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PORTO ALEGRE
2015
1. INTRODUÇÃO
Este artigo mostrará as facetas da cinematografia estadunidense no decorrer do
mandato do presidente do país Franklin Delano Roosvelt, de 1939 até 1945. Este estudo
baseia-se nas ideias de Marc Ferro sobre as relações entre cinema e história e sobre o conceito
do poder de convencimento e de conscientização da imagem sobre a humanidade.
Será destacado o investimento do Roosevelt para montar uma produção de filmes em
massa com o objetivo de reafirmar os valores americanos e usá-los como justificativa para a
entrada do país na Segunda Guerra Mundial e para os ódios referentes à outros países, como
Japão, Alemanha e a União Soviética. O diretor Frank Capra será a principal figura dessa
massiva fabricação cinematográfica sobre o orgulho americano. Também serão mencionados
as medidas tomadas para alavancar o controle do Estado em relação às filmagens
hollywoodianas na época em que se processava o New Deal. Cita-se como exemplos o
Código Hays, responsável pela censura de diversos conteúdos de dentro das filmagens, e o
OCIAA, que objetiva uma relação amigável com os países da América Latina.
É de grande importância ressaltar o modo de que a indústria cinematográfica refere-se
não somente à grande batalha, mas sim numa luta contra as idéias subversivas e na idéia do
“homem novo”. A disseminação da ideia da família tradicional e da boa moral eram os
principais objetivos da participação estatal no cinema cuja frase a seguir emoldura toda essa
fase rooseveltiana: “Nosso cinema conquistou o primeiro lugar no mundo. Ele reflete nossa
civilização para o estrangeiro. As idéias, as aspirações e os ideais de um povo livre e da
própria liberdade” (ROOSEVELT apud PEREIRA, 2011, p.1).
Marc Ferro (2010) trata em seus escritos a transformação do uso dos filmes para
sociedade, de um simples entretenimento para uma forte ferramenta sociológica para a
conscientização das massas e até mesmo como fonte historiografica. Lênin, em seus escritos
sobre a Revolução Russa de 1917, afirma que o cinema é a arte mais importante a ser
ressaltada, pois por trás dela, há um forte aparato pedagógico para a população proletariada.
Tróstski afirma, em 1923, que “o cinema é um instrumento que se impõe por si mesmo, é o
melhor instrumento de propaganda” (TROSTKI apud FERRO, 2010). Wagner Pinheiro
Pereira (2011) analisa a propaganda relacionando o Estado e o psicológico da população:
A referência básica da propaganda é a sedução, elemento de ordem emocional de
grande eficácia na conquista de adesões políticas. Em qualquer governo, a propaganda
é estratégica para o exercício do poder, mas adquire uma força muito maior naqueles
em que o Estado, graças ao monopólio dos meios de comunicação, exerce controle
rigoroso sobre o conteúdo das mensagens, procurando bloquear toda atividade
espontânea ou contrária à ideologia oficial. (PEREIRA, 2011, p.3)
3 Série de leis de censura à reprodução cinematográfica criada pelo advogado Will H. Hays, que já agia em prol
de um cinema mais moralista na década de 1920. Segundo Mondello (2008), esse código serviu para acalmar os
ânimos da população conservadora que se preocupava com o teor dos filmes americanos ainda nos anos de
1910.
4 Marc Ferro (2010) menciona em seu livro que Roosevelt convenceu-se de tomar atitudes propapagandísticas
pela democracia contra o totalitarismo hitleriano através de um filme chamado Terra Espanhola, de Joris Ivens
(1937), que retrata a luta dos republicanos espanhóis contra o regime ditatorial de Francisco Franco, na
Espanha.
Por meio dos estúdios de Hollywood os filmes de ficção e documentários produzidos
durante as décadas de 1930 e 1940, em geral, faziam apologia ao modo de vida da
classe média dos EUA, sob a orientação direta das políticas do escritório, conforme
pode corroborar um intenso expediente de papéis governamentais que circulavam
entre o OCIAA e os estúdios, com as diretrizes que deveriam ser seguidas nos roteiros
dos filmes. (ZAGNI, 2008, p.9)
5 Walt Dinsey já teria colaborado com Roosevelt em um episódio do Pato Donald chamado Der Fuhrer’s Face
(1943), onde o personagem se passa por um nazista irritado e cansado pelo humilhante e constante trabalho que
passa quando é obrigado a adorar a imagem de Hitler.
6 Nascido na Itália em 1897, mas se mudou para os Estados Unidos logo com 6 anos de idade, chegando a
estudar e a servir o exército norte-americano durante a Primeira Guerra Mundial. (PEREIRA, 2011)
Segunda Guerra Mundial e elucidando-a ao que estava acontecendo, quem era o inimigo e o
porquê que esse movimento deve ser fortemente apoiado7.
Para explicar a razão de Frank Capra se transformar em um diretor bastante renomado
nos Estados Unidos, Pereira (2011) explica que:
4. CONCLUSÃO
Utilizar filmes como fonte e embasamento historiográfico não é uma tarefa muito
usual pela academia universitária, e ainda é um intenso desafio para poder situar o contexto
do evento estudado. Por isso, preceitos básicos para traçar paralelos entre a cinematografia e a
história devem ser bastante considerados afim de evitar colocações de senso comum como
dizer que um filme pode ser uma reprodução de uma realidade, ao mesmo tempo que não se
deve subestimar o que as imagens em movimento podem trazer ao leitor. Para explicar a
importância do cinema para a avaliação histórica, Ferro (2010) salienta que:
7Os nomes das partes do compilado são as seguintes: Prelude to War, The Nazis Strike, Divide and Conquer,
The Battle of Britain, The Battle of Russia, The Battle Of China e War Goes to America.
Em relação ao período que Roosevelt governou os Estados Unidos, é fácil perceber a
preocupação que ele teve em uma imagem não somente de um modelo de sociedade, mas
também de um modelo de economia, de política e de educação ideológica. E tudo isso, através
de um forte investimento na propaganda em todos os meios de comunicação, incluíndo o
cinema, foco de análise deste estudo. Pereira (2004) lança comparações pertinentes em
relação a forma de como se moldava a pedagogia da população entre Alemanha e Estados
Unidos. Respectivamente, uma de forma mais agressiva que a outra. Porém, a intensidade da
propaganda nazista e yankee era bastante abundante – mais uma vez provando-se que a força
que a imagem traz através de si própria, mesmo que muitas vezes ela possa ser manipulada.
5. ARQUIVOS ANEXOS
Why we fight? – The Nazi Strike, de Frank Capra (1942). Disponível em: www.youtube.com
- MONDELLO, Bob. Remembering Hollywood's Hays Code, 40 Years On. United States:
2008. Disponível em: http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=93301189