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Karinne Nevesi
Encruzilhadas da liberdade é um livro que fora escrito e publicado no ano de dois mil e seis
pelo autor Walter Fraga Filho, doutor em História Social pela Universidade Estadual em
Campinas, atualmente é professor da Universidade Federal da Bahia tendo experiência na área
de História com ênfase em história do Brasil Império atuando nos seguintes temas: Bahia ,
pobreza, escravidão, abolição e pós-abolição. Nesta obra, o autor retrata a questão das duas
últimas temáticas aprofundando através das fontes todas as questões que levaram ao fim da
escravidão. Inicialmente defendida como tese de doutorado em História na Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP), o livro traz uma análise profunda das relações entre
escravos e senhores de engenho na região do Recôncavo Baiano, local que abrigava os maiores
engenhos que não produziam somente cana-de-açúcar mas, diversos produtos agrícolas entre
os quais: fumo, mandioca, feijão, milho dentre outros, nos períodos que antecederam e
precederam à escravidão. Por vezes essas relações mostrar-se-ão conflituosas por serem vista
de formas diferenciadas. Por ser um local de grande produção, subentende-se que havia
umadependência por mão-de-obra barata, nesse caso, a escrava. A lavoura açucareira vinha
enfrentando uma crise desde o início da década de 1870, que segundo Filho, era
extremamente dependente do trabalho escravo, e vinha sofrendo as conseqüências da
extinção do tráfico africano, em 1850, e com as sucessivas leis emancipacionistas das décadas
de 1870 e 1880, (2006;31).
Após a descrição do local o autor relatará os conflitos causados pela implantação dessas leis e
logo em seguida a abolição. É interessante notar que antes mesmo de decretar o fim da
escravidão já existia a expectativa nos escravos e o temor nos senhores, defensores de uma
medida lenta e gradual que pudesse manter a questão da ordem e do controle por parte
desses. De acordo com José Murilo de Carvalho1a abolição imediata parecia a todos
impraticável pois, perturbaria toda a produção e, a ser feita com indenização , arruinaria as
finanças do país . Daí o mal menor era a abolição gradual acompanhada de medidas
acauteladoras para enfrentar o provável aumento das inquietações escravas e mesmo
possíveis rebeliões, (CARVALHO; 2008). Outra questão que é desconstruída pelo autor, é a
passividade dos escravos,.Na obra pode-se observar que estes estavam mais informados
acerca d
os debates sobre a liberdade , negociavam com os seus senhores , esses cada vez mais
temerosos emperder o braço escravo , sustentáculo da lavoura .
.
Muitos cativos fugiam coletivamente o que demonstra o elo de ligação entre eles que o
cativeiro não pôde romper. Para o senhor de engenho esses atos eram vistos como
desobediência e insubordinação uma vez que sempre enxergaram nessa relação uma questão
de controle; para os escravos era uma forma de imposição e luta pela liberdade. Vale ressaltar
nesse caso a importância do papel dos abolicionistas que através de panfletos que eram
distribuídos nos engenhos, alertavam os negros sobre sua atual situação. Os conflitos agora
estendiam-se e passavam a ser entre senhores e abolicionistas e não somente senhores e
escravos . Por vezes os primeiros acusavam-nos de que a intenção desse grupo era seduzir os
escravos e se apossar dos seus pecúlios. A cidade de Cachoeira vivenciou esses embates, foi
nela que os confrontos mais espetaculares entre esses dois grupos ocorreram.
Todo esse processo de pressão por parte dos abolicionistas, o esclarecimento dos cativos
acerca de sua possível liberdade, foram conduzindo a caminhos estratégicos, especialmente
por parte dos senhores dependentes dessa mão-de-obra lucrativa. A primeira delas foi a
concessão de alforrias coletivas que, não foi um ato de bondade do senhor mas sim , uma das
estratégias para não perderem de vez os escravos eprejudicarem a plantação, pois procuravam
dessa forma , antecipar-se à decisão do Império ou conter a crescente insatisfação da
população cativa , ------ uma vez que os panfletos distribuídos pelos abolicionistas estavam
provocando um clima de agitação dentro dos engenhos------ e evitar distúrbios na produção .
Eles revelavam suas estratégias ao ver que o sistema escravista estava com seus dias contados.
No dia 13 de maio de 1888, foi decretado o fim da escravidão. Walter Fraga Filho nos traz uma
descrição dessa data, focalizando especialmente os festejos da população que de cativa
passava a ser livre. Nessa análise o autor utiliza fontes documentais, especialmente os diários
escritos pelos senhores , que revelaram a visão destes acerca não só dos festejos mas ,
especialmente a abolição da escravatura, é o que nos conta os registros feitos pelo barão de
Vila Viçosa , grande proprietário de engenho na cidade de Santo Amaro, ao afirmar que na
referente data os escravos se recusavam a trabalhar inclinando-se a embriaguez e a vadiagem,
se isso representava a visão desse grupo, para os antigos cativos era a comemoração da
liberdade, a possível concretização de suas aspirações. Como já fora mencionado
anteriormente, a questão referente à manutenção da ordem era o que mais preocupava os
senhores. Ao observarem os festejos do13 de maio, umagrande quantidade de escravos
comemorando a liberdade, encheram-se de temor. Temia-se que os antigos escravos
reivindicasse seus direitos, ressaltando que liberdade para esses significava o livre acesso a
terra, além do que agora teriam que dividir entre essa população livre o maior sinônimo de
prestígio, riqueza e poder: as terras. Viram-se em todo o tempo manobrando a situação a seu
próprio favor, utilizando o que podemos chamar de força moral, coerção física para manter
esse status,e de repente vêem-se ameaçados em perder todo esse monopólio, sem contar que
nos engenhos o clima era perturbador. Ao saberem que agora eram livres muitos ex-cativos
recusavam trabalhar nos engenhos, o que provocava o temor de uma perda na produção, uma
vez que o braço escravo havia durante todo aquele tempo praticamente sustentado a lavoura
açucareira. Essas mudanças como já foram analisadas, afetavam economicamente a produção,
para manter os ex-escravos nas lavouras os ex-senhores, teriam que negociar, pagando
salários o que resultava em uma maior despesa para essa classe. Só que a crise que afetou a
lavoura açucareira, que coincidiu por sinal com o fim da escravidão, vem alterar essa situação,
especialmente se tratando dos ex-cativos. Segundo Walter Fraga Filho, tudo indica que as
dificuldades de subsistência diminuíram o poder de barganha doliberto (2006;203 ), uma vez
que não produzindo em grande quantidade não necessitariam mais do braço escravo e nem
teriam que negociar por medo de perdê-los; outra questão é que para fugir da fome,
resultante dessa crise, os escravos tiveram que aceitar trabalhar por qualquer salário.
Sempre retomando às estratégias dos ex-escravos para lidar com a sua nova condição , a obra
traz um enfoque especial e uma análise do engenho Maracangalha, demonstrando que os
mesmos, agiam quando a situação parecia não favorecer-lhes . Ao saberem que a propriedade
passara às mãos do barão Moniz Aragão, se negaram a trabalhar para o mesmo, que vê-se
obrigado a utilizar das estratégias para lidar com essa nova situação. Talvez porque a mudança
de proprietário lembrasse a antiga condição em que os escravos eram vendidos e negociados
entre os senhores de engenho. A primeira atitude desse novo proprietário é pôr na função de
feitor alguns libertos, só que o mundo da liberdade revelava o que talvez o senhor não
entendia ou não pretendia compreender , os ex-cativos não suportavam a idéia de ter um
senhor manipulando e ordenando seus trabalhos, para eles isso era algo que lembrava o os
tempos da escravidão.
De acordo com o autor, os incidentes envolvendo libertos e ex-senhores eram a manifestação
de projetos distintos e conflitantes em relação àdefinição das condições materiais de
sobrevivência no interior da grande lavoura (2006) . No livro Encruzilhadas da liberdade, há um
diálogo também com outras fontes, ao mencionar o já citado engenho Maracangalha , Walter
Fraga Filho faz uma breve análise da letra da canção de Dorival Caymmi relacionando-a com a
história do local, na música a mesma aparece como um lugar de refúgio ,e isso reforça a
afirmação do autor, ao analisar que na música a mesma aparece como um lugar de refúgio ,e
isso reforça a afirmação do autor que, nessas terras os antigos cativos podiam desfrutar de
uma certa liberdade , plantando roças e vivendo sem sujeição (2006;204)
A obra traz um recorte entre o pré e pós abolição, retratando as negociações que revelavam
aspectos interessantes de serem analisados . Ao exercerem esse poder de barganha os libertos
se colocavam frente às pretensões dos antigos senhores, que viam essa atitude como
atrevimento por parte dos ex-escravos. Abordando a situação vivida por esses dois grupos,
Filho traz uma relação que se estabeleceu entre esses dois momentos anteriormente citados.
O fato de a maior parte dos braços da lavoura açucareira ter vivido a experiência da escravidão
foi decisiva para definir os contornos das relações cotidianas que se formaram depois da
abolição, (2006;214). A liberdade portanto, era vista porângulos diferentes, e através das
fontes documentais , como as correspondências de Aristides Novis um negociante e
correspondente que conhecia de perto a situação financeira do Recôncavo (2006;218),
manteve com o barão de Cotegipe , ao longo do ano de 1888 permitem observar as
negociações que eram mantidas entre ex-senhores e ex-cativos , onde o Novis confidenciava
sobre os últimos acontecimentos que revelavam as tensões nas lavouras açucareiras. Mais
uma vez essas correspondências apontam para a visão de desordem que os antigos senhores
tinham acerca da abolição. As negociações que ocorriam não eram feitas de modo
homogêneas, tudo dependia das circunstâncias que vale ressaltar, os antigos escravos
utilizavam a seu próprio favor, lutando por determinadas garantias, mostravam que sabiam
colocar-se. Uma das questões que resultaram em conflitos e relevaram o poder de barganha
dos libertos era o tempo dedicado à lavoura do senhor e o tempo dedicado às suas roças de
subsistência, era então óbvio que estivessem lutando pelo direito de usufruir do seu tempo,
plantando na sua própria terra e reafirmando seus lugares e suas novas condições, pois
ganhando o seu próprio sustento teriam condições de comprar, de exercer atividade comuns a
qualquer cidadão os quais no tempo do cativeiro nunca puderam fazer , é nesse aspecto que
fica claro eevidente que os libertos desejavam viver qualquer situação que não lembrasse o
cativeiro e toda possibilidade de usufruir de sua liberdade era a concretização de suas
aspirações. Um ponto estratégico utilizado também por eles era a permanência nas localidades
em que nasceram ou serviram como escravos, e muito mais do que parece um ato de
benevolência por parte dos senhores ou alguma relação paternalista, na verdade, o que estava
em jogo eram outras questões, dessa forma a permanência nesses locais estava intrisicamente
associado ao posicionamento estratégico no período pós-abolição. Vários fatores contribuíram
para que os mesmos permanecessem nessas terras, as questões climáticas e financeiras vividas
naquele tempo impediram os ex-cativos de migrarem do Recôncavo para outros lugares,
interessante frisar também que, apesar da abolição já ter ocorrido nesse período, a
mentalidade da sociedade na época ainda entendia os libertos como escravos e segundo o
Walter Fraga Filho um ex-escravo distante de sua localidade de origem podia ser considerado
um forasteiro e, facilmente , preso como “suspeito” ou vagabundo , nesse caso fica evidente
que a tarefa de colocar-se como cidadão livre era árdua uma vez que a sociedade ainda
carregava marcas do período da escravidão, (2006;249) , outros permaneciam ali para
poderem usufruir das terras emboraisso nada tenha a ver com a submissão pois, os libertos
sempre se colocavam frente a sua nova condição, outros permaneciam nessas terras por
questões de vínculos e laços que ali foram estabelecidos e criados no período da escravidão. O
que nos chama a atenção na obra desse autor é a análise que ele faz do próprio escravo, acerca
de suas perspectivas, anseios e aspirações, revelando que como sujeito eles agiam
estrategicamente e que foram participantes ativos no processo da abolição. José Murilo de
Carvalho em sua obra “A Construção da Ordem (O Rei contra os barões) analisa de uma forma
diferenciada esse mesmo processo que levou a abolição da escravatura, focalizando mais nos
interesses dos senhores em manter a ordem ou criar uma medida lenta e gradual, do que nas
perspectivas dos escravos acerca da liberdade. No entanto, essas análises terminam por se
completarem uma vez que, durante a leitura do livro, Encruzilhadas da liberdade, percebe-se
que os senhores de engenho temiam que a desordem se instalasse no país, ou que os escravos
assumissem novas posições. Tudo que era relacionado a essa nova condição era retratado por
estes como vadiagem, como deixam claras várias correspondências trocadas por antigos
senhores, via-se claramente o posicionamento destes, sempre afirmando e nunca
compreendendo que muitos libertos não mais queriamtrabalhar nas lavouras.
As negociações e os conflitos no pós abolição revelaram um ponto importante, uma vez que a
historiografia brasileira sempre estudou a questão da escravidão de uma forma muito rígida.
João José Reis 2em sua obra Negociações e conflitos revela um posicionamento muito parecido
com a temática de Walter Fraga Filho, ambos abordam as relações que se estabeleceram entre
os dois pólos ou grupos desse processo, senhores e escravos, revelando mais do que uma
relação unívoca mas sim , negociações , barganhas , conflitos, resistência,acomodação . Esses
autores, dessa forma, propõem uma releitura do tema, revelando pequenas conquistas dos
escravos e libertos no dia-a-dia muito diferente daquelas análises em que o mesmo era
sempre refém do sistema escravista. Todas essas negociações revelavam um aspecto comum,
que se constituía no desejo dos libertos e escravos constituírem o seu próprio modo de vida.
Os últimos capítulos trarão a situação dos ex-cativos após o fim do cativeiro, demonstrando o
modo como os mesmos conseguiram se reafirmarem na nova condição de libertos, sendo
assim a obra traz um recorte temporal, ao analisar a vivências dos antigos escravos nesse
período. É importante frisar que os mesmos, em todo o tempo lutaram para demonstrar a sua
nova condição, as migrações ocorridas nesse tempo demonstramo quando elas se constituem
importante fator afirmação de liberdade, pois agora, poderiam se deslocar sem necessitar de
permissão de um senhor. Traçando o cotidiano após o fim da escravidão, fica evidente um
fator, o período da escravidão continuou a marcar as vivências e trajetórias daquelas famílias,
ou seja, os laços que foram mantidos durante a escravidão tinha relação com a nova vida dos
cativos , agora na condição de libertos, muitos migraram por conta desse fato, buscando rever
seus parentes, pois durante a escravidão quando ainda eram vendidos e negociados muitos
eram separados de suas esposas, maridos e filhos, na atual condição de libertos poderiam
buscar manter esses laços, essas famílias . A liberdade portanto, tornava concreto antigas
aspirações dos escravos,que não somente se constituíam na questão de uma busca por um
pedaço de terra. As comunidades constituídas não tinha uma formação única mas , diversa .
No interior delas os ex-escravos puderam manter ou recriar tradições religiosas sem a
interferência dos ex-senhores , que anteriormente controlavam também essas questões.
A nova condição de livres também repercutia na ocupação dos ex-cativos no mercado de
trabalho, muitos ocupavam ao migrar para os centros urbanos profissões que eram aprendidas
nos engenhos, só que como já fora analisado anteriormente, essatarefa não seria fácil, uma vez
que a sociedade ainda enxergava os negros como escravos e por isso enfrentavam
preconceitos ao ocuparem determinados ofícios. Durante o século XX, a elite baiana temia que
esses ex-escravos engrossassem as filas dos desempregados e que a partir disso se inclinassem
à vadiagem, recorriam muitas vezes às autoridades policiais que chegaram a colocar em prática
medidas de repressão aos antigos cativos que deixavam os engenhos.
Diante de toda essa abordagem, a obra Encruzilhadas da Liberdade, buscou demonstrar não
somente a situação dos negros no pré e pós abolição mas também, deixar claro que
reorganizando suas vidas após o cativeiro, esses teriam que lutar contra uma sociedade
também marcada pelo preconceito. Analisando os escravos, seus anseios, o modo como se
colocaram nessa nova condição, Walter Fraga Filho mostra com clareza que o processo da
abolição envolveu não somente os senhores afetados pela perda de braços na produção, mas
os escravos que como sujeitos afetados por esse sistema escravista souberam reagir, lutar,
negociar e busca ampliar seus direitos , que vale ressaltar mais uma vez , não estava fincado
apenas no livre acesso à terra , mas em outras questões como relações de parentesco e a
liberdade de poderem viver suas próprias tradições.
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eram vistas como uma inter erência em questões de soberania; a Inglaterra, porsua vez,
sentia-se prejudicada nos negócios na Á rica e na América. Essa tensão oi reiterada em um
incidente diplomático ocorrido em 1877, quando o Conselhode Estado do Império negou a
permanência no país de dezesseis a ricanos libertosvindos de Lagos para se estabelecer em
Salvador. Quinze deles viajavam legalmentecom passaportes ingleses, e um possuía, ainda,
documento brasileiro.Em 6 de agosto de 1877, o che e de polícia Amphilophio Botelho Freire
deCarvalho é avisado pelo scal da al ândega de Salvador da chegada de dezesseisa
ricanos no patacho Paraguassú. Após constatar que se tratavam de libertos,envia
correspondência ao presidente da província, Henrique Pereira de Lucena,in ormando o
ocorrido e pedindo uma orientação a respeito de como se compor-tar. Isso porque as
deportações de a ricanos, que ocorriam desde 1831 e haviamsido intensi cadas após 1835,
visavam, em 1870, desmobilizar as redes comerciase religiosas atuantes na província.O
trânsito entre Lagos (anexada em 1861 pela Grã-Bretanha) e Salvador era intenso por razões
comerciais e religiosas. Ex-escravos que re zeram a vida emLagos e comerciantes em Salvador
tiravam proveito do comércio com produtosa ricanos.O dinâmico cônsul inglês John Morgan,
que vivia no país desde 1852,de endeu como pôde a permanência dos a ricanos,
granjeando até o apoio dopresidente da província, Henrique Pereira de Lucena. Levado ao
Conselhode Estado, o pedido oi inde erido pelos membros da seção de justiça, que,uma
vez mais, recorreram a arti ícios jurídicos rea irmando a proibição da entrada de qualquer
homem de cor no Brasil, evitando deixar transparecercritérios raciais. As seções do Conselho
de Estado ocorriam na aprazível Quinta da Boa Vista - presente de um tra cante de escravos a
Dom João VI. Nelas se discutiamas grandes questões da agenda política imperial. Uma
preocupação presente nosdebates jurídicos travados entre os membros do Conselho de
Justiça desde a década de 1860 era a questão da
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em 1877, a habilidade do Ministério de Justiça para atrair imigrantes europeuse a astar a
ricanos e asiáticos explica que por dentro do projeto emancipacio-nista corria de modo velado,
subterrâneo, uma orma de se pensar as relaçõessociais a partir de uma noção racial
(p.75).
(p.81).
O silêncio se justificava pela ideia, compartilhada por movimentos sociais e por certos setores
intelectuais, de que a penada da princesa havia sido uma manipulação política, representando
o contrário do que dizia. O processo de descarte da Abolição como fato relevante da História
dos movimentos sociais afro-descendentes aparecia como resposta a uma apropriação desse
movimento por setores conservadores.
Tendo como foco a Bahia, o livro de Wlamyra foi redigido em torno de quatro casos, ou, como
ela ressalta, em torno de quatro episódios, que surgem como janelas que convidam o leitor a
se debruçar sobre diferentes momentos e problemas que marcaram o tortuoso processo de
declínio da escravidão, assim como o processo de ressignificação da liberdade que o
acompanhou.
O contexto baiano, com sua História de convivência com vasta população africana, aparece
aqui como tema recorrente, a imprimir a especificidade do processo de abolição local.
Como afirma a autora, a questão da crise da escravidão no Brasil encontra sua referência mais
na discussão do domínio do que propriamente na eternização da escravidão, já em si
ideologicamente desacreditada desde a década de 1870, amparando-se apenas no argumento
da necessidade imediata das lavouras para atravessar as inúmeras crises, além da crescente
oposição dos próprios escravos.
Por todas essas razões, o livro de Wlamyra pode ser lido com prazer e debatido com vigor,
contribuindo para o aprofundamento de nossos conhecimentos sobre a Abolição.