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ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL: REUNI E A EXPANSÃO

DO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DURANTE O GOVERNO


LULA

RADAELLI, Andressa Benvenutti


UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Introdução

A universidade em seu processo de transmissão de saber, não deve apenas se


voltar para habilitar e formar bons profissionais deve, além disso, numa perspectiva de
mudança, exercer influência sobre a realidade onde vai atuar. As políticas educacionais
refletem os processos de transformações da própria sociedade resultas de suas relações
com o Estado. Sendo assim, compreender organização do Estado torna-se fundamental
para entender o direcionamento das políticas públicas em especial as educacionais, e
aquelas desenvolvidas para a educação superior.
A educação tem sido vista e refletida como fator de desenvolvimento humano e
social, e segundo Saviani (2008, p.55) “a educação é a formação integral da
personalidade segundo uma concepção de vida, que respeitando os direitos
fundamentais e a liberdade do homem, sempre orientada para o bem comum, promova o
progresso da pátria e da humanidade”. Nesse sentido, podemos acrescentar como a ação
de educar desenvolvendo as capacidades, principalmente críticas, do ser humano.
Considera ainda Saviani (2006, p.70) que, “no Brasil, a educação, em sua forma
moderna, ainda não atingiu, no final do século XX, grandes parcelas da população,
dirigindo-se apenas a determinados setores”. Nesse contexto, ao tratarmos da Educação
Superior no Brasil entendemos que este emergiu de forma tardia em relação aos outros
países da América. No Brasil, as primeiras tentativas de criação do ensino superior
surgem somente nos séculos XVIII e XIX
Nesse sentido, as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) iniciaram nos
últimos anos um processo de redefinição de seu papel social, o de contribuir com os
desenvolvimento integral do ser humano, defendendo a mudança no paradigma social, e
isso se faz, dentre vários investimentos, com educação de qualidade. Para Oliveira e
Duarte (2003, p.129) “é nessa perspectiva que se pode pensar o campo educacional com
suas lutas, reivindicações, conflitos. A questão da educação pode ser analisada como
uma trajetória de luta por direitos e reivindicação”. O Estado reflete o resultado das
transformações sociais e possui, portanto, influência direta das relações entre Políticas
Educacionais e Sociedade. Dessa forma, as características das políticas educacionais são
regularmente definidas pelo Estado, como resultado de conflitos e lutas de interesses,
isto é, como produto dos embates sociais, bem como, ao atendimento dos interesses
mercantilistas, levando em consideração o contexto político, social, econômico em que
o objeto de estudo se encontra, entendemos assim, a política educacional, a partir das
ações do Estado.
A política Educacional, portanto, sob influência do pensamento neoliberal
apresenta como estratégia fundamental atender aos objetivos da produção capitalista,
além de considerá-la como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das
oportunidades”. O ensino superior tem se caracterizado como elemento fundamental
nesse processo, portanto, o acesso à universidade pública no Brasil tem se caracterizado
como desigual desde as suas origens, porém nos últimos anos tem apresentado
propostas visando expansão da educação superior.
Assim, podemos considerar que, conforme destaca Soares (2009), no Brasil, o
acesso ao Ensino Superior público tem recebido tratamento diferenciado nos últimos
anos. A procura por vagas cresceu a partir das transformações econômicas e sociais
ocorridas em decorrência da implantação de programas visando à democratização do
ensino superior. Porém, apesar dos esforços, o quantitativo de vagas ofertadas do Ensino
Superior Público ainda não é o suficiente. Tal processo não se efetiva, somente com o
aumento do quantitativo de vagas à educação gratuita, torna-se necessário mecanismos
que viabilizem uma efetiva democratização do acesso a esse nível de ensino.
A partir das considerações, verificamos que a necessidade de expansão e
democratização do acesso ao ensino superior gratuito têm se manifestado por meio da
emergência de ações governamentais e nesse âmbito tratamos do nosso interesse pela
investigação dos elementos que determinam, condicionam e influenciam na implantação
do REUNI.

Estado e as políticas educacionais

Na perspectiva de compreender a constituição das políticas educacionais pelo


Estado Burguês, entendemos que estas são o resultado das formas de organização
baseadas nas relações sociais, ou seja, o Estado é um produto da sociedade de classes. A
divisão social do trabalho e a propriedade privada deram origem à sociedade dividida
em classes, e ao capitalismo como forma de organização social.
Saes (2001) explica que o Estado burguês produz efeitos ideológicos que
cumprem a função de garantir a continuidade da exploração de uma classe sobre a outra.
Neste ponto de vista, a constituição política do Estado Burguês não é outra coisa senão
um apêndice das relações econômicas de uma determinada classe, a burguesia. Nesta
lógica, o Estado passa a ser a instituição orientadora das atividades políticas e jurídicas
na direção dos interesses da própria burguesia que coordena o Estado.
A partir dessas intenções, destacamos que a função do Estado está nas relações
políticas, econômicas e sociais que se embatem na sociedade. Assim, é impossível
pensar em Estado sem tratar de seu aspecto produtor, reprodutor e regulador das
políticas públicas por ele desenvolvidas, e nesse sentido, para Faleiros (2006, p.57) “o
Estado não se encontra fora ou acima da sociedade, mas é atravessado pelas forças e
lutas sociais que condicionam a articulação das exigências econômicas e dos processos
em cada conjuntura”.
Com isso, o Estado desempenha uma função estratégica para o desenvolvimento
do capitalismo, pois realiza a função de manter a “harmonia” das sociedades divididas
em classe, impedindo que os conflitos entre as classes trouxessem perigo a organização
da sociedade capitalista. Um aparato capaz de conter interesses antagônicos e manter a
coesão dessa sociedade, ou seja, o Estado tem papel fundamental na reprodução do
capitalismo. O Estado tem sempre uma função precisa a cumprir, nas palavras de SAES
(2001, p. 96) “é a função de assegurar a coesão da sociedade de classes vigente,
mantendo sobre controle o conflito entre as classes sociais antagônicas e impedindo
dessa forma que tal conflito deságue na destruição desse modelo de sociedade”.
O Estado, muitas vezes se vê impossibilitado de superar as contradições geradas
pela sociedade em suas relações de produção e busca, portanto, administrá-las de
alguma forma, a fim de, manter o controle e domínio, e mediar os conflitos de classe
que assim delimitam e determinam suas ações. Dessa forma, Zanardini (2006, p.07)
caracteriza as políticas públicas como ações específicas do Estado num processo de
consolidação de um projeto de sociedade.

Entendemos que as políticas públicas são datadas historicamente;


construídas por sujeitos concretos e que têm por fim a consolidação de
um projeto social, político e econômico específico, refletindo as forças
políticas em jogo, como resultado de pressões exercidas pelas classes
em luta. Logo, as políticas públicas não se reduzem a um conjunto de
ideias, nem a setores específicos, mas são amplas e implicam a
elaboração de estratégias de ação capazes de implementar um
conjunto de reformas ou de propostas necessárias à sobrevivência de
um determinado modelo social, político e econômico.

As políticas públicas traduzem, tanto durante seu processo de elaboração como


de implantação formas de expressão do poder, ou seja, se expressam em torno de um
processo dinâmico, incluindo negociações, pressões, mobilizações, alianças ou conflito
de interesses. Para tanto, Zanardini, (2006, p.07) estabelece que:

Para que as políticas públicas sejam implementadas de acordo com os


interesses, e da forma como pretendem as classes dominantes, que têm
os seus interesses materializados em ações do Estado, uma condição
necessária é o convencimento social da necessidade dessa
implementação, e a criação de um consenso de que as políticas
propostas são eficientes para atender às necessidades de um
determinado contexto, e de que trarão benefícios para os indivíduos
que colaborarem com a sua implementação.

Emergem então, as políticas sociais que, na prática não passam de estratégias


governamentais de intervenção nas relações de produção e no campo dos serviços
sociais. É exatamente nesse movimento de manutenção da “dinâmica” do capitalismo,
buscando assegurar a harmonia das classes por meio da implementação das políticas
sociais por parte do Estado. O Estado passa a articular e submeter às políticas sociais
aos interesses e necessidades das políticas econômicas.
A emergência das políticas sociais no Estado burguês, ou do Estado capitalista,
sofreu, portanto, influências do pensamento liberal e neoliberal, e no campo das
relações de produção caracterizaram as políticas educacionais como elemento formador
das políticas sociais. Toda a discussão que se direcione para uma abordagem das
políticas sociais pressupõe também uma discussão no sentido de identificar como elas
se apresentam e quais os processos e categorias fundamentais que as determinam.
As políticas sociais como produto das relações entre classes inseridas no
contexto político, econômico e social e, que, sustentam conforme proposto pela
ideologia liberal o Estado capitalista, traz em sua dinâmica a política educacional como
um de seus componentes, é entendida assim, por Xavier e Deitos (2006, p.67) “não
apenas como uma componente da política social, mas como parte da própria
constituição do Estado, que a concebe e a implementa no conjunto de suas ações de
direção e controle social”.
Diante do exposto, é importante destacar que o processo de implementação de
políticas públicas pressupõe refletir sobre as contradições existentes nas relações
capitalistas e de acumulação de capital como resultado das relações de exploração e
dominação. Ou seja, compreendemos que o Estado brasileiro e a formulação das
políticas públicas, sejam elas, educacionais, assistenciais ou habitacionais não estão
desvinculadas do contexto de contradições econômicas, sociais, políticas e ideológicas
que o cercam, e tornam-se um componente do processo de acumulação de capital.
Assim, a política educacional como resultado de lutas e pressões por parte da
sociedade é um componente do processo social de produção. Deitos (2010) entende que
a proposição da política educacional, está inserida num conjunto de políticas e medidas
tomadas para assegurar a hegemonia de uma classe sobre a outra. Elas são as respostas
qualificadas do Estado diante das desigualdades produzidas pelo capitalismo.
Portanto, discutir a política educacional implica, pois esta compreensão das
ações do Estado, relacionadas e influenciadas pela política econômica. Neste sentido

A política educacional, portanto, é entendida aqui como constituinte


da política social. As políticas públicas diretamente definidas e
dirigidas pelo Estado são compreendidas como o resultado de
mediações teórico ideológicas e socioeconômicas e estão diretamente
imbricadas no processo de produção social da riqueza e,
consequentemente, de sua repartição e distribuição. A política
educacional, particularmente a empreendida no Brasil a partir a
década de 1990, é a articulação e a consumação de forças econômicas
e políticas hegemônicas que sustentam proposições que revelam forte
tendência predominante de cunho liberal ou social-liberal e definem
significativamente os rumos das políticas públicas e da educação
nacional. (DEITOS, 2010, p. 209)

A política Educacional, portanto, sob influência do pensamento neoliberal


apresenta como estratégia fundamental, atender aos objetivos da produção capitalista,
preparando os trabalhadores para o local de trabalho, além de considerar a educação
como alternativa de “ascensão social” e de “democratização das oportunidades”.
Nesse quadro situacional o ensino superior tem se caracterizado como elemento
fundamental nesse processo, nesse sentido, o acesso à universidade pública no Brasil
tem se caracterizado como desigual desde as suas origens, porém nos últimos anos
propostas foram apresentadas visando expansão desse nível de ensino.
E conforme trata Finatti (2007, p.16),

O papel do Estado na Política de Educação Superior é expresso


quando se define como poder, que legitima a forma de acesso e
qualidade; quando promove equidade social nos processos seletivos;
quando se responsabiliza pela manutenção das instituições de ensino
superior públicas; quando promove uma gestão participativa; quando
se coloca como autorizador para o funcionamento das instituições
privadas.

Pretendemos a seguir, traçar breves considerações sobre o processo de expansão


do Ensino Superior público durante o Governo Lula no contexto do REUNI.

Ensino Superior no governo Lula

São apresentadas, nesta seção, breves considerações sobre as políticas para o


ensino superior, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), em particular
a expansão das IFES por meio do REUNI, objetivo principal deste estudo. Para isso,
consideramos importante descrever brevemente alguns elementos norteadores das
políticas para educação superior desenvolvidas durante o governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002) que antecedeu ao governo de Lula.
O governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi marcado por profundas
mudanças na Educação Superior no país. Não é objetivo deste trabalho, um estudo mais
aprofundado das suas heranças, contudo consideramos fundamental caracterizar alguns
elementos para a compreensão da política implementada pelo governo Lula.
As reformas implementadas na educação superior, nas décadas de durante o
governo de FHC estavam plenamente afinadas com a conjuntura econômica e a política
mundial, segundo as diretrizes dos organismos internacionais. De acordo com Chaves;
Lima; Medeiros (2006) a tese é a de que o sistema de ensino superior, deve se tornar
mais diversificado e flexível, objetivando uma expansão com contenção nos gastos
públicos e, portanto, novos conceitos como avaliação, autonomia universitária,
diversificação, diferenciação, foram introduzidos à agenda de reformas e geraram uma
nova percepção das ações desenvolvidas.
As universidades públicas eram consideradas pelo governo FHC como
improdutivas, esta configuração foi influência direta no apontamento da necessidade de
uma reforma da universidade pública. Por isso as fortes pressões para incluí-la nos
acordos com organizamos internacionais, justifica-se, em última instância, como medida
para promover a qualificação das instituições mediante a inserção de sua produção no
cenário mundial.
Assim, as universidades federais foram submetidas ao novo paradigma da
administração pública, expressos nos princípios de gestão eficiente, orientada por
resultados e racionalização dos recursos. Deste modo, as reformas visaram, por um lado,
à configuração de um Estado enxuto, que transfere parte de suas responsabilidades à
sociedade civil.
As reformas educacionais implantadas no governo de FHC tiveram a finalidade
de estabelecer uma nova concepção de educação, orientada como um serviço, portanto,
regulada pelas leis do mercado. No ensino superior, em particular, esse processo
ocorreu, de modo mais intenso, em duas frentes: racionalização dos recursos destinados
às universidades públicas, induzindo estas instituições a buscarem fontes alternativas de
financiamento e, consequentemente, aproximando-as da lógica do mercado, oferecendo,
inclusive, serviços a empresas, na condição de contratada; e o fortalecimento da
iniciativa privada, provendo financiamento público às atividades dessas instituições, por
meio de bolsas de estudos, crédito educativo e isenção fiscal. Dentro dessa conjuntura, a
expansão acelerada da iniciativa privada no ensino superior foi o resultado mais visível
do conjunto de reformas. (ARAÚJO, 2011)
Neste sentido as ações deste governo apontaram em grande medida para a
consolidação do projeto neoliberal a partir da expansão da educação superior através da
rede privada e a ausência de investimentos nas instituições públicas. Tal posicionamento
no entendimento de Saviani (2010, p.13), “freou o processo de expansão das
universidades públicas, especialmente as federais, estimulando-se a expansão de
instituições privadas com e sem fins lucrativos”. Depreende-se que, de fato, houve
expansão na oferta de vagas, no ensino superior, no governo de FHC, como
intensamente por este anunciado; entretanto, essa expansão ocorreu,
predominantemente, na iniciativa privada.
Assim, de acordo com Chaves; Lima; Medeiros (2006) o que ocorreu foi o
estabelecimento de medidas de favorecimento à expansão do ensino superior privado,
situação que se consolidou ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando
foram acelerados e facilitados os processos de autorização, reconhecimento e
credenciamento de cursos e instituições privadas, momento em que o governo federal
não demonstrou capacidade para ampliar os gastos com a educação superior.
Marcado por grandes expectativas de mudanças, as discussões acerca da
reestruturação das universidades federais iniciaram já na primeira gestão do governo
Lula (2003-2006). Na posse de Lula havia a esperança de que este governo se
comprometesse com um amplo e efetivo padrão de proteção, no âmbito das
necessidades humanas e sociais, que contemplasse positivamente todas as áreas sociais.
Entretanto, no entendimento de Araújo (2011) Lula indicava que o seu governo
não seria de ruptura com o quadro político-ideológico consolidado na gestão do
presidente anterior e sim de “transição” para um padrão que, de um lado, mantivesse os
interesses da massa popular, e, de outro, preservasse os interesses da burguesia nacional
e internacional, reafirmando o compromisso de honrar os acordos mantidos com os
organismos multilaterais.
Isso significa que as políticas do governo de Lula não romperam com a
concepção estrutural de educação do governo de Fernando Henrique Cardoso. Houve
continuidade na condução da política econômica e social e das medidas privatizantes e
intensificação do processo de reformas.
No campo do ensino superior, de acordo com Trópia (2007), as ações indicaram
um cenário de reformas. Lula iniciou seu governo intensificando o processo de
mudanças com a constituição de um grupo de trabalho denominado GTI - Grupo de
Trabalho Interministerial, o qual ficou encarregado elaborar um diagnóstico da situação
da Educação Superior no País e apresentar um plano de ação, cujas metas deveriam
contemplar a reestruturação, a expansão e a democratização das instituições federais de
ensino superior (IFES).
O trabalho do GTI resultou na geração de um relatório de diagnóstico da
situação da educação superior, em especial das Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) denominado Bases para o enfrentamento da crise emergencial das universidades
brasileiras, que destacava alguns eixos centrais: execução de ações emergenciais,
autonomia universitária, aporte de recursos financeiros e o roteiro para implementação
da reforma (OTRANTO, 2006).
Nesse sentido, Oliveira (2011) entende que a política de governo, adotada e que
acaba em última instância, por atingir também a política educacional e de forma
específica o ensino superior, deve ser analisada como resultante de um processo político
de alianças e embates de classes e frações de classes no país, a partir da influência das
políticas neoliberais dos anos de 1990.
No documento do Grupo Interministerial, conforme indica Araújo (2011)
constata-se a necessidade de expansão da oferta pública do ensino superior, diante da
acelerada expansão da iniciativa privada. No ano de 2003, período de elaboração do
relatório, as instituições públicas ofertaram 1.951.655 vagas, das quais apenas 531.634
era em universidades federais, já na iniciativa privada, esse número alcançou a marca de
2.428.258.
A partir daí, o forte interesse na expansão da educação superior mediante a
ampliação do número de vagas em universidades públicas, sem deixar de lado a
expansão das instituições privadas. Esse fenômeno é contraditório porque ao mesmo
tempo em que atende aos interesses no âmbito dos movimentos sociais pelo ensino
público, também tem levantado fortes laços que vinculam o público aos interesses
privados.
Destaca, Trópia (2007) a urgência na adoção de medidas se justificaria em
função da meta de expansão de 30% das vagas no ensino superior. Assim o GTI
apresentaria soluções para enfrentar a crise: a criação de um programa emergencial de
apoio ao ensino superior, especialmente às universidades federais, e a realização de uma
Reforma Universitária mais profunda.
Diante da análise das orientações políticas adotadas pelo Lula, que para as
universidades públicas, tiveram como centralidade o alcance dos objetivos
expansionistas. A decisão de implantação de programa que promovesse ampla
reestruturação curricular e administrativa nas universidades estava sendo arquitetada
decorrente dos diagnósticos apresentando pelo GTI. Neste cenário, as intenções do
governo federal para reestruturar as universidades federais, culminou com a instituição
do Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Públicas (REUNI), que compõe uma das ações promovidas pelo governo de Lula,
formando um conjunto de medidas que integram a reforma da Educação Superior. A
seguir faremos breves apontamentos sobre este Programa.

Apontamentos sobre o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades


Federais – REUNI: princípios, diretrizes, metas e indicadores

Na trajetória das políticas educacionais proposta pelo governo LULA,


destacamos algumas das políticas implantadas para a Educação Superior, dentre as
principais ações políticas voltadas ao acesso no ensino superior desenvolvidas pelo
governo federal nos últimos anos. Esta seção tem como objetivo apresentar os
fundamentos conceituais e políticos de criação do Programa de Expansão e
Reestruturação das Universidades Federais (REUNI).
O REUNI foi instituído visando o processo de ampliação das políticas de
inclusão e segundo suas diretrizes pretende congregar esforços para a consolidação de
uma política nacional de expansão da educação superior pública.
Instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007, o REUNI objetiva a
ampliação das vagas nas Universidades Federais e a redução das taxas de evasão nos
cursos presenciais de graduação. Este programa tem como base a meta da “elevação
gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para noventa
por cento e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para
dezoito, ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano” (BRASIL, 2007).
Além desta meta, cujo pressuposto é a racionalização dos gastos públicos, por
meio do aumento do número de concluintes e do número de alunos, por professor, o
decreto tem como meta a reorganização dos cursos de graduação através diversificação
das modalidades de graduação, e da mobilidade acadêmica. Para Araújo (2011) cria
condições para a ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de
graduação, pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos
existentes nas universidades federais. Isto implica na reestruturação física e acadêmica
das universidades federais, que propiciará uma expansão no número de vagas na
educação superior.
Iniciou-se a partir desse contexto um processo de reflexões e mudanças, onde o
acesso e a permanência à educação passam a ser tratados como direitos, e faz parte do
papel do Estado proporcionar condições para que tais direitos sejam estabelecidos e
cumpridos. Neste cenário, Araújo (2011, p.20) caracteriza que o REUNI, na sua gênese
e nos instrumentos utilizados,

Vem estabelecer a ressignificação do conceito de universidade,


defendida por movimentos ligados à educação, que defendem que as
atividades da universidade, de caráter essencialmente público e
financiadas pelo Estado, estejam assentadas na indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão.

O REUNI é um projeto com exigências e contrapartida, é necessário o


cumprimento de metas quantitativas e qualitativas pelas instituições como uma
exigência para liberação dos investimentos, ou seja, se caracteriza-se por um contrato de
gestão que, como tal, fixa rígidas metas de desempenho para recebimento de
contrapartidas financeiras. Em relação Saviani (2010, p.14) aponta que:

Ao longo do governo Lula, se por um lado se retomou certo nível de


investimento nas universidades federais promovendo a expansão de
vagas, a criação de novas instituições e a abertura de novos campi no
âmbito do programa “REUNI”, por outro lado deu-se continuidade ao
estímulo à iniciativa privada que acelerou o processo de expansão de
vagas e de instituições recebendo alento adicional com o programa
“Universidade para todos”, o “PROUNI”, um programa destinado à
compra de vagas em instituições superiores privadas, o que veio a
calhar diante do problema de vagas ociosas enfrentado por várias
dessas instituições.

É possível identificar que as Universidades Federais tem adotado um conjunto


de ações regulatórias que visam adequar suas estruturas sejam elas administrativas ou
acadêmicas aos objetivos pactuados no REUNI. Nesse sentido, destaca Araújo (2011,
p.94) que “as implicações dessas ações são alterações significativas na gestão
universitária, que busca revestir-se de racionalidade, flexibilidade e eficiência, a fim de
cumprir os objetivos e metas constantes do acordo”.
As universidades que aderiram ao programa receberam o compromisso de
acréscimos na dotação orçamentária e abertura de vagas para a contratação de técnico-
administrativos e professores. A adesão aconteceu de forma maciça, conforme dados do
relatório do primeiro ano do Reuni (2008), as 54 universidades federais existentes
haviam aderido ao REUNI. Apesar da indicação de que a adesão seria facultada às
universidades, nenhuma instituição, diante do quadro de precariedade de recursos
materiais e humanos recusou . Como indica Araújo (2011, p.109),

O instrumento de adesão utilizado foi o contrato de gestão, com a


pactuação de metas assumidas pelas universidades. A contrapartida do
MEC é o acréscimo de recursos no orçamento das instituições,
liberado gradativamente e condicionado à capacidade orçamentária do
Ministério e ao cumprimento das metas pactuadas.

Além do apoio às instituições já existentes a criação de novas universidades


federais também fez parte do desdobramento do REUNI. Na primeira fase de expansão,
mais de 60 campi do interior e 10 universidades foram criados, sendo seis destas criadas
por transformação, isto é, unidades (campi, faculdade, escola) foram transformadas em
universidades. Com a continuidade nas ações de expansão das universidades federais,
no total foram criados 115 novos campi no interior e 14 universidades. (BRASIL, 2008)
No entanto, apesar dos dados apresentados pela Governo Federal, o programa
tem recebido por parte de intelectuais e educadores críticas no sentido de que ele foi um
projeto planejado e aprovado sem a participação popular. Além disso, o aumento de
vagas, matrículas e alunos não tem sido proporcional ao aumento de recursos humanos.
E a expansão de vagas e de instituições, (expansão expressivamente quantitativa) não
significa necessariamente compromisso com a qualidade da educação superior.
Contudo apesar das críticas cabe lembrar que a expansão das vagas nas
universidades públicas é uma reivindicação histórica da sociedade e que é de grande
relevância tamanho investimento e prioridade nas instituições públicas. Assim, quem
defende o programa como Armijos Palácios apud Araújo (2011, p. 108) acredita que:

O Reuni, mesmo tendo problemas — que podem perfeitamente ser


contornados — permitiria a criação de novos cursos justamente
naquelas regiões em que mal existem uma ou duas faculdades, se
existem, ou mal conseguem ter um ou dois cursos nos chamados
campi avançados — cursos e faculdades em vias de consolidação e
faltando muita coisa. […] Longe de disputas ideológicas e de
radicalismos estéreis, a hora de mudar os rumos da universidade
brasileira, e de dar oportunidade às novas gerações que moram no
interior deste grande país, pode ter chegado.

Por oportuno, cumpre refletir diante das considerações apresentadas até aqui,
que o REUNI se apresenta como um programa de ampla repercussão voltado à
expansão das Universidades Federais, indicando um cenário de expressivos desafios.
Não se trata, portanto, como um simples projeto de expansão do acesso se configura
como uma nova etapa para a gestão e desenvolvimento para a educação superior.

Considerações Finais

No decorrer dos anos, se tem discutido amplamente a importância e a função


social na relação existente entre educação e universidade, principalmente no que tange
ao processo de desenvolvimento social e transmissão do conhecimento. O ensino
superior assume, nesse contexto, elementos que o caracterizam no desenvolvimento das
possibilidades sociais.
A cada mudança no pensamento social, a universidade vem ganhando
importância, devido a socialização e produção do conhecimento e a compreensão do
homem, na história e na sociedade. Assim, quanto aos apontamentos elencados até aqui,
podemos destacar que a expansão da oferta de ensino ocorreu com base em
transformações sociais, políticas e econômicas, as quais nosso estudo não se propõe
analisar. É inegável que as Instituições de Ensino Superior privadas pressionaram o
governo à favorecer seus interesses, uma vez que vivemos em uma sociedade
capitalista. Inegável também, que o ideal seria garantir o acesso, a gratuidade e a
qualidade nas IFES públicas.
Primeiramente foi possível verificar que o Estado, por meio do desenvolvimento
de políticas educacionais vêm buscando contemplar o acesso à educação superior,
embora se caracterizem como políticas compensatórias. É preciso, no entanto, ter
clareza que estes programas não são suficientes, que o investimento em ações que vão
além do acesso são fundamentais para garantir a efetividade nas ações de
democratização.
Contudo, ainda não é possível tirar conclusões definitivas e concretas a respeito
do REUNI e dos resultados que podem ser atingidos por meio de sua aplicação,
entretanto, devemos reconhecer os grandes avanços no processo de conscientização em
relação aos problemas vivenciados no meio acadêmico, principalmente como resultado
dos processos econômicos. Assim, pode-se afirmar que ao longo da história da educação
no Brasil, iniciativas como esta tiveram caráter fundamental no processo de construção
de uma universidade capaz de atender as necessidades dos que nela atuam.
O fenômeno da expansão do Ensino Superior e principalmente das Instituições
Federais de Ensino Superior nos últimos anos, principalmente no Governo Lula, indica
suas implicações na organização das condições gerais de produção, reprodução e
acumulação do capital bem como na proposição de políticas e às demandas sociais.
Por fim, verifica-se que este artigo buscou retratar algumas considerações acerca
do ensino superior no Brasil neste contexto de transformação e expansão das
instituições universitárias, e nos faz questionarmos em que sentido na realidade
brasileira, marcada pelos privilégios aos setores dominantes e exclusão das demais
classes sociais menos favorecidas, a ideia que permeia a expansão da universidade
brasileira mostra-se realmente pautada na democratização do acesso ao ensino superior.

REFERÊNCIAS

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