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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

Tudo é secreto, alusivo ao caos.


Tudo deriva do signo manifestado…

Murilo Mendes

1. A obra de Machiavelli, a primeira vista, é de fácil absorção e dela pode-se tirar inúmeras
conclusões gerais e específicas sobre determinados temas políticos, como se faz no Brasil, mais
precisamente, nas universidades. Mas uma leitura apenas poderá evocar vários erros sobre a obra ou
a vida do florentino. Ao debruçar-se sucessivamente sobre o objeto, encontramos em Machiavelli
um verdadeiro enigma, e as muitas letras dedicadas a ele são enormes confusões, que por sua vez,
criaram, no mínimo, cinco Machiavellis diferentes: o imoral, o democrata-republicano, o cientista
político, o idealista e o embusteiro.1
2. O primeiro Machiavelli, o imoral. Consolidou-se a partir da primeira impressão da obra Il
Principe, publicada em 1532. Postumamente, o florentino fora odiado por muitos, desde os mais
maus dos italianos até o papa Paulo IV (1476 – 1559), que por sua vez, inseriu-o no Index Librorum
Prohibitorum2. Todavia, a categorização de Machiavelli como imoral não segue nenhum rigor
crítico, é apenas passional.
3. O segundo Machiavelli, o democrata-republicano. Popular após a publicação do De
Legacionibus de Alberico Gentili e defendida por vários filósofos modernos, como Spinoza e
Rousseau.3 Il Principe, neste caso, seria apenas um anti-modelo do governante. Entretanto, não é
1 CARVALHO, Olavo de. Imagens de Maquiavel. In: CARVALHO, Olavo de. Maquiavel, ou A Confusão
Demoníaca. Campinas: Vide Editorial, 2011. Cap. 2. p. 19-41
2 É mister conferir algumas versões do Index, tal como: 1664
(https://archive.org/details/case_wing_z1020_i39_1664), 1717 (https://archive.org/details/indexlibrorumpr01catgoog),
1744 (https://archive.org/details/indexlibrorumpr00catgoog) e 1948 (http://cvm.qc.ca/gconti/905/BABEL/Index
%20Librorum%20Prohibitorum-1948.htm).
No Brasil, devido a demolição do ensino de história, ocorrem erros históricos grotescos. Erros estes, diga-se de
passagem, que nenhum historiador sério cometeria, como é o caso do Index Librorum Prohibitorum. Ora, embora a
Igreja condenasse a leitura de determinados livros, as ideias, como o racionalismo, disseminaram-se e formaram o
chamado modernismo (vide: Quanta cura e Syllabus, de Pio IX; Pascendi Dominicis Gregis e Lamentabili Sane, de
S. Pio X. Disponível em: <http://www.papalencyclicals.net/>.). Quatro documentos básicos.
3 “Se nel Principe si trovano a mala pena sparse alcune poche massime tiranniche, esse sono esposte solo per
svelare ai popoli la crudeltà dei re, non certo per insegnare a questi ciò che essi han sempre fatto e sempre faranno.
Le Storie e i Discorsi. invece, spirano in ogni pagina grandezza d'animo, giustizia e libertà, né si possono leggere
senza sentirsi ardere da questi sentimenti. Pure il Machiavelli fu creduto un precettore di tirannide, di vizi e di viltà;
e così avvenne che la moderna Italia, in ogni servire maestra, non riconobbe il solo vero filosofo politico che ella
abbia avuto finora.” BONFANTINI, Mario. Niccolò Machiavelli: Opere – Introduzione. Disponível em:
<http://www.treccani.it/enciclopedia/niccolo-machiavelli-opere-introduzione_(I-Classici-Ricciardi:-Introduzioni)/>.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

possível determinar, historicamente, se Il Principe é, ou não, um manual dos tiranos, visto que não
há nenhum relato, do próprio Machiavelli, sobre a tese do anti-modelo.
4. O terceiro Machiavelli, o cientista político. Sem dúvidas uma das interpretações mais
recentes, século XX. Seus percussores foram Ernst Cassirer e Lawrence Arthur Burd, editor da obra
do florentino em língua inglesa. A tese do cientista político é bastante vendida nas universidades
brasileiras. Porém, ela também não possui nenhuma fundamentação, pois as análises e as propostas
de Machiavelli são totalmente errôneas e jamais saíram do papel, visto que a Itália não fora
unificada por um Príncipe, mas por uma série de acordos.4
5. O quarto Machiavelli, o idealista. O italiano Antonio Gramsci foi o percussor desta
corrente, visto que nos quaderni del carcere, o fundador do Partido Comunista Italiano propõe um
Moderno Príncipe e sepulta Il Principe de Machiavelli5.

Acesso em: 21 jun. 2018.


4 A Itália unificou-se apenas no século XIX, tendo que enfrentar, logo em seguida, uma disputa com a Igreja
Católica por causa dos antigos Estados Papais, a chamada Questão Romana. Em 1929, o governo italiano reconheceu o
Estado do Vaticano por meio do Tratado de Laterão.
Segundo as infatigáveis mentes acadêmicas, este tratado negociou o silêncio da Igreja Católica durante a Segunda
Guerra Mundial (Tese do Hitler's Pope, de John Cornwell). Porém, é sabido que o causador da Segunda Guerra foi
Hitler (isto em 1939, sendo que este assumira o cargo de chanceler apenas em 1933) e não Mussolini. Ora, teria
Mussolini planejado a guerra antes mesmo de Hitler chegar ao poder? São muitas coincidências. (…) Os próprios
factos mostram como a Itália permaneceu durante três séculos dividida e em grande parte escrava, apesar dos
expedientes sugeridos por Machiavelli. Por outro lado, a unidade política, sabe-se, veio a verificar-se mais tarde com
um outro programa moral, ensinado por pensadores e mártires do século XVIII e da primeira metade do século XIX.
(...) - VECCHIO, Giorgio del. Lições de Filosofia do Direito. 5. ed. Coimbra: Armênio Amado, 1979. trad. Antônio
José Brandão.
5 (…) O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma exemplificação histórica do "mito" soreliano,
isto é, de uma ideologia política que se apresenta não como fria utopia, nem como raciocínio doutrinário, mas como
uma criação da fantasia concreta que atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua
vontade coletiva. O caráter utópico do Príncipe consiste em que o Príncipe não existia na realidade histórica, não se
apresentava ao povom italiano com características de imediatismo objetivo, mas era uma pura abstração doutrinária, o
símbolo do chefe, do condottiero ideal; mas os elementos passionais, míticos, contidos em todo o livro, com ação
dramática de grande efeito, juntam-se e tornam-se reais na conclusão, na invocação de um príncipe “realmente
existente”. (…) - GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1989. 4 p. trad. Luiz Mário Gazzaneo.
No original:
(…) Il Principe del Machiavelli potrebbe essere studiato come una esemplificazione storica del “mito”
sorelliano, cioè di una ideologia politica che si presenta non come fredda utopia né come dottrinario raziocinio, ma
come una creazione di fantasia concreta che opera su un popolo disperso e polverizzato per suscitarne e
organizzarne la volontà collettiva. Il carattere utopistico del Principe è nel fatto che il «principe» non esisteva nella
realtà storica, non si presentava al popolo italiano con caratteri di immediatezza obbiettiva, ma era una pura
astrazione dottrinaria, il simbolo del capo, del condottiero ideale; ma gli elementi passionali, mitici, contenuti

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

6. E por fim, o quinto Machiavelli, o embusteiro. Na conclusão de Maquiavel, ou A Confusão


Demoníaca, o leitor é aprensentado ao paradoxo do mentiroso: será possível um mentiroso falar a
verdade? Se ele falar a verdade, não seria um mentiroso; mas se ele mentiu sobre falar a verdade,
então a “verdade” seria uma mentira.6 E sobre ele está fundamentado o Enigma Machiavelli.
7. Sem dúvidas Machiavelli é como a Esfinge de Tebas: decifra-me ou devoro-te. O francês
Raymond Aron (1905 – 1983) ao comparar o Machiavelli e Marx, seguiu a posição do italiano
Benedetto Croce e do americano Leo Strauss, fez a seguinte afirmação:
“Maquiavel ter-se-ia disfarçado de tanto se descobrir e só deixaria que seu segredo adivinhado
pelos decifradores de enigmas ou, mais exatamente, por aqueles que descobrem intuitivamente a
existência de enigmas, não captáveis pelos espíritos comuns...”
Sendo assim, a melhor maneira de averiguar o enigma do florentino seria analisar a sua vida
em particular, e dela tirar o que realmente era Machiavelli.

A VIDA DE MACHIAVELLI

Diferentemente da Matemática e da Lógica, sobretudo a Lógica dos Sinal, 7 a ciência


política exige um fato concreto e não somente um discurso. Ora, o que ocorre a um filósofo é sem
dúvidas mais real que as ideias por ele proferidas. E com Machiavelli não seria diferente. Ignorar
tais fatores seria uma prova amadorismo, uma preferencia pelo discurso, que por sinal, não é
próprio de uma ciência social.

1469

nell'intero volumetto, con mossa drammatica di grande effetto, si riassumono e diventano vivi nella conclusione,
nell'invocazione di un principe, «realmente esistente». (...) - GRAMSCI, Antonio. Note sul Machiavelli, sulla
politica e sullo Stato moderno. 3. ed. Roma : Editori riuniti, 1996. 2 p.
6 CARVALHO, Olavo de. O Paradoxo. In: CARVALHO, Olavo de. Op. Cit. Cap 11. p. 89-93.
7 “Conceitos, conteúdos, podem-nos ser dados de duplo modo: primeiro, de um modo
próprio, isto é, como aquilo que eles são; segundo, de um modo impróprio ou simbólico, isto é, pela
mediação de sinais (Zeichen), que são eles mesmos representados propriamente.”.
Original: Begriffe, Inhalte überhaupt, können uns in doppelter Weisegegeben sein: erstens in
eigentlicher Weise, nämlich als das, was sie sind; zweitens in uneigentlicher oder symbolischer
Weise, nämlich durch Vermittlung von Zeichen, welche selbst eigentlich vorgestellt sind. Hua
XII, Philosophie der Arithmetik, 6-12.

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Morre Pietro de' Mediei, sendo sucedido por


1469
seu filho, Lorenzo, o Magnífico.
Maquiavel inicia-se no estudo da matemática e
1476
do latim.
Por suas qualidades precoces, Maquiavel
1477 confiado à escola de Battista da Poppi, na
Igreja de San Benedetto.
Por ocasião da Congiura de' Pazzi, morre
1478
Giuliano de' Mediei, irmão de Lorenzo.
Maquiavel passa para a escola de um
conhecido latinista, Paolo da Ronciglione, com
1481 o qual estuda mais profundamente os autores
latinos (não há informações de que tenha
estudado grego).
O frade dominicano Girolamo Savonarola, j
ativo em Florença de 1482 a 1487, volta para a
1490
cidade e retoma suas pregações, provocando
amplas adesões populares.
Morre Lorenzo de' Mediei, sendo sucedido por
seu filho Piero (1471-1503). Com a morte de
1492
Inocêncio III, é eleito o papa Alexandre VI
Bórgia.
1494

8 (…) Nasceu em 1469; quando se tornou secretário, tinha 30; quando chegou ao fim a sua carreira política sob a
república, tinha 43. Um período muito importante de sua vida fora dedicado à experiência republicana. Durante o
ócio obrigatório em que começou a escrever O Príncipe em 1513, esse período não voltou ao nível do episódio que
de fato estava no desenvolvimento de Florença em direção à monarquia hereditária dos Medici; permaneceu a
motivação de suas reflexões políticas, dessa busca pelo típico na política de tal maneira que o domínio de regras de
ação se poderia tornar a base para o sucesso na direção desejada. Nesse ponto, entretanto, as características de gênio
e de circunstância biográfica não podem ser claramente separadas. (…) - VOEGELIN, Eric. §1. Circunstâncias
biográficas: Maquiavel e Guicciardini. In: VOEGELIN, Eric. História das Ideias Políticas: Renascença e Reforma.
São Paulo: É Realizações, 2014. Cap. 1. p. 38-41. Trad. Elpídio Mário Dantas Fonseca.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

É provável que seja deste ano ou dos anos


imediatamente posteriores a transcrição que
Maquiavel fez de próprio punho do De rerum
natura de Lucrécio10, encontrada pouco tempo
1495
antes num códice vaticano. O documento
revela uma visão materialista do mundo, oposta
ao espiritualismo de Savonarola, tão aceito na
época.
Maquiavel patrocina, em nome de "toda a
família dos Machiavegli, cives florentini", uma
causa de benefícios, relativa aos recebimentos
fiscais e ao proveito de vários direitos na região
1497 de Pieve di Fagna. Para obter uma sustentação
à causa, Maquiavel vai a Roma com uma
recomendação de Pietro Dolfin, geral dos
monges camaldolenses, para o cardeal
Todeschini Piccolomini, futuro papa Pio III.
1498 18 de fevereiro. Candidato à secretaria da
segunda chancelaria, que tratava dos negócios
internos e extraordinários, entre os quais os

9 (…) No que diz respeito à história das ideias políticas, o ano de 1494 seria talvez a melhor escolha para ter a
honra de ser o ano de abertura do período moderno. Foi o ano em que Carlos VIII da França seguiu o apelo de
Ludovico Sforza e começou a invasão da Itália. Nos finais do ano, Piero de Mediei foi expulso de Florença e a
cidade entrou no interlúdio republicano. Sob o regime republicano, Maquiavel foi secretário do senhorio, desde
1498 até a restauração dos Medici em 1512; e, sob Piero Soderini, que foi eleito gonfaloniere vitalício em 1 502,
teve ocasião de realizar os seus planos para uma milícia popular. O republicanismo desses anos foi uma questão
precária. A monarquia, de fato, representada pelos Medici tinha surgido no começo das lutas internas de Florença
como a forma politicamente estável de governo; o retorno ao republicanismo reabriu a luta das facções, agravada
pelo fato de que sessenta anos de regência dos Mediei tinham quebrado a continuidade de tradições institucionais. A
nova era se tornou um período de experimentação constitucional, consideravelmente aquecida pela atividade de
Savonarola. As instituições de Florença, que tinham crescido na luta de forças políticas contendoras, repentinamente
se tornaram um tópico para o debate constitucional doutrinário, ao passo que as próprias lutas até então tinham
fornecido o tópico para a narração histórica. O acidente histórico do interlúdio republicano criou o interesse numa
ocupação sistemática e teorética com a política que distingue Maquiavel de seus predecessores na historiografia
florentina. (…) - VOEGELIN, Eric. Op. Cit
10 É mister notar que o pensamento de Machiavelli conserva um pouco do caos epicúreo. Para mais informações
sobre o epicurismo: BRÉHIER, Émile. L’Épicurisme au IIIe siècle. In: BRÉHIER, Émile. Histoire de la
Philosophie: L’Antiquité et le Moyen âge. Paris: Librairie Félix Alcan, 1928. Cap. 3. p. 230-248. e CARVALHO,
Olavo de. Epicuro. In: CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições: De Epicuro à ressurreição de César: ensaio
sobre o Materialismo e a Religião Civil. 3. ed. Campinas: Vide Editorial, 2015. Cap. 2-5. p. 55-133.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

problemas da guerra, Maquiavel é derrotado


pelo candidato do partido de Savonarola.
9 de março. Maquiavel escreve uma carta a
Ricciardo Becchi, embaixador florentino em
Roma, denunciando a hipocrisia e a demagogia
de Savonarola.
23 de maio. Acusado de heresia e
excomungado, Savonarola é processado,
enforcado e queimado na Piazza della Signoria.
Segue-se uma profunda depuração do governo
republicano, e Maquiavel aproveita a ocasião
para voltar a propor sua candidatura
à segunda chancelaria da República.
19 de junho. Maquiavel é eleito secretário da
República, ou seja, chefe da segunda
chancelaria. A esse cargo acrescenta-se, em 14
de julho, o de secretário dos "Dieci di Balia",
magistratura que tinha a atribuição de
supervisionar as relações entre Florença e os
outros Estados. Nessas funções, Maquiavel
reunirá enorme quantidade de material
histórico e político, que constituirá o esquema
básico de todas as suas obras.
1499 Março. Enfrenta sua primeira missão junto a
Iacopo d'Appiano, senhor da cidade de
Piombino, para supervisionar a contratação das
tropas mercenárias.
Julho. É enviado junto a Caterina Riario
Sforza, condessa de Forli, para induzi-Ia a
participar da guerra contra Pisa. A expulsão da
família Mediei e o conturbado período que

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

culminou com a morte de Savonarola haviam


despertado as especificidades municipais de
muitas cidades sujeitas a Florença.
Entre os encargos de Maquiavel estava o de
levar a termo qualquer iniciativa que pudesse
pôr fim às lutas municipalistas.
Setembro-dezembro. Em Pisa, onde
acompanhava as operações das tropas
florentinas, Maquiavel envia à chancelaria um
curto relatório, Discorso fatto ai magistrato dei
Dieci sopra le cose di Pisa [Discurso feito ao
magistrado dos Dez a respeito dos fatos de
Pisa].111213
1500 Julho. Junto com Francesco della Casa,
Maquiavel é enviado à França para exprimir a
Luís XII o ressentimento da República
florentina depois do motim das tropas francesas
que, a serviço de Florença, assediavam a cidade
de Pisa. Maquiavel propõe aos franceses um
sistema de alianças capaz de “reduzir os
poderosos, agradar aos súditos, manter os
amigos e proteger-se dos companheiros, ou
seja, daqueles que querem ter igual
autoridade”. Esses conceitos, contidos num
relatório enviado a Florença, aparecem de
forma quase idêntica no Capítulo III de
príncipe, no qual se examinam os erros da
política italiana de Luís XII.14
11 Segundo a ordem aqui exposta, este seria o primeiro escrito publico de Machiavelli. É de suma importância
ressaltar o teor do discurso, que possui uma finalidade diferente do Il Principe. Disponível em: <
12 https://it.wikisource.org/wiki/Discorso_fatto_al_Magistrato_dei_Dieci_sopra_le_cose_di_Pisa
13 >.
14 (…) Isso depende de uma outra necessidade natural e ordinária, a qual faz com que o novo príncipe sempre

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Casa-se com Marietta di Luigí Corsini, que lhe


1501
dará seis filhos.
1502 Fevereiro. Encontra-se em Pistoia, dilacerada
por lutas entre facções. Surgem dois secos
lembretes de chancelaria, Ragguaglio delle
cosefatte dalla republica fiorentina per
quietare leparti di Pistoia e De rebus
pistoriensibus [Resumo das coisas feitas pela
república florentina para pacificar as partes de
Pistoia e Das coisas de Pistoia], que propõem
os temas mais importantes da ação política de
Maquiavel: impedir o fracionamento
municipalista do território florentino e
dificultar qualquer movimento unificador das
regiões centro-setentrionais da Itália. A
oposição a um grande Estado italiano está em
antítese com o que é afirmado mais tarde em
príncipe, mas sua ação a serviço de Florença
visava exclusivamente à segurança da
República.
Junho. César Bórgia, o duque Valentino,

precise ofender os novos súditos com seus soldados e com outras infinitas injúrias que se lançam sobre a recente
conquista; dessa forma, tens como inimigos todos aqueles que ofendeste com a ocupação daquele principado e não
podes manter como amigos os que te puseram ali, por não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham
imaginado, nem aplicar-lhes corretivos violentos uma vez que estás a eles obrigado; porque sempre, mesmo que
fortíssimo em exércitos, tem-se necessidade do apoio dos habitantes para penetrar numa província. Foi por essas
razões que Luís XII, rei de França, ocupou Milão rapidamente e logo depois o perdeu, para tanto bastando
inicialmente as forças de Ludovico, porque aquelas populações que lhe haviam aberto as portas, reconhecendo o
erro de seu pensar anterior e descrentes daquele bem-estar futuro que haviam imaginado, não mais podiam suportar
os dissabores ocasionados pelo novo príncipe. (…) - O Principe III, 2.
15 Em italiano: (...) Il che depende da un’altra necessità naturale et ordinaria, quale fa che sempre bisogni
offendere quellidi chi si diventa nuovo principe, e con gente d’arme, e con infinite altre iniurie che si tira dietro el
nuovo acquisto; in modo che tu hai inimici tutti quelli che hai offesi in occupare quello principato, e non ti puoi
mantenere amici quelli che vi ti hanno messo, per non li potere satisfare in quel modo che si erano presupposto e per
non potere tu usare contro di loro medicine forti, sendo loro obligato; perché sempre, ancora che uno sia fortissimo
in sulli eserciti, ha bisogno del favore de’ provinciali a intrare in una provincia. (...) - Il Principe, III.

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apodera-se do ducado de Urbino, atravessando


o território da República florentina como se
fosse dono de tudo; o bispo Soderini (irmão de
Pier Soderini, gonfaloneiro de Florença) vai até
Urbino a fim de averiguar as intenções de
Bórgia. Maquiavel o acompanha. O duque
Valentino provoca nele uma impressão
determinante para a imagem do futuro
protagonista de O príncipe. líder audacioso e
impiedoso, dotado de excepcionais qualidades
políticas e militares, friamente determinado a
criar para si um grande Estado. É uma
impressão tão forte que Maquiavel, em conflito
entre a admiração e os deveres de sua missão,
evita formular qualquer hipótese sobre a ação
futura de Bórgia. Pede a seu coadjutor na
chancelaria, Biagio Buonaccorsi, uma cópia
das Vidas de Plutarco para procurar ali um
termo de comparação com a inquietante figura
do duque. É o primeiro passo para o processo
de mitíficação do personagem que terá seu
ponto culminante no Capítulo VII de
príncipe, no qual a figura de Valentino adquire
um valor paradigmático.
Outubro. Os senhores da cidade da Romanha
formam uma coalizão contra o duque Valentino
(Dieta della Maggione), e Maquiavel é enviado
para Sinigália a fim de acompanhar os
movimentos de Bórgia. As cartas enviadas aos
Dez mostram a perspicácia com que Maquiavel
procura penetrar os propósitos do duque e seu

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ceticismo em relação à intenção de paz


atribuída a Bórgia.
1503 Janeiro. César Bórgia, depois de atrair em
emboscada, na cidade de Sinigália, os ex-
conspiradores da Maggione, mata-os sem
nenhuma piedade. Maquiavel presencia o fato
e, ao voltar de sua missão elabora a impassível
Descrizione del modo tenuto dal Duca
Valentino nello ammazzare Vitellozzo Vitelli,
Oliverotto da Ferrno, il signor Pagolo e il
duca de Gravina Orsini [Descrição da maneira
como o duque Valentino assassinou Vitellozzo
Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Pagolo e
o duque de Gravina Orsinil].
Junho. Encarregado por Pier Soderini de
organizar as forças militares para colocar um
fim à guerra contra Pisa e para dominar as
insurreições de Arezzo e Valdichiana,
Maquiavel resume seu pensamento em dois
relatórios: Parole da dirle sopra la provisione
del denaio e Del modo di tratare ipopoli della
Valdichiana ribellati [Palavras que quero dizer
lhe a respeito da provisão do dinheiro e Do
modo de tratar os povos rebelados de
Valdichianal]. No primeiro relatório destaca-se
o desenvolvimento: de um conceito que se
tornará fundamental em sua especulação
política: a necessidade da "força" (as armas) e,
ao mesmo tempo, da "prudência" (uma
inteligente estratégia política) para levar a bom
termo toda e qualquer ação de governo. No

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

segundo, há uma importante menção à teoria da


história como magistra vitae.
Agosto. Morre o papa Alexandre VI, pai do
duque Valentino, e, apenas dois meses mais
tarde (18 de outubro), seu sucessor, Pio Ill.
Janeiro. Maquiavel é enviado à França para
definir os termos da aliança com Luís XII.
Outono. Escreve o Decennale primo, uma
1504
crônica em versos dos acontecimentos italianos
entre 1494 (chegada de Carlos VIII na Itália) e
1504 (queda de César Bórgia).16
Maio-julho. Maquiavel completa duas missões
exploratórias (à procura de novas alianças) em
Mântua, junto aos Gonzaga, e em Siena, junto a
Pandolfo Petrucci.
12 de setembro. Os florentinos são derrotados
1505 sob as fortificações da cidade de Pisa devido à
defecção dos soldados da infantaria
mercenária. Pier Soderini decide então executar
os projetos tão longamente acalentados por
Maquiavel, criando uma milícia comunal
constituída pelos habitantes de Florença.
1506 Janeiro-março. Maquiavel dirige-se para a
região de Mugello e do Casentino para recrutar
novas milícias destinadas a substituir as
companhias de ventura.
Agosto-outubro. Segue como observador a
expedição de Júlio II contra Perúgia e Bolonha.
Dessa missão surgem os importantes Gbiribizzi
scripti in Perugia aI Soderino [Esboços

16 Não deixa de ser irônico que mesmo após o fracasso de Cesare Borgia, Machiavelli o utilize como exemplo
para o seu Il Principe.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

escritos em Perúgia a Soderinol, em que se


afirma a necessidade de se “ver nas coisas o
fim, e não os meios”: essa ideia – junto ao
conceito informativo dos Gbiribizzi, ou seja, de
que não existe uma política intrinsecamente
boa ou ruim, e sim útil ou danosa à segurança
do Estado – remete ao mais maduro
pensamento dos Capítulos XV-XVIII de
príncipe.
Dezembro. É criada em Florença a magistratura
dos "Nove della milizia" para organizar o
recrutamento dos cidadãos, e Maquiavel torna-
se seu secretário. Para esclarecer seu
pensamento a respeito da estrutura e do
funcionamento da nova milícia, escreve o
Discorso dell'ordinare 10 stato di Firenze alie
armi [Discurso sobre a ordenação do Estado de
Florença às armas], no qual propõe que o
recrutamento se dê exclusivamente nos
campos, para evitar que, armando-se os
habitantes da cidade, se favoreça um golpe de
Estado. Propõe, pela mesma razão, que os
oficiais sejam substituídos a cada ano.
1507 Dezembro. Maquiavel é enviado, em sinal de
apoio a Francesco Vettori, como observador na
região de Tirolo, junto a Maximiliano de
Habsburgo que, reivindicando
Trieste e Fiume, ocupadas pelos venezianos,
tencionava ir para a Itália confiando no apoio
do papa. Por sua vez, Júlio II estava
empenhado em organizar a coalizão de Estados

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

europeus contra Veneza (Liga de Carnbrai), que


se recusava a deixar alguns territórios do
Estado pontífício, O dever do chanceler é
negociar um tributo a ser oferecido ao
imperador para que seja assegurada a
integridade do domínio florentino.
Junho. De volta a Florença, escreve Rapporto
delle cose della Magna [Relatório das coisas da
Alemanha], condensado em 1509 no Discorso
sopra le cose dell'Alemagna e sopra
l'imperatore [Discurso a respeito das coisas da
Alemanha e do imperador] e remanejado em
1512 no Ritratto delle cose della Magna
1508
[Retrato das coisas da Alemanha].
10 de dezembro. É firmada a Liga de Cambrai.
Florença, que figura entre os signatários, obtém
forças suficientes para debelar a resistência de
Pisa. Como organizador das forças militares,
Maquiavel participa ativamente do
empreendimento.
1510 10 de março. Encontra em Piombino uma
delegação de Pisa que se apresenta para tratar
das condições da rendição.
14 de maio. Os venezianos são derrotados em
Agnadello pelas tropas da Liga de Cambrai.
Júlio II retoma a posse das cidades da
Romanha. Maquiavel percebe o perigo que o
expansionismo do Estado pontifício representa
para Florença: no Decennale secondo (escrito
em época indefinida entre 1509 e 1514), retrata
a ação política e militar do papa como uma
fúria funesta.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

Novembro. Maximiliano de Habsburgo


continua a guerra contra Veneza: Maquiavel,
que se dirigiu a Verona para efetuar o
pagamento combinado com o tesoureiro do
imperador, envia a Florença um relatório no
qual coloca em destaque o heroísmo dos
camponeses vênetos contra os alemães.
Fevereiro. Júlio II promove uma clamorosa
inversão de alianças, entrando em acordo com
os venezianos: disso resulta uma forte tensão
entre o Estado pontifício e a França.
Junho. O governo florentino encarrega
Maquiavel de servir de mediador entre o papa e
o rei da França.
De Blois, onde deve encontrar Luís XII,
Maquiavel envia a Florença uma série de cartas
que são um claro exemplo de sua fria lucidez
de julgamento e da tendência a introduzir a
1510 consideração pontuar dos fatos no âmbito de
uma concepção política mais geral. Nesse
relatório, Maquiavel convida o governo
florentino a assumir uma clara posição em
favor do papa ou de Luís XII, para não se
tornar vítima, em caso de guerra, do vencedor:
seu conselho, todavia, não é ouvido, e Soderini
persiste numa política de equilíbrio entre
França e papado.
Outubro. De volta a Florença, Maquiavel
escreve o Ritratto delle cose di Francia
[Retrato das coisas da França].
1511 Luís XII promove um concílio de cardeais
filofranceses, a ser celebrado em Pisa, com a

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

intenção de exigir a deposição do papa sob a


acusação de simonia. Final de agosto. Espalha-
se a notícia de que Júlio II está gravemente
doente, e Pier Soderini resolve apoiar os
cardeais filofranceses, confiando em sua
vitória. Inesperadamente, Júlio II se recupera, e
Maquiavel, mobilizado para desviar a ira do
papa, exprime uma dura opinião a respeito de
Soderini, acusando-o de ingênuo.
10 de setembro. Maquiavel é enviado a Milão e
à França para tentar impedir ou adiar a
convocação do concílio.23 de setembro. Júlio
II ameaça com a interdição a cidade de
Florença.
5 de outubro. O papa (com Veneza, Império e
Espanha) proclama a Liga Santa contra os
franceses.
Novembro. Maquiavel é enviado a Pisa para
induzir os cardeais cismáticos a transferir o
concílio para outra sede.
1512 11 de abril. Batalha de Ravenna: os franceses
vencem as tropas da Liga Santa, mas a chegada
de reforços inimigos neutraliza os efeitos da
vitória obrigando-os a deixar a planície padana
(norte da Itália). Florença fica à mercê do papa.
29 de Agosto. As milícias comunais, reunidas
por Maquiavel, são derrotadas pelas tropas
espanholas e pontifícias que conquistam e
saqueiam Prato.
16 de setembro. A derrota militar provoca a
demissão de Soderini, e Maquiavel procura

15
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

desenvolver um trabalho de pacificação urbana


enviando um apelo ao partido dos Medici
(Ricordo ai Pallescbi) para que não se exceda
em crueldade contra o gonfaloneiro derrotado.
16 de setembro. O governo republicano
desfeito e, com o apoio do papa, os Mediei
voltam para a cidade.Maquiavel não consegue
escapar ao expurgo da organização estatal.
7 de novembro. Dispensado de todos os seus
encargos, Maquiavel é condenado a pagar uma
fiança de 1.000 florins de ouro; além disso, por
doze meses se vê proibido de entrar no Palazzo
Vecchio.
1513 Fevereiro. Sob suspeita de participar de um
complô contra os Medic, Maquiavel é preso e
torturado. Reconhecido inocente e colocado em
liberdade, retira-se para Sant'Andrea in
Percussina, na vila conhecida como
L'Albergaccio.
Morre Júlio II. Seu sucessor é o cardeal
Giovanni de Medici, sob o nome de Leão X.
Ao deixar Florença, ficou em seu lugar o
sobrinho Lorenzo II (1492 – 1519), filho de
Piero.
10 de dezembro. Numa carta ao embaixador
florentino Francesco Vettori, Maquiavel
anuncia: "Escrevi um livreto, De principatibus
[O príncipe], no qual me aprofundo o mais que
posso nos argumentos do assunto acima,
investigando o que são os principados, de que
espécies são, como se conquistam, como se

16
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

mantêm, por que se perdem." A obra é dedicada


a Lorenzo II de Medici.
Setembro. Maquiavel apresenta O príncipe
1515 Lorenzo II de Medici, que o acolhe com
extrema frieza.
Confirmada mais uma vez sua exclusão de
qualquer posto político, Maquiavel dedica-se à
atividade literária e frequenta as reuniões de
um cenáculo de escritores e poetas nos jardins
1516 do palácio Rucellai (Orti Oricellari) em
Florença. Começa L'Asino, um poemeto
autobiográfico em terceto.
Outubro. Lorenzo II de Mediei é empossado no
ducado de Urbino.
Maquiavel conclui a obra Discorsi sopra Ia
prima deca di Tito Livio17 [Discursos sobre a
1517 primeira década de Tito Lívio, iniciada em
1513 e interrompida para a execução de
príncipe.
Janeiro-fevereiro. Escreve a Commedia di
Callimaco e di Lucrezia [A mandrágora] e a
novela Belfagor arcidiavolo (originariamente
intitulada Il demonio che prese moglie
1518
Interessa-se pelo problema de uma língua
nacional e escreve o Discorso o dialogo
intorno alla nostra língua [Discurso ou diálogo
a respeito de nossa língua].
1519 4 de maio. Morre Lorenzo II de Medici, e
Maquiavel volta à vida política. O cardeal
Giulio de' Medici, que o sucede no governo da
cidade, solicita – a pedido do papa, que tinha

17 A ideia central do Discorsi é a tese das Três Romas: a Roma de César, o Império de Carlos Magno e a Roma do
Príncipe.

17
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

grande influência sobre a vida florentina - a


opinião de Maquiavel sobre a futura ordem de
Florença. Maquiavel responde com um
relatório, Discursus jlorentinarum rerum post
mortem iunioris Laurentii Medices [Discurso
das coisas florentinas depois da morte do
jovem Lorenzo de Medici], no qual reafirma o
conceito da política como ciência autônoma,
enquanto a vida do Estado é vista como luta
“entre diferentes qualidades de homens que
estão em todas as cidades, ou seja,
proeminentes, medianos e últimos”.
Junho. Começa o tratado Dell'arte della guerra
[Aarte da guerra], que terminará um ano mais
tarde.
Julho. Maquiavel é enviado a Lucca para
tutelar os interesses de alguns mercadores
florentinos envolvidos numa grave falência.
Em Lucca, escreve a Vita di Castruccio
Castracani e, em seguida, resume a missão por
ele exercida em Lucca num curto Sommario
delle cose della città di Lucca [Sumário das
coisas da cidade de Luccal.
1520
Novembro. O Studio florentino (a
universidade) confia a Maquiavel a tarefa de
escrever a história de Florença. A obra, lstorie
fiorentine [História de Florença], o mantém
ocupado cinco anos, embora sua maior parte
tenha sido escrita em 1523-1524. Ela abrange o
período que vai até a morte de Lorenzo, o
Magnífico (1492).
1521 Maio. Maquiavel é enviado a Carpi para o

18
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

Capítulo dos frades menores para acompanhar


a eleição do geral e para solicitar a separação
dos conventos florentinos da Ordem. Numa
etapa da viagem, visita em Modena Francesco
Guicciardini, governador da cidade. De Carpi
envia-lhe divertidos relatórios epistolares a
respeito da "República dos Tamancos".
Verão. Ao ver frustradas suas tentativas de se
inserir definitivamente na vida política,
Maquiavel retira-se mais uma vez em suas
propriedades de Sant'Andrea. Enquanto isso,
sua reputação de literato e autor teatral
aumenta: A mandrágora obtém em toda parte
sucessos estrepitosos.
1° de dezembro. Morre Leão X, sucedendo-o
Adriano VI.
Com a morte de Adriano VI, Giulio de Medici
1523 é eleito papa, assumindo o nome de Clemente
VII.
O cardeal Ippolito de Medici, filho natural de
1525
Giuliano de Nemours, é senhor de Florença.
1525 Janeiro-fevereiro. Maquiavel escreve uma
segunda comédia, Clizia.
24 de fevereiro. Francisco I, rei da França, é
derrotado em Pavia pelas tropas imperiais de
Carlos V.
Fim de maio. Encontra-se em Roma para
oferecer a Clemente VII as Istorie fiorentine
Expõe ao papa um novo projeto de tropas
nacionais, mostrando a necessidade de
contrapor uma forte milícia italiana aos

18 Outra ironia: Machiavelli e um papa, que ele tanto escarnava.

19
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

exércitos estrangeiros acampados na planície


padana (norte da Itália). Três meses antes, em
24 de fevereiro, Francisco I, rei da França,
havia sido derrotado em Pavia pelas tropas
imperiais de Carlos V.
Agosto. De volta a Florença, Maquiavel obtém
a reabilitação completa de seus cargos
políticos. É enviado em missão a Veneza.
Liga de Cognac, contra Carlos V, que congrega
papa França, Veneza e Milão. Em abril-maio, o
papa, enviando o conde Pedro de Navarra para
inspecionar as fortificações florentinas, coloca
a seu lado Maquiavel. Após um primeiro
relatório sobre a situação das fortificações,
Maquiavel viaja para Roma onde recebe o
encargo de adotar todas as medida necessárias
para a segurança da cidade.
Junho. Maquiavel colabora em Florença para a
l526
constituição de um conselho de defesa, os
"Cinco procuradores das fortificações", dos
quais ele mesmo passa a fazer parte.
Verão. Nas proximidades de Milão, Maquiavel
acompanha as operações de guerra contra as
tropas imperiais. Por ordem de Guicciardini,
tenente-geral do exército pontiffcío, viaja para
Urbino para solicitar dos chefes da Liga anti-
imperial uma conduta bélica mais decidida e
firme contra Carlos V.
1527 Maio. Os Lanzichenecchi, a serviço de Carlos
V, Conquistam Roma e a submetem ao saque.
O papa vê-se obrigado a uma trégua que
reforça, em Florença, os opositores dos Mediei,

20
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

tradicionais aliados do pontífice. No dia 18,


uma sublevação popular destrona o governo
dos Mediei e restabelece a constituição
republicana. Maquiavel, na ocasião em
Civitavecchia, interpretações facciosas de
príncipe – então já amplamente conhecido – o
tornam alvo de profundas antipatias. "Os
ricos", testemunha Giovan Battista Busini nas
Lettere a Benedetto Varchi [Cartas a Benedetto
Varchi], “achavam que aquele seu Príncipe
fosse um documento que ensinava ao Duque
como tirar deles todas as riquezas, e os pobres
julgavam O príncipe um documento destinado
a ensinar aos ricos como tirar a liberdade dos
pobres; os chorões (os seguidores de
Savonarola) tinham Maquiavel como herético;
os bons o consideravam um desonesto; os
tristes o achavam mais triste ou mais valente do
que eles; assim, todos o odiavam.”
21 de junho. Despojado de todos os seus cargos
da nova República, morre pobre em Florença,
chorado apenas por poucos amigos do cenáculo
dos Orti Oricellari. No dia seguinte,
enterrado em Santa Croce.

QUEM ERA MACHIAVELLI

Sem dúvidas o enigma Machiavelli é indecifrável. Quando um autor possui uma consciência
clara da sua obra e, principalmente, da sua vida, seguindo o pressuposto de Dom Quijote de la
Marcha, yo sé quién soy19, dificilmente o que se escreve sobre ele será nebuloso.

19 Don Quijote de la Mancha I, V.

21
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

Ora, embora muitas páginas sobre Platão ou Aristóteles denotem falhas absurdas, não é
dificil recuperar a verdadeira filosofia destes. Um exemplo disso é a confusão feita pelo Sir Karl
Popper (1902 – 1994)20 sobre Platão em The Open Society and Its Enemies, que os verdadeiros
interpretes de Platão consideram um atraso sem tamanho para filosofia, tendo em vista que Popper
não oferece um conhecimento profundo da filosofia platônica.
Quanto a Machiavelli, como demonstrado no ponto 1.1, pode-se afirmar que não há uma
unidade consciente (do próprio Machiavelli). Já o ponto 1.2, prova que não há unidade dos escritos,
visto que Machiavelli elaborava tratados, livros históricos, poemas e até teatro, sobre temas
diversos, diferentemente de Thomas Hobbes, John Locke e Immanuel Kant.
Não se sabe quem foi Machiavelli. Sabe-se o que fez Machiavelli. Sendo assim, é mister
notar que mesmo sem unidade alguma, as ideias de Machiavelli sobreviveram no ocidente,
sobretudo duas delas, a Terceira Roma, a Roma do Príncipe, forte e unificada, sobretudo
materializada; e o Estado Secular, a política sem religião. Essas duas ideias dominam o imaginário
de um país sul-americano chamado Brasil.

SAGRADO OU PROFANO? A GÊNESE DO LAICISMO

Cá nesta Babilónia, donde mana


matéria a quanto mal o mundo cria;
cá onde o puro Amor não tem valia,
que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Sonetos - Luis Vaz de Camões

1. A História das religiões, sem duvidas, é tão antiga quanto a história da organização
política. Da Civilização do Rio Indo até a Europa Medieval: mais de 3000 anos de política unida a
religião. Convém, entretanto, uma pergunta: por que nos últimos séculos a maioria dos Estados se
desvinculou da Religião? O laicismo, que não faz uma clara distinção entre Sagrado e Profano,
muito menos entre conceitos próprios da religião comparada, como religião, pseudo-religião e anti-
Religião, tomou o ocidente e o oriente, o sentido político de ambos os termos.21

20 Popper é conhecido pela crítica ao método indutivo, sendo que ao invés da indução, propõe ele uma
falseabilidade. Só resta perguntar se é possível falsear o princípio da falseabilidade, obtido pelo método indutivo que
por ele fora criticado.
21 Não deixa de ser interessante notar a confusão entorno do Estado Laico. Segundo a definição
etimológica, a palavra laico (do grego λαϊκός, laïkós) significa “do povo”ou “não consagrado”.
Estado Laico seria, por assim dizer, o Estado sem qualquer concepção religiosa. Laicismo é,
portanto, o aparto entre o poder secular (governos, cultura e moral ) e o poder eclesiástico

22
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

2. O confronto entre poder secular e poder eclesiástico, pelo menos no sentido político,
iniciou-se com o Cristianismo e Império Romano, passando pela conversão do Imperador
Constantino até as disputas entre Igreja e Estado na Idade Média. 22 Sendo que depois de muitas
folhas escritas a tinta, Marsílio de Pádua tomou partido pelo Imperador e encerrou a Escolástica
23
Marsilio de Pádua é, basicamente, um Jean-Jacques Rousseau no Século XII. 24
3. Terminado o período de hegemonia intelectual do cristianismo, houve um
empreendimento para a consolidação dos Estados Nacionais e neste ponto podemos situar os
trabalhos de Machiavelli, ou pelo menos a letra do florentino. Historicamente, Il Principe não foi a
sua primeira obra, mas sem sombra de dúvidas fora a mais conhecida (vide: A VIDA DE

(religião). Normalmente, a distinção entre os dois poderes é feita em nome da democracia.


Georges Bernanos resumiu bem este sistema em Le chemin de la croix-des-ames: Il est peut-être
aussi inutile de prétendre opposer dans cette guerre les dictatures aux démocraties pacifistes...
22 “A aliança entre o Sacerdócio e o Império não pôde continuar. Não tardou que também entre eles surgissem o
ciúme e a rivalidade. Os Pontífices pretenderam então ter, como representantes directos de Deus, a plenitude do
poder, inclusive sobre a consciência dos príncipes em matérias temporais estes, por sua vez, pretenderam ser os
representantes de Deus na terra, com plena autonomia na esfera de tais coisas. Ambos se deram como os
continuadores e herdeiros da ideia universal de Roma. Daí as lutas entre os dois poderes durante a Idade-Média, cuja
história, por assim dizer em dois actos, é bem conhecida. Por um lado, a realeza foi tendendo a intervir, cada vez
mais absorventemente, na esfera das coisas eclesiásticas, tendendo para um cesaropapismo de estilo bisantino; por
outro, o Papa, como cabeça da Igreja, na sua luta pela libertação desta' em face do poder civil, não tardou, a partir de
Gregório VII (1073- 1085), em arrogar-se o direito de excomungar 'os reis e imperadores, anulando os deveres de
fidelidade dos súbditos para com eles, e desta forma em se arvorar, ele, em único juiz das condições de legitimidade
de todos os soberanos temporais. No primeiro dos dois actos dessa luta (sécs. X-XIIl) sai, como se sabe, vencedora a
Igreja na luta contra os Imperadores alemães das casas de Francónia e de Hohenstaufen; no segundo (a partir do
século XIV), a Igreja é então a grande vencida na luta com o Rei de França, Felipe IV, o Belo, e inicia·se para ela
um largo período de decadência que se estende até ao século XVI.”
23 Diz-se isso como figura de linguagem. Após Sto. Tomás de Aquino e Johannes Duns Scotus, a escolástica
sofreu um brutal declínio.
24 “Da obra de Marsílio de Pádua reside no facto de aí se encontrar já o delineamento da teoria do contrato
social, que já assomara nos escritos dos Sofistas e com maior relevo em Epicuro, mas que a partir deste momento
ocupará um lugar importante na história da Filosofia do Direito. Esta teoria dominará até fins do século XVIII,
concebida e posta de maneiras diversas por diferentes escritores, de modo a consentir as mais variadas conseqüências e
aplicações práticas. A todas dá unidade, no entanto, a hipótese fundamental de que o Estado tem por origem um
contrato. Discute-se acerca do valor do suposto pacto ou das suas cláusulas; mas não se põe em dúvida a existência do
mesmo (pelo menos, até ao fim do século XVIII).
A estrutura desta teoria pode resumidamente descrever-se assim: admite-se, pura e simplesmente, ter decorrido um
período da vida da humanidade antes do aparecimento do Estado; durante essa fase, os homens, abandonados a si
mesmos, viveram sem leis, sem governo, abandonados inteiramente às suas própria forças. Este Estado extra ou
prelegal é chamado status naturae, e é descrito muito diversamente: para alguns escritores este teria sido uma era de
paz e de beatitude, como um paraíso (relaciona-se com os vários mitos da Idade de Ouro, de Saturno, etc.... isto é,
como uma primeira idade feliz da humanidade); para outros, pelo contrário, teria sido um período infelicíssimo,
cheio de perigos, desconhecedor de qualquer freio para o egoísmo, de qualquer garantia e tutela da liberdade. Seja
como for, todosos autores, independentemente das suas diversas concepções, afirmam que em certo momento este
estado de natureza cessou, quer em consequência do pecado original que tirou ao homem aquela inocência e
beatitude primitivas, quer em resultado das paixões humanas e dos perigos e danos inerentes àquele estado. As
diversas doutrinas concordam, porém, em afirmar que o estado de natureza em um certo momento termina e os
homensconvencionam abandoná-lo para se unirem em sociedade. Passa-se assim do status naturae ao status
societatis, e esta passagem realiza-se por meio de um contrato, por força do qual os homens se obrigam a
respeitarem-se mutuamente e a conviverem pacificamente (pactum unionis). No mesmo acto ou em momento
posterior, a multidão que o pactum unionis transformara em Povo, submete-se a um governo por ela escolhido. Esse

23
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

MACHIAVELLI). Quanto a estrutura, esta obra é dividido em vinte e seis (26) capítulos de
conselhos e ensinamentos dados a Lourenço II de Medici escritos por volta de 1513.
É mister notar a recorrência dos temas abordados pelo florentino no decorrer da obra, os
capítulos I, VI e XXVI, por exemplo, podem ser usados como prova disso: o primeiro (I) trata-se
das formas de principados e de como dominá-los (aqui aparece, pela primeira vez, termos que
caracterizam a obra: principe, fortuna e virtù); sexto (VI) mostra os príncipes e seus feitos históricos
e último (XXVI) apresenta uma exortação a tomar a Itália das mãos dos bárbaros.

A. Estes domínios (os principados) assim obtidos estão acostumados, ou a viver submetidos a um
príncipe, ou a ser livres, sendo adquiridos com tropas de outrem ou com as próprias, bem como
pela fortuna ou por virtù.25

B. Para reportar-me àqueles que pela sua própria virtù e não pela sorte se tornarem príncipes, digo
que os maiores são Moisés, Ciro, Rômulo, Teseu e outros tais. Se bem que de Moisés não se deva
cogitar por ter sido ele mero executor daquilo que lhe era ordenado por Deus, contudo deve ser
admirado somente por aquela graça que o tornava digno de conversar com o Senhor. Mas
consideremos Ciro e os outros que conquistaram ou fundaram reinos: achareis a todos admiráveis.
26

C. E se, como já disse, para se conhecer a virtù de Moisés foi necessário que o povo de Israel
estivesse escravizado no Egito, para conhecer a grandeza do ânimo de Ciro, que os persas fossem
oprimidos pelos medas, e o valor de Teseu, que os atenienses estivessem dispersos, também no
presente, querendo conhecer a virtude de um espírito italiano, seria necessário que a Itália se
reduzisse ao ponto em que se encontra no momento, que ela fosse mais escravizada do que os
hebreus, mais oprimida do que os persas, mais desunida do que os atenienses, sem chefe, sem
ordem, batida, espoliada, lacerada, invadida, e tivesse suportado ruína de toda sorte.27

“Para conhecer a virtù de Moisés foi necessário que o povo de Israel estivesse escravizado”?
A afirmação de Machiavelli é totalmente errônea. Primeiro, homens como Abraão, Isaac, Israel,
Moisés e Muhammad estão em planos diferentes de homens como Ciro, César e Teseu. Isto nem
mesmo um neoateu pode negar. Profeta (grego: προφήτ-ης, prophátas) 28 é aquele que interpreta a

outro acto recebe também a forma de contrato — ou pactum subiectionis. Este pode, contudo, ser simultâneo ou
posterior ao pactum unionis.”
25 Sono questi dominii cosí acquistati, o consueti a vivere sotto uno principe, o usi ad essere liberi; et acquistonsi,
o con le armi d’altri o con le proprie, o per fortuna o per virtù. Il Principe, I - Quot sint genera principatuumt et
quibus modis acquirantur. Numeração minha.
26 Ma, per venire a quelli che per propria virtù e non per fortuna sono diventati principi, dico che li più eccellenti
sono Moisè, Ciro, Romulo, Teseo e simili. E benché di Moisè non si debba ragionare, sendo suto uno mero esecutore
delle cose che li erano ordinate da Dio, tamen debbe essere ammirato solum per quella grazia che lo faceva degno di
parlare con Dio. Ma consideriamo Ciro e li altri che hanno acquistato o fondato regni: li troverrete tutti mirabili; Il
Principe, VI - De principatibus novis qui armis propriis et virtute acquiruntur Numeração minha.
27 E se, come io dissi, era necessario, volendo vedere la virtù di Moisè, che il populo d’Isdrael fussi stiavo in
Egitto, et a conoscere la grandezza dello animo di Ciro, ch’e’ Persi fussino oppressati da’ Medi e la eccellenzia di
Teseo, che li Ateniensi fussino dispersi; cosí al presente, volendo conoscere la virtù d’uno spirito italiano, era
necessario che la Italia si riducessi nel termine che ell’è di presente, e che la fussi più stiava che li Ebrei, più serva
ch’e’ Persi, più dispersa che li Ateniensi, sanza capo, sanza ordine; battuta, spogliata, lacera, corsa, et avessi
sopportato d’ogn sorte ruina. Il Principe, XXVI - Exhortatio ad capessendam Italiam in libertatemque a barbaris
vindicandam. Numeração minha.
28 Disponível em:<http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.04.0057:entry=profh/ths>.

24
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

revelação e um condutor (do verbo latino dūco, guia ou condutor)29 da sociedade. Não encontramos
a virtù (para usar termos do próprio Machiavelli) de um profeta em homens que subiram ao poder
na base da trapaça (como o principe inspirado em Cesare Borgia, que por sinal, era um fracassado).
É mister que há uma inversão na ordem dos fatos quando Machiavelli afirma: “e se, come
io dissi, era necessario, volendo vedere la virtù di Moisè, che il populo d’Isdrael fussi stiavo in
Egitto”(C). Esta frase pode ser interpretada de duas maneiras: como uma figura de linguagem,
ironia; ou como um desconhecimento dos textos históricos. No primeiro caso, ocorreu que,
historicamente, Moisés fora escolhido para libertar os israelitas da escravidão e não ao contrário, ou
seja, Machiavelli estaria enganando o leitor, ou melhor, Lourenço II de Medici, fora o fato do
florentino haver expressado isso ao falar que Moisés agiu conforme o ordenado (B). 30 Machiavelli
não leu Machiavelli?
31
Já no segundo caso, o florentino teria cometido o terrível erro de jamais ter lido os textos
da Vulgata? Impossível, pois Machiavelli estudou latim em um colégio católico, Battista de Poppi.
O próprio Machiavelli deixa claro a redução da Igreja ao governo secular:

Nem se vê no presente em quem possa ela confiar a não ser na vossa ilustre casa, a qual, com a sua
fortuna e virtude, favorecida por Deus e pela Igreja, da qual é agora príncipe, poderá tornar-se
chefe desta redenção. Isso não será muito difícil, se procurardes seguir as ações e a vida dos acima
indicados. E, se bem aqueles homens sejam raros e maravilhosos, sem dúvida foram homens,
todos eles tiveram menor ocasião que a presente: porque os empreendimentos dos mesmos não
foram mais justos nem mais fáceis do que este, nem foi Deus mais amigo deles do que de vós. 32

Machiavelli tembém afirma que Moisés estava “armado”, diferentemente do Frei Girolamo
Savonarola que, para ele estava desarmado. Convém agora perguntar: quais armas estavam a
disposição de Moisés, visto que o autor reduz as qualidades divinas? Simples, a dominação. E neste
aspecto, Machiavelli assemelha-se aos epicuristas. Mas há uma diferença entre os epicuristas e
Machiavelli. Os primeiros protestavam individualmente, como uma seita, enquanto Il Principe do
florentino transformaria a religião em um arma para dominação social, e esta ideia é quase uma
constante na modernidade, das luzes (Aufklärung) ao Concílio Vaticano II.
4. Avançando na historia, é possível notar que as ideias de Machiavelli foram colocadas em
ação antes mesmo da sua morte com a Reforma Protestante. Lutero, que no começo atacou apenas a

29 Disponível em:<http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.04.0059:entry=duco>.
30 7O Senhor disse-lhe: Eu vi a aflição do meu povo no Egipto, ouvi o seu clamor causado pela crueza daquele que
têm a superintendência das obras. 8Conhecendo a sua dor, desceu para o livrar das mãos dos Egípcios e para o
conduzir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra onde corre o leite e o mel, nas regiões do
Cananeu, do Heteu, do Amorreu, do Ferezeu, do Heveu e do Jebuseu. 9O clamor, pois, dos filhos de Israel chegou
até mim, e eu vi a aflição com que são oprimidos pelos Egípcios. Ex 3, 7-9. Trad. Matos Suares.
31 Original: 7Cui ait Dominus : Vidi afflictionem populi mei in Ægypto, et clamorem ejus audivi propter duritiam
eorum qui præsunt operibus: 8et sciens dolorem ejus, descendi ut liberem eum de manibus Ægyptiorum, et educam
de terra illa in terram bonam, et spatiosam, in terram quæ fluit lacte et melle, ad loca Chananæi et Hethæi, et
Amorrhæi, et Pherezæi, et Hevæi, et Jebusæi. 9Clamor ergo filiorum Israël venit ad me : vidique afflictionem eorum,
qua ab Ægyptiis opprimuntur. Ex 3, 7-9. Vulgata Clementina
32 Né ci si vede, al presente in quale lei possa più sperare che nella illustre casa vostra, quale con la sua fortuna e
virtù, favorita da Dio e dalla Chiesia, della quale è ora principe, possa farsi capo di questa redenzione. Il che non fia
molto difficile, se vi recherete innanzi le azioni e vita dei soprannominati. E benché quelli uomini sien rari e
maravigliosi, non di manco furono uomini, et ebbe ciascuno di loro minore occasione che la presente: perché
l’impresa loro non fu più iusta di questa, né più facile, né fu a loro Dio più amico che a voi.

25
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

venda de indulgências, tornou-se um aliado da nobreza alemã. 33 Calvino quase instituiu uma
teocrasia em Genebra.34 A reforma inglesa com Henrique VIII seguiu os moldes das ideias de
Machiavelli. Mesmo com todas estas mudanças, a apologia do Estado secular não tomou as
proporções do século das Luzes.

Com a brutal separação entre res extensa e res cogitans, René Descartes (1596 - 1650)
inaugura a filosofia moderna, e desta separação surge o racionalismo, com o próprio Descartes,
Nicolas Malebranche (1638 - 1715), Baruch de Spinosa (1632 - 1677) e Gottfried Leibniz (1646 -
1716), este último, devido a influência escolástica, não foi tão radical quanto os outros; e o
empirismo, com John Locke (1632 - 1704), David Hume (1711 - 1776) e George Berkeley (1685 -
1753). 35 Dos dois pólos, razão e experiência, surgiram as “Luzes”. Jean-Jacques Rousseau (1712 -

33 Entre as práticas desse tipo, talvez a mais perigosa fosse a exploração de indulgências, que na verdade motivou
a tempestade de 1517. A prática de indulgências como tal era antiga na igreja. Servia como uma remissão da punição
temporal que é imposta pela autoridade da igreja como um sinal visível de contrição verdadeira. Tais remissões de
punições às vezes muito onerosas eram concedidas já no século VII; e a comutação em multas em dinheiro se
conformava frequentemente com as regras de Wergeld como remissão para punições de acordo com a lei romana. O
costume foi suplementado pela doutrina do thesaurus meritorum, primeiro desenvolvida por Alexandre de Hales no
século XIII, que é a doutrina de uma acumulação de expiação "supérflua" através de santos no "Tesouro da Igreja".
Até esse ponto, o sistema de indulgências não era mais do que uma concessão da igreja a um ambiente civilizacional
que dificilmente poderia ter sido cristianizado nas massas amplas, caso mantivesse os rigores de punição da igreja
inicial. O abuso começou com o equívoco popular em considerar as indulgências como uma remissão não apenas da
punição temporal, mas também da culpa; e em particular com o equívoco das indulgências plenárias como uma
remissão da culpa futura. Indulgências, especialmente quando provindas de Roma, podiam ser entendidas
popularmente como bilhetes de entrada para o Céu. Embora não se possa dizer que esse equívoco fosse encorajado
deliberadamente pelas autoridades eclesiásticas, certamente a igreja não tomou as medidas apropriadas para o
contra-atacar com eficácia pública, ou mesmo para investigar se havia o encorajamento de equívocos pelos
concessores de indulgências, os quais participavam dos lucros pecuniários da venda de tais indulgências. Do século
XIV ao XVI, a exploração abusiva do equívoco tinha crescido, fornando-se um escândalo de proporções europeias,
envolvendo grandes somas de dinheiro e interesses de autoridades.
34 Sobre Lutero e Calvino: Luther is flamboyant, vivid, impulsive, immensely-readable, frequently exaggerating
his true position or contradicting what he said elsewhere in order to put over a point forcefully. He wrote no one
compreh~nsive exposition of his theology, and his political teaching must be culled from "tracts for the times,"
theological treatises, commentaries, sermons, and even hymns. In spite of some glaring surface contradictions and
exaggerations, there is a profound underlying unity and coherence in his thought; his theology of politics is very
carefully worked out and -is, on the whole, consistent even if sometimes misleadingly articulated. Calvin is more
restrained, dry, lucid, and systematic in his writing. His Institutes of the Christian Religion. first written when he was
only twenty-five, but revised and expanded in successive editions up to 1559, is one of the greatest and most
influential works of systematic theology of all time. In its final form it is the definitive statement of his theology,
although much detail may be added from his voluminous sermons, lectures, commentaries, and correspondence.
Sobre o Governo de Calvino em Genebra: Sentimos vontade de poder sem consciência intelectual; e por trás das
Instituições de Calvino começa a desenhar-se o Calvino de Genebra - o Calvino que aplica sua disciplina pela
organização de espiões e informantes sobre pecadinhos; que invade as casas em busca de provas; que extorque
confissões falsas no ecúleo; que chantageia cidadãos, com ameaças de denúncias, para contribuírem
financeiramente; que envia com uni cações de pessoas como Servetus à Inquisição; que manda queimar Servetus
quando este procura asilo em Genebra; que emprega tribunais para assassínios legais baseados em acusações
inventadas; que torna Genebra uma cidade "limpa" pela matança ou exílio de quem quer que não vivesse de acordo
com as expectativas.
35 Apresentar a filosofia de cada um tornaria este capítulo muito extenso e fugiria do tema proposto. Para mais
informações, consultar: COPLESTON, Frederick. A History of Philosophie. New York: Doubleday, 1994. (A
History of Philosophie). Vol. 4,5,6,7; BRÉHIER, Émile. Histoire de la Philosophie: La philosophie moderne. Paris:
Librairie Félix Alcan, 1928; e MARÉCHAL, Joseph. Le Point Départ de la Métaphysique: Le Conflit du

26
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

1778), Denis Diderot (1713 -1784), François-Marie Arouet, Voltaire (1694 - 1778), Charles-Louis
de Secondat, barão de Montesquieu (1689 - 1755), Jean le Rond d'Alembert (1717 - 1783) e outros.
Uma caracteristica peculiar: a maioria deles eram anti-religiosos. 36 Depois das “luzes”, Immanuel
Kant (1724 - 1804) separou ainda mais o que Descartes havia feito, além de reduzir a metafísica à
moral. De Kant, surgiram os idealistas, Johann Gottlieb Fichte (1762 - 1814), a primeira filosofia de
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775 - 1854) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 -
1831), este último afirmou que a moral religiosa fora absorvida pelo Estado germânico; e os
positivistas, Auguste Comte (1798 - 1857), George Henry Lewes (1817 - 1878) e Thomas Huxley
(1825 - 1895). Contra os idealistas, sobretudo Hegel, ergueram-se os materialistas: Ludwig Andreas
Feuerbach (1804 - 1872), Karl Heinrich Marx (1818 - 1883) e Friederich Engels (1820 - 1895) e
demais marxistas. 37
Surgiram então os primeiros Estados seculares, sob forte influência das luzes: os EUA e a
França.
Em meados do século XX, o Concílio Vaticano II (1962 - 1965), convocado por João XXIII,
colocou a Igreja Católica dentro da “Era da Laicidade” por meio da constituição pastoral Gaudium
et Spes e da declaração Dignitatis humanae. 38
5. Depois desta exposição, a resposta para pergunta inicial é clara: o laicismo tornou-se
dominante entre a intelectualidade ocidental , e desta forma, seria quase impossível que ele não
influenciasse a política.

Rationalisme et de l’Empirisme dans la Philosophie moderne, avant Kant. 2. ed. Bruxelas: Charles Beyaert, 1923.
36 Há uma tese do historiador frances Jean Dumont, La Révolution Française ou Les Prodiges du Sacrilège,
provando que a Revolução na França foi um movimento anti-religioso.
37 Pode-se constatar novamente que o marxismo, em sua gênese, é um movimento anti-religioso, tendo em vista
que as primeiras críticas de Marx foram tecidas contra a cristianismo. Para mais informações: FRANCA, Leonel. A
Crise do Mundo Moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1955.
38 Gaudium et
Spes:http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html; Dignitais humanae:
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html.

27
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

O LAICISMO NO BRASIL

Ne lui prostituez pas non plus le mot de progrès.


Jamais un système n’a été plus fermé que celui-ci,
n’a offert moins de perspectives de transformations,
de changements, et les catastrophes qui s’y suc-
cèdent, avec une régularité monotone, n’ont
précisément ce caractère de gravité que parce
qu’elles s’y passent en vase clos. La France contre
les Robots - Georges Bernanos

1. Juridicamente, o Brasil tornou-se um Estado secular após a promulgação da constituição


de 1891, a primeira do período republicano:

Art. 11. E ’ vedado aos Estados, como á União:


1° Crear impostos de transito pelo território de um Estado, ou na passagem de um para
outro, sobre productos de outros Estados da República, ou estrangeiros, e bem
assim sobre os veículos, de terra e agua, que os transportarem;
2° Estabelecer, subvencionar, ou embaraçar o exercício de cultos religiosos;
3° Prescrever leis retroactivas.

Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no paiz a


inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança individual e á propriedade
nos termos seguintes:
§ 1° Ninguém póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa, senão em
virtude de lei.
§ 2° Todos são iguais perante a lei.
A República não admitte privilégios de nascimento, desconhece foros de nobreza, e
extingue as ordens honorificas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como
os títulos nobiliarchicos e de conselho.
§ 3° Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer publica e livremente o
seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as
disposições do direito commum.

Convém agora, demonstrar as influências sofridas deste a Terra de Santa Cruz até a
República Federativa do Brasil.

2. O ponto de partida para o laicismo foi dado ainda no período colonial. Trata-se da
expulsão dos jesuítas da península ibérica por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de
Pombal (1699 - 1782).39

39 (…) Com o ano de 56 começou o ministro o seu terramoto, continuação do anterior. Queria principiar
corrigindo os costumes; e por isso mandou abrir devassa contra os concubinatos públicos: os nobres seriam desterrados,
os plebeus teriam prisão. O pulso forte do ministro, abalando com energia os membros da sociedade, doria-a. Houve a
sombra de uma conspiração (junho) que Pombal castigou, prendendo, por suspeitos, frades e fidalgos, e prometendo
20000 cruzados ao delator. No fim de agosto foi degredado Diogo de Mendonça Corte Real, que ainda lhe fazia sombra.
Em setembro fundou-se a Companhia dos Vinhos, e em dezembro a junta do Comércio, instituições de que, por se
prenderem no sistema da edificação pombalina, falaremos em outro lugar.

28
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

3. A própria constituição de 1824, que definia o catolicismo romano como religião oficial,
dependia do aval do Imperador. Esta foi a chamada Questão Religiosa. 40

4. Esses dois aspectos históricos, as luzes em portugal e o descontentamento religioso,


formaram a República. O golpe de 1889 fora apoiado por fazendeiros, militares e religiosos. E a
constituição feita as pressas, uma parodia da carta magna dos Estados Unidos da América. As
federações não tinham grandes poderes e o presidente era o detentor de todos os poderes, chefe de
Estado e chefe do executivo.
O começo da república inaugurou uma era de sucessivas rupturas políticas: seis
constituições em pouco mais de cem anos, dois regimes ditatoriais e um período “democrático”
semelhante a um jogo de cartas marcadas.
O Porto rebelara-se contra a Companhia (janeiro, 57); em fevereiro foi aí a alçada, que em outubro enforcava 18
réus, mandava para as galés 26, e degredava 99.
Tais foram os prolegómenos das duas grandes catástrofes: a dos jesuítas e a da nobreza (…)
(…) Resta agora o outro baluarte da velha Sodoma: faltava-lhe extirpar pela raiz a manzanilha do jesuitismo – a cuja
sombra Portugal se definhara e se corrompera – para que a nova Salento do marquês de Pombal pudesse erguer-se,
soberana e forte, sobre as ruínas e os cadáveres.
O duelo começara logo em 57; e, a partir de então, o ministro encontra, ou convém-lhe encontrar, a roupeta jesuíta
em todos os episódios da resistência à sua tirania. Declarando-a cúmplice da revolta do Porto, expulsa do paço os
três confessores do rei à meia-noite, pondo-os, real e verdadeiramente, na rua (21 de setembro, 57). Este primeiro
ato indicava bem o resultado da luta, e o futuro vencedor. Perder o confessionário, que tinham tornado a mola real e
absoluta do poder, era para os jesuítas começar por perder tudo (…)
(…) Tão claramente vencida, a Companhia não abdicava, porém; e no fim de julho pedia humildemente ao Papa que
anulasse os éditos patriarcais, e avocasse a si o julgamento da pendência (…)
(…) Por fim, em setembro, os jesuítas são expulsos violenta e arbitrariamente, e confirmado o sequestro dos seus
bens. Roma protestou, e em junho de 60 foi expulso o núncio; em agosto intimada a saída de Portugal a todos os
súbditos dos Estados pontifícios. MARTINS, J. P. Oliveira. História de Portugal: Tomo II. 3. ed. Lisboa: Bertrand,
1882. p. 175-182.
40 (…) D. Vital e D. Antônio de Macedo Costa foram, no Brasil, os mais legítimos representantes das teses
ao catolicismo, encontraram expressão acabada no Pontificado de Pio IX. Formados ambos na Europa, regressaram ao
Brasil com o espírito inteiramente moldado pelas doutrinas ultramontanas, prontos a servir sempre a causa do
catolicismo, sem temor ou desfalecimento. Antes mesmo que se deflagrasse a chamada questão religiosa, D. Antônio de
Macedo Costa já encetara a sua luta contra os inimigos do catolicismo romano. Quando foi sagrado bispo, em 1 862, já
se havia posto na arena da luta, seja combatendo o protestantismo, seja defendendo e explicando Pio IX, “pontífice e
rei”. (…)
(…) O primeiro fato concreto que levaria à abertura Almeida Martins do conflito foi o tantas vezes narrado episódio
da D. vital e D. Macedo Costa que, inerentes suspensão do Padre Almeida Martins pelo Bispo do Rio de Janeiro, D.
Pedro Maria de Lacerda. Católico e maçom, o Padre Martins fora o orador oficial de uma festa comemorativa da
promulgação da lei de 28 de setembro, realizada no Grande Oriente do Lavradio, em homenagem ao Visconde de
Rio Branco, Presidente do Conselho e Grão-Mestre da Maçonaria brasileira. Ora, apesar do modus vivendi entre a
Maçonaria e a Igreja brasileira, havia todo um arsenal de documentos pontifícios a fulminar os “pedreiros livres”: a
Constituição In Eminenti, de Clemente XIII, de 29 de abril de 1738, a Constituição Providas, de Bento XIV, de 18 de
maio de 1751, a Constituição Ecclesiam a Jesu Christo, de Pio VII, de 13 de setembro de 1821, a Constituição Quo
Graviora, de Leão XII, de 13 de março de 1825, a encíclica Qui pluribus, de Pio IV, de 9 de novembro de 1846, e,
do mesmo pontífice, a alocução Quibus quantisque, de 20 de abril de 1849, a encíclica Noscitis et Nobiscum, de 8 de
dezembro do mesmo ano, a alocução Singulari quadam, de 9 de dezembro de 1854, a encíclica Quanto conficiamur
moerore, de 10 de agosto de 1863, e a Constituição Apostolicae Sedis, de 12 de outubro de 1869. Bastava, portanto,
a qualquer autoridade eclesiástica aplicar a doutrina: foi o que fez D. Lacerda, suspendendo de ordens o padre
maçom. (…)
(…) Efetivamente, aí afirmava D. Vital: “Para que tanto se obstinam os pedreiros livres em apelar para o beneplácito
imperial, quando este de modo algum pode livrá-los das gravíssimas censuras e penas cominadas contra a
Maçonaria? Sim, de nada lhes serve o placet pelas razões seguintes: 1°- Porque é doutrina condenada pela Igreja (...)
2° Porque as Bulas In Eminenti de Clemente XII e Providas de Bento XIV foram aceitas e publicadas em todo o

29
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

5. Após a proclamação da República, o Estado Brasileiro é normativamente secular. 41


6. Algumas questões pertinentes:
(A) O Cristo Redentor seria inconstitucional. “No início da década de 1920, o então
Consultor-Geral da República respondeu consulta a propósito de projeto referente à construção de
um monumento ao Cristo Redentor, no alto do Corcovado. Registra-se que houve, à época, alguma
dúvida sobre a constitucionalidade da iniciativa. O Consultor-Geral da República opinou pela
impossibilidade de se erguer o referido monumento, que significaria resistência ao Estado laico. O
Governo não ouviu a opinião do Consultor-Geral. O monumento foi erguido. E hoje é símbolo da
cidade do Rio de Janeiro. Segue o parecer.” 42 (B) Uniões poliafetivas, liberdade e Estado laico. O
Conselho Nacional de Justiça decidiu em 26 de junho de 2018 que Cartórios de Notas não devem
fazer escrituras de uniões poliafetivas. Fez isto porque tem crescido o número de pessoas que vivem
Reino de Portugal e suas colônias, no tempo em que o placet havia sido extinto. 3°- Porque ainda mesmo que fosse
admitido pela Igreja, de nada lhes valeria no caso vertente; porquanto os próprios defensores do beneplácito
reconhecem e confessam que a ação dele não atinge às censuras, por serem penas espirituais e eclesiásticas,
estabelecidas no intento de conter os fiéis e conservar os bons costumes.” (…)
(…) Parecer da Seção, assinado pelo Visconde do Bom Retiro, pelo Marquês de Sapucaí e pelo Visconde de Souza
Fianco, chega às seguintes conclusões: 1° - Que as bulas contra a Maçonaria, não tendo sido placitadas, não têm
aplicação no Brasil e, mesmo que alguma delas tivesse sido dispensada do placet, não podia produzir efeitos sobre
as sociedades maçónicas, que não são religiosas nem conspiram contra a religião, caracterizando-se, portanto, a
exorbitância de jurisdição praticada pelo bispo; 2° - Que o bispo invadiu as atribuições do poder temporal, já que a
constituição orgânica das Irmandades no Brasil cabe ao Poder Civil, não podendo o prelado ordenar à Irmandade
recorrente a expulsão de qualquer de seus membros; 3° - Que o bispo exorbitou ainda ao condenar a legitimidade da
doutrina do beneplácito e do recurso à Coroa; e 4° Que os fatos referidos, achando-se plenamente provados e
estando compreendidos nas disposições dos §§ 1° e 3° do art. 1 do Decreto n! 1.911, de 28 de março de 1857, é a
Seção de parecer que se dê provimento ao recurso interposto a fim de seguir seus termos ulteriores na forma do
citado decreto, se V. M. Imperial em sua lata sabedoria assim o julgar acertado. (…)
(…) o Estado e como a Igreja conservavam as posições doutrinárias sustentadas antes e durante a questão religiosa,
a solução real do conflito não era possível sem a separação entre os dois poderes. Toda a questão religiosa, no seu
momento dramático, provava somente uma tese: a de que o regime da religião privilegiada não correspondia à
realidade do país, urgindo promover-se a instituição da plena liberdade religiosa, introduzindo a neutralidade
confessional no seio do Estado. Nem o Estado, nem a Igreja, entretanto, desejavam que tal acontecesse; ambos
pugnavam pela religião oficial, discordando apenas na questão básica referente à prioridade do poder temporal ou do
poder espiritual. Para a Monarquia a afirmação da religião oficial estava ligada a seu próprio destino; afinal, era o
catolicismo que afirmava o direito divino da realeza e que o sustentava. Para o catolicismo lá estava, entre tantos
documentos, a formal condenação do Syllabus à separação entre a Igreja e o Estado (proposições 55, 77, 78 e 79).
Tudo estava a mostrar que os republicanos haviam chegado ao âmago da questão: em última instância, a emperrar as
instituições e a funcionar como fonte de conflitos insuperáveis, encontrava-se sempre o “sofisma do Império”. (…) -
HOLANDA, Sérgio Buarque de (Ed.). História Geral da Civilização Brasileira: O Brasil Monárquico - Queda e
Declínio do Império. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p. 392 - 423.
41 (…)Um breve resumo da normalividade da CF de 1891: Os políticos, durante os 40 anos da Constituição
de 24-2-1891, alimentavam firmemente o ânimo de não reformá-la e conseguiram isso pelo espaço de 35 anos.
Somente em 1910, Rui, que anos antes já se decepcionara com a obra de que foi coautor, desfraldou francamente a
bandeira do revisionismo, aliás tímido, expondo na plataforma da Campanha Civilista de 1910 alguns pontos que,
em sua opinião, deveriam ser emendados. Onze pontos lhe pareciam intocáveis: a) república; b) federação; c)
manutenção do território de cada Estado em 1910; d) igualdade de representações no Senado; e) liberdade religiosa
com separação entre Igreja e Estado; f) competência da justiça para julgar a inconstitucionalidade das leis; g)
vedação de impostos interestaduais; h) irretroatividade das leis; i) ilegibilidade dos Ministros e livre nomeação deles
pelo Presidente da República; j) autonomia dos Estados; k) intangibilidade da Declaração dos Direitos e Garantias
(arts. 72 a 78). Esse rol exclui o parlamentarismo, que, entretanto, é discutido pelo maior dos brasileiros nesse dia,
parecendo-lhe que esse sistema político não se conciliaria com a Federação.
Os pontos a alcançar seriam: 1°) unificação da legislação processual, desaparecendo a competência estadual para
isso; 2°) unificação da magistratura; 3°) definição dos “princípios constitucionais” a que deviam obedecer os
Estados; 4°) garantias efetivas à magistratura; 5°) competência da União para intervir nos conflitos econômicos e

30
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

suas relações amorosas com mais de duas pessoas ao mesmo tempo e na mesma casa. Lavrar tais
escrituras não se trata de ser contra ou a favor deste tipo de relação, mas respeitar a vontade de
quem quer viver assim. Tal proibição é um atentado à democracia, à liberdade e um retrocesso do
Estado laico. Já deveríamos ter aprendido com as histórias de exclusões feitas pelo Direito de
Família, que isto não é ético. E todas as expropriações de cidadanias no Direito de Família vieram
em nome da moral e dos bons costumes. Basta lembrarmos que até a Constituição da Republica de
1988 os filhos havidos fora do casamento eram todos ilegítimos. Eles existiam na vida real, mas não
podiam existir no mundo jurídico, portanto condenados à invisibilidade jurídica e social. Dizia-se
que era para proteger os casamentos, a moral e os bons costumes. De agora em diante, esses
contratos terão que ser feitos particularmente, e se quiser, registrado nos cartórios de títulos e
documentos, embora não seja necessário.43
(C) Estado deve tutelar direito à vida independentemente de questões religiosas.
Iniciado o julgamento do HC 268.459/SP, pelo Superior Tribunal de Justiça, os ministros Maria
Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior, da 6ª Turma, votaram no sentido da inexistência de
crime em relação aos pais que não autorizaram a transfusão de sangue para o filho por questões
religiosas, com superveniente evento morte; entendendo se tratar de figura atípica, uma vez que o
procedimento médico poderia ter sido realizado mesmo à revelia da família.44
7. O aparente progresso da democracia brasileira reduziu o debate das questões
verdadeiramente pertinentes sobre o laicismo. Como foi exposto do capítulo sobre a vida de
Machiavelli, a ciência política deve quebrar a casca de discurso e achar o seu fundamento na
realidade, e nenhum juiz, militante ou político é capaz de averiguar as conseqüências das ações por
eles tomadas no que diz respeitos às religiões.

A NOVA CIÊNCIA POLÍTICA DE MACHIAVELLI

… é um fingidor.
Finge tão
completamente

Autopsicografia - Fernando Pessoa

1. Diferentemente da filosofia política, não é possível falar de ciência política sem uma boa
delimitação do objeto a ser estudado por uma ciência, em particular, bem delimitada.
Historicalmete, Platão e Aristóteles foram os primeiros a fazerem tal façanha. Nos diálogos de
tributários entre os Estados; 6°) restrições ao estado de sítio; 7°) polícia dos empréstimos estrangeiros aos Estados e
Municípios; 8°) supressão do cargo de Vice-Presidente da República; 9°) supressão das “caudas orçamentárias”, isto
é, disposições legislativas estranhas à receita e à despesa; 10°) autorização do veto parcial. (…) BALEEIRO,
Aliomar. 1891. 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2012. (Coleção Constituições brasileiras). p. 38.
42 Cristo Redentor fere espírito da Constituição, diz parecer de 1921. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2015-mai-28/passado-limpo-cristo-redentor-fere-espirito-constituicao-parecer-1921.
43 Uniões poliafetivas, liberdade e Estado laico. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-jul-01/unioes-poliafetivas-liberdade-estado-laico.
44 Estado deve tutelar direito à vida independentemente de questões religiosas. Disponível
em:https://www.conjur.com.br/2014-ago-20/justica-comentada-estado-tutelar-direito-vida-
independentemente-questoes-religiosas.

31
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

Platão é possível notar que Sócrates sempre partia de uma experiência até um mito. 45 Aristóteles,
por sua vez, compilava tudo e fazia uma serie de observações. 46
Os grandes juristas romanos, como Marco Túlio Cícero também partiam da experiencia para
o discurso teorético, tendo em vista que a maior parte das obras de Cícero são oratórias. 47Da mesma
forma que o seu predecessor Cícero, Sto. Agostinho também parte da sua própria vida,
Confissiones, até chegar na sua obra maxima, De Civitate Dei.48 Os filósofos cristãos que
sucederam Sto. Agostinho não tiveram a mesma preocupação com a experiência, mas isso não quer
dizer que ela não existisse. As palavras de Sto. Tomás de Aquilo eram claras a qualquer um dos seus
pupilos.49
2. Contudo, com a entrada da modernidade, tal vinculo com a experiência desapareceu dos

45 Thirty-five dialogues and thirteen letters have come down to us as Platonic writings, not all of which are now
regarded as genuine. Some . scholars go so far as to doubt that any of the letters is genuine. In order not to encumber
our presentation with polemics, we shall disregard the letters altogether. We must then say that Plato never speaks to
us in his own name, for in his dialogues only his characters speak. Strictly, there is then no Platonic teaching; at
most there is the teaching of the men who are the chief characters in his dialogues. Why Plato proceeded in this
manner is not easy to say. Perhaps he was doubtful whether there can be a philosophic teaching proper. Perhaps he,
too, thought like his master Socrates that philosophy is in the last analysis knowledge of ignorance. Socrates is
indeed the chief character in most of the Platonic dialogues. One could say that Plato's dialogues as a whole are less
the presentation of a teaching than a monument to the life of Socrates to the core of his life: they all show how
Socrates engaged in his most important work, the awakening of his fellow men and the attempting to guide them
toward the good life which he himself was living. Still, Socrates is not always the chief character in Plato's
dialogues; in a few he does hardly more than listen while others speak, and in one dialogue (the Laws) he is not even
present. We mention these strange facts because they show how difficult it is to speak of Plato's teaching.
46 Of the vase number of works ascribed co Aristotle in antiquity, only a portion survives today. Following
the lead of his teacher, Aristotle apparently composed dialogues intended for a general audieru:e, many of chem on
political subjects; except for a few fragmentary citations, nothing remains of these. The surviving works are principally
treatises which are thought co have been prepared in connection with Aristotle's research and teaching activities.
Aristotle's political teaching is available to us primarily in the Politics and the Nicomachean Ethics. Two ocher treatises,
the Eudemian Ethics and the Magna Moralia, cover much of the same ground as the N icomachean Ethics, but are of
lesser interest; the relationship between these three works remains highly uncertain. Mention should also be made of the
Rhetoric, which contains a unique discussion of political psychology as well as important reflections on the relationship
between rhetoric and politics, and ·the Constitution of Athens, the only surviving example of a collection of
constitutional histories of Greek cities compiled by Aristotle and his pupils.
Aristotle's writings tend to be approached generally as straight-forward attempts to present a purely scientific or
theoretical account of their subject matter. Yet it is far from clear that the ethical and political treatises can be safely
viewed in this light. Aristotle indicates that there is a fundamental difference between "theoretical" sciences, which
are pursued for the sake of knowledge, and "practical" sciences, which are pursued principally for the sake of the
benefits deriving from them. Politics is for Aristotle the "practical" science par excellence. It is necessary at the
outset to understand the scope and intention of practical or political science as Aristotle conceives it, both for the
sake of a proper appreciation of the literary character of Aristotle's ethical and political writings and in order to grasp
the problematic role in Aristotle's thought of political philosophy as such.
47 Few of those who have sought to present a systematic account of the development of political philosophy have
attached great importance to Cicero's political thought. He has traditionally been regarded as one of that series of
less inspired and less inspiring Greek and Roman thinkers who followed in the wake of Plato and Aristotle.
Considered a dilettante rather than a serious student of philosophy, his thought has generally been judged eclectic
and felt to be characterized neither by any great consistency of doctrine nor depth of understanding. His specifically
political works, the Republic and the Laws, have been regarded as little more than ambitious attempts to justify the
ideals and practices of a moribund aristocratic order. His value to later students is thought to lie less in what he
himself has to say about the substantive questions of political philosophy than in the detailed account he gives of the
doctrines of the several schools of Greek philosophy active in his own day, and of the adaptation of those doctrines
to the radically different political and intellectual environment of Rome. His special talent is thought to have rested
in the skill with which he synthesized the diverse and often conflicting teachings of these schools, thus making them

32
Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

escritos filosóficos e políticos, sobretudo, após o nominalismo de Guilherme de Ockham. Neste


meio, surge um leigo que mudaria os rumos da ciência política. Trata-se de Niccolò Machiavelli.
Muito embora o florentino alegue que os escritos são baseadas em sua carreira política, como
secretário, não é possível constatar isso em obras com um projeto futuro, como Il Principe.
3. Alguns pontos interessantes:

A. “Portanto, um príncipe prudente deve proceder por uma terceira maneira, escolhendo em seu
Estado homens sábios e somente a eles deve dar a liberdade de falar-lhe a verdade daquilo que ele
pergunte e nada mais. Deve consultá-los sobre todos os assuntos e ouvir as suas opiniões; depois,
de liberar por si, a seu modo, e, com estes conselhos e com cada um deles, portar-se de forma que
todos compreendam que quanto mais livremente falarem, tanto mais facilmente serão aceitas suas
opiniões. Fora aqueles, não querer ouvir ninguém, seguir a deliberação adotada e ser obstinado nas
suas decisões. Quem procede por outra forma, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda
freqüentemente de opinião pela variedade dos pareceres; daí resulta a sua desestima.”50

B. A um príncipe, portanto, não é essencial possuir todas as qualidades acima mencionadas, mas é
bem necessário parecer possuí-las.51

4. Quanto ao tópico A, será que o modelo de príncipe proposto por Machiavelli deverá ser
available in a form congenial to the Roman taste and aqequate to satisfy the demands of the practical Roman mind.
48 St. Augustine is the first author to deal more or less comprehensively with the subject of civil society in the
light of the new situation created by the emergence of revealed religion and its encounter with philosophy in the
Greco-Roman world. As a Roman he inherited and restated for his own time the political philosophy inaugurated by
Plato and adapted to the Latin world by Cicero, and as a Christian he modified that philosophy to suit the
requirements of the faith. He thus appears if not as the originator at least as the foremost exponent in ancient times
of a new tradition of political thought characterized by its attempt to fuse or reconcile elements derived from two
originally independent and hitherto unrelated sources, the Bible and classical philosophy. Augustine writes first and
foremost as a theologian and not as a philosopher. He rarely refers to himself as a philosopher and he never
undertook a methodical treatment of political phenomena in the light of reason and experience alone. His highest
principles are drawn not from reason but from Sacred Scripture, whose authority he never questions and which he
regards as the final source of truth concerning man in general and political man in particular. However, to the extent
to which the choice of his position rests on a prior consideration of the most important alternative to that position, it
presupposes an understanding of political philosophy or of political things as they appear to unaided human reason.
49 Thomas Aquinas occupies a unique position in the history of political thought as the most illustrious of all
Christian Aristotelians. His literary career coincides roughly with the full impact and in some instances with the
initial recovery of Aristotle's works in the Western world. Both the Politics and the complete text of the Ethics in
particular were first translated into Latin during his own lifetime. Through his detailed commentaries on virtually all
of Aristotle's major treatises and the all tensive use that he makes of Aristotelian materials in his theological works,
Aquinas did more than anyone else to establish Aristotle as the leading philosophical authority in the Christian West.
His own political philosophy is best understood as a modification of Aristotle’s political philosophy in the light of
Christian revelation or more precisely as an attempt to integrate Aristotle with an earlier tradition of Western
political thought representea by the Church Fathers and their medieval followers and compounded for the most part
of elements taken from the Bible, Platonic-Stoic philosophy, and Roman law.
50 Per tanto uno principe prudente debbe tenere uno terzo modo, eleggendo nel suo stato uomini
savi, e solo a quelli debbe dare libero arbitrio a parlarli la verità, e di quelle cose sole che lui
domanda,
e non d’altro; ma debbe domandarli d’ogni cosa, e le opinioni loro udire; di poi deliberare da sé, a suo modo; e con
questi consigli e con ciascuno di loro portarsi in modo, che ognuno cognosca che quanto più liberamente si parlerà,
tanto più li fia accetto: fuora di quelli, non volere udire alcuno, andare drieto alla cosa deliberata, et essere ostinato
nelle deliberazioni sua. Chi fa altrimenti, o e’ precipita per li adulatori, o si muta spesso per la variazione de’ pareri:
di che ne nasce la poca estimazione sua. Il Principe, XXIII - Quomodo adulatores sint fugiendi.
51 A uno principe, adunque, non è necessario avere in fatto tutte le soprascritte qualità, ma è bene necessario
parere di averle. Il Principe, XVIII - Quomodo fides a principibus sit servanda.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

alterado a esmo, a ponto de não unificar a Itália? Como demonstrado no capítulo Os vários
Machiavellis, a Italia unificou-se tardiamente e sem nenhum dos conselhos propostos pelo
florentino. Ora, pode-se tirar duas conclusões disso: Il Principe era um mito, como afirma Gramsci,
e se o fosse, o caráter de realista e cientista político de Machiavelli seria uma farsa; ou o florentino
entregou um manual de mentiras ou sátiras ao jovem Lourenço de Medici.
Mas uma objeção é necessária: Machiavelli acreditava no Príncipe e rapidamente ele
unificaria a Itália, e isso vale para as conclusões tiradas anteriormente.
5. Quando ao tópico B, se o conselho for seguido a risca, como o analista político saberá que
o príncipe possui virtù? Simplesmente não é possível. Não há como Machiavelli ter observado isso
em algum outro príncipe ou até mesmo no seu modelo de príncipe.
6. A exposição das influências de Machiavelli no ocidente foram realçadas no capítulo Os
vários Machiavellis e em Sagrado ou Profano? A gênese do laicismo, com uma exceção: Voltaire e
Frederico II da Prússia, expoentes das luzes, escreveram contra o florentino.

O PRÍNCIPE TUPINIQUIM

1. Há, no Brasil, uma prática de analisar a política a partir das ideais e não da experiência
concreta.
2. Alguns detalhes importantes:
(A) PDT e Partido Comunista da China debatem candidatura de Ciro e fortalecem
parceria. O PDT e Partido Comunista da China (PCCh) promoveram nesse sábado (8), no Rio de
Janeiro, uma reunião para debater a crise econômica e política do Brasil, a importância da
candidatura de Ciro Gomes, em 2018, além da integração das instituições com foco no
desenvolvimento social.
Liderado pelo secretário-geral do PDT, Manoel Dias, e pelo secretário do Secretariado do
Comitê Central do partido chinês, Du Qinglin, o encontro ratificou o alerta para a instabilidade
gerada pelo governo do presidente Michel Temer e o consequente impacto negativo gerado no
cenário macroeconômico.
Ao reafirmar a importância da candidatura de Ciro Gomes a presidente da República, Dias
confirmou a necessidade de defesa da soberania e das riquezas nacionais, que são fundamentais,
segundo ele, para garantir a retomada do crescimento e da independência do país. 52
Pouco tempo depois, o referido candidato negou qualquer influência estrangeira.

52 Disponível em: http://www.pdt.org.br/index.php/pdt-e-partido-comunista-da-china-


fortalecem-parceria-e-discutem-candidatura-de-ciro/.

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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente

(B) O PSDB vai se aproximar da extrema-direita? Tucanos ora criticam, ora flertam com
a extrema direita, e chegam até a participar ativamente de manifestações que pedem o impeachment
de Dilma e o golpe militar.53
‘Centro-direita não tem a ver com PSDB’, diz FHC. Direita, esquerda, centro, socialistas
ou neoliberais “são apenas rótulos, coisas externas à vida real dos partidos”, e não faz sentido pedir
que uma sigla vá para a “centro-direita” ou para a “centro-esquerda”. Essa é a resposta do ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso à avaliação feita pela acadêmica norte-americana Frances
Hagopian, em entrevista ao Estado, segundo a qual o PSDB “devia assumir-se como partido de
centro-direita”. 54
3. A idealização da política tornou-se comum no Brasil, sobretudo, após a reestruturação da
“democracia” brasileira.

53 Disponível em:https://www.cartacapital.com.br/politica/o-psdb-vai-se-aliar-com-a-extrema-
direita-9523.html.
54 Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,centro-direita-nao-tem-a-ver-
com-psdb-diz-fhc,781717

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