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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 1
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ISSN 1519-0846

ANÁLISE. Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências


Econômicas, Contábeis e de Administração Padre
Anchieta
Jundiaí – SP: Sociedade Padre Anchieta de Ensino.
21 cm.

Semestral
Inclui Bibliografia

2 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

EDITORIAL

Ao completar seis anos de existência, a revista ANÁ-


LISE consolida-se como instrumento de divulgação do co-
nhecimento científico produzido pelos docentes do Centro
Universitário Padre Anchieta, bem como por outros colabo-
radores interessados em prover nossa comunidade com
temas abrangentes e diversificados. No primeiro artigo,
“Um ensaio sobre o deslocamento do capitalismo face aos
projetos de responsabilidade socioambiental empresarial
(RSE)”, o autor discorre sobre o surgimento de uma nova
visão das organizações: a escola das relações humanas,
onde as organizações não poderiam ser apenas máqui-
nas, argumentando que os sistemas sociais têm tanta ou
mais influência sobre a organização do que seu sistema
técnico. Na sequência, o autor do artigo “A Alca e o de-
senvolvimento sustentável do Mercosul” argumenta que o
crescimento econômico sustentável deve ser focado nas
pessoas, com conseqüente preservação do meio ambien-
te e alega que órgãos oficiais estão redimensionando os
projetos de desenvolvimento e democratizando o processo
decisório. No artigo seguinte, “Educação a distância no
ensino de informática utilizando o ambiente Teleduc”, os
autores procuram identificar as vantagens e desvantagens
da aplicação de cursos de informática no Teleduc. As infor-
mações divulgadas poderão auxiliar educadores interessa-
dos em utilizar o ensino a distância,na montagem de cur-
sos ou como complemento de aulas tradicionais. No quar-
to artigo, “Sistema de visualização de documentos via
internet”, os autores argumentam que a principal função
deste sistema é facilitar a consulta de documentos dentro
das empresas, reduzindo o acesso a arquivos físicos, além
de possibilitar o controle de usuários com autorização de
visualização dos mesmos. Na seqüência, o artigo “A filo-
sofia política de Norberto Bobbio” discute a proposta de
unir aspectos positivos do liberalismo e do socialismo, com
o objetivo de estabelecer na mesma estrutura as seguin-
tes características da cidadania: liberdades civis, garanti-
as políticas e direitos sociais. No artigo seguinte, “O im-
pacto da globalização na gestão administrativa”,

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os autores procuram avaliar o estágio atual da


globalização com a larga e crescente utilização dos
recursos tecnológicos. Discutem as conseqüências des-
se tipo de globalização para o administrador, para que
se possam identificar ações e atitudes que devem ser
buscadas e cultivadas por aqueles que atuam na ges-
tão de negócios. No sétimo artigo, “Educação: reprodu-
ção ou transformação?”, procura-se discutir os concei-
tos de reprodução e transformação com base nas aná-
lises de Paulo Freire e Dermeval Saviani que, segundo
os autores, indicam alguns caminhos para a superação
da reprodução cultural e social via escolarização. O oi-
tavo artigo, “Tendências a serem monitoradas na área
de tecnologia da informação e comunicações”, preten-
de divulgar conceitos e informações sobre algumas das
tendências na área de Tecnologia da Informação e Co-
municação (TIC) que acredita-se devam ser monitoradas
em função das oportunidades e ameaças que podem
trazer às organizações no curto e médio prazo. O autor
argumenta que a inclusão do tema no processo de pla-
nejamento estratégico é importante, pois permitirá que
o monitoramento seja feito de forma sistemática e efici-
ente. Na seqüência no artigo “Desenvolvimento de
software com metodologia Praxis auxiliada pela ferra-
menta Case Rational Rose”, procura-sveerificarcomo
o emprego da metodologia Praxis pode ser suportado
de maneiraefetivapelousoconjuntodaferramentaCase
Rational Rose. A análise desta metodologia, de seus
artefatos e da contribuição da ferramenta escolhida
permite apresentar algumas das vantagens e desvan-
tagens desta combinação no processo de desenvolvi-
mentodesoftware.Finalmente,oartigo“Gerenciamento
de dados do censo 2000 utilizando o SPSS” mostra
que é possívelcriarum indicador doníveldevidapara
municípios selecionados utilizando a base de dados
doCenso2000,disponibilizadapeloIBGE.Paratanto,
exploram-se os recursos do software Statistical
Package for the Social Science.

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Análise é uma publicação periódica das Faculdades


de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de
Administração de Empresas Padre Anchieta e está aber-
ta à colaboração de pesquisadores de outras instituições,
mediante a apreciação dos trabalhos pelo Conselho Edito-
rial.
As posições expressas em trabalhos assinados são de
exclusiva responsabilidade de seus autores e seus textos
não poderão ser reproduzidos sem a permissão dos mes-
mos.
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Messias Mercadante de Castro
Raimundo Cláudio da Silva Vasconcelos
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Editoração
Departamento de Publicidade das Escolas e
Centro Universitário Padre Anchieta

Revisão
João Antonio de Vasconcellos
Isabel Cristina Alvares de Souza
Tiragem
2.000
Análise
Revista semestral das Faculdades de Tecnologia e de
Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração
de Empresas Padre Anchieta.
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ÍNDICE
Um ensaio sobre o deslocamento do capitalismo face
aos projetos de responsabilidade socioambiental
empresarial (RSE)
Carlos Henrique Pellegrini ............................................ 9

A Alca e o desenvolvimento sustentável do Mercosul


Alexandre Ramalho ....................................................33

Educação a distância no ensino de informática utilizando


o ambiente Teleduc
Ernesto Charles Niklaus e Raimundo Claudio da Silva
Vasconcelos ..............................................................41

Sistema de visualização de documentos via internet


Helder de Andrade Freitas e Raimundo Claudio da Silva
Vasconcelos ............................................................. 59

A filosofia política de Norberto Bobbio


José Jair Ferraretto e Samuel Antonio Merbach de Oliveira.71

O impacto da globalização na gestão administrativa


Hugolino de Sena Batista, Vinícius Rodrigues da Costa, João
Victor Bevilacqua, Milena Jacobsen Pelizari Pinto e Luciana
Ferreira Baptista........................................................ 81

Educação: reprodução ou transformação?


Eduardo Tadeu Pereira, José Renato Polli e Sidnei Ferreira
de Vares ................................................................... 89

Tendências a serem monitoradas na área de tecnologia


da informação e comunicações
Vivaldo José Breternitz ............................................. 103

Desenvolvimento de software com metodologia Praxis


auxiliada pela ferramenta Case Rational Rose
André Fernando Tetto e Peter Jandl Junior ................. 115

Gerenciamento de dados do Censo 2000 utilizando o SPSS


Jose Milton Sanches e Haroldo Santos Sanches ........ 131

Normas para apresentação de originais....................145

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UM ENSAIO SOBRE O DESLOCAMENTO DO


CAPITALISMO FACE AOS PROJETOS DE
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
EMPRESARIAL (RSE)

Carlos Henrique Pellegrini*

Basta um sonho para que mudemos toda uma história.


Todas as grandes revoluções nasceram de um sonho. A
priorização da responsabilidade socioambiental nas
organizações já é mais que um sonho. O capitalismo
está se deslocando!

RESUMO
No início do século XX, a gestão organizacional era baseada nas escolas clássicas de Taylor,
Fayol e Weber que buscavam de maneira geral criar uma organização que atingisse seu objetivo de
forma eficiente. Taylor na área da análise do trabalho, Fayol na administração e controle e Weber
na análise do contexto socioambiental e os princípios que fundamentam as organizações
(MAXIMINIANO, 2000). A indústria experimentava um grande crescimento e aí começaram os pri-
meiros trabalhos sobre os efeitos da poluição socioambiental gerada pelas minas e fábricas, sob
o enfoque da saúde dos trabalhadores. É nesse ambiente que se criou condição para o surgimento
de uma nova visão das organizações; a escola das relações humanas onde as organizações não
poderiam ser apenas máquinas como na escola clássica, e os sistemas sociais têm tanta ou mais
influência sobre o desempenho da organização do que seu sistema técnico. Nesse sistema o ser
humano é a medida de tudo. É nessa época que surge a preocupação que liga capitalismo, respon-
sabilidade socioambiental e cultura organizacional (TACHIZAWA, 2002).
Palavras-chave: Capitalismo, competitividade, sociedade, meio ambiente, administração, ges-
tão, organizações, produtividade.

ABSTRACT
At the beginning of the 20th century, administrative organization was based on the classic
schools of Taylor, Fayol and Weber which generally sought to create an organizational structure
that could efficiently reach its objectives. Taylor theorized in labor analysis; Fayol worked in
administration and control; and Weber handled the social-environmental analysis of context and
foundational principals of the organizations. (MAXIMINIANO, 2000) Industry was undergoing
remarkable growth and so began the first studies on the effects of social environmental pollution
produced by mines and factories, through the vintage point of worker health. In this setting,
conditions for a new vision of organizations, schools of human relations, were formed in which the
organizations could no longer be mere mechanisms, as in the classic school, and in which the
social systems had as much or more influence over the outcome of the organization as its technical

·Mestre em Administração – PUC / SP. Aluno especial e doutorando FEA USP/SP, Engenheiro e Administrador.
Professor titular nas FEAs UNIANCHIETA, PUC/SP, UNIP/Jundiaí. Pós-graduado em Engenharia Econômica
(USJT) e Gestão Socioambiental na FEA USP/SP. Diretor Operacional da Maxirecur Consulting e membro de
diretoriaseconselhosdediversasempresasprivadas. pellegrini@maxirecur.com.br www.maxirecur.com.br

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system. In the new system, the human being is the measure of everything. It is at this time that
concern connecting capitalism, social-environmental responsibility and organizational culture arises.
(TACHIZAWA, 2000)

Key words: Capitalism, Competitiveness, Society, Natural Environment, Administration,


Management, Organizations, Productivity.

HISTÓRICO SOCIOAMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES


Até a década de 60 do século XX, permanece a idéia de que as fontes de
recursos naturais seriam inesgotáveis e que o livre mercado maximizaria o bem-
estar socioambiental. Como a gestão da economia era baseada em recursos es-
cassos e a natureza não se encontrava nesta classificação, esta última era irrelevante.
Contrapondo-se a isso, o Clube de Roma divulga um relatório com grande repercus-
são intitulado “Limites do Crescimento”, no qual são feitas projeções de esgota-
mento dos recursos naturais na Terra. Já nas décadas de 70 e 80, ocorreram gran-
des acidentes nas indústrias químicas e petroquímicas como: contaminação da
Baía de Minamata, acidente com o petroleiro Exxon Valdez no Alasca, o acidente
de Bophal na Índia, o acidente em Seveso, na Itália, e acidente de Tchernobyl na
União Soviética (MOURA, 2002), todos com grandes impactos ambientais ao ar,
solo, água, flora, fauna, recursos naturais e pessoas. E também com grandes
impactos sociais: morte, destruição, comunidades sem meio de vida, com proble-
mas de saúde e sem alimentos.
Em 1972 também ocorreu a Conferência de Estocolmo das Nações Unidas
para o Meio Ambiente com a conclusão de que o mundo teria de conciliar atividade
econômica com a conservação do meio ambiente. Parece que o modelo conceitual
do mundo, fruto de uma visão cartesiana, mecanicista, reducionista forjada em 300
anos de Revolução Científica e Industrial estava sendo questionado. A natureza,
sistêmica, complexa, não linear pedia um novo paradigma para ser compreendida:
orgânico, holístico, integrador (ALMEIDA, 2002).
Em 1987 é publicado o relatório Brundtland onde a expressão desenvolvimento
sustentável aparece e fica cada vez mais claro que os problemas ambientais estão
profundamente ligados aos problemas econômicos e sociais (ALMEIDA, 2002).
Preocupadas em dar uma resposta à sociedade pelos vários acidentes
protagonizados, as indústrias químicas lançam o Programa de Atuação Responsá-
vel, apoiado na melhoria do desempenho da indústria e na comunicação com as
comunidades vizinhas às fábricas e sociedade. As idéias do Programa começaram
a ser geradas na década de 70 no Canadá e foram sendo adotadas aos poucos até
o final da década de 80 e início de 90 no caso brasileiro. A atuação responsável
ajudou a melhorar o desempenho das indústrias químicas. Entre 1990 e 1996 as
emissões de substâncias tóxicas pelas indústrias do setor nos Estados Unidos
caíram 60%, enquanto a produção crescia 20%.
Na década de 90 houve um grande impulso com relação à consciência
socioambiental. É realizada a conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambi-

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ente e o Desenvolvimento, a Rio 92. Produziu-se a Agenda 21, um plano de ação


para implantar as decisões da conferência, e o documento Declaração do Rio
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento com recomendações para preservar o
meio ambiente que se juntando à Declaração dos direitos humanos aprovada pela
ONU em 1948 são uma declaração de valores acordados entre os povos.
A gestão socioambiental ganha a norma britânica BS 7750 lançada em 1992
que vai ser a base da ISO 14000 lançada em 1996. A ISO (International Organization
for Standardization), visando a atender a todos os tipos e partes da organização,
criou a família de normas ISO 14000. O conjunto de normas abrange cinco áreas:
Sistema de Gestão Socioambiental, Auditoria Socioambiental, Avaliação de De-
sempenho Socioambiental, Avaliação do Ciclo de Vida e Rotulagem Socioambiental.
Em meados de 1990, a pedido da ONU, foi criada uma comissão de empresários,
com a responsabilidade de formular uma perspectiva global sobre desenvolvimento
sustentável do ponto de vista dos empresários para ser apresentada na Conferên-
cia da ONU para 1992, a Rio 92. Nessa época, foi o criado o BCSD (Business
Council for Sustainable Development).
Em 1992 esse grupo publica um livro-relatório: “Mudando o rumo: uma perspec-
tiva empresarial global sobre desenvolvimento e meio ambiente”, que postula que o
controle socioambiental é estratégico e deve ser visto como vantagem competitiva.
Essa publicação faz com que o mundo passe a ser visto de uma forma tripolar:
governo, sociedade e empresa.
Três anos depois é criado o WBCSD (World Business Council for Sustainable
Development), que hoje conta com empresas que representam aproximadamente
20% do PIB mundial. Em 1997 foi criado o CBDS (Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável), que tem a missão de ajudar os empresários
brasileiros a se adaptar ao novo paradigma da sustentabilidade, que já engloba as
dimensões socioambiental e econômica. A forma de quantificar a sustentabilidade
de uma empresa é muito vasta e complexa e não é escopo deste artigo.
São raríssimos – se é que existem – os casos de organizações que atendam
integralmente os princípios de Desenvolvimento Sustentável, meçam os indicado-
res correspondentes e relatem seu desempenho com tal abrangência (FURTADO,
2003).
Para simplificar poderemos considerar que a meta da Gestão Socioambiental
seria conseguida com a prática da eco-eficiência e a busca da qualidade de vida
dos stakeholders.
A eco-eficiência é a uma estratégia gerencial que combina desempenho
socioambiental e econômico. Possibilita processos de produção mais eficientes e
a criação de melhores produtos e serviços, ao mesmo tempo em que reduz o uso
de recursos, a geração de resíduos e a poluição socioambiental ao longo de toda a
cadeia de valor (SCHMIDHEINY, 2002).
Ela também pode ser considerada como o “grau de eficiência com que recur-
sos são usados para atender às necessidades humanas” (OCDE, 1998). Ela é

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definida como o índice obtido pela divisão do output (o valor dos produtos e serviços
produzidos por uma empresa, por um setor ou pela economia como um todo ) pelo
input (a soma das pressões ambientais geradas pela empresa, pelo setor ou pela
economia como um todo). Ou, simplificando mais ainda: fazer mais com menos.
Na virada do século XX as empresas, em plena globalização, na sua luta pela
sobrevivência no curto prazo, terminam o século buscando produtividade e
competitividade. Por outro lado a realidade socioambiental mostra um quadro
desolador: segundo o relatório da United Nations Conference on Trade and
Development (Unctad) de 1997, nas últimas três décadas, a concentração de renda
aumentou dramaticamente no planeta, desequilibrando profundamente a relação
lucros e salários. No entanto, esses lucros mais elevados não estão levando a
maiores investimentos: cada vez mais, são desviados para atividades de
intermediação especulativa, particularmente na área das finanças.
Hoje, cerca de 80% da população do mundo concentra-se nos países em de-
senvolvimento e sobrevive com 20% dos recursos planetários (SCHMIDHEINY, 2002).
O sistema atual joga milhões no desemprego, dilapida o meio ambiente e remunera
mais os especuladores que os produtores (DOWBOR, 2002).
Para Barrett (1998), o interesse próprio e a busca obsessiva de acumulação de
riquezas estão no âmago da crise atual.
E para promover o advento da sociedade sustentável, é preciso urgentemente
uma ética universal que transcenda todos os outros sistemas de crenças e alian-
ças, um tipo de síntese da consciência humana, completamente ciente da
interdependência e raridade de todas as formas de vida para nos guiar em nossos
esforços, para realizar as mudanças (RATTNER, 1999).
E, portanto, conceitos como ética, responsabilidade socioambiental e desen-
volvimento sustentável assumem um papel cada vez mais relevante nas estratégias
das organizações. O papel do setor privado, segundo alguns de seus representan-
tes, não se restringe mais à geração de riqueza, devendo contemplar também a
dimensão socioambiental. Com efeito, um dos pontos mais enfatizados na recente
literatura da responsabilidade empresarial é a substituição da análise restrita dos
stockholders, focada anteriormente apenas no compromisso da organização com
seus acionistas e funcionários. O contato socioambiental entre a organização e a
sociedade deve estar baseado na legitimação dos diversos stakeholders, isto é,
todas as partes interessadas direta ou indiretamente, afetadas pela atividade da
empresa (DEMAJOROVIC, 2000).

VALORES ORGANIZACIONAIS NA GESTÃO COM RESPONSABILIDADE


SOCIOAMBIENTAL
O estudo dos valores aparece, muitas vezes, juntamente com o estudo da
ética, já que os valores são a base dos códigos de ética. A ética pode ser definida
como a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação do
comportamento de pessoas e organizações (MAXIMINIANO, 2000).

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Ao se estudarem as organizações, a ética e os valores estão associados com


a cultura organizacional. Segundo Fleury (1989), pode-se entender cultura
organizacional como um conjunto de valores e pressupostos básicos, expresso em
elementos simbólicos, que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações,
construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação
e consenso como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. Schein
(1985) complementa esta definição com a proposição de três diferentes níveis atra-
vés dos quais a cultura de uma organização pode ser apreendida:
n Nível dos artefatos visíveis: é representado pelos elementos concretos e
visíveisdeuma organização: selayout, u o comportamento e vestuário das pesso-
as, rituais, mitos organizacionais, assim como crença expressa em documentos.
Estes artefatos são geralmente fáceis de serem percebidos, mas difíceis de serem
interpretados;
n Nível dos valores compartilhados: esses valores expressam o que as pesso-
as reportam ser a razão de seu comportamento, o que na maioria das vezes são
idealizações ou racionalizações. As razões subjacentes ao seu comportamento
permanecem escondidas ou inconscientes;
n Nível dos pressupostos básicos: normalmente inconscientes, determinam
como os membros do grupo percebem, pensam e sentem. À medida que certos
valores compartilhados pelo grupo conduzem a determinados comportamentos e
esses comportamentos se mostram adequados para solucionar problemas, o valor
é gradualmente transformado em um pressuposto inconsciente de como as coisas
realmente são.
A apresentação dos três níveis da cultura organizacional proposta por Schein
(1985) já apresenta uma definição de valores, que compreendem o segundo e o
terceiro nível da cultura. O terceiro nível – dos pressupostos básicos – compreende
valores que foram profundamente enraizados na cultura da organização. Esses
valores são mais difíceis de serem diagnosticados, pois já se encontram no incons-
ciente das pessoas e deixam de ser percebidos por elas. Os valores compartilha-
dos – segundo nível da classificação – são mais fáceis de serem diagnosticados,
pois fazem parte da crença das pessoas.
Tamayo e Gondim (1996) fazem uma referência a esta classificação de valores
como sendo inerentes aos indivíduos, e apresentam uma segunda categoria: os
valores organizacionais, que tratam de “princípios e crenças que, segundo os mem-
bros da organização, orientam seu funcionamento e sua vida”. Por exemplo, “uma
empresa pode ser descrita como norteada por valores referentes aos aspectos
técnico e tecnológico, ao passo que outra é percebida como enfatizado o extremo
oposto, ou seja, centrando suas preocupações principalmente no bem-estar dos
indivíduos que a compõem” (TAMAYO; GONDIM, op. cit.).
Os valores individuais – que compreendem grande parte dos estudos sobre
valores – se diferenciam dos valores organizacionais na medida em que aqueles

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são crenças de cada um dos indivíduos e estes são valores que embora um indiví-
duo possa não concordar, pessoalmente, verifica como sendo um valor da organi-
zação em que trabalha. Para os autores, “quase todo empregado é capaz de detec-
tar diferenças nos valores que dominam em determinadas organizações e que de-
terminam seu clima e sua cultura organizacional”.
Os valores organizacionais não devem ser confundidos com os valores pesso-
ais dos membros da organização, nem com os que eles gostariam que existissem
na empresa.
Uma característica bastante importante dos valores organizacionais, no que
diz respeito ao presente estudo, é sua organização em uma hierarquia de valores.
Os valores podem ser definidos como princípios ou crenças organizados hierarqui-
camente, relativos a tipos de estrutura ou a modelos de comportamento desejáveis
que orientam a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais, coleti-
vos ou mistos. Nem toda crença constitui um valor: somente aquelas que são
enfatizadas. Obviamente, as crenças que estabelecem os valores estão em interação
entre si e com outras crenças, de forma a compor um sistema de valores complexo
e organizado hierarquicamente. Para Rokeach (1968), um sistema de valores é
uma disposição hierárquica de valores, uma classificação ordenada de valores ao
longo de um continuum de importância. Os valores organizacionais implicam ne-
cessariamente preferência, distinção entre o importante e o secundário, entre o
que tem valor e o que não tem. A idéia de graus de valor encontra sua base na
relação dos valores com o tempo, elemento fundamental para o seu desenvolvimen-
to, com a missão e os objetivos da empresa, cuja especificidade e importância
organizacional impõem uma ordem de primazia, e com o esforço realizado pela
empresa e pelos seus membros para a obtenção das metas propostas.
O gerenciamento dos valores organizacionais passa por um processo obrigató-
rio de diagnóstico. Schein (1989) e Davis (1984) ressaltam a importância da análise
e gerenciamento da cultura organizacional para os processos de mudança na orga-
nização. Em outras palavras, os processos de mudança organizacional devem passar
por diagnóstico e gerenciamento da cultura da empresa, e com parte da cultura, de
seus valores.
Pettigrew (1986) também ressalta esta relação entre o processo de mudança e
a cultura organizacional, acrescentando que o gerenciamento da cultura é um pro-
cesso que envolve dimensões intangíveis, e, por isso, é de elevada complexidade;
contudo, seu gerenciamento é possível com o uso de metodologias adequadas.
Uma dessas metodologias foi descrita por Shinyashiki (1995): o processo utilizado
pela consultoria de alta gestão McKinsey & Co. para gerenciar a cultura
organizacional. Este processo é composto pelas seguintes etapas:
n Identificar que tipo de cultura é necessário;
n Avaliar a cultura existente para determinar os “gaps”;
n Decidir como preencher os “gaps”;

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n Repetir periodicamente o processo.


Em uma correlação com os valores organizacionais, um processo completo
de gerenciamento envolveria a identificação dos valores que caracterizam a empre-
sa hoje e sua comparação com os valores organizacionais que seriam ideais, de
acordo com as metas da empresa.
Neste estudo, foi desenvolvida a primeira parte deste processo: o diagnóstico
dos valores atuais. O diagnóstico de valores ideais não foi apresentado por não
fazer parte do enfoque proposto: relacionar os valores organizacionais que já exis-
tem em uma empresa que executa projetos de gestão com responsabilidade
socioambiental.

A IMPORTÂNCIA D O S VALORES ORGANIZACIONAIS NA G E S T Ã O


SOCIOAMBIENTAL
A responsabilidade socioambiental pode ser definida como “o dever ou obriga-
ção da organização para responder – perante todas as partes interessadas – pelas
conseqüências ou impactos sociais e ambientais causados por seus produtos,
serviçoseatividadesintroduzidosnoambientepúblico ”(
FURTADO, 2003). O termo
“socioambiental” pode, portanto, ser justificado pela união das conseqüências so-
ciais e ambientais causadas pelas empresas: pobreza, saúde, segurança,
criminalidade, abrigo, alimentação, entre outros eventos, são questões sociais inti-
mamente associadas às ações humanas resultantes do uso do meio físico e bioló-
gico e vice-versa.
Uma empresa com Gestão com Responsabilidade Socioambiental (RSA) deve-
rá gerir seu negócio de forma que atenda ou ultrapasse as expectativas éticas,
públicas, legais e comerciais, em relação a aspectos ou questões sociais e
ambientais envolvidos nos processos produtivos de bens e serviços. Ela também
deve respeitar os interesses das partes ou grupos, que afetam ou são afetados
pelos negócios ou atividades da organização, abrangendo: proprietários, acionistas
e investidores (stockholder) e demais interessados (stakeholders), como trabalha-
dores, suas famílias, comunidade na vizinhança ou entorno, contratados, fornece-
dores, distribuidores, consumidores, concorrentes, outros agentes econômico-fi-
nanceiros, governo e sociedade em geral.
A adoção da gestão socioambiental passa por uma mudança no Planejamento
Estratégico da empresa e pela elaboração e disseminação de normas que estabe-
leçam seu escopo na organização. Furtado (op. cit.) define que, para atuar com
responsabilidade socioambiental (RSA), é preciso conhecer o eixo central de ativi-
dade ou negócio da organização e reconhecer e identificar as expectativas dos
acionistas (shareholders) e das demais partes interessadas (stakeholders). Deve-
se integrar a RSA com a missão da organização, definir valores socioambientais,
princípios, indicadores de desempenho e formalização da política específica pela
alta administração.
Dessa forma, o levantamento dos valores organizacionais está intimamente

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ligado à capacidade da empresa em atuar com RSA. Eles estão além das próprias
normas definidas pela empresa, e constituem uma espécie de ideologia – as nor-
mas da organização estão enraizadas nos valores, e podem ser consideradas até
mesmo como operacionalização destes (TAMAYO; GONDIM, 1996). As normas
definem explicitamente as formas de comportamento esperadas dos membros de
uma organização e os valores proporcionam uma justificação mais elaborada e
generalizada, tanto para o comportamento apropriado como para as atividades e
funções do sistema. E além do mais, os valores, como parte da cultura
organizacional, estão significantemente associados ao desempenho organizacional,
conforme os estudos de Santos (2000).
Nos países desenvolvidos, os principais estímulos à prática da Responsabilida-
de Socioambiental originam-se do mercado, caracterizado por demandas de con-
sumidores, pressões de ONGs, regulamentação, organizações indexadoras com
influência no mercado de ações e exigências de investidores, especialmente os
fundos éticos. Estes últimos aumentaram de 168 (1999) para 230 (2001). No Brasil,
ainda, as motivações para a Responsabilidade Socioambiental vêm da mídia (FUR-
TADO, op. cit.).
Uma questão importante é que a RSA não está voltada a ações paternalistas
e nem filantrópicas. A visão é de que a RSA é um processo contínuo de comporta-
mento responsável, voltado para a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimen-
to sustentável. A implantação desse conceito na empresa deverá ser assumida
pela alta administração.Mas todos ostakeholders
s precisarão ser envolvidos. E
no limite, Barrett (1998) afirma até mesmo que, “para uma empresa ter sucesso a
longo prazo, ela deve tornar-se uma entidade viva e autônoma que reflita os valores
coletivos de todos os empregados”.

APRENDIZAGEM SOCIOAMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES


A forma com que as empresas lidam com seu conhecimento e gerenciam o
processo de aprendizagem na construção de capacidades organizacionais são
grandes fontes de vantagem competitiva, na medida em que as tornam capazes e
detentoras do know-how necessário para operarem e produzirem os produtos dese-
jados. Ser capaz de alguma coisa é ter o conjunto de habilidades necessárias para
realizar algo de maneira eficiente, fluida e sem surpresas e melhor do que os con-
correntes. Uma empresa capaz realiza suas operações sem mudanças drásticas
ou interrupções, visto que a maioria das situações é resolvida da maneira como
sempre foi. “As capacidades organizacionais preenchem a lacuna entre intenção e
resultado, de maneira que o resultado corresponde àquilo que foi intencionado.”
(DOSI; NELSON; WINTER, 2000).
A aplicação produtiva do conhecimento e seu processo de acumulação nas
práticas administrativas ocorrem em sua forma mais eficiente durante a execução
das rotinas organizacionais. O conceito de rotina foi popularizado na Teoria
Organizacional por Simon (1945), March e Simon (1958) e, principalmente, Cyert e

16 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

March (1963). No campo da estratégia foi definido originalmente por Nelson e Winter
(1982). Na visão dos autores, o pressuposto de perfeita racionalidade, defendido
pela Teoria Neoclássica, é questionado na medida em que os indivíduos tentam ser
racionais mas não conseguem. Ou seja, além de possuírem racionalidade limitada
(SIMON, 1945) – pela falta de informações sobre todas as opções disponíveis que
torna o processo de decisão mais direcionado à “satisfação” das necessidades do
decisor do que a “maximização” das opções – o insucesso da racionalidade perfei-
ta é causado por restrições cognitivas do decisor ao desconsiderar opções alterna-
tivas às quais não está habituado. “[...] existe uma grande diferença entre a situ-
ação de o decisor estar incerto sobre o resultado da opção X e a situação na qual
o decisor nem ao menos considerou, ou pensou a respeito, se a opção X é impor-
tante ou não” (NELSON; WINTER, 1982).
A restrição cognitiva causada pelo hábito fundamenta a ação organizacional
através da performance de rotinas. No dia-a-dia de trabalho, os indivíduos interagem
utilizando uma linguagem simbólica que permite compartilhar significados sobre o
trabalho realizado, instituindo o que se considera “normal”, legítimo ou em confor-
midade com o que é aceito pelo grupo. Como resultado, em vez de maximizarem
ou satisfazerem sua função utilidade, os indivíduos procuram conformidade com o
grupo. Nesse sentido, rotina organizacional pode ser entendida como o modo “como
as coisas são feitas por aqui”. Para Teece, Pisano e Schuen (1997), rotinas “são
padrões de interação que representam soluções de sucesso para problemas espe-
cíficos [...] que se encontram enraizadas no comportamento do grupo”.
É importante deixar claro as características do tipo de decisão que se enqua-
dra no conceito de rotinas organizacionais. Segundo Nelson e Winter (1982), todas
as decisões que são regulares e freqüentes, que utilizam formas habituais de reso-
lução de problemas cujos resultados são relativamente fáceis de serem previstos,
que são processadas pela empresa de maneira fluida e não drástica e que não são
encaradas como surpresa constituem-se em rotinas organizacionais. As rotinas
podem ocorrer em todos os níveis da organização, desde o operacional até o nível
estratégico.
Contudo, é óbvio que nem todas as decisões organizacionais se enquadram
como rotina. Principalmente em situações de crise e/ou quando a empresa não
está preparada, ou enfrenta problemas complexos cujos resultados são altamente
imprevisíveis, irregulares, percebidos pela empresa como uma surpresa ou situa-
ção nova, as decisões exigem um grande esforço de atenção e deliberação. Ao
longo de sua história, a empresa acumula conhecimento e desenvolve heurísticas
que se institucionalizam nas rotinas da empresa, restringindo cognitivamente futu-
ras decisões. Por exemplo, em um processo decisório deliberativo e consciente, o
portfólio de alternativas apresenta-se filtrado pela cognição compartilhada dos
decisores, bem como o processo de avaliação e escolha da alternativa é influenci-
ado pela cultura da empresa, pelos outros atores ambientais e pela dependência
de recursos com o ambiente (DOSI; NELSON; WINTER, 2000).

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 17
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

O CONHECIMENTO E A INÉRCIA ORGANIZACIONAL NAS MUDANÇAS


SOCIOAMBIENTAIS
A mudança organizacional é considerada um processo que requer a superação
de uma carga significativa de inércia organizacional. Mais detalhadamente, dentre
as características que conferem inércia às empresas e que dificultam a mudança,
podem-se citar: a) a característica evolutiva do processo de aprendizagem e do
processo de estabilização das novas rotinas; b) a alta carga de conhecimento
tácito na operação das rotinas; e c) as opções de novos desenvolvimentos e inves-
timentos, que em determinado momento do tempo são fortemente influenciadas
pelas escolhas feitas no passado (path-dependency).
Antes que se analise cada característica acima, é necessário salientar que
serão adotados os pressupostos de Teece, Pisano e Schuen (1997) para descrever
as organizações. Os autores salientam que as atividades da organização ocorrem
em um ambiente onde padrões de comportamento e aprendizado são descentrali-
zados, porém com uma supervisão central.
Nesse contexto, o aprendizado organizacional é um processo evolutivo, cujo
conhecimento gerado tem uma característica “aderente” (sticky), e ocorre, princi-
palmente, durante a execução e estabilização das rotinas organizacionais. Uma
vez estabilizadas, as rotinas impregnam as práticas administrativas com conheci-
mento tácito e procedimentos automáticos que tornam quase impossível aos indi-
víduos a percepção de novas possibilidades e a identificação das causas do seu
sucesso ou de problemas (causal ambiguity).
Com relação à inércia organizacional, Cohen e Bacdayan (1994) salientam que
a dificuldade de mudança nas rotinas, quando existe conhecimento armazenado
em memória procedimental, deve-se às seguintes características: a) o esqueci-
mento, devido ao passar do tempo, é baixo, tornando-se difícil a introdução de
novas rotinas; b) a baixa acessibilidade ao investigar as rotinas e determinar as
suas causas de sucesso e/ou falha; e c) a dificuldade de transferir códigos
registrados procedimentalmente para outros contextos.
Em suma, devido às características evolutivas do aprendizado organizacional e
à característica “aderente” do conhecimento organizacional, para que novas rotinas
se estabilizem e novas habilidades organizacionais sejam institucionalizadas (taken-
for-granted) é necessário um período considerável de tempo (DIERICKX; COOL,
1989).

GESTÃO DO CONHECIMENTO E APLICAÇÃO DOS PROJETOS


SOCIOAMBIENTAIS
A partir do pano de fundo teórico exposto nas seções anteriores, duas dimen-
sões devem ser consideradas na gestão do conhecimento em um processo de
mudança organizacional com vistas à implantação de processos
socioambientalmente responsáveis: a) grau de presença da variável socioambiental
nas práticas organizacionais; e b) grau de institucionalização das práticas

18 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

organizacionais. A seguir detalham-se as características de cada dimensão.


O grau de presença da variável socioambiental nas práticas organizacionais
refere-se ao conhecimento explícito sobre a variável socioambiental que foi acumu-
lado ao longo da história da empresa. Se tal conhecimento explícito for alto, isso é
indício de que a empresa tem experimentado a responsabilidade socioambiental,
seja por força da Lei, seja por imposição mercadológica. A presença da variável
socioambiental se manifestará nos manuais de procedimentos, formalmente deter-
minados, ou por meio do conhecimento explícito, declarado pelos indivíduos, sobre
as atividades previstas pelas normas ambientais. Por outro lado, se a empresa teve
nenhum ou pouco contato com práticas e procedimentos adequados às normas,
não acumulou conhecimento sobre a variável socioambiental e sua presença não
será evidenciada nas práticas. Isso significa que não seria possível encontrar pos-
turas socioambientalmente responsáveis nas práticas organizacionais.
A outra dimensão, o grau de institucionalização das rotinas organizacionais,
diz respeito ao compartilhamento sobre o significado do trabalho realizado. Se o
grau de institucionalização for alto e os significados plenamente compartilhados,
significa que as práticas organizacionais assumem características próximas às
das rotinas organizacionais, sejam no sentido estrito do conceito ou no amplo,
como é o caso das heurísticas. Nesse caso, a organização, ou um grupo, opera de
maneira fluida, aplicando produtiva e eficientemente o conhecimento acumulado e
aprendido através do exercício das suas habilidades. Em caso contrário, para um
grupo com baixo grau de institucionalização das rotinas organizacionais, o signifi-
cado que os indivíduos atribuem para a natureza e o conteúdo das suas atividades
não está plenamente compartilhado. Nessa situação, as operações não ocorrem
de maneira fluida, visto que cada atividade requer um esforço de atenção e de
deliberação, incorrendo em interrupções na execução de suas atividades.
As duas dimensões se cruzam para formar uma matriz com quatro quadrantes,
denominada neste trabalho matriz da gestão socioambiental e do conhecimento
organizacional (Matriz GAC). O diagnóstico de um grupo, ou organização,
mensurando-se as duas dimensões, deve situá-lo em um dos quatro quadrantes da
figura 1:
Figura 1: Matriz GAC

Grau de presença da Quadrante II Quadrante I


variável Quadrante III Quadrante IV
Grau de institucionalização

O quadrante I significa que a organização ou grupo em análise possui uma


operação fluida e sem interrupções. Seus indivíduos têm uma visão compartilhada
do trabalho a ser feito, interpretam as interações de maneira semelhante, execu-

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 19
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

tam de maneira quase automática seus procedimentos e possuem heurísticas e


estratégias conhecidas por todos. Ademais, a variável socioambiental está presen-
te fortemente nas operações. O quadrante I representa a melhor situação para os
gestores da empresa e é o estado ideal, meta para o processo de mudança
organizacional, na medida em que o grupo já possui os comportamentos previstos
nas normas ambientais, institucionalizados em seu portfólio.
O quadrante II representa a situação com o melhor potencial para que a organi-
zação ou grupo em análise mova-se na direção do quadrante I, principalmente
porque a variável socioambiental já está fortemente presente. O fato de que as
rotinas do departamento não estejam institucionalizadas constitui-se em vanta-
gem, pois a inércia organizacional é menor. Em outras palavras, o esforço gerencial
deve ser no sentido de fomentar a interação, a comunicação, o treinamento das
atividades atuais, para que as rotinas se estabilizem e as práticas de responsabili-
dade socioambiental sejam consolidadas.
Caso a organização ou o grupo em análise estejam situados no quadrante III, a
mudança na direção do quadrante I necessita de maior esforço gerencial. Como as
duas dimensões estão baixas, as estratégias de intervenção devem atuar no senti-
do de incorporar o conhecimento sobre a variável socioambiental e fomentar a sua
institucionalização nas rotinas organizacionais do grupo.
Finalmente, a pior situação reside no quadrante IV. Nesse caso, a inércia
organizacional é grande, visto que as rotinas estão estabilizadas, e isso diminui a
probabilidade de os indivíduos se aperceberem e incorporarem a variável
socioambiental em suas atividades. Necessariamente, o movimento para o quadrante
I passa pelo quadrante II, em um processo de reaprendizado das práticas atuais. O
esforço gerencial é triplo: a) colocar as habilidades atualmente institucionalizadas
em desuso, ou combinar as habilidades atuais de forma diferente para incorporar
os requisitos da mudança; b) aumentar o grau de presença da variável socioambiental;
e c) fomentar a nova institucionalização. Como conseqüência dessa mudança,
necessariamente haverá perdas de eficiência, na medida em que os indivíduos
alocaram maiores esforços de atenção para as novas deliberações acerca de suas
atividades que surgirão em função das novas exigências. Um longo período de
tempo será necessário até que se forme um novo esquema cognitivo compartilhado
pelo grupo. A estratégia mais eficiente para a mudança, nesse caso, consiste na
recombinação das habilidades atuais que possibilitam o reaprendizado de novas
habilidades de maneira mais rápida quando comparado ao aprendizado de algo
totalmente novo (KOGUT; ZANDER, 1992).
As estratégias a serem utilizadas pelos gerentes para a condução da mudança
organizacional na direção do quadrante I encontram semelhanças na tipologia de
conversão do conhecimento proposto por Nonaka e Takeuchi (1995). Segundo os
autores, a transformação do conhecimento entre tácito e explícito ocorre de quatro
formas: a) de tácito para explícito: externalização; b) de tácito para tácito:
socioambientalização; c) de explícito para explícito: combinação; e d) de explícito

20 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

para tácito: internalização.

Figura 2: Quatro modelos de conversão do conhecimento


Fonte: Nonaka e Takeuchi (1995)
Conhecimento tácito para Conhecimento explícito
Conhecimento
tácito Socioambientalização Externalização
de
Conhecimento
Internalização Combinação
explícito

A figura a seguir sintetiza os possíveis resultados da aplicação da ferramenta


para diagnosticar um grupo ou organização, em um determinado instante de tem-
po, e relaciona as estratégias de intervenção mais adequadas para minimizar os
esforços dos administradores em posicionar a empresa no quadrante I, utilizando
as quatro possibilidades propostas por Nonaka e Takeuchi (1995).
Figura 3: Síntese dos resultados da aplicação da ferramenta: diagnóstico e prescrição

Esforço
Diagnóstico Trajetória Estratégias de mudança
gerencial

Manter-se no
Quadrante I Reduzido Reforçar as interações entre os indivíduos.
quadrante

Internalização: conhecimento explícito para


conhecimento tácito. Disseminar um esquema
Quadrante II II para I Baixo
cognitivo compartilhado sobre o trabalho a ser
executado. Fomentar as interações entre
Articulação: conhecimento tácito para
Quadrante III III para I Médio conhecimento explícito. Esclarecer quais os
novos procedimentos e como eles deveriam
Articulação: conhecimento tácito para
conhecimento explícito. Reaprendizado de
novas práticas através da recombinação das
Quadrante IV III para II para I Alto
habilidades atuais, reconfigurando as novas
rotinas organizacionais. Estratégias da
trajetória III para I.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 21
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Finalmente, é importante ressaltar que a eficiência das estratégias de mudan-


ça é função da capacidade de os gerentes liderarem o processo, principalmente
das suas competências em: a) reconhecerem as habilidades que podem ser
recombinadas (quadrante IV); b) arquitetarem a estrutura adequada para aumentar
a interação entre os indivíduos e a criação dos sistemas de recompensa (quadrante
II e III); e c) comunicarem claramente o conteúdo declarativo e procedimental das
novas normas (quadrante III).
A próxima seção apresenta as principais considerações metodológicas para a
operacionalização da Matriz GAC em um estudo de caso.

RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL EMPRESARIAL NA ÓPTICA DO


CAPITALISMO
A Responsabilidade Socioambiental Empresarial – RSE é um tema que tem
sido amplamente debatido nos últimos anos, no Brasil, e nas duas últimas déca-
das, no mundo. Mas, o que significa? Qual é a explicação para a propagação do
conceito e disseminação desta prática? Como se justifica este movimento?
Encontramos na obra “O Novo Espírito do Capitalismo”, de Luc Boltanski e Ève
Chiapello (1999), um caminho para responder esta questão. Sucintamente, a obra
fornece um ferramental de análise das transformações do capitalismo, sem a pre-
tensão de generalizar para todo o mundo, uma vez que os autores utilizam o caso
da França como estudo. A análise é de ordem pragmática, levando em considera-
ção as diferentes maneiras como as pessoas se comprometem na ação, suas
justificações e o sentido que dão a seus atos. Os autores procuram esclarecer as
relações que se estabelecem entre o capitalismo e suas críticas e, principalmente,
o surgimento de novas representações da sociedade, das formas de colocar à
prova as pessoas e as coisas e, em conseqüência, as novas formas de sucesso ou
fracasso.
Para aprofundarmos a discussão sobre o “Novo Espírito”, necessário se faz
entender a gênese do conceito de “Espírito do Capitalismo”, em Max Weber. As-
sim, na segunda parte do trabalho apresentamos alguns pontos de Weber sobre o
capitalismo e seu “Espírito”, entendido como a ideologia que justifica e possibilita o
primeiro. A seguir, apresentamos e discutimos as idéias de Boltanski e Chiapello,
autores contemporâneos que estendem a análise weberiana, buscando interpretar
a RSE a partir de seu modelo.
O conceito de responsabilidade socioambiental não é novo. A preocupação
com o tema remonta aos anos 50, quando as conseqüências da expansão da
indústria já se faziam sentir. Surge, então, como fruto de profundas críticas sociais,
éticas e econômicas que as organizações passaram a sofrer ao se verem total-
mente envolvidas na economia de mercado. Porém, não se chegou a um consenso
sobre seu significado e limites, uma vez que o conceito é amplo, defrontando-se
em áreas-limite da ética e da moral (VENTURA, 1999).
Nota-se, contudo, uma crescente conscientização de que as organizações

22 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

podem e devem assumir um papel mais amplo dentro da sociedade. Neste traba-
lho, entendemos Responsabilidade socioambiental como o compromisso que uma
organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes
que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo
específico, agindo pró-ativamente e coerentemente no que tange ao seu papel es-
pecífico na sociedade e à sua prestação de contas para com ela, assumindo,
assim, além das obrigações estabelecidas em lei, também obrigações de caráter
moral, mesmo que não diretamente vinculadas às suas atividades, mas que pos-
sam contribuir para o desenvolvimento sustentável dos povos (VENTURA, 1999;
ASHLEY, 2002). Assim, numa visão expandida, responsabilidade socioambiental é
toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da
sociedade.
Atualmente, raros são os casos de empresários e executivos que ainda
desconsiderem totalmente suas responsabilidades sociais. Pode-se dizer que a
sensibilidade para os problemas sociais já está institucionalizada. As organiza-
ções têm sido pressionadas para se tornarem mais solidárias e chamadas a uma
maior participação, abertura e integração com a sociedade, sob a ameaça de se-
rem abandonadas por seus consumidores. Neste sentido, a RSE avança à medida
que a globalização acirra a competição entre empresas. Na visão de Cheibub e
Locke (2002), RSE implica em ações que vão além da “letra da lei” e em ações não
resultantes de negociações políticas com sindicatos ou organizações de trabalha-
dores. Abaixo reproduzimos um quadro com os modelos existentes na literatura
sobre as diferentes formas como as empresas podem se inserir em seu meio
socioambiental:

Quadro I: Modelos de RSE


Fonte: Cheibub; Locke (2002: p.281)
Motivação da ação
Alvo da ação
Instrumental Moral
Acionistas / Donos Produtivismo Filantropia
Stakeholders Progressista Idealismo ético
Segundo os autores, há uma tendência na literatura de se privilegiar a dimen-
são valorativa da responsabilidade socioambiental (filantropia e idealismo ético),
num discurso eminentemente normativo. Para eles, o principal problema com es-
ses modelos e com os argumentos que os sustentam é que eles se concentram na
determinação das razões, dos motivos, das conseqüências e dos benefícios da
responsabilidade socioambiental e, assim, assumem que todos os outros atores
sociais ganham com a adoção da responsabilidade socioambiental. Ou seja, não
se considera no debate a dimensão pública/política dessas ações. Dever-se-ia in-

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 23
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

dagar, por exemplo, se e como a responsabilidade socioambiental contribui – ou


não – para a garantia dos direitos dos cidadãos estabelecidos na organização da
sociedade. O Estado estaria garantindo estes direitos, ou se eximindo, quando
permite, ou incentiva, que outros atores sociais também executem ações sociais?
Assim, o principal ponto para os autores é que as ações de RSE não têm conse-
qüências somente para a própria empresa ou para seus beneficiários diretos, mas
para a sociedade como um todo, pois podem influir na distribuição de poder político
na própria sociedade. Assim, a questão do poder das empresas também não deve
ser negligenciada.
Para os autores não há, em princípio, base moral e política para que as empre-
sas assumam responsabilidades sociais – no sentido de algo além de suas obriga-
ções legais. Assim, responsabilidade socioambiental não seria uma questão mo-
ral, mas sim de interesse econômico das empresas: se trata-se de interesses ou
valores, esta questão é política e moralmente irrelevante. Consideram bom, toda-
via, que as empresas assumam posicionamentos socioambientalmente responsá-
veis, desde que estejamos atentos para os riscos políticos que podem advir desse
movimento. Assim, na visão dos autores, a RSE é uma questão de auto-interesse
das empresas, pois mesmo que não seja de seu interesse exclusivo e imediato, é
do seu interesse esclarecido e de longo prazo, na medida em que suas ações
podem contribuir para o fortalecimento da sociedade civil, tornando-a mais densa e
articulada – o que favorece, em última instância, a condução de seus negócios.

EXPLICAÇÃO DO MOVIMENTO DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL


À LUZ DO CAPITALISMO
Uma das teorias utilizadas para o entendimento dos processos de
institucionalização dos fenômenos organizacionais é a chamada Teoria Institucional.
Segundo Vieira e Misoczky (2000), a partir da década de oitenta a perspectiva
institucional retomou fôlego na explicação da estruturação das organizações, a
partir dos trabalhos de Meyer e Rowan (1977) e de DiMaggio e Powell (1983).
Selznick, o precursor dessa abordagem, chamou de “processo de
institucionalização” a forma pela qual as expressões racionais da técnica são subs-
tituídas por expressões valorativas compartilhadas no ambiente onde a organiza-
ção opera (VIEIRA; MISOCZKY, 2000).
Sucintamente, a abordagem institucional das organizações enfatiza: a) a de-
pendência socioambiental da estrutura organizacional; b) as dimensões política e
cultural envolvidas; e c) os efeitos dessas dependências na definição da natureza
de organizações mais modernas, particularmente a natureza fluida e complexa de
organizações criadas em ambientes altamente institucionalizados (SCOTT; MEYER
apud VIEIRA; MISOCZKY, 2000). Assim, a ênfase é colocada no ambiente. A legi-
timidade e a questão do isomorfismo são fatores considerados vitais para a sobre-
vivência das organizações.
A noção de ambiente, então, evoluiu de um enfoque generalista para um enfoque

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

simbólico, acrescentando ao ambiente técnico um sistema simbólico (ambiente


institucional), que são os fatores que dão forma à ação organizacional. Os ambien-
tes passam a ser considerados não apenas fonte de recursos e depósito de resul-
tados do processamento das atividades organizacionais, mas um grupo de ele-
mentos que fornecem crenças que funcionam como “mitos racionais” (VIEIRA;
MISOCZKY, 2000).
Na abordagem institucional, as estruturas formais racionalizadas assumem
tanto um caráter passivo como também ativo na configuração da realidade
socioambiental. Importa identificar o conjunto de valores fundamentais de um de-
terminado contexto que seja formador das práticas organizacionais.
Esta teoria leva-nos à seguinte reflexão: como e por que a RSE está se tornan-
do um processo institucionalizado nas empresas? E será que a RSE não estaria
se tornando um discurso e uma prática institucionalizada pelo mecanismo de
isomorfismo?
A resposta à primeira questão vai ser buscada em Boltanski & Chiapello, a
seguir. Para a segunda, uma suposição é de que, sob o aspecto coercitivo, as
organizações mais fortes forçam as empresas de sua cadeia produtiva a adotar
práticas similares às suas, no caso impondo ações que elegem importantes no
âmbito da RSE. Sob o aspecto mimético, organizações copiam as práticas de
organizações que julgam de ponta, tentando com isso se livrar das incertezas
ambientais. Sob o aspecto normativo, a conscientização dos gerentes e a deman-
da da sociedade civil que cobra uma postura mais responsável e cidadã fazem as
ações organizacionais convergirem para ações mais responsáveis, que levem em
conta os stakeholders da organização, divulgando e ampliando o movimento pela
responsabilidade socioambiental.
Disto deriva outra suposição, a de que, em muitos casos, as organizações
lançam-se no discurso da responsabilidade socioambiental sem ao menos questi-
onar o que isto significa e sem, verdadeiramente, produzir mudanças reais em suas
ações, mas buscando “estampar” aquilo que pode ser divulgado e “condecorado”
pela sociedade (e consumidores).

A TRANSFORMAÇÃO DO CAPITALISMO
A ênfase da obra “Le Nouvel Esprit du Capitalisme”, de Boltanski e Chiapello
(1999), é sobre as transformações do espírito do capitalismo nos últimos 30 anos,
estudando a passagem do chamado segundo espírito para o terceiro.
A título de ilustração, o primeiro espírito se refere ao capitalismo burguês, do-
méstico, de pequenas empresas familiares que vigorou até o início do século XX,
cuja ênfase estava sobre a figura do burguês, do empresário, individualmente.
Já o segundo espírito aporta entre os anos 30 e 60, quando o crescimento e
burocratização das empresas fez com que a figura do executivo ganhasse espaço
e notoriedade na sociedade. A ênfase não é mais no empresário, mas na organiza-
ção e seus dirigentes, agora diplomados e qualificados. É nesse período que se

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 25
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

alavancam a produção e o consumo em massa, assegurando a referência ao bem


comum e justificando tal sistema como propício à justiça socioambiental.
O terceiro espírito é aquele das sociedades ditas “em rede”, interconectadas
tanto por sistemas informatizados quanto por parcerias e alianças que reconfiguram
as relações sociais e laboriais. Para Manuel Castells (2000), a sociedade em rede
é uma forma específica de estrutura socioambiental – arranjos organizacionais de
homens nas relações de produção, consumo, experiência e poder – característica
da Era da Informação. Para ele, os “significados” criam a “cultura” – que é um
sistema de valores e crenças que informa códigos de comportamento.

O CAPITALISMO EM MAX WEBER


Para Max Weber, em sua sociologia compreensiva, não há determinantes para
o capitalismo, mas sim condições que possibilitam sua formação. Assim, as ciên-
cias sociais só podem compreender, não podem explicar, uma vez que não existe
uma relação causa-efeito. A ação socioambiental – como os indivíduos agem - para
Weber, é a chave de interpretação da realidade socioambiental. Ela pressupõe uma
relação socioambiental entendida como a possibilidade previsível de que determi-
nados indivíduos adotem determinado comportamento. Assim, é orientada pela
expectativa de ações e reações dos outros. É imperativo, então, para o autor, com-
preender quais motivações os indivíduos têm para suas próprias ações.
Para ele, o capitalismo não é fundamentalmente um fenômeno econômico,
mas é cultural, ou seja, tem a ver com os valores de uma época. Neste sentido,
discute em sua obra as características do protestantismo que possibilitaram o
desenvolvimento capitalista. Características marcantes deste processo são a
mercantilização, pela qual os meios de vida tornam-se mercadorias, e a quantificação,
que significa que tudo é calculado em termos de rentabilidade.
Em “A Ética protestante e o Espírito do capitalismo”, Weber estuda a relativida-
de da formação do moderno ethos econômico e sua relação com a ética do protes-
tantismo ascético. Assevera que a “ânsia do lucro” existe em todas as pessoas,
independente de sua função, em todos os tempos. Chama de ação econômica
“capitalista” aquela que se baseia na expectativa de lucro através da utilização das
oportunidades de troca, isto é, nas possibilidades pacíficas de lucro. Tudo é feito
em termos de balanço, para a verificação do lucro obtido: “Na medida em que as
operações são racionais, toda ação individualmente das partes é baseada em cál-
culo” (WEBER, 2001, p.5).
Nesse mundo, o que importa é a efetiva orientação para um ajustamento dos
lucros ao investimento, por mais primitiva que seja a sua forma. Nesse sentido, o
empreendimento capitalista existe de longa data e em toda parte. Mas o ocidente
desenvolveu uma gama de significados do capitalismo e, o que lhe dá consistência
– tipos, formas e direções.
O especulador, que Weber chama de aventureiro capitalista, em sua visão tam-
bém existiu em todas as épocas. Suas atividades eram de caráter puramente irra-

26 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

cional e especulativo. Mas o que o Ocidente veio a conhecer, além disso, foi a
singular organização capitalista racional assentada no trabalho livre; pois o cálculo
exato – base de todos os demais – só é possível no plano do trabalho livre. Outra
peculiaridade do capitalismo ocidental são dois fatores de seu desenvolvimento: a
separação da empresa da economia doméstica, contabilmente – contabilidade ra-
cional – e espacialmente – separação jurídica dos bens da empresa e do indivíduo.
Segundo Weber, o ocidente foi capaz de produzir desenvolvimento universal em
seu valor e significado, por meio da ciência. Em todas as áreas do desenvolvimento
– química, física, leis, arte – o desenvolvimento do ocidente foi mais racionalizado.
E o mesmo acontece com o capitalismo. Assim, a forma peculiar do moderno
capitalismo ocidental foi influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades téc-
nicas, implicando numa dependência das ciências, principalmente as matemáti-
cas e as ciências exatas. O próprio desenvolvimento de tais ciências e das técni-
cas nelas baseadas recebem impulso dos interesses capitalistas ligados à sua
aplicação prática na economia. Nesse sentido, uma das realizações específicas
do protestantismo é ter colocado a ciência a serviço da técnica e da economia
(WEBER, 1942, p.309).
Assim, a utilização técnica dos conhecimentos científicos foi encorajada da-
das as características da organização socioambiental do ocidente: as estruturas
racionais do direito e da administração. O racionalismo econômico, embora depen-
da parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado
pela capacidade ou disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta
racional. As questões religiosas, e os ideais éticos decorrentes, são importantes
elementos formativos da conduta. Assim, o desenvolvimento do capitalismo oci-
dental, para Weber, em a “História económica general”, pode ser assim definido:
“O que definitivamente criou o capitalismo foi a empresa duradoura e racional, a
contabilidade racional, a técnica racional, o Direito racional; a tudo isto há de se
acrescentar a ideologia racional, a racionalização da vida, a ética racional na eco-
nomia .”(WEBER, 1942, p.298).

O MODELO DA TRANSFORMAÇÃO CAPITALISTA


O modelo explicativo da transformação do capitalismo nos últimos trinta anos,
apresentado por Boltanski e Chiapello (1999), baseia-se em três conceitos imbrica-
dos, considerados como “macro-atores” (uma vez que, diferentemente de Max
Weber, não consideram em seu modelo um sujeito ou ator coletivo): o capitalismo,
o espírito do capitalismo e a crítica. Sobre a relação destes conceitos, os autores
fazem generalizações que nos serviram de base para entender a responsabilidade
socioambiental das empresas como crítica e deslocamento do capitalismo.
O primeiro ponto é que o capitalismo precisa de um espírito que torne possível
engajar as pessoas necessárias à produção e ao desenvolvimento dos negócios,
uma vez que a utilização da força, da violência para fazer as pessoas trabalharem
para outrem, tal qual nos períodos escravocratas da história, está fora do escopo e

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 27
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ideologia do capitalismo. Isto significa que as pessoas precisam “querer” o traba-


lho, pois o capitalismo pressupõe esta liberdade – de trabalhar e de empreender.
Assim, necessita uma implicação positiva dos trabalhadores, um motivo, uma ra-
zão para que todos queiram(os) trabalhar. Essa razão encontra-se no “espírito do
capitalismo”.
Mas para que este espírito possa realmente mobilizar as pessoas, deve incor-
porar uma dimensão moral, seja porque as pessoas vivem outras dimensões fora
da esfera produtiva, seja porque as pessoas, que são saciáveis em suas necessi-
dades e desejos, precisam de justificativas para fazer parte deste processo insaci-
ável que é o capitalismo. Aqui está um dos principais pontos, a nosso ver, do
modelo de transformação: o equacionamento entre a saciabilidade humana e a
insaciabilidade capitalista, que é a chave para a manutenção do capitalismo. Tanto
o espírito do capitalismo quanto a crítica do capitalismo se conectam a esta “peça-
chave” – a dimensão moral – conseguindo manter a ordem e valores capitalistas
em posição privilegiada em relação aos outros “mundos” e esferas de vida das
pessoas. Dessa forma, um terceiro ponto deriva do segundo. Para perpetuar-se, o
capitalismo precisa, então, de estimular e refrear, ao mesmo tempo, sua
insaciabilidade, seu processo de acumulação ilimitada. É nessa dinâmica, nessa
tensão permanente, que o espírito do capitalismo equaciona a tendência capitalis-
ta de autodestruição com as exigências morais de bem comum.

CONCLUSÃO
A resposta à indagação que deu origem a este ensaio – como se justifica o
movimento pela RESPONSABILIDADE SOCIAMBIENTAL EMPRESARIAL (RSE)
– pôde ser esboçada com base na obra de Boltanski e Chiapello (1999), buscando
entender a RSE como uma crítica e deslocamento do capitalismo. Necessário se
fez entender o conceito de espírito do capitalismo como uma justificativa ideológica
que possibilita as mobilizações necessárias para o desenvolvimento capitalista e,
a partir daí, interpretar a RSE. Em Weber encontramos o nascedouro do conceito,
e verificamos como a dimensão moral por ele já era considerada importante na
solidificação do Espírito do Capitalismo.
Vimos que muitas dimensões da RSE, tal qual a dimensão pública/política,
são deixadas de lado nas análises existentes, sendo o movimento
inquestionavelmente aceito como positivo para o bem comum pela maioria das
pessoas. Assim, hoje, uma empresa que não se insere no movimento pela respon-
sabilidade socioambiental passa a ser criticada e punida por seus consumidores,
tamanha a institucionalização e aceitação da idéia.
Vimos também que a teoria institucional pode fornecer respostas ao entendi-
mento da RSE, explicando a institucionalização das práticas na ação organizacional.
O isomorfismo é uma das respostas para a propagação do conceito e dissemina-
ção da prática de RSE. Atentamos para o fato de que as organizações podem
muitas vezes se lançar nesse discurso sem questionar o que realmente significa,

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

sem rever valores ou crenças, com o objetivo exclusivo de se legitimar perante a


sociedade.
Porém, o modelo de Boltanski e Chiapello pôde melhor demonstrar como este
processo ocorre, considerando não a ação de um ator específico, mas de macro-
atores que agem com vistas a perpetuar o capitalismo. Assim, o movimento pela
RSE não seria fruto simplesmente de uma mudança desejada pela sociedade, da
crítica, mas também um deslocamento do capitalismo objetivando combater a crí-
tica. Ou seja, os deslocamentos do capitalismo e as transformações nos disposi-
tivos que os acompanham contribuem para desmantelar a crítica, que se torna
inoperante, dando-lhe uma nova possibilidade de acumulação e lucros.
Desta forma, o capitalismo sobrevive, transformando-se todas as vezes que
tiver que atentar para a crítica que lhe é feita, conformando um novo espírito
legitimador e justificador de suas práticas, que garanta o engajamento das pesso-
as. Assim, na visão dos autores, a construção de um novo espírito do capitalismo
é necessária não apenas do ponto de vista humanista, mas também para a perpe-
tuação do próprio capitalismo. E são exatamente os movimentos críticos que infor-
mam o capitalismo dos riscos que o ameaçam.
Assim parece acontecer no movimento da responsabilidade socioambiental:
são inúmeros atores sociais alertando que é preciso mudar! E não tendo sido mais
possível fugir desta crítica, foi preciso agir. Mas o que ocorre é que a crítica tam-
bém busca tornar-se isomórfica quanto aos objetos aos quais se aplica. Compre-
endendo que mudaram as ordens de grandeza, busca identificar novas provas,
reconstituindo os esquemas de interpretação que possibilitam dar sentido às mu-
danças juntamente com os representantes das empresas, consultores, entre ou-
tros, recategorizando as provas. Diante disso, as empresas passam a agir, de
acordo com as novas provas instituídas, legitimando o movimento pela RSE.
É para estes pontos que julgamos que os estudiosos da Gestão Socioambiental,
e outros atores que compõem a crítica, tal qual os gerentes e consultores, devem
atentar, para simplesmente não reproduzirem o discurso capitalista com uma nova
roupagem e para poderem, posteriormente, monitorar a ação organizacional no
âmbito da RSE.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

A ALCA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


DO MERCOSUL

Alexandre Ramalho*

RESUMO
Percebe-se, nos dias de hoje, a preocupação com a defesa do meio ambiente. É comum nas
conferências internacionais, nos últimos anos, o debate sobre sustentabilidade nas atividades de
desenvolvimento. Muitas organizações não governamentais (ONGs) insurgem-se contra a defini-
ção oficial de desenvolvimento dos governos, das agências internacionais e concordam que
sustentabilidade é o princípio do processo de desenvolvimento focado nas pessoas e que deve
ser o motivo de esforços das nações para impulsionar o crescimento econômico, preservando o
meio ambiente. Gradativamente, governos, universidades, agências multilaterais e empresas de
consultoria técnica estão inserindo considerações e propostas protetoras do meio ambiente,
redimensionando os projetos de desenvolvimento e a democratizando os processos decisórios.

Palavras-chave: Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e Mercado Comum do Cone
Sul (MERCOSUL).

ABSTRACT
Noticeably, today, there is concern for the protection of our natural environment. In international
conferences the last five years, there is common debate about sustainability of developmental
activities. Many non-governmental organizations (NGOs) disagree with the definition of development
used by governments; international agencies agree that sustainability should be at the center of the
developmental process focusing on the people and should be the nations’ motivation to propel
economic growth while preserving the natural environment. Gradually, governments, universities,
multi-lateral agencies and technical consulting firms are including measures and proposals that
protect the environment, drawing new lines for developmental projects and democratizing the
decision making processes.

Key words: North American Free Trade Agreement (NAFTA), Southern Common Market
(MERCOSUR).

INTRODUÇÃO
O conceito de sustentabilidade transcende o exercício analítico de explicar a
realidade, requerendo coerência lógica nas aplicações práticas, isto é, o discurso
precisa ser transformado em realidade objetiva.
Os atores sociais, ao atuar, estão dotados de legitimidade política e autoridade
para administrar, na prática, os comportamentos sociais e políticas de desenvolvi-
mento. A elaboração teórica materializa-se através da luta oculta pelo poder entre
diferentes atores sociais, competindo pela posição hegemônica, oferecendo diretri-

* Administrador de empresas (PUC-Campinas) e pós-graduado em Finanças e Controladoria pela Metrocamp de


Campinas. Professor de Estatística e Matemática Financeira do Unicursos (Campinas/SP). Professor da área de
métodos quantitativos no Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí/SP.
E-mail: alexramalho@uol.com.br

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

zes que fortaleçam a sustentabilidade, a biodiversidade e a sobrevivência do plane-


ta.
A sustentabilidade tem que ser vista através do contexto ecológico e
sociocultural, analisando como era no passado, como é tratada no presente e
como será no futuro. Informações passadas servem como parâmetro de
sustentabilidade, enquanto o que ocorrerá no futuro exige a definição do Estado
desejável para a sociedade do porvir.
O destino das nações nos campos políticos, culturais e econômicos é impul-
sionado pelas elites de poder. A produção e disseminação de idéias, valores e
representações coletivas provêm destes dirigentes.
A força e a legitimidade das alternativas de desenvolvimento sustentável ficam
na dependência da racionalidade dos argumentos e das soluções estabelecidas
pelos atores sociais, atuantes nas áreas política e ideológica.
O planejamento e a implementação da ação social justa são frutos da teoria,
da doutrina ou do paradigma sobre sustentabilidade.
Portanto, faz-se necessário rever os argumentos que os autores, pertencentes
a diferentes correntes de pensamento, desenvolvem e que os governantes põem
em prática, almejando saber se são soluções autênticas para a sustentabilidade.

ALCA: RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O MERCOSUL


Pesquisas realizadas pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)1,
divulgadas pelo Seminário “ALCA cada vez mais próxima”, revelam o oposto: há
problemas graves acontecendo, que se referem, principalmente, ao próprio entendi-
mento dos vários países da ALCA, às prioridades geopolíticas americanas, à ques-
tão da Farm Act, da Bipartisan Trade Promotion Authority2, à própria crise em que
o MERCOSUL está hoje.
Há muitos fatores negativos, mas, realmente, aceita-se que o Brasil não pode
se afastar das negociações. O Brasil precisa debater e fazer prevalecer o direito na
questão agrícola. Há conjecturas de que os ganhos que a agricultura brasileira
obterá na ALCA são maiores que aqueles originados dos negócios com a União
Européia.
Há entraves a serem enfrentados pelo Brasil ao participar da ALCA e isto se
constata, através da lei Bipartisan Trade Promotion Authority (TPA) ou Farm Act,
por ser muito restritiva no que tange ao comércio internacional. Pode-se afirmar que
a lei denominada TPA afeta a ALCA ao separar trezentos produtos agrícolas, visan-
do a beneficiar os agricultores norte-americanos. Na prática do Comércio Internaci-
onal, através da ALCA, as questões apresentadas por outros países, devidas a

1
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – Instituição Internacional sediada em Washington, foi criada
em 1959 para prestar ajuda financeira para os Países da América do Sul e Caribe.
2 th
Congress 107 , Bipartisan Trade Promotion Authority Act of 2001, em http://thomas.loc.gov.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

este protecionismo, serão estudadas em seus impactos pela International Trade


Commission e pelo aval de quatro comitês do Congresso americano. Vê-se que
nesta lista de produtos agrícolas americanos protegidos pela TPA estão relaciona-
dos os mesmos produtos ofertados pelos exportadores brasileiros e, conseqüente-
mente, isto vai dificultar e atrasar as negociações.
A Farm Act faz parte da legislação americana que oferece diretrizes aos subsí-
dios e não se atém à proteção. No aspecto de proteção ela nada modifica. Os
subsídios fazem parte dos estudos da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O Brasil registra o maior saldo comercial agrícola do mundo. É preciso consi-
derar que nosso país coloca, atualmente, o setor agrícola como prioritário e isto
representa a conquista entusiasmante destes últimos anos.3

VISÃO DOS SETORES PRODUTIVOS


Pesquisa atual, realizada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial (IEDI) sobre o impacto da ALCA no setor industrial, focalizou cerca de
vinte e três áreas industriais do país e concluiu que pelo menos onze delas estão
despreparadas para exercitar o livre comércio, e sentirão dificuldades em transacionar
na ALCA. Podem ser enquadrados nesta situação de baixa competitividade: os
alimentos, a metalurgia, a química, bens de capital e componentes eletrônicos.
Este estudo contribuiu para se saber que estes setores estão produzindo no mes-
mo nível que os concorrentes estrangeiros, no entanto, o custo final destes produ-
tos, acrescidos de vários encargos, não premia a competitividade.
Setenta e dois por cento dos empresários entrevistados pelo IEDI julgam que
os empresários brasileiros precisam de maior atenção para se elevarem na concor-
rência com os países da ALCA, principalmente com os Estados Unidos; 91% cal-
culam que o bloco da ALCA permitirá a existência de novos mercados; 70% afir-
mam que a economia brasileira ainda não é competitiva para empreendimento de
tal envergadura; 100% consideram que o custo do capital é o fator inibidor da
competitividade do país.
Além desses, outros setores podem ser citados como mais competitivos na
Associação de Livre Comércio das Américas, conforme esta pesquisa: autopeças,
cerveja e refrigerantes, cimento, cosméticos, agronegócio, embalagens e siderur-
gia.
Em pesquisa da Receita Federal, orientada pelos registros de recolhimento de
impostos de importação/exportação, no período de 1997 a 2000, pelos países cons-
tituintes da ALCA, verificou-se: neste período, o número de empresas exportadoras
no Brasil registrou aumento de 6,3%, correspondendo a 1.700 firmas. O número de
importadoras caiu 9,97%. Nesta época, a exportação obteve acréscimos em pro-
dutos de alto valor agregado, como aviões, helicópteros e celulares 4.

3
JANK, M.S. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003.
4
MARQUES, C. apud HABERFELD, S. A visão do setor privado e das associações de classe. São Paulo: Manole,
2003, p. 105.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Prevê-se que o mercado ALCA movimente em torno de 12 trilhões de dólares,


com 800 milhões de consumidores. O Brasil é o grande interessado que isto se
suceda, uma vez que se propôs a se inserir na ação global competitiva. Sabe-se,
entretanto, ser este o enorme desafio, diante das diferenças comuns nestes paí-
ses. Empreendem-se esforços para se calcularem os riscos e as oportunidades e
se criarem produtos com valor agregado, equilibrando a balança comercial com os
países desenvolvidos.
Em estudos feitos com a Fundação Getúlio Vargas, concluiu-se que as ques-
tões do custo de capital e dos tributos trarão prejuízos de 20% ao Brasil no comér-
cio com a ALCA. Estas assimetrias precisam ser solucionadas pelo governo brasi-
leiro, tais como: a capitalização, o perfil de endividamento mais longo, a aprovação
das reformas básicas, buscando erguer o Brasil ao nível da concorrência internaci-
onal. É preciso também se manifestar contra as políticas discriminatórias e prote-
cionistas dos Estados Unidos. Os Estados Unidos, através destes artifícios, ven-
cem o Brasil nos negócios com o suco de laranja, com o papel e celulose, com os
aviões da EMBRAER e na siderurgia. É preciso exigir transparência dos parceiros
na ALCA, da mesma forma imposta ao Brasil.
Na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) foi elaborado o
projeto denominado Benchmarket Global, contendo 500 mil informações, visando à
sua apresentação ao governo, com análises de noventa e oito setores industriais
de São Paulo, comparados com os dos Estados Unidos e México, objetivando
subsidiar os negociadores brasileiros e estes setores, para serem bem sucedidos
no comércio exterior.
Entretanto, no setor industrial, há empresários que sugerem ampliar o prazo
para o ingresso na ALCA, mas há outros que se sentem habilitados, como é o caso
do setor de brinquedos, apresentando vantagens comparativas e competitivas. Por
ser a globalização um processo inexorável, cabe, portanto, ao governo brasileiro
solucionar o custo Brasil.
O Brasil conta com a indústria empreendedora, criativa, instituições políticas
estáveis, segmentos com capacidade, produtos de classe mundial. A FIESP tem
feito o trabalho de convencimento e conscientização desta realidade aos pequenos
e médios empresários. Aloizio Mercadante diz que o país está amplamente aberto
à negociação. As negociações, geralmente, serão trabalhosas e caras, porque
nelas atuam especialistas, com o acompanhamento da Câmara Americana e da
FIESP.
A partir de 2003, iniciou-se a real abertura do País, e as empresas estão parti-
cipando deste processo com responsabilidade. 5
Tanto na indústria como no comércio sabe-se que negociar é fundamental.
Faz-se necessário haver ânimo para se entender com os Estados Unidos, que
importam um trilhão e 200 bilhões de dólares por ano, ou com o grupo do Tratado

5
PIVA, H. L. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003, p. 106.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Americano de Livre Comércio (NAFTA), que importa um trilhão e 600 bilhões de


dólares anualmente. A negociação comercial de compra e venda com os países da
ALCA leva tempo e é preciso esperar mais pela aprovação nos congressos para
que passe a vigorar.
Em 2004, o Brasil exportou mais de 95 bilhões de dólares o que ainda é pouco,
apesar do crescimento expressivo em relação ao ano anterior (mais de 30%). É
preciso contribuir com a concretização da ALCA para oferecer seus produtos ao
maior mercado do mundo.
Nos dias atuais, o Brasil já envia cinqüenta por cento das exportações para o
grupo da ALCA e na área têxtil; 70% das exportações destinam-se aos outros 33
países pertencentes a esta área de livre comércio. Entretanto, os Estados Unidos
impõem cotas e o Brasil não faz o mesmo. A ALCA está prevista para funcionar em
2006; até lá, o governo brasileiro tem que concluir as reformas de base. Não se
admite a incompetência e as reformas deveriam ser aprovadas dentro deste prazo.
O negócio é visto como bom quando beneficia a todos.
Há estatísticas que confirmam que o Brasil exporta pouco. Os Estados Unidos
são consumidores de têxteis de confecção no valor de US$ 90 bilhões por ano.
Deste total, a República Dominicana e a Guatemala juntamente com outros países
da América Central suprem os EUA com US$ 9 bilhões e o Brasil com menos de
15% deste valor. 6
Espera-se da ALCA que se concretize neste hemisfério o modelo para os go-
vernos democráticos de todo o mundo. Na Reunião de Cúpula em Miami foram
prometidas a integração das economias, eliminando-se barreiras, e a realização da
zona de livre comércio das Américas. Houve promessas de se investir no desenvol-
vimento sustentável, com a campanha de solidariedade para reduzir a pobreza.
Os empresários brasileiros, entretanto, mostram-se insatisfeitos com a Lei de
Proteção de Aço americano e o Farm Act. Há forças protecionistas atuantes nos
Estados Unidos. Pode-se ver, também aqui no Brasil, a presença de forças proteci-
onistas e considera-se normal que aqueles que se sentem prejudicados pelo livre
comércio queiram impedir a mudança. No entanto, em relação aos EUA as pesso-
as enganam-se porque o país é classificado pelas outras nações como uma das
economias mais abertas do mundo. Há questões, entretanto, para serem discuti-
das na Organização Mundial do Comércio (OMC) relativas às negociações sobre
livre comércio nas Américas.
O Farm Act é visto no Brasil como retrocesso ao compromisso de abrir os
mercados agrícolas. Os subsídios estão crescendo. O aumento nos subsídios tam-
bém foi criticado no interior dos EUA. Há países, como os pertencentes à União
Européia (UE) e o Japão que concedem elevados subsídios aos produtores agríco-
las. Vê-se que os Estados Unidos não pretendem interromper a ajuda aos produto-
res agrícolas daquela nação.

6
SKAFF, P. apud HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003, p. 117.

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Por outro lado, os Estados Unidos demonstram interesse em trabalhar com o


Brasil e as grandes nações agrícolas e estão dispostos a negociar, visando a al-
cançar o equilíbrio no comércio agrícola. Neste setor, ambos os países serão bem-
sucedidos.
O governo americano empenha-se em ajustar o livre comércio e prepara a TPA
que se adapte melhor a estas negociações, conforme se vê através do acordo
firmado por três Ministros de Estado: o representante de Comércio dos EUA, Robert
B. Zoellick, a Secretária de Agricultura, Ann Veneman, e o Secretário de Comércio,
Don Evans, em carta mandada ao presidente Bush recomendando veto ao fast
track se não for aprovada no Congresso uma autorização para este fim.
A globalização apresenta benefícios, mas são previstos, como conseqüência,
os custos. Houve drásticas e rápidas mudanças e os trabalhadores em todo o
mundo ainda não se adaptaram a elas. A globalização prejudicou alguns países e
eles estão precisando de ajuda. Os países envolvidos neste processo devem
despender recursos na educação e treinamento, objetivando acompanhar esta evo-
lução, porque os benefícios do livre comércio são reais. Permite que haja mais
empregos, com maior rendimento e bens importados mais acessíveis.
Os indicadores sociais do Brasil melhoraram com as exportações. Os empre-
gos de melhores remunerações são mantidos nas empresas exportadoras. A ex-
pansão da produção agrícola brasileira é conseqüência do crescimento das expor-
tações de produtos deste setor. Os benefícios do livre comércio e da abertura eco-
nômica fazem-se sentir no Brasil, graças às exportações que se destinam aos
Estados Unidos.
Em 2001, ocorreu o comércio bilateral de 30 bilhões de dólares, registrando-se
que o mercado dos Estados Unidos comprou 25% das exportações do Brasil, e em
2002 atingiu 28% nos quatro primeiros meses. Prevê-se que o Brasil possa vender
ainda mais e isto se explica por não se tratar de um mercado fechado.
Embora as questões econômicas predominem as conversações bilaterais, a
idéia de que esta parceria é somente comercial não se justifica, pois os EUA
enaltecem os atos democráticos comuns em sociedades abertas. Os EUA são
constituídos por sociedades multiétnicas e multirraciais, que se esforçam, dentro
do possível, para eliminar as barreiras contra a justiça social.
Há um bom relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos, procurando
concretizar o ideal de Miami, podendo-se citar como exemplos: a) juntos, apazi-
guaram as disputas entre o Peru e o Equador; b) o Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos e o Estado da Califórnia buscam apoio da Universidade de São
Paulo no combate à bactéria que ameaça a indústria vinícola; c) o Departamento de
Trabalho dos Estados Unidos apóia o governo brasileiro para melhorar as condi-
ções do trabalho e erradicar o trabalho infantil; d) as polícias dos dois países jun-
tam forças para deter traficantes de drogas; e) os cientistas das duas nações
trabalham juntos em experimentos de grande escala na Amazônia; f) o Serviço
Florestal dos Estados Unidos une-se ao Ibama para ajudar os bombeiros brasilei-

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ros a localizar os incêndios, destruidores de florestas tropicais; g) há também par-


cerias com os EUA no que tange às conquistas espaciais; h) a Embraer, empresa
brasileira exportadora, faz parceria com os EUA e as aeronaves são construídas
em conjunto. A Embraer planeja importar turbinas e componentes dos EUA,
totalizando US$ 7 bilhões, nos próximos cinco anos, o que se traduz no aumento
de empregos nos EUA; i) a montadora General Motors inaugurou no Rio Grande do
Sul mais uma filial e destinou US$ 500 milhões para este fim, resultando em mais
de três mil empregos para o Brasil, produzindo o carro denominado Celta. Este
empreendimento gera benefícios para os gaúchos, para os portos brasileiros, para
os acionistas da GM, para os fornecedores de peças e para os clientes. Tem-se,
como novidade, a venda pela Internet, que somou 7% dos carros vendidos; j) a
Lucent Technologies, sediada no Brasil desde 1995, emprega brasileiros e exporta,
para os países do MERCOSUL, US$ 130 milhões, reforçando o superávit comercial
do Brasil. A Lucent investiu, até hoje, US$ 220 milhões no Brasil, porque acredita
na concretização da ALCA.7

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A missão da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, que conta com
cinco mil associados sediados no Brasil, é impulsionar a cidadania empresarial,
atrair investimentos para o Brasil e promover o comércio. A Associação de Livre
Comércio das Américas (ALCA) está sendo efetivada e vai ao encontro dos ideais
desta missão.
Neste processo de globalização começam a se delinear quatro grandes blocos
de comércio: o Bloco Asiático, o Bloco Europeu, o Bloco Pan-Americano (ALCA)
que está em formação, e finalmente o Bloco dos Excluídos.
A integração regional subentende a atitude cooperativa, respeitando valores e
interesses compartilhados. Portanto, o comércio internacional e a integração con-
têm aspectos positivos benéficos aos participantes, devem estar vinculados à utili-
zação da política que privilegie o desenvolvimento de todos.
Facilitar o comércio de produtos primários, commodities ou bens industrializa-
dos de baixo valor agregado, bem como, nas negociações da Associação de Livre
Comércio das Américas (ALCA), garantir e não debilitar o alcance dos objetivos
estratégicos como o desenvolvimento tecnológico e de setores high-tech, proporci-
onando a sustentabilidade do desenvolvimento. O desenvolvimento das negocia-
ções da ALCA permitiu alcançar resultados que oferecem parciais garantias de
eqüidade nas relações dos Estados. Torna-se importante o princípio do single
undertaking, que de fato garante o poder de veto para todos os países participan-
tes.
As negociações para a constituição da ALCA não travam outras negociações

7
HINAK, D. apud HABERFELD, S. As visões oficiais dos EUA e do Brasil. São Paulo: Manole, 2003, p. 75.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 39
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

feitas pelo Brasil e pelos países do MERCOSUL, como exemplo, com a União
Européia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, R. A. (ALCA) em Debate. Embaixador do Brasil em Washington e ex-


coordenador do Brasil no MERCOSUL (1991-1994) pesquisado em
funcex@funcex.com.br Home Page: www.funcex.com.br - acesso em 5-02-2005.

BATISTA Jr., P. N. A Economia como ela é. São Paulo: Boitempo Editorial,


2001.

BATISTA JR., P. N. O que sobrou da Alca? Pesquisado em: http://www.pnbe.org.br/


alca/coment/textos/m2013.htm>. Acesso em: 05-02-2005.

HABERFELD, S. ALCA – Riscos e Oportunidades. São Paulo: Manole, 2003.

RATTNER, H. Mercosul e ALCA – O futuro incerto dos Países Sul-Americanos.


São Paulo: Edusp, 2002.

VIGEVANI, T.; MARIANO, M. P. Associação de Livre Comércio das Américas (ALCA)


– O gigante e os anões. São Paulo: SENAC, 2003.

40 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO DE


INFORMÁTICA UTILIZANDO O AMBIENTE TELEDUC

Ernesto Charles Niklaus*


Raimundo Claudio da Silva Vasconcelos**

RESUMO
Este artigo tem por escopo examinar o ambiente de educação a distância TelEduc e sua
aplicação no ensino de informática por meio da análise de cursos desenvolvidos no ambiente. O
produto resultante deste trabalho poderá auxiliar professores e educadores da área de informática,
na utilização de recursos de educação a distância como complemento de aulas tradicionais, ou
como base para desenvolvimento de cursos a distância.
Palavras-chave: Educação a Distância, TelEduc, Informática.

ABSTRACT
This article aims to examine the virtual environment for distance courses “TelEduc” and its
uses in computer technology instruction through analysis of courses developed in that environment.
The results of the study may assist instructors of computer sciences in the use of distance
education resources as a complement of traditional lessons or as a foundation for distance course
development.

Key Words: Distance Education, TelEduc, Computer Science.

INTRODUÇÃO
Em educação a distância (EAD) denota-se como característica básica o esta-
belecimento de uma comunicação de dupla via em que professor e aluno não se
encontram juntos no mesmo espaço físico, necessitando de meios que possibili-
tem a comunicação entre ambos como correspondência postal ou eletrônica, tele-
fone, rádio, televisão, etc. (NUNES, 2004)
Há várias denominações para EAD: estudo aberto, educação não-tradicional,
extensão, estudo por contrato, mas nenhuma delas serve para descrevê-la com
exatidão.
Segundo Nunes (2004), EAD pressupõe um processo educativo sistemático e
organizado que exige não somente a dupla via de comunicação como também a
instauração de um processo continuado em que os meios ou os multimeios devem
estar presentes na estratégia de comunicação. A escolha de determinado meio ou

* Bacharel em Sistemas de Informação e pós-graduando em Redes de Computadores pelo Centro Universitário


Padre Anchieta. ernesto.niklaus@gmail.com
** Doutorando em Ciência da Computação(IC-Unicamp). Mestre em Ciência da Computação (IC-Unicamp).
Bacharel em Ciência da Computação (UFC) e Administração de Empresas (UECE). Professor de cursos de
graduação e pós-Graduação do Centro Universitário Padre Anchieta e da Universidade São Francisco.
claudior@anchieta.br

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 41
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

multimeios vem em razão do tipo de público, custos operacionais e, principalmen-


te, eficácia para a transmissão, recepção, transformação e criação do processo
educativo.
Existem diversos ambientes para EAD, comerciais e não comerciais. Dentre
os comerciais podemos citar o WebCT (www.webct.com). Dentre os programas
não comerciais podemos destacar o AulaNet e o TelEduc.
O AulaNet é um ambiente de software baseado na Web, desenvolvido no Labo-
ratório de Engenharia de Software - LES - do Departamento de Informática da PUC-
Rio, para administração, criação, manutenção e participação em cursos a distân-
cia. A idéia do ambiente começou com um projeto final de curso, em que os alunos
de pós-graduação do curso de Sociedade da Informação tiveram que fazer uma
ferramenta para que os professores que não soubessem HTML pudessem fazer
cursos através de um ambiente da WEB. O projeto foi levado adiante e incrementado,
hoje o Aulanet é um software que abre espaço para quem quer aprender e também
para aqueles que querem ensinar.(PUC)
O TelEduc é um dos ambientes para EAD desenvolvido tendo como meta a
formação de professores para a Informática na Educação. Seu desenvolvimento
teve início em 1997 no NIED (Núcleo de Informática Aplicada à Educação) da Unicamp
(ROCHA, 2002). O ambiente TelEduc cresceu e se solidificou, e em fevereiro de
2001 foi disponibilizada sua primeira versão como um software livre. A partir deste
lançamento, várias instituições públicas e privadas – como UFRGS, USF, PUCSP,
FUNDAP, UNB etc. – passaram a usar o TelEduc. Este uso, nos mais diferentes
contextos, levou à implementação de novas ferramentas e ao lançamento, em março
de 2002, da sua versão 3.0, completamente reestruturada e otimizada.
Várias características do TelEduc fazem com que esse ambiente seja adequa-
do ao ensino a distância, e essas características serão vistas neste artigo.

EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


A EAD, desde sua criação, teve diferentes estágios ou gerações. A primeira
geração caracterizou-se pelo estudo por correspondência, cujo meio de comunica-
ção era o material impresso, geralmente um guia de estudos com exercícios escri-
tos e outras tarefas enviados pelo correio, incluindo os cursos via semanais (revis-
tas). Muitos dos cursos a distância espalhados pelo mundo ainda são conduzidos
por correspondência. (EADUN)
A segunda geração da EAD iniciou-se nos anos 1970, com a criação das pri-
meiras universidades abertas. As universidades abertas utilizaram uma visão
sistêmica na implementação do projeto de educação a distância. Usaram recursos
de instrução por correspondência e transmissão de material gravado através de
rádio e televisão e envio de videotapes, um exemplo de curso via televisão ainda em
uso é o Telecurso 2000. Os recursos utilizados pelas universidades abertas repre-
sentaram uma transição para o surgimento da terceira geração de EAD. Aos mate-
riais dos cursos, transmitidos por TV ou enviados no formato de videotape, somou-

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

se a interação através de telefone, satélite, cabo ou ISDN (Integrated Services


Digital Network), aumentando assim a sua qualidade.
A partir da década de 1990 emerge a terceira geração de EAD, baseada em
redes de computadores, recursos para conferências e multimídia. A EAD entrou em
um terceiro momento histórico que permite a universalização do aprendizado como
conseqüência dos avanços tecnológicos. Nesse contexto é que o TelEduc se en-
caixa.
Hoje já se considera uma quarta geração de EAD, caracterizada pelo uso de
banda larga de comunicação, que permite estabelecer e manter a interação dos
participantes de uma comunidade de aprendizagem com mais qualidade e rapidez.
Em função das tecnologias adotadas para a transmissão da informação, a evo-
lução do ensino a distância pode ser dividida em três fases ou gerações: textual,
analógica e digital.

CONTEXTO ATUAL DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


O cenário atual apresenta algumas iniciativas de cursos a distância ou
semipresenciais, em programas de capacitação de docentes de redes públicas em
nível superior, com significativa cooperação entre instituições de ensino, sobretudo
as públicas, e governos estaduais e municipais.
De fato, nesse âmbito, há cursos com projetos inovadores, soluções criativas e
materiais didáticos, impressos ou eletrônicos, de alta qualidade, especialmente
desenhados para aprendizagem a distância, apoiados por tutoriais presenciais e
virtuais (MEC, 2002).
Em relação à demanda, o panorama atual já apresenta alguns milhares de
alunos matriculados em cursos autorizados de graduação a distância, porém a
demanda está longe de ser atendida, o que prova que há muito campo para quem
se interessar em prover cursos de educação a distância.
Dentre os cursos de EAD atuais pode-se perceber, em termos institucionais,
que a oferta de cursos superiores a distância poderia ser classificada dentro das
seguintes três grandes tendências:
Ação individual - instituições de ensino superior, com cursos regulares e
reconhecidos, que passam a oferecer seus cursos ou novos cursos na modalidade
à distância.
Associações - associação (parcerias ou convênios) de instituições de ensino
superior brasileiras, organizadas em redes estaduais, regionais ou nacionais para
o desenvolvimento de projetos de educação a distância.
Instituições exclusivamente virtuais - instituições privadas criadas exclusi-
vamente para oferecer cursos a distância, operando no momento apenas cursos de
extensão.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 43
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

CARACTERÍSTICAS DE UM AMBIENTE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Este tópico aborda as principais características que um ambiente de educação
a distância precisa oferecer para que seja eficiente para o ensino não presencial.
(FUSHITA, 2001)
Ambiente do Aluno
n Devem existir ferramentas que permitam o acesso ao material de curso e às
anotações privadas do aluno.
n Deve carregar cursos completos ou partes localmente pelo aluno, ou seja,
na máquina do aluno. As plataformas mais utilizadas (Windows, Macintosh, Linux)
devem ser suportadas para que o conteúdo possa ser lido e manipulado de forma
mais rápida pelo aluno, possibilitando a ele estudar o material sem ter que perma-
necer conectado ao curso via Internet.
n O aluno deve poder interromper uma sessão de aprendizagem a qualquer
momento e poder retomar seus estudos do ponto onde parou.
n O aluno deve ter condição de se socializar com outros alunos do curso, por
meio de ferramentas que possibilitem ao aluno se apresentar e manter um contato
aluno-aluno sem que outras pessoas possam ver as conversas.
n O ambiente não deve exigir compra de software comercial para sua utiliza-
ção. O aluno deve ter a possibilidade de usar ferramentas livres e assim não ficar
limitado ao uso de programas comerciais (geralmente caros).
n Todos os dados pessoais (anotações, resultados, informações pessoais etc.)
devem ser protegidos, pelo menos por um nome de usuário e senha. É desejável
que este cadastro de aluno, nome de usuário e senha possa ser utilizado em
múltiplos cursos.
Comunicação Assíncrona
n O ambiente deve permitir a comunicação entre dois indivíduos usando um
correio eletrônico comum.
n O ambiente de aprendizagem deve possibilitar a comunicação entre uma
pessoa e um grupo de indivíduos via correio eletrônico. Deve haver lista de e-mails
adaptável, possibilitando o envio de e-mails de forma independente para diferentes
grupos.
n Permitir a comunicação dentro de um grupo de indivíduos como discussões
em conferência e fóruns de discussão.
n Proporcionar trabalho em equipe. Poder visualizar o trabalho em equipe.
n Proporcionar ao aluno possibilidade de armazenar materiais que possam
ser lidos por componentes do grupo.
Comunicação Síncrona
n Deve haver um Chat (uma área onde os alunos fazem troca de mensagens
de texto de forma imediata).

44 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

n Deve haver meios de o aluno fazer perguntas ao formador, de forma on-line;


isso pode ser conseguido utilizando-se o recurso de sessões de Chat, marcadas
anteriormente para discussão de determinados temas.
n Ferramenta Pedagógica: facilidades para o aluno comparar o seu progresso
no aprendizado com o aprendizado objetivado no curso ou com o de outro aluno.
n Ambiente do Formador
n Não deve exigir conhecimento técnico para desenvolver o material do curso
ou o autor do curso não deve ser forçado a aprender ou saber algo relacionado a
linguagens como HTML ou formatos específicos para poder publicar seu material.
n O sistema deve oferecer apoio para converter material de curso existente
em formatos que possam ser usados pelos alunos, bem como ferramentas para
descompactação de material compactado.
n O sistema deve suportar múltiplos autores para um curso. Inclui caracterís-
ticas como bloquear e desbloquear usuários, ferramentas do curso e materiais.
Estes autores devem poder enviar senhas para alunos cadastrados em caso de
perda e cadastrar novos alunos.
n A ferramenta deve suportar a criação de um índice automático do curso e um
glossário.
n O curso pode ser desenvolvido e mantido com uma interface ergonômica
disponível (um local de aplicação que corre sobre todas as plataformas importan-
tes).
n O sistema deve fornecer meios de avaliação de alunos, para que se possa
avaliar o rendimento do curso.
n O sistema deve prover meios de carga de materiais, possibilitando a edição
do material fora do ambiente.
n O sistema deve prover importação de dados entre cursos para que o profes-
sor de mais de um curso possa utilizar informações de outros cursos ministrados
por ele.

ANÁLISE DO USO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Este tópico aborda as principais vantagens e desvantagens do uso de Educa-
ção a Distância (RODRIGUES, 2002):

Vantagens
n Não há a necessidade de o professor e os alunos estarem no mesmo local;
o primeiro não está em contato com o segundo diretamente, mas ensina o aluno
orientando-o, na sua aprendizagem, por meio do uso de materiais didáticos e recur-
sos tecnológicos trabalhando como um orientador.
n Há uma maior flexibilidade, pois o aluno aprende no seu ritmo, pode rever e

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 45
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

reavaliar conceitos que lhe pareçam importantes e pode, de forma ativa e com
outros alunos, sanar suas dúvidas. Além disso, fornece ao aluno a experiência de
buscar o saber por si só, aumentando sua independência no processo de supera-
ção do nível cultural.
n Possibilidade de utilização de meios tecnológicos, capazes de derrubar fron-
teiras para o acesso à informação e à cultura que oportunizam igualdade ao conhe-
cimento e a democratização da educação. Atualmente existem recursos técnicos
que possibilitam o avanço da EAD: áudio, vídeo, materiais impressos, Internet,
entre outros.
n Oportunizar a formação de profissionais de acordo com as exigências atu-
ais e culturais. Um professor especialista no assunto que more em determinada
região pode preparar alunos de qualquer parte do mundo.
n Elaboração de conteúdos e recursos multimídia, que atraem a atenção dos
alunos fazendo com que as aulas se tornem mais agradáveis.
n Formação permanente e pessoal, por meios técnicos, com o fim de aprimo-
rar a qualidade profissional. Preparação qualificada para o trabalho.
n Organização de apoio e tutoria, na qual uma pessoa que esteja organizada
e disponha de recursos didáticos seja capaz de ser autodidata e alcançar sucesso
profissional.
n Formação teórico-prática relacionada à experiência do aluno. Aprendizagem
dinâmica e inovadora e formação fora do contexto da sala de aula.
n Aprendizagem independente e flexível. Ela possibilita um trabalho indepen-
dente e individual de aprendizagem. Essa aprendizagem só é possível com a utili-
zação de tecnologias de comunicação que proporcionam a EAD de maneira autô-
noma.
n Acesso aos cursos ou níveis de estudos.
n Flexibilidade no que se refere à rigidez de requisitos como espaço, tempo e
ritmo.
n Permanência do aluno em ambiente profissional, cultural e familiar, pelo fato
de aprender fora da sala de aula. O aluno torna-se o sujeito ativo da sua formação
e ritmo de aprendizagem desenvolvendo atitudes e valores educativos.
n Comunicação bidirecional, na qual o aluno não é um mero receptor de con-
teúdos planejados e distribuídos por docentes e sim criador de um processo de
comunicação, ou seja, um diálogo de otimização do ato educativo, que pode ser
feito através da conversação entre docente e aluno gerada por materiais de estudo.
n Enfoque tecnológico e a comunicação massiva; o primeiro enfatiza a educa-
ção como uma concepção científica, sistemática e globalizada, e que o planeja-
mento pedagógico é imprescindível a EAD. Tudo deve ser coordenado sem impro-
visações, que poderiam levar a prejuízos sérios aos alunos. E a segunda, comuni-
cação massiva, refere-se à eliminação de fronteiras espaço-temporais propiciando

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

que as novas tecnologias sejam aproveitadas por um grande número de pessoas


mesmo estando dispersas geograficamente. Essa modalidade está direcionada a
inúmeras pessoas, inclusive às que não puderam freqüentar a escola tradicional.
n Redução dos custos em relação aos do sistema presencial, no que se refe-
re à confecção de cursos em grande escala.
n Possibilidade de professores especialistas em determinados assuntos, dis-
seminarem seu conhecimento sem barreiras geográficas, permitindo aos alunos de
qualquer lugar o acesso ao conhecimento especializado.

Desvantagens
n Diminuição de experiências advindas da relação educativa pessoal entre
professor e aluno.
n Dificuldade em alcançar o objetivo da socialização pela falta de interação
dos alunos com o docente e entre si.
n A retificação de possíveis erros pode ser mais lenta, embora os meios
tecnológicos reduzam tal possibilidade.
n Necessidade de um rigoroso planejamento em longo prazo, a fim de evitar
erros na execução da aprendizagem.
n Possibilidade de ocorrerem dúvidas quanto aos materiais didáticos elabora-
dos pelos docentes, pelo fato de não haver educação presencial.
n Perigo dos materiais instrucionais com poucas ocasiões de diálogo aluno
docente, levando à homogeneidade de aprendizado.
n Os métodos de avaliação da EAD são menos confiáveis, pois oportunizam
plágio ou fraude.
n Custos iniciais muito altos para implantação de cursos a distância.
n Serviços administrativos mais complexos que os dos cursos presenciais.

Análise
Nota-se que a educação a distância possui alguns inconvenientes em relação
à educação presencial no que tange a socialização, correção de erros, planeja-
mento de estudo, método de avaliação, entre outros.(RODRIGUES, 2002)
Depois de analisadas suas características, vantagens e desvantagens, con-
clui-se que:
n Tal sistema de aprendizado pressupõe uma grande ênfase e incentivo ao
aluno em estudar e pesquisar de modo independente, de maneira que são dinami-
zadas a comunicação e a troca de informações entre alunos e professores, propici-
ando a independência do aluno.
n A educação a distância baseia-se em estratégias para viabilizar aulas não
presenciais promovendo uma maior interação entre aluno-professor, aluno-aluno e

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 47
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

aluno-conteúdo, de maneira que se adapte às condições de vida, de cultura, de


conhecimento e de espaço dos participantes do processo.
n Pelo que pode ser visto nas características de cursos a distância, percebe-
se que um bom ambiente de educação a distância provê todas as ferramentas
necessárias para garantir um bom entendimento do assunto estudado, portanto, no
ensino de informática, um bom ambiente de educação a distância é suficiente em
termo de aulas, ficando apenas as avaliações presenciais, pelo fato de não se
poder garantir a veracidade de uma avaliação não presencial.

O AMBIENTE TELEDUC
O ambiente TelEduc tem o propósito de oferecer um ambiente computacional
que permita a elaboração e o acompanhamento de cursos através da Internet (CER,
1998). Ele foi concebido visando ao processo de formação de professores para
informática educativa, baseado na metodologia de formação contextualizada de-
senvolvido por pesquisadores do Nied (Núcleo de Informática Aplicada à Educação)
da Unicamp. A metodologia de ensino/aprendizagem proposta pelo ambiente é a
execução de atividades práticas com orientação constante e on-line do formador,
aprendizagem de conhecimentos teóricos de forma contextualizada com a execu-
ção dessas atividades, comunicação entre os participantes e discussão de assun-
tos teóricos (TES, 2000).
Assim, um curso criado no TelEduc se desenvolve ao redor de um conjunto de
atividades sugeridas pelo formador. Para a resolução dessas atividades, o ambien-
te fornece um conjunto de ferramentas nas quais o formador disponibiliza informa-
ções e conteúdos da dinâmica do curso. Além disso, o ambiente fornece recursos
de comunicação que possibilitam o acompanhamento do processo de aprendiza-
gem do aluno, além de permitirem um contato constante entre o formador e os
alunos do curso e entre os próprios alunos, através de Chat e e-mail internos ao
ambiente.
Para se ter acesso ao curso é preciso que se tenha uma senha e uma identifi-
cação pessoal (login), ambas solicitadas ao participante sempre que ele acessar o
curso.

PÁGINA DE ENTRADA DO CURSO


A página de entrada do curso é dividida em duas partes. À esquerda estão as
ferramentas que serão utilizadas durante o curso e à direita é apresentado o con-
teúdo correspondente àquela determinada ferramenta selecionada na parte esquer-
da (Figura 1).

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Figura 1 – Página de entrada do curso

Ao entrar no curso é apresentado o conteúdo da ferramenta “Agenda”, que


contém informações atualizadas, dicas ou sugestões dos formadores para os alu-
nos. Esta página funciona como um canal de comunicação direto dos formadores
com os alunos. Nela são colocadas informações que seriam fornecidas normal-
mente no início de uma aula presencial. O conteúdo de “Agenda” é atualizado de
acordo com a dinâmica do curso.
Cada curso apoiado pelo ambiente TelEduc pode utilizar um subconjunto das
ferramentas descritas a seguir. Assim, pode acontecer de em um determinado
momento do curso algumas ferramentas não estarem visíveis no menu à esquerda
e, portanto, não disponíveis. Oferecer ou não uma ferramenta, em diferentes mo-
mentos do curso, faz parte da metodologia adotada por cada formador. Geralmen-
te, se há a inserção de uma nova ferramenta, este fato é avisado ao aluno por meio
da Agenda.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 49
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Estrutura do Ambiente

Figura 2 - Estrutura do Ambiente Teleduc

Como pode ser observado na fig. 2, o TelEduc foi concebido tendo como ele-
mento central a ferramenta que disponibiliza Atividades. Isto vem ao encontro do
pressuposto de que o aprendizado de conceitos de qualquer domínio do conheci-
mento é feito a partir da resolução de problemas, com o subsídio de diferentes
materiais como textos, software e instruções de uso que podem ser colocados
para o aluno por meio de ferramentas como: Material de Apoio, Leituras, Perguntas
Freqüentes etc. (ROCHA, 2002)

FERRAMENTAS DO AMBIENTE:
Dinâmica do Curso
Contém informações sobre a metodologia e a organização geral do curso.
Agenda
É a página de entrada do ambiente e do curso em andamento. Traz a progra-
mação de um determinado período do curso (diária, semanal, etc.).
Avaliações
Lista as avaliações em andamento no curso.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Atividades
Apresenta as atividades a serem realizadas durante o curso.
Material de Apoio
Apresenta informações úteis relacionadas à temática do curso, subsidiando o
desenvolvimento das atividades propostas.
Leituras
Apresenta artigos relacionados à temática do curso, podendo incluir sugestões
de revistas, jornais, endereços na Web, etc.
Perguntas Freqüentes
Contém a relação das perguntas realizadas com maior freqüência durante o
curso e suas respectivas respostas.
Parada Obrigatória
Contém materiais que objetivam desencadear reflexões e discussões entre os
participantes ao longo do curso.
Mural
Espaço reservado para que todos os participantes possam disponibilizar infor-
mações consideradas relevantes para o contexto do curso.
Fóruns de Discussão
Permite acesso a uma página que contém tópicos que estão em discussão
naquele momento do curso. O acompanhamento da discussão se dá por meio da
visualização de forma estruturada das mensagens já enviadas e, a participação,
por meio do envio de mensagens.
Bate-Papo
Permite uma conversa em tempo real entre os alunos do curso e os formado-
res. Os horários de bate-papo com a presença dos formadores são, geralmente,
informados na “Agenda”. Se houver interesse do grupo de alunos, o bate-papo pode
ser utilizado em outros horários.
Correio
Trata-se de um sistema de correio eletrônico interno ao ambiente. Assim, to-
dos os participantes de um curso podem enviar e receber mensagens através deste
correio. Todos, a cada acesso, devem consultar seu conteúdo a fim de verificar as
novas mensagens recebidas.
Grupos
Permite a criação de grupos de pessoas para facilitar a distribuição e/ou de-
senvolvimento de tarefas.
Perfil
É um espaço reservado para que cada participante do curso possa se apresen-
tar aos demais de maneira informal, descrevendo suas principais características,
além de permitir a edição de dados pessoais. O objetivo fundamental do Perfil é
fornecer um mecanismo para que os participantes possam se “conhecer a distân-
cia”, visando a ações de comprometimento entre o grupo. Além disso, favorece a
escolha de parceiros para o desenvolvimento de atividades do curso (formação de

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 51
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

grupos de pessoas com interesses em comum).


Diário de Bordo
Espaço onde os alunos podem registrar experiências ao longo do curso: su-
cessos, dificuldades, dúvidas, anseios, visando a proporcionar meios que desenca-
deiem um processo reflexivo a respeito do seu processo de aprendizagem.
Portfólio
Nesta ferramenta os participantes do curso podem armazenar textos e arqui-
vos utilizados e/ou desenvolvidos durante o curso, bem como endereços da Internet.
Esses dados podem ser particulares, compartilhados apenas com os formadores
ou compartilhados com todos os participantes do curso. Cada participante pode ver
os demais portfólios e comentá-los se assim o desejar.
Acessos
Permite acompanhar a freqüência de acesso dos usuários ao curso e às suas
ferramentas.
Intermap
Permite aos formadores visualizar a interação dos participantes do curso nas
ferramentas Correio, Fóruns de Discussão e Bate-Papo, facilitando o acompanha-
mento do curso.
Configurar
Permite alterar configurações pessoais no ambiente tais como: senha, idioma
e notificação de novidades.

Ferramentas Exclusivas
As ferramentas descritas a seguir são de uso exclusivo dos formadores e do
coordenador do curso:
Administração
Permite gerenciar as ferramentas do curso, as pessoas que participam do cur-
so e ainda alterar dados do curso.
As funcionalidades disponibilizadas dentro de administração são:
• Visualizar/Alterar dados e cronograma do curso
• Escolher e destacar ferramentas do curso
• Inscrever alunos e formadores
• Gerenciamento de inscrições, alunos e formadores
• Alterar nomenclatura do coordenador
• Enviar senha
Suporte
Permite aos formadores entrar em contato com o suporte do ambiente (admi-
nistrador do TelEduc) através de e-mail.

EXPERIÊNCIAS COM O AMBIENTE TELEDUC


Foram feitas algumas experiências no ambiente TelEduc a fim de provar que o
ambiente é eficiente no ensino de informática; serão mostradas as experiências

52 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

com os cursos desenvolvidos: Orientação de Dúvidas e OpenOffice.org.


Curso de Orientação de Dúvidas
O curso “Orientação de Dúvidas” foi criado em 25/05/2004 com a finalidade de
ser um apoio aos estudantes do 4º ano de Sistemas de Informação, da Faculdade
de Tecnologia Padre Anchieta, de Jundiaí – SP, e meio de aprendizagem das ferra-
mentas de formador do ambiente TelEduc.
O curso continha as matérias da grade de Sistemas de Informação, que podi-
am ser acessadas para que os alunos pudessem tirar dúvidas e ter acesso a mate-
riais de apoio, utilizados para complementar o entendimento da matéria.
Alguns resultados merecem atenção. Próximo à avaliação de uma das maté-
rias, considerada uma das mais difíceis pelos alunos, o curso teve grande procura.
Muitas discussões ocorreram dentro do fórum de discussões, mostrando que esta
ferramenta se torna muito útil na resolução de problemas e soluções de dúvidas
entre os alunos.
O curso não era freqüentado nos períodos em que não havia avaliações, mos-
trando que não havia um interesse maior em aprender mais sobre as matérias.
Durante os meses nos quais não havia avaliações consideradas difíceis pelos
alunos a visita ao curso era quase nula.
As experiências obtidas com o curso foram válidas, pelo fato de se poder ana-
lisar todas as ferramentas com um contingente de alunos que já conheciam o
formador e, portanto, nos casos de erro, ou má utilização dos recursos por parte
deste não havia uma sanção ou crítica agressiva, e sim dicas para a melhoria dos
conhecimentos; os dados levantados durantes o curso foram utilizados para avaliar
as ferramentas de orientador, tanto no controle de acesso quanto na implementação
e análise de dados utilizados como material de apoio ao curso.
Apesar das informações terem sido fartas, um ponto que merece atenção foi a
falta de interesse da maioria dos alunos do curso de Sistemas de Informação em
relação ao ambiente TelEduc. Os alunos pareciam temer um pouco a educação a
distância, talvez por falta de conhecimento ou por dificuldade em utilizar uma ferra-
menta on-line. Algumas pessoas deixaram de ingressar no curso pelo simples fato
de não estarem dispostas a ter “mais uma” ferramenta para utilizar; este foi um dos
maiores problemas, pois mesmo com um curso agradável e eficiente esta barreira
não pôde ser quebrada.
A utilização da ferramenta “Perguntas Freqüentes” mostrou-se muito eficiente
na elaboração de uma lista de exercícios resolvidos, que foi utilizada para estudo
de questões relacionadas a avaliação de uma das disciplinas. Dentro dessa ferra-
menta os alunos puderam ler as questões com ou sem respostas. Isso os auxiliou
muito a assimilar o assunto, pois quando lida a questão sem resposta e respondida
mentalmente, o aluno ia simulando a situação da avaliação e depois da tentativa
podia ler a resposta correta.
Outra ferramenta bastante utilizada nas últimas semanas de análise foi a ferra-
menta “Material de Apoio”, que foi usada para a centralização de todo o material

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 53
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

disponibilizado pelos alunos nas apresentações de trabalho.

CURSO OPENOFFICE.ORG
O curso OpenOffice.org, voltado a alunos de Sistemas de Informação da Facul-
dade de Tecnologia Padre Anchieta e Funcionários do Centro Universitário Padre
Anchieta, foi criado dentro do ambiente TelEduc como teste para a comprovação da
eficácia do uso do ambiente para o ensino de informática.
Para a criação deste curso foi utilizada uma metodologia diferente da utilizada
no curso de Orientação de Dúvidas; ao invés de apresentar todo o conteúdo de
forma simultânea, o curso foi dividido em módulos. O material de cada módulo era
disponibilizado e ao final algumas questões eram feitas para verificar o entendimen-
to sobre o conteúdo visto.
O tema OpenOffice.org foi fruto de uma pesquisa de opinião indireta feita com
alunos e professores, e pareceu interessante para muitos.
O curso era basicamente composto por apostilas criadas por instituições que
têm forte conhecimento sobre o uso do OpenOffice.org. Essas apostilas foram
disponibilizadas no curso e o estudo delas foi direcionado por atividades criadas
pelo formador. Uma atividade, por exemplo, direcionando a leitura dos capítulos 1 e
2 do manual de OpenOffice.org.
O método utilizado neste curso foi o mesmo usado em outras universidades,
como, por exemplo, a UFLA - Universidade Federal de Lavras – no seu curso de
pós-graduação lato sensu em “Administração em redes Linux”. Desta forma pude-
ram ser testadas as dificuldades de criação e manutenção de um curso utilizando
um método que pode ser aplicado para qualquer curso em informática. Assim afir-
ma-se que o maior segredo para o sucesso do curso dependerá da qualidade do
material disponibilizado e da eficiência do instrutor na criação e aplicação de exer-
cícios que proporcionem uma melhor imersão no tema abordado.

ANÁLISE DAS EXPERIÊNCIAS


Freqüência
Durante a execução dos dois cursos, foi percebida uma falta de interesse por
parte dos alunos. No curso “Orientação de Dúvidas”, pelo fato de não haver uma
obrigatoriedade, como uma lista de presença, ou avaliações sobre o assunto, mui-
tas pessoas deixavam de freqüentá-lo e o utilizavam apenas como fonte de dados
para o estudo de matérias, antes de avaliações presenciais feitas por professores
do curso de Sistemas de Informação da Faculdade de Tecnologia Padre Anchieta.

Motivação
Pôde-se perceber também, de forma geral, uma falta de motivação dos alunos
envolvidos no projeto em aprender a matéria de forma constante. Foi visto que
apesar da disponibilização dos dados ocorrer bem antes da avaliação presencial,
apenas nas vésperas desta é que o material era consultado; viu-se também que as

54 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

pessoas preferiam as aulas presenciais ministradas nos finais de semana à aula


não presencial, talvez por falta de conhecimento em relação ao ambiente ou pelo
fato de não se sentirem motivadas a estudar em casa.
Em relação ao curso “OpenOffice.org”, houve a total falta de interesse dos
alunos em participar, uma vez que o curso não fazia parte da grade da graduação,
apesar de se tratar de um assunto de grande interesse para a comunidade ligada à
tecnologia, da qual os alunos de um curso de sistemas de informação fazem parte.

Atividade Avaliativa
Para melhor poder avaliar o ambiente TelEduc foram feitas algumas análises
em cursos ministrados no curso de Letras do Centro Universitário Padre Anchieta,
e pode-se perceber que quando existem atividades que fazem parte das avaliações
de rendimento de cursos presenciais muitos alunos interagem no sistema, porém
quando a atividade não tem essa finalidade acaba sendo deixada de lado.
Por outro lado, em cursos estritamente não presenciais como, por exemplo, na
pós graduação lato sensu em “Administração em Redes Linux” da UFLA – Univer-
sidade Federal de Lavras, a adesão e responsabilidade dos alunos é bem mais
alta.
Pode-se perceber que a motivação para o curso dependerá muito do aluno,
porém um bom material, com apelo visual bom, consegue ajudar neste ponto tam-
bém. Um material bem elaborado motiva o aluno a estudar e a se manter no curso.

CONCLUSÃO
A análise dos dados demonstra algumas peculiaridades do ambiente de educa-
ção a distância. Iniciando-se a análise pelos problemas, deve-se salientar a ausên-
cia de interesse por parte dos alunos envolvidos nos cursos de teste; essa falta de
interesse pode ser expandida à maioria das pessoas que utilizam ambientes de
educação a distância, portanto pode ser considerada um problema deste método
de ensino. Uma solução encontrada é o emprego de avaliações esporádicas do
tema abordado no curso, sem data marcada, para que os alunos sejam “forçados”
a assistir às aulas, porém ainda não pode ser considerada como eficaz pois, à
medida que os alunos começam a se conhecer, pode haver uma troca de informa-
ção sobre a ocorrência de avaliações. O emprego desta solução, associado com
algum tipo de controle de presença mais rigoroso poderia ser implementado sem
grandes esforços e solucionaria esse problema.
Tomando como base a dificuldade de prender a atenção dos alunos em um
curso de EAD e diminuir o problema de socialização, o curso deve ser desenvolvido
com recursos atraentes e inovadores, a fim de tornar o curso algo mais interessan-
te; além disso, para maior integração dos componentes do curso, podem ser
marcadas também reuniões presenciais, “happy hours” e encontros, que motivam
os alunos a participarem mais ativamente do grupo. Desta forma é possível aumen-
tar também o rendimento do curso, pois como já pôde ser experimentado em edu-

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 55
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

cação presencial, quanto mais unido um grupo, maior a sua interação e facilidade
de aprender entre si.
Analisando os dados de alunos de cursos não presenciais pode-se concluir
que o ambiente traz características que facilitam a aprendizagem, porém algumas
melhorias poderiam vir a aumentar seu potencial, principalmente quando o foco do
curso não é tecnologia, mais especificamente quando o ensino aplicado é de língua
estrangeira. O ambiente TelEduc é precário em comunicação em tempo real, tendo
apenas um Chat como meio, e uma ferramenta que pudesse prover comunicação
oral, onde um professor pudesse falar e os alunos pudessem escutar, seria muito
bem aplicado, principalmente no ensino de pronunciação de palavras e no emprego
de técnicas de reunião ou apresentação. Existem ferramentas de comunicação
deste tipo para Java, e isso poderia ser agregado ao TelEduc.
Após essas análises, o uso do ambiente TelEduc para ensino de Informática
pôde ser considerado válido, pois provê todas as ferramentas necessárias para o
desenvolvimento, manutenção e análise do curso de forma eficiente e completa.
Quando se fala de utilização do tema estudado de forma paralela ao ambiente
estamos falando de utilizar o que se aprende simultaneamente à leitura do material
utilizado no curso, pois se tratando de um curso de informática, o material usado
será o computador e algum software, e desta forma pode ser feita muitas vezes a
leitura do material e aplicação direta no objeto do estudo. Um exemplo disso é o
curso de OpenOffice.org, no qual o material e os arquivos usados para ensino dos
módulos são feitos no padrão do OpenOffice.org, portanto os arquivos serão aber-
tos dentro do ambiente que se está estudando, possibilitando assim uma aplica-
ção direta do conhecimento adquirido.
Por fim, o fato de o ambiente TelEduc estar em permanente desenvolvimento e
vários cursos terem sido implementados com sucesso por instituições renomadas,
como, por exemplo, a UNICAMP, comprova que o uso da ferramenta é adequado ao
ensino não presencial. Este trabalho, aliado a esse fato, comprova a eficiência e
eficácia do ambiente para o ensino de informática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CERCEAU, Alessandra de Dutra. Formação a Distância de Recursos Humanos


para Informática Educativa. Dissertação de Mestrado. Campinas: UNICAMP,
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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

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RODRIGUES, Gustavo Machado. Definição de um Ambiente de cursos para


Ensino/Aprendizagem de Estatística via Internet. Pelotas, Rio Grande do Sul,
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de Campinas.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

58 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

SISTEMA DE VISUALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS


VIA INTERNET

Helder de Andrade Freitas*


Raimundo Cláudio da Silva Vasconcelos**

RESUMO
Este artigo tem por objetivo descrever o funcionamento de um sistema de visualização de
documentos via Internet. A principal função deste sistema é facilitar a consulta de documentos
dentro das empresas, reduzindo o acesso aos arquivos físicos e possibilitando o controle de
usuários com autorização de visualização dos documentos.
Palavras-chave: visualização de documentos via Internet, HTML, JavaScript, VBScript,
SQLServer.

ABSTRACT
This article aims to describe the features of a system that permits document visualization by
means of the Internet. The main goal of this system is to facilitate the viewing of documents within
companies, reducing access to hardcopies and allowing control over users through document
visualization authorizations.

Key Words: visualization of documents through the Internet, HTML, JavaScript, VBScript,
SQLServer.

INTRODUÇÃO
Este artigo tem como objetivo descrever as atividades e funcionamento do pro-
tótipo de um Sistema de Visualização de Documentos Via Internet. Sua principal
função é facilitar a consulta de documentos dentro das empresas, reduzindo o
acesso aos arquivos físicos e possibilitando o controle de usuários com autoriza-
ção de visualização dos documentos. Para auxiliar nos propósitos deste trabalho
foi realizado um estudo criterioso sobre visualização de imagens via Internet.
De forma geral, as empresas possuem uma quantidade enorme de documen-
tos físicos que ocupam espaço, dificultando a organização, localização e consulta
das informações contidas nestes documentos. A dificuldade aumenta quando os
documentos possuem valor jurídico1 ou fiscal2, o que impede a sua criação em
formato eletrônico de edição como, por exemplo, um arquivo do MS Word. A melhor
solução para este problema seria a digitalização destes documentos, mesmo as-

* Bacharel em Sistemas de Informação pelo Centro Universitário Padre Anchieta. helder.f@terra.com.br


** Doutorando em Ciência da Computação. Mestre em Ciência da Computação. Bacharel em Ciência da Computação
e Administração de Empresas. Professor de cursos de graduação e pós-graduação do Centro Universitário Padre
Anchieta e da Universidade São Francisco. claudior@anchieta.br

1. Documentos que possuem assinaturas, rubricas, reconhecimento de firma, autenticações ou qualquer forma
de identificação pessoal única.
2. Documentos com informação ou comprovante de tributação fiscal, com autorização de emissão única e
exclusiva pelo governo.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 59
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

sim ainda haveria problemas de localização e consulta.


Uma das principais vantagens que a Internet trouxe, foi a possibilidade de en-
curtar distâncias e facilitar o contato entre pessoas e entre empresas. Pensando
nisso, o objetivo deste projeto foi desenvolver uma solução para a pesquisa e
visualização de documentos via Internet. Desta forma um usuário, devidamente
autorizado, poderá visualizar os documentos sem a necessidade de se locomover
até o arquivo físico. Mais de um usuário poderá visualizar um documento ao mesmo
tempo e o controle de acesso aos documentos fica restrito aos usuários cadastra-
dos no sistema que possuam permissão de visualização de cada tipo de documen-
to.
Este trabalho será dividido da seguinte forma: a primeira seção descreve o
ambiente tecnológico utilizado para desenvolver o protótipo; em seguida o sistema
é descrito e o seu funcionamento é detalhado; na conclusão possíveis extensões
futuras são descritas.

AMBIENTE TECNOLÓGICO
O ambiente tecnológico foi montado com base em tecnologia Microsoft Windows,
com sistema operacionalMicrosoftW indows2000Server (
STARLIN, 2001), com o
pacote de IIS 5.0 (TULLOCH, 2001; IIS) e atualização para instalação do Service
Pack 4 e pacotes de segurança. A escolha deste sistema operacional foi devida ao
fato de sua administração ser fácil e centralizada, reduzindo o esforço de
gerenciamento e manutenção do sistema. Devido à utilização do ambiente
operacional Windows e do IIS 5.0, no desenvolvimento do sistema foi utilizada
programação ASP (Jones, 2001; ASPBrasil), através das linguagens HTML (HTML),
JavaScript (SILVA, 2001) e VBScript (VBScript).
O sistema de gerenciamento de banco de dados escolhido foi o SQL Server
2000 (WAYMIRE, 2001; SQLServer) com Service Pack 3, devido a sua confiabilidade
e eficiência. Com a finalidade de alcançar melhor desempenho do sistema, foi
utilizado o método de 3 camadas com a utilização de stored procedure, view, trigger,
e function. Desta forma, as regras de negócio do sistema ficam a cargo do banco
de dados facilitando assim a codificação. Para evitar uma sobrecarga do banco de
dados, as imagens dos documentos digitalizados não foram armazenadas direta-
mente nele, mas gravadas em diretórios protegidos no servidor, seus nomes, bem
como suas localizações no disco, foram armazenados no Banco de Dados.
Como medida de segurança o projeto foi desenvolvido para a utilização de um
Data Center3; desta forma toda a infra-estrutura de segurança fica a cargo da em-
presa contratada. Mesmo assim, como medida de segurança adicional, foi instala-
do no servidor o Firewall4 Internet Security Systems Blackice versão 3.6 (ISS) cci e
o antivírus Norton Antivírus Corporate Edition (Norton).

3. Centro de armazenamento de servidor.


4. Mecanismos de segurança que protegem os recursos de hardware e software dos perigos e ameaças aos qual
o sistema está exposto.

60 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Quanto ao hardware, o critério de escolha do servidor foi a capacidade de


armazenamento. Não é necessário ter um grande processador, mas é preciso ter
uma grande capacidade de armazenamento em HD para guardar as imagens
digitalizadas dos documentos.

DESCRIÇÃO DO SISTEMA
O sistema de visualização de documentos foi desenvolvido para uma institui-
ção financeira de uma montadora de automóveis controlar e visualizar os documen-
tos referentes aos distribuidores de automóveis. O sistema agrupa os documentos
conforme o tipo, como apresentado na figura 1:

Documentos

Documentos Cadastrais Documentos Cadastrais


Distribuidor Sócios

Procuração Relação de Bens


Contrato Social Cartão de CPNJ

Cartão de Assinatura

Contratos Aditamentos

Contrato 1 Contrato 3 Contrato 1 Contrato 3

Contrato 2 Contrato 2

Garantias

Hipoteca

Figura 1 - Árvore de documentos

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 61
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

A figura 2 mostra o DFD de nível 0 do sistema. Como se pode observar, o


usuário pode realizar e obter ações e resultados.

Solicitação de Documento

Imagem do Documento

Cadastro de Usuários

Solicitação de Acesso
Usuário

Permissão de Acesso

Sistema de
Visualização de
Relatório Analítico
í Documentos Via
Inernet

Relatório Sintético VisDoc - NET

Relatório de Eventos

Figura 2 - Diagrama de Contexto

62 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

A figura 3 mostra o diagrama lógico do banco de dados com as entidades,


atributos, relacionamentos e cardinalidade do sistema utilizado a ferramenta Allfusion
Erwin Data Modeler 4.1.2765 (ErWin).

CONTROLE_SENHAS TIPOS_EVENTOS
CodCtlSenha CodTipEvento
CodUsuario (FK) Descricao
Senha
Data

USUARIOS
CodUsuario
Login EVENTOS
Nome CodEvento
GRUPOS_USUARIOS Fone CodUsuario (FK)
EMail CodTipEvento (FK)
CodGrpUsuario Depto
Data
Nome Senha
DatValSenha IP
Complemento
CodGrpUsuario (FK)
DatInclusao
Status
Bloqueio
SenhaPadrao

MODULOS_X_GRUPOS_USU PERMISSOES
CodGrpUsuario (FK) CodUsuario (FK)
CodModulo (FK) CodTipDoc (FK)
Permissao

TIPOS_DOC GRUPOS_DOC
CodTipDoc CodGrpDoc
Descricao Descricao
CodGrpDoc (FK)
MODULOS
CodModulo
Descricao
Nome
Menu
TamMenu
TamSubMenu
Ordem
Arquivo
IMAGENS
CodDistribuidor (FK)
CodTipDoc (FK)
Imagem

DISTRIBUIDORES
CodDistribuidor
Nome
CNPJ
N para N 1 para N

Figura 3 - Diagrama Lógico do ErWin

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 63
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

O sistema permite que apenas as pessoas autorizadas acessem os módulos.


A senha de cada usuário é armazenada no banco de dados de forma criptografada
e tem uma validade de 90 (noventa) dias. Depois deste período o usuário é obrigado
a trocar a senha e não poderá repetir uma senha no período de 270 (duzentos e
setenta) dias. Cada usuário só terá permissão de acesso aos documentos autori-
zados pelos administradores do sistema através do módulo de Permissão. Neste
módulo, o administrador seleciona os tipos de documento que um determinado
usuário poderá visualizar. O usuário poderá trocar a sua senha a qualquer momento
através do módulo Troca de Senha.
O módulo de Cadastro de Usuário possibilita aos administradores cadastrar
novos usuários e alterar os cadastros de usuários. O administrador poderá cadas-
trar as seguintes informações referentes aos usuários: nome completo, nome do
login de acesso ao sistema, e-mail, telefone, departamento em que o usuário traba-
lha, em que tipo de acesso e status, que indica se o usuário está ativo ou inativo,
ou seja, se pode ou não acessar o sistema.
O tipo de acesso é dividido em:
n Master, que tem acesso a todos os módulos do sistema com exceção do
cadastro de usuário e do relatório de eventos.
n Simples, que não tem acesso ao módulo de pesquisa e visualização de
imagens dos documentos e também não poderá acessar o modulo de cadastro de
usuários e relatórios de eventos.
Quando o usuário é criado, automaticamente recebe uma senha padrão que é
composta de seu nome de login mais o mês corrente e obrigatoriamente ele terá de
trocar a senha no seu primeiro acesso ao sistema.
Exemplo de senha padrão: “fulano09”
Usuário: fulano
Mês: Setembro (09)
A pesquisa (ver figura 4) poderá ser feita por código, parte do nome, CNPJ do
distribuidor, ou a combinação entre estes campos.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Figu
arFigura

Figura 4 - Tela de Pesquisa

A pesquisa traz como resultado uma lista de distribuidores, que são mostrados
em páginas com até 10 (dez) ocorrências e o usuário poderá movimentar as pági-
nas através dos botões de avanço e retrocesso, seguindo a seguinte legenda (ver
Fig. 5):
- Movimenta o registro para a primeira página;
- Movimenta o registro para a página anterior à atual;
- Movimenta o registro para a página seguinte à atual;
- Movimenta o registro para a última página.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 65
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Figura 5 - Tela de Resultado de Pesquisa

Selecionando um distribuidor, o sistema mostrará uma “árvore” com os tipos de


documentos e um ícone indicando se o distribuidor possui ou não documento a ser
visualizado (ver figura 6).

66 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

- Não possui documento a ser visualizado;


- Possui documento a ser visualizado.

Figura 6 - Tela de Arvore Expandida de Documentos

Selecionando o documento a ser visualizado, o sistema abrirá uma nova janela


do Internet Explorer e mostrará a imagem do documento utilizando o plug-in do
AcrobatReader( SOUZA, 2001; Adobe) com todas as suas funções; desta forma o
usuário poderá ajustar o zoom, imprimir, visualizar miniaturas etc. (ver figura 7).

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 67
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Figura 7 - Tela de Visualização do Documento

O sistema gera três tipos de relatórios. O Relatório Analítico mostra a quantida-


de de cada tipo de documento. O Relatório Sintético mostra a soma de todos os
documentos agrupados por cada tipo. O Relatório de Eventos só pode ser acessado
por administrador e relata os eventos de acesso ao sistema e pode ser filtrado por
usuário, tipo de evento, mês, ano ou a combinação destes campos, tendo como
resultado a listagem dos eventos mostrados em páginas de dez ocorrências e o
administrador poderá mudar de página através dos botões de avanço e retrocesso.
Os eventos relatados neste modulo são:
n Login ao Sistema;

68 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

n Usuário bloqueado;
n Troca de senha.
Todos os relatórios podem ser impressos clicando no botão Imprimir.

CONCLUSÃO
Os resultados obtidos no desenvolvimento do projeto do sistema de visualização
de documentos via Internet foram muito satisfatórios e os objetivos da fase de
planejamento foram alcançados. O sistema possui todas as funcionalidades espe-
radas de um visualizador de documentos.
O conhecimento adquirido neste projeto poderá ser expandido para empresas
das mais variadas áreas, não somente para instituições financeiras, como foi o
caso deste protótipo. Com poucas alterações, poderá ser utilizado em qualquer
área da indústria ou do comércio. Muitas empresas têm problema semelhante de
armazenamento e gerenciamento dos seus documentos. Com a implantação do
sistema de Visualizador de Documentos Via Internet a empresa poderá deslocar o
seu arquivo de documentos para um outro local e melhor aproveitar o seu espaço
físico para produção.
Este projeto poderá evoluir para um gerenciamento de documentos via Internet,
que poderá controlar solicitações de documentos físicos e, desta forma, a empresa
terá condições de gerenciar com quem os documentos estão e por quanto tempo.
Esta evolução traria a vantagem do controle de acesso a documentos físicos, pelo
qual o encarregado do controle do arquivo só poderá fornecer os documentos aos
usuários autorizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2001.

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(HTML) http://msdn.microsoft.com/library/default.asp?url=/workshop/author/dhtml/
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(Adobe) http://www.adobe.com.br/

70 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

A FILOSOFIA POLÍTICA DE NORBERTO BOBBIO

José Jair Ferraretto*


Samuel Antonio Merbach de Oliveira**

RESUMO
Este artigo tem como objetivo debater a proposta de Bobbio de unir os aspectos positivos do
liberalismo e do socialismo, no projeto denominado socialismo-liberal, que conjuga as duas corren-
tes do pensamento político ocidental com a democracia, estabelecendo na mesma estrutura três
características da cidadania: as liberdades civis, as garantias políticas e os direitos sociais.
Palavras-chave: direitos individuais, direitos coletivos, liberalismo, socialismo e democracia.

ABSTRACT
This article aims to debate the proposal of Bobbio to unite positive aspects of liberalism and
socialism, in the project called liberal-socialism, which combines the two lines of Western political
thought with democracy, establishing in the same structure, three characteristics of citizenship:
civil liberties, political guarantees and social rights.

Key words: individual rights, collective rights,liberalism, socialism, democracy.

INTRODUÇÃO
Em 9 de janeiro de 2004 faleceu um dos maiores filósofos políticos contempo-
râneos, o italiano Norberto Bobbio. Bobbio foi senador vitalício da Itália, nasceu em
Turim, onde estudou direito e filosofia, foi professor universitário e jornalista. É co-
nhecido como filósofo que se aplicou ao estudo do direito, da filosofia e da política.
Bobbio escreveu para diversos periódicos italianos tendo suas reflexões políti-
cas e teóricas comentadas em diversos diários do país, contribuindo, assim, para
aproximar as pessoas através do debate e colaborando para o exercício da cidada-
nia.
Bobbio sempre esteve disposto a dialogar com seus interlocutores. Suas preo-
cupações teóricas e políticas em relação às questões centrais da democracia, da
liberdade, da igualdade, da república e dos direitos humanos foram os elementos
básicos de sua atividade intelectual e política. Por isso, Norberto Bobbio é conside-
rado um dos maiores filósofos contemporâneos.

* Mestre em Direito pela UNIP - Campinas, Especialista em Advocacia Empresarial pela FMU, Especialista em
Direito Penal pela PUC-SP, Professor do Curso de Direito do Centro Universitário Padre Anchieta.

** Mestre em Direito pela PUC-Campinas, Mestre em Filosofia pela PUC-Campinas, Especialista em Direito
Material e Processual do Trabalho pelo Centro Universitário Padre Anchieta, Especialista em Direito Processual
Civil pela PUC-Campinas, aluno do Curso de Especialização em Direito Penal e Processo Penal pelo Centro
Universitário Padre Anchieta, Professor dos Cursos de Direito e de Administração de Empresas do Centro
Universitário Padre Anchieta, e congressista do II Congresso Mundial de Direito Processual realizado em Recife.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 71
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

1. LIBERALISMO
O termo liberalismo tornou-se conhecido após a Revolução Francesa, em 1789.
O liberalismo é uma doutrina do Estado limitado tanto com respeito aos seus pode-
res quanto às suas funções. O primeiro é o Estado de direito e o segundo é o
Estado mínimo.
Contudo, é possível que um Estado de direito não seja mínimo, como também
um Estado mínimo que não seja um Estado de direito. O Estado de direito se opõe
ao Estado absoluto; o Estado mínimo se contrapõe ao Estado máximo.
Por Estado de direito entende-se geralmente um Estado em que os poderes
públicos são regulados por normas gerais e devem ser exercidos no âmbito das
leis que os regulam. Trata-se da doutrina da superioridade do governo das leis
sobre o governo dos homens.
O Estado de direito significa não só subordinação dos poderes públicos às leis,
mas também subordinação das leis ao limite material do reconhecimento de al-
guns direitos fundamentais considerados constitucionalmente e, portanto, invioláveis.
Integram o Estado de direito os mecanismos constitucionais que impedem o
exercício arbitrário e ilegítimo do poder, bem como o abuso do poder. Os mais
importantes desses mecanismos são: 1, o controle do Poder Executivo pelo
Legislativo; 2, o eventual controle do parlamento no exercício do Poder Legislativo
ordinário por parte de uma corte jurisdicional, a quem se pede a averiguação da
constitucionalidade das leis; 3, uma relativa autonomia do governo local em todas
as suas formas e graus, com respeito ao governo central; 4, uma magistratura
independente do poder político (BOBBIO, 1997, p. 19).
Os mecanismos constitucionais que caracterizam o Estado de direito têm o
objetivo de defender o indivíduo dos abusos do poder.
Para os liberais, a liberdade individual é garantida, mais do que pelos mecanis-
mos constitucionais, também pelo fato de que ao Estado são reconhecidas tarefas
limitadas à manutenção da ordem pública interna e internacional. Pode-se dizer
quealimitação das tarefas do Estado constitui condiçsine ão qua non do controle
dos poderes coercitivos do Estado. O Estado mínimo é mais controlável do que o
Estado máximo.
Uma vez defendida a liberdade no sentido predominante da doutrina liberal como
liberdade em relação ao Estado, a formação do Estado liberal pode ser identificada
como o progressivo alargamento da esfera de liberdade individual diante dos pode-
res públicos.
Mas mesmo o objetivo liberal de construir um “Estado limitado” pode ser com-
preendido de duas formas distintas: o sentido liberal de limitação dos seus poderes
(Estado de direito) ou o sentido liberista de limitação das suas funções (Estado
mínimo). Trata-se da identificação do liberalismo com a defesa das forças de mer-
cado. Em sentido contrário temos o termo “liberista”, que serve para designar os
adeptos do liberalismo econômico, ao passo que liberalismo refere-se ao universo
do liberalismo político (BOBBIO, 1997, p. 39; 87).

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2. LIBERALISMO E DEMOCRACIA
O início das democracias liberais se evidenciou nas revoluções burguesas que
entre os séculos XVIII e XIX ocorreram nos Estadas Unidos e na Europa. Fatos
importantes como a Guerra de Independência Estadunidense (1776), a Revolução
Francesa (1789) e as diversas revoluções européias de 1848 que destruíram o
absolutismo, legado do feudalismo.
Na vanguarda desses acontecimentos estava a nova classe social emergente,
a burguesia, que derrotou as monarquias de direito divino, consolidando a liberdade
econômica, reduzindo o poder da Igreja (separação entre Igreja e Estado) e institu-
indo as noções de cidadão e de representação política: noções de homem, de voto.
O termo liberalismo ganhou destaque após a Revolução Francesa, em 1789.
Em sua origem, o liberalismo não se confunde com a democracia. De fato, nem
todos os Estados originariamente liberais tornaram-se democráticos. Entretanto,
os Estados democráticos existentes foram originariamente liberais. Assim, libera-
lismo e democracia não são interdependentes: um Estado liberal não é necessa-
riamente democrático e um governo democrático se transforma necessariamente
num Estado liberal. Isto porque enquanto o ideal do primeiro é limitar o poder, o do
segundo é distribuir o poder.
Liberalismo e democracia tratam de assuntos divergentes: o liberalismo da
questão das funções do governo e da limitação de seus poderes; a democracia do
problema de quem deve governar e com quais procedimentos. O liberalismo exige
que todo poder seja submetido a limites, inclusive o da maioria. A democracia, ao
contrário, chega a considerar a opinião da maioria o único limite aos poderes do
governo. É uma teoria dos limites do poder do Estado. Tais limites valem para quem
quer que detenha o poder político, inclusive para um regime democrático em que
todos os cidadãos têm o direito de participar, mesmo que indiretamente, da tomada
das grandes decisões, e cuja regra é a regra da maioria.
Na formulação hoje mais corrente, o liberalismo é a doutrina do “Estado míni-
mo”. Ao contrário dos anarquistas, para quem o Estado é um mal absoluto e deve,
pois, ser eliminado, para o liberal o Estado é sempre um mal, mas é necessário,
devendo, portanto, existir, mas dentro dos limites mais restritos.
Nesse contexto, Bobbio defende o liberalismo democrático, contra a visão ins-
trumental de democracia dos liberistas. Com o avanço do socialismo no mundo, o
liberalismo acabou se concentrando na luta pela economia de mercado e pela
liberdade econômica. Com isso, de doutrina do Estado de Direito, o liberalismo se
transformou em doutrina do Estado mínimo.
Nesse contexto, Bobbio entende: a) que hoje o método democrático seja ne-
cessário para a salvaguarda dos direitos fundamentais da pessoa, que estão na
base do Estado liberal; b) que a salvaguarda desses direitos seja necessária para
o correto funcionamento do método democrático (BOBBIO, 1997, p. 43).

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3. SOCIALISMO: A DOUTRINA MARXISTA


De fato, para o marxismo apenas num sistema econômico comunista é possí-
vel se ter uma sociedade democrática. Entende a democracia como o governo do
povo, uma vez que se fundamenta na realização do interesse do povo e, portanto,
na sua verdadeira vontade.
A doutrina marxista entende a democracia como a melhor forma de governo,
mas isso só é possível sob o socialismo, visto como o melhor sistema econômico,
que se desenvolve a partir de uma interpretação econômica da sociedade, segundo
a qual os fenômenos políticos como o Estado e o Direito são apenas uma superes-
trutura posta acima da realidade econômica, formada pelas relações de produção.
É a primazia do econômico sobre o político.
De fato, na sociedade capitalista a minoria burguesa detém a posse dos meios
de produção, sendo, por isso, o grupo economicamente dominante, o que contra-
diz veementemente a democracia enquanto governo para a maioria.
Dessa maneira, apenas quando a maioria se tornar o grupo economicamente
dominante, o que conforme a tese marxista só será possível por meio da socializa-
ção dos meios de produção, é que teremos realmente a democracia.

4. BOBBIO E OS COMUNISTAS ITALIANOS


De fato, Bobbio, além de teórico político, também teve importante participação
política na Itália. Sua militância teve como premissas fundamentais a defesa da
liberdade, do socialismo, da tolerância e da democracia.
Em dezembro de 1943, militava no clandestino Partido da Ação (que recolhia a
herança de Piero Gobetti e Carlo Rosselli) contra o fascismo e pela libertação da
Itália, entendia que esta não era uma luta de classes e sim uma revolução demo-
crática, tendo nessa época um diálogo permanente com os comunistas do PCI
(hoje Partido Democrático da Esquerda), em que os via “não adversários, mas
interlocutores” e reconhecia o valor de suas idéias.
Dessa maneira, como representante do socialismo-liberal, o Partido da Ação
era totalmente contrário ao fascismo que fora anti-liberal na política e anti-socialis-
ta na economia.
Na luta contra o fascismo Bobbio dialogou com seus adversários comunistas
italianos acerca dos temas da liberdade, da democracia, para resistir contra a
ofensiva da direita reacionária (REGO, 2001).
Para Bobbio os comunistas não são inimigos que devem ser combatidos, mas
sim devemos considerá-los como interlocutores em um diálogo acerca das razões
da esquerda.
Com efeito, na obra Política e Cultura, Bobbio dialoga de maneira serena e
civilizada com os comunistas italianos acerca da defesa dos direitos humanos, em
particular os direitos da liberdade. A discussão começou com Ranuccio Bianchi
Bandelli, seguiu com Galvano della Volpe e finalizou com a intervenção de Palmiro
Togliati. Esse diálogo é um exemplo de tolerância, levando em consideração a

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

importância da função moderadora e mediadora de dogmatismos opostos (BOBBIO,


1955).
Bobbio debateu com os discípulos de Gramsci temas como o projeto de demo-
cracia indicado pelos comunistas como alternativa à democracia representativa
dos liberais e a compatibilidade, ou não, da proposta de transformação socialista
com a continuidade da democracia, entendida como um conjunto de regras que
regulam o jogo político.
Bobbio não foi marxista e nem anti-marxista. Considerava a obra de Marx como
um clássico que devia ser lido e relido para se averiguar o que permanece da sua
obra.
Norberto Bobbio levantando sempre o problema central da relação entre socia-
lismo e democracia, critica o suposto desprezo dos comunistas italianos pela de-
mocracia liberal em prol da idéia de ditadura do proletariado.
Embora tenha algumas idéias contrárias ao marxismo entende que não seria
possível sem o marxismo entender a história sob a ótica dos oprimidos, ganhando
assim uma nova perspectiva do mundo sem a qual não nos teríamos salvado.
Bobbio também foi o pioneiro na análise da sociedade civil nos Cadernos do
Cárcere, com um excelente texto que desencadeou diversas discussões que aju-
daram na compreensão das categorias Estado/sociedade, sociedade civil / socie-
dade política quando considerou a originalidade de Gramsci evidenciando a impor-
tância do seu pensamento, sobretudo acerca da sociedade civil (BOBBIO, 1999).
Bobbio entendeu que o marxismo tratava de teorias importantes, buscando
sempre examiná-las. Afirmou a grandiosa colaboração do legado do marxismo,
como filosofia política irrenunciável para o desenvolvimento da civilização.

5. SOCIALISMO E DEMOCRACIA
Bobbio definiu-se como socialista-liberal, uma tradição muito particular na Itá-
lia. Entretanto, sua ideologia política jamais o impediu de reconhecer a importância
do marxismo.
Bobbio também observa outra característica diferenciadora, a divisão entre
moderados e extremistas: a posição ante a idéia de liberdade, a apreciação do
método democrático. Do cruzamento destas variáveis, resultaram quatro possibili-
dades de doutrinas e movimentos políticos, a saber: a) na extrema-esquerda, os
igualitários autoritários, descendentes do jacobinismo e do bolchevismo e adeptos
do socialismo real; b) na centro-esquerda, os igualitários libertários, encontrados
nos vários partidos social-democratas e social-liberais e defensores do Welfare
State; c) na centro-direita, os libertários inigualitários, filiados aos partidos conser-
vadores e liberal-conservadores e favoráveis à onda neoliberal; d) na extrema-direi-
ta, os autoritários inigualitários, originários do nazismo e do fascismo e simpati-
zantes das suas novas aparições (BOBBIO, 2001, p. 134-135).
Como sabemos, Bobbio é um socialista-liberal defendendo a segunda opção
política – a libertária igualitária ou moderada de esquerda, na qual sintetiza o seu

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objetivo socialista-liberal com dois elementos inseparáveis: igualdade e liberdade.


Defende os princípios liberais nas questões políticas e os socialistas nas questões
sociais, sendo que o ideal socialista é mais amplo do que o ideal do liberalismo,
porque, ao obter mais igualdade, se estará conseguindo também mais liberdade.
Para Bobbio a democracia é uma forma de governo na qual todos são livres porque
são iguais.
A priori, a relação entre liberalismo e socialismo foi muito difícil. A divergência
ocorre no fato da defesa ilimitada da propriedade privada. O socialismo descreve
que a propriedade privada é a principal responsável pela desigualdade entre os
homens.
Entretanto, a relação entre socialismo e democracia sempre foi possível. O
processo de democratização produziria ou favoreceria o advento de uma sociedade
socialista, baseada na transformação da propriedade privada e na coletivização dos
meios de produção. O advento da sociedade socialista reforçaria e ampliaria a
participação política e, portanto, tornaria possível a plena realização da democra-
cia, entre cujos compromissos se situa a distribuição igualitária do poder econômi-
co e do poder político.
Esta união entre socialismo e democracia, no entender de Bobbio, é possível.
Isto não quer dizer que a relação entre ambos sempre foi pacífica. Sob certos
aspectos, foi polêmica. Diante de tal possibilidade, criaram-se as expressões soci-
alismo liberal e liberalismo social.

6. O SOCIALISMO-LIBERAL DE NORBERTO BOBBIO


De fato, a teoria acerca do socialismo-liberal remonta a Stuart Mill e possui
importantes expoentes na Itália, como Rosselli e, mais recentemente, Norberto
Bobbio. Tais pensadores, sem renunciar a uma concepção individualista da socie-
dade, cujo núcleo fundamental é a liberdade, afirmam a indissolubilidade da relação
entre liberdade e igualdade.
A emergência e a difusão da doutrina e de movimentos socialistas e a aliança
desses movimentos com os partidos democráticos reabriram o contraste histórico
entre liberalismo e democracia, exatamente quando parecia ter havido uma conci-
liação histórica definitiva entre liberalismo e democracia.
Precisamente na reação contra o avanço do socialismo, com seu planejamen-
to econômico e a coletivização dos meios de produção, a doutrina liberal foi cada
vez mais se concentrando na defesa da economia de mercado e da livre iniciativa
econômica, identificando-se como a doutrina econômica chamada liberismo, na
Itália.
A Itália tem sido a precursora dos socialistas-liberais. Entre as razões para
isso, destaca-se o fascismo, cuja ascensão teve o condão de aliar liberais e soci-
alistas na luta contra o inimigo comum, a ponto até de mesclá-los, como foi o caso
do Partito d’Azione – o partido dos socialistas liberais, que tinha por escopo reali-
zar a síntese entre liberalismo e socialismo.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Mesmo sem entrar em detalhes, é ilustrativo mencionar a “Revolução Liberal”


de Piero Gobetti, intelectual que defendia o livre comércio, ao mesmo tempo em
que admirava Lenin e colaborava com Gramsci, o “Movimento Liberal Socialista”,
formado em 1937 por Guido Calogero e Aldo Capitini, o “Socialismo Liberal”, de
Carlos Rosselli, que desejava mesclar os princípios liberais no socialismo.
Na Itália Rosseli esforçou-se para construir a teoria de um socialismo-liberal,
mas seu primeiro grande idealizador foi um filósofo oriundo de uma corrente não
marxista, na qual Stuart Mill exerce um papel muito importante.
O socialismo-liberal apresenta-se como uma alternativa ao marxismo, do qual
critica, filosoficamente, o determinismo e o materialismo, ou seja, a negligência
das forças morais que movem a história, economicamente, o coletivismo global,
politicamente, e o Estado materialista e coletivista.
Em contrapartida, o socialismo-liberal também é uma alternativa ao capitalis-
mo liberal, que com o desenvolvimento da sociedade industrial serviu para oprimir e
escravizar os trabalhadores, como também ao neo-liberalismo entendido hoje, como
uma doutrina econômica conseqüente, da qual o liberalismo político é apenas um
modo de realização, nem sempre necessário; ou, em outros termos, uma defesa
intransigente da liberdade econômica, da qual a liberdade política é apenas um
corolário.
Para os socialistas-liberais, o socialismo originou-se do desenvolvimento histó-
rico do liberalismo no processo de emancipação da humanidade, que objetivava,
sobretudo, a liberdade. Após a emancipação política, que é obra da Revolução
Francesa, seria necessária a emancipação econômica. Entretanto, a emancipa-
ção econômica não foi possível de ser realizada.
É possível se chegar ao socialismo-liberal através do método liberal que é aber-
to, que só levará ao socialismo se a classe trabalhadora assim desejar. Nesse
contexto, o sufrágio universal é o meio para se alcançar o poder político. É a aplica-
ção do princípio de liberdade, é o direito de participar do poder político, mas tam-
bém, ao mesmo tempo, uma aplicação do princípio da igualdade como acesso
igual aos direitos políticos.
Por fim, para Bobbio o socialismo é um ideal a ser alcançado através da luta
política permanente, mas sem identificá-lo com a coletivização dos bens de produ-
ção, e muito menos com o emprego da violência para alcançar tal ideal.

CONCLUSÃO
Para Bobbio, o homem, como indivíduo, deve ser livre; como ser social deve
estar com os demais indivíduos em relação de igualdade. Liberdade e igualdade
são os valores que servem como fundamento ao socialismo-liberal.
A “igualdade democrática”, na “liberdade liberal”, é aquela perante a lei e os
direitos. Diferentemente do binômio democracia e socialismo, no qual democracia
será vista como igualdade social, no binômio democracia e liberalismo, democra-
cia terá como sinônimo a expressão sufrágio universal.

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Dessa maneira, para o êxito do socialismo-liberal, o liberalismo e a democracia


são, ao mesmo tempo, fins em si próprios e meios efetivos para o socialismo-
liberal alcançar seu triunfo final.
Por fim, o socialismo liberal de Bobbio objetiva encontrar um terceiro caminho
entre o bloco comunista e o mundo capitalista. Tal caminho teria de combinar
teorias marxistas e liberais liberais.

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O IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NA GESTÃO


ADMINISTRATIVA

Hugolino de Sena Batista*


Vinícius Rodrigues da Costa*
João Victor Bevilacqua*
Milena Jacobsen Pelizari Pinto*
Luciana Ferreira Baptista**

RESUMO
O propósito do presente artigo é discutir o impacto da Globalização, tal qual a conhecemos
hoje, no âmbito da Administração. No primeiro capítulo estaremos analisando qual o sentido da
Globalização, bem como verificando o seu arcabouço histórico. No segundo capítulo estaremos
focando a Globalização em seu estágio atual, com a larga e crescente utilização de recursos
tecnológicos. No terceiro capítulo discutiremos as conseqüências desse tipo de Globalização para
o administrador, a fim de identificarmos ações e atitudes que devam ser buscadas e cultivadas por
todo aquele que necessita atuar na Gestão de Negócios.

Palavras-chave: globalização, gestão de negócios, gestão administrativa, administração.

ABSTRACT
The intention of the present article is to discuss the impact of Globalization, as known today, in
matters of administration. In the first chapter the meaning of Globalization will be analyzed as well
as verifying the its historical outline. The second chapter focuses on Globalization in its present
stage, with its large and growing use of technological resources. In the third chapter, consequences
of this type of Globalization for the administrator are discussed in order to identify actions and
attitudes that should be sought after and developed by all those in business management.

Key words: globalization, business management, administrative management, administration

1. A GLOBALIZAÇÃO – VISÃO GERAL

1.1 Conceituação
Definir o termo “globalização” é mais difícil do que a princípio se imagina. Isso
porque não existe uma definição única e inquestionável, em torno da qual todos
concordem (COSTA, 2005)1. Como esclarece um dos autores pesquisados:
Como todo conceito imperfeitamente definido, globalização significa coisas dis-
tintas para diferentes pessoas. Pode-se, no entanto perceber quatro linhas básicas

* Graduandos em Tecnologia em Informática com Gestão em Negócios pela FATEC Jundiaí.

** Mestre em Engenharia de Produção – Sistemas de Informação (UNIMEP), especialista em Administração de


Empresas (USF) e Analista de Sistemas (USF). Professora dos cursos de Sistemas de Informação e Administração
de Empresas do Centro Universitário Padre Anchieta, do curso de Tecnologia em Informática com Gestão em
Negócios da FATEC Jundiaí e do curso de Administração de Empresas em Análise de Sistemas da FACCAMP.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

de interpretação do fenômeno: (i) globalização como uma época histórica; (ii)


globalização como um fenômeno sociológico de compressão do espaço e tempo;
(iii) globalização como hegemonia dos valores liberais; (iv) globalização como fenô-
meno socioeconômico. (PRADO, 2005)
A título de exemplo reproduzimos abaixo três das definições encontradas: “A
globalização é um processo de aprofundamento da integração econômica e social
dos países do Mundo no final do Século XX, é um fenômeno observado na necessi-
dade de formar uma Aldeia Global que permita maiores ganhos para os mercados
internos já saturados” (WIKIPÉDIA [1], 2005).
Globalização é ‘’o processo de aumentar a integração internacional nas esfe-
ras econômica, política, social e cultural nas quais ações além das fronteiras naci-
onais limitam e influenciam resultados nacionais. A interação é vista sob forma de
um fluxo maior de bens e serviços, de capital, e de interações culturais e políticas,
migração de pessoas e muitas outras” (COSTA, 2005).
“Definimos globalização como o processo de integração de mercados domés-
ticos, no processo de formação de um mercado mundial integrado” (PRADO, 2005).
Em uma primeira análise pode-se notar que há certas diferenças entre as defi-
nições citadas, tanto no que diz respeito à amplitude quanto na questão da exati-
dão terminológica. No entanto, abstraindo-nos destes detalhes, gostaríamos de
ressaltar os pontos de convergência existentes.
O primeiro deles é o conceito de que a Globalização é um “processo”. Há um
certo consenso de que a globalização não é algo pronto e acabado, mas, sim, algo
que está se desenvolvendo no decorrer do tempo. “A globalização como ´processo`
está em andamento; não foi inventada por ninguém e não tem dono. Simplesmente
existe, ampliando transações comerciais, facilitando a comunicação e a informa-
ção” (COSTA, 2005).
O segundo ponto de convergência é a idéia de “integração”. Quando falamos
em globalização temos em mente a universalização dos mercados. Como ressalta
a pesquisadora Maria de Lourdes Rollemberg Mollo (2005): “A globalização da eco-
nomia é o processo através do qual se expande o mercado e onde as fronteiras
nacionais parecem mesmo desaparecer”.
Há, ainda, um terceiro conceito, um terceiro ponto de convergência, que, em-
bora não seja tão nítido quanto os anteriores, está presente, por assim dizer, nas
entrelinhas. Trata-se da idéia de que, a despeito do que se imagina, a Globalização
não é um fenômeno recente. Ou seja, estamos presenciando uma aceleração em
algo que já existia. Isso fica claro quando lemos, na primeira definição, que a
globalização é “um processo de aprofundamento da integração” (grifo nosso). Na

1 “Pesquisa feita pela Globalisation Organization mostrou que em 2820 artigos


sobre globalização e em 589 livros publicados em 1988 nos Estados Unidos,
virtualmente todos autores deram sua própria definição de globalização”.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

definição seguinte o autor se refere à globalização como sendo um “processo de


aumentar a integração”. Na terceira definição, embora não haja um termo específi-
co, tal idéia fica subentendida no conceito de processo, algo em movimento, que
parte de um ponto em direção a outro, conforme já discutido em parágrafo anterior.

1.2 Aspectos Históricos


Partindo do pressuposto de que a Globalização tal qual conhecemos é um
aprofundamento, uma intensificação, uma ampliação, da integração entre os mer-
cados, deve-se, neste ponto, traçar, ainda que de forma superficial, a história da-
quilo que se entende por globalização2.
Um dos autores estudados divide a globalização em três etapas distintas: a
“primeira fase da globalização, ou primeira globalização, dominada pela expansão
mercantilista (de 1450 a 1850) da economia-mundo européia; a segunda fase, ou
segunda globalização, que vai de 1850 a 1950, caracterizada pelo expansionismo
industrial-imperialista e colonialista; e, por último, a globalização propriamente dita,
ou globalização recente, acelerada a partir do colapso da URSS e da queda do
muro de Berlim, de 1989 até o presente” (SCHILLING, 2005).
Seguindo o raciocínio acima exposto, a primeira etapa da globalização (de
1450 a 1850) foi marcada por uma ênfase mercantilista. Nessa fase, os europeus
descobriram o Novo Mundo e estabeleceram feitorias comerciais na Índia, China e
Japão.
Durante os séculos dessa globalização primitiva, os povos iniciaram um pro-
cesso de integração, ora de forma voluntária, ora de modo compulsório, como se
pode deduzir do trecho abaixo:

Enquanto as especiarias eram embarcadas para os portos de Lisboa e de Sevilha,


de Roterdã e Londres, milhares de imigrantes iberos, ingleses e holandeses, e um
bem menor número de franceses, atravessaram o Atlântico para vir ocupar a
América. Aqui formaram colônias de exploração, no sul da América do Norte, no
Caribe e no Brasil, baseadas geralmente num só produto (açúcar, tabaco, café,
minério, etc.) utilizando-se de mão-de-obra escrava vinda da África ou mesmo
indígena; ou colônias de povoamento, estabelecidas majoritariamente na América
do Norte, baseadas na média propriedade de exploração familiar. (SCHILLING, 2005)

A Revolução Industrial, com todos os seus desdobramentos, marca o fim da


primeira e o início da segunda fase da globalização (de 1850 a 1950). A industriali-
zação crescente, os meios de transporte mais rápidos, a importância cada vez
maior dos bancos – tudo isso somado cria um novo ambiente. O mundo dominado

2. Como se lê no texto constante do verbete Globalização da Wikipédia: “A rigor,


as sociedades do mundo estão em processo de globalização desde o início da
História”. ([1] 2005).

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por nobres e reis passa a ser regido por uma burguesia industrial e bancária. “Nes-
tes cem anos da segunda fase da globalização os antigos impérios dinásticos
desabaram (o dos Bourbons em 1789 e, definitivamente, em 1830, o dos Habsburgos
e dos Hohenzollers em 1914, o dos Romanov em 1917). Das diversas potências
que existiam em 1914 (o Império britânico, o francês, o alemão, o austro-húngaro,
o italiano, o russo e o turco otomano) só restam depois da 2ª Guerra as superpotên-
cias: os Estados Unidos e a União Soviética” (SCHILLING, 2005).
Após o fim da 2ª Guerra, o mundo presenciou a disputa entre as duas superpo-
tências naquilo que se costumou chamar de “Guerra Fria”. Nesse período, os paí-
ses se dividiram em torno de correntes políticas (comunistas x capitalistas) e,
embora tenha havido um aumento na integração, as barreiras ideológicas constitu-
íram-se, por vezes, em um sério impedimento. Por fim, com o colapso da URSS e
a queda do muro de Berlim, chegamos à fase atual da globalização, sob a égide de
uma só superpotência mundial: os Estados Unidos (SCHILLING, 2005).
Na presente etapa, a globalização “caracteriza-se por:
a) deslocamento espacial das diferentes etapas do processo produtivo, de for-
ma a integrar vantagens nacionais diferentes;
b) desenvolvimento tecnológico acentuado, nas áreas de telemática e
informática, usando-o de forma a possibilitar o deslocamento espacial das fases de
produção e reduzindo tempo e espaço no processo de comercialização;
c) simplificação do trabalho, para permitir o deslocamento espacial da mão-de-
obra;
d) igualdade de padrões de consumo, para permitir aumento de escala;
e) mobilidade externa de capitais, buscando rentabilidade máxima e curto pra-
zo;
f) difusão (embora desigual) dos preços e padrões de gestão e produção,
mantendo, todavia, diferenças de condições produtivas que são aproveitadas no
deslocamento da produção” (MOLLO, 2005).

2. A GLOBALIZAÇÃO NA ERA DA INFORMÁTICA


Pode-se definir informática como sendo “o processo de tratamento automático
da informação por meio de máquinas eletrônicas” (WIKIPÉDIA [2], 2005). Ou, di-
zendo de outra forma, “a origem da palavra informática se dá através da junção da
palavra informação com a palavra automática” (WIKIPÉDIA [2], 2005). Isso posto,
para se entender o impacto da Informática no processo da globalização, devemos
iniciar com uma breve discussão sobre a informação.
Como ressalta Peter Drucker (2005), estamos presenciando “a quarta revolu-
ção da informação”. Acompanhemos seu raciocínio:

A próxima revolução da informação será a quarta da história da humanidade. Eis a


respectiva cronologia: A primeira revolução consistiu na invenção da escrita que
ocorreu há cerca de 5 ou 6 mil anos na Mesopotâmia; milhares de anos mais tarde
na China; e 1500 anos depois, na Civilização Maia da América Central. A segunda

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

revolução foi a da invenção do livro escrito. Ela ocorreu em primeiro lugar na China,
por volta de 1300 a. C.; e em seguida, 800 anos mais tarde, na Grécia (quando
Peisistratos, o tirano de Atenas, mandou copiar os versos de Homero — que até
então eram apenas recitados — para livros). A terceira revolução foi a da invenção
da imprensa escrita entre 1450 e 1455, pela qual Gutemberg foi responsável.

Segundo este autor, “a próxima revolução da informação vai abranger todas as


organizações importantes da sociedade moderna”. Essa revolução já começou e
está tendo “um impacto mais profundo no terreno dos negócios, forçando os execu-
tivos a redefinir o que é a empresa e o que deveria ser. A empresa passou a ter
como principal função a ‘criação de valor e de riqueza’ que, por sua vez, impulsio-
nou o atual debate sobre a sua ‘propriedade’ isto é, para quem é que cria valor e
riqueza” (DRUCKER, 2005).
Paralelamente à importância crescente da informação, deve-se ressaltar o de-
senvolvimento tecnológico em escala exponencial, seja no campo das telecomuni-
cações, seja no campo de hardware e software. Nesse aspecto, destaca-se a
Internet como tecnologia revolucionária, que eliminou completamente as barreiras
geográficas, aproximando fornecedores e consumidores, independentemente da
distância entre eles. Como afirma o autor Clélio Campolina Diniz (2001): “O fenô-
meno contemporâneo denominado globalização vem alterando, profundamente, as
estruturas produtivas, as relações técnicas e sociais de produção e os padrões
organizacionais e locacionais. Esse processo é, ao mesmo tempo, resultado e
condicionante das mudanças tecnológicas radicais das últimas décadas, sob a
liderança das tecnologias da informação e das comunicações e sua imprecedente
capacidade de atingir e impactar todos os setores ou atividades produtivas, as
relações sociais e políticas”.

3. A ADMINISTRAÇÃO EM UM AMBIENTE GLOBALIZADO


Vivemos em um ambiente globalizado, dominado pela tecnologia, onde a infor-
mação é de suma importância. “É a primeira vez na história em que a humanidade
convive com tamanha quantidade de informações. O principal desafio que apa-
rece neste contexto é o de como absorver estes conhecimentos em provei-
to próprio e de como torná-los acessíveis a toda comunidade(...) Não se trata
apenas de aprender muitas coisas, mas sim de aprender coisas diferentes em um
curto espaço de tempo. O grande volume de informações a ser assimilado e a
velocidade de mudança levam a um aperfeiçoamento ao longo de toda a vida, incor-
porando-se o conceito de aprendizado contínuo de toda a humanidade”
(PADLIPSKAS, 2005).
Como ressalta outro autor pesquisado: “Atualmente, caminha-se para um am-
biente em que o tempo é o recurso mais escasso e verdadeiramente não
renovável. A pressão da reação rápida, da resposta em curto espaço de tempo,
está impressa nas atitudes e comportamentos e gerenciar eficazmente o tempo é
um diferencial competitivo tanto para empresas quanto para os profissionais em

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 85
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

geral(...) A humanidade está inserida na era da informação. O grande volume de


informações existentes contribui para tornar o conhecimento uma ‘arma’ à disposi-
ção das pessoas e das empresas para vencer a competitividade. A comunicação
passou a ser valorizada, pois é o meio pelo qual se disseminam as informações,
agregando valor aos indivíduos que conseguem transformar essas informações em
conhecimentos” (LIMA, 2005).
Tais constatações nos dão uma idéia dos desafios que se antepõem à pessoa
do administrador. O autor Mário Pascarelli Filho (2005), no artigo Competitividade é
o Caminho da Sobrevivência, afirma: “Outro choque, o da globalização, quebrando
os muros e as barreiras internacionais, nos coloca diariamente diante de mercados
onde não só a língua é muito diferente mas, principalmente, a cultura e os valores.
Isso exige, de todos, alto grau de agilidade e flexibilidade”. Nesse mesmo sentido
adverte Gilberto Dimenstein (2001): “as empresas nunca sofreram tanta concor-
rência, devido à mistura explosiva de globalização com inovação tecnológica numa
velocidade desconhecida – cresce, assim, o risco de obsolescência dos profissio-
nais e negócios”.
Para efeito de ilustração reproduzimos o quadro abaixo, que faz uma análise
comparativa do administrador do passado com o administrador do presente (WICK,
2005):

Quadro 1 – Administradores do Passado e do Presente

OS ADMINISTRADORES DO PASSADO OS ADMINISTRADORES DO TERCEIRO MILÊ NIO

Aprendiam quando alguém lhes ensinava Procuram deliberadamente aprender

Achavam que o aprendizado ocorria Reconhecem o poder do aprendizado decorrente da


principalmente na sala de aula experiência de trabalho

Responsabilizavam o chefe pela carreira Sentem-se responsáveis pela sua própria carreira

Não eram considerados responsáveis pelo Assumem a responsabilidade pelo seu próprio
próprio desenvolvimento desenvolvimento

Acreditavam que sua educação estava


Encaram a educação como uma atividade
completa ou só precisava de pequenas
permanente para a vida toda
reciclagens

Não percebiam a ligação entre o que


Percebem como o aprendizado afeta os negócios
aprendiam e os resultados profissionais

Deixavam o aprendizado a cargo da instituição Decidem intencionalmente o que aprender

Como se pode notar, as mudanças introduzidas pela informática no ambiente


globalizado têm se tornado determinantes para uma mudança de paradigma na

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

teoria e prática administrativas. “A Internet está hoje em todos os lugares na vida do


administrador. Na empresa, ou na vida particular, o gestor de negócios se depara
com a presença da Internet a todo momento. O comércio eletrônico está mudando
a forma como as empresas fazem seus negócios, o comportamento do consumi-
dor on-line está cada vez mais diferenciado. A comunicação organizacional está
entrando em um outro patamar com as intranets. A cooperação entre as empresas
está criando novas alternativas de redução de custo de produtividade com as
extranets. Enfim, modelos totalmente novos estão surgindo, e acompanhar essas
mudanças não é nada fácil, mas absolutamente necessário num ambiente compe-
titivo globalizado como o atual” (LIMA, 2005).

CONCLUSÃO
Como podemos ver no decorrer do presente trabalho, a globalização é uma
realidade presente e inquestionável, cujos efeitos se estendem por campos varia-
dos como economia, cultura, política, etc. A informática, por sua vez, com seu
pujante desenvolvimento tecnológico, tem multiplicado exponencialmente o alcan-
ce desse mundo globalizado. Nesse contexto, a tarefa do administrador se reveste
de capital importância. Ele precisa estar cônscio e preparado para um mundo em
constante mudança, onde a informação se encontra de forma abundante, e onde as
decisões precisam ser tomadas num exíguo espaço de tempo. Priorizar a aprendi-
zagem, manter-se atualizado, ter uma atitude pró-ativa são características desejá-
veis no perfil atual do administrador. Por sua vez, as empresas no atual cenário,
devem procurar valorizar seu capital intelectual, usar os recursos tecnológicos a
seu favor, e estar prontas para se adaptarem às novas exigências do mercado.
Como ressalta Mário Pascarelli Filho (2005): “Não serão as grandes corporações
que sobreviverão, mas com certeza as estruturas mais ágeis e, portanto, as mais
competitivas”.

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88 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

EDUCAÇÃO: REPRODUÇÃO OU
TRANSFORMAÇÃO? 1

Eduardo Tadeu Pereira*


José Renato Polli **
Sidnei Ferreira de Vares***

RESUMO:
O presente trabalho tem o objetivo de discutir os conceitos de reprodução e transformação em
educação, tendo como ponto de partida teórico as análises crítico-reprodutivistas que despontam
na década de 70, assim como as análises de Paulo Freire e Dermeval Saviani, ambos teóricos
brasileiros que, ao nosso ver, indicam alguns caminhos para a superação da reprodução cultural
e social via escolarização. Tanto o conceito de reprodução quanto o de transformação, muito
utilizados atualmente, sustentam um debate acirrado e polêmico, dividindo opiniões. As discussões
em torno do papel da escola nas sociedades modernas exigem análises que irrompam com o
determinismo teórico e possibilitem uma refuncionalização do sistema escolar. Com efeito, acredi-
tamos que as idéias de Freire e Saviani possam contribuir para a superação do conceito de
reprodução em educação.

Palavras-chave: educação, escola, reprodução, transformação, resistência.

ABSTRACT
The aim of this study is to discuss the concepts of reproduction and transformation in education,
having as theoretical base the critical-reproductivist analyses that appeared in the decade of the
1970´s, as well as the analyses of Paulo Freire and Dermeval Saviani, both Brazilian theorists, that,
in our opinion, demonstrate paths to overcome cultural and social reproduction through education.
The concepts of reproduction as well as that of transformation, currently in frequent use, generate
heated controversy that divides opinions. The discussions around the role of in modern societies
require analyses that liberate from the theoretical determinism and permit a re-functionalisation of
the school system. Effectively, we believe that the ideas of Freire and Saviani may contribute to
overcome the concept of reproduction in education.

Key words: education, school, reproduction, transformation, resistance.

* Licenciado em História pela PUC/SP; Mestre e doutorando em Educação pela UNICAMP; professor do Centro
Universitário Padre Anchieta.
** Licenciado em Filosofia e Pedagogia; Mestre em História Social pela PUC-SP; doutorando em Educação pela
USP; Professor do Centro Universitário Padre Anchieta.
*** Licenciado em História e Pedagogia pelo UniFAI; pós-graduado em Psicopedagogia pelo UniFAI; mestrando
em Educação pela USP; professor do Centro Universitário Assunção.
1. A pergunta que dá título a este artigo tem importância fundamental para a compreensão do papel da escola nas
sociedades modernas. Não sem pouca importância tal indagação tem promovido debates acalorados e opiniões
tão divergentes sobre o tema.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

1. AS TEORIAS DA REPRODUÇÃO: UM NOVO OLHAR EM SOCIOLOGIA DA


EDUCAÇÃO
Falar sobre educação é falar sobre o próprio homem, uma vez que a educa-
ção faz parte de nossas vidas e é sobre ela que recai a responsabilidade de fazer
sobreviverem certos aspectos culturais sem os quais as novas gerações não pode-
riam produzir experiências novas.
A pertinência deste tema, que toma a configuração de uma pergunta, pode ser
atestada por ser considerado a grande indagação que tem fomentado angústias
nos sociólogos da educação. Descobrir maneiras de romper o ciclo de reprodução
social e cultural através da educação, tornando a escola um espaço de resistência
e transformação, talvez seja o maior desafio, não só para os sociólogos, filósofos e
psicólogos da educação, mas para os educadores em geral. A importância da es-
cola nas sociedades letradas, enquanto espaço que personifica a educação, é
indubitável. Como aponta Gomes (1985, p. 36):

A educação, mais do que a riqueza, parece ter uma capacidade insuspeitada de


sertransmitidaporumageraçãoàoutra.Portanprivilégios
to podem ser criados e
perpetuados através da escolarização e da educação em geral. Esta é uma adver-
tência para que tais questões sejam cuidadosamente observadas, com base em
profundos conhecimentos científicos das mesmas.

Se nos solicitassem uma definição que exprimisse o principal objeto atual da


sociologia da educação, acreditamos que a indagação que dá título a este artigo
poderia descrever com propriedade o que esta área do conhecimento tem mais
analisado ao longo das poucas décadas que constituem sua existência. Contudo,
em virtude da brevidade de nossa exposição, sugerimos discutir alguns pontos que
consideramos relevantes, mapeando historicamente a trajetória dos estudos soci-
ológicos em educação, a partir dos conceitos de reprodução e transformação.
Podemos afirmar que a discussão acerca desta temática tem início a partir da
primeira metade da década de 60, quando da publicação do trabalho de Bourdieu e
Passeron, Os herdeiros (1964), germinando o que mais tarde, somando-se outras
pesquisas, seria denominado “teoria da reprodução”.
A teoria da reprodução, que na verdade constitui um conglomerado de traba-
lhos de diversos autores, com agendas de pesquisas e metodologias distintas,
desponta com força a partir da década de 70, com a publicação de alguns trabalhos
pioneiros, como A reprodução: elementos para uma teoria de ensino (1970), dos
sociólogos franceses Bourdieu e Passeron; A Escola Capitalista na França (1971),
de Boudelot e Establet; “Ideologia e Aparelhos ideológicos de Estado” (1970) do
filósofo Louis Althusser; e A Escola Capitalista na América (1976), dos economis-
tas norte-americanos Bowles e Gintis. A concatenação dessas obras pode ser
considerada o início de uma visão diferenciada da escola nas sociedades capitalis-
tas ocidentais.
Passadas duas guerras mundiais, as pessoas se perguntavam o que havia

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

acontecido de errado diante de tantos conflitos e problemas sociais. Com efeito, se


perguntavam qual era o papel da escola neste contexto, uma vez que grande parte
das pessoas passa longos anos de suas vidas dentro dessa instituição.
Para compreendermos a descrença que se sucedeu em educação, é mister
averiguarmos o contexto em que as teorias da reprodução despontam, antes de
definirmos suas principais características.
Do pós-guerra, pelo menos até a década de 60, vigorou em educação certa
tendência funcionalista, baseada em interpretações teóricas anteriores, como o
positivismo, o evolucionismo e organicismo. A tendência funcionalista, que tem no
sociólogo Talcot Parsons seu maior expoente, buscou explicar a educação
enfatizando os processos integrativos e associativos. A escola adquire um caráter
essencialmente instrumental, ou melhor, funcional, sendo interpretada como insti-
tuição que cumpre certas funções sociais, objetivando o equilíbrio e a manutenção
social (TORRES, 1999). A sociedade é analogamente comparada a um organismo
vivo, que se desenvolve num processo que vai do mais simples ao mais complexo.
Os membros que constituem esse organismo estão em relação harmônica, deven-
do funcionar de maneira regular, não havendo, portanto, espaço para conflitos. Os
desvios ou disfunções do sistema são vistos negativamente, como algo externo,
que não faz parte da lógica de seu funcionamento. A escola contribui para a manu-
tenção do sistema (entenda-se status quo) preparando e incutindo certos valores,
princípios e comportamentos adequados ao funcionamento social.
Essa visão de educação que, como já fora frisado, predomina até a década de
60, delega à escola o papel messiânico de progresso social e econômico. Pesqui-
sas, como as de Denison (1960), contribuem para uma visão distorcida de educa-
ção, tendo-a como fator de desenvolvimento e modernização.
Assim, a tendência funcionalista ignorou a história, os conflitos e as tensões
sociais, criando um “otimismo pedagógico” (GOMES, 1985). A crença na escola
como instrumento equalizador dos problemas sociais, como instituição neutra
dedicada à formação de agentes diferenciados para assumir suas posições no
sistema social, toma corpo neste período. É de suma importância observarmos
que o mito da escola democrática e desenvolvimentista ainda permeia o imaginário
de muitos educadores, que acreditam piamente na potencialidade da escola – re-
presentante do conhecimento científico – como fator de crescimento
socioeconômico, validando um processo de mistificação da escola e da educação
(RODRIGUES, 1998). Hoje, porém, sabemos que a escola está longe de tornar-se
fator de desenvolvimento ou de equalização social, em decorrência da forma como
vem sendo organizada.
Em pesquisa recente, encomendada pela UNESCO, publicada no Jornal Folha
de São Paulo de 30.04.2003, evidencia-se o caráter desigual da escola brasileira.
No ano de 2002, no Brasil, dos 8,7 milhões de alunos matriculados no ensino
médio, 7,569 milhões pertenciam à rede pública de ensino (municipal, estadual, e
federal). A probabilidade de encontrarmos alunos com baixo acesso à tecnologia, à

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 91
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

cultura e ao lazer é infinitamente maior entre os alunos da rede pública. No caso da


rede particular, 60% dos alunos dispõem de computador em casa, assim como
77% utilizam o computador na escola. No caso da rede pública, temos um enorme
déficit, sendo que 80% dos alunos não possuem computador em suas residências
e apenas 34% destes têm acesso a computadores na escola.
A desigualdade presente no ensino médio brasileiro tem reflexo direto no
ensino superior. Em pesquisa igualmente recente, do IBGE, publicada pelo mesmo
jornal em 13.06.2003, constata-se que dos 59% dos alunos que freqüentam univer-
sidades públicas 20% pertencem às camadas com maior renda, sendo que em
relação às camadas mais pobres este índice cai para 3,4%.

1.1 O despontar das teorias crítico-reprodutivistas

Entretanto, como na análise que desenvolvem chegam invariavelmente à conclu-


são de que a função própria da educação consiste na reprodução da sociedade
em que ela se insere, bem merecem a denominação de teorias crítico-reprodutivistas.
(SAVIANI, 1986, p. 27)

Na década de 70, o paradigma do conflito, que norteia as teorias da reprodu-


ção, desponta em contraposição à visão funcionalista/positivista. Longe de enxer-
gar a escola como instituição neutra, equalizadora dos problemas sociais e em
relação harmônica com a sociedade, esse paradigma vê a escola como espaço de
tensões, conflitos e movimentos contraditórios. O consenso, preconizado pelo
paradigma anterior, é posto em xeque pelos teóricos da reprodução, visto sempre
como artificial e produzido por coerção externa.
Neste sentido, as teorias da reprodução, a partir de um discurso crítico, negam
a visão ingênua dos autores funcionalistas, buscando demonstrar empiricamente
(somente Althusser foge do legado empirista, o que é compreensível por se tratar
de um filósofo) que a escola exerce o papel de reproduzir e manter as desigualda-
des sociais e a estrutura societária, apresentando-se como instituição conservado-
ra. Em outras palavras, a escola estaria a serviço da sociedade capitalista, refor-
çando e inculcando a ideologia burguesa.
Dermeval Saviani, em seu trabalho Escola e Democracia, publicado em 1983,
ao abordar os problemas da marginalidade no sistema educacional brasileiro, ob-
serva dois momentos históricos distintos durante o século XX, que vêm ao encontro
de nossas afirmações. Para o autor, até a década de 60 vigorou aquilo que ele
chama de “teorias não-críticas”, passando-se na década posterior à predominância
das “teorias críticas”, em que se enquadram as teorias da reprodução, que ele
denomina como “teorias crítico-reprodutivistas”, uma vez que estas, apesar de de-
nunciarem a existência de problemas na escola, não oferecem caminhos para superá-
los.

92 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

1.2 Caraterísticas das teorias da reprodução


O caráter crítico deste conjunto teórico remonta às influências principalmente
do marxismo e neomarxismo. Contudo, muitas outras correntes de pensamento,
como o weberianismo e o próprio funcionalismo, exerceram influência decisiva para
a compilação dos trabalhos que constituem as teorias da reprodução. Adotando o
modelo proposto por Saviani (1986), podemos subdividir, num esforço didático, esse
conjunto teórico em: a) teoria da violência simbólica; b) teoria dos aparelhos ideoló-
gicos do Estado; c) teoria da escola dualista.
Outra divisão possível, que aponta diferenças existentes entre os principais
representantes das teorias reprodutivistas, pode ser atribuída a Henry Giroux (1986),
em sua obra Teoria Crítica e Resistência em Educação: para além das Teorias da
Reprodução, na qual o autor propõe duas vertentes facilmente identificáveis: a) a
vertente cultural; b) a vertente econômica.
De qualquer forma, mesmo considerando as diferenças substanciais entre es-
ses autores, os trabalhos produzidos possuem um ponto comum: convergem para
uma visão da escola enquanto reprodutora e mantenedora da sociedade de clas-
ses.

1.3 As principais críticas à teoria da reprodução


Nos anos 80, surge um novo conjunto de teorias, que propõe uma análise mais
profunda da relação escola/sociedade. Autores como Giroux, Apple, McLaren e, no
Brasil, Freire e Saviani, entre outros, elaboram uma crítica afiada aos teóricos da
reprodução, afirmando que estes se alicerçaram demasiadamente numa visão fata-
lista e mecanicista de escola, que estaria submetida deterministicamente às estru-
turas societárias.
Grande parte das acusações feitas pelos teóricos da resistência (parte dos
autores acima citados) aos teóricos da reprodução tem como alvo a ausência de
uma dimensão histórica, enfocando a incapacidade desse conjunto teórico em en-
xergar no cotidiano escolar, espaços onde os agentes sociais resistem à domina-
ção sistêmica. Faltaria à teoria da reprodução um olhar mais apurado sobre as
reais potencialidades da escola em resistir e, nesse sentido, produzir uma contra-
ideologia (no sentido grasmciano). Assim, recaíram sobre os teóricos da reprodu-
ção as mesmas acusações de determinismo e organicismo que tanto criticaram
nas teorias funcionalistas.

A tragédia desta posição é que ela impede que os educadores de esquerda


desenvolvam uma linguagem programática para reformas pedagógicas ou escolares.
(...) Os educadores radicais concentram-se de tal forma na linguagem da dominação
que não resta qualquer esperança viável de se desenvolver uma estratégia
educacional política progressista. (...) Com efeito, os educadores radicais
desperdiçaram a oportunidade tanto de questionar o ataque conservador nas escolas
e as formas correntes nas quais as escolas reproduzem desigualdades arraigadas

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 93
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

como de reconstruir um discurso no qual o professor possa ser definido através


das categorias de democracia, autorização e possibilidade. (GIROUX, 1997, p. 27)

1.4 As contribuições das teorias da reprodução


Apesar das inúmeras críticas que podem ser feitas às teorias da reprodução,
não podemos deixar de verificar suas contribuições em educação. Podemos afir-
mar que um dos elementos marcantes do discurso reprodutivista é a criticidade.
Com efeito, este elemento parece ter perdurado e contribuído para a construção de
um novo discurso em educação, representado pela teoria da resistência.
Neste sentido, as teorias da reprodução podem ser vistas como um divisor de
águas, o ponto de partida, que indica uma ruptura entre teorias não-críticas e teori-
as críticas. As aporias e os sintomas de degeneração do sistema educacional
foram desvelados pelos teóricos da reprodução, que fizeram emergir seus proble-
mas. A problematização proposta por esses teóricos engrossa o coro da
desmistificação da escola e das crenças que despontam em torno da educação.
Com efeito, se por um lado as teorias da reprodução não apresentaram solu-
ções práticas e concretas para os problemas educacionais então desvelados, por
outro, abriram a caminho para que estas soluções fossem apontadas ou até mes-
mo erigidas por teóricos posteriores.
Ainda na década de 70, Freire e Saviani apresentam alternativas de interpreta-
ção do papel exercido pela escola na sociedade capitalista, buscando superar o
determinismo e a desesperança dos teóricos da reprodução. Seguindo modelos
diferenciados, Paulo Freire e Dermeval Saviani apontam possibilidades de resistên-
cia e transformação a partir da educação; fugindo de posicionamentos ingênuos e
eufóricos, procuram demonstrar o quão importante seria a escola para a constru-
ção de um discurso transformador.

2. EDUCAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIAL EM PAULO FREIRE


O estudo da obra de Paulo Freire nos ajuda a compreender questões da educa-
ção do presente que quase sempre são vistas a partir de referenciais do senso
comum. Entre elas está a noção de que a educação é um fator de desenvolvimento.
A palavra desenvolvimento, se analisarmos seu significado, proposto pelo dicioná-
rio Aurélio, vem carregada de um viés meramente econômico.
Há um simplismo nesta posição, uma vez que se atribui à formação escolar,
pura e simples, a solução para os problemas econômicos de um país. Ao contrário,
os números desmentem esta afirmativa, pois mesmo em países com alto investi-
mento em educação, como na Alemanha ou nos EUA, problemas graves de nature-
za social ainda persistem, como o alto número de desempregados e de marginali-
zados sociais de todas as naturezas.
A ingenuidade, portanto, está em não se observarem os meandros do funciona-
mento do atual modelo econômico neoliberal, que, conforme afirmam o consagrado
geógrafo brasileiro Milton Santos e o economista norte-americano John Galbraith, é

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

uma falácia, uma fantasia criada para justificar a dominação das grandes corporações
internacionais sobre a economia mundial.
Ao contrário, o desenvolvimento econômico, se visto e realizado em bases
justas, poderia promover uma educação de qualidade, com vistas à transformação
da sociedade.
Como ficamos então? Aceitamos o mero discurso de que há uma reprodução
do modelo social, feita no âmbito da escola?
Um dos conceitos centrais da obra de Paulo Freire é o da esperança. Uma
esperança que não seja ingênua, mas crítica. Como diz Ariano Suassuna, é prefe-
rível um “pessimismo esperançoso”, a um otimismo ingênuo ou acrítico, ou ainda,
um pessimismo cético.
Sem dúvida nenhuma, Paulo Freire é o educador brasileiro mais reconhecido
internacionalmente. Sua obra e reconhecimento, aliás, começaram no exterior.
Mesmo tendo iniciado sua carreira no Brasil, passando por todos os processos de
discussão sobre educação brasileira até os anos 60, produziu grande parte de sua
obra no exterior. A pedagogia do oprimido, sua obra fundamental, foi publicada
originalmente no Chile e nos Estados Unidos, para ser traduzida para o português
e publicada no Brasil somente em 1975.
Freire faz parte da tendência progressista em educação brasileira, criando a
“pedagogia da libertação”. Sua formação se dá, segundo muitos autores, em dois
momentos. Num primeiro momento incorpora o debate proposto pelo movimento da
“escola nova”, sobretudo assimilando a idéia da experiência prática, do cotidiano
vivido pelos sujeitos educandos. Esta influência veio através de Anísio Teixeira,
discípulo e divulgador da obra do filósofo pragmatista norte-americano John Dewey
no Brasil. Num segundo momento, Freire absorve as idéias do existencialismo
cristão para posteriormente produzir uma síntese entre suas influências iniciais e o
pensamento marxista. Freire, a partir daí, pode ser considerado um revisionista em
termos da aplicação das teorias marxistas em educação.
Hoje Paulo Freire pode ser considerado um pensador neomoderno, ou seja,
não cedeu ao falacioso discurso “pós-moderno”, que decretou a morte da razão e
dos horizontes utópicos. Ao contrário, sempre foi um árduo defensor de uma
racionalidade, mas vista em outras bases, não aquela racionalidade “instrumental”,
da qual fala o filósofo alemão contemporâneo Jürgen Habermas, mas de uma
racionalidade inserida no que ele chama de “teoria dialética do conhecimento”. Por
esta visão, caberia não pensar pensamentos, mas pensar o concreto. Paulo Freire
foi muito incompreendido e criticado por defender este ponto de vista, chegou a ser
visto até como um pensador que abriu mão da razão e da teoria, um idealista, como
dizia Dermeval Saviani, que apesar de ser também um educador progressista, cri-
ticava Freire por seu “idealismo”.
Ao levantarmos aspectos da crítica de Freire ao modelo tradicional de educa-
ção, veremos que as críticas a ele dirigidas são, em grande parte, infundadas. Em
primeiro lugar, questionava um processo acrítico de transmissão de conteúdos (edu-

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 95
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

cação bancária) e uma acentuação do aspecto formal em educação (tanto no que


se refere à alfabetização quanto em relação à assimilação dos conhecimentos
ditos “clássicos”). As letras, as palavras e o “conteúdo” não devem ser vistos antes
de seu significado. Num segundo aspecto, Freire foi um dos educadores brasileiros
que mais fez perceber que a educação está relacionada e intimamente ligada aos
processos de dominação existentes na sociedade de classes capitalista e propôs
que toda educação é um ato político (por influência direta da teoria gramsciana) e
nunca é um processo neutro.
Se considerarmos a própria realidade educacional brasileira ou mesmo a de
países como os EUA, veremos que os interesses privados têm dado o tom tanto às
concepções sobre o que é educar quanto às políticas públicas desenvolvidas por
governos neoliberais. No Brasil, reflexo do ideário do “estado mínimo”, vimos apro-
vados referenciais legais, como a LDB que se fundamentam nesta perspectiva,
flexibilizando ao máximo as regras públicas no âmbito da educação.
Há um movimento muito forte hoje, tanto acadêmico quanto popular, de resgate
da obra de Paulo Freire como mecanismo para reinterpretação dos dilemas atuais
no campo educacional. Sua proposta de educação popular tem sido muito relacio-
nada a propostas de outros grandes pensadores mundiais, como Habermas, por
fundamentar-se em conceitos como diálogo, intersubjetividade, compromisso trans-
formador, humanismo ético, experiência cotidiana, etc.
Vários projetos têm sido desenvolvidos pelo Instituto Paulo Freire, fundamen-
tando-se nessa nova teorização em curso, como o daEscola “ Cidadã ”,
“Ecopedagogia”, “Universidade Paulo Freire”, etc.
Com relação ao discurso freireano em torno das novas tecnologias em educa-
ção, podemos afirmar que Freire não caiu no “canto da sereia”, nesta euforia acrítica
em torno do tema. Ao contrário, dizia que a aplicação dessas tais “novas tecnologias”
é resultado dos interesses das classes dominantes e que não estancam a multipli-
cação de excluídos existentes em nossa sociedade. Classifica tal euforia como um
messianismo romântico, uma ilusão de equalização social produzida pela nova
cultura tecnológica. Os oprimidos continuam fora deste processo, as novas oportu-
nidades tecnológicas nunca serão para todos, apesar de constituírem um direito
fundamental que veio tarde.
Para comprovar o argumento de Paulo Freire, basta verificar a pesquisa produ-
zida pela UNESCO em treze capitais brasileiras e publicada no Jornal O Estado de
São Paulo em 30.04.2003. Constataremos que em 76% das escolas públicas bra-
sileiras não há utilização de computadores, ao passo que nas escolas privadas
este número cai para 14%. Entre os alunos de escolas públicas, 62% não possu-
em computador, já entre os de escolas privadas, apenas 18%. O acesso à internet
é muito restrito em escolas públicas, apenas 8,2% delas possui. Entre as escolas
privadas, 32% delas possuem internet. Estes dados podem ser complementados
com estudos realizados e apresentados no Fórum Educacional Tecnologia na Edu-
cação, promovido pela Intel, em São Paulo, em abril de 2003.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

3. DERMEVAL SAVIANI: RUMO A UMA PRÁXIS TRANSFORMADORA


O professor Dermeval Saviani é um dos mais importantes teóricos brasileiros
na área da educação na atualidade. Entre suas principais obras, podemos citar:
Educação Brasileira: Estrutura e Sistema (1973); Educação: do senso comum à
consciência filosófica (1980) e Escola e Democracia (1983) que já se encontra na
sua 36ª edição. Sua obra tem sido alvo de muitas críticas e também de muitos
desdobramentos, o que mostra ainda mais sua importância. Saviani esteve ainda
presente, atuante e sendo uma das lideranças, nas lutas em torno de uma nova
LDB mais avançada e democrática, desde o início dos debates em 1987.
Buscando superar o que chama de “crítico-reprodutivismo”, e ao mesmo tempo
as posições não críticas, Saviani desenvolve uma teoria sobre o papel específico da
escola e da educação recuperando os valores da educação tradicional no que diz
respeito à importância dos conteúdos.
Saviani parte de uma compreensão marxista do mundo e busca na obra de
Antonio Gramsci, a quem considera um marxista ortodoxo por buscar apenas no
marxismo sua orientação teórica, a linha de pensamento para o debate acerca do
papel da escola e da educação.
Partindo da Filosofia da Educação, que considera como sendo “uma reflexão
(radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta”
(Saviani, 1980, p. 27), procura compreender o papel específico da escola na socie-
dade, e assim debater acerca do potencial que essa instituição pode ter no proces-
so de transformação social.
Como marxista, Saviani está preocupado em desvendar os mecanismos pelos
quais as classes dominantes mantêm o capitalismo e apontar caminhos para a
transformação da sociedade. Como educador preocupa-se em identificar o papel
que poderá cumprir a escola em tal processo.
Para empreender tal debate, Saviani inicia por apontar o que considera como
problemas e limitações das teorias educacionais, às quais intitula “pedagogias da
essência e da existência”. Indica com clareza que a pedagogia nova (proveniente
do movimento da escola nova, nos anos 30), ou pedagogia da existência, tem um
papel conservador na medida em que representa uma teoria pedagógica burguesa,
cuja lógica prende-se ao liberalismo, não sendo sequer democrática (SAVIANI,
1986, p. 52). Tal projeto prende-se, necessariamente, à manutenção da hegemonia
da classe dominante, sendo por vezes, equivocadamente, utilizado por setores que
pretendem contribuir para a transformação social.
Para combater tais perspectivas escolanovistas, Saviani defende alguns valo-
res que vê encarnados na proposta pedagógica da escola tradicional, ou conteudista.
Com isso considera que está fazendo a “curvatura da vara”, ou seja, criticando além
do necessário a escola nova e defendendo além do recomendável a escola tradici-
onal, na perspectiva de que tal crítica coloque o debate (ou vara em sua analogia)
no seu devido lugar.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Considerando que as perspectivas que chama de “crítico-reprodutivistas” são


críticas, “uma vez que postulam não ser possível compreender a educação senão a
partir de seus condicionantes sociais” (SAVIANI, 1986, p. 19), mas não conse-
guem propor saídas adequadas à educação, propõe-se ele próprio a formular uma
alternativa de caráter crítico, porém inovador. Para Saviani podem ser considera-
das “crítico-reprodutivistas” as concepções de P. Bourdieu e J. C. Passeron, ex-
pressas na obraA Reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino,
que expressaria a “teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica”; de L.
Althusser e sua teoria da escola enquanto aparelho ideológico de Estado; e a de C.
Baudelot e R. Establet, exposta no livro L’ecole capitaliste em France, que classi-
fica como “teoria da escola dualista” (SAVIANI, 1986).
De maneira geral considera tais concepções como limitadas, inicialmente por-
que

Na verdade estas teorias não contêm uma proposta pedagógica. Elas se empe-
nham tão somente em explicar o mecanismo de funcionamento da escola tal como
está constituída. Em outros termos, pelo seu caráter reprodutivista, estas teorias
consideram que a escola não poderia ser diferente do que é. (SAVIANI, 1986, p.
34)

Nesse sentido considera que o papel específico e essencial da escola seja


exatamente trabalhar os conteúdos socialmente acumulados, possibilitando que
os setores oprimidos e dominados tenham acesso a ele, assim

A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam
o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o acesso aos rudimentos desse
saber. (...) Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler, escrever,
contar, os rudimentos das ciências naturais e das ciências sociais (história e
geografia humanas) (SAVIANI, 1986, p. 23).

Na sua perspectiva, procedendo dessa forma a escola estaria possibilitando às


pessoas oriundas das camadas populares a ascensão do senso comum, “uma
concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecâni-
ca, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita,
original, intencional, ativa e cultivada” (SAVIANI, 1980, p. 10), ou seja, à consciên-
cia filosófica. Tal mudança na maneira de pensar e agir das camadas populares é
a tarefa fundamental da escola, sua contribuição ao processo de contra-hegemonia,
é “condição necessária para situar a educação numa perspectiva revolucionária”
(SAVIANI, 1980, p.13), colocando-a efetivamente a serviço das camadas popula-
res, possibilitando a seus membros “a passagem da condição de ‘classe em si’
para a condição de ‘classe para si’” (SAVIANI, 1980, p.13).
É nessa perspectiva que Saviani defende o que considera uma teoria realmente
crítica sobre o papel da educação e da escola, ou seja, buscando o caráter especí-
fico da escola na sociedade e nele verificar a possibilidade de que esta venha a

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

contribuir com a transformação social. Por isso o empreendimento de demonstrar o


potencial transformador da escola e o papel central do professor nesse processo. A
centralidade do processo ensino-aprendizagem e, portanto, do conteúdo e do pro-
fessor como agente, são defendidos por Saviani como parte de um projeto de trans-
formação social e da construção da contra-hegemonia.
Muito há por criticar em tais posições. Aliás, muito se tem feito e escrito nesse
sentido. No entanto há que se resgatar a importância desse autor no Brasil, parti-
cularmente nos anos 80, quando se encaminhava o resgate, conforme mencionado
já no presente texto, de uma perspectiva transformadora em que a educação e a
escola pudessem ter um papel ativo, exatamente quando os professores e alunos
saíam às ruas pedindo “diretas já”, cidadania e mais democracia.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das posições teóricas aqui abordadas, caberia indagar qual é o papel da
educação no mundo globalizado de hoje: seria a escola apenas espaço de reprodu-
ção social e cultural ou uma via de transformação?
Mediante as dúvidas que se nos apresentam, acreditamos que a escola seja
um espaço tanto de reprodução como de transformação social, isto porque cons-
titui um local de circulação de idéias, aparentemente livres, capazes de
“refuncionalizar” a dinâmica da instituição, passando de uma situação de reprodu-
ção a uma de transformação social, num sentido gramsciano (FREITAG, 1980).
Apesar das críticas severas sofridas no início dos anos 80, as teorias da repro-
dução, acusadas de não oferecerem saídas concretas aos problemas educacio-
nais, têm sua parcela de contribuição para a construção de uma teoria da resistên-
cia, pois desvelaram o funcionamento do sistema educacional, permitindo aos teó-
ricos da resistência, entre os quais Saviani e Freire, discutir e propor algumas
saídas para a escola moderna. Neste sentido, alguns autores como Tomaz Tadeu
da Silva (1992), afirmam que as teorias da resistência são na verdade um refina-
mento teórico das teorias da reprodução, não se apresentando como corpos teóri-
cos fechados e antagônicos.
Vimos, tanto na proposta de Freire como na proposta de Saviani, alguns cami-
nhos alternativos para a educação moderna. Apesar das diferenças teóricas que
marcam os dois autores, ambos atribuem à educação, e neste sentido à escola,
um papel estratégico, seja enquanto espaço de diálogo ou conscientização.
Evidentemente, não podemos ser ingênuos e acreditar que somente a escola é
capaz de proporcionar todas as transformações sociais e culturais necessárias.
Porém, se não podemos creditar à escola um papel messiânico, não é menos
verdade que não podemos ignorar sua influência.
Em tempos de globalização e de neoliberalismo, tais como os que vivemos, em
que a educação tem sido tratada cada vez mais como mercadoria, como serviço a
ser prestado e comprado no mercado e cada vez menos como direito social
constitutivo dos direitos fundamentais da cidadania, trata-se de retomar o estudo

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

crítico e criativo dos autores estudados e apontados nesse texto, para repensar o
papel da educação e da escola na perspectiva de transformação social.
As mudanças dos tempos algumas vezes provocam também mudanças na
forma de exclusão e de reprodução da estrutura social e cultural da sociedade pela
escola, não alterando, porém, seu papel reprodutor, como apontavam autores cita-
dos acima. Trata-se, nesse momento, de empreender estudos que busquem verifi-
car essa exclusão e reprodução em novos moldes e também, e principalmente, a
construção de alternativas que apontem, como Freire e Saviani, para um papel
transformador da educação e da escola.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TENDÊNCIAS A SEREM MONITORADAS NA ÁREA


DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÕES

Vivaldo José Breternitz*

RESUMO
O objetivo deste trabalho é trazer aos administradores conceitos e informações acerca de
algumas das tendências na área de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) que, acredita-
se, devam ser monitoradas em função das oportunidades e ameaças que podem trazer às organi-
zações em prazo curto ou médio.
Ao discutirem TIC, as organizações colocam em primeiro plano os aspectos relativos à efici-
ência e à segurança. Eficiência, no sentido de otimizar a utilização dos recursos disponíveis, é
fundamental numa época de hipercompetição, margens cada vez menores, etc. Segurança, englo-
bando aspectos como confidencialidade e furto de dados, disponibilidade de sistemas, proteção
contra vírus e assemelhados, sabotagem, etc., é assunto cada vez mais prioritário.
Além da eficiência e segurança, deve também ser considerada como objetivo do uso da TIC a
obtenção da flexibilidade suficiente para que a organização possa mudar seus rumos no momento
adequado e agilidade tal que permita reagir às mudanças do ambiente em que atua.
Este trabalho não pretende esgotar o assunto – tendências na área da TIC são detetadas,
consolidam-se ou deixam o cenário com rapidez, pelo que se reitera a importância do monitoramento
constante da área pelos administradores, não só por aqueles que atuam na área de TIC propria-
mente dita, mas também pelos que atuam nas áreas de negócios.
A inclusão do tema no processo de planejamento estratégico pode auxiliar bastante no sentido
de que esse monitoramento seja feito de forma sistemática e eficiente.

Palavras-chave : Informação, comunicação, eficiência, segurança, tendências.

ABSTRACT
The objective of this paper is to present administrators with concepts and information concerning
trends in the information and communications technology (ICT) field that should be monitored due to
the short or mid term opportunities for and threats to organizations.
When discussing ICT, organizations give priority to issues related to efficiency and security.
Efficiency, in the sense of optimizing the use of available resources, is fundamental in this hyper
competitive era. Security, including aspects such as: maintaining confidentiality of information,
inhibiting data theft, assuring system readiness, protecting against viruses and sabotage, etc., is
also increasingly prioritized.
Besides efficiency and security, another objective of the use of ICT should be to acquire
sufficient flexibility and agility for organizations to timely adapt methods and react to changes in
their environment.
This study does not intend to be exhaustive. Trends in the ICT area are fast moving and
dynamic, for which reason the importance of constant monitoring by administrators is advised, not
only for those that work in the ICT area itself, but also for those in other related areas.
To include the theme in the strategic planning process may significantly contribute in the sense
that this monitoring could then be done in a systematic and efficient manner.

Key words: information, communication, efficiency, security, trends.

* Mestre em Engenharia Elétrica, professor do Centro Universitário Padre Anchieta e da Universidade


Presbiteriana Mackenzie. Rua Profa. Joceny Vilella Curado 73, Jundiaí (vjbreternitz@mackenzie.br).

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INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é trazer aos administradores conceitos e informações
acerca de algumas das tendências na área de Tecnologia da Informação e Comuni-
cações (TIC) que, acredita-se, devam ser monitoradas em função das oportunida-
des e ameaças que podem trazer às organizações em prazo curto ou médio.
Na atualidade, ao discutirem a utilização de TIC, as organizações colocam em
primeiro plano os aspectos relativos à eficiência e à segurança. Eficiência, no sen-
tido de otimizar a utilização dos recursos disponíveis, é fundamental numa época
de hipercompetição, margens cada vez menores, etc.
Segurança, englobando aspectos como confidencialidade e furto de dados,
disponibilidade de sistemas, proteção contra vírus e assemelhados, sabotagem,
etc., é assunto cada vez mais prioritário. Os aspectos relativos à segurança rece-
bem cuidados especiais. Em sua edição de 19/02/2005, o jornal O Estado de S.
Paulo informa que Ralph Basham, diretor do Serviço Secreto dos Estados Unidos,
participando da RSA Security Conference, realizada em San Francisco, disse que
fraudadores on-line ameaçam seriamente a economia dos Estados Unidos, o que
mostra a gravidade de que se reveste o assunto.
Apenas em 2002, os prejuízos financeiros dos bancos e empresas causados
por esse tipo de fraude foram da ordem de US$ 32 bilhões e os das pessoas físicas
cerca de 3,8 bilhões, sem contar os dissabores e o trabalho necessários à resolu-
ção dos problemas decorrentes de situações como essas (BRETERNITZ, 2003).
Cabe observar que eficiência e segurança não necessariamente convergem,
podendo, no curto prazo, ser até mesmo divergentes: o desejo ou a necessidade
de implantar rapidamente novos sistemas ou a opção pela redução de investimen-
tos podem gerar a diminuição das preocupações com segurança.
Este trabalho foca as tecnologias que são de interesse mais amplo e imediato,
deixando de abordar temas de interesse muito restrito ou que demandarão um time
to market muito longo, como por exemplo, nanotecnologia ou semantic web. Pas-
saremos agora a abordar as tendências que julgamos devam ser monitoradas.

VOZ SOBRE IP (VOICE OVER INTERNET PROTOCOL - VOIP)


A utilização da Internet para comunicação telefônica está afetando modelos de
negócio, com os provedores de acesso à Internet estruturando-se para fornecer
esses serviços. VoIP chegou ao mercado em meados da década de 90, apresen-
tando à época qualidade de serviço insatisfatória e instalação muito complexa.
Mas na medida em que o serviço tem sua qualidade melhorada, se torna mais
amigável e seguro (especialmente objetivando impedir “grampos”), mais e mais
usuários se dispõem a utilizar a Internet para fazerem ligações telefônicas para
qualquer parte do mundo pagando apenas pela conexão à rede. Empresas que
utilizem intensivamente telefonia interurbana e/ou internacional estão instalando
estruturas para utilizar intensivamente essa tecnologia; em fins de 2004, a duração
das ligações internacionais via VoIP superou a das realizadas via sistemas conven-

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

cionais. Para a efetiva utilização de VoIP, é fundamental que os circuitos telefôni-


cos sejam do tipo Digital Subscriber Line (DSL), de banda larga e capazes de
suportar grande volume de tráfego.
No curto prazo, grande parte das chamadas de voz continuarão a utilizar a rede
telefônica convencional (PSTN - Public Switched Telephony Network ), devido à sua
maior qualidade e confiabilidade. Acredita-se, no entanto, que as operadoras de
PSTN reduzirão seus preços em resposta à concorrência de VoIP, e aumentarão
seus esforços de marketing na tentativa de estimular o volume de chamadas nas
redes fixa e celular, reforçando seu aparato tecnológico, investindo em telefones
mais sofisticados, com teclas de conveniência que permitam, por exemplo, memo-
rizar números, enviar mensagens de texto, teleconferência, etc.
Também é licito esperar-se que soluções híbridas se popularizem, com empre-
sas utilizando VoIP e PSTN onde cada uma delas melhor se adequar, atendendo às
exigências de eficiência e segurança.

TECNOLOGIAS SEM FIO (WIRELESS)


As tecnologias de comunicação móveis, sem fio, cuja face mais visível são os
telefones celulares, foram concebidas inicialmente para comunicação telefônica
(voz), mas estão ganhando espaço rapidamente no mundo da comunicação de
dados.
A possibilidade do usuário de um notebook acessar a rede de uma organiza-
ção sem se conectar à rede de telefonia convencional aumenta sua eficiência.
Ocorre, no entanto, que determinados equipamentos, como por exemplo os PDA
(Personal Digital Assistants), ainda têm dificuldades em acessar determinados
sistemas de informação que foram desenvolvidos para computadores convencio-
nais. Essas dificuldades vem sendo removidas, mas esses equipamentos ainda
têm algumas deficiências no que se refere a apresentação (telas pequenas, por
exemplo), transmissão de dados via banda larga, etc.
As redes locais sem fio (WLAN - Wireless Local Area Network ), que permitem
essa conexão, deverão nos próximos anos ser combinadas com outras tecnologias
emergentes, em especial a terceira geração dos telefones celulares (UMTS - Uni-
versal Mobile Telecommunication System) e a WiMax (Worldwide Interoperability
for Microwave Access), elevando a taxa de transmissão a até 70 megabits por
segundo (dezenas de vezes superior à oferecida pela banda larga atualmente, dis-
ponibilidade prevista para 2007) a uma distância de até 50 quilômetros (contra os
atuais 500 metros), viabilizando assim novas aplicações. Aspectos relativos à
segurança, em especial confidencialidade, ainda são os pontos fracos dessas
tecnologias, que, no entanto, abrem novos horizontes em termos de aumento da
eficiência dos trabalhadores que a utilizarão.

COMPUTAÇÃO EM GRADE (GRID COMPUTING)


A idéia central da Computação em Grade (Grid Computing – GC) é conectar um

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

grande número de computadores de forma a criar uma estrutura com grande capa-
cidade de processamento e armazenagem de dados, funcionando com um único
grade computador. A idéia nasceu da constatação de que usuários domésticos
normalmente utilizam uma parcela relativamente pequena da capacidade de
processamento e armazenagem de dados de seus PCs. Partindo dessa constatação,
foi lançado em 1999 o projeto SETI@home (Search for Extraterrestrial Intelligence),
coordenado pela Universidade da Califórnia (Berkley) e que busca identificar sinais
de rádio vindos do espaço em busca de evidências acerca da existência de vida
fora da Terra. A estrutura do SETI conta hoje com cinco milhões de PCs, espalha-
dos por 226 países.
O conceito evoluiu em função das necessidades de processamento intensivo
para a realização de atividades científicas complexas. Redes como essas têm
algumas vantagens óbvias, como a maximização do uso dos recursos disponíveis,
às quais correspondem desvantagens também óbvias, como as dificuldades para
administração da rede, segurança, etc. Em função disso, pode-se dizer que GC é
adequada apenas quando se trata de processos padronizados e estruturados, cla-
ramente delimitados e em que questões de segurança não sejam muito relevantes.
Um dos maiores projetos de GC é o TeraGrid, que reúne universidades, institui-
ções de pesquisa e empresas, em sua maioria norte-americanas, que em 2004 já
tinha capacidade de computação de vinte teraflops (vinte trilhões de operações por
segundo) distribuídos por nove sites, com capacidade de armazenamento de da-
dos da ordem de um petabyte, ou 250 bytes (www.teragrid.org). Outras aplicações
muito conhecidas são as da Universidade da Pensylvannia, que utiliza grid para
armazenar imagens de mamografias, a Network for Earthquake Engineering and
Simulation, grid que reúne 20 laboratórios que pesquisam movimentos sísmicos, e
o San Diego Supercomputer Center, que utiliza GC para mapeamento do cérebro
humano. A experiência pioneira de GC em escala global é a do IVDGL (International
Virtual Data Grid Laboratory), com nós espalhados pelo mundo e que pretende dar
suporte a experimentos nas áreas de física e astronomia.
Existem problemas para transformar GC em negócio, em especial a definição
de critérios de apuração de custos pela utilização de recursos de terceiros; no
entanto, empresas que operam grandes data centers talvez possam vir a se bene-
ficiar da idéia. Grandes organizações, com um vasto parque de equipamentos,
talvez possam otimizar seus recursos criando intragrids.
Num futuro mais remoto, que foge ao escopo deste trabalho, talvez se possa
falar em utility computing, com os usuários consumindo recursos de processamento
do mesmo modo como consomem água ou energia, sem se preocuparem com o
local de onde provêm esses recursos e pagando apenas pelo que usarem.

CRIPTOGRAFIA QUÂNTICA
Do que já se viu até o momento, os problemas relativos à confidencialidade das
informações estão entre os mais críticos no que tange à segurança; esses proble-

106 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

mas vêm sendo enfrentados recorrendo-se à criptografia – até o final de 2004, 29%
das empresas norte-americanas já se utilizavam dessa ferramenta (SURMACZ,
2005). Ocorre porém que a disponibilidade de computadores mais poderosos au-
menta a possibilidade de quebra de códigos e conseqüentemente da
confidencialidade (SUGIMOTO, 2004).
Dado esse cenário prevê-se que a criptografia convencional, baseada em cha-
ves, deve ser substituída pela criptografia quântica no final desta década. Diferente-
mente da criptografia clássica, que se apóia na aplicação de chaves baseadas em
princípios matemáticos, a criptografia quântica apóia-se na física. As mensagens
são codificadas com o uso de fótons (partículas associadas a campos magnéti-
cos), e, se interceptadas, se corrompem, impedindo a decodificação; a técnica
permite que caso isso aconteça, o processo de codificação e transmissão seja
imediatamente reiniciado. A técnica deve tornar praticamente impossível a decifra-
ção das mensagens assim criptografadas.

BIOMETRIA COMO FERRAMENTA DE IDENTIFICAÇÃO


O uso de características físicas ou comportamentais como ferramenta para a
identificação de pessoas é chamado genericamente biometria. Dentre as caracte-
rísticas físicas, podemos citar impressões digitais, geometria da face, contorno da
mão, padrões da íris e da voz, etc. Quanto às características ditas
“comportamentais”, podem-se citar os movimentos feitos ao caminhar, a forma de
digitar (os antigos operadores de código Morse reconheciam outro operador pelo
ritmo em que transmitiam), a assinatura, etc.
A utilização da biometria, aliada à criptografia quântica, deve se confirmar como
importante fator na busca da segurança dos sistemas de informação. Como conse-
qüência dos recentes eventos terroristas, muitos governos têm trabalhado intensi-
vamente no assunto, o que deve fazer com que a área se desenvolva rapidamente;
a empresa de consultoria Frost & Sullivan estima que o mercado mundial de equi-
pamentos, serviços e software voltados à biometria deve saltar de cerca de 150
milhões de Euros em 2002 para seis bilhões em 2010.

SOFTWARE LIVRE
Em TIC, tecnologias abertas são aquelas que permitem aos usuários conhece-
rem como funcionam os diversos componentes de um sistema. A mais comum
dessas tecnologias é a chamada open source, programas conhecidos como
“software livre”, em que são permitidas a cópia, a alteração e a distribuição do
código fonte. Uma das principais características do software livre é a possibilidade
de fazer modificações num produto original e até mesmo desenvolver novos produ-
tos baseados em produtos anteriores sem qualquer tipo de dependência em rela-
ção ao fornecedor original.
Assim, o desenvolvimento de sistemas abertos tende a ser descentralizado,
apresentando diversas vantagens em relação às tecnologias fechadas ou proprietá-

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 107
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

rias: melhor adequação às necessidades de cada usuário, rapidez no desenvolvi-


mento e custos mais baixos, principalmente.
Os principais problemas para a utilização de software livre são a falta de supor-
te adequado, a falta de uma massa crítica de aplicativos que permita o atendimento
de um maior número de necessidades, a relativa “imaturidade” dos produtos e a
falta de pessoal treinado, diz a empresa de pesquisas Forrester Research, em
pesquisa realizada em 2004.
Em países como o Brasil, TIC abertas tendem a ser mais eficientes do que as
proprietárias, uma vez que a descentralização do seu desenvolvimento permite a
criação de produtos mais adequados à nossa realidade a custos significativamen-
te inferiores. Além disso, a independência em relação ao fornecedor original é
importante para países que não dispõem de recursos para atualizar continuamente
seus sistemas de informação em função dos interesses das grandes produtoras
de software, interesses esses nem sempre convergentes com os desses países.
A utilização desoftware livre tende a gerar mais empregos nos países que o
utilizam, economizar divisas, etc; sua utilização em conjunto com software propri-
etário acaba tornando as empresas mais eficientes, especialmente quando ferra-
mentas como sistemas operacionais, gerenciadores de bancos de dados, editores
de texto e planilhas eletrônicas substituem seus correspondentes baseados em
tecnologia fechada. É importante mencionar que software livre não é sinônimo de
software gratuito, mas, como se disse, sua utilização de forma adequada tende a
trazer mais eficiência.
Outro ponto a ser considerado é a possibilidade de se desenvolver mão-de-
obra local para criação de software. É estratégico para o país dispor de mão-de-
obra capaz de desenvolver TIC, e não apenas aplicá-las. A opção por software livre
induz à formação de mão-de-obra qualificada.
No Brasil, nota-se um aumento no uso do software livre, especialmente pelo
poder público e universidades, embora já se observe a utilização desse tipo de
ferramenta no mercado corporativo. Nota-se também a presença de empresas que
baseiam seu modelo de negócio em software livre, desenvolvendo aplicativos, for-
necendo serviços de consultoria e treinamento, etc.

TERCEIRIZAÇÃO (OUTSOURCING)
Em tempos de busca de eficiência, a terceirização de processos de TIC tende
a ser uma opção especialmente atraente. Empresas situadas em países desenvol-
vidos têm a opção de praticá-la na modalidade offshoring, transferindo trabalhos
para empresas situadas em países onde a mão-de-obra tem custo menor – apenas
para comparação, o custo hora de um programador de computadores na Rússia é
de 9,24 euros, enquanto nos Estados Unidos esse valor vai a 44 e na Alemanha a
54 euros (SCHAAF, 2004).
Cabe observar, no entanto, que determinados processos não podem ser
terceirizados sem riscos, em função de sua importância estratégica para a organi-

108 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

zação ou por sua especificidade. A terceirização usualmente traz bons resultados


se o processo a ser terceirizado for bastante estruturado, puder ter seus limites
claramente traçados no interior da organização e não exigir interação intensiva com
outros processos da organização.
Uma modalidade de terceirização que vem despontando é a do aluguel de
software; ela se insere num conceito maior, em que os recursos de informática
seriam utilizados de forma análoga à que se pratica atualmente para luz e água:
pagar-se-ia pelo efetivamente utilizado, quer se trate de hardware, software ou ser-
viços profissionais. O instituto de pesquisa IDC estima que a demanda por aluguel
de software vá aumentar em 25% ao ano até 2008, quando atingirá US$ 9 bilhões;
esse ritmo de crescimento é impressionante, quando comparado ao crescimento
de 5% esperado para a indústria de TIC como um todo (EXAME, 2005).
Os problemas trazidos pela terceirização normalmente são decorrentes da má
escolha do terceirizado, da não existência de adequados acordos de nível de servi-
ço e da preparação inadequada das estruturas da organização para a terceirização,
especialmente no que se refere a pessoal. Fagundes (2005) relata que grandes
organizações estão reassumindo processos terceirizados por terem experimenta-
do problemas com a terceirização de processos estratégicos na área de sistemas
de informações. O mesmo autor enfatiza a necessidade de que as empresas pro-
curem preservar a habilidade de “ver” o futuro e que para atingir esse objetivo devem
manter uma estrutura de especialistas em TIC capazes de alinhar as tecnologias
disponíveis com os modelos de negócios da empresa, com flexibilidade para aten-
der aos requisitos de mercado no tempo certo (time to market).

ETIQUETAS ELETRÔNICAS
As e-tags ou etiquetas eletrônicas RFID (Radio Frequency Identification - Iden-
tificação por Rádio Freqüência) são etiquetas compostas basicamente por um chip
muito simples e uma antena, que emitem sinais de rádio, enviando informações
acerca da identificação, características e localização do produto ao qual estão
afixadas. Seu custo logo estará na faixa dos três centavos de dólar por unidade,
tornando economicamente viável sua utilização no controle de um grande número
de produtos.
As e-tags deverão ter inúmeras aplicações, mas é no comércio varejista que
sua utilidade se torna mais evidente. Nas lojas, poderemos ter automaticamente
alterações de preços, alertas sobre datas de validade expiradas, emissão de or-
dens de reposição, proteção contra furtos, check-out rápido, etc. As etiquetas são
muito finas, podendo se adaptar a superfícies cilíndricas, facilitando a aplicação e
ficando imperceptíveis aos olhos do cliente; podem ser aplicadas sob os rótulos, de
forma a que nem mesmo os funcionários das lojas consigam localizá-las com faci-
lidade.
A possibilidade de se controlar automaticamente o fluxo de produtos e peças
por toda a cadeia de suprimentos, identificando cada item individualmente, abre

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 109
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

inúmeras possibilidades para a gestão eficiente dessa cadeia, otimizando o relaci-


onamento fabricante/distribuidor/vendedor/consumidor, acabando por permitir a prá-
tica de preços mais baixos. Isso será possível pela possibilidade de manutenção
de menores estoques, redução de perdas, otimização das linhas de produção, etc.
Essa tecnologia começou a ser desenvolvida na década de 90, por um consór-
cio formado por instituições de pesquisa, como o Massachusetts Institute of
Technology (MIT) e empresas como Procter & Gamble, Gillette e outras – essas
duas, não por coincidência, produtoras de bens de consumo que vendem milhões
de unidades por todo o mundo e que recentemente passaram à propriedade do
mesmo grupo empresarial.
Acredita-se que a adoção das e-tags será gradual, em função de questões
como custos, privacidade, segurança, etc. – de qualquer forma, já se fala que até
2008 o mercado dessas etiquetas e de produtos ligados a elas (leitores, gravado-
res, etc.) girará cerca de US$ 3 bilhões. A tecnologia de código de barras deve
acabar sendo totalmente substituída pelas e-tags.
Por falar em segurança, é ilustrativo o caso do grupo Benetton, que por exigên-
cia de seus clientes teve de suspender a aplicação de 15 milhões de etiquetas em
roupas e acessórios que comercializa. As e-tags seriam aplicadas às peças duran-
te o processo de fabricação e ali permaneceriam durante todo seu ciclo de vida; as
informações que constariam da etiqueta incluiriam estilo, cor, tamanho e destinação
das peças, objetivando facilitar a distribuição e controle de estoques. Embora a
Benetton houvesse alertado os consumidores de que as etiquetas seriam
desativadas ao saírem do ponto de venda, não foi possível convencê-los de que não
seriam rastreados por onde fossem, e essa realmente é uma perspectiva pouco
agradável.
Há também problemas de natureza ambiental que provavelmente retardarão o
processo de adoção das e-tags: nos Estados Unidos, são permitidas etiquetas
com potência de até 2 watts, enquanto na União Européia esse valor cai a 0,5 watt,
reduzindo a distância em que as informações poderão ser lidas e conseqüente-
mente a utilidade da tecnologia; essas restrições devem-se a preocupações com
os efeitos da radiação eletromagnética sobre a saúde.

ARQUITETURA ORIENTADA PARA M O D E L O S ( M O D E L DRIVEN


ARCHITECTURE - MDA)
A crescente velocidade com que novas ferramentas vêm sendo incorporadas ao
arsenal de TIC, muitas vezes tornando rapidamente obsoletos computadores, sis-
temas operacionais, linguagens, etc., faz crescer muito a necessidade de redesenho,
reprogramação e adaptação de aplicativos a novos ambientes computacionais; esses
serviços têm custos elevados e a intensidade de sua utilização gera pesados en-
cargos às organizações.
Visando a enfrentar esses problemas, surgiu o Object Management Group (OMG,
www.omg.org), uma organização sem fins lucrativos que pretende estabelecer e

110 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

manter padrões para a área de engenharia de software, de forma a permitir, princi-


palmente, que sistemas sejam desenvolvidos sem que haja preocupação quanto
ao ambiente em que serão processados.
Sistemas gerados de acordo com esses padrões praticamente não precisam
ser alterados quando gerenciadores de bancos de dados, hardware ou sistemas
operacionais são mudados, gerando economias e conseqüentemente eficiência
para as organizações que os adotarem, não só eliminando a necessidade de
redesenho, reprogramação e adaptação de aplicativos a novos ambientes
computacionais, como também reduzindo necessidades de treinamento dos
desenvolvedores, reduzindo erros, acelerando o processo de teste de sistemas,
melhorando os padrões de documentação, diminuindo o tempo que alterações le-
variam para ser implantadas, etc. Esse conjunto de características aumenta tam-
bém a segurança dos sistemas de informação.
O principal padrão produzido pela OMG é a Arquitetura Orientada para Modelos
(Model Driven Architecture - MDA), que pode ser considerada um framework para
desenvolvimento de software centrado na definição de modelos. Esse framework é
baseado em padrões como UML (Unified Modeling Language), MOF (Meta-Object
Facility), CWM (Common Warehouse Meta-model), XML(Extensible Markup
Language), etc.
Para um futuro mais remoto, fica a idéia de uma “máquina programadora”
(programming machine), estrutura capaz de receber informações acerca das ne-
cessidades dos usuários e, analisando os modelos disponíveis, juntar partes dos
mesmos, de forma a gerar automaticamente sistemas que atendam às referidas
necessidades.

GERENCIAMENTO DO CICLO DE VIDA DA INFORMAÇÃO (INFORMATION


LIFECYCLE MANAGEMENT - ILM)
O imenso volume de dados que são armazenados nas redes de computadores
de uma organização gera custos elevados, não apenas pelo seu volume e diversi-
dade (textos, sons, imagens), mas também pelas redundâncias que freqüentemente
ocorrem, e pela necessidade de manutenção de estruturas de administração que
permitam o adequado gerenciamento desses dados. A se considerar, também, os
riscos derivados de perda, furto e vazamento de informações.
O conceito de ILM consiste em alocar os dados dentro dos meios físicos dispo-
níveis, com base numa hierarquia que avalia a importância de cada informação para
a organização, otimizando a relação eficiência versus segurança.
Diante desse cenário, empresas estão se organizando para assumir a tarefa de
gerenciar todo o ciclo de vida dessas informações, atuando de forma terceirizada e
cuidando de todos os aspectos relativos ao assunto, fornecendo desde a armaze-
nagem propriamente dita até ferramentas de recuperação, serviços de consultoria e
implementação, etc. Já estão operando também algumas empresas que fornecem
serviços específicos, além de hardware (fitotecas robotizadas, cartuchos, discos

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 111
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

de alta performance, etc.).


As empresas precisam compreender que ILM não é apenas um back up sofis-
ticado, mas sim um conjunto que compreende o conhecimento acerca dos dados,
sua hierarquização em termos de importância para a organização, inter-relaciona-
mento, necessidade de guarda, sensibilidade em termos de perda, furto e vaza-
mento, freqüência de uso, etc., de forma a que se possa atingir uma relação ótima
entre eficiência e segurança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As TIC são vitais para qualquer organização; sua utilização de maneira equivo-
cada pode gerar ineficiência, impedindo que a organização atue de forma efetiva e,
quando for o caso, mantenha-se competitiva. Além da eficiência e segurança, deve
também ser considerada como objetivo do uso da TIC a obtenção da flexibilidade
suficiente para que a organização possa mudar seus rumos no momento adequado
e agilidade tal que permita reagir às mudanças do ambiente em que atua.
Isso posto, fica clara a importância do acompanhamento das tendências na
área pelos administradores, de forma a que possam tomar providências no sentido
de que as escolhas de equipamentos e serviços de TIC sejam as melhores possí-
veis.
Cabe também registrar que este trabalho não pretende esgotar o assunto –
tendências na área das TIC são detectadas, consolidam-se ou deixam o cenário
com rapidez, pelo que se reitera a importância do monitoramento constante da
área pelos administradores, não só por aqueles que atuam na área de TIC propria-
mente dita, mas também pelos que atuam nas áreas de negócios.
A inclusão do tema no processo de planejamento estratégico pode auxiliar
bastante no sentido de que esse monitoramento seja feito de forma sistemática e
eficiente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRETERNITZ, Vivaldo José. Roubo de identidade. Belo Horizonte, O Tempo, 24


set. 2003.

Deixa que ele cuida do software. São Paulo, Exame, 30 mar. 2005.

FAGUNDES, Eduardo Mayer. Quais são as promessas da terceirização das áreas


de tecnologia da informação nas empresas ? Disponível em: <http://
www.efagundes.com/Artigos>, acesso em: 12 mar. 2005.

SCHAAF, Jurgen. Offshoring: globalisation wave reaches services sector. Frank-


furt am Main, Deutsche Bank Research, 27 set. 2004.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

SUGIMOTO, Luiz. O que os cientistas reservam para Alice, Bob e a espiã Eva.
Campinas, Jornal da Unicamp, 7 a 21 jun. 2004.

SURMACZ, Jon. Less than one-third of companies have deployed encryption to


desktops. Disponível em: <www.csoonline.com/metrics/viewmetric.cfm?id=784>,
acesso em: 20 mar. 2005.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 113
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

114 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE COM


METODOLOGIA PRAXIS AUXILIADA PELA
FERRAMENTA CASE RATIONAL ROSE

André Fernando Tetto*


Peter Jandl Junior**
RESUMO
Este trabalho pretende verificar como o emprego da metodologia Praxis pode ser suportado de
maneira efetiva pelo uso conjunto da ferramenta CASE Rational Rose. A análise desta metodologia,
de seus artefatos e da contribuição da ferramenta escolhida permite apresentar algumas das
vantagens e desvantagens desta combinação no processo de desenvolvimento de software.

Palavras-chave: engenharia de software, processo de software, desenvolvimento de


software, metodologia de desenvolvimento, CASE.

ABSTRACT
The aim of this study is to verify how the use of the Praxis methodology can be effectively
supported by the use of the Rational Rose Case Tool. The analysis of this methodology, its artifacts
and the contributions of the selected tool exposes some advantages and restrictions of the proposed
association in the software development process.

Key words: software engineering, software process, software development, development


methodology, CASE.

INTRODUÇÃO
Quando projetos de programas de computação complexos são realizados de
maneira informal, isto é, sem auxílio de metodologias apropriadas de desenvolvi-
mento, aumentam-se os riscos deste processo levando, com freqüência, a situa-
ções desagradáveis: cronogramas em atraso, insatisfação do cliente e baixa quali-
dade do software produzido. Quando funcionam é devido a talentos individuais, mas
os sucessos quase nunca se repetem, sem considerar o desperdício de recursos e
dinheiro quando assim conduzidos (PAULA, 2003; PRESSMAN , 2003; W IKIPEDIA, 2005).
A Engenharia de Software, disciplina que tem como uma de suas principais
preocupações a oferta de metodologias e ferramentas apropriadas para o desenvol-
vimento de software, pode e deve ser utilizada para que os resultados esperados
em um projeto de software possam ser alcançados (SOMMERVILLE, 2003).
Uma metodologia de desenvolvimento de software fornece os detalhes de “como
fazer” para desenvolver um software envolvendo um amplo conjunto de tarefas que
incluem: levantamento e análise dos requisitos, projeto, implementação e testes
de software. Já as ferramentas proporcionam apoio automatizado ou semi-

* Analista de Sistemas (USF). Analista Programador Micro Mídia Informática.


** Mestre em Educação (USF) e Engenheiro de Eletrônica (UNICAMP). Professor de cursos de Graduação, Pós-
graduação e Extensão da Universidade São Francisco e do Centro Universitário Padre Anchieta.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 115
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

automatizado para as metodologias como, por exemplo, as ferramentas CASE


(Computer Aided Software Engineering), que auxiliam nas diferentes fases do ciclo
de vida do software através do uso de bases de dados e interfaces gráficas e textu-
ais. Segundo Barrére (1999), uma ferramenta CASE tem como propósito auxiliar o
desenvolvedor na maximização de suas habilidades intelectuais e criativas para a
obtenção de software de mais alta qualidade com maior produtividade.
Este trabalho apresenta o estudo da metodologia de desenvolvimento de software
Praxis, escolhida por ser uma metodologia brasileira, e sua interação com a ferra-
menta CASE Rational Rose (IBM, 2005A), muito utilizada nos âmbitos acadêmico
e profissional, averiguando de que forma esta metodologia é suportada pela ferra-
menta escolhida, o que possibilita a determinação de algumas das vantagens e
desvantagens desta combinação no desenvolvimento de software.

A METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO PRAXIS


O Praxis (Processo para Aplicativos eXtensíveis InterativoS) é, com mais rigor,
um processo de desenvolvimento de software que enfatiza o desenvolvimento de
aplicações gráficas interativas, e foi idealizado pelo professor Wilson de Pádua
Paula Filho (2003).
Inicialmente desenhado para suportar projetos didáticos em disciplinas de en-
genharia de software de cursos de informática e em programas de capacitação
profissional em processo de software, pode também ser utilizado como base de
treinamento preparatório para o uso dos processos RUP (Rational Unified Process),
PSP (Personal Software Process), TSP (Team Software Process). Também é ade-
quado ao desenvolvimento de projetos comerciais, desde que personalizado de
acordo com a organização que o adotar (PAULA, 2003).
O processo Praxis abrange tanto métodos técnicos (requisitos, análise, dese-
nho, testes e implementação) quanto métodos gerenciais (gestão de requisitos, de
projetos e de configurações, além de garantia da qualidade). Propõe assim um
ciclo de vida composto por fases que produzem um conjunto bem caracterizado de
artefatos (documentos, modelos e relatórios) (PAULA, 2003). É baseado na tecnologia
orientada a objetos, possuindo como notação de análise e desenho a UML (Unified
Modeling Language) (FOWLEY ; SCOTT, 2000; MATOS, 2003; IBM, 2005B).
Os fluxos do Praxis cobrem áreas chaves de processo do SW-CMM (Software
Capability Maturity Model), um modelo de capacitação específico para a área de
software (SEI/CMU, 2005), cujos padrões estão em conformidade com os propos-
tos pelo IEEE (Institute of Eletrical and Eletronic Engineers) (IEEE, 1994) e reflete
elementos do RUP (PAULA, 2002; PAULA, 2003).
Segundo Paula (2003), o uso, personalização e reprodução do processo Praxis
é livre, desde que citadas suas fontes e também claramente identificadas as dife-
renças frente ao Praxis padrão, que garante para quem o utilizar o nível três (3) do
SW-CMM (SEI/CMU, 2005), como destacado na Tabela 1.

116 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Tabela 1. Praxis e o SW-CMM


Número Nome do Característica da
Característica dos Processos
do Nível Nível Organização
1 Inicial Não segue rotinas Processos caóticos
2 Repetitivo Segue rotinas Processos disciplinados
3 Definitivo Escolhe rotinas Processos padronizados
Cria e aperfeiçoa
4 Gerido Processos previsíveis
rotinas
Processos em melhorias
5 Otimizante Otimiza rotinas
contínuas

NOMENCLATURA
Descreve-se a seguir a nomenclatura empregada pelo Praxis, ilustrada na figu-
ra 1. Tal como o RUP, o Praxis abrange tanto fases quanto fluxos.
• Fase : divisão maior de um processo, para fins gerenciais, que corresponde
aos pontos principais de aceitação por parte do cliente (divisões orientadas para
gestão de projetos). Uma fase é composta por uma ou mais iterações.
• Iteração: divisões de uma fase, nas quais se atinge um conjunto bem defi-
nido de metas parciais de um projeto, é um exemplo de passo. Cada iteração
possui um script.
• Script: conjunto de instruções que definem como uma iteração deve ser
executada.
• Fluxo: subprocesso caracterizado por um tema técnico ou gerencial (divi-
sões orientadas por disciplina de engenharia de software). Um fluxo é dividido em
uma ou mais atividades.
• Atividades: passos constituintes de um fluxo.
• Passos: divisão formal de um processo, com pré-requisitos, entradas, crité-
rios de aprovação e resultados definidos.

* Analista de Sistemas (USF). Analista Programador Micro Mídia Informática.


** Mestre em Educação (USF) e Engenheiro de Eletrônica (UNICAMP). Professor de cursos de Graduação, Pós-
graduação e Extensão da Universidade São Francisco e do Centro Universitário Padre Anchieta.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 117
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Figura 1 - Estrutura de Processo, Fase e Fluxo.

As relações existentes entre fases, iterações, scripts, fluxos, atividades e arte-


fatos no processo Praxis descrevem o funcionamento do processo.

FASES
A divisão das fases obedece ao modelo de ciclo de vida de entrega evolutiva,
sendo que o término de cada fase é sempre determinado pela entrega e aprovação
de um conjunto preestabelecido de artefatos (resultados) (PAULA, 2003). Como no
RUP, o Praxis apresenta as seguintes fases:
• Concepção: as necessidades dos usuários e os conceitos da aplicação
são analisados o suficiente para justificar a especificação de um produto de software.
• Elaboração: a especificação do produto é detalhada o suficiente para mo-
delar conceitualmente o domínio do problema, validar os requisitos em termos des-
se modelo conceitual e permitir um planejamento detalhado da fase de construção.
• Construção: é desenvolvida, ou seja, desenhada, implementada e testada
uma versão completamente operacional do produto, a qual atende aos requisitos
especificados.

118 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

• Transição: passagem do produto do ambiente de desenvolvimento para o


ambiente do usuário.

ITERAÇÕES
Uma iteração é o resultado da divisão de uma fase. As fases são divididas
assim (PAULA, 2003):
Concepção
• Ativação: levantamento e análise das necessidades dos usuários e concei-
tos da aplicação, em nível de detalhe suficiente para justificar a especificação de
um produto de software.
Elaboração
• Levantamento de requisitos: levantamento das funções, interfaces e requisi-
tos não-funcionais desejados para o produto.
• Análise dos requisitos: modelagem conceitual dos elementos relevantes do
domínio do problema e uso desse modelo para validação dos requisitos e planeja-
mento detalhado da fase de construção.
Construção
• Desenho implementável: definições internas e externas dos componentes
de um produto de software, em nível suficiente para decidir as principais questões
de arquitetura e tecnologia e também permitir o planejamento da fase de constru-
ção.
• Liberação: implementação de um subconjunto de funções do produto que
será avaliado pelos usuários; após a implementação de todas as liberações, o
produto estará totalmente implementado.
• Testes Alfa: realização dos testes de aceitação, no ambiente de desenvolvi-
mento, juntamente com elaboração da documentação do usuário e possíveis pla-
nos de Transição.
Transição
• Testes Beta: realização dos testes de aceitação no ambiente dos usuários.
• Operação piloto: operação experimental do produto em instalação piloto do
cliente, com a resolução de eventuais problemas através de processo de manuten-
ção.

SCRIPTS
Para cada iteração o script indica os artefatos que consome (insumos) e pro-
duz (resultados), os respectivos critérios de entrada (pré-requisitos) e de saída
(critérios de aprovação) e um conjunto de atividades sugeridas. Toda iteração pos-
sui como único pré-requisito o término da iteração anterior e todos os insumos de
uma iteração são os resultados da iteração anterior. Por essa razão os pré-requisi-
tos e os insumos não são detalhados nos scripts das iterações do Praxis (PAULA,
2003).

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 119
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

FLUXOS
No Praxis, os fluxos podem ser de natureza técnica ou gerencial. Os fluxos de
natureza técnica são: Requisitos, Análise, Desenho, Implementação, Testes e
Engenharia de Sistemas; os fluxos de natureza gerencial são: Gestão de Projetos,
Gestão da Qualidade e Engenharia de Processos. Os fluxos definem os papéis
desempenhados pelos participantes dos projetos e algumas atividades requerem a
participação de vários papéis em sua execução (PAULA, 2003).

ARTEFATOS
Os resultados produzidos e os insumos consumidos nos passos do Praxis são
chamados de artefatos do processo, cujos tipos são:
• Documento: artefato produzido por ferramenta de processamento de texto
ou hipertexto, para fins de documentação dos principais aspectos de engenharia
de um projeto, incluindo aspectos selecionados dos modelos e aspectos não
modeláveis.
• Modelo: artefato de uma ferramenta técnica específica, produzido e utilizado
nas atividades de um dos fluxos do processo.
• Relatório: artefato que relata as conclusões das atividades do projeto.

DOCUMENTOS
Este processo utiliza-se de vários documentos diferentes que detalham aspec-
tos específicos do projeto:
• PESw (Proposta de Especificação do Software): delimita preliminarmente o
escopo de um projeto, contendo um plano da fase de elaboração.
• ERSw (Especificação dos Requisitos do Software): descreve o conjunto de
requisitos especificados para um produto de software.
• PDSw (Plano de Desenvolvimento do Software): descreve os compromissos
que o fornecedor assume em relação ao projeto quanto a recursos, custos, riscos
e outros aspectos gerenciais.
• PQSw (Plano de Qualidade do Software): descreve os procedimentos de
garantia da qualidade que serão adotados no projeto.
• DDSw (Descrição do Desenho do Software): descreve os aspectos mais
importantes no desenho do software.
• DTSw (Descrição dos Testes do Software): descreve os planos e as
especificações dos testes que serão executados.
• MUSw (Manual do Usuário do Software): serve como referência para uso do
produto.
Os únicos documentos gerenciais são o PDSw e PQSw, sendo os demais
considerados documentos técnicos. Esses documentos são tipicamente produzi-
dos através de uma ferramenta de edição de textos (PAULA, 2003).

120 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

MODELOS
Seguem os modelos utilizados pelos Praxis e as ferramentas necessárias para
sua confecção:
• CRSw (Cadastro dos Requisitos do Software): contém os requisitos levanta-
dos, assim como referências aos itens correspondentes dos modelos seguintes.
[Planilha, banco de dados].
• MASw (Modelo de Análise do Software): contém os conceitos do domínio
do problema a resolver que sejam relevantes para a validação dos requisitos. [Fer-
ramenta de modelagem orientada a objetos].
• MPPSw (Memória de Planejamento do Projeto do Software): contém a infor-
mação necessária para o acompanhamento de tamanhos, esforços, custos, pra-
zos e riscos dos projetos. [Planilha, ferramenta de gestão de projetos].
• MDSw (Modelo de Desenho do Software): detalha a estrutura lógica e física
do produto, em termos de seus componentes. [Ferramenta de modelagem orienta-
da a objetos].
• BTRSw (Bateria de Testes de Regressão do Software): conjunto dos scripts
dos testes de regressão. [Ferramenta de desenvolvimento, ferramenta de testes].
• CFSw (Códigos Fontes do Software): conjunto dos códigos fontes produzi-
dos. [Ferramenta de desenvolvimento].
• CESw (Códigos Executáveis do Software): conjunto dos códigos executáveis
produzidos. [Ferramenta de desenvolvimento].
Segundo Paula (2003), a MPPSw é o único modelo gerencial.

RELATÓRIOS
Existem vários relatórios, que são produzidos por diferentes responsáveis:
• RTSw (Relatórios dos Testes de Software): descreve os resultados dos tes-
tes realizados. [Grupo de testes do projeto].
• RRSw (Relatórios de Revisão do Software): descreve as conclusões da revi-
são de um artefato. [Grupo revisor do artefato].
• RISw (Relatórios de Inspeção do Software): descreve as conclusões da ins-
peção de um artefato. [Grupo inspetor de artefato].
• RAQSw (Relatórios das Auditorias da Qualidade do Software): descreve as
conclusões de uma auditoria da qualidade realizada. [Grupo de garantia da Quali-
dade].
• RAPSw (Relatórios de Acompanhamento do Projeto do Software): descreve
esforços, custos, prazos e riscos até a data corrente. [Gerente de projeto].
• RFPSw (Relatório Final do Projeto de Software): relatório de balanço final do
projeto. [Gerente do projeto].
Os três primeiros são de caráter técnico e os demais de caráter gerencial. O
plano da qualidade prevê as datas de emissão dos relatórios de testes, revisões e

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 121
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

auditorias. Os relatórios de acompanhamentos são produzidos com a periodicida-


de especificada no plano de desenvolvimento, geralmente por iteração (PAULA, 2003).

CRONOGRAMA DOS ARTEFATOS


As tabelas 2 e 3 mostram o relacionamento entre as iterações, os modelos e
os documentos do Praxis (PAULA, 2003).

PESw ERSw PDSw PQSw DDSw DTSw MUSw

Ativação C

Levantamento dos requisitos P P

Análise dos requisitos C C C P

Desenho implementável A A A I P

Liberação A A A I I

Testes Alfa A A A C C P

Testes Beta A A A A A A

Operação piloto A A A A A C

P - Artefato começa a ser produzido

I - Versão incompleta

C - Artefato completado

A - Artefato pode ser alterado

Tabela 2. Relação entre iterações e documentos

122 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

CRSw MASw MPPSw MDSw BTRSw CFSw CESw

Ativação

Levantamento dos requisitos P P P

Análise dos requisitos C C C P

Desenho implementável A A A I P P P

Liberação A A AI I I I I

Testes Alfa A A A C C C C

Testes Beta A A A A A A A

Operação piloto A A A A A A A

P - Artefato começa a ser produzido

I - Versão incompleta

C - Artefato completado

A - Artefato pode ser alterado

Tabela 3. Relação entre iterações e modelos

GARANTIA DE QUALIDADE
Procedimentos de controle são executados de maneira uniforme, em diferen-
tes iterações do ciclo de vida, sendo sua conclusão condição necessária para que
as iterações do projeto sejam consideradas aprovadas, passando-se às iterações
seguintes. Algumas iterações requerem aprovação dos usuários chave para deter-
minar se os requisitos foram corretamente interpretados pelos desenvolvedores, ou
do cliente quando envolvem decisões de continuidade do projeto (fim da Concepção
e Elaboração) ou aceitação do produto (fim da Construção e Transição). Esses
pontos de aceitação pelo cliente demarcam, por definição, os finais das fases (PAULA,
2003).

VANTAGENS E DESVANTAGENS
Como vantagens pode-se indicar que o Praxis é baseado na tecnologia orienta-
da a objetos; possui como notação de análise e desenho a UML; seus fluxos
cobrem áreas chaves de processo do SW-CMM, garantindo inicialmente o nível 3
(três); seus padrões são conformes aos padrões de engenharia de software do
IEEE; reflete elementos do Processo Unificado; e é um processo iterativo que pode

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 123
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ser utilizado para fins didáticos e comerciais desde que personalizado (PAULA, 2003).
Como desvantagens tem-se que este processo possui uma comunidade pe-
quena de usuários, talvez devido ao pequeno período de sua divulgação, e que
ainda foram relatados poucos casos de sucesso do seu uso (ÁLVARES, 2000; CARVA-
LHO, 2000; B ORGES, 2002; P ERES, 2002; B ORGES; P AULA, 2003; S ANTOS, 2004). Tam-
bém não pode ser utilizado ou considerado como uma metodologia ágil, pois exige
muita documentação.

AVALIAÇÃO COMPARATIVA ENTRE PRAXIS E RUP


Embora não constitua um dos objetivos deste trabalho, dada a similaridade de
nomenclatura de alguns elementos do Praxis com relação ao RUP, mais conhecido
nos meios acadêmico e profissional, é conveniente a realização de uma análise
comparativa mínima para estabelecer outras semelhanças e caracterizar diferen-
ças entre estes processos.
Segundo Kruchten (2003), o RUP é simultaneamente um processo de enge-
nharia de software (pois fornece uma abordagem disciplinada para assumir tarefas
e responsabilidades dentro de uma organização de desenvolvimento), um produto
de processo (pois é desenvolvido e mantido pela Rational Software e integrado com
seu conjunto de ferramentas de desenvolvimento de software) e uma estrutura de
processo (pois pode ser adaptada e estendida para compor as necessidades de
uma organização que o adote). Seu objetivo é assegurar a produção de software de
alta qualidade que satisfaça as necessidades de seus usuários finais dentro de
prazos e orçamentos previsíveis.
Embora tanto o Praxis quanto o RUP (IBM, 2005C) sejam processos de software
baseados na tecnologia orientada a objetos, no Processo Unificado e que utilizam
a notação UML, possuem objetivos diferentes. Enquanto o RUP destina-se clara-
mente ao desenvolvimento de aplicações comerciais complexas, o objetivo do Praxis
é o desenvolvimento de projetos didáticos em disciplinas de engenharia de software
de cursos de informática e em programas de capacitação profissional. Desta forma
o Praxis não possui como objetivo substituir ou mesmo concorrer com o RUP.
O Praxis não detalha papéis, deixando esta tarefa a cargo das organizações
que o adotarem; já no RUP o conceito central do processo está em um trabalhador,
isto é, em uma posição (IBM, 2005C; W IKIPEDIA, 2005). Finalmente, outra diferença
expressiva é que o RUP é um produto de processo, ou seja, para ser utilizado
precisa ser comprado, enquanto o Praxis é um processo de uso, reprodução e
personalização livre.

AVALIAÇÃO DO SUPORTE NA FERRAMENTA RATIONAL ROSE AO PROCESSO


PRAXIS
Segundo Matos (2003), o Rational Rose é uma ferramenta CASE para UML
que implementa as recomendações da OMG (Object Management Group) e que é
baseada no conceito de modelo de negócios. É uma ferramenta robusta, com o

124 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

propósito de desenvolver soluções que atendam às necessidades do negócio do


cliente, que vão desde uma simples solução localizada até soluções complexas
baseadas em ambientes distribuídos. A construção de um modelo de negócios
envolve diagramas de casos de uso, diagramas de objetos, diagramas de classes
e demais diagramas da UML, os quais são suportados pelo Rational Rose. Em sua
versão mais completa oferece suporte bastante amplo as linguagens de programa-
ção existentes, entre elas C++, Visual Basic e Java.
A fim de se avaliar o suporte efetivo oferecido pelo Rational Rose quando se
utiliza o processo Praxis, foi necessário o desenvolvimento de um projeto de software.
Como plataforma de desenvolvimento escolheu-se o Java devido a sua relevância
atual (JANDL, 2002; SUN , 2004). O Rational Rose foi usado na confecção parcial ou
total de um conjunto dos artefatos mais importantes do processo.
O projeto de software desenvolvido foi o Funny 1.0, um sistema de gestão de
contas a pagar e receber para uma loja fictícia de equipamentos eletrônicos deno-
minada Circuito Integrado. A principal motivação para a escolha desse projeto foi a
existência de conhecimento prévio sobre a lógica do negócio desse tipo de siste-
ma. Esse sistema possibilita a inclusão, consulta, alteração, exclusão, liquidação
(pagamento) e estorno da liquidação (cancelamento do pagamento) de títulos a
pagar e a receber. Possibilita também a importação de títulos a pagar e a receber
do sistema de compras e vendas já existente da loja e também a inclusão, consul-
ta, alteração e exclusão dos responsáveis desses títulos (clientes quando títulos
cadastrados como contas a receber; fornecedores quando títulos cadastrados como
contas a pagar).
Neste trabalho forma utilizados: processo Praxis versão 2.0, Rational Rose 98
Enterprise Edition (com suporte para versão JDK 1.1.X da plataforma Java) e tam-
bém o Borland JBuilder X.
O critério de seleção de artefatos do processo Praxis escolhidos para avaliar o
suporte do Rational Rose considerou a importância dos artefatos no processo e se
sua confecção permitiria a avaliação de suporte. Embora tenha se procurado um
conjunto mínimo, para evitar a descaracterização do processo, foram incluídos os
artefatos PESw e MPPSw, cuja confecção não necessita uma ferramenta CASE.
Sendo assim o conjunto de artefatos escolhidos e desenvolvidos foi: documentos
(PESw, ERSw e DDSw) e modelos (MPPSw, MASw, MDSw e CFSw). Estes
artefatos foram total ou parcialmente produzidos através do Rational Rose.
O desenvolvimento dos artefatos seguiu o cronograma definido pelo processo
Praxis (veja tabelas 2 e 3). Também foi realizado um controle do tempo necessário
para a confecção de cada artefato (Tabela 4).
Os primeiros artefatos produzidos e avaliados foram o ERSw e MASw, desen-
volvidos em paralelo na fase de elaboração. Para o ERSw o Rational Rose foi utili-
zado para a confecção dos diagramas de contexto, de casos de uso e de classes
persistentes. Para o MASw o Rose permitiu a confecção total do modelo, o que
inclui todos os diagramas existentes na ERSw, além do diagrama de classes. O

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 125
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

processo Praxis recomenda o uso da notação UML para a confecção desses dia-
gramas. Especificamente em relação ao MASw, existe a recomendação para que
sejam desenvolvidas classes de três tipos: Fronteira (boundary), que modelam as
interfaces do produto com os usuários e com outros sistemas; Entidades (entity),
que modelam informações persistentes; e Controle (control), que coordenam o flu-
xo de um caso de uso complexo, encapsulando lógica que não se enquadra natu-
ralmente nas responsabilidades das entidades.
Em particular, o projeto desenvolvido neste trabalho possui apenas os tipos de
classes de fronteira e de entidade. As classes de controle não foram necessárias,
pois não havia casos de uso complexos a serem coordenados por este tipo de
classe, podendo ser coordenados pelas classes de fronteira sem infringir as reco-
mendações do processo Praxis, que menciona que casos de uso simples podem
ser coordenados por classes de fronteira. O Rose suportou adequadamente todos
estes desenhos, de acordo com o recomendado pelo processo Praxis, tal como
indicado na tabela 4.
Ainda na fase de construção foram desenvolvidos em paralelo os artefatos DDSw
e MDSw, como definido pelo processo Praxis. É importante mencionar que foram
feitas apenas as iterações Desenho Implementável e Liberação 1: Manutenção de
Títulos, pois através do desenvolvimento dessas iterações foi possível coletar mate-
rial suficiente para o objetivo deste trabalho.
Para a DDSw foi possível utilizar o Rose para a confecção dos diagramas da
estrutura dinâmica do produto, diagramas de visão lógica (pacotes lógicos, clas-
ses, realizações dos casos de uso e interação), e diagramas de visão física (com-
ponentes físicos). Já para o MDSw o Rose permitiu a confecção total do modelo, o
que inclui todos os diagramas existentes na DDSw. Como antes, existe a reco-
mendação de emprego da notação UML na confecção dos diagramas, ou seja, uso
dos diagramas de colaboração para descrever a estrutura dinâmica do software e
dos diagramas de pacotes para representar a visão lógica do sistema em termos
de camadas e componentes.
O Rose suportou adequadamente a construção destes diagramas, com peque-
nas restrições nos diagramas de casos de uso e de interações devido à versão
utilizada. Não foi possível a criação do desenho das tabelas de banco de dados
utilizadas pelo projeto, mas apenas a geração de scripts de criação de base de
dados a partir das classes (no caso das classes de entidade), e executá-los em
um gerenciador de banco de dados. Os tempos consumidos na confecção da DDSw
e do MDSw estão indicados na tabela 4.
O CFSw foi o último artefato desenvolvido e analisado neste trabalho. O Rose
gerou adequadamente a codificação das classes na plataforma Java de acordo
com o diagrama de classes do MDSw. O código gerado consiste nos atributos e
nas assinaturas dos métodos, incluindo os construtores destas classes. Após a
geração do código foi possível sua edição através do Borland JBuilder X, indicando
que outros ambientes de programação poderiam ser empregados.

126 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Uma análise das classes geradas permitiu verificar que não houve a inclusão
de código desnecessário, exceto a declaração de algumas classes que realizam
associações no diagrama de classes. Nesta etapa o Rose não realiza uma compi-
lação das classes em busca de erros. Também não existe a necessidade de um
desenho prévio dos componentes do software antes de geração do código, pois
caso não existam, esses desenhos serão gerados automaticamente. A documen-
tação das classes geradas também é produzida automaticamente.
Estudando-se a característica do Rose de engenharia reversa da codificação
das classes foi notada a realização de uma compilação com o propósito de se
encontrarem erros de sintaxe e de configuração. Durante a realização da engenha-
ria reversa também foi criado o desenho dos componentes de software referentes
às classes do software. O Rose não suportou a engenharia reversa das classes
contendo o desenho das interfaces de usuário (classes de fronteira) produzidas
pela ferramenta de programação (no caso o JBuilder X), conforme recomendação
do processo Praxis. Sendo assim todas as classes contendo interfaces de usuário
foram desenhadas totalmente no Rose, situação que também possibilitou a gera-
ção automática de sua documentação.
Finalmente o MPPSw foi utilizado para armazenar o tempo necessário para a
confecção de cada artefato, tal como mostra a tabela 4.

Artefato Confecção Tempo Suporte


PESw Não aplicável Não avaliado
ERSw Total 19h45m Adequado
DDSw Total com restrições 16h00m Adequado
MPPSw Não aplicável Não avaliado
MASw Total 15h30m Adequado
MDSw Total com restrições 10h00m Adequado
CFSw Total 06h00m Adequado

Tabela 4. Tempos de produção dos artefatos e adequação


do suporte do Rational Rose

CONCLUSÃO
No geral o suporte da ferramenta CASE Rational Rose oferecido ao processo
Praxis foi bastante satisfatório, pois dos onze diagramas recomendados nenhum
problema foi encontrado em sete deles, existindo pequenas restrições na confec-
ção dos demais. Contudo, o fato da engenharia reversa não ser possível para clas-
ses contendo as interfaces de usuário desenhadas no JBuilder foi um aspecto

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 127
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ruim. Isto exigiu a separação das fontes das classes de interface de usuário gera-
das pelo Rose e pelo JBuilder.
Os tempos mensurados, embora razoáveis, são apenas referenciais e provavel-
mente podem ser reduzidos com um maior domínio da ferramenta CASE a ser
obtido através de seu uso continuado.
Constatou-se assim que projetos de software de cunho acadêmico que utili-
zem o processo Praxis podem se beneficiar do apoio oferecido pelo Rational Rose,
principalmente se for possível o uso de versões mais recentes, que incluem suporte
mais adequado para a notação UML, além de novas características.
Outra contribuição é a verificação que projetos comerciais de software também
podem utilizar o Praxis combinado com o Rational Rose para o seu desenvolvimen-
to. No entanto é recomendável a personalização do processo de acordo com as
necessidades da organização.
Este trabalho poderia ser continuado de diversas formas, entre elas: desenvol-
vendo-se outras customizações e extensões para o Praxis, tais como nos traba-
lhos de Álvares (2000) e Peres (2002); ou efetuando-se avaliações semelhantes do
suporte de outras ferramentas CASE em relação ao processo Praxis padrão ou de
suas extensões.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

GERENCIAMENTO DE DADOS DO CENSO 2000 UTILIZANDO O SPSS

José Milton Sanches∗


Haroldo Santos Sanches∗∗

RESUMO
O objetivo deste artigo é explorar a base de dados do Censo 2000 através do SPSS, no
sentido de criar um indicador do nível de vida para seis municípios localizados na região de Jundiaí.
Para tanto serão utilizadas sete variáveis (água, luz, esgoto, geladeira, televisor, microcomputador
e automóvel) que indicarão a presença ou ausência do equipamento. Se o domicílio dispuser de
todos os equipamentos, o índice será igual a um e as condições totalmente satisfatórias; caso
contrário, o índice será igual a zero e as condições totalmente insatisfatórias.
Palavras-chave: censo demográfico, índice médio, indicadores, municípios, equipamentos.

ABSTRACT
The objective of this article is to explore the data base of the 2000 Census through SPSS, to
create an indicator of living conditions for six municipalities located in the region of Jundiaí. To this
end, the presence or absence of seven variables will be used (water, electricity, sewage, refrigerator,
television, personal computer, and automobile). If the household has all the factors, the index
would be equal to one and the conditions totally satisfactory; on the contrary, in their absence, the
index would be equal to zero and the conditions totally unsatisfactory.

Key words: demographic census, medium index, indicators, municipalities, equipment.

Introdução
Os censos demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) têm se constituído em instrumentos importantes para que possa
entender e analisar o desenvolvimento da população brasileira. Segundo informações
do próprio IBGE, o censo de 2000 investigou um total de 54 265 618 domicílios em
todos os municípios brasileiros, sendo levantado um conjunto de aspectos sobre
características gerais da população, educação, migração, trabalho e rendimento,
etc. A expansão da amostra foi realizada a partir de pesos atribuídos ao domicílio e
a cada um de seus moradores.
A partir do momento em que o IBGE disponibilizou os microdados do censo
2000, foi possível elaborar estudos socioeconômicos e demográficos para cada um
dos 5560 municípios brasileiros. Neste sentido, pretende-se investigar características
que permitam estabelecer um indicador do nível de vida para seis municípios
localizados na região de Jundiaí.

∗ Mestre em Economia pela PUC São Paulo. Professor Adjunto da PUC Campinas e professor titular
do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí.
**Graduado em Administração de Empresas pela PUC Campinas.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 131
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

A recuperação e o tratamento dos microdados do censo 2000, disponibilizados


em CD-ROM, foi feita através do Statistical Package for the Social Science (SPSS),
cujas potencialidades permitem, entre outras, a seleção de grupos específicos e o
cruzamento de informações.

1. MUNICÍPIOS E VARIÁVEIS ENVOLVIDAS NO ESTUDO


Na presente investigação optamos por levantar uma série de indicadores
demográficos que caracterizassem um conjunto de seis municípios que estão
localizados entre o município de São Paulo e o de Jundiaí. Tal escolha se deve ao
fato de tratar-se de uma região com grande diversidade econômica e social, e que
apresentou expressivo crescimento na última década.
A região de estudo é formada pelos seguintes municípios: Caieiras, Cajamar,
Campo Limpo Paulista, Francisco Morato, Franco da Rocha e Várzea Paulista
(vide cartograma).

O objetivo final do estudo é criar um indicador do nível de vida para os seis


municípios selecionados, a partir das seguintes variáveis:
n Rede pública de água: quando o domicílio é servido de água ligada à rede geral
de abastecimento;
n Rede pública de esgoto: quando a canalização das águas servidas e dos dejetos
é ligada a um sistema de coleta que conduza a um desaguadouro oficial;

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

n Rede pública de energia: quando o domicílio dispõe de iluminação elétrica,


proveniente ou não de uma rede geral, com ou sem medidor que registre o
consumo exclusivo do domicílio;
n Geladeira: quando o domicílio dispõe de geladeira ou freezer;
n Microcomputador: quando o domicílio dispõe de microcomputador;
n Televisor: quando o domicílio dispõe de pelo menos um televisor;
n Automóvel: quando o domicílio dispõe de pelo menos um automóvel.
No entanto, pretende-se também avaliar individualmente cada um dos indicadores
para o conjunto de municípios selecionados, com o intuito de identificar diferenças
que possam melhor qualificá-los.
Em todos os casos, optou-se por classificação dicotômica da variável, ou seja,
de forma binária (0 ou 1), significando ausência ou presença do equipamento.

2. ANÁLISE INDIVIDUAL DOS INDICADORES

Abastecimento de água

Tabela 1: Rede pública de água

Rede pública de água


Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 1047 17992 19039 0,95


Cajamar 1934 11780 13714 0,86

Campo Limpo Paulista 1616 15084 16700 0,90


Francisco Morato 2553 31471 34024 0,92
Franco da Rocha 1514 24712 26226 0,94

Várzea Paulista 2939 21509 24448 0,88


Total 11603 122548 134151 0,91

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

Verifica-se que, em média, 91% dos domicílios possuem rede pública de água,
sendo que três deles (Caieiras, Francisco Morato e Franco da Rocha) apresentam
índices superiores à média. Outros três (Cajamar, Campo Limpo Paulsita e Várzea
Paulista) apresentam índices abaixo da média.
A diferença entre o maior índice de domicílios ligados à rede pública (Caieiras)
e o menor (Cajamar) é de 9 pontos percentuais.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 133
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Rede de esgoto

Tabela 2: Rede pública de esgoto

Rede pública de esgoto


Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 5643 13363 19006 0,70

Cajamar 4357 9278 13635 0,68

Campo Limpo Paulista 5675 10991 16666 0,66

Francisco Morato 24376 9447 33823 0,28

Franco da Rocha 9179 16992 26171 0,65

Várzea Paulista 4253 20187 24440 0,83

Total 53483 80258 133741 0,60

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

Observa-se que os índices de domicílios ligados à rede geral de esgoto estão


muito abaixo do que poderia ser considerado razoável, uma vez que a maioria já
possui rede pública de água. Na melhor situação está o município de Várzea Paulista,
com 83% dos domicílios servidos pela rede geral. Em contrapartida, o município de
Francisco Morato possui apenas 28% dos domicílios ligados à rede, ou seja, em
72% dos domicílios a canalização é ligada a fossas sépticas, fossa rudimentar,
vala, rio, etc.

Rede pública de energia

Tabela 3: Rede pública de energia

Rede pública de energia


Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 45 18994 19039 1,00

Cajamar 31 13683 13714 1,00

Campo Limpo Paulista 83 16617 16700 1,00

Francisco Morato 165 33859 34024 1,00

Franco da Rocha 131 26094 26225 1,00

Várzea Paulista 52 24396 24448 1,00

Total 507 133643 134150 1,00

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)


Com relação à energia elétrica, observa-se que a situação é bastante
satisfatória em quase todos os municípios, pois o índice médio de domicílios ligados

134 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

à rede é de aproximadamente 100%. Cumpre, no entanto, lembrar que se trata de


energia elétrica, proveniente ou não de uma rede geral, com ou sem medidor ou
relógio que registre o consumo exclusivo do domicílio.

Geladeira ou freezer
Tabela 4: Geladeira ou Freezer

Geladeira ou freezer
Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 691 18348 19039 0,96


Cajamar 894 12820 13714 0,93

Campo Limpo Paulista 624 16076 16700 0,96


Francisco Morato 2378 31646 34024 0,93
Franco da Rocha 1139 25087 26226 0,96

Várzea Paulista 731 23718 24449 0,97


Total 6457 127695 134152 0,95

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

Os valores elevados dos índices indicam que a maior parte dos domicílios possui
geladeira ou freezer. O menor índice registrado se refere aos municípios de Cajamar
e Francisco Morato (93%).

Aparelho de tv
Tabela 5: Aparelho de TV

TV
Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 1021 18018 19039 0,95

Cajamar 895 12819 13714 0,93


Campo Limpo Paulista 1208 15492 16700 0,93

Francisco Morato 3370 30653 34023 0,90


Franco da Rocha 1738 24488 26226 0,93

Várzea Paulista 1820 22628 24448 0,93


Total 10052 124098 134150 0,93

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 135
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Como é de se esperar, os índices são muito parecidos com os anteriores, ou


seja, 93% dos domicílios, em média, possuem pelo menos um aparelho de televisão.

Microcomputador

Tabela 6: Microcomputador

Microcomputador
Município Total Índice
Não Sim

Caieiras 16567 2472 19039 0,13

Cajamar 12645 1069 13714 0,08

Campo Limpo Paulista 14498 2202 16700 0,13

Francisco Morato 32560 1464 34024 0,04

Franco da Rocha 24171 2055 26226 0,08

Várzea Paulista 22449 1999 24448 0,08

Total 122890 11261 134151 0,08

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

Verifica-se que o índice de domicílios que possuem microcomputadores é muito


baixo (8% em média). A situação é crítica no município de Francisco Morato, onde
apenas 4% dos domicílios dispõem desse equipamento.

Automóvel
Tabela 7: Automóvel

Automóvel
Município Total Índice
Não Sim
Caieiras 10621 8418 19039 0,44

Cajamar 8619 5095 13714 0,37


Campo Limpo Paulista 8780 7920 16700 0,47

Francisco Morato 26576 7448 34024 0,22


Franco da Rocha 16908 9318 26226 0,36

Várzea Paulista 12282 12166 24448 0,50


Total 83786 50365 134151 0,38

Fonte: Microdados do Censo 2000 (IBGE)

136 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Observa-se uma grande variabilidade em torno do índice médio (38%) de


domicílios que possuem pelo menos um automóvel. A pior situação se refere ao
município de Francisco Morato, onde apenas 22% possuem automóvel. Já no
município de Várzea Paulista, em metade dos domicílios há pelo menos um veículo.

3. ÍNDICE DO NÍVEL DE VIDA (INV)


A qualidade de vida dos indivíduos que residem no domicílio é medida a partir
da disponibilidade de equipamentos que contribuem para a elevação do bem-estar
individual e coletivo. Neste sentido, entende-se que os sete indicadores utilizados
neste estudo permitem a construção de um índice geral, cujo objetivo é identificar a
disponibilidade dos equipamentos em termos relativos. Ou seja, ao domicílio que
dispõe de todos os equipamentos será atribuído índice igual a 1; para aqueles que
não dispõem de nenhum dos equipamentos será atribuído índice igual a zero.

3.1 Sumário de dados para os diversos índices


Para os oito níveis de índice (INV), a tabela 8 indica as freqüências absolutas e
relativas dos municípios que participam do estudo.

Tabela 8: Índice do Nível de Vida (INV) para municípios selecionados


continua

Campo Limpo
IN V Caieiras % Cajamar % %
Paulista

0,00 5 0,0 0 0,0 10 0,1

0,2
0,14 76 0,4 52 0,4 30

1,6
0,29 184 1,0 226 1,7 264

6,7
0,43 762 4,0 1204 8,8 1110

20,2
0,57 3442 18,1 2802 20,6 3362

35,4
0,71 7804 41,1 5622 41,2 5901

26,7
0,86 5130 27,0 3180 23,3 4451

9,2
1,00 1604 8,4 549 4,0 1537

Total 19007 100,0 13635 100,0 16665 100,0

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 137
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Francisco Franco da Várzea


INV % % % Total %
Morato Rocha Paulista

0,00 27 0,1 54 0,2 8 0,0 104 0,1

0,14 135 0,4 148 0,6 64 0,3 505 0,4

0,29 830 2,5 283 1,1 246 1,0 2033 1,5

0,43 4267 12,6 1384 5,3 1224 5,0 9951 7,4

0,57 15633 46,2 6039 23,1 3593 14,7 34871 26,1

0,71 9741 28,8 11174 42,7 9364 38,3 49606 37,1

0,86 2696 8,0 5910 22,6 8435 34,5 29802 22,3

1,00 494 1,5 1179 4,5 1507 6,2 6870 5,1

Total 33823 100,0 26171 100,0 24441 100,0 133742 100,0

Os dados indicam uma maior concentração de domicílios entre os índices 0,57


e 0,86 para os municípios pesquisados. Ou seja, a maior parte dos domicílios
possui entre 4 e 6 equipamentos, dentre os sete utilizados na pesquisa.

3.2 Índice médio do nível de vida


Embora os dados desagregados forneçam informações relevantes sobre a
concentração em determinadas faixas do índice, é necessário obter uma medida
que sumarize o conjunto de informações, de tal forma que possa identificar as
possíveis diferenças no nível de vida dos municípios selecionados. Para tanto, optou-
se pelo cálculo do índice médio e do desvio padrão ponderado. Os resultados são
apresentados na tabela 9.

138 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Tabela 9: Índice médio e Desvio padrão

Município Índice médio Desvio padrão

Caieiras 0,73 0,15

C a j a m a r 0,69 0,15

C a m p o L i m p o
0,72 0,16
Paulista

Francisco Morato 0,61 0,14

Franco da Rocha 0,70 0,15

Várzea Paulista 0,74 0,14

Total 0,69 0,15

Índice do Nível de Vida


0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
Caieiras Cajamar Campo Francisco Franco da Várzea
Limpo Morato Rocha Paulista
Paulista

Índice Desvio

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Verifica-se que o desvio padrão em torno dos índices médios, para os seis municípios,
é aproximadamente o mesmo (15%). Por sua vez, os índices do nível de vida
apresentam diferenças significativas; o município de Francisco Morato, que se
encontra em pior situação, tem índice igual a 0,61. Ou seja, a maior parte dos
domicílios possui 4 dentre os sete equipamentos selecionados. Em melhor situação
encontra-se o município de Várzea Paulista com índice igual 0,74, em média,
indicando que os domicílios possuem 5 dentre os sete equipamentos propostos.

CONCLUSÃO
A publicação pelo IBGE dos resultados finais do Censo 2000, constituiu-se
numa importante fonte de informações para pesquisadores interessados em
levantamentos demográficos e socioeconômicos da população brasileira.
De posse das informações, foi necessário selecionar aquelas de interesse
para o estudo, além de efetuar transformações que permitiram análises consistentes
e conclusivas sobre os domicílios dos municípios. Para tanto, foi utilizado o Statistical
Package for the Social Science (SPSS), que é considerado um dos melhores
programas estatísticos para análise de dados.
Neste estudo procurou-se levantar dados referentes a sete indicadores para
um conjunto de seis municípios localizados na região de Jundiaí. A partir deles foi
possível criar um índice do nível de vida de cada município, que indica o número de
equipamentos disponibilizados nos domicílios.
Com relação aos equipamentos: rede de água, rede de energia, geladeira e
televisor, verifica-se a existência na maior parte dos domicílios (acima de 90%). No
caso específico de rede de energia, praticamente 100% dos domicílios estão servidos.
Apesar da rede de água estar presente na maior parte dos domicílios, o
mesmo não ocorre com a rede de esgoto; ao contrário, o índice médio para o
conjunto de municípios é baixo (60%), e a variabilidade é muito grande. O município
de Francisco Morato, que está em pior situação, possui apenas 28% dos domicílios
ligados à rede geral de esgoto. Em melhor situação encontra-se Várzea Paulista,
com 83% dos domicílios ligados à rede geral.
A existência de microcomputador no domicílio constitui-se num indicador
importante de qualidade de vida, pois indica, provavelmente, que os residentes
estão conectados com a rede mundial de computadores (Internet). No entanto, a
situação é crítica neste item, pois apenas 8% (em média) dos domicílios dispõem
deste equipamento. No caso de Francisco Morato, a situação é pior ainda, já que
apenas 4% dos domicílios possuem microcomputador.
No caso de automóvel, a melhor situação ocorre em Várzea Paulista, onde
um em cada dois domicílios dispõe desse equipamento. Em pior situação, novamente
está Francisco Morato, pois apenas um em cada cinco domicílios possui automóvel.
O índice médio do nível de vida para o grupo de municípios ficou entre 0,61
(Francisco Morato) e 0,74 (Várzea Paulista), com desvio padrão em torno de 0,15.

140 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Estas estatísticas indicam que a maior parte dos domicílios possui entre 4 e 6
equipamentos dentre os sete utilizados na pesquisa.
Ainda que se possa questionar a validade do indicador, devido ao pequeno
número de variáveis utilizadas na sua construção, deve-se considerar que variáveis
adicionais, provavelmente, mantêm relação causal com as que foram utilizadas na
elaboração do índice, o que de certa forma valida as informações obtidas.

REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS

CENSO DEMOGRÁFICO 2000. Questionário da Amostra: Microdados São Paulo


Parte 2 e 3. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. CD-ROM.

INDICADORES SOCIAIS MUNICIPAIS. Uma análise dos Resultados da Amostra


do Censo Demográfico 2000: Brasil e Grandes Regiões. Rio de Janeiro: IBGE,
2004. Acompanha CD-ROM.

JANNUZZI, Paulo de M. Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados


e aplicações de políticas públicas, elaboração de estudos econômicos. Campinas:
Alínea, 2001.

MAROCO, João. Análise Estatística: com utilização do SPSS. Lisboa: Edições


Silabo, 2003.

PESTANA, Maria Helena e GAGEIRO; João Nunes. Análise de dados para Ciências
Sociais: A complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Silabo, 2003.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 141
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Verifica-se que o desvio padrão em torno dos índices médios, para os seis
municípios, é aproximadamente o mesmo (15%). Por sua vez, os índices do nível
de vida apresentam diferenças significativas; o município de Francisco Morato, que
se encontra em pior situação, tem índice igual a 0,61. Ou seja, a maior parte dos
domicílios possui 4 dentre os sete equipamentos selecionados. Em melhor situação
encontra-se o município de Várzea Paulista com índice igual 0,74, em média,
indicando que os domicílios possui 5 dentre os sete equipamentos propostos.

CONCLUSÃO
A publicação pelo IBGE dos resultados finais do Censo 2000, constituiu-se
numa importante fonte de informações para pesquisadores interessados em
levantamentos demográficos e socioeconômicos da população brasileira.
De posse das informações, foi necessário selecionar aquelas de interesse para
o estudo, além de efetuar transformações que permitiram análises consistentes e
conclusivassobreosdomicíliosdosmunicípios.Paratanto,foiutilizad oos
Statiscal
Package for the Social Science (SPSS), que é considerado um dos melhores
programas estatísticos para análise de dados.
Neste estudo procurou-se levantar dados referentes a sete indicadores para um
conjunto de seis municípios localizados na região de Jundiaí. A partir deles foi
possível criar um índice do nível de vida de cada município, que indica o número de
equipamentos disponibilizados nos domicílios.
Com relação aos equipamentos: rede de água, rede de energia, geladeira e
televisor, verificam-se a existência na maior parte dos domicílios (acima de 90%).
No caso específico de rede de energia, praticamente 100% dos domicílios estão
servidos.
Apesar da rede de água estar presente na maior parte dos domicílios, o mesmo
não ocorre com a rede de esgoto, muito pelo contrário, o índice médio para o
conjunto de municípios é baixo (60%), e a variabilidade é muito grande. O município
de Francisco Morato, que está em pior situação, possui apenas 28% dos domicílios
ligados à rede geral de esgoto. Em melhor situação encontra-se Várzea Paulista,
com 83% dos domicílios ligados à rede geral.
A existência de microcomputador no domicílio constitui-se num indicador
importante de qualidade de vida, pois indica, provavelmente, que os residentes
estão conectados com a rede mundial de computadores (Internet). No entanto, a
situação é crítica neste item, pois apenas 8% (em média) dos domicílios dispõem
deste equipamento. No caso de Francisco Morato, a situação é pior ainda, já que
apenas 4% dos domicílios possuem microcomputador.
No caso de automóvel, a melhor situação ocorre em Várzea Paulista, onde um
em cada dois domicílios dispõe desse equipamento. Em pior situação, novamente
está Francisco Morato, pois apenas um em cada cinco domicílios possui automóvel.
O Índice médio do nível de vida para o grupo de municípios ficou entre 0,61
(Francisco Morato) e 0,74 (Várzea Paulista), com desvio padrão em torno de 0,15.

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ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

Estas estatísticas indicam que a maior dos domicílios possuem entre 4 e 6


equipamentos dentre os sete utilizados na pesquisa.
Ainda que se possa questionar a validade do indicador, devido ao pequeno
número de variáveis utilizadas na sua construção, deve-se considerar que variáveis
adicionais, provavelmente, mantêm relação causal com as que foram utilizados na
elaboração do índice, o que de certa forma, valida as informações obtidas.

REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS

CENSO DEMOGRÁFICO 2000. Questionário da Amostra: Microdados São Paulo


Parte 2 e 3. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. CD-ROM.

INDICADORES SOCIAIS MUNICIPAIS. Uma análise dos Resultados da Amostra


do Censo Demográfico 2000: Brasil e Grandes Regiões. Rio de Janeiro: IBGE,
2004. Acompanha CD-ROM.

JANNUZZI,PaulodeM.Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados


e aplicações de políticas públicas, elaboração de estudos econômicos. Campinas:
Alínea, 2001.

MAROCO, João. Análise Estatística: com utilização do SPSS. Lisboa: Edições


Silabo, 2003.

PESTANA, Maria Helena e GAGEIRO, João Nunes. Análise de dados para Ciências
Sociais: A complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Silabo, 2003.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 143
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

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NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS

1. A revista ANÁLISE tem por finalidade a publicação de trabalhos e estudos


referentes às áreas de Tecnologia, Economia, Ciências Contábeis e Administra-
ção, conforme apreciação de seu Conselho Editorial. Os conceitos, informações e
pontos de vista contidos nos trabalhos são de exclusiva responsabilidade de seus
autores.

2. Os trabalhos poderão ser elaborados na forma de artigos (inéditos), relatos


de pesquisa ou experiência, pontos de vista, resenhas bibliográficas ou entrevistas.
Quando se tratar de relato de pesquisa, deverá obedecer à seguinte organização:
introdução, metodologia (sujeitos, material e procedimento), resultados, discus-
são, referências bibliográficas e anexos.

3. Os trabalhos deverão ser redigidos em programa Word for Windows , espaço


duplo, fonte Times New Roman, tamanho 12, folha A4, com 2,5 cm de margem
(esquerda, direita, superior e inferior). Os trabalhos deverão ter, no máximo, 20
páginas.

4. Um disquete 3,5” e duas cópias impressas (com conteúdo e formato idênti-


cos) devem ser enviados à Secretaria da Faculdade de Ciências Econômicas,
Contábeis e de Administração de Empresas Padre Anchieta, à av. Dr. Adoniro La-
deira, 94, CEP 13210-800, Jundiaí - SP.

5. A capa deverá conter, na seguinte seqüência, o título do trabalho, em pará-


grafo centralizado (TODAS AS LETRAS MAIÚSCULAS); abaixo do título, em pará-
grafo centralizado, o tipo de publicação (artigo, relato de pesquisa, resenha etc.);
abaixo, em parágrafo justificado, deverá vir o sobrenome do autor (TODAS AS LE-
TRAS MAIÚSCULAS), seguido do nome completo (separados por vírgulas), sua
mais alta titulação acadêmica e atuação profissional, endereço completo, telefone
e, se tiver, o endereço eletrônico. Para trabalhos com mais de um autor, os sobre-
nomes devem ser colocados em ordem alfabética ou apresentados conforme este
critério: em primeiro lugar, aqueles que mais contribuíram para a execução do tra-
balho e, em seguida, os colaboradores.

6. A primeira página deverá conter, como cabeçalho, o título do trabalho, em


parágrafo centralizado (TODAS AS LETRAS MAIÚSCULAS). Abaixo do título, em
parágrafo alinhado à direita, deverá vir o nome completo do autor. A titulação acadê-
mica e a atuação profissional deverão vir em forma de nota de rodapé, inserida após
o sobrenome. No caso de múltiplos autores, a ordem deve ser idêntica à da capa.
Abaixo do cabeçalho, deverão vir o resumo do trabalho (máximo 20 linhas), cinco
palavras-chave, abstract e key words.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 145
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

7. Quadros, tabelas, fotos e figuras deverão ser devidamente identificados com


numeração, títulos e legendas.

8. As citações indiretas deverão ser seguidas do sobrenome do(s) autor(es)


(TODAS AS LETRAS MAIÚSCULAS) e ano da publicação, entre parênteses. Exem-
plo: (BOSSA, 1994)

9. As citações literais, de até três linhas, deverão ser apresentadas entre as-
pas duplas e estar acompanhadas da respectiva referência, incluindo-se a(s)
página(s). Exemplo: (BOSSA, 1994, p. 32). As aspas simples são utilizadas para
indicar citação no interior da citação. Se o nome do autor for mencionado fora da
referência entre parênteses, devem ser usadas letras maiúsculas e minúsculas.
Exemplo:
Oliveira e Leonardos (1943, p. 146) dizem que a “[...] relação da série São
Roque com os granitos porfiróides pequenos é muito clara.”

10. As citações literais com mais de três linhas deverão ser redigidas em pará-
grafo destacado, com 4 cm de recuo da margem esquerda, letra tipo Times New
Roman, fonte 10, sem as aspas. Exemplo:
A teleconferência permite ao indivíduo participar de um en-
contro nacional ou regional sem a necessidade de deixar
seu local de origem. Tipos comuns de teleconferência in-
cluem o uso da televisão, telefone, e computador. Através
de áudio-conferência, utilizando a companhia local de tele-
fone, um sinal de áudio pode ser emitido em um salão de
qualquer dimensão. (NICHOLS, 1993, p. 181).

11. As citações indiretas de diversos documentos de vários autores, menciona-


dos simultaneamente, devem ser separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabé-
tica. Exemplo:
Diversos autores salientam a importância do “acontecimento desencadeador”
no início de um processo de aprendizagem (CROSS, 1984; KNOX, 1986; MEZIROW,
1991).

12. As referências bibliográficas, no final do texto, serão limitadas aos traba-


lhos realmente lidos e citados no corpo do trabalho, obedecendo ao seguinte pa-
drão: sobrenome do autor (TODAS AS LETRAS MAIÚSCULAS), nome do autor,
título completo da obra (em itálico), local de publicação e editora, ano de publica-
ção; se a obra tiver dois ou três autores, os nomes devem ser separados por ponto-
e-vírgula, seguido de espaço; quando existirem mais de três autores, indica-se
apenas o primeiro, acrescentando-se a expressão et al. Exemplos:
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Tradução Vera
da Costa e Silva et al. 3. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1990.

146 Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta
ANÁLISE - Ano VI - Nº 12 - Março/2006

ROMANO, Giovanni. Imagens da juventude na era moderna. In: LEVI, G.;


SCHMIDT, J. (Org.). História dos jovens 2. São Paulo: Companhia das Letras,
1996. p. 7-16.

SANTOS, F. R. dos. A colonização da terra do Tucujús. In: ______. História do


Amapá, 1o grau. 2. ed. Macapá: Valcan, 1994. cap. 3, p. 15-24.

SEKEFF, Gisela. O emprego dos sonhos. Domingo, Rio de Janeiro, ano 26, n.
1344, p. 30-36, 3 fev. 2002.

URANI, A. et al. Constituição de uma matriz de contabilidade social para o


Brasil. Brasília, DF: IPEA, 1994.

13. O nome do autor de várias obras referenciadas sucessivamente, na mesma


página, é substituído, nas referências seguintes à primeira, por um traço sublinear
(equivalente a seis espaços) e ponto. Exemplos:

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,


1984.

______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

14. Referenciamento de material em meio eletrônico (disquete, CD-ROM, on


line etc.):
a) as referências devem ser acrescidas das informações relativas à descrição
física do meio eletrônico. Exemplo:

KOOGAN, André; HOUAISS, Antonio (Ed.). Enciclopédia e dicionário digital 98.


Direção geral de André Koogan Breikmam. São Paulo: Delta: Estadão, 1998. 5 CD-
ROM.
b) quando se tratar de obras consultadas on line, são essenciais as informa-
ções sobre o endereço eletrônico, apresentado entre os sinais < >, precedido da
expressão Disponível em: e a data de acesso ao documento, precedida da expres-
são Acesso em:, opcionalmente acrescida dos dados referentes a hora, minutos e
segundos (NOTA: não se recomenda referenciar material eletrônico de curta dura-
ção nas redes). Exemplo:

ALVES, Castro. Navio Negreiro. [S.I.]: Virtual Books, 2000. Disponível em: <http:/
/www.terra.com.br/virtualbooks/freebook/port/Lport2/navionegreiro.htm >. Acesso em:
10 jan. 2002. 16:30:30.

15. Estas normas passam a vigorar a partir do próximo número desta publica-
ção.

Revista das Faculdades de Tecnologia e de Ciências Econômicas, Contábeis e de Administração Padre Anchieta 147

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