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ISBN: 978-85-92592-57-8
VIEIRA, Victor. Universidades federais devem ter corte de até 45% nos
investimentos. Disponível em: <http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,federais–devem–ter–
corte–de–ate–45–nos–investimentos,10000068526 >. Com acesso em 20.10.16.
uma rede de fundações de direita sediada nos Estados Unidos, a Atlas Network,
e usado como que uma estratégia de marca para os propósitos daquelas organi-
zações atuarem aqui na desestabilização do governo da presidente Dilma. Muito
investimento financeiro foi realizado no treinamento e cooptação de jovens,
como aquele negro que aparecia na TV se dizendo ser contrário à política de co-
tas (AMARAL, 2016, pp. 49–54).
A mídia, formando o Partido da Imprensa Golpista – PIG, se encarregou
de plantar um verdadeiro ódio na população, em especial e de novo, as chama-
das “classes médias” urbanas, constituíram–se no elemento fundamental de ma-
nipulação. As chamadas Jornadas de Junho de 2013 (20), manifestações
contrárias e antagônicas de forças sociais e políticas, foram bem uma prévia do
que viria pela frente.
Bem, o caminhar resumidíssimo por alguns aspectos da história do Brasil
é suficiente para que nos municiemos de básicas informações que agora destaco:
a) nunca houve na história do Brasil a construção de uma sociedade política que
perseguisse firmemente e de maneira contínua a construção de uma democracia
burguesa. Não foi assim na colonização, não foi assim no Império e não foi assim
na República. Então, mesmo essa democracia limitada, porque burguesa, não é
o forte da prática da vida social brasileira. Prevalece a vigência de uma socieda-
de conservadora e reacionária estruturalmente. Não é nem mesmo a questão de
uma legislação democrática, pois embora ela possa existir, a sociedade não a
executa; b) as desigualdades sociais, raciais e de gênero são impeditivas para a
construção democrática e, c) os antagonismos que afloraram na luta de classes
foram sempre resolvidos por golpes políticos, ditaduras e repressão. Assim, o re-
torno a essas práticas que se tornaram “triviais” não deve nos pegar de surpresa,
embora houvesse esperanças de que elas não mais aconteceriam. De Collor a
Dilma houve avanços e especialmente no transcorrer do governo de Lula, com
várias políticas sociais e inclusivas que despertaram a atenção do mundo. Não é
irrelevante que no período se tenha tido um presidente de origem operária e,
também pela primeira vez, uma mulher. Não é um fato menor que ambos te-
nham sido reeleitos democraticamente. Agora, não se trata aqui de fazer qual-
quer defesa dos atos e ações dos dois últimos governantes, caso mereçam repri-
mendas legais, mas de tentar defender uma prática democrática que não pode
ser rompida pelo inconformismo dos partidos e classes reacionárias que não assi-
milaram os resultados eleitorais.
No dizer de Löwy (2016, p.62) a esquerda ganhou eleições em vários
países latino–americanos no início do século XXI como que reagindo aos des-
mandos das políticas neoliberais dos governos anteriores. Entretanto, há que se
diferenciarem os governos de esquerda que optaram por coalizões social–liberais,
“que não rompem com os fundamentos do ‘Consenso de Washington’ e conse-
guem adotar medidas progressistas. “O princípio básico desse tipo de governo é
fazer tudo o que é possível para melhorar a situação dos pobres, com a condição
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de não tocar nos privilégios dos ricos…” Foi o caminho percorrido por governos
do Uruguai, Chile e Brasil, antes da crise. E os governos “antioligárquicos, anti-
neoliberais e anti–imperialistas, que colocam como horizonte histórico o ‘socialis-
mo do século XXI”, como Venezuela, Bolívia e Equador.
Pelos últimos acontecimentos, entretanto, lamento dizer que, no momen-
to, estamos retornando às trevas dos desmandos que só ocorrem em situações de
regimes ditatoriais. Quem viveu a ditadura imposta à sociedade brasileira pelo
movimento civil–militar e imperialista de 1964 e, contra ela lutou, como muitos
de nós, sabe perfeitamente do que estou falando. Viver sob o arbítrio é sempre
muito desumano, pois se desrespeita os direitos fundamentais adquiridos pelas
lutas sociais travadas entre as classes sociais antagônicas e decorrentes da incon-
certável sociedade de modo de produção capitalista. Não tem sido fácil descons-
truir o autoritarismo das estruturas herdadas dos anos da última ditadura e ainda
considerando que, parte dela, se encontra encarnada nas estruturas da sociedade
atual. Como exemplo verifique–se o militarismo das polícias e o Estado repressor
sempre presente no constrangimento dos movimentos sociais, inclusive, nos últi-
mos tempos, contra os movimentos e as manifestações de estudantes e professo-
res. E hoje, em 2016,
Como na campanha do início dos anos 1960, as famílias que contro-
lam as grandes mídias nacionais assumiram um protagonismo político
decidido, sob a liderança dos Marinho. Na televisão, foram sucessivas
edições do ‘Jornal Nacional’ voltadas a destruir Lula – com o objetivo
de criminalizá–lo a ponto de impedir sua candidatura nas eleições de
2018, o PT e, finalmente, Dilma…
O ‘Jornal Nacional’ foi o principal instrumento da campanha, em arti-
culação com a tropa de procuradores e delegados sob a liderança do
juiz Sérgio Moro, em Curitiba. Na véspera do verdadeiro seqüestro de
Lula, travestido de ‘condução coercitiva’ pela Polícia Federal em 5 de
março de 2016, houve uma edição histórica do ‘JN’: quarenta minutos
de massacre sistemático ao principal líder popular do país desde Getú-
lio Vargas (LOPES,2016).
Enfim, “O que a tragédia de 1964 e a farsa de 2016 têm em comum é
o ódio à democracia. Os dois episódios revelam o profundo desprezo
que as classes dominantes brasileiras têm pela democracia e pela vonta-
de popular” (LÖWY, 2016, p.66).
Assim que saiu a decisão do Senado Federal acolhendo o processo de
impedimento da gestão da Presidente Eleita, D. Rousseff, em 12 de maio de
2016, o Coordenador do Fórum Nacional de Educação, Heleno Araújo, com a
anuência do seu Pleno, divulgou reafirmando, em forma de Carta Aberta, a nota
pública n. 39, já redigida em primeiro de abril do mesmo ano. É conveniente re-
lembrarmos alguns dos aspectos lá contidos, pois passou a ser eminente o risco
de retrocessos nos direitos sociais, com destaques para a educação:
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NOTAS.
21– a PEC 241, foi transformada em 55, para tramitar no Senado como propos-
ta do Poder Executivo. Acabou sendo aprovada em 13/12/2016. Matéria escla -
recedora é de autoria de DRUMOND, C. Entenda o que está em jogo com a
aprovação da PEC 55. www.cartacapital.com.br Consulta em 24/12/2016.
22– Evidentemente eu gostaria de ter falado muito mais sobre a nossa caminha-
da educacional. Não foi possível. Para a apresentação no CEVS, como informa-
do aqui em nota, apenas me concentrei nos riscos do imediato. Riscos de gran-
des retrocessos. Por outro lado, preparando e atualizando no possível o presente
texto para sua divulgação pela NAVEGANDO, e é claro, essa é uma inserção
posterior, inúmeras manifestações se apresentaram no cenário educacional sobre
as reformas em pauta. Destaco as entidades, os intelectuais da educação, mas
em especial o Movimento dos Estudantes Secundaristas dedicados ao “ocupa,
ocupa, ocupa e resiste”. Estou acompanhando com espanto, alegria e esperan-
ças. Será, com certeza, outro capítulo das nossas resistências.
Referências
AMARAL, Mariana. Jabuti não sobe em árvore: como o MBL se tornou líder das
manifestações pelo impeachment. In: JINKINGS, I.; DORIA,Kim e CLETO, Muri-
lo (orgs). Por que gritamos golpe? São Paulo, Boitempo, 2016, pp. 49–54.
AMARAL, Mariana. A nova roupa da direita. Carta Capital. www.cartacapital.com.br
Consulta em 24/12/2016.
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postura–do–mec. 07/12/2016. Consulta em 26/12/2016.
ANPED. www.anped.org.br/news/nota–publica–de–repudio–revogação–pelo–governo–interino–das–nomeaço-
es–para–o–conselho. Consulta em 10/09/2016.
AZENHA, L. C. Irmãos Koch: partido mais secreto do mundo torra R$ 2,5 bi-
lhões para implantar o ultraliberalismo. VIOMUNDO. www.viomundo.com.br Consul-
ta em 24/12/2016.
BATISTA, P. N. O consenso de Washington: a visão neoliberal dos proble-
mas latino–americanos. www.consultapopular.or.br Consulta em 24/12/2016.
BRESSER–PEREIRA, L. C. A crise da América–Latina: consenso de
Washington ou crise fiscal? www.bresserpereira.org.br Consulta em 24/12/2016.
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