A Casa Digital e o

74 Edifício Inteligente 75
Inteligência, quando se fala
de escritórios e moradias,
pode ter diferentes
concepções. Nenhuma,
porém, exclui o homem.
A tecnologia proporciona
eficiência ao trabalho,
aumenta a sensação de
segurança, dá mais prazer
ao entretenimento. Mas
também economiza recursos
naturais e ajuda a preservar
a vida no planeta.
C AP Í TU LO 3

Empresa Edo Rocha Espaços Corporativos
Soluções Inteligentes
Privilegiam o Homem
M
uito se fala sobre edifício
76 inteligente ou casas
inteligentes. A meu ver, a
inteligência está em como a arquitetura
consegue preservar as energias físicas
e humanas. Se não há preservação, não
poderemos dar o próximo passo.
O homem dorme e alimenta-se,
transforma alimento em energia – uma
máquina biodigestora altamente complexa
e eficaz que, dependendo de sua capacidade,
consegue criar, produzir, construir, enfim, ter
uma atividade física que diminui à medida
que suas energias vão sendo gastas ao longo
do dia e de seu ciclo de vida.
A casa e o escritório devem ser locais
onde essa energia possa ser recarregada e
preservada. Um edifício, qualquer que seja,
deve oferecer ao homem a possibilidade
de preservar e manter sua energia física,
proporcionando assim menos desgaste, mais
conforto e satisfação.
Entrar num edifício deve ser algo
prazeroso. A arquitetura e o ambiente
interno precisam oferecer essa satisfação. Se
isso não ocorrer, a arquitetura não alcançou
seu objetivo e sua função. Por maior ou
menor, por mais simples ou sofisticado, o
C AP Í TU LO 3
espaço de trabalho ou a casa têm de ter este
compromisso em relação ao homem. Esta é a
função do arquiteto: transformar o sonho em
realidade, fazer do local em que trabalhamos
Edo Rocha
Arquiteto Diretor-Presidente da
e vivemos um lugar que melhore nossa
qualidade de vida.
A arquitetura é a somatória da atitude
criativa e estética em função do homem,
usando a tecnologia. Para mim, este é o
resumo sucinto do objetivo da arquitetura.
Se somarmos a ela todas as novas conquistas
digitais, começamos a transformar o morar
e o trabalhar em uma forma de preservar
a energia física humana, dando ao homem
mais satisfação, mais saúde e bem-estar.
Os edifícios e o homem são grandes
consumidores de água e energia elétrica.
Todos os equipamentos são movidos a
eletricidade. O edifício inteligente, por meio
de uma arquitetura coerente e produtos e
serviços inteligentes, consegue ser eficaz na
conservação de energia.
Esta nova concepção de arquitetura,
batizada de Green Building, inclui edifícios
que não agridem o meio ambiente e a ele
se integram, causando o menor estrago
possível à infra-estrutura da conservação
de energia. O projeto deve ser concebido
de forma a permitir que todas as novas
tecnologias dêem prioridade à integração
da conservação de energia humana,
eletricidade e água.
Desta forma, vou tratar o tema da
conservação de energia falando sobre os
diversos assuntos que compõem o espectro
global do problema, das interferências e
interfaces entre o homem, o local de trabalho
e a casa, e sua interface com a tecnologia.
Água e lixo
Água e ar parecem inesgotáveis, mas
não são. Água e ar são elementos básicos
para a sobrevivência humana. Precisamos
economizar água ou saber como usá-la de
forma inteligente.
Com a evolução dos sensores, é possível
instalá-los em pias, bacias etc., permitindo
que uma descarga de água seja apenas
suficiente para a higiene. Nos escritórios
e locais públicos isto foi uma grande
conquista. Outro ponto importante foram
as bacias com desenho mais moderno,
permitindo menos gasto de água em
cada descarga e as válvulas com dois tipos
de descarga de água. Estas opções são
importantes para a economia.
Na maioria dos casos, as máquinas dos
sistemas de ar-condicionado dos grandes
edifícios são refrigeradas a água. Devido ao
avanço da tecnologia, hoje em dia é possível
construir grandes máquinas de refrigeração
a ar, que praticamente eliminam o consumo
de água e, principalmente, o acréscimo de
produtos químicos ao sistema das torres
de refrigeração. Outra inovação é a coleta
de água da chuva, depois armazenada para
utilização em banheiros, lavagens externas,
rega de jardins etc.
Embora o progresso não seja tão
significativo nesta área, cabe mencionar o
tratamento do esgoto e do lixo. Em muitos
77
de meus projetos temos instalado sistemas
que transformam esgoto em água limpa.
Se todos os edifícios e casas tratassem
sua água, certamente teríamos melhor
qualidade do meio ambiente e maior
consciência de preservação e economia.
Reciclagem é a palavra mágica do
momento. A transformação do lixo em
produtos novos tem sido uma grande
conquista. Transformar garrafas plásticas
PET em carpete e reciclar o carpete em
novo produto são exemplos de progresso
significativo.
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
Atualmente, a indústria automobilística
pensa não só na montagem, mas também
na desmontagem dos carros, para permitir o
aproveitamento das peças na transformação
da energia contida nos produtos empregados
originalmente na fabricação, separando
borracha, plástico, vidro, aço, alumínio,
chumbo e combustíveis, de forma a reduzir ao
máximo o impacto sobre o meio ambiente.
A economia e a consciência de
preservação começam pelo fim. É pelo fim
que compreendemos o começo, e a partir do
desperdício e do lixo poderemos melhorar o
desempenho dos edifícios.
Os sistemas de construção no Brasil são Carpete em placas
muito arcaicos. Calcula-se que pelo menos feito de PET reciclado.
 30% dos produtos e serviços de uma obra
78 viram entulho. Isto já melhorou muito,
mas está longe daquilo que chamamos de
79
construção econômica. A construção civil
no Brasil é uma indústria de mão-de-obra
intensiva. Isto dificulta o desenvolvimento
de produtos inteligentes que permitam um
trabalho mais racional. Com esse peso na
bagagem fica difícil entrar na era digital.
No projeto da sede da Vivo, em São Paulo,
usamos um sistema chamado tuit up, que
permite a construção de uma parede, pilar
ou viga de forma extremamente racional
A construção do e simples, praticamente sem desperdício
prédio da Vivo foi
de material. Inicialmente foram feitas
feita no sistema
tuit up as fundações, sem escavar o subsolo; em

A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE

seguida foi feita a laje do térreo e, a partir
daí, o prédio começou a ser construído com
duas frentes de trabalho, uma para cima e
outra para baixo do terreno.
Há várias inovações na tecnologia da
construção. A Shimizu, no Japão, elaborou
um sistema chamado Smart, desenvolvido
a partir dos avanços e progressos dos
métodos de montagem usados na indústria
automobilística.
C AP Í TU LO 3

É um prédio just in time. Sobre o terreno

constrói-se um galpão metálico apoiado
em quatro pilares metálicos retráteis que
seguram a grua e uma ponte rolante. O

chão da fábrica vai subindo à medida que o
80 prédio cresce. Monta-se um contêiner que,
provido de um computador, controla todos
os robôs e cronogramas, um verdadeiro
CAD-CAM com poucas pessoas. O prédio
vai sendo construído por robôs e poucos
funcionários, que controlam a chegada dos
materiais, soldam os pilares e montam o
prédio. Como numa linha de montagem,
os produtos e materiais necessários à
construção vão chegando a cada dia. O
prédio não pára, trabalha-se dia e noite,
ininterruptamente. Enquanto o prédio sobe,
os andares de baixo ficam praticamente
prontos.
No final da obra, o galpão é desmontado
e o prédio está concluído. Somente a
indústria automobilística poderia oferecer
à construção civil soluções que permitem
racionalização e automações tão perfeitas
quanto as do sistema da Shimizu.
“Se carros fossem construídos como
prédios, nenhum deles sairia
do estacionamento.”
(Volker Hartkopf)
C AP Í TU LO 3
O método Smart, da japonesa Shimizu, aplica conceitos da indústria automobilística na construção civil
Computadores
• Em 1954 o presidente da IBM falou que
havia possibilidade de se construírem
apenas de três a seis computadores no
mundo.
• Bill Gates afirmou, no início, que 640
kbytes eram suficientes para qualquer
pessoa.
• A IBM inventou o PC e não acreditou nele.
Refiro-me a essa miopia em antever o
futuro como a ponta do iceberg que ainda
não emergiu. Não sei se temos consciência
da transformação cultural e do poderio da
expansão de conhecimento que estamos
vivendo. Os computadores transformaram
nossa vida, como também nossa maneira
de pensar. Criaram novas profissões,
fizeram desaparecer muitas outras, sem
mencionar a robótica que, na área industrial,
revolucionou o uso da mão-de-obra.
Hoje fazemos coisas que eram
inconcebíveis no passado. As indústrias
aeronáutica e automobilística
desenvolveram softwares de grande
porte para projetar aviões e automóveis.
São programas de grande capacidade de
modelagem, cálculo e projeto.
Os primeiros PCs e softwares para uso
comercial foram lançados no início dos anos
1980, e essa foi provavelmente a época em
começou a haver um grande diferencial na
concepção dos projetos.
Em 1984 começamos a usar o CAD no
escritório: um PC, uma plotadora com pena
a nanquim e um Autocad 0. Desenhar uma
81
linha era uma aventura. Nas primeiras aulas
pensei que tudo aquilo não ia dar certo. A
única coisa que me animava era ver que
computadores de grande porte, apesar
dos custos proibitivos, desempenhavam e
facilitavam os projetos complexos de forma
muito eficiente. Quanto tempo levaria para
que os PCs se igualassem aos mainframes?
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
Computador
comanda
praticamente
todos os sistemas
e serviços que
constituem a
inteligência predial
 sol nas fachadas – abrindo e fechando brises,
cortinas e janelas –, controlando acessos,
elevadores, segurança contra incêndio,
estacionamento de automóveis, enfim, um
infindável número de sistemas e serviços

82 Hoje em dia pensamos e projetamos

de forma diferente. O computador é uma
ferramenta fantástica que nos permite
pensar em outra escala, ver modelos
de forma distinta, avaliar, controlar e
gerenciar projetos com muito mais
eficácia e dinamismo. Ajuda a visualizar e
controlar a qualidade do projeto, detectar
erros, flexibilizar mudanças e produzir
rapidamente a parte repetitiva. Fazemos
projetos mais rapidamente e com muito
mais tecnologia do que no passado.
Atualmente, um projeto inclui uma série
de consultores e itens que, no passado, não
eram considerados ou sequer mencionados,
como a necessidade de qualidade,
que constituem a “inteligência predial”.
Em termos de segurança, uma das
formas de controle de acesso são os
sistemas de medição biométrica que
permitem identificar as pessoas que
entram e saem dos edifícios.
Os smart tags (RFID) podem ser outra
revolução no controle de acesso e segurança
de edifícios ou residências. Hoje em dia não
há necessidade de usar chave para abrir
certos carros ou dar a partida no motor.
Quando o motorista se aproxima, seu smart
tag abre o carro e quando ele se senta, já
dá a partida. Quando sai do carro, esse
dispositivo tranca as portas e mantém na
memória todas as funções que o motorista
apavorado, achando que deveria ser o alarme
de incêndio.
Era só uma mensagem de Natal. A
83
última, pois no dia seguinte mandei
desligar aquela máquina inútil, que virou
sucata. O telex foi superado pelo fax, e a
internet revolucionou a comunicação nos
escritórios e entre as empresas. Novos
negócios surgiram, companhias inteiras
que não existiam passaram a fazer parte
dessa nova atividade digital.
Hoje mandamos plantas pelo
computador, temos sites em que
arquivamos eletronicamente qualquer
projeto, com acesso remoto aos arquivos.
Essas facilidades são possíveis somente por Outro dia um amigo me mostrou todo Edifícios tendem a

detalhes, tecnologia e conhecimento.
As preocupações são incontáveis,
principalmente em conseguir usar toda a
tecnologia de ponta para que um edifício
seja mais eficiente quando se trata de
conservação de energia, flexibilidade e
adaptação das mudanças tecnológicas
existentes e das que virão no futuro.
O computador entrou na arquitetura e na
engenharia definitivamente, comandando
grande parte dos serviços e equipamentos.
Por exemplo: gerencia o centro nervoso dos
C AP Í TU LO 3
havia usado antes de sair do carro.
A maioria dos desenvolvimentos
tecnológicos da indústria automobilística,
sem dúvida, será, de uma forma ou de outra,
implantada nas residências ou edifícios.
A identificação da voz já é um elemento
simples de comando de varias funções e
atividades.
Comunicação e convergência
Em 1989 eu ainda tinha um telex em meu
escritório, que continuava ligado, porém não
meio das novas bandas de comunicação
–– ISDN ––, que permitem que voz e
dados trafeguem no mesmo cabo por
meio de fibras com milhares de sinais ao
mesmo tempo. A comunicação sem fio nos
escritórios e nas casas é uma realidade.
Redes sem fio permitem ligação de
computadores, impressoras e sistemas de
som em qualquer lugar, sem necessidade
da parafernália de cabos.
O celular foi outra grande revolução,
assim como a rapidez com que agregou
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
ser auto-suficientes
orgulhoso um blueberry que tinha recebido
em geração de
naquela semana. Depois que ele contou energia
todas as maravilhas, eu falei que tinha um
mais moderno que, além de tudo, tinha
barbeador e secador de cabelo. A telefonia
via internet pode provocar outra grande
mudança de comportamento.
Energia elétrica
Conservação de energia e equipamentos
mais econômicos são uma das grandes
preocupações e conquistas da atualidade.

sistemas elétricos de um prédio, permitindo recebia mais nada. Um belo dia chegou uma outros serviços, como fotos, filmes, Se as geladeiras continuassem a ser
economia de custo de manutenção, mensagem. Talvez o equipamento estivesse agendas, músicas, palm, e-mail, torpedos, fabricadas exatamente como as primeiras,
apagando lâmpadas e ajustando os níveis tão contente que soou todos os apitos e jogos, computador pessoal, enfim, uma toda a eletricidade produzida nos Estados
de iluminação, temperatura e incidência de sirenes. Todo mundo no escritório saiu extraordinária convergência de sistemas. Unidos seria consumida apenas por elas.

O aumento da produção de energia é hoje
84 uma grande dificuldade. O potencial de
construção de novas hidroelétricas ou
usinas nucleares está dentro dos limites,
Integração da enquanto as casas e os edifícios modernos
luz ao projeto consomem mais energia elétrica.
proporciona
economia e
Novas pesquisas com fontes alternativas
conforto de energia estão sendo desenvolvidas. Não
C AP Í TU LO 3
duvido de que, em pouco tempo, todas
as casas ou edifícios possam ser auto-
suficientes em co-geração de energia,
transformando energia solar, eólica ou
gás. Prédios com co-geração a diesel ou
gás já são uma realidade. Temos edifícios
projetados para ficar sem energia por
30 dias, e todos os dias, nos horários de
pico, o gerador entra em funcionamento,
economizando despesas com energia.
Já existe tecnologia permitindo que, com
um único cabo, seja possível ter rede elétrica,
transmitir comunicação telefônica e sinal
de TV. Isto seria uma facilidade, porém, está
demorando muito para ser colocada no
mercado e, talvez, quando for implantada,
seja tarde demais, pois as casa ou os edifícios
podem não estar mais ligados à rede elétrica.
Experimentos com carros bi ou
tricombustíveis já são uma realidade
– gasolina, álcool e energia elétrica ou
solar. Estas tecnologias logo migrarão para
casas e edifícios
Iluminação / luz natural
Um dos grandes conflitos nos edifícios
é a contradição entre as demandas de luz
artificial e luz natural, provocando reflexos
nos computadores, e a necessidade de
observar as normas (500 lux/m ) quanto ao
2
índice de iluminação artificial. A iluminação
foi um dos itens que registrou grande
evolução e avanço tecnológico.
Primeiro, lâmpadas mais eficientes
– com microfilamentos, gases e refletores
especiais junto ao bulbo – mudaram
completamente o conceito de iluminação,
proporcionando maior integração da luz
ao projeto arquitetônico e um ganho em
economia e conforto.
Segundo, as lâmpadas ficaram mais
econômicas em função da nova engenharia
e da sua associação com os refletores,
que multiplicam ou amplificam os fachos
luminosos, permitindo, com poucos watts,
excelente eficiência luminosa. Tanto nas
casas como nos escritórios há sistemas de
controle central da iluminação de vários
ambientes, possibilitando numerosos
efeitos, mudando o cenário e os recursos.
A necessidade de evitar reflexos nas
telas dos computadores é outro assunto
que merece destaque. Esses reflexos
interferem na imagem, provocando cansaço
e stress visual. As luminárias parabólicas
duplas evitaram estes reflexos – trata-se de
luminárias com refletores mais eficientes
Controles
permitem
combinar
iluminação natural
e artificial
em consumo de energia e também
evoluíram com sistemas bidirecionais,
fornecendo simultaneamente iluminação
85
direta e indireta. No entanto, ainda há
discrepâncias:
1. Prédios inteiros iluminados durante o
dia e com as cortinas fechadas para evitar
reflexo nas telas dos computadores ou o sol
batendo diretamente nas pessoas.
2. Várias pesquisas foram feitas
comprovando que o homem trabalha muito
melhor com a luz natural, que evita grande
parte dos efeitos da Sick Building Syndrome.
3. A legislação brasileira exige que
todos os prédios de escritório tenham 500
lux por metro quadrado Essa legislação
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
foi promulgada antes da existência do
computador, e o computador não necessita
dessa quantidade de iluminação.
As soluções que adotamos em alguns
dos novos projetos – com sensores que
controlam a intensidade da luz natural,
ajustando a intensidade das luminárias
fluorescentes – conseguem de certa forma
resolver os três problemas apontados.
Persianas inteligentes eliminam o
reflexo direto sobre as pessoas, jogando a
luminosidade para o forro e permitindo
a reflexão da luz natural. Um sistema de
luminárias sobre a mesa de cada usuário
permite que ele controle a iluminação de
acordo com suas necessidades.

Talvez sejam essas as grandes mudanças
86
na área de iluminação de escritórios, além
de vidros eficientes que filtram os raios
ultravioletas e infravermelhos, reduzindo a
transmissão e a radiação solares dentro do
prédio, diminuindo também a percepção
de calor.
Conforto ambiental
O número cada vez maior de
computadores, plotadoras, copiadoras,
impressoras, racks de comunicação,
luminárias e pessoas dentro dos edifícios
C AP Í TU LO 3
Funcionário não
precisa mais ter
mesa: chega e
escolhe a estação de
trabalho que quiser
comerciais aumentou substancialmente a
quantidade de watts por metro quadrado e,
conseqüentemente, a carga térmica.
Os sistemas convencionais de ar-
condicionado são voltados para climatizar
áreas, mas não oferecem conforto aos
usuários. Dependendo do metabolismo
e do sexo, as pessoas têm diferentes
percepções de calor. Por outro lado, os
equipamentos focados em determinadas
áreas criam concentrações desiguais de
calor. A orientação do prédio e o tipo de
revestimento das fachadas criam outra
interferência no microclima interno dos
edifícios.
Os sistemas convencionais de ar-
condicionado injetam ar constante no
forro, sendo difícil equilibrar as diferentes
necessidades do usuário. O volume de ar
variável (VAV) permite, por meio de sensores
de temperatura associados a dampers
motorizados e a um computador central,
a abertura ou fechamento de válvulas que
deixam passar maior ou menor quantidade
de ar, combatendo as cargas térmicas e
equilibrando o sistema de forma mais eficaz.
Os sistemas de ar pelo forro criam
muita insatisfação aos usuários, que não
têm controle da temperatura. Além disso,
nunca estão corretamente sintonizados,
sem mencionar a dificuldade de satisfazer
a todos os usuários. O ar pelo forro é,
em grande parte, causador de dores de
cabeça, dores nas costas, sensação de vento,
ressecamento do ar e proliferação de fungos
nos dutos e nas próprias salas de máquinas.
Em 1990, introduzi no Brasil o sistema de
ar-condicionado pelo piso, com volume de ar
variável, direcionamento e controle de vazão
feitos pelo próprio usuário. Desta forma,
cada um deles pode controlar a temperatura
e a vazão do ar. Esse sistema foi inspirado
nos mesmos conceitos do ar-condicionado
dos automóveis, que é uma forma mais
flexível e eficiente que a dos escritórios.
Dentro do automóvel, é possível
aumentar ou diminuir a vazão, a
temperatura e a direção do ar, ou mesmo
desligar o sistema, o que não ocorre nos
escritórios. Além de permitir os controles
87
pelo usuário e ser mais flexível na hora
da mudança, o sistema de ar pelo piso é
provido de um eficiente mecanismo de
remoção dos poluentes e do gás carbônico
que normalmente se concentram dentro dos
edifícios.
O ar pelo piso permite também redução
da quantidade de equipamentos e de
consumo de energia em torno de 25% a
30%, dependendo do projeto, além de abolir
totalmente os dutos. Já instalamos, com
muito sucesso, mais de 200 mil metros de ar-
condicionado VAV pelo piso. A próxima etapa
será conseguir agregar este equipamento
às estações de trabalho, permitindo que
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
as saídas de ar fiquem mais próximas dos
usuários e estes tenham controle mais direto
da intensidade e da temperatura do ar.
Equipamentos domésticos
A eletrônica digital embarcou de forma
mais ativa em diversos equipamentos
domésticos. Muitas famílias gostam de
reunir-se na copa ou na cozinha para assistir
à televisão. Por que não colocar a televisão
agregada à geladeira? São itens que, no
passado, pareciam absurdos, mas hoje são
realidade.
Banheiras de hidromassagem têm
comando a distância, computadores
comandam as luzes por sensores de

88
Digitalização presença, controles de reconhecimento
aumentou o uso
de voz, por smart cards ou biométricos,
da fotografia
reconhecem a pessoa e são acionados
automaticamente, conduzindo o usuário ao
seu elevador/andar, abrindo a porta da casa
etc. Além disso, cabe mencionar o sistema
viva-voz para telefone dentro do ambiente
como um todo.
Quando foram lançados, os aparelhos
de reprodução de videocassete criaram
grande desconfiança em todos os estúdios e
produtores de cinema que, no fim da década
de 1970, viam sua atividade ameaçada pela
invenção e temiam que as pessoas não mais
freqüentassem as salas de cinema. Ledo
C AP Í TU LO 3
engano. O videocassete na verdade deu
grande impulso e aumentou a produção
e o consumo de filmes. A possibilidade de
repetir ou interromper a exibição a qualquer
tempo levou as pessoas a apreciarem
mais os filmes. Isso tornou a associação
TV-videocassete o caminho para a evolução
da reprodução sonora e a convergência de
música-vídeo nos entertainment centers, que
culminou no home theater.
Hoje é possível ver filmes em casa com
qualidade sonora igual à das salas de
cinema, com sofisticações de reprodução
como thx e surround sound, que dão a exata
simulação da realidade, transpondo para a
casa a sensação de como o filme foi gravado,
em cinco ou sete canais. Os projetores
de vídeo – que mudaram de CRT para
DLP – e TVs de plasma e de alta resolução
modificaram completamente a forma de
consumir imagem/cinema.
A fotografia foi campo de outra grande
revolução digital. A Kodak inventou a
máquina digital, mas não acreditou no
invento. Acho que nunca se tirou tanta foto
como hoje em dia, e todas elas ficam boas
– e, se não ficarem, basta deletá-las, sem
nenhum custo e sem esperar a revelação.
Não há mais o problema do filme, da ASA,
do DIM, da sensibilidade, do tamanho, do
tipo de luz. Tudo mudou, basta apertar o
botão. Qualquer amador virou profissional
e, quando se chega em casa, uma pequena
impressora reproduz as fotos ou é possível
vê-las na televisão, no telão ou, acredite, na
geladeira!
A memória digital é outro assunto:
Quantos megas, gigas ou teras são
necessários para você guardar suas músicas
ou filmes? A sua medida de conhecimento
e cultura será avaliada pela quantidade de
bytes que você já viu. Como você armazena a
bagagem de sua vida, das suas memórias?
A fitoteca ou a discoteca estarão todas
num hard disc, e se ele der problema, é
bom você ter um backup ou guardar num
servidor seguro, em outro país. Acredite
se quiser! Estamos hoje vivendo a era da
“cultura digital expressa compactada
(CDEC)”. A nova geração não está mais
preocupada em escutar música. A música
é apenas um elemento para preencher o
espaço, sendo algo descartável como um
guardanapo de papel. A TV associada à
internet vai permitir que você veja um
anúncio e, ao mesmo tempo, faça uma
pausa e entre no site do perfume, do
sabonete ou do carro anunciado, e peça
para entregá-lo em casa
Home Office e virtualidade
Você trabalha hoje em todos os lugares:
no aeroporto, no avião, no trem, em casa,
onde houver uma conexão – você já é um
elemento virtual. Muitas empresas oferecem
a seus funcionários toda a infra-estrutura
para eles poderem trabalhar em casa. As
conexões de alta velocidade simplesmente
interligaram a casa (ou onde o funcionário
estiver) ao escritório. A casa é uma extensão
do seu ambiente de trabalho.
89
As crianças hoje entendem mais de
computador do que nós mesmos; para
a nova geração o computador é um
derivado do videogame. No entanto, o
escritório está transformando-se. Muitas
empresas perceberam que grande parte
dos empregados não fica muito tempo
no escritório e que sua atividade pode
ser remota. Com a globalização, algumas
pessoas passam dois terços do ano fora do
escritório. Cadeira adapta-se
Portanto, por que não ter escritórios inteiramente ao
corpo
e/ou pontos de apoio para as pessoas de
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
forma mais virtual? Ninguém terá seu posto
de trabalho fixo. Quem chega senta. Você
avisa quando vem e reserva as salas ou o
seu posto de trabalho, de acordo com
a sua agenda. Seu material de
trabalho, que geralmente é um
laptop, um palm ou celular, pode
estar 100% conectado dentro ou
fora do escritório ou da sua casa.
Ergonomia
A ergonomia é outro fato de grande
preocupação no conforto do
indivíduo. O computador mudou
a relação do homem com a mesa
de trabalho. Hoje você fica horas

no computador e nem percebe.
90 Cadeiras mais confortáveis moldam-se ao
seu corpo – com a finalidade de proporcionar
uma posição mais cômoda, enquanto
mesas que regulam a altura do teclado
e do computador permitem que você,
independentemente da altura, se acomode
confortavelmente.
As estações de trabalho mudaram
muito, várias opções de desenho e
diferentes tipos de soluções têm
sido desenvolvidos e conectados a
C AP Í TU LO 3
Estação de
trabalho ER
coloca todos
os controles
ao alcance do
usuário
equipamentos. Por exemplo, o personal
environment da Jonhson Control é um dos
mais avançados projetos de equipamentos
para uma estação de trabalho, permitindo
que o usuário controle a temperatura, a
iluminação e a atenuação sonora. E quando
você se afasta, um sensor desliga a luz.
O Aura é outra sofisticada estação de
trabalho que contém elementos importantes
e sofisticados. Ela gira 360 graus, permitindo
que o indivíduo tenha a melhor iluminação
natural possível, mude a paisagem ou se
Aura cria
ambiente
de trabalho
giratório
livre de um colega chato. Qualidade
A estação de trabalho
é como se fosse um
de vida
A meu ver, a
91
pequeno escritório com tecnologia é um
luz, controle sonoro, elemento em função
eletricidade, enfim, do homem, para
todos os equipamentos ajudar e facilitar sua
possíveis. vida, propiciando mais
Há dois anos conforto, preservando
desenhei dois sua energia – física e
conjuntos que, de psíquica – e melhorando
forma bastante sofisticada, o uso de seu tempo.
tentam antever o que será uma estação Se isto não está claro, a tecnologia não
de trabalho no futuro. A ER1 tem todas tem função, sendo algo descartável e inútil.
as sofisticações da ER2, porém a 2 tem Entretanto, a cada nova conquista nos
uma parede de vidro holográfico em que aproximamos de uma pasteurização criativa
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
a imagem do seu computador se forma e cultural, em que a qualidade dos valores,
como numa grande tela. Há várias telas: das emoções e dos sentimentos pode ser
o Windows com TV, telefone, agenda de confundida com sensações de lugar comum.
compromissos, como se fossem uma A grande variedade das conquistas
coletânea de itens e informações para e opções no mundo digital precisa ser
facilitar a integração do trabalho ou compreendida para que possamos melhorar
enlouquecer o usuário. Uma mesa digital, nossa qualidade de vida, e não simplesmente
à simples aproximação ou colocação nos tornarmos consumidores compulsivos.
da impressão digital do funcionário,
identifica e lê todos os seus arquivos. Não O objetivo do trabalho é ganhar lazer
precisa mais de PIN, password etc. (Aristóteles).
Edo Rocha é arquiteto, diretor-presidente da Empresa Edo Rocha Espaços Corporativos, com três dé-
cadas de experiência no planejamento e arquitetura de escritórios e edifícios corporativos. Já reali-
zou e implantou mais de 720 projetos para grandes corporações no Brasil e América Latina e é o res-
ponsável pelo desenvolvimento do mais completo sistema de classificação de edifícios inteligentes.
Ganhou o Prêmio Master Imobiliário 2005 (nova sede da Vivo) – Categoria Solução Arquitetônica.
 Conceito Muda do
Escritório para Casa
A
automação predial tem como
92 objetivo “otimizar recursos,
visando ao bem-estar e à melhora
da produtividade, com redução de custos”,
segundo o professor Paulo Miyagi, da
Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Trata-se de um conceito simples
de entender, quando aplicado a edifícios
ocupados por empresas, mas, se o assunto
são residências, nem tanto. “É difícil definir
C AP Í TU LO 3
melhora da produtividade em casa”,
explica Miyagi. “Talvez seja a elevação
do grau de descanso. Mas somente se o
objetivo da pessoa é descansar.”
Nos prédios residenciais, as principais
aplicações hoje são entretenimento e
segurança. As tecnologias da informação
e da comunicação permitem conectar os
eletrodomésticos da casa, transformando
o computador pessoal numa central de
entretenimento e controle. Mas não é só
isso. O sistema de comunicação pode ser
integrado aos sistemas de água, luz, ar-
condicionado, alarme e monitoramento,
entre outros, permitindo o uso dos
recursos com inteligência, evitando
desperdícios e garantindo a segurança,
com todos os dispositivos acionados
remotamente.
O evento Casa Cor 2005, em São Paulo,
mostrou que o celular pode controlar os
eletrodomésticos a distância. Uma parceria
entre a Nokia e a Brastemp permitia verificar
quantas latas de refrigerante estavam
armazenadas na geladeira. Eletrodomésticos
como o refrigerador, a máquina de lavar
louças ou roupas, o ar-condicionado, o
fogão e o forno microondas comportam um
modem sem fio integrado para conectar-se à
rede de telefonia móvel.
Na casa do futuro da Microsoft, em
Redmond, nos Estados Unidos, um monitor
colorido, sensível ao toque, substitui a
campainha. Um leitor de íris aciona a
fechadura da porta. A Microsoft Home,
como é chamado o projeto, é um grande
exemplo de computação embutida:
os equipamentos têm capacidade de
processamento, armazenamento de dados
e comunicação. Toda a residência funciona
como uma rede de computadores e o
software está em toda a parte.
Os equipamentos da casa podem ser
acionados por comandos de voz. Todos os
cômodos possuem câmaras e microfones.
93
Músicas, filmes, vídeos e fotos da família
são armazenados num servidor, ficando
acessíveis a partir de qualquer dispositivo
da casa. Na cozinha, por exemplo, é
possível atender a uma chamada celular
no PC e transformar uma parte da
conversa em texto escrito. Ao assistir a
um jogo de futebol na sala, dá para saber
se há amigos vendo a partida ao mesmo
tempo e conversar a respeito, via televisão,
seja por videoconferência, somente voz ou
bate-papo por escrito. As luzes, feitas de
LEDs (light emitting diodes), permanecem
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
acesas somente enquanto há pessoas no
aposento. Os LEDs são mais econômicos do
que as lâmpadas convencionais, quase não
aquecem e duram muito mais.
No Brasil, ainda é pequena a adoção
dos sistemas de automação predial nas
residências. “Em países mais frios, onde os
Todos os
edifícios necessitam de calefação, a adesão controles da
é mais rápida”, explica Miyagi, destacando casa num único
dispositivo
que, nesses países, as pessoas acabam
tendo uma visão mais clara de como
os sistemas inteligentes podem
reduzir o consumo de energia.
No mundo empresarial o
conceito de prédio inteligente
está bem mais maduro. Myagi fez um
 estudo para automação dos sistemas de
94 luz e ar-condicionado para uma empresa
que ocupa seis andares de um prédio
na Avenida Faria Lima, em São Paulo. “A
estimativa de economia na conta de luz
ficou entre 30% e 50%”, diz o professor
da Poli. “As empresas estão cada vez mais
conscientes das vantagens da automação.”
Já existe muita tecnologia disponível, que
vai sendo incorporada pouco a pouco à vida
das pessoas. “A inteligência de um edifício
não depende somente da quantidade de
itens de automação, mas de sua integração”,
explica José Roberto Muratori, presidente
Questão básica ainda sem solução
da Associação Brasileira de Automação
Comercial (Aureside). A entidade tem como
associados 70 empresas e cerca de 250
autônomos. “Os sistemas são coordenados
ou integrados para funcionar de forma mais
econômica ou segura.”
O sistema de controle de acesso pode ser
integrado, por exemplo, ao de iluminação,
acendendo as luzes quando alguém
entre na casa. O de áudio e vídeo pode
estar ligado ao de segurança, permitindo
acompanhar na televisão de plasma ou
cristal líquido as imagens filmadas pelas
câmaras do circuito interno. “Existe um
mercado potencial muito interessante
na área residencial para as tecnologias
de automação que, de forma geral, já são
bem reconhecidas e utilizadas na área
corporativa”, afirma Muratori.
Luxo ou necessidade?
A automação residencial ainda está
mais presente nas moradias de alto
padrão, ligada às idéias de sofisticação
e entretenimento, de acordo com o
presidente da Aureside: “O uso eficiente
dos recursos ainda não é o fator principal
de venda. Preocupações comuns no mundo
corporativo, como conservação de energia,
reciclagem de água e redução de gastos
com ar-condicionado, devem vir numa
Ela tem apoio de empresas como Mitsubishi
Electric, Motorola, Philips e Samsung.
Durante o evento Brasiltec 2003, em São
95
Paulo, foi apresentado o prédio inteligente,
que tinha como objetivo demonstrar
tecnologias de automação. Com 3,6 mil
metros quadrados, 80 toneladas de aço, mil
toneladas de concreto pré-fabricado e 39 mil
metros de fios e cabos, foi construído em 200
horas pela Gafisa e pela Aflalo & Gasperini.
O idealizador do projeto foi Lemos Britto,
organizador da feira. No ano seguinte, a
Brasiltec demonstrou o hotel inteligente.
O controle de acesso ao prédio inteligente
era feito por sistemas de reconhecimento
de íris, digital e cartões de proximidade. O

A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE

Enquanto progride em sofisticação tecnológica,
o Brasil ainda precisa construir 7,2 milhões de
casas para resolver seu déficit habitacional, de
acordo com o Ministério das Cidades. Desse total,
75% estão concentrados em áreas urbanas e o
restante, em zonas rurais. A Região Nordeste é a
que mais precisa de residências, respondendo por
39,4% do déficit, seguida da Sudeste (32,4%). “E
isso só no aspecto quantitativo”, revela o diretor-
executivo do Sindicato da Habitação (Secovi),
Celso Petrucci. “Do ponto-de-vista qualitativo,
existem mais de 10 milhões de residências sem
C AP Í TU LO 3
segunda fase”. circuito interno de televisão compreendia 26
ter acesso a habitação e não têm. “As famílias com
Uma grande tendência internacional câmaras automáticas, conectadas à internet.
renda de até três salários mínimos compõem 84%
no setor de automação residencial é a As empresas Be Safer e Finder exibiram
do déficit”, afirma Petrucci. “Se aumentarmos a faixa
mobilidade. “As redes sem fio facilitam um alimentador de animais domésticos,
para cinco salários mínimos, são 92%.”
a instalação de sistemas em edifícios já para cães e gatos, com a alternativa de ser
Para o diretor do Secovi, o Brasil necessita
existentes”, explica Muratori. “Estão surgindo acionado a distância, via celular ou internet.
mais do que dinheiro para resolver o problema. “É
protocolos como ZigBee e Zwave, que As cortinas, o chuveiro, as luzes e os
preciso um programa perene de governo que não
permitem trocar interruptores por comandos equipamentos eletrônicos podiam ser
só incentive as empresas a investirem, mas que
sem fio em ambientes próximos, com baixo controlados por comandos de voz, usando
garanta a continuidade.” O Ministério das Cidades
consumo de energia.” A tecnologia Zwave tecnologia desenvolvida pelo Instituto
informa ter aplicado R$ 9,5 bilhões em obras e
viabiliza comandos para uma distância de Genius, de Manaus. O prédio contava com
serviços de habitação em 2003 e 2004, beneficiando
pelo menos 30 metros. A ZigBee serve tanto um sistema de aquecimento do piso e de
mais de 690 mil famílias. Segundo a Câmara

para controlar sistemas de iluminação toalhas, com baixo consumo de energia.

condições adequadas, que precisam ser repostas.”
O problema mostra-se mais sério quando se leva
em conta o perfil de renda das pessoas que precisam
Brasileira da Indústria de Construção (CBIC), o setor
e ar-condicionado quanto para capturar A Eletropaulo demonstrou a tecnologia
movimentou cerca de R$ 287,1 bilhões em 2004,
informações sobre consumo de água, luz e Powerline Communication, que usa a rede
gerando emprego para 12,142 milhões de pessoas.
gás pelas companhias de serviço público. elétrica para transmissão de voz e dados.

Entretenimento Fica
Ainda Melhor na Rede
A
convergência digital proporciona
96 aos mais diversos equipamentos
da casa cada vez mais capacidade
de processamento e de comunicação. A
Intel, maior fabricante de processadores
do mundo, criou a tecnologia Viiv para
conectar os computadores a dispositivos
como televisores digitais, tocadores de
DVDs, aparelhos de som e conversores
de TV. “Os computadores terão som
7.1”, adianta David Gonzalez, diretor de
marketing da Intel para a América Latina.
São dois canais para quem se senta à
frente deles e cinco para o home theater.
A tecnologia da Intel tem como objetivo
melhorar o entretenimento doméstico e
ajudar a controlá-lo. A empresa fechou
Opções
parecem
inesgotáveis
C AP Í TU LO 3
acordo com mais de 40 provedores de
conteúdo para desenvolver serviços e
aplicações de software voltados à casa
digital, que podem ser acessados em
formato de tela cheia com um simples
toque do controle remoto. Entre as
ofertas previstas estão o aluguel e o
download de filmes, no formato pay-per-
view ou até gratuito; a compra on-line
de música, videoclipes e jogos; a edição e
o compartilhamento de fotos na tela da
televisão. Entre os parceiros da Intel estão
Adobe, British Sky Broadcasting, Grupo
Canal+, NEC, Telecom Italia, TiVo, Virgin,
Napster e T-Online.
O computador compete com outros
equipamentos para tornar-se o centro de
entretenimento da casa. Empresas como
a Sony acreditam que o videogame pode
ocupar este lugar. Outros vêem a própria
televisão, cada vez mais inteligente,
ocupando desempenhando esse papel.
Em dezembro de 2005, os pesquisadores
do Sistema Brasileiro de Televisão Digital
(SBTVD) demonstraram na Universidade
de São Paulo (USP) o resultado de suas
pesquisas. A TV digital proposta pelos
consórcios de institutos de pesquisa
brasileiros é muito mais interativa que a
existente nos Estados Unidos, Europa e
Japão, pois o problema da exclusão digital
é muito mais sério aqui.
Além da simples diversão
A Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) desenvolveu uma aplicação de
torcida virtual. “Queremos levar para a TV
a experiência coletiva de assistir a um jogo
de futebol no estádio”, conta o professor
Guido Lemos, da UFPB. Com a torcida
virtual a imagem é a mesma transmitida
pela emissora, mas o som é dos torcedores.
Se houver um canal de retorno, como um
telefone ligado à televisão, o espectador
pode comentar e torcer com amigos que
estejam em várias partes do país ou do
mundo. A UFPB liderou um dos 22 consórcios
do SBTVD. O grupo desenvolveu o FlexTV,
um middleware, software que funciona
como o sistema operacional do computador,
permitindo que os aplicativos tenham
acesso a recursos do equipamento.
Além da torcida virtual, o consórcio
da UFPB demonstrou uma aplicação de
educação a distância que usa gravador
digital de vídeo – em inglês, Digital Video
Recorder (DVR) ou Personal Video Recorder
(PVR). Navegando por um menu na tela da
televisão com o controle remoto, o professor
programa o vídeo de que precisará para
a próxima aula. Se ele for transmitido até
o início da aula, o equipamento o grava
automaticamente. Se não, o gravador busca
o vídeo por uma conexão de internet. A
tecnologia poderia ser usada também em
casa, para entretenimento.
Outro grupo, liderado pela Universidade
de Campinas (Unicamp), desenvolveu
outra opção de middleware, que permite
programar a televisão para sintonizar
um programa assim que ele começar. O
espectador pode ver na tela informações
como diretor e elenco do filme, país de
97
origem e ano de lançamento. O middleware
da Unicamp também tem serviço de correio
eletrônico na tela. “O espectador pode
configurar qualquer sistema convencional
de e-mail na televisão”, explica Rodrigo
Araújo, diretor-comercial da RCA Soft,
de Campinas, empresa participante do
consórcio. Outra aplicação do middleware é o
registro de perfis de usuário. “Os pais podem
impedir que os filhos assistam a programas
que considerem impróprios.”
O consórcio da Unicamp criou ainda um
sistema de ensino a distância, no qual o
A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE
espectador pode responder a questionários
de múltipla escolha pela televisão,
enquanto assiste a programas educativos.
A aplicação também poderia ser usada
para entretenimento. Um programa de TV
é capaz de fazer enquetes em tempo real,
com as pessoas respondendo pelo controle
remoto. A interatividade e a internet na TV
exigem, no entanto, um canal de retorno.
Uma possibilidade é o telefone fixo. Outra,
o celular. Os consórcios da TV digital
apresentaram mais duas opções: o Wi-Max,
sistema de banda larga sem fio que funciona
em canal de UHF, e o CDMA 450, mesma
tecnologia usada pela Vivo no celular, numa
faixa de freqüência diferente.
 IPTV ganha adeptos
98 A TV paga via satélite, como Sky e DirecTV,
sempre foi digital, e a televisão a cabo começa
a digitalizar-se. Ao mesmo tempo, surge novo
meio para a distribuição de sinais: os fios de
cobre do telefone, usando uma tecnologia
chamada IPTV, que usa o protocolo de
internet. A linha telefônica é conectada a um
decodificador, como o da TV a cabo, ligado ao
aparelho de televisão. Na Espanha, a Telefônica
música, vídeo e fotos do computador para a TV.
No fim do ano passado, o principal caso
de IPTV no mundo era a PCCW, de Hong
Kong, que tem cerca de 500 mil clientes.
Em seguida, vinha a France Telecom,
com 200 mil assinantes, e a Telefônica,
com aproximadamente 100 mil. “Essas
precursoras representam cerca de 60% da
base mundial de assinantes de IPTV”, aponta
o gerente da Microsoft. “Elas tiveram de
pay-per-view. A nova tecnologia permite
vídeo sob demanda e os clientes podem
ter formas variadas de pagar, como por
pacote de filmes, ou um preço único para
acessar quantos quiserem, por um período.
“A operadora transforma-se em varejista de
conteúdo, podendo até adicionar alguma
possibilidade de negociação de preço
ao sistema”, observa Eran Wagner, vice-
presidente de Soluções de IPTV da Amdocs.
Para conectar os equipamentos da casa
digital, a Linksys, da Cisco Systems, aposta
no Wi-Fi, tecnologia de rede local sem fio. A
99
empresa tem um radinho Wi-Fi que recebe
músicas diretamente do computador e
sintoniza rádios da internet. Com o Media
Center Extender, equipamento que trabalha
em conjunto com o Windows Media Center Operadoras de
TV tornam-se
da Microsoft, é possível enviar vídeo, fotos e fornecedoras de
som do computador para a televisão. conteúdo

opera um serviço chamado Imagenio. Na TV desenvolver soluções próprias.”

a cabo, todos os canais são transmitidos ao
mesmo tempo, no mesmo cabo. Na IPTV, cada
par de fios carrega um canal por vez.
A francesa Alcatel e a americana
Microsoft têm uma parceria mundial para
A presença da Microsoft neste mercado
começou há oito anos, quando foi comprada
a WebTV, que permitia acessar a internet pela
televisão mas não teve o sucesso comercial
esperado: “O grupo de IPTV desenvolveu-se a

A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE

IPTV. “Ela não se restringe a vídeo, também
é videoconferência, bate-papo na TV,
compartilhamento de fotos”, informa Hélio
Rubens Nobre, diretor-comercial do Grupo
de Comunicações Fixas da Alcatel. O sistema
da Microsoft e da Alcatel foi contratado pela
americana SBC Communications.
“Se fosse só vídeo, as empresas iam
competir somente em preço”, explica Renato
Cotrim, gerente-regional de Negócios da
Microsoft. “A televisão passa a integrar-se com
outros aparelhos da casa, como o telefone, o
C AP Í TU LO 3
partir da WebTV”. A divisão de TV não fica na
sede da empresa, em Redmond, Washington,
mas em Mountain View, Califórnia.
Outra fornecedora de IPTV é a UTStarcom.
Seus produtos são usados pela Yahoo
Broadband, maior empresa de banda larga
do Japão, que tem cerca de 40 mil clientes de
IPTV, e pela China Netcom, que iniciou piloto
com 30 mil pessoas na cidade de Harbin,
onde também está a subsidiária chinesa da
Embraer. “Como tudo na China, o projeto-piloto
tem tamanho incomum”, diz Hitoshi Nagano,

computador e o telefone móvel. Será possível, diretor da UTStarcom no Brasil.

por exemplo, programar a gravação de um A IPTV traz novos modelos de negócios.
canal por celular.” O cliente poderá identificar Normalmente, as empresas de TV paga
quem está ligando na tela da TV ou transferir cobram mensalidade e um preço fixo pelo
 Segurança Invisível
Mas Muito Eficiente
“A
cerca elétrica oferece falsa
100 segurança”, assegura Raul
Coutinho Neto, diretor-
presidente da Associação Alphaville
Flamboyant. Localizado em Goiânia, o
condomínio de alto padrão resolveu adotar
um sistema inteligente de segurança, que
combina sensoriamento perimetral ligado
por fibra óptica, cartões com identificação por
radiofreqüência e um software que consegue
identificar a presença de pessoas pelo circuito
fechado de televisão. Sem a necessidade de
muros altos ou cercas elétricas.
O processo de licitação para a compra
do sistema de segurança começou em
novembro de 2004. A NEC foi contratada
que o mercado de segurança corporativa
movimenta cerca de R$ 200 milhões e, em
cinco anos, pode chegar a R$ 500 milhões.
O equipamento de monitoração conta
com sensores que detectam a vibração,
ligados por um anel de 17 quilômetros de
fibras ópticas. A infra-estrutura óptica
também é responsável por conectar o
sistema de circuito fechado de TV e as
quatro portarias do condomínio ao centro
de monitoramento. O software do centro,
chamado NECSIS, roda em Linux e usa
servidores-padrão de mercado.
“Quando um sensor é acionado, o sistema
começa a filmar e manda um alarme para
a central de segurança”, detalha o diretor
consultoria ao projeto. Coutinho Neto, da
Associação Alphaville Flamboyant, é militar,
coronel aposentado: “A segurança tem três
pilares: organização, tecnologia e recursos
humanos”. Ele entende que é uma vantagem
os sistemas inteligentes não serem visíveis. “O
bandido tem medo do desconhecido. Temos o
fator surpresa a nosso favor.”
O sistema custou mais de US$ 1 milhão.
“Mas o gasto com manutenção caiu pela
metade”, garante Coutinho. Com o sistema,
são necessários quatro funcionários para
monitorar o condomínio, que tem 1,1 milhão
de metros quadrados. “Normalmente
101
empregamos ex-militares, com mais de oito
anos de quartel.” O próximo passo, segundo
o diretor-presidente da associação, será
usar a infra-estrutura de fibras ópticas para
comunicação. “Estamos estudando instalar
voz sobre IP e banda larga, usando a rede Quase sem
muros, mas
existente.” O condomínio ganhou, em 2005, o cercado de
prêmio Prix d’Excellence, em Atenas, na Grécia. segurança

no primeiro trimestre de 2005. A empresa
forneceu quatro sistemas: controle de
acesso, circuito fechado de TV, monitoração
de alarmes e centro de monitoramento.
“Nós transportamos tecnologias usadas no
mundo corporativo para um condomínio”,
explica Sílvio Maemura, diretor da NEC
Solutions do Brasil.
“A segurança é algo bastante amplo”,
afirma Maemura. “Monitoramos as
imagens por computador, não só usando
pessoas. Gente é passível de corrupção, o
C AP ÍT U LO 3
A C A S A D I GI TAL E O ED IF ÍC IO I NTELIGENTE
da NEC. “É gerada muita informação, que
não consegue ser tratada por um agente de
segurança numa salinha.” Uma moradora
chegou até a reclamar do que pagava pelo
sistema de segurança, pois ela não via
segurança nenhuma. “Quando a levaram
para o centro de monitoramento, ela se
convenceu e gostou.” Segundo Maemura,
a instalação do sistema de segurança
aumentou o valor de mercado dos lotes no
condomínio de Goiânia.
Inaugurado em março de 2001, o

sistema não. Ele é automático, inteligente e Alphaville Flamboyant reúne cerca de 400
incorruptível.” O software consegue verificar moradores. Sua capacidade total é de 5 mil
se as pessoas deveriam estar em algum pessoas. A Sigma, de Campinas, especializada
lugar em determinado horário. A NEC avalia em segurança empresarial, prestou
 Prédio da Vivo Só Não
Economiza Tecnologia
I
naugurado há três anos, o prédio da
102 Vivo, na Avenida Dr. Chucri Zaidan, em
São Paulo, é um dos melhores exemplos
de edifício inteligente no país. “Temos
informação sobre tudo o que ocorre”, afirma
Silas Barroso Schimith, gerente de projetos
e obras da Vivo. “Podemos analisar a série
Sistemas histórica e agir de maneira muito mais
de controle
funcionam em
rápida. Se não houvesse série histórica, não
tempo real teríamos como saber se estamos reduzindo
o consumo de energia
ou água.”
Os seis elevadores do
prédio têm resolução
antecipada de despacho.
Ou seja, a pessoa aperta o
botão do andar para onde
quer ir antes de entrar
num dos elevadores, e o
sistema indica em qual
deles entrar. “Isso dá mais
tempo para otimização
e controle de viagens”,
explica Schimith. Os
elevadores também
permitem atendimento
vip, em que uma
solicitação por código dá
C AP Í TU LO 3
prioridade de uso a altos
executivos da empresa. “O
controle e a monitoração
são feitos remotamente”,
detalha o gerente da companhia. “Existe um
recurso, ainda não utilizado, que permite
acionar o elevador pelo celular.”
O edifício recebe cerca de 2,5 mil usuários
fixos e mil flutuantes, sem contar a platéia do
Teatro Vivo, que funciona no prédio composto
de dois subsolos, andar térreo e mais seis
pavimentos. No topo, existe um heliponto e
espaço para a área técnica. No total são 42 mil
metros quadrados de construção.
O sistema de controle e monitoração
de energia permite conhecer a demanda
e o consumo em tempo real. Além das
informações do medidor da Eletropaulo,
distribuidora de energia elétrica, a sede
da Vivo dispõe de medição independente.
As luzes podem ser programadas para
acender e apagar em horários definidos e,
nas salas, sensores de presença acionam
as luzes quando há pessoas e as desligam
quando não há. Um conjunto de no-
breaks e geradores a diesel supre toda a
necessidade de energia, em caso de falha no
fornecimento. “Conseguimos trabalhar mais
ou menos 30 horas sem aborrecimento”, diz
Schimith. “As áreas técnicas e críticas, como o
centro de processamento de dados, têm no-
breaks separados.”
A sede da Vivo recebe água da Sabesp, a
concessionária local, e de poço artesiano. Os
espelhos d’água têm controle de perdas por
evaporação, para que a empresa não pague
tarifa de esgoto pela água perdida como
vapor. Há ainda bombas para manejo de
lençóis freáticos e prevenção de inundação
de áreas mais baixas, como os subsolos.
“Com os sistemas inteligentes, a previsão de
redução de gastos era de 15% a 20%”, conta
o gerente da Vivo. “Mas criamos também
programas de racionalização de uso, que
podem reduzir o consumo de energia,
água e telefonia em mais 10% ou 20%.”
As informações geradas pelos sistemas
inteligentes permitem avaliar o sucesso dos
programas de redução de consumo.
Em telefonia, são gerados relatórios
separados de tarifação para cada ramal
fixo ou móvel. A empresa experimenta dois
projetos-piloto de voz sobre protocolo de
internet (VoIP, na sigla em inglês). Existem
cerca de 300 ramais, num total de 3 mil,
que usam VoIP entre os prédios da empresa.
O outro piloto funciona no call center da
operadora, no bairro da Barra Funda, em São
Paulo. Nas lojas, a empresa usa interface
celular para comunicação com a sede.
O prédio conta com uma ampla rede de
cabeamento estruturado. Todos os usuários de
notebooks da empresa estão cobertos por rede
sem fio na tecnologia Wi-Fi. Não existe acesso
sem fio para visitantes. As salas de reunião
são equipadas com sistemas automáticos de
temperatura e de iluminação, e muitas delas
também com videoconferência. As mesas de
compra possuem conexões internacionais
de videoconferência com Espanha e Portugal,
onde se encontram as sedes dos controladores.
Na comunicação entre as regionais no Brasil, a
videoconferência é usada freqüentemente.
Segurança rígida
Para controle de acesso, o prédio
emprega três tecnologias: cartão de
103
proximidade, leitura da íris e da geometria
da mão. Elas são combinadas de acordo
com o nível de segurança necessário para
cada setor. “Há dois focos importantes: a
segurança da corporação e a comodidade
das pessoas, que estão em oposição”,
explica Marcelo Rodrigo Gomes de
Almeida, analista sênior de segurança da
Vivo. “Se aumenta um, diminui o outro.”
Os cartões de proximidade são usados
em todo o prédio. Para as áreas consideradas
semicríticas, a tecnologia combinada é a
de reconhecimento da geometria da mão.
A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE
Nos setores considerados críticos, é usada a
leitura da íris. “O custo é maior e o fluxo mais
complicado”, admite Almeida. “Com o cartão
de proximidade, a entrada é liberada em dois
segundos, enquanto com a leitura da íris o
processo demora 15 segundos.”
Os setores do prédio são 100% mapeados
e classificados. Os crachás dão acesso a áreas
determinadas. “Por exemplo, se um visitante
vem conversar com alguém no quinto
andar, seu cartão dá acesso somente ao
quinto andar”, diz o analista de segurança.
As câmaras externas permitem verificar o
que se passa em todo o perímetro do prédio.
As centrais de segurança e de operações
funcionam separadamente.

Rede Varejista Tem
Tudo Sob Controle
E
m novembro de 2005, as Casas Bahia
104 inauguraram seu centro de tecnologia
em São Caetano do Sul (SP), com
investimento de R$ 20 milhões. Construído
pela Camargo Correa, com consultoria da IBM,
o centro é um exemplo de edifício inteligente.
A tecnologia ocupa um lugar central nas
operações da empresa, que contava, na época
da inauguração do centro, com 477 lojas em
oito estados e no Distrito Federal. A rede
faturou R$ 9 bilhões em 2004 e previa faturar
R$ 12 bilhões em 2005.
“Somos a única rede varejista brasileira
em que as informações são processadas em
tempo real”, revela o diretor de tecnologia
da informação das Casas Bahia, Frederico
Wanderley. Por ano, a empresa destina cerca
de 0,6% de seu faturamento para essa área.
O novo centro de tecnologia, que ocupa
um prédio em frente à matriz da empresa,
recebeu o nome de Leandro Klein, em
homenagem ao filho falecido de Michael
Klein, diretor-presidente da empresa.
O grupo de tecnologia das Casas Bahia
emprega 168 pessoas, num total de 55 mil
funcionários.
Uma sala cofre de 140 metros quadrados
e dois sistemas de ar-condicionado
C AP Í TU LO 3
abriga os servidores e os equipamentos
de armazenamento de dados. O prédio
possui dois geradores a diesel de 440 kVA,
fabricados pela Caterpillar, e dois no-
breaks hospitalares de 150 kVA, fornecidos
pela General Electric, além de sistema de
detecção e combate a incêndios. Com mais
de 8 mil metros quadrados, distribuídos em
cinco andares, o edifício levou um ano para
ser finalizado. O cabeamento estruturado,
fornecido pela Panduit, atende a 1.262 pontos
de dados e voz e permite aplicações como
voz sobre IP.
As instalações físicas do prédio têm
classificação de disponibilidade nível 3, pelo
IBM Real Estate Engineering Group, ou Tier
III, pelo Uptime Institute, o que significa
disponibilidade de 99,99%. Os cinco andares
abrigam, além da sala-cofre, escritórios,
salas de convivência, de treinamen to e de
reuniões, cibercafé e auditório. Os ambientes
são totalmente acessíveis a portadores
de deficiência. Foram transferidos 500
funcionários para o prédio, que comporta
até 750.
Integração desde o projeto
“O edifício inteligente combina
características construtivas combinadas
com sistemas para otimizar os recursos”,
explica Luiz Alberto Athayde, diretor-
superintendente de construções e
edificações da Camargo Correa. “Em
datacenters, são soluções obrigatórias.”
O executivo destaca que a adoção de um
conceito completo de edifício inteligente
ainda não é comum no país: “As pessoas
ainda vêem muito o custo de aquisição,
que é maior, sem levar em conta o custo de
manutenção, que é menor.” Athayde lembra
que, quando os sistemas são comprados
separadamente, dificilmente se obtêm os
mesmos resultados.
“No prédio das Casas Bahia, aproveitamos
a estrutura metálica para o aterramento”,
prossegue Athayde. “Temos aterramento
perfeito até na cozinha e nos banheiros.” O
executivo observa que os materiais devem
ser adequados ao local em que se encontra o
edifício e ao uso planejado para permitir um
desempenho melhor. “Um datacenter, por
exemplo, precisa de piso elevado e um bom
sistema de ar-condicionado.”
Segundo o diretor da Camargo Correa,
um edifício inteligente pode custar, em
média, cerca de 10% mais caro, pois exige
um trabalho maior de engenharia. “Essa
diferença retorna tranqüilamente durante a
vida do prédio”, afirma. “Existe um ganho de
pelo menos 5% a 10% ao ano em redução de
consumo e manutenção.”
Athayde acredita que a tendência é
os prédios inteligentes utilizarem cada
Custo inicial
é facilmente
compensado
vez menos pessoas na sua operação: “Já
há alguns, nos Estados Unidos, em que
a recepção foi automatizada. O visitante
digita num terminal informações sobre seu
destino, e sua entrada é liberada sem ter de
passar por uma recepcionista”. O executivo
105
diz que os prédios mais novos permitem que
uma ou duas pessoas monitorem sozinhas
todos os sistemas.
Além do centro de tecnologia das Casas
Bahia, a Camargo Correa executou outros
projetos de prédio inteligente, como os
da EDS, em São Bernardo do Campo (SP);
da Impsat, em Cotia (SP); do Banco Itaú,
próximo à estação Conceição do Metrô, na
capital de São Paulo; do Panamerican Park,
em Santo Amaro, também em São Paulo; do
teleporto da Comsat, em Hortolândia (SP); e
da Optiglobo, no bairro de Santo Amaro, em
A C A S A D I G ITAL E O ED I FÍCI O I NTELIGENTE
São Paulo.
“O edifício inteligente deve ser
tratado como um ser vivo”, enfatiza Athayde.
“Ou seja, considerado como um todo em
operação no tempo, e não somente como
partes isoladas. Com isso obtemos redução
substancial nos gastos de manutenção,
aumento na confiabilidade da operação,
economia de energia térmica e elétrica,
melhora da condição termoacústica de uso,
otimização do fluxo de pessoas e maior
segurança.” Ele lembra ainda a necessidade
de redundância da rede elétrica e geradores,
dos sistemas de ar-condicionado, de
prevenção de incêndio e de comunicação
para garantir a continuidade das operações.