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e levanto a questão sobre qual a função deste trabalho, já que os pais não se
tratamento analitico.
INTRODUÇÃO 01
transferência 34
a) Entrevistas preliminares 36
b)Transferência em Lacan 43
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA 50
Agradecimentos:
Gostaria de agradecer a Sandra Dias pelo grande prazer que foi fazer esse curso e pela
Ao meu marido, que sempre me acompanhou nas minhas apostas e nas mudanças da
minha vida.
saber.
INTRODUÇÃO:
no que diz respeito ao trabalho com os pais, mas não pretendo abordar neste trabalho
os impasses discutidos nesta clínica, e, sim, partir das especificidades que este
com a fala dos pais. Já que as crianças não chegam ao consultório sózinhas, são seus
questão que se apresentava para mim era o que fazer com essa fala inicial dos pais e
a respeito da criança e um pedido dos pais para que todos esses “problemas”
desaparecessem. Neste pedido de tratamento para seus filhos, os pais trazem o pedido
de supressão do sintoma.
revelam? Quem está sofrendo? Será que essas queixas são sintomas? O que é isso de
que os pais se queixam? O que está em jogo no laço entre pais e filhos?
de seus pacientes, suas queixas, e será a partir desta cena inaugural que ele irá
começar a construção de todo o seu arcabouço teórico. Assim, a célula elementar da
psicanálise se constituiu através de um sujeito que se dirigia a outro para falar das
No caso da análise com crianças, são os pais que trazem suas queixas em
relação aos filhos e solicitam análise para esses. Portanto, inicialmente temos
criança?
Outro está constituído para o sujeito. Portanto como a escuta dos pais podem interferir
na análise do filho? E, ainda, como explicar o que ocorre quando escutamos os pais e
principalmente relacionados, para que só assim o analista possa dirigir seu trabalho
nesta clínica. Em relação a escuta da fala dos pais, me pergunto se o trabalho com eles
tem a mesma forma do que Lacan chamou de entrevistas preliminares , já que parto
da mesma, pelo qual, às vezes, faz-se necessário relacionar à análise da criança certa
especificidade que este trabalho impõe ao analista, isto é, o encontro com os pais.
ajuda para ele. Neste trabalho iniciamos sempre por meio “da real dependência do
sujeito infantil em relação aos adultos” (Oliveira, 1999, p. 01). Essa criança aparece
através de sua condição estrutural, isto é, submetida aos pais. Ela vem, porque os pais
embate entre Anna Freud e Melanie Klein sobre a análise de crianças. A primeira,
Melanie Klein partia do ponto oposto, e afirmava que em crianças bem pequenas, a
fantasias da criança e o contato com os pais deveria ser realizado o mínimo possível.
Outro que está dado pela estrutura simbólica bem precocemente,o que permite a
deste regate ele irá circunscrever melhor o que nomeou de campo simbólico.
no laço entre pais e filhos (1) e, assim, podermos responder nossa pergunta inicial
Sauret afirma:
Acho que devemos deixar o lugar para a insondável decisão do ser, pois a resposta do sujeito
não é a resposta à psicologia de seu pai ou de sua mãe, mas ao tipo de Outro com o qual ele se
confronta, o que é induzido como Outro, independente da atenção ou dos esforços pedagógicos
pois na clinica estamos diante dos três; mas a psicanálise irá operar apenas a partir do
Sujeito para a psicanálise. Ele esclarece que o conceito criança irá se constituir
francesa. É claro que o organismo humano sempre se desenvolveu, mas a forma como
homem irá isolar este período, a partir dos ideais do séc XVIII. “A partir disso, a
criança é oferecida pés e mãos atados aos especialistas da ciência e da educação” (pag
13, 1998).
Sobre o sujeito, Sauret afirma que Freud propõe uma ruptura entre organismo e
outro, a pulsão. O conceito de sujeito será usado “para explicar a ligação nova entre
que está presente nesta estrutura teórica é uma ruptura, na qual o que aparece é o
e o sujeito irá se constituir. “Não há sujeito fora da linguagem” (pág. 16). Sauret
afirma que é preciso que à necessidade venha juntar-se a demanda, para que surja o
sujeito. “O sujeito não se desenvolve. Ele não tem idade” (pág 17, 1998). Ele sintetiza
o conceito de sujeito como sendo uma resposta do real ao significante. “Aí se introduz
O infantil, ele o define como “os traços do gozo do Outro” (pág. 21, 1998) e,
mais adiante, revela que são esses traços que Freud designará com o termo de fixação.
independentemente de que momento cronológico que este organismo esteja. Isto não
psicanálise é único, isto é, o inconsciente. Porém, ainda está presente a pergunta sobre
humano.
O organismo humano é, a principio, incapaz de promover essa ação específica. Ela se efetua
por ajuda alheia, quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil
por descarga através da via de alteração interna. Essa via de descarga adquire, assim, a
a fonte primordial de todos os motivos morais (Freud, pág 431, 1950 [1895]).
desta ajuda alheia. Há um outro que viabiliza a “saída” deste desamparo inicial dos
seres humanos. Este outro ser humano mais experiente introduz e auxilia nesta ação
específica, isto é, uma descarga que proporciona uma alteração interna. Portanto, há
uma passagem a ser feita que é sustentada por “uma pessoa mais experiente”.
linguagem e o seu efeito é o desejo. Lacan irá trabalhar com o conceito de Outro; ele
2. É o parceiro do sujeito, uma vez que esse sujeito aliena seu ser nos significantes desse Outro.
3. É uma alteridade, ou seja, uma entidade que escapa à mestria do sujeito, é um parceiro
4. O Outro é inconsistente ou, dito de outra forma, ele não pode responder a tudo nem responder
de todo.
5. O Outro é inconsciente, vale dizer, ele próprio não sabe o que deseja e não sabe o que sabe.
formas diferentes, conforme os períodos da obra lacaniana, assim como a maioria dos
seus conceitos.
pode identificar como tal, por falta de significante. É o Outro que transforma o grito da
necessidade em apelo e que articula a uma demanda que ele aluga ao sujeito que ele supõe:
numa estrutura que antecede o sujeito e os movimentos deste diante desta “escolha
forçada”. O Outro, para o sujeito, irá se constituir a partir deste (des)encontro. Isto irá
ampliar a noção que Freud nos apresenta do outro presente na cena do desamparo
inicial.
Nomine , afirma:
A inscrição significante só é possível sob a condição de que exista Outro, quer dizer, não
tanto o lugar do significante (esse lugar jamais falta), mas um parceiro que o encarne e que
troque objetos com o sujeito. Esse é o principio do que é considerado a entrada no discurso do
Outro pelo viés de suas demandas”. E, mais adiante, ele afirma: “O significante precede o
Petri afirma:
do qual o sujeito pode nascer. Essa entrada na linguagem é, então, flagrantemente traumática
por comportar em seu cerne uma não-relação afinal. (pág 59, 2006)
Assim, encontramos na obra lacaniana o sujeito e Outro. O sujeito está situado a
nesta estrutura. Lacan afirma que esta inserção sempre é feita a partir de uma falta. Ao
entrar na linguagem, o sujeito se depara com uma falta que o constitui, pois o sujeito
Dor escreve:
No discurso,o Eu (je) é o lugar onde o sujeito se produz como aquele que fala. Vimos que
esta particularidade tópica devia-se ao próprio status do sujeito: o sujeito só advém no discurso
e pelo discurso, para, aliás, de imediato eclipsar-se. Este fading do sujeito provém da relação do
sujeito com o próprio discurso, tal como Lacan precisou sua ocorrência no fato “que um
significante é o que representa um sujeito para outro significante”. (pág 155, 1989)
maneiras, dependendo do período da obra lacaniana. Num primeiro período, Lacan irá
fazer essa articulação através do esquema L, no qual ele irá articular a relação do Je e
do Outro ao discurso. Neste período, Lacan irá reler a obra freudiana através da
discriminar esse vetor sujeito e Outro, a constituição do sujeito e o papel dos pais.
Pois o que está em questão para a psicanálise lacaniana é a relação do sujeito com o
Outro; portanto, como o Outro está constituído para o sujeito e, principalmente, como
o sujeito se constitui.Há uma operação a ser efetuada, pois o sujeito não está presente
correlacionado ao laço da mãe e de seu bebê. Como Freud já assinalava nos seus
textos, no ser humano o objeto está para sempre perdido, porém é eternamente
procurado. Lacan irá partir da falta de objeto para poder situar a constituição do
A dolorosa dialética do objeto, ao mesmo tempo ali e nunca ali, em que ela se exercita, nos é
simbolizada neste exercício genialmente captado por Freud em estado puro, na sua forma
isolada. Esta é a base da relação do sujeito com o par presença – ausência, relação com a
presença sobre o fundo de ausência, e com a ausência na medida que esta constitui a presença.
A criança aniquila, na satisfação, a insaciedade fundamental dessa relação. Ela adormece o jogo
na captação fundamental dessa relação. Ela adormece o jogo na captação oral. Sufoca aquilo
Para Lacan, o que existe é uma relação ternária, na medida que a criança está
colocada como objeto, a mãe como agente e o falo como causa. No seminário IV, ele
no aparelho psíquico, isto é, como o falo se inscreve no aparelho e assim como ele
objeto do Outro. É deste lugar que o sujeito irá se oferecer a fim de ocupar um lugar
tempos, que irá se constituir um lugar de onde será possível se instaurar a pergunta
sobre o desejo do Outro, Che Vuoi? Assim, para Lacan, temos no final do Édipo a
Criança, afirma:
Já se tornou uma idéia corrente, a de que a criança, ou o sujeito, começa o seu percurso
como objeto. Objeto do Outro, da sua demanda, como Freud apontou quando citou “os cuidados
(...)
Desta forma, são as interpretações do Outro, do Outro materno em particular, que vão no
começo situar para a criança o seu desejo”. (...) O que permite também que o objeto, condição
primeira do sujeito, como eu disse antes, possa aparecer como fálico, como imaginário, como o
que falta à mãe e vai sempre faltar, e não como objeto real, como aquilo que a mãe perdeu de
ocupa apenas uma resposta ao Penisneid da mulher.Para ele o que aparece é o jogo
cima, a constituição do sujeito através das inscrições da falta no aparelho, porém será
apenas no seminário V que ele irá nomear e formular os três tempos do Édipo. O
Édipo para Lacan é constituído por três tempos lógicos nos quais há a inscrição
simbólica da falta.
No primeiro tempo, o filho é tomado como falo, a mãe tem o falo e o pai está
velado. A criança se identifica ao que supõe ser o objeto de desejo da mãe. E a mãe,
por sua vez, posiciona a criança neste lugar. Existe uma falta que é tamponada por
esta dupla.
No segundo tempo, esta unidade é abalada, há algo além no desejo da mãe que a
criança não consegue abarcar. O pai aqui está revelado. O pai media do lado da mãe a
perda do falo e, do lado da criança, a perda do objeto. Essa mediatização vem através
da lei contra o incesto, a dupla proibição, “não integrará teu produto e não deitarás
com a tua mãe”. No discurso materno há uma lei que a interdita. A criança é
No terceiro tempo, o pai está como doador, o pai tem o falo e pode oferecê-lo a
pai oferece os significantes paternos. A metáfora paterna se instaura, e o falo pode ser
articulado como significante. Aqui existe a passagem da posição de ser o falo para ter
ser.
sujeito a toda engrenagem da cadeia significante. Ele fará isto através do Grafo do
linguagem. Aqui, ele irá partir da primeira experiência de satisfação, nela se inscreve
tempo do Édipo.
Ora, convém lembrar que é na demanda mais antiga que se produz a identificação primaria,
aquela que se efetua pela onipotência materna, ou seja, a que não apenas torna dependente do
aparelho significante a satisfação das necessidades, mas que fragmenta, as filtra e as molda nos
nascimento vem responder a uma rede de laços que estão colocados antes de seu
uma mulher. Ou melhor, no mínimo três gerações. Portanto, a criança está atrelada, já
de partida, à posição desta mulher e deste homem, pois vem a responder inicialmente
aparelho psíquico.
Aubry. Ele inicia o texto pontuando a função da família conjugal como resíduo e
familiar. A transmissão aqui se refere aos elementos necessários para que haja sujeito,
mãe através dos “cuidados que têm a marca de um interesse particularizado, ainda que
seja por intermédio das suas próprias faltas” e a função do pai “na medida em que seu
nome é o vetor de uma encarnação da Lei no desejo” (pág. 13, 1969). Portanto, essa
transmissão terá como base tanto um desejo, que não seja anônimo, como uma lei,
uma ordenação.
Para Lacan:
estrutura familiar. E afirma que este “sintoma pode representar a verdade do casal familiar. Esse é o
caso mais complexo mas também o mais acessível a nossas intervenções. (pág. 13, 1969).
Assim, é possível ler essa nota através da idéia de que, o que há de sintomático
criança vem responder exatamente a esta função. O que o sintoma da criança revela é
o tamponamento da verdade, verdade que aponta para a não existência da relação
sexual. Isto é, não existe o par, a completude; a castração sempre está presente .
verdade” do sujeito.
mãe, isto é, correlata a uma fantasia que a criança estaria implicada. Aqui, a criança
Lacan escreve:
a criança realiza a presença do que Jacques Lacan designa como objeto a na fantasia”. A
criança, ao substituir esse objeto satura, tampona a modalidade de falta “em que se especifica,o desejo
Desta forma, a criança aliena em si qualquer acesso possível da mãe a sua própria verdade,
dando-lhe corpo, existência e até a exigência de ser protegida. (Lacan,pág. 13, 1969)
encarnar a recusa primordial”. E termina afirmando que, nestes casos, “na relação
dual com a mãe, a criança lhe dá, imediatamente acessível, aquilo que lhe falta ao
de desejo deste homem e é isto que aponta, vetoriza, a falta no sujeito masculino. A
mulher está como objeto deste homem e, ao mesmo tempo, se apresenta como sujeito
ao tomar o filho na posição de objeto. Essa mulher está cindida nestas duas posições,
aparecendo no real, tamponando desta forma qualquer acesso possível da mãe a sua
própria verdade.
É preciso, ainda, que a criança não sature, para a mãe, a falta em que se apóia o seu desejo.
O que isso quer dizer? Que a mãe só é suficientemente boa se não o é em demasia, se os
cuidados que ela dispensa a criança não há desviam de desejar enquanto mulher.
(...) a função do pai não é suficiente; é preciso, ainda, que a mãe não esteja dissuadida de
Miller formula:
(...) o objeto criança não somente preenche, como também divide,e digamos que é isso que
o titulo deste colóquio ressalta. É essencial que ele divida.Como já se assinalou,é fundamental
que a mãe deseje outras coisas alem dele.Se o objeto criança não divide, ou ele sucumbe como
dejeto do par genitor,ou,então,entra,com a mãe numa relação dual que o alicia- para empregar o
Portanto, neste texto, ele sintetiza essa divisão afirmando que há duas posições
principalmente, como esta se posiciona diante desta divisão que se instala. Ele ainda
adverte para o fato de que, se esse lugar que a criança ocupa, numa neurose, for de
falta da falta. “A mãe angustiada é, inicialmente, aquela que não deseja, ou deseja
Sauret afirma:
O que se trata aqui é do lugar que ocupa a criança para sua mãe. Mas a criança pode
subjetivar a sua relação com a mãe de maneira completamente diferente. Se não fosse assim,
não se faria psicanálise, porque não se poderia mudar nada da posição da criança. Mas no que
Deste modo, a teoria lacaniana irá apontar para os lugares, os usos e a forma
como cada um irá construir suas próprias versões, a partir dos elementos dados na
estrutura. Assim, no laço entre pais e filhos o que está presente é o uso que cada um
faz do outro e como o outro responde com a sua própria construção ao desejo do
outro. Me pergunto se será sobre este equívoco que o trabalho do analista deve estar
orientado nesta primeira escuta aos pais a fim de abrir questões para todos.
Capítulo II - O Encontro com a fala dos pais.
Para podermos pensar sobre este encontro com a fala dos pais e da criança é
diálogo” (Lacan, 1951). Lacan faz essa afirmação, nesta época da sua obra, para se
Nos primeiros anos da obra lacaniana, nos deparamos com o esforço de Lacan
em estabelecer e distinguir que fala é essa que a psicanálise opera, e irá fazer
sobre a posição, a escuta do analista que a análise lacaniana irá se orientar. Porém,
escuta do que? Aqui Lacan irá começar a desenhar e distinguir o que ele denominou
de ordem simbólica, ordem imaginária e ordem real. Pois, para ele, este era o grande
equívoco dos pós freudianos, que tomavam os três registros de formas indistintas.
Assim, ele irá, através do retorno a obra freudiana e a partir de novos eixos teóricos,
Lacan, portanto, irá resgatar a fala na experiência analítica, pois ela irá deixar de
ser humano. Ele trata a palavra como o campo do humano e instaura a diferença entre
É de fato assim que devemos entender o simbólico de que se trata na troca analítica. Quer se
trate de sintomas reais ou atos falhos, ou o que quer que seja que se inscreva no que
para o fato de que não há imagem de identidade, de reflexividade, e sim que, o que há
fala.
remetermos de volta ao outro objetivado, ao outro com o qual podemos fazer tudo o que quisermos,
inclusive pensar que é um objeto, ou seja, que ele não sabe o que diz. Quando fazemos uso da
linguagem, nossa relação com o outro funciona o tempo todo nesta ambigüidade. Em outros termos, a
linguagem serve tanto para nos fundamentar no Outro como para nos impedi-lo de entendê-lo. E é
simbólico. Porém, ele afirma que é o grande Outro que o sujeito visa quando fala, o
que ele chamou de uma fala verdadeira, mas o sujeito sempre a alcança por reflexão.
simbólico.
O que dizemos, não o sabemos, porém o endereçamos a alguém. Temos a ilusão que a fala
vem do próprio eu. Porém, se o analista acreditar que deva responder daqui, (à), ele ratifica a
função do eu, que é justamente aquela por intermédio da qual o sujeito se acha desapossado de
Desta forma, podemos a situar a escuta dos pais através deste grande equívoco
que a comunicação instaura nas relações. A pergunta sobre o que esses pais trazem
nesta fala deles próprios parece ser fundamental neste trabalho inicial, já que quando
no inicio, que os pais possam aparecer como sujeitos.Desta forma ele opera uma
primeira separação na qual viabiliza com que cada um possa ser implicado no sintoma
de análise deste.
Os pais nessa posição de sujeito permitem também que a mensagem da criança chegue a seu
destinatário, o lugar do Outro.Deste lugar do Outro, que aí aparece falho, a mensagem pode
finalmente retornar tanto para os pais como para a criança, permitindo a ela se posicionar frente
a esse discurso e a esse desejo que a constitui como sujeito,se implicando na demanda que
pais, para assim poder ler a posição do filho no desejo deles. Ele ressalta a
possível ter uma orientação do trabalho a ser efetuado, pois não há um plano definido
previamente. Ele levanta questões que podem nortear cada caso como: há quanto
tempo este sintoma existe e porque estão pedindo ajuda neste momento? O que
desencadeou essa demanda? Quem sofre mais com este sintoma, o filho, os pais ou a
escola?
pais, para que possamos localizar como cada um se posiciona e faz uso das queixas –
Acho importante apontarmos para a diferença entre a queixa que os pais trazem
analista. Por que isto ocorre? Entendo este efeito como resultado da escuta analítica
dos pais, a qual opera a partir do endereçamento ao Outro e possibilita uma primeira
filho.
um pequeno deslocamento que acaba por libertar a criança desta posição fixa que esta
se encontrava. Portanto, a queixa muitas vezes aponta para o tipo de demanda que é
feita a criança e esta acaba por responder deste lugar demandado, já que o que está em
jogo para a criança é o lugar de ser amada pelos seus pais,isto é a possibilidade de
fundamental. Para que este possa ser mexido, é necessário todo o trabalho de uma
análise, o qual irá revelar a posição do sujeito diante da castração e suas formas de
tamponamento. Não pretendo neste trabalho apontar que trabalho é este na análise
com crianças, porém, isto não deixa de ser um ponto importante a ser pensado e
criança.
Faria aponta para a diferença entre o que ela chamou entre o sintoma na criança
e o sintoma da criança. Ela diz que, inicialmente, nos deparamos com um “sintoma
que seja localizado pelos pais na criança” (1998). Isto é, o pedido de análise para a
criança geralmente é um efeito dos pontos de angústia dos pais, pois há algo que os
sintomas importantes que não angustiam os pais e, em função disto, eles nunca
e ele só pode ser tomado enquanto tal no discurso daquele sujeito em particular. É preciso
portanto escutar a criança da mesma forma como se escuta qualquer sujeito em análise,pois se a
criança é o sujeito em questão,sua via de entrada para análise será também a de seu
Assim como na análise com adultos, esta nomeação inicial do próprio sintoma
também aponta para um trabalho preliminar a entrada em análise. Esta manobra diz
respeito à mudança de posição do sujeito no inicio de uma análise, para que haja a
entrada efetiva, isto é, deve haver uma implicação do sujeito no processo analítico,
sem o qual não há como sustentar um processo analítico.Lacan nomeia este momento
daquele sujeito,e a única forma de se ter acesso a esse desejo inconsciente é por seu discurso, através
funções, lugares, e não pessoas, é possível lermos a cena inicial, na qual um adulto
cuida de uma criança, através da idéia de que este adulto está ali sustentando o que
transmite através de funções. Estas funções serão operadas a partir da falta estrutural
de cada sujeito envolvido na cena. Assim, o que se transmite é a falta que está
colocada na estrutura.
não se apresentam desencarnadas. Faria irá fazer esta articulação no seu livro,
Nesse sentido, as relações que podemos estabelecer seriam: Dos sujeitos, homem e mulher
que são os pais, com as funções, que lhe cabem exercer,paterna e materna. Isso porque é
enquanto sujeitos desejantes, enquanto ”assujeitados” a seu inconsciente numa ordem de desejo
absolutamente particular, que eles poderão ocupar (ou não), para a criança ,determinadas
funções. É somente a partir de sua posição desejante que eles poderão encarnar as funções que
(...)
Existe ainda a relação entre o sujeito que é a criança e o lugar que ela ocupa,que depende
principalmente da subjetividade desses outros sujeitos em que são o pai e a mãe, ainda que não
se possa estabelecer uma relação causa-efeito entre o lugar que ela ocupa na estrutura familiar e
algo que tenha sido dado desse lugar pela posição dos pais. (Faria, pág. 73, 1998)
Assim, os pais exercem funções e oferecem lugares a esta criança que acaba de
nascer e estão constituídos como sujeitos. A criança, por sua vez, irá se posicionar
A criança, ao nascer, irá se situar num lugar, num lugar fálico. Este lugar
responde a falta que opera nos próprios pais. Conseqüentemente, este lugar será
sustentado a partir do investimento narcísico dos pais. E será a partir desta estrutura
cada um dos pais. Assim, cada um dos pais se posiciona diante da criança através de
suas próprias posições subjetivas. Desta maneira, as queixas em relação a criança irão
revelar as posições, tanto da mãe como do pai e, principalmente, a forma como esses
Faria afirma:
Isso significa desvincular o lugar que ela ocupa para os pais (ou seja, no discurso deles) do
lugar em que ela mesma possa se colocar a partir desse discurso, o que consideramos ser a
grande vantagem dessa proposta. Elimina-se o risco de confundir a criança em análise com
que lugar há para essa criança no discurso desses pais, quais os seus efeitos e,
Quando os pais pedem tratamento para seus filhos, é possível nos perguntarmos
sobre os efeitos que esta criança tem produzido nestes. E será este efeito que irá
sustentar a procura do tratamento, pois há um sofrimento em jogo. E este sofrimento
irá receber vários nomes. Do que esses pais sofrem? O que angústia essa criança?
Estamos diante de uma produção do inconsciente que pede por ser escutada.
que este elimine o sintoma de seu filho, isto é pedem a realização de um ideal que
visa burlar a castração, uma realização impossível. Porém, é este mesmo investimento
narcísico que está na base da relação dos pais com seus filhos. Ele pergunta: “Como
recusar aos pais a realização de seus ideais, se devemos a eles a nossa existência?
Como a criança pode constituir sua própria demanda, dissociada da demanda dos
Assim, o discurso dos pais é constituído pelo lugar que a criança ocupa para
estes. E a criança por sua vez, é chamada a responder a estas demandas, e irá
sintoma da criança advém como um meio de protege-la desta alienação no ideal dos
Para Petri:
A função dessa primeira inclusão dos pais é fornecer material significante para que o
analista faça uma leitura da resposta que a criança formula a essa determinada estrutura
discursiva, assim como precisar qual o lugar que a criança ocupa na fantasmática parental, ou
Nas entrevistas com a criança, pode-se averiguar qual a sua leitura sobre a demanda
parental abrindo espaço para a construção de sua demanda, aquela que só ela pode formular,
imprimindo assim sua linha própria na análise que poderá então se realizar. (pág. 91, 2006)
Portanto, há uma primeira escuta a ser realizada, na qual me parece necessário
que o analista possa diferenciar o lugar que esta criança ocupa para seus pais, para
cada um, e como cada criança irá responder a demanda dos pais. A questão sobre o
que os pais demandam, ou não, de seus filhos, permeia todo este primeiro tempo de
separação entre eles e o lugar que estes ocupam para a criança na cadeia de
transmissão, lugar do Outro. Este trabalho está circunscrito, não apenas, mas
Então, se nos dispomos a acolher a queixa dos pais e, a partir da demanda que eles fazem
para a sua criança, os convidamos a falar, o tempo que for necessário para retomar o trabalho
certos efeitos desejados a este tempo que podemos chamar de preliminar à análise, que daí se
engajará, seja com a criança ou com um dos pais. Esses efeitos do lado dos pais vão no sentido
de descolá-los do lugar do Outro, de onde eles só podem sentir-se culpados com o que ocorre
com a criança, para permitir que eles apareçam como sujeitos divididos e, como tais, passiveis
analista neste trabalho inicial. Quem escutar? O que escutar? E, principalmente, sobre
tudo o que já foi escrito, me parece que esse trabalho preliminar de escuta sobre o que
crianças e esse parece ser um ponto importante deste campo específico do trabalho
com crianças.
A pergunta que agora se apresenta seria de que natureza esse trabalho com os
pais se constitui, já que os pais vêm ao consultório do analista pedindo análise para
seu filho e não para si. Assim, eles não devem ser tomados como analisantes, porém é
necessário, como já foi visto, um trabalho com os pais, na qual há uma escuta que
orientações para este tempo anterior a análise. Aqui, a tarefa do analista é fazer a
leitura da possibilidade do trabalho analítico com este novo paciente, uma seleção, já
manejo da análise através da interpretação. Para que isso ocorra, ele destaca a
no qual o paciente é convocado a falar sobre seu sofrimento, porém, pede do analista
dito.
Freud esclarece:
Este experimento preliminar, contudo, é, ele próprio, o inicio de uma psicanálise e deve
conformar-se às regras desta. Pode-se talvez fazer a distinção de que, nele, deixa-se o paciente
falar quase o tempo todo e não se explica nada mais do que absolutamente necessário para fazê-
decidir se ele é apropriado para a psicanálise. O pedido inicial é que o paciente possa
falar sobre o que acha mais importante. Freud acha fundamental que o próprio
paciente escolha por onde quer começar a falar , geralmente ele inicia pela sua
Freud continua no texto apontando para a questão do diagnóstico. Ele relata que
obsessivos recentes ou com características que não são tão marcantes e que,
(esquizofrenia). Para Freud, fazer esta diferenciação não é uma tarefa fácil e um
Num tratamento experimental de algumas semanas, ele amiúde observaria sinais suspeitos
que possam determiná-lo a não levar além a tentativa. Infelizmente, não posso asseverar que
uma tentativa deste tipo sempre nos capacite a chegar à decisão certa: trata-se apenas de uma
transferência.
médico. Para isso nada precisa ser feito, exceto conceder-lhe tempo.
(...) O paciente por si próprio fará essa ligação e vinculará o médico a uma das imagos das
pessoas por quem estava acostumado a ser tratado com afeição”. (Freud, 1913, pág 167)
No texto a Conferência XXVII - Transferência (1916-17), Freud descreve a
dispositivo analítico .
amor, ou sob formas mais moderadas;em lugar de um desejo de ser amada (...)” (pág.
515).
Em seguida: “Devo começar por esclarecer que uma transferência está presente
Temos acompanhado essa nova edição do distúrbio antigo desde seu início, temos observado
sua origem e seu crescimento e estamos especialmente aptos a nos situar dentro dele, de vez
que, por sermos seu objeto, estamos colocados em seu próprio centro. Todos os sintomas do
paciente abandonam seu significado original e assumem um novo sentido que se refere à
É importante ressaltar que esta ligação que se constrói no decorrer das primeiras
transferência.
repetição. Mais tarde, Lacan irá discriminar e analisar os vários registros em que a
da criança, mesmo que o pedido inicial seja para a criança em questão. Pois, através
desta primeiras escutas, é possível que a queixa que os pais apresentem sobre o filho
analítico.
Em relação a este trabalho especifico com os pais, ele consistiria nesta escuta,
laço entre pais e filhos, no qual serão colocadas questões, a partir das quais cada um,
uso que cada um faz do outro. Essas questões também apoiariam a passagem para um
analista com os pais da criança.Este laço transferencial é fundamental para que os pais
transferência
É interessante marcar que Lacan não apresenta nenhum texto específico sobre
essa temática; ela aparece dentro dos seus textos e de suas falas, atrelada a outros
está no campo das retificações subjetivas e todo o trabalho parte da queixa inicial que
Lacan nomeia alguns passos que constituem a entrada em análise, no seu texto
Digo que é numa direção do tratamento que se ordena, como acabo de demonstrar, segundo
um processo que vai da retificação das relações do sujeito com o real, ao desenvolvimento da
transferência” (pág 604) pois será a partir deste trabalho inicial de retificação das
relações do sujeito com o real, real aqui sendo a realidade, e a ligação inicial do
E, mais adiante:
“É que, ademais essa retificação em Freud é dialética e parte dos dizeres do sujeito para voltar a
eles, o que significa que uma interpretação só pode ser exata se for... uma interpretação” (pág
607).
Portanto, o que aparece é a ênfase na primeira fala deste sujeito e todos os seus
uma queixa. Esta queixa inicial irá abrir trilhas para outros pontos importantes. Neste
tempo, ocorre o trabalho de retificação subjetiva que visa abrir perguntas e que aponta
uma questão sobre a sua posição diante de sua queixa na “cena relatada” ao analista.
psicanálise é uma experiência dialética e expõe o caso Dora, através do que ele
escansão das estruturas para que a verdade possa se transmutar para o sujeito. Pois, é
sobre a própria posição do sujeito que o trabalho se efetua. Miller esclarece essa
postura responde a seu desejo. Então, é o mesmo fazê-la perceber sua responsabilidade e fazê-la
perceber o seu desejo, que ela não conhece. Era fazê-la perceber a situação na qual se
encontrava, e que somente seria conhecida a partir de seus ditos, nos quais se apresentava como
vitima do desejo do Outro paterno. A retificação subjetiva consistiu em fazer surgir que o lugar
de agente em sua vida era dela; ela quem agenciava a história. (Miller, 1996, pág. 266)
a) Entrevistas Preliminares
trabalho que deve ser efetuado, construído para que o sujeito possa entrar no trabalho
analítico.
pergunta sobre a estrutura que está presente no analisando. Trata-se de uma neurose,
uma psicose ou uma perversão? Pois a direção do tratamento irá partir desta primeira
Fala entendida como “a posição tomada por quem fala quanto aos próprios ditos e, a
partir dos ditos, localizar o dizer do sujeito, retomar a enunciação (...)” (Miller, 1987,
Pág. 236) A questão do sujeito do inconsciente se presentifica aqui. Para Miller, esta
aparece como uma questão de direito e não atrelado à realidade objetiva. Trata-se de
se pode separar a clínica analítica da ética da psicanálise, que constitui na experiência o sujeito”.
É fundamental para o analista que ele saiba reconhecer o pré-psicótico, o psicótico, cuja
psicose ainda não foi deflagrada. Há uma regra, segundo a qual devemos recusar a demanda de
análise do paciente pré-psicótico. Se isso não ocorrer, é necessário ter o máximo de cuidado
para não desencadear a psicose, através de qualquer palavra. (Miller, 1987, pág. 226)
não dos fenômenos elementares. Estes “são fenômenos psicóticos que podem
anteceder o delírio e o desencadeamento de uma psicose” (1987, Pág. 227). Esta pode
o paciente diz, e afirma haver uma necessidade fundamental para que possamos
sua obra, ainda estava preso a dimensão dos fatos, verificava os fatos relatados pelo
paciente. Porém, com o desenvolvimento da sua obra, irá se afastar cada vez mais do
fato para entrar na dimensão do dito. Mas o autor revela que esta passagem por si só
”Desta maneira, ir dos fatos aos ditos não é suficiente; um segundo passo essencial é questionar
a posição tomada por quem fala quanto aos próprios ditos; e a partir dos ditos localizar o dizer
Assim, a Localização Subjetiva diz respeito a esta posição que o efeito sujeito se
apresenta no dito do paciente. Existe uma diferença entre o dito e a “posição frente a
ele, que é o próprio sujeito” (Miller, 1986, Pág. 238). Aqui, Miller volta a firmar a
dizer.
para quem, mesmo não lhe conhecendo todos os detalhes, a alucinação é um ponto de certeza.
entendido, o qual abre para a pergunta: que você quer dizer com isso? Esta pergunta é
a entrada na associação livre e esta apoiada na idéia de que quem não se entende é o
“Assim, localizar o sujeito consiste em fazer aparecer a caixa vazia onde se inscrevem as
variações da posição subjetiva. É como pôr entre parênteses o que o sujeito diz, e fazer com que
ele perceba que toma diferentes posições modalizadas para com o seu dito”. (Miller, 1986, Pág.
247)
Mais adiante:
questionamento de seu desejo e do que pretende dizer quando fala, fazendo-o assim perceber
Desta forma, Miller afirma que a entrada numa análise é constituída por um
processo que deve ser manejado pelo analista e que não se reduz a uma simples
se referir ao que diz a partir de uma certa distancia do dito. Este efeito é o que
livre, a falar sem censurar o que diz, buscando-lhe o sentido, a abandonar a posição de
(...) O sujeito é a própria perda, amais contável em seu próprio lugar, ao nível físico,ao nível
da objetividade. Nesse nível ele não existe, e é responsabilidade do analista produzi-lo num
possa apontar para o fato de que o sujeito sempre toma uma posição diante do seu
efeito é uma mudança efetiva de sua posição diante de sua queixa inicial. É aqui que
preliminares tem como objetivo abrir um espaço de fala sobre a queixa inicial, para
que, a partir desta, o sujeito possa se localizar diante dela e assim produzir inversões
dialéticas que a conduza a uma questão na qual possa se abrir a pergunta sobre o saber
do Outro.
Sobre a retificação subjetiva, Miller afirma que, neste tempo, o ato analítico
essencial no que ocorre. Aqui, ele afirma que estamos diante de um paradoxo, no qual
O autor chama atenção para o fato de Lacan, no final da sua obra, não se referir
que aparece é a oferta de uma escuta analítica, para que, desta forma, seja possível se
constituir uma demanda do sujeito. Isto significa que isso que o paciente chega se
desvencilhar de um sintoma.
através destas experiências dialéticas que o sujeito deverá experiênciar neste primeiro
tempo. É este o trabalho que o analista deverá fazer operar, no qual a queixa que o
Quinet, 1991, Pág. 16) e, desta forma, possa ser endereçada a um analista. Isto
significa que é necessário que o sujeito seja implicado na análise e que se instale o
isto que se instala quando ocorre esta demanda ao analista: o analista está colocado no
lugar do Outro. E é deste lugar que o sujeito é solicitado a decifrar seu sintoma. Este
Para Quinet, “o analista procurará saber a que esse sintoma está respondendo,
que gozo esse sintoma vem delimitar”. (Quinet, 1991, Pág. 19). É importante ressaltar
este ponto, pois todo o sintoma porta um gozo. O sujeito está atrelado a este a mais. A
Outro, este tem a verdade sobre o sintoma. O sintoma aqui representa a divisão do
sujeito, pois esta questão apresenta-se como uma questão que atravessa o sujeito,
relação transferêncial que se instaura o analista como Outro e é para esta estrutura que
psicanalítico, pois este serve para a psicanálise como ponto de orientação para a
diagnóstico é colocado, isto significa diagnóstico estrutural é lido por meio dos três
vinculado ao saber“ (Quinet, 1991, Pág. 25). Será em torno deste saber que a análise
irá se desenrolar. Existe um saber em jogo no sintoma. O paciente já traz no inicio dos
encontros com o analista uma “teoria” sobre seu sintoma. No transcorrer das
entrevistas preliminares, esta “teoria” será revista afim de que se possa ser
chamada por Lacan de retificação subjetiva. Esta tem como efeito a implicação do
sujeito pelo seu sintoma. Ele chama atenção para o caso Dora, quando Freud pergunta
a ela sobre “qual a sua participação na desordem da qual você se queixa?” Aqui, o
autor ressalta a dimensão ética na qual o sujeito está implicado pelas suas escolhas e é
conceito da transferência aparece na obra lacaniana. No início, ela era tomada como
Ele afirma: “Em 54, Lacan dizia que o fenômeno de carga imaginaria cumpre,
na transferência, um papel pivô. Dez anos depois atribuirá esse papel de pivô ao
sujeito suposto saber, exatamente nos mesmos termos”. (Miller, 1994, Pág. 76)
para a passagem que Lacan faz ao sair do impasse Freudiano sobre a transferência.
Para este, Freud conceitualiza a transferência através dos afetos erótico ou hostis e
transferência”. Ele retoma a metáfora que Freud faz em relação ao jogo de Xadrez
para se referir ao começo e o fim da análise. E define, assim como Freud, que a
refuta.
nenhum sujeito é suponível por outro sujeito”. Será neste texto que ele irá apresentar a
onde há uma suposição de saber, na qual o sujeito não supõe nada, mas é suposto;
suposto pelo significante que o representa para outro significante. Aqui será possível
como efeito a produção do sujeito”. (Lacan, 1967, Pág. 253) Aqui, Lacan ressalta a
através de um significante.
Vemos que, embora a psicanálise consista na manutenção de uma situação combinada entre
dois parceiros, que nela se colocam como psicanalisante e o psicanalista, ela só pode
que se instaura,aquele que tem nome:o sujeito suposto saber, esta é uma formação de artifício,
introduzido no discurso. Lacan afirma que a transferência não é, portanto, uma função
ao analista em função desse saber suposto ao inconsciente”. (1987, Pág. 95). Na cena
sabe. “O que o sujeito não sabe sobre si mesmo – desde que exista tal saber – é
preciso deduzir que quem sabe é o Outro. Um Outro que, do lugar do inconsciente,
demanda são endereçados ao outro do amor como resistência. E, por último, ela se
real do sexo.
É importante afirmar mais uma vez que Lacan irá apontar para um a mais além
estabelece entre analisante e analista e na qual aponta para a demanda de amor. Aqui,
ser curado, ser amado, ter as respostas é o que sustenta estes encontros; para que num
questionamentos sobre sua posição e assim se endereçar ao Outro. É claro que essa
demanda, uma demanda intransitiva, demanda de amor, e, a partir dela, iremos nos
para o desejo.
primeira infância. Demandar: o sujeito nunca fez outra coisa, só pôde viver por isso, e
inicial dos pais com o analista e, junto com isto, instaurar um lugar de endereçamento
das questões que possam surgir com a análise da criança. Pois sabemos que o
movimento da criança produz efeitos nas posições dos pais e será sobre esse eixo que
filho, portanto existe uma demanda dos pais ao analista que diz respeito ao
trabalho inicial, que demanda é essa que os pais fazem ao filho, como ela se apresenta
em cada caso e estar avisado de que o que está em jogo é o desejo, pois é sobre este
trabalho, isto é, o encontro do analista com os pais que trazem um pedido de análise,
de cura para o filho. Como o analista deve estar orientado neste trabalho com os pais?
Para esta resposta, foi necessário percorrer um fio teórico, no qual parti do que há no
laço entre pais e filhos até chegar ao manejo do analista nas entrevistas com os pais.
O que fazer com a fala inicial dos pais e como articulá-la ao tratamento desta
criança? Essa foi a primeira pergunta. Para responder isso, foi preciso estabelecer o
Desta forma, o que aparece no laço entre pais e filhos e, principalmente, o que
se transmite, no caso de uma neurose é a falta. Assim, o que se revela é como cada um
dessa constelação familiar irá lidar ou melhor velar, a falta a seu modo. Portanto, o
analista deve estar advertido exatamente para este jogo de velamento e desvelamento.
Desta maneira, partimos de uma unidade familiar imaginária para a pergunta sobre
estabelecer o campo de uma análise. É interessante notar que, muitas vezes, a partir
estabelece. A pergunta sobre o que cada um tem a ver com o sofrimento do qual se
queixa norteia este tempo. Aqui, é possível estabelecermos um paralelo entre o
trabalho de escuta com os pais de uma criança em análise e o trabalho do analista nas
entrevistas preliminares.
uma pergunta na qual o sujeito possa se incluir e, a partir daí, iniciar um processo
Penso que o trabalho com os pais também está pautado neste três pontos
partir deste laço é possível que os pais possam autorizar o analista a trabalhar com o
filho e, muitas vezes, será a partir deste laço que o tratamento poderá ser sustentado.
junto ao analista. Acho importante ressaltar que estamos no âmbito terapêutico e não
analítico, já que não tomamos os pais em análise e sim operamos através de uma
escuta analítica. Isto não significa que, diante deste trabalho junto aos pais, não
apareçam questões destes. Porém, acho importante que o analista possa estar atento,
advertido, para que este trabalho com os pais possa, se for necessário,estar orientado a
demanda e que, ao adiá-la, possa fazer a escuta inicial tanto dos pais como da criança
subjetiva, é possível promover de mudança de posição dos pais com relação a queixa
que trazem do filho. A partir daí, é possível que eles possam se perguntar sobre o que
dos pais produz efeitos sobre a criança e será a partir desse discurso que a criança irá
construir sua resposta singular a este lugar que lhe foi atribuído.Assim, ao
trabalharmos com essa demanda inicial dos pais em relação a criança, podemos fazer
com que a criança possa ocupar para os pais outros lugares além do até então
demandado.
partir dessa mínima separação que o analista poderá efetuar um melhor trabalho com
a criança. Assim, penso que é a partir deste paradoxo, de incluir para separar, que o
_____ (1969). Nota Sobre A Criança. In: Outros Escritos. Rio De Janeiro, RJ: Zahar,
2003.
_____ (1969). Proposição De Nove De Outubro. In Outros Escritos. Rio De Janeiro,
RJ: Zahar, 2003.
MILLER, Jacques Alain. Percurso De Lacan: Uma Introdução. Rio De Janeiro, RJ:
Zahar, 1994.
__________(1987).Lacan Elucidado.In: O Método Psicanalítico - Curitiba, Rio De
Janeiro,RJ:Zahar
RÊGO BARROS,R. “Um Corpo De Criança”. Fort-Da n1. Rio de Janeiro; Revinter,
1991