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Universidade Federal do Espírito Santo – UFES

Matheus Viana Alves

Resumo do texto “O que é Educação”

VITÓRIA – ES

2018
1. Educação? Educações: Aprender com o Índio

A educação é parte integrante do processo de formação do ser humano e


da sociedade, uma vez que dos âmbitos mais básicos como falar ou como
atravessar uma rua, por exemplo, são ensinados, mesmo que não na instância
institucional.

Ledo engano pensar que o conhecimento só é obtido por meios


acadêmicos, ou seja, citando o grande sambista carioca Noel Rosa “Ninguém
aprende samba no colégio”. A educação é muito maior do que as quatro
paredes da sala de aula e a lousa para anotações, no âmbito musical, por
exemplo, a maioria do conhecimento sobre a música popular e até mesmo da
música erudita é aprendida verdadeiramente na prática corrente do fazer
musical, ou seja, se aprende tocando e ouvindo os mais experientes.

Grupos sociais diferentes possuem concepções de educação diferentes, o


que leva ao fato de a educação possuir um caráter funcional, formando assim o
tipo de sujeito interessante para aquela sociedade, laçando mão de diversos
meios educacionais, que na maioria das vezes é não ortodoxo, para alcançar
esse objetivo.

2. Quando a Escola é a Aldeia

É deveras importante separar as palavras educação e escola, pois apesar


muitas vezes confluírem, significam coisas diferentes, uma vez que a educação
transcende as barreiras da escola.

A prática do ensino é comum em todas as culturas, partindo do


pressuposto de que é necessária a transmissão do conhecimento para as
gerações posteriores, e a sistematização desse processo se da quando a
sociedade e questão alcança um nível alto de complexidade estrutural, fazendo
assim necessário um processo sistematizado.

O saber nas sociedades primitivas é basicamente associado à


sobrevivência do individuo, seja no meio onde vive ou nas relações
interpessoais na comunidade, havendo assim certa admiração por aqueles que
detêm o conhecimento e uma sede de saber por parte daquele que deseja
aprender.

O ensino direto de mestre para aprendiz é deveras interessante quando


se trata de atividade muito especializada, até mesmo em sociedades muito
complexas. Temos como exemplo os grandes compositores como Bach e
Beethoven, que moraram nas casas de seus mestres, aprendendo muito
observando o que os professores faziam.

No entanto, nem sempre esse tipo de aprendizado ocorre, o que é muito


comum em atividades de cunho popular, como por exemplo, as escolas de
samba, que ensinam os mais jovens pela prática, ensinando assim fatores que
não podem ser transmitidos oralmente como o gingado do samba por exemplo.
3. Então, Surge a Escola

Com o aumento da complexidade das sociedades, principalmente


relacionadas a questões de poder e dominação, existe a tendência de gerar
sistemas de educação cada vez mais especializados, surgindo assim a figura
do educador.

Logo os saberes necessários para sobreviver se tornam uma parte dos


conhecimentos necessários aos indivíduos daquela determinada sociedade,
havendo então a necessidade latente de especialização, no entanto as práticas
anteriormente citadas de ensino interpessoal nunca são terminantemente
abandonadas, uma vez que esse tipo de ensino permeia o fazer social em
qualquer sociedade, pois é premissa básica para o convívio social.

A partir do momento em que as sociedades tornam o poder centralizado


na forma de Estado, a educação assume papel de fator político, servindo como
caráter de dominação sobre aqueles “menos aventurados”, essa estratégia é
observada desde a Roma Antiga, que impunha determinados costumes sobre a
população dominada até os Estados Unidos atuais que praticam certo tipo de
dominação cultural, exportando a “cultura ocidental” e o pensamento de mundo
estadunidense como forma de dominação sobre povos de cultura diferente,
desvalorizando assim o regional e exultando o material vindo dos EUA.

Além disso, podemos destacar a distribuição desigual do saber como


forma de cimentação das desigualdades vigentes, uma vez que só se move,
socialmente falando, aquele que possui determinado poder monetário ou meio
para consegui-lo. Em outras palavras, é de interesse da classe dominante que
as outras classes se mantenham ignorantes para que assim seja mais fácil
domina-las.

4. Pedagogos, Mestres – Escola, Sofistas

As primeiras grandes civilizações ocidentais, Grécia e Roma sistematizam


questões que usamos até hoje, uma delas é a escola, não nos moldes como a
conhecemos, mas a ideia geral.

Inicialmente a educação era coletiva, a partir da criação do sistema de


escravidão, ai então a educação passou a ser separada. A criação de classes
sociais é fundamental para o entendimento da formação educacional grega,
uma vez que o pobre não pode ter a mesma formação do nobre, e o escravo
não tem direito a nenhuma formação.

A educação grega tem como efeito a formação do adulto educado, ou


seja, plenamente capaz de lidar com os preâmbulos da vida em sociedade e
seja versado nas questões ligadas as artes e a filosofia.

O aprendizado se inicia fora da escola inicialmente, havendo


posteriormente a divisão anteriormente definida. Devemos pensar que a
sociedade greco-romana é muito segregada, do ponto de vista que existem
cidadãos e pessoas que não são consideradas nem mesmo pessoa, os
escravos no caso, logo existe a divisão de tarefas, sendo legado aos pobres e
aos escravos os serviços braçais e aos ricos e nobres a filosofia e as artes.

A educação então é usada como forma de mantenimento da classe


dominante no poder, por meio da ignorância geral da massa.

Começam então a surgir os grandes mestres como Pitágoras, Platão e


Aristóteles, que começam a reunir alunos e ensina-los como lhes convinha.

Com o tempo a escola passa ao âmbito estatal, havendo então a


necessidade de regulamentação, uma vez que por conta dos sofistas se tornou
econômico, pois estes tornaram o serviço pago, ou seja, disponível a quem
pudesse pagar.

Essa situação não nos é muito estranha, pois ainda nos dias de hoje
possuímos esse esquema de pagamento por ensino, de forma que só quem
possui dinheiro tem direito a uma educação de qualidade, como exemplo
podemos citar os processos seletivos para ingresso nas Universidades
Federais brasileiras, que apesar de serem gratuitas, privilegiam aqueles que
são provenientes de escolas particulares, uma vez que o nível das provas é
exultante tendo em vista a situação das escolas públicas atuais. Logo, para
ingressar em um curso como medicina, por exemplo, é necessário
desembolsar muito dinheiro para pagar um curso pré-vestibular ou material
didático de qualidade para ser aprovado. Isso gera o processo de elitização da
Universidade, que deveria ser um espaço democrático onde todas as classes
sociais tem direito a educação superior de qualidade.

5. A Educação que Roma fez e o que ela nos ensina

Inicialmente Roma possui um cunho agrícola muito acentuado, tendo a


princípio sua educação voltada para a formação moral do indivíduo. Os
romanos dão muito valor a essa formação moral, pois é a base da sociedade,
uma vez que é cultivada em casa, pelos pais, mesmo entre os mais ricos, que
não legam o dever a outra pessoa, por exemplo.

Novamente, como na Grécia, assim que começam a surgir camadas na


sociedade romana, o sistema de ensino é modificado, havendo portanto
ensinamentos destinados aqueles menos abastados, que são os trabalhos
braçais, e a educação destinada aos nobres, que seria a educação livresca,
para os governantes.

Até então não existe o conceito de escola pública, que surge somente na
era cristã do Império Romano.

Com uma das políticas educacionais mais bem sucedidas da antiguidade,


o Império Romano colocou em prática em larga escala a dominação cultural
dos povos sob seu jugo, pois, paralelo ao avanço das forças romanas, eram
criados espaços escolares, obrigando assim os dominados a absorver a cultura
do dominante, sendo assim uma das formas de dominação sobre povos mais
eficientes já criadas, que é aplicada até hoje.

6. Educação: Isto e Aquilo, e o Contrário de Tudo

Não é novidade que os parâmetros reais de educação não condizem em


quase nada com os legislativos, uma vez que a realidade de uma sociedade é
muito diferente do cenário ideal pregado na lei.

O Brasil possui uma situação educacional precária desde que foi iniciado
o processo de colonização, com um sistema muito desigual e de má qualidade.
Na atualidade temos muitas dificuldades como o desmonte sistemático da
maquina pública, que acontece não somente na educação, além de fatores
como a desvalorização do profissional da educação pelo Estado e pela
Iniciativa privada.

A nova Lei de Reforma do Ensino Médio deixa clara as intenções do


governo com a educação brasileira, cujo objetivo é basicamente a formação de
mão de obra barata para a indústria, ao contrario do que prega a Constituição e
o PNE, que dizem que o Ensino Médio deve formar cidadãos críticos e capazes
de ingressarem no Ensino Superior, que possui a problemática anteriormente
abordada.

A realidade brasileira é a de mercantilização da educação, na qual o


interesse é a manutenção do povo ignorante para o mantenimento do sistema
ditatorial instaurado no país. Uma prova contundente desse processo foi a
tentativa de retirada das disciplinas de sociologia e filosofia da Base Comum
Curricular.

7. Pessoas versus Sociedade: um dilema que oculta outros

Os processos de uma sociedade não são inatos no ser humano, tendo


que ser aprendidos pelo sujeito para sua inserção completa no ambiente em
que vive. Logo chegamos à conclusão de que os processos educacionais são
pensados de modo a fazer o aluno compreender e interagir de forma saudável
com o ambiente que o rodeia.

As construções sociais de classes geram diferenças entre a forma de


enxergar a sociedade, e concomitantemente a educação, entre os mais e
menos abastados, sendo essa visão corroborada pela forma de ensino
designada a cada um destes.

É compreensível que aqueles que não têm a obrigatoriedade do trabalho


para sustentar a família pensem a educação de um ponto de vista espiritual,
uma vez que o trabalho braçal permite que o sujeito tenha tempo para refletir
sobre esse tipo de questão mais profundamente, o que mantém o sistema
vigente cada vez mais forte e enraizado.
O principal propósito da existência da educação é atender aos interesses
da sociedade, ou de parte dela, como a elite dominante por exemplo. No
entanto, essa educação deve ser dosada, pois, ao educar o ignorante, este
passa a refletir sobre os processos que o cercam e passa a contesta-los, o que
é perigoso para a classe dominante.

O interesse principal da educação nesse contexto é a reprodução de


determinados tipos de sujeito, para que assim exista o mantenimento da elite
como elite e da massa como massa.

8. Sociedade contra Estado: Classe e Educação

Como dito anteriormente, a educação é usada pelo Estado como forma


de controle há muito tempo, gerando assim uma maior docilidade por parte da
massa.

No entanto, a educação possui um caráter transformador muito forte para


servir a esse proposito somente, pois uma vez que se ensina a alguém a
aprender, esse sujeito jamais para de buscar conhecimento, sendo assim o
desejo de saber o maior fomentador do saber para o indivíduo.

Entretanto, para que esse ensino seja prazeroso e crie esse desejo
irresistível de saber, é necessária uma mudança radical no modo como o fazer
educacional é pensado hoje em dia. A educação se tornou um fator
mercadológico muito grande, criando maquinas de pensar e fazer, sem reflexão
ou questionamentos. Isso é muito perigoso pois um povo que não pensa não
tem como lutar por seus direitos e se torna um povo derrotista e para sempre
subjugado.

Os moldes atuais de ensino são totalmente atrasados e de certo modo


ineficazes, pois não refletem a realidade da sociedade brasileira. Grandes
pensadores como Paulo Freire já diziam isso algumas décadas atrás, no
entanto, suas ideias ainda não conseguiram ser colocadas em prática em sua
totalidade por conta da intransigência da elite dominante.

Portanto, temos um sistema educacional falho, que gera sujeitos


meramente reprodutores de conteúdo, mas não criadores de algo novo. Isso se
deve muito a desvalorização da docência.

Modelos muito mais eficientes como os aplicados em escolas modelo


como a Escola do Porto, por exemplo, tem pouca penetração nos meios de
educação de massa.

9. A Esperança na Educação

A fé na educação se deve pela inevitabilidade dos processos


educacionais, ou seja, eles existem apesar das distorções de governos ou
elites, e se hoje servem aos propósitos destes, amanhã servirão para a
igualdade e liberdade.
A visão de uma educação bancária como a que temos hoje é
extremamente deturpada e distorcida da necessidade da sociedade. A
quantidade de conhecimento desnecessário ao fazer humano é aterradora,
deixando de lado questões primordiais da vida em grupo.

É de vital importância a reinvenção do fazer educacional, e da escola por


conseguinte. Ensinar não é oprimir ou manter o sujeito no mesmo estamento,
ensinar é fazer pensar, é tornar aquele que não possui luz, iluminado, é
alimentar a alma daquele que possui fome de sabedoria.

A situação vigente no país hoje em dia é caótica, mas ainda há


esperança, mesmo que pequena e agonizante, mas ainda existe, e devemos
nos apegar a ela para a gênese de um Estado igualitário e livre.

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