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As novas narrativas da ficção televisiva e a internet

LACALLE, CHARO, 2010.


Catedrática do Departamento de Jornalismo e Ciênciasda Comunicação da Universidad
Autónoma de Barcelona. Especialista em análise do audiovisuale coordenadora
espanhola do Obitel (Observatório Ibero-Americano de Ficção Televisiva). Entre outros
livros, publicou El discurso televisivo sobre la inmigración (Omega) e El espectador
televisivo (Gedisa).

A retroalimentação televisão x internet configura novos modelos narrativos e mudam


os textos e a interpretação. A apropriação dos usuários da rede tornou a internet
aliada da ficção televisiva nesse transmedia storytelling.

A internet

Quase todas as etapas/diversidade da comunicação se transferiram para o digital. “A internet


é um meta-meio interativo e comunitário. Um meio de meios”. P. 80 Encontra-se ali pessoas
de todas as partes e se interage com elas de forma praticamente instantânea. As definições de
autores, leitores, criadores, produtores, intérpretes etc, se misturam criando um “circuito” em
que todos sustentam a atividade da rede (LÉVY, 1995).

Os usuários estão inseridos em uma inteligência coletiva, sem que haja prejuízo à identidade
individual. Esses indivíduos interagem em comunidades virtuais que funcionam como
extensões dos programas, ao contrário das comunidades interpretativas da televisão. As
comunidades virtuais podem produzir e compartilhar conteúdo vinculado às séries.

Essas histórias construídas em diferentes meios de comunicação são narrativas


transmidiáticas. As histórias “vem e vão” de um meio para o outro. Antes havia remake de
histórias e referências a outras obras. Mas agora as narrativas são a mesma, tão extensas que
não cabem em um único meio. O transmedia storytelling surgiu publicamente em 1999.

A primeira era de ouro da ficção televisiva foram os anos 60. A segunda era de ouro é agora,
em que há inter-relação entre novas tecnologias e televisão, e uma infinidade de subgêneros.
Esses fatores servem para renovar a ficção televisiva e diferenciá-la do cinema.

A comunicação na web 2.0

Conceito criado em 2004 por Tim O’Reilly, para definir uma rede construída pela participação
dos usuários. Seu desenvolvimento também é social, de compartilhamento e interatividade. É
uma rede descentralizada, que facilita a troca entre usuários.

Segundo Tim O’Reilly (2004), os princípios básicos da web 2.0 são sete: 1) a World
Wide Web como plataforma de trabalho; 2) o reforço da inteligência coletiva; 3) a
gestão de base dos dados enquanto competência primária; 4) a constante atualização
gratuita dos dados e dos serviços disponíveis na Rede; 5) a utilização de modelos de
programação rápidos e a busca da simplicidade; 6) o software não limitado a um único
dispositivo e 7) o valor agregado das experiências dos internautas. P. 83

A web 2.0 se consolida como um espaço de relações, comunidades e intercâmbio. É


regido por normas parecidas com as do mundo real e estimula os usuários à
colaboração e à se apropriarem de símbolos com os quais se identificam. Por isso, o
internauta foi eleito a personalidade do ano em 2006, já que seria a protagonista dessa
nova era da informação. Lacalle (p. 84) descreve esse processo como uma revolução
pacífica, que altera também a forma como os meios tradicionais comunicam. O usuário
deixa de ser passivo para tornar-se também produtor de conteúdo.
Apesar dos benefícios, há uma série de riscos que devem ser levados em consideração,
como o incremento das desigualdades ou os riscos inerentes à segurança. Há também
a falsa segurança do anonimato, que pode acarrear em assédios e discursos de ódio.
Ainda há de se alcançar um ponto de equilíbrio nessa questão de controle da rede.
Lawrence Lessig sugere uma espécie de controle “ponderado” da rede no que diz
respeito à regulação.
Jovens, televisão e internet

Relaciona a teoria da domesticação (Roger Silverstone) com a transformação do espectador


ativo (o que não recebe o conteúdo passivamente) para produtor. A comunicação é entendida
como um processo de reconstrução e renegociação da realidade. O consumidor é
transformado em fonte de inspiração para os responsáveis pela produção. O usuário se
multiplica e interpreta as produções a partir de traços de sua própria realidade cotidiana. Na
web 2.0, o próprio usuário enriquece os conteúdos que recebe.

As novas tecnologias integram, portanto, diferentes níveis de comunicação: a


comunicação textual, a comunicação icônica, a comunicação verbal, a comunicação
diacrônica e sincrônica, a comunicação de massas e a comunicação interpessoal. Os
conteúdos televisivos realizados pelos mesmos usuários constituem o novo desafio
exposto pela Internet à televisão tradicional e, se não fosse pelos problemas que
apresenta o copyright, muitos produtores já integrariam sem problemas as propostas
dos internautas. P. 87

Há um grande grau de autonomia na forma de interagir com o conteúdo; há mesmo


tecnologias que enviam conteúdo ao usuário de acordo com seu próprio gosto (como por
exemplo o feed). Há aproximações simbólicas entre televisão e novas tecnologias, devido ao
interesse em aproveitar o tempo livre “da forma que quiser”. Um aspecto central do uso da
web 2.0 é a interação entre os usuários, em sua maioria jovens.

São unidas as características de entretenimento, comunidade e comunicação, um intercâmbio


de conhecimento e coletivização de saberes. Há diversas redes na internet, em sites
específicos para isso e a tendência é que os perfis existam em várias dessas redes. Há inclusive
o uso cruzado entre mais de uma rede, chamado de interoperabilidade. As comunidades de fãs
são, nesse contexto, versões digitais dos fãs-clubes tradicionais – podendo ser definidas como
agrupamentos de pessoas que têm os mesmos interesses.
A conexão entre televisão e as novas tecnologias e o atrativo que exercem sobre os jovens
tornaram a internet uma espécie de extensão dos programas, em que as interpretações sobre
as produções são reinterpretadas em comunidades interpretativas, que se formam e se
transformam com rapidez. As antigas formas de recepção e identificação são transformadas
em uma produção de sentidos sobre as séries.

Redes como Facebook estão mudando a forma de consumir televisão, através de uma espécie
de “boca a boca digital”. Os fãs não estão mais “à margem” da indústria e agora estão na mira
delas, já que como podem expressar sua opinião nas redes, os cidadãos comuns se tornaram
influentes na sociedade. A TV continua hegemônica, mas a rede cumpre função de
acompanhamento e aprofundamento dos conteúdos televisivos. Há uma “nova forma” de ve
tv e mente, sinérgica à internet e tv convencional.

Ficção televisiva e internet

A informação na internet é personalidade e a ênfase está na capacidade interpretativa da


audiência. E para que uma produtora prospere, é necessário o engajamento dessa audiência. E
na falta de narrativas próprias para a web, esta se converte em um importante aliado da TV,
por disseminar seus conteúdos. Já, na época do artigo, era comum as redes de tv
disponibilizarem ‘extras’ na rede, como making ofs, fotos, vídeos, curiosidades sobre atores e
personagens e etc. Em contrapartida, a retroalimentação tv-internet permite aos produtores
terem feedback instantâneo dos fãs.

Do internauta ao telenauta

Os usuários criam suas próprias grades de programação e julgam o que preferem ver e ignorar.
A intenção das primeiras plataformas de vídeo on-demand não era substituir a televisão, e sim
agregar valor a ela. Não demorou para que as grandes redes de televisão disponibilizassem
seus conteúdos em parceria com empresas como Hulu ou YouTube, com a contrapartida da
publicidade exibida antes e depois dos episódios. Não há programa de tv que não se expanda
por meio da internet.

No que diz respeito à publicidade, a internet oferece direcionamento das propagandas,


permite identificar os formadores de opinião e monitorar o comportamento dos usuários na
rede. Havia ainda, em 2010, a concepção de que uma série ter mais ‘buzz’ na rede seria
representativo de seu potencial de marketing.

A internet está minando as formas passivas dos meios tradicionais (imprensa, rádio,
televisão etc), porque os jovens desejam interagir e contribuir para construir o
conteúdo dos discursos midiáticos que chegam até eles. No entanto, ainda que a Web
esteja condicionando de maneira crescente o uso dos demais meios, não esá
substituindo-os. p. 99

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