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Técnica Estrutural
da
Sentença Criminal
II Ismair Roberto Poloni
Técnica estrutural da sentença criminal III
Técnica Estrutural
da
Sentença Criminal
Juízo Comum Juizado Especial
CATALOGAÇÃO NA FONTE
DO
DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO
ISBN: 85-353-0252-2
CDD: 345.810772
AGRADECIMENTO
APRESENTAÇÃO
Escrita em 1999, esta obra marca nos dias atuais um novo con-
ceito de livro didático e de doutrina. Mesclando ambas, como na Sen-
tença Cível, complementando aquela, retrata o autor os seus pensa-
mentos sem, contudo, deixar de registrar os pensamentos de grandes
mestres do direito penal. Traduzindo esses ensinamentos, aponta o
que colheu em sua experiência de quase duas décadas como magis-
trado e professor da matéria tornando-a acessível e sem a menor difi-
culdade para todos.
A narrativa encontrada em vários capítulos, mostrando o que
deve saber o juiz criminal para a elaboração de uma correta e justa
sentença penal, decorre da preocupação do autor em dar a sua colabo-
ração para o debate e desenvolvimento do Direito Penal, causa maior
da insegurança por que passa a sociedade brasileira. Também ao no-
vato é dada a chance não apenas de aprender como fazer uma senten-
ça criminal, mesmo a partir de um enunciado, como também através
de um processo criminal integralmente transcrito, invocando do lei-
tor sua capacidade e atenção.
Por isso, a obra em apresentação tem fundamental importância
na construção de novos pensamentos doutrinários, com as discussões
que advirão, bem como no aprendizado por aqueles que pretendem
ingressar na magistratura, certos, sem embargo, que iniciarão a tri-
lhar o melhor caminho no Direito Penal.
O tema, embora vasto em sua abrangência, padece de estudos
semelhantes na literatura penal, vindo, assim, esta obra, ao encontro
dos anseios quer da classe acadêmica, quer dos profissionais do Di-
reito.
VII
VIII Ismair Roberto Poloni
Técnica estrutural da sentença criminal IX
PREFÁCIO
SUMÁRIO
Agradecimento ............................................................................................ V
Apresentação ........................................................................................... VII
Prefácio ...................................................................................................... IX
Algumas observações .............................................................................. XV
Capítulo I – Da origem e evolução do direito penal e das penas ................. 1
Capítulo I-A – Crítica ao sistema ................................................................. 7
Capítulo II – Dos princípios gerais do processo penal .............................. 11
1. Princípio da igualdade .................................................................... 12
2. Princípio da legalidade ................................................................... 13
3. Princípio da prevenção ................................................................... 14
4. Princípio da imparcialidade do juiz ................................................ 15
5. Princípio do contraditório .............................................................. 16
6. Princípio da ampla defesa ............................................................... 17
7. Princípio do devido processo legal ................................................. 19
8. Princípio da verdade real ou da livre investigação das provas ....... 19
9. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos .. 20
10. Princípio do estado de inocência .................................................... 21
11. Princípio do “favor rei” ou do “in dubio pro reo” .......................... 22
12. Princípio da ação ou demanda ........................................................ 22
13. Princípio do impulso oficial ........................................................... 23
14. Princípio da oficiosidade ................................................................ 23
15. Princípio da oficialidade ................................................................. 23
16. Princípio da publicidade ................................................................. 24
17. Princípio da persuasão racional do juiz .......................................... 24
18. Princípio da motivação das decisões judiciais ............................... 24
19. Princípio do promotor natural ........................................................ 25
20. Princípio do juiz natural ................................................................. 25
21. Princípio da economia processual .................................................. 25
22. Princípio da brevidade processual .................................................. 26
23. Princípio do duplo grau de jurisdição ............................................ 26
24. Princípio da indisponibilidade ........................................................ 26
XI
XII Ismair Roberto Poloni
ALGUMAS OBSERVAÇÕES
O Direito Penal pátrio, iniciando com o “Código Criminal do
Império do Brazil” (1830), passando pela formação da República,
com o Código Penal de 1890, seguido pela “Consolidação das Leis
Penaes” de 1932, pelo “Código Penal de 1940”, com as alterações de
1977 e com a Reforma Penal de 1984, tem enfrentado sobremaneira
as dificuldades que o tema impõe e exige do legislador e do jurista.
No entanto, não têm sido suficientes as modificações, principalmente
aquelas derivadas das experiências européias, ante as gritantes dife-
renças existentes entre os países como Alemanha, Itália, França,
Espanha e Portugal em relação ao Brasil. Decorre daí a necessidade
de buscarem os profissionais do Direito, o juiz, o promotor de justiça
e o advogado, quer na interpretação da norma penal, quer na aplica-
ção da mesma ao caso concreto, sem se investirem na condição de
legislador, a linha mestra da finalidade do direito: a preservação da
paz e da ordem sociais. Nem sempre os interesses dos administrado-
res públicos fazem refletir a supremacia do interesse público na ma-
nutenção da paz e da ordem sociais. Normas como a Lei 9.714/98,
antes de atingirem a finalidade social e ao bem comum, buscam uma
acomodação para a administração pública, permitindo o esvaziamen-
to dos estabelecimentos penais, sem a preocupação com a reintegra-
ção social do condenado ou com a finalidade social-pedagógica da lei
penal. Carnelutti, na obra As Misérias do Processo Penal, já demons-
trava que a pena nunca tinha um fim; ela acompanharia o condenado
até o fim de sua vida, quando não com reflexos também sobre seus
sucessores. Muito evoluiu o Direito Penal; mas, no Brasil,
referentemente à aplicação da pena, embora tenha havido também
uma evolução, a mesma não atingiu a prioridade da lei penal, para a
manutenção da ordem e da paz sociais, permitindo uma convulsão
social onde as pessoas não possuem mais a segurança de outrora,
XV
XVI Ismair Roberto Poloni
aplicador da lei penal, compete, com suas sentenças penais, não per-
mitir o descrédito na justiça e o aumento da criminalidade, através de
uma perfunctória análise de cada caso, para o fim de ajustar
corretamente a pena que assim fizer por merecer o condenado. En-
quanto não temos a ação da administração pública no sentido de cons-
truir os meios e de dar as condições para a efetiva execução da pena
criminal, como não se tem em muitos outros setores públicos, é ne-
cessário seja vivificado o Direito Penal não pela letra morta da lei, na
execução da pena, mas, antes sim, pela pena do magistrado cônscio e
crítico, ao lançar sua sentença criminal.
Balzac, citado por Pierre Bouchardon, na obra O Magistrado1
sentenciou:
1
O Magistrado, Editora Saraiva & Cia. Ltda., 2ª edição, 1937, p. 136.
18 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO I
DA ORIGEM E EVOLUÇÃO
DO DIREITO PENAL E DAS PENAS
5
Introducción a la ciencia del derecho, Editorial Labor, Barcelona – Buenos Aires, 1930.
6
Las consecuencias jurídicas del delito, Editora Tecnos, 1996, Espanha, p.18.
20 Ismair Roberto Poloni
na história com a pena de talião (olho por olho, dente por dente), que
criou, no dizer de Enrico Ferri,12 “um limite, uma medida à reação
pela vindicta defensiva”, e daí para a possibilidade de ser aquela subs-
tituída por valores ou prisão, de modo a diminuir o sofrimento indivi-
dual do réu. Além disso, no dizer de Moniz Sodré,13 nesse sistema
tinha-se revelado, por vezes, crueldades mais atrozes operadas pelos
juízes do que aquelas dos próprios delinqüentes. Ferri14 dizendo so-
bre a origem da lei penal, registrou: “Quando o Estado entende, em
algum momento histórico da vida de um povo, que para determinados
desvios da conduta individual ou coletiva, à conservação das condi-
ções normais de existência social (ordem social, ordem pública) não
bastam as preditas normas e sanções morais e jurídicas, acrescenta
uma sanção penal que não exclui – para o mesmo ato – as sanções
morais, econômicas, disciplinares”. Mas, como já dito15 no capítulo
Da Evolução Histórica da Sentença, como todo poder era de origem
divina, as pessoas de posição privilegiada recebiam tratamento diver-
so daquele dado aos comuns. Em 1764, Cesare Beccaria, que não era
jurista, indignado também com essa espécie de injustiça, rebelou-se
lançando a obra Dei Delitti e Dele Pene, 16 patenteando a
obrigatoriedade de uma lei para poder ser punida qualquer pessoa e
que, por isso, tudo aquilo que não fosse proibido pela lei, poderia ser
praticado. Sentenciou ainda um teorema segundo o qual “a pena deve
ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas
aplicáveis nas circunstâncias dadas, proporcionada ao delito e deter-
minada pela lei”. Por isso, haveria a necessidade de se ter a norma
penal, desde seu nascedouro, clara, precisa e taxativa, ficando o juiz
adstrito àquela lei, em homenagem ao princípio “nullum crimen nulla
poena sine lege”.17 Para Beccaria “o juiz deve fazer um silogismo
12
Princípios de Direito Criminal, Editora Bookseller, 2ª edição, 1999, p. 34.
13
Ob. cit., p. 28.
14
Ob. cit., p. 122.
15
Técnica Estrutural da Sentença Cível – Juízo Comum Juizado Especial, Editora Bookseller,
2000.
16
Cesare Beccaria, Dos Delitos e das Penas, Editora Hemus, 1974, p. 17, 97.
17
O princípio da reserva legal remonta o ano de 1215, quando o rei da Inglaterra, João “Sem
Terra” (John Lackland) fez inscrever na Constituição Inglesa que “nenhum homem livre pode-
ria ser preso, privado de sua propriedade, de sua liberdade ou de seus hábitos, declarado fora da
lei, exilado ou, de qualquer maneira, apenado, salvo julgamento legal feito por seus pares ou
pela lei de sua terra”. Era o início do princípio do due process of law. A doutrina ora aponta
Beccaria como precursor do princípio nullum crimem nulla poena sine lege, ora aponta para
Pul Anselm von Feuerbach.
22 Ismair Roberto Poloni
18
O Homem Criminoso, Editora Rio, tradução do original francês L’Homme Criminel, de
Maria Carlota Carvalho Gomes, p. 480.
19
Criminologia – Estudo Sobre o Delicto e a Repressão Penal, versão portuguesa por Júlio de
Mattos, Editora Livraria Clássica, de AM. Teixeira & CA (Filhos), Edição de 1925, Lisboa –
Portugal, p. 28.
20
Ob. cit., p. 28/29.
Técnica estrutural da sentença criminal 23
21
As Três Escolas Penais, Editora Biblioteca Jurídica Freitas Bastos, 8ª edição, p. 54.
22
Moniz Sodré, ob. cit., p. 87.
24 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO I – A
CRÍTICA AO SISTEMA
Já foi dito27 que é pelo número de normas de um país que se tem
revelado o seu grau de cultura e desenvolvimento social. Nesse senti-
do também registrou Beccaria ao sentenciar que o cidadão pode fazer
tudo aquilo que, pela lei, não for proibido. Ora, em nosso país, a cada
momento se busca a reformulação ou mesmo a criação de novas nor-
mas penais ou de processo. Sempre de conformidade com o elevado
número de condutas negativas, para a sociedade, obrigando ao legis-
lador à criação e à modificação do que deveria ser desnecessário.
Caso houvesse um grau de cultura e desenvolvimento que fizesse
desnecessária a criação ou a modificação da legislação penal e pro-
cessual, de forma a que se respeitasse os princípios fundamentais do
direito – “JURIS PRAECEPTA SUNT: HAEC HONEST VIVERE,
ALTERUM NON LAEDERE, SUUM CUIQUE TRIBUERE” (Os
Princípios Gerais do Direito são: viver honestamente, não lesar ter-
23
Bem jurídico-penal e constituição, Editora RT, 1998, p.54.
24
V. CF, art. 5º, XLV e XLVI.
25
V. CF, art. 5º, XLVII e XLIX.
26
Técnica Estrutural da Sentença Cível, Ismair Roberto Poloni, Editora Bookseller, 2000.
27
Técnica Estrutural da Sentença Cível, Editora Bookseller, 2000.
Técnica estrutural da sentença criminal 25
ceiros e dar a cada um o que é seu) –, por certo não teríamos a avalanche
de normas penais. Isso, quando não pelo mero casuísmo que enfrenta
a sociedade, novas e inovadoras normas penais, inclusive de ordem
processual, invocando para tanto, a figura da “política judiciária”. É
claro que esta existe e deve existir, adaptando-se, conforme o neces-
sário, àquilo que efetivamente deva ser necessário. Mas, quando se
vê, como nas disposições finais e transitórias da Lei de Execução
Penal, máxime em seu art. 203, § 4º, que previu o prazo de seis meses
para cada unidade federativa “projetar a adaptação, construção e
equipamento de estabelecimentos e serviços penais previstos nessa
lei”, sob pena de “suspensão de qualquer ajuda financeira a elas
destinadas pelas União”, registrando raríssimas Casas do Albergado,
sentimos o descrédito no império da lei. E, o que é muito pior, em
nome de uma Política Judiciária Criminal, a edição de leis como a de
nº 9.714/98 que aboliu, em todos os sentidos, a prisão para crimes
apenados até quatro anos de reclusão, mesmo que reincidente o réu
em crime doloso. Por tais razões, torna-se difícil a conceituação da
nossa “moderna legislação penal” e, assim, muito mais difícil, para
os profissionais do direito, em especial o juiz, na busca da distribui-
ção da verdadeira justiça.28 Contudo, em sendo o juiz mero intérprete
e aplicador da lei no caso concreto, veremos que, com muito mais
dificuldade que na sentença cível, ainda se é possível, com esforço, a
distribuição da justiça, principalmente em matéria criminal. Miguel
Reale Júnior,29 fazendo a sua conclusão, no Título denominado “Mens
Legis Insana, Corpo Estranho”, sobre a mencionada Lei 9.717/98,
previu em sua análise: “A prestação de serviços à comunidade, a pres-
tação pecuniária e a limitação de fim de semana constituem as penas
restritivas aplicáveis à generalidade dos casos. A limitação de fim de
semana jamais foi implementada em quase quinze anos de vigência
da Parte Geral de 1984.
28
José Frederico Marques, in Tratado de Direito Penal, Editora Millennium, 1ª edição
revisada, 1999, p. 311/312, diz que “Na justiça Penal, a sua missão é das mais complexas,
porquanto o comando concreto que emerge da sentença decide sobre uma existência
humana, ditando-lhe muitas vezes regras para o futuro e sujeitando-a à disciplina legal de
sanções aflitivas ou de providência de caráter preventivo que são impostas na defesa da
sociedade, em prol dos valores essenciais a seu desenvolvimento e elevação no plano
moral e material”.
29
Penas Restritivas de Direitos, Críticas e Comentários às Penas Alternativas – Lei 9.714, de
25.11.1998, Editora Revista dos Tribunais, 1ª edição, 1999, p. 42/43.
26 Ismair Roberto Poloni
1 – PRINCÍPIO DA IGUALDADE
O primeiro dos três princípios fundamentais do direito penal é o
PRINCÍPIO DA IGUALDADE. Por esse princípio, garante o Estado
a qualquer pessoa, o direito de ser tratada, pelo juiz, da mesma forma
que todos deverão ser tratados, quer no relacionamento direto com a
parte, no processo, enquanto pessoa que sofre uma avaliação sobre a
conduta que lhe imputam delituosa, quer nos próprios autos, enquan-
to parte. Na verdade, o princípio da igualdade, embora tenha seus
reflexos diretamente sobre aquele em julgamento, atinge a todos nós,
indistintamente, enquanto existente a possibilidade de, qualquer um,
estar sujeito ao cometimento de delitos, de qualquer ordem e gravida-
de e, pois, à aplicação da lei penal. É sabido que, na prática, o direito
penal é dirigido com maior intensidade, quanto às ocorrências, à clas-
se menos favorecida, social, cultural ou economicamente. E a esses,
pela incapacidade no reconhecimento da gravidade de uma ação pe-
nal e, na incapacidade financeira para a sua defesa, ocorre, na maioria
das vezes, restarem quase que indefesos no processo penal, ante a
gratuidade dos serviços prestados pelo defensor, dativo ou público.
Mas nem de longe essa quase condição de indefeso, por vezes, pode
ser confundida com violação do princípio da igualdade. Imaginar-se
assim, seria o mesmo que admitir a inaplicação do princípio da igual-
dade para aqueles que, embora abastados economicamente, contra-
Técnica estrutural da sentença criminal 31
3 – PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
O último dos três mais importantes princípios é o da PREVEN-
ÇÃO. Por esse princípio, tem-se que, obrigatoriamente, observar a
finalidade preventiva da pena. Nada pode ser justificado, a nível de
penalização, que não tenha, por primeira finalidade, a reintegração
do condenado à sociedade. Nenhuma pena pode ser imposta ao con-
denado que não traduza, antes de um castigo, a possibilidade de sua
ressocialização. Toda a sistemática da norma penal é dirigida, como
veremos, com finalidade social-pedagógica, quer com relação ao con-
denado, quer com relação a terceiros. Por isso, determinando a lei a
pena que deverá ser aplicada, compete ao juiz sentenciante verificar
qual delas e em que quantidade será necessária e suficiente para a
reprovação e a prevenção do crime. Sem essa linha mestra a ser ob-
servada, nenhum processo criminal terá justificada a sua existência e,
pois, também a de sua sentença condenatória, posto que não passará
de uma mera vindita, pessoal ou coletiva, com reflexos meramente
penalizadores, de mero castigo. Sabemos que a pena tem também a
sua finalidade de castigar. Mas essa não foi a primeira finalidade que
fez nascer a norma penal. Fosse assim, teríamos aplicado até os dias
atuais apenas a lei de talião. Sim, porque aplicando-se, como se fazia,
a regra do “olho por olho, dente por dente”, ter-se-ia exclusivamente,
a aplicação da norma penal com a finalidade de dar uma resposta à
vítima, no sentido de que algo foi feito, dizendo-lhe o que e até quan-
do ou onde poderia fazer contra seu agressor. E nada mais. Ora, se o
agressor havia decepado um membro da vítima, essa poderia também
decepar o mesmo membro do ofensor. E aí teríamos apenas, como
finalidade da norma penal, o castigo, sem qualquer preocupação quanto
à função sociopedagógica da pena, que tem seu maior reflexo na
Técnica estrutural da sentença criminal 33
5 – PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
Em qualquer espécie de processo criminal terá, sempre, um que
será o acusado e outro que será o acusador. E acima e entre essas
partes, estará o juiz criminal. Sob sua direção essas partes, que em
princípio revelam, de per si, ser possuidores de interesses próprios e
antagônicos entre si, trazem aos autos os elementos que servirão de
embasamento da sentença, condenatória ou absolutória, de forma or-
denada. Esses elementos carreados aos autos não poderão ser produ-
zidos ou terem efeitos, em relação a uma das partes, se a outra não
participou de sua feitura ou oportunidade para participar dela ou não
teve ciência de sua juntada. E é exatamente aí que se tem o princípio
do contraditório, que objetiva garantir o direito de uma das partes em
atacar ou admitir um determinado ato produzido pela parte adversa
ou pelo juízo. E isso não impede o juiz de, em sendo necessário, de-
terminar a realização de provas ou diligências elucidativas da verda-
de real dos fatos em julgamento. Assim, em sendo o ato praticado por
uma das partes, pelo princípio do contraditório a parte oposta sempre
deverá ser cientificada daquele ato e, com base na lei, defender seus
interesses com relação àquele. Igualmente, em sendo o ato promovi-
do pelo juiz, mesmo assim deverá ser guardado o princípio do contra-
ditório, revelando-se as determinações do juiz às partes, que terão,
Técnica estrutural da sentença criminal 35
16 – PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
No processo penal, ainda que na fase investigatória, todos os
atos serão públicos. Mesmo naqueles que, pelo interesse social ou
pelo decorro, devam tramitar em sigilo há uma certa publicidade na
medida em que o fato de ser sigiloso não será secreto; haverá de ser
franqueada a participação, pelo menos, do acusado e seu defensor.
Qualquer processo ou procedimento que não esteja revestido da pu-
blicidade mínima (presença do defensor e do acusado), resultará ab-
solutamente nulo. Irrelevante, aqui, tenha sido comprovada a ocor-
rência de prejuízo pois esse está implícito no cerceamento que se
causou à parte, não lhe permitindo acompanhar todo o processo.
24 – PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE
Pelo interesse coletivo próprio resultante dos atos delituosos, a
persecução penal será indisponível, devendo as autoridades agir por
dever de ofício, até julgamento final. Assim, com ciência da prática
de um delito, inicia a autoridade policial a persecução criminal que,
uma vez denunciada pelo promotor de justiça, seguirá até final julga-
mento, sem que possa, quer o promotor de justiça, quer o juiz, dispor
da obrigação de seguir com o processo até final julgamento. Evita-se,
assim, a ocorrência de composições ou aconchavos.
44 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO III
1 – O LUGAR DA INFRAÇÃO
É a regra maior de determinação da competência, também deno-
minada de competência “ratione loci”. Ocorre em face do lugar da
infração (art.70). O lugar da infração é aquele “em que ocorreu a ação
ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou
deveria produzir-se o resultado” (art.6º, CP).
DA CONTINÊNCIA
Sempre que uma causa estiver contida na outra haverá a reunião
pela continência. O art. 77 CPP estabelece como critério de continên-
cia: 1) a co-autoria, quando duas ou mais pessoas forem acusadas
pela mesma infração; 2) quando a infração for cometida: a – em con-
curso formal (art. 70), b – com erro na execução (art. 73), c – ou,
quando por acidente ou erro na execução do crime, ocorre também o
resultado pretendido (aberratio criminis – art. 74, 2ª parte).
6 – A PREVENÇÃO
Onde houver mais de um juiz ou, sendo competentes mais de
um juízo, mesmo que de comarcas distintas, qualquer ato praticado
por um deles o tornará competente para conhecer e julgar aquela ação.
Assim, é necessário, para a prevenção, que mais de um juiz seja com-
petente e então, ao tomar, um deles, medidas como a decretação da
48 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO IV
DA FINALIDADE SOCIAL-PEDAGÓGICA
DA LEI PENAL E DA PENA
59
Princípios Básicos de Direito Penal, Editora Saraiva, 5ª edição, 6ª tiragem, 1999, p.
29.
64 Ismair Roberto Poloni
conduta prescrita pela lei como delito, que se tem a criação das nor-
mas penais de conduta, com a cominação de uma coerção, de uma
pena, seja ela de qual espécie for. A mais recente teoria, que busca a
ressocialização do condenado e a humanização da pena, pode e deve
coexistir com a velha teoria da pena como castigo, valorada, cada
uma, de conformidade com a conduta e as condições subjetivas e
pessoais de cada agente. E não genericamente, como se pretende. De
qualquer forma, mesmo com a pretensão de ressocialização do con-
denado e com a humanização das penas, permanecem latentes, mes-
mo assim, os reflexos da pena com castigo.
Por isso, na sentença penal condenatória, deve o juiz buscar,
sempre, na fixação das penas, conforme prescrição legal, estabelecer
a pena que seja necessária e suficiente para a reprovação e prevenção
do crime, bem como para a ressocialização do condenado, preocupa-
do, nesse sentido, com os reflexos da pena sobre a sociedade, tendo a
pena como fim, também uma educação sociopedagógica, quer para o
réu, quer para a sociedade.
Técnica estrutural da sentença criminal 67
CAPÍTULO V
DA APLICAÇÃO DA LÓGICA DO
RAZOÁVEL NA SENTENÇA PENAL
66
A Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro, Editora Renovar, 3ª edição, atualizada por
Silva Pacheco, 1999, p. 131.
67
Rui Barbosa e a Lógica Jurídica, Editora Saraiva, 2ª edição, 1949, p. 116.
Técnica estrutural da sentença criminal 71
CAPÍTULO VI
68
Tratado de derecho penal, 2ª edición, Editorial Revista de Derecho Privado, 1946, p.
149.
57
Técnica estrutural da sentença criminal 73
69
Tratado de Derecho Penal, Editorial Losada S/A, Buenos Aires, 2ª edição, 1950, tomo
II, p. 411.
70
Principios de derecho penal la ley y el delito, Editorial Sudamericana, p.109.
71
Scritti di diritto penale, Editora Dott. A. Giuffrè – Editore – Milano, 1955.
72
Temas Polêmicos. Estudos e Acórdãos em Matéria Penal, Editora JM, 1ª edição, 1999, p.
32/33.
73
Enrique Cury Urzúa, Derecho Penal, p. 142, p. 143, a) Francesco Ferrara, Interpretação e
Aplicação das Leis, tradução de Manuel Domingos de Andrade, p. 129, Coimbra, 2ª edição,
extraindo os capítulos III, IV e V, do Tratado di Diritto Civile Italiano; Jescheck, Tratado de
Derecho Penal, tradução espanhola, I/208, § 17 III 1. Radbuch, Filosofia do Direito, tradução
74 Ismair Roberto Poloni
portuguesa de Cabral de Moncada, p. 236, 5ª edição, lembra dos poetas que reconhecem
não se esgotarão significado dos seus versos no sentido que eles pensaram ao escrevê-lo,
descobrindo novas significações, não pressentidas então, posteriormente”.
74
Soler, obra citada, p. 146-147, Radbruch, idem, p. 231: a interpretação jurídica parte da
interpretação filológica, mas sem ir além dela”.
75
Cury Urzúa, obra citada, p. 145. Sequer a linguagem propriamente jurídica é uniforme,
aponta Maurach (obra citada, I/108, § 9 B”.
76
Cury Arzúa, obra citada, p. 142/144; Asúa, Tratado de Derecho Penal, II/410-412, nº 636,
3ª edição.
77
Problemas, p. 177 e seguintes, lembrado por Usúa, obra citada, p. 410.
78
Francesco Ferrara, obra citada, p.128; Maurach, idem, 1/106, § 9 a 1; Asúa, idem, p. 444 e
seguintes, nº 652, anotando de Cícero a observação de que apegar-se às palavras do texto,
desprezando a mens, seria calid et malitiosa juris interpretatio. Recordando famosa expressão
de Celso, conclui: En efecto, saber la ley no es conecer su palavra, sino su fuerza y su potestad”.
79
Criticamente, Francesco Ferrara, obra citada, p. 164 e seguintes; Asúa, idem, nºs 648, p. 437
e seguintes e 650, p. 440 e seguintes.
80
Jescheck, obra citada, p. 214, § 17, IV 5”.
81
Da Lei Penal, da Pena e sua Aplicação, da Execução da Pena, Editora Forense, 1ª edição,
1995, p. 11/12.
Técnica estrutural da sentença criminal 75
84
Comentários ao Código Penal, vol. I, tomo I, Editora Forense, Nélson Hungria –
Heleno Cláudio Fragoso, 5ª edição, 1977, p. 13/14.
Técnica estrutural da sentença criminal 77
85
Direito penal, Editora RT, 1966, vol. I, p.127.
86
Interpretação e Aplicação das Leis, in Colecção Studium – Temas Filosóficos, Jurídicos e
Sociais, 4ª edição, Arménio Amado – Editor Sucessor – Coimbra, 1987, p. 187.
78 Ismair Roberto Poloni
87
Tratado de derecho penal, Editorial Revista de Derecho Privado, 1946, p. 145.
88
Derecho Procesal Civil y Penal, Ediciones Jurídicas Europa-América, Buenos Aires, 1971,
vol. I, p. 21.
Técnica estrutural da sentença criminal 79
CAPÍTULO VII
97
Teoria Geral do Processo, Editora Malheiros Editores, 4ª edição, 1999, p. 274.
98
In Prova Criminal – Modalidades – Valoração, Jorge Henrique Schaefer Martins, Editora
Juruá, 1ª edição, 1996, p. 126/127.
Técnica estrutural da sentença criminal 85
Se é certo que o juiz fica adstrito às provas constantes dos autos, não
é menos certo que não ficará subordinado a nenhum critério apriorístico
no apurar, através delas, a verdade material. O juiz criminal é, assim,
restituído à sua própria consciência. Nunca é demais, porém, advertir
que livre convencimento não quer dizer puro capricho de opinião ou
mero arbítrio na apreciação das provas. O juiz está livre de precon-
ceitos legais na aferição das provas, mas não pode abstrair-se ou alhear-
se ao seu conteúdo. Não estará ele dispensado de motivar a sua sen-
tença. E precisamente nisto reside a suficiente garantia do direito das
partes e do interesse social”.
Mittermaier,99 já nos idos de 1834, patenteava que “muitíssimas
vezes o processo criminal não admite como provas completas senão
as que procedem de evidência material direta ou indireta; só elas,
com efeito, parecem de natureza a formar a certeza,100 enquanto que
outros meios com que algumas vezes se contentam (os indícios, por
exemplo) parecem não dever jamais levar a uma demonstração ple-
na.101 Porém, sujeitar-se a conclusões tão rigorosas será, talvez, ir
demasiado longe;102 não é só ao testemunho dos sentidos que nós
prestamos crédito, mas também às afirmações do raciocínio, quando
examina e conclui com ajuda dos dados dos sentidos, e quando a
certeza se forma em nossos espíritos, guiados pelos meios puramente
lógicos”.
Portanto, a aplicação do direito ao caso concreto, com a livre
valoração das provas, com a inferência intelectual do juiz, impera em
nosso sistema e, embora não exija a lei tenha o juiz conhecimentos
básicos de psicologia, certo é que, para a formação de seu livre con-
vencimento como resultado de uma justiça, deverá ele analisar, desde
a instrução, os elementos psicológicos que estão a interagir entre o
informante e o caso, bem como entre o informante e o próprio juiz da
instrução. Afinal, de outra forma não será possível a obtenção da ver-
dade material e da garantia do direito das partes e do interesse so-
99
Tratado da Prova em Matéria Criminal, Editora Bookseller, 2ª tiragem, 1997, p. 108.
100
Gmelin, die peinliche Rechtspflege in Kleinstaaten – Da administração da justiça criminal
nos Estados pequenos, p. 152.
101
Carmignani, Leggi della Sicurezza, t. 4, p. 178.
102
Nesse sentido, é com razão que Globig em sua Teoria das Probabilidades (Theorie der
Wahrcheinlichlcit), 1ª parte, p. 87, coloca a evidência material na classe das conclusões ordinárias.
86 Ismair Roberto Poloni
cial. Poderá ter-se uma sentença. Mas muito distante dos objetivos
que primam a lei e o direito. Jorge Henrique Shaefer Martins103 leciona
que o juiz, na livre apreciação das provas, “Não está preso a grilhões,
não está obrigado a decidir de maneira previamente indicada. Tem
ele o direito e o dever de exercitar sua inteligência, seu raciocínio, e
usando de seus conhecimentos jurídicos e sensibilidade, agir como
verdadeiro intérprete da causa, aplicando a lei com justiça e pro-
ficiência “. E aplicar a lei “com justiça e proficiência” obriga ao juiz,
na produção e posterior apreciação das provas, à aplicação de conhe-
cimento básico de psicologia, verificando cada circunstância pessoal
e subjetiva do informante e suas próprias. Isso porque, em determina-
do momento, o juiz, pessoa comum sujeita às adversidades naturais
da vida e do cotidiano, pode não ter a sua capacidade de recepção de
uma informação suficientemente completa, a ponto de obter do infor-
mante o máximo – e com a maior segurança possível – de dados sobre
os fatos.
Essas considerações são necessárias na medida em que é com
base nas provas e, pois, na livre apreciação das mesmas, que será
constituída a sentença final que, pela finalidade da lei e do direito,
deverá revelar, antes de uma mera peça processual, uma declaração
do Estado, em seu poder-dever de dar a cada um o que lhe pertence,
que permita a realização da justiça e, pois, a manutenção da paz e da
ordem sociais.
103
Ob. cit., p. 110.
Técnica estrutural da sentença criminal 87
CAPÍTULO VIII
A PSICOLOGIA DO TESTEMUNHO
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A psicologia do testemunho e o princípio da identidade física
do juiz como necessidades para a distribuição da justiça penal
106
Código de Processo Penal comentado, Editora Saraiva, 3ª edição, 1998, vol. I, p. 383.
Técnica estrutural da sentença criminal 89
CAPÍTULO IX
A APLICAÇÃO DA PSICOLOGIA
DO TESTEMUNHO E O PRINCÍPIO DA
BUSCA DA VERDADE REAL
Pois bem, com essas considerações iniciais, que são bases para a
compreensão da importância da aplicação da psicologia do testemu-
nho também no processo penal, traremos a lume algumas considera-
ções que deverão revelar sobre a necessidade de se aplicar a psicolo-
gia do testemunho para a busca da verdade real dos fatos, no processo
penal. Necessidade, aliás, já observada no início do século XX, con-
soante nota de Galdino Siqueira107 pois, “a testemunha deve somente
narrar e descrever o facto e suas circunstâncias, o que quer dizer que
o seu conhecimento, decorrendo somente da observação e experiên-
cia é um conhecimento simplesmente experimental”. Prossegue ele:
“Com os dados da psychologia experimental, lançaram-se ultimamente
os fundamentos de uma nova disciplina scientifica – a psychologia
do testemunho, cujo alvo é fixar a fé devida a essa espécie de prova.
Encontrando seu inicio nos trabalhos sobre a suggestibilidade de Binet,
em França, a nova disciplina teve sua maior systematização e desen-
volvimento na Allemanha e na Suissa”. François Gorphe,108 discor-
rendo sobre “a boa testemunha”, disse que, aquela, “não é somente
conscienciosa, está ademais dotado de sentido crítico e sabe aplicar
este sentido crítico a seu próprio testemunho. Então é o melhor auxi-
liar do juiz, se este sabe servir-se dele. A autocrítica é uma qualidade
que se relaciona estreitamente com o bom-senso, sem ser ‘a coisa
melhor repartida do mundo’. ‘Um homem de bom-senso, dizia Santo
Tomás, é aquele cujo espírito está disposto como uma lua clara e
107
Curso de Processo Penal, Editora Livraria Magalhães, 2ª edição, 1937, p. 210.
108
La Crítica del Testemunho, tradução de Mariano Ruiz-Funes, Editora Instituto Editorial
Reus – Madrid, p. 349.
79
Técnica estrutural da sentença criminal 93
muito unida, em que as coisas se imprimem tal como são, sem que as
cores se alterem ou os riscos se quebrem e se desfigurem: simplici
intuitu recta vindectur’ (II, 2, Quaest, II, art. 3). Mas o espelho do
espírito mais justo não pode deixar de dobrar e de transformar, como
não fora assimilando-se, os raios naturais das coisas: ‘Temos em cada
um de nós, disse Bacon, uma espécie de caverna que rompe e corrom-
pe a luz natural’. O espírito da testemunha, como em todo ser huma-
no, é uma síntese viva e profunda que absorve a individualidade das
imagens que se projetam sobre ela, as refrata e as desnaturaliza. Os
dados proporcionados pelo testemunho constituem um produto que
tem sido em parte recriado pela testemunha. O simples bom-senso
sentido não poderia, pois, bastar: tem necessidade de ser dobrado de
reflexão crítica, a fim de reconhecer e, se possível, corrigir os peque-
nos erros inevitáveis, e ainda melhor, detê-los em seu nascimento”.
Pietro Nuvolone,109 em seu prefácio, elencando os princípios funda-
mentais sobre o sistema do direito penal, afirmou que existe a “Ne-
cessidade de jamais olvidar as relações entre o direito penal, que é
ciência humana, e as demais ciências do homem e, em particular, a
criminologia, a psiquiatria, a sociologia: somente assim a avaliação
jurídica da ação jamais ficará em antítese com os dados naturalistas”.
Luiz Regis Prado110 analisando as condições psicológicas da teste-
munha e os reflexos sobre seu depoimento disse: “Em qualquer das
fases do processo psicológico do testemunho podem ocorrer certas
deformações, os desvios involuntários (de ordem comum, erro) e os
desvios voluntários (simpatia, antipatia, vingança, vaidade, corrup-
ção). ...As condições que podem modificar o testemunho distribuem-
se em dois grupos: as condições objetivas (a natureza e a duração do
estímulo, o grau de iluminação, o tempo, o lugar, o silêncio) e as
condições subjetivas (a atenção, a imaginação, a emoção, os fatores
catatímicos – medo cólera e amor). As avaliações (peso, tempo, velo-
cidade, dimensão, número), mais complexas que as percepções, de-
vem se consideradas como imprecisas e muito falhas em fidelidade”.
Emílio Mira Y López,111 no capítulo “Psicologia do Testemunho”,
enaltece a matéria mas, em contrapartida, afirma sobre o descaso dos
109
O Sistema do Direito Penal, vol. 1º, Editora Revista dos Tribunais, tradução de Ada
Pellegrini Grinover e notas de René Ariel Dotti, 1981, p. X.
110
Falso Testemunho e Falsa Perícia, 2ª edição, Editora Revista dos Tribunais, 1994, p. 26.
111
Manual de Psicologia Jurídica, Editora Mestre Jou, 1967, p. 159.
94 Ismair Roberto Poloni
juristas sobre a mesma. Disse ele : “Eis um dos capítulos mais bri-
lhantes da Psicologia jurídica. O número de trabalhos publicados so-
bre ele é, sem dúvida, muito maior que o dedicado ao resto dos pro-
blemas desta disciplina. E não obstante, apesar do tempo transcorrido
desde o aparecimento dos primeiros estudos de Neumann, Kraepelin,
Binet e Stern (mais de um quarto de século),112 bem pouco pode-se
dizer que os juristas aproveitaram deles.” Nélson Hungria,113 ensi-
nando sobre a “função do juiz criminal”, concluiu dizendo que o juiz
deve aplicar seus conhecimentos de psicologia, ainda que os adquiri-
dos “pelo traquejo da vida”, na apreciação e valoração das provas,
inclusive, pois, o interrogatório. Disse: – “Não apenas a identificação
técnico-jurídica do crime, mas também a identificação psicológica do
criminoso. Advirta-se para logo, porém, que não se trata de fazer psi-
cologia livresca ou erudita, mas psicologia que todos nós sabemos
fazer, psicologia intuitiva ou ensinada pelo traquejo da vida, psicolo-
gia acessível a todo homem sensato e de perspicácia comum, embora
ignorante dos biopsicogramas de Kretschmer ou dos processos
catárticos de Freud” .
Dayse Cesar Franco Bernardi,114 abordando o tema da aplicação
da psicologia jurídica, registrou: “O modelo inicial da Psicologia Ju-
rídica corrobora, assim, com o enfoque pericial estrito, entendido como
aquele que visa a oferecer ao juiz subsídios para uma decisão consi-
derada justa, dentro do que impõe a lei. Tal tendência encontra res-
paldo nas origens da Psicologia Jurídica, vinculadas à chamada ‘Psi-
cologia do Testemunho’ (Stern, 1903 In: Anastasi, 1972: 74). Ela está
documentada como um conjunto de pesquisas, sobre a tradição jurí-
dica referente à validade do testemunho, que demonstrou a grande
relatividade do valor probatório dos métodos de inquisição da verda-
de em processos penais”. Mais adiante arremata: “A história recente
da ciência psicológica nos mostra que se entrecruzamento com o Di-
reito parece seguir os mesmos moldes da Medicina psiquiátrica, quan-
do, em 1940, Pacheco e Silva115 nos relatou: ‘considerar o criminoso
e não o crime, só seria possível através da interpretação da personali-
112
A primeira edição, em espanhol é de 1945.
113
Ob. cit., vol. V, p. 466.
114
Temas de Psicologia Jurídica, Editora Relume Dumará, 1999, p. 103.
115
Psiquiatria Clínica e Forense – Compêndios e Tratados. Série 3ª (II). Biblioteca Médica
Brasileira, ED. Nacional, 1940.
Técnica estrutural da sentença criminal 95
10
O Testemunho Perante a Justiça Penal. – Ensaio de Psychologia Judiciária, Editora
Livraria Jacintho, 3ª edição, 1939, p. 53.
11
Claparède, Experiense sur le temoignage, nos Archives de Psychologie, vol. V, 1906; Actas do
cit. Congresso de Turim, p. LXI, 295-296, 494; Bulletin de l’Union Internacionale de Droit
Pénale, T XVII, p. 496 e seguintes; Comptes-rendus do cit. Congresso de Turim, p. 295.
96 Ismair Roberto Poloni
118
Psicologia do Testemunho, Benedito Hespanha, Editora Universidade de Passo Fundo
– EDIUPF, 1ª edição, 1996, p. 132.
119
Ob. cit., p. 133.
120
Francesco Carnelutti, As Misérias do Processo Penal, Editora Conan, 1ª edição, 1995,
p. 35, já afirmava, contudo, que “Sobretudo hoje se ensina que, para ser juiz penal, precisa
estudar, além de direito, sociologia, antropologia e psicologia. Certamente que são estudos
úteis e por fim necessários; mas não suficientes”.
Técnica estrutural da sentença criminal 97
122
As Misérias do Processo Penal, Editora Conan, 1995, p. 46.
100 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO X
89
Técnica estrutural da sentença criminal 103
123
Temas Polêmicos, Estudos e Acórdãos em Matéria Penal, editora JM, 1ª edição, 1999,
p. 36.
124
Tratado da Prova em Matéria Criminal, p. 326, nota 38 ( a ), tradução brasileira, 3ª edição.
125
Ob. cit., p. 189.
104 Ismair Roberto Poloni
126
La prueba em materia penal, Editora Rubinzal-Culzoni Editores, Buenos Aires, p. 67.
Técnica estrutural da sentença criminal 105
timo, creia o juiz sentenciante ser aquela a verdade real. Seria seme-
lhante a circunstância de, no processo em que for revel o acusado, ter-
se apenas a palavra da vítima, isoladamente, a confirmar os fatos.
Quer o acusado quer a vítima, podem revelar interesses que, embora
semelhantes e antagônicos entre si, buscam não a aplicação da justi-
ça, mas de mera vindeta: o primeiro, quer ver-se livre da acusação; a
segunda, quer ver a penalização do primeiro, ainda que indevida ou
injusta. E isso tem o juiz que “sentir” em sua sentença, discorrendo
sobre essa conclusão de forma concisa, clara e persuasiva. Nicola
Framarino Dei Malatesta,127 nesse sentido diz: “para que a confissão
seja reconhecida legitimamente como tal, deve ser verdadeira e não
presumida, e esta verdade da confissão se concretiza na sua existên-
cia real e explícita, por isso, a denominada confissão simulada e a
denominada confissão tácita não são confissões de modo algum”.
José Frederico Marques,128 apreciando os artigos 197, 198 e 200, do
CPP, diz que “Em ambos os preceitos, corolários forçados do princí-
pio da livre convicção, deixa-se ao juiz a apreciação do valor da con-
fissão qualificada. A ele é que cabe, com as regras da crítica racional,
aceitar ou recusar, em parte ou em bloco, o que consta das declara-
ções do confidente, tendo em vista as circunstâncias hic et nunc do
caso concreto e demais provas dos autos”. Mas, por óbvio, deverá o
juiz, seja para a aceitação da confissão, no todo ou em parte, seja para
repudiá-la, fundamentar seu livre convencimento, como o deve fazer
em todas as apreciações enfrentadas na sentença.
Com o interrogatório, o juiz irá buscar a verdade real dos fatos.
E, se insuficientes os esclarecimentos de um primeiro interrogatório
ou, não claros, poderá o juiz realizar, a qualquer tempo, mas antes da
sentença, um novo interrogatório. Assim, permite o art. 196, do CPP:
“ A todo tempo, o juiz poderá proceder a novo interrogatório” (e de
forma mais abrangente, o art. 502, CPP). Com essa permissão, terá o
juiz uma oportunidade a mais para obter, direta e pessoalmente, o
máximo de elementos de prova que irão nortear não apenas a funda-
mentação da eventual condenação mas, também e principalmente, a
eventual fixação da pena e sua execução.
127
A Lógica das Provas em Matéria Criminal, Editora Bookseller, edição 1996,
volume I, p. 464.
128
Elementos de Direito Processual Penal, Editora Bookseller, 1ª edição, 2ª tiragem, 1998,
vol. II, p. 305.
106 Ismair Roberto Poloni
132
Processo Penal, Editora Atlas, 9ª edição, 1999, p. 279.
133
Curso de Processo Penal, 5ª edição, Ed. São Paulo: Saraiva, 1988, p. 359
134
Psicologia Judiciária, Editora Guanabara, tradução de Leonidio Ribeiro, 1934, p. 247.
108 Ismair Roberto Poloni
feita pelo criminoso é que por esse modo ele condena a sua própria
ação; isto põe à vontade o sentimento de culpa dos juízes que, assim,
são capazes de pronunciar o culpado, com a consciência mais à von-
tade”.
Na prática, a bem da verdade, muitos são os juízes criminais
que, fazendo uso da confissão, acomodam-se sobre aquela para fun-
damentar uma condenação, quando deveriam buscar a verdade real
dos fatos e fazer tilintar, ao final, a espada cega da justiça.
Técnica estrutural da sentença criminal 109
CAPÍTULO XI
DA DENÚNCIA OU QUEIXA
135
Compêndio de Processo Penal, Editora José Konfino, edição de 1967, tomo II, p. 456.
97
110 Ismair Roberto Poloni
I – A AUTORIA
Para se estabelecer, desde a denúncia, a autoria do fato delituoso,
é necessário que se busque descrever sobre (1) – QUEM (quis) prati-
cou aquele fato, (2) – QUANDO (quando) e (3) – ONDE (ubi) o fato
foi praticado, e se houve (4) – AUXÍLIO POR TERCEIRO (quibus
auxiliis). Assim, o autor do fato é aquele que, naquele dia, naquela
hora e naquele local, sozinho ou auxiliado por terceiros, com deter-
minado instrumento, cometeu, por ação ou omissão, o delito.
II – A MATERIALIDADE
Verifica-se a materialidade de um delito questionando-se (1) –
O QUE OCORREU (quid), COM OU CONTRA QUEM e (2) –
COMO (quomodo) ocorreu. Assim, imputando a denúncia que o acu-
sado, naquela data, naquela hora, naquele local, sozinho ou auxiliado
por terceiros (autoria), fez acontecer determinado fato, contra deter-
minada pessoa, de determinado modo, ter-se-á a autoria e a
materialidade .
III – A CULPABILIDADE
A culpabilidade do agente, para a ocorrência do fato delituoso, é
entendida, de forma genérica, quer como dolo, quer como culpa, em
sentido estrito. Diz respeito, para a completa caracterização do delito
imputado, sobre os motivos que levaram o acusado à prática do fato
Técnica estrutural da sentença criminal 111
136
A decretação da prescrição da pretensão punitiva pelo Estado, embora seja uma forma de
aplicação da norma penal, não revela a sua verdadeira função, que é dar a resposta à sociedade,
quanto àquele fato tipificado como delito. E isso porque, deixando de se dizer se o acusado é
culpado ou inocente, e em que definição jurídica, restará, sempre, para a sociedade, uma dúvi-
da sobre aquele fato, havendo conclusões de toda ordem, que culminarão por definir ser culpa-
do ou inocente. E, para o acusado, uma penalização eterna, no dizer de Carnelutti (As Misérias
do Processo Penal), pois aquela mesma sociedade haverá de, por muito tempo, emitir sua
manifestação sobre os fatos, dentre as quais surgirá a sua “condenação”, a sua repulsa, a sua
exclusão, pela própria sociedade.
112 Ismair Roberto Poloni
137
Vide Capítulo – DOS PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL.
Técnica estrutural da sentença criminal 113
CAPÍTULO XII
DA DESIGNAÇÃO DE RÉU
E DE ACUSADO
103
116 Ismair Roberto Poloni
138
Comentários à Constituição de 1988, vol. I, p. 532, Editora Forense Universitária, 1ª edi-
ção, 1989.
Técnica estrutural da sentença criminal 117
CAPÍTULO XIII
A SENTENÇA PENAL
E SEUS REQUISITOS
139
Elementos de Direito Processual Penal, vol. II, Editora Bookseller, 1998, p. 27.
105
118 Ismair Roberto Poloni
REQUISITOS NECESSÁRIOS
Enumera o art. 381 os requisitos necessários da sentença penal,
em seus seis incisos:
I – os nomes das partes ou, quando não for possível, as indi-
cações necessárias para identificá-las;
II – a exposição sucinta da acusação e da defesa;
III – a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fun-
dar a decisão;
IV – a indicação dos artigos de lei aplicados;
V – o dispositivo;
VI – a data e a assinatura do juiz.
1– O RELATÓRIO – OS INCISOS I E II
Prescreve o art. 381, em seus incisos I e II, os requisitos necessá-
rios que deverão compor o relatório. Porém, como já visto na senten-
ça cível, pelas mesmas razões, o nome das partes deverá compor o
cabeçalho ou introdução, na melhor técnica estrutural. Aqui também,
o nome das partes ou, quando não for possível, as indicações neces-
sárias para identificá-las, é requisito necessário, como elemento do
cabeçalho ou a introdução, que é um requisito retórico e, pois, com-
plementar. Isto é, o cabeçalho é requisito complementar, como forma
de divisão do texto enquanto que seus elementos, são requisitos ne-
140
Técnica Estrutural da Sentença Cível – Juízo Comum e Juizado Especial – Cap. Editora
Bookseller, 2000.
Técnica estrutural da sentença criminal 119
142
Nada impede que o acusado não compareça em seu interrogatório mas, constituindo defen-
sor, apresente, tempestivamente, a sua defesa preliminar – art. 395, CPP.
124 Ismair Roberto Poloni
outro, inócua por não atingir o verdadeiro responsável como por atin-
gir um cuja penalização será apenas mais uma. Ora, o que se busca
em qualquer julgamento é a verdade real. Mas, no processo, máxime
o penal que tem sua estruturação em provas basicamente orais, a ver-
dade real nem sempre converge para com a verdade processual. E é
com essa última que o juiz irá decidir a lide. Assim, com um interro-
gatório de confissão, bem apurados os fatos, os motivos e as circuns-
tâncias, terá o juiz melhores condições de, no sumário da culpa, esta-
belecer se a confissão espelha ou não a verdade dos fatos (ao menos a
verdade processual dos fatos). É claro que ao juiz não compete o ônus
da prova. Entretanto, o juiz criminal não é o mesmo ente quase total-
mente inerte que é revelado nas questões cíveis de direito disponível.
No processo Penal deve ele buscar, se de seu conhecimento for, a
verdade real e, pois, as provas que entender serem necessárias a tan-
to, independentemente de solicitação pelas partes (art. 156, 234, 242,
209 e 470 – CPP). Em assim sendo, a busca da verdade real, para
aplicação da verdadeira justiça, deve ser iniciada pelo interrogatório.
Por uma questão de política judiciária, de há muito tem-se permitido
o interrogatório por ato deprecado, para o fim de se desestancar os
infindáveis processos em tramitação. Mas, se tal normatização bene-
ficiou, indiscutivelmente, para a celeridade da ação penal, evitando-
se muitos julgamentos pela prescrição da pretensão punitiva, pela pena
“in abstractum”, por certo e talvez na mesma proporção, deixou de
permitir, em parte, a busca, “ab ovo”, da verdade real dos fatos, na
medida em que o juiz do processo não é o que realizou o interrogató-
rio do acusado. Veja-se a importância do interrogatório, dada pelo
legislador pátrio, ao permitir que o mesmo poderá ser repetido a todo
tempo (art. 196). E não se tem o novo interrogatório apenas se houver
“novos elementos que exigem explicações do réu”.143 Mesmo já en-
cerrada a instrução criminal, quando o juiz terá em mãos, em princí-
pio, os elementos necessários para a formação de seu convencimento,
v. g., pela condenação do acusado, poderá ele convocá-lo a novo in-
terrogatório, buscando elementos de ordem subjetiva (culpabilidade,
circunstâncias e motivos do crime, além da conduta social e da perso-
nalidade do acusado), para o fim de melhor aplicar a lei. Poderá,
143
Código de Processo Penal Anotado – Damásio Evangelista de Jesus – Saraiva, 11ª edição,
p. 151.
Técnica estrutural da sentença criminal 125
moral de cidadão, vez que a norma penal tem por objetivo também a
manutenção da paz e do convívio social, através do “castigo”, recla-
mando da Justiça a sua ineficiência. E aí aumenta o peso da responsa-
bilidade dos profissionais do direito, principalmente do juiz, que irá
sentenciar sobre o fato, já “sentenciado” pela sociedade ou pelos
meios de comunicação (não raro).
Daí ser imprescindível a realização do interrogatório, pelo juiz
sentenciante. Note-se que, por inexistir no processo penal o princípio
da identidade física do juiz, mesmo realizado o interrogatório judicial
mas, por outro juiz que não o sentenciante, torna-se conveniente a
conversão do julgamento em diligência (se assim o exigir o conteúdo
geral das provas), para se interrogar novamente o acusado. É claro
que tal afirmação confronta com a política judiciária de celeridade
das ações penais, buscando-se, como já dito, evitar-se a prescrição.
Mas situações existem (como nos crimes contra os costumes, em que
a inexistência de testemunhas do fato é uma constante – ou os crimes
cometidos na calada da noite) que assim exigem e, por isso, deverá
ser repensado pelo julgador monocrático.
Portanto, deve constar do relatório, também, quanto à citação do
acusado, se pessoal ou fictícia, bem como sobre seu interrogatório, se
existente ou não e, em caso positivo, o resumo das declarações do
acusado, que servirão também de parâmetro para o seu cotejo com as
demais provas carreadas aos autos. Os demais elementos de ordem
subjetiva serão verificados pelo juiz, se condenado for, na fixação da
pena. Sendo a ação do rito ordinário, em tendo havido o interrogató-
rio do acusado, cujo ato é de importância relevante para o julgamen-
to, deverá ser levada ao relatório tal circunstância, resumindo-se o
que foi declarado pelo acusado. Mas se embora regularmente citado,
deixou o acusado de ser interrogado, tornando-se revel, tem-se tal
circunstância de grande importância para o julgamento, devendo ser
também levada a registro no relatório.
Em sendo obrigatória a existência de defensor ao acusado, a
ausência ou a impossibilidade de constituir defensor obrigará ao juiz
à nomeação de um dativo (arts. 261, 263, 422, 32, CPP), o que tam-
bém é relevante para o andamento do processo. Assim, também deve-
rá relatar, na sentença, quanto a ter o acusado defensor constituído ou
nomeado. Outrossim, em sendo menor de vinte e um anos de idade, o
acusado deverá ter nomeado, para todos os atos, um curador, o que
Técnica estrutural da sentença criminal 127
144
Art. 563 CPP.
128 Ismair Roberto Poloni
“O acusado foi incurso nas penas do art. ...(do Código Penal ou,
do Código ... ou, da Lei ...), por ter praticado o seguinte fato delituoso: –
fazer a transcrição da denúncia, somente quanto aos fatos ali articula-
dos.
Regularmente citado, foi o acusado interrogado, oportunidade
em que alegou ...(narrar de forma sucinta as alegações do acusado,
em seu interrogatório judicial). Por seu defensor (dativo ou constituí-
do), foi apresentada a defesa preliminar, arrolando ... testemunhas,
que foram inquiridas às folhas ...(ou, se for o caso, desistido do depo-
imento de ... testemunhas às folhas ... ou, ainda, – tendo sido substituí-
das ... testemunhas, às folhas ..., que foram inquiridas às folhas ...).
Na fase do art. 499, do CPP, nada foi requerido ou determinado
(ou, se for o caso, – pelo Doutor Promotor de Justiça – ou Defensor –, foi
requerido ...., às folhas ... que, devidamente deferido às folhas ..., teve
seu cumprimento às folhas ....
Nas alegações finais, o Doutor Promotor de Justiça, em seu
memorial de folhas ..., requereu a condenação do acusado nas penas
inicialmente capituladas, ante as provas dos autos. Em igual oportu-
nidade, o Doutor Defensor requereu fosse o acusado absolvido, por
...(v. g. insuficiência de provas ) ou, quando não reconhecida, que
fosse o delito desclassificado para a forma ... (v. g. tentada) ou, ainda,
fosse reconhecida ...(v. g. a atenuante do art. 65, número III, letra “b”,
do Código Penal) ou, quando não, fosse o acusado beneficiado com
...(v. g. o sursis).
Este é o breve relatório,
DECIDO”.
145
Tratado da Prova em Matéria Criminal, Editora Bookseller, edição 1997, 2ª tiragem,
p. 104.
136 Ismair Roberto Poloni
3 – O DISPOSITIVO – O INCISO V
De conformidade com a conclusão obtida durante a discussão
ou a fundamentação, o dispositivo deverá dar o fechamento final na
parte de análise dos fatos e do direito, imputados ao acusado. É com o
dispositivo, juntamente com o preâmbulo e o início do relatório, com
a transcrição do fato imputado, que se tem a coisa julgada. Guarda
ele, exatamente como no processo civil, correlação entre a funda-
mentação e esta, por seu turno, com o relatório. Por isso, lendo-se o
dispositivo, tem-se a conclusão final quanto à procedência, total ou
parcial, da acusação ou, quanto à sua improcedência ou, ainda, quan-
to ao julgamento conforme o estado do processo. Assim, sempre, na
sentença penal (denúncia ou queixa), em seu dispositivo, surgirá uma
das hipóteses seguintes (para cada acusado e para cada fato impu-
tado): julgo procedente, in totum, a acusação, ou, julgo procedente,
em parte, a acusação ou, julgo improcedente a acusação ou, ainda,
julgo extinta a punibilidade. Veremos, mais adiante, outras variantes
do dispositivo, máxime nas sentenças cujos crimes são de competên-
cia do Tribunal do Júri.
Como foi relatado e discutido cada fato tipificado como crime,
imputado ao acusado, deverá o juiz, no dispositivo, dizer sobre a con-
clusão final, se procedente, no todo ou em parte ou se improcedente a
Técnica estrutural da sentença criminal 143
II – DA INTRODUÇÃO OU CABEÇALHO
A sentença penal deve, como a cível, ser iniciada pelo cabeçalho
ou introdução, que é um requisito secundário, de retórica e de criação
de um texto, como visto na sentença cível.148 Tem, porém, suas pecu-
liaridades. Assim, a fim de se identificar o juízo e sua competência,
deverá ser dito, no cabeçalho, qual o juízo ou vara pelo qual tramita a
ação penal. Deverá, ainda, identificar quem é o autor (ou querelante –
a maioria da ações são públicas – condicionada ou incondicionada –
em que o autor é o Ministério Público149) e quem é o acusado (ou
querelado), qualificando-se esse último, de forma a poder ser indivi-
dualizada a ação, para fins da coisa julgada. Também deverá ser lan-
çado o número dos autos registrados na vara ou juízo único, bem
como a espécie de ação penal – pública ou queixa – . E, assim, restará
um preâmbulo dessa ordem:
“Vistos e examinados estes autos de ação penal pública, registrada
neste Juízo da 1ª Vara Criminal, desta comarca de Poloni – SP, sob
número 1100/01, em que é autor o Ministério Público e acusado José
Leite, brasileiro, solteiro, sem profissão definida, residente e
domiciliado nesta cidade e comarca de Poloni, na Rua Cândido Poloni
nº 111”.
148
Técnica Estrutural da Sentença Cível – Juízo Comum e Juizado Especial – do autor, Edi-
tora Booksseler, 1ª edição, 1999.
149
Não se deve confundir, nas ações penais públicas, quanto à autoria, ser o titular da mesma
o promotor de justiça. Esse é integrante da Instituição que tem o poder-dever de propor ações
penais públicas: O Ministério Público, seja quem for seu representante. A unidade da Institui-
ção não exige seja a pessoa do promotor de justiça o titular da ação mas, isso sim, a Instituição
em si mesma: – O Ministério Público.
Técnica estrutural da sentença criminal 149
IV – DO EPÍLOGO
Esse traduz o encerramento da sentença, após a fixação da pena,
com a verificação de eventual substituição ou suspensão de sua exe-
cução. É no epílogo que se lança, quando prolatada (escrita) a senten-
ça, a determinação de sua PUBLICAÇÃO, REGISTRO E
INTIMAÇÃO, cujas finalidades são as mesmas da sentença cível, às
quais nos reportamos.150 E se a sentença for proferida (ditada), deve-
rá ser lançado o epílogo-padrão “Dou esta por publicada e as partes
por intimadas neste plenário (ou nesta audiência). Registre-se”.
V - REQUISITOS RETÓRICOS
Tal qual na sentença cível, a sentença penal deve enfrentar os
mesmos requisitos retóricos, como texto escrito: início, meio e fim,
com as características de clareza, persuasão, síntese e certeza. Neces-
sita, por isso mesmo, espelhar a verdade dos fatos em julgamento,
com base na lei, com adequação axiológica. Para tanto, será também
desenvolvida obedecendo-se a construção geral, contendo o seu
Intróito ou Preâmbulo, o Relatório, a Fundamentação, o Dispositivo,
Os Efeitos Próprios e o Epílogo.
Do preâmbulo, na sentença de ação penal pública (condicionada
ou incondicionada) constará sempre a expressão, em primeiro grau:
“Vistos e examinados estes autos de ação penal, registrada neste Juízo
da __Vara Criminal sob número ___, em que é autora A Justiça Públi-
ca e acusado _________(com sua qualificação, ainda que incompleta
mas que seja possível a sua identificação – art. 41 CPP). Em sendo a
ação penal iniciada mediante queixa, a terminologia será “Vistos e
examinados estes autos de ação penal privada, devidamente registrada
neste Juízo Criminal da ___ Vara, sob número ____, em que é que-
relante _______ e querelado ________ (que deverão ser obrigatoria-
mente qualificados – art. 41 CPP). O intróito, como no cível estabe-
lecerá, juntamente com o dispositivo, os limites da coisa julgada. Os
modelos aqui apontados não são a única forma de se registrar o preâm-
bulo. Mas são os mais usuais, de uso corrente da maioria dos juízes
criminais, dada a praxe forense. O que importa, na verdade, é ter-se
um cabeçalho, um intróito da sentença penal, no qual se tenha
150
Técnica Estrural da Sentença Cível – Juízo Comum e Juizado Especial – do autor, Editora
Bookseller, 1° edição, 1999, capítulo VII – B – 4 – DO EPÍLOGO.
Técnica estrutural da sentença criminal 151
CAPÍTULO XIV
CAPÍTULO XV
145
Técnica estrutural da sentença criminal 157
CAPÍTULO XVI
1 – A SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
Toda vez que o julgamento da ação penal, pela fundamentação e
pelo dispositivo, não acolher o pedido de condenação, teremos uma
sentença penal absolutória. Toda sentença absolutória tem, como efei-
tos próprios e diretos, a determinação da baixa nos registros, com
comunicações à Justiça Eleitoral, ao Instituto de Identificação e à
delegacia de polícia de origem, quanto à absolvição decretada e seu
motivo. O motivo deve ser comunicado a fim de poder a autoridade
policial prosseguir ou não em suas investigações. Se a sentença
absolutória não acolher o pedido de condenação e não aplicar pena
acessória ou medida de segurança, será ela considerada sentença
absolutória própria. Assim, quando o acusado é absolvido com base
no inciso I, do art, 386, CPP, por estar provada a inexistência do fato,
impossível será a investigação, eis que a prova fez por demonstrar,
com segurança, a inexistência do fato tipificado. O mesmo não ocor-
147
Técnica estrutural da sentença criminal 159
2 – A SENTENÇA CONDENATÓRIA
Sempre que o pedido tiver procedência, ainda que parcial, tere-
mos uma sentença penal condenatória. Se a pretensão foi acolhida em
sua totalidade, a condenação será total; mas, se a pretensão foi aco-
lhida em parte, teremos uma condenação parcial. O art. 387, CPP,
determina que o juiz, ao proferir a sentença condenatória: mencione
as circunstâncias agravantes ou atenuantes que reconhecer (Nº I);
mencione as demais circunstâncias apuradas bem como tudo o mais
que deva ser levado em conta na aplicação da pena (arts. 42 e 43, CP);
aplique as penas, de acordo com essas conclusões, fixando a quanti-
dade das principais (Nº III). Como condenatória, total, deverá a sen-
tença determinar as comunicações à Justiça Eleitoral, ao Instituto de
Identificação e à delegacia de polícia de origem, além de outras que
se fizerem necessárias ou que forem determinadas pela Corregedoria-
Geral da Justiça, que tem competência para normatizar situações que,
pela lei, se achem insuficientes. Determinará, ainda, a expedição de
Carta de Guia e o lançamento do nome do réu no rol dos culpados.
Essa última determinação, com o advento da Constituição de 1988,
pelo art. 5º, inciso LVII, somente é possível ser cumprida após o trân-
sito em julgado da sentença condenatória. Restará, ainda, a imposi-
ção da sucumbência total, nas custas. Se forem dois ou mais réus,
serão entre eles repartidas as custas devidas. Resulta, ainda, como
efeito da sentença condenatória: 1) a certeza da obrigação de reparar
o dano resultante da infração (art. 63, CPP); 2) perda dos instrumen-
tos ou do produto do crime (art. 91, II, CP); 3) a perda de cargo,
função pública ou mandato eletivo (art. 92, I, CP); 4) a incapacidade
para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado (art. 92, II, CP); a inabilitação para dirigir veículo, quando
utilizado como meio para a prática de crime doloso (art. 92, III, CP);
5) a expedição de mandado de prisão, quando condenado a pena pri-
vativa de liberdade não suspensa sua execução, ressalvados os casos
dos arts. 594, 321 e 322, do CPP.
Técnica estrutural da sentença criminal 161
1 – A SENTENÇA DE PRONÚNCIA
Tecnicamente a oportunidade em que o juiz, convencendo-se da
existência do crime e de indícios de que o acusado seja seu autor,
pronuncia-o para ser julgado, no mérito, pelo tribunal do júri, é ape-
nas uma fase processual e não propriamente uma sentença. E isso
porque inexiste a sanctio juris. Entretanto, como é dado o direito de
recurso (art. 581, Nº IV, CPP) contra aquela decisão, além de haver
Técnica estrutural da sentença criminal 163
2 – DA SENTENÇA DE IMPRONÚNCIA
Quando o juiz não se convencer da existência do crime ou de
indício de que seja o acusado o seu autor, julgará improcedente a
acusação. O não convencimento pode vir em decorrência da insu-
ficiência de provas ou pela prova da inocorrência ou do crime ou da
autoria. No primeiro caso, será possível haver a retomada do proces-
so com novas provas e, por isso, não estará o acusado efetivamente
absolvido. Isto porque, nos termos do parágrafo único do art. 409,
enquanto não extinta a punibilidade, poderá, em qualquer tempo, ser
instaurado processo contra o réu, se houver novas provas. Porém, no
segundo caso, por haver o reconhecimento ou da inexistência do cri-
me ou de sua autoria ou da tipicidade, a sentença será em definitivo,
ficando o acusado absolvido. Júlio Fabbrini Mirabete,151 com proprie-
dade, leciona que “A impronúncia é um julgamento de
inadmissibilidade de encaminhamento da imputação para o julgamento
perante o Tribunal do Júri porque o juiz não se convenceu da existên-
cia de prova da materialidade do crime ou de indícios da autoria, ou
de nenhum dos dois”. A diferença básica entre a impronúncia e a
absolvição sumária consiste na prova sobre a existência do crime e
sua autoria. Se as provas não apontarem, ainda que de forma dúbia
sobre a existência do crime ou sua autoria, haverá a impronúncia. Por
outro lado, se as provas apontarem com total segurança a inexistência
do crime ou sua autoria ou, se as provas apontarem, com total segu-
151
Júlio Fabbrini Mirabete, Processo Penal, Edt. Atlas, São Paulo, 1999, p. 494/495.
Técnica estrutural da sentença criminal 165
3 – DA SENTENÇA DE DESPRONÚNCIA
Vicente Greco Filho152 leciona que denomina-se despronúncia,
“a impronúncia que ocorre depois de ter sido o réu pronunciado, se o
juiz se retrata em virtude do recurso no sentido estrito ou a este é
dado provimento pelo tribunal”. Os efeitos produzidos pela
despronúncia são os mesmos da impronúncia.
Seu dispositivo seria assim:
“Ex positis” e considerando-se tudo o mais que dos autos cons-
ta, acolho as razões do Doutor Defensor e, com base no art. 589, CPP,
reformo a decisão que pronunciou o acusado ..., já qualificado no
cabeçalho desta, para IMPRONUNCIÁ-LO dos fatos constantes da
acusação, como incurso nas penas do art. 121, “caput”, do Código
Penal, com base no art. 386, I, CPP, determinando seja submetido a
julgamento pelo Tribunal do Júri desta comarca”.
152
Manual de Processo Penal, Editora Saraiva, 5ª edição, 1998, p. 416.
166 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO XVII
153
Reinhart Maurach, Derecho penal, parte general, vol. 1, atualizado por, Heinz Zipf, Ed.
Astrea, Buenos Aires 1994, p. 57.
157
168 Ismair Roberto Poloni
para, com base na lei, punir aquele que tenha violado uma norma que
a lei prescreva como delito, causando ao infrator uma aflição física
ou moral, na medida em que seja necessária e suficiente para a repro-
vação e prevenção do crime.
Mas não apenas a definição de pena é suficiente para a correta
compreensão da pena e seus reflexos para o condenado e para a socie-
dade. Mister se faz compreender, também, a sua função, a sua finali-
dade.
Em 1902 o médico criminalista G. Aschaffenburg161 tratando so-
bre o fim das penalidades, disse que “Os nossos legisladores evitaram
cautelosamente estabelecer uma theoria determinada sobre a razão de
ser e o modo de ser das penalidades. Por isso a sciencia tem trabalha-
do tão afagosamente para descobrir. Mas, ‘deve-se precisar que não
existe uma theoria penal uniforme e geralmente reconhecida, para
todas as épocas e para todos os povos’.162 Para o theorico, para o juiz
e também para o legislador talvez seja dispensável; não é, porém,
para os funccionarios encarregados da execução da penalidades, que
precisam saber o que teem de fazer dos presos que lhes foram confia-
dos. O que actualmente se passa é o seguinte: o magistrado decide a
applicação de uma pena de uma certa duração e entrega em seguida o
condenado aos que teem a seu cargo velar pelo cumprimento d’ella;
para o juiz está terminada a missão. O cumprimento da penalidade
não o interessa. Muitos magistrados teem assistido talvez a uma ou
outra conferencia sobre o regimen carcerario, mas são muitissimo os
que nunca visitaram uma prisão e raros os que teem idéas bem nitidas
acerca do regimen penal applicado.
Krohne, o mais profundo conhecedor do regimen de applicação
penal, que elle chama ‘o filho enfermiço da justiça criminal’, excla-
ma, fundamentando-se na sua longa experiencia: ‘Podem ter a lei mais
perfeita, os melhores magistrados, as melhores decisões judiciaes,
mas se os funccionarios encarregados da aplicação das penas não ti-
verem a competencia indispensavel, as leis e as decisões dos tribu-
naes serão de uma inutilidade completa’.163 Não é, pois, da lei que ha
a de esperar uma melhor garantia dos direitos individuaes, mas sim
161
Crime e repressão, Editora Livraria Clássica de AM Teixeira, Portugal, 1904, p. 230.
162
Von Holtzendorff, Die rechtlichen Prinzipien des Strafvollzugs. Handbuchdes
Gefängniswesens 1888. Bd. I. S. 384.
163
Mitteilungen der internationalen Krisminalistischen Vereinigung. Bd. VI. S. 364
170 Ismair Roberto Poloni
164
Carlo Gioffredi, I Principi Del Diritto Penale Romano, Ed. G. Giappichelli, Torino, 1970, p. 41.
165
Diritto Penale Italiano, vol 1, edição de 1950, Editora Dott. A. Giuffrè – Editore – Milano,
p.124.
166
Manuale di Diritto Penale, Parte Geral, ed. 1960, Editora Dott. A. Giuffrè – Editore –
Milano, p. 499.
167
Principi di Difesa Sociale, ed. 1961, Padova – Cedam – Casa Editrice Dott. Antonio Milani, p. 1.
168
Teoria das Penas Legais, ed. 1943, Edições Cultura, p. 22/23.
Técnica estrutural da sentença criminal 171
169
Guillermo Sauer, Derecho Penal – Parte General, Traducción Juan Del Rosal e José Cerezo,
Ed. Bosch Casa Editorial, Barcelona, 1956, p. 362.
170
Perigosidade e Medidas de Segurança – Editora Rio, 1977, p. 12.
172 Ismair Roberto Poloni
respondente não poderá ser aplicada senão com observância das re-
gras de sociologia pois a pena, não se basta a si própria como mero
castigo. É também dirigida a todos da sociedade, como meio preven-
tivo e de manutenção do equilíbrio da ordem social. E assim, poderá
ele seguir à dosimetria da pena, mais próximo do ideal de sua neces-
sidade e suficiência para a reprovação e prevenção do crime.
Estabelecidas, assim, as definições sobre a pena e sua finalida-
de, é possível seguir-se aos efeitos da pena ao condenado e à socieda-
de.
As relações humanas, como já visto, numa sociedade politica-
mente organizada, reclamam sejam as mesmas delimitadas e
normatizadas, a fim de ser possível a sua permanente ocorrência (das
relações), com todas as complexidades do convívio social, mas em
harmonia com o bem comum e seu constante aprimoramento, para
poder permitir a cada um o encontro com seus maiores anseios, sem
que com isso avance a linha divisória de seu direito e de suas obriga-
ções. E naquelas, nas relações, diante de condutas que agridem a um
bem tutelado, surge a necessidade não apenas de normatização mas,
mais do que isso, de uma espécie de remédio, amargo, que atinge a
vários e não apenas ao doente, que possa não apenas curar mas,
efetivamente, remediar, não permitindo seja a doença propalada: a
pena. Mariano Ruiz Funes171 estabeleceu uma idéia elementar quan-
do se aborda o problema da pena: “a de que esta nasceu pelos homens
e para os homens”. Enquanto as relações mantêm-se no círculo do
interesse próprio de suas evoluções, a norma apresenta-se eficaz na
medida em que, reconhecendo-as como de cumprimento obrigatório,
cria-lhe uma carapaça protetora com a norma e impinge àqueles que a
desrespeitarem, uma espécie de pena. É necessário, como numa doen-
ça, debelar-se o mal172 pela raiz, evitando-se ocorra seu alastramento.
E se esse mal provém da conduta cônscia do ser humano, com o fim
de agredir a um bem tutelado, a pena deixa de atingir o universo ma-
terial dos bens do malfeitor, para recair diretamente sobre sua pes-
soa, com ou sem a prisão mas, em qualquer caso, restringindo-lhe seu
171
A crise nas Prisões, Mariano Ruiz Funes, tradução Hilário Veiga Carvalho, Ed. Saraiva,
1953.
172
Esse é entendido dentro de cada sociedade, de conformidade com seus padrões étnicos,
morais, políticos e religiosos.
Técnica estrutural da sentença criminal 173
173
Psicoanálisis Criminal, Luis Jiménez de Asúa, sexta edición, Edições Depalma Buenos
Aires, 1990, p.22.
174
Psicologia Judiciária, os criminosos e seus juízes, Fraz Alexander, Hugo Staub, Ed.
Guanabara, tradutor Leonídio Ribeiro, 1934, p. 244.
174 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO XVIII
FUNÇÃO DO JUIZ
NA APLICAÇÃO DA PENA
181
Comentários ao Código Penal, Editora Revista Forense, 1942, vol. II, p. 169 e 173.
Técnica estrutural da sentença criminal 179
182
Das Penas, Editora Rio, 1ª edição, 1976, p. 41/42.
180 Ismair Roberto Poloni
183
As Misérias do Processo Penal, Editora Conan, edição de 1995, p. 33.
184
O Magistrado, Editora Saraiva & Cia Editores, tradução de J. Pinto Loureiro, 2ª edição,
1937, p. 136.
Técnica estrutural da sentença criminal 181
CAPÍTULO XIX
171
182 Ismair Roberto Poloni
1 – PRIMEIRA FASE
A primeira fase é a fixação da pena base, para o que deverá o
juiz analisar, para cada crime e para cada réu, todas as circunstâncias
do art. 59-CP, sejam elas favoráveis ou não ao condenado. Se o crime
foi praticado em concurso material ou em continuidade delitiva, não
haverá maiores dificuldades se o juiz realizar, individualmente, para
cada crime e para cada réu, a análise das circunstâncias judiciais.
Mas, se o crime foi praticado em concurso formal, pelo qual deverá
aplicar a pena mais grave, se distintos os crimes e suas penas (ou se
forem idênticos, uma só delas), maior será a dificuldade para o verifi-
cação das circunstâncias do art. 59. E isso porque, em concurso for-
mal, pode-se ter o cometimento de crimes distintos, com uma só ação
ou omissão, contra mais de uma vítima. E aí, deverá o juiz analisar,
numa única vez, pelo crime mais grave, o comportamento de todas as
vítimas e conseqüências de cada um dos crimes. Assim, apreciando,
para a fixação da pena base, o delito com maior apenamento, quando
for analisar as conseqüências do crime e o comportamento da vítima,
não o fará apenas sobre aquele crime com maior apenamento mas
sim, fará, sobre aquelas circunstâncias mencionadas, a análise em cada
um dos crimes, sejam eles quantos forem. E isso porque, embora a
“escolha” recaia sobre o crime mais grave, com maior pena, para os
fins da fixação da pena base, o certo é que o réu praticou mais de um
crime, contra uma ou mais vítimas e, por isso, em cada crime poderá
haver um determinado comportamento daquela determinada vítima,
com conseqüências próprias e especiais para cada um dos delitos.
Como a pena deve ser aplicada de forma individualizada, quer em
relação ao réu, quer em relação ao crime, deve, também, pois, ser
considerado e analisado o comportamento e as conseqüências de cada
vítima e de cada crime, ainda que aplicada a pena somente do mais
grave, se os crimes forem iguais entre si (concurso formal e crime
continuado).
2 – SEGUNDA FASE
Uma vez estabelecida a pena base, seguirá o juiz, para a fixação
da pena, agora a caminho da definitiva, com a segunda fase, à consi-
deração de todas as circunstâncias atenuantes e agravantes,
estabelecidas pelos arts. 65 e 66, e 61 e 62, do Código Penal, também
designadas circunstâncias legais, que não alteram a configuração do
Técnica estrutural da sentença criminal 183
3 – TERCEIRA FASE
Apurada a pena com as agravantes ou atenuantes, seguirá o juiz
com a terceira fase, verificando as causas de aumento ou de diminui-
ção. Tais causas, por serem especiais e próprias de cada tipo delitivo,
constarão do próprio dispositivo penal, estabelecendo os limites em
que a pena deverá ser aumentada ou diminuída, sempre através de
frações sobre o total da pena até então encontrada. Assim, no crime
de furto, é previsto, no parágrafo primeiro, um aumento especial da
pena, de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
186 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO XX
187
Código Penal Brasileiro Comentado, Editora Biblioteca Jurídica Freitas Bastos, 6ª edição,
p. 88/89.
190 Ismair Roberto Poloni
188
Penas e Medidas de Segurança no Novo Código, Editora Forense, 1ª edição, 1985, p. 160.
189
Manual de Direito Penal Brasileiro, Parte Geral, Editora RT, 2ª edição, 1999, p. 826.
Técnica estrutural da sentença criminal 191
cisa, clara e persuasiva, em cada uma das etapas do art. 59, do Código
Penal. Analisaremos, pois, cada uma delas.
Diz o referido artigo:
1 – À CULPABILIDADE
José Frederico Marques,190 transcrevendo lição de Aníbal Bru-
no, diz que “A ordem jurídica impõe o dever de obediência aos seus
imperativos. Em princípio é exigível de todos um comportamento de
acordo com a norma. Se alguém, tendo ou podendo ter a consciência
de que falta ao dever e podendo agir em conformidade com este, atua
de maneira contrária, faz-se objeto de reprovação. A vontade do agente
dirigida à prática do fato punível torna-se uma vontade ilícita, uma
vontade que o agente não deveria ter, porque viola o dever jurídico
resultante da norma, e capaz, então, de provocar a reprovação da or-
dem jurídica. Culpabilidade é essa reprovabilidade. Reprovabilidade
que vem recair sobre o agente, porque a este cumpria conformar o seu
comportamento com o imperativo da ordem de Direito, porque tinha
a possibilidade de fazê-lo e porque realmente não o fez, revelando no
fato de não o ter feito uma vontade contrária àquele dever, isto é, no
fato se exprime uma contradição entre a vontade do sujeito e a vonta-
de da norma”.
Assim, diante de uma situação, o réu responde, com ação ou
omissão, a qual foi tipificada como ilícito penal. De conformidade
190
Tratado de Direito Penal, Editora Bookseller, 1ª edição atualizada, 1997, vol. II, p. 206.
192 Ismair Roberto Poloni
193
Manual de Direito Penal, Editora Revista dos Tribunais, 5ª edição, 1999, p. 579.
194 Ismair Roberto Poloni
2 – AOS ANTECEDENTES
A verificação dos antecedentes do réu implica, como em todas
as outras circunstâncias e elementos do crime, em buscar o grau de
reprovabilidade de sua conduta criminosa, através de todos os atos
(positivos ou negativos) praticados pelo mesmo, antes do crime que
se está a apenar. A verificação dos antecedentes do réu, no dizer de
Gilberto Ferreira,1194 implica em “ser levado em consideração tudo
aquilo que aconteceu de positivo e de negativo na vida do réu antes
dos fatos. O bom comportamento no meio em que vive. As boas ações
que realizou. Os inquéritos que respondeu e arquivados por causas
impeditivas da ação penal. As ações penais em que foi absolvido por
falta de prova. As sentenças condenatórias que ainda não caracteriza-
ram reincidência. As condenações transitadas em julgado sobre as
quais o réu ainda não requereu reabilitação. Os procedimentos espe-
ciais respondidos perante o juizado de menores. As infrações disci-
plinares e fiscais. O envolvimento em falências fraudulentas. O réu
que voltou a ser primário e que ainda não foi reabilitado da condena-
ção anterior”.
Francisco Vani Bemfica195 diz que o juiz “examina a sua forma
de vida, o modo de seu sustento, sua dedicação ao trabalho, sua vida
familiar e outros elementos, que não se confundem com seus antece-
dentes judiciais, embora estes também possam ser levados em consi-
deração”.
Miguel Reale Júnior, René Ariel Dotti, Ricardo Antunes
Andreucci e Sérgio M. de Moraes Pitombo,196 registram que “Os an-
tecedentes não dizem respeito à ‘folha penal’, e seu conceito é bem
mais amplo, pois, como assinala Nilo Batista197 o exame do passado
judicial do réu é apenas uma fração”. Por antecedentes deve-se enten-
der a forma de vida em uma visão abrangente, examinando-se o seu
meio de sustento, a sua dedicação a tarefas honestas, a assunção de
responsabilidades familiares. Em suma, a lição de Hungria é exata:
“Ao juiz compete extrair-lhe a conta corrente, para ver se há saldo
credor ou devedor”.198
194
Aplicação da Pena, Editora Forense, 1ª edição, 1995, p. 84.
195
Da Lei Penal, Da Pena e sua aplicação, Da Exeução da Pena, Editora Forense, 1ª edição
1995, p. 92.
196
Ob. cit., p. 161.
197
Nilo Batista, Decisões Criminais Comentadas, Editora Rio de Janeiro, 1984, 2ª edição, p. 121.
198
Nélson Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais, Editora Rio de Janeiro, 1945, p. 155.
Técnica estrutural da sentença criminal 195
3 – À CONDUTA SOCIAL
A princípio, pode parecer haver confusão entre o que seja ele-
mento caracterizador dos antecedentes e o da conduta social posto
199
Comentários ao Código Penal, Editora Saraiva, 1ª edição – 1985, 1º volume, p. 164.
200
Ob. cit., p. 580.
201
O Arbítrio Judicial na Medida da Pena, in Revista Forense, 90/12 janeiro de 1943.
196 Ismair Roberto Poloni
4 – À PERSONALIDADE DO AGENTE
Igualmente também não se pode confundir os antecedentes e a
conduta social com a personalidade do agente. Nesse último, o que
busca o legislador é a aferição da personalidade do réu no sentido de,
de conformidade com a sua formação (composta de genótipos e
fenótipos), estabelecer-se se aquela conduta em apenação seria uma
resultante natural de sua personalidade ou não. Isto é, deve o juiz
buscar saber, pela personalidade do réu, formada através dos genótipos
(características obtidas apenas pelo genes da pessoa) e dos fenótipos
(características obtidas pelos genes e pelo meio em que vive), se o
crime que se está a apenar foi uma resultante própria de sua persona-
lidade ou se foi mero acaso. Na primeira hipótese, deverá ser elevada
a pena visto que, pela personalidade do réu, tendente ao crime, torna-
se necessária uma pena maior para a reprovação e prevenção do cri-
me. Ao contrário, tendo sido obra do acaso, nenhuma razão terá o juiz
para exasperar a pena. Veja-se, v. g., que uma pessoa que tenha sido
criada numa das famigeradas favelas, v. g. – do Rio de Janeiro –, com
envolvimento, desde criança, com tráfico, prostituição infantil e ou-
tras condutas criminosas e desviadas, necessitará, se tiver absorvido
em sua personalidade aqueles traços malsinados, de uma pena mais
severa do que aquele que, embora criado em local bastante pobre e de
grande incidência de crimes e desvios sociais, conseguiu não sofrer
as interferências negativas do meio, sobrepondo-se o seu genótipo ao
seu fenótipo. Esse último, por certo terá considerada sua ação delitiva
como resultante de fato isolado e não como próprio de sua personali-
dade voltada ao crime ou aos desvios de conduta. Celso Delmanto,
Roberto Delmanto e Roberto Delmanto Júnior,203 ensinam, no mes-
mo sentido: “Diz respeito à sua índole, à maneira de agir e sentir, ao
próprio caráter do agente. Deve-se averiguar se o crime praticado se
203
Código Penal Comentado, Editora Renovar, 4ª edição, 1998, p. 95.
198 Ismair Roberto Poloni
207
TACrim-SP, JTACrim, vol 39, p. 167.
208
Criminologia, Editora Livraria Jacynto, 2ª ed. 1934, p. 168/169.
200 Ismair Roberto Poloni
ou, porque pretendia salvar uma vida com o objeto furtado ou, por-
que, simplesmente, pretendia uma vida de ganho fácil, com bens de
terceiros. A dois, porque o dolo diz respeito especificamente ao tipo
delitivo, enquanto que, os motivos, podem surgir por circunstâncias
que não integrem e nem interessem ao tipo delitivo. A três, porque os
motivos determinantes do crime, justamente por não serem intrinse-
camente dependentes do tipo delitivo, podem se constituir em causa
de aumento (ou diminuição) especial ou de qualificação (ou privilé-
gio) do delito. A quatro, porque é possível ter-se um delito perpetrado
sem qualquer motivo, e mesmo assim, restar plenamente comprovada
e caracterizada a imputação. Portanto, não há que se confundir, na
fixação da pena, os motivos determinantes do crime (ou delito), com
o dolo ou a culpa do mesmo. Todavia, embora mais raramente, é pos-
sível obter-se os motivos de um crime culposo. E isso porque, como
inexiste vinculação direta dos motivos com o crime propriamente dito,
pode surgir, no sumário da culpa, elementos probatórios dos motivos
determinantes do crime culposo. Assim, v. g., num delito de trânsito
culposo, apura-se que a culpa houve pela imperícia, eis que inabilita-
do o réu. Porém, apura-se também que o réu não teve sua habilitação
em face de seus parcos recursos financeiros ou, porque era analfabeto
e não porque pretendesse ser um condutor inabilitado. Igualmente,
apura-se que o condutor, que estava sob tratamento médico, sem sa-
ber dos efeitos colaterais de uma medicação associada ao álcool, in-
gere pequena quantidade de bebida alcoólica a qual jamais iria levá-
lo à embriaguez, pela letra da lei, mas que, por influência da medica-
ção, passa a agir sobre seu organismo, como se tivesse bebido uma
quantidade de tal ordem que o fizesse bastante embriagado. É claro
que, nessa hipótese, o motivo determinante do crime foi independen-
te de qualquer razão que levasse o réu a assim agir, isto é, nada se
pode imputar ao réu, nessa circunstância, quanto ao seu descontrole
com a bebida, que foi a causa do acidente, que culminou em crime.
Mas, por outro lado, se fosse o réu sabedor dos efeitos que a sua
medicação poderiam resultar com a associação com álcool e, mesmo
assim, ingerisse bebida alcoólica, embriagando-se, pela associação,
passando a conduzir o veículo, que acabou por provocar um acidente,
resultando em crime culposo, por certo que os motivos, as razões que
culminaram naquela conduta, ainda que culposa, iriam recair de for-
ma negativa sobre a conduta do réu e, assim, autorizar o juiz a elevar
Técnica estrutural da sentença criminal 201
a pena. Note-se que, justamente por não haver ingerência dos moti-
vos do crime com o dolo ou a culpa, é possível obter-se das provas, os
motivos e, até mesmo, dar-se nova definição jurídica ao crime, de
culposo para doloso. Existem posições defendidas veementemente
no sentido de que, a ingestão voluntária de grande quantidade de be-
bida alcoólica, provocando uma embriaguez volitiva, vindo a condu-
zir o agente um veículo, que vem a causar um acidente, com a carac-
terização de crime, é crime doloso e não culposo. Não é essa espécie
de conduta a que nos referimos. Mas, àquela que, sendo com certeza
o delito culposo, obtêm-se das provas dos autos os motivos reveladores
daquela conduta do réu. Com maior dificuldade, sem sombra de dúvi-
das. De conformidade com os motivos determinantes do crime, pode-
rão eles exigir uma dosagem maior ou menor de reprovação, com o
aumento da pena ou com sua permanência, até que outro elemento
permita sua alteração, a maior ou a menor. Ariovaldo Alves de
Figueiredo209 leciona que “Não há crime gratuito, isto é, sem motivo.
É o motivo que reside, como diz Vergara, a significação mesma do
crime. É considerando, examinando os motivos que levaram o indiví-
duo a praticar o fato criminoso, que o juiz poderá aquilatar o maior ou
menor grau de anti-sociabilidade do agente. Nélson Hungria, de sau-
dosa memória, aponta-nos determinados fatores de grande relevância
neste exame dos motivos determinantes do crime, e que devem ser
observados pelo juiz: ‘motivos imorais ou anti-sociais e motivos mo-
rais ou sociais, conforme sejam, ou não, contrários às condições éti-
co-jurídicas da vida em sociedade, o amor à família, o sentimento de
honra, a gratidão, a revolta contra a injustiça, as paixões nobres em
geral podem levar ao crime; mas o juiz terá de distinguir entre esses
casos e aqueles outros em que o movens é o egoísmo feroz, a cólera
má, a prepotência, a malvadeza, a improbidade, a luxúria, a cobiça, a
auri sacra fames, o espírito de vingança, a empolgadura dos vícios. É
na consideração dos motivos do crime que o juiz há de sempre encon-
trar um critério essencial na individualização da pena’ (RF, 89:14)”.
O ministro Francisco de Assis Toledo210 conclui: “Dito isso, po-
demos enfrentar as duas indagações inicialmente formuladas (supra,
n° 260, in fine) e dizer com Maurach: o conceito de culpabilidade, em
209
Ob. cit., p. 165/166.
210
Princípios Básicos de Direito Penal, Editora Saraiva, 4ª edição, p. 294.
202 Ismair Roberto Poloni
211
Deutsches Strafrecht, cit., p. 570.
212
Maurach, Deutsches Strafrecht, cit. p. 570.
Técnica estrutural da sentença criminal 203
7 – ÀS CONSEQÜÊNCIAS DO CRIME
Naturalmente, todo crime produz suas conseqüências. Quando
tais conseqüências mantiverem-se dentro do previsível, pela natureza
do delito, como, v. g., num furto simples de um objeto de pequeno
valor, sem maiores reflexos sobre o patrimônio da vítima ou sobre a
opinião da sociedade, deverá ser mantida a pena até então encontra-
da. Mas, por outro lado, se as conseqüências se revelarem como gra-
ves, quanto ao dano ou ao perigo de dano contra a vítima e com maior
repercussão na sociedade, a pena até então encontrada deverá sofrer
um acréscimo.
Portanto, tem-se como conseqüências do crime, as causas que,
comprovadamente, revelem a maior ou menor gravidade dos danos
ou do perigo de dano contra a vítima, bem como pela maior ou menor
repercussão na sociedade. E isso porque, como visto, para a reprova-
ção e prevenção do crime, não se pode verificar, exclusivamente, aquilo
que houve diretamente contra a vítima, ainda que em ação penal pri-
vada pois, mesmo nesses casos, haverá, sempre, o interesse da
coletividade em ver o cumprimento das leis e, pois, a manutenção da
paz e da ordem sociais.
8 – AO COMPORTAMENTO DA VÍTIMA
Inicialmente, há que se destacar que, nos delitos, sempre haverá
uma vítima, seja o particular, seja a sociedade. Como dito, a socieda-
de sempre terá seu interesse no deslinde das causas, ante a sua vonta-
de de ver a permanência da ordem e paz sociais. Mas, por vezes, essa
mesma sociedade, surge como vítima direta do delito. Tal distinção
se faz necessária na medida em que, em sendo a vítima o cidadão, o
particular, que quase sempre é ouvido em juízo, torna-se mais fácil
para o juiz, colher qual, efetivamente, foi o reflexo do crime contra
aquele cometido e, pois, qual seu comportamento. Contudo, se a víti-
204 Ismair Roberto Poloni
tipificado. Se, pela sociedade, o fato foi de somenos, deve o juiz con-
siderar que, uma pena menos grave, será suficiente e necessária para
a prevenção e reprovação do crime. Ao contrário, deverá considerar
uma pena mais grave. Mas, na verdade, a parte final do “caput” do
art. 59, não é um elemento isolado, como, v. g., a verificação da per-
sonalidade ou da conduta social do réu; é ela um elemento comum a
todas as circunstâncias do art. 59. Atua, sempre e invariavelmente,
sobre cada uma das circunstâncias a serem analisadas pelo juiz. As-
sim, ao verificar sobre a personalidade, deverá o juiz ter em mente,
para aquele delinqüente, com aquela personalidade, o que possa ser
necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. Da
mesma forma ocorrerá quanto à conduta social daquele réu ou, quan-
to aos motivos ou, às circunstâncias, etc. Para cada um dos elementos
circunstanciais do art. 59, deverá, sempre, o juiz, indagar-se quanto
será necessário e suficiente para reprovar e prevenir o crime.
Técnica estrutural da sentença criminal 207
CAPÍTULO XXI
197
208 Ismair Roberto Poloni
quer com isso dizer que apenas a situação econômica irá dirigir a sua
fixação mas sim, principalmente a situação econômica do réu. Resul-
ta daí que, na fixação da pena pecuniária, o juiz deverá observar todas
as circunstâncias do “caput” do art. 59 e, também e principalmente, a
condição econômica do réu. Assim, mesmo considerando todas as
circunstâncias do “caput” do art. 59, como desfavoráveis ao réu mas,
em sendo sua condição econômica péssima, por ser, v. g., um empre-
gado rural (como o é para a maioria dos réus no Brasil) não se permite
a fixação, em dias/multa e seu correspondente em salários mínimos
vigente à época dos fatos, em grau mais elevado, como ocorreria com
a pena privativa de liberdade. Nessa hipótese, deverá o juiz balizar-se
antes na condição econômica do réu do que nas circunstâncias do
“caput” mencionado. Ao contrário, se o réu for uma pessoa economi-
camente abastada, mesmo em lhe sendo favoráveis todas as circuns-
tâncias do “caput” mas, verificando o juiz que, o valor mínimo da
pena de multa (como ocorreria para a pena privativa de liberdade)
não será suficiente e necessário para a repressão e prevenção do cri-
me, porque aquele pequeno valor em nada atingirá o patrimônio do
réu, poderá e deverá, com base no parágrafo 1º, do art. 60, aumentar a
pena de multa em até o triplo, se verificar ser ineficaz aquela. Mas,
observe-se que o parágrafo diz que “a multa pode ser aumentada”. E
para se aumentar, é necessário que se tenha uma fixação anterior. Não
se pode aumentar o que não foi fixado, estabelecido. E aí, para a pena
de multa, surge uma forma especial de fixação. Inicialmente, deverá
o juiz fixar quantos dias/multa e com qual equivalência, em salários
mínimos, com base nos arts. 59, 60 e 49, todos do CP, que estabelece
o mínimo e o máximo de dias/multa e de seu valor, em salários míni-
mos. Para tanto, fará em sua operação intelectual, uma conjugação
das circunstâncias do art. 59, com a condição econômica do réu, esta-
belecendo a quantidade de dias/multa (de dez a trezentos e sessenta) e
o valor de cada dia/multa (de um trigésimo do maior salário mínimo a
cinco vezes esse salário). Apurado esse “quantum”, percebendo o
juiz, pela condição econômica do réu, que, ainda assim, o valor final
da pena de multa será ineficaz para a reprovação e prevenção do cri-
me, poderá, aí sim, elevá-la até o triplo, com base no parágrafo 1º, do
art. 60, CP.
Técnica estrutural da sentença criminal 211
213
Teoricamente, antes da reforma de 77 (Lei 6.416/77), quando inexistia o sistema de cumpri-
mento de penas – aberto, semi-aberto e fechado –, a pena privativa de liberdade era executada
de conformidade com a espécie determinada pelo tipo penal – reclusão, detenção ou prisão
simples. Digo teoricamente pois, em verdade, nunca houve um sistema penitenciário que pos-
sibilitasse o efetivo cumprimento da pena em reclusão (esta mais rigorosa) ou detenção (esta
menos rigorosa, pois o preso não teria que se submeter ao isolamento diurno, imposto ao
recluso, além de ficar separado daqueles condenados a reclusão) – quando o condenado deve-
ria permanecer recluso, sujeito ou não a isolamento celular, em penitenciária ou em seção
especial de prisão comum ,– art. 29 CP – 1940 –, ou, com prisão simples (para contravenções
penais – cumprimento da pena fora dos estabelecimentos prisionais de reclusão ou detenção,
sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, se-
parados, sempre, dos condenados à reclusão ou à detenção, sendo a pena privativa de liberdade
212 Ismair Roberto Poloni
menos severa das três). Todas as penas sempre foram, na realidade, executadas ou em peniten-
ciárias ou mesmo em celas de delegacias de polícia. Surgiram, então, por política judiciária, as
Resoluções dos Tribunais, possibilitando o cumprimento da pena de forma mais equânime com a
realidade do País e do crime, de conformidade com as circunstâncias judiciais do condenado.
Com a reforma penal de 84, adveio o regime de cumprimento de penas (aberto, semi-aberto e
fechado), tornando a reclusão e a detenção, letras da lei mais morta do que outrora já eram.
214
Pouquíssimas são as Casas de Albergado existentes no País. Por isso, não se destinando as
cadeias públicas senão ao recolhimento de presos provisórios (art. 102 LEP), portanto,
inapropriadas para a execução de qualquer espécie de pena criminal, poderá o juiz, nas comarcas
de residência do réu onde não houver casa do albergado ou similar, estabelecer, pelo tempo da
condenação, condições especiais, como no sursis, adequadas ao fato e à situação pessoal do
condenado, sem que tal represente uma suspensão da execução. Será uma execução da pena no
regime aberto, com condições especiais, ante a inoperância do Poder Público, na instituição de
casas do albergado. Seu descumprimento acarretará a regressão do sistema de cumprimento de
pena, para um regime mais rigoroso (in casu o semi-aberto).
Técnica estrutural da sentença criminal 213
216
Salvo se, por normatização da Corregedoria-Geral de Justiça, houver expressa determinação
de que o local de execução da pena será designado pelo juízo da execução e não pelo juízo da
condenação, ou vice-versa.
217
Reforma Penal, Editora Saraiva, 1ª edição, 1985, p. 87.
216 Ismair Roberto Poloni
art. 60, § 2º, CP. Para tanto, deverá o juiz fundamentar, quer a conces-
são da substituição, quer a sua negativa, verificando se o réu é primá-
rio e se as circunstâncias judiciais do art. 59 (a culpabilidade, os ante-
cedentes, a conduta social, e a personalidade do condenado, bem como
os motivos e as circunstâncias), mesmo que desfavoráveis ao réu,
permitem e indiquem seja operada a substituição. A análise dessas
circunstâncias, pelo juiz sentenciante, voltado sempre para a
ressocialização do condenado, bem como para a reprovação e pre-
venção do crime, sem que haja uma fórmula matemática para tanto,
irá revelar sobre a suficiência da substituição da pena privativa de
liberdade pela de multa. Embora a pena de multa, aqui, seja
substitutiva, sua fixação deverá obedecer à regras do art. 49 caput e
60 § 1º, do CP, tal qual fosse aplicada como pena própria do tipo.
Depois de verificado (e fundamentado) quanto à substituição
por multa, deverá o juiz analisar a possibilidade de substituição da
pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos (art. 44,
CP). Essas estão definidas nos arts. 43 e 46 a 48, do Código Penal.
Pela interpretação da ordem das espécies de penas restritivas, tem-se
que, obrigatoriamente, deverá o juiz analisar cada uma delas, na or-
dem estabelecida pelo art. 43. Assim, apreciará a possibilidade de
substituir a pena privativa de liberdade, inicialmente, pela prestação
de serviços à comunidade. Se essa não for recomendada, dirá por
qual razão e apreciará, então, a substituição por uma interdição tem-
porária de direitos. Caso essa também não seja recomendável, justifi-
cando o porquê, irá então apreciar, quanto à substituição por uma
limitação de fim de semana. A obrigatoriedade de se verificar a subs-
tituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito,
na ordem estabelecida pelo art. 43, não se deve apenas pela interpre-
tação em face do processo de criação da norma mas também, por ser
a do inciso I, menos grave do que a do inciso II e essa, menos grave do
que a do inciso III. Sem dúvida, prestar serviços à comunidade é me-
nos gravoso do que sofrer interdição temporária de direitos. E essa é
menos grave do que ter uma limitação em sua liberdade de ir e vir,
ainda que somente no fim de semana. Por isso, deverá o juiz não
apenas analisar sobre a possibilidade de se substituir a pena privativa
de liberdade por uma restritiva de direito, caso não cabível a substi-
tuição por multa, mas deverá fazê-lo na ordem estabelecida no art.
43, do CP. Os requisitos para substituir uma pena privativa de liber-
Técnica estrutural da sentença criminal 219
dade por uma pena restritiva de direitos estão elencados no art. 44,
CP, exigindo-se que a pena privativa de liberdade seja inferior a um
ano, se doloso o crime; se culposo, caberá em qualquer tipo delitivo;
que o réu não seja reincidente e que, a culpabilidade, os antecedentes,
a conduta social e os motivos e as circunstâncias do crime indiquem
ser a substituição suficiente para a reprovação e prevenção do crime,
bem como para a ressocialização do réu. O parágrafo segundo prevê a
possibilidade de operar-se a substituição, quando a condenação for
igual ou inferior a um ano, caso em que somente poderá ser substituída
a pena privativa de liberdade ou, por uma restritiva de direitos e mul-
ta ou, por duas restritivas de direito. Finalmente, o parágrafo terceiro
prescreve a possibilidade de substituição da pena privativa de liber-
dade ao condenado reincidente, desde que seja socialmente recomen-
dável e a reincidência não tenha ocorrido em virtude da prática do
mesmo crime.
Caberá ao juiz sentenciante a apreciação quanto ao cabimento
da substituição referida, obrigatoriamente, por ser um direito subjetivo
do réu, utilizando-se de sua crítica quanto a qual espécie de pena
restritiva de direitos é necessária e suficiente para a reprovação e pre-
venção do crime, bem como para a reintegração do réu na sociedade.
Tratando-se de substituição de pena, em caso de descumprimento
retornará a pena privativa de liberdade, definitivamente fixada, para
ser executada, deduzido o tempo cumprido na pena restritiva de direi-
to mas nunca inferior a trinta dias. Embora não exija o Código, é
salutar, no interesse maior do efetivo cumprimento da pena substitu-
ta, na sentença condenatória, registrar, para conhecimento do réu que,
em sendo revogada a pena em substituição, será executada a pena
privativa de liberdade, no quantum fixado na sentença. Essa adver-
tência funcionará como alerta ao réu quer no sentido de que está ele
tendo uma forma menos gravosa para cumprir sua penalização, quer
no sentido de se evitar não seja cumprida a pena substituída, pelo
temor de ter de cumprir a privativa de liberdade. Assim, deverá o juiz,
após a efetivação da substituição, determinar seja cientificado o réu
que, em não sendo cumprida, ou não aceita, a substituição, será exe-
cutada a pena privativa de liberdade, na forma do art. 44, § 4º, CP.
Sendo a substituição da pena privativa de liberdade por multa
ou por uma restritiva de direitos, um direito subjetivo do réu – e não
uma imposição, como a pena do tipo –, deverá haver aceitação por
220 Ismair Roberto Poloni
parte do réu. Essa poderá ser expressa, se comparecer nos autos, por
procurador ou, em cartório, pessoalmente, dizendo ciente da decisão
e acorde com a mesma ou, tácita, com o trânsito em julgado da sen-
tença. Surge, então, a audiência admonitória, na qual o réu será ad-
moestado quanto às condições, se existentes, como na prestação de
serviços à comunidade, e aceitação de seu cumprimento. Por isso,
deverá o juiz sentenciante dizer, na sentença condenatória, que a de-
signação da audiência admonitória ocorrerá após o trânsito em julga-
do.
Finalmente, caso não seja indicada a substituição da pena priva-
tiva de liberdade pela multa ou por uma das penas restritivas de direi-
tos, o que deverá ser dito pelo juiz, na sentença condenatória, funda-
mentando, restará, obrigatoriamente, a apreciação do cabimento da
suspensão condicional da execução da pena – sursis, prescrita pelo
art. 77, do Código Penal. Para tanto, é necessário que o réu não seja
reincidente em crime doloso, que as circunstâncias judiciais (a culpa-
bilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agen-
te) autorizem a concessão do benefício e que não seja indicada ou
cabível a substituição prevista no art. 44, CP. Tal qual ocorre com a
substituição de penas, também a concessão de benefícios é um direito
subjetivo do réu, não podendo ser negado pelo juiz ao seu talante.
Claro que poderá (e deverá) deixar de conceder a suspensão mas,
deverá fundamentar qual ou quais as razões que impedem a conces-
são. Da mesma forma, também deverá fundamentar a sua concessão,
analisando cada um dos requisitos mencionados. Aqui também have-
rá a realização de uma audiência admonitória, se acorde o réu com o
sursis. E na sentença deverá o juiz dizer que a audiência admonitória
será designada após o trânsito em julgado.
Técnica estrutural da sentença criminal 221
CAPÍTULO XXII
DA FIXAÇÃO DA PENA:
O RÉU TECNICAMENTE PRIMÁRIO MAS
COM MAUS ANTECEDENTES
outra intercalada entre aquelas. É claro que não se permite que a mes-
ma circunstância seja utilizada duas ou mais vezes como motivo de
exasperação ou abrandamento da pena. Mas negar-se a aplicação dos
antecedentes como causa de elevação da pena mínima, apenas e tão-
somente por desrespeito ao princípio da presunção da inocência, é,
no mínimo, ofensivo à teoria finalista da ação218 e do próprio direito
penal. À teoria finalista, por marginalizá-la nos crime dolosos em que
sua incidência é indiscutível pois, “ação humana é exercício de
atividade finalista. Ação é, portanto, um acontecimento finalístico ( =
dirigido a um fim ), não um acontecimento puramente causal”.219 Ao
próprio direito penal, por equiparar os desiguais; uma pessoa com
inquéritos policiais ou ações penais, ou condenações penais sem trân-
sito, não pode ser jamais equiparada a outra sem qualquer
envolvimento com o crime, seja ele de que ordem for. As ações huma-
nas, altamente subjetivas, são revelada pela tenacidade de seu agente.
Repetindo aquelas que a sociedade toma como correta, sofre um con-
ceito positivo cada vez mais elevado mas, se o fizer sobre aquelas
repudiadas pela mesma sociedade, em proporção bem maior, será re-
pelido de seu convívio, será colocado à margem de sua constância
regular, será um marginal. E toda ação penalmente punível, deve cau-
sar um mal à sociedade, justamente por ser considerada um fato anti-
218
Francisco de Assis Toledo; Princípios Básicos de Direito Penal; Editora Saraiva; 5ª edição;
6ª tiragem; 1999. A doutrina finalista, que revolucionou o direito penal moderno, foi proposta,
pela primeira vez, por Hans Welzel, em trabalho publicado nos idos de 1931 sob o título
Kausalitat und Handlung (causalidade e ação). Depois disso, foi desenvolvida e reelaborada,
em alguns aspectos, pelo mesmo autor e por seus seguidores, em trabalhos e obras posteriores.
Ganhou e importantes adeptos, dentro e fora da Alemanha, e chega aos nossos dias prestigiada
com a aceitação de algumas de suas proposições pela jurisprudência e pela reforma penal da
Alemanha Ocidental. Parte a doutrina em exame de um conceito ontológico de ação humana. E
assim procede por considerar, sem rodeios, que o ordenamento jurídico também tem os seus
limites: pode ele selecionar e determinar quais os dados da realidade que quer valorizar e
vincular a certos efeitos (efeitos jurídicos), mas não deve pretender ir além disso, porque não
pode modificar os dados da própria realidade, quando valorados e incluídos nos tipos delitivos.
Isso significa que a ciência penal, embora tenha sempre como ponto de partida o tipo delitivo
(Tatbstand), necessita transcendê-lo para descer à esfera ontológica e, com isso, conseguir
corretamente compreender o conteúdo dos conceitos e igualmente o das valorações jurídicas.
Ora, o resultado dessa descida, uma vez empreendida, é a revelação da estrutura “ finalista” da
ação humana, que não pode demonstrar, nessa linha de pensamento, que o direito penal está
definitivamente vinculado à estrutura da ação, argumenta Welzel com estes exemplos: “O di-
reito não pode ordenar às mulheres que apressem a gravidez e que em seis meses dêem à luz
crianças capazes de sobreviver, como também não pode proibi-las de terem abortos. Mas pode
o direito ordenar-lhes que se comportem de modo a não facilitar a ocorrência de abortos, assim
como proibi-las de provocarem abortos. As normas jurídicas não podem, pois, ordenar ou
Técnica estrutural da sentença criminal 223
proibir meros processos causais, mas somente atos orientados finalisticamente (ações) ou
omissões desses mesmos atos” . Desse fato, dificilmente contestável – afirma textualmente o
autor citado – deriva, por si mesmo, todo o restante. Dito isso, apresenta Welzel, logo no início
do primeiro parágrafo da obra por último citada, o conceito de ação que serve de base para a
construção de uma “nova imagem” do sistema penal: “Ação humana é o exercício de atividade
finalista. Ação é, portanto, um acontecimento finalístico (= dirigido a um fim), não um aconte-
cimento puramente causal” . Assim é porque o homem, com base no conhecimento causal, que
lhe é dado pela experiência, pode prever as possíveis conseqüências de sua conduta, bem como
(e por isso mesmo) estabelecer diferentes fins (= propor-se determinados objetivos) e orientar
sua atividade para a consecução desses mesmos fins ou objetivos. A finalidade é, pois, “ viden-
te”; – a causalidade, “cega” . E nisso reside, precisamente, a grande diferença entre o conceito
“clássico” causal da ação e o novo conceito finalista. No primeiro, a ação humana, depois de
desencadeada, é considerada em seus aspectos externos, numa seqüência temporal “ cega” , de
causa e efeito, como algo que se desprendeu do agente para causar modificações no mundo
exterior. No segundo, é ela considerada, em sentido inverso, como algo que se realiza de modo
orientado pelo “ fim” (pelo objetivo) antecipado na mente do agente. É uma causalidade dirigida.
219
Das neue Bild. Francisco de Assis Toledo; Princípios Básicos de Direito Penal; Editora
Saraiva; 5ª edição; 6ª tiragem; 1999.
220
A Legítima Defesa Putativa, Editora Livraria Jacintho, 1936, p. 29.
221
Criminologia – Estudo Sobre o Delicto e a Repressão Penal, Editora Livraria Clássica,
Lisboa, 4ª edição, 1925, p. 89.
224 Ismair Roberto Poloni
CAPÍTULO XXIII
A PENA E OS CÁLCULOS
PARA A SUA FIXAÇÃO
CAPÍTULO XXIV
224
Las consecuencias jurídicas del delito, Editora Tecnos, 1996, Madrid, p. 88.
225
Tratado de derecho penal, Parte General, p. 127, Editorial Hammurabi S.R.L., Buenos
Aires, 1989.
229
240 Ismair Roberto Poloni
mal”. Por essa razão é que o art. 60, CP, impõe ao juiz a obrigatoriedade
de observar, sempre, a situação econômica do réu, para estabelecer a
pena de multa. Veja-se que, caso o réu possua excelente situação
econômica, por certo não surtirá em seu íntimo o efeito de punição,
caso o valor da multa seja irrisório. No mesmo sentido tem-se o caso
de, em sendo pobre o réu, estabelecer-se-lhe elevadíssimo valor para
multa. Num ou noutro caso a desproporção entre a condição econômica
do condenado e o valor da multa fará com que: 1) Haja o desvirtua-
mento da justiça; 2) Deixe de executar-se a finalidade social-pedagó-
gica; 3) Não proteja a sociedade daquele que foi castigado; 4) Não
reeduque e nem ressocialize o apenado. Aliás, Edmundo Mezger226
ensina que “o fim da pena é triplo: 1) A pena deve atuar social-peda-
gogicamente sobre a coletividade (a denominada prevenção geral);
2) Deve proteger a coletividade ante o sujeito que tenha sido castiga-
do e corrigir a este (a denominada prevenção especial), e 3) Deve
garantir de maneira justa os interesses do indivíduo (a denominada
consideração ou respeito à personalidade)”.
Mas não somente através da situação econômica do réu é que
deve o juiz pautar-se na fixação da multa. Essa circunstância é a prin-
cipal e por isso deverá ser sobreposta a qualquer outra. Também deve
o juiz atender às circunstâncias do art. 59. É da conjugação das cir-
cunstâncias do art. 59 com a verificação da situação econômica do
réu que poderá nascer uma pena pecuniária mais próxima daquilo
que possa ser devido e necessário.
A pena de multa, desde a reforma de 84, é fixada, no Código
Penal e nas leis especiais alcançadas pelo art. 12 do CP, através de
“dias/multa”. Essa inovação no direito pátrio veio em atendimento à
finalidade da pena que, até então, em decorrência da galopante infla-
ção monetária, sofria sérios e irreparáveis prejuízos. E isto porque,
como em face do princípio “Nullum crimen, nulla poena sine lege”,
o valor da multa era expressado com exatidão, na moeda de cada
época. Restava o valor da multa, com o passar de poucos meses, em
valores irrisórios. Fixado o valor de cada multa, ou reajustado seu
valor, por lei, vários anos decorriam até que novo reajuste ocorresse
e, assim, o valor da multa ficava defasado, tornando-se, em alguns
226
Tratado de derecho penal, tomo II, p. 413, Editorial Revista de Derecho Privado, Madrid,
1940.
Técnica estrutural da sentença criminal 241
CAPÍTULO XXV
A SUCUMBÊNCIA
233
244 Ismair Roberto Poloni
pedido acusatório foi dado por procedente, arcará aquele réu com a
totalidade das custas processuais. Mas, ainda com um único réu, em
sendo dado procedência parcial à acusação, não estará o réu obrigado
ao pagamento da totalidade das despesas havidas. E isso porque aque-
las foram havidas para se provar determinado fato e, ao final, verifi-
cou-se a comprovação de outra forma ou de outra definição jurídica.
Portanto, parte das despesas ocorreram, em tese, desnecessariamente
e, por isso, não deve o réu pagá-las. Resulta daí que, nessa hipótese,
será o réu condenado ao pagamento parcial.
Já, em havendo mais de um réu, portanto mais de uma condena-
ção, em havendo a procedência total da acusação, haverá a condena-
ção de todos os réus ao pagamento das despesas processuais, por ra-
teio, “pro rata”, entre eles. Mas, se a procedência for parcial, haverá
a proporcionalidade. Então a sentença condenará os réus ao paga-
mento das custas processuais, proporcionais. Da mesma forma se ocor-
rer de um ou mais dos acusados ser absolvido e outros condenados.
Em se tratando de ação penal privada, é obrigação do autor a
antecipação das despesas, sob pena de perempção.
Estabelece o art. 806, “caput” e § 1º que “nenhum ato ou dili-
gência se realizará sem que seja depositada em cartório a importância
das custas”. “Igualmente, nenhum ato requerido no interesse da defe-
sa será realizado, sem o prévio pagamento das custas, salvo se o acu-
sado for pobre.”
Os honorários advocatícios não têm previsão de incidência no
processo penal. Por isso, não se estabelece a condenação em referida
verba. Contudo, diante da inexistência de defensorias públicas, mui-
tos juízes têm fixado os honorários do defensor na sentença
condenatória, que serão, posterior e administrativamente, cobrados
diretamente pelo defensor da administração pública. Igualmente se
tem adotado essa regra, especialmente no Paraná, quando o defensor
é advogado contratado para atuar junto à defensoria pública, vigendo
no contrato a percepção dos honorários, a favor do advogado, estabe-
lecido na sentença condenatória. Outrossim, muitos são os julgados
que, aplicando analogicamente o princípio da sucumbência do CPC
ao CPP, estabelecem a incidência do referido princípio no processo
penal e, assim, condenam o réu também ao pagamento dos honorários,
isto é, da sucumbência total.
Técnica estrutural da sentença criminal 245
CAPÍTULO XXVI
RESTITUIÇÃO DE
COISAS APREENDIDAS
235
246 Ismair Roberto Poloni
relevante que justifique a sua conservação nos autos, poderão ser res-
tituídos, mediante traslado. Em qualquer um dos casos, sempre será
ouvido o Ministério Público.
Técnica estrutural da sentença criminal 247
CAPÍTULO XXVII
A SENTENÇA NO JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL
I – INTRODUÇÃO
Os juizados especiais têm sua existência jurídica assentada na
Constituição Federal, em seu art. 98, inciso I. Porém, anteriormente,
a Lei 7.244/84, já havia instituído o Juizado Especial de Pequenas
Causas sem, contudo, abranger a matéria criminal. Foi com a vigente
Lei 9.099, de 26.9.95, que todos os pequenos delitos, ou “as infrações
penais de menor potencial ofensivo”, passaram a ser julgados pelo
juizado especial criminal. Sua importância, de indiscutível necessi-
dade, prestou ao juízo criminal comum grande colaboração, no senti-
do de retirar de sua competência a maioria das ações que ali tramita-
vam. Mas não apenas isso. Também adotou rito próprio e especial,
singelo e célere, tanto quanto os crimes de sua competência. Surgiu,
então, uma nova esperança para o direito penal pátrio, principalmen-
te quanto à questão da humanização das penas e da prevenção e re-
pressão dos crimes. A previsão de conciliação entre as partes, ofendi-
do e ofensor, a possibilidade de aceitação de pena antecipada não
privativa de liberdade (restritiva de direito ou multa), restando, ao
final de seu cumprimento, em completa isenção de mácula ao acusa-
do e finalmente, a obrigatoriedade de reparação do dano sofrido, são
institutos de há muito reclamados, para crimes de menor potencial
ofensivo. Nesses, na verdade, há o interesse quase que exclusivo das
partes pois, para a sociedade a expectativa quanto à solução da ques-
tão é de tal sorte insignificante que passa por despercebida. Na maioria
dos casos, aliás, entre as próprias partes envolvidas, senão no furor
dos acontecimentos, ocorre um desdém. Tratar os infratores de cri-
mes de somenos como efetivos criminosos, como vinha antes é, se-
não uma heresia, uma verdadeira aberração jurídica, que contraria
237
248 Ismair Roberto Poloni
IV – O RELATÓRIO
Prescreve o art. 81, em seu parágrafo 3º, que “a sentença, dis-
pensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do juiz”.
Contudo, tal qual já esboçado,229 também na sentença no juizado es-
pecial criminal, o relatório é fundamental, embora dispensado pela
229
Técnica Estrutural da Sentença Cível – Juízo Comum – Juizado Cível, Editora Bookseller,
2000.
Técnica estrutural da sentença criminal 251
lei. E não basta a lei dizer ser dispensável para se ter como efetivamente
dispensável. Na verdade, é a própria Lei 9.099/95 que deixa clara a
sua indispensabilidade; ao menos prevê dispositivos que tornam in-
congruente aquele que dispensa o relatório. Assim, diz o § 2º, do cita-
do art. 81, que “de todo o ocorrido na audiência será lavrado termo,
assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos
relevantes ocorridos em audiência e a sentença”. Portanto, é da pró-
pria lei a obrigatoriedade do registro dos fatos relevantes ocorridos
em audiência. É claro que, tomando-se apenas essa letra da lei, se
registrados os fatos relevantes no termo de audiência, desnecessário
se apresentará o relatório. Também resta claro da lei especial que a
sentença deverá ser proferida na própria audiência, circunstância que
autoriza a dispensa do relatório com o registro dos fatos relevantes no
termo de audiência. Assim, no mesmo termo de audiência ter-se-ia,
em seu corpo, o registro das ocorrências relevantes, em substituição
ao relatório e a sentença que, assim, restaria completa em seus requi-
sitos. Porém, é cediço para todos os que militam em juízo que nem
sempre o juiz profere a sentença em audiência. Seja no juizado espe-
cial ou no juízo comum, cível ou criminal. Tal circunstância, por si
só, faz com que, na sentença, seja inserido o relatório, vez que, como
a sentença não está no corpo do termo de audiência, e aquela, para ser
completa, não pode ser dependente de outra peça dos autos para ser
compreendida, a sua existência apenas no termo não dará forma e
estrutura mínima e legal à sentença. Outros elementos existem, na
própria lei, que levam à conclusão da necessidade do relatório na
sentença. Assim, estabelece o art. 76, § 2º, inciso III, uma das circuns-
tâncias que impede seja admitida a proposta ministerial, por “não in-
dicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agen-
te, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente
a adoção da medida”. E essa recusa, pelo juiz, deverá ser fundamen-
tada, por princípio constitucional, sob pena de o juiz cometer sério
abuso, em prejuízo ao direito da defesa em saber o porquê não faz juz
ao benefício legal. Pois bem, a oportunidade de oferta da proposta,
com a sua recusa ou não, ocorre na audiência preliminar. A existência
da audiência de instrução e julgamento (art. 79) pressupõe ter sido
vencida a audiência preliminar. Mas a determinação do registro resu-
mido dos fatos relevantes diz respeito apenas sobre aqueles “ocorri-
dos em audiência”, na audiência de instrução e julgamento (“de todo
252 Ismair Roberto Poloni
230
Juizados Especiais Criminais, Editora Atlas, 3ª edição, 1997, p. 120.
254 Ismair Roberto Poloni
V – A FUNDAMENTAÇÃO
Determina o art. 81, § 3º, que o juiz “mencionará os elementos
de convicção”; isto é, fará registrar os fundamentos de seu convenci-
mento, que irão dar suporte à conclusão final. Por isso, além de obri-
gatória a fundamentação, por expressa determinação legal, de outra
forma não poderia ser, é ela, também, um dos requisitos necessários
da sentença. Outrossim, pela Constituição Federal, nenhuma decisão
poderá ser imotivada. Assim, com maior razão se tem a necessidade
da fundamentação na sentença do juizado especial criminal. No en-
tanto, deverão ser observados os princípios da informalidade e da
simplicidade, tornando-a muito mais concisa do que a fundamenta-
ção da sentença penal do juízo comum. Mas isso não representa, ou-
trossim, seja permitido o não conhecimento de qualquer uma das
matérias de defesa e de acusação. Necessariamente deverá o juiz apre-
ciar todas as circunstâncias próprias de cada delito, de conformidade
com o fato descrito na denúncia ou representação, tal qual na senten-
ça penal do juízo comum. E isso porque, os elementos que constituem
a denúncia, na descrição dos fatos, é que fazem, mesmo no juizado
especial, a acusação propriamente dita. Não há como deixar de apre-
ciar a autoria, a materialidade e o dolo ou a culpa. Se assim ocorrer,
estreme de dúvidas que a sentença será nula. O que a lei dos juizados
busca é uma simplificação nos crimes de somenos, não um desprezo
às garantias do cidadão. Sem embargo, portanto, do pensamento que
busca a maior simplificação do processo no juizado criminal, circuns-
tâncias existem que são de obrigatório conhecimento e apreciação
pelo julgador. E com a mesma razão, deverá o juiz apreciar toda e
qualquer matéria de defesa alegada em favor do acusado ou presente
nos autos. Por mais singelas que possam ser essas apreciações, todas
deverão ser enfrentadas pelo juiz, sob pena de nulidade da sentença.
Da mesma forma a denúncia deverá obedecer todos os seus requisi-
tos, constantes do art. 41, CPP, ante a aplicação subsidiária prescrita
256 Ismair Roberto Poloni
VI – O DISPOSITIVO
A lei especial é silente sobre o dispositivo assim, deverá ser apli-
cada a regra do processo penal, subsidiariamente. Deverá ele, pois,
ser a decorrência lógica e coerente da fundamentação sob pena de, ao
contrário, tornar inexistente a sentença. É nele que se tem estabeleci-
dos os limites da coisa julgada. Tal qual no juízo comum, o dispositi-
vo no juizado especial será a conclusão do conteúdo da fundamenta-
ção, pela absolvição ou condenação. Seus termos seguem os mesmos
do juízo comum. Por se consubstanciar, juntamente com o intróito e
parte do relatório, em coisa julgada, o dispositivo no juizado especial
criminal não pode sofrer diminuições em seu conteúdo, em nome dos
princípios da simplicidade e informalidade. Condenar-se o réu, sem
ser devidamente qualificado e sem a tipificação delitiva, é agir con-
trariamente ao princípio constitucional da ampla defesa, que deve ser
primeiro observado, antes dos princípios gerais, como a da simplici-
dade e da informalidade.
PREÂMBULO – Vistos e examinados estes autos de ação penal,
registrado neste juizado especial criminal sob nº
................................. , em que é autor o Ministé-
rio Público e acusado ..................., já qualifica-
dos nos autos (em sendo prolatada a sentença).
dos, expressar, de forma clara, concisa e persua-
FUNDAMENTAÇÃO siva, o conhecimento obtido através das provas e
das regras de experiências comuns ou técnicas.
FIXAÇÃO DAS as penas com as regras do artigo 68 e 59, CP,
tendo por base a reparação do dano e a não apli-
PENAS
cação de pena privativa de liberdade.
Proceder às comunicações (delegacia de origem,
Instituto de Identificação, Central de Condena-
EFEITOS ções do Juizado (para os fins do art. 76, da lei
DIREITOS especial), Tribunal Regional Eleitoral, etc.
Lançar o nome do réu no rol dos culpados, após
o trânsito em julgado.
CAPÍTULO XXVIII
DA TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO
DE UMA SENTENÇA A PARTIR DE
UM ENUNCIADO (CONCURSO)
249
260 Ismair Roberto Poloni
I – OBSERVAÇÕES PRELIMINARES
Há uma regra imprescindível para a feitura de uma sentença, a
partir de um enunciado: tudo o que constar do enunciado deverá ser
enfrentado na sentença, da forma como foi lançado naquele. E naqui-
lo que o enunciado for silente, deveremos, sempre, buscar a alternati-
va que facilite a confecção da sentença sem que, com isso, deixemos
de julgar o mérito, tal como reconhecer uma possível ocorrência da
prescrição da pretensão punitiva. E isso porque, a sentença no con-
curso objetiva aquilatar os conhecimentos do candidato e não a sua
capacidade de buscar o caminho mais cômodo. Tudo aquilo que esti-
ver no enunciado deverá ser rigorosamente observado pelo candidato
e, no mais, em não sendo contraditório com o histórico do enunciado,
poder-se-á divagar, com a imaginação, para criar todo o processo e,
assim, a sentença final. Situações existem, pois, que obrigam o candi-
dato a obedecer, com rigor, o enunciado, como, v. g., in casu, as le-
sões leves sofridas pela dona da casa; outras, porém, ficam ao livre
arbítrio do candidato, mas também deverão ser enfrentadas, tal como
as lesões sofridas pela empregada, o valor dos bens subtraídos, a sua
recuperação ou não. Note-se, a título de dissertação, que as lesões
sofridas pela dona da casa somente poderão ser de natureza leve, pois
assim diz taxativamente o enunciado. Mas, aquelas sofridas pela em-
pregada, como é silente o enunciado, tanto poderão ser leves (caso
em que o estupro será simples), como graves (caso em que o estupro
será qualificado – art. 213 c.c. 223, “caput”). Aqui, pois, será uma
231
A palavra refém estava grifada no texto do enunciado, provocando dúvida nos candidatos.
Técnica estrutural da sentença criminal 261
III – O RELATÓRIO
Assim teríamos no relatório da nossa sentença:
Vistos e examinados estes autos de ação criminal, registrados
neste juízo da 10ª Vara Criminal de Poloni – SP, sob nº1423/01, em
que é autora A Justiça Pública e acusados Pedro da Silva, brasileiro,
solteiro, com 19 anos de idade, mecânico, portador do TE
918.273.746-56/PR, residente e domiciliado à rua Andradas, 102,
Bairro Chapinha, nesta cidade e comarca de Poloni; José de Olivei-
ra, brasileiro, casado, sem profissão definida, portador do RG nº
352.684.289-4-PR, residente e domiciliado à rua Avenças, 463, nesta
cidade e comarca e, Antônio Cruz, brasileiro, solteiro, pintor, porta-
Técnica estrutural da sentença criminal 273
IV – A FUNDAMENTAÇÃO
Da Materialidade
A subtração dos bens avaliados às fls. 20/28, havida por ação
do acusado e seus co-autores, foi o núcleo diretivo da ação do acusa-
do. Todos os bens subtraídos foram recuperados em poder dos acu-
sados, cuja avaliação atingiu R$17.500,00. A disponibilidade que
teve o acusado Pedro e seus co-autores, dos bens subtraídos, asso-
mado com as declarações das vítimas, que confirmaram as subtrações,
bem como das testemunhas de fls.84 e 85, que viram o acusado e
demais co-autores, transportarem os bens materiais para o carro, e
com os laudos de apreensão e avaliação de fls. 20/28, tornam certa a
materialidade.
Da Autoria
O acusado confessou (fls. 41/42) a prática do roubo à mão ar-
mada contra as vítimas Maria, João e Francisca, no dia, hora e local
já mencionados, inclusive com a co-participação dos demais acusa-
dos. A confissão, diversamente como pretende a defesa, não está iso-
lada nos autos. Ao contrário, vem reforçada pelas declarações das
vítimas, fls.80/83, que afirmaram, à unanimidade, ter sido o acusa-
do, juntamente com os demais, os autores do roubo, com emprego de
arma de fogo, tendo as mesmas reconhecido aqueles (auto de fls. 30),
embora usassem máscaras. Os reconhecimentos, como esclareceram
em suas declarações foram possíveis pois, em dado momento, quan-
do José foi praticar o estupro com Francisca, tirou a máscara e en-
tão, os demais, acabaram por tirar as suas. Também confessou ter
tomado no assalto o veículo de propriedade da vítima João dos San-
tos, para a fuga, abandonando-o num matagal, amarrado a uma ár-
vore. Nesse sentido foram também as declarações de João dos San-
tos, bem como das testemunhas de fls. 84 e 85, vizinhos da citada
vítima, que afirmaram ter visto a mesma sendo levada para seu car-
ro, amarrada, sob ameaça de armas de fogo. Também as demais víti-
mas afirmaram que o acusado e seus comparsas disseram que levariam
João dos Santos como refém, amarrando-o, e que, caso chamassem a
Técnica estrutural da sentença criminal 277
Do Dolo
O acusado Pedro confessou ter sido o mentor do roubo pois
sabia que o morador daquela casa possuía dinheiro pois vendia jóias.
Com essa versão, fica suficientemente clara a vontade livre e cônscia
do acusado Pedro, em subtrair para si, os bens da vítima, mediante
ameaça de arma de fogo, com a co-participação de outros dois, que
foram por ele convidados. As vítimas, fls. 80/83, afirmaram, ainda,
que os acusados exigiam fossem dadas jóias e dinheiro, mas João
dos Santos dizia não possuir, em razão do que ameaçaram matar sua
esposa, tendo o acusado José detonado um tiro, acertando em Maria
dos Santos. E, finalmente, o seqüestro empregado para garantir a
fuga, com o produto do roubo, é circunstância própria para garantir
a posse mansa e pacifica da coisa subtraída.
Da Agravante Especial
O acusado confessou ter sido o mentor do projeto criminoso, o
que foi confirmado pelos demais co-autores. Assim, a confissão não
está divorciada das provas dos autos. Ao contrário, vem alicerçada
por co-imputações. A confissão quando confirmado por co-imputações,
portanto respaldada, torna certa a imputação dirigida.
Resta, assim, suficientemente comprovado o roubo com o au-
mento especial do emprego de arma, pelo concurso de mais de uma
pessoa e pelo seqüestro da vítima, bem como pela agravante especial
do art. 62, Nº I, CP.
Da Materialidade
Os bens subtraídos e avaliados em R$17.500,00 (fls.20/28) fo-
ram o objeto da subtração pretendida pelo acusado e seus co-auto-
res. Admitiu o acusado José ter sido esse o núcleo de suas ações,
obtendo êxito. Os bens foram recuperados na posse dos acusados
ficando, portanto, em sua posse mansa e pacífica. As confissões dos
acusados, assomadas com os autos de apreensão, com as declara-
278 Ismair Roberto Poloni
Da Autoria
José confessou sua participação no roubo, arquitetado por Pedro,
com utilização de arma de fogo como instrumento de ameaça às víti-
mas, juntamente com os outros dois co-autores (fls. 44/45). Também
confessou que, para fugirem, fizeram a vítima João dos Santos de
refém, utilizando do veículo da mesma, vindo a deixá-la amarrada
numa árvore, em um matagal. Tais confissões também foram confir-
madas pelos co-partícipes (fls. 41/42 e 46/47), pelas vítimas (fls. 80/
83) e pelas testemunhas (fls. 84/85). Assim, as vítimas, que estavam
no interior da casa, afirmaram que os acusados adentraram de arma
em punho, amedrontando e ameaçando a todas. Em determinado
momento, o acusado Antônio retirou sua máscara, levando os demais
a retirarem as suas, em face do que, foram os acusados reconhecidos
pelas três vítimas. Disseram elas, ainda, que fugiriam com o veículo
de João dos Santos e, para terem a certeza de que não chamariam a
polícia, levaram consigo João, amarrado. João, ouvido às fls. 80,
disse que foi colocado no porta-malas de seu veículo, sendo deixado
amarrado a uma árvore, em um matagal, distante da cidade. As tes-
temunhas, por seu turno, afirmaram ter ouvido gritos vindos de den-
tro da casa, o que lhes chamou a atenção e, em determinado momen-
to, viram a vítima João ser levada pelos acusados, amarrada, para
seu veículo, sendo colocada no porta-malas do mesmo. Dessa arte,
nenhuma dúvida resta quanto à autoria do roubo com aumento espe-
cial imputado ao acusado José.
Do Dolo
O acusado confessou a vontade livre e cônscia em subtrair para
si os objetos das vítimas. Os demais acusados também confessaram e
co-imputaram a ação ao acusado José. As vítimas afirmaram que os
acusados adentraram de arma em punho, fazendo ameaças à segu-
rança das mesmas, com o objetivo de subtraírem jóias e dinheiro,
acabando por se contentarem com os objetos efetivamente subtraí-
dos. Da mesma forma o seqüestro de João dos Santos houve para
garantir a fuga e, pois, o sucesso do delito. Assim, o dolo direto,
consistente em querer subtrair para si, mediante ameaça, os bens da
vítima, é inconteste.
Técnica estrutural da sentença criminal 279
Da Materialidade
O laudo de fls. 39 afirma a existência das lesões, que foram
provocadas por disparo de arma de fogo. Os termos do laudo são
confirmados pelo acusado e pela vítima, além dos demais acusados e
das demais vítimas. Certa, pois, a materialidade.
Da Autoria
José admitiu ter detonado um tiro com seu revólver, que acabou
por atingir a vítima Maria dos Santos (fls. 44/45). O motivo, como
pretendido pela defesa, pelo qual levou José a detonar a arma é
irrelevante. Estava o acusado mantendo as vítimas sob constante
ameaça de arma de fogo, juntamente com os demais co-partícipes e,
pois, em situação, além de superior, também ilegal. Portanto, qual-
quer que fosse o motivo que teria levado José a disparar a arma seria
absolutamente irrelevante, quanto ao resultado que viesse a produ-
zir. No caso, por obra do acaso, restou em meras lesões leves, confor-
me laudo de fls. 39, na vítima Maria dos Santos. Além da confissão,
tem-se ainda a co-imputação dos demais co-autores, bem como as
palavras das vítimas que confirmaram, à unanimidade, ter o acusa-
do José detonado um tiro, que veio a atingir a vítima Maria, causan-
do-lhe ferimentos leves.
Do Dolo
Em que pese ter o acusado dito ter disparado o tiro para o alto,
dando uma versão de que não pretendia atingir à vítima, a mesma
não encontra respaldo nas provas dos autos. Estas, na verdade, com-
provam o dolo indigitado. Inicialmente pelas palavras das vítimas
que afirmaram, todas, que o acusado apontou a arma para Maria,
porque João dizia não possuir jóias e então disse que iria matá-la, ao
que João suplicou mas, mesmo assim, José detonou a arma que, so-
mente pelo acaso, causou lesões leves e não a morte de Maria. Ao
280 Ismair Roberto Poloni
Da Reincidência
Apontada a circunstância agravante, na exordial, foi a mesma
comprovada pela certidão de fls. 51, que restou hígida.
Do Concurso Material
O concurso material restou evidente pois o acusado, com mais
de uma ação, praticou dois crimes distintos, restando comprovados
ambos.
Da Materialidade
O acusado, juntamente com os demais, tomou para si os objetos
das vítimas, em ação própria de quem pretende a subtração. Todos
os objetos subtraídos foram recuperados ainda em poder dos acusa-
dos, cuja avaliação somou em R$17.500,00. Os laudos de fls. 20/28,
assomados, ainda, com as confissões e com as declarações das víti-
mas e das testemunhas, além da apreensão em poder dos acusados
dos bens subtraídos, tornam certa a materialidade.
Da Autoria
Confessou o acusado, fls. 46/47, a autoria do roubo, que teve o
acusado Pedro como seu mentor intelectual, com emprego de arma e
concurso de agente. Seu defensor, entretanto, pretende ser a confis-
são insuficiente pois está divorciada das demais provas dos autos.
Contudo, não lhe assiste razão. E isso porque tem-se a confirmação
pelas vítimas, que reconheceram todos os acusados (auto de reco-
nhecimento de fls. 30), por ter o acusado tirado a máscara, quando
foi estuprar Francisca, tendo os demais também retirado as suas.
Não fosse o bastante, as testemunhas de fls. 84 e 85 afirmaram ter
Técnica estrutural da sentença criminal 281
Do Dolo
A ação do acusado, levada a cabo pelo convite e arquitetura do
acusado Pedro, houve de forma dolosa, na intenção única de subtra-
ir para si, mediante o emprego de arma de fogo, os bens das vítimas,
consoante confirmaram as vítimas e as testemunhas de fls. 84 e 85.
Igualmente mantiveram a vítima com sua liberdade restringida, com
o fim de garantir da fuga e, pois, a posse dos bens subtraídos.
Assim, restou plenamente comprovada a acusação do roubo com
aumento especial pelo emprego de arma, pelo concurso e pelo
seqüestro da vítima.
DO CRIME DE ESTUPRO
Da Materialidade
A cópula houve, consoante admitiu o acusado e afirmou a víti-
ma. E nem se pretenda repudiá-la em face de não terem os senhores
peritos conseguido positivá-la. E isso porque, em não sendo virgem a
mulher, não há que se pretender seja provada a materialidade atra-
vés de exame de conjunção carnal, por óbvio. Por isso, suficiente a
palavra da vítima, que está em consonância com as do próprio acu-
sado. Provada pois, restou, a materialidade.
Da Autoria
O acusado Antônio confessou a autoria do estupro (fls. 46/47),
embora dissesse que fora a vítima quem fizera o assédio. A própria
vítima Francisca confirmou ter o acusado Antônio estuprado, fazen-
do uso de arma de fogo, além de agredi-la fisicamente. Ademais, as
informantes Maria e João dos Santos confirmaram as declarações
de Francisca, no sentido de que Antônio, bastante nervoso, começou
a convidar Francisca para a prática de ato sexual, enquanto Francisca
se negava, tendo então Antônio, desferido alguns socos contra
Francisca que, ainda contra sua vontade, foi arrastada por Antônio
282 Ismair Roberto Poloni
Do Dolo
Em que pese ter o acusado dito ter partido da vítima o “convi-
te” para a relação sexual, de forma diferente restou demonstrado
pelas provas dos autos. “Ab ovo”, é da jurisprudência e da doutrina
que, em crimes dessa natureza, quase sempre cometidos longe das
vistas de terceiros, é suficiente a palavra da vítima. E no caso em
questão, não houve apenas a palavra da vítima, no sentido de ter
sido obrigada, mediante ameaça de arma de fogo e com violência
física, que lhe restou em lesões graves (laudo de fls.18). Também os
informantes João e Maria dos Santos afirmaram ter o acusado man-
tido a vítima sob ameaça com arma de fogo, além de agredi-la com
socos, para poder com ela manter relações sexuais. No mesmo senti-
do, ainda, disseram os demais acusados. Ora, aquele que, fazendo
uso de uma arma e de violência física, mantém conjunção carnal,
age dolosamente, pois, tal conduta revela a contrariedade por parte
da vítima para a pretendida relação sexual. Fosse essa a vontade da
vítima, não haveria o porquê espancá-la ou mantê-la sob a ameaça
de um revólver. A vontade manifesta do acusado foi, estreme de dúvi-
da, dirigida para o propósito de manter relação sexual com a ofendi-
da, que a isso se opôs.
Dessarte, comprovado o crime de estupro qualificado.
Do Concurso Material
O concurso material registrado na denúncia restou comprova-
do eis que o acusado, com duas ações, praticou dois crimes não idên-
ticos, que restaram totalmente comprovados, como visto, nos autos.
V – O DISPOSITIVO
O dispositivo será a conclusão final do que foi discutido na fun-
damentação. Assim, como todos os crimes, na forma como foram
imputados a cada um dos acusados, restaram provados, o dispositivo
deverá, obrigatoriamente declarar a procedência dos fatos descritos na
Técnica estrutural da sentença criminal 283
OBSERVAÇÕES
Na fixação das penas para o réu Pedro, faz-se necessário algu-
mas observações. Inicialmente, pelo artigo 59, deverão ser analisadas
todas as circunstâncias judiciais desse crime. Algumas delas estão
implicitamente preestabelecidas e outras, explicitamente. Assim, está
explícito que o réu não possui antecedentes. Portanto, a circunstância
sobre “os antecedentes” não poderá ser prejudicial ao réu. De igual
forma não poderão ser prejudiciais as circunstâncias sobre a conduta
social e a personalidade, pois, o fato de o enunciado dizer que o réu
não possui antecedentes leva a uma ilação de que sua conduta e sua
personalidade são regulares. É claro que, em pretendendo o candida-
to exasperar a pena, poderá argumentar que a conduta do acusado,
embora sem antecedentes é reprovável pois “embriaga-se constante-
mente, agredindo sua família, inclusive as crianças, além de ofender
as pessoas que passam defronte a sua casa” e que possui uma má
personalidade pois ”sempre que há uma desavença entre terceiros, o
286 Ismair Roberto Poloni
OBSERVAÇÕES
Na fixação das penas para o réu José, faz-se necessário obser-
var-se alguns aspectos. O primeiro, diz respeito à reincidência, deter-
minada pelo enunciado e pelos antecedentes. A reincidência diz res-
peito a uma condenação com trânsito em julgado, sofrida pelo réu,
que acarretará um plus tanto no estabelecimento do regime de cum-
primento da pena, em outra condenação posterior, como em sua vida
cotidiana. Tecnicamente, também poderá ser, como no caso, uma agra-
vante genérica. E foi dessa forma que foi considerada e não como
antecedentes,. E isso porque, esses, embora aparentemente tenham
correlação com a reincidência, por serem o retrato da conduta do réu
anteriormente aos fatos em julgamento, não podem ser somados à
reincidência sob pena de haver uma bis in idem. Isto é, se a reincidên-
cia elevar a pena, como uma agravante, não poderá também ser moti-
vo de exasperação como circunstância judicial pelos antecedentes.
Mesmo que a reincidência não tenha sido elencada, na denúncia, como
uma agravante, pois essa obrigação compete ao órgão acusador, não
poderá ela ser novamente considerada como elemento caracterizador
de maus antecedentes. É claro que quem já foi condenado por um
crime doloso, com trânsito em julgado, tem um antecedente criminal
desfavorável. Mas tecnicamente essa circunstância deverá, para fins
de fixação da pena, ser considerada apenas uma vez, na condição de
agravante genérica. Se fizer de forma diversa, haverá uma aplicação
supletiva daquela circunstância, fazendo com que a exasperação da
pena seja abusiva e em prejuízo ao réu. Outro aspecto diz respeito ao
concurso de circunstâncias atenuante e agravante. No exemplo
enfocado, houve a compensação entre ambas, no crime de roubo e o
concurso, no crime de lesões, entre ambas, preponderando a agravan-
te da reincidência pois assim expressamente prescreve o art. 67. Mas
isso não representa que, toda vez que existir uma atenuante e uma
agravante, deverá ser feita a compensação entre ambas. Essa, a com-
pensação, deverá ocorrer quando, convincente e fundamentadamente,
demonstrar o juiz que ambas se equivalem; isto é, que o tanto que a
atenuante iria diminuir a pena é o mesmo que a agravante iria fazer
aumentar. No caso em questão, houve a justificativa no sentido de
que, a confissão, naquela espécie de crime, roubo, é tão relevante
quanto a reincidência do réu. E aqui não importa tenha havido outras
provas nos autos, a comprovar a confissão. E isso porque, a um, quando
Técnica estrutural da sentença criminal 291
digo Penal, que torno definitiva, nada mais havendo que possa majorá-
la ou minorá-la.
Do Concurso Material
Nos termos do artigo 69, do Código Penal, cumulo as penas
fixadas totalizando-as em 23 anos e 04 meses de reclusão, a ser cum-
prida desde o início no regime fechado e oitenta e dois dias/multa,
equivalente a R$338,00.
OBSERVAÇÕES
Aqui cabem, também, algumas anotações. Na fixação da pena
de multa tomamos por base, conforme determina o art. 60, principal-
mente a situação econômica do réu. Tem ela, na forma do art. 49, o
limite de 10 a 360 dias/multa, podendo equivaler o dia/multa de 1/30
avos do salário mínimo vigente à época dos fatos, até 5 salários míni-
mos, podendo, ainda, o juiz, triplicar o máximo, se em virtude da
situação econômica do réu, mesmo o máximo, 5 salários, for ineficaz
(art. 60, § 1º). Como o réu Antônio é pintor, trabalhador de baixa
renda e, assim, pobre, não poderíamos aplicar uma pena elevada. Mas,
as circunstâncias do art. 59 eram bastantes desfavoráveis, em razão
do que, foi estipulada a pena base de multa, no crime de roubo, em 55
296 Ismair Roberto Poloni
quantum estabelecido como pena base, que foi de 50. Por isso, a solu-
ção que se impõe, é a simples diminuição de 16,66 para apenas 16
pois assim estarão resguardados todos os direitos do réu e aplicada a
lei (art. 11, CP). Pois bem, 16 dias/multa representam apenas um ter-
ço. Como o aumento foi de 2/3, multiplicamos 16 por 2, tendo por
resultado 32, que é o total do aumento especial que, somado à pena
base, totalizou 82 dias/multa, com igual equivalência.
Outro aspecto a se apreciar é o rateio das despesas processuais.
Como houve a procedência integral de todos os fatos apontadas na
denúncia, as despesas processuais deverão ser inteiramente suporta-
das pelos acusados. Por isso, eqüitativamente, deverão ser responsá-
veis por aquelas. Diferentemente seria se um ou mais fato não fosse
procedente. E isso porque houve despesas para se apurar um fato que,
ao final, não teve procedência. Por isso não poderá o réu, embora
condenado por um outro fato, no mesmo processo, arcar com todas as
despesas, pois essas, como dito, ocorreram tanto para o fato pelo qual
foi condenado como pelo que não o foi. O mesmo se diga se, no caso
em questão, Antônio, v. g., fosse condenado a apenas um dos crimes.
Com isso as despesas deveriam ser divididas em três, sendo duas par-
tes iguais para Pedro e José e uma terceira parte para Antônio, dessa
forma: – “Condeno os réus ao pagamento das despesas processuais,
proporcionalmente, sendo integrais para os réus Pedro e José e parcial
para o réu Antônio”. A apuração dos valores será incumbência da
contadoria oficial, e eventuais erros no lançamento tanto poderão ser
corrigidos pelo juiz como reclamados pelo réu, até mesmo na fase de
execução.
Ainda temos a observar sobre a determinação do lançamento do
nome dos réus no rol dos culpados (art. 393, II, CPP), após o trânsito
em julgado da sentença. Embora a execução dessa determinação so-
mente venha a ocorrer após o trânsito em julgado, deve a mesma cons-
tar no corpo da sentença condenatória pois é um efeito da condena-
ção. Como com a Constituição de 88 estabeleceu o princípio da pre-
sunção de inocência, tal ato somente deverá ser cumprido após o trân-
sito em julgado.
Também é de se registrar a obrigatoriedade de verificação de
benefícios a favor de qualquer um dos réus. No caso em tela, pelas
penas aplicadas, pela reincidência, pelos antecedentes, nenhum bene-
fício poderia ser estabelecido aos réus. Por benefícios deve-se enten-
Técnica estrutural da sentença criminal 299
CAPÍTULO XXIX
O PROCESSO COMPLETO
COMENTADO
Buscamos, neste capítulo, transcrever um processo criminal in-
tegral, a fim de, com essa cosmovisão, tornar possível uma melhor
compreensão de tudo quanto até aqui foi dito. Não se trata de nenhu-
ma espécie de modelo para sentença. Ao contrário, a proposta é no
sentido de, podendo vivenciar cada passo, fazer despertar o raciocí-
nio completo para a construção de uma sentença penal. Longe de,
dessa forma, dizer-se que tudo restou concluído com esses comentá-
rios. Na verdade esses devem representar o início de uma longa jor-
nada, máxime para aqueles que buscam o ingresso na Magistratura
nacional, que restará, ao final, com a desenvoltura e características
próprias de cada um, retratada nas sentenças que virão, quer com o
exercício para ingresso na carreira, quer com o exercício daquela. A
ação que vamos apreciar não é fictícia, exceto os nomes e outros da-
dos pessoais. Sua cópia, dessa forma, foi fiel à original, inclusive
com seus erros e defeitos, como naturalmente ocorre no dia-a-dia. A
sentença final será construída já nos próprios comentários, destacan-
do-se em itálico, principalmente o que irá compor o relatório. No alto
de cada página do processo haverá um registro de “Página Nº” e o
comentário respectivo daquela página aparecerá como “Comentário
à Página Nº”. Desse modo, possibilita-se àquele que busca prestar
concurso para ingresso na magistratura, poder fazer sua sentença, com
base no processo, sem olhar os comentários e, ao final, comparar a
sua sentença com a do processo, verificando com os comentários,
seus erros ou acertos. Essa conduta é altamente válida pois obriga,
aquele que assim o fizer, a agir e pensar como se fosse o juiz
sentenciante. Para esses leitores é recomendável usarem de outros
processo arquivados, para melhor desenvolvimento de sua aptidão
que, é claro, somente com a prática irá se revelar e amadurecer.
291
302 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 1
PROCESSO – CRIME
AUTUAÇÃO
Aos (26) Vinte e Seis dias do mês de agosto
de mil novecentos e noventa e nove(1999), nesta cidade de Poloni,
Estado de São Paulo, em meu cartório, autuo a
denúncia e despacho como adiante se vê.
Eu .......Paulo Lisboa, escrivão o escrevi e subscrevo.
Técnica estrutural da sentença criminal 303
Comentário à Página Nº 1
Página Nº 2
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Promotoria de Justiça da Comarca de Poloni – SP
“Em data de 25 de maio de 1999, por volta das 15:00 horas, o denun-
ciado Marcos Lara compareceu até a residência da vítima – Clara dos
Anjos, localizada na zona rural deste Município e, sob a alegação de
que pretendia adquirir alguns galináceos, foi devidamente atendido
pela vítima, momento em que o denunciado sacou de um revólver
calibre 38 que portava – apreendido conforme auto fls. 26 – e, de
arma em punho passou a ameaçá-la de morte, acabando por trancafiá-
la no interior do banheiro da residência. Momentos após, enquanto o
denunciado mantinha a vítima encarcerada, compareceram na resi-
dência dois filhos da citada vítima – Carlos dos Anjos e Ricardo
dos Anjos, e ainda, um empregado – Leandro de Souza – que exerce
atividades na propriedade, os quais foram abordados pelo denuncia-
do e, sob ameaça praticada com a referida arma, também foram
trancafiados naquele cômodo.
Passando algum tempo, o denunciado transferiu todas as víti-
mas para um quarto da casa, onde uma a uma foram amarradas e
deitadas sobre uma cama. Uma vez estando todas imobilizadas, o de-
nunciado passou a subtrair para si, do interior da residência, vários
objetos, colocando-os em um veículo – Volkswagem Brasília –, de
propriedade da vítima Clara. Porém, como o motorizado não funcio-
nava, subtraiu da propriedade um animal cavalo de cor castanha, de
Técnica estrutural da sentença criminal 305
Página Nº 3
mais ou menos treze anos de idade, com arreio, dois relógios de pul-
so, e ainda, cinqüenta dólares, bens estes avaliados no total de
R$405,00 (quatrocentos e cinco reais), todos apreendidos em poder
do denunciado – autos de apreensão de fls. 25, e, em seguida, deixou
o local abandonando o veículo totalmente abarrotado de objetos”.
Assim agindo, incorreu o denunciado MARCOS LARA nas
sanções do art. 157, parágrafo 2º, inciso I, do Código Penal, razão
pela qual se oferece a presente, que se espera seja R. e A., instauran-
do-se a instrução criminal, citando-se o denunciado para se ver pro-
cessar e oferecer defesa, sob pena de revelia, condenando-o nas pe-
nas capituladas e intimando-se as testemunhas abaixo arroladas para
prestarem depoimento, prosseguindo-se até o final condenação.
P.DEFERIMENTO.
JOSUÉ DAMASCO
Promotor de Justiça
306 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 4
ROL DAS TESTEMUNHAS:
JOSUÉ DAMASCO
Promotor de Justiça
Técnica estrutural da sentença criminal 307
Comentário às Páginas Nº 2 a 4
Página Nº 5
Iniciado Mediante: PORTARIA DA AUTORIDADE Encaminhado à
AUTUAÇÃO
Ao(s) 27 dia(s) do mês de MAIO
do ano UM MIL NOVECENTOS E NOVENTA E NOVE
nesta cidade de
Poloni na DELEGACIA DE POLÍCIA
autuo A PORTARIA INICIAL E DEMAIS PEÇAS
do que adiante se vê, para constar, lavrei este termo.
Eu – JOÃO PEDRO LISBÔA – Escrivão de Polícia,
que em parte, datilografei.
Técnica estrutural da sentença criminal 311
Página Nº 6
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
– DELEGACIA DE POLÍCIA DE POLONI –
PORTARIA
FRANCISCO DE OLIVERIA
Delegado de polícia
312 Ismair Roberto Poloni
Comentário às Páginas Nº 5 e 6
Página Nº 5
A capa dos autos de inquérito, para a sentença, nenhum elemen-
to produz. Nem mesmo quanto à afirmação do promotor de justiça de
oferecer a denúncia com base no inquérito que a acompanha.
Página Nº 6
A Portaria do delegado de polícia, determinando a instauração
do inquérito investigatório, tem sua importância, para a instrução ju-
dicial por mostrar como os fatos chegaram inicialmente ao conheci-
mento da autoridade. No caso, o que relata a portaria é o resumo do
que foi relatado na denúncia. Por isso, nenhum realce terá para a sen-
tença. Salutar trazer a registro, contudo, o disposto no art. 4º, do CPP,
que estabelece que “A polícia judiciária será exercida pelas autorida-
des policiais no território de suas respectivas jurisdições e terá por
fim a apuração das infrações penais e sua autoria”. Assim, a autorida-
de policial, que deve atuar como polícia judiciária, auxiliando o juiz
nas investigações sobre a ocorrência de delitos, sejam de alçada pú-
blica ou privada, atua dentro dos limites territoriais que administrati-
vamente tenha competência, que são “suas respectivas jurisdições”,
sem ser, contudo, subordinado ao juiz ou ao promotor de justiça. As-
sim como o titular da ação penal pública é o Ministério Público, ca-
bendo apenas ao seu membro, o promotor de justiça ou ao procurador
de justiça, oferecer a denúncia e, assim, dar início à ação penal, ape-
nas à autoridade policial compete, mediante portaria, dar início às
investigações que colherão os elementos sobre a infração penal. É
claro que o juiz, ou Ministério Público, ao tomar conhecimento de
um fato delituoso, irá determinar à autoridade policial que instaure o
inquérito e proceda às investigações e sua incúria eventual acarretará
nas responsabilizações devidas; mas, de qualquer forma, será compe-
tência da autoridade policial a determinação da instauração do inqué-
rito, mediante sua Portaria. Note-se que, como é usual, tem-se o ter-
Técnica estrutural da sentença criminal 313
Página Nº 7
RECEBIMENTO
Aos 27 dias do mês de maio do ano de mil
novecentos noventa e nove foram-me entregues
estes autos. Do que, para constar, lavro este
termo. Eu, Escrivão o subscrevi.
João Pedro Lisboa
Escrivão de Polícia
CERTIFICO
CERTIFICO que nesta data dei inteiro
e fiel cumprimento ao despacho retro
da Autoridade policial. Dou fé.
Poloni, SP, em 27.05.99.
Escrivão de Polícia
JUNTADA
Aos 28 dias do mês de maio
Do ano de mil novecentos e noventa e
nove faço juntada aos presentes autos dos
docs. fls. 3 “usque” e 12 que adiante se vê.
Do que para constar, lavrei este termo.
Eu, Escrivão de Polícia que digitei
e o subscrevi
Escrivão de Polícia
Técnica estrutural da sentença criminal 315
Página Nº 8
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
TERMO DE DECLARAÇÃO
Aos vinte oito dias do mês de maio
do ano de
mil novecentos e noventa e nove nesta
cidade de Poloni
na Delegacia de Polícia de
Poloni
onde se achava presente o doutor Delegado de Polícia Francisco
de Oliveira
comigo, Escrivão de seu cargo, ao final assinado, aí compareceu –
OSMAR LÚCIO DOS ANJOS
R. G. Nº 746.354.987-0 filho de
José dos Anjos e
Maria Aparecida dos Anjos de nacionalidade
brasileira
Natural de Tambacuí – MG.
Com 49 anos de idade
Estado civil casado de profissão Retireiro
com endereço profissional – Fazenda Volta Grande – Poloni –
proprietário Keiji Sataki residente no mesmo e com
telefones o qual, perguntado, disse saber
ler e escrever, passando a prestar a seguinte declaração: – que traba-
lha no endereço há mais ou menos 18 anos e no dia 25.5.99, o decla-
rante se encontrava nesta cidade de Poloni vendendo queijo e só
retornou para casa por volta das 20:00 horas mais ou menos, quando
foi surpreendido pela notícia de sua esposa de que naquele dia por
volta das 15:30 horas mais ou menos, o elemento conhecido por
Marcos Lara, ex-camarada do senhor Florindo, chegou em sua casa
dizendo que queria comprar uma galinha e assim que se aproximou
de sua esposa, o mesmo sacou de um revólver e apontou-o para a
esposa do declarante,
316 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 9
determinando que seguisse para o banheiro, nisso ela pediu ao mes-
mo que deixasse daquilo, pois o declarante era amigo de todo mundo
por que fazer isso, tendo o mesmo determinado que sua esposa fe-
chasse a boca, deixasse de conversa e assim levou-a para o banheiro e
lá deixou-a trancada e permaneceu ali até que os dois filhos do decla-
rante chegaram e quando foram entrar no interior da casa, também
foram abordados por Marcos o qual levou-os também para o banhei-
ro; que, seus filhos vinham da Primavera onde o mais velho de 18
anos tinha ido levar o mais novo de seis anos para ser vacinado; que,
após ter trancado todo mundo dentro do banheiro, o marginal passou
a revirar tudo dentro da casa e carregar as coisas que o mesmo inte-
ressava no carro do declarante de marca Brasília; que, esclarece me-
lhor, que antes de começar a carregar seus pertences para o veículo,
Marcos Lara disse que ia fazer alguma coisa para comer e começou a
fritar ovos e quando estava fazendo a bóia para comer ainda chegou a
oferecer para as vítimas que estavam no banheiro; que, antes disso,
primeiro amarrou todos os três e deixou-os todos de pé dentro do
banheiro; que, logo em seguida chegou o senhor Leandro de Souza
que estava trabalhando para o declarante e no momento em que o
mesmo, estava tirando a bota para entrar dentro da casa, foi abordado
por Marcos que aguardava-o por trás da porta e nessa vítima o margi-
nal usou um revólver e uma garrucha, sendo que após ter dominado o
senhor Leandro, amarrou-o e juntou com as demais vítimas colocan-
do-as em cima da cama, e em seguida o marginal cobriu as mesmas
com um cobertor e passou, em seguida, carregar a Brasília com os
pertences do declarante, como por exemplo TV, aparelho de som, rou-
pas boas, até lotar o veículos e no momento foi até onde as vítimas se
encontravam deitadas e desamarrou o senhor Leandro e o filho mais
velho do declarante e na mira de suas armas levou-os até o carro obri-
gando-os a empurrá-lo para fazer pegar, mas como havia muito barro,
não conseguiram fazer o veículo funcionar, então o marginal disse
que ia colocar fogo no carro, foi quando seu filho e o senhor Leandro
pediu pelo amor de Deus que não fizesse isso, foi quando o mesmo
ainda fez uma tentativa de arrastar o carro com os animais do decla-
rante mas não conseguiu, só daí que o marginal Marcos desistiu de
levar o seu veículo carregado com seus pertences; que, depois da de-
sistência, Marcos retornou com as duas vítimas novamente para o
Técnica estrutural da sentença criminal 317
Página Nº 10
interior da casa na mira de suas armas e ameaçou-as dizendo: não vou
levar nada, só vou sair com o cavalo que depois vocês vão encontrar
por aí mas se vocês levar esse caso à polícia, eu volto aqui e acabo
com vocês todos na bala; que, dito isso o mesmo saiu com seu cavalo
castanho, de bom tamanho, de 12 anos mais ou menos de idade, e
com uma sela completa, furtando de dentro da casa, uma nota de
“cinqüenta” dólares, um relógio digital, de pulso, uma certa quantia
em dinheiro que estava na carteira de seu filho Carlos dos Anjos; que,
no momento da saída, Marcos ameaçou muito sua esposa Clara exi-
gindo da mesma dinheiro e arma de fogo: que, Marcos Lara já conhe-
cia bem ali, pois o mesmo trabalhou para o senhor Florindo que tem
propriedade vizinha daquela Fazenda e por várias vezes o mesmo es-
teve pescando nos fundos da casa do declarante; que, sua esposa já
conhecia Marcos Lara, só a vítima senhor Leandro que nunca tinha
visto o mesmo: Nada mais – digo; que, naquele dia não pode vir para
esta DP registrar a ocorrência porque a estrada é muito ruim e não
teve condições, somente no dia de ontem por volta das 10:00 horas
que mandou seu filho avisar a polícia, mas o mesmo não soube dar a
informação correta o verdadeiro marginal; que, no dia de hoje, logo
de manhã resolveu comparecer nesta DP acompanhado de sua esposa
e o senhor Leandro para relatar o fato com mais detalhes e assim que
falou que o marginal, segundo informação, mora sozinho nesta cida-
de, pois veio corrido de São Paulo, o senhor Delegado já disse que
sabia quem era Marcos Lara, pois o mesmo já reponde inquérito poli-
cial por violência com arma de fogo, contra a sua amásia. Nada mais
disse nem lhe foi perguntado. Lido, achado conforme vai devidamen-
te assinado. Eu escrivão que o datilografei e o subscrevi.
Página Nº 11
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
TERMO DE DECLARAÇÃO
Aos vinte oito dias do mês de
maio do ano de
mil novecentos e noventa e nove nesta
cidade de Poloni
na Delegacia de Polícia
local
onde se achava presente o doutor Delegado de Polícia Fran-
cisco de Oliveira
comigo, Escrivão de seu cargo, ao final assinado, aí compareceu –
CLARA DOS ANJOS
R.G. Nº filho de Serafim
Seco e de Maria Rosa Seco de
nacionalidade brasileira Natural de Ouro Verde – MG.
Com 39 anos de idade Estado civil casada
de profissão Do lar com endereço
profissional
residente – Fazenda Volta Grande Água da Volta Grande – Municí-
pio de Poloni – SP
e com telefones Não possui
o qual, perguntado, disse saber ler e escrever, passando a prestar a
seguinte declaração: que a declarante e sua família residem e traba-
lham na Fazenda Volta Grande neste Município de Poloni – SP, que
tal fazenda pertence ao senhor Keiji Sataki, residente em Poloni, SP,
que na tarde do dia 25 p. passado, por volta das 16:00horas, a decla-
rante se encontrava sozinha na casa onde mora, na referida fazenda,
ocasião que compareceu à mesma, o rapaz conhecido por
“Marquinho”, que depois a declarante soube tratar-se de Marcos Lara,
que a declarante já conhecia, havia visto que ele já tinha trabalhado
ali nas imediações, cujo rapaz manifestou inicialmente vontade de
adquirir frangos, para posteriormente sacar de uma arma, ao que pa-
rece um revólver calibre 22 pois era pequeno e apontá-lo para a
Técnica estrutural da sentença criminal 319
Página Nº 12
declarante; que, muito assustada a declarante disse Marcos, que dei-
xasse daquilo alegando que seu marido o conhecia, no entanto não foi
atendida; que, Marcos nestas alturas do fato, perguntou se tinha mais
alguém em casa, respondendo negativamente, Marcos encostou o cano
do revólver nas costas da declarante e a ordenou que caminhasse para
o interior da casa; que, estando dentro da casa, Marcos ordenou a
declarante que adentrasse ao banheiro, o que fora feito; que, a decla-
rante seguindo orientação de Marcos ficou quieta dentro do banheiro;
que, então Marcos ficou cerca de uma hora dentro da casa,
perambulando de um lado para outro; que pelo barulho a declarante
pode perceber que ele vasculhava por tudo na casa; que, por volta das
17:00 horas, ainda do mesmo dia, os filhos da declarante, de nome,
Carlos dos Anjos e Ricardo dos Anjos retornavam do Distrito da
Primavera, onde tinham ido e passaram a chamar pela declarante; que
como Marcos tinha lhe ordenado para que não respondesse, ficou
calada; que, Marcos abordou seus dois filhos, inclusive, Carlos as-
sustado disse “opa”, para em seguida serem também por Marcos en-
caminhados até o banheiro; que, não demorou nada e chegou tam-
bém à casa da declarante, o diarista Leandro, ocasião que também foi
rendido e posto dentro do banheiro; que, na seqüência Marcos orde-
nou que saísse do banheiro um de cada vez e foi amarrando sobre a
cama do quarto, as mãos e os pés de um a um; que, feito isto, Marcos
apanhou um cobertor e cobriu a todos; que de dentro do quarto, a
declarante percebeu que Marcos retirava objetos do interior da casa;
que, ouviu barulhos do veículo Brasília que estava na garagem, que
Marcos tentava ligar; que, não conseguindo funcionar o veículo,
Marcos veio novamente até o quarto, onde liberou Leandro para que
empurrasse o veículo; que, a declarante percebeu também que o veí-
culo mesmo empurrado não funcionou; que pelos barulhos notou a
declarante que Marcos colocou com a ajuda de Leandro um cavalo
para puxar o veículo, não tendo também conseguido êxito referente
ao funcionamento do veículo; que, novamente Marcos veio até o
quarto e desta feita, soltou Carlos para que desse uma “mão” a ele,
empurrando o veículo; que não fizesse gracinhas, pois poderia ficar
deitado ali mesmo; que, mesmo com a ajuda de Carlos, o veículo não
funcionou; que, após muitos esforços, como não conseguiu fazer o
veículo funcionar, Marcos resolveu soltar a declarante e seu outro
filho de nome Ricardo; que, ainda dentro da casa, Marcos disse à
320 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 13
declarante e seus filhos, que iria desistir do crime, ato continuo colo-
cou alguma coisa sobre a mesa; que, as coisas que estavam no interior
do carro foram deixadas lá mesmo por Marcos; que, Marcos deixou a
casa da declarante à cavalo, tendo levado consigo o próprio cavalo,
um relógio de pulso de Oliveira e 50 (cinqüenta dólares); que, em
momento algum Marcos desfez-se do revólver, tendo, inclusive, em
algum momento estado de posse do revólver já mencionado e de uma
garrucha, sempre com os mesmos em punho; que, ao sair Marcos
disse a todos, que não era para dar queixa a Polícia, caso dessem, ele
voltaria lá e as coisas seriam bem piores; que, a declarante não tem
dúvida que o autor do assalto fora Marcos, pois como já disse, o co-
nhecia e também o reconheceu pela foto de sua cédula de identidade,
que sem encontra nesta Delegacia; que, a declarante esclarece mo-
mentaneamente que soube que o cavalo fora encontrado na proprie-
dade de Marcos; que, quanto aos cinqüenta dólares, fora encontrado
na carteira dele. Nada mais havendo mandou autoridade policial, que
se encerrasse o presente, que lido e achado conforme, vai devida-
mente assinado. Eu escrivão que datilografei e subscrevi.
AUT. POLICIAL:
ESCRIVÃO
DECLARANTE:
Técnica estrutural da sentença criminal 321
Página Nº 14
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
TERMO DE DECLARAÇÃO
Aos vinte oito dias do mês de maio
do ano de mil novecentos e noventa e nove nesta cidade de Poloni –
SP na Delegacia de Polícia local onde se achava presente o doutor
Delegado de Polícia Francisco de Oliveira
comigo, Escrivão de seu cargo, ao final assinado, aí compareceu –
CARLOS DOS ANJOS R.G.Nº 835.724.174-8 PR filho
de Osmar Lúcio dos Anjos e de Clara dos Anjos de nacionalidade
brasileira
Natural de Poloni, SP
Com 18 anos de idade
Estado civil Solteiro de profissão Tratorista
com endereço profissional
residente – Fazenda Volta Grande Água da Volta Grande – Município
de Poloni
e com telefones Não possui
o qual, perguntado, disse saber ler e escrever, passando a prestar a
seguinte declaração: é filho do casal Anjos; que residem na Fazenda
Volta Grande, no Município de Poloni, SP; que, na tarde do dia 25
próximo passado, o pai do declarante estava ausente de casa, o mes-
mo ocorrendo com o declarante e seu irmão Ricardo dos Anjos de
cinco anos de idade; que, o declarante e tinham ido ao Distrito de
Primavera, onde transcorria a vacinação, naquele dia; que, por volta
das 17:00 horas, o declarante e seu irmão retornaram para casa, oca-
sião que notaram que tudo estava muito silencioso; que, de fora da
casa, chamaram pela mãe, não sendo atendidos, resolveram adentrar
ao interior da casa, quando foram abordados por um rapaz alto, de cor
branca, de corpo médio, com vinte anos mais ou menos o qual de posse
duma garrucha e de um revólver, ambos em punho, ordenou ao decla-
rante e a seu irmão que adentrassem ao banheiro, o que fora feito; que,
demorou um pouco e já fora trazido também para o interior do banheiro,
o seu Leandro, que trabalhava na Fazenda; que, de dentro do banheiro, o
322 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 15
declarante percebia que o tal rapaz procurava por objetos e, inclusive,
os selecionava; que, na seqüência, Marcos passou a retirar um por um
do banheiro e levá-los para o quarto, onde os amarrou sobre a cama;
que, amarrados, Marcos os cobriu com uma coberta e saiu; que, pelo
barulho, o declarante percebeu que Marcos levava algo para fora; que,
ainda no quarto, o declarante ouviu que Marcos tentava fazer o veículo
Brasília funcionar, o que momentaneamente não conseguiu; que, dado
ao insucesso, Marcos veio até o quarto e soltou Leandro para que o
ajudasse, o que fora feito, contudo, mesmo assim o veículo não funcio-
nou; que, fora utilizado um cavalo para puxar o veículo para funcioná-
lo, sem sucesso também; que, naquele momento Marcos veio outra vez
ao quarto e desta feita soltou o declarante, com recomendação de se
fizesse gracinha ele o “apagaria”; que, o declarante ajudou a empurrar
o veículo e mesmo empurrado não funcionou; que, na seqüência foi
solto a mãe e o irmãozinho do declarante; que, nestas alturas do aconte-
cimento, Marcos se dizendo arrependido, passou a devolver alguns
objetos por ele pego, colocando-os sobre a mesa da sala; que, durante o
tempo todo que Marcos permaneceu na casa do declarante, que foi
mais ou menos umas quatro horas, sempre estava ele de arma em pu-
nho; que, Marcos estava bastante tranqüilo, tendo até cozinhado ovos e
comido; que, Marcos deixou a casa do declarante, na posse de um ca-
valo, um relógio Seiko do declarante e ainda na posse de cinqüenta
dólares; que, esclarece o declarante que a princípio não sabia o nome
do desconhecido, entretanto, dentro do banheiro, soube através da mãe,
que se tratava de um tal “Marquinho”, que ela já conhecia, sendo o
nome do mesmo Marcos; que, Marcos ao deixar o local do crime amea-
çou a todos, dizendo que se o delatassem à polícia, as coisas poderiam
ficar pior; que, nesta DP, o declarante visualizando a fotografia da cé-
dula de identidade de Marcos Lara, o reconheceu, como sendo o mes-
mo elemento que praticou o crime na Fazenda Volta Grande e conse-
qüentemente em sua casa; que, tem conhecimento o declarante, que
parte da res furtiva já apreendida na casa do criminoso Marcos. Nada
mais havendo, mandou a autoridade policial que se encerrasse o pre-
sente, que lido e achado conforme, vai devidamente assinado, Eu escri-
vão que datilografei e subscrevi.
Página Nº 16
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Página Nº 17
É arrimo de família? Não Data em que começou a trabalhar? 10
anos Religião? Católica
Tem vícios? Não Sabe ler e escrever? Sim
Grau de escolaridade? 4ª série 1º grau Já foi indiciado? Sim
Crime? Ameaça
Já foi Processado? Não Comarca? Prejudicado
Estado de ânimo antes e depois do crime? Antes Prej.; Depois
calmo.
Página Nº 18
pulso, respectivamente da marca Cásio e Citizem e ainda uma nota
em espécie de 50 (cinqüenta) dólares; que, como não conseguiu com
que o veículo Brasília funcionasse, tendo, inclusive, feito várias ten-
tativas, dentre as quais, libertado o senhor de idade e o filho do seu
Osmar para que ambos o ajudassem a empurrar o veículo, bem como
ainda colocado um cavalo para que puxasse o veículo, desistiu de
conduzir o mesmo, tendo deixado alguns objetos que estavam no veí-
culo nele mesmo; que, quer esclarecer que a garrucha que usou junta-
mente com o revólver de sua propriedade na coação às vítimas, pe-
gou-a no interior da casa da própria vítima, sendo que quando de sua
saída deixou-a no interior da casa; que, é verdade que chegou a cozi-
nhar alguns ovos para comer, contudo alega não tê-los comido; que,
nega que tenha ameaçado, no dia do fato, alguém de morte; que, alega
ainda o interrogado que somente praticara tal crime, face estar
atualmente em sérias dificuldades financeiras, mas alega que em
momento algum pensou em ferir pessoas; que, esclarece também que
nem tinha acabado de cometer todo o crime e já estava com remorso,
tanto é verdade, que na hora do crime mesmo, passou a devolver às
vítimas vários objetos que das mesmas tinha pego; que, alega tam-
bém o interrogado que o cavalo que levou fora usado no transporte e
que posteriormente pretendia devolvê-lo; que, quanto aos relógios e
nota de 50 (cinqüenta) dólares trouxe-os consigo por esquecimento e
tal qual o cavalo, também oportunamente pretendia devolver; que,
está superarrependido de ter cometido tal crime; que, já fora indiciado
antes por ameaça; que, quanto ao revólver, esclarece que o adquiriu
há pouco, duma pessoa que não conhece. Nada mais disse, nem lhe
foi perguntado, mandou a autoridade policial, que encerrasse o pre-
sente, que lido e achado conforme, vai devidamente assinado. Eu,
escrivão que datilografei e subscrevi.
ESCRIVÃO
326 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 19
VÁLIDO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL
REGISTRO
REGISTRO 8.987.654-0 - -SP
8.987.654-0 SP DATA
DATADEDE 25
25//ABRIL
ABRIL // 91
91
GERAL
GERAL EXPEDIÇÃO
EXPEDIÇÃO
ASSINATURA
LEI DO DIRETOR
Nº 7 . 116 DE 29 / 08 / 83
Marco Lara
Marco Lara
ASSINATURA DO TITULAR
CARTEIRA DE IDENTIDADE
Técnica estrutural da sentença criminal 327
Página Nº 20
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
delegado..........................................
II – QUANTO AO PROCESSO
ARQUIVAMENTO – os autos do processo ou inquérito foram ar-
quivados em............../............../.............
pelo seguinte motivo:.........................AÇÃO PENAL – Iniciada
em............/............../..............por infração
prevista no artigo
...........................................................................PRONÚNCIA – foi
pronunciado, em data de .............../...................../.....................como
incurso nas penas do art. ...................................
328 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 21
Página N° 22
pelo............................................................................
O RÉU ESTÁ FORAGIDO?..............................
OBSERVAÇÕES:................................................................................
..................................................................................................................
..............................................................................................................
...............................................................................................
Data...................................................................................................
.......................................
Escrivão:.......................................................................................
...................................
Esta parte será anexada aos autos do processo por ocasião de
sua remessa ao Juízo Criminal, onde deverá ser preenchida a sua
parte final, e depois de passar em julgado a decisão definitiva, será
destacada e remetida; No Distrito Federal ao Serviço de Estatística,
Demográfico, Moral e Político do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores; Nos Estados e nos Territórios aos respectivos órgãos cen-
trais de estatística.
330 Ismair Roberto Poloni
Comentários às Páginas Nº 7 a 22
Página Nº 7
São apenas certidões dando conta do cumprimento das determi-
nações exaradas pelo delegado de polícia.
Página Nº 8 a 15
São as declarações das vítimas Osmar, Clara e Carlos as quais,
para o relatório, não terão qualquer influência; mas será diferente
para a instrução criminal, no sentido de saber o juiz, antes de cada
depoimento, o que disse a testemunha ou o informante, na polícia.
Não se trata de mera postura investigatória. Muito mais do que isso,
reflete a possibilidade de o juiz observar quanto a possível falta de
veracidade no depoimento ou, ainda, de rememorar a testemunha so-
bre os fatos. E isto porque, como os depoimentos policiais quase sem-
pre são tomados em data bem próxima à dos fatos, maior será a possi-
bilidade de a testemunha retratá-los fielmente.
Página N° 16 a 19
A qualificação, vida pregressa e o interrogatório interessam,
inicialmente, ao Ministério Público, para a sua denúncia. Mas o inter-
rogatório do acusado, em especial, tem dois momentos de importân-
cia. O primeiro, para ser verificado e cotejado por ocasião do interro-
gatório judicial e dos depoimento que se seguirem. Afinal, o interro-
gatório também é uma peça de defesa, seja ele policial ou judicial. O
segundo, na fundamentação, para ser analisado em cotejo com as de-
mais provas. Por vezes o acusado confessa na polícia e nega em juízo.
Mas se houver nos autos outras provas que possam dar sustentação
àquela confissão policial, poderá – e deverá – o juiz aproveitá-la. No
mesmo sentido deve ocorrer se houver a negativa na fase policial.
Veja-se, a título de constatação que, às fls. 18, disse o acusado que
“somente praticara tal crime face estar atualmente em sérias dificul-
dades financeiras”, enquanto que, em juízo, irá dizer sobre a existên-
cia de um terceiro, alcunhado de “Mané”. E aí então essa afirmativa,
em juízo, sobre a existência dessa terceiras pessoa, restará isolada
nos autos, não obrigando ao juiz abrir vista ao Ministério Público,
para emenda da denúncia.
Técnica estrutural da sentença criminal 331
Página Nº 20 a 22
A Carteira de Identidade do acusado apenas permite a confir-
mação de sua qualificação, isentando-o com a sua apresentação, de
sua identificação datiloscópica pois já está identificado, como todos
que possuem uma carteira de identidade.
A ficha acostada às fls.20/22 tem sua utilização somente ao final
da ação, com qual resultado for, para fins de formação de banco de
dados e de estatística.
332 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 23
AUTO DE APREENSÃO
Página Nº 24
AUT. POLICIAL:
TESTEMUNHA:
TESTEMUNHA:
ESCRIVÃO :
334 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 25
ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL
AUTO DE ENTREGA
Página Nº 26
AUTORIDADE POLICIAL
RECEBEDOR
TESTEMUNHA DE LEITURA
TESTEMUNHA DE LEITURA
ESCRIVÃO
336 Ismair Roberto Poloni
Comentários às Páginas Nº 23 a 26
Determinado pelo art. 6º, Nº II, do CPP, que “Logo que tiver
conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial de-
verá: II – apreender os instrumentos e os objetos que tiverem relação
com o fato;”. Por isso o auto de apreensão, que objetiva inicialmente,
para a autoridade policial, melhor constatar sobre os fatos e suas cir-
cunstâncias e, ao depois, para o promotor de justiça e para o juiz.
Assim, v. g., se a arma usada pelo acusado em questão era um objeto
de tal forma imprestável, condição visível a olho nu por qualquer
uma das vítimas, que não poderia de forma alguma causar uma ameaça
àquelas, estando a mesma de posse do delegado, do promotor de jus-
tiça e do juiz, melhores elementos terão para o desfecho da ação.
Assim, todo e qualquer objeto que tiver relação com o fato criminoso
e que puder ser apreendido, deverá sê-lo, para melhor
instrumentalização do caso, quer na fase policial, quer na judicial.
Sem embargo do posicionamento de Marcus Cláudio Acquaviva (In-
quérito Policial, Editora Cone, 1992, p.30, analisando sobre a apre-
ensão, à luz do art. 91, CF, que diz que “Ao contrário do que se pode-
ria pensar, nem todos os instrumentos da prática do crime podem ser
apreendidos; apenas aqueles cuja confecção, venda, uso porte ou de-
tenção constituam fatos ilícitos”, somos de posição contrária. E isto
porque, a orientação de Damásio Evangelista de Jesus (Código Penal
Anotado, São Paulo, Saraiva, 1989, p. 216) para o qual “...não pode
ser confiscado o automóvel com o qual o sujeito pratica um crime
automobilístico, pois não constitui fato ilícito o seu fabrico, aliena-
ção ou uso”, invocada por Marcus Claudio, reflete não a apreensão
para a instrução do caso mas sim, o confisco, como efeito da conde-
nação. Não fosse assim, no inquérito ou no processo de um crime
praticado com um revólver calibre 38, cujo autor possui registro e
porte, não seria possível ter-se em mãos, o delegado de polícia, o
promotor de justiça, o juiz e os peritos, a arma. Por isso, todo e qual-
quer objeto que tiver relação com o delito e que for passível de ser
apreendido, deverá ser imediatamente apreendido pela autoridade
policial. Se, ao final, houver condenação, deverá o juiz declarar a sua
perda em favor da União, desde que consistam em coisa cujo fabrico,
alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (art. 91, CF)
Técnica estrutural da sentença criminal 337
Página Nº 27
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
TERMO DE DECLARAÇÃO
Aos vinte oito dias do mês de maio
do ano de
mil novecentos e noventa e nove nesta
cidade de Poloni
na Delegacia de Polícia
local onde se achava presente o doutor Delegado de Polícia
Francisco de Oliveira comigo, Escrivão de
seu cargo, ao final assinado, aí compareceu – LEANDRO DE SOU-
ZA
R.G.Nº Não Possui filho de Elvis Nunes
de Souza e de
Sandra Maria de Souza de nacionalidade
brasileira
Natural de Cambará, PR
Com 59 anos de idade
Estado civil Separado de fato de profissão
Lavrador
com endereço profissional – Fazenda Volta Grande Água da Volta
Grande – Município de Poloni, residente R. Getúlio Veiga, nº 346,
Atibaia, SP e com telefones Não possui o qual, perguntado, disse
saber ler e escrever, passando a prestar a seguinte declaração: que, o
declarante conhece o senhor Osmar e família e de vez em quando faz
alguns serviços para ele; que, há cerca de uma semana foi contratado,
pelo senhor Osmar para quebrar milho para ele; que, na tarde de sába-
do último, por volta da 17:00 horas, o declarante deixou o serviço e
veio para a casa do senhor Osmar, onde tão logo chegou à área da
casa e sentou, já foi rendido por um rapaz desconhecido, de cor bran-
ca, sem barba e bigode, estatura média para alta, corpo médio, o qual
armado de revólver e garrucha, disse para o declarante que era um
assalto e que deveria ir para o interior, tendo o declarante lhe obede-
cido; que, no interior do banheiro, o declarante deparou com dona
Clara, esposa do senhor Osmar e com dois filhos dela, que já estavam
ali, sendo que também foram conduzidos ali pelo tal desconhecido;
Técnica estrutural da sentença criminal 339
Página N° 28
que, o declarante de dentro do banheiro ouvia barulhos como que de
pessoa saindo e retornando ao interior da casa; que, ouviu também
barulhos da porta do veículo Brasília, como que batendo; que, em
seguida o declarante foi tirado do banheiro e assim como os outros,
levado para o quarto, onde todos foram amarrados, ficando deitados
de barriga para baixo sobre a cama; que, o tal desconhecido colocou
um cobertor sobre o declarante e os outros; que, o declarante ao pas-
sar pela sala, quando deu encaminhamento para o quarto, pode cons-
tatar que a sala estava toda revirada; que, crê o declarante que ficou
cerca de uma hora amarrado, para em seguida ser libertado para em-
purrar ao veículo Brasília; que, estando próximo do veículo Brasília,
o declarante percebeu que o mesmo estava lotado de objetos de se-
nhor Osmar; que, percebeu também que no veículo Brasília continha
uma bolsa sua; que, o declarante seguindo ordens do desconhecido
empurrou o veículo que não funcionou; que, o declarante esclarece
que também fora ordenado para que mexesse no motor, ocasião em
que, astutamente, retirou uma peça, tendo também puxado um cabo;
que, seguindo ordens do desconhecido atrelou um cavalo, ligando-o
com corrente ao veículo e, mesmo puxado pelo cavalo tal veículo não
funcionou; que, referido desconhecido na tentativa de fazer o veículo
funcionar, veio a liberar um filho de Osmar, que estava no quarto por
nome Carlos dos Anjos e, mesmo com ajuda daquele, o veículo não
funcionou; que, nisto já era em torno de 19:30 horas, quando o tal
desconhecido resolveu soltar dona Clara e um outro filho menor, que
estava amarrado; que, feito isto, o desconhecido como que arrependi-
do, tirou uma blusa que vestia e fazendo uso do cavalo já arreado,
saiu vindo no sentido de Poloni; que, uma garrucha que usou o desco-
nhecido era de Osmar e quando da ida do desconhecido, ele a deixou
na casa; que, ao sair da casa, tal desconhecido disse a todos, que não
era para contar para ninguém, muito menos para a polícia, pois se
contassem as coisas ficariam feias; que, o declarante vendo Marcos
Lara por fotografia e pessoalmente nesta DP, esclarece que o reco-
nhece sem sombra de dúvida, como sendo a mesma pessoa que assal-
tou a residência do senhor Osmar. Nada mais havendo, mandou a
autoridade policial, que se encerrasse o presente, que lido e achado
conforme, vai devidamente assinado. Eu, escrivão que datilografei e
subscrevi. EM TEMPO: que, o declarante soube que Marcos deixou
340 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 29
a casa do senhor Osmar, levando relógio, o cavalo e 50 (cinqüenta)
dólares. Nada mais havendo, mandou a autoridade policial que se
encerrasse o presente, que lido e achado conforme, vai devidamente
assinado. Eu, escrivão que datilografei e subscrevi.
AUTORIDADE POLICIAL:
DECLARANTE:
ESCRIVÃO:
Técnica estrutural da sentença criminal 341
Página N° 30
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
CONCLUSÃO
Aos 05 dias do mês de junho do
ano de mil novecentos noventa e nove faço
estes autos conclusos ao Dr. Delegado.
Do que para constar, lavro este termo. Eu, escrivão o
subscrevi.
Escrivão de Polícia
DESPACHO
Senhor Escrivão:
RECEBIMENTO
Aos 05 dias do mês de junho do ano de mil
novecentos noventa e nove foram-me entregue estes
autos.
Do que, para constar, lavro este termo. Eu, Escrivão
o subscrevi.
Escrivão de Policia
342 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 31
CERTIDÃO
CERTIFICO que nesta data dei inteiro
e fiel cumprimento a o despacho retro
da Autoridade policial. Dou fé.
Poloni, SP, em 05/06/99 .
Escrivão de Polícia
JUNTADA
Aos 05 dias do mês de junho do
ano de mil novecentos e noventa e nove faço
juntada aos presentes autos dos docs. fls. 32 e 33
que adiante se vê. Do que para constar, lavro
este termo. Eu, Escrivão de Polícia que o subscrevi
Escrivão de Polícia
Técnica estrutural da sentença criminal 343
Página Nº 32
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
AUTORIDADE POLICIAL:
1º COMPROMISSADO:
2º COMPROMISSADO:
ESCRIVÃO:
344 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 33
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
AUTORIDADE POLICIAL:
1º PERITO:
2º PERITO :
ESCRIVÃO:
Técnica estrutural da sentença criminal 345
Página Nº 34
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
CONCLUSÃO
Aos 18 dias do mês de junho
do ano de mil novecentos noventa e nove faço estes
autos conclusos ao Dr. Delegado. Do que para constar,
lavro este termo. Eu, escrivão o subscrevi.
Escrivão de Polícia
DESPACHO
Senhor Escrivão:
RECEBIMENTO
Aos 18 dias do mês de junho do
ano de mil novecentos noventa e nove foram-me
entregues estes autos. Do que, para constar, lavrei
este termo. Eu, Escrivão o subscrevi.
Escrivão de Policia
346 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 35
CERTIFICO
CERTIFICO que nesta data dei inteiro
e fiel cumprimento a o despacho retro
da Autoridade policial. Dou fé.
Poloni, PR, em 18.6.99 .
Escrivão de Polícia
JUNTADA
Aos 18 dias do mês de junho do
ano de mil novecentos e noventa e nove faço
juntada aos presentes autos do Relatório nº 99/99
que adiante se vê. Do que para constar, lavro
este termo. Eu, Escrivão de Polícia que o subscrevi
Escrivão de Polícia
Técnica estrutural da sentença criminal 347
Página Nº 36
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
RELATÓRIO Nº 99/99
Doutor Magistrado
Página Nº 37
Comentários às Páginas Nº 27 a 37
Páginas Nº 27 a 29
As declarações de Leandro também não produzem qualquer
efeito para a sentença. Sua importância, como já foi dito sobre as
demais declarações, reside no fato de servir de instrumento para a
instrução criminal.
Páginas Nº 30 a 33
O despacho do delegado de polícia, determinando a realização
da verificação do estado da arma usada pelo acusado foi providência
desnecessária. E isso porque, a violência não necessita ser real, com
uma arma municiada e pronta para o uso. Bastaria uma arma de brin-
quedo, ou mesmo uma arma verdadeira danificada interiormente, mas
que fosse capaz de provocar uma violência psicológica sobre a víti-
ma, temendo poder ser ferida ou morta com a arma.
Páginas 34 e 35
Despacho determinando a juntada do relatório e certidões quan-
to ao seu cumprimento. Desnecessário em face de sua insignificân-
cia, por ser mero impulso oficial, como o despacho que determinou a
perícia na arma.
Páginas Nº 36 a 37
De todas as peças dessas páginas, merece realce o relatório do
delegado de polícia. Essa providência é determinada pelo art. 10, § 1º,
do CPP, e objetiva obrigar a autoridade policial a demonstrar real co-
nhecimento sobre os fatos, tal qual é o relatório para o juiz, na senten-
ça. Além disso, também é o meio de propiciar ao juiz e ao promotor de
justiça, uma análise sobre os fatos, suas circunstâncias e provas, a fim
de ou ser oferecida a denúncia, se a ação for pública, ou de se baixar os
autos de inquérito para diligências. É claro que o juiz ou o promotor de
justiça, têm obrigação de ler o conteúdo do inquérito, independente-
mente de existir ou não o relatório. Mas o delegado de polícia é uma
autoridade e, em princípio, não é crível que não use da verdade em seu
relatório. Por isso, lido o relatório e concluído que as investigações
foram esgotadas, o promotor de justiça então, para a edificação da de-
núncia, fará uma atenta leitura de todas as peças do inquérito. De qual-
quer forma, para a sentença não haverá qualquer aproveitamento.
350 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 38
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
REMESSA
Aos 18 dias do mês de junho do
ano de mil e novecentos e noventa e nove faço
remessa dos presentes autos ao Cartório Distribuidor
da Comarca. Do que para constar lavro este termo.
Eu escrivão o subscrevi.
Escrivão de Polícia
Poloni, 19/06/99.
João Caniza
DISTRIBUIDOR
Técnica estrutural da sentença criminal 351
Página Nº 39
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE Poloni – SP
CERTIDÃO =
Comentário às Páginas Nº 38 e 39
Página Nº 38
São certidões de envio da delegacia para o cartório distribui-
dor, que faz as primeiras anotações sobre o inquérito, distribuindo a
uma das varas, onde não for juízo único. O distribuidor aqui faz um
primeiro registro dos autos, que ainda é mero inquérito. Como no
caso em questão houve uma denúncia, haverá mais adiante uma se-
gunda distribuição. Isso com o objetivo de se formar um banco de
dados sobre o acusado, para instruir outras ações ou, apreciação de
benefícios como a suspensão da ação, o sursis e o livramento condicio-
nal. Mas para a sentença nenhum efeito terá.
Página Nº 39
A certidão dos antecedentes criminais do acusado, na vara em
que o inquérito tramita, é vital em caso de condenação, para a verifi-
cação de seus antecedentes e da reincidência. Essa primeira certidão
é lançada quando ainda é inquérito com o fim de, entendendo o pro-
motor de justiça que as provas indiciárias são suficientes e de ofere-
cer denúncia, analisará ele, ainda, também pelos antecedentes então
registrados, se irá representar ou não pela prisão preventiva do futuro
acusado. A importância do conteúdo da certidão será revelada, como
dito, por ocasião da fixação da pena, se procedente for a acusação.
Técnica estrutural da sentença criminal 353
Página Nº 40
AUTORIDADE POLICIAL:
1º COMPROMISSADO:
2º COMPROMISSADO:
ESCRIVÃO:
354 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 41
AUTORIDADE POLICIAL:
1º COMPROMISSADO:
2º COMPROMISSADO:
ESCRIVÃO:
Técnica estrutural da sentença criminal 355
Comentário às Páginas Nº 40 a 41
Páginas Nº 40 a 41
Essa peça tem grande importância para a sentença, em caso de
condenação, para se ter estabelecido o valor dos bens subtraídos. Não
para imaginário benefício, como ocorre no parágrafo segundo, do art.
155, visto que esse não é prescrito pelo art. 157. Mas sim para a fixa-
ção da pena, aquilatando-se eventual prejuízo da vítima, parte das
conseqüências do crime e do comportamento da vítima. Esses dois
últimos não são tomados exclusivamente pelo valor dos bens subtraí-
dos ou pelo prejuízo. Outros elementos irão compor tais circunstâncias
e, dentre aqueles, está o valor dos bens subtraídos. Da mesma forma
que irá sopesar, na fixação da eventual pena, a recuperação e entrega
dos bens à vítima. Assim, quer o auto de avaliação, quer a entrega dos
bens à vítima, terão significado especial por ocasião da eventual fixa-
ção da pena. E aqui, repito, temos novamente uma prova produzida
na fase policial mas que, pelas circunstâncias não terá como ser repe-
tida na fase judicial. Decorre daí que o delegado de polícia deve cer-
car-se de todos os meios necessários para a correta confecção dos
laudos e autos e o defensor, em juízo, atacá-los, se assim permitir a
circunstância. Determina o art. 158, CPP, que “Quando a infração
deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, dire-
to ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”, deven-
do ser descrito minuciosamente o que for examinado (art. 160, CPP),
sob pena de vir a ser declarado nulo (art. 564, Nº IV, CPP). Portanto,
a validade da perícia ou exame realizada na fase policial é
inquestionável, necessária e insubstituível, na maioria dos casos. Claro
pois, se inexistem motivos para ser alegada a nulidade do auto ou do
laudo, a utilização do recurso que assim objetive será meramente
protelatória e recairá em prejuízo do próprio acusado, que maior tem-
po permanecerá encarcerado. Principalmente se vier a ser absolvido.
Existe uma diferenciação entre auto e laudo. O primeiro é aplicado
quando se vai produzir materialmente uma prova sem, contudo, so-
frer uma perícia mas um mero exame. Assim ocorre com a apreensão,
constatação, levantamento do local, avaliação, etc. Já o laudo refere-
se exclusivamente à perícia de elementos circundantes do crime, tal
356 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 42
PODER JUDICIÁRIO
RECEBIMENTO
Aos 22 dias do mês de 06 de 1999 recebi
estes autos. Eu. Escrivão.
PATRÍCIA ROCHA Aux. Cartório
CERTIDÃO
Certifico que registrei os presentes autos de
inquérito Policial sob nº 121/ 99, no livro próprio ás fls. 80.
PATRÍCIA ROCHA Aux. de Cartório
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr.
JOSUÉ DAMASCO
Promotor de Justiça
PATRÍCIA ROCHA Aux. de Cartório
VISTA
Aos 22 dias do mês de junho
de 1999 faço vista destes autos ao Dr.
JOSUÉ DAMASCO
Promotor de Justiça
Página Nº 43
Inquérito Policial nº 16/99
MM. JUIZ:
Denúncia em Separado.
JOSUÉ DAMASCO
Promotor de Justiça
Técnica estrutural da sentença criminal 359
Comentário às Páginas Nº 42 a 43
Página Nº 44
DATA
Aos 23 de 06 de 1999 Recebi
estes Autos em Cartório. Dou Fé
CONCLUSÃO
Aos 24 do mês 06 de 1999
Faço conclusos destes autos ao Dr.
Ismair Roberto Poloni, Juiz de Direito
ESCRIVÃO
362 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 45
PODER JUDICIÁRIO
Autos – 121/99 R. A.
Recebo a denúncia.
Página Nº 46
DATA
Aos 25 de 06 de 1999
Recebi estes Autos em Cartório. Dou Fé
ESCRIVÃO
CERTIDÃO
Certifico que autuei a presente após ter registrado
sob nº 121/99 as fls. 123, do livro nº 4-D dou fé.
Poloni, 25 de 06 de 1999.
ESCRIVÃO
CERTIDÃO
Certifico que expedi mandado de prisão contra o réu
encaminhando a DelPol. de Polícia local. Dou fé.
Poloni, 25 de 06 de 1999.
ESCRIVÃO
CERTIDÃO
Certifico que faço juntada do ofício nº 28/99 e
mandado de Prisão. Dou fé.
Poloni, 06 de 08 de 1999.
ESCRIVÃO
364 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 47
DEPARTAMENTO DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Douto Magistrado
Página Nº 48
PODER JUDICIÁRIO
MANDADO DE PRISÃO
Nº 100/99
Ação Penal nº 121/99 Cartório da Vara Criminal
Ação Policial (inquérito – flagrante – processo) nº da Delegacia
Réu: MARCOS LARA (nome –
alcunha)
Motivo: Decreto de Prisão Preventiva (condenado – pena (s) – pronún-
cia – prisão preventiva) art. 311 e seguintes do Código de Processo Penal
Infração Penal: art. 157, § 2º, inciso Nº I, Código Penal (artigo – parágra-
fo – inciso – alínea – diploma legal)
Valor da fiança arbitrada:
O Doutor Ismair Roberto Poloni Juiz de Direito da Vara Criminal
desta Comarca de Poloni Estado de São Paulo
MANDA a qualquer oficial de justiça sob sua jurisdição ou a au-
toridade policial a quem este for apresentado que, em seu cumprimento e
na forma da lei, PRENDA e diligencie a condução e recolhimento à (o)
ergástulo público local (cadeia pública – estabelecimento penal – quartel
– prisão especial) do réu abaixo qualificado, por ter sido decretada a sua
prisão preventiva (condenado – pena (s) – pronunciado) nos autos de
Ação Penal nº 121/99 (ação penal – inquérito policial) da Vara Criminal
de Poloni, Estado de São Paulo (vara criminal – delegacia de policia) da
Comarca de Poloni – SP, por infração do (s) art.(s) 157, § 2º, inciso I, do
Código Penal, com base no artigo 311 e seguintes do Código de Processo
Penal (diploma legal)
Nome MARCOS LARA Alcunha
Nacionalidade brasileira Naturalidade
São Paulo – SP
Filiação Genaro Lara e Maria da Silva
Sexo masculino Idade e data de nascimento 10 / 01 / 75
Estado Civil solteiro Residência R. Andradina, nº 816
Profissão ou meio de vida lavrador
Lugar onde exerce sua atividade Poloni – SP
366 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 49
Grau de instrução
Nº e zona do título eleitoral
Nº e dados da carteira de trabalho
Sinais característicos
Cumpra-se.
Dado e passado nesta cidade e comarca de Poloni, 25 de junho de 1999
Eu, Escrivão o subscrevi.
Paulo Lisboa
escrivão do crime
(assinatura do preso)
Técnica estrutural da sentença criminal 367
Página Nº 50
DECLARAÇÃO: (quando o preso se recusar, não souber ou não
puder escrever)
Declaramos que assistimos, as testemunhas, a entrega,
ao preso de um exemplar do mandado de prisão, / /19
,às horas.
(nome) (endereço)
(nome) (endereço)
CERTIDÃO (3)
Certifico que nesta data, dei fiel cumprimento ao Mandado de pri-
são retro, recolhendo nesta Cadeia Pública, o réu Marcos Lara.
Poloni – SP, 04 de agosto de 1999.
MÁRIO LEITE
Detetive de 4ªclasse
Comentários às Páginas 44 a 50
Página Nº 44
Trata-se de certidões de recebimento e conclusão cuja importân-
cia está apenas em verificar-se o cumprimento ou não dos prazos pro-
cessuais pelo juiz, promotor de justiça e defensor. Sem qualquer refle-
xo na sentença.
Página Nº 45 e 46
Esse é o primeiro despacho (ao dizer-se despacho está implícito
ser do juiz pois, em ação penal, somente o juiz despacha pois é ele o
diretor, o condutor do processo. O Ministério Público e o Defensor
apenas requerem ou se manifestam através de cotas nos autos, ou peti-
ções. Aliás, a denúncia também é uma petição inicial da ação penal
pública (condicionada ou incondicionada) que merece realce, inclusi-
ve para a sentença. No caso em tela, houve a determinação de ser a
denúncia, com os documentos que a instruem – o inquérito e outros
mais –, registrada e autuada como ação penal pública, declarando o seu
recebimento. Esse ato judicial implica na formação de um livre con-
vencimento da existência dos indícios do crime e de sua autoria. Em
razão disso, é a partir dessa data que se tem o reinício da contagem do
prazo para a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. Na verda-
de, o juiz, ao dizer que recebe a denúncia, está, nada mais nada menos
do que declarando que está iniciada a ação penal contra aquele acusado
e, com isso, o estabelecimento de todas as conseqüências que decorre-
rão. Daí ser necessário constar no relatório que
“Foi a denúncia recebida em data de 22.6.99”.
Também é nesse despacho inaugural que o juiz designa a data
para a interrogatório do acusado, determinando a sua citação, para to-
mar conhecimento da existência da ação, seus termos e provas, e
intimação para comparecimento à audiência de interrogatório. Mas para
a sentença será importante a citação do acusado, se real ou ficta (nesse
caso haverá a suspensão do curso do processo, caso não compareça ou
se faça representar por seu defensor – art. 366, CPP) e seu interrogató-
rio, nada havendo, nesse particular, a ser anotado para a sentença.
O decreto de prisão preventiva, por seu turno, é ato que, por sua
própria natureza, exige especial atenção principalmente do juiz, não
apenas por ocasião de sua lavratura, mas durante todo o desenrolar do
Técnica estrutural da sentença criminal 369
Página Nº 48/50
São certidões de tramitação regular do processo e o mandado de
prisão devidamente cumprido, sem qualquer importância para a sen-
tença.
370 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 51
PODER JUDICIÁRIO
CERTIDÃO
Certifico que intimei e citei o réu Marcos Lara,
dos termos da denúncia de fls. 02 e do despacho de fls. 42.
Dou fé.
Poloni, 07 de 08 de 1999.
Paulo Lisboa
ESCRIVÃO
Técnica estrutural da sentença criminal 371
Página Nº 52
PODER JUDICIÁRIO
Estado de São Paulo
Juízo de Direito da Vara Criminal da
Comarca de Poloni – SP
Página N° 53
INTERROGADO se conhece o instrumento com que foi pratica-
da a infração ou qualquer dos objetos com que esta se relacione e tenha
sido apreendida?
RESPONDEU que reconhece a arma apreendida às fls. 26.
INTERROGADO se lhe é verdadeira a imputação que lhe é feita?
RESPONDEU que verdadeira em parte como adiante explica-
ra.
INTERROGADO se, não sendo verdadeira a imputação, tem
algum motivo particular a que atribuí-la?
RESPONDEU que prejudicado.
INTERROGADO se outras pessoas concorrem para a infração,
quais sejam?
RESPONDEU que outra pessoa conhecida por Mané, como
adiante explicara.
INTERROGADO se conhece a pessoa ou as pessoas a quem
deva ser imputada a prática do crime. e quais sejam?
RESPONDEU que prejudicado.
INTERROGADO se com essa pessoa ou essas pessoas esteve
antes da prática da infração ou depois dela?
RESPONDEU que prejudicado.
INTERROGADO se foi preso alguma vez ?
RESPONDEU que está sendo processado neste juízo, nos
autos nº 34/99
INTERROGADO se tem defensor ?
RESPONDEU que sim, na pessoa do Dr. Márcio D’Andréa,
presente neste ato.
INTERROGADO sobre os antecedentes e circunstâncias da
infração?
RESPONDEU que diz o interrogado que por ocasião dos
fatos descritos na denúncia, foi convidado por um amigo de nome
Mané para a prática do roubo; informa que na ocasião Mané o infor-
mou que tinha conhecimento que na residência da vítima havia dóla-
res; afirma que em princípio relutou não concordando com a idéia de
praticar o roubo; posteriormente acabou concordando e juntos segui-
ram até a residência da vítima; afirma que a vítima Osmar era seu
Técnica estrutural da sentença criminal 373
Página N° 54
conhecido; ao se aproximarem da residência das vítima seu amigo
Mané ficou no meio do mato e disse para o interrogado que seguisse
até a residência; ao chegar na residência abordou a mulher que lá
estava, momento em que tirou a arma de fogo que trazia à cinta e
“mostrou-a para a referida vítima” nega a tenha ameaçado; que em
seguida trancou a mulher no banheiro da casa, quando então chamou
por Mané, o qual se dirigiu para a residência, adentrando na mesma;
que Mané passou a carregar os objetos eu pretendia roubar; para o
veículo da vítima que ali estava; que carregou aparelho televisor, apa-
relho de som, toca-fitas e também roupas logo a seguir ali chegaram
os filhos da vítima; que Mané escondeu-se em um dos aposentos da
casa; informa que assim que os filhos da vítima chegaram e viram o
interrogado assustaram com a sua presença; diz o interrogado que
também assustou informa que estava com a espingarda cartucheira de
propriedade das vítimas nas costas; afirma que não ameaçou os filhos
da vítima com armas; disse-lhes que ficassem quietos pois não iria
lhes fazer nada; determinou aos filhos da vítima que entrassem tam-
bém no banheiro junto com a genitora; após tê-los trancado no ba-
nheiro, Mané continuou com a ação que praticava anteriormente, ou
seja carregava objetos para o veículo; após alguns minutos ali che-
gou também um empregado da vítima, o qual de igual forma foi tran-
cado no banheiro; afirma que referido empregado também não viu
seu comparsa Mané; que posteriormente o interrogado amarrou to-
das as vítimas transferindo-as para a cama do quarto; alega que prati-
cou tal ato também por determinação de Mané; que logo a seguir
Mané tentou fazer o veículo funcionar para deixarem o local, porém
não conseguiram; diz que Mané voltou a se esconder no mato en-
quanto que o interrogado auxiliado pelo empregado e filhos da vítima
tentou fazer o veículo funcionar; menciona que como não tinha inten-
ção de permitir a prática do roubo de tantos objetos da casa, com o
que não concordava, “retirou o cabo da bobina do motor do veículo
para que o mesmo não funcionasse”; que mesmo assim tentou fazer o
veículo funcionar com o auxílio das vítimas” para que Mané não fi-
casse bravo consigo”; que Mané quando viu que o veículo não fun-
cionava manifestou a intenção de apanhar uma carroça que ali estava
374 Ismair Roberto Poloni
Página N° 55
para transportar os objetos; diante da discordância do interrogado
acabaram discutindo; que Mané deixou a localidade sem nada levar;
o interrogado adentrou na residência e soltou todas as vítimas; uma
das vítimas lhe indicou um cavalo que ali estava para lhe servir de
meio de transporte; que utilizando-se do cavalo deixou aquele local;
trouxe consigo em seu bolso dois relógios e também a nota de cinqüenta
dólares; diz que era sua intenção era devolver referidos bens para a
vítimas; a arma de fogo que foi levada desta cidade até a residência
das vítimas pertencia ao comparsa Mané; que conhece Mané tam-
bém pela alcunha de “Mágico”; que referida pessoa reside na saída
para Guapiaçu SP; informa que por ocasião de seu depoimento para a
autoridade policial não mencionou a participação de Mané “porque
ficou com medo, e também porque as vítimas só viram o interrogado;
não sabe informar qual é a idade de Mané; que trabalha como arma-
dor que estava empregado na cidade de São Paulo ao seu retorno para
esta cidade com a finalidade de apanhar documentos foi detido; que
tem família composta por esposa e um filho; que a esposa e filho não
estavam em S. Paulo em sua companhia; ao retornar para esta cidade
veio também com a intenção de buscá-los; que foi preso quando se
dirigia juntamente com os familiares para a estação rodoviária onde
iria para São Paulo.
E como nada mais lhe foi perguntado, deu-se por findo este
termo de perguntas e interrogatório, que depois de lido e achado con-
forme, vai rubricado em suas folhas pelo escrivão, assinado pelo Dou-
tor Juiz e pelo acusado.
JUIZ DE DIREITO
INTERROGADO
DEFENSOR
Técnica estrutural da sentença criminal 375
Página Nº 56
JUNTADA
Aos 20 dias do mês de 08
de 99 faço juntada Defesa
prévia que adiante se vê.
Paulo Lisboa
ESCRIVÃO
376 Ismair Roberto Poloni
Comentários às Páginas Nº 51 a 56
Página Nº 51
Com a prisão do acusado é possível a sua citação e intimação no
próprio cartório, como houve. Nunca é demais lembrar que o acusado
foi citado para integrar a ação e intimado para participar da audiência
na qual será interrogado. Como foi citado pessoalmente, dizemos ter
sido regular a citação; caso fosse citado por edital diríamos: citado
editaliciamente... ou, citado ficticiamente. Apenas a citação não é
suficiente, assim como a intimação sem a citação também não. De
qualquer forma, teremos, para o relatório:
“Regularmente citado, pessoalmente...” ou, “Citado pessoal-
mente...”
Página 52 a 55
Nessas páginas temos o interrogatório do acusado, que terá grande
importância no relatório. Mas, antes de adentrarmos nele propriamente,
é conveniente algumas observações sobre o que antecede as declara-
ções do acusado. A primeira trata de uma expressão usada de longa
data e que vem sendo mantida, por força da praxe forense. Trata-se
dos dizeres “compareceu o réu MARCOS LARA, que se achava livre
de ferros e sem coação...”. Estar o acusado livre de ferros, atualmente,
representa estar sem algemas; outrora representavam a ausência de
ferros que serviam para a sua imobilização. As questões que são for-
muladas ao acusado são importantes na verificação de sua condição
socioeconômica, para a eventual fixação da pena de multa, bem como
de seus antecedentes além de outras circunstâncias, conforme o caso.
Já a narrativa sobre os fatos deverá ser traduzida, em breve resumo,
no relatório. E isso porque, como dito, o interrogatório é uma peça de
defesa e meio de prova; por vezes a favor do acusado, outras, da acu-
sação. Veja-se que, no caso em tela, o acusado confessou a autoria
dos fatos, embora tivesse invocado a co-participação de um cidadão
conhecido por “Mané”. Para o relatório não interessa se essa versão
do acusado é verdadeira ou não. O que importa é que assim foi dito
pelo acusado e, pela relevância, deverá ser investigado na instrução
processual e, na sentença, discutido na fundamentação. E no relatório
o interrogatório resumido seria assim lançado:
“Regularmente citado, pessoalmente, foi o acusado interroga-
do às fls. 52/55, oportunidade em que disse ter sido convidado para a
Técnica estrutural da sentença criminal 377
prática do delito por “Mané” que disse que na casa das vítimas ha-
via dólares. Disse que mostrou o revólver para a vítima Marta, sem
ter ameaçado a mesma e as demais vítimas, tendo trancafiadas, ini-
cialmente no banheiro da casa e, ao depois, num quarto, onde as
prendeu sobre uma cama, dizendo ‘que ficassem quietos pois não iria
lhes fazer nada’. Confirmou a subtração dos objetos que estavam no
interior da casa e que não os levou porque o veículo Brasília não
funcionava, acabando por levar um cavalo, dois relógios e uma nota
de cinqüenta dólares, enquanto “Mané” saía em fuga; que estava
empregado em São Paulo e para cá veio apenas para pegar seus
documentos e sua mulher e filho”.
Veja-se que esta será uma das teses da defesa, ainda que o defen-
sor não a tenha encampado. Por isso, tese da defesa não se resume
exclusivamente naquela apresentada pelo defensor; também a com-
põe as alegações do acusado, em seu interrogatório E será com base
nessas, também, que o juiz irá dirigir a instrução. No caso em espé-
cie, o acusado confessou a sua participação nos fatos e co-imputou a
terceiro. Portanto, deverá ser questionada, na ouvida das informan-
tes, e de outros mais que se fizerem necessários, quer sobre a partici-
pação do acusado, para ter-se certeza sobre a confissão declarada,
como de terceiros, como alegado pelo acusado, para que sejam toma-
das as medidas cabíveis emenda à denúncia ou nova ação penal)
Página 56
Mera certidão de juntada, em cartório, da defesa preliminar, ne-
cessária para a verificação do prazo .
378 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 57
DR. MÁRCIO de ANDRÉA
ADVOGADO – OAB 11111-1 PR
Nestes Termos
E. Deferimento.
Márcio de Andréa
advogado
Técnica estrutural da sentença criminal 379
Página Nº 58
PODER JUDICIÁRIO
RECEBIMENTO
Aos 20 dias do mês de 08 de
1999 recebi estes autos. Eu. Escrivão.
CONCLUSÃO
Aos 22 do mês 08 de 1999
Faço conclusos destes autos ao Dr.
Ismair Roberto Poloni
MM. Juiz de Direito
PATRÍCIA ROCHA
Aux. Cartório
380 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 59
AUTOS Nº 121/99
DATA
Aos 22 de 08 de 1999 Recebi estes Autos em Cartório.
Dou Fé
Paulo Lisboa
ESCRIVÃO
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Josué Damasco, DD. Promo-
tor de Justiça. dou fé.
Poloni, 22 de 08 de 1999.
Paulo Lisboa
ESCRIVÃO
Técnica estrutural da sentença criminal 381
Comentário à Página Nº 57 a 58
Página Nº 57
A defesa preliminar, por mais singela que possa ser, deve sem-
pre ser mencionada no relatório, por ser um ato de defesa do acusado.
Nela é possível o defensor requerer exames periciais, alegar nulida-
des, arrolar testemunhas, juntar documentos, enfim, praticar todo e
qualquer ato em defesa do acusado. Embora exista limitação para
esse exercício, o que ocorre na prática é que, o defensor dativo, por
comodismo, deixar de fazer um acurado exame dos autos e acaba por
arrolar as mesmas testemunhas já arroladas pela acusação ou, por
outro lado, um defensor bastante experto, prefere não mostrar suas
provas já no início da instrução, até porque, diferentemente do pro-
cesso civil, não está obrigado a apresentar os documentos que pos-
sam provar a inocência de seu constituinte ou seu direito a uma dimi-
nuição especial da pena, ou sua suspensão ou sua desclassificação ou
mesmo a extinção da punibilidade, nos termos do art. 400, do CPP.
Como ela advém com o início da instrução e, ao menos teoricamente,
deveria trazer as bases para a defesa do acusado, tem também sua
importância vital para a sentença, que assim seria registrado, no rela-
tório:
“Às fls. 57 o Doutor Defensor apresentou a defesa preliminar,
arrolando as mesmas testemunhas arroladas pela acusação, não pug-
nando pela produção de qualquer outra prova, discordando dos ter-
mos da denúncia”.
Vale registrar, ainda, que é comum também nos advogados o
emprego da expressão “réu”, quando a pessoa ainda é mero “acusa-
do”. Veremos adiante que o promotor de justiça também comete o
mesmo equívoco. Mas, para o advogado, principalmente, esse erro
não deveria ocorrer pois seu constituinte ou seu defendido é um cida-
dão que ainda não foi condenado e, por isso, jamais poderia ser deno-
minado de “réu”. A bem da verdade, não faz diferença, para o proces-
so, denominar-se réu ou acusado. Mas se buscar implantar o verda-
deiro Estado Democrático de Direito, aí sim podemos sentir a enorme
diferença nas denominações. Seria o mesmo que, no inquérito, deno-
minar o indiciado de réu, quando o que existe são apenas indícios da
existência do crime e sua provável autoria. E o mesmo se pode dizer
sobre a ação penal, até o dispositivo da sentença condenatória, quan-
382 Ismair Roberto Poloni
Página 58 e 59
O que se tem são certidões de recebimento, conclusão e
intimação, sem qualquer realce. O despacho de fls. 59, designando a
audiência de inquirição das testemunhas de acusação, que são as mes-
mas da defesa, também não tem qualquer importância para a senten-
ça. O que irá interessar serão os depoimentos e a desistência de um
deles, como veremos. Caso fosse de um enunciado e a ação fosse no
rito sumário, haveria a ordem correta para cada tipo de despacho.
Mas apenas isso iria ser importante, e não o despacho propriamente
dito.
Técnica estrutural da sentença criminal 383
Página Nº 60
CERTIDÃO
Certifico que expedi ofício nº 103/99 requisitando
o réu junto a Del. Pol. local. Dou fé.
Poloni, 22 de 08 de 1999.
Paulo Lisboa
ESCRIVÃO
CERTIDÃO
Certifico que expedi mandado p/ intimação das vítimas e
testemunhas e Dr. Defensor. Dou fé.
Poloni, 22 de 08 de 1999.
ESCRIVÃO
384 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 61
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE POLONI – SP
CARTÓRIO CRIMINAL
CERTIDÃO
Mari Tomaz
Aux. de Cartório
Técnica estrutural da sentença criminal 385
Pagina Nº 62
JUÍZO DA COMARCA DE POLONI – SP
MANDADO DE INTIMAÇÃO
Nº 234/99
Ação Penal Nº 121/99
Cartório da única Vara Criminal. RÉU PRESO
O Doutor Ismair Roberto Poloni Juiz de Direito da Vara Crimi-
nal da comarca de Poloni - SP. Na forma da Lei,
MANDA a qualquer oficial de justiça sob sua jurisdição que,
em cumprimento deste, INTIME, nos (s) seu (s) endereço (s)
ou onde for (em) encontrada (s) a (s) testemunhas abaixo relacio-
nada (s), arrolada (s) pela denúncia (acusação – defesa) para
comparecer (em) ao fórum da Comarca de Poloni – SP, sito na
Av. dos Três Poderes, na sala de audiências, perante o juízo da
Vara Criminal, no dia 24 de agosto de 1999, às 09:00 horas, a
fim de serem inquiridas nos autos de ação penal que a Justiça
Pública desta comarca move contra Marcos Lara, como incurso
(s) nas sanções do (s) artigo (s) 157 Código Penal, ficando, pelo
presente, ciente (s) da obrigação de comunicar ao juiz, dentro de
um ano, qualquer mudança de endereço
Página Nº 63
Promotor de Justiça
Réu (s)
Cumpra-se
Dado e passado nesta cidade e comarca de Poloni,
Aos 22 dias de agosto de 1999 .
Eu, Escrivão o subscrevi e certifico inexistir, nos autos, outros (s)
endereço (s).
Paulo Lisboa, Escrivão.
CERTIDÃO
(Positiva) (Negativa)
Página Nº 64
CIENTE:
Promotor de Justiça
Querelante
Assistente (s)
Advogado (s)
388 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 65
ASSENTADA
Página Nº 66
filho menor, de seis anos de idade permaneceu fora da casa, e foi
também rendido pelo acusado mediante ameaça de arma de fogo; que
seus filhos foram levados até o banheiro e trancafiados juntos com a
informante; diz que o acusado permaneceu no interior da casa sempre
mexendo nos bens e objetos lá existentes; que mais tarde chegou tam-
bém ao local Leandro; Assim que Leandro chegou foi convidado a
entrar na casa pelo réu; ao entrar Leandro foi também rendido median-
te ameaça com as armas de fogo, e posteriormente levado até o ba-
nheiro onde foi também trancafiado; informa que o acusado mexeu
nas coisas da cozinha, preparou e ingeriu alimentos ali existentes; por
volta das 19:00 horas o acusado retirou primeiramente Leandro le-
vando-o do banheiro para outra dependência da casa; posteriormente
retirou os filhos da informante do banheiro levando-os de igual for-
ma; por fim a própria informante foi também levada pelo acusado,
sempre sob a mira de revólver e ameaças verbais; foi levada para um
quarto onde notou que Leandro e seus filhos estavam amarrados so-
bre a cama; a informante foi também amarrada e colocada sobre a
cama, após o que todos foram cobertos com cobertores e roupas pelo
acusado; antes porém o acusado insistiu em saber onde estavam as
chaves do veículo Brasília e também os documentos do mesmo; após
alguma resistência acabou por dizer ao acusado onde estavam as cha-
ves do veículo; informou ao mesmo que o veículo estava com defeito,
tendo ele afirmado que sabia consertar; aguardaram por algum tempo
enquanto o acusado mexia no veículo; posteriormente retornou ele
para o quarto e libertou Leandro das amarras, levando-o consigo;
instantes após seu filho mais velho foi também libertado e levado
para fora da casa; menciona que Leandro foi obrigado a buscar al-
guns animais (cavalos) os quais puxaram o veículo na tentativa de faze-
lo funcionar, o que entretanto não deu resultado: menciona que dentro
do veículo estavam todos os pertences da casa, afirma que o acusado
tinha posto dentro da Brasília o aparelho televisor, rádio, caixas de som,
gêneros alimentícios, bem como uma estante, a qual foi amarrada sobre
o veículo; diz que como o acusado não fez o veículo funcionar amea-
çou de atear fogo ao mesmo, porém foi convencido por Leandro que
não o fizesse; em seguida o acusado libertou também a informante e
disse que também desistia de levar consigo os objetos que já havia
separado, porém não deixaria aquele local a pé; antes de sair o acusa-
390 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 67
do apanhou uma nota de cinqüenta dólares que havia encontrado na
casa bem como dois relógios, e ocupando um cavalo que já estava
arreado, deixou o local; informa ainda que o acusado tinha separado
roupas e calçados e colocados no veículo Brasília; diz que o acusado
já havia freqüentado aquele local antes, por duas ou três vezes, e afir-
mava ser parente dos vizinhos; afirma que toda a atividade do acusa-
do já mencionado foi desenvolvida por somente ele; afirma que ele
estava sozinho; que mesmo durante o tempo que esteve presa no ba-
nheiro não percebeu conversas ou presença de outras pessoas em sua
casa; diz também que o próprio acusado lhe falou na oportunidade
que estava só; que o acusado disse também que ia esperar o marido
da informante chegar no local; que sem a presença de seu marido o
acusado afirmou que não iria embora; que o fato ocorreu em um
sábado; na segunda-feira a polícia foi informada da ocorrência e
recuperou o cavalo com arreio, os relógios e os dólares junto ao
acusado; Reperguntas do Dr. Promotor de Justiça: que quando o
acusado chegou em sua casa trazia consigo um revólver; assim que
o acusado a abordou passou a questioná-la a respeito de armas, quan-
do então negou que tivesse arma em sua casa; entretanto o acusado
insistiu e passou a procurar no interior da casa quando então encon-
trou uma garrucha, da qual se apoderou. Reperguntas do Dr. Defen-
sor: que os objetos foram carregados pelo acusado até o veículo
quando a informante e as outras vítimas estavam trancafiadas no
banheiro; que pode notar o movimento do acusado no interior de
sua casa através de frestas existentes na porta do banheiro; diz que a
arma que era portada pelo acusado estava municiada; que a arma
existente em sua casa da qual o acusado se apoderou não tinha
registro uma vez que seu marido tinha adquirido a mesma há alguns
dias; que o acusado se apoderou também de uma espingarda do tipo
cartucheira que havia em sua residência; que a informante e seus
familiares apenas conheciam o acusado pois o mesmo havia presta-
do serviços no sítio vizinho; não havia amizade entre eles; que nin-
guém auxiliou o acusado a carregar os bens e objetos até o interior
do veículo Brasília; confirma a informante ter sido o acusado MAR-
COS LARA, presente nesta audiência a pessoa que praticou o assal-
to em sua residência . Nada mais. Eu, Paulo Lisboa, Escrivão.
Técnica estrutural da sentença criminal 391
Página Nº 68
Clara dos Anjos – vítima Dr. Ismair Roberto Poloni – Juiz de Direito
Página Nº 69
PODER JUDICIÁRIO
Página Nº 70
calibre 36, sendo que as duas últimas pertenciam aos familiares do
informante; diz que não conhecia o acusado; o acusado era conhecido
por seus genitores; uma vez que anteriormente esteve em sua residên-
cia; no mencionado dia o informante não estava presente, razão pela
qual não conhecia pessoalmente o acusado; o cavalo que foi levado
pelo acusado era de cor castanha, e contava com 12 ou 13 anos de
idade; que o cavalo estava arreado; que todos os bens, bem como o
cavalo foram recuperados pelas vítimas. Reperguntas das partes não
há. Nada mais. Eu Paulo Lisboa – Escrivão.
Dr. Ismair Roberto Poloni – Juiz de Direito Carlos dos Anjos – vítima
Comentários às Páginas Nº 60 a 70
Página Nº 60
Nada mais do que certidões de requisição do acusado para a
audiência e da expedição do mandado das vítimas e do defensor.
Página Nº 61
Aqui, por excesso de zelo, a auxiliar do cartório expediu nova
certidão sobre o que constava naquela vara criminal, com o detalhe
de constar a fase em que se encontrava os autos. Mas seja uma ação
em que o acusado tenha sido condenado, com trânsito em julgado ou
não, seja uma ainda em tramitação, qualquer uma delas apenas irá
refletir quando da fixação da pena.
Página Nº 62 a 64
Já à página 62 a 64 consta o mandado de intimação das testemu-
nhas.
Página N° 65 a 70
Aqui começam as declarações das testemunhas que, no caso,
são de acusação e de defesa e que possuem grande importância para a
sentença, na fundamentação. E para o relatório, bastará a menção de
sua existência e sua localização. Como dissemos que a denúncia arro-
lou três testemunhas, iremos enxertar esse dado no relatório que disse
sobre a denúncia. E ficaria algo assim:
“Durante a instrução foram inquiridas duas testemunhas infor-
mantes, às fls. 65/70”.
Técnica estrutural da sentença criminal 395
Página Nº 71
PODER JUDICIÁRIO
= TERMO DE DELIBERAÇÃO =
Juiz de Direito.
Promotor de Justiça.
Dr. Defensor.
396 Ismair Roberto Poloni
Comentário Página Nº 71
Página Nº 71
O que temos é um termo de deliberação. Significa que, na pró-
pria audiência, o juiz determinou houvesse manifestação de uma ou
ambas as partes. No caso, como as testemunhas foram arroladas pela
acusação e pela defesa, ambas deveriam se manifestar, ali, naquele
momento, sobre a sua não localização, com o fim de apresentar novo
endereço e insistir nas declarações, ou substitui-la. Assim, Leandro
de Souza não foi localizado pelo oficial de justiça pois mudou-se para
endereço ignorado. O juiz, então, na audiência, determinou fosse ex-
pressada a manifestação do promotor de justiça, que desistiu de sua
oitiva, e do defensor, que também desistiu. Com isso encerrou-se a
fase da instrução, determinando o juiz, naquele mesmo momento,
houvesse a manifestação das partes sobre a fase do art. 499, CPP,
ficando as mesmas intimadas já naquela oportunidade. O despacho
de deliberação, figura inexistente no Código de Processo Penal, é
usualmente empregado pelo juiz com a finalidade de ganhar tempo,
de tornar mais célere o processo. Assim, no caso, ao invés de esperar
o juiz receber os autos para despachar no sentido de as partes serem
intimadas para dizerem sobre a testemunha não localizada, na mesma
audiência já se pratica tal ato. Porém, há que haver a concordância
das partes posto que, embora com o intuito de celeridade processual,
a parte tem direito ao prazo prescrito pela lei. E se, v.g., o advogado
de defesa pretender verificar, por si, se a testemunha é ou não
efetivamente localizável, nada poderá impedi-lo, nem mesmo a
celeridade pretendida pelo juiz. Também não poderá o juiz impedi-lo
pois poderá a parte, acusação ou defesa, pretender substituir aquela
testemunhas não encontrada. E então não poderá existir o Termo de
Deliberação. Contudo, no nosso processo houve o termo e, tendo acu-
sação e defesa desistido da testemunha, o juiz já tornou as partes
intimadas para os fins do art. 499, CPP. E ambas as ocorrências têm
suas importâncias para o processo e para o relatório, que constaria,
sobre as desistências, junto à relação de testemunhas de cada uma das
partes. E sobre a fase do art. 499, é necessário aguardar-se o resulta-
do, isto é, se houve ou não um ou mais pedidos de diligência e se foi
ou não deferido. Caso tenha sido deferido, em que folhas foi acostado
e o resumo de seu conteúdo. E para o relatório constaria assim:
Técnica estrutural da sentença criminal 397
Página Nº 72
PODER JUDICIÁRIO
CERTIDÃO
Certifico que dei ciência e intimei o Dr. Promotor
de Justiça, Josué Damasco. Dou fé.
Poloni, 24 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
VISTA
Aos 24 dias do mês de maio
de 1999 faço vista destes autos ao Dr.
Josué Damasco Promotor de Justiça
EU, PAULO LISBOA
Escrivão
Autos – 121/99
MM. Juiz:.
Josué Damasco
Promotor de Justiça
Técnica estrutural da sentença criminal 399
Página Nº 73
PODER JUDICIÁRIO
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Márcio de Andréa.
Defensor do réu. Dou fé.
Poloni, 24 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
VISTA
Aos 24 dias do mês de agosto
de 1999 faço vista destes autos ao Dr.
Márcio de Andréa Defensor do réu.
EU Paulo Lisboa
Escrivão
DATA
Aos 25 de 08 de 1999
Recebi estes Autos em Cartório. Dou Fé
Paulo Lisboa
Escrivão
JUNTADA
Aos 25 dias do mês de agosto do ano de mil
novecentos e noventa e nove faço juntada aos
presentes autos da petição que adiante se vê.
Paulo Lisboa
Escrivão
400 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 74
DR. MÁRCIO de ANDRÉA
ADVOGADO – OAB 11111-1 PR
Nestes Termos
E. Deferimento.
Página Nº 75
CONCLUSÃO
Aos 25 do mês 8 de 1999 faço conclusos estes
autos ao Dr.
Ismair Roberto Poloni, MM. Juiz de Direito
Paulo Lisboa
Autos – 121/99
Intime-se.
Dê-se ciência.
Poloni, 25, agosto, 99.
DATA
Aos 25 de 8 de 1999
Recebi estes Autos em Cartório. Dou Fé
Paulo Lisboa
Escrivão
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Josué
Damasco Promotor de Justiça. Dou fé.
Poloni, 25 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
402 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 76
VISTA
Aos 25 dias do mês de agosto
de 1999 faço vista destes autos ao Dr.
Josué Damasco Promotor de Justiça.
EU Paulo Lisboa
Escrivão
Autos de nº 121/99
MM. Juiz:
Alegações em separado.
Josué Damasco
Promotor de Justiça
RECEBIMENTO
Aos 26 dias do mês de 8 de 1999
recebi estes autos. Eu. Escrivão.
Paulo Lisboa
Escrivão
Técnica estrutural da sentença criminal 403
Página Nº 77
JUNTADA
Aos 26 dias do mês de agosto do ano de mil
novecentos e noventa e nove faço juntada aos presentes autos
das Alegações Finais da Acusação que adiante se vê.
Paulo Lisboa
Escrivão
404 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 78
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Promotoria de Justiça da comarca de POLONI – SP – VARA
CRIMINAL
Autos nº 121/99
Autor: O MINISTÉRIO PÚBLICO
Réu: MARCOS LARA
MM. Juiz:
Página Nº 79
As testemunhas ouvidas as fls. 69/74 dão conta de que o Réu,
efetivamente, fez uso da arma que portava ameaçando-as e as
trancafiando em um cômodo da casa após terem sido amarradas.
Os bens furtados foram recuperados posteriormente por policiais
encarregados da diligência. A arma foi periciada às fls. 33 constatan-
do-se que era hábil a se constituir em ameaça às vítimas.
Assim, estando comprovada a denúncia de fls. 02/04, somos
pela condenação do Réu.
Josué Damasco
Promotor de Justiça
406 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 80
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Márcio de Andréa.
Defensor do réu. Dou fé.
Poloni, 27 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
VISTA
Aos 27 dias do mês de agosto
de 1999 faço vista destes autos ao Dr.
Márcio de Andréa – Defensor do réu
EU Paulo Lisboa
Escrivão
DATA
Aos 27 de 08 de 1999
Recebi estes Autos em Cartório. Dou Fé
Paulo Lisboa
JUNTADA
Aos 27 dias do mês de agosto do ano de mil
novecentos e noventa e nove faço juntada Alegações
Finais da Defesa que adiante se vê.
Paulo Lisboa
Escrivão
Técnica estrutural da sentença criminal 407
Página Nº 81
DR. MÁRCIO de ANDRÉA
ADVOGADO OAB 11111-1 – PR
ALEGAÇÕES FI NA IS
Página Nº 82
DR. MÁRCIO de ANDRÉA
ADVOGADO OAB – 11111-1 - PR
Página N° 83
DR. MÁRCIO de ANDRÉA
ADVOGADO OAB – 11111-1 - PR
MM. JUIZ:
Quando um homem rouba para saciar a fome, sua e sua família,
a sociedade o incrimina, mas a sociologia do direito o absolve, e o
direito restabelece o equilíbrio social.
Diante do Exposto, e tudo mais que dos autos constam respeito-
samente vem à presença de V. Exa., pedir a desclassificação do crime
que lhe é imputado para a do “caput” do art. 157, do Código Penal,
uma vez que não houve testemunha que provasse a violência ou amea-
ça com emprego de arma, pelo que se pede que a pena aplicada seja
nos mínimos possíveis levando-se em conta as atenuantes que possui,
e com suporte na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, seja o Réu
reintegrado na sociedade, como medida da mais acertada,
J U S T I Ç A.
410 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 84
Página Nº 71 a 74
Além de certidões diversas, temos a manifestação do promotor
de justiça e do defensor, no sentido de nada terem para requerer na
fase do art. 499, CPP.. E no relatório constaria assim:
“Na fase do art. 499, CPP, nada foi requerido ou determinado”.
Página N° 75 a 77
Tem-se, além de certidões de conclusão, recebimento e intimação,
o despacho do juiz determinando vista às partes, para apresentação
das alegações finais, cujo prazo, assim como para os fins do art. 499,
CPP, corre em cartório (art. 501, 798 e 803, do CPP), exceto para o
Ministério Público, além da certidão de juntada das alegações finais
da acusação. Nada que interesse para a sentença..
Página Nº 78 a 79
As alegações finais do Ministério Público, como as da defesa,
têm grande importância para o relatório e, pois, para a sentença. Mui-
tas vezes o juiz tira da alegação final do promotor de justiça boa parte
do conteúdo de sua sentença. Mas, outras vezes é absolutamente im-
possível aproveitar-se sequer trechos da alegação final da acusação.
De qualquer forma, o que realmente no interesse é o que deve inte-
grar o relatório. E a alegação final da acusação é mais uma peça que
irá compô-lo, bem como as da defesa. Mas tanto uma como a outra
deverão seguir para o relatório de forma bastante resumida. Será na
fundamentação que irá se discutir as teses que as partes invocaram
em sua alegações finais. Assim, para o relatório, bastará o registro:
“O Ministério Público apresentou suas alegações finais às fls.
78/79, pleiteando a condenação do acusado nas penas inicialmente
capituladas”.
Página Nº 80
Trata-se de meras certidões de intimação do defensor para apre-
sentar as alegações finais, a abertura de vista ao mesmo, para aquele
fim, o recebimento dos autos e a juntada das alegações finais da defe-
sa.
412 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 81 a 84
São as alegações finais da defesa e têm o mesmo peso que as da
acusação. Mas, como as teses da acusação já estão inseridas na de-
núncia, com a descrição do fato, vamos notar que o resumo das teses
da defesa irá exigir um pouco mais de atenção. Assim, disse o defen-
sor que: admitiu a autoria e a materialidade, sendo os objetos rouba-
dos de pequeno valor, tendo sido todos devolvidos ao seu legítimo
dono, não havendo prejuízo. Veja-se que a questão da devolução e da
inexistência de prejuízo não irá atingir em nada o crime em si; deve-
rá, sem sombra de dúvida, ser considerado na eventual fixação da
pena; mas nada mais. Disse o Doutor Defensor: “Às fls. 81/84, apre-
sentou o Doutor Defensor suas alegações finais, oportunidade em que
disse ter o acusado confessado ter agido com uma arma para de-
monstrar ser um homem mau e, como não conseguindo levar todos os
objetos que pretendia, acabou ficando apenas com cinqüenta dólares
e um relógio de pulso. Negou a existência de violência física. Disse
ter praticado o delito pelas pressões que passa um pai de família
desempregado e que vê seus filhos chorando de fome, pedindo, se
não for absolvido, uma penalização moderada, que permita ficar junto
de sua família. Que nos autos não existe nenhuma testemunha além
das vítimas além do que, conta apenas com 21 anos de idade. Pede a
desclassificação para o “caput” do art. 157, do Código Penal, ante a
inexistência de provas de que o acusado agiu com violência contra
as vítimas, além das atenuantes que lhe favorecem, bem como a lei
7.210, de 11-julho-85, para ser o mesmo reintegrado à sociedade”.
Técnica estrutural da sentença criminal 413
Página Nº 85
CONCLUSÃO
Aos 28 do mês 08 de 1999
Faço conclusos destes autos ao Dr.
Ismair Roberto Poloni MM. Juiz Direito
Paulo Lisboa
Escrivão
Autos – 121/99
DATA
Aos 29 de 08 de 1999
Recebi estes Autos. Dou Fé
Paulo Lisboa
Escrivão
414 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 86
PODER JUDICIÁRIO
JUÍZO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE POLONI – SP
Página Nº 87
seguida, deixou o local abandonando o veículo totalmente abarrotado
de objetos”.
Página Nº 88
Em suas razões finais, fls. 81/84, disse o Doutor Defensor que:
admitiu a autoria e a materialidade, sendo os objetos roubados de
pequeno valor, tendo sido todos devolvidos ao seu legítimo dono, não
havendo prejuízo. Confessou ter agido com uma arma para demons-
trar ser um homem mau e, como não conseguiu levar todos os objetos
que pretendia, acabou ficando apenas com cinqüenta dólares e um
relógio de pulso. Negou a existência de violência física. Disse ter
praticado o delito pelas pressões que passa um pai de família desem-
pregado e que vê seus filhos chorando de fome, pedindo, se não for
absolvido, uma penalização moderada, que permita ficar junto de sua
família. Que nos autos não existe nenhuma testemunha além das víti-
mas além do que, conta apenas com 21 anos de idade. Pede a desclas-
sificação para o “caput” do art. 157, do Código Penal, ante a
inexistência de provas de que o acusado agiu com violência contra as
vítimas, além das atenuantes que lhe favorecem, bem como a Lei 7.210,
de 11-julho-85, para ser o mesmo reintegrado à sociedade.
Sendo este o relatório, passo à
FUNDAMENTAÇÃO
DA MATERIALIDADE
No auto de apreensão de fls.23/24 estão relacionados os bens,
objetos do roubo atribuído ao acusado Marcos Lara e que foram apre-
endidos em sua residência, nesta cidade. Não bastasse a apreensão
dos bens roubados em sua residência, confirmou o acusado terem
sido roubados pelo mesmo, da residência das vítimas. Assim, nenhu-
ma dúvida resta quanto à materialidade do delito.
DA AUTORIA
O acusado, quer em seu interrogatório em juízo, fls. 52/55, quer
na fase investigatória, confessou a autoria do roubo em questão. Disse
para lá ter ido com o intuito de subtrair dólares e jóias mas, como não as
encontrou, acabou por se contentar com os objetos apreendidos às fls.
23/24. E isso porque, pretendendo subtrair outros objetos, colocando-
os no veículo da família, por não conseguir fazer o mesmo funcionar,
ali abandonou-os e subtraiu os que foram apreendidos. Não bastasse a
confissão, espontânea e coerente com a declarada na fase policial, os
dois informantes ouvidos em juízo reconheceram o acusado como sen-
Técnica estrutural da sentença criminal 417
Página N° 89
do o autor do roubo em questão. No tocante à existência de uma ter-
ceira pessoa, que seria o mentor e auxiliar do delito, “Mané”, restou
sua existência apenas nas declarações do acusado, e somente naque-
las prestadas em juízo. Em nenhum outro momento se vê a participa-
ção desse terceiro, nem mesmo na fase policial. Assim, Carlos, ouvi-
do em juízo às fls. 69/70, e na fase policial às fls. 14/15, nada disse
sobre a existência de qualquer outra pessoa. Também Leandro, ouvi-
do apenas na investigatória, fls. 27/29, não fez qualquer observação
sobre a existência de um terceiro participante no roubo. De qualquer
forma, mesmo que existisse um terceiro integrante e fosse ele o mentor
do roubo, decorreria apenas e tão-somente uma co-autoria, com au-
mento especial, § 2º, Nº II, e para aquele terceiro, também a agravan-
te do art. 62, N º I, todos do CP. Inquestionável, também, a autoria.
DO DOLO
O motivo que levou o acusado à pratica do delito foi pelo mes-
mo declarado no início de seu interrogatório foi a obtenção de dóla-
res.
O acusado agiu fazendo uso de uma arma e com essa ameaçou as
vítimas, em todos os momentos, isto é, quando as colocou no banheiro,
depois no quarto e quando Leandro e Oliveira tiveram que auxiliá-lo a
fazer funcionar o veículo, com o objetivo de subtrair para si, bens mó-
veis de propriedade das vítimas. O próprio acusado não nega esses fa-
tos, que estão convergentes com as provas orais produzidas em juízo e
reforçadas pelas informações obtidas na fase policial. Apenas disse o
acusado, em juízo, que não ameaçou a nenhuma das vítimas mas “que
ficassem quietos pois não iria lhes fazer nada” (fls. 54 ). Ora, o acusa-
do chegou furtivamente pretendendo comprar galináceos e então sacou
de uma arma e dizendo tratar-se de um roubo; como pretender fazer
crer não ter ameaçado as vítimas. Apenas por segurar uma arma
municiada em direção de cada uma delas? Para qualquer homus medius
essa situação representa uma ameaça concreta, um perigo real. E mes-
mo que a arma não prestasse ao uso regular, por defeito interno não
perceptível a olho nu, mesmo assim a ameaça estaria criada, não só
pelo emprego da arma mas também pelas circunstâncias em que aquela
foi empregada: quero comprar algo que no local é vendido habitual-
mente e o gatuno me diz que é um assalto e me mostra um revólver,
418 Ismair Roberto Poloni
Página N° 90
mandando que eu vá para o interior da casa. O que mais será preciso
para que eu me sinta ameaçado, inclusive de morte? Morrer, talvez.
Mas, se a arma que me aponta está visivelmente estragada, de forma
a que qualquer homem, o mais simples e humilde também, não pode
haver ameaça, pelo emprego daquela arma. Talvez com um canivete
ou um pedaço de pau, mas não com aquela arma. Por isso, houve a
ameaça e essa foi dirigida com o fim exclusivo de se apossar de bens
das vítimas, o que acabou ocorrendo. Referentemente à alegada
inexistência de testemunhas do fato, como pretende o Doutor Defen-
sor, melhor sorte não lhe resta. E isso porque, como dito até aqui, a
prova é robusta e convergente com a confissão do acusado. Não há
que se falar em inexistência de provas se a confissão do acusado coa-
duna-se integralmente com as palavras das vítimas, que estão, tam-
bém, conformes com a prova produzida na fase investigatória.
Ademais, o fato de os bens roubados terem sido apreendidos
junto ao acusado, em seu domicílio nesta cidade torna certa a imputa-
ção inicial.
Sendo essa a Fundamentação, passo ao
DISPOSITIVO
Página N° 91
mes contra o patrimônio com essa causa como favorável ao réu. Cri-
mes famélicos são constituídos por outros elementos. Assim, os moti-
vos não foram favoráveis ao réu. As circunstâncias do crime foram
criadas pelo réu, por isso, desfavoráveis. Que as conseqüências do
crime foram normais para a espécie de crime, já, por isso, previsto
penalização mais rigorosa pelo legislador, tendo sido recuperados to-
dos os objetos roubados e, por essa razão normal foi o comportamen-
to da vítima, sendo suficiente e necessário para a reprovação e pre-
venção do crime. Considerando-se a péssima situação econômica do
réu, que se encontra desempregado, fixo a pena base em cinco (05)
anos de reclusão e trinta 30 dias/multa, equivalente o dia/multa a um
trinta avos (1/30) do salário mínimo vigente à época dos fatos. Reco-
nheço a atenuante do art. 65, Nº III, letra “d”, do Código Penal, pas-
sando-a para quatro (04) anos e sete (07) meses de reclusão e 27 dias/
multa, com igual equivalência. Nos termos do inciso I, parágrafo se-
gundo (§2º), do art.157, CP, aumento a pena de dois quintos (2/5),
passando-a para seis (06) anos e cinco (05) meses de reclusão, a ser
cumprida desde o início no regime semi-aberto, ante a regra do art.
33, do mesmo Codex, e 37 dias/multa, que, com igual equivalência,
correspondem a R$162,00 (cento e sessenta e dois reais), que torno
definitivas, nada mais havendo que possa majorá-las ou minorá-las.
Condeno-o ainda ao pagamento das custas processuais.
Com o trânsito em julgado, lance-se seu nome no rol dos culpa-
dos.
Determino a Colônia Penal Agrícola do Estado para o início do
cumprimento da pena privativa de liberdade.
Publique-se.
Registre-se.
Intimem-se.
Comentários à Página Nº 85 a 91
Página 85
Trata-se de meras certidões de recebimento de conclusão dos
autos ao juiz, de despacho desse dizendo sobre a prolatação da sen-
tença em laudas, por ele rubricadas, além do recebimento pelo escri-
vão dos autos, com a sentença.
Página 86 a 91
DO RELATÓRIO
Chegamos, finalmente, à sentença. E o nosso relatório, como
dito inicialmente, foi composto pelos tópicos que desde o início vie-
mos grifando em itálico. A conjugação de cada um, na ordem apreci-
ada, formou o relatório.
DA FUNDAMENTAÇÃO
A fundamentação, que é “a indicação dos motivos de fato e de
direito em que se fundar a decisão” (art. 381, Nº III, CPP) deve anali-
sar cada um dos componentes da tipificação delituosa: a materialidade,
a autoria e a culpabilidade.
A MATERIALIDADE
A exposição sobre a materialidade foi uma conjugação do auto
de apreensão de fls. 23/24 com os depoimentos das informantes e
com as do próprio acusado. Materialmente, pois, tem-se comprovado
que os bens foram subtraídos das vítimas e recuperados em poder do
acusado.
A AUTORIA
A discussão sobre a autoria resulta do questionamento quanto a
quem, quando, onde e se houve auxílio. No caso, quer o acusado quer
as informantes, foram unânimes em apontar para a pessoa do acusa-
do, com exclusividade. Apenas o acusado, em seu interrogatório judi-
cial, buscou dar a co-participação a alguém que denominou de “Mané”,
como sendo, ainda, o mentor e mandante do crime. Ocorre que, nos
autos, não houve qualquer prova dessa co-autoria. Restou isolada a
palavra do acusado. Mas, mesmo que tivesse prova suficiente do
envolvimento de “Mané”, nada modificaria a situação jurídica do
acusado. Continuaria ele a responder como incurso naquelas penas e
Técnica estrutural da sentença criminal 421
DA CULPABILIDADE
O dolo empregado pelo acusado, se não confessado e demons-
trado por outros elementos probantes, como ocorreu, é de difícil
constatação. Pois saber-se o porquê, quais os motivos que levaram o
acusado a agir daquela forma, exige do juiz, desde a instrução, uma
conduta dirigida também à essa finalidade. Em um furto ou mesmo
roubo, o fato de subtrair para si ou outrem, revela que a intenção do
agente era de ter para si aquele objeto da vítima; também pode reve-
lar que a intenção era a de vender e transformar em dinheiro. E se
esses elementos sobressaem das provas, são suficientes para a com-
provação da existência do dolo. Mas somente quando o acusado aponta
em seu interrogatório o porquê, os motivos que o levaram àquela prá-
tica delituosa, é que o dolo resta cristalino, como no caso em questão,
que o acusado disse que pretendia roubar dólares. Se houver culpa,
em sentido estrito, a mera conduta irá revelar a sua existência, dife-
rente do dolo, que possui um elemento altamente subjetivo: a vontade
humana.
DO DISPOSITIVO
O dispositivo é o encerramento do corpo principal da sentença,
o qual, em somatória com o cabeçalho e o intróito, constituem na
coisa julgada. É desse momento em diante que o acusado, se conde-
nado, passa a ser réu. Se houver a completa qualificação do réu já no
cabeçalho, será possível, no dispositivo, fazer mera referência sobre
sua qualificação como já ocorrida no cabeçalho. Mas é imperioso que
se diga se a acusação procede ou não. Não se deve dizer que é a
denúncia que procede ou improcede. A denúncia é a petição inicial da
ação penal pública. Também deve-se dizer, mesmo que por referên-
cia, sobre quais fatos é que está sendo condenado. Finalmente, deve-
se dizer qual ou quais os artigos e de que lei o réu foi condenado.
422 Ismair Roberto Poloni
DA FIXAÇÃO DA PENA
Examinando cada uma das circunstâncias determinadas pelo art.
59, CP, dissemos que a culpabilidade do réu foi mediana pois iniciou
o roubo com a pessoa de Clara, chegando Leandro, também envol-
veu-o no crime e quando chegaram os dois filhos de Marta, um com
poucos anos de idade, também os tornou vítima de seu crime. Ora, em
sendo o réu um trabalhador, ao envolver, como vítimas, cada uma das
pessoas que ali chegavam, teve uma maior reprovabilidade em sua
conduta. Isso fará com que a pena não seja em seu grau mínimo. No
tocante aos antecedentes, o réu possuiu, conforme certidão de fls. 58,
o que é mais um fator desfavorável ao réu e fará elevar uma pouco a
mais a pena, que já não seria a mínima. Já quanto à sua conduta social,
nada houve nos autos que a desabonasse. E não é possível considerar-
se a outra ação penal que responde, por já ter sido ponderada essa
circunstância no item antecedentes. No mesmo sentido diga-se sobre
a personalidade do réu. E com essas duas circunstâncias, a pena deve-
rá manter-se inalterada. Os motivos determinantes do crime somente
foram apontados pelo réu. Mas aqueles, necessidade de suprir ali-
mentos para sua família, não podem ser considerados como favorá-
veis ao réu pois, a um, existe apenas a palavra do réu e, a dois, não se
busca roubar dólares e, ao depois, o que encontrar e for possível car-
regar, para alimentar a família. Assim, como os motivos não restaram
clareados nos autos e os alegados pelo réu não têm sustentação, a
circunstância dos motivos restará sem peso na fixação da pena. As
circunstâncias não eram preexistentes. O réu as criou; isto é, fazendo-
se passar por um comprador de galináceos, acabou por render a pri-
meira vítima e, as demais, aguardava-as no interior da casa para
surpreendê-las. Por essa razão, a pena deverá sofrer um acréscimo.
No tocante às conseqüências do crime temos que as mesmas foram
normais para a espécie. A princípio é possível achar-se haver certa
benevolência com o réu. Mas não, o que há é uma tipificação apropri-
ada para a conduta do réu que, por sua gravidade, já tem uma
penalização mais grave e um aumento não menor grave. Além do que
as vítimas recuperaram seus bens. Por isso, essa circunstância não
altera a pena até aqui encontrada. Da mesma forma temos quanto ao
comportamento das vítimas. Qualquer um que for tomado de assalto
passará por uma lastimável experiência. Esse é outro motivo que a
pena do tipo, com o aumento especial, não é das mais brandas. Mas,
Técnica estrutural da sentença criminal 423
por cinco resultou em cinco, com dois de resto que deve ser despreza-
do. Multiplicado o resultado cinco por dois, temos dez que, somados
aos vinte e sete resultam em trinta e sete dias/multa. Como o salário é
de R$134,00, dividindo-se esse por trinta tem-se o resultado de qua-
tro que multiplicamos por dois, por ser dois quintos. Trinta dias/mul-
ta corresponde a um salário portanto, calcularemos os sete dias res-
tantes dividindo-se cento e trinta e quatro por trinta, resultando em
quatro, com resto que deve ser desprezado. Multiplicado quatro por
sete resulta em vinte e oito que, somado com cento e trinta e quatro,
totaliza cento e sessenta e dois reais, que é a pena pecuniária final.
Técnica estrutural da sentença criminal 425
Página Nº 92
CERTIDÃO
Certifico que nesta data publiquei em cartório a R.
Sentença.
Em , 29 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
CERTIDÃO
Certifico que nesta data registrei a
R. Sentença sob Nº 246 fls. 159 , do
Livro nº 01
Em , 29 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Defensor
do réu da R . Sentença Dou fé.
Poloni, 29 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
426 Ismair Roberto Poloni
Página Nº 93
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Dr. Josué
Damasco Promotor de justiça da
R. Sentença de fls. Dou fé.
Poloni, 29 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
CERTIDÃO
Certifico que intimei o Réu Marcos
Lara da R. Sentença Dou fé.
Poloni, 29 de 08 de 1999
Paulo Lisboa
Escrivão
Técnica estrutural da sentença criminal 427
Comentário às Páginas Nº 92 a 93
ÍNDICE ALFABÉTICO
A
absolvição injustificada ................................................... 36, 163
absolvição sumária ................................................................ 154
absolvições anteriores ........................................................... 185
ações comportamentais............................................................ 77
acusador de exceção .............................................................. 101
adaptação do delinqüente ........................................................ 40
agravamento da pena ............................................................. 185
alegações finais .............................................................. 115, 117
ambiente forense...................................................................... 85
ameaça de prisão ..................................................................... 87
ameaça real .............................................................................. 87
análise enfrentada pelo juiz ..................................................... 58
antecedentes do réu ............................................... 184, 185, 187
antecipação das despesas ....................................................... 234
antropologia criminal ................................................................ 5
apelar em liberdade ............................................................... 144
aplicação analógica ................................................................. 52
- da lógica do razoável na sentença penal ............................... 51
- da pena pecuniária ............................................................... 225
- das circunstâncias atenuantes e agravantes ......................... 220
- de pena alternativa .............................................................. 166
- de pena não privativa de liberdade .............................. 239, 246
- do termo réu ........................................................................ 103
- subsidiária do Código Penal e Processo Penal .................... 238
aplicador da lei ...................................................................... 165
apreciação da proposta ministerial ........................................ 239
- da prova ........................................................................... 67, 71
- do valor da confissão............................................................. 92
- dos fatos e do direito ........................................................... 135
apuração das provas................................................................. 68
431
Técnica estrutural da sentença criminal 429
F
falhas do testemunho ............................................................... 82
fase investigatória ...................................................................113
fases para a fixação da pena de multa ................................... 232
fato descrito ............................................................................. 98
fato não constitui infração penal ........................................... 148
fenótipo .................................................................... 93, 157, 187
fim e a justificação da pena ............................................... 39, 40
fim social e destinação do bem comum ................................... 62
finalidade da pena .................................................................. 159
finalidade social-pedagógica da lei penal e da pena ... 31, 35, 45
fins sociais ............................................................................... 64
fixação da pena além de seu grau mínimo .............................211
- da pena base ........................................................................ 172
- da pena: o réu tecnicamente primário mas com maus
antecedentes ...........................................................................211
- das penas ............................................................................. 246
- das penas no juizado especial ............................................. 246
- das penas e o art. 59 CP ...................................................... 177
formação sociológica do direito penal .................................... 02
fórmula matemática ............................................................... 201
formulação das disposições penais .......................................... 60
fração a ser aumentada .......................................................... 176
função da pena ....................................................................... 160
- da pena nos tempos modernos............................................. 161
- de limite à interpretação teológica ........................................ 59
- do juiz criminal ..................................................................... 81
- do juiz na aplicação da pena ............................................... 165
- preventiva da lei penal .......................................................... 33
funções discricionárias .......................................................... 183
fundamentação............................................... 123, 127, 139, 245
fundamentação - incisos III e IV ........................................... 123
fundamentos da existência do Direito Penal ........................... 42
G
garantia do direito das partes e do interesse social ................. 71
genótipo ................................................................... 93, 157, 187
grau de cultura e desenvolvimento social................................ 07
graus de penas ......................................................................... 33
gravidade dos danos .............................................................. 193
H
harmônica integração social .................................................. 197
hierarquia de provas ................................................................ 70
Técnica estrutural da sentença criminal 435