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PRESENÇA
PEDAGÓGICA
Na presença pedagógica,
o professor atua
como mediador para:
Q uem já foi um dia estudante sabe: aqueles professores que demonstravam, em palavras e
ações concretas, respeito e atenção à turma, cuidando da interação ao mesmo tempo que dos
conteúdos a serem aprendidos, eram professores que faziam a diferença e se tornavam referência. O
contrário também é verdadeiro. “Penso na minha vida, nos exemplos em que não gostava do que era
feito comigo. Eu estudei em uma escola muito tradicional, aquela coisa que o professor não deixava
você entrar depois dele. O professor que fazia arguição oral, arrancava folha do caderno do aluno. Era
a metodologia tradicional do professor mandar o aluno copiar cinquenta vezes a palavra que ele errou
em um ditado, decorar tabuada”, conta Mônica Barbato, professora de Língua Portuguesa.
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Nas práticas docentes, uma relação de abertura, reciprocidade e compromisso
com os estudantes e seus processos de formação se traduz em gestos de interesse,
conhecimento e valorização dos saberes, pontos de vista e culturas juvenis, bem como
no reconhecimento da singularidade de cada jovem.
Esse modo de olhar e de ação pedagógica propõe a integração das particularidades
dos sujeitos com o reconhecimento da diversidade, e tem especial valor no trabalho
com a juventude. Todavia, isso só é possível quando o professor exercita a sua abertura
para influenciar e também ser influenciado pelas posições e interesses dos estudantes
com os quais interage, desconstruindo estereótipos e preconceitos, e assumindo o
compromisso incondicional com o desenvolvimento de cada um.
A PRESENÇA PEDAGÓGICA
NÃO É UM DOM
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Quando o professor assume o controle da resolução de um conflito sem envolver
os alunos ou a turma, perde a oportunidade de aprofundar a relação de confiança e
de engajamento que vem construindo. Nessa perspectiva, o professor age como o
personagem decisório que define a gravidade da situação e as sanções necessárias,
atuando mais como um juiz do que como um mediador para o desenvolvimento de
competências. Já quando o professor envolve e convida os jovens a discutirem suas
posições, ele atua como um mediador, que não apresenta a priori o que é certo e o
que é errado. Indica que está interessado em provocar o diálogo e o reconhecimento
dos pontos de vista, bem como em manejar proposições de soluções que passam a
circular na sala de aula, para a superação dos desentendimentos. E isso possibilita
o desenvolvimento de competências importantes para a formação dos estudantes.
Mediar situações de conflito não é uma ação simples de ser realizada pelo professor,
pelo contrário. Demanda disponibilidade para ouvir, evitar atribuir juízos de valor de
antemão, fazer perguntas que favoreçam a reflexão da turma, a partir do reconhe-
cimento e da articulação de diferentes emoções e pontos de vista. Envolve, ainda,
provocar posturas mais colaborativas, nas quais os jovens considerem a si mesmos
na perspectiva do grupo – ampliando, desse modo, o sentimento de pertencimento
à comunidade escolar.
A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
E O DESENVOLVIMENTO
DO AUTOCONHECIMENTO
DOS ESTUDANTES
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MEDIAR PARA PROMOVER
A APRENDIZAGEM
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1 Qualificar a interação professor-estudantes é a base para o estabelecimento
de um bom convívio em aula e para promover a aprendizagem e o
desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais.
2
Cabe ao professor abrir-se cotidianamente para os alunos
e sua diversidade de características, interesses, demandas
e desafios. É necessário consolidar uma relação de acolhimento
e de exigência no cotidiano escolar.
3
Estar junto, em relação de reciprocidade, qualifica a interação
e possibilita o aprofundamento de trocas comunicativas.
É essencial falar e ouvir com o mesmo cuidado e atenção,
favorecendo a compreensão mútua.
4
O engajamento e o compromisso do professor com relação à
aprendizagem dos estudantes se traduzem na confiança no
potencial de cada aluno, em expectativas elevadas sobre suas
capacidades de aprender e na persistência em ensinar.
5
Conduzir uma relação educativa requer o reconhecimento de uma
dimensão de autoridade. A intenção da presença pedagógica não é
o professor ser um “igual” (mito da horizontalidade), mas sim
proporcionar uma influência construtiva e respeitosa na vida dos
jovens, ensinando também pelo exemplo.
6
A presença pedagógica não é um dom de alguns professores.
Fazer-se presente na vida dos estudantes é uma atitude que se
aprende, desde que haja disposição interior, abertura,
sensibilidade e compromisso para tanto.
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Em situações de conflito de natureza relacional, o professor que atua
com presença pedagógica busca envolver os jovens na reflexão
sobre os diferentes aspectos do problema e na resolução deste,
em vez de agir como o único resolvedor.
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A PRESENÇA PEDAGÓGICA NA GESTÃO
DO ENSINO E DA APRENDIZAGEM
Defina objetivos e expectativas em relação à aprendizagem dos alunos (nem menos do que eles
podem aprender, nem muito mais do que podem no momento), considerando o engajamento da
turma e os aspectos cognitivos e socioemocionais envolvidos.
Seja pontual e demonstre que se preocupa com a ausência ou o atraso dos estudantes,
contribuindo para que seja criada uma rotina de iniciar a aula no horário acordado, com a
presença de todos.
Acolha os alunos, criando um ambiente positivo para o início da aula, praticando os “pequenos
nadas”, como: dar bom-dia / boa-tarde / boa-noite, chamar os jovens pelos nomes e referir-
se a cada um com respeito, cuidar da comunicação verbal e corporal, para que seja realmente
acolhedora.
Mostre por meio de palavras e ações concretas que acredita no potencial de aprendizagem de
cada um, fazendo os combinados de trabalho, estimulando os alunos a que se dediquem nos
momentos de maior esforço.
Mostre as qualidades e acertos de cada estudante e faça disso ponte segura para a superação de
dificuldades e erros. Valorize o esforço envolvido no processo de aprendizagem, deixando claras
as altas expectativas que possui para cada jovem e sua crença no potencial dele.
Contribua para que identifiquem as aprendizagens que estão desenvolvendo, comemorando com
eles os avanços, mesmo que pareçam pequenos.
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Colabore na avaliação e no processo de apropriação dos resultados pelos estudantes, dando
devolutivas aos alunos em relação aos objetivos que foram alcançados e àqueles que precisarão
ser retomados.
Não utilize recursos como provas, excesso de tarefas etc. para garantir maior comprometimento
ou para punir possíveis comportamentos.
Observe como os alunos saem da aula: dispersos, cansados, explosivos ou mais confiantes de que
aprenderam algo significativo e serão capazes de se dedicar aos estudos.
Faça uma autoavaliação sobre a qualidade de sua interação com a turma e como ela está
contribuindo para a aprendizagem de cada estudante.
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