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Revista Brasileira de Geriatria e

Gerontologia
ISSN: 1809-9823
revistabgg@gmail.com
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro
Brasil

Rocha S. Montenegro, Silvana Mara; da Silva, Carlos Antonio Bruno


Os efeitos de um programa de fisioterapia como promotor de saúde na capacidade
funcional de mulheres idosas institucionalizadas
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, vol. 10, núm. 2, 2007, pp. 161-178
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=403838773003

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Fisioterapia na capacidade funcional de idosas institucionalizadas 161

Os efeitos de um programa de fisioterapia como promotor de saúde na

ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES


capacidade funcional de mulheres idosas institucionalizadas
The functional impact of a program of health promotion in physical therapy on the
functional capacity of elderly women in institutions

Silvana Mara Rocha S. Montenegroa


Carlos Antonio Bruno da Silvab

Resumo
Com o aumento da população idosa mundial, tornou-se preocupação de vári-
as áreas do conhecimento identificar as condições que permitem envelhecer
com qualidade. A instituição asilar se torna um tema relevante, pois se observa
uma demanda aumentada por instituições de longa permanência. A preserva-
ção e a manutenção da capacidade funcional são objetivos prioritários na saúde
do idoso. Objetivo: analisar os efeitos de um Programa de Fisioterapia como
promotor de saúde na capacidade funcional e identificar as variáveis
sociodemográficas e clínicas em relação ao desempenho das atividades funcio-
nais em mulheres idosas institucionalizadas. Métodos: realizou-se estudo des-
critivo, intervencionista e quantitativo, utilizando questionário de capacidade
funcional (HAQ) e estudo qualitativo por meio de entrevista grupal (grupo
focal). A amostra foi constituída de 42 idosas divididas em 2 grupos: experi-
mental (n=22) e grupo controle (n=20). Os dados foram analisados por meio
dos testes de correlação de Pearson e t de student e adotou-se nível de significância
de (p<0,05). Resultados: No grupo experimental, 60% das idosas obtiveram
melhora significativa no desempenho das atividades funcionais após a inter-
venção, enquanto que, no grupo controle, apenas 35% apresentaram desempe-
nho satisfatório nas atividades funcionais avaliadas. Houve correlação positiva
(r=0,622) entre as variáveis: idade, patologias associadas e maior comprometi-
mento nas atividades funcionais cotidianas. Entre as influências qualitativas,
relacionamos: melhora do sono, velocidade do andar, adoção de medida de

Correspondência/Correspondence
Silvana Mara Rocha S. Montenegro
R. Marcondes Pereira, 1151, Bairro Dionísio Tôrres
60130-061 Fortaleza, CE, Brasil
E-mail: silvanamontenegro@uol.com.br

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segurança para executar as atividades. Conclusão: o Programa de Fisioterapia foi Palavras-chave:


eficaz e propiciou melhora significativa no desempenho das atividades funci- instituição de longa
onais, contribuindo para redução das incapacidades e limitações funcionais em permanência para
mulheres idosas institucionalizadas. idosos; saúde do
idoso instituciona-

Abstract lizado; serviços de


saúde para
As the world elderly population increases, several areas of knowledge are idosos; mulheres;
concerned with the identification of conditions that allow aging with more
quality. The elderly institution becomes a relevant topic as, when relating aging
to health care, one can observe an increased demand for those long-term stay
institutions. The preservation and maintenance of the functional capacity are
priorities in the health of the aged. Objectives: this study analyzes the effects of
a health promotion Physiotherapy Program on the functional capacity, and
identifies socio-demographic and clinical variables concerning functional
performance of elderly institutionalized women. Methods: it is a descriptive,
interventionist and comparative study employing quantitative and qualitative
approaches. Research was carried out using the Health Assessment
Questionnaire (HAQ) and interviews were applied to a focus group. Forty-
two elderly women participated,. Results: the experimental group presented
significant improvement (60%), in the performance of main everyday activities Key words: homes for
with a positive and meaningful correlation (r=0.6222), in the following variables: the aged; health of
age, associated pathologies, and impairment in functional activities. Conclusion: institutionalized
the Physiotherapy Program was effective and provided significant improvement elderly; health services
on the performance of the everyday activities of elderly instutionalized women. for the aged; women

INTRODUÇÃO proporcionem a esse segmento espaço e re-


conhecimento das características próprias
O aumento do envelhecimento desse ciclo da vida.29
populacional vem-se mostrando como fe-
nômeno mundial. De acordo com previsão Considerando essa problemática, a insti-
da Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuição asilar se torna um tema relevante, uma
população com mais de 60 anos crescerá de vez que, ao se relacionar o envelhecimento aos
tal modo que, em 2025, o Brasil será o sexto cuidados com a saúde, observa-se uma de-
país do mundo em números de idosos. O manda aumentada por instituições de longa
Brasil não está preparado, em recursos no permanência (ILP) no Brasil. Segundo a Por-
setor de saúde, para absorver esse contin- taria nº. 2.528, de 19/10/2006, a modalidade
gente populacional, o que revela a necessida- asilar de assistência social ao idoso é entendi-
de de se implantar políticas públicas que da como sendo o atendimento em regime de

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internato, ao idoso sem vínculo familiar ou Dessa forma, o idoso institucionalizado


sem condições de prover sua própria subsis- apresenta diversas necessidades sociais, de saú-
tência, de modo a satisfazer a suas necessida- de e autonomia nas atividades diárias, daí a
des de moradia, alimentação, saúde e convi- importância da abrangência dos métodos de
vência social.25 avaliação funcional, especialmente no trata-
mento de idosos frágeis, que apresentam vá-
Chaimowicz e Greco10 explicam o aumento rios problemas de saúde.16
das taxas de institucionalização como conse-
qüência de uma transição social, na qual se pode Portanto, a preservação ou a recuperação
destacar a presença da mulher no mercado de da capacidade funcional consiste num objetivo
trabalho, antes considerada personagem princi- prioritário na atenção à saúde do idoso. A ca-
pal no cuidado dos pais ou sogros. Segundo os pacidade funcional do idoso, no seu significa-
autores, existe alta prevalência de fatores de ris- do mais amplo, inclui sua habilidade em exe-
co para a institucionalização de idosos que vi- cutar tarefas físicas, a preservação das ativida-
vem nas principais capitais brasileiras. A presen- des mentais, e uma situação adequada de
ça de mulheres nas instituições asilares é signifi- integração social. Por meio da avaliação da ca-
cativamente maior que a de homens, alcançan- pacidade funcional, podem ser definidas estra-
do o dobro entre a faixa de 65 e 69 anos, e mais tégias de promoção de saúde dos idosos visan-
que o triplo na faixa etária dos 70 anos ou mais.10 do a retardar ou prevenir as incapacidades. 20

A OMS prevê que os idosos (com 80 anos A consciência dos efeitos que a idade exer-
ou mais) constituem o grupo etário de maior ce sobre a capacidade de aprender e executar
crescimento no mundo.1 Para o grupo de ido- as habilidades motoras coloca o fisioterapeu-
sos com 80 anos ou mais, o percentual de ta em condições de ajudar o adulto idoso, no
mulheres eleva-se para 60%, pois quanto mais sentido de aumentar sua participação numa
velho o contingente de idoso, mais elevada é série de atividades de lazer ou profissionais,
a proporção de mulheres.14 além de orientá-lo a desenvolver sua capaci-
dade de adaptação, em resposta às limitações
Segundo pesquisa desenvolvida pela Or- físicas. 30
ganização Panamericana da Saúde (OPAS) no
município de São Paulo, na qual se investigou Ao articular esses temas, este artigo teve
a presença de incapacidades funcionais em como objetivo avaliar os efeitos de um Pro-
idosos não-institucionalizados, foi detectada grama de Fisioterapia como promotor de
uma prevalência de incapacidades em 30% dos saúde na capacidade funcional de idosas
idosos, considerando a população geral. Nos institucionalizadas, bem como identificar o
subgrupos, constituídos por idosos com ida- grau de associação de variáveis socio-
de avançada ou institucionalizados, foram demográficas e clínicas em relação ao desem-
encontrados percentuais de incapacidade su- penho das habilidades funcionais em idosas
periores a 50%.28 institucionalizadas.

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Trata-se de estudo descritivo, interven- REFERENCIAL TEÓRICO DE SUPORTE A


cionista e comparativo, com abordagem INVESTIGAÇÃO
quantitativa e qualitativa. A pesquisa foi re-
alizada em duas instituições de longa per-
manência para idosas, na cidade de Fortale- O processo de envelhecimento e seus
za. A amostra foi homogênea, composta de efeitos
42 idosas na faixa etária de 64 a 91 anos,
divididas em dois grupos experimental e O envelhecimento populacional é uma re-
controle. Como instrumento, utilizou-se um alidade no nosso país, assim como em todo
questionário de capacidade funcional, apli- o mundo. Com o aumento do número de
cado antes do programa e após a interven- idosos, ocorre aumento das doenças associa-
ção. A análise estatística baseou-se nos tes- das ao envelhecimento, destacando-se as crô-
tes de correlação de Pearson e t de Student nico-degenerativas. Contudo, mais maléfico
que a doença crônica é o desuso das funções
pareado com o auxílio do programa esta-
fisiológicas, que ocorre por imobilidade e má
tístico Statistical Package for Social Sciences
adaptação. 17
SPSS versão 10.0 for Windows, através do
cruzamento de todas as variáveis. Durante Segundo Shephard 36, Pollock 31 e Matsu-
a aplicação do Programa de Fisioterapia, fo- do, 23 a dependência neuromotora seria o pro-
ram identificadas as percepções das idosas, blema que mais afeta a qualidade de vida dos
através de duas técnicas a entrevista indi- idosos, tanto para realizar as atividades bási-
vidual e o grupo focal , tendo como base cas de vida diária (AVD), quanto as atividades
a pergunta norteadora: qual a sua percep- instrumentais exigidas por ela (AIVD). Os
ção sobre os efeitos do Programa de Fisio- declínios funcionais motores que se acentuam
terapia sobre a melhora ou não das suas com a idade são: a redução da agilidade, da
atividades cotidianas? Durante as sessões, al- coordenação, diminuição do equilíbrio, redu-
guns depoimentos foram filmados. Os da- ção da flexibilidade, redução da mobilidade
dos coletados foram registrados no mo- articular e o aumento da rigidez da cartila-
mento da entrevista, tabulados em catego- gem, dos tendões e dos ligamentos.
rias, e as falas foram avaliadas qualitati-
vamente, tendo como base a análise de con- Dados apresentados por Andrade et al, 2
teúdo de Bardin. 4 em mulheres praticantes de atividade física de
30 a 73 anos de idade, evidenciaram que exis-
Além desta introdução, o artigo se es- te um declínio da performance neuromotora
trutura em quatro sessões, subdivididas en- com o decorrer dos anos. Considerando os
tre a discussão do referencial teórico de dados citados pelos autores, a perda dos 30
suporte à investigação, os procedimentos aos 73 anos é de: 67% para agilidade, 58%
metodológicos, os resultados e a conclu- para força dos membros inferiores, 28% para
são do estudo. força dos membros superiores. Quanto à re-

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dução da massa muscular é mais lenta que a A prática de exercícios orientados por um
perda de força e tem estreita relação com a fisioterapeuta pode ser eficaz para controlar
diminuição dos hormônios sexuais. 42 as doenças degenerativas, bem como evitar
sua progressão e reabilitar a pessoa idosa.26
A perda de massa óssea é outro fator
que também pode ser considerado conse-
qüência da diminuição de massa muscular e A capacidade funcional versus
de força. A massa óssea termina seu pro- incapacidade funcional
cesso de consolidação por volta dos 30 anos.
Capacidade funcional pode ser definida
Em ambos os sexos, o declínio gradual
como a condição que o idoso tem de se
começa a partir dos 30 a 40 anos de idade,
manter independente, conduzindo sua pró-
com aproximadamente 0,5% por ano, sen-
pria vida, decidindo e atuando, ou seja, uti-
do que esta perda é muito mais acentuada
lizando as habilidades que o indivíduo tem
(3% ao ano) na mulher após a menopausa,
para desempenhar suas atividades do dia-
pela redução no nível de estrógeno, princi-
a-dia 21. As atividades normalmente são se-
pal hormônio regulador do metabolismo
paradas em atividades básicas da vida diá-
ósseo e especialmente do osso trabecular.22,30 ria: comer, vestir-se, banhar-se, alimentar-
Para o autor, a diminuição na densidade dos se e atividades instrumentais da vida diária,
ossos faz com que eles sejam facilmente fra- como trabalhos domésticos, compras e
turáveis, com o mínimo de trauma ou sim- transportes. 36
plesmente nas atividades diárias. 22
O Ministério da Saúde do Brasil, em rela-
Laurenti e Lebrão 18 investigaram as do- ção à Política Nacional de Saúde da Pessoa
enças mais acometidas em idosos na cidade Idosa, explicita o conceito da capacidade fun-
de São Paulo. Encontraram que 53,3% dessas cional (CF) como a capacidade de manter
pessoas eram portadoras de hipertensão; habilidades físicas e mentais necessárias para
31,7% de artrite, artrose e reumatismos; 19,5% uma vida independente e autônoma. 25
de cardiopatias; 18% de diabetes; 14,2% de
osteoporose; 12,2% de pneumopatia; 11% de Segundo a nova Classificação Internacio-
problemas cognitivos; 7,2% de derrame; e nal de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
3,3% de câncer. Os autores estudaram fato- (CIF)43, desenvolvida pela Organização Mun-
res causais para essas doenças, tanto no ambi- dial da Saúde (WHO)43, em 2001 em Gene-
ente quanto nos comportamentos sociais (há- bra, a funcionalidade são as funções e estrutu-
bito de fumar, dietas ricas em gordura, con- ras do corpo, atividade e participação social. A
sumo de álcool e falta de exercício físico), incapacidade é resultante da interação entre a
pressupondo que as pessoas podem tomar disfunção apresentada pelo individuo, a limi-
decisões que afetam sua exposição aos fato- tação de suas atividades e a restrição na parti-
res comportamentais citados. 18 cipação social. 43

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Diante deste quadro, as ações de preven- Os impactos sociais refletem na vida e na


ção e promoção da saúde, que incluem me- saúde dos idosos, principalmente daqueles que
didas referentes às doenças crônicas e aos as- apresentam alguma dependência física. 7
pectos do bem-estar social e cultural, são fun-
damentais tanto para os idosos com CF pre- A manutenção da capacidade funcional é,
servada, como para aqueles que já apresen- em essência, uma atividade interprofissional
tam incapacidade. 20 para a qual concorrem médicos, enfermeiras,
fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psi-
Estudo realizado na cidade de Fortaleza, cólogos e assistentes sociais. A presença des-
Ceará, envolveu 667 idosos e, teve como ses profissionais na rede de saúde deve ser
objetivo verificar o perfil multidimensional do vista como uma prioridade, como também a
idoso residente nessa comunidade do Nor- formação de profissionais na área de Geria-
deste do Brasil. Para medir a capacidade fun- tria e Gerontologia. 41
cional, foi utilizado o questionário (OARS),
versão brasileira Brazilian Multidimensional
Declínio funcional e alterações
Functional Assesment Questionnaire (BONFAQ).
musculoesqueléticas no idoso
Os resultados obtidos foram que 52,3% dos
idosos relataram autonomia total para reali- Dentre as doenças osteoarticulares, as mais
zar atividades básicas de vida diária, 35% ex- prevalentes no idoso, as quais são causas fre-
pressaram a necessidade de ajuda para reali-
qüentes de falta de equilíbrio e incapacidades,
zar até três atividades, 9,9% afirmaram bus-
são: osteoporose, osteoartrite e artrite reuma-
car ajuda em quatro a seis atividades e 2,8%,
tóide. A osteoporose é uma doença esquelé-
em sete ou mais atividades. 11
tica sistêmica, caracterizada por uma diminui-
Considerando essas discussões, ressalta-se ção da massa óssea e deterioração da micro-
que na velhice a autonomia é a capacidade de arquitetura do tecido ósseo, com conseqüen-
a pessoa determinar e executar seus próprios te aumento da fragilidade esquelética e sus-
desígnios. Qualquer pessoa que chegue aos 80 ceptibilidade a fraturas. Assim, a prevenção
anos capaz de gerir sua própria vida e deter- da fratura é a meta fundamental na aborda-
minar quando, onde e como se darão suas gem de mulheres após a menopausa e em in-
atividades de lazer, convívio social e trabalho divíduos idosos. 30
(produção em algum nível), será considerada
uma pessoa saudável, porém frágil. Isso reve- Segundo Basires 5, as mulheres têm mais
la a importância de se avaliar a saúde do idoso alto risco de quedas a partir dos 80 anos, de-
a partir da autonomia e da convivência social vido a redução do equilíbrio, diminuição na
integrada. Outra pessoa com a mesma idade e velocidade do andar, fraqueza da musculatu-
as mesmas doenças, mas sem controle da au- ra dos membros inferiores, deficiência na cog-
tonomia física e social, poderá apresentar um nição e efeitos de medicamentos. Algumas
quadro completamente diferente. 20 quedas resultam de atividades como subir es-

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cadas e atividades diárias que exijam mais aten- mediar as limitações funcionais causadas por
ção. Pesquisa realizada com indivíduos ido- elas. A reabilitação do individuo com artrite é
sos em boa forma física e que residiam den- geralmente direcionada para a restauração ou
tro da comunidade mostrou que 40% das manutenção da mobilidade articular e a força
quedas ocorreram na própria residência; 30% muscular, enfatizando o re-treinamento fun-
eram atribuídas à falta de atenção, enquanto cional, como também a educação do pacien-
pouco mais de 30% resultaram de atividades te para promover o nível mais alto possível
consideradas perigosas ou imprudentes. 30 de independência funcional. 27

Conforme Tinetti,40 as principais causas de


quedas nos idosos são as alterações da mar- Promoção da saúde no idoso
cha, a diminuição da força muscular, a perda
A Conferência Internacional de Promo-
de agilidade, o deficiente controle postural, o
ção da Saúde propôs um documento destaca
déficit de visão e de audição, a confusão men-
o estilo de vida, valorizando comportamen-
tal, os acidentes vasculares cerebrais, as arrit-
tos de autocuidado e focalizando a capacida-
mias cardíacas, as doenças reumáticas crôni-
de funcional como um novo conceito de saú-
cas e alguns medicamentos.
de do idoso.9 O enfoque da Promoção da
A prescrição de exercícios físicos para pre- Saúde possibilita identificar princípios relati-
venção de quedas, manutenção ou ganho do vos à saúde do idoso, entre os quais: a velhice
equilíbrio no idoso é importante para melho- não é doença, mas sim uma etapa evolutiva
rar o equilíbrio e fortalecer a musculatura que da vida; a maioria das pessoas de 60 anos ou
protege a coluna, principalmente a abdomi- mais está em boas condições físicas e sua saú-
nal e a lombar, como também os músculos de é boa, mas ao envelhecer perde a capaci-
dos membros inferiores, onde fica a base de dade de se recuperar das doenças rapidamente
suporte. 38 e de forma completa. 33

A sobrecarga ou o desgaste articular po- As novas diretrizes da Política Nacional de


dem requerer acessórios para deambulação, Saúde da Pessoa Idosa25, aprovadas na Porta-
como muletas, bengalas ou andadores com ria no. 2.528, enfocam os seguintes postula-
rodas. A marcha do individuo com AR (artri- dos: a promoção do envelhecimento ativo e
te reumatóide) ou OA (osteoartrite) deve ser saudável; atenção integral, integrada à saúde
segura, funcional e esteticamente aceitável para da pessoa idosa; estímulo às ações intersetori-
o paciente, e não uma versão idealizada, ina- ais, visando à integralidade da atenção; provi-
tingível da marcha normal. 27 mento de recursos capazes de assegurar qua-
lidade da atenção à saúde da pessoa idosa;
O fisioterapeuta é indicado para avaliar e estímulo à participação e fortalecimento do
tratar os comprometimentos músculo-esque- controle social; formação e educação perma-
léticos relacionados com as artrites, para re- nente dos profissionais de saúde do SUS, na

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área de saúde da pessoa idosa; divulgação e autocuidado, programas de workshops ou pa-


informação sobre a Política Nacional de Saú- lestras e grupo de caminhada. Contudo, os
de da Pessoa Idosa para profissionais de saú- subgrupos como idosos asilados, área rural e
de, promoção de cooperação nacional e in- grupos étnicos foram excluídos da avaliação
ternacional das experiências na atenção à saú- dos programas de promoção da saúde. 3
de da pessoa idosa; e apoio ao desenvolvi-
mento de estudos e pesquisas. 25 O novo conceito de atividade física, de
acordo com propostas internacionais, ressal-
A Promoção da Saúde é realizada através ta que qualquer atividade da vida cotidiana é
de medidas preventivas que apresentam três válida, e enfatiza as atividades moderadas que
estágios: 1 - impedir o aparecimento das do- podem ser realizadas em três sessões de 10
enças - prevenção primária, que engloba: pro- minutos ou duas sessões de 15 minutos por
moção da saúde e promoção específica; 2 - dia. As atividades físicas realizadas no lar (var-
detecções precoces e prevenção das compli- rer, limpar vidros, lavar o carro); no trabalho
cações - prevenção secundária; 3 - reabilita- (a caminhada como meio de transporte para
ção de uma doença - prevenção terciária. 34 ir ou voltar do trabalho, estacionar o carro
mais longe, subir escadas) e no tempo livre
Estudo realizado pela Fundação Oswal- (caminhar, nadar, jogar bola, praticar espor-
do Cruz (Fiocruz)3, no período 1990 a 2002, tes ou simplesmente dançar) são as que ga-
em que foram identificados 35 programas de rantem uma vida ativa e saudável, quando o
promoção da saúde do idoso, foram acessa- objetivo é a promoção de saúde com a práti-
dos efetivamente 20 estudos (11 internacio- ca regular da atividade física. 23
nais e 9 brasileiros). Um estudo quase experi-
mental predomina na experiência internacio- Instituições de longa permanência
nal, enquanto no Brasil são comuns os relatos
para idosos
de experiências. Nos programas internacio-
nais, a maioria da população idosa envolvida As instituições de idosos são de caráter fi-
encontra-se relativamente bem, no sentido de lantrópico, público ou privado, e têm o obje-
dispor de seguro-saúde, possuir nível educa- tivo de oferecer abrigo, alimentação e cuida-
cional alto e status de saúde e renda acima da dos básicos a idosos carentes e abandonados
média. 3 A maioria das experiências no Brasil pela família. Esses estabelecimentos, em gran-
é desenvolvida em serviços públicos de saú- de parte, foram fundados por ordens religio-
de, vinculada à assistência regular, e os idosos sas e constituem a modalidade mais antiga e
possuem baixa escolaridade com grande ín- universal de atenção ao idoso fora de sua fa-
dice de analfabetismo. De modo geral, os mília. 29 Segundo o Instituto Brasileiro de Ge-
objetivos dos programas convergem no ho- ografia e Estatística (IBGE), no Brasil exis-
rizonte de melhoria da saúde e qualidade de tem 200 mil abrigos para idosos, que necessi-
vida do idoso, com ênfase em dimensões do tam de recursos materiais e de profissionais

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de saúde especializados na área de Geriatria e cional com 20 questões sobre (AVDs) ativi-
Gerontologia para suprir suas carências. 15 dades básicas da vida diária e (AIVDs) e ati-
Embora prevaleça entre os estudiosos do vidades instrumentais da vida diária. Foram
envelhecimento a idéia de que o asilamento selecionadas todas as idosas voluntárias em
provoca o isolamento e a baixa auto-estima, cada instituição, mas que estivessem dentro dos
entre outros efeitos, há uma corrente que re- critérios de inclusão, ou seja, com capacidade
comenda essas instituições para os idosos que de locomoção e que aceitassem participar da
possuem dependência total e impossibilidade pesquisa.
de recuperação, levando-se em consideração
o valor social dessas instituições. 39 No primeiro momento foi realizada uma
anamnese com os elementos de identificação
pessoal, dados confirmados nos prontuários
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS de registro das idosas residentes na institui-
ção. Esse instrumento permitiu obter dados
A pesquisa foi realizada em duas institui- de um total de sete variáveis, subdivididas em
ções de longa permanência para mulheres ido- dois grupos: sociodemográficas e clínicas.
sas: Casa de Nazaré e Casa São Vicente de Compuseram as variáveis sociodemográficas:
Paulo, localizadas no município de Fortaleza. idade, renda, escolaridade, estado civil, núme-
As duas instituições são filantrópicas; uma é ro de filhos e tempo de permanência na insti-
administrada pelas Irmãs de Caridade da Pa- tuição. As variáveis clínicas foram obtidas por
róquia de Nazaré, e a segunda, pela Associa- meio do prontuário de registro de cada paci-
ção das Senhoras de Caridade do Estado do ente, com anamnese clínica, diagnóstico prin-
Ceará. A pesquisa realizou-se no período de cipal e co-morbidades. No segundo momen-
janeiro a novembro de 2006. to, utilizamos avaliações da capacidade funcio-
nal, baseadas no desempenho de várias ativi-
Trata-se de estudo descritivo, intervencio- dades funcionais e em avaliação baseada em
nista e comparativo, com abordagens quanti- entrevista individual com o paciente, realiza-
tativa e qualitativa. A amostra foi homogê- das por observação direta do terapeuta e por
nea, constituída de 42 idosas com idades com- relato do próprio paciente.
preendidas entre 64 a 91 anos, residentes em
instituições asilares, divididas em dois grupos: Todas as pacientes participantes do estu-
um grupo experimental (GE), composto por do foram submetidas às avaliações, através
22 idosas que participaram do programa de de instrumentos já citados anteriormente. No
Fisioterapia preventiva, e um grupo controle grupo experimental, foi aplicado um Progra-
(GC), com 20 idosas que não participaram ma de Fisioterapia preventiva, desenvolvido
do Programa de Fisioterapia. pela pesquisadora a partir da avaliação inicial
e da determinação das principais incapacida-
Os instrumentos utilizados foram o ques- des, de acordo com os dados do questioná-
tionário (HAQ),12 que avalia a capacidade fun- rio de capacidade funcional (HAQ).

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Utilizou-se a cinesioterapia global como das idosas, através de duas técnicas: a entre-
base na elaboração do programa de tratamen- vista individual e o grupo focal, cuja pergunta
to, com três sessões semanais de 60 minutos, norteadora foi: qual a sua percepção sobre os
durante cinco meses. Uma vez por semana, efeitos do Programa de Fisioterapia sobre a
foram realizados encontros com orientações melhora ou não das suas atividades cotidia-
educativas em saúde sobre fatores externos nas? Durante as sessões, alguns depoimentos
ou ambientais desencadeantes de perda de foram filmados. O conjunto dos dados cole-
equilíbrio, através de normas de condutas tados foi anotado no momento da entrevista
posturais, como: posturas adequadas de le- e tabulado em categorias; as falas foram ava-
vantar-se do leito e da cadeira, transferências liadas qualitativamente, tendo como base a
e locomoção com uso de órteses, higiene pes- análise de conteúdo de Bardin. 4
soal, vestimentas e calçados adequados, e tam-
bém recomendações de normas de seguran- Aos participantes do estudo foi garantido
ça no ambiente da instituição. Essas condutas o sigilo, de acordo com a Resolução nº 196/
posturais e educativas foram impressas em 96 do CNS/MS, a partir da assinatura de um
folhetos explicativos e entregues às idosas. termo de consentimento livre e esclarecido e
de um termo de autorização do fiel deposi-
Para a análise dos resultados utilizou-se, tário da instituição de longa permanência.
inicialmente, a estatística descritiva para apre-
sentar os dados em tabelas de distribuição de O projeto foi aprovado pelo Comitê de
freqüências e percentuais. Aprofundando, apli- Ética em Pesquisa da Universidade de Forta-
cou-se o teste t de Student para amostras leza (parecer n. 065/2006, aprovado em 29/
emparelhadas para comparar os dois grupos: 03/2006). Não houve custos para os partici-
grupo experimental (GE) após a intervenção pantes da pesquisa.
e o grupo controle (GC).

Procurou-se identificar também as associa- RESULTADOS


ções entre as atividades funcionais e as variáveis
sociodemográficas e clínicas. Para isto utilizou- O grupo efetivamente estudado foi com-
se o teste de correlação de Pearson, com o auxí- posto de 42 idosas, das quais 22 compuse-
lio do programa estatísticoStatistical Package for ram o grupo experimental (GE), e 20, o gru-
Social Sciences SPSS versão 10.0 for Windows, atra- po controle (GC).
vés do cruzamento de todas as variáveis. Deste
cruzamento de variáveis, selecionaram-se ape- Em relação à faixa etária, a média de ida-
nas as que possuíam correlação forte e significa- de das idosas estudadas foi de 79,41, com
tiva; as demais foram desconsideradas. desvio padrão de mais ou menos 7,70. Hou-
ve predominância de idosas com faixa etária
Durante a aplicação do Programa de entre 71 a 80 anos, denotando que (50%) das
Fisioterapia foram identificadas as percepções idosas dos dois grupos estavam na mesma

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Fisioterapia na capacidade funcional de idosas institucionalizadas 171

faixa de idade. Em relação à escolaridade, as correlação negativa (r= -0,44) em relação a


idosas do grupo experimental apresentam maior idade e menor escolaridade.
maior tempo de estudo (36,4% oito idosas
com oito anos de estudo), enquanto que no Com relação à variável clínica doença e
grupo controle verificamos que 25% (ou seja, maior comprometimento da capacidade fun-
cinco idosas) têm oito anos de estudo. cional, foi encontrada associação significante
de p<0,05 quanto mais doenças associadas,
Sete idosas (31,8%) do grupo experimen- maior a piora no desempenho funcional.
tal relataram não saber ler nem escrever, en-
quanto que no grupo controle foram nove Entre as doenças encontradas nos dois
idosas analfabetas(45%). Destacamos que a grupos, as osteoarticulares foram as mais fre-
única variável que revelou associação (p=0,04) qüentes, sendo que a maioria das idosas (59%)
com capacidade funcional foi o tempo de do grupo experimental possui diagnóstico de
estudo; as idosas do grupo experimental apre- osteoporose, referindo tomar medicamentos
sentaram maior tempo de estudo que as ido- à base de cálcio para controlar a doença; 22,7%
sas do grupo controle. Foram predominantes não possuem doenças osteoarticulares, mas
nos dois grupos as condições de pouco tem- possuem co-morbidades, como hipertensão,
po de escolarização. diabetes e arritmia cardíaca leve.

Houve correlação positiva entre as variá- Na tabela 1 a seguir, foram demonstra-


veis: idade e tempo de permanência com (r= das a distribuição e comparação do desem-
0,50), significando que, quanto maior a idade, penho das atividades funcionais diárias dos
maior o tempo de permanência, o que já era dois grupos: o grupo experimental após a
esperado. Entre idade e patologias associadas intervenção em relação ao grupo controle,
(r= 0,62), quanto maior a idade, o idoso apre- que não sofreu intervenção do Programa de
senta mais doenças crônicas. Observou-se Fisioterapia.

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Tabela 1 - Distribuição e comparação dos grupos (GE), após a intervenção e o (GC), sem a intervenção,
segundo as AVDS. Fortaleza, 2006

É capaz de realizar as AVDS sem qualquer Grupo Experimental Grupo controle


dificuldade? N= 20 N=20
Escores de (0 a 8): N % N %

Amarrar os sapatos e abotoar roupas? 12 60 7 35


Levantar-se ereta e sem os braços de uma cadeira? 12 60 7 35
Cortar carne? 16 80 7 35
Deitar e levantar da cama? 9 45 6 30
Caminhar em lugares planos? 12 60 7 35
Subir 5 degraus? 9 45 7 35
Levantar os braços e pegar um objeto de 2,5kg? 7 35 1 2,5
Curvar-se para pegar roupa no chão? 12 60 4 20
Segurar-se em pé no ônibus? 4 20 0 0
Fazer compras nas redondezas? 11 55 5 25
Usar a vassoura e rodo? 13 65 3 15

Observou-se que a maioria (60%) das ido- atividades funcionais; no grupo experimental,
sas que realizaram o Programa de Fisiotera- doze idosas (60%) com soma de (0 a 8 esco-
pia (GE) revelou melhor desempenho em res) no HAQ apresentaram melhor desem-
todas as atividades funcionais avaliadas pelo penho nas atividades funcionais após a inter-
questionário de capacidade funcional (HAQ), venção. As idosas do grupo controle que apre-
em relação ao grupo controle, que apresen- sentaram a soma do HAQ de 9 a 16 escores
tou uma média de 35% das idosas como ca- somam 30%; ou seja, seis idosas apresenta-
pazes de realizar as atividades sem qualquer ram desempenho moderado, enquanto que
dificuldade. no grupo experimental apenas 40% (ou qua-
tro idosas) mostraram desempenho modera-
Na figura 1 a seguir, está representado o do. Para a soma de 17 a 24 escores, 50% das
HAQ total do grupo controle (GC=20) e do idosas do grupo controle apresentaram pior
grupo experimental (GE=20). Em relação ao desempenho, enquanto que no grupo experi-
grupo controle, apenas três idosas (15%) ob- mental apenas cinco idosas (25%) apresenta-
tiveram a soma total do HAQ de (0 a 8 esco- ram pior desempenho na soma total dos es-
res), apresentando melhor desempenho nas cores das 20 atividades funcionais avaliadas.

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Fisioterapia na capacidade funcional de idosas institucionalizadas 173

Figura 1 - Distribuição dos grupos controle e experimental segundo os escores obtidos relacionados à
execução das atividades funcionais. Fortaleza, 2006

70
Grupo Controle
60 Grupo Experimental
50

% 40

30

20

10

0
0 à 8 escores 9 à 16 escores 17 à 24 escores
Atividades funcionais

Nos dados do teste t de Student para DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


amostras emparelhadas, observaram-se cor-
relações significativas (p<0,05) e (p=0,01), As instituições selecionadas foram com-
confirmando a melhora do desempenho nas postas por mulheres idosas, pois observa-se
principais atividades funcionais nas idosas do nas pesquisas que mais mulheres residem em
grupo experimental, que foram submetidas instituições de longa permanência, o que com-
ao programa, em relação ao grupo controle. prova o fenômeno de feminização do pro-
cesso do envelhecimento, conforme aponta
Em relação aos resultados qualitativos, a Berquó. 6 A feminização vem ocorrendo des-
maioria relatou a necessidade de exercício fí- de o final da década de 80, mas há muito
sico como forma de melhorar sua saúde e tempo tem sido superior, no país, o número
bem-estar geral, o que denota a consciência absoluto de mulheres idosas, quando com-
com o autocuidado. Em relação às percep- parado ao de homens idosos. Segundo da-
ções de melhora, referiram no sono e na dis- dos da última Pesquisa Nacional de Amostra
posição para tarefas de casa, maior confiança por Domicílios, entre os idosos o percentual
e segurança nas atividades instrumentais. feminino vem aumentando lentamente: em

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1981, com 52,6%; em 1999, com 55,3%; e Quanto à participação no Programa de


em 2004, com 56,1% de mulheres idosas. 14 Fisioterapia, foram avaliadas algumas ativida-
des relacionadas à mobilidade funcional das
Em relação à faixa etária das mulheres ido- idosas participantes da pesquisa, como trans-
sas do estudo, foram predominantes as com ferências, locomoção e caminhar em lugares
idade acima de 70 anos. Segundo Freire e planos. Além disso, essas avaliações da capa-
Tavares,13 em idades mais avançadas acentu- cidade funcional forneceram, segundo Lee,19
am-se as limitações, levando a uma maior informações sobre o perfil do idoso, apre-
dependência nas atividades cotidianas. Esses sentando-se como uma ferramenta útil na
autores detectaram que a presença de idosas identificação das limitações e perda da auto-
nessas instituições era significativamente mai- nomia. A avaliação também contribuiu na
or que a de idosos, alcançando o dobro entre definição de estratégias de promoção de saú-
a faixa etária de 65 e 69 anos, e mais que o de para as idosas, visando a retardar ou pre-
triplo na faixa etária dos 70 anos ou mais. 13 A venir suas incapacidades. Neste âmbito, cons-
OMS prevê que os muito idosos (com 80 anos tatou-se que estas obtiveram melhora nas ati-
ou mais) constituem o grupo etário de maior vidades avaliadas, de acordo com a coleta de
crescimento no mundo.1 dados da segunda avaliação após cinco me-
ses do programa de fisioterapia preventiva.
Quanto à escolaridade, verificamos que a
maioria das idosas pesquisadas não teve con- Segundo Litvoc,20 durante a intervenção
dições de aprender a ler e escrever, pois 16 foram enfatizadas as situações polares e inter-
delas são analfabetas e 20 possuem até cinco mediárias consideradas associadas às capacida-
anos de estudo. Tais fatos já são esperados, des funcionais (CF) da incapacidade funcional
considerando-se que décadas atrás as difi- (IF) que demandavam recuperação intermedi-
culdades de acesso à educação eram bem mai- árias de capacidade/incapacidade. Entre as ati-
ores que hoje, sobretudo para as mulheres. 35 vidades funcionais analisadas, as que mais obti-
No grupo experimental, as idosas com mai- veram melhora após a intervenção foram: le-
or escolaridade apresentaram melhor desem- vantar de uma cadeira sem braços, deitar-se e
penho na capacidade funcional. Este resulta- levantar-se da cama, subir cinco degraus e ca-
do é semelhante a outros estudos, em que a minhar em lugares planos que após o treina-
escolaridade está relacionada à capacidade mento de marcha realizado no programa, ob-
tiveram aumento na velocidade da marcha.
funcional, como em Siqueira,37 que destaca
que o nível de escolaridade tenha sido a úni- Resultado semelhante foi encontrado no
ca variável sociodemográfica a revelar asso- estudo feito por Caromano 8 com indivíduos
ciação com capacidade funcional, pois quan- idosos com osteoporose. Observou-se me-
to maior a escolaridade, menor a ocorrência lhora do equilíbrio em 60% dos idosos que
de relato de dificuldade nas atividades de realizaram exercícios físicos gerais associados
vida diária. à caminhada durante quatro meses.

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Fisioterapia na capacidade funcional de idosas institucionalizadas 175

O programa de cinesioterapia foi realiza- prova o estudo de Rebellato2, segundo o qual,


do com exercícios que simulavam situações nos idosos com osteoporose, o exercício pode
de atividades cotidianas, como exercícios que reduzir a taxa de perda óssea e melhorar a saú-
simulassem abotoar roupas, calçar meias co- de e a força muscular, contribuindo para a pre-
locando as mãos até os pés, realizados na venção de quedas e menor risco de fraturas.
posição sentada numa cadeira sem braços,
elevando os braços com halteres de 1 kg, si- As percepções obtidas na análise qualita-
mulando levantar um objeto acima da cabe- tiva se coadunam com a afirmativa de Mi-
ça, exercícios de agachar com flexão de joe- randa 26, que enfatiza que as estratégias de pro-
lhos e costas retas para apanhar objetos ou moção de saúde dos idosos, relacionadas às
roupas no chão, exercícios que simulassem práticas de exercícios, orientadas por um fisi-
varrer uma casa com bastões na mão, etc. oterapeuta e visando a retardar ou prevenir
incapacidades, pode ser eficaz para controlar
O mais importante neste novo conceito de as doenças degenerativas, bem como evitar
exercício físico é que qualquer atividade da vida sua progressão, reabilitando a pessoa idosa
cotidiana é válida, e se enfatizam as atividades para uma vida ativa e saudável.
moderadas que podem ser realizadas em três
sessões de 10 minutos ou duas sessões de 15 A maioria reafirmou a necessidade de exercí-
minutos por dia. As atividades físicas realiza- cio físico como forma de melhorar a sua saúde e
das no lar, no trabalho e no tempo livre, como seu bem-estar geral, o que denota a consciência
caminhar, nadar, jogar bola e dançar, são as com o autocuidado. O movimento da Promo-
que garantem uma vida ativa e saudável, quan- ção da Saúde põe em destaque o estilo de vida,
do o objetivo é a promoção de saúde com a valorizando comportamentos de autocuidado. 9
prática regular da atividade física. 23
Segundo Minayo,24 a fala torna-se revela-
O estudo mostrou correlação entre a pre- dora de condições estruturais, de sistemas de
sença de doenças e a piora no desempenho valores, normas e símbolos. Como pesquisa-
das habilidades funcionais. Entre as doenças dora, ouvimos os relatos sem pôr nossos va-
encontradas nas 40 idosas estudadas, as os- lores e crenças.
teoarticulares foram as mais freqüentes, sen-
do que a maioria das idosas (55%) possui
diagnóstico de osteoporose (doença que aco- CONCLUSÃO
mete os ossos, tornando-os fracos e susceptí-
veis à fraturas) e referiu tomar medicamentos Considerando-se o objetivo deste estudo,
à base de cálcio para controlar a doença. que pretendeu avaliar os efeitos de um Pro-
grama de Fisioterapia como promotor de
As idosas que realizaram o programa de ci- saúde na capacidade funcional de idosas insti-
nesioterapia revelaram melhorar no desempe- tucionalizadas, é possível afirmar que o pro-
nho de todas as atividades funcionais, o que com- grama proposto foi adequado para as idosas

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176 REV . B RAS . G ERIATR . G ERONTOL ., 2007; 10(2):161-178

consideradas frágeis ao serem submetidas a AGRADECIMENTOS


uma avaliação funcional abrangente e à inter-
venção fisioterápica não foi relatado nenhum À Instituição Casa São Vicente de Paulo e
episódio de quedas num período de um ano. à Dra. Ana Silvia Ipiranga, que muito colabo-
raram para a realização desta pesquisa.
Por outro lado, os resultados demonstra-
ram que o grupo experimental apresentou
melhora significativa no desempenho das prin- REFERÊNCIAS
cipais atividades funcionais com correlação
positiva entre as variáveis sociodemográficas e 1. Amorin PRS, Miranda M, Chiapeta SMV.
clínicas. Os parâmetros avaliados apresentaram Estilo de vida ativo ou sedentário: impacto
significância estatística, pois houve variações ou sobre a capacidade funcional. Revista
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Fisioterapeuta, mestre em Educação em Saúde, Curso de 7. Caromano RA. Efeitos do treinamento e da
Mestrado em Saúde Coletiva, Universidade de Fortaleza manutenção de exercícios de baixa e
R. Marcondes Pereira, 1151, Bairro Dionísio Tôrres
60130-061 Fortaleza, CE, Brasil moderada intensidade em idosos sedentários
E-mail: silvanamontenegro@uol.com.br saudáveis. [tese] São Paulo: Universidade de
b
Médico, professor titular do Mestrado de Educação em São Paulo;1998.
Saúde, Núcleo de Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde, Universidade de Fortaleza 8. Carta de Otawa. Canadá: Organização Mundial
Av. Washington Soares, 1321, Bloco C Sala C07, Bairro de Saúde; 1986.
Edson Queiroz 60811-905 Fortaleza, CE, Brasil
E-mail: carlosbruno@unifor.br

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