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CURSO

DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
GRI041 – DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO
Professor Niemeyer Almeida Filho
2017 - 1º semestre
2 a. Prova Parcial (30/100)

Gabarito

Questão aberta 1: Sintetize as proposições de Amartya Sen sobre desenvolvimento, liberdade, capacidades e efetivações.
(10 pontos)

Esses são pares de conceitos. Para Sen, não faz sentido em se falar em desenvolvimento, entendido como combinação
de diferentes processos, progresso, se as melhorias não forem percebidas e concretizadas em nível dos indivíduos.
Ademais, a noção de progresso não é absoluta. De modo que os indivíduos têm aspirações sociais, modos de vida
distintos, que se tornam referência para o progresso social. Neste sentido, a definição de desenvolvimento de Sen é
de exercício de liberdade na escolha de diferentes modos de vida. O segundo par de conceitos tem a ver com esta
ideia. Modos de vida são diferentes combinações de escolhas de atividades socialmente disponíveis. Aquelas que o
indivíduo pode alcançar a partir de suas capacitações ele denomina de efetivações. Tanto mais desenvolvida será uma
sociedade quanto maiores forem as combinações de efetivações que puderem ser feitas pelos indivíduos e isto
depende da abrangência de suas capacidades; de sua habilidade para exercer diferentes atividades. No debate social
contemporâneo as capacidades dependem decisivamente da educação, seja para o trabalho ou para a compreensão
da sociedade.

Questão aberta 2: Trate do conceito de desenvolvimento sustentável. Fale do histórico de sua criação, contrastando com o do
conceito de ecodesenvolvimento. Responda se esses dois conceitos podem ser utilizados como sinônimos, justificando sua
resposta. Utilize os textos de Nobre e Amazonas (2002) e Layrargues (1997). (10 pontos)

No contexto histórico de contestação ao desenvolvimento econômico e sua capacidade de gerar progresso, emerge o
debate a respeito da perversidade que o desenvolvimento capitalista vinha significando para as condições ambientais.
Começando com preocupações do Clube de Roma, politicamente evidenciadas pela Conferência de Estocolmo em
1972, o tema ambiental surge como uma crítica ao capitalismo na visão do Ecodesenvolvimento. Posteriormente, o
Banco Mundial vai engendrar um novo conceito em que este mesmo tema aparece subsumido numa nova visão de
desenvolvimento sustentável. Este foi desenvolvido em nível supranacional. Ele é resultado de um esforço político
internacional de incorporação da temática ambiental sem comprometimento do desenvolvimento/crescimento
econômico. Neste sentido, é um conceito abrangente, que à diferença do de ecodesenvolvimento (pelo menos na sua
origem), não ressalta contradições internas ao processo de desenvolvimento capitalista. Numa palavra,
desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento econômico com preservação ambiental. A sua definição mais
precisa é polêmica, existindo diversas opções, que são resumidas por diversos autores. Contraditoriamente, são
exatamente as fraquezas, imprecisões e contradições do DS que lhe conferem força e aceitação geral. A noção de DS
só conseguiu se tornar universalmente aceita no início dos anos 1990, porque conseguiu reunir sob sua cobertura
posições teóricas e políticas contraditórias e até mesmo opostas.

Questão aberta 3: Há mudanças relevantes o suficiente nas recomendações da CEPAL dos anos 1990 em comparação às suas
recomendações dos anos 1950 para que se afirme que houve inflexão de pensamento? Em outras palavras, a CEPAL de agora é
outra? Mostre na sua resposta em que medida o conceito de “regionalismo aberto” é importante para essa avaliação. Utilize
os textos recomendados na bibliografia do programa. (10 pontos)

Visto na ótica do documento de 2002, a CEPAL percebe a “globalização” como uma das fases históricas de
internacionalização do capitalismo. A característica principal desta fase é gravitação de processos políticos, culturais

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e econômicos (financeiros, por exemplo) de caráter global por sobre aqueles outros de caráter nacional. Segundo ela,
o processo altera as condições de desenvolvimento e inserção internacional das economias, restringindo o papel dos
Estados na liderança e alavancagem do desenvolvimento econômico. Esta nova condição histórica exige adaptações,
sobretudo em favor de regulações de mercado, particularmente em âmbito internacional. As novas condições
históricas podem eventualmente piorar as condições de inserção das economias nacionais da América Latina no
desenvolvimento global, porque o nível e intensidade da concorrência entre os capitais se acirra. Contudo, essas
transformações abrem a possibilidade para avanços das economias nacionais, desde que boas práticas de políticas de
desenvolvimento sejam adotadas. Neste sentido, a “globalização” pode ser um risco ou uma oportunidade. Da mesma
forma, o conceito de “regionalismo aberto” constitui-se numa adaptação das antigas preocupações da CEPAL em
promover a integração econômico das economias da região, apenas mantendo coerência com a perspectiva de que o
comércio internacional deva ser estimulado. No geral, é possível dizer que as recomendações da CEPAL mudaram
significativamente, aproximando-se daquilo que se convencionou chamar de “consenso de Washington”. No meu
artigo de 2011, eu atribuo essas mudanças na natureza das recomendações ao aprofundamento da governança
imposta pelos órgãos centrais da ONU, que dificulta ou mesmo impede proposições independentes dos interesses
diretos dos Estados nacionais.

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