir um:i est:içáo ferroviária Tempo ameaça folr.H:
do 111tenor; 1 relaçfo custo bcncficto n-fo esc.í gar:mrid.,. ·· Esta lógica • Const,1ntcmcntL aumcnt.1das, as c:1p.1'-idade, ja ,1111pl.1menrc
da guerra pdrica onde o custo d,1 perform,ince do vetor (aé1eo) provoca, ~upersônica\ dos vcrores s:io ulnapassadas pebs altas encrgi:i~ que per-
,1ucomacicamemc, a amplt,1ç:i.o de sua c.1pacidadc de descruiç.io pela mitem a ,1proximação da veloc1d.1de da luz.
cxigcnc1,1 de c:ureg.u um ,umamcnco nuclear dt1co, 11:io se limita ao
Cste t' o aspecto esp1rriaL-tm1pornl.
,ivião de assalto; e l.1 se transforma também n.1 lógica do apardho do
Depois eh época d,1 relanvidade política cm que o Esc.1d~ _é um
Estado. Este rerroccsso é a constquênc.1;1 log1Hica da produção dos
m eio n:io Londuro1, trata-se agor,1 da ausênc1.1 de tempo da polmca da
meios de co111L1nicaç:io da destruiçfo: o perigo do nrrnnrncmo nuclear,,
rel:uividade A descarga completa, temid:i por Cbusew1cz. produ:iu-se
do wtt•ma de arrnm que ele pressupõe não é ta11to que de explorln e mn
com O Estado de emergénci:i. A, iolência da velocidade tornou-se, s1mul-
que exista e implodrt nas mcntal1d1ules.
cam:,,mcntt, o luga1 e a lei. o descino e :i de5tin,1ção do mundo.
Resunumos c~tc Fenômeno·
• Duas bomb.1s 1nrerrompem a guerra no P.1df1co e .1lgnm,1s Setembro de 1977.
dez.e11,1s de submannos nucleares basram para garantir a coexisténci.1
pacífica ...

Este é o aspecro mtrnh-iro.


• Com o surgimento das og1\'as cermonuclc.ues de cab..:-,.as múl-
t1pl.1~ c;: o progres~o do armamenro nucle,tr rácico, ass1ue-se it
miniarnrização d,ts carga~ explosivas..

Este é o ,1specto volumétrico


• Após desemb;ir.1ç.11 a supe1fíc ,c cll' 11111 cqlilpamcnto defc::n~ivo
incômodo e recuar as ;1r111as cscrarég1cas para debaixo d.1 terra <.: do mar,
abandona-se a extensão do mundo, reduLindo ainda m:iis os po11ros
sensíveis e as bases :ivançadas ...

137
136
OBRAS DE PAt;L VIRJLIO

fü·:-;,rn ,\r-r11roLnl,IL. c:di11ons du C( ·t, 1'l7"i


(2 ' crliç:io· éd 111nm l)~nll-( c1de, 19') l)

L.,,1 l ~ L oc l'n:R H, ,,, • '>t,,..k. 197(,

D1'nv,1 l'ul'l 1,11\ll l I l.11 nr, h O I ()(,IOLI I ,, nL ( ,.11,kc. 1')78

l 'r~L" 1 CRITIQl.l. cdmom Chri,1i.111 llourg,m. l ')8 1


L11or-1zo:s. NEC\l 1 c:d,nom G.1liléc. 198·1
L0t.,1, 11t/l 'L DE ui PtRl 11' 11,1·\ i - Gut'l l l' ,·t l :iné111.11, cd1rions de l'Etoilc/C.1l11c1> du
Cmém.,. 1984
L1 M ,u11,r DE Vt\10\i cd11ioo~ C,ahk<,.1988

E.H 111 1IQlJI' or 1,1 L) 1,P111m 1,,r-., éd1m1m G.1liléc. 1989


L1N1.i:1 IL Po1 AIRE , cdmom Cl11 isnan l10u1!!;11i,, 1990
Lr.cP -, PI [)rsnr nl11ion, <~.,hlfr 1')') 1

l~IN~I n11un Dll I Ll'RI I OIRF, cdi11011, l .alil ec. 1'>93

LART ''lJ /\l1WEl'R, cclirJon, Calik~. 19'J.)


1 1 V n, ,t 1,1.c. Ll~h, \l lll'-l eclmon, ( ..ihl.'.,·, 1')')(,

hd1çiics 11,,whiJ//,

Gl tR \ I' P.1, Bi.isilirnsc, l ')S4


O 1,,1•11,oCRmcu, cdit<H,1 31. 1')91
GllLKR·\ 1 l lNE,\1,\, :,,, [l[[.I, 1993
A t--1 lfll ,, 1 OA \11,,1< ,. Ju,.' Olvmpu>, 19')';
Vu c,r 11 IAIJ I e l'oLI 11, ,1. huç:to I ihcrd.,dc, 199(,
A t\R 11 l)(l M OTOR, r,1taÇ:tll I ibcrd.ttlc. l 'l96
11, ;ilt'111.1c, e<,tJ\".1111 JttJ, t·,,;ind,1
,1 pontt· t' \l' d1ri)lllldo \ do71ne11H
EMPRÉSTIMO D E p,ira t' 1i1oral rr,1 rnai, 11u 111e110;
PUBLICAÇÃ O lllllltl J <,11erra d11 t,nlfn ,111 vivn,
ma, lllll ,,,, 111,1 llllllllri,ado. Fm
Esta publicação deverá ser J'Jra 111i111 a e,1w11rnna I t1nda1nl'n-
1al da\ l'incidadt·. ,\ vcl11, id,1de 0
devolvida na última data indicada. / ,·m pn11ll'1rn lugar exa1a111u11e 1,,,1
!..J__LJ; J : JOa a ,uq,rt·,a ah,11lu1a uma 1nlor-
. ma1,5o que nã,l l11i1killL (llll1 a

J
~-,\a ~- realidadl' p11rq11,· a realidade vai
"-' - • -L 2).• mai, r,íp1d,1 qm a mlo1 m.:i,iio.•
1 9 MAR 2009 Com n111r;i, 10rnk.:i~. uu1rn, mr11h,
------- e ,1 que u,01 re lrn1e: quem l ontrol.:i
,l \'elt1tid,llk u11111ola wdo o e,-
1 p,11,ll t ., 111101111a1,jn

~~ ~)•~~Q
! j .~ 0\.11 2:lR/9 --
..1 9 JUL 2D1.6 _ _ _ _ _ _1
Q.,&l,~SR! ~~ - - - -

·-~-----

P.Jul \ mlu, llil'' ,·11 em l\111, ,·m 19 H.


dt· pcu 11,1li1nu rt..·fu~iado ptllítil,> e 111,it
h1c..·1 â A1 q u 1t tti) 111 1,;ini~t.J. liltholn. t•x •
d11<'tnr .t,1 1:-,cob de Arqt111t•t11ra de PJri,.
('Jlt.\lc.lli,1tl cm (lllt·,1t,t'~ t,tr,lll~~ha,. ll'lll
,e tk'i1J1.,1dn ltunn um do, p111u.1p<11,

'3 \
t:t1,J 1"-l,1, ,uhrl' c>"t 11H'H' S de. <..01n un 1,J u, l'
ª' nov,1• a11(p-c.•,ll,H.l;t\ 1nforlll'1tllHlc.li'\ t'
uh·11h."lll'1~ f\ ,., t.•n1n· outro\ A Arte J,,
,\f,w, Lei. E,1a\,it1 Liherdad,·>. O prl"•
i:.enll' l' ll"'a in fPt c._•po<J e proJt'tou Vinho
lOlllt ' pt•l1.·n1,~1a do, mal', luddo, e arguln\

You might also like