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Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 1
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ISSN 1519-0846
Semestral
Inclui Bibliografia
2 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
EDITORIAL
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Secretária Geral
Sílvia Raizza Prado Martini
Correspondência
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Fax (11) 4587-6165 • e-mail: anchieta@anchieta.br
www.anchieta.br
Editoração
Departamento de Publicidade das Escolas e
Centro Universitário Padre Anchieta
Revisão
João Antonio de Vasconcellos
Isabel Cristina Alvares de Souza
Tiragem
2.000
Análise
Revista semestral das Faculdades de Tecnologia e de
Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração
de Empresas Padre Anchieta.
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ÍNDICE
Um ensaio sobre o deslocamento do capitalismo face
aos projetos de responsabilidade socioambiental
empresarial (RSE)
Carlos Henrique Pellegrini ............................................ 9
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RESUMO
No início do século XX, a gestão organizacional era baseada nas escolas clássicas de Taylor,
Fayol e Weber que buscavam de maneira geral criar uma organização que atingisse seu objetivo de
forma eficiente. Taylor na área da análise do trabalho, Fayol na administração e controle e Weber
na análise do contexto socioambiental e os princípios que fundamentam as organizações
(MAXIMINIANO, 2000). A indústria experimentava um grande crescimento e aí começaram os pri-
meiros trabalhos sobre os efeitos da poluição socioambiental gerada pelas minas e fábricas, sob
o enfoque da saúde dos trabalhadores. É nesse ambiente que se criou condição para o surgimento
de uma nova visão das organizações; a escola das relações humanas onde as organizações não
poderiam ser apenas máquinas como na escola clássica, e os sistemas sociais têm tanta ou mais
influência sobre o desempenho da organização do que seu sistema técnico. Nesse sistema o ser
humano é a medida de tudo. É nessa época que surge a preocupação que liga capitalismo, respon-
sabilidade socioambiental e cultura organizacional (TACHIZAWA, 2002).
Palavras-chave: Capitalismo, competitividade, sociedade, meio ambiente, administração, ges-
tão, organizações, produtividade.
ABSTRACT
At the beginning of the 20th century, administrative organization was based on the classic
schools of Taylor, Fayol and Weber which generally sought to create an organizational structure
that could efficiently reach its objectives. Taylor theorized in labor analysis; Fayol worked in
administration and control; and Weber handled the social-environmental analysis of context and
foundational principals of the organizations. (MAXIMINIANO, 2000) Industry was undergoing
remarkable growth and so began the first studies on the effects of social environmental pollution
produced by mines and factories, through the vintage point of worker health. In this setting,
conditions for a new vision of organizations, schools of human relations, were formed in which the
organizations could no longer be mere mechanisms, as in the classic school, and in which the
social systems had as much or more influence over the outcome of the organization as its technical
·Mestre em Administração – PUC / SP. Aluno especial e doutorando FEA USP/SP, Engenheiro e Administrador.
Professor titular nas FEAs UNIANCHIETA, PUC/SP, UNIP/Jundiaí. Pós-graduado em Engenharia Econômica
(USJT) e Gestão Socioambiental na FEA USP/SP. Diretor Operacional da Maxirecur Consulting e membro de
diretoriaseconselhosdediversasempresasprivadas. pellegrini@maxirecur.com.br www.maxirecur.com.br
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system. In the new system, the human being is the measure of everything. It is at this time that
concern connecting capitalism, social-environmental responsibility and organizational culture arises.
(TACHIZAWA, 2000)
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definida como o índice obtido pela divisão do output (o valor dos produtos e serviços
produzidos por uma empresa, por um setor ou pela economia como um todo ) pelo
input (a soma das pressões ambientais geradas pela empresa, pelo setor ou pela
economia como um todo). Ou, simplificando mais ainda: fazer mais com menos.
Na virada do século XX as empresas, em plena globalização, na sua luta pela
sobrevivência no curto prazo, terminam o século buscando produtividade e
competitividade. Por outro lado a realidade socioambiental mostra um quadro
desolador: segundo o relatório da United Nations Conference on Trade and
Development (Unctad) de 1997, nas últimas três décadas, a concentração de renda
aumentou dramaticamente no planeta, desequilibrando profundamente a relação
lucros e salários. No entanto, esses lucros mais elevados não estão levando a
maiores investimentos: cada vez mais, são desviados para atividades de
intermediação especulativa, particularmente na área das finanças.
Hoje, cerca de 80% da população do mundo concentra-se nos países em de-
senvolvimento e sobrevive com 20% dos recursos planetários (SCHMIDHEINY, 2002).
O sistema atual joga milhões no desemprego, dilapida o meio ambiente e remunera
mais os especuladores que os produtores (DOWBOR, 2002).
Para Barrett (1998), o interesse próprio e a busca obsessiva de acumulação de
riquezas estão no âmago da crise atual.
E para promover o advento da sociedade sustentável, é preciso urgentemente
uma ética universal que transcenda todos os outros sistemas de crenças e alian-
ças, um tipo de síntese da consciência humana, completamente ciente da
interdependência e raridade de todas as formas de vida para nos guiar em nossos
esforços, para realizar as mudanças (RATTNER, 1999).
E, portanto, conceitos como ética, responsabilidade socioambiental e desen-
volvimento sustentável assumem um papel cada vez mais relevante nas estratégias
das organizações. O papel do setor privado, segundo alguns de seus representan-
tes, não se restringe mais à geração de riqueza, devendo contemplar também a
dimensão socioambiental. Com efeito, um dos pontos mais enfatizados na recente
literatura da responsabilidade empresarial é a substituição da análise restrita dos
stockholders, focada anteriormente apenas no compromisso da organização com
seus acionistas e funcionários. O contato socioambiental entre a organização e a
sociedade deve estar baseado na legitimação dos diversos stakeholders, isto é,
todas as partes interessadas direta ou indiretamente, afetadas pela atividade da
empresa (DEMAJOROVIC, 2000).
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são crenças de cada um dos indivíduos e estes são valores que embora um indiví-
duo possa não concordar, pessoalmente, verifica como sendo um valor da organi-
zação em que trabalha. Para os autores, “quase todo empregado é capaz de detec-
tar diferenças nos valores que dominam em determinadas organizações e que de-
terminam seu clima e sua cultura organizacional”.
Os valores organizacionais não devem ser confundidos com os valores pesso-
ais dos membros da organização, nem com os que eles gostariam que existissem
na empresa.
Uma característica bastante importante dos valores organizacionais, no que
diz respeito ao presente estudo, é sua organização em uma hierarquia de valores.
Os valores podem ser definidos como princípios ou crenças organizados hierarqui-
camente, relativos a tipos de estrutura ou a modelos de comportamento desejáveis
que orientam a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais, coleti-
vos ou mistos. Nem toda crença constitui um valor: somente aquelas que são
enfatizadas. Obviamente, as crenças que estabelecem os valores estão em interação
entre si e com outras crenças, de forma a compor um sistema de valores complexo
e organizado hierarquicamente. Para Rokeach (1968), um sistema de valores é
uma disposição hierárquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao
longo de um continuum de importância. Os valores organizacionais implicam ne-
cessariamente preferência, distinção entre o importante e o secundário, entre o
que tem valor e o que não tem. A idéia de graus de valor encontra sua base na
relação dos valores com o tempo, elemento fundamental para o seu desenvolvimen-
to, com a missão e os objetivos da empresa, cuja especificidade e importância
organizacional impõem uma ordem de primazia, e com o esforço realizado pela
empresa e pelos seus membros para a obtenção das metas propostas.
O gerenciamento dos valores organizacionais passa por um processo obrigató-
rio de diagnóstico. Schein (1989) e Davis (1984) ressaltam a importância da análise
e gerenciamento da cultura organizacional para os processos de mudança na orga-
nização. Em outras palavras, os processos de mudança organizacional devem passar
por diagnóstico e gerenciamento da cultura da empresa, e com parte da cultura, de
seus valores.
Pettigrew (1986) também ressalta esta relação entre o processo de mudança e
a cultura organizacional, acrescentando que o gerenciamento da cultura é um pro-
cesso que envolve dimensões intangíveis, e, por isso, é de elevada complexidade;
contudo, seu gerenciamento é possível com o uso de metodologias adequadas.
Uma dessas metodologias foi descrita por Shinyashiki (1995): o processo utilizado
pela consultoria de alta gestão McKinsey & Co. para gerenciar a cultura
organizacional. Este processo é composto pelas seguintes etapas:
n Identificar que tipo de cultura é necessário;
n Avaliar a cultura existente para determinar os “gaps”;
n Decidir como preencher os “gaps”;
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ligado à capacidade da empresa em atuar com RSA. Eles estão além das próprias
normas definidas pela empresa, e constituem uma espécie de ideologia – as nor-
mas da organização estão enraizadas nos valores, e podem ser consideradas até
mesmo como operacionalização destes (TAMAYO; GONDIM, 1996). As normas
definem explicitamente as formas de comportamento esperadas dos membros de
uma organização e os valores proporcionam uma justificação mais elaborada e
generalizada, tanto para o comportamento apropriado como para as atividades e
funções do sistema. E além do mais, os valores, como parte da cultura
organizacional, estão significantemente associados ao desempenho organizacional,
conforme os estudos de Santos (2000).
Nos países desenvolvidos, os principais estímulos à prática da Responsabilida-
de Socioambiental originam-se do mercado, caracterizado por demandas de con-
sumidores, pressões de ONGs, regulamentação, organizações indexadoras com
influência no mercado de ações e exigências de investidores, especialmente os
fundos éticos. Estes últimos aumentaram de 168 (1999) para 230 (2001). No Brasil,
ainda, as motivações para a Responsabilidade Socioambiental vêm da mídia (FUR-
TADO, op. cit.).
Uma questão importante é que a RSA não está voltada a ações paternalistas
e nem filantrópicas. A visão é de que a RSA é um processo contínuo de comporta-
mento responsável, voltado para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimen-
to sustentável. A implantação desse conceito na empresa deverá ser assumida
pela alta administração.Mas todos ostakeholders
s precisarão ser envolvidos. E
no limite, Barrett (1998) afirma até mesmo que, “para uma empresa ter sucesso a
longo prazo, ela deve tornar-se uma entidade viva e autônoma que reflita os valores
coletivos de todos os empregados”.
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March (1963). No campo da estratégia foi definido originalmente por Nelson e Winter
(1982). Na visão dos autores, o pressuposto de perfeita racionalidade, defendido
pela Teoria Neoclássica, é questionado na medida em que os indivíduos tentam ser
racionais mas não conseguem. Ou seja, além de possuírem racionalidade limitada
(SIMON, 1945) – pela falta de informações sobre todas as opções disponíveis que
torna o processo de decisão mais direcionado à “satisfação” das necessidades do
decisor do que a “maximização” das opções – o insucesso da racionalidade perfei-
ta é causado por restrições cognitivas do decisor ao desconsiderar opções alterna-
tivas às quais não está habituado. “[...] existe uma grande diferença entre a situ-
ação de o decisor estar incerto sobre o resultado da opção X e a situação na qual
o decisor nem ao menos considerou, ou pensou a respeito, se a opção X é impor-
tante ou não” (NELSON; WINTER, 1982).
A restrição cognitiva causada pelo hábito fundamenta a ação organizacional
através da performance de rotinas. No dia-a-dia de trabalho, os indivíduos interagem
utilizando uma linguagem simbólica que permite compartilhar significados sobre o
trabalho realizado, instituindo o que se considera “normal”, legítimo ou em confor-
midade com o que é aceito pelo grupo. Como resultado, em vez de maximizarem
ou satisfazerem sua função utilidade, os indivíduos procuram conformidade com o
grupo. Nesse sentido, rotina organizacional pode ser entendida como o modo “como
as coisas são feitas por aqui”. Para Teece, Pisano e Schuen (1997), rotinas “são
padrões de interação que representam soluções de sucesso para problemas espe-
cíficos [...] que se encontram enraizadas no comportamento do grupo”.
É importante deixar claro as características do tipo de decisão que se enqua-
dra no conceito de rotinas organizacionais. Segundo Nelson e Winter (1982), todas
as decisões que são regulares e freqüentes, que utilizam formas habituais de reso-
lução de problemas cujos resultados são relativamente fáceis de serem previstos,
que são processadas pela empresa de maneira fluida e não drástica e que não são
encaradas como surpresa constituem-se em rotinas organizacionais. As rotinas
podem ocorrer em todos os níveis da organização, desde o operacional até o nível
estratégico.
Contudo, é óbvio que nem todas as decisões organizacionais se enquadram
como rotina. Principalmente em situações de crise e/ou quando a empresa não
está preparada, ou enfrenta problemas complexos cujos resultados são altamente
imprevisíveis, irregulares, percebidos pela empresa como uma surpresa ou situa-
ção nova, as decisões exigem um grande esforço de atenção e deliberação. Ao
longo de sua história, a empresa acumula conhecimento e desenvolve heurísticas
que se institucionalizam nas rotinas da empresa, restringindo cognitivamente futu-
ras decisões. Por exemplo, em um processo decisório deliberativo e consciente, o
portfólio de alternativas apresenta-se filtrado pela cognição compartilhada dos
decisores, bem como o processo de avaliação e escolha da alternativa é influenci-
ado pela cultura da empresa, pelos outros atores ambientais e pela dependência
de recursos com o ambiente (DOSI; NELSON; WINTER, 2000).
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Esforço
Diagnóstico Trajetória Estratégias de mudança
gerencial
Manter-se no
Quadrante I Reduzido Reforçar as interações entre os indivíduos.
quadrante
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podem e devem assumir um papel mais amplo dentro da sociedade. Neste traba-
lho, entendemos Responsabilidade socioambiental como o compromisso que uma
organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes
que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo
específico, agindo pró-ativamente e coerentemente no que tange ao seu papel es-
pecífico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela, assumindo,
assim, além das obrigações estabelecidas em lei, também obrigações de caráter
moral, mesmo que não diretamente vinculadas às suas atividades, mas que pos-
sam contribuir para o desenvolvimento sustentável dos povos (VENTURA, 1999;
ASHLEY, 2002). Assim, numa visão expandida, responsabilidade socioambiental é
toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
sociedade.
Atualmente, raros são os casos de empresários e executivos que ainda
desconsiderem totalmente suas responsabilidades sociais. Pode-se dizer que a
sensibilidade para os problemas sociais já está institucionalizada. As organiza-
ções têm sido pressionadas para se tornarem mais solidárias e chamadas a uma
maior participação, abertura e integração com a sociedade, sob a ameaça de se-
rem abandonadas por seus consumidores. Neste sentido, a RSE avança à medida
que a globalização acirra a competição entre empresas. Na visão de Cheibub e
Locke (2002), RSE implica em ações que vão além da “letra da lei” e em ações não
resultantes de negociações políticas com sindicatos ou organizações de trabalha-
dores. Abaixo reproduzimos um quadro com os modelos existentes na literatura
sobre as diferentes formas como as empresas podem se inserir em seu meio
socioambiental:
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A TRANSFORMAÇÃO DO CAPITALISMO
A ênfase da obra “Le Nouvel Esprit du Capitalisme”, de Boltanski e Chiapello
(1999), é sobre as transformações do espírito do capitalismo nos últimos 30 anos,
estudando a passagem do chamado segundo espírito para o terceiro.
A título de ilustração, o primeiro espírito se refere ao capitalismo burguês, do-
méstico, de pequenas empresas familiares que vigorou até o início do século XX,
cuja ênfase estava sobre a figura do burguês, do empresário, individualmente.
Já o segundo espírito aporta entre os anos 30 e 60, quando o crescimento e
burocratização das empresas fez com que a figura do executivo ganhasse espaço
e notoriedade na sociedade. A ênfase não é mais no empresário, mas na organiza-
ção e seus dirigentes, agora diplomados e qualificados. É nesse período que se
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cional e especulativo. Mas o que o Ocidente veio a conhecer, além disso, foi a
singular organização capitalista racional assentada no trabalho livre; pois o cálculo
exato – base de todos os demais – só é possível no plano do trabalho livre. Outra
peculiaridade do capitalismo ocidental são dois fatores de seu desenvolvimento: a
separação da empresa da economia doméstica, contabilmente – contabilidade ra-
cional – e espacialmente – separação jurídica dos bens da empresa e do indivíduo.
Segundo Weber, o ocidente foi capaz de produzir desenvolvimento universal em
seu valor e significado, por meio da ciência. Em todas as áreas do desenvolvimento
– química, física, leis, arte – o desenvolvimento do ocidente foi mais racionalizado.
E o mesmo acontece com o capitalismo. Assim, a forma peculiar do moderno
capitalismo ocidental foi influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades téc-
nicas, implicando numa dependência das ciências, principalmente as matemáti-
cas e as ciências exatas. O próprio desenvolvimento de tais ciências e das técni-
cas nelas baseadas recebem impulso dos interesses capitalistas ligados à sua
aplicação prática na economia. Nesse sentido, uma das realizações específicas
do protestantismo é ter colocado a ciência a serviço da técnica e da economia
(WEBER, 1942, p.309).
Assim, a utilização técnica dos conhecimentos científicos foi encorajada da-
das as características da organização socioambiental do ocidente: as estruturas
racionais do direito e da administração. O racionalismo econômico, embora depen-
da parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado
pela capacidade ou disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta
racional. As questões religiosas, e os ideais éticos decorrentes, são importantes
elementos formativos da conduta. Assim, o desenvolvimento do capitalismo oci-
dental, para Weber, em a “História económica general”, pode ser assim definido:
“O que definitivamente criou o capitalismo foi a empresa duradoura e racional, a
contabilidade racional, a técnica racional, o Direito racional; a tudo isto há de se
acrescentar a ideologia racional, a racionalização da vida, a ética racional na eco-
nomia .”(WEBER, 1942, p.298).
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CONCLUSÃO
A resposta à indagação que deu origem a este ensaio – como se justifica o
movimento pela RESPONSABILIDADE SOCIAMBIENTAL EMPRESARIAL (RSE)
– pôde ser esboçada com base na obra de Boltanski e Chiapello (1999), buscando
entender a RSE como uma crítica e deslocamento do capitalismo. Necessário se
fez entender o conceito de espírito do capitalismo como uma justificativa ideológica
que possibilita as mobilizações necessárias para o desenvolvimento capitalista e,
a partir daí, interpretar a RSE. Em Weber encontramos o nascedouro do conceito,
e verificamos como a dimensão moral por ele já era considerada importante na
solidificação do Espírito do Capitalismo.
Vimos que muitas dimensões da RSE, tal qual a dimensão pública/política,
são deixadas de lado nas análises existentes, sendo o movimento
inquestionavelmente aceito como positivo para o bem comum pela maioria das
pessoas. Assim, hoje, uma empresa que não se insere no movimento pela respon-
sabilidade socioambiental passa a ser criticada e punida por seus consumidores,
tamanha a institucionalização e aceitação da idéia.
Vimos também que a teoria institucional pode fornecer respostas ao entendi-
mento da RSE, explicando a institucionalização das práticas na ação organizacional.
O isomorfismo é uma das respostas para a propagação do conceito e dissemina-
ção da prática de RSE. Atentamos para o fato de que as organizações podem
muitas vezes se lançar nesse discurso sem questionar o que realmente significa,
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Alexandre Ramalho*
RESUMO
Percebe-se, nos dias de hoje, a preocupação com a defesa do meio ambiente. É comum nas
conferências internacionais, nos últimos anos, o debate sobre sustentabilidade nas atividades de
desenvolvimento. Muitas organizações não governamentais (ONGs) insurgem-se contra a defini-
ção oficial de desenvolvimento dos governos, das agências internacionais e concordam que
sustentabilidade é o princípio do processo de desenvolvimento focado nas pessoas e que deve
ser o motivo de esforços das nações para impulsionar o crescimento econômico, preservando o
meio ambiente. Gradativamente, governos, universidades, agências multilaterais e empresas de
consultoria técnica estão inserindo considerações e propostas protetoras do meio ambiente,
redimensionando os projetos de desenvolvimento e a democratizando os processos decisórios.
Palavras-chave: Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e Mercado Comum do Cone
Sul (MERCOSUL).
ABSTRACT
Noticeably, today, there is concern for the protection of our natural environment. In international
conferences the last five years, there is common debate about sustainability of developmental
activities. Many non-governmental organizations (NGOs) disagree with the definition of development
used by governments; international agencies agree that sustainability should be at the center of the
developmental process focusing on the people and should be the nations’ motivation to propel
economic growth while preserving the natural environment. Gradually, governments, universities,
multi-lateral agencies and technical consulting firms are including measures and proposals that
protect the environment, drawing new lines for developmental projects and democratizing the
decision making processes.
Key words: North American Free Trade Agreement (NAFTA), Southern Common Market
(MERCOSUR).
INTRODUÇÃO
O conceito de sustentabilidade transcende o exercício analítico de explicar a
realidade, requerendo coerência lógica nas aplicações práticas, isto é, o discurso
precisa ser transformado em realidade objetiva.
Os atores sociais, ao atuar, estão dotados de legitimidade política e autoridade
para administrar, na prática, os comportamentos sociais e políticas de desenvolvi-
mento. A elaboração teórica materializa-se através da luta oculta pelo poder entre
diferentes atores sociais, competindo pela posição hegemônica, oferecendo diretri-
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1
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – Instituição Internacional sediada em Washington, foi criada
em 1959 para prestar ajuda financeira para os Países da América do Sul e Caribe.
2 th
Congress 107 , Bipartisan Trade Promotion Authority Act of 2001, em http://thomas.loc.gov.
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3
JANK, M.S. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003.
4
MARQUES, C. apud HABERFELD, S. A visão do setor privado e das associações de classe. São Paulo: Manole,
2003, p. 105.
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5
PIVA, H. L. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003, p. 106.
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6
SKAFF, P. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003, p. 117.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A missão da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, que conta com
cinco mil associados sediados no Brasil, é impulsionar a cidadania empresarial,
atrair investimentos para o Brasil e promover o comércio. A Associação de Livre
Comércio das Américas (ALCA) está sendo efetivada e vai ao encontro dos ideais
desta missão.
Neste processo de globalização começam a se delinear quatro grandes blocos
de comércio: o Bloco Asiático, o Bloco Europeu, o Bloco Pan-Americano (ALCA)
que está em formação, e finalmente o Bloco dos Excluídos.
A integração regional subentende a atitude cooperativa, respeitando valores e
interesses compartilhados. Portanto, o comércio internacional e a integração con-
têm aspectos positivos benéficos aos participantes, devem estar vinculados à utili-
zação da política que privilegie o desenvolvimento de todos.
Facilitar o comércio de produtos primários, commodities ou bens industrializa-
dos de baixo valor agregado, bem como, nas negociações da Associação de Livre
Comércio das Américas (ALCA), garantir e não debilitar o alcance dos objetivos
estratégicos como o desenvolvimento tecnológico e de setores high-tech, proporci-
onando a sustentabilidade do desenvolvimento. O desenvolvimento das negocia-
ções da ALCA permitiu alcançar resultados que oferecem parciais garantias de
eqüidade nas relações dos Estados. Torna-se importante o princípio do single
undertaking, que de fato garante o poder de veto para todos os países participan-
tes.
As negociações para a constituição da ALCA não travam outras negociações
7
HINAK, D. apud HABERFELD, S. As visões oficiais dos EUA e do Brasil. São Paulo: Manole, 2003, p. 75.
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feitas pelo Brasil e pelos países do MERCOSUL, como exemplo, com a União
Européia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
Este artigo tem por escopo examinar o ambiente de educação a distância TelEduc e sua
aplicação no ensino de informática por meio da análise de cursos desenvolvidos no ambiente. O
produto resultante deste trabalho poderá auxiliar professores e educadores da área de informática,
na utilização de recursos de educação a distância como complemento de aulas tradicionais, ou
como base para desenvolvimento de cursos a distância.
Palavras-chave: Educação a Distância, TelEduc, Informática.
ABSTRACT
This article aims to examine the virtual environment for distance courses “TelEduc” and its
uses in computer technology instruction through analysis of courses developed in that environment.
The results of the study may assist instructors of computer sciences in the use of distance
education resources as a complement of traditional lessons or as a foundation for distance course
development.
INTRODUÇÃO
Em educação a distância (EAD) denota-se como característica básica o esta-
belecimento de uma comunicação de dupla via em que professor e aluno não se
encontram juntos no mesmo espaço físico, necessitando de meios que possibili-
tem a comunicação entre ambos como correspondência postal ou eletrônica, tele-
fone, rádio, televisão, etc. (NUNES, 2004)
Há várias denominações para EAD: estudo aberto, educação não-tradicional,
extensão, estudo por contrato, mas nenhuma delas serve para descrevê-la com
exatidão.
Segundo Nunes (2004), EAD pressupõe um processo educativo sistemático e
organizado que exige não somente a dupla via de comunicação como também a
instauração de um processo continuado em que os meios ou os multimeios devem
estar presentes na estratégia de comunicação. A escolha de determinado meio ou
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Vantagens
n Não há a necessidade de o professor e os alunos estarem no mesmo local;
o primeiro não está em contato com o segundo diretamente, mas ensina o aluno
orientando-o, na sua aprendizagem, por meio do uso de materiais didáticos e recur-
sos tecnológicos trabalhando como um orientador.
n Há uma maior flexibilidade, pois o aluno aprende no seu ritmo, pode rever e
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reavaliar conceitos que lhe pareçam importantes e pode, de forma ativa e com
outros alunos, sanar suas dúvidas. Além disso, fornece ao aluno a experiência de
buscar o saber por si só, aumentando sua independência no processo de supera-
ção do nível cultural.
n Possibilidade de utilização de meios tecnológicos, capazes de derrubar fron-
teiras para o acesso à informação e à cultura que oportunizam igualdade ao conhe-
cimento e a democratização da educação. Atualmente existem recursos técnicos
que possibilitam o avanço da EAD: áudio, vídeo, materiais impressos, Internet,
entre outros.
n Oportunizar a formação de profissionais de acordo com as exigências atu-
ais e culturais. Um professor especialista no assunto que more em determinada
região pode preparar alunos de qualquer parte do mundo.
n Elaboração de conteúdos e recursos multimídia, que atraem a atenção dos
alunos fazendo com que as aulas se tornem mais agradáveis.
n Formação permanente e pessoal, por meios técnicos, com o fim de aprimo-
rar a qualidade profissional. Preparação qualificada para o trabalho.
n Organização de apoio e tutoria, na qual uma pessoa que esteja organizada
e disponha de recursos didáticos seja capaz de ser autodidata e alcançar sucesso
profissional.
n Formação teórico-prática relacionada à experiência do aluno. Aprendizagem
dinâmica e inovadora e formação fora do contexto da sala de aula.
n Aprendizagem independente e flexível. Ela possibilita um trabalho indepen-
dente e individual de aprendizagem. Essa aprendizagem só é possível com a utili-
zação de tecnologias de comunicação que proporcionam a EAD de maneira autô-
noma.
n Acesso aos cursos ou níveis de estudos.
n Flexibilidade no que se refere à rigidez de requisitos como espaço, tempo e
ritmo.
n Permanência do aluno em ambiente profissional, cultural e familiar, pelo fato
de aprender fora da sala de aula. O aluno torna-se o sujeito ativo da sua formação
e ritmo de aprendizagem desenvolvendo atitudes e valores educativos.
n Comunicação bidirecional, na qual o aluno não é um mero receptor de con-
teúdos planejados e distribuídos por docentes e sim criador de um processo de
comunicação, ou seja, um diálogo de otimização do ato educativo, que pode ser
feito através da conversação entre docente e aluno gerada por materiais de estudo.
n Enfoque tecnológico e a comunicação massiva; o primeiro enfatiza a educa-
ção como uma concepção científica, sistemática e globalizada, e que o planeja-
mento pedagógico é imprescindível a EAD. Tudo deve ser coordenado sem impro-
visações, que poderiam levar a prejuízos sérios aos alunos. E a segunda, comuni-
cação massiva, refere-se à eliminação de fronteiras espaço-temporais propiciando
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Desvantagens
n Diminuição de experiências advindas da relação educativa pessoal entre
professor e aluno.
n Dificuldade em alcançar o objetivo da socialização pela falta de interação
dos alunos com o docente e entre si.
n A retificação de possíveis erros pode ser mais lenta, embora os meios
tecnológicos reduzam tal possibilidade.
n Necessidade de um rigoroso planejamento em longo prazo, a fim de evitar
erros na execução da aprendizagem.
n Possibilidade de ocorrerem dúvidas quanto aos materiais didáticos elabora-
dos pelos docentes, pelo fato de não haver educação presencial.
n Perigo dos materiais instrucionais com poucas ocasiões de diálogo aluno
docente, levando à homogeneidade de aprendizado.
n Os métodos de avaliação da EAD são menos confiáveis, pois oportunizam
plágio ou fraude.
n Custos iniciais muito altos para implantação de cursos a distância.
n Serviços administrativos mais complexos que os dos cursos presenciais.
Análise
Nota-se que a educação a distância possui alguns inconvenientes em relação
à educação presencial no que tange a socialização, correção de erros, planeja-
mento de estudo, método de avaliação, entre outros.(RODRIGUES, 2002)
Depois de analisadas suas características, vantagens e desvantagens, con-
clui-se que:
n Tal sistema de aprendizado pressupõe uma grande ênfase e incentivo ao
aluno em estudar e pesquisar de modo independente, de maneira que são dinami-
zadas a comunicação e a troca de informações entre alunos e professores, propici-
ando a independência do aluno.
n A educação a distância baseia-se em estratégias para viabilizar aulas não
presenciais promovendo uma maior interação entre aluno-professor, aluno-aluno e
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O AMBIENTE TELEDUC
O ambiente TelEduc tem o propósito de oferecer um ambiente computacional
que permita a elaboração e o acompanhamento de cursos através da Internet (CER,
1998). Ele foi concebido visando ao processo de formação de professores para
informática educativa, baseado na metodologia de formação contextualizada de-
senvolvido por pesquisadores do Nied (Núcleo de Informática Aplicada à Educação)
da Unicamp. A metodologia de ensino/aprendizagem proposta pelo ambiente é a
execução de atividades práticas com orientação constante e on-line do formador,
aprendizagem de conhecimentos teóricos de forma contextualizada com a execu-
ção dessas atividades, comunicação entre os participantes e discussão de assun-
tos teóricos (TES, 2000).
Assim, um curso criado no TelEduc se desenvolve ao redor de um conjunto de
atividades sugeridas pelo formador. Para a resolução dessas atividades, o ambien-
te fornece um conjunto de ferramentas nas quais o formador disponibiliza informa-
ções e conteúdos da dinâmica do curso. Além disso, o ambiente fornece recursos
de comunicação que possibilitam o acompanhamento do processo de aprendiza-
gem do aluno, além de permitirem um contato constante entre o formador e os
alunos do curso e entre os próprios alunos, através de Chat e e-mail internos ao
ambiente.
Para se ter acesso ao curso é preciso que se tenha uma senha e uma identifi-
cação pessoal (login), ambas solicitadas ao participante sempre que ele acessar o
curso.
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Estrutura do Ambiente
Como pode ser observado na fig. 2, o TelEduc foi concebido tendo como ele-
mento central a ferramenta que disponibiliza Atividades. Isto vem ao encontro do
pressuposto de que o aprendizado de conceitos de qualquer domínio do conheci-
mento é feito a partir da resolução de problemas, com o subsídio de diferentes
materiais como textos, software e instruções de uso que podem ser colocados
para o aluno por meio de ferramentas como: Material de Apoio, Leituras, Perguntas
Freqüentes etc. (ROCHA, 2002)
FERRAMENTAS DO AMBIENTE:
Dinâmica do Curso
Contém informações sobre a metodologia e a organização geral do curso.
Agenda
É a página de entrada do ambiente e do curso em andamento. Traz a progra-
mação de um determinado período do curso (diária, semanal, etc.).
Avaliações
Lista as avaliações em andamento no curso.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Atividades
Apresenta as atividades a serem realizadas durante o curso.
Material de Apoio
Apresenta informações úteis relacionadas à temática do curso, subsidiando o
desenvolvimento das atividades propostas.
Leituras
Apresenta artigos relacionados à temática do curso, podendo incluir sugestões
de revistas, jornais, endereços na Web, etc.
Perguntas Freqüentes
Contém a relação das perguntas realizadas com maior freqüência durante o
curso e suas respectivas respostas.
Parada Obrigatória
Contém materiais que objetivam desencadear reflexões e discussões entre os
participantes ao longo do curso.
Mural
Espaço reservado para que todos os participantes possam disponibilizar infor-
mações consideradas relevantes para o contexto do curso.
Fóruns de Discussão
Permite acesso a uma página que contém tópicos que estão em discussão
naquele momento do curso. O acompanhamento da discussão se dá por meio da
visualização de forma estruturada das mensagens já enviadas e, a participação,
por meio do envio de mensagens.
Bate-Papo
Permite uma conversa em tempo real entre os alunos do curso e os formado-
res. Os horários de bate-papo com a presença dos formadores são, geralmente,
informados na “Agenda”. Se houver interesse do grupo de alunos, o bate-papo pode
ser utilizado em outros horários.
Correio
Trata-se de um sistema de correio eletrônico interno ao ambiente. Assim, to-
dos os participantes de um curso podem enviar e receber mensagens através deste
correio. Todos, a cada acesso, devem consultar seu conteúdo a fim de verificar as
novas mensagens recebidas.
Grupos
Permite a criação de grupos de pessoas para facilitar a distribuição e/ou de-
senvolvimento de tarefas.
Perfil
É um espaço reservado para que cada participante do curso possa se apresen-
tar aos demais de maneira informal, descrevendo suas principais características,
além de permitir a edição de dados pessoais. O objetivo fundamental do Perfil é
fornecer um mecanismo para que os participantes possam se “conhecer a distân-
cia”, visando a ações de comprometimento entre o grupo. Além disso, favorece a
escolha de parceiros para o desenvolvimento de atividades do curso (formação de
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Ferramentas Exclusivas
As ferramentas descritas a seguir são de uso exclusivo dos formadores e do
coordenador do curso:
Administração
Permite gerenciar as ferramentas do curso, as pessoas que participam do cur-
so e ainda alterar dados do curso.
As funcionalidades disponibilizadas dentro de administração são:
• Visualizar/Alterar dados e cronograma do curso
• Escolher e destacar ferramentas do curso
• Inscrever alunos e formadores
• Gerenciamento de inscrições, alunos e formadores
• Alterar nomenclatura do coordenador
• Enviar senha
Suporte
Permite aos formadores entrar em contato com o suporte do ambiente (admi-
nistrador do TelEduc) através de e-mail.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
CURSO OPENOFFICE.ORG
O curso OpenOffice.org, voltado a alunos de Sistemas de Informação da Facul-
dade de Tecnologia Padre Anchieta e Funcionários do Centro Universitário Padre
Anchieta, foi criado dentro do ambiente TelEduc como teste para a comprovação da
eficácia do uso do ambiente para o ensino de informática.
Para a criação deste curso foi utilizada uma metodologia diferente da utilizada
no curso de Orientação de Dúvidas; ao invés de apresentar todo o conteúdo de
forma simultânea, o curso foi dividido em módulos. O material de cada módulo era
disponibilizado e ao final algumas questões eram feitas para verificar o entendimen-
to sobre o conteúdo visto.
O tema OpenOffice.org foi fruto de uma pesquisa de opinião indireta feita com
alunos e professores, e pareceu interessante para muitos.
O curso era basicamente composto por apostilas criadas por instituições que
têm forte conhecimento sobre o uso do OpenOffice.org. Essas apostilas foram
disponibilizadas no curso e o estudo delas foi direcionado por atividades criadas
pelo formador. Uma atividade, por exemplo, direcionando a leitura dos capítulos 1 e
2 do manual de OpenOffice.org.
O método utilizado neste curso foi o mesmo usado em outras universidades,
como, por exemplo, a UFLA - Universidade Federal de Lavras – no seu curso de
pós-graduação lato sensu em “Administração em redes Linux”. Desta forma pude-
ram ser testadas as dificuldades de criação e manutenção de um curso utilizando
um método que pode ser aplicado para qualquer curso em informática. Assim afir-
ma-se que o maior segredo para o sucesso do curso dependerá da qualidade do
material disponibilizado e da eficiência do instrutor na criação e aplicação de exer-
cícios que proporcionem uma melhor imersão no tema abordado.
Motivação
Pôde-se perceber também, de forma geral, uma falta de motivação dos alunos
envolvidos no projeto em aprender a matéria de forma constante. Foi visto que
apesar da disponibilização dos dados ocorrer bem antes da avaliação presencial,
apenas nas vésperas desta é que o material era consultado; viu-se também que as
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Atividade Avaliativa
Para melhor poder avaliar o ambiente TelEduc foram feitas algumas análises
em cursos ministrados no curso de Letras do Centro Universitário Padre Anchieta,
e pode-se perceber que quando existem atividades que fazem parte das avaliações
de rendimento de cursos presenciais muitos alunos interagem no sistema, porém
quando a atividade não tem essa finalidade acaba sendo deixada de lado.
Por outro lado, em cursos estritamente não presenciais como, por exemplo, na
pós graduação lato sensu em “Administração em Redes Linux” da UFLA – Univer-
sidade Federal de Lavras, a adesão e responsabilidade dos alunos é bem mais
alta.
Pode-se perceber que a motivação para o curso dependerá muito do aluno,
porém um bom material, com apelo visual bom, consegue ajudar neste ponto tam-
bém. Um material bem elaborado motiva o aluno a estudar e a se manter no curso.
CONCLUSÃO
A análise dos dados demonstra algumas peculiaridades do ambiente de educa-
ção a distância. Iniciando-se a análise pelos problemas, deve-se salientar a ausên-
cia de interesse por parte dos alunos envolvidos nos cursos de teste; essa falta de
interesse pode ser expandida à maioria das pessoas que utilizam ambientes de
educação a distância, portanto pode ser considerada um problema deste método
de ensino. Uma solução encontrada é o emprego de avaliações esporádicas do
tema abordado no curso, sem data marcada, para que os alunos sejam “forçados”
a assistir às aulas, porém ainda não pode ser considerada como eficaz pois, à
medida que os alunos começam a se conhecer, pode haver uma troca de informa-
ção sobre a ocorrência de avaliações. O emprego desta solução, associado com
algum tipo de controle de presença mais rigoroso poderia ser implementado sem
grandes esforços e solucionaria esse problema.
Tomando como base a dificuldade de prender a atenção dos alunos em um
curso de EAD e diminuir o problema de socialização, o curso deve ser desenvolvido
com recursos atraentes e inovadores, a fim de tornar o curso algo mais interessan-
te; além disso, para maior integração dos componentes do curso, podem ser
marcadas também reuniões presenciais, “happy hours” e encontros, que motivam
os alunos a participarem mais ativamente do grupo. Desta forma é possível aumen-
tar também o rendimento do curso, pois como já pôde ser experimentado em edu-
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cação presencial, quanto mais unido um grupo, maior a sua interação e facilidade
de aprender entre si.
Analisando os dados de alunos de cursos não presenciais pode-se concluir
que o ambiente traz características que facilitam a aprendizagem, porém algumas
melhorias poderiam vir a aumentar seu potencial, principalmente quando o foco do
curso não é tecnologia, mais especificamente quando o ensino aplicado é de língua
estrangeira. O ambiente TelEduc é precário em comunicação em tempo real, tendo
apenas um Chat como meio, e uma ferramenta que pudesse prover comunicação
oral, onde um professor pudesse falar e os alunos pudessem escutar, seria muito
bem aplicado, principalmente no ensino de pronunciação de palavras e no emprego
de técnicas de reunião ou apresentação. Existem ferramentas de comunicação
deste tipo para Java, e isso poderia ser agregado ao TelEduc.
Após essas análises, o uso do ambiente TelEduc para ensino de Informática
pôde ser considerado válido, pois provê todas as ferramentas necessárias para o
desenvolvimento, manutenção e análise do curso de forma eficiente e completa.
Quando se fala de utilização do tema estudado de forma paralela ao ambiente
estamos falando de utilizar o que se aprende simultaneamente à leitura do material
utilizado no curso, pois se tratando de um curso de informática, o material usado
será o computador e algum software, e desta forma pode ser feita muitas vezes a
leitura do material e aplicação direta no objeto do estudo. Um exemplo disso é o
curso de OpenOffice.org, no qual o material e os arquivos usados para ensino dos
módulos são feitos no padrão do OpenOffice.org, portanto os arquivos serão aber-
tos dentro do ambiente que se está estudando, possibilitando assim uma aplica-
ção direta do conhecimento adquirido.
Por fim, o fato de o ambiente TelEduc estar em permanente desenvolvimento e
vários cursos terem sido implementados com sucesso por instituições renomadas,
como, por exemplo, a UNICAMP, comprova que o uso da ferramenta é adequado ao
ensino não presencial. Este trabalho, aliado a esse fato, comprova a eficiência e
eficácia do ambiente para o ensino de informática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
Este artigo tem por objetivo descrever o funcionamento de um sistema de visualização de
documentos via Internet. A principal função deste sistema é facilitar a consulta de documentos
dentro das empresas, reduzindo o acesso aos arquivos físicos e possibilitando o controle de
usuários com autorização de visualização dos documentos.
Palavras-chave: visualização de documentos via Internet, HTML, JavaScript, VBScript,
SQLServer.
ABSTRACT
This article aims to describe the features of a system that permits document visualization by
means of the Internet. The main goal of this system is to facilitate the viewing of documents within
companies, reducing access to hardcopies and allowing control over users through document
visualization authorizations.
Key Words: visualization of documents through the Internet, HTML, JavaScript, VBScript,
SQLServer.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo descrever as atividades e funcionamento do pro-
tótipo de um Sistema de Visualização de Documentos Via Internet. Sua principal
função é facilitar a consulta de documentos dentro das empresas, reduzindo o
acesso aos arquivos físicos e possibilitando o controle de usuários com autoriza-
ção de visualização dos documentos. Para auxiliar nos propósitos deste trabalho
foi realizado um estudo criterioso sobre visualização de imagens via Internet.
De forma geral, as empresas possuem uma quantidade enorme de documen-
tos físicos que ocupam espaço, dificultando a organização, localização e consulta
das informações contidas nestes documentos. A dificuldade aumenta quando os
documentos possuem valor jurídico1 ou fiscal2, o que impede a sua criação em
formato eletrônico de edição como, por exemplo, um arquivo do MS Word. A melhor
solução para este problema seria a digitalização destes documentos, mesmo as-
1. Documentos que possuem assinaturas, rubricas, reconhecimento de firma, autenticações ou qualquer forma
de identificação pessoal única.
2. Documentos com informação ou comprovante de tributação fiscal, com autorização de emissão única e
exclusiva pelo governo.
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AMBIENTE TECNOLÓGICO
O ambiente tecnológico foi montado com base em tecnologia Microsoft Windows,
com sistema operacionalMicrosoftW indows2000Server (
STARLIN, 2001), com o
pacote de IIS 5.0 (TULLOCH, 2001; IIS) e atualização para instalação do Service
Pack 4 e pacotes de segurança. A escolha deste sistema operacional foi devida ao
fato de sua administração ser fácil e centralizada, reduzindo o esforço de
gerenciamento e manutenção do sistema. Devido à utilização do ambiente
operacional Windows e do IIS 5.0, no desenvolvimento do sistema foi utilizada
programação ASP (Jones, 2001; ASPBrasil), através das linguagens HTML (HTML),
JavaScript (SILVA, 2001) e VBScript (VBScript).
O sistema de gerenciamento de banco de dados escolhido foi o SQL Server
2000 (WAYMIRE, 2001; SQLServer) com Service Pack 3, devido a sua confiabilidade
e eficiência. Com a finalidade de alcançar melhor desempenho do sistema, foi
utilizado o método de 3 camadas com a utilização de stored procedure, view, trigger,
e function. Desta forma, as regras de negócio do sistema ficam a cargo do banco
de dados facilitando assim a codificação. Para evitar uma sobrecarga do banco de
dados, as imagens dos documentos digitalizados não foram armazenadas direta-
mente nele, mas gravadas em diretórios protegidos no servidor, seus nomes, bem
como suas localizações no disco, foram armazenados no Banco de Dados.
Como medida de segurança o projeto foi desenvolvido para a utilização de um
Data Center3; desta forma toda a infra-estrutura de segurança fica a cargo da em-
presa contratada. Mesmo assim, como medida de segurança adicional, foi instala-
do no servidor o Firewall4 Internet Security Systems Blackice versão 3.6 (ISS) cci e
o antivírus Norton Antivírus Corporate Edition (Norton).
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
DESCRIÇÃO DO SISTEMA
O sistema de visualização de documentos foi desenvolvido para uma institui-
ção financeira de uma montadora de automóveis controlar e visualizar os documen-
tos referentes aos distribuidores de automóveis. O sistema agrupa os documentos
conforme o tipo, como apresentado na figura 1:
Documentos
Cartão de Assinatura
Contratos Aditamentos
Contrato 2 Contrato 2
Garantias
Hipoteca
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Solicitação de Documento
Imagem do Documento
Cadastro de Usuários
Solicitação de Acesso
Usuário
Permissão de Acesso
Sistema de
Visualização de
Relatório Analítico
í Documentos Via
Inernet
Relatório de Eventos
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CONTROLE_SENHAS TIPOS_EVENTOS
CodCtlSenha CodTipEvento
CodUsuario (FK) Descricao
Senha
Data
USUARIOS
CodUsuario
Login EVENTOS
Nome CodEvento
GRUPOS_USUARIOS Fone CodUsuario (FK)
EMail CodTipEvento (FK)
CodGrpUsuario Depto
Data
Nome Senha
DatValSenha IP
Complemento
CodGrpUsuario (FK)
DatInclusao
Status
Bloqueio
SenhaPadrao
MODULOS_X_GRUPOS_USU PERMISSOES
CodGrpUsuario (FK) CodUsuario (FK)
CodModulo (FK) CodTipDoc (FK)
Permissao
TIPOS_DOC GRUPOS_DOC
CodTipDoc CodGrpDoc
Descricao Descricao
CodGrpDoc (FK)
MODULOS
CodModulo
Descricao
Nome
Menu
TamMenu
TamSubMenu
Ordem
Arquivo
IMAGENS
CodDistribuidor (FK)
CodTipDoc (FK)
Imagem
DISTRIBUIDORES
CodDistribuidor
Nome
CNPJ
N para N 1 para N
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Figu
arFigura
A pesquisa traz como resultado uma lista de distribuidores, que são mostrados
em páginas com até 10 (dez) ocorrências e o usuário poderá movimentar as pági-
nas através dos botões de avanço e retrocesso, seguindo a seguinte legenda (ver
Fig. 5):
- Movimenta o registro para a primeira página;
- Movimenta o registro para a página anterior à atual;
- Movimenta o registro para a página seguinte à atual;
- Movimenta o registro para a última página.
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n Usuário bloqueado;
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CONCLUSÃO
Os resultados obtidos no desenvolvimento do projeto do sistema de visualização
de documentos via Internet foram muito satisfatórios e os objetivos da fase de
planejamento foram alcançados. O sistema possui todas as funcionalidades espe-
radas de um visualizador de documentos.
O conhecimento adquirido neste projeto poderá ser expandido para empresas
das mais variadas áreas, não somente para instituições financeiras, como foi o
caso deste protótipo. Com poucas alterações, poderá ser utilizado em qualquer
área da indústria ou do comércio. Muitas empresas têm problema semelhante de
armazenamento e gerenciamento dos seus documentos. Com a implantação do
sistema de Visualizador de Documentos Via Internet a empresa poderá deslocar o
seu arquivo de documentos para um outro local e melhor aproveitar o seu espaço
físico para produção.
Este projeto poderá evoluir para um gerenciamento de documentos via Internet,
que poderá controlar solicitações de documentos físicos e, desta forma, a empresa
terá condições de gerenciar com quem os documentos estão e por quanto tempo.
Esta evolução traria a vantagem do controle de acesso a documentos físicos, pelo
qual o encarregado do controle do arquivo só poderá fornecer os documentos aos
usuários autorizados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JONES, A. Russell. Dominando Active Server Pages 3. São Paulo: Makron Books,
2001.
STARLIN, Gorki; ALCANTARA, Izaias. Microsoft Windows 2000 Server: Curso Com-
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TULLOCH, Mitch. Dominando IIS 5.0. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2001.
WAYMIRE, Richard. Aprenda em 21 dias Microsoft SQL Server 2000. Rio de Janei-
ro: Campus, 2001.
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 69
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
(ASPBrasil) http://www.aspbrasil.com.br/
(HTML) http://msdn.microsoft.com/library/default.asp?url=/workshop/author/dhtml/
dhtml_node_entry.asp
(VBScript) http://msdn.microsoft.com/library/default.asp?url=/library/en-us/dnanchor/
html/scriptinga.asp
(SQLServer) http://www.microsoft.com/sql/default.asp
(ISS) http://www.iss.net/
(Norton) http://www.symantec.com.br/region/br/product/nav/navce/
(ErWin) http://www3.ca.com/Solutions/Product.asp?ID=260
(Adobe) http://www.adobe.com.br/
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
RESUMO
Este artigo tem como objetivo debater a proposta de Bobbio de unir os aspectos positivos do
liberalismo e do socialismo, no projeto denominado socialismo-liberal, que conjuga as duas corren-
tes do pensamento político ocidental com a democracia, estabelecendo na mesma estrutura três
características da cidadania: as liberdades civis, as garantias políticas e os direitos sociais.
Palavras-chave: direitos individuais, direitos coletivos, liberalismo, socialismo e democracia.
ABSTRACT
This article aims to debate the proposal of Bobbio to unite positive aspects of liberalism and
socialism, in the project called liberal-socialism, which combines the two lines of Western political
thought with democracy, establishing in the same structure, three characteristics of citizenship:
civil liberties, political guarantees and social rights.
INTRODUÇÃO
Em 9 de janeiro de 2004 faleceu um dos maiores filósofos políticos contempo-
râneos, o italiano Norberto Bobbio. Bobbio foi senador vitalício da Itália, nasceu em
Turim, onde estudou direito e filosofia, foi professor universitário e jornalista. É co-
nhecido como filósofo que se aplicou ao estudo do direito, da filosofia e da política.
Bobbio escreveu para diversos periódicos italianos tendo suas reflexões políti-
cas e teóricas comentadas em diversos diários do país, contribuindo, assim, para
aproximar as pessoas através do debate e colaborando para o exercício da cidada-
nia.
Bobbio sempre esteve disposto a dialogar com seus interlocutores. Suas preo-
cupações teóricas e políticas em relação às questões centrais da democracia, da
liberdade, da igualdade, da república e dos direitos humanos foram os elementos
básicos de sua atividade intelectual e política. Por isso, Norberto Bobbio é conside-
rado um dos maiores filósofos contemporâneos.
* Mestre em Direito pela UNIP - Campinas, Especialista em Advocacia Empresarial pela FMU, Especialista em
Direito Penal pela PUC-SP, Professor do Curso de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta.
** Mestre em Direito pela PUC-Campinas, Mestre em Filosofia pela PUC-Campinas, Especialista em Direito
Material e Processual do Trabalho pelo Centro Universitário Padre Anchieta, Especialista em Direito Processual
Civil pela PUC-Campinas, aluno do Curso de Especialização em Direito Penal e Processo Penal pelo Centro
Universitário Padre Anchieta, Professor dos Cursos de Direito e de Administração de Empresas do Centro
Universitário Padre Anchieta, e congressista do II Congresso Mundial de Direito Processual realizado em Recife.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
1. LIBERALISMO
O termo liberalismo tornou-se conhecido após a Revolução Francesa, em 1789.
O liberalismo é uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus pode-
res quanto às suas funções. O primeiro é o Estado de direito e o segundo é o
Estado mínimo.
Contudo, é possível que um Estado de direito não seja mínimo, como também
um Estado mínimo que não seja um Estado de direito. O Estado de direito se opõe
ao Estado absoluto; o Estado mínimo se contrapõe ao Estado máximo.
Por Estado de direito entende-se geralmente um Estado em que os poderes
públicos são regulados por normas gerais e devem ser exercidos no âmbito das
leis que os regulam. Trata-se da doutrina da superioridade do governo das leis
sobre o governo dos homens.
O Estado de direito significa não só subordinação dos poderes públicos às leis,
mas também subordinação das leis ao limite material do reconhecimento de al-
guns direitos fundamentais considerados constitucionalmente e, portanto, invioláveis.
Integram o Estado de direito os mecanismos constitucionais que impedem o
exercício arbitrário e ilegítimo do poder, bem como o abuso do poder. Os mais
importantes desses mecanismos são: 1, o controle do Poder Executivo pelo
Legislativo; 2, o eventual controle do parlamento no exercício do Poder Legislativo
ordinário por parte de uma corte jurisdicional, a quem se pede a averiguação da
constitucionalidade das leis; 3, uma relativa autonomia do governo local em todas
as suas formas e graus, com respeito ao governo central; 4, uma magistratura
independente do poder político (BOBBIO, 1997, p. 19).
Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de direito têm o
objetivo de defender o indivíduo dos abusos do poder.
Para os liberais, a liberdade individual é garantida, mais do que pelos mecanis-
mos constitucionais, também pelo fato de que ao Estado são reconhecidas tarefas
limitadas à manutenção da ordem pública interna e internacional. Pode-se dizer
quealimitação das tarefas do Estado constitui condiçsine ão qua non do controle
dos poderes coercitivos do Estado. O Estado mínimo é mais controlável do que o
Estado máximo.
Uma vez defendida a liberdade no sentido predominante da doutrina liberal como
liberdade em relação ao Estado, a formação do Estado liberal pode ser identificada
como o progressivo alargamento da esfera de liberdade individual diante dos pode-
res públicos.
Mas mesmo o objetivo liberal de construir um “Estado limitado” pode ser com-
preendido de duas formas distintas: o sentido liberal de limitação dos seus poderes
(Estado de direito) ou o sentido liberista de limitação das suas funções (Estado
mínimo). Trata-se da identificação do liberalismo com a defesa das forças de mer-
cado. Em sentido contrário temos o termo “liberista”, que serve para designar os
adeptos do liberalismo econômico, ao passo que liberalismo refere-se ao universo
do liberalismo político (BOBBIO, 1997, p. 39; 87).
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2. LIBERALISMO E DEMOCRACIA
O início das democracias liberais se evidenciou nas revoluções burguesas que
entre os séculos XVIII e XIX ocorreram nos Estadas Unidos e na Europa. Fatos
importantes como a Guerra de Independência Estadunidense (1776), a Revolução
Francesa (1789) e as diversas revoluções européias de 1848 que destruíram o
absolutismo, legado do feudalismo.
Na vanguarda desses acontecimentos estava a nova classe social emergente,
a burguesia, que derrotou as monarquias de direito divino, consolidando a liberdade
econômica, reduzindo o poder da Igreja (separação entre Igreja e Estado) e institu-
indo as noções de cidadão e de representação política: noções de homem, de voto.
O termo liberalismo ganhou destaque após a Revolução Francesa, em 1789.
Em sua origem, o liberalismo não se confunde com a democracia. De fato, nem
todos os Estados originariamente liberais tornaram-se democráticos. Entretanto,
os Estados democráticos existentes foram originariamente liberais. Assim, libera-
lismo e democracia não são interdependentes: um Estado liberal não é necessa-
riamente democrático e um governo democrático se transforma necessariamente
num Estado liberal. Isto porque enquanto o ideal do primeiro é limitar o poder, o do
segundo é distribuir o poder.
Liberalismo e democracia tratam de assuntos divergentes: o liberalismo da
questão das funções do governo e da limitação de seus poderes; a democracia do
problema de quem deve governar e com quais procedimentos. O liberalismo exige
que todo poder seja submetido a limites, inclusive o da maioria. A democracia, ao
contrário, chega a considerar a opinião da maioria o único limite aos poderes do
governo. É uma teoria dos limites do poder do Estado. Tais limites valem para quem
quer que detenha o poder político, inclusive para um regime democrático em que
todos os cidadãos têm o direito de participar, mesmo que indiretamente, da tomada
das grandes decisões, e cuja regra é a regra da maioria.
Na formulação hoje mais corrente, o liberalismo é a doutrina do “Estado míni-
mo”. Ao contrário dos anarquistas, para quem o Estado é um mal absoluto e deve,
pois, ser eliminado, para o liberal o Estado é sempre um mal, mas é necessário,
devendo, portanto, existir, mas dentro dos limites mais restritos.
Nesse contexto, Bobbio defende o liberalismo democrático, contra a visão ins-
trumental de democracia dos liberistas. Com o avanço do socialismo no mundo, o
liberalismo acabou se concentrando na luta pela economia de mercado e pela
liberdade econômica. Com isso, de doutrina do Estado de Direito, o liberalismo se
transformou em doutrina do Estado mínimo.
Nesse contexto, Bobbio entende: a) que hoje o método democrático seja ne-
cessário para a salvaguarda dos direitos fundamentais da pessoa, que estão na
base do Estado liberal; b) que a salvaguarda desses direitos seja necessária para
o correto funcionamento do método democrático (BOBBIO, 1997, p. 43).
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5. SOCIALISMO E DEMOCRACIA
Bobbio definiu-se como socialista-liberal, uma tradição muito particular na Itá-
lia. Entretanto, sua ideologia política jamais o impediu de reconhecer a importância
do marxismo.
Bobbio também observa outra característica diferenciadora, a divisão entre
moderados e extremistas: a posição ante a idéia de liberdade, a apreciação do
método democrático. Do cruzamento destas variáveis, resultaram quatro possibili-
dades de doutrinas e movimentos políticos, a saber: a) na extrema-esquerda, os
igualitários autoritários, descendentes do jacobinismo e do bolchevismo e adeptos
do socialismo real; b) na centro-esquerda, os igualitários libertários, encontrados
nos vários partidos social-democratas e social-liberais e defensores do Welfare
State; c) na centro-direita, os libertários inigualitários, filiados aos partidos conser-
vadores e liberal-conservadores e favoráveis à onda neoliberal; d) na extrema-direi-
ta, os autoritários inigualitários, originários do nazismo e do fascismo e simpati-
zantes das suas novas aparições (BOBBIO, 2001, p. 134-135).
Como sabemos, Bobbio é um socialista-liberal defendendo a segunda opção
política – a libertária igualitária ou moderada de esquerda, na qual sintetiza o seu
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CONCLUSÃO
Para Bobbio, o homem, como indivíduo, deve ser livre; como ser social deve
estar com os demais indivíduos em relação de igualdade. Liberdade e igualdade
são os valores que servem como fundamento ao socialismo-liberal.
A “igualdade democrática”, na “liberdade liberal”, é aquela perante a lei e os
direitos. Diferentemente do binômio democracia e socialismo, no qual democracia
será vista como igualdade social, no binômio democracia e liberalismo, democra-
cia terá como sinônimo a expressão sufrágio universal.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
________. Elogio da Serenidade e outros escritos morais. São Paulo: Unesp, 2002.
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MARX, Karl. O Capital – Livro. 12. ed. v.1. Rio de Janeiro: Bertrand, 1988.
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RESUMO
O propósito do presente artigo é discutir o impacto da Globalização, tal qual a conhecemos
hoje, no âmbito da Administração. No primeiro capítulo estaremos analisando qual o sentido da
Globalização, bem como verificando o seu arcabouço histórico. No segundo capítulo estaremos
focando a Globalização em seu estágio atual, com a larga e crescente utilização de recursos
tecnológicos. No terceiro capítulo discutiremos as conseqüências desse tipo de Globalização para
o administrador, a fim de identificarmos ações e atitudes que devam ser buscadas e cultivadas por
todo aquele que necessita atuar na Gestão de Negócios.
ABSTRACT
The intention of the present article is to discuss the impact of Globalization, as known today, in
matters of administration. In the first chapter the meaning of Globalization will be analyzed as well
as verifying the its historical outline. The second chapter focuses on Globalization in its present
stage, with its large and growing use of technological resources. In the third chapter, consequences
of this type of Globalization for the administrator are discussed in order to identify actions and
attitudes that should be sought after and developed by all those in business management.
1.1 Conceituação
Definir o termo “globalização” é mais difícil do que a princípio se imagina. Isso
porque não existe uma definição única e inquestionável, em torno da qual todos
concordem (COSTA, 2005)1. Como esclarece um dos autores pesquisados:
Como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa coisas dis-
tintas para diferentes pessoas. Pode-se, no entanto perceber quatro linhas básicas
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por nobres e reis passa a ser regido por uma burguesia industrial e bancária. “Nes-
tes cem anos da segunda fase da globalização os antigos impérios dinásticos
desabaram (o dos Bourbons em 1789 e, definitivamente, em 1830, o dos Habsburgos
e dos Hohenzollers em 1914, o dos Romanov em 1917). Das diversas potências
que existiam em 1914 (o Império britânico, o francês, o alemão, o austro-húngaro,
o italiano, o russo e o turco otomano) só restam depois da 2ª Guerra as superpotên-
cias: os Estados Unidos e a União Soviética” (SCHILLING, 2005).
Após o fim da 2ª Guerra, o mundo presenciou a disputa entre as duas superpo-
tências naquilo que se costumou chamar de “Guerra Fria”. Nesse período, os paí-
ses se dividiram em torno de correntes políticas (comunistas x capitalistas) e,
embora tenha havido um aumento na integração, as barreiras ideológicas constitu-
íram-se, por vezes, em um sério impedimento. Por fim, com o colapso da URSS e
a queda do muro de Berlim, chegamos à fase atual da globalização, sob a égide de
uma só superpotência mundial: os Estados Unidos (SCHILLING, 2005).
Na presente etapa, a globalização “caracteriza-se por:
a) deslocamento espacial das diferentes etapas do processo produtivo, de for-
ma a integrar vantagens nacionais diferentes;
b) desenvolvimento tecnológico acentuado, nas áreas de telemática e
informática, usando-o de forma a possibilitar o deslocamento espacial das fases de
produção e reduzindo tempo e espaço no processo de comercialização;
c) simplificação do trabalho, para permitir o deslocamento espacial da mão-de-
obra;
d) igualdade de padrões de consumo, para permitir aumento de escala;
e) mobilidade externa de capitais, buscando rentabilidade máxima e curto pra-
zo;
f) difusão (embora desigual) dos preços e padrões de gestão e produção,
mantendo, todavia, diferenças de condições produtivas que são aproveitadas no
deslocamento da produção” (MOLLO, 2005).
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revolução foi a da invenção do livro escrito. Ela ocorreu em primeiro lugar na China,
por volta de 1300 a. C.; e em seguida, 800 anos mais tarde, na Grécia (quando
Peisistratos, o tirano de Atenas, mandou copiar os versos de Homero — que até
então eram apenas recitados — para livros). A terceira revolução foi a da invenção
da imprensa escrita entre 1450 e 1455, pela qual Gutemberg foi responsável.
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Responsabilizavam o chefe pela carreira Sentem-se responsáveis pela sua própria carreira
Não eram considerados responsáveis pelo Assumem a responsabilidade pelo seu próprio
próprio desenvolvimento desenvolvimento
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CONCLUSÃO
Como podemos ver no decorrer do presente trabalho, a globalização é uma
realidade presente e inquestionável, cujos efeitos se estendem por campos varia-
dos como economia, cultura, política, etc. A informática, por sua vez, com seu
pujante desenvolvimento tecnológico, tem multiplicado exponencialmente o alcan-
ce desse mundo globalizado. Nesse contexto, a tarefa do administrador se reveste
de capital importância. Ele precisa estar cônscio e preparado para um mundo em
constante mudança, onde a informação se encontra de forma abundante, e onde as
decisões precisam ser tomadas num exíguo espaço de tempo. Priorizar a aprendi-
zagem, manter-se atualizado, ter uma atitude pró-ativa são características desejá-
veis no perfil atual do administrador. Por sua vez, as empresas no atual cenário,
devem procurar valorizar seu capital intelectual, usar os recursos tecnológicos a
seu favor, e estar prontas para se adaptarem às novas exigências do mercado.
Como ressalta Mário Pascarelli Filho (2005): “Não serão as grandes corporações
que sobreviverão, mas com certeza as estruturas mais ágeis e, portanto, as mais
competitivas”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
WICK, C.W., LEÓN, L.S. O desafio do Aprendizado. Como fazer sua empresa
estar sempre à frente do mercado. Apud LIMA, Solange Moreira Dias.
88 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
EDUCAÇÃO: REPRODUÇÃO OU
TRANSFORMAÇÃO? 1
RESUMO:
O presente trabalho tem o objetivo de discutir os conceitos de reprodução e transformação em
educação, tendo como ponto de partida teórico as análises crítico-reprodutivistas que despontam
na década de 70, assim como as análises de Paulo Freire e Dermeval Saviani, ambos teóricos
brasileiros que, ao nosso ver, indicam alguns caminhos para a superação da reprodução cultural
e social via escolarização. Tanto o conceito de reprodução quanto o de transformação, muito
utilizados atualmente, sustentam um debate acirrado e polêmico, dividindo opiniões. As discussões
em torno do papel da escola nas sociedades modernas exigem análises que irrompam com o
determinismo teórico e possibilitem uma refuncionalização do sistema escolar. Com efeito, acredi-
tamos que as idéias de Freire e Saviani possam contribuir para a superação do conceito de
reprodução em educação.
ABSTRACT
The aim of this study is to discuss the concepts of reproduction and transformation in education,
having as theoretical base the critical-reproductivist analyses that appeared in the decade of the
1970´s, as well as the analyses of Paulo Freire and Dermeval Saviani, both Brazilian theorists, that,
in our opinion, demonstrate paths to overcome cultural and social reproduction through education.
The concepts of reproduction as well as that of transformation, currently in frequent use, generate
heated controversy that divides opinions. The discussions around the role of in modern societies
require analyses that liberate from the theoretical determinism and permit a re-functionalisation of
the school system. Effectively, we believe that the ideas of Freire and Saviani may contribute to
overcome the concept of reproduction in education.
* Licenciado em História pela PUC/SP; Mestre e doutorando em Educação pela UNICAMP; professor do Centro
Universitário Padre Anchieta.
** Licenciado em Filosofia e Pedagogia; Mestre em História Social pela PUC-SP; doutorando em Educação pela
USP; Professor do Centro Universitário Padre Anchieta.
*** Licenciado em História e Pedagogia pelo UniFAI; pós-graduado em Psicopedagogia pelo UniFAI; mestrando
em Educação pela USP; professor do Centro Universitário Assunção.
1. A pergunta que dá título a este artigo tem importância fundamental para a compreensão do papel da escola nas
sociedades modernas. Não sem pouca importância tal indagação tem promovido debates acalorados e opiniões
tão divergentes sobre o tema.
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uma falácia, uma fantasia criada para justificar a dominação das grandes corporações
internacionais sobre a economia mundial.
Ao contrário, o desenvolvimento econômico, se visto e realizado em bases
justas, poderia promover uma educação de qualidade, com vistas à transformação
da sociedade.
Como ficamos então? Aceitamos o mero discurso de que há uma reprodução
do modelo social, feita no âmbito da escola?
Um dos conceitos centrais da obra de Paulo Freire é o da esperança. Uma
esperança que não seja ingênua, mas crítica. Como diz Ariano Suassuna, é prefe-
rível um “pessimismo esperançoso”, a um otimismo ingênuo ou acrítico, ou ainda,
um pessimismo cético.
Sem dúvida nenhuma, Paulo Freire é o educador brasileiro mais reconhecido
internacionalmente. Sua obra e reconhecimento, aliás, começaram no exterior.
Mesmo tendo iniciado sua carreira no Brasil, passando por todos os processos de
discussão sobre educação brasileira até os anos 60, produziu grande parte de sua
obra no exterior. A pedagogia do oprimido, sua obra fundamental, foi publicada
originalmente no Chile e nos Estados Unidos, para ser traduzida para o português
e publicada no Brasil somente em 1975.
Freire faz parte da tendência progressista em educação brasileira, criando a
“pedagogia da libertação”. Sua formação se dá, segundo muitos autores, em dois
momentos. Num primeiro momento incorpora o debate proposto pelo movimento da
“escola nova”, sobretudo assimilando a idéia da experiência prática, do cotidiano
vivido pelos sujeitos educandos. Esta influência veio através de Anísio Teixeira,
discípulo e divulgador da obra do filósofo pragmatista norte-americano John Dewey
no Brasil. Num segundo momento, Freire absorve as idéias do existencialismo
cristão para posteriormente produzir uma síntese entre suas influências iniciais e o
pensamento marxista. Freire, a partir daí, pode ser considerado um revisionista em
termos da aplicação das teorias marxistas em educação.
Hoje Paulo Freire pode ser considerado um pensador neomoderno, ou seja,
não cedeu ao falacioso discurso “pós-moderno”, que decretou a morte da razão e
dos horizontes utópicos. Ao contrário, sempre foi um árduo defensor de uma
racionalidade, mas vista em outras bases, não aquela racionalidade “instrumental”,
da qual fala o filósofo alemão contemporâneo Jürgen Habermas, mas de uma
racionalidade inserida no que ele chama de “teoria dialética do conhecimento”. Por
esta visão, caberia não pensar pensamentos, mas pensar o concreto. Paulo Freire
foi muito incompreendido e criticado por defender este ponto de vista, chegou a ser
visto até como um pensador que abriu mão da razão e da teoria, um idealista, como
dizia Dermeval Saviani, que apesar de ser também um educador progressista, cri-
ticava Freire por seu “idealismo”.
Ao levantarmos aspectos da crítica de Freire ao modelo tradicional de educa-
ção, veremos que as críticas a ele dirigidas são, em grande parte, infundadas. Em
primeiro lugar, questionava um processo acrítico de transmissão de conteúdos (edu-
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Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empe-
nham tão somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como
está constituída. Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias
consideram que a escola não poderia ser diferente do que é. (SAVIANI, 1986, p.
34)
A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam
o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o acesso aos rudimentos desse
saber. (...) Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever,
contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e
geografia humanas) (SAVIANI, 1986, p. 23).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das posições teóricas aqui abordadas, caberia indagar qual é o papel da
educação no mundo globalizado de hoje: seria a escola apenas espaço de reprodu-
ção social e cultural ou uma via de transformação?
Mediante as dúvidas que se nos apresentam, acreditamos que a escola seja
um espaço tanto de reprodução como de transformação social, isto porque cons-
titui um local de circulação de idéias, aparentemente livres, capazes de
“refuncionalizar” a dinâmica da instituição, passando de uma situação de reprodu-
ção a uma de transformação social, num sentido gramsciano (FREITAG, 1980).
Apesar das críticas severas sofridas no início dos anos 80, as teorias da repro-
dução, acusadas de não oferecerem saídas concretas aos problemas educacio-
nais, têm sua parcela de contribuição para a construção de uma teoria da resistên-
cia, pois desvelaram o funcionamento do sistema educacional, permitindo aos teó-
ricos da resistência, entre os quais Saviani e Freire, discutir e propor algumas
saídas para a escola moderna. Neste sentido, alguns autores como Tomaz Tadeu
da Silva (1992), afirmam que as teorias da resistência são na verdade um refina-
mento teórico das teorias da reprodução, não se apresentando como corpos teóri-
cos fechados e antagônicos.
Vimos, tanto na proposta de Freire como na proposta de Saviani, alguns cami-
nhos alternativos para a educação moderna. Apesar das diferenças teóricas que
marcam os dois autores, ambos atribuem à educação, e neste sentido à escola,
um papel estratégico, seja enquanto espaço de diálogo ou conscientização.
Evidentemente, não podemos ser ingênuos e acreditar que somente a escola é
capaz de proporcionar todas as transformações sociais e culturais necessárias.
Porém, se não podemos creditar à escola um papel messiânico, não é menos
verdade que não podemos ignorar sua influência.
Em tempos de globalização e de neoliberalismo, tais como os que vivemos, em
que a educação tem sido tratada cada vez mais como mercadoria, como serviço a
ser prestado e comprado no mercado e cada vez menos como direito social
constitutivo dos direitos fundamentais da cidadania, trata-se de retomar o estudo
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
crítico e criativo dos autores estudados e apontados nesse texto, para repensar o
papel da educação e da escola na perspectiva de transformação social.
As mudanças dos tempos algumas vezes provocam também mudanças na
forma de exclusão e de reprodução da estrutura social e cultural da sociedade pela
escola, não alterando, porém, seu papel reprodutor, como apontavam autores cita-
dos acima. Trata-se, nesse momento, de empreender estudos que busquem verifi-
car essa exclusão e reprodução em novos moldes e também, e principalmente, a
construção de alternativas que apontem, como Freire e Saviani, para um papel
transformador da educação e da escola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_______. Pedagogia da autonomia. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GIROUX, Henry. Teoria crítica e resistência em educação: Para além das teorias
da reprodução. Rio de Janeiro: Vozes, 1986.
100 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
SILVA, Tomaz Tadeu da. O que Produz e o que Reproduz em Educação: ensaios
de sociologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
RESUMO
O objetivo deste trabalho é trazer aos administradores conceitos e informações acerca de
algumas das tendências na área de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) que, acredita-
se, devam ser monitoradas em função das oportunidades e ameaças que podem trazer às organi-
zações em prazo curto ou médio.
Ao discutirem TIC, as organizações colocam em primeiro plano os aspectos relativos à efici-
ência e à segurança. Eficiência, no sentido de otimizar a utilização dos recursos disponíveis, é
fundamental numa época de hipercompetição, margens cada vez menores, etc. Segurança, englo-
bando aspectos como confidencialidade e furto de dados, disponibilidade de sistemas, proteção
contra vírus e assemelhados, sabotagem, etc., é assunto cada vez mais prioritário.
Além da eficiência e segurança, deve também ser considerada como objetivo do uso da TIC a
obtenção da flexibilidade suficiente para que a organização possa mudar seus rumos no momento
adequado e agilidade tal que permita reagir às mudanças do ambiente em que atua.
Este trabalho não pretende esgotar o assunto – tendências na área da TIC são detetadas,
consolidam-se ou deixam o cenário com rapidez, pelo que se reitera a importância do monitoramento
constante da área pelos administradores, não só por aqueles que atuam na área de TIC propria-
mente dita, mas também pelos que atuam nas áreas de negócios.
A inclusão do tema no processo de planejamento estratégico pode auxiliar bastante no sentido
de que esse monitoramento seja feito de forma sistemática e eficiente.
ABSTRACT
The objective of this paper is to present administrators with concepts and information concerning
trends in the information and communications technology (ICT) field that should be monitored due to
the short or mid term opportunities for and threats to organizations.
When discussing ICT, organizations give priority to issues related to efficiency and security.
Efficiency, in the sense of optimizing the use of available resources, is fundamental in this hyper
competitive era. Security, including aspects such as: maintaining confidentiality of information,
inhibiting data theft, assuring system readiness, protecting against viruses and sabotage, etc., is
also increasingly prioritized.
Besides efficiency and security, another objective of the use of ICT should be to acquire
sufficient flexibility and agility for organizations to timely adapt methods and react to changes in
their environment.
This study does not intend to be exhaustive. Trends in the ICT area are fast moving and
dynamic, for which reason the importance of constant monitoring by administrators is advised, not
only for those that work in the ICT area itself, but also for those in other related areas.
To include the theme in the strategic planning process may significantly contribute in the sense
that this monitoring could then be done in a systematic and efficient manner.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é trazer aos administradores conceitos e informações
acerca de algumas das tendências na área de Tecnologia da Informação e Comuni-
cações (TIC) que, acredita-se, devam ser monitoradas em função das oportunida-
des e ameaças que podem trazer às organizações em prazo curto ou médio.
Na atualidade, ao discutirem a utilização de TIC, as organizações colocam em
primeiro plano os aspectos relativos à eficiência e à segurança. Eficiência, no sen-
tido de otimizar a utilização dos recursos disponíveis, é fundamental numa época
de hipercompetição, margens cada vez menores, etc.
Segurança, englobando aspectos como confidencialidade e furto de dados,
disponibilidade de sistemas, proteção contra vírus e assemelhados, sabotagem,
etc., é assunto cada vez mais prioritário. Os aspectos relativos à segurança rece-
bem cuidados especiais. Em sua edição de 19/02/2005, o jornal O Estado de S.
Paulo informa que Ralph Basham, diretor do Serviço Secreto dos Estados Unidos,
participando da RSA Security Conference, realizada em San Francisco, disse que
fraudadores on-line ameaçam seriamente a economia dos Estados Unidos, o que
mostra a gravidade de que se reveste o assunto.
Apenas em 2002, os prejuízos financeiros dos bancos e empresas causados
por esse tipo de fraude foram da ordem de US$ 32 bilhões e os das pessoas físicas
cerca de 3,8 bilhões, sem contar os dissabores e o trabalho necessários à resolu-
ção dos problemas decorrentes de situações como essas (BRETERNITZ, 2003).
Cabe observar que eficiência e segurança não necessariamente convergem,
podendo, no curto prazo, ser até mesmo divergentes: o desejo ou a necessidade
de implantar rapidamente novos sistemas ou a opção pela redução de investimen-
tos podem gerar a diminuição das preocupações com segurança.
Este trabalho foca as tecnologias que são de interesse mais amplo e imediato,
deixando de abordar temas de interesse muito restrito ou que demandarão um time
to market muito longo, como por exemplo, nanotecnologia ou semantic web. Pas-
saremos agora a abordar as tendências que julgamos devam ser monitoradas.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
grande número de computadores de forma a criar uma estrutura com grande capa-
cidade de processamento e armazenagem de dados, funcionando com um único
grade computador. A idéia nasceu da constatação de que usuários domésticos
normalmente utilizam uma parcela relativamente pequena da capacidade de
processamento e armazenagem de dados de seus PCs. Partindo dessa constatação,
foi lançado em 1999 o projeto SETI@home (Search for Extraterrestrial Intelligence),
coordenado pela Universidade da Califórnia (Berkley) e que busca identificar sinais
de rádio vindos do espaço em busca de evidências acerca da existência de vida
fora da Terra. A estrutura do SETI conta hoje com cinco milhões de PCs, espalha-
dos por 226 países.
O conceito evoluiu em função das necessidades de processamento intensivo
para a realização de atividades científicas complexas. Redes como essas têm
algumas vantagens óbvias, como a maximização do uso dos recursos disponíveis,
às quais correspondem desvantagens também óbvias, como as dificuldades para
administração da rede, segurança, etc. Em função disso, pode-se dizer que GC é
adequada apenas quando se trata de processos padronizados e estruturados, cla-
ramente delimitados e em que questões de segurança não sejam muito relevantes.
Um dos maiores projetos de GC é o TeraGrid, que reúne universidades, institui-
ções de pesquisa e empresas, em sua maioria norte-americanas, que em 2004 já
tinha capacidade de computação de vinte teraflops (vinte trilhões de operações por
segundo) distribuídos por nove sites, com capacidade de armazenamento de da-
dos da ordem de um petabyte, ou 250 bytes (www.teragrid.org). Outras aplicações
muito conhecidas são as da Universidade da Pensylvannia, que utiliza grid para
armazenar imagens de mamografias, a Network for Earthquake Engineering and
Simulation, grid que reúne 20 laboratórios que pesquisam movimentos sísmicos, e
o San Diego Supercomputer Center, que utiliza GC para mapeamento do cérebro
humano. A experiência pioneira de GC em escala global é a do IVDGL (International
Virtual Data Grid Laboratory), com nós espalhados pelo mundo e que pretende dar
suporte a experimentos nas áreas de física e astronomia.
Existem problemas para transformar GC em negócio, em especial a definição
de critérios de apuração de custos pela utilização de recursos de terceiros; no
entanto, empresas que operam grandes data centers talvez possam vir a se bene-
ficiar da idéia. Grandes organizações, com um vasto parque de equipamentos,
talvez possam otimizar seus recursos criando intragrids.
Num futuro mais remoto, que foge ao escopo deste trabalho, talvez se possa
falar em utility computing, com os usuários consumindo recursos de processamento
do mesmo modo como consomem água ou energia, sem se preocuparem com o
local de onde provêm esses recursos e pagando apenas pelo que usarem.
CRIPTOGRAFIA QUÂNTICA
Do que já se viu até o momento, os problemas relativos à confidencialidade das
informações estão entre os mais críticos no que tange à segurança; esses proble-
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
mas vêm sendo enfrentados recorrendo-se à criptografia – até o final de 2004, 29%
das empresas norte-americanas já se utilizavam dessa ferramenta (SURMACZ,
2005). Ocorre porém que a disponibilidade de computadores mais poderosos au-
menta a possibilidade de quebra de códigos e conseqüentemente da
confidencialidade (SUGIMOTO, 2004).
Dado esse cenário prevê-se que a criptografia convencional, baseada em cha-
ves, deve ser substituída pela criptografia quântica no final desta década. Diferente-
mente da criptografia clássica, que se apóia na aplicação de chaves baseadas em
princípios matemáticos, a criptografia quântica apóia-se na física. As mensagens
são codificadas com o uso de fótons (partículas associadas a campos magnéti-
cos), e, se interceptadas, se corrompem, impedindo a decodificação; a técnica
permite que caso isso aconteça, o processo de codificação e transmissão seja
imediatamente reiniciado. A técnica deve tornar praticamente impossível a decifra-
ção das mensagens assim criptografadas.
SOFTWARE LIVRE
Em TIC, tecnologias abertas são aquelas que permitem aos usuários conhece-
rem como funcionam os diversos componentes de um sistema. A mais comum
dessas tecnologias é a chamada open source, programas conhecidos como
“software livre”, em que são permitidas a cópia, a alteração e a distribuição do
código fonte. Uma das principais características do software livre é a possibilidade
de fazer modificações num produto original e até mesmo desenvolver novos produ-
tos baseados em produtos anteriores sem qualquer tipo de dependência em rela-
ção ao fornecedor original.
Assim, o desenvolvimento de sistemas abertos tende a ser descentralizado,
apresentando diversas vantagens em relação às tecnologias fechadas ou proprietá-
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
TERCEIRIZAÇÃO (OUTSOURCING)
Em tempos de busca de eficiência, a terceirização de processos de TIC tende
a ser uma opção especialmente atraente. Empresas situadas em países desenvol-
vidos têm a opção de praticá-la na modalidade offshoring, transferindo trabalhos
para empresas situadas em países onde a mão-de-obra tem custo menor – apenas
para comparação, o custo hora de um programador de computadores na Rússia é
de 9,24 euros, enquanto nos Estados Unidos esse valor vai a 44 e na Alemanha a
54 euros (SCHAAF, 2004).
Cabe observar, no entanto, que determinados processos não podem ser
terceirizados sem riscos, em função de sua importância estratégica para a organi-
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ETIQUETAS ELETRÔNICAS
As e-tags ou etiquetas eletrônicas RFID (Radio Frequency Identification - Iden-
tificação por Rádio Freqüência) são etiquetas compostas basicamente por um chip
muito simples e uma antena, que emitem sinais de rádio, enviando informações
acerca da identificação, características e localização do produto ao qual estão
afixadas. Seu custo logo estará na faixa dos três centavos de dólar por unidade,
tornando economicamente viável sua utilização no controle de um grande número
de produtos.
As e-tags deverão ter inúmeras aplicações, mas é no comércio varejista que
sua utilidade se torna mais evidente. Nas lojas, poderemos ter automaticamente
alterações de preços, alertas sobre datas de validade expiradas, emissão de or-
dens de reposição, proteção contra furtos, check-out rápido, etc. As etiquetas são
muito finas, podendo se adaptar a superfícies cilíndricas, facilitando a aplicação e
ficando imperceptíveis aos olhos do cliente; podem ser aplicadas sob os rótulos, de
forma a que nem mesmo os funcionários das lojas consigam localizá-las com faci-
lidade.
A possibilidade de se controlar automaticamente o fluxo de produtos e peças
por toda a cadeia de suprimentos, identificando cada item individualmente, abre
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 111
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As TIC são vitais para qualquer organização; sua utilização de maneira equivo-
cada pode gerar ineficiência, impedindo que a organização atue de forma efetiva e,
quando for o caso, mantenha-se competitiva. Além da eficiência e segurança, deve
também ser considerada como objetivo do uso da TIC a obtenção da flexibilidade
suficiente para que a organização possa mudar seus rumos no momento adequado
e agilidade tal que permita reagir às mudanças do ambiente em que atua.
Isso posto, fica clara a importância do acompanhamento das tendências na
área pelos administradores, de forma a que possam tomar providências no sentido
de que as escolhas de equipamentos e serviços de TIC sejam as melhores possí-
veis.
Cabe também registrar que este trabalho não pretende esgotar o assunto –
tendências na área das TIC são detectadas, consolidam-se ou deixam o cenário
com rapidez, pelo que se reitera a importância do monitoramento constante da
área pelos administradores, não só por aqueles que atuam na área de TIC propria-
mente dita, mas também pelos que atuam nas áreas de negócios.
A inclusão do tema no processo de planejamento estratégico pode auxiliar
bastante no sentido de que esse monitoramento seja feito de forma sistemática e
eficiente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Deixa que ele cuida do software. São Paulo, Exame, 30 mar. 2005.
112 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
SUGIMOTO, Luiz. O que os cientistas reservam para Alice, Bob e a espiã Eva.
Campinas, Jornal da Unicamp, 7 a 21 jun. 2004.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ABSTRACT
The aim of this study is to verify how the use of the Praxis methodology can be effectively
supported by the use of the Rational Rose Case Tool. The analysis of this methodology, its artifacts
and the contributions of the selected tool exposes some advantages and restrictions of the proposed
association in the software development process.
INTRODUÇÃO
Quando projetos de programas de computação complexos são realizados de
maneira informal, isto é, sem auxílio de metodologias apropriadas de desenvolvi-
mento, aumentam-se os riscos deste processo levando, com freqüência, a situa-
ções desagradáveis: cronogramas em atraso, insatisfação do cliente e baixa quali-
dade do software produzido. Quando funcionam é devido a talentos individuais, mas
os sucessos quase nunca se repetem, sem considerar o desperdício de recursos e
dinheiro quando assim conduzidos (PAULA, 2003; PRESSMAN , 2003; W IKIPEDIA, 2005).
A Engenharia de Software, disciplina que tem como uma de suas principais
preocupações a oferta de metodologias e ferramentas apropriadas para o desenvol-
vimento de software, pode e deve ser utilizada para que os resultados esperados
em um projeto de software possam ser alcançados (SOMMERVILLE, 2003).
Uma metodologia de desenvolvimento de software fornece os detalhes de “como
fazer” para desenvolver um software envolvendo um amplo conjunto de tarefas que
incluem: levantamento e análise dos requisitos, projeto, implementação e testes
de software. Já as ferramentas proporcionam apoio automatizado ou semi-
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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NOMENCLATURA
Descreve-se a seguir a nomenclatura empregada pelo Praxis, ilustrada na figu-
ra 1. Tal como o RUP, o Praxis abrange tanto fases quanto fluxos.
• Fase : divisão maior de um processo, para fins gerenciais, que corresponde
aos pontos principais de aceitação por parte do cliente (divisões orientadas para
gestão de projetos). Uma fase é composta por uma ou mais iterações.
• Iteração: divisões de uma fase, nas quais se atinge um conjunto bem defi-
nido de metas parciais de um projeto, é um exemplo de passo. Cada iteração
possui um script.
• Script: conjunto de instruções que definem como uma iteração deve ser
executada.
• Fluxo: subprocesso caracterizado por um tema técnico ou gerencial (divi-
sões orientadas por disciplina de engenharia de software). Um fluxo é dividido em
uma ou mais atividades.
• Atividades: passos constituintes de um fluxo.
• Passos: divisão formal de um processo, com pré-requisitos, entradas, crité-
rios de aprovação e resultados definidos.
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 117
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
FASES
A divisão das fases obedece ao modelo de ciclo de vida de entrega evolutiva,
sendo que o término de cada fase é sempre determinado pela entrega e aprovação
de um conjunto preestabelecido de artefatos (resultados) (PAULA, 2003). Como no
RUP, o Praxis apresenta as seguintes fases:
• Concepção: as necessidades dos usuários e os conceitos da aplicação
são analisados o suficiente para justificar a especificação de um produto de software.
• Elaboração: a especificação do produto é detalhada o suficiente para mo-
delar conceitualmente o domínio do problema, validar os requisitos em termos des-
se modelo conceitual e permitir um planejamento detalhado da fase de construção.
• Construção: é desenvolvida, ou seja, desenhada, implementada e testada
uma versão completamente operacional do produto, a qual atende aos requisitos
especificados.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ITERAÇÕES
Uma iteração é o resultado da divisão de uma fase. As fases são divididas
assim (PAULA, 2003):
Concepção
• Ativação: levantamento e análise das necessidades dos usuários e concei-
tos da aplicação, em nível de detalhe suficiente para justificar a especificação de
um produto de software.
Elaboração
• Levantamento de requisitos: levantamento das funções, interfaces e requisi-
tos não-funcionais desejados para o produto.
• Análise dos requisitos: modelagem conceitual dos elementos relevantes do
domínio do problema e uso desse modelo para validação dos requisitos e planeja-
mento detalhado da fase de construção.
Construção
• Desenho implementável: definições internas e externas dos componentes
de um produto de software, em nível suficiente para decidir as principais questões
de arquitetura e tecnologia e também permitir o planejamento da fase de constru-
ção.
• Liberação: implementação de um subconjunto de funções do produto que
será avaliado pelos usuários; após a implementação de todas as liberações, o
produto estará totalmente implementado.
• Testes Alfa: realização dos testes de aceitação, no ambiente de desenvolvi-
mento, juntamente com elaboração da documentação do usuário e possíveis pla-
nos de Transição.
Transição
• Testes Beta: realização dos testes de aceitação no ambiente dos usuários.
• Operação piloto: operação experimental do produto em instalação piloto do
cliente, com a resolução de eventuais problemas através de processo de manuten-
ção.
SCRIPTS
Para cada iteração o script indica os artefatos que consome (insumos) e pro-
duz (resultados), os respectivos critérios de entrada (pré-requisitos) e de saída
(critérios de aprovação) e um conjunto de atividades sugeridas. Toda iteração pos-
sui como único pré-requisito o término da iteração anterior e todos os insumos de
uma iteração são os resultados da iteração anterior. Por essa razão os pré-requisi-
tos e os insumos não são detalhados nos scripts das iterações do Praxis (PAULA,
2003).
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 119
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
FLUXOS
No Praxis, os fluxos podem ser de natureza técnica ou gerencial. Os fluxos de
natureza técnica são: Requisitos, Análise, Desenho, Implementação, Testes e
Engenharia de Sistemas; os fluxos de natureza gerencial são: Gestão de Projetos,
Gestão da Qualidade e Engenharia de Processos. Os fluxos definem os papéis
desempenhados pelos participantes dos projetos e algumas atividades requerem a
participação de vários papéis em sua execução (PAULA, 2003).
ARTEFATOS
Os resultados produzidos e os insumos consumidos nos passos do Praxis são
chamados de artefatos do processo, cujos tipos são:
• Documento: artefato produzido por ferramenta de processamento de texto
ou hipertexto, para fins de documentação dos principais aspectos de engenharia
de um projeto, incluindo aspectos selecionados dos modelos e aspectos não
modeláveis.
• Modelo: artefato de uma ferramenta técnica específica, produzido e utilizado
nas atividades de um dos fluxos do processo.
• Relatório: artefato que relata as conclusões das atividades do projeto.
DOCUMENTOS
Este processo utiliza-se de vários documentos diferentes que detalham aspec-
tos específicos do projeto:
• PESw (Proposta de Especificação do Software): delimita preliminarmente o
escopo de um projeto, contendo um plano da fase de elaboração.
• ERSw (Especificação dos Requisitos do Software): descreve o conjunto de
requisitos especificados para um produto de software.
• PDSw (Plano de Desenvolvimento do Software): descreve os compromissos
que o fornecedor assume em relação ao projeto quanto a recursos, custos, riscos
e outros aspectos gerenciais.
• PQSw (Plano de Qualidade do Software): descreve os procedimentos de
garantia da qualidade que serão adotados no projeto.
• DDSw (Descrição do Desenho do Software): descreve os aspectos mais
importantes no desenho do software.
• DTSw (Descrição dos Testes do Software): descreve os planos e as
especificações dos testes que serão executados.
• MUSw (Manual do Usuário do Software): serve como referência para uso do
produto.
Os únicos documentos gerenciais são o PDSw e PQSw, sendo os demais
considerados documentos técnicos. Esses documentos são tipicamente produzi-
dos através de uma ferramenta de edição de textos (PAULA, 2003).
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
MODELOS
Seguem os modelos utilizados pelos Praxis e as ferramentas necessárias para
sua confecção:
• CRSw (Cadastro dos Requisitos do Software): contém os requisitos levanta-
dos, assim como referências aos itens correspondentes dos modelos seguintes.
[Planilha, banco de dados].
• MASw (Modelo de Análise do Software): contém os conceitos do domínio
do problema a resolver que sejam relevantes para a validação dos requisitos. [Fer-
ramenta de modelagem orientada a objetos].
• MPPSw (Memória de Planejamento do Projeto do Software): contém a infor-
mação necessária para o acompanhamento de tamanhos, esforços, custos, pra-
zos e riscos dos projetos. [Planilha, ferramenta de gestão de projetos].
• MDSw (Modelo de Desenho do Software): detalha a estrutura lógica e física
do produto, em termos de seus componentes. [Ferramenta de modelagem orienta-
da a objetos].
• BTRSw (Bateria de Testes de Regressão do Software): conjunto dos scripts
dos testes de regressão. [Ferramenta de desenvolvimento, ferramenta de testes].
• CFSw (Códigos Fontes do Software): conjunto dos códigos fontes produzi-
dos. [Ferramenta de desenvolvimento].
• CESw (Códigos Executáveis do Software): conjunto dos códigos executáveis
produzidos. [Ferramenta de desenvolvimento].
Segundo Paula (2003), a MPPSw é o único modelo gerencial.
RELATÓRIOS
Existem vários relatórios, que são produzidos por diferentes responsáveis:
• RTSw (Relatórios dos Testes de Software): descreve os resultados dos tes-
tes realizados. [Grupo de testes do projeto].
• RRSw (Relatórios de Revisão do Software): descreve as conclusões da revi-
são de um artefato. [Grupo revisor do artefato].
• RISw (Relatórios de Inspeção do Software): descreve as conclusões da ins-
peção de um artefato. [Grupo inspetor de artefato].
• RAQSw (Relatórios das Auditorias da Qualidade do Software): descreve as
conclusões de uma auditoria da qualidade realizada. [Grupo de garantia da Quali-
dade].
• RAPSw (Relatórios de Acompanhamento do Projeto do Software): descreve
esforços, custos, prazos e riscos até a data corrente. [Gerente de projeto].
• RFPSw (Relatório Final do Projeto de Software): relatório de balanço final do
projeto. [Gerente do projeto].
Os três primeiros são de caráter técnico e os demais de caráter gerencial. O
plano da qualidade prevê as datas de emissão dos relatórios de testes, revisões e
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 121
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Ativação C
Desenho implementável A A A I P
Liberação A A A I I
Testes Alfa A A A C C P
Testes Beta A A A A A A
Operação piloto A A A A A C
I - Versão incompleta
C - Artefato completado
122 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Ativação
Desenho implementável A A A I P P P
Liberação A A AI I I I I
Testes Alfa A A A C C C C
Testes Beta A A A A A A A
Operação piloto A A A A A A A
I - Versão incompleta
C - Artefato completado
GARANTIA DE QUALIDADE
Procedimentos de controle são executados de maneira uniforme, em diferen-
tes iterações do ciclo de vida, sendo sua conclusão condição necessária para que
as iterações do projeto sejam consideradas aprovadas, passando-se às iterações
seguintes. Algumas iterações requerem aprovação dos usuários chave para deter-
minar se os requisitos foram corretamente interpretados pelos desenvolvedores, ou
do cliente quando envolvem decisões de continuidade do projeto (fim da Concepção
e Elaboração) ou aceitação do produto (fim da Construção e Transição). Esses
pontos de aceitação pelo cliente demarcam, por definição, os finais das fases (PAULA,
2003).
VANTAGENS E DESVANTAGENS
Como vantagens pode-se indicar que o Praxis é baseado na tecnologia orienta-
da a objetos; possui como notação de análise e desenho a UML; seus fluxos
cobrem áreas chaves de processo do SW-CMM, garantindo inicialmente o nível 3
(três); seus padrões são conformes aos padrões de engenharia de software do
IEEE; reflete elementos do Processo Unificado; e é um processo iterativo que pode
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 123
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ser utilizado para fins didáticos e comerciais desde que personalizado (PAULA, 2003).
Como desvantagens tem-se que este processo possui uma comunidade pe-
quena de usuários, talvez devido ao pequeno período de sua divulgação, e que
ainda foram relatados poucos casos de sucesso do seu uso (ÁLVARES, 2000; CARVA-
LHO, 2000; B ORGES, 2002; P ERES, 2002; B ORGES; P AULA, 2003; S ANTOS, 2004). Tam-
bém não pode ser utilizado ou considerado como uma metodologia ágil, pois exige
muita documentação.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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processo Praxis recomenda o uso da notação UML para a confecção desses dia-
gramas. Especificamente em relação ao MASw, existe a recomendação para que
sejam desenvolvidas classes de três tipos: Fronteira (boundary), que modelam as
interfaces do produto com os usuários e com outros sistemas; Entidades (entity),
que modelam informações persistentes; e Controle (control), que coordenam o flu-
xo de um caso de uso complexo, encapsulando lógica que não se enquadra natu-
ralmente nas responsabilidades das entidades.
Em particular, o projeto desenvolvido neste trabalho possui apenas os tipos de
classes de fronteira e de entidade. As classes de controle não foram necessárias,
pois não havia casos de uso complexos a serem coordenados por este tipo de
classe, podendo ser coordenados pelas classes de fronteira sem infringir as reco-
mendações do processo Praxis, que menciona que casos de uso simples podem
ser coordenados por classes de fronteira. O Rose suportou adequadamente todos
estes desenhos, de acordo com o recomendado pelo processo Praxis, tal como
indicado na tabela 4.
Ainda na fase de construção foram desenvolvidos em paralelo os artefatos DDSw
e MDSw, como definido pelo processo Praxis. É importante mencionar que foram
feitas apenas as iterações Desenho Implementável e Liberação 1: Manutenção de
Títulos, pois através do desenvolvimento dessas iterações foi possível coletar mate-
rial suficiente para o objetivo deste trabalho.
Para a DDSw foi possível utilizar o Rose para a confecção dos diagramas da
estrutura dinâmica do produto, diagramas de visão lógica (pacotes lógicos, clas-
ses, realizações dos casos de uso e interação), e diagramas de visão física (com-
ponentes físicos). Já para o MDSw o Rose permitiu a confecção total do modelo, o
que inclui todos os diagramas existentes na DDSw. Como antes, existe a reco-
mendação de emprego da notação UML na confecção dos diagramas, ou seja, uso
dos diagramas de colaboração para descrever a estrutura dinâmica do software e
dos diagramas de pacotes para representar a visão lógica do sistema em termos
de camadas e componentes.
O Rose suportou adequadamente a construção destes diagramas, com peque-
nas restrições nos diagramas de casos de uso e de interações devido à versão
utilizada. Não foi possível a criação do desenho das tabelas de banco de dados
utilizadas pelo projeto, mas apenas a geração de scripts de criação de base de
dados a partir das classes (no caso das classes de entidade), e executá-los em
um gerenciador de banco de dados. Os tempos consumidos na confecção da DDSw
e do MDSw estão indicados na tabela 4.
O CFSw foi o último artefato desenvolvido e analisado neste trabalho. O Rose
gerou adequadamente a codificação das classes na plataforma Java de acordo
com o diagrama de classes do MDSw. O código gerado consiste nos atributos e
nas assinaturas dos métodos, incluindo os construtores destas classes. Após a
geração do código foi possível sua edição através do Borland JBuilder X, indicando
que outros ambientes de programação poderiam ser empregados.
126 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Uma análise das classes geradas permitiu verificar que não houve a inclusão
de código desnecessário, exceto a declaração de algumas classes que realizam
associações no diagrama de classes. Nesta etapa o Rose não realiza uma compi-
lação das classes em busca de erros. Também não existe a necessidade de um
desenho prévio dos componentes do software antes de geração do código, pois
caso não existam, esses desenhos serão gerados automaticamente. A documen-
tação das classes geradas também é produzida automaticamente.
Estudando-se a característica do Rose de engenharia reversa da codificação
das classes foi notada a realização de uma compilação com o propósito de se
encontrarem erros de sintaxe e de configuração. Durante a realização da engenha-
ria reversa também foi criado o desenho dos componentes de software referentes
às classes do software. O Rose não suportou a engenharia reversa das classes
contendo o desenho das interfaces de usuário (classes de fronteira) produzidas
pela ferramenta de programação (no caso o JBuilder X), conforme recomendação
do processo Praxis. Sendo assim todas as classes contendo interfaces de usuário
foram desenhadas totalmente no Rose, situação que também possibilitou a gera-
ção automática de sua documentação.
Finalmente o MPPSw foi utilizado para armazenar o tempo necessário para a
confecção de cada artefato, tal como mostra a tabela 4.
CONCLUSÃO
No geral o suporte da ferramenta CASE Rational Rose oferecido ao processo
Praxis foi bastante satisfatório, pois dos onze diagramas recomendados nenhum
problema foi encontrado em sete deles, existindo pequenas restrições na confec-
ção dos demais. Contudo, o fato da engenharia reversa não ser possível para clas-
ses contendo as interfaces de usuário desenhadas no JBuilder foi um aspecto
Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 127
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
ruim. Isto exigiu a separação das fontes das classes de interface de usuário gera-
das pelo Rose e pelo JBuilder.
Os tempos mensurados, embora razoáveis, são apenas referenciais e provavel-
mente podem ser reduzidos com um maior domínio da ferramenta CASE a ser
obtido através de seu uso continuado.
Constatou-se assim que projetos de software de cunho acadêmico que utili-
zem o processo Praxis podem se beneficiar do apoio oferecido pelo Rational Rose,
principalmente se for possível o uso de versões mais recentes, que incluem suporte
mais adequado para a notação UML, além de novas características.
Outra contribuição é a verificação que projetos comerciais de software também
podem utilizar o Praxis combinado com o Rational Rose para o seu desenvolvimen-
to. No entanto é recomendável a personalização do processo de acordo com as
necessidades da organização.
Este trabalho poderia ser continuado de diversas formas, entre elas: desenvol-
vendo-se outras customizações e extensões para o Praxis, tais como nos traba-
lhos de Álvares (2000) e Peres (2002); ou efetuando-se avaliações semelhantes do
suporte de outras ferramentas CASE em relação ao processo Praxis padrão ou de
suas extensões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Projetos de Desenvolvimento para a Web. In Anais da IV Semana de Pós-Gradua-
ção em Ciência da Computação (SPG’2000), 28/08/00 a 30/08/00, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. On-Line: http://www.dcc.ufmg.br/pos/html/
spg2000/anais/pmarques/pmarques.htm, recuperado em 20/04/2005.
BORGES, Eduardo O.; PAULA FILHO, Wilson de Pádua. Um Modelo de Medição para
Processos de Desenvolvimento de Software In Anais do V Simpósio Internacional de
Melhoria de Processo de Software (SIMPROS 2003), 03/11/03 a 05/11/03, Recife. On-
Line: http://www.simpros.com.br/simpros2003/upload/arquivos_PDF/Artigos/
ART_09.pdf, recuperado em 20/04/2005.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
FOWLEY, Martin; SCOTT, Kendall. UML Essencial. 2.ed. Porto Alegre: Bookman,
2000.
IEEE. IEEE Standards Collection – Software Engineering. IEEE, New York – NY,
1994.
MATOS, Alexandre Veloso de. UML: Prático e Descomplicado. 3.ed. São Paulo:
Érica, 2003.
PERES JR, Valdo N. Uma Extensão do Praxis para a Arquitetura J2EE. In Anais da
VI Semana de Pós-Graduação em Ciência da Computação (SPG’2002), 04/09/02 a
06/09/02, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. On-Line: http://
www.dcc.ufmg.br/pos/html/spg2002/anais/valdo/valdo.htm, recuperado em 20/04/
2005.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
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RESUMO
O objetivo deste artigo é explorar a base de dados do Censo 2000 através do SPSS, no
sentido de criar um indicador do nível de vida para seis municípios localizados na região de Jundiaí.
Para tanto serão utilizadas sete variáveis (água, luz, esgoto, geladeira, televisor, microcomputador
e automóvel) que indicarão a presença ou ausência do equipamento. Se o domicílio dispuser de
todos os equipamentos, o índice será igual a um e as condições totalmente satisfatórias; caso
contrário, o índice será igual a zero e as condições totalmente insatisfatórias.
Palavras-chave: censo demográfico, índice médio, indicadores, municípios, equipamentos.
ABSTRACT
The objective of this article is to explore the data base of the 2000 Census through SPSS, to
create an indicator of living conditions for six municipalities located in the region of Jundiaí. To this
end, the presence or absence of seven variables will be used (water, electricity, sewage, refrigerator,
television, personal computer, and automobile). If the household has all the factors, the index
would be equal to one and the conditions totally satisfactory; on the contrary, in their absence, the
index would be equal to zero and the conditions totally unsatisfactory.
Introdução
Os censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) têm se constituído em instrumentos importantes para que possa
entender e analisar o desenvolvimento da população brasileira. Segundo informações
do próprio IBGE, o censo de 2000 investigou um total de 54 265 618 domicílios em
todos os municípios brasileiros, sendo levantado um conjunto de aspectos sobre
características gerais da população, educação, migração, trabalho e rendimento,
etc. A expansão da amostra foi realizada a partir de pesos atribuídos ao domicílio e
a cada um de seus moradores.
A partir do momento em que o IBGE disponibilizou os microdados do censo
2000, foi possível elaborar estudos socioeconômicos e demográficos para cada um
dos 5560 municípios brasileiros. Neste sentido, pretende-se investigar características
que permitam estabelecer um indicador do nível de vida para seis municípios
localizados na região de Jundiaí.
∗ Mestre em Economia pela PUC São Paulo. Professor Adjunto da PUC Campinas e professor titular
do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí.
**Graduado em Administração de Empresas pela PUC Campinas.
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Abastecimento de água
Verifica-se que, em média, 91% dos domicílios possuem rede pública de água,
sendo que três deles (Caieiras, Francisco Morato e Franco da Rocha) apresentam
índices superiores à média. Outros três (Cajamar, Campo Limpo Paulsita e Várzea
Paulista) apresentam índices abaixo da média.
A diferença entre o maior índice de domicílios ligados à rede pública (Caieiras)
e o menor (Cajamar) é de 9 pontos percentuais.
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Rede de esgoto
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Geladeira ou freezer
Tabela 4: Geladeira ou Freezer
Geladeira ou freezer
Município Total Índice
Não Sim
Os valores elevados dos índices indicam que a maior parte dos domicílios possui
geladeira ou freezer. O menor índice registrado se refere aos municípios de Cajamar
e Francisco Morato (93%).
Aparelho de tv
Tabela 5: Aparelho de TV
TV
Município Total Índice
Não Sim
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Microcomputador
Tabela 6: Microcomputador
Microcomputador
Município Total Índice
Não Sim
Automóvel
Tabela 7: Automóvel
Automóvel
Município Total Índice
Não Sim
Caieiras 10621 8418 19039 0,44
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Campo Limpo
IN V Caieiras % Cajamar % %
Paulista
0,2
0,14 76 0,4 52 0,4 30
1,6
0,29 184 1,0 226 1,7 264
6,7
0,43 762 4,0 1204 8,8 1110
20,2
0,57 3442 18,1 2802 20,6 3362
35,4
0,71 7804 41,1 5622 41,2 5901
26,7
0,86 5130 27,0 3180 23,3 4451
9,2
1,00 1604 8,4 549 4,0 1537
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C a j a m a r 0,69 0,15
C a m p o L i m p o
0,72 0,16
Paulista
Índice Desvio
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Verifica-se que o desvio padrão em torno dos índices médios, para os seis municípios,
é aproximadamente o mesmo (15%). Por sua vez, os índices do nível de vida
apresentam diferenças significativas; o município de Francisco Morato, que se
encontra em pior situação, tem índice igual a 0,61. Ou seja, a maior parte dos
domicílios possui 4 dentre os sete equipamentos selecionados. Em melhor situação
encontra-se o município de Várzea Paulista com índice igual 0,74, em média,
indicando que os domicílios possuem 5 dentre os sete equipamentos propostos.
CONCLUSÃO
A publicação pelo IBGE dos resultados finais do Censo 2000, constituiu-se
numa importante fonte de informações para pesquisadores interessados em
levantamentos demográficos e socioeconômicos da população brasileira.
De posse das informações, foi necessário selecionar aquelas de interesse
para o estudo, além de efetuar transformações que permitiram análises consistentes
e conclusivas sobre os domicílios dos municípios. Para tanto, foi utilizado o Statistical
Package for the Social Science (SPSS), que é considerado um dos melhores
programas estatísticos para análise de dados.
Neste estudo procurou-se levantar dados referentes a sete indicadores para
um conjunto de seis municípios localizados na região de Jundiaí. A partir deles foi
possível criar um índice do nível de vida de cada município, que indica o número de
equipamentos disponibilizados nos domicílios.
Com relação aos equipamentos: rede de água, rede de energia, geladeira e
televisor, verifica-se a existência na maior parte dos domicílios (acima de 90%). No
caso específico de rede de energia, praticamente 100% dos domicílios estão servidos.
Apesar da rede de água estar presente na maior parte dos domicílios, o
mesmo não ocorre com a rede de esgoto; ao contrário, o índice médio para o
conjunto de municípios é baixo (60%), e a variabilidade é muito grande. O município
de Francisco Morato, que está em pior situação, possui apenas 28% dos domicílios
ligados à rede geral de esgoto. Em melhor situação encontra-se Várzea Paulista,
com 83% dos domicílios ligados à rede geral.
A existência de microcomputador no domicílio constitui-se num indicador
importante de qualidade de vida, pois indica, provavelmente, que os residentes
estão conectados com a rede mundial de computadores (Internet). No entanto, a
situação é crítica neste item, pois apenas 8% (em média) dos domicílios dispõem
deste equipamento. No caso de Francisco Morato, a situação é pior ainda, já que
apenas 4% dos domicílios possuem microcomputador.
No caso de automóvel, a melhor situação ocorre em Várzea Paulista, onde
um em cada dois domicílios dispõe desse equipamento. Em pior situação, novamente
está Francisco Morato, pois apenas um em cada cinco domicílios possui automóvel.
O índice médio do nível de vida para o grupo de municípios ficou entre 0,61
(Francisco Morato) e 0,74 (Várzea Paulista), com desvio padrão em torno de 0,15.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Estas estatísticas indicam que a maior parte dos domicílios possui entre 4 e 6
equipamentos dentre os sete utilizados na pesquisa.
Ainda que se possa questionar a validade do indicador, devido ao pequeno
número de variáveis utilizadas na sua construção, deve-se considerar que variáveis
adicionais, provavelmente, mantêm relação causal com as que foram utilizadas na
elaboração do índice, o que de certa forma valida as informações obtidas.
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
PESTANA, Maria Helena e GAGEIRO; João Nunes. Análise de dados para Ciências
Sociais: A complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Silabo, 2003.
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
Verifica-se que o desvio padrão em torno dos índices médios, para os seis
municípios, é aproximadamente o mesmo (15%). Por sua vez, os índices do nível
de vida apresentam diferenças significativas; o município de Francisco Morato, que
se encontra em pior situação, tem índice igual a 0,61. Ou seja, a maior parte dos
domicílios possui 4 dentre os sete equipamentos selecionados. Em melhor situação
encontra-se o município de Várzea Paulista com índice igual 0,74, em média,
indicando que os domicílios possui 5 dentre os sete equipamentos propostos.
CONCLUSÃO
A publicação pelo IBGE dos resultados finais do Censo 2000, constituiu-se
numa importante fonte de informações para pesquisadores interessados em
levantamentos demográficos e socioeconômicos da população brasileira.
De posse das informações, foi necessário selecionar aquelas de interesse para
o estudo, além de efetuar transformações que permitiram análises consistentes e
conclusivassobreosdomicíliosdosmunicípios.Paratanto,foiutilizad oos
Statiscal
Package for the Social Science (SPSS), que é considerado um dos melhores
programas estatísticos para análise de dados.
Neste estudo procurou-se levantar dados referentes a sete indicadores para um
conjunto de seis municípios localizados na região de Jundiaí. A partir deles foi
possível criar um índice do nível de vida de cada município, que indica o número de
equipamentos disponibilizados nos domicílios.
Com relação aos equipamentos: rede de água, rede de energia, geladeira e
televisor, verificam-se a existência na maior parte dos domicílios (acima de 90%).
No caso específico de rede de energia, praticamente 100% dos domicílios estão
servidos.
Apesar da rede de água estar presente na maior parte dos domicílios, o mesmo
não ocorre com a rede de esgoto, muito pelo contrário, o índice médio para o
conjunto de municípios é baixo (60%), e a variabilidade é muito grande. O município
de Francisco Morato, que está em pior situação, possui apenas 28% dos domicílios
ligados à rede geral de esgoto. Em melhor situação encontra-se Várzea Paulista,
com 83% dos domicílios ligados à rede geral.
A existência de microcomputador no domicílio constitui-se num indicador
importante de qualidade de vida, pois indica, provavelmente, que os residentes
estão conectados com a rede mundial de computadores (Internet). No entanto, a
situação é crítica neste item, pois apenas 8% (em média) dos domicílios dispõem
deste equipamento. No caso de Francisco Morato, a situação é pior ainda, já que
apenas 4% dos domicílios possuem microcomputador.
No caso de automóvel, a melhor situação ocorre em Várzea Paulista, onde um
em cada dois domicílios dispõe desse equipamento. Em pior situação, novamente
está Francisco Morato, pois apenas um em cada cinco domicílios possui automóvel.
O Índice médio do nível de vida para o grupo de municípios ficou entre 0,61
(Francisco Morato) e 0,74 (Várzea Paulista), com desvio padrão em torno de 0,15.
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REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS
PESTANA, Maria Helena e GAGEIRO, João Nunes. Análise de dados para Ciências
Sociais: A complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Silabo, 2003.
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9. As citações literais, de até três linhas, deverão ser apresentadas entre as-
pas duplas e estar acompanhadas da respectiva referência, incluindo-se a(s)
página(s). Exemplo: (BOSSA, 1994, p. 32). As aspas simples são utilizadas para
indicar citação no interior da citação. Se o nome do autor for mencionado fora da
referência entre parênteses, devem ser usadas letras maiúsculas e minúsculas.
Exemplo:
Oliveira e Leonardos (1943, p. 146) dizem que a “[...] relação da série São
Roque com os granitos porfiróides pequenos é muito clara.”
10. As citações literais com mais de três linhas deverão ser redigidas em pará-
grafo destacado, com 4 cm de recuo da margem esquerda, letra tipo Times New
Roman, fonte 10, sem as aspas. Exemplo:
A teleconferência permite ao indivíduo participar de um en-
contro nacional ou regional sem a necessidade de deixar
seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência in-
cluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através
de áudio-conferência, utilizando a companhia local de tele-
fone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão de
qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993, p. 181).
146 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006
SEKEFF, Gisela. O emprego dos sonhos. Domingo, Rio de Janeiro, ano 26, n.
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ALVES, Castro. Navio Negreiro. [S.I.]: Virtual Books, 2000. Disponível em: <http:/
/www.terra.com.br/virtualbooks/freebook/port/Lport2/navionegreiro.htm >. Acesso em:
10 jan. 2002. 16:30:30.
15. Estas normas passam a vigorar a partir do próximo número desta publica-
ção.
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