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A SABEDORIA DO PADRE BROWN

OS CONSULTÓRIOS DO DR. ORION HOOD, eminente criminologista e especialista em certas desordens morais,
situavam-se ao longo da beira-mar de Scarborough, numa série de largas janelas francesas que, iluminadas à fartura,
davam a ver o Mar do Norte como se fora este uma interminável parede externa feita dum mármore azul esverdeado.
Num tal lugar, o mar tinha qualquer coisa da monotonia de um rodapé azul-esverdeado: porquanto os cômodos
mesmos eram governados de cabo a rabo por um amanho medonho, qual o amanho medonho do mar. Não se deve
supor que os aposentos do Sr. Hood excluíam o luxo, ou mesmo a poesia. Esta e aquele estavam lá, no lugar que lhes
cabia; mas a gente sentia que jamais se lhes permitia estarem noutro lugar qualquer que não o seu. O luxo lá estava: em
cima duma mesa especial havia oito ou dez caixas dos melhores charutos; porém de tal modo dispostos que os mais
fortes estavam sempre mais perto da porta e os mais fracos, da janela. Um suporte de bebidas, contendo três licores,
todos de uma sobeja finura, estava também sempre na referida mesa; mas dizem as línguas imaginosas que o uísque, o
conhaque e o rum pareciam estar sempre no mesmo nível. A poesia estava lá: via-se no canto esquerdo da sala uma
coleção de clássicos ingleses tão completa quanto a de fisiólogos estrangeiros que se podia ver à sua direita. Mas se
alguém calhasse de tirar um Chaucer ou algum Shelley daquela fileira, o livro não estar lá nos abespinhava a mente, qual
uma janela nos dentes da frente de alguém. Poder-se-ia dizer que os livros não eram nunca lidos; talvez fossem, mas a
impressão que se tinha era que estavam acorrentados aos seus lugares, como as Bíblias nas antigas igrejas. O Dr. Hood
tratava a sua estante de livros privada como se fora uma biblioteca pública. E se esta rígida intangibilidade científica
impregnava até mesmo as estantes cheias de versos e baladas, e as mesas repletas de licores e tabacos, é desnecessário
dizer que ainda maior fartura desta santidade pagã protegia as outras estantes, que continham a biblioteca do especialis-
ta, e as demais mesas, que sustinham os instrumentos frágeis e até feéricos da química e da mecânica.
Dr. Hood palmilhava, de lá para cá e de cá para lá, uma ponta à outra de sua série de aposentos, limitados — como dizem
os livros de geografia juvenis — a leste pelo Mar do Norte e, a oeste, pelas fileiras cerradas de sua biblioteca sociológica
e criminóloga. Se vestia ele uma seda à moda artística, nada tinha da negligência própria aos artistas; seu cabelo era
grisalhíssimo, porém cheio e saudável; tinha um rosto magro, se bem que sanguíneo e auspicioso. Tudo nele e em suas
salas indicava qualquer coisa a um só tempo rígida e inquieta, como aquele grande mar nortenho ao pé do qual (à força
de princípios puramente higiênicos) construíra ele seu lar.
O destino, calhando de estar numa disposição faceira que só, abriu a porta e fez entrar naqueles aposentos longos e
austeros, flanqueados pelo mar, o homem que era talvez o oposto mais pasmoso deles e do seu mestre. Em resposta a
uma convocação, curta se bem que não grossa, eis que se abriu a porta e adentrou a sala uma figurazinha de nada,
andando lerda e trôpega, e que parecia ter o seu próprio chapéu e guarda-chuva na conta de coisas tão intratáveis quanto
uma turba de malas e bagagens. O seu guarda-chuva era um remendo preto e prosaico, já desde muito para além do
alcance de qualquer reparo; o chapéu, tão negro quanto o guarda-chuva, tinha abas largas e curvas, dum estilo clerical
ainda que incomum na Inglaterra; o homem mesmo era a encarnação de tudo quanto é caseiro, cordial e desamparado.
O doutor fitou o recém-chegado num pasmo contido, que não teria sido muito diverso se algum bicho do mar, enorme
ainda que obviamente inofensivo, houvesse rastejado desde as águas para o meio de sua sala. O recém-chegado, por sua
feita, fitou o doutor com aquela afabilidade risonha e esbaforida duma faxineira corpulenta que acabou de conseguir se
enfiar num ônibus. É confusão riquíssima de autocongratulação social e desordem corpórea. O seu chapéu tombou para
o carpete, seu pesado guarda-chuva lhe deslizou entre os joelhos com um baque surdo; ele esticou o braço à cata daquele
e se pôs de cócoras em busca deste, mas com um sorriso intacto e imaculado no rosto redondo falou, simultaneamente,
o que vai a seguir:
— Meu nome é Brown. O senhor me desculpe. Estou aqui por causa daquele negócio dos MacNabs. Ouvi dizer por aí
que o senhor ajuda a tirar a gente desses apuros. O senhor me perdoe se eu estiver errado.
A estas tantas, já ele se agachara todo estabanado e reouvera o chapéu, e se curvou com igual desajeitamento, e lhe fez
um esquisito cumprimento curto e rápido, como se dissipando toda a estranheza.
— Não sei do que o senhor está falando – replicou o cientista, com uma intensidade gélida de modos. – Creio que tenha
confundido as salas. Eu sou o Dr. Hood, e quase todo o meu trabalho é literário e educacional. É bem verdade que, vez

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ou outra, fui consultado pela polícia em casos peculiarmente difíceis e importantes, mas...
— Oh, mas isto aqui é um caso de primeira ordem – interrompeu o homenzinho chamado Brown – Ora, a mãe da moça
não quer deixá-los noivar. – E se reclinou na cadeira, com uma racionalidade radiante.
Franziu-se sombriamente o sobrecenho do Dr. Hood, mas os olhos sob este brilhavam com algo que tanto poderia ser
raiva quanto divertimento. – E ainda – disse ele – não sei do que o senhor está falando.
— Veja bem, eles querem se casar – pôs-se a explicar o homem com o chapéu clerical. – Maggie MacNab e o jovem
Todhunter se querem casar. Agora, o que poderia ser mais importante que isso?
Os grandiosos triunfos científicos de Orion Hood o haviam privado de muitas coisas – uns diziam de sua saúde, outros
de seu Deus; mas não lhe haviam roubado por completo o senso do absurdo. Ao último apelo do simplório padreco,
soltou ele um risinho incontido e se deixou cair numa poltrona, com uma atitude irônica de médico a fazer uma consul-
ta.
— Sr. Brown – disse ele, mui grave – já faz uns bons quatorze anos e meio desde que alguém me pediu, pessoalmente,
que eu resolvesse um problema pessoal: na época, fora o caso de uma tentativa de se envenenar o Presidente da França
num banquete oferecido pelo Prefeito de Londres. Agora, se o entendi corretamente, é uma questão de se alguma amiga
sua, chamada Maggie, é uma noiva apropriada a algum amigo dela chamado Todhunter. Bem, Sr. Brown, eu sou um
esportista. Vou pegar o caso. Hei de dar à família MacNab o meu melhor parecer, e isto com não menos empenho do que
apliquei à República da França e ao Rei da Inglaterra – não; ainda melhor: empenho acrescido de quatorze anos de
experiência. Não tenho mais nada a fazer esta tarde. Conte-me a sua história.
O padreco Brown agradeceu-lhe o obséquio com inquestionável entusiasmo, porém ainda com uma simplicidade algo
esquisita. Era mais como se estivesse agradecendo a um estranho, numa sala de fumar, a mercê de lhe haver emprestado
um fósforo, do que como se estivesse (como estava) agradecendo ao Curador dos Reais Jardins Botânicos de Kew por
acompanhá-lo até um campo para catarem um trevo de quatro folhas. Sem respirar quase após seu afogueado muito
obrigado, o homenzinho começou sua narrativa:
— Eu lhe disse que meu nome é Brown; bem, esse é o fato. Sou o pároco da igrejinha católica, suponho eu conhecida do
senhor, que fica para lá daquelas ruas embaralhadas, onde a cidade vai acabar, na direção norte. Na última dessas ruas,
aliás a mais embaralhada de todas, que se estica paralela ao rio como se fosse um calçadão, mora uma ovelha do meu
rebanho, a viúva chamada MacNab. Senhora muito honesta, mas dum temperamento fortíssimo. Ela tem uma filha, e
uns quartos para alugar, e entre ela e a filha, e entre ela e os inquilinos – bem... digamos que há muito para se dizer a favor
de ambos os lados. Atualmente, tem apenas um inquilino, o jovem chamado Todhunter; mas este sozinho lhe tem dado
mais trabalho do que todo o resto, pois quer se casar com a jovem da casa.
— E a jovem da casa – perguntou o Dr. Hood, num divertimento enorme e silencioso – o que ela quer?
— Ora, ela quer se casar com ele – clamou o Pe. Brown, pondo-se ereto na poltrona, afogueado. – Essa é justamente a
complicação medonha da coisa.
— É, de fato, um enigma tenebroso – disse o Dr. Hood.
— Este jovem James Todhunter – continuou o clérigo – é um homem bastante decente, até onde eu saiba; mas, bem,
ninguém sabe muita coisa mesmo. É um sujeitinho inteligente e trigueiro, ágil como um macaco, dum rosto liso como
o de um ator e obsequioso como um cortesão nato. Parece ser bem endinheirado, mas ninguém sabe qual é o seu ramo
de negócios. A Sra. MacNab, portanto (senhora de têmpera pessimista), está certa de que é algo terrível, e quase certa de
que qualquer coisa ligada a dinamites. Mas as dinamites talvez sejam de uma espécie tímida e silenciosa, já que o pobre
diabo só o que faz da vida é se enfiar no quarto por várias horas a fio e estudar algo atrás de uma porta trancada. Diz ele
que a sua privacidade é temporária e justificada, e promete explicá-la antes do casamento. Aí está tudo quanto se sabe ao
certo, mas a Sra. MacNab lhe dirá muito mais do que até mesmo ela está certa. O senhor sabe como é: a imaginação fértil
vai acrescentando pontos ao conto. Há histórias de gente que diz ter ouvido duas vozes falando no quarto; muito
embora, quando a porta é aberta, Todhunter esteja sempre sozinho. Há histórias sobre um homem, alto e misterioso, a
usar uma cartola de seda, que certa feita no lusco-fusco saiu de entre as brumas do mar, e aparentemente do mar mesmo,
pisando macio nas areias e no jardim dos fundos, até que o ouviram conversar com o inquilino na sua janela aberta. O
colóquio parece ter acabado numa bulha. Todhunter fechou a sua janela com violência, e o homem com a cartola de seda
se desvaneceu uma vez mais nas brumas. A família conta essa história com a mais violenta mistificação; mas eu
realmente creio que a Sr. MacNab prefere o seu próprio conto original: que o Outro Homem (ou seja lá o que for) rasteja,
todas as noites, da caixa enorme no canto do quarto, que fica trancada o dia inteiro. Bem se vê, portanto, como esta porta
trancada do Todhunter é tida na conta de portal de todas as quimeras e monstruosidades d’As Mil e Uma Noites. E,
contudo, lá está o sujeito com seu blazer preto, respeitabilíssimo, tão inocente e pontual quanto um relógio de cuco. Paga
o seu aluguel em dia; é praticamente um abstêmio; é incansavelmente gentil com as criancinhas pequenas e pode diver-
ti-las por um dia inteiro; e, por último e mais urgente, se fez um tanto popular com a filha mais velha, que está pronta a

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ir para a igreja junto com ele amanhã.


A um homem que entusiasticamente esteja às voltas com quaisquer teorias abrangentes sempre lhe apraz aplicá-las à
menor banalidade. O grande especialista, após dignar-se a ouvir a narrativa simplória do padreco, fez-se paternalista
mais às claras. Arrumou-se, confortavelmente, em sua poltrona, e começou a falar no tom de um palestrante algo
distraído:
— O melhor a se fazer, e não menos num caso insignificante, é nos atermos primeiro às principais tendências da
Natureza. Uma flor particular pode não estar morta no início do inverno, mas as flores estão a morrer; um seixo em
particular pode escapar à maré, mas a maré está vindo. Para o olhar científico, toda a história humana não é senão uma
série de movimentos coletivos, de destruições ou migrações, como o massacre de moscas no inverno ou a volta das aves
na primavera. Ora, o fato que está na raiz de toda a história é a Raça. A Raça produz a religião; a Raça produz as guerras
legais e éticas. Não há melhor exemplo do que o rebanho selvagem e místico, ora a perecer, a que chamamos comumente
os Celtas, do qual suas amigas as MacNabs são espécimes. Uma gente pequena, trigueira, com este sangue sonhador e
errante correndo nas veias, aceitam elas muito facilmente a explicação supersticiosa de quaisquer incidentes, assim
como ainda aceitam (e o senhor me vá perdoar por dizê-lo) aquela explicação supersticiosa para todos os incidentes que
o senhor e a sua Igreja representam. Não é de espantar que uma tal gente, com o mar gemendo às suas costas e a Igreja
(perdoe-me mais uma vez) zunindo à sua frente, acrescentasse características fantásticas a eventos provavelmente
comuns. O senhor, com suas pequenas responsabilidades paroquiais, enxerga apenas esta Sra. MacNab particular,
apavorada com este conto particular sobre duas vozes e um homem alto saído do mar. Porém o homem dotado de imag-
inação científica vê, por assim dizer, todos os clãs de MacNab espalhados ao redor do mundo, tão uniformes em sua
média final quanto um bando de pássaros. Vê milhares de Sras. MacNabs, em milhares de casas, pondo sua gotinha de
morbidez nas xícaras de chá dos seus amigos; vê ele...
Antes de o cientista conseguir terminar sua frase, uma outra convocação, esta já impaciente, fez-se ouvir de lá fora;
alguém com uma saia a sibilar foi conduzida afobadamente pelo corredor e a porta se abriu para uma jovem, vestida
decentemente, mas desgrenhada e abraseada pela pressa. Era loura, com uns cabelos esvoaçados pela brisa do mar, e
seria perfeitamente linda se os ossos de suas bochechas não fossem, à moda escocesa, um pouco proeminentes demais
e algo rosadas demais. Sua desculpa foi quase tão brusca quanto uma ordem.
— Perdoe-me por interrompê-lo, senhor – disse ela – mas eu tinha de vir atrás do Pe. Brown imediatamente; é questão
de vida ou morte.
O Pe. Brown, azafamado, começou a se pôr de pé algo perdido – Mas o que aconteceu, Maggie? – disse ele.
— James foi assassinado, até onde eu consigo entender alguma coisa – respondeu a garota, ainda ofegante pela corrida.
– Aquele homem, o Glass, estava com ele de novo; eu os ouvi conversando, através da porta. Duas vozes separadas: pois
James fala baixo, a murmurar quase, e a outra voz era estridente e trêmula.
— Aquele homem Glass? – repetiu o padre, um tanto perplexo.
— Eu sei que ele se chama Glass – respondeu a garota, impaciente – ouvi-o pela porta. Estavam discutindo — sobre
dinheiro, eu acho —, pois ouvi o James dizer de novo e de novo ‘Está bem, Sr. Glass’, ou ‘Não, Sr. Glass’, e depois ‘Dois
ou três, Sr. Glass’. Mas estamos falando demais aqui; vocês têm de vir imediatamente, que ainda pode haver tempo.
— Mas tempo para quê? – quis saber o Dr. Hood, que viera analisando a jovem com visível interesse. – O que há com
este Sr. Glass e seus problemas com dinheiro que exija tamanho afã?
— Eu tentei arrombar a porta e não consegui – respondeu a moça, curta e grossa – então corri até o quintal dos fundos,
e consegui subir até o parapeito da janela com vista para o quarto. Estava tudo escuro lá dentro, e parecia estar vazio; mas
eu juro ter visto James, em posição fetal, num canto, como se houvesse sido drogado ou enforcado.
— Isso é seríssimo – sentenciou o Pe. Brown, catando seu chapéu e guarda-chuva errantes e pondo-se de pé – a dizer a
verdade, estava agorinha apresentando o seu caso cá a este cavalheiro, e a sua visão...
— Se alterou por completo – emendou o cientista, gravemente. – Não creio que esta jovem seja tão céltica quanto eu
supusera. Como não tenho nada mais a fazer, vou apenas pôr meu chapéu e acompanha-los à cidade.
Daí a uns poucos minutos, já os três se estavam achegando da ponta tristonha da rua dos MacNabs: a moça com a passa-
da sisuda e hirta dum montanheiro, o criminologista com uma graça gandaieira (que não estava desprovida de certa
agilidade felina), e o padreco num trote enérgico inteiramente desprovido de distinção. O aspecto desta ponta da cidade
fornecia lá as suas justificativas para as alusões do doutor a humores e ambientes desolados. As casas debandadas iam
ficando cada vez mais distantes umas das outras, numa fileira interrompida ao longo da praia; a tarde vinha caindo num
crepúsculo prematuro e algo lúgubre; o mar estava tingido de púrpura, e murmurava ominoso. No quintal dos fundos
dos MacNabs, pedaço de terra desalinhado que descia até a areia, duas árvores negras, tétricas e infrutíferas, se erguiam
do solo qual mãos de demônios postas no ar à força de um susto, e quando a Sra. MacNab desabalou rua abaixo para
encontrá-los, com as mãos ossudas também para o alto e seu rosto selvagem sob as sombras, ela própria parecia um

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pequeno demônio. O doutor e o padre quase nada disseram em resposta às suas esganiçadas reiterações da história de
sua filha, com alguns outros tantos detalhes perturbadores, seus próprios, unidos aos votos repartidos de vingança
contra o Sr. Glass pelo assassinato, e contra o Sr. Todhunter por se deixar assassinar, ou contra este último por ter ousado
querer se casar com sua filha, e por não ter vivido para fazê-lo. Atravessaram a passagem estreita na frente da casa até
chegarem na porta do inquilino, nos fundos, e ali o Dr. Hood, com a manha dum detetive já macaco velho, atirou-se de
ombro contra o peito da porta e a arrombou.
Esta se abriu e deixou ver um cenário de catástrofe silenciosa. Ninguém que o visse, ainda que por um segundo, poderia
duvidar ter sido o cômodo o teatro de alguma colisão dramática entre duas, ou talvez mais, pessoas. Cartas de baralho
empilhadas sobre a mesa ou espalhadas pelo chão, como se um jogo houvera sido interrompido no meio. Duas taças
jaziam prontas para um vinho numa mesa de canto, mas uma terceira jazia espatifada numa estrela de cristal no carpete.
A uns poucos metros, via-se o que parecia ser uma faca longa ou espada curta; reta, mas com um punho ornamental e
pintado, sua lâmina cega a refletir a luz morta da janela atrás, que mostrava as árvores escuras recortadas contra o
horizonte plúmbeo do mar. Do outro lado do quarto uma cartola de seda rolara pelo chão, como se acabara de ter sido
arrancada à cabeça dum cavalheiro; e tanto era assim, de fato, que a gente quase tinha a impressão de que ela ainda estava
rolando. E no canto atrás da cartola, jogado como um saco de batatas, mas amarrado como uma bagagem de trem, jazia
o Sr. James Todhunter, com um cachecol à roda da boca e mais umas seis ou sete cordas amarradas ao redor de seus
cotovelos e tornozelos. Seus olhos castanhos estavam esbugalhados e se revolviam, alertas.
O Dr. Orion Hood estacou por um instante sobre o capacho e apenas sorveu todo o cenário de silenciosa violência.
Depois, a passos largos atravessou o carpete, tomou a cartola alta de seda e com toda a gravidade do mundo colocou-a
na cabeça do ainda amarrado Todhunter. A coisa era muito grande para ele, e tanto assim que quase lhe deslizou até os
ombros.
— O chapéu do Sr. Glass – disse o doutor, voltando com o acessório nas mãos e analisando o seu interior com uma lupa
de bolso – Como explicar a ausência do Sr. Glass e a presença do chapéu do Sr. Glass? Pois o Sr. Glass não é homem de
vestuário desleixado. Este chapéu é da alta moda, e coisa sistematicamente escovada e lustrada, se bem que já esteja um
bocado puído. Um velho janota, eu diria.
— Mas, por Deus! – clamou a srta. MacNab – você não vai soltá-lo primeiro?
— Digo “velho” de propósito, ainda que não com certeza – continuou o expositor; – a minha razão para fazê-lo pode
parecer um pouco forçada e implausível. O cabelo dos seres humanos cai em vários níveis e razões diversas, mas quase
sempre cai diminutamente, e com a lupa eu deveria ser capaz de ver os fiozinhos minúsculos num chapéu usado há
pouco. Este não tem nenhum, o que me leva a supor que o Sr. Glass é careca. Ora, quando aduzimos ao fato a voz
estridente e rixosa descrita tão vividamente pela srta. MacNab (paciência, minha cara senhorita; paciência); quando
consideramos a cabeça sem cabelos junto do tom comum à raiva senil, creio ser seguro supormos algum avanço de anos.
Não obstante, era provavelmente vigoroso, e quase certamente alto. Eu me poderia fiar, ao menos em alguma medida,
na história de sua prévia aparição à janela, como um homem com uma alta cartola de seda, mas creio ter indícios mais
exatos. Esta taça foi espatifada e está espalhada por todos os cantos, mas um de seus estilhaços está na arandela, ao lado
da cornija da lareira. Fragmento algum poderia ter caído ali se o cálice houvesse sido esmagado nas mãos de um homem
comparativamente baixo como o Sr. Todhunter.
— Por falar nisso — disse o Pe. Brown — não seria boa ideia desamarrar o Sr. Todhunter?
— A lição a ser extraída das taças ainda não acabou — prosseguiu o especialista. — Posso afirmar, e isto imediatamente,
que se possa atribuir a calvície ou o nervoso do referido Glass à dissipação, e não à idade. O Sr. Todhunter, como já se
fez notar, é cavalheiro manso e parcimonioso, essencialmente um abstêmio. Estas cartas e taças não fazem parte de seus
hábitos normais; foram produzidas para uma companhia particular. Mas, a bem dizer, podemos ir ainda mais longe. O
Sr. Todhunter pode ter, como não pode ter, este aparato vinícola, mas não há indícios de ele possuir qualquer vinho. O
quê, então, deveriam estas taças comportar? Eu sugeriria algum conhaque ou uísque, talvez de uma espécie luxuosa,
guardado num cantil no bolso do Sr. Glass. E assim ficamos nós, portanto, com uma imagem do homem, ou ao menos
com o seu tipo: alto, velho, aprumado se bem que já algo puído, por certo um apreciador de jogos e bebidas; talvez
apreciador exagerado. O Sr. Glass é um cavalheiro não desconhecido nas margens da sociedade.
— Olha aqui — berrou a moça — se você não me deixar passar para desamarrá-lo eu vou sair lá fora e gritar pela
polícia!
— Eu não a aconselharia, srta. MacNab — disse o Dr. Hood, mui grave — a ter qualquer pressa para chamar a polícia.
Pe. Brown, peço-lhe, e isto com muita seriedade, que acalme o seu rebanho. Para o bem deles, não para o meu. Bem, já
vimos algo sobre a figura e a qualidade do Sr. Glass; agora, quais são os principais fatos sabidos acerca do Sr. Todhunter?
São, substancialmente, três: que é econômico, que é mais ou menos rico e que tem um segredo. Ora, certamente está
claro que se tem aí as três principais marcas do tipo de homem que é chantageado. E, por certo, é igualmente óbvio que

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a languescida elegância, os hábitos perdulários e a irritação esganiçada do Sr. Glass são as marcas inequívocas da espécie
de homem que o chantageia. Temos as duas figuras típicas duma tragédia de extorsão vigarista: por um lado, o homem
respeitável com um mistério; pelo outro, o abutre de West-end com um faro para o mistério. Estes dois homens se
encontraram aqui hoje, discutiram, trocaram socos e se valeram de um punhal.
— Você vai tirar essas cordas? — voltou à carga a jovem, teimosamente.
O Dr. Hood devolveu, cuidadosamente, o chapéu ao lado da mesa, e foi até o cativo. Pôs-se a estudá-lo atentamente,
chegando mesmo a movê-lo um tanto e girá-lo pelos ombros, mas respondeu apenas:
— Não; estas cordas me parecem que farão um bom serviço até que a polícia traga as algemas.
O Padre Brown, que estivera fitando estupidamente o carpete, levantou o rosto redondo e disse: — O que você quer
dizer?
O homem de ciência pegara o peculiaríssimo punhal-espada do carpete e o estava analisando escrupulosamente,
quando respondeu:
— Vocês encontram o Sr. Todhunter amarrado — disse ele — e já têm por certo que o Sr. Glass o amarrou e, depois,
suponho eu, escapuliu. Há quatro objeções a isso: primeiro, por que um cavalheiro tão elegante quanto o nosso amigo
Glass haveria de deixar seu chapéu para trás, se foi embora de livre e espontânea vontade? Segundo — prosseguiu ele,
indo até a janela — esta é a única saída, e está trancada por dentro. Terceiro, esta lâmina aqui tem uma manchinha
minúscula de sangue na ponta, mas não há no Sr. Todhunter qualquer ferida. O Sr. Glass levou consigo essa ferida,
morto ou vivo. Acrescente-se ao já dito esta probabilidade primária: é muito mais provável que o chantageado fosse
tentar matar seu algoz, do que o algoz tentar matar o ganso que lhe haveria de botar o ovo de ouro. Aí, creio eu, temos
uma história bastante completa.
— Mas e as cordas? — inquiriu o padre, cujos olhos se haviam mantido esbugalhados com uma admiração algo
inexpressiva.
— Ah, as cordas — respondeu o especialista, com uma entonação singular. — A srta. MacNab queria muitíssimo saber
por que eu não libertei o Sr. Todhunter de suas cordas. Bem, eu direi à senhora. Não o fiz porque o próprio Sr. Todhunter
se pode libertar delas, quando quiser.
— O quê? — gritou a audiência, em diversas notas e tons de espanto.
— Eu conferi todos os nós no Sr. Todhunter — reiterou Hood, tranquilamente. — Eu calho de saber uma coisinha ou
duas sobre nós; são eles um ramo e tanto da ciência criminal. Cada um destes nós foi feito por ele mesmo e poderiam
ser desfeitos por ele mesmo; nenhum deles teria sido feito por um inimigo realmente tentando prendê-lo. Toda esta
história das cordas é uma engenhosa empulhação para nos fazer pensar que a vítima da luta foi ele, e não o pobre diabo
do Glass, cujo cadáver pode estar escondido no jardim ou enfiado na chaminé.
Caiu um silêncio deprimente; o quarto vinha escurecendo, e os galhos das árvores do jardim, mirrados pelo mar, pareci-
am mais raquíticos, estéreis e negros do que nunca. Contudo, pareciam se ter achegado da janela. Poder-se-ia quase
imaginar que eram monstros marinhos, como krakens ou chocos, pólipos retorcidos que haviam rastejado desde o mar
para assistir ao remate desta tragédia, como ele, seu vilão e vítima, o homem terrível com a cartola alta, certa feita raste-
jara de sob as águas. Pois o ar mesmo estava pesado com a morbidez da chantagem, a coisa humana mais mórbida que
há, vez que é um crime acobertando outro crime; um emplastro negro posto numa ferida ainda mais negra.
A fisionomia do padreco católico, geralmente complacente e mesmo cômica, de súbito se enrugara com um curioso
franzido. Já não era a curiosidade pasmada de sua primeira inocência. Antes, era aquela curiosidade criativa que surge
quando estão ocorrendo a um homem os primórdios de uma ideia. — Diga isso de novo, por favor — disse ele, de modo
simples, algo aborrecido — o senhor quer dizer que Todhunter se pode amarrar a si mesmo sozinho e se desamarrar a
si mesmo sozinho?
— É isso o que quero dizer — afirmou o doutor.
— Jerusalém! — exclamou Brown, de repente — Será que poderia ser isso?
Saiu desabalado pela sala, como um coelho, e fitou com uma impulsividade toda nova o rosto parcialmente coberto do
cativo. Depois, voltou a sua própria cara de bolacha para o grupo. — Sim, é isso! — clamou ele, excitado. — Vocês não
conseguem ver no rosto do sujeito? Ora, vejam os seus olhos!
Tanto o professor quanto a garota seguiram o seu olhar. E, conquanto o cachecol preto enorme cobrisse por completo a
metade de baixo da fisionomia de Todhunter, todos notaram qualquer coisa de esforçada e intensa na sua metade de
cima.
— Os olhos dele realmente parecem estranhos — disse a jovem, estranhamente comovida. — Seus brutos; essas cordas
estão machucando ele!
— Não é isso, me parece — afirmou o Dr. Hood; — os olhos certamente carregam uma expressão singular. Mas eu
interpretaria estas suas rugas transversais como expressões antes de certa anormalidade psicológica...

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— Oh, baboseira! — explodiu o Padre Brown. — Não veem que ele está rindo?
— Rindo! — repetiu o doutor, com um sobressalto; — mas de que diabos ele poderia estar rindo?
— Bem — replicou o Reverendo Brown, com um ar de desculpa — não que isto seja assim muito importante para o
caso, mas creio que ele esteja rindo do senhor. E, de fato, eu próprio também estou inclinado a rir, agora que sei da coisa.
— Agora que sabe de quê? — quis saber Hood, algo exasperado.
— Agora que eu sei — respondeu o padre — qual é a profissão do Sr. Todhunter.
E se pôs a andejar de um lado para o outro no quarto, olhando um objeto após o outro com o que parecia ser um fitar
estúpido, e depois desatando numa gargalhada igualmente estúpida, processo altamente azucrinante para quem tinha de
assisti-lo. Ele se riu à beça do chapéu, gargalhou ainda mais escandalosamente com a taça espatifada, mas foi o sangue
na ponta da espada que lhe causou convulsões mortais de divertimento. Depois, se voltou para o efervescente especialis-
ta.
— Dr. Hood — clamou ele, entusiasmado que só — és um grande poeta! Convocaste um ser incriado para fora do
vazio. Quão mais divino é isto do que se o senhor houvesse trazido a lume apenas os fatos puros e simples! A dizer a
verdade, os simples fatos são, comparativamente, bem comezinhos e cômicos.
— Não tenho noção alguma do que o senhor pode estar querendo dizer — respondeu, altivo, o Dr. Hood — meus fatos
são todos inevitáveis, conquanto forçosamente incompletos. Pode-se permitir um espaço à intuição, talvez (ou à poesia,
se se preferir o termo), mas apenas porque os detalhes correspondentes não podem ainda ser apurados. Na ausência do
Sr. Glass...
— Aí está, aí está — disse o padrezinho, concordando avidamente — eis a primeira ideia a ser consertada; a ausência
do Sr. Glass. Ele está tão extremamente ausente. Suponho — acrescentou, reflexivo — que nunca houve alguém tão
ausente quanto o Sr. Glass.
— Quer o senhor dizer que ele está ausente da cidade? — exigiu saber o doutor.
— Quero dizer que ele está ausente de todos os lugares — respondeu o Pe. Brown; — está ausente, por assim dizer, da
Natureza das Coisas.
— O senhor quer dizer, a sério — disse o especialista, com um sorriso —, que não existe uma tal pessoa?
O padre fez com a cabeça que sim. — Parece ser mesmo uma pena — disse ele.
Orion Hood explodiu numa gargalhada desdenhosa. — Bem —, disse ele — antes de prosseguirmos às demais cento e
uma evidências, analisemos a primeira prova que encontramos; o primeiro fato com qual topamos ao entrar nesta sala.
Se não há um Sr. Glass, de quem é este chapéu?
— É do Sr. Todhunter — replicou o Pe. Brown.
— Mas não lhe serve — protestou Hood, impaciente — ele não teria como usá-lo!
Padre Brown meneou a cabeça com inefável benignidade. — Eu nunca disse que ele teria como usá-lo — respondeu o
sacerdote. — Eu disse que era seu chapéu. Ou, se o senhor insiste numa nuança de significado, um chapéu que é dele.
— E onde está a tal nuança? — quis saber o criminologista, com um sorrisinho zombeteiro.
— Meu bom senhor — bradou o homenzinho, com seu primeiro gesto aparentado à impaciência — se o senhor fizer o
obséquio de se dirigir até a loja de chapéus mais próxima, irá descobrir que existe, no linguajar comum, uma diferença
entre o chapéu de um homem e um chapéu que é seu.
— Mas um chapeleiro — protestou Hood — pode conseguir dinheiro com seu estoque de novos chapéus. O que
Todhunter conseguiria com este único chapéu velho?
— Coelhos — replicou o Padre Brown, de imediato.
— Como é? — clamou o Dr. Hood.
— Coelhos, fitas, doces, peixinhos dourados, rolos de papel colorido — desembestou a falar, rapidamente, o venerável
cavalheiro — Será possível que o senhor não tenha sacado tudo ao ver as cordas falsas? É a mesmíssima coisa com a
espada. O Sr. Todhunter não tem um só arranhão, como você diz; mas tem um arranhão dentro de si, se é que o senhor
me entende.
— Você quer dizer dentro das roupas do Sr. Todhunter? — exigiu saber a Sra. MacNab, malcriada.
— Não quero dizer dentro das roupas do Sr. Todhunter — replicou o Padre Brown — quero dizer dentro do Sr.
Todhunter.
— Mas com mil diabos, o que isso quer dizer?
— O sr. Todhunter — pôs-se a explicar o Padre Brown, placidamente — está praticando para se tornar um mágico
profissional, bem como um malabarista, um ventríloquo e um especialista no truque da corda. A mágica explica o
chapéu. A coisa não tem qualquer sinal de cabelos, não porque seja usada pelo prematuramente calvo Sr. Glass, mas
porque nunca foi usada por ninguém. O malabarismo explica as três taças, as quais o Sr. Todhunter estava aprendendo
a jogar para cima e pegá-las no ar. Como, porém, ainda está treinando, acabou por espatifar uma delas contra o teto. E

6
A SABEDORIA DO PADRE BROWN

o malabarismo explica também a espada, que o Sr. Todhunter tinha por dever e glória profissionais enfiar goela abaixo.
Mas, de novo, estando ainda no nível da prática, muito de leve acabou ferindo o interior de sua garganta com a arma.
Daí que ele tenha uma ferida dentro de si, escoriação que certamente (a julgarmos pela expressão no seu rosto) não é
séria. Vinha ele praticando, além disso, o truque de se escapulir das cordas, como os Irmãos Davenport, e estava prestes
a se libertar quando nós todos irrompemos na sala aos tropeços e berros. As cartas, é claro, são para truques com cartas,
e estão espalhadas no chão precisamente porque ele estivera praticando uma daquelas ilusões de mandá-las todas
voando pelos ares. Apenas, tinha de manter o seu ofício em segredo porque tinha de manter seus truques em segredo,
como qualquer outro mágico. Mas o simples fato de um desocupado qualquer, a usar uma cartola de seda, ter uma vez
espiado pela sua janela dos fundos, e ter sido expulso por ele com grande indignação, foi o quanto bastou para nos
colocar a todos no caminho errado do romance e nos fazer imaginar toda a sua vida obscurecida pelo espectro sedoso
dum Sr. Glass.
— Mas e as duas vozes? — perguntou Maggie, fitando-o.
— Você nunca ouviu um ventríloquo? — perguntou o Pe. Brown. — Será possível que você não saiba que eles falam
primeiro na sua voz natural, e depois respondem a si mesmos naquela voz esganiçada, estridente e antinatural que vocês
ouviram?
Caiu um longo silêncio, e o Dr. Hood fitou o homenzinho que acabara de falar com um sorriso sombrio e atento. — O
senhor é certamente bastante engenhoso — disse ele; — a coisa toda não poderia ter sido feita melhor num livro. Mas
existe apenas uma pequenina parte do Sr. Glass que você não conseguiu justificar, e esta é o seu nome. A srta. MacNab
distintamente o ouvir ser assim chamado pelo Sr. Todhunter.
O Rev. Sr. Brown não conteve um risinho um tanto infantil. — Bem, quanto a isso — disse ele —, eis aí a parte mais
boba de toda a história boba. Quando o nosso amigo malabarista aqui jogava os três copos, um de cada vez, contava-os
em voz alta ao pegá-los, e também comentava em voz alta quando não os pegava. O que ele realmente disse foi: “Um,
dois e três — perdi um copo um, dois — perdi um copo”¹. E por aí vai.
Caiu ainda um segundo silêncio imóvel na sala. E então, ao mesmo tempo e quase no mesmo fôlego, todos fizeram um
só coro de gargalhadas. Enquanto se acabavam de rir, a figura no canto complacentemente desenrolou todas as cordas e
as deixou cair num gesto todo teatral. Depois, avançando até o meio da sala com uma mesura, sacou do bolso um
enorme cartaz, vermelho e azul, que anunciava que ZALADIN, o Maior Mágico, Contorcionista, Ventríloquo e Canguru
Humano do Mundo estaria pronto, com uma nova série de truques, no Empire Pavilion em Scarborough, na próxima
segunda-feira precisamente às oito horas de noite.

¹ Em inglês, para copo — ou taça, termos que Chesterton vai intercalando — usa-se o termo “glass”. O nome do sujeito que todos criam existir era “Mister Glass”. O Pe. Brown diz, porém, que
na verdade o tal “Mister Glass” era, na verdade, “missed a glass” — o “perdi um copo” da nossa tradução. Isto é, o pessoal todo havia trocado, por um lado, o som de missed por Mister, e, pelo
outro, o sentido de glass, como se este fora o nome de alguém e não, pura e simplesmente, um copo — ou taça.

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