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Murilo Mendes
1. A obra de Machiavelli, a primeira vista, é de fácil absorção e dela pode-se tirar inúmeras
conclusões gerais e específicas sobre determinados temas políticos, como se faz no Brasil, mais
precisamente, nas universidades. Mas uma leitura apenas poderá evocar vários erros sobre a obra ou
a vida do florentino. Ao debruçar-se sucessivamente sobre o objeto, encontramos em Machiavelli
um verdadeiro enigma, e as muitas letras dedicadas a ele são enormes confusões, que por sua vez,
criaram, no mínimo, cinco Machiavellis diferentes: o imoral, o democrata-republicano, o cientista
político, o idealista e o embusteiro.1
2. O primeiro Machiavelli, o imoral. Consolidou-se a partir da primeira impressão da obra Il
Principe, publicada em 1532. Postumamente, o florentino fora odiado por muitos, desde os mais
maus dos italianos até o papa Paulo IV (1476 – 1559), que por sua vez, inseriu-o no Index Librorum
Prohibitorum2. Todavia, a categorização de Machiavelli como imoral não segue nenhum rigor
crítico, é apenas passional.
3. O segundo Machiavelli, o democrata-republicano. Popular após a publicação do De
Legacionibus de Alberico Gentili e defendida por vários filósofos modernos, como Spinoza e
Rousseau.3 Il Principe, neste caso, seria apenas um anti-modelo do governante. Entretanto, não é
1 CARVALHO, Olavo de. Imagens de Maquiavel. In: CARVALHO, Olavo de. Maquiavel, ou A Confusão
Demoníaca. Campinas: Vide Editorial, 2011. Cap. 2. p. 19-41
2 É mister conferir algumas versões do Index, tal como: 1664
(https://archive.org/details/case_wing_z1020_i39_1664), 1717 (https://archive.org/details/indexlibrorumpr01catgoog),
1744 (https://archive.org/details/indexlibrorumpr00catgoog) e 1948 (http://cvm.qc.ca/gconti/905/BABEL/Index
%20Librorum%20Prohibitorum-1948.htm).
No Brasil, devido a demolição do ensino de história, ocorrem erros históricos grotescos. Erros estes, diga-se de
passagem, que nenhum historiador sério cometeria, como é o caso do Index Librorum Prohibitorum. Ora, embora a
Igreja condenasse a leitura de determinados livros, as ideias, como o racionalismo, disseminaram-se e formaram o
chamado modernismo (vide: Quanta cura e Syllabus, de Pio IX; Pascendi Dominicis Gregis e Lamentabili Sane, de
S. Pio X. Disponível em: <http://www.papalencyclicals.net/>.). Quatro documentos básicos.
3 “Se nel Principe si trovano a mala pena sparse alcune poche massime tiranniche, esse sono esposte solo per
svelare ai popoli la crudeltà dei re, non certo per insegnare a questi ciò che essi han sempre fatto e sempre faranno.
Le Storie e i Discorsi. invece, spirano in ogni pagina grandezza d'animo, giustizia e libertà, né si possono leggere
senza sentirsi ardere da questi sentimenti. Pure il Machiavelli fu creduto un precettore di tirannide, di vizi e di viltà;
e così avvenne che la moderna Italia, in ogni servire maestra, non riconobbe il solo vero filosofo politico che ella
abbia avuto finora.” BONFANTINI, Mario. Niccolò Machiavelli: Opere – Introduzione. Disponível em:
<http://www.treccani.it/enciclopedia/niccolo-machiavelli-opere-introduzione_(I-Classici-Ricciardi:-Introduzioni)/>.
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possível determinar, historicamente, se Il Principe é, ou não, um manual dos tiranos, visto que não
há nenhum relato, do próprio Machiavelli, sobre a tese do anti-modelo.
4. O terceiro Machiavelli, o cientista político. Sem dúvidas uma das interpretações mais
recentes, século XX. Seus percussores foram Ernst Cassirer e Lawrence Arthur Burd, editor da obra
do florentino em língua inglesa. A tese do cientista político é bastante vendida nas universidades
brasileiras. Porém, ela também não possui nenhuma fundamentação, pois as análises e as propostas
de Machiavelli são totalmente errôneas e jamais saíram do papel, visto que a Itália não fora
unificada por um Príncipe, mas por uma série de acordos.4
5. O quarto Machiavelli, o idealista. O italiano Antonio Gramsci foi o percussor desta
corrente, visto que nos quaderni del carcere, o fundador do Partido Comunista Italiano propõe um
Moderno Príncipe e sepulta Il Principe de Machiavelli5.
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A VIDA DE MACHIAVELLI
1469
nell'intero volumetto, con mossa drammatica di grande effetto, si riassumono e diventano vivi nella conclusione,
nell'invocazione di un principe, «realmente esistente». (...) - GRAMSCI, Antonio. Note sul Machiavelli, sulla
politica e sullo Stato moderno. 3. ed. Roma : Editori riuniti, 1996. 2 p.
6 CARVALHO, Olavo de. O Paradoxo. In: CARVALHO, Olavo de. Op. Cit. Cap 11. p. 89-93.
7 “Conceitos, conteúdos, podem-nos ser dados de duplo modo: primeiro, de um modo
próprio, isto é, como aquilo que eles são; segundo, de um modo impróprio ou simbólico, isto é, pela
mediação de sinais (Zeichen), que são eles mesmos representados propriamente.”.
Original: Begriffe, Inhalte überhaupt, können uns in doppelter Weisegegeben sein: erstens in
eigentlicher Weise, nämlich als das, was sie sind; zweitens in uneigentlicher oder symbolischer
Weise, nämlich durch Vermittlung von Zeichen, welche selbst eigentlich vorgestellt sind. Hua
XII, Philosophie der Arithmetik, 6-12.
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8 (…) Nasceu em 1469; quando se tornou secretário, tinha 30; quando chegou ao fim a sua carreira política sob a
república, tinha 43. Um período muito importante de sua vida fora dedicado à experiência republicana. Durante o
ócio obrigatório em que começou a escrever O Príncipe em 1513, esse período não voltou ao nível do episódio que
de fato estava no desenvolvimento de Florença em direção à monarquia hereditária dos Medici; permaneceu a
motivação de suas reflexões políticas, dessa busca pelo típico na política de tal maneira que o domínio de regras de
ação se poderia tornar a base para o sucesso na direção desejada. Nesse ponto, entretanto, as características de gênio
e de circunstância biográfica não podem ser claramente separadas. (…) - VOEGELIN, Eric. §1. Circunstâncias
biográficas: Maquiavel e Guicciardini. In: VOEGELIN, Eric. História das Ideias Políticas: Renascença e Reforma.
São Paulo: É Realizações, 2014. Cap. 1. p. 38-41. Trad. Elpídio Mário Dantas Fonseca.
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9 (…) No que diz respeito à história das ideias políticas, o ano de 1494 seria talvez a melhor escolha para ter a
honra de ser o ano de abertura do período moderno. Foi o ano em que Carlos VIII da França seguiu o apelo de
Ludovico Sforza e começou a invasão da Itália. Nos finais do ano, Piero de Mediei foi expulso de Florença e a
cidade entrou no interlúdio republicano. Sob o regime republicano, Maquiavel foi secretário do senhorio, desde
1498 até a restauração dos Medici em 1512; e, sob Piero Soderini, que foi eleito gonfaloniere vitalício em 1 502,
teve ocasião de realizar os seus planos para uma milícia popular. O republicanismo desses anos foi uma questão
precária. A monarquia, de fato, representada pelos Medici tinha surgido no começo das lutas internas de Florença
como a forma politicamente estável de governo; o retorno ao republicanismo reabriu a luta das facções, agravada
pelo fato de que sessenta anos de regência dos Mediei tinham quebrado a continuidade de tradições institucionais. A
nova era se tornou um período de experimentação constitucional, consideravelmente aquecida pela atividade de
Savonarola. As instituições de Florença, que tinham crescido na luta de forças políticas contendoras, repentinamente
se tornaram um tópico para o debate constitucional doutrinário, ao passo que as próprias lutas até então tinham
fornecido o tópico para a narração histórica. O acidente histórico do interlúdio republicano criou o interesse numa
ocupação sistemática e teorética com a política que distingue Maquiavel de seus predecessores na historiografia
florentina. (…) - VOEGELIN, Eric. Op. Cit
10 É mister notar que o pensamento de Machiavelli conserva um pouco do caos epicúreo. Para mais informações
sobre o epicurismo: BRÉHIER, Émile. L’Épicurisme au IIIe siècle. In: BRÉHIER, Émile. Histoire de la
Philosophie: L’Antiquité et le Moyen âge. Paris: Librairie Félix Alcan, 1928. Cap. 3. p. 230-248. e CARVALHO,
Olavo de. Epicuro. In: CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições: De Epicuro à ressurreição de César: ensaio
sobre o Materialismo e a Religião Civil. 3. ed. Campinas: Vide Editorial, 2015. Cap. 2-5. p. 55-133.
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precise ofender os novos súditos com seus soldados e com outras infinitas injúrias que se lançam sobre a recente
conquista; dessa forma, tens como inimigos todos aqueles que ofendeste com a ocupação daquele principado e não
podes manter como amigos os que te puseram ali, por não poderes satisfazê-los pela forma por que tinham
imaginado, nem aplicar-lhes corretivos violentos uma vez que estás a eles obrigado; porque sempre, mesmo que
fortíssimo em exércitos, tem-se necessidade do apoio dos habitantes para penetrar numa província. Foi por essas
razões que Luís XII, rei de França, ocupou Milão rapidamente e logo depois o perdeu, para tanto bastando
inicialmente as forças de Ludovico, porque aquelas populações que lhe haviam aberto as portas, reconhecendo o
erro de seu pensar anterior e descrentes daquele bem-estar futuro que haviam imaginado, não mais podiam suportar
os dissabores ocasionados pelo novo príncipe. (…) - O Principe III, 2.
15 Em italiano: (...) Il che depende da un’altra necessità naturale et ordinaria, quale fa che sempre bisogni
offendere quellidi chi si diventa nuovo principe, e con gente d’arme, e con infinite altre iniurie che si tira dietro el
nuovo acquisto; in modo che tu hai inimici tutti quelli che hai offesi in occupare quello principato, e non ti puoi
mantenere amici quelli che vi ti hanno messo, per non li potere satisfare in quel modo che si erano presupposto e per
non potere tu usare contro di loro medicine forti, sendo loro obligato; perché sempre, ancora che uno sia fortissimo
in sulli eserciti, ha bisogno del favore de’ provinciali a intrare in una provincia. (...) - Il Principe, III.
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16 Não deixa de ser irônico que mesmo após o fracasso de Cesare Borgia, Machiavelli o utilize como exemplo
para o seu Il Principe.
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17 A ideia central do Discorsi é a tese das Três Romas: a Roma de César, o Império de Carlos Magno e a Roma do
Príncipe.
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Sem dúvidas o enigma Machiavelli é indecifrável. Quando um autor possui uma consciência
clara da sua obra e, principalmente, da sua vida, seguindo o pressuposto de Dom Quijote de la
Marcha, yo sé quién soy19, dificilmente o que se escreve sobre ele será nebuloso.
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Ora, embora muitas páginas sobre Platão ou Aristóteles denotem falhas absurdas, não é
dificil recuperar a verdadeira filosofia destes. Um exemplo disso é a confusão feita pelo Sir Karl
Popper (1902 – 1994)20 sobre Platão em The Open Society and Its Enemies, que os verdadeiros
interpretes de Platão consideram um atraso sem tamanho para filosofia, tendo em vista que Popper
não oferece um conhecimento profundo da filosofia platônica.
Quanto a Machiavelli, como demonstrado no ponto 1.1, pode-se afirmar que não há uma
unidade consciente (do próprio Machiavelli). Já o ponto 1.2, prova que não há unidade dos escritos,
visto que Machiavelli elaborava tratados, livros históricos, poemas e até teatro, sobre temas
diversos, diferentemente de Thomas Hobbes, John Locke e Immanuel Kant.
Não se sabe quem foi Machiavelli. Sabe-se o que fez Machiavelli. Sendo assim, é mister
notar que mesmo sem unidade alguma, as ideias de Machiavelli sobreviveram no ocidente,
sobretudo duas delas, a Terceira Roma, a Roma do Príncipe, forte e unificada, sobretudo
materializada; e o Estado Secular, a política sem religião. Essas duas ideias dominam o imaginário
de um país sul-americano chamado Brasil.
1. A História das religiões, sem duvidas, é tão antiga quanto a história da organização
política. Da Civilização do Rio Indo até a Europa Medieval: mais de 3000 anos de política unida a
religião. Convém, entretanto, uma pergunta: por que nos últimos séculos a maioria dos Estados se
desvinculou da Religião? O laicismo, que não faz uma clara distinção entre Sagrado e Profano,
muito menos entre conceitos próprios da religião comparada, como religião, pseudo-religião e anti-
Religião, tomou o ocidente e o oriente, o sentido político de ambos os termos.21
20 Popper é conhecido pela crítica ao método indutivo, sendo que ao invés da indução, propõe ele uma
falseabilidade. Só resta perguntar se é possível falsear o princípio da falseabilidade, obtido pelo método indutivo que
por ele fora criticado.
21 Não deixa de ser interessante notar a confusão entorno do Estado Laico. Segundo a definição
etimológica, a palavra laico (do grego λαϊκός, laïkós) significa “do povo”ou “não consagrado”.
Estado Laico seria, por assim dizer, o Estado sem qualquer concepção religiosa. Laicismo é,
portanto, o aparto entre o poder secular (governos, cultura e moral ) e o poder eclesiástico
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2. O confronto entre poder secular e poder eclesiástico, pelo menos no sentido político,
iniciou-se com o Cristianismo e Império Romano, passando pela conversão do Imperador
Constantino até as disputas entre Igreja e Estado na Idade Média. 22 Sendo que depois de muitas
folhas escritas a tinta, Marsílio de Pádua tomou partido pelo Imperador e encerrou a Escolástica
23
Marsilio de Pádua é, basicamente, um Jean-Jacques Rousseau no Século XII. 24
3. Terminado o período de hegemonia intelectual do cristianismo, houve um
empreendimento para a consolidação dos Estados Nacionais e neste ponto podemos situar os
trabalhos de Machiavelli, ou pelo menos a letra do florentino. Historicamente, Il Principe não foi a
sua primeira obra, mas sem sombra de dúvidas fora a mais conhecida (vide: A VIDA DE
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MACHIAVELLI). Quanto a estrutura, esta obra é dividido em vinte e seis (26) capítulos de
conselhos e ensinamentos dados a Lourenço II de Medici escritos por volta de 1513.
É mister notar a recorrência dos temas abordados pelo florentino no decorrer da obra, os
capítulos I, VI e XXVI, por exemplo, podem ser usados como prova disso: o primeiro (I) trata-se
das formas de principados e de como dominá-los (aqui aparece, pela primeira vez, termos que
caracterizam a obra: principe, fortuna e virtù); sexto (VI) mostra os príncipes e seus feitos históricos
e último (XXVI) apresenta uma exortação a tomar a Itália das mãos dos bárbaros.
A. Estes domínios (os principados) assim obtidos estão acostumados, ou a viver submetidos a um
príncipe, ou a ser livres, sendo adquiridos com tropas de outrem ou com as próprias, bem como
pela fortuna ou por virtù.25
B. Para reportar-me àqueles que pela sua própria virtù e não pela sorte se tornarem príncipes, digo
que os maiores são Moisés, Ciro, Rômulo, Teseu e outros tais. Se bem que de Moisés não se deva
cogitar por ter sido ele mero executor daquilo que lhe era ordenado por Deus, contudo deve ser
admirado somente por aquela graça que o tornava digno de conversar com o Senhor. Mas
consideremos Ciro e os outros que conquistaram ou fundaram reinos: achareis a todos admiráveis.
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C. E se, como já disse, para se conhecer a virtù de Moisés foi necessário que o povo de Israel
estivesse escravizado no Egito, para conhecer a grandeza do ânimo de Ciro, que os persas fossem
oprimidos pelos medas, e o valor de Teseu, que os atenienses estivessem dispersos, também no
presente, querendo conhecer a virtude de um espírito italiano, seria necessário que a Itália se
reduzisse ao ponto em que se encontra no momento, que ela fosse mais escravizada do que os
hebreus, mais oprimida do que os persas, mais desunida do que os atenienses, sem chefe, sem
ordem, batida, espoliada, lacerada, invadida, e tivesse suportado ruína de toda sorte.27
“Para conhecer a virtù de Moisés foi necessário que o povo de Israel estivesse escravizado”?
A afirmação de Machiavelli é totalmente errônea. Primeiro, homens como Abraão, Isaac, Israel,
Moisés e Muhammad estão em planos diferentes de homens como Ciro, César e Teseu. Isto nem
mesmo um neoateu pode negar. Profeta (grego: προφήτ-ης, prophátas) 28 é aquele que interpreta a
outro acto recebe também a forma de contrato — ou pactum subiectionis. Este pode, contudo, ser simultâneo ou
posterior ao pactum unionis.”
25 Sono questi dominii cosí acquistati, o consueti a vivere sotto uno principe, o usi ad essere liberi; et acquistonsi,
o con le armi d’altri o con le proprie, o per fortuna o per virtù. Il Principe, I - Quot sint genera principatuumt et
quibus modis acquirantur. Numeração minha.
26 Ma, per venire a quelli che per propria virtù e non per fortuna sono diventati principi, dico che li più eccellenti
sono Moisè, Ciro, Romulo, Teseo e simili. E benché di Moisè non si debba ragionare, sendo suto uno mero esecutore
delle cose che li erano ordinate da Dio, tamen debbe essere ammirato solum per quella grazia che lo faceva degno di
parlare con Dio. Ma consideriamo Ciro e li altri che hanno acquistato o fondato regni: li troverrete tutti mirabili; Il
Principe, VI - De principatibus novis qui armis propriis et virtute acquiruntur Numeração minha.
27 E se, come io dissi, era necessario, volendo vedere la virtù di Moisè, che il populo d’Isdrael fussi stiavo in
Egitto, et a conoscere la grandezza dello animo di Ciro, ch’e’ Persi fussino oppressati da’ Medi e la eccellenzia di
Teseo, che li Ateniensi fussino dispersi; cosí al presente, volendo conoscere la virtù d’uno spirito italiano, era
necessario che la Italia si riducessi nel termine che ell’è di presente, e che la fussi più stiava che li Ebrei, più serva
ch’e’ Persi, più dispersa che li Ateniensi, sanza capo, sanza ordine; battuta, spogliata, lacera, corsa, et avessi
sopportato d’ogn sorte ruina. Il Principe, XXVI - Exhortatio ad capessendam Italiam in libertatemque a barbaris
vindicandam. Numeração minha.
28 Disponível em:<http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.04.0057:entry=profh/ths>.
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revelação e um condutor (do verbo latino dūco, guia ou condutor)29 da sociedade. Não encontramos
a virtù (para usar termos do próprio Machiavelli) de um profeta em homens que subiram ao poder
na base da trapaça (como o principe inspirado em Cesare Borgia, que por sinal, era um fracassado).
É mister que há uma inversão na ordem dos fatos quando Machiavelli afirma: “e se, come
io dissi, era necessario, volendo vedere la virtù di Moisè, che il populo d’Isdrael fussi stiavo in
Egitto”(C). Esta frase pode ser interpretada de duas maneiras: como uma figura de linguagem,
ironia; ou como um desconhecimento dos textos históricos. No primeiro caso, ocorreu que,
historicamente, Moisés fora escolhido para libertar os israelitas da escravidão e não ao contrário, ou
seja, Machiavelli estaria enganando o leitor, ou melhor, Lourenço II de Medici, fora o fato do
florentino haver expressado isso ao falar que Moisés agiu conforme o ordenado (B). 30 Machiavelli
não leu Machiavelli?
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Já no segundo caso, o florentino teria cometido o terrível erro de jamais ter lido os textos
da Vulgata? Impossível, pois Machiavelli estudou latim em um colégio católico, Battista de Poppi.
O próprio Machiavelli deixa claro a redução da Igreja ao governo secular:
Nem se vê no presente em quem possa ela confiar a não ser na vossa ilustre casa, a qual, com a sua
fortuna e virtude, favorecida por Deus e pela Igreja, da qual é agora príncipe, poderá tornar-se
chefe desta redenção. Isso não será muito difícil, se procurardes seguir as ações e a vida dos acima
indicados. E, se bem aqueles homens sejam raros e maravilhosos, sem dúvida foram homens,
todos eles tiveram menor ocasião que a presente: porque os empreendimentos dos mesmos não
foram mais justos nem mais fáceis do que este, nem foi Deus mais amigo deles do que de vós. 32
Machiavelli tembém afirma que Moisés estava “armado”, diferentemente do Frei Girolamo
Savonarola que, para ele estava desarmado. Convém agora perguntar: quais armas estavam a
disposição de Moisés, visto que o autor reduz as qualidades divinas? Simples, a dominação. E neste
aspecto, Machiavelli assemelha-se aos epicuristas. Mas há uma diferença entre os epicuristas e
Machiavelli. Os primeiros protestavam individualmente, como uma seita, enquanto Il Principe do
florentino transformaria a religião em um arma para dominação social, e esta ideia é quase uma
constante na modernidade, das luzes (Aufklärung) ao Concílio Vaticano II.
4. Avançando na historia, é possível notar que as ideias de Machiavelli foram colocadas em
ação antes mesmo da sua morte com a Reforma Protestante. Lutero, que no começo atacou apenas a
29 Disponível em:<http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?
doc=Perseus:text:1999.04.0059:entry=duco>.
30 7O Senhor disse-lhe: Eu vi a aflição do meu povo no Egipto, ouvi o seu clamor causado pela crueza daquele que
têm a superintendência das obras. 8Conhecendo a sua dor, desceu para o livrar das mãos dos Egípcios e para o
conduzir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra onde corre o leite e o mel, nas regiões do
Cananeu, do Heteu, do Amorreu, do Ferezeu, do Heveu e do Jebuseu. 9O clamor, pois, dos filhos de Israel chegou
até mim, e eu vi a aflição com que são oprimidos pelos Egípcios. Ex 3, 7-9. Trad. Matos Suares.
31 Original: 7Cui ait Dominus : Vidi afflictionem populi mei in Ægypto, et clamorem ejus audivi propter duritiam
eorum qui præsunt operibus: 8et sciens dolorem ejus, descendi ut liberem eum de manibus Ægyptiorum, et educam
de terra illa in terram bonam, et spatiosam, in terram quæ fluit lacte et melle, ad loca Chananæi et Hethæi, et
Amorrhæi, et Pherezæi, et Hevæi, et Jebusæi. 9Clamor ergo filiorum Israël venit ad me : vidique afflictionem eorum,
qua ab Ægyptiis opprimuntur. Ex 3, 7-9. Vulgata Clementina
32 Né ci si vede, al presente in quale lei possa più sperare che nella illustre casa vostra, quale con la sua fortuna e
virtù, favorita da Dio e dalla Chiesia, della quale è ora principe, possa farsi capo di questa redenzione. Il che non fia
molto difficile, se vi recherete innanzi le azioni e vita dei soprannominati. E benché quelli uomini sien rari e
maravigliosi, non di manco furono uomini, et ebbe ciascuno di loro minore occasione che la presente: perché
l’impresa loro non fu più iusta di questa, né più facile, né fu a loro Dio più amico che a voi.
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venda de indulgências, tornou-se um aliado da nobreza alemã. 33 Calvino quase instituiu uma
teocrasia em Genebra.34 A reforma inglesa com Henrique VIII seguiu os moldes das ideias de
Machiavelli. Mesmo com todas estas mudanças, a apologia do Estado secular não tomou as
proporções do século das Luzes.
Com a brutal separação entre res extensa e res cogitans, René Descartes (1596 - 1650)
inaugura a filosofia moderna, e desta separação surge o racionalismo, com o próprio Descartes,
Nicolas Malebranche (1638 - 1715), Baruch de Spinosa (1632 - 1677) e Gottfried Leibniz (1646 -
1716), este último, devido a influência escolástica, não foi tão radical quanto os outros; e o
empirismo, com John Locke (1632 - 1704), David Hume (1711 - 1776) e George Berkeley (1685 -
1753). 35 Dos dois pólos, razão e experiência, surgiram as “Luzes”. Jean-Jacques Rousseau (1712 -
33 Entre as práticas desse tipo, talvez a mais perigosa fosse a exploração de indulgências, que na verdade motivou
a tempestade de 1517. A prática de indulgências como tal era antiga na igreja. Servia como uma remissão da punição
temporal que é imposta pela autoridade da igreja como um sinal visível de contrição verdadeira. Tais remissões de
punições às vezes muito onerosas eram concedidas já no século VII; e a comutação em multas em dinheiro se
conformava frequentemente com as regras de Wergeld como remissão para punições de acordo com a lei romana. O
costume foi suplementado pela doutrina do thesaurus meritorum, primeiro desenvolvida por Alexandre de Hales no
século XIII, que é a doutrina de uma acumulação de expiação "supérflua" através de santos no "Tesouro da Igreja".
Até esse ponto, o sistema de indulgências não era mais do que uma concessão da igreja a um ambiente civilizacional
que dificilmente poderia ter sido cristianizado nas massas amplas, caso mantivesse os rigores de punição da igreja
inicial. O abuso começou com o equívoco popular em considerar as indulgências como uma remissão não apenas da
punição temporal, mas também da culpa; e em particular com o equívoco das indulgências plenárias como uma
remissão da culpa futura. Indulgências, especialmente quando provindas de Roma, podiam ser entendidas
popularmente como bilhetes de entrada para o Céu. Embora não se possa dizer que esse equívoco fosse encorajado
deliberadamente pelas autoridades eclesiásticas, certamente a igreja não tomou as medidas apropriadas para o
contra-atacar com eficácia pública, ou mesmo para investigar se havia o encorajamento de equívocos pelos
concessores de indulgências, os quais participavam dos lucros pecuniários da venda de tais indulgências. Do século
XIV ao XVI, a exploração abusiva do equívoco tinha crescido, fornando-se um escândalo de proporções europeias,
envolvendo grandes somas de dinheiro e interesses de autoridades.
34 Sobre Lutero e Calvino: Luther is flamboyant, vivid, impulsive, immensely-readable, frequently exaggerating
his true position or contradicting what he said elsewhere in order to put over a point forcefully. He wrote no one
compreh~nsive exposition of his theology, and his political teaching must be culled from "tracts for the times,"
theological treatises, commentaries, sermons, and even hymns. In spite of some glaring surface contradictions and
exaggerations, there is a profound underlying unity and coherence in his thought; his theology of politics is very
carefully worked out and -is, on the whole, consistent even if sometimes misleadingly articulated. Calvin is more
restrained, dry, lucid, and systematic in his writing. His Institutes of the Christian Religion. first written when he was
only twenty-five, but revised and expanded in successive editions up to 1559, is one of the greatest and most
influential works of systematic theology of all time. In its final form it is the definitive statement of his theology,
although much detail may be added from his voluminous sermons, lectures, commentaries, and correspondence.
Sobre o Governo de Calvino em Genebra: Sentimos vontade de poder sem consciência intelectual; e por trás das
Instituições de Calvino começa a desenhar-se o Calvino de Genebra - o Calvino que aplica sua disciplina pela
organização de espiões e informantes sobre pecadinhos; que invade as casas em busca de provas; que extorque
confissões falsas no ecúleo; que chantageia cidadãos, com ameaças de denúncias, para contribuírem
financeiramente; que envia com uni cações de pessoas como Servetus à Inquisição; que manda queimar Servetus
quando este procura asilo em Genebra; que emprega tribunais para assassínios legais baseados em acusações
inventadas; que torna Genebra uma cidade "limpa" pela matança ou exílio de quem quer que não vivesse de acordo
com as expectativas.
35 Apresentar a filosofia de cada um tornaria este capítulo muito extenso e fugiria do tema proposto. Para mais
informações, consultar: COPLESTON, Frederick. A History of Philosophie. New York: Doubleday, 1994. (A
History of Philosophie). Vol. 4,5,6,7; BRÉHIER, Émile. Histoire de la Philosophie: La philosophie moderne. Paris:
Librairie Félix Alcan, 1928; e MARÉCHAL, Joseph. Le Point Départ de la Métaphysique: Le Conflit du
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
1778), Denis Diderot (1713 -1784), François-Marie Arouet, Voltaire (1694 - 1778), Charles-Louis
de Secondat, barão de Montesquieu (1689 - 1755), Jean le Rond d'Alembert (1717 - 1783) e outros.
Uma caracteristica peculiar: a maioria deles eram anti-religiosos. 36 Depois das “luzes”, Immanuel
Kant (1724 - 1804) separou ainda mais o que Descartes havia feito, além de reduzir a metafísica à
moral. De Kant, surgiram os idealistas, Johann Gottlieb Fichte (1762 - 1814), a primeira filosofia de
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling (1775 - 1854) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 -
1831), este último afirmou que a moral religiosa fora absorvida pelo Estado germânico; e os
positivistas, Auguste Comte (1798 - 1857), George Henry Lewes (1817 - 1878) e Thomas Huxley
(1825 - 1895). Contra os idealistas, sobretudo Hegel, ergueram-se os materialistas: Ludwig Andreas
Feuerbach (1804 - 1872), Karl Heinrich Marx (1818 - 1883) e Friederich Engels (1820 - 1895) e
demais marxistas. 37
Surgiram então os primeiros Estados seculares, sob forte influência das luzes: os EUA e a
França.
Em meados do século XX, o Concílio Vaticano II (1962 - 1965), convocado por João XXIII,
colocou a Igreja Católica dentro da “Era da Laicidade” por meio da constituição pastoral Gaudium
et Spes e da declaração Dignitatis humanae. 38
5. Depois desta exposição, a resposta para pergunta inicial é clara: o laicismo tornou-se
dominante entre a intelectualidade ocidental , e desta forma, seria quase impossível que ele não
influenciasse a política.
Rationalisme et de l’Empirisme dans la Philosophie moderne, avant Kant. 2. ed. Bruxelas: Charles Beyaert, 1923.
36 Há uma tese do historiador frances Jean Dumont, La Révolution Française ou Les Prodiges du Sacrilège,
provando que a Revolução na França foi um movimento anti-religioso.
37 Pode-se constatar novamente que o marxismo, em sua gênese, é um movimento anti-religioso, tendo em vista
que as primeiras críticas de Marx foram tecidas contra a cristianismo. Para mais informações: FRANCA, Leonel. A
Crise do Mundo Moderno. 4. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1955.
38 Gaudium et
Spes:http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html; Dignitais humanae:
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_decl_19651207_dignitatis-humanae_po.html.
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
O LAICISMO NO BRASIL
Convém agora, demonstrar as influências sofridas deste a Terra de Santa Cruz até a
República Federativa do Brasil.
2. O ponto de partida para o laicismo foi dado ainda no período colonial. Trata-se da
expulsão dos jesuítas da península ibérica por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de
Pombal (1699 - 1782).39
39 (…) Com o ano de 56 começou o ministro o seu terramoto, continuação do anterior. Queria principiar
corrigindo os costumes; e por isso mandou abrir devassa contra os concubinatos públicos: os nobres seriam desterrados,
os plebeus teriam prisão. O pulso forte do ministro, abalando com energia os membros da sociedade, doria-a. Houve a
sombra de uma conspiração (junho) que Pombal castigou, prendendo, por suspeitos, frades e fidalgos, e prometendo
20000 cruzados ao delator. No fim de agosto foi degredado Diogo de Mendonça Corte Real, que ainda lhe fazia sombra.
Em setembro fundou-se a Companhia dos Vinhos, e em dezembro a junta do Comércio, instituições de que, por se
prenderem no sistema da edificação pombalina, falaremos em outro lugar.
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
3. A própria constituição de 1824, que definia o catolicismo romano como religião oficial,
dependia do aval do Imperador. Esta foi a chamada Questão Religiosa. 40
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
suas relações amorosas com mais de duas pessoas ao mesmo tempo e na mesma casa. Lavrar tais
escrituras não se trata de ser contra ou a favor deste tipo de relação, mas respeitar a vontade de
quem quer viver assim. Tal proibição é um atentado à democracia, à liberdade e um retrocesso do
Estado laico. Já deveríamos ter aprendido com as histórias de exclusões feitas pelo Direito de
Família, que isto não é ético. E todas as expropriações de cidadanias no Direito de Família vieram
em nome da moral e dos bons costumes. Basta lembrarmos que até a Constituição da Republica de
1988 os filhos havidos fora do casamento eram todos ilegítimos. Eles existiam na vida real, mas não
podiam existir no mundo jurídico, portanto condenados à invisibilidade jurídica e social. Dizia-se
que era para proteger os casamentos, a moral e os bons costumes. De agora em diante, esses
contratos terão que ser feitos particularmente, e se quiser, registrado nos cartórios de títulos e
documentos, embora não seja necessário.43
(C) Estado deve tutelar direito à vida independentemente de questões religiosas.
Iniciado o julgamento do HC 268.459/SP, pelo Superior Tribunal de Justiça, os ministros Maria
Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior, da 6ª Turma, votaram no sentido da inexistência de
crime em relação aos pais que não autorizaram a transfusão de sangue para o filho por questões
religiosas, com superveniente evento morte; entendendo se tratar de figura atípica, uma vez que o
procedimento médico poderia ter sido realizado mesmo à revelia da família.44
7. O aparente progresso da democracia brasileira reduziu o debate das questões
verdadeiramente pertinentes sobre o laicismo. Como foi exposto do capítulo sobre a vida de
Machiavelli, a ciência política deve quebrar a casca de discurso e achar o seu fundamento na
realidade, e nenhum juiz, militante ou político é capaz de averiguar as conseqüências das ações por
eles tomadas no que diz respeitos às religiões.
… é um fingidor.
Finge tão
completamente
1. Diferentemente da filosofia política, não é possível falar de ciência política sem uma boa
delimitação do objeto a ser estudado por uma ciência, em particular, bem delimitada.
Historicalmete, Platão e Aristóteles foram os primeiros a fazerem tal façanha. Nos diálogos de
tributários entre os Estados; 6°) restrições ao estado de sítio; 7°) polícia dos empréstimos estrangeiros aos Estados e
Municípios; 8°) supressão do cargo de Vice-Presidente da República; 9°) supressão das “caudas orçamentárias”, isto
é, disposições legislativas estranhas à receita e à despesa; 10°) autorização do veto parcial. (…) BALEEIRO,
Aliomar. 1891. 3. ed. Brasília: Senado Federal, 2012. (Coleção Constituições brasileiras). p. 38.
42 Cristo Redentor fere espírito da Constituição, diz parecer de 1921. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2015-mai-28/passado-limpo-cristo-redentor-fere-espirito-constituicao-parecer-1921.
43 Uniões poliafetivas, liberdade e Estado laico. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-jul-01/unioes-poliafetivas-liberdade-estado-laico.
44 Estado deve tutelar direito à vida independentemente de questões religiosas. Disponível
em:https://www.conjur.com.br/2014-ago-20/justica-comentada-estado-tutelar-direito-vida-
independentemente-questoes-religiosas.
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
Platão é possível notar que Sócrates sempre partia de uma experiência até um mito. 45 Aristóteles,
por sua vez, compilava tudo e fazia uma serie de observações. 46
Os grandes juristas romanos, como Marco Túlio Cícero também partiam da experiencia para
o discurso teorético, tendo em vista que a maior parte das obras de Cícero são oratórias. 47Da mesma
forma que o seu predecessor Cícero, Sto. Agostinho também parte da sua própria vida,
Confissiones, até chegar na sua obra maxima, De Civitate Dei.48 Os filósofos cristãos que
sucederam Sto. Agostinho não tiveram a mesma preocupação com a experiência, mas isso não quer
dizer que ela não existisse. As palavras de Sto. Tomás de Aquilo eram claras a qualquer um dos seus
pupilos.49
2. Contudo, com a entrada da modernidade, tal vinculo com a experiência desapareceu dos
45 Thirty-five dialogues and thirteen letters have come down to us as Platonic writings, not all of which are now
regarded as genuine. Some . scholars go so far as to doubt that any of the letters is genuine. In order not to encumber
our presentation with polemics, we shall disregard the letters altogether. We must then say that Plato never speaks to
us in his own name, for in his dialogues only his characters speak. Strictly, there is then no Platonic teaching; at
most there is the teaching of the men who are the chief characters in his dialogues. Why Plato proceeded in this
manner is not easy to say. Perhaps he was doubtful whether there can be a philosophic teaching proper. Perhaps he,
too, thought like his master Socrates that philosophy is in the last analysis knowledge of ignorance. Socrates is
indeed the chief character in most of the Platonic dialogues. One could say that Plato's dialogues as a whole are less
the presentation of a teaching than a monument to the life of Socrates to the core of his life: they all show how
Socrates engaged in his most important work, the awakening of his fellow men and the attempting to guide them
toward the good life which he himself was living. Still, Socrates is not always the chief character in Plato's
dialogues; in a few he does hardly more than listen while others speak, and in one dialogue (the Laws) he is not even
present. We mention these strange facts because they show how difficult it is to speak of Plato's teaching.
46 Of the vase number of works ascribed co Aristotle in antiquity, only a portion survives today. Following
the lead of his teacher, Aristotle apparently composed dialogues intended for a general audieru:e, many of chem on
political subjects; except for a few fragmentary citations, nothing remains of these. The surviving works are principally
treatises which are thought co have been prepared in connection with Aristotle's research and teaching activities.
Aristotle's political teaching is available to us primarily in the Politics and the Nicomachean Ethics. Two ocher treatises,
the Eudemian Ethics and the Magna Moralia, cover much of the same ground as the N icomachean Ethics, but are of
lesser interest; the relationship between these three works remains highly uncertain. Mention should also be made of the
Rhetoric, which contains a unique discussion of political psychology as well as important reflections on the relationship
between rhetoric and politics, and ·the Constitution of Athens, the only surviving example of a collection of
constitutional histories of Greek cities compiled by Aristotle and his pupils.
Aristotle's writings tend to be approached generally as straight-forward attempts to present a purely scientific or
theoretical account of their subject matter. Yet it is far from clear that the ethical and political treatises can be safely
viewed in this light. Aristotle indicates that there is a fundamental difference between "theoretical" sciences, which
are pursued for the sake of knowledge, and "practical" sciences, which are pursued principally for the sake of the
benefits deriving from them. Politics is for Aristotle the "practical" science par excellence. It is necessary at the
outset to understand the scope and intention of practical or political science as Aristotle conceives it, both for the
sake of a proper appreciation of the literary character of Aristotle's ethical and political writings and in order to grasp
the problematic role in Aristotle's thought of political philosophy as such.
47 Few of those who have sought to present a systematic account of the development of political philosophy have
attached great importance to Cicero's political thought. He has traditionally been regarded as one of that series of
less inspired and less inspiring Greek and Roman thinkers who followed in the wake of Plato and Aristotle.
Considered a dilettante rather than a serious student of philosophy, his thought has generally been judged eclectic
and felt to be characterized neither by any great consistency of doctrine nor depth of understanding. His specifically
political works, the Republic and the Laws, have been regarded as little more than ambitious attempts to justify the
ideals and practices of a moribund aristocratic order. His value to later students is thought to lie less in what he
himself has to say about the substantive questions of political philosophy than in the detailed account he gives of the
doctrines of the several schools of Greek philosophy active in his own day, and of the adaptation of those doctrines
to the radically different political and intellectual environment of Rome. His special talent is thought to have rested
in the skill with which he synthesized the diverse and often conflicting teachings of these schools, thus making them
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
A. “Portanto, um príncipe prudente deve proceder por uma terceira maneira, escolhendo em seu
Estado homens sábios e somente a eles deve dar a liberdade de falar-lhe a verdade daquilo que ele
pergunte e nada mais. Deve consultá-los sobre todos os assuntos e ouvir as suas opiniões; depois,
de liberar por si, a seu modo, e, com estes conselhos e com cada um deles, portar-se de forma que
todos compreendam que quanto mais livremente falarem, tanto mais facilmente serão aceitas suas
opiniões. Fora aqueles, não querer ouvir ninguém, seguir a deliberação adotada e ser obstinado nas
suas decisões. Quem procede por outra forma, ou é precipitado pelos aduladores, ou muda
freqüentemente de opinião pela variedade dos pareceres; daí resulta a sua desestima.”50
B. A um príncipe, portanto, não é essencial possuir todas as qualidades acima mencionadas, mas é
bem necessário parecer possuí-las.51
4. Quanto ao tópico A, será que o modelo de príncipe proposto por Machiavelli deverá ser
available in a form congenial to the Roman taste and aqequate to satisfy the demands of the practical Roman mind.
48 St. Augustine is the first author to deal more or less comprehensively with the subject of civil society in the
light of the new situation created by the emergence of revealed religion and its encounter with philosophy in the
Greco-Roman world. As a Roman he inherited and restated for his own time the political philosophy inaugurated by
Plato and adapted to the Latin world by Cicero, and as a Christian he modified that philosophy to suit the
requirements of the faith. He thus appears if not as the originator at least as the foremost exponent in ancient times
of a new tradition of political thought characterized by its attempt to fuse or reconcile elements derived from two
originally independent and hitherto unrelated sources, the Bible and classical philosophy. Augustine writes first and
foremost as a theologian and not as a philosopher. He rarely refers to himself as a philosopher and he never
undertook a methodical treatment of political phenomena in the light of reason and experience alone. His highest
principles are drawn not from reason but from Sacred Scripture, whose authority he never questions and which he
regards as the final source of truth concerning man in general and political man in particular. However, to the extent
to which the choice of his position rests on a prior consideration of the most important alternative to that position, it
presupposes an understanding of political philosophy or of political things as they appear to unaided human reason.
49 Thomas Aquinas occupies a unique position in the history of political thought as the most illustrious of all
Christian Aristotelians. His literary career coincides roughly with the full impact and in some instances with the
initial recovery of Aristotle's works in the Western world. Both the Politics and the complete text of the Ethics in
particular were first translated into Latin during his own lifetime. Through his detailed commentaries on virtually all
of Aristotle's major treatises and the all tensive use that he makes of Aristotelian materials in his theological works,
Aquinas did more than anyone else to establish Aristotle as the leading philosophical authority in the Christian West.
His own political philosophy is best understood as a modification of Aristotle’s political philosophy in the light of
Christian revelation or more precisely as an attempt to integrate Aristotle with an earlier tradition of Western
political thought representea by the Church Fathers and their medieval followers and compounded for the most part
of elements taken from the Bible, Platonic-Stoic philosophy, and Roman law.
50 Per tanto uno principe prudente debbe tenere uno terzo modo, eleggendo nel suo stato uomini
savi, e solo a quelli debbe dare libero arbitrio a parlarli la verità, e di quelle cose sole che lui
domanda,
e non d’altro; ma debbe domandarli d’ogni cosa, e le opinioni loro udire; di poi deliberare da sé, a suo modo; e con
questi consigli e con ciascuno di loro portarsi in modo, che ognuno cognosca che quanto più liberamente si parlerà,
tanto più li fia accetto: fuora di quelli, non volere udire alcuno, andare drieto alla cosa deliberata, et essere ostinato
nelle deliberazioni sua. Chi fa altrimenti, o e’ precipita per li adulatori, o si muta spesso per la variazione de’ pareri:
di che ne nasce la poca estimazione sua. Il Principe, XXIII - Quomodo adulatores sint fugiendi.
51 A uno principe, adunque, non è necessario avere in fatto tutte le soprascritte qualità, ma è bene necessario
parere di averle. Il Principe, XVIII - Quomodo fides a principibus sit servanda.
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
alterado a esmo, a ponto de não unificar a Itália? Como demonstrado no capítulo Os vários
Machiavellis, a Italia unificou-se tardiamente e sem nenhum dos conselhos propostos pelo
florentino. Ora, pode-se tirar duas conclusões disso: Il Principe era um mito, como afirma Gramsci,
e se o fosse, o caráter de realista e cientista político de Machiavelli seria uma farsa; ou o florentino
entregou um manual de mentiras ou sátiras ao jovem Lourenço de Medici.
Mas uma objeção é necessária: Machiavelli acreditava no Príncipe e rapidamente ele
unificaria a Itália, e isso vale para as conclusões tiradas anteriormente.
5. Quando ao tópico B, se o conselho for seguido a risca, como o analista político saberá que
o príncipe possui virtù? Simplesmente não é possível. Não há como Machiavelli ter observado isso
em algum outro príncipe ou até mesmo no seu modelo de príncipe.
6. A exposição das influências de Machiavelli no ocidente foram realçadas no capítulo Os
vários Machiavellis e em Sagrado ou Profano? A gênese do laicismo, com uma exceção: Voltaire e
Frederico II da Prússia, expoentes das luzes, escreveram contra o florentino.
O PRÍNCIPE TUPINIQUIM
1. Há, no Brasil, uma prática de analisar a política a partir das ideais e não da experiência
concreta.
2. Alguns detalhes importantes:
(A) PDT e Partido Comunista da China debatem candidatura de Ciro e fortalecem
parceria. O PDT e Partido Comunista da China (PCCh) promoveram nesse sábado (8), no Rio de
Janeiro, uma reunião para debater a crise econômica e política do Brasil, a importância da
candidatura de Ciro Gomes, em 2018, além da integração das instituições com foco no
desenvolvimento social.
Liderado pelo secretário-geral do PDT, Manoel Dias, e pelo secretário do Secretariado do
Comitê Central do partido chinês, Du Qinglin, o encontro ratificou o alerta para a instabilidade
gerada pelo governo do presidente Michel Temer e o consequente impacto negativo gerado no
cenário macroeconômico.
Ao reafirmar a importância da candidatura de Ciro Gomes a presidente da República, Dias
confirmou a necessidade de defesa da soberania e das riquezas nacionais, que são fundamentais,
segundo ele, para garantir a retomada do crescimento e da independência do país. 52
Pouco tempo depois, o referido candidato negou qualquer influência estrangeira.
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Il Principe, ou A Decadência do Ocidente
(B) O PSDB vai se aproximar da extrema-direita? Tucanos ora criticam, ora flertam com
a extrema direita, e chegam até a participar ativamente de manifestações que pedem o impeachment
de Dilma e o golpe militar.53
‘Centro-direita não tem a ver com PSDB’, diz FHC. Direita, esquerda, centro, socialistas
ou neoliberais “são apenas rótulos, coisas externas à vida real dos partidos”, e não faz sentido pedir
que uma sigla vá para a “centro-direita” ou para a “centro-esquerda”. Essa é a resposta do ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso à avaliação feita pela acadêmica norte-americana Frances
Hagopian, em entrevista ao Estado, segundo a qual o PSDB “devia assumir-se como partido de
centro-direita”. 54
3. A idealização da política tornou-se comum no Brasil, sobretudo, após a reestruturação da
“democracia” brasileira.
53 Disponível em:https://www.cartacapital.com.br/politica/o-psdb-vai-se-aliar-com-a-extrema-
direita-9523.html.
54 Disponível em: https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,centro-direita-nao-tem-a-ver-
com-psdb-diz-fhc,781717
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