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SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
APOCALIPSE
COMO OS PATRÕES
DE SILICON VALLEY RESTAURANTES
SE ARMAM E BARES
EM DEUSES À BEIRA-MAR
E DESAFIAM
O FIM DO MUNDO
CINEMA BAIÃO
A NOVA BATALHA SEGREDOS
DE SPIKE LEE DO PARAÍSO
CONTRA O RACISMO ESCONDIDO
O DESCONHECIDO DO SUD-EXPRESS
QUE SURPREENDEU A EUROPA
A INCRÍVEL VIAGEM DE MARCELO, AOS 20 ANOS
• A DESCOBERTA DA LIBERDADE E DOS NOVOS COSTUMES, EM 1969
• A “NOVIDADE” DOS CAFÉS DE PARIS, NUM GRUPO
COM LEONOR BELEZA E MARIA DO ROSÁRIO CARNEIRO
• O DISCURSO DE IMPROVISO, NA SEDE DA NATO, EM BRUXELAS
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VISÃO
16 AGOSTO 2018 / Nº 1328
RADAR
14 Imagens da semana
21 Raios X
GETTY IMAGES
22 A semana em 7 pontos
24 Holofote
26 Almanaque
27 Inbox
28 Transições
50 Os novos visionários do Apocalipse
São cada vez mais os que mostram uma fé cega na Ciência e na
29 Próximos capítulos Tecnologia para sobreviverem a um cataclismo e se tornarem imortais
– em particular os ricos e os poderosos de Silicon Valley
FOCAR
70 PSD: Rio e a geração de 70 32 Baião, paraíso escondido
A menos de uma hora do Porto, o cenário que inspirou Eça de Queirós
76 Os malefícios do ar para escrever A Cidade e as Serras. Terra de tradições fortes e de
condicionado excelente gastronomia, o concelho deu a volta à pobreza e, aos turistas,
78 Os seus direitos em tempos oferece agora o melhor de dois mundos
de férias
82 A má-língua faz bem à saúde
84 Entrevista com o velejador
40 A incrível viagem de Marcelo & Companhia
Como uma aventura no Sud Express, no final dos anos 60, marcou, para
Robert Scheidt sempre, um grupo de jovens universitários portugueses. Um deles chegou
a Presidente da República. No entanto, a NATO conhece-o desde 1969...
VAGAR
86 A missão de Spike Lee 58 Elon Musk: o génio está louco?
93 Pessoas Com problemas na empresa e pressionado pelos investidores, o visionário
e fundador da Tesla está cada vez mais imprevisível. O perfil de um
94 Tendências homem que se recusa a ser condicionado pela realidade de curto prazo
Online W W W.V I S A O . P T
Últimos artigos na BOLSA DE ESPECIALISTAS VISÃO
97 Bares e restaurantes
ao longo da costa
OPINIÃO
6 António Lobo Antunes Carla Isidoro Catarina Marcelino Paulo Mendes Pinto
TENDÊNCIAS DE CONSUMO CIDADANIA E IGUALDADE CIÊNCIA DAS RELIGIÕES
8 Rui Tavares Guedes Chegou a geração M Residência alternada: Judaísmo, identidades
30 José Eduardo Martins sim ou não? e preconceitos
96 Capicua
130 Ricardo Araújo Pereira Todos os dias, um novo texto assinado por um dos 28 especialistas convidados
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LINHA DIRETA Correio do leitor
A Costa Vicentina
dá corpo e alma a um
Algarve deslumbrante
LUCÍLIA MONTEIRO
Ademar Costa, Póvoa de Varzim
FOGOS E SIRESP
Os fogos de há um ano mataram
pessoas, animais e queimaram bens,
deixando um rasto de cinza. Uma
tragédia inaudita. As gravíssimas
Contactos
CORREIO: Rua Calvet de Magalhães, 242,
2770-022 Paço de Arcos
visao@visao.pt
As cartas devem ter um máximo
25 MAIS RICOS SONO E SONHOS VIVER MAIS de 60 palavras e conter nome, morada
Quem detém Porque precisamos de E MELHOR e telefone. A revista reserva-se
as maiores fortunas dormir? As respostas O que há de novo na o direito de selecionar os trechos
do País da Ciência Ciência da longevidade que considerar mais importantes.
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CRÓNICA
Há outro mundo
mas está dentro deste:
4 crónicas romenas – Terceira
POR ANTÓNIO LOBO ANTUNES
D
e Bucareste a Constância, de automóvel, Fomos recebidos pelo bispo, um homem imponente,
é uma viagem longa, através de grandes de longas barbas grisalhas. A certa altura disse
extensões de campos. Passam-se aldeias – Vamos rezar uma oração pelas almas eternas
e aldeias, algumas vilas, casas dispersas, dos escritores falecidos.
camponeses que caminham à beira da E, na igreja lindíssima, inúmeras vozes masculi-
estrada. A certa altura um mosteiro enorme nas cantaram uma oração arrepiantemente bela, que
com centenas de seminaristas. me emocionou até às lágrimas. Nunca senti Deus
O clero teve um papel importante durante o tão presente, tão próximo como nesse dia. As almas
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
comunismo, bastantes padres foram presos, eternas dos escritores falecidos. Tomara eu que um
bastantes padres foram mortos. O clero, ao dia cantassem aquilo por mim. No fim deram-me
contrário de Portugal, não colaborou com a ditadura um terço que cabia no punho como uma pulseira.
e muito mais gente do que aqui frequenta as igrejas. Pedi a um padre que o benzesse. E saí de lá com o
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espírito mais perto do Céu do que alguma vez bém mas não publicava nada, desgostoso com as
o tinha sentido. Tudo ali era de uma beleza grandiosa pobres produções dos meus doze ou treze anos
e tranquila e a mão de Deus passeava sobre as nossas e não valia a pena imaginar
cabeças. Depois mais campos, mais estradas, mais – Vou ser o melhor de todos
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animais a lavrarem. E Constança junto ao Mar Negro, porque aquilo que me saía da caneta eram pobres
para onde o Imperador Octávio exilou Ovídio, onde patetices de criança e provavelmente seriam sempre
ele escreveu boa parte da sua obra e no qual morreu. pobres patetices de criança. Qualquer coisa, que
Ovídio é o meu poeta favorito. Tem uma estátua dele não imagino o que fosse, obrigava-me, no entanto,
num pedestal alto que faz lembrar um pouco a de a teimar. E passei vinte anos a teimar, todos os dias,
Bocage em Setúbal. Há anos que tento traduzi-lo, até que, de repente, veio ter comigo a Memória
de indicador no sujeito e mindinho no verbo e os de Elefante, após passar tempos sem fim com um
meus resultados são pobres comparados com a ex- romance que não me satisfazia. No fundo julgo que
traordinária riqueza do original. Outro dia consegui achava que podia ser capaz mas não sabia como.
verter para português versos seus que não me pare- De modo que continuava e destruía, continuava
ceram assim muito maus, embora bastante inferiores e destruía, continuava e destruía. E de súbito,
à versão original imagine-se, estava na cidade de Ovídio a receber
Há lágrimas na natureza das coisas o prémio com o seu nome, e perguntava-me, meio
e a tristeza do efémero toca-nos o coração assombrado, como é que eu cheguei aqui. Ainda
claro que isto é uma versão discutível face à polis- hoje me continuo a perguntar, assombrado, como é
semia da poesia de Ovídio, claro que que eu cheguei aqui. A teimar sem
há a presença de Calímaco embora descanso, penso eu, porque não
a presença de Calímaco seja mais ou Ainda hoje me há talentos, há bois que marram
menos óbvia nos grandes latinos, em
Ovídio como em Horácio ou Virgílio,
continuo a perguntar, e marram toda a vida, duvidando
sempre dos resultados. Agora já não
mas parece-me, apesar de tudo, acei- assombrado, como é duvido: sei quem sou. Em Constança
tável: com um toque de génio ficaria que eu cheguei aqui. o Dinu dizia-me
boa mas eu sou um prosador que
mantém com a poesia uma relação A teimar sem – Vão dar-te o prémio
perguntei-lhe
imperfeita. Porém ali estava eu em descanso, penso eu, – Como é que sabes?
Constança, na cidade onde o exilado
Ovídio morreu e na qual escreveu,
porque não há valores, e o Dinu respondeu que tinha
falado do meu trabalho, louvando-o,
por exemplo, a admirável Tristeza do há bois que marram a dois membros do juri que lhe res-
Exílio, sentindo a sua presença em e marram toda a vida, ponderam com uma pergunta
cada pedra, em cada esquina, em cada
bocadinho de ar que respirava. Estava duvidando sempre – Porque estás tu a bater a portas
abertas?
eu e estavam dúzias de escritores dos resultados e ele descansou. Queria tanto que
um pouco de toda a parte, para um eu ganhasse aquele prémio, o mais
encontro internacional e a entrega do importante do seu País e, palavra
Prémio Ovídio que me deu imenso prazer receber. de honra que eu não minto, e julgo que fiquei mais
Voltei corrido um ano, como era da praxe, para satisfeito por ele do que por mim. Depois deram-me
entregar o prémio ao laureado seguinte, por acaso mais prémios na Roménia, doutoramentos honoris
o meu amigo Amos Oz, que fez o mesmo com Vargas causa, essas coisas. E a alegria do Dinu enchia-me
Llosa, que fez o mesmo com não sei já quem, e gos- de satisfação. Quando o Zé Cardoso ganhou
tei imenso dos recitais de poesia em que os autores o prémio Pessoa telefonou-me
diziam os próprios versos, gostei de conversar com – É para te dar os parabéns porque ganhei um
pessoas que respeitava, gostei de conhecê-los e de os prémio
ouvir falar. Diante deles sinto-me o menino que fui e quando o Nobel que ele queria para mim não vi-
que interrompia, ao meio da viagem de eléctrico para nha telefonava ao nosso comum editor, Nelson
casa, de volta do liceu, a viagem para achatar o nariz de Matos, a dizer
na montra da cervejaria Coral, espreitando os inte- – Perdemos
lectuais que ali se juntavam, achando estranhíssimo e é talvez a isto que se chama amizade. Dinu,
que eles comessem como eu, de faca e garfo, trocan- que bom estarmos ambos em Constança a passear
do palavras que não conseguia ouvir mas que eram, junto ao Mar Negro, em paz. Que noites tão grandes
de certezas sublimes. E ficava o tempo que podia, sobre a água. Que pequenos almoços tão ensonados
pasmado de admiração, diante daqueles espíritos que e felizes no restaurante do hotel, Dinu, como
eu considerava privilegiados e cujas conversas, infe- as romenas são bonitas. Principalmente isso:
lizmente, não chegavam a mim. Eu sempre admirei como as romenas são bonitas. Amos Oz, para mim
e respeitei os artistas e, enquanto os olhava, repetia – É a mistura do sangue latino com o sangue
para mim mesmo eslavo
– Eles escrevem e eu a dizer que sim com a cabeça, claro. A uma
maravilhado de pasmo. Claro que eu escrevia tam- mistura dessas diz-se sempre que sim. visao@visao.pt
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OPINIÃO
HISTÓRIAS
DA CAPA
Como se aumentam
os salários?
Procuram-se soluções
1
S
P O R R U I T A V A R E S G U E D E S / Diretor-executivo
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J
Jurista de formação, Isabel Meirelles
tem-se dividido entre a advocacia e
o ensino. Analista regular nos média,
é conhecida como especialista em
Assuntos Europeus. Foi senior lecturer
no Centro Europeu de Juízes e Advo-
gados, no Luxemburgo, e assessora
do Gabinete de Direito Europeu do
Ministério da Justiça. Adjunta dos
ministros da Justiça nos governos
de Estado. Qualquer pessoa bem-
-intencionada vê que isto é pôr em
primeiro lugar os interesses do País.
Rio terá colocado como seu hori-
zonte as autárquicas de 2020. Se,
das próximas legislativas, sair a
nova “geringonça”, será de manter a
estratégia?
Esta é uma estratégia para manter,
sim. Não é uma corrida de 100 metros,
mas uma maratona. Vão ser precisos
grandes pactos de regime para o de-
senvolvimento do País, seja na Saúde,
na Justiça, na Educação. Isso só pode
ser feito com elevação e sem facciosis-
mo. Nenhum partido consegue por si
só fazer essas reformas.
Em que circunstâncias poderia o
PSD aprovar o Orçamento do Esta-
do? Fazendo incluir que matérias?
Para isso precisava de uma bola de
cristal. Era necessário, primeiro, que
houvesse Orçamento e, existindo, que
lado, e, embora Michel Barnier tenha
sido um excelente negociador até
agora, estão em causa imensas variá-
veis que nós nem sonhamos, como os
serviços financeiros, a questão adua-
neira, as migrações. É como o cubo de
Rubik: quando se desacerta uma peça,
desacertam-se todas. Mas espero,
para bem de todos, que o Reino Unido
possa ficar com alguma ligação, não
direi umbilical, mas de boa vizinhança
com a UE.
Londres estaria a contar com que
todos os Estados cerrassem assim
as fileiras?
Talvez não, até porque têm andado
um pouco desavindos. Mesmo assim,
puseram-se de acordo em que, se um
quiser sair, a porta da rua será a ser-
ventia a casa, mas só depois de pactuar
um acordo com os restantes. E o Reino
Unido sempre foi malvisto; é um pais
eurocético; nunca quis aderir ao euro
de Sá Carneiro e de Balsemão, foi este fosse conhecido. Como não suce- e, no tempo de Thatcher, nem quis ser
também vereadora do PSD na Câmara de uma coisa nem outra, não podemos contribuinte líquido. Basta lembrar
de Oeiras. É hoje vice-presidente da pronunciar-nos. que ela dizia “quero o meu dinheiro
Comissão Política de Rui Rio. A nível europeu, um dos maiores de volta”. O Reino Unido sempre tem
O que lhe pareceu a declaração do impasses tem sido o Brexit. exigido o opting out, exceções atrás
ministro dos Negócios Estrangei- A primeira-ministra Theresa May de exceções na legislação europeia e
ros, Santos Silva, de que, em caso diz que o Reino Unido poderá sair ficava de fora quer fosse em segurança
de nova “geringonça”, deveria haver com um “no deal”, isto é, sem um e defesa, quer em política de migração.
maior compromisso dos parcei- acordo. Acredita? No fundo, este país sempre quis um
ros, designadamente em matéria Depois das demissões do seu minis- espaço de livre troca, uma espécie
europeia? tro dos Negócios Estrangeiros, Boris de centro comercial para escoar os
Acho extraordinariamente difícil. Os Johnson, e do negociador para o seus produtos para o continente.
partidos à esquerda do PS são pratica- Brexit, David Davis, ficou claro que as Já De Gaulle lhe chamava “o Cavalo
mente antieuropeus. E a União Euro- perspetivas são cada vez mais estrei- de Troia” na fortaleza europeia.
peia (UE) precisa de grandes reformas, tas. Theresa May quer um acordo de Como viu a viagem de Trump
quer na Zona Euro quer no que se comércio livre, eventualmente uma pela Europa, a exigir aumentos
refere a reformas institucionais em união aduaneira. Porém, o mercado nos orçamentos de Defesa?
geral ou a acordos sobre imigração. único pressupõe quatro liberdades – a É preocupante que o Presidente dos
Não vejo que eles se possam compro- circulação de pessoas e de trabalha- EUA declarasse isso, não tanto pelo
meter em algo tão integrador como o dores, de serviços, de capitais, de mer- assunto em si mas pela forma como
projeto europeu. cadorias. Em termos técnicos, con- o fez, ameaçando quase retirar o seu
Mas acredita que, com mais ou sidero que isso não é possível e que país da NATO. Não me lembro de um
menos compromisso europeu, saia ela está metida numa camisa de onze membro seu fazer este tipo de amea-
algo semelhante a este Governo, nas varas. Assim, provavelmente teremos ças. Enfim, é do seu estilo!
próximas legislativas? um hard Brexit, até porque os parla- Ele quer concretamente uma
Vai depender dos resultados eleitorais. mentos nacionais terão de sancionar subida para 2% do PIB.
Só a partir daí é que serão possíveis as o acordo. E, a nível de Bruxelas, basta Falava, aliás, em 4%, para depois
projeções. um Estado não aceitar para que o negociar até aos 2%. A Europa tem, de
A estratégia de Rui Rio para salvar acordo não exista. facto, de prover à sua segurança e de
António Costa de ser refém da O ministro Liam Fox previa que aumentar o orçamento, pelo menos
esquerda ainda não se refletiu nas seria “um dos acordos mais fáceis até aos 2% do PIB, se desejar um mí-
sondagens. Mesmo assim, tem dado de negociar da História da Huma- nimo de autonomia. Já é tempo, como
frutos? nidade”. Como se complicou? dizem Macron e outros líderes, de os
É uma estratégia que precisa de tem- Implicou dinheiro. E o dinheiro faz europeus pagarem a sua defesa, para
po, mas os portugueses compreen- andar o mundo, já dizia a Liza Min- que não nos tirem, um dia, o tapete.
dem-na, porque é uma estratégia de nelli. Há aqui uns milhões de euros Claro que é difícil uma integração de
seriedade, de ética, e não de política que Londres tem de pagar à UE, e é Forças Armadas, de Forças de Segu-
rasteira. Há que dar ideias; integrar em óbvio que, nesta questão, as partes não rança, criando, não digo um Exército
vez de desintegrar. É esta a visão, mais se entendem. Depois, estes acordos comum, mas uma cooperação policial.
do que de um político, de um homem envolvem 27 Estados-membros de um Aliás, já se têm feito missões de paz,
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e a União da Europa Ocidental (UEO)
já foi um embrião de defesa europeia.
“Theresa May Mas podem mesmo ficar em
maioria?
Portanto, está na altura de os governos está metida numa Então não podem! Aliás, bastar-lhes-á
europeus apostarem nisso, para não
ficarem desprotegidos face a ameaças
camisa de onze ficar com uma minoria de bloqueio.
O Parlamento Europeu codecide com
difusas, pois uma grande questão é varas. Acho o Conselho Europeu. Portanto, todas
saber quem é o inimigo.
Porque não é o mesmo para todos.
tecnicamente as propostas de regulamentos e de
diretivas podem ser bloqueadas a nível
Exatamente. Para haver um Exército inviável a do Parlamento.
comum tem de haver uma política de
Defesa e uma política de Negócios Es-
pretensão que Em relação à imigração, como
evoluirá a situação a curto prazo?
trangeiros comuns. Se perguntarmos ela tem em só Os Estados-membros não se entendem
ao diversos Estados-membros qual é
o inimigo, uns dirão a Rússia, outros
manter com a nesta matéria. Trata-se de uma política
de grande sensibilidade e é muito
os EUA, outros o terrorismo, outros UE um acordo de difícil um consenso. Mas já vimos que
os migrantes. Não há aqui um fio con-
dutor que possa dar uma orientação
comércio livre” a UE só dança a várias velocidades.
A minha posição pessoal é que, se
coerente. Por isso, é uma política mui- houver uma meia dúzia de países que
to difícil de implementar. Só perante Que reflexos pode ter a era Trump aceitem, dentro das suas possibilida-
uma verdadeira ameaça os europeus na Europa? des, integrar estes migrantes é para aí
vão unir-se definitivamente. Steve Bannon, o estratego da que estes devem ir. Em contrapartida,
Quando Trump falava no aumento campanha de Trump, anda pela não podemos forçar outros Estados a
do orçamento, pensava na NATO. Europa a juntar os partidos de recebê-los, porque isso seria dar gás
E este ainda é bastante importante extrema-direita, o que é muito àqueles movimentos. É uma Europa
para os europeus, mas muitos já preocupante. Estes movimentos dizem de solidariedade, mas tem limites. Esta
alertaram para a necessidade de um que, se ganharem as eleições, saem imposição a todos resulta nos Viktor
aumento do orçamento, não só no da UE, da moeda única. Também é Orbán desta vida.
âmbito da NATO como da Política Ex- verdade que alguns têm feito marcha Viktor Orbán diz que as próximas
terna e de Segurança Comum (PESC). à ré, como é o caso de Itália, que dizia eleições europeias serão “decisivas.”
Acredita mesmo que os EUA que ia sair do euro e nada. O mesmo Concorda?
abandonariam a NATO? aconteceu na Grécia com o Syriza, no São as mais importantes desde que o
Acho muito difícil. A UE não é irrele- outro extremo político. Mas até, em Parlamento Europeu é eleito por sufrá-
vante, pelo contrário: trata-se de uma França, os eleitores de Marine Le Pen gio direto e universal. Há que combater
das maiores potências comerciais, que são extraordinariamente apegados o fenómeno, cada vez mais preocupan-
fala de igual para igual com a China ao euro, que é a construção mais te, que é a abstenção. No PSD, vamos
ou o Japão. A prova disso foi Claude democrática, o cimento agregador promover, a partir de outubro, uma
Juncker ir aos EUA e conseguir de para muitos cidadãos europeus, os série de debates sobre o que a UE pode
Trump uma marcha-atrás na guerra quais encaram a hipótese de saída do fazer pelos portugueses. Levaremos, a
comercial que este declarara à Europa. euro como uma perda para as suas várias capitais de distrito, personali-
É muito improvável os EUA viverem economias, o seu poder de compra. dades nacionais e estrangeiras. O que
sem a UE, e vice-versa. Apesar do Apesar de tudo, isso tem sido um estará em causa não é a eleição deste
sr. Trump, que, de vez em quando, travão. ou daquele deputado, mas a conti-
baralha e torna a dar, há checks and As extremas-direitas não podiam nuação de um projeto que deu imenso
balances, pesos e contrapesos, quer na juntar-se por si próprias? Steve desenvolvimento a Portugal, o qual
política norte-americana quer na da Bannon fará assim tanta diferença? é obra dos governos nacionais mas
UE, que fazem com que esta aliança Ele é um perigo. Viktor Orbán ganhou também dos fundos de coesão. E nisso
continue. as eleições na Hungria só com o dis- temos de agradecer a Jacques Delors,
Como tem visto a presidência curso anti-imigração. Estamos a falar que fez tudo para duplicar os fundos
de Juncker? de partidos que defendem regimes au- que se destinavam a nós. Estes podiam,
Sou suspeita, porque gosto imenso tocráticos, de pensamento único. Basta talvez, ter sido mais bem aplicados, é
dele. Foi um ótimo ministro das Fi- ver como Marine Le Pen tece loas a verdade, mas o nosso nível de vida não
nanças, ótimo presidente do Euro- Putin. Steve Bannon é um alter-ego de seria hoje o mesmo fora da UE.
grupo, um bom primeiro-ministro do Trump. Está a doutrinar estes partidos Vamos tê-la na lista de candidatos
Luxemburgo. Acho difícil fazer melhor e, mais do que isso, a congregá-los do PSD às europeias?
do que ele está a conseguir. Claro que numa federação, o tal movimento. Ainda é muito cedo para falar nisso.
se lhe podem apontar defeitos, como Nenhum dos líderes europeus, nem O importante é trabalhar as ideias,
a todas as pessoas, mas é talvez dos sequer Marine Le Pen, tinha proposto densificar projetos, e não ambições
últimos europeístas convictos com isto. Foi preciso vir alguém do outro pessoais por vezes mesquinhas. A mi-
que a UE tem contado. E ele tem feito lado do Atlântico para lhes dar esse nha ambição é servir o País e a Europa,
tudo para juntar as peças dispersas em cimento, criar uma vaga de fundo. Va- propor ideias. É muito triste ver que
vários domínios. Só esta ida aos EUA, mos ter eleições europeias em maio, e, só 30% dos eleitores vão às urnas em
regressando com um pré-acordo no se estes partidos ficarem em maioria, eleições que decidem o futuro político
bolso, faz dele um bom presidente. será a implosão do projeto europeu. da União Europeia. visao@visao.pt
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GOOD DAYS
W W W. E L E T TA . P T
E L E T TA W ATC H E S
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> Depois do sismo,
a tenda
Todos os dias, os números
crescem. O mais recente
balanço das autoridades
indonésias, feito na segunda-
-feira, 13, aponta para 436
vítimas mortais do sismo
de magnitude 6,9, que há mais
de uma semana atingiu a ilha
de Lombok, no Sul do país
(houve um novo terramoto
de 5,9, quatro dias depois).
Cerca de 70 mil casas, quase
500 colégios, 13 centros
de saúde, seis pontes
e 15 mesquitas ficaram no
chão. Estima-se que haja
ainda mais de 13 mil feridos,
muitos deles agora abrigados
em tendas ou em abrigos
temporários, depois
de terem sido retirados
do local, aguentando
o calor tropical típico deste
arquipélago do Sudeste
Asiático.
Foto: Sonny Tumbelaka/AFP
/Getty Images
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> Jardim das delícias
Na imensa e silenciosa
paisagem subaquática
do Mar de Mármara, junto
à província turca de Balikesir,
o mês de agosto é de colheita.
Um homem mergulha nas
águas de cor esmeralda,
onde milhares de mexilhões
cresceram. Todos os anos,
no mês de fevereiro, mil
toneladas de moluscos
são plantadas em cordas,
no fundo do mar. Estes
crescem agarrados a elas,
atingindo o ponto ótimo para
serem apanhados no pico
do verão e servidos à mesa
de residentes e de turistas.
Foto: Tahsin Ceylan/Anadolu Agency
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AR CONDICIONADO
TECNOLOGIA DO FUTURO
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RAIOS X
S Í L V I A C A N E C O scaneco@visao.pt
Os salários
Portugal vs Nova Iorque
€500/mês €11,20/hora
Os vencimentos Um motorista
reais variam terá de receber
muito. Um por cada hora de
motorista trabalho 13 dólares
a tempo inteiro (€11,20), o que
ganhará entre significará um
€500 e €900 aumento de 22,5%
líquidos por mês nos seus salários
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7
PONTOS DA SEMANA
POR
SARA BELO LUIS*
GETTY IMAGES
AS FÉRIAS GRANDES
FAZEM MAL AOS MIÚDOS?
O assunto não interessa só aos pais de a Bélgica ou a Alemanha. A tudo isto
crianças em idade escolar e é muito acresce o facto de esta “perda de
mais sério do que, à primeira vista, conhecimento” também produzir
pode parecer. Chegar a casa, depois de efeitos na mobilidade social.
um dia de trabalho no escritório, vê-las Ou seja: as crianças menos abonadas
estendidas no sofá (a jogar PlayStation são as mais prejudicadas, uma vez
há horas, para trás e para diante que não têm tantas possibilidades
no Instagram, o enésimo vídeo no de frequentar campos de férias, com
YouTube...) e perguntar: porque raio hão desportos radicais, ou de alargar
de as férias de verão ser tão grandes? os seus horizontes em viagens por
Os três meses de férias são uma outros países. Estes esquecimentos
felicidade para os miúdos e um durante o verão são responsáveis,
problema para as famílias, já se sabe. segundo investigadores de Baltimore,
Porém, um estudo recente, realizado por dois terços da desigualdade na
na Duke University, na Carolina do aprendizagem entre ricos e pobres.
Norte, com alunos entre os sete e os No meio do desespero dos pais e do
15 anos, vem acrescentar um dado tédio dos filhos, o que fazer? A doutrina
novo a este problema: quando voltam divide-se e, como quase sempre
do seu longo verão, muitas crianças acontece nas matérias relacionadas
não se lembram de uma boa parte com a educação, todos têm uma
do que aprenderam no ano letivo opinião. Há soluções, digamos, mais
anterior, chegando esta “perda de dentro do sistema: aumentar o ano
conhecimento estival” a atingir os letivo, distribuir as férias por outros
25 por cento. “É bastante evidente períodos do ano, mais atividades de
que as crianças esquecem as coisas verão disponibilizadas pelo Estado
durante o verão”, diz o professor de (como o Governo inglês acaba de fazer).
Psicologia e de Neurociências Harris E, por fim, a solução apontada por
Cooper, citado pela The Economist. movimentos que defendem que
A tendência, observa, mantém-se as crianças devem dispor de mais
até em países com períodos de férias tempo sem um adulto sempre por
mais curtos, como o Reino Unido, perto: deixá-las ir para o parque.
*Subdiretora
sbluis@visao.pt
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NÚMERO FRASE
26 957
Hectares
destruídos
“É completamente ridículo que
alguém escolha andar na rua
parecendo um marco do correio”
Boris Johnson, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros
britânico, na sua coluna do jornal The Telegraph,
pelo incêndio argumentando contra a proibição de as mulheres utilizarem
de Monchique burka, implementada recentemente na Dinamarca
Segundo dados
do Sistema Europeu
de Informação sobre ARGENTINA
Incêndios Florestais
(EFFIS), o fogo que
deflagrou no dia 3
Aborto “no”
de agosto na serra O senado argentino
de Monchique, no Algarve, rejeitou, no final da
destruiu cinco vezes mais semana passada, o projeto
do que a área ardida este de lei que tornaria o aborto
ano em todo o País (até legal até à 14ª semana
15 de julho,5 327 hectares) de gestação (naquele país,
e mais de metade dos o aborto só é permitido
41 mil hectares destruídos em caso de violação ou
na mesma região, em quando está em causa
2003. O valor é superior a saúde da mãe).
à extensão de hectares Os especialistas dizem
MODA que o resultado da votação
que ardeu na Suécia
(21 mil) e no Reino Unido
(18 mil).
Porque os negros vendem se deve à influência da
Igreja Católica, sobretudo
O assunto tem sido falado, a propósito das edições no norte do país,
de setembro: Beyoncé estará na capa da Vogue norte- maioritariamente contrário
DESEMPREGO -americana, Rihanna na da Vogue inglesa. Nada de novo; à legalização do aborto.
ambas são repetentes na arte de posar para as revistas A proposta mobilizou
E melhores de moda. A questão está em que, segundo um inquérito uma parte significativa
salários? do The New York Times, a percentagem de não-white
americans nas capas era de 26%, enquanto, no mês que
da sociedade argentina e
o Governo já fez saber que
A taxa de desemprego vem, chegará aos 50 por cento. Pela primeira vez na não permitirá a realização
desceu para 6,7% história da Vogue, a fotografia da produção de Beyoncé foi de um referendo sobre
no segundo trimestre, assegurada por um negro, Tyler Mitchell, e, na entrevista, a matéria. Em junho, dias
atingindo o valor mais igualmente conduzida por uma jornalista negra, Beyoncé antes da aprovação
baixo desde 2011, fez questão de dizer: “Quando comecei, há 21 anos, do projeto na câmara,
divulgou, na semana disseram-me que seria difícil fazer capas de revistas, o Papa Francisco
passada, o Instituto porque os negros não vendiam.” comparou o aborto com
Nacional de Estatística o nazismo: “É o mesmo
(INE). De acordo com os que faziam os nazis,
dados do INE, a população mas com luvas brancas.”
desempregada diminuiu IMIGRAÇÃO
14,2% relativamente
ao trimestre anterior. Xeque-mate
Entre os jovens (15
a 24 anos), o desemprego Chama-se Shreyas Royal, seria obrigado a regressar
também desceu, embora tem nove anos, vive em à Índia, quando o visto do
se mantenha elevado Londres desde os três e seu pai, gestor de sistemas
(19,4%). Sobre o retorno é considerada “a maior de informação da Tata,
dos jovens emigrados, promessa do xadrez caducasse, em setembro.
anunciou o primeiro- britânico de uma geração”, Após o caso ter sido
-ministro António Costa segundo Dominic Lawson, tornado público, a família
ao jornal Expresso que presidente da Federação foi informada de que, afinal,
pretende criar “um pacote de Xadrez inglesa. Foi o pai pode requerer um
fiscal muito agressivo para notícia depois de o Home novo visto com base no
atrair o seu regresso”. Office dizer que Shreyas talento excecional do filho.
REUTERS
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HOLOFOTE
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ALMANAQUE
TECNOLOGIA
O smartphone que
é um bloco de notas
SAÚDE
A câmara não bate recor-
Ataques cardíacos não são doença de homens des nos megapíxeis, mas
permite, inclusive, con-
trolar a abertura da íris,
Mulheres tratadas por médicas têm mais que deram entrada num hospital da Florida, para fotografar melhor à
hipóteses de sobreviver porque o diagnóstico nos EUA, com doenças coronárias. Os dados noite ou fazer aquele efeito
padrão continua a ser o género masculino. mostraram que mais mulheres morreram de desfoque do fundo,
O género interessa? No que diz respeito quando tratadas por médicos homens, destacando o motivo. Uma
a ataques cardíacos, parece que comparando com o menor número de câmara para prós.
sim. Tanto quem os tem como óbitos de doentes homens que foram
quem os trata. O mito de que um tratados por homens ou por mulheres.
ataque de coração é uma doença A investigação rejeita que esteja em A bateria tem muito
de homens ajudou a que os causa algum tipo de sexismo. mais capacidade do que
sintomas das mulheres sejam A razão pode estar relacionada com o normal, o que garante
menos considerados e que, por o facto de os sintomas nas mulheres autonomia para um dia
consequência, o diagnóstico serem diferentes daqueles de que de utilização intensiva,
seja errado. Para comprovar sofrem os homens, embora o padrão ou até para dois dias
de utilização mais “leve”.
esta teoria, três professores de diagnóstico continue a ter como
analisaram os registos médicos de referência o masculino, para ambos
duas décadas relativos aos pacientes os sexos.
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INBOX
M O D É S T I A À PA R T E Adoraria ter
Fico lixado visto isto na
ao ver que alguns
jornalistas não TV quando era
me incluíram no
grupo de possíveis
uma jovem
técnicos da
seleção argentina
membro da
DIEGO MARADONA
Desabafo irritado do ex-jogador
comunidade
LGBT, que
e ex-selecionador
nunca se sentiu
representada
na TV e se
O ensino que se faz
sentia sozinha
é o da superficialidade
HÉLDER SOUSA
e diferente
Diretor do Instituto de Avaliação
Educativa (IAVE), que cria os RUBY ROSE
exames do Ensino Secundário A atriz emocionada por interpretar
Batwoman, uma lutadora de rua, lésbica
e judia, que protege Gotham City
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TRANSIÇÕES
PREMIADOS
O filme português Alfaião,
realizado por André
Almeida Rodrigues, venceu
o prémio de Melhor Curta
europeia, no International
Documentary Festival of
Ierapetra, que decorreu na
ilha grega de Creta.
MORTE
Nasceu em Lisboa como
Filipe Mendes, mas só com
o nome de Phil Mendrix, e V. S . N A I PA U L ( 19 3 2 - 2 0 18 )
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A crise da
lira está a
PRÓXIMOS CAPÍTULOS
semear os
nervos nos
mercados
PERISCÓPIO
HERMANOS
Os caça-espanhóis
Um caça Eurofighter espanhol disparou um
míssil ar-ar, por engano, nos céus da Estónia, no
âmbito das operações de policiamento da NATO,
no Báltico, o que quase causou um incidente
diplomático, com o primeiro-ministro estónio a
exigir responsabilidades ao comando da Aliança.
O castigo a nuestros hermanos não podia ter sido
mais humilhante: foram substituídos por... F16 da
Força Aérea portuguesa! A Padeira de Aljubarrota
deve estar a dar voltas de júbilo, no túmulo...
DESTINOS
O fadinho dos Marretas
Ficou célebre a cabeçada que Pedro Santana
Lopes deu num vidro do estúdio da RTP, quando
TURQUIA se levantou, furioso, e irrompeu em direção à
régie, depois de um indiscreto microfone aberto
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OPINIÃO
P
ara pôr um grão de areia nesta alegria de Não percebi aquilo da autoestrada onde não po-
verão, o Expresso foi entrevistar o antigo demos ir sempre a 120, mas são assim os grandes,
deputado do PS Henrique Neto e ele saiu- não importa decifrá-los, importa confiar.
-se com uma que felizmente passou des- Talvez porque o desejo torna o irreal possível,
percebida: “O país não está melhor, mas os como escreve o poeta.
portugueses acham que sim.” Talvez porque no dia da entrevista, ilustrou as
Uma semana depois, o mesmo jornal redes sociais, com a mesma fatiota, ao comando do
lá corrigiu o tiro no otimismo com uma feito notável de Monchique.
belíssima e retemperadora entrevista ao Um sucesso nas palavras do dr. Costa. E aqui, coisa
nosso líder. Ficámos tranquilos. rara, deixou-se tolher pela modéstia. Mais do que
Estamos como um pero. um sucesso, inventou todo um novo paradigma no
Virámos, explica com paciência e carinho o dr. combate aos incêndios. Arrastar as pessoas, para não
Costa, a página da austeridade e estamos agora na haver mortos e deixar arder tudo, não porque não
fase do redentor rigor. haja químicos ou coordenação, mas pela beleza rege-
A carga fiscal bateu recorde no neradora da inatividade magistral.
ano passado (que isto do rigor pre- Notável, não é? Embrulha!
cisa de muita receita), mas agora, O dr. Costa goza o Estamos portanto a mudar de
anuncia o nosso benfeitor, vem aí, pagode sem o mínimo página, de vida, quase de planeta.
pela redução de impostos, a reso-
lução dos nossos maiores proble- de pudor. Porque pode. O dr. Costa goza o pagode sem o
mínimo de pudor. Porque pode.
mas. Tufas, mai nada. Não precisa de Não precisa de exibir inteligência,
Vamos atrair de volta os jovens
emigrantes qualificados e vamos
exibir inteligência, competência, conhecimentos, bom
senso, nada. Só falar e encher o va-
ter um bodo para os senhorios competência, zio, porque ninguém o contraria?
fazerem retomar um mercado de conhecimentos, bom Tudo o resto é mera implicância
arrendamento normal.
Os quadros mais qualificados senso, nada. Só falar e do Henrique Neto e do CFP, com
relatórios impróprios (90 páginas,
estão a fazer as malas para o re- encher o vazio, porque que horror) para a época das festas
gresso e até já o Robles desistiu lá
disso do alojamento local.
ninguém o contraria? e dos festivais e títulos aziagos
(“Riscos orçamentais e Sustentabi-
Que os salários desses mais lidade das finanças públicas”).
qualificados continuem baixos e sem qualquer Pois, parece que temos um risco superior a 50% de
perspetiva de subir ou que os senhorios não tenham entrar em crise a cada cinco anos, que cada crise nos
ganhado nenhum na ideia são minudências que não custa mas de 3% do PIB e levamos tantos anos a re-
atrapalham quem lidera, até porque o nosso primei- cuperar dela como os que dura, que só chegamos aos
ro-ministro não é de grandes teorias. Só de grandes 100% de dívida em 2030, que temos uma concentra-
convicções. Ele que não leva o PS para a esquerda ção de carga fiscal e consequente risco apenas em dois
nem para a direita, só em frente. Toda a gente sabe impostos e, entre outros fatores igualmente graves,
que para a frente é que é o caminho. somos o país da EU com maiores passivos potenciais
Os pessimistas têm algum receio do que pode à conta do brilho e do equilíbrio das nossas PPP.
acontecer a uma pequena economia aberta na véspe- Preocupações que o verão felizmente enterra na
ra de uma guerra comercial? Não há porquê, explica areia, como normalmente nós também o fazemos
o nosso visionário dr. Costa… e desata a falar da con- até chegar o FMI.
fiança dos empresários cá na terra. Toma, vai buscar. Valha-nos a oposição e o PSD que não se deixa
Também vamos precisar muito dos fundos co- ficar. Lançámos um novo cartão de militante cuja
munitários, mas não haverá problema nenhum com imagem vai “reforçar a afetividade e, por isso,
o rombo orçamental inevitável que os derrotistas a proximidade às bases do partido”.
preveem se tudo for executado. E porquê? Porque Como dizia o bispo Edir Macedo: vai dar tudo
sim. Arruma lá esta. certo! visao@visao.pt
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BAIÃO
OS DIAS FELIZES
A 45 minutos do Porto, encontramos um paraíso perdido.
Um concelho que não fez caso da geografia do avesso e foi à luta
com paisagens imaculadas, literatura, gastronomia, património,
tradições ancestrais e a aristocracia humilde das suas gentes.
Rejeita a “Disneyficação” e os turistas continuam a chegar.
O futuro é aqui
M I G U E L C A R VA L H O
LUCÍLIA MONTEIRO
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16 AGOSTO 2018 VISÃO 33
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Q
“Quando me irrito porque os grilos não se
calam é o máximo! É a minha noção de pa-
raíso.” António Mota está sentado na poltrona
de musgo e raízes do majestoso carvalho das
traseiras da igreja de São João de Ovil, fre-
guesia onde nasceu. Na juventude, deixou-se
abraçar pelas sombras daquela árvore e rabis-
cou, ali mesmo, num caderno, o que viria a
ser A Aldeia das Flores, primeira das 94 obras
saídas do seu imaginário literário de quase
40 anos. Algumas dessas páginas estão pre-
nhes de fadigas, lendas e mistérios da exis-
tência escutadas às mulheres e ao Adrianinho,
velho entrevado que escrevia a giz na lata
espalmada do regador e, afinal, haveria de
andar, andar até aparecer morto nas fragas
do Marão. “Ele dizia que os eremitas comiam
raízes, gafanhotos e dormiam numa cama
de fetos. Por causa disso, ainda hoje lhes tenho
um medo que me pelo!”, recorda o escritor,
a rir-se de histórias idas, mas vividas.
Mota já andou uma hora a pé para che-
gar à escola onde dava aulas. Hoje passa 80 Verde desmedido ram a ser pesados por ordem da presidência.
dias por ano longe de casa, a falar a miúdos Das cascatas Na então esquecida aldeia de Mafómedes,
e graúdos de narrativas de outros tempos, escondidas no Marão fez-se festa no dia em que ali colocaram
por sinal título de um livro em que resgata aos cumes a quase o primeiro contentor do lixo. Corria 2006
a memória e o viver das aldeias de Baião. É 1 500 metros de e a mudança começava, lentamente.
sempre com a ânsia de sossegar que o escri- altitude de cortar a Uma dúzia de anos volvidos, os motores
tor regressa e vai enfiar-se no seu refúgio de respiração, das vistas de busca fornecem, ao primeiro clique, listas
Vilarelho. Grilos, mochos, trovoadas, cheiros, secretas, mesmo por de hotéis, restaurantes, percursos e paisagens
enlevos de mesa e preguiças andarilhas, tudo cima dos carris da intactas, além dos melhores caminhos para
Linha do Douro, ao
lhe devolve o sentido de pertença. “Há dias, aqui chegar. Entre serras e o “Douro verde”,
património integrado
estava lá no meu sítio, em direto com Bra- Baião dispõe de 611 camas em alojamentos
na paisagem onde
sília, a rever a tradução de um livro. Depois nasce a casta avesso,
turísticos – alguns de luxo –, e é o concelho
fechei o computador e perguntei-me: de que Baião compensa com maior oferta no distrito, logo a seguir
preciso mais?” o sinuoso traçado ao Porto. Sem condições para prometer o
Há uns 15 anos, teclar no Google a palavra do seu território com que não pode dar (emprego à escala indus-
Baião devolvia resultados com os dramas da vistas e preguiças trial, projetos megalómanos e um território
pobreza e do isolamento do concelho. O lastro de tocar o céu menos acidentado, por exemplo), o municí-
de atraso e desesperança vinha de longe, e os pio misturou o melhor da sua Natureza, da
bifes servidos na cantina camarária chega- sua gastronomia, do seu património, da sua
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antiguidade e da sua cultura para criar uma
Mosteiro e vinho com traço de Siza integridade que não é de postal.
Do interior da Quinta da Ermida, em Santa
Marinha do Zêzere, até se pode ver passar os
Estará para breve o regresso de Siza a situação financeira da câmara comboios, de cima, entre folhagens, sem so-
Vieira aos trabalhos de recuperação assim o permite.” A antiguidade
bressalto. Existe uma cachoeira do rio Zêzere
do Mosteiro de Santo André do edifício e a sua inserção na
dentro da propriedade, mas a zona preferida
de Ancede. Em 2014, o município paisagem apaixonaram Siza desde
de Baião encomendou ao arquiteto o o início. A reabilitação resultará
do cicerone Rui Silva é a dos moinhos, “onde
anteprojeto que visa o renascimento num complexo arquitetónico com toda a família aprendeu a nadar”. Nem a pe-
deste monumento, anterior valências na área da restauração, quena Matilde se imagina fora deste lugar de
à fundação da nacionalidade, mas turismo e cultura. Enquanto isso, intenso cheiro a figos. Os franceses, ingleses
a obra orçada em cerca de três o arquiteto foi desafiado a desenhar e austríacos tomam chá na esplanada ou
milhões de euros está suspensa o novo rótulo do vinho Lagar deixam-se ficar, espalmados e refastelados,
por falta de financiamento. Segundo do Convento, de casta avesso, na piscina debruçada sobre o Douro.
o autarca Paulo Pereira, há, porém, produzido pelo município na quinta Em São Tomé de Covelas, Joana e Carlos
boas notícias no horizonte, graças do mosteiro. “Tanto quanto sei, Azeredo queriam amor e uma cabana. Bem...
ao recurso a fundos comunitários. somos a única câmara a produzir e talvez um estúdio com jacuzzi, um Spa com
“Teremos de pedir emprestados o seu próprio vinho”, assinala vista para o Douro, um salão de jogos, tar-
770 mil euros à Banca, mas Paulo Pereira. tarugas, papagaios, “bambis”, javalis, patos,
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Fernando Alves e Baião
um amor antigo
As duas edições da iniciativa Virar a Mesa
do Avesso consolidaram a paixão assolapada
do jornalista da TSF pela região e a sua gente
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da aventura até de olhos fechados. Caminheiro
e devoto de desportos radicais, ele mergulha na
água gelada do rio Teixeira, desbrava terreno
íngreme até às cascatas ou recantos fluviais
mais envergonhados e trilha percursos ma-
treiros de montanha e fascínio. “São lugares
sagrados para contemplar e treinar o corpo e a
mente. Quando venho aqui, esqueço tudo”, diz.
Da persistência se faz o pote de mel da
região. E da aristocracia cúmplice da sua
gente humilde também. Por estas bandas, o
difícil recompensa, mas é avisado saber que
ainda se guardam segredos, não vá o foras-
teiro pensar que tem tudo numa bandeja ou
tentar passar-se por finório.
Em Teixeira, os últimos dias foram de ani-
mação na aldeia. Sónia Pereira acordou estre-
munhada e com uns bons quilos de biscoito
para cozer. Na cidade chamam-lhe doce da
Teixeira, e ela mete as mãos na massa pela úni-
ca casa certificada na confeção deste produto
regional. “Nas feiras há de tudo, mas este já o
meu bisavô fazia.” Em agosto, com romarias,
excursões e emigrantes, saem dali mil quilos
desta espécie de tábua fofa de farinha, água,
limão, sal, fermento e...alto! “A verdadeira re-
ceita tem segredo e esse nunca saiu da aldeia”,
assegura Sónia, de sorriso maroto. “Às vezes,
o pessoal de fora vem aí dar duas de treta com
os velhinhos, a ver se eles se descosem, mas eles
acrescentam sempre um ingrediente estranho
para estragar tudo.” Talvez por isso, só o genuí-
estrangeiros, em busca desta janela privile- Prazeres de tempo no ajude a suportar distâncias. “Uma senhora
giada para o rio. “Ao mesmo tempo, estamos lento Enquanto na vai sempre carregada para a Suíça, mas quando
a dar vida às nossas raízes”, explica o casal. Tasquinha do Fumo, o biscoito acaba, fica com o saco. Diz que é o
Isabel e Artur Soares cheirinho que ajuda a matar saudades...”.
PERSISTÊNCIA E SEGREDOS mantêm a cozinha
“Estamos a uma hora do resto do mundo”, e os sabores à antiga, QUEIROZ, EÇA E O OUTRO
descreve Alexandre Pinto, de Mosteirô, en- na Fundação Eça Nestas terras já se cruzaram páginas, cenários
quanto trincha a posta de vitela na brasa da de Queiroz, outro e enredos de Camilo Castelo Branco, Agustina
Tasca do Valado, em Mafómedes. “Isto, se Queiroz, jovem talento Bessa-Luís e Manoel de Oliveira, a partir do
da gastronomia,
pensarmos na distância até ao aeroporto, drama Fanny Owen. Em Gestaçô, berço das
sublima o frango
claro”, acrescenta. Da varanda do restaurante, bengalas, nasceu Soeiro Pereira Gomes. Em
alourado com arroz
os olhos repousam neste pedaço do Marão de favas d’A Cidade
Porto Manso, Alves Redol eternizou vidas
que se oferece selvagem, quase como veio ao e as Serras. Foi nestas esfareladas por um rio moribundo e sonhos
mundo. É um prodígio também apreciado terras de mistérios magoados pela Natureza esquiva. Quando
mais acima, a partir da antiga escola primária, e cenários naturais chegou a uma “prega de serra”, o Jacinto do
agora albergue da Natureza, ou mais abaixo, quase intactos que romance queirosiano escolheu ficar. Vindo da
a jiboiar no alpendre de um bungalow. Em o escritor António Cidade Luz, na verdade o seu mundo ilumi-
fevereiro, “a aldeia tinha 23 pessoas, 15 cães, Mota se inspirou nou-se em Santa Cruz do Douro, descansado
quatro vacas arouquesas e 150 cabras, mas o para grande parte de arrelias urbanas e progresso desenfreado.
pastor adoeceu e vendeu a maioria destas”, dos seus livros À Fundação Eça de Queiroz chegam cada vez
garante Ricardo Rocha, proprietário deste mais franceses, brasileiros, alemães e nórdicos,
santuário gastronómico, cuja fama anda de garante a administradora, Anabela Cardoso.
boca em boca graças às pecaminosas carnes Uns arrebatados pela exorbitância desmedida
de levar à mesa e ao talento da mulher, Paula do panorama. Outros de alma consolada, ain-
Pinheiro, na cozinha. “Quando preciso de da que derreados pelos três quilómetros do
umas batatas ou de uma galinha, está tudo Caminho de Jacinto, sempre a subir, desde a
aqui ao lado”, assegura o marido. “Há dias, Estação de Aregos/Tormes, na borda do Dou-
saiu daqui extasiado um chefe francês. Disse ro. E outros, por fim, a sublimarem a obra e o
que estava tudo divinal. Imagine como fiquei...” escritor, enquanto arregalam os olhos diante de
Agora é Alexandre Pinto quem vai à frente. objetos pessoais, se deleitam na biblioteca ou
Fotógrafo e videoamador, conhece o território imaginam que Eça por ali ande, escrevendo de
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pé e atirando as folhas ao ar, sem as numerar,
como era costume. MODO DE USAR
Ah, e já cheira a frango alourado com arroz
de favas... António Queiroz Pinto anda de volta Sugestões para uns
de tachos e panelas, ali mesmo ao lado, no dias bem passados
Restaurante de Tormes. O grafismo da ementa
inspira-se no passaporte de Eça e viaja por Gastronomia Seis
receitas incluídas nas obras do escritor que festivais, refeições
à Eça (Restaurante de
nos topou à légua, com um século de avanço.
Tormes), museu rural
Neste caso, porém, o nome do cozinheiro
e etnográfico (Casa
não remete para parentescos com o autor de A do Lavrador), sabores
Cidade e as Serras, embora o talento, mesmo dos avós (Tasquinha
quando o tempero é outro, possa ter familiari- do Fumo), carne de
dades. Aos 25 anos, o Queiroz desta história já certificação arouquesa
trabalhou em “estrelas Michelin” da Catalunha e (Tasca do Valado),
Portugal, acama um premiado bacalhau assado a coerência que vem de
com grão-de-bico e pimentos e um celebrado longe (Pensão Borges)
anho assado com arroz de forno. “Podia estar e até a simplicidade
noutro sítio, mas aqui na Fundação Eça de e da grelha e dos
Queiroz trabalho para a minha terra”, justifica o assados (Restaurante
jovem talento da gastronomia, filho de António da Azenha). Biscoito
Pinto, Toninho, ícone da restauração baionense, da Teixeira. Vinhos
habituado a enlaçar almas sensíveis da terra. de casta avesso.
Ora, já que a mesa está posta debaixo da Quer mais?
ramada e a garrafa tem selo da fundação de
Tormes, a conversa bem pode escorrer para Paisagens/
um tema à feição do anfitrião. António Pinto Percursos Trilhos
fala do tempo das pipas transportadas para das Florestas
a Flandres, das virtudes deste microclima Naturais, dos
e dessa casta desviada da má fama, qual vidri- Caminhos de Água
nho de cheiro, permeável a “doenças”, avessa e dos Dólmenes.
de nome e por natureza. “Foram precisos uns Caminho de Jacinto.
bons anos, mas os vinhos de Baião atingiram Carvalhal da Reixela.
um patamar superior”, garante. Serra da Aboboreira.
Se dúvidas houvesse, os 91 pontos do Sin- Aldeia de Mafómedes.
gular 2015, da A&D Wines, atribuídos pelo Capela de Nossa
Senhora da Serra.
reputado crítico de vinhos norte-americano
Da Pala a Mosteirô
Robert Parker atestam-no. E também, já
(marginal do Douro).
agora, a chegada à região da elogiada dupla
de investidores da Covela, que, além dessa
e doutras quintas, gere as terras da Fundação Cultura Fundação Eça
Eça de Queiroz. São eles o britânico Tony de Queiroz. Mosteiro
Smith, antigo correspondente da Associa- de Santo André de
ted Press e do New York Times, e o empre- Ancede. Casa do
Lodeiro (Fanny Owen).
sário brasileiro Marcelo Lima. Para começo
Cemitério de Santa
da história, nivelaram salários de mulheres
Cruz do Douro (restos
e homens, elevaram o artesanal à excelência mortais de Eça).
e conseguiram que os vinhos atraíssem efer- Byonritmos (Festival
vescente curiosidade internacional por Baião. de Música e Dança).
Razões deste sucesso? “Um grande plano de
reconversão de vinhas, a evolução do saber DE UMA ANTIGA MERCEARIA
técnico, gente qualificada das universida-
des e excelentes vitivinicultores”, responde
Turismo Há
63 unidades de NASCEU UM MONUMENTO
o engenheiro agrónomo José António.
alojamento, das quais
a VISÃO conhece os À COMIDA DOS ANTEPASSADOS.
A autarquia explora a sua própria quinta
junto ao Mosteiro de Ancede. Daí retira vinho
Moinhos de Ovil, Quinta
da Ermida, Quinta das
NA COZINHA COM GRELHA
de casta avesso, produtos hortícolas, citrinos,
14 variedades de cereja e outros frutos que
Quintãs, Douro Suites,
Douro Royal Valley
NA PEDRA, POTE DE FERRO
abastecem a população, que são escoados para
a Casa de Baião no Porto e ajudam a promover
Hotel & Spa, Douro
Palace Hotel Resort
E FORNO A LENHA REINAM
o princípio de sustentabilidade e de segurança
alimentar. O futuro pode ser enxertado aqui?
and Spa, Bungalows de O BACALHAU, O COZIDO
Mafómedes e Albergue
“Em 2013, invertemos o abandono da agri- de Porto Manso. E O CABRITO ASSADO
38 VISÃO 16 AGOSTO 2018
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cultura”, garante Paulo Pereira, presidente Luxos e imaginários e dólmenes numa extensão rara, mas o des-
da câmara. Em junho, o município também Baião é, logo tino é a Tasquinha do Fumo, na aldeia de
repovoou dois rios com quatro mil trutas. a seguir ao Porto, Almofrela, onde, entre clientes habituais
o município do distrito e sempre sob reserva, se contam políticos
UMA GALINHA PARA ACARINHAR com maior oferta da região e altos quadros do grupo Sonae.
Filho de pai almocreve e de mãe com a terceira de alojamento Da antiga mercearia, e a partir da cozinha
classe, este antigo professor de Educação Fí- turístico. Nos últimos com grelha na pedra, pote de ferro e forno
sica cresceu “um bocado atravessado, a pre- anos, os turistas a lenha, Isabel e Artur Soares ergueram um
cisar de dar umas cabeçadas para aprender”, de todas as geografias monumento à comida dos antepassados, onde
não param de chegar,
admite. Fundou duas discotecas, a Boom e a reinam o bacalhau, o cozido e o cabrito assa-
encantados com
Metropolis, jogou e treinou-se em equipas de do, os licores dela, o tato dele, e o que mais
a genuinidade
futebol da terra, já correu Portugal e a Europa e a variedade
aqui não cabe. Era na preservação de lugares
atrás de Mark Knopfler e abraçou o socialis- dos cenários, assim que Paulo Pereira pensaria quando,
mo moderado, depois de votar na APU e no dos percursos antes de o apetite beliscar, falava do carác-
PSR, “neste caso por causa do Mário Viegas, e das escolhas ter genuíno do território. “Não queremos a
de quem adorava as performances e a ironia”. ‘Disneyficação’, combatemo-la”, afirmou, re-
Paulo Pereira não deixa que passem cinco cusando a tentação de transformar Baião num
minutos sem referir José Luís Carneiro, secre- parque temático a céu aberto, folclórico, sem
tário de Estado das Comunidades, antecessor alma nem carácter, igual a tantos outros pelo
no cargo e com o qual fez dupla: “Muito disto País fora: “Provavelmente, muitos ganhariam
que hoje vemos começou com ele.” dinheiro rapidamente”, admite, “mas os de
Sempre que pode, Paulo Pereira monta na fora não podem chegar aqui e desiludirem-
bicicleta e percorre, também ele, as paisagens -se com as pessoas, a paisagem, o turismo e
graníticas da serra da Aboboreira. A conversa a gastronomia. Enganar quem nos procura
iniciada no gabinete estende-se agora até esse seria matar a galinha dos ovos de ouro.”
território megalítico, semeado de mamoas E essa não é de aviário. mbcarvalho@visao.pt
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A INCRÍVEL VI
DE MARCELO
Recuamos até 1969
e entramos no Sud-
-Express. Integrados num
grupo de universitários,
encontramos os jovens
Maria do Rosário Amaro
da Costa (futura Maria
do Rosário Carneiro),
Leonor Beleza e... Marcelo
Rebelo de Sousa. Entre Paris
e Bruxelas, a descoberta de
um admirável mundo novo,
em tudo oposto ao bafiento País
do Estado Novo: as raparigas
frequentam os cafés da Cidade-
-Luz. Discute-se a Guerra Fria.
Respira-se o Maio de 68. E vive-se
em liberdade... Todos a bordo!
FILIPE LUÍS
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VIAGEM
Marcelo Rebelo de Sousa
Aos 20 anos, uma viagem
no Sud-Express. Destino final,
Bruxelas, sede da NATO
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Na Ilha de Moçambique, 1969
Marcelo está ao centro e o
governador da “província”, o pai
Baltasar, à direita, de óculos
Nesse raro dia de sol da primavera de do CDS com o mesmo apelido –, que tracenava”, todas as semanas, com
Bruxelas, em 1969, os chefões da NATO seria, no futuro, conhecida por Maria o caladinho sujeito de Coimbra, em
estavam longe de imaginar que aquele do Rosário Carneiro, conheciam bem pleno Conselho de Ministros do Go-
jovem estudante universitário, de 20 o colega. Mas todos ficaram de boca verno de Cavaco Silva...
anos, acabado de chegar do esquecido aberta, quando ele decidiu abrir o li-
extremo ocidental da Europa, ainda vi- vro, naquele estudado improviso em EUROPA E GUERRA FRIA
ria a ser Presidente da República de um Francês. O que todos constatavam é Interrogado pela jornalista francesa
dos países-membros. Porém, o próprio que Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Christine Garnier, com quem terá tido
secretário-geral da Organização de De- Sousa, assim se chamava o miúdo, não um affair, o ditador António de Olivei-
fesa do Atlântico Norte, o italiano Man- tinha avisado ninguém. Como recorda ra Salazar, entretanto caído da cadeira,
lio Brosio, ex-resistente aos nazis na II hoje Leonor Beleza, “a verdade é que apeado do poder pelas limitações da
Guerra Mundial, ex-primeiro-ministro, os nossos anfitriões, que pareciam doença, mas ainda símbolo vivo do
ex-diplomata e ex-embaixador de Itália estar a receber-nos de má vontade, regime, tinha respondido, poucos anos
na União Soviética, não terá deixado de logo começaram a tratar-nos como antes, quando confrontado com as
pensar, por um momento, que o rapaz iguais, com simpatia e solicitude”. imagens de velhinhas que percorriam
havia de chegar longe. Quando os an- “E nós todos”, acrescenta Maria do os caminhos poeirentos do campo,
fitriões já se preparavam para ouvir a Rosário Carneiro, “sentimos uma vergadas sob molhos de lenha miúda
habitual ladainha portuguesa em defesa ponta de orgulho por assim nos ver- ou de feno à cabeça: “Fazem isso por
da Guerra Colonial e bocejavam perante mos representados pelo Marcelo, que sentimentalismo.” O cinismo ou, tal-
a perspetiva de terem de receber a biso- foi simplesmente brilhante”. Alguém, vez, o alheamento do ditador era, de
nha delegação de universitários lusos, na plateia, com ar vagamente trocis- certo modo, contagioso. Em 1969, o
o insuspeito jovem decidiu brindá-los ta, terá comentado: “Parece Jesus, no mais inquietante não era ver crianças
com uma inspirada dissertação de Templo, com os doutores...” descalças a caminho da escola. O in-
15 minutos sobre geoestratégia, o papel Um dos jovens, que discretamente quietante é que isso era considerado,
da NATO, a Guerra Fria e o futuro do tinha apanhado o Sud-Express em pela generalidade da população, uma
mundo. Atónitos, ficaram a olhar uns Coimbra, havia de se cruzar, mais situação perfeitamente normal. Maria
para os outros. tarde, pelos fios que a política tece, do Rosário Carneiro recorda a estada
Das testemunhas portuguesas pre- com este grupinho. Já nos anos 80, a de um mês na Áustria, ainda antes da
sentes, cerca de uma vintena de uni- ministra Leonor Beleza, remexendo icónica viagem do Sud-Express: “Fre-
versitários, participantes na visita de no baú de fotografias, descobriu um quentei um curso de alemão, numa
sensibilização e divulgação da NATO, instantâneo da delegação, entretanto residência para meninas. Havia rapa-
a convite da própria organização, perdido. Ao procurar identificar cada rigas de várias nacionalidades e esse
apenas duas, Leonor Beleza e Maria um dos companheiros dessa viagem convívio foi, também, uma descoberta.
do Rosário Amaro da Costa – irmã inesquecível, exclamou: “Olha! Este é Mas a maior revelação foi constatar
daquele que viria a ser o cofundador o Fernando Nogueira!” Afinal, “con- que o estereótipo que elas tinham da
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1968-70
Periferia de Lisboa Os bairros
de lata eram um duvidoso “cartão
de visita”, para quem chegava às
portas da capital do Império
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Amigos de sempre Marcelo
Caetano nomeou Baltasar
Rebelo de Sousa governador
de Moçambique
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1968-70
Guerra Fria Em 1972, Richard Nixon,
Presidente dos EUA, encontra-se,
em Moscovo, com o seu homólogo
soviético, Leonid Brejnev
A emergência de Nixon
sobre a reforma do Ensino Superior
com o título ‘Bases de uma política
universitária’. (...) Trata-se de um do-
cumento com toda a probabilidade da
autoria de Amaro da Costa, pelo estilo, Em 1969, tomava posse Richard Nixon. De forma paradoxal, a sua
pelo conhecimento que revela e pela Administração de “falcões” operou o primeiro degelo da Guerra Fria...
qualidade do conteúdo (...)” Depois cita
Ana Paula Rias, na sua tese de dou-
toramento: “Não podemos deixar de Em janeiro de 1969, tomava posse, na Casa Branca, o Presidente
notar a semelhança deste documento, republicano Richard Nixon, que prosseguiria com a Guerra no Vietname,
datado de novembro de 1969, com o até à derrota e retirada das forças norte-americanas de Saigão, que
teor das Linhas Gerais do Ensino Supe- se registaria, apenas, em 1975. Chegava ao fim o impasse, seguindo
rior, apresentadas pelo ministro Veiga a doutrina “declarar vitória e retirar”. Algo neurótico e controverso,
Simão ao País, em janeiro de 1971.” De demitido por causa do escândalo Watergate, Nixon, que deu cobertura à
uma certa forma, Veiga Simão comun- política agressiva do carismático académico e seu secretário de Estado
gava de um certo espírito reformista, Henry Kissinger, foi, paradoxalmente, com Brejnev, protagonista no
no alfobre do qual estes jovens se for- ponto de viragem da Guerra Fria, graças aos entendimentos celebrados
mariam. Conhecia bem os Rebelo de em Moscovo, em 1972, para a redução dos sistemas antimísseis
Sousa e o jovem Marcelo, bem como balísticos intercontinentais, acordo conhecido por Tratado ABM.
os Amaro da Costa. Já no início desse ano, Nixon protagonizara um momento histórico,
Em 1971, Marcelo Rebelo de Sousa, ao deslocar-se a Pequim, reatando relações com a China comunista
a concluir o curso, é convidado por de Mao Tsé Tung. De um lado, a NATO, que juntava, numa aliança
Veiga Simão para trabalhar no GEPAE, militar, os países europeus ocidentais sob a capa protetora dos EUA;
Gabinete de Estudos e Planeamento da do outro, o Pacto de Varsóvia, criado em reação ao Tratado do Atlântico
Norte, que aglutinava os países ditos socialistas do Leste Europeu, em
Ação Educativa, chefiado por Adelino
torno da superpotência URSS (União Soviética, que unia, num só Estado,
Amaro da Costa. Estava em marcha a
a Rússia a outras repúblicas socialistas da Europa Oriental e da Ásia
reforma do Ensino Superior. O jovem Menor). O equilíbrio do terror – ninguém venceria uma guerra nuclear
Marcelo ainda nas eleições de 1969 – manteve a “guerra” em situação de “não beligerância” direta.
tinha apoiado a Situação. Porém, o
jovem promissor há anos que carrega
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Governante Treze anos depois
da viagem, Leonor Beleza
era secretária de Estado da
Presidência, no Governo Balsemão
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1968-70
Maio de 68 Os protestos de
Paris alastraram do movimento
estudantil para as fábricas. Aqui,
tumultos junto à Renault
Revolta e contestação
auscultara, a medo, o Presidente da
República, Américo Tomás: “Teremos
oportunidade, nas eleições, de con-
sultar a opinião pública sobre a nossa
política ultramarina. Se for aprovada, Os anos 60 foram os dos direitos civis, da emancipação das mulheres,
da Guerra do Vietname, da Guerra Colonial portuguesa, das crises
muito bem. Senão...”
académicas e do Maio francês...
“Senão”, atalhou o velho almiran-
te, ele próprio o rosto dos ultras do
regime, “as Forças Armadas intervi-
rão!” Caetano deve ter percebido que Os grandes movimentos de contestação dos anos 60 deram origem
dali não levava nada. No entanto, a a enormes progressos no campo dos direitos cívicos. A década, que,
sua aceitação do cargo parecia con- pelo número de vítimas em conflitos armados, foi uma das mais
sagrar, ainda assim, um novo tempo. sangrentas do século XX, foi também a da origem do pacifismo. Nos
As próprias mudanças de imagem de EUA, os ativistas pelos direitos civis, nomeadamente Martin Luther
King, pastor e líder negro do movimento pela igualdade racial, pela
algumas das instituições, se bem que
via pacífica, seria assassinado, em Memphis, no Tennessee, em abril
simbólicas, davam sinais positivos.
de 1968. O movimento hippie, o Woodstock, as manifestações contra
Além da transmutação da UN em a Guerra do Vietname e a respetiva repressão policial, o Maio de
ANP, a Censura alterou o seu nome 68, em França, que começou por ser um movimento estudantil de
para um mais inócuo “Exame Prévio” protesto e rapidamente se alastrou ao operariado, os movimentos
e a odiada secreta, a PIDE (Polícia estudantis na Europa e nos EUA e as réplicas portuguesas (crise
Internacional de Defesa do Estado), académica de 1962, em que se destacou, entre outros, Jorge
havia de ser rebatizada com a mais Sampaio e a de 1969, na qual o protagonista mais conhecido foi
inocente sigla de DGS, correspon- Alberto Martins), e a contestação e deserção face à Guerra Colonial
dente a “Direção-Geral de Segurança”. foram acontecimentos que marcaram estes anos e aos quais
E quem não quereria sentir-se seguro?... os jovens protagonistas do texto ao lado, embora com origens
familiares conservadoras, não foram imunes.
OS ATALHOS DE RAUL SOLNADO
Este clima geral de mudança também
chegava lá de fora, com a nova cultura
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Crise académica de 1969
O estudante Alberto Martins
interpela o Presidente da
República, Américo Tomás
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1968-70
Guerra colonial Soldados
portugueses combateram, durante
13 anos, em três frentes africanas:
Angola, Guiné-Bissau e Moçambique
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E C O N F U N D E -S E C OM AS
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EF T A S
S E
16 AGOSTO 2018 VISÃO 51
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A
A nossa vida terá mesmo os dias contados?
Estamos fartos de saber que o mundo já devia
ter acabado. Desde o início dos tempos que
os profetas, os visionários, os cientistas e os
charlatães nos alertam para o dia do Juízo
Final. Os prognósticos sobre o Apocalipse são
um dos mais antigos desportos da Humani-
dade, e o mais provável é que neste preciso
O ARTISTA
IMORTAL
Inventor, cientista,
empresário, futurista,
génio louco – já
chamaram muita coisa
a Raymond Ruzweil.
Nascido há 70 anos
em Nova Iorque e
com uma vida pública
desde os 15 – quando
foi a um programa de
TV tocar uma peça
musical composta por
um computador que
ele próprio inventara
–, o atual diretor de
engenharia da Google
é um dos gurus da
Inteligência Artificial
e da imortalidade.
Já disse e escreveu
vezes sem conta que
a espécie humana
poderá migrar para
dentro de uma rede
informática até 2045
– até lá e à cautela,
rendeu-se aos
logo Johannes Kepler, passando pelo nosso
bem conhecido Cristóvão Colombo. Por ou-
tro lado, há sempre oportunistas dispostos a
agendar o fim do mundo a troco de redento-
res esquemas lucrativos. Edgar Whisenant,
um antigo engenheiro da NASA, vendeu
mais de quatro milhões de exemplares da
sua obra 88 Reasons Why the Rapture Will
momento haja alguém a alvitrar uma data Be in 1988. Como nesse ano nada aconteceu,
implantes capilares,
específica, a exemplo do que já aconteceu ele acabou por repetir a fórmula em 1989,
ao botox e a um
milhares de vezes ao longo da História. em 1993 e em 1994 – obviamente, com
cocktail diário de uma
Bernardo de Turíngia, um monge eremita centena e meia de
menos sucesso comercial. No entanto, um
alemão, leu e releu os textos bíblicos e chegou comprimidos. dos maiores burlões apocalípticos chama-
à conclusão de que tudo iria acabar a 25 de -se Lee Jang Rim. Este pastor sul-coreano,
março, no ano da graça de 992. A escolha não responsável por um movimento cristão
fora ao acaso e tinha em conta o aniversário evangélico, conseguiu, em 1992, convencer
da conceção de Jesus Cristo (nove meses antes mais de 100 mil pessoas que tudo acabaria
de 25 de dezembro), o aniversário da sua mor- a 28 de outubro. Muitas delas confiaram-lhe
te (uma Sexta-Feira Santa) e ainda o facto de as suas poupanças, só que, um mês antes
ocorrer nesse dia um eclipse solar (presságio da catastrófica data, as autoridades de Seul
da chegada do Anti-Cristo). Segundo rezam detiveram o suposto líder religioso, por
as crónicas, foi o suficiente para milhares crimes fiscais. Ficou, então, a saber-se que
de cristãos devotos, na Europa Central e do Lee Jang Rim aplicara mais de 4 milhões de
Leste, terem fugido para as montanhas e até dólares em fundos de investimento e que os
para a Terra Santa. dividendos só deveriam ficar disponíveis em
Claro que o êxodo e o pânico se repeti- 1995. A brincadeira valeu-lhe dois anos de
ram com a chegada do ano 1000, sem que prisão e, em 2011, foi um dos agraciados
nada de especial tenha acontecido. O Papa com o Ig Nobel da Matemática (uma paródia
Inocêncio III quis, também, dedicar-se às aos Nobel, realizada anualmente nos EUA,
adivinhações esotéricas e somou a data pela revista satírica Annals of Improbable
de fundação do Islão (618) com o famoso Research), pelo seu desempenho e rigor em
número do diabo (666). Ou seja: anunciou matéria de previsões.
que a grande e derradeira “batalha de Deus
Todo-Poderoso” contra as forças do mal iria SERES PURITANOS E PREVENIDOS
produzir-se em 1284. Este líder da Igreja Nos dias que correm, as teorias do Apocalip-
Católica foi dos mais influentes do período se parecem ter contornos mais complexos e
medieval, mas acabou por morrer (em 1216), científicos, apesar das incongruências e das
sem saber que estava a pôr em causa o próprio contradições de sempre. No entanto, os cren-
dogma da infalibilidade papal. tes no fim do mundo continuam a ser muitos.
Desde então, poderíamos fazer uma longa É o que sucede nos EUA, um país tradicio-
lista de gente ilustre que se deu ao trabalho nalmente conservador e dado a misticismos
de prever o Armagedão, do incontornável – basta recordar que, a par da Bíblia, o livro
mago Nostradamus ao astrónomo e astró- com maior sucesso editorial nos séculos XVII
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e XVIII tinha como título The Day of Doom, Colisões experimente uma pesquisa online: o mais
sendo assinado pelo pastor puritano Michael
Wigglesworth.
Após a Segunda Guerra Mundial, e devido
homicidas conhecido motor de busca do planeta ofere-
ce-lhe mais de 13 milhões de resultados em
menos de um segundo. O fenómeno começa
aos medos inspirados na corrida nuclear com As estimativas cien- a chegar à Europa e, em França, já tem cerca
a União Soviética, muitos norte-americanos tíficas indicam que, a de 150 mil seguidores, os quais organizaram,
cada 100 milhões de
aderiram ao movimento sobrevivencialista em março, a primeira feira sobrevivencialista
anos, um corpo celeste
(survivalism), na convicção de que o planeta do Velho Continente.
de grandes proporções
iria inevitavelmente assistir a uma catástrofe colide com o nosso pla-
Mas o que fazem ao certo estes indivíduos?
atómica e que eles poderiam sobreviver- neta. Terá sido isso que A resposta que eles costumam dar é que são
-lhe. Um dos fundadores deste grupo foi sucedeu há 65 milhões pessoas normais e que se regem pelo mero
Kurt Saxon, um libertário pró-nazi que, aos de anos, quando um bom senso: armazenam água e víveres em
86 anos, continua vivo. Com a chegada do meteorito alterou a vida casa, na eventualidade de um cataclismo, e
novo milénio e face aos novos desafios apo- na Terra e extinguiu, aprendem técnicas de sobrevivência. Os mais
calípticos – mudanças climáticas, crash in- por exemplo, os dinos- abonados frequentam, ainda, cursos especiais
formático, pandemias globais, revoltas sociais, sauros. Os satélites de primeiros socorros ou de telecomunica-
Inteligência Artificial –, os sobrevivencialistas permitem identificar ções, e podem mesmo adquirir bunkers anti-
quiseram demarcar-se de Saxon e passaram cada vez melhor estes nucleares, salas de pânico, refúgios bacterio-
a chamar-se preppers (no sentido de esta- bólides espaciais e lógicos ou veículos blindados todo-o-terreno.
rem preparados para o pior). Para ter ideia fazer cálculos sobre Vamos a um exemplo concreto, para ficar bem
da magnitude e da importância desta gente, possíveis impactos. claro que estes consumidores já são levados
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TECNORRELIGÕES E NOVAS IGREJAS
São cada vez mais os movimentos e os cultos tecnológicos a reconfigurarem
os conceitos de fé, de espiritualidade e de Deus. Quatro exemplos
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INTELIGÊNCIAS ARTIFICIAIS
Alguma vez iremos ter computadores que sejam entidades conscientes e com capacidade de
abstração? Será que o famoso Hal 9000, do filme 2001 Odisseia no Espaço, vai tornar-se realidade?
Estará a espécie humana a criar máquinas capazes de modificá-la e de destruí-la? Ilustres
cientistas, como o desaparecido Stephen Hawking, há muito que alertam para os perigos
da engenharia genética e da criação de humanoides.
A VEDETA
babilidades de sobreviver a um desastre, de DA REGENERAÇÃO aviões, iates com minissubmarinos, equipas
origem natural ou provocado pelo Homem.” Aos 55 anos, de segurança e uma série de outros brinque-
Eis como a revista New Yorker começava um o britânico Aubrey dos que os podem pôr a salvo no Alasca, no
artigo sobre os super-ricos do Silicon Valley, de Grey é uma celebri- Dubai ou nas Maldivas.
publicado há dois anos. E, com algumas ex- dade não apenas pelo
pressões vernáculas que a tradução a seguir seu visual mas pelos O KIWI TRANSHUMANISTA
omite, Steve Huffman explicava melhor as seus talentos enquanto No meio desta classe de gente abastada e pre-
suas razões: “Se o mundo acabar – e mesmo matemático, biólogo venida há um caso que merece uma atenção
que não acabe, caso tenhamos grandes cha- e engenheiro especial: Peter Thiel. O empresário, ativista e
tices –, arranjar óculos ou lentes de contacto informático. Defende filantropo, que foi cofundador do PayPal e que
iria ser uma enorme complicação. Sem estes que o envelhecimento integra o conselho de administração do Face-
eu estaria completamente lixado.” O jovem e a morte podem book, faz parte de um grupo de preppers ain-
empresário admitiu, também, que a sua ser evitados. da mais restrito. Com uma fortuna de quase
casa tem um local especial para se refugiar, três mil milhões de dólares, este apoiante de
onde a comida e as bebidas não vão faltar, e Donald Trump decidiu montar na Nova Ze-
que possui ainda painéis solares, duas belas lândia o seu refúgio pós-apocalítico. Embora
motas, armas e munições para o que der os pormenores do negócio nunca tenham
e vier. Precauções que se generalizaram a sido revelados na íntegra, Thiel terá com-
muitos outros privilegiados, que adquiriram prado vários hectares numa zona recôndita,
propriedades sui generis em vários pontos perto do lago Wanaka, e, como bónus, ainda
dos EUA – e não só. Alguns compraram ficou com a nacionalidade kiwi – a juntar à
segundas e terceiras residências em an- norte-americana e à alemã, por ter nascido
tigos silos atómicos, converteram-nos em Frankfurt. A sua opção pelo arquipé-
em mansões que, em teoria, podem lago onde se rodou O Senhor dos Anéis
resistir a quase tudo. Como se fez com que alguns outros multimi-
não bastasse, dispõem ainda lionários lhe seguissem o exemplo:
de frotas de helicópteros, o cineasta James Cameron, o velho
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AMEAÇA CLIMÁTICA
A não ser para Donald Trump e uns quantos negacionistas, as interferências humanas no clima da Terra são cada
vez mais óbvias, razão pela qual até já se fala numa nova era geológica – o Antropoceno. O ano de 2018 pode vir
a tornar-se o mais quente de sempre, desde que existem registos estatísticos, e os fenómenos extremos tendem
a banalizar-se. Um estudo da Nature Climate Change considera que “74% da população mundial será exposta
a vagas de calor mortais até 2100, se as emissões de gases continuarem a aumentar à taxa atual”.
O GÉNIO SUICIDA
Mesmo sem nunca ter
tubarão de Wall Street, Julian Robertson, os concluído o curso cultural, intelectual e científico, que afirma
irmãos Matthew e Brian Monahan (donos da de Engenharia o dever moral de melhorar as capacidades
Inflection) ou o oligarca russo Mikhail Khi- Informática na Univer- físicas e cognitivas da espécie humana e de
mich. Personalidades que fizeram disparar o sidade de Stanford, na submetê-la às novas tecnologias, com o ob-
mercado imobiliário e levaram o Governo da Califórnia, Sam Altman jetivo de eliminar os aspetos não desejados
primeira-ministra Jacinda Ardern a restringir é um sobredotado e não necessários da condição humana – o
drasticamente as aquisições de propriedades para os computadores sofrimento, a doença, o envelhecimento e,
por estrangeiros. e os negócios. inclusive, a condição mortal.”
Porém, Peter Thiel é uma personalidade Este multimilionário Ora, Peter Thiel está longe de ser o úni-
polémica e excêntrica por levar até às últimas de 33 anos, presidente co transhumanista de Silicon Valley. Larry
consequências o seu caráter libertário. Rejeita da Y Combinator, Ellison, dono da Oracle, e muitos quadros
qualquer interferência do Estado na esfera revelou em março dirigentes da Amazon, do Facebook e da
individual e já admitiu que tem uma relação à revista MIT Techno- Apple partilham uma fé incondicional “nas
especial com a morte. Isto é: considera que logy Review que está tecnologias exponenciais” para resolverem
deve fazer tudo o que esteja ao seu alcance pronto para morrer e todos os problemas da Humanidade: na saú-
para a derrotar. Há dois anos confessou à para lhe preservarem de, na educação, na energia, na alimentação,
“digitalmente o cérebro
revista Inc. que é um adepto da parabiosis na pobreza...
para sempre”.
e das transfusões de sangue de pessoas mais
jovens, para que ele possa viver mais tempo. “HOMO DEUS” E “FAKE HUMANS”
E é um dos maiores financiadores privados A culpa de haver tantas individualidades ren-
do transhumanismo. Um conceito às vezes didas as estas ideias deve-se a Raymond Kur-
descrito como a “religião dos engenheiros zweil, o inventor nascido há 70 anos no bairro
informáticos”, o qual precisa de ser explica- nova-iorquino de Queens. É ele o verdadeiro
do por alguém que o tenha estudado a sério, guru do transhumanismo e o grande respon-
como é o caso de Nick Bostrom, filósofo sueco sável pela conversão de Sergey Brin e de Larry
da Universidade de Oxford: “É um movimento Page (a dupla fundadora da Google) à ideia de
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PANDEMIA GLOBAL
No século XIV, a peste negra terá provocado mais
de 75 milhões de mortos. Em 1918, a gripe espanhola
infetou 500 milhões e roubou a vida a quase 5%
dos habitantes do planeta – mais do triplo dos mortos
da Primeira Guerra Mundial. Uma nova epidemia global
– provocada por uma arma biológica ou não
– pode ter efeitos devastadores.
VULCÕES ASSASSINOS
As grandes erupções costumam ocorrer a cada 50 mil anos,
e os cientistas consideram que esta é uma possibilidade bem mais
verosímil do que o fim do mundo causado por um meteoro.
O caso torna-se ainda mais dramático se acontecer com um dos
20 supervulcões existentes no planeta – provavelmente, as
bactérias seriam os únicos organismos vivos a sobreviver.
que a Ciência possui a capacidade de, em breve, académico norte-americano conhecido pela
converter os humanos numa espécie imortal, sua teoria sobre o fim da História, diz que o
nem que para tal tenha de desumanizá-los e transhumanismo é “a ideia mais perigosa do
de convertê-los em máquinas inteligentes e mundo”, e o biólogo francês Jacques Testart,
espirituais. Na última década, a empresa de responsável pelo primeiro bebé-proveta gau-
Mountain View, onde Kurzweil trabalha como lês, explica porquê: “É o novo nome do eu-
diretor científico desde 2012, foi decisiva para genismo. É o aperfeiçoamento da espécie (...).
acelerar a corrida em três áreas-chave: genéti- É a perspetiva de fabricar novos humanos
ca, nanotecnologia e robótica. O resultado está mais inteligentes, que vão viver três sécu-
à vista: a Inteligência Artificial (IA) ocupa já um los ou mais, com os outros a tornarem-se
lugar destacado nas nossas sociedades, e nós O OLIGARCA sub-humanos.” É a perspetiva do Homo
temos de convencer-nos de que nada disto é ETERNO Deus de que fala o historiador israelita
ficção científica. Podemos ainda estar longe da Yuval Harari, autor que acaba de regressar
É russo, tem 37 anos
“singularidade” anunciada por Kurzweil para aos desafios apocalípticos da Humanidade,
e diz que a família, o
2045 – em que haverá seres, desenhados ge- com 21 Lições para o Século XXI. Por causa
sexo ou a comida são
neticamente, que ingerem comprimidos para pura perda de tempo.
dos algoritmos, dos fake humans e dos de-
aumentar a sua capacidade intelectual e que Dmitry Itskov dedica a mónios cibernéticos, Anthony Giddens, um
podem estar ligados a uma rede informática sua fortuna à criação dos mais prestigiados cientistas sociais do
por uma entrada USB implantada na nuca –, de organismos artifi- mundo, propôs recentemente uma Magna
mas é espantoso que uma empresa privada ciais onde poderemos Carta da era digital, para que os poderes
domine hoje áreas tecnológicas que já são es- supostamente colocar públicos globais tentem regulamentar os
tratégicas para o futuro da Humanidade. O que a nossa consciência excessos tecnológicos, em defesa da ética
suscita inúmeras interrogações e polémicas. e viver para sempre, e da democracia. Não nos esqueçamos do
Stephen Hawking, o recém-desaparecido físico um polémico projeto que disse Kurzweil, quando uma vez lhe
britânico, afirmou que a IA “pode significar o conhecido como perguntaram se Deus existia: “Ainda não.”
fim da espécie humana”. Francis Fukuyama, o Avatar 2045. visao@visao.pt
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O GÉNIO ESTÁ
LOUCO?
Com um simples tweet deixou Wall Street em
alvoroço, graças à possível retirada de Bolsa
da Tesla. Mas este é apenas mais um gesto não
convencional de Elon Musk, o sonhador que
gosta mais do futuro do que de dinheiro
PA U L O M . S A N T O S
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Desnorte ou estratégia?
O comportamento errático de
Musk continua a surpreender
tudo e todos
16 AGOSTO 2018 VISÃO 59
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T
Model 3 É o veículo que
pretende massificar a Tesla, mas
tem tido problemas na produção
DESENVOLVER
construir carros cada vez melhores. funcionaria, Musk disparou no Twitter,
Fora de Bolsa, a pressão por resulta- acusando o nadador de ser pedófilo.
dos imediatos diminui. Por aí, tudo
certo com a teoria. Já a forma que o A MAIOR REDE Há até quem tenha estudado o padrão
de tweets de Musk, que tendem a au-
empresário escolheu para largar a in- MUNDIAL mentar exponencialmente em alturas
DE CARGA
formação, é tudo menos convencional. de maior pressão pública.
Tal como o próprio Musk. O visionário tem reforçado, desta
Nos últimos meses, aliás, têm sur-
gido relatos e indícios de que o criador RÁPIDA PARA forma, a aura do génio, sim, mas que
tem muito de louco. Mas olhando para
da Tesla está cada vez mais errático. AUTOMÓVEIS os seus inúmeros projetos, a verdade
ELÉTRICOS
Dormiu semanas seguidas no chão é que está sempre à procura do futuro
da fábrica, num momento particular- e, mesmo que a rentabilidade das suas
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SER COMO
ELON MUSK
Pode ser amado ou
odiado, mas o empresário
tem um currículo
invejável. Eis algumas
regras e conselhos
do multimilionário dono
da Tesla
NUNCA DESISTIR
Já enfrentou falhanços e até
a bancarrota, mas nunca baixou
os braços. “Nunca desisto. Teria
de estar morto ou totalmente
incapacitado para o fazer”, disse
numa entrevista ao programa
60 Minutos
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APOSTA EM QUASE TUDO
Da corrida espacial aos automóveis, passando pela
Inteligência Artificial e a energia, o multimilionário
quer ser disruptivo em vários setores de atividade
CORRIDA AO ESPAÇO
Se algum projeto ilustra tão bem os
limites da mente de Elon Musk, esse
será, sem dúvida, a SpaceX. Trata-se
de uma empresa que o multimilionário
criou para revolucionar as viagens
espaciais. Numa primeira fase, fará
viagens de turismo espacial, mas o
seu objetivo é a colonização de outros
planetas por seres humanos. Por agora,
fez já dois lançamentos da nave Falcon
9 e prepara-se para o terceiro. Dentro
A ERA DO CARRO ELÉTRICO em breve, a NASA irá fazer alguns voos O CEÚ NÃO É O LIMITE
Começou a produzir o Tesla para com foguetes da empresa Elon Musk está a desenvolver o projeto
demonstrar que os carros elétricos não de telecomunicações Starlink, que
teriam de ser feios, chatos e lentos. poderá fornecer serviços de internet
Porém, o êxito do Model S fê-lo encarar de banda larga em qualquer parte
a aventura de outra forma. Mais tarde, do mundo, desde uma grande cidade
avançou para o Model X, um SUV até ao meio da selva da Amazónia.
familiar completamente elétrico. Já O serviço será sustentado por uma rede
em produção, embora com alguns anos de satélites que ficarão na órbita da
de atraso, está o Model 3, um veículo Terra. Aproveitando a SpaceX, Musk
menos exclusivo e mais acessível. Para colocou já dois satélites experimentais a
o final de 2019 ou início de 2020, deverá funcionar. O objetivo final será ter, dentro
arrancar a produção do crossover de cinco anos, 4 425 satélites em órbita
Model Y. Depois chegará a vez dos alta, suportados por mais 7 500 satélites
camiões elétricos de baixa órbita a circundar o planeta
sua mensagem sobre tirar a Tesla de preendedores. As suas ideias estão a do seja de carros totalmente elétricos.
Bolsa acabou por superar todas as revolucionar quase todas as ativida- E, para andar, estes carros terão de ser
suas estratégias de comunicação. Fica des em que se envolve, mesmo que carregados, tal como hoje abastecemos
a dúvida: foi estratégia calculada ou perca dinheiro durante muito tempo com gasolina ou gasóleo os carros com
impulso? Uma questão que sempre para conseguir provar que tinha ra- motores tradicionais. A par da produ-
marcou o percurso de Musk. zão antes de tempo. O caso da Tesla ção de carros, Elon Musk está a desen-
As ações da Tesla subiram, a sua for- é paradigmático. Segundo um estudo volver a maior rede de carregamento
tuna aumentou e atingiu os investidores do Centro de Estudos Automóvel da de carros elétricos em todo o mundo.
que apostam contra a Tesla, mas poderá Universidade de Duisburgo-Essen, na Em Portugal, existem quatro postos de
agora arcar com as consequências. Por Alemanha, a Tesla perde 11 mil euros carregamento super-rápido da Tesla e
um lado, irá enfrentar uma investigação por cada Model S e Model X que vende. poderão abrir mais sete até ao final do
da SEC, a entidade que regula o merca- Apesar do enorme êxito destes carros, ano. Trata-se de uma rede fechada que
do de capitais dos EUA, por ter divul- os prejuízos vão-se acumulando. O es- serve apenas para aquela marca. Todos
gado informação relevante através de tudo não leva em conta o Model 3, que os fabricantes que não tenham capaci-
uma rede social. E alguns investidores está a sugar capital a uma larga escala dade financeira para desenvolver uma
já avançaram com ações judiciais por à empresa norte-americana. Apesar rede tão extensa poderão ter de adotar
causa desta mensagem. Em termos de de perder dinheiro, Musk continua a o sistema da Tesla nos seus veículos.
comparação, uns anos antes, para fazer apostar firme. E estes terão de carregar na rede criada
um anúncio deste género ao mercado, a Porém, o grosso deste negócio po- por Musk. Pagando pelo acesso.
General Motors divulgou um prospeto derá ser outro. O êxito dos Tesla terá
com 230 páginas. A Musk, bastou-lhe servido para alargar e consolidar o DEBAIXO DE TERRA…
uma dezena de palavras. mercado dos veículos elétricos. Es- O mesmo conceito está a ser aplicado
Elon Musk move-se num caminho tima-se que em 2025, um terço das pelas suas empresas Hyperloop One
mais cósmico do que os outros em- vendas de automóveis em todo o mun- e Boring Company. A primeira fabrica
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TRANSPORTE SUPER-RÁPIDO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Chama-se Hyperloop One e pretende A NeuraLink é uma das suas apostas
ser um meio de transporte inovador e mais recentes e pretende criar
seguro, capaz de se locomover a mais interfaces que possam ligar o cérebro
de 1 000 km por hora. Trata-se de uma ao computador. O primeiro objetivo
espécie de comboio que se desloca em será o tratamento de doenças
carris, através de levitação magnética, cerebrais, mas Musk admite que,
o que lhe permite atingir velocidades no futuro, a NeuraLink poderá servir
superiores às de um avião comercial. para o “aperfeiçoamento humano”.
Toda a linha é construída no interior de Já pensou em poder comunicar
um túnel de baixa pressão. O veículo com um computador apenas com
é completamente autónomo, o que o pensamento, sem necessitar de um
evita erros humanos de pilotagem, e o ABRIR TÚNEIS PELO PLANETA teclado ou de voz? Musk quer esta
circuito é fechado, sem cruzamentos tecnologia a funcionar até 2028
de linhas Uma das maiores apostas de Elon Musk
é a sua firma de construção de túneis
Boring Company, através dos quais se
deslocará o Hyperloop, mas não só.
Para ele, a mobilidade terrestre passará
a ser feita debaixo do solo, porque
praticamente não existe limite para
as camadas de túneis que podem ser
sobrepostas, o que permite vários tipos de
tráfego. Depois, os túneis são à prova de
água, silenciosos e invisíveis para quem
está à superfície e, por fim, não criam
barreiras que dividam as comunidades,
como as estradas e os caminhos de ferro
uma espécie de comboios que se deslo- O negócio vai gerando dinheiro com
cam a uma velocidade superior a 1 000 estas operações, mas até agora ainda
quilómetros por hora, movimentados não cumpriu os desígnios que foram
por levitação magnética. Por razões de
segurança, estes veículos irão circular
ATRAVÉS apresentados por Musk: turismo es-
pacial e colonização de outros planetas.
em túneis subterrâneos. O primeiro
túnel está já a ser construído entre
DA STARLINK, Há outro grande projeto de Musk,
embora menos falado, que irá utili-
Los Angeles e Las Vegas, nos EUA, e ELON MUSK zar a SpaceX como fornecedora de
há um outro projeto para desenvolver
na Costa Este daquele país. IRÁ CRIAR serviços. Trata-se da StarLink, uma
empresa de telecomunicações que
INTERNET DE
conceito quando o Governo dos EUA uma rede que envolverá todo o planeta.
desinvestia no seu programa espacial, Serão cerca de 4 500 em órbita alta e
o que levou muita gente a vaticinar
um fim trágico para o dinheiro que o BANDA LARGA 7 500 em órbita baixa, para permitir
melhores latências de sinal.
multimilionário tinha ganhado com
a venda da PayPal. Desde então, a
EM QUALQUER Ter internet de banda larga em qual-
quer lugar e a qualquer hora é um so-
SpaceX foi contratada pela NASA para LOCAL DO nho bonito, mas pode ser também um
PLANETA
várias missões que serão tripuladas por negócio brutal, num planeta cada vez
astronautas da agência governamental. mais ligado. psantos@visao.pt
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AO RITMO
DO CARIBE
NUM LUGAR MÁGICO CHAMADO
PORTOBELO – ONDE, NO INÍCIO DO
SÉCULO XVII, SE ERGUEU O PRINCIPAL
MERCADO DE OURO, DE PRATA E
DE ESCRAVOS DA AMÉRICA –, UM
PORTUGUÊS DIRIGE A ESCUELITA
DEL RITMO, UM PROJETO MUSICAL
QUE QUER TIRAR OS MIÚDOS DA RUA.
HAVIA LÁ MELHOR CENÁRIO PARA UM
ADOLESCENTE LISBOETA SE AVENTURAR
NUMA RESIDÊNCIA ARTÍSTICA...
T E R E S A C A M P O S , PA N A M Á
Raízes
Ra
Portobelo da cultu parigas enverg
ra Los C a
ongos n ndo os trajes tr
as ruas a
de Porto dicionais
belo
CIDADE DO
PANAMÁ
EUA PANAMÁ
Golfo
do México Oceano
Atlântico
CUBA
MÉXICO
Mar das Caraíbas
NICARÁGUA
COSTA RICA VENEZUELA
Oceano Pacífico COLÔMBIA
EQUADOR
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Batucando Os sons An go la, Guiné e Congo
vos vindos de
trazido pelos escra
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A
Ao sábado à noite, há sempre con-
certo. Desta vez, é na esplanada do
restaurante Casa Congo. O nome
remete-nos para a cultura trazida de
África para as Américas, nos séculos
XVI e XVII, época em que o reino
do Congo dominava vários povos do
continente que era a base do tráfico
de escravos. A voz de um grupo de
miúdos faz-se ouvir sobre o rufar
dos tambores, deixando ainda espaço
Segundo, o músico que mais apregoou
o som do Caribe pelo mundo. Máximo
acaba de chegar para, durante 15 dias,
se atrever à estreia do conceito de re-
sidência artística com aqueles alunos.
No palco, a música segue agora para
um cover de Celia Cruz, com todos a
cantar em coro: “Ayyyyy, no hay que
llorar, que la vida es un carnaval...”
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Ensaio Máximo Francisco projeto. “Angariamos aqui cerca de local indicia claramente o contrário.
aprende os novos ritmos com 80 por cento dos recursos da escola”, É ele que nos faz notar que o nome da
Mary Ortiz (na foto, de costas), orgulha-se a ceramista Lourdes Gu- terra, atribuído por Colombo, é desde
estrela da companhia
tierrez, 47 anos, espanhola que veio de sempre escrito à portuguesa, e não em
Encontro Dois portugueses em
Sevilha, do bairro de Triana, onde cres- castelhano, e que isso é só mais uma
Portobelo: Máximo Francisco ceu a admirar os mapas de Portobelo achega para, também aqui, se alimentar
(à esq.) foi fazer uma residência inscritos numa parede. Afinal, era a tese de que o conhecido navegador
artística; Rui Dinis dirige daquele cais que a Armada espanhola era, afinal, português.
a Escuelita del Ritmo saía para as suas investidas além-mar. Para completar o cenário, falta
ainda dizer que estamos em pleno
PARAÍSO PROTEGIDO parque nacional, aquele que foi o
mais autêntica que ficou do período A escola de que Lourdes nos fala, o primeiro espaço natural protegido
colonial. Homens e mulheres escravos outro grande projeto que anima as do Panamá, espalhado ao longo de
que, ainda assim, mantinham o sentido vidas por aqui, é por sinal La Escue- 86 hectares, em que 20 por cento
da vida e o gosto por celebrá-la. Este é lita del Ritmo que, à boa maneira e ao são áreas marinhas, cheias de recifes
também o nome de uma corrente artís- gosto de Alejandra, não quer ser uma de corais e de pequenas praias, onde
tica que mistura fé, História e cultura academia de música formal, mas um as árvores entram mar adentro, ao
– negra e indígena. “É pelo meio dos ponto de encontro e de acolhimento lado das comunidades indígenas e de
tambores e da dança que o povo negro, para crianças e jovens da comunidade. Kuna, duas tribos muito ciosas da sua
o nosso povo, conta o seu legado de “Além de recuperar o espírito dos cultura e do seu espaço. Os Emberá
luta contra a escravidão, com um canto bailes tradicionais, o nosso objetivo é souberam, como ninguém, aproveitar
de agradecimento e de esperança”, há romper com o ciclo de pobreza, seja os recursos naturais das densas selvas,
de relatar-nos, mais tarde, Mama Ari, com bolsas de estudo seja com apoio onde habitam, e estão preparados para
62 anos, que promove demonstrações económico às famílias em risco”, conta receber estrangeiros, partilhando a
de dança para os turistas e que é figura Isabel, a amiga de Alejandra, que ajudou sua cultura e o seu estilo de vida. Já os
maior de uma comunidade que era a lançar o projeto – e que aqui ganha Kuna vivem, na sua maioria, na zona
matriarcal. E ainda nem sabíamos da relevância, porque foi quem conduziu conhecida como San Blás, constituída
existência dos Cimarrons, o grupo de a entrevista de emprego a Rui Dinis, por mais de 300 pequenas ilhas espa-
escravos que conseguiu escapar e que o português que então nem 30 anos lhadas ao largo da costa caribenha do
se refugiou na montanha, antes de se tinha e que estava decidido a deixar o Panamá, um paraíso protegido e um
aliar aos corsários e piratas, alimentan- seu emprego numa multinacional, em dos lugares mais bonitos do mundo,
do histórias como aquela que se conta Barcelona, para embarcar num projeto controlando com mão mais dura
sobre Francis Drake, um dos maiores que mudasse a vida das pessoas. quem entra e quem sai.
salteadores de sempre, que terá acaba- “Sente-se uma mudança substancial
do fundeado num caixão de chumbo, nos nossos adolescentes: mais autoes- UM LUGAR COM HISTÓRIA
junto à ilha que está à entrada da baía e tima, valores, cooperação, iniciativa, Máximo, o adolescente que estuda
que se chama, claro, Farallon del Drake. respeito pelo meio que os rodeia...”, piano no Conservatório em Lisboa, já
Porém, a Casa Congo é mais do que elenca o diretor da Escuelita que, nove está a ensaiar e a entrar no ritmo, ao
uma galeria de arte e um restaurante, anos depois, gosta de dizer que não mesmo tempo que nós fazemos estes
espaços que permitem apoiar aquela se vê a viver ali para sempre, mas pequenos mergulhos na História. Ao
população e obter fundos para outro cujo brilho nos olhos com que fala do fundo das duas ruas da freguesia, o
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campo de futebol improvisado num mesmo que, em conjunto com os for- É um país cheio de cor
baldio também já o chamou por duas tes que contornam a baía, a UNESCO Nem os autocarros escapam
ao espírito alegre do Caribe
ou três vezes, para jogar ao lado dos declarou Património da Humanidade,
miúdos da terra, eufóricos: o país foi, em 1980, reconhecendo o seu caráter
pela primeira vez, a um campeonato excecional. A estrear A Casa Verde está
do mundo de futebol, na Rússia, e Celso há de ainda contar-nos a pronta e dará teto aos que vierem
isso nota-se. A seguir a este descam- razão da cor roxa que contorna a fazer residências artísticas
pado, há ainda um mercado ao ar igreja colonial, com quase 500 anos,
livre, onde duas mulheres de origem erguida ali ao lado. É a cor da vene-
Kuna vendem um pouco da sua arte, ração do Cristo Negro que, todos os
seja ela pulseiras de palhinha, colares outubros, ali chama milhares de pe-
de contas ou ainda panos bordados regrinos devotos – e que ficou famoso
cheios de cor e “passarada”. Só depois depois de um navio espanhol ter feito
encontramos alguns lugares icónicos três tentativas para largar o porto e no À Noite Fazem-se Amigos, ambos
daquela baía. só o ter conseguido fazer depois de de 2016). Nada, ainda assim, que se
Um é a Real Alfândega, que nos atirar para terra uma grande cruz de compare a uma residência artística
anos 1600 chegou a ser residência do madeira, que tinha um Cristo assim num local daqueles, desafio que o pai,
governador, onde se guardavam as pintado para evangelizar a população Pedro Nuno Neto, 45 anos, consultor
riquezas provenientes do Peru e do escrava. Além disso, em terra havia económico no México, lhe lançou. Em
Equador, cujo destino era Espanha. uma grave peste, uma epidemia de breve, há de estar numa apresentação
Como Portobelo era o principal porto varíola que acabou por desaparecer pública da banda da Escuelita, num
nas Américas, naquele período, ali se pouco depois de o El Naza – como a hotel na vizinha Colón, e, desta vez,
ergueu um sistema de defesa dos ha- imagem é carinhosamente conhecida já não será na plateia.
bitantes da cidade e das embarcações, – ter ficado para trás. Nos primeiros dias desta aventura,
um dos conjuntos mais impressionan- o recém-chegado conta com a ajuda
tes da arquitetura militar. Nada disso, MÁXIMO CONHECE MARY de Manuel, 19 anos, que se inscreveu
no entanto, invalidou que, 300 anos Máximo Francisco estuda piano, des- no projeto de música mal tinha feito
depois, boa parte fosse desmantelada de os 10 anos, e faz questão de dizer oito. Manuel toca saxofone e quer ser
e várias daquelas pedras levadas pelos que, agora que vai para o Secundário, advogado ou professor – “Ou políti-
norte-americanos para construírem quer dedicar-se exclusivamente à co”, diz, a rir-se, sentado na espla-
o famoso canal que leva o nome do composição. Lembra-se bem de ser nada que se ergue entre o mercado
país, uma via de navegação revista e garoto e de ter criado com um amigo e a Aduana, o nome caribenho da
aumentada, que liga o Atlântico ao um canal no YouTube. Eram os M&M antiga alfândega. Máximo está umas
Pacífico. Os andaimes a rodear o edi- – e é quando reparamos que a sua cara casinhas mais à frente, na segunda
fício revelam que, em tempos, houve não nos é completamente estranha: aula de percussão. Heraldo, 40 anos,
a intenção de reabilitá-lo. No entanto, afinal, quando era mais novo, ele já que está a ensinar-lhe os truques dos
não se avistam quaisquer outros sinais dera um ar da sua graça no progra- tambores, não se faz rogado em tecer
de obra em curso. “Fomos abando- ma Chefs’ Academy Kids, ao qual se todos os elogios ao projeto. “A música
nados”, lamenta-se Celso Anton, 48 seguiu a estreia no grande ecrã (em A é uma linguagem universal, não tem
anos, o guardião do monumento, o Breve História da Princesa X e ainda fronteiras. Mudou-nos a vida.”
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Segue-se o primeiro ensaio de crowdfunding para ajudá-la a pagar as Portobelo Digital.org, na qual partilha
grupo, agora acompanhado por Abdiel despesas de viagem e de alojamento, o sentido de comunidade local: “Até
Valdés, 40 anos. “Vá, mais uma vez...”, momento também apadrinhado pela o meu filho de sete anos já diz que
incentiva. Ao início da tarde, a maio- embaixadora de Portugal no Panamá, Portobelo é dele.”
ria da miudagem entra pela escola Ana Pessoa e Costa, 57 anos, então E porque não haveria de ser? Por-
adentro. Máximo começa por escre- presidente da Associação Diplomática, que aqui todos gostam de apregoar
ver, no quadro branco, os acordes de e uma fã aguerrida do projeto. “A Mary alto e bom som que o projeto, que
uma música da sua autoria. Com a é incrível. Eles são incríveis.” cruza as ruas, nasceu para todos,
ajuda do clarinete, do trombone, da sobretudo para os mais novos se
guitarra elétrica e afins, cada um vai O MUNDO A SEUS PÉS? inspirarem em algo que não fosse um
acrescentando um beat à composi- Além da mulher do primeiro embai- caminho cheio de equívocos, crentes
ção – “para lhe dar um bocadinho de xador português naquele país, que até nessa aventura que é aprender – e que
açúcar e de salero”, ri-se Mary Ann então tinha apenas um consulado, mul- sem aprendizagem não há aventura.
Ortiz, 20 anos, aluna da Escuelita tiplicam-se aqueles que já se renderam Jairo, 24 anos, o professor de pasa
desde os 12 e que, no ano passado, ao projeto que cresce em Portobelo. pasa, dança que mistura o congo com
foi a estrela da companhia no Festi- É o caso de Janelle Davidson, atriz e o reggae jamaicano, e que também en-
val de Jazz do Panamá, ao ganhar o produtora de espetáculos panamiana sinou uns passos a Máximo, é só mais
concurso que oferecia uma bolsa de que, desde 2016, é a mulher que está à um a fazer questão de nos confirmar,
estudo de seis semanas na Escola de frente do Instituto Nacional de Cultura. orgulhoso, como as suas aulas tam-
Música de Berklee, em Boston, nos Naquela manhã, atravessara o país para bém ajudaram a tirar miúdos da rua.
EUA. A população juntou-se num visitar a Escuelita e não conseguiu es- Será esse o espírito que Rui Dinis,
conder o seu espanto quando se cruzou diretor da Escuelita, conta levar na
com Renée Craft, uma norte-ameri- bagagem quando, em Lisboa, apresen-
cana que dá aulas no departamento tar o projeto à Embaixada do Panamá
O projeto, que da diáspora de África, na Universidade
da Carolina do Norte, e que há 17 anos
em Portugal. Não há razões para não
o fazer de peito cheio: conhecida em
cruza as ruas, ruma àquele lugar na América Central.
Estamos novamente na Casa Con-
todo o país, La Escuelita del Ritmo
também já tem o selo de aprovação
nasceu para todos, go, onde Renée recorda que descobriu
que havia um paraíso assim na Terra
de Harold Robinson, o coordena-
dor residente das Nações Unidas no
sobretudo para à conta de uma apresentação que um
professor da vizinha Colón fez na sua
Panamá. “O nosso sonho é não só
continuar a receber alunos para resi-
os mais novos universidade. “Falou-nos das rotas do
tráfico de escravos, e eu fiquei fascina-
dências artísticas como levar outros
daqui, para lhes mostrar o mundo.”
se afastarem da. Podiam ser os meus antepassados
na América”, relata ela, que começou
Afinal, as utopias também se fazem
de música e de salero. Ao ritmo do
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PSD
FOCAR
A vez da geração de 70
Miguel Pinto Luz, Pedro Duarte e Luís Montenegro perderam
de vez a paciência para com a estratégia do líder e estão convictos
de que só um milagre eleitoral garantirá a sobrevivência política
de Rui Rio. Que ninguém duvide: eles vão mesmo avançar
em 2019. Pedro Santana Lopes corre em pista própria e já tem
“Aquele que nome para o novo partido, que é visto por Assunção Cristas
se empenha como uma oportunidade para o centro-direita
a resolver as O C TÁV I O L O U S A D A O L I V E I R A
dificuldades
resolve-as antes
que elas surjam.
Aquele que se
antecipa a vencer
os inimigos
triunfa antes que
as suas ameaças
se concretizem”
Sun Tzu
General e filósofo chinês
(544-496 a.C.)
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N
Rutura Pinto Luz, Pedro Duarte
e Montenegro recusam que
o PSD seja uma muleta do PS
a ressaca do 25 de Abril
de 1974, quando Rui Rio
atingiu a maioridade e
aderiu à JSD, Luís Mon-
tenegro e Pedro Duarte
tinham aproximadamente
um ano (nasceram ambos
em 1973). Miguel Pinto
Luz nem isso – veio ao
mundo em 1977. O atual
presidente do PSD e os
três pré-candidatos à sua
sucessão pertencem a gerações com-
pletamente distintas. Não terá sido,
aliás, obra do acaso a estranheza com
que a família social-democrata enca-
rou o facto de estes três elementos da
geração de 1970 se terem resguardado
na luta pela chefia do partido, quando
Pedro Passos Coelho anunciou que não
se recandidataria.
O fator etário foi utilizado, em surdi-
na, como crítica por parte dos que fica-
ram no sofá a assistir ao duelo fratricida
entre Rio (61 anos) e Pedro Santana Lo-
pes (62), mas a verdade é que, por receio
ou taticismo, só mesmo o ex-presidente
da Câmara Municipal do Porto e o an-
tigo primeiro-ministro foram a jogo.
Agora, a um ano de umas eleições em
que as sondagens posicionam António
Costa a poucos pontos percentuais da
maioria absoluta, ninguém refuta que o
confronto geracional vai ter lugar após as
legislativas – isto, claro, se Rio se recusar
a sair de cena.
No PSD, não são poucas as vozes pró-
ximas do presidente que, sob anonimato,
vão confidenciando que o plano B (Rio
ser vice-primeiro-ministro de António
Costa) começa a parecer o plano A (que
deveria ser Rio chegar a primeiro-mi-
nistro). O partido entra em ebulição,
e os críticos estão a atingir o limite, ao
ponto de alguns dos seus apoiantes, nas
últimas diretas, estarem já à procura do
“cavalo vencedor” para as que se seguem.
O AVISO A MARCELO
Pedro Duarte deu o tiro de partida. Em
entrevista ao Expresso, o ex-presidente
da JSD assumiu a rutura com a direção.
Se há pouco mais de meio ano não se
imiscuiu no combate, desta feita fez uma
avaliação diferente. “Estou preparado
para liderar uma nova estratégia no PSD
e uma nova esperança para o País, em
nome do interesse nacional”, afirmou
o diretor da campanha presidencial de
Marcelo Rebelo de Sousa, que, apurou a
VISÃO, comunicou previamente as suas
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Desfiliação Santana cumpriu
PSD o que anunciara à VISÃO: o futuro
não passará mais pelo seu PPD
/PSD e está a criar um partido
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O futuro de Rui Moreira
PSD e CDS acreditam que o presidente
da Câmara do Porto pode ter ambições
nacionais e que não descartam que tenha
a tentação de vir a formar um partido
C
ontinua a ser um tema tabu reforça outro centrista próximo de As-
para Rui Moreira, e os sinais sunção Cristas, que também sublinha
contraditórios estão a susci- o desejo de Rui Moreira vir a suceder
tar dúvidas tanto a quem o a Jorge Nuno Pinto da Costa no FC
apoia como a quem lhe faz Porto. No entanto, refere o mesmo
oposição. O presidente da interlocutor, pode existir a vontade
Câmara Municipal do Porto oculta de ensaiar uma candidatura à
mantém a incerteza quanto Presidência da República, já com Mar-
ao seu futuro político, e PSD celo Rebelo de Sousa fora da equação.
e CDS começam a desconfiar de que o Quanto à constituição de um partido,
autarca esteja a ponderar outros voos. um membro da direção de Rui Rio des-
Entre sociais-democratas e cen- valoriza esse cenário e ironiza: “Nunca
tristas, admite-se que Moreira possa ouvi [falar disso]. Só se for com Pedro
até pensar em dar dimensão nacional Santana Lopes...”
à associação cívica “Porto, o Nosso A VISÃO procurou obter um co-
Movimento”, embora fontes de am- mentário de Rui Moreira, mas até à
bos os partidos realcem que, se o edil hora de fecho desta edição tal não foi
avançasse para a formalização de uma possível.
força política, estaria a contrariar o
pressuposto sob o qual pautou as
campanhas eleitorais em 2013 e 2017: a Incerteza
independência e a distância em relação O autarca
aos partidos. descartou
“É um caminho perfeitamente natu- um terceiro
ral e, a acontecer, tem que ver com tudo mandato, mas
lamentou o próprio Montenegro numa aquilo que ele está a fazer. O movimen- não disse
entrevista recente, que concedeu à SIC to dele tem gente do PS, do PSD e do se tenciona
Notícias, na qual também condenou CDS, e não sei se essas pessoas ainda continuar a
a “ambiguidade” com que o PSD tem serão todas leais aos seus partidos”, exercer cargos
feito oposição. “Temos deixado o pri- afirma um social-democrata que tem políticos
meiro-ministro à solta. Cometeríamos acompanhado o percurso de Moreira.
um erro político enorme se fôssemos Outro interlocutor admite que o movi-
percecionados como uma muleta do PS”, mento encabeçado por Francisco Ra-
avisou nessa altura. mos possa funcionar como “embrião”
Apesar de ter consigo muitos dos para as ambições do sucessor de Rui
indefetíveis de Passos, Montenegro Rio, no Porto. Um dirigente do CDS
tem descurado o trabalho na máquina recorda as entrevistas de Moreira, ao
“laranja”. “É necessário ganhar o apa- Público e à SIC Notícias, nas quais
relho”, adverte um dos seus, realçando excluiu cumprir um terceiro man-
que é preciso estar em contacto com as dato autárquico. “É um regionalista
concelhias e com as distritais, o que, ferrenho, e pode aparecer como o
por outro lado, o deixará mais exposto. grande homem do Norte”, defende
essa fonte, que não crê que o antigo
UM LIVRO A CAMINHO presidente da Associação Comercial
Quem também não está parado é Pinto do Porto pense em ser deputado ou,
LUCÍLIA MONTEIRO
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PSD
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CLIMA
Os malefícios do ar condicionado
Eis a grande ironia: os aparelhos de refrigeração contribuem
– e muito – para o aumento das temperaturas globais. Mas como
enfrentar as ondas de calor sem estes sorvedouros de eletricidade?
O
JUSTIN WORLAND/TIME
calor extremo derreteu re- não tinham acesso a um arrefecimento rio da Organização Mundial de Saúde.
centemente estradas no Rei- artificial adequado. E uma análise da Os homens e mulheres tornar-se-ão
no Unido, provocou mais de Agência Internacional de Energia (IEA), cada vez menos produtivos, em fun-
70 mortes no Quebec e pro- em maio, uma organização intergover- ção do aumento do calor, com algumas
duziu um recorde de 48,8ºC namental, mostrava que apenas 8% dos partes de África e da Ásia a enfrentarem
em Chino, na Califórnia. Es- 2,8 mil milhões de pessoas que vivem um declínio de 12% nas horas de traba-
tes casos ilustram um para- nas zonas mais quentes do planeta têm lho por volta de 2050, como resultado
doxo desesperante para cien- ar condicionado, comparado com uma do stresse calorífico, de acordo com o
tistas e decisores políticos: percentagem acima dos 90% em lugares relatório da Energia Sustentável para
o ar condicionado mantém como os Estados Unidos da América Todos. E isto sem ter em conta que a
as pessoas ao fresco e salva vidas mas e o Japão. falta de refrigeração significa, muitas
é também um dos fatores que mais Para esses milhões de seres humanos, vezes, que as pessoas não conseguem
contribuem para o aquecimento global. ganhar o acesso ao ar condicionado não assegurar a segurança dos alimentos ou
Dois novos relatórios sublinham a é um luxo. Sem refrigeração, a exaustão a conservação de medicamentos.
escala do desafio. A 16 de julho, a Ener- devido ao calor pode conduzir a proble- À superfície, abordar a questão parece
gia Sustentável para Todos (Sustainable mas sérios, como a falência de órgãos e simples: os países precisam de alargar
Energy for All), uma ONG dedicada às até a morte. O número de pessoas que o acesso ao ar condicionado e fornecer
energias limpas, ligada às Nações Unidas morrem de doenças causadas pelo ca- instalações públicas a quem não pode
e ao Banco Mundial, dizia que 1,1 mil lor extremo poderá subir para mais de adquirir, por si, estes equipamentos.
milhões de pessoas no mundo inteiro 250 mil, em 2050, segundo um relató- É isso que se está a fazer. A Energia
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PORTUGAL CORRIDA AO FRIO a China gasta, hoje, em eletricidade. Isso
representa um aumento para o triplo do
A onda de calor teve os seus efeitos consumo de energia em ar condicionado
na venda de aparelhos de refrigeração que temos atualmente, muito do qual
virá dos países em desenvolvimento,
Mais ventoinhas que continuam a depender muito dos
O verão só chegou em agosto aos combustíveis fósseis. No terreno, os
hipermercados e lojas que vendem países vão também precisar de construir
ventoinhas e ares condicionados. No mais centrais para responder à procura
Jumbo, do grupo Auchan, no início ou então correm o risco de ter uma rede
do mês, o crescimento da venda instável por ser insuficiente.
destes aparelhos “foi 930%”, segundo “O ar condicionado tem sido um
o jornal Público. Na Rádio Popular, enorme sorvedouro de eletricidade”,
nos primeiros três dias da onda de diz Erik Solheim, que dirige o progra-
calor deste agosto, venderam-se ma das Nações Unidas para o Ambiente.
mais aparelhos de refrigeração do “A refrigeração é provavelmente o maior
que os que tinham sido vendidos
consumidor de energia, e as pessoas
desde o início do verão. As lojas AKI
tendem a ignorá-lo.”
identificaram um crescimento de
700% na venda destes artigos, em
Além do consumo de energia, os pro-
comparação com as vendas das dutos de refrigeração podem também
semanas imediatamente anteriores. contribuir para as alterações climáticas,
As ventoinhas e os aparelhos de ar ao emitirem hidrofluorocarbonetos
condicionado portáteis são os mais (HFC), químicos que concentram o ca-
procurados. lor na atmosfera em taxas alarmantes.
GETTY IMAGES
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FIGURA
“É fácil
envergonhar
os homens”
As lições de Jane Fonda vão muito
CRÉDITO FOTO
além do exercício físico.
Aos 80 anos, ainda a fazer cinema
e televisão, deixa-nos uma certeza:
“Não é tão stressante ser velho
como quando se é novo e não se
sabe o que precisamos de saber”
J
ane Fonda conta-nos onde vai local onde há um centro comunitário sente a falta do que nunca se teve. E de
buscar a sua energia, diz-nos com um ginásio. Não é uma casa de repente, quando estava com um homem
que não voltará a casar-se, repouso para reformados. Tenho um que era bom, pensei: “Oh, porque nunca
explica-nos que exercícios treinador que vem e trabalha comigo se me lembrei que isto era importante?”
faz, revela o que as mulheres eu tiver o dia livre. Mas também estou Um homem capaz de te acarinhar... Os
procuram nos homens, fala da a fazer Grace e Frankie, por isso não homens têm tanto medo de serem vul-
amizade entre mulheres, dos tenho muito tempo. neráveis quanto tu tens necessidade de
filhos e da morte. Confessa-se Então não se exercita sete dias por ser realmente acarinhada. Porque para
feliz por estar viva para ver semana? acarinhares alguém precisas de ser mui-
um movimento de mulheres Não o faço todos os dias. Às vezes, nos to aberto e vulnerável face a essa pessoa.
como o #Metoo, esperando que não seja intervalos do trabalho, treino-me quatro São essas coisas que eu procuraria hoje.
algo passageiro e que venha realmente a ou cinco vezes por semana. E também Porque a Jane também mudou com
fazer a diferença. tenho bons genes. os anos.
Qual é o segredo da sua energia? Que qualidades é que as mulheres É isso que eu quero dizer. Como tal,
Durmo nove horas. Sou saudável e dur- procuram nos homens? hoje, aos 80, eu respondo à mesma
mo muito, adoro dormir. Tenho energia, A forma como respondo hoje a essa questão de forma diferente.
sempre tive imensa. Mas agora que fiz pergunta é muito diferente da resposta Tem sido sempre um vulto do feminis-
80 anos, durmo bastante e tenho uma que dava quando tinha 20 ou 30 anos. mo. Como é que encara o movimento
energia boa, saudável. E aqui está o que acrescento às quali- #Metoo?
Ainda faz todas as suas rotinas de dades tradicionais: bondade. Só percebi Fico feliz por ainda estar viva para ver o
exercício? isso aos 70 e tal, quando estava numa que está a acontecer, porque acho que é
Faço quando tenho tempo. Vivo num relação com um homem bom. Não se mesmo importante. Não me parece que
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A grande diva Ativa, cheia
de “energia saudável”
como ela diz, eis Jane Fonda
a pôr o dedo nas feridas
aumento dos salários das mulheres, e não fazem isso. Quando as mulheres se
na descoberta das diferentes maneiras juntam, há uma hormona que se liberta
de estarmos ao lado das trabalhadoras no cérebro, a oxitocina, uma hormona
agrícolas, das porteiras e das empregadas do bem-estar que afasta o cortisol, que
domésticas. Tivemos muitas reuniões é uma hormona do stresse. Melhora a
com mulheres desses setores. É emo- nossa saúde e o nosso bem-estar. Foi
cionante. feito um estudo clínico em Harvard,
Falou da amizade entre mulheres... segundo o qual não ter amigas mulheres
Por razões evolucionárias muito pro- é tão mau para a saúde como o tabaco.
fundas, a amizade entre as mulheres é Por isso adoro entrar neste enredo que
diferente da amizade entre os homens. mostra como podemos ajudar-nos,
É também uma razão por que vivemos quando queremos ser vulneráveis umas
até mais tarde. Há estudos que o mos- com as outras.
tram. Do ponto de vista da evolução – e Continuamos a aprender na velhice?
estou muito interessada na evolução –, Ou tornamo-nos rabugentos?
os homens vão à caça individualmente: Algumas pessoas ficam rabugentas, mas
este vai atrás daquele tigre, outro tipo a maioria não. Escrevi um livro sobre a
persegue aquele antílope, homem que velhice, por isso sei alguma coisa sobre
é homem tem de trazer carne para casa. os velhos. Tem sido feito um enorme
É uma coisa individualista e competitiva, estudo longitudinal de centenas de
e os homens têm de obter resultados milhares de pessoas, cujos resultados
da sua atuação. Ainda é assim, como mostram que homens e mulheres, ca-
acontece há milénios, que se forma nos sados, divorciados – não interessa –,
corações e nas cabeças dos homens a ficam menos hostis, menos ansiosos,
ideia de masculinidade. Enquanto isso, mais fáceis, menos stressados, depois
as mulheres sentam-se à volta da fo- dos 50 anos. Os gerontologistas e os psi-
gueira a conversar. Sejam jovens ou de cólogos não sabem bem explicar porquê.
meia-idade, podem ser as avós que ficam Deve ter algo que ver com mudanças no
a tomar conta dos bebés, enquanto as cérebro, mas muito se deve ao facto de
mães vão apanhar bagas. Somos inter- termos bastante vida para trás. Já pas-
FRANCOIS G. DURAND/GETTYIMAGES
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FIGURA
MIKE MARSLAND/GETTYIMAGES
Bons genes
A atriz aos 80 anos,
fotografada
em maio, durante
o Festival de Cannes
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Juventude Em 1965
quando era só atriz
e não ativista
Tento viver de maneira que no fim não tempo]. Por isso, muito cedo se bifurcam
tenha muitos arrependimentos. entre a cabeça e o coração. Quantos pre-
Pensa voltar a casar-se? sidentes elegemos que não têm empatia?
Não. Aos 80! Acabo de deixar o meu São muitas vezes machos alfa. Há uma
último namorado há cerca de um ano, masculinidade tóxica. Se não levam o ba-
vivo sozinha, e isso é tão bom. Ganho con para casa, sentem-se emasculados.
tanto com isso! Não seria capaz de ler E é então que acontece a violência. É fácil
três livros por semana se estivesse com envergonhar os homens. E quando são
alguém. Não conseguiria dormir nove envergonhados, os homens tornam-se
horas se vivesse com alguém. violentos. O crescimento do movimento
Como consegue dormir de mulheres deu origem a um aumento
nove horas? da violência doméstica. Li muitos livros
Não como à noite. Quando estou a tra- que me ajudaram a compreender o meu
balhar, janto às quatro. Tomo um grande pai e, especialmente, Ted Turner [o seu
pequeno-almoço e um grande almoço, terceiro marido]. E é difícil estar a re-
e é tudo. Por isso, chego a casa, tiro a sumir. Escrevi acerca disso.
maquilhagem, tomo um duche e vou Parece-me muito curiosa. É um dos
GETTYIMAGES
para a cama. seus segredos?
O que aprendeu com os homens? É. É mais importante estar interessada
Oh, meu Deus! Já lhe falei sobre a dife- do que ser interessante. Conheço estre-
rença nas amizades. Essa diferença leva las de cinema que só se ralam em serem
os homens a não terem o tipo de amiza- interessantes e falta-lhes algo como con-
des que as mulheres têm – não todos... –
mas quando são pequeninos, dizem-lhes “TENTO VIVER sequência. Ao passo que as pessoas que
são verdadeiramente curiosas acerca da
que um homem não chora, dizem-lhes
para não serem meninos da mamã, isso
DE MANEIRA A QUE vida, e do que nos faz vibrar, são muito
interessantes e mantêm-se jovens, mes-
tudo que é dito explicitamente pelos
pais, mães, professores, treinadores,
NO FIM NÃO TENHA MUITOS mo quando têm uma idade avançada,
como, por exemplo, aconteceu com o
ou implicitamente pelo zeitgeist [ar do ARREPENDIMENTOS” Stephen Hawking. visao@visao.pt
√ Praia da Comporta
Grândola (2 cadeiras)
√ Praia Tróia-Mar
Grândola (1 cadeira)
geral@moremovingmoments.pt
www.moremovingmoments.pt
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CIÊNCIA
E
SARA SÁ
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Evolução Cientistas defendem
que a linguagem surgiu para
que pudéssemos saber quem
era quem no grupo
“QUEM TE AVISA...”
1 Manter segredo: Convém Estudos feitos em ambientes de trabalho
ser discreto, para não criar confirmam esta tese. A fofoca inofensiva,
conflitos entre colegas, pode cimentar a coesão
do grupo, além de animar os espíritos.
Também é importante para os recém-
2 Partilhar informação
útil: É preciso que
-chegados, que, ao participarem numa
a informação partilhada conversa deste tipo, ficam a perceber
seja vantajosa para o grupo, as normas e os valores que vigoram na
de modo a ser valorizada organização.
Em contexto laboral, a má-língua tem
ainda outra relevância que é a possibili-
3 Não contar mentiras:
dade de se transformar num estímulo.
Faltar à verdade pode fazê-
O receio de que nos tornemos alvo de
-lo perder a credibilidade,
além de prejudicar o visado
mexerico pode ser uma força positiva
de forma injusta que impede que nos aproveitemos dos
CRÉDITO FOTO
outros. Por exemplo, num estudo feito
com mariscadores de lagosta do Maine,
4 Estabelecer ligação nos EUA, verificou-se que aqueles que
com o ouvinte: desrespeitaram as normas de quando e
A passagem da informação
como as lagostas podiam ser apanha-
deve ser acompanhada
das eram expostos pelo grupo, ficando
por emoção, o que potencia
a relação entre
proscritos durante um período.
os coscuvilheiros Há uma certa função social, que per-
mite interiorizar os comportamentos
aceitáveis e os condenáveis, reforça um
trabalho de um grupo de investigadores
da Universidade de Queensland, Austrá-
lia. “O mexerico do dia a dia ajuda-nos a
construir ligações sociais e a desenvolver
um melhor conhecimento dos grupos e
das sociedades aos quais pertencemos”,
refere-se num comunicado.
Veja-se o caso #MeToo e o movimen-
to contra o assédio sexual que começou
com o diz-que-disse em torno do pro-
dutor de Hollywood Harvey Weinstein.
“A fofoca sobre Harvey Weinstein teve
sem dúvida nenhuma consequências
negativas para ele, tais como a perda de
trabalho e a expulsão de uma série de
empresas e sociedades, mas pode tam-
competitiva. “Hoje em dia, alguém que DOIS TERÇOS bém ter tido consequências para todos
seja bom a falar da vida dos outros é um nós, os que participámos nela”, sublinha
influenciador e um membro popular DAS CONVERSAS a psicóloga social daquela instituição
do seu grupo social. Divulgar segredos
é uma forma de estabelecer ligação e QUE MANTEMOS AO australiana, Jolanda Jetten. “Coscuvilhar
permite-nos monitorizar a reputação de
partilhar um bom mexerico com outra
pessoa é um sinal de confiança profunda:
LONGO DA VIDA SÃO... outras pessoas e, ao ficarmos a par dos
seus comportamentos, estamos mais
quem o faz acredita que quem recebe
esta informação sensível não a vai usar
SOBRE A VIDA bem posicionados para decidir se de-
vemos confiar nelas ou não, no futuro”,
contra si”, continua Frank McAndrew. DOS OUTROS resume a psicóloga. ssa@visao.pt
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Solitário “Quando estamos
DESPORTO sozinhos, temos de decidir
e fazer tudo por nós”, diz
Robert Scheidt, que começou
a velejar aos cinco anos
C
S U S A N A L O P E S FA U S T I N O
omo estratega da equipa 2020. Eleito por duas vezes Rolex O que, na sua opinião,
Onda Brasil, o velejador World Sailor of the Year, participou a vela tem de bom?
brasileiro Robert Scheidt, em seis edições dos Jogos Olímpicos, A interação com o mar e com o vento,
45 anos, esteve venceu cinco medalhas e ainda hoje a utilização dessa força da Natureza,
recentemente em Cascais, continua a dizer que nunca pensou e o facto de o mar trazer uma enorme
a propósito do Rolex TP52 alcançar esse sonho. sensação de liberdade para as crianças.
World Championship, Com que idade começou a velejar? Gostava que o seu filho viesse
considerado o melhor Aos cinco anos, como tripulante. a ser um bom velejador?
campeonato de monocascos Aos nove, sozinho. Mentiria se dissesse que não. O Erik
do mundo. À VISÃO falou Qual a idade ideal para já pratica futebol, vela, ténis e natação,
sobre o seu percurso e também sobre se começar? mas ainda é muito cedo para pensar
o seu futuro, agora que anunciou que Entre os sete e os dez anos, mas depende num treino de alto nível... As coisas
já não vai estar presente em Tóquio sempre da maturidade da criança. têm de acontecer com o tempo.
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O que é preciso para
se ser campeão olímpico?
Não existe uma receita, cada atleta
PALMARÉS As medalhas olímpicas mudaram
a sua vida?
Na verdade, um título mundial até
Robert Scheidt participou
tem a sua história, o seu caminho. em seis edições dos Jogos é mais difícil de ganhar do que uma
Tem que ver com a vontade e o Olímpicos, tendo vencido Olimpíada, mas a questão é que o
prazer que se retira ao praticar cinco medalhas. A par do reconhecimento é menor. Nos Jogos
determinado desporto, mas também velejador Torben Grael, Olímpicos, representamos o nosso país,
com a motivação em atingir-se um é o atleta brasileiro mais viajamos com uma delegação, fazemos
objetivo. Querer ganhar é uma coisa; medalhado em Olimpíadas parte de um grupo, e, por isso, a força
fazer um plano e executá-lo é mais dessa medalha fica para o resto da vida.
difícil. Há muitas pessoas que querem Já teve alguns percalços no mar?
ser campeãs olímpicas, mas que não LONDRES 2012 Aos 16 anos, a velejar sozinho e longe
querem passar por todas essas etapas, Bronze da costa, o leme do barco partiu-se
por todos esses sacrifícios. Porém, não Com o seu compatriota Bruno e fiquei sem conseguir direcioná-lo.
podemos ter nada como garantido: Prada, conquista a medalha Consegui arranjar a peça e, quando já
além de treinar, é preciso executar de bronze, igualando o estava a escurecer, regressei à praia.
as técnicas na perfeição durante velejador Torben Grael, como Salvei-me por pouco.
a competição. o maior medalhista brasileiro Prefere velejar sozinho ou em
Como foi consigo? em Olimpíadas equipa?
Tudo aconteceu de forma muito Acho que é importante viver esses dois
natural. Pratiquei muitos desportos, mundos. Quando estamos sozinhos,
mas de facto gostava muito de PEQUIM 2008 temos de decidir e fazer tudo por nós.
velejar. Fui melhorando até que, aos Prata Se correr bem, o mérito é nosso.
17 anos, consegui ganhar um título Troca a classe Laser pela Se não correr bem, a derrota também
mundial juvenil. Foi aí que ganhei classe Star é só nossa.
autoconfiança, que comecei a acreditar Qual o atleta que mais admira?
que podia ser um grande velejador, que Sou brasileiro, vou ter de responder
ATENAS 2004
despertei para o sonho das Olimpíadas, Ouro
que é o Pelé [risos].
essa competição mágica. O meu pai Nos Jogos Olímpicos na Onde gosta mais de velejar?
também me incentivou. Aconteceu Grécia, chega ao primeiro Em Ilhabela, no litoral norte da cidade
tudo passo a passo, nunca pensei lugar de São Paulo, e no maior lago de Itália,
que conseguisse participar em seis o lago de Garda, onde vivo atualmente.
Olimpíadas. O campo de regatas de Cascais
Como são os treinos de um Sidney 2000 é mesmo, como se diz, um dos
velejador de alta competição? Prata melhores do mundo?
Depende da categoria e da classe Quatro anos depois da Sim, não é exagerado dizê-lo. Tem
do barco. No caso dos barcos da classe consagração, volta ao pódio excelentes condições de vento e ondas,
Laser, a preparação física é muito na classe Laser e a raia possui uma boa estrutura.
exigente e o treino é quase diário. E, depois, a vila de Cascais é charmosa
Se não se estiver na água, é preciso ATLANTA 1996 e maravilhosa.
fazer musculação, natação ou bicicleta, Ouro Porque não estará presente nos
cinco ou seis dias por semana. Medalha conquistada Jogos Olímpicos de Tóquio,
na classe Laser em 2020?
Na decisão que tomei, pesou muito
o facto de terem retirado a classe Star.
Em 2016, ainda voltei à Laser, mas
é muito exigente fisicamente e, aos 43
anos, não foi fácil... Claro que vou sentir
falta daquela adrenalina... Achei que era
AOS 16 ANOS, O LEME o momento de pensar noutros desafios.
Como gostava de ser recordado?
DO BARCO PARTIU-SE. Com o passar do tempo, as pessoas
acabam por nos esquecer. No entanto,
CONSEGUI ARRANJAR julgo que é importante sermos um
A PEÇA E, QUANDO JÁ exemplo para as próximas gerações.
Sempre tive quem me ajudasse e, por
ESTAVA A ESCURECER, isso, gosto de apoiar os novos atletas, de
lhes mostrar que, se tivermos um sonho,
REGRESSEI PARA A PRAIA. é preciso trabalhar e, então, teremos
sempre uma oportunidade. Isto também
SALVEI-ME POR POUCO é uma lição para a vida. slopes@visao.pt
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Spike Lee
CINEMA
VAGA R
“Um radical é um
‘ACORDEM’’
homem com os
pés firmemente
plantados no ar”
Franklin Delano
Roosevelt
32º Presidente dos EUA
(1882-1945)
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16 AGOSTO 2018 VISÃO 87
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É
CINEMA
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E do clã caiu uma estrela
BlacKkKlansman chegou a
Spike Lee através de Jordan
Peele, o realizador estreante
de Foge! (Get Out), que é
também um comentário
sofisticado sobre o racismo
na América, vencedor do
Oscar de Melhor Argumento
Original. Quando Lee aceitou
fazer o filme, telefonou a
John David Washington
(filho do amigo, e ator em
vários projetos seus, Denzel
Washington). Recomendou-lhe
a leitura do livro de Stallworth,
Black Klansman, e disse-lhe:
“Conheço-te desde antes
de nasceres.” “Não lhe fiz
nenhuma audição ou leitura
de texto. Ainda não lhe tinha
enviado o guião e já sabia
que o mano conseguia fazer
o papel”, conta Lee. O ator
assumiu o importante papel,
apoiado por Adam Driver,
mais conhecido pela sua
participação na saga
Star Wars, na qual interpreta
o vilão Kylo Ren
Sabemos de tudo isto em Bla- adorei provocar o meu tio negro a falar O sargento responde-lhe: “Para um ho-
cKkKlansman: O Infiltrado. Spike Lee sobre política, racismo e sobre os seus mem negro, és muito ingénuo.”
quer que despertemos, que comecemos a problemas com Obama, numa sala cheia Esta é a forma de Spike Lee questio-
ser honestos ao falarmos dos EUA – e pe- de parentes para quem o 44º Presidente nar quando é que os afro-americanos, os
de-nos que conheçamos a nossa História. dos Estados Unidos da América nunca liberais e os norte-americanos, em geral,
errava. Lee oscila entre falar connosco vão parar de sucumbir ao que chama
SERVIÇO DE DESPERTAR ou para nós. É como se cada momen- okey-dokey, o “tudo bem”. Isto é, aos
Conversar com Spike Lee é prazeroso to fosse uma última oportunidade de truques – que ele chama trapaças, ma-
se se souber aguentar, lutar e calar. Ele passar a sua mensagem. Porém, quando nobras, subterfúgios e burlas – que os
é impetuoso, tem mau feitio e é inte- termina uma frase convictamente, sorri norte-americanos brancos héteros usam
lectualmente intimidatório? Sim. Tem e acrescenta: “E há outra coisa...” magistralmente para manter o controlo.
ar de quem não admite estar a perder Lee já usou o refrão “Acordem” em Lee estudou a História, compreende
tempo? Com certeza. Mas eu gosto dessa muitos dos seus filmes. É a primeira onde se escondem estes truques e as for-
atitude, pela mesma razão que sempre palavra ouvida em Não Dês Bronca mas que estes podem assumir no futuro.
(Do The Right Thing, 1989) e a última Ele está obcecado com o okey-dokey.
deixa em School Daze (1988). E esta E isso explica muito do que Spike Lee é.
também se ouve no novo filme. Para al- Há décadas que o realizador é ca-
“O ‘AGENTE LARANJA’ guns, a repetição pode ser excessiva. Em
BlacKkKlansman: O Infiltrado, o ci-
raterizado como um indignado, uma
expressão codificada que significa isto:
[TRUMP] ESTÁ NA neasta não permite que o espectador
falhe os paralelismos existentes entre o
“Porque é que tu, homem rico, continuas
tão zangado?” É uma armadilha comum:
PRESIDÊNCIA. SE ISTO racismo nos anos 1970 e o atual; entre a sociedade mainstream pode fazer com
as forças policiais da época e as de hoje; que os negros bem-sucedidos se riam
NÃO OS MOTIVA PARA entre o Klu Klux Klan e a chamada alt mais e se queixem menos. E muitos
LEVANTAREM O RABO E right, a direita radical; e entre o gran-
de feiticeiro do KKK, David Duke, e o
negros de sucesso, observados por Lee,
esquecem-se de quem são e dos que vi-
IREM RECENSEAR-SE, NÃO atual Presidente dos Estados Unidos
da América, Donald Trump. A certa
veram antes deles. “As pessoas alienam-
-se e pensam que deixam de ser negras,
SEI O QUE OS MOTIVARÁ”, altura, Stallworth diz ao seu sargento
branco: “Os EUA nunca elegeriam para
porque são aceites, é o okey-dokey a
funcionar”, defende Lee. Acrescenta:
DIZ SPIKE LEE Presidente alguém como David Duke.” “Eles veem-te à mesma como um preto.”
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CINEMA
CLIMA PERIGOSO
Spike Lee está sempre a delimitar as fron-
teiras, porque não pretende ser “higieni-
zado”. E o simples facto de existir como
negro num espaço de brancos exige lidar
com as alegadas vantagens de ser visto Infiltrado. Há uma frase no filme, re- porque espelha o sentimento atual de
como “confiável”. Uma mentalidade que, petida quatro vezes pelo propagan- muitas pessoas, até mesmo das que não
hoje, se infiltrou na sociedade, da arte à dista (Alec Baldwin), determinado em são assumidamente racistas. É essa frase
política e ao desporto. “Há esta ideia de espalhar o medo face aos negros e aos que me faz pensar, enquanto observo
que os atletas deviam apenas correr para judeus, o que resume o passado e o Lee a vociferar contra Trump (a quem
cima e para baixo, no estádio, jogar à bola e presente: “Tínhamos um grande estilo continua a referir-se como o Agente
calar a boca”, afirma Lee. “Mas há um his- de vida.” Como tantas outras situa- Laranja). Uma reação ao facto de termos
torial que demonstra não ser esse o caso. ções neste filme, os paralelos entre os tido oito anos de um Presidente negro,
E os poderes instalados não gostam disso.” anos 1970 e a atualidade são flagrantes. audível por pessoas que tentam apenas
Este sentimento é exacerbado por um A deixa do propagandista tem impacto, gozar as férias.
Presidente que passou das mensagens “Isto leva-me a outro ponto. Vamos
codificadas para um discurso assumido, parar de contar mentiras e de ensi-
o qual inclui ataques públicos a proe- nar tretas aos jovens. A fundação dos
minentes negros norte-americanos. Os
recentes tweets de Trump sobre a inte- LEE FAZ FILMES PARA Estados Unidos da América foi feita
com o genocídio dos nativos e com a
ligência inferior de LeBron James são
um bom exemplo disso. “Ele tem um
REABRIR FERIDAS QUE escravatura!” Agora, Lee fala mais alto
do que nunca. Ri-se a cada vez que diz
problema com os atletas norte-ameri- A AMÉRICA BRANCA algo óbvio. “Isso é a fundação, a fibra do
canos. Não gosta que os manos façam país”, declara, de pé no passeio, com três
tanto dinheiro”, afirma Lee. Porém, a GOSTARIA DE FINGIR QUE homens a observarem-no dos seus bar-
situação é mais profunda, acredita. “Esta
coisa é toda planeada. Ele tentou mesmo ESTAVAM SARADAS. É UM cos. “Não houve ninguém mais patriota
do que os negros que nem deviam tê-lo
provocar uma m*rda entre o Michael
[Jordan] e o LeBron. É a velha estratégia
PROVOCADOR QUE SABE sido.” Um homem salta do seu barco e
interrompe a nossa conversa: “Então,
de dividir para reinar.”
A fealdade do clima vigente está es-
BEM QUAL É O SEU PAPEL: acha que os Yankees estão feitos?”
É a quarta pessoa a interromper Lee
cancarada em BlacKkKlansman: O DIZER COISAS INCÓMODAS durante a nossa hora de conversa. Uma
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Frases incendiárias
Spike Lee sempre manifestou
opiniões veementes sobre o racismo
e a sociedade norte-americana. delas foi uma mulher branca que lhe
Eis alguns exemplos: apertou a mão e lhe disse: “Não vou
lavar mais a minha mão.” Ele ripos-
Eu não sou o Martin Malcolm X ajudou tou, desconfortável: “Não diga isso.” Ao
Luther King. Não preciso Martin Luther King que ela replicou, sem jeito: “Vou lavar,
sim. Boa-noite.” Era meio-dia e meia.
de ter um sonho. a tornar-se mais Os outros dois também queriam falar de
Eu tenho um plano. aceitável para a desporto. As pessoas adoram falar sobre
este assunto com Lee, um fã declarado
Frase incluída no
BOOK OF AFRICAN-AMERICAN América branca. das equipas de basebol e de basquetebol
QUOTATIONS
Os brancos podiam nova-iorquinas.
americana não foi um Malcolm ou com o É nestes momentos que a barreira cons-
truída contra o okey-dokey baixa o
western spaghetti do Dr. King. Como nessa suficiente para o Spike Lee ser cordial.
Sergio Leone. Foi um altura os muçulmanos Ele alimenta diariamente uma conversa
acerca dos Knicks e dos Yankees com um
Holocausto. Os meus diziam que os brancos estranho. No entanto, é nestas alturas
antepassados foram eram cães ou demónios, que ele levanta ainda mais a guarda,
porque é a falar de futebol norte-ame-
escravos. Roubados é claro que eles ricano que os outros se sentem mais à
a África. Eu honrarei acharam o Dr. King vontade para meterem na conversa o seu
trabalho. É um lembrete de que grande
a sua memória. mais aceitável do que parte da América branca ainda tem medo
TWEET em 2012, protestando achariam se o Malcolm do trabalho de Spike Lee, mas que adora
falar de certos assuntos na segurança do
contra o filme Django Libertado,
de Quentin Tarantino não tivesse estado camarote. Agarrar-se ao futebol é uma
presente forma simples de correr para a meta da
Eu faço olhares Entrevista ao THE NEW YORK TIMES,
igualdade, sem ter de abordar a História.
“Para usar uma terminologia do fu-
reprovadores aos casais em 1989, aquando da estreia do filme
Do The Right Thing tebol, é o clássico chutar para canto.
inter-raciais. Como (Não Dês Bronca) São mestres nisso”, diz Lee. Refere-se
a toda a gente, desde o branco que fala
punhais. Eles ficam Se tens uma família sobre desporto aos membros do Partido
desconfortáveis quando talentosa, e não
Republicano ou a outro grupo de bran-
cos poderosos qualquer. “É algo bem
me veem na rua a aproveitas, devias ser organizado, bem disfarçado. Portanto,
nós, o povo norte-americano, temos
Revista norte-americana
ESQUIRE, em 2013 alvejado a tiro realmente de parar com o okey-dokey.
Revista FILM COMMENT, em 1986 Temos de ser espertos e não embarcar
Não acredito que nestas diversões.”
o racismo possa ser O sexo e o racismo Quando vi o filme Bamboozled, em
2001 [sátira cinematográfica de Spike,
eliminado durante sempre andaram de em que um executivo negro cria um pro-
o tempo de duração mãos dadas. Vejam-se grama de televisão com piadas racistas,
que inesperadamente se torna um su-
da minha vida... ou da os milhares de homens cesso], eu era um caloiro no liceu e lidava
dos meus filhos ou negros que foram com brancos há apenas quatro anos.
A minha mãe era uma estratega a criar
netos. Mas acredito linchados e castrados. um miúdo negro, mas viu como eu era
que é algo pelo qual A razão por que o aceite na minha escola privada, maiori-
tariamente branca mas progressista, em
temos de lutar. Eu vou Klan apareceu foi para Atlanta, e sentia-se aterrorizada com o
continuar a trabalhar proteger as mulheres efeito que isso poderia ter na construção
da minha identidade e no apagamento da
para que esse dia do sul da América. minha negritude. A força magnética da
Frase incluída no assimilação fortalecia-se. A minha mãe
chegue Book of African-American
Quotations precisava de ajuda. Entra em cena Spike
Entrevista à CINEASTE, em 1991 Lee. Ao ver aquele filme, num serão de
domingo, vivi emoções novas – más
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CINEMA
CINCO DATAS DECISIVAS
A vida e a carreira de Spike Lee
em versão condensada
emoções. Na segunda-feira, fui zangado 1957 Shelton Jackson “Spike” Lee Spike Lee gosta que Obama também
para a escola. E embora não tenha ficado nasce em Atlanta, filho de uma tenha estado no barco. A Vineyard pode
assim durante muito tempo, sabia de- professora de arte e literatura ser a sua segunda casa, mas esta ocasião
mais para voltar a sorrir e a acenar e a afro-americanas e de um músico é especial. Lee veste o seu blusão da Nike
agir como se tudo corresse bem. de jazz. Aos três anos, a família e enfia o capuz na cabeça, e adverte-me
“Isso deve ter mexido contigo, hã?”, muda-se para Brooklyn, cenário para fazer o mesmo. Abdelnour acelera
diz Lee, rindo-se. Bamboozled é im- de quase toda a sua filmografia. e Lee deixa escapar um grito de mon-
portante, tal como o é BlacKkKlans- tanha-russa, esticando a mão para um
man: O Infiltrado, porque Spike Lee 1980 Realiza o seu primeiro filme: “dá-me cinco”. Dez minutos depois,
faz filmes para reabrir feridas que a The Answer [A Resposta], sobre abrandamos, e Lee começa a fazer per-
América branca gostaria de fingir que um jovem cineasta contratado por guntas a Abdelnour sobre as casas e
estavam saradas. É um provocador Hollywood para criar um remake de sobre quem mora lá: Diane Sawyer? Ted
que sabe bem qual é o seu papel: dizer O Nascimento de uma Nação, de D.W. Danson? Carly Simon?
coisas incómodas acerca da História e Griffith. Na cena final, o protagonista Na manhã em que Heather Heyer
do presente do racismo nos EUA. Na enfrenta o Ku Klux Klan de faca na foi morta, ele estava na ilha; Obama
época, Bamboozled não foi aclamado, mão. Académicos da faculdade, também. O antigo Presidente joga golfe
chocados, tentaram “dispensar”
porque ninguém estava preparado para num campo ao lado da casa de Lee. “Não
Spike da faculdade. Sem sucesso.
enfrentar estas questões. Quase duas tenho o telefone dele. Não me telefo-
décadas mais tarde, com BlacKkKlans- na. Não chegámos a esse ponto”, diz.
man: O Infiltrado, o público aprende a 2000 Defende que muita comédia Como muitos norte-americanos, Spike
abrir os olhos, ao mesmo tempo que o e música afro-americana, incluindo Lee tinha passado a manhã colado ao
realizador afina o modo de passar a sua o gangsta rap, não passava de “show ecrã da televisão. Após ver as notícias
mensagem. Ainda assim, a declaração de racista”. O ator Jamie Foxx verbalizou da contramanifestação, Lee foi até ao
que Spike Lee está de volta é um elogio o que, então, muitos pensavam: “Está buraco 18, onde viu os seguranças de
a chegar ao ponto em que ninguém
envenenado. “Humm. Como é a frase Obama. Foi ter com ele e disse-lhe: “Sr.
quer saber, porque ele fala tanto
famosa do irmão Mark Twain?”, diz Lee, Presidente, já sabe o que aconteceu em
[do racismo] que se transformou no
com uma careta maquiavélica. “Vai ao tipo zangado, no angry black man.”
Charlottesville?” Ele não sabia, foi Lee
Google.” Descubro o que ele procura: que lhe contou. “Pude ver o choque na
“As notícias da minha morte são ma- cara dele...” Quando o cineasta olhou
nifestamente exageradas.” 2015 Recebe um Oscar honorário pela primeira vez para as imagens, soube
de carreira. No ano seguinte, o como seria o fim do seu filme. “Vi este
AMIGOS ESPECIAIS
realizador boicota a presença na horrendo ato de terrorismo caseiro,
cerimónia da Academia, no âmbito
Mesmo quando está a dizer piadas, vermelho, azul e branco”, afirma.
das polémicas sobre a discriminação
Spike Lee nunca fala do seu trabalho Em Charlottesville, os norte-ame-
racial dos Oscars: “Como é possível,
com leviandade. “Faço isto há 30 anos. pelo segundo ano consecutivo, que
ricanos foram obrigados a enfrentar a
É muito importante que as pessoas per- os 20 candidatos na categoria Atores realidade de que vivemos num país em
cebam que Kevin Willmott e eu [autores sejam todos brancos?”, escreveu na que os supremacistas brancos podem
do argumento] somos realizadores, mas sua conta de Instagram. desfilar às claras, sem condenação por
também professores de cinema vete- parte da Casa Branca. Permitimos a cha-
ranos. Não andamos a brincar. Isto é cina de miúdos negros, desarmados, e
2018 BlacKkKlansman: O Infiltrado
a nossa vida. É a missão da nossa vida. a prisão em massa de afro-americanos.
vence o Grand Prix do Festival
Levamos esta m*rda muito a sério.” Um Presidente negro que teve de ser
de Cannes. E a Netflix pede uma
Deixamos a caixa de sabão onde es- segunda temporada da série She’s
publicamente perfeito durante oito anos,
távamos sentados e encaminhamo-nos Gotta Have It – ideia lançada pela foi sucedido por um Presidente branco
para a marisqueira Nancy’s. Sigo Lee mulher, a produtora Tonya Lewis Lee, que é sistematicamente desonesto. Mui-
até ao balcão. “O Doug está?”, pergunta numa altura de crise criativa vivida tos norte-americanos estão descansados
ele. O empregado vai à procura do tal pelo realizador. à sombra do progresso que a presidência
Doug, Lee escreve mensagens no tele- de Obama significou e do símbolo que
móvel, e as pessoas sacam dos telefones ele representou. E, no entanto, todos os
para o fotografar. Dois minutos depois, ganhos podem facilmente perder-se, em
um tipo branco, com barba e boné de particular numa sociedade que cerra
camionista, vem na nossa direção. Lee fileiras contra quem ameaça a ordem
e ele abraçam-se. O realizador mudou dominante. Lee anda há mais de 30
de humor, está entusiasmado. Afinal, anos a tentar dizer-nos isto. Ele espera
Doug Abdelnour é o dono do restau- que estejamos, finalmente, prontos para
rante e do barco ancorado na marina ouvi-lo. visao@visao.pt
ao lado. Vamos dar uma volta. “Põe o
pé a meio do degrau”, avisa Abdelnour,
quando Lee entra na embarcação. “Disse
© 2018, TIME Inc. Todos os direitos reservados.
o mesmo ao Barack; ele não me ligou”, Traduzido da TIME Magazine
conta Abdelnour. e publicado com autorização da TIME Inc.
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PESSOAS
Foi um dos fotógrafos que mais marcou e a mostra apresentada nos Encontros
a estética do século XX, e poucos o terão da Imagem de Braga, em 1993.
vivido com a sua entrega. O norte- As imagens de fortíssimo impacto
-americano Robert Mapplethorpe (1946- refletem obsessões, sexualidade
-1989) fotografava matérias sensíveis, que e questões de género, transgressões
tanto incluíam a nudez frontal, clássica e afetos de uma época em que
e esculpida dos corpos masculinos, como a party se fazia sem receio da ressaca.
as representações hiper-realistas O seu trabalho evidencia, por exemplo, a
de flores, por ele transformadas relação com a comunidade homossexual
em matéria gráfica e misteriosa. norte-americana, assim como os efeitos
A primeira retrospetiva dedicada ao seu da sida, a mesma doença que o vitimou.
trabalho em Portugal vai ser mostrada E há, ainda, a dimensão biográfica.
no Museu de Serralves, a partir Os autorretratos de Mapplethorpe são
de 20 de setembro, comissariada por abundantes. O artista transformou-se
João Ribas, atual diretor da instituição. a si próprio num campo fantasmático de
A exposição inédita, pois é organizada experimentação, encenação e exorcismo
de raiz, apresenta cerca de 170 identitário. Rebelde ou travestido
fotografias, incluindo retratos feitos e maquilhado, vê-se ao espelho.
em estúdio, naturezas-mortas, polaroides, Os cúmplices também foram retratados:
assemblages, objetos, e dois filmes. por exemplo, Patti Smith, jovem, na capa
Um acontecimento, dado que apenas do seu primeiro álbum, Horses (1975).
houve duas exposições anteriores de Aliás, a cantora escreveria sobre o fou
Mapplethorpe em Portugal: Black Flowers amour que ambos viveram no livro de
(1985), na Galeria Luís Serpa, memórias Apenas Miúdos (2011). S.S.C.
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TENDÊNCIAS
Gigante
O La Bomba,
da Jacquemus,
custa 500 euros
e está esgotado
em todo o mundo
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O
chapéu pana- de 2015, mas reflete na perfeição
má, de palha, a moda de hoje, que tanto se re-
arredondado e cria para a era das redes sociais
com uma ligeira como para incentivar quem a
curva, só se tor- 1 2 veste a dizer o que pensa.
nou realmente
popular quan- 3 4 PALHA DE LUXO
do Theodore Não será coincidência, cla-
Roosevelt usou ro, que o homem por detrás
um elegan- do chapéu mais procurado da
te exemplar de estação, Simon Porte Jacque-
fita preta, numa mus, apresentado na Semana
visita ao canal da Moda de Paris, no final do
do Panamá em ano passado, deva parte do seu
1906. Num fato em tons cla- sucesso ao Instagram. É difícil
ros, a fotografia do Presidente fazer percorrer o feed e não
dos Estados Unidos da Améri- passar pelo La Bomba, modelo
ca chegou às primeiras páginas inspirado numas férias no Sul
dos jornais da altura e deu um de França e companheiro de
empurrão àquela que se tornaria verão de modelos e bloggers de
uma das mais lucrativas expor- moda. De palha e tão largo que
tações do Equador. precisa de vários metros qua-
Raramente podemos desvalorizar o
poder de um chapéu: Winston Chur- CLÁSSICOS REINVENTADOS drados de praia só para si, é o símbolo
do sucesso da marca francesa.
chill não saía de casa sem percorrer a Neste verão e nas próximas estações, Com apenas 28 anos, Simon Porte
sua muito respeitável coleção; Ronald os chapéus atravessam décadas cresceu na era da internet e do vídeo,
Reagan foi capa da Time, em 2004, com e estilos completamente diferentes, mas sempre teve uma ligação ao campo,
o seu emblemático chapéu de cowboy; mas todos se vestem com atitude infiltrando-se na conservadora moda
e a propaganda revolucionária dos anos francesa sem formação em design nem
60 não teria o mesmo poder sem a ima- 1 Bucket hat Este modelo da Versace, conhecimento do sistema. É isso que lhe
gem de Che Guevara usando a sua boina para o verão de 2019, lembra dá charme, como notou Loïc Prigent, o
com uma estrela vermelha. A mesma que os anos 90 e bandas como os Oasis sempre crítico jornalista e realizador
artistas e intelectuais foram reinventan- de documentários de moda, numa en-
do, e que a moda de 2018, de Chanel a 2 Viseiras dos anos 80 A Christian trevista à Vogue norte-americana, em
Christian Dior, voltou a repensar, agora Dior apresentou novos chapéus, como que elogiou a honestidade do criador,
mais feminista e com materiais mais as boinas e este modelo amarelo qualidade rara num meio sobrelotado e
sofisticados. 3 Bonés Nada melhor do que juntar mais virado para o parecer do que para
As tendências deste verão (e algumas o glamour da Versace a um símbolo o ser: “A sua energia é tão interessante,
do próximo outono) podem não ser do streetwear tão real e genuína – as peças de roupa
todas políticas, mas não deixam de se que desenha são sexy de uma forma que
afirmar. Temos os bonés, que recupe- 4 Transparentes A Chanel apresentou nenhuma marca avant-garde consegue
ram referências da moda que vem das várias peças transparentes para este ser, sem nunca serem vulgares nem exa-
ruas; as viseiras dos anos 80, década em verão, incluindo botas pelo joelho geradas”, resume.
que usar um chapéu era tão importante É a moda a dizer-nos que o regresso
como uma boa permanente; e os mode- às coisas simples também se faz nas
los bucket, a lembrar a britpop dos anos passerelles, mensagem que está a ter
90. Nada melhor do que olhar para o
Reino Unido para se perceber até onde
“OS CHAPÉUS ERAM impacto em quem compra. Tal como
aconteceu com os cestos, que voltaram
chega a influência de um bom chapéu, USADOS POR RAZÕES às tendências nas últimas estações,
tão essencial nas corridas de Ascot como a lembrar Jane Birkin nos anos 70, e
nos corredores do Palácio de Bucking- CONFORMISTAS E, AGORA, também ao design de interiores – mais
ham. “Os chapéus começaram por ser
usados por razões conformistas e, agora, SÃO-NO POR PESSOAS uma prova de como se podem trans-
formar objetos funcionais em peças de
são-no pelas razões opostas, por pessoas
que querem ocupar o seu próprio espa-
QUE QUEREM OCUPAR luxo. Sem surpresas, o La Bomba está
esgotado há várias semanas, apesar
ço”, resumiu Philip Treacy, que já criou
vários modelos para a rainha Isabel II,
O SEU PRÓPRIO ESPAÇO” de o preço ultrapassar os 500 euros.
Quem disse que a simplicidade é barata?
ao jornal The Independent. A entrevista é PHILIP TREACY, DESIGNER rcastro@trustinnews.pt
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CRÓNICA
A
ntigamente, em plena silly season e à falta de tema
que alimentasse a atualidade, o agosto em Lisboa
era tema comum para os cronistas da nossa praça.
Gabavam o sossego, a abundância de lugares
para estacionar, a disponibilidade dos melhores
restaurantes, a ausência de filas nas caixas de
supermercado, o trânsito desafogado e até a falta
P O R C A P I C U A / Rapper de portagem na ponte. Era um paraíso de trinta e
um dias, um providencial tema para a crónica da semana, e uma forma
de sentir menos inveja de quem estava a banhos no Algarve, no meio das
Agosto
filas, sem espaço para estender a toalha e tentando sobreviver ao stresse
familiar. Lisboa é que era!
Pois chegados a 2018, esse clássico da crónica estival deixou de fazer
na cidade
sentido. Em Lisboa não há época baixa e o inferninho continua. Filas
no aeroporto e na ponte, onde se paga na mesma, em todas as artérias
principais, em todas as ruas da Baixa, e nas entradas dos seus parques de
estacionamento. Restaurantes cheios e um cínico “ai não tem reserva?”
cada vez que temos a ousadia de perguntar se por acaso há mesa para dois.
Ruas lotadas de turistas, como em Roma, Paris ou Barcelona. E um nível
de stresse equivalente ao de Albufeira, Armação de Pera ou Quarteira em
pleno pico da época balnear.
No Porto acontece o mesmo e já lá vai o tempo das lojas e cafés
fecharem uma semanita em agosto para descanso do pessoal. Temos
hordas de europeus famintos por francesinhas. Temos hordas de senhoras
de meia-idade sedentas por atoalhados. Temos hordas de apreciadores
desejosos por bebericar um cálice de vinho do Porto. Temos pessoas em
elétricos, autocarros panorâmicos de dois andares, barcos a imitar os
rabelos, mesas de bares movidas a pedais e em todo o tipo de veículo
turístico mais ou menos barulhento. Temos multidões nas filas para o
bolinho de bacalhau, para o sorvete artesanal e para o pastel de nata (que é
de Lisboa mas não importa, porque em Barcelona também se vê flamenco
e as pessoas gostam muito)!
Resumindo, acabou o sossego e já ninguém fica na cidade em agosto
com a alegria de um adolescente que se vê sozinho em casa. Sobretudo se,
como eu, tem de aturar o Airbnb do andar de baixo e tentar dormir com os
ecos das tainadas no logradouro, onde no outro dia houve até uma dança
erótica, de stripper contratada a meio da tarde, para toda a vizinhança ver.
Claro: velhotas indignadas, maridos desgostosos por não terem estado
em casa àquela hora, crianças mandadas para o quarto e queixas para a
proprietária do rés do chão. Lisboa em agosto é que é!
Ora, como é costume quando escrevo sobre os impactos do turismo
nas nossas vidas, já sei que receberei muitas mensagens, dizendo que pelo
menos agora a(s) Baixa(s) estão vivas, os edifícios arranjados e a(s) cidade(s)
valorizada(s). Vou receber emails dizendo que dantes ninguém ia ao centro,
MARCOS BORGA
que ninguém lá vivia, que ninguém queria saber e que toda a gente tinha
medo de lá passar. E vou ter de responder que não é verdade. Que a cidade
não se faz só dos restauros dos edifícios. Que vivi na Baixa de Lisboa até
2006 e na Baixa do Porto até 2011, e que além de nunca ter tido medo ou
qualquer episódio que o justificasse, nunca deixei de sair à rua, de sair à
Já sei que receberei noite, de fazer vida e de aproveitar a cidade. E que como eu havia mais gente,
muitas mensagens, destemida e resistente, que gostaria muito de poder continuar a fazê-lo.
Vou ter de dizer, novamente, que essa narrativa, sendo uma
dizendo que pelo generalização, é falsa e só é proferida pelos que, por desinteresse, não
menos agora a(s) passavam nem perto. E repetir que esse “despreendimento”, de quem
prefere perder o direito à cidade, sentindo que “pelo menos” está bonita
Baixa(s) estão vivas, e cheia de gente (que pode pagar), é como aquele romantismo bacoco de
os edifícios arranjados novela. Ao estilo já-que-não-podes-ser-minha-espero-que-sejas-feliz-
e a(s) cidade(s) -com-outro-melhor-do-que-eu, com direito a um franzir de sobrolho
à Tony Ramos canastrão, que chega a ser pior do que passar um agosto
valorizada(s) inteirinho na cidade.
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COM O PÉ
NA AREIA
Os melhores bares
e restaurantes ao longo
da nossa costa – agora
que apetece petiscar,
almoçar ou jantar,
com vista para o mar
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Sabores à beira-mar
Nestes 14 bares e restaurantes ao longo
da nossa costa, as férias de verão duram
mais tempo e os dias de sol prolongam-se
à mesa ou no areal da praia
F L O R B E L A A L V E S E S A N D R A P I N T O visaose7e@visao.pt
Praia do Xiringuito, Albufeira
> T. 289 5912 795 > ter-dom
13h-21h
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A meio caminho
entre a piscina
do Vila Joya
e a quase pri-
vada praia do
Xiringuito, fica
o Vila Joya Sea,
de ambiente
descontraído
e com uma
ementa criada
pelo chefe
Dieter Koschina
MARCOS BORGA
CAPRICCIOSA BEACH LOUNGE
CARCAVELOS
Há palmeiras, areia, mar à vista e uma
lista de cocktails para provar pela
tarde fora. Podíamos ter viajado para
um destino longínquo, mas estamos
na praia de Carcavelos, e aqui também
não se está nada mal. Foram estes os
motivos que levaram os amigos Filipe,
Gabriel, Amanda e Ana a preferirem o
beach lounge da pizzaria Capricciosa ao
areal, ali a dois passos. “Aqui em cima,
a vista para o mar é muito melhor”,
diz Filipe, porta-voz deste grupo de
brasileiros em férias por Lisboa. Na zona
mais descontraída da pizzaria, saltam
à vista as camas, dispostas em cima
de um “tapete” de areia, viradas para o
azul do mar, entre mesas e cadeiras de
esplanada.
Qualquer que seja o lugar escolhido
(e as intenções para o dia), peça-se o
cocktail Sunset, preparado com infusão
de lúcia-lima, polpa de manga, lima,
Aperol e Absolut Blue, em versão copo
(€6), XL (€9, 0,5 litros) e XXL (€50,
3 litros), ou o Beach Lounge, sem álcool,
com lima, morango, hortelã e ginger ale.
Para acompanhar com um rotolini (rolo
de pizza com mozarela, tomate, salame
picante e orégãos), uma pizza ou uma
salada, sempre com muito sol à mistura.
FILIPE FARINHA
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D.R.
PEIXINHO SESIMBRA
É tempo de passar o testemunho no Bar do Peixe,
aquela paragem obrigatória quando se entra na
Praia do Moinho de Baixo, mais conhecida como
do Meco. No restaurante que olha de cima para o
areal, continua a seguir-se a mesma receita: peixe
fresco, magistralmente grelhado por Jorge, o dono,
marisco delicioso e cocktails que têm gerado fiéis
consumidores ao longo dos anos (deixe-se aqui um
suspiro pela morangoska e outro pelo mojito). Este
ano, quem está aos comandos é Marta, filha de
Leonor e Jorge, recém-chegada da Austrália, onde
estudou fotografia, e do seu namorado, André.
Na cozinha, ao lado da mítica Gertrudes, pequenina
em tamanho mas grande a despachar serviço, está
também a sua filha, que promete seguir-lhe os
passos, para que, em breve, a mãe possa descansar.
E como se este sangue novo não bastasse, para que
o Bar do Peixe respirasse um ar renovado, eis que,
mesmo no areal, junto às espreguiçadeiras, abriu
o Peixinho. Aqui só podem comer-se sanduíches e
saladas feitas pela Sofia, a filha mais velha do casal,
que é nutricionista. E beber coisas de lata. Porém sabe
muito bem estar debaixo destes guarda-sóis, num
registo mais informal. Para qualquer emergência,
como beber uma magnífica sangria branca, por
exemplo, pode sempre recorrer-se aos serviços
do bar de cima – e ninguém sairá defraudado. L.O.
Praia do Moinho de Baixo, Aldeia do Meco, Sesimbra
> T. 96 728 2117 > qua-seg 11h-24h
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AREAL BEACH BISTROT
BY CHAKALL LOURINHÃ
Este ano, o Areal Beach
Bistrot by Chakall, na Praia do
Areal Sul, na Lourinhã, está
mais completo e requintado.
“Antes, funcionava como um
simples bar de praia, mas
agora nós também temos
um restaurante, uma ementa
mais elaborada e música
ao vivo”, explicam os chefes
(e irmãos) Chakall e Silvina
Lopez. Cada um tem as suas
tarefas definidas, com o
comando entregue a Silvina.
A nova ementa – há ainda
uma mais simples, em que
se destacam as empanadas
– combina os sabores
das cozinhas argentina e
portuguesa, e trabalhamos,
essencialmente, com
produtos da região Oeste:
peixe da lota de Peniche,
batata-doce, abóbora, entre
outros legumes comprados
a pequenos produtores:
“Têm uma qualidade e sabor
LUCÍLIA MONTEIRO
completamente diferente”,
defende Chakall, que viveu
12 anos na Lourinhã. Prove-
-se, então, o Cao Cao de
Gambas, nas entradas, e o Ojo
de Bife Argentino, nas carnes.
As amêijoas Já o polvo Nipo Tuga, uma
à Bulhão Pato tempura de polvo com migas
de salmão fumado (€9,50), feijão-fradinho e atum ou tomate são um dos de tomate e coentros, é uma
e mozarela (€7), hambúrguer com bacon e queijo das ilhas petiscos mais sugestão fresca e estaladiça.
(€5,50) –, mas são os petiscos os mais pedidos, como amêijoas apreciados Para terminar, uma bola de
à Bulhão Pato (€14), caracóis, pimentos padrón ou mexilhões. no renovado Berlim recheada com creme
E que bem sabem a sangria, as ponchas (de morango ou de Moreiró Beach de pera rocha e aguardente da
tangerina) ou os sumos naturais, que podem levar-se para Bar & Lounge, Lourinhã, receita especial do
o areal. Aos domingos, a partir das cinco da tarde, há sempre na Praia chefe, inspirada neste lugar.
um sunset com música num volume aceitável, para não destoar de Moreiró,
do ambiente em redor. em Labruge
Praia do Areal Sul, Estr. do Areal,
70, Lourinhã > T. 261 414 182
> seg-dom 8h30-22h
Praia de Moreiró, Labruge, Vila do Conde > seg-dom 9h-20h
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SÓ VERÃO ARMAÇÃO DE PERA PÔR DO SOL GRÂNDOLA
É com o pé (quase) na areia que A praia do Carvalhal tem um dos
se está no novo Só Verão, na Praia finais de dia mais bonitos que já
dos Pescadores, em Armação de vimos – e nada melhor do que
Pera, entre os restaurantes Praia assistir ao Sol a desaparecer
Dourada e Arte Náutica (todos per- lentamente no horizonte, comendo
tencentes ao hotel Vila Vita Parc). com o mesmo empenho.
Decorado em tons pastel, que A simplicidade joga a favor deste
combinam com as madeiras cruas restaurante com esplanada,
e douradas, no Só Verão respira-se mesmo em cima da areia, que
descontração e informalidade, a atrai pelas especialidades que
que se junta uma carta com pratos esperamos de uma cozinha
de comida portuguesa, sublinhe- portuguesa perto do mar.
-se: sopa de peixe com coentros, Os peixes são frescos e bem
gaspacho com croutons de alho ou grelhados (para pedir com vegetais
salada de polvo, para entrada. gordos e batatas ou arroz de
Os grelhados de peixe e de carne tomate), e o camarão frito à casa
não podiam faltar e, na secção a continua a ser um dos pratos mais
que chamaram Básicos de Verão, pedidos. O mesmo acontece com
as escolhas passam pelos tradi- a sopa de tomate com peixe e a
cionais polvo à lagareiro e massinha de garoupa, ricas e de
bacalhau à Brás. Entre um mer- sabores apurados, as espetadas
gulho e outro, provem-se as cai- de vazia e camarão, e as carnes
pirinhas e os mojitos de morango, que se dão bem com o carvão,
JOSÉ CARLOS CARVALHO
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Entre sumos naturais,
limonadas e cerveja, servida
em chávena gelada, o bar da
praia da Costa Nova, em Aveiro,
tem saladas, sanduíches e tostas
Praia da Costa Nova, Aveiro > seg-dom 10h-20h
Praia da Vieirinha, Sines > T. 269 869 007 > seg-dom 10h-24h
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DAIKIRI LOUNGE BAR
VILA NOVA DE GAIA
No areal da praia da Madalena,
junto ao passadiço, fica o único
lugar onde encontrará coqueiros,
sempre bem cuidados por
Gabriel Alves e Tiago Martins,
os concessionários do bar. Para
os dias quentes sugerem-se os
cocktails Coronorita (€7) ou a
sangria Sparkling Blue (€18/
jarro), as recentes entradas
na carta. Acompanhe-se com
panquecas de aveia, servidas
com morangos e mapple syrup
(€4,50), pudim de tapioca com
açaí, além de saladas frescas,
wraps e smoothies. Nos fins
de tarde, em particular ao fim
de semana, a música ao ritmo
de DJ convidados eleva
a temperatura. S.S.O.
Praia da Madalena, Vila Nova de Gaia
> T. 91 842 4324 > dom-qui 10h-24h,
sex-sáb 10h-2h
D.R.
Av. Brasil, Porto > T. 22 610 0853
> seg-dom 9h-02h
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MARÉ AT PINE CLIFFS ALBUFEIRA
O clube de praia do Pine Cliffs Resort, na Praia do Barranco
das Belharucas, apresenta-se neste verão com novo nome.
O agora Maré at Pine Cliffs tem a supervisão de Stuart Sage,
chefe-executivo do hotel de cinco estrelas, que desenvolveu uma
ementa inspirada nos sabores do mar e nos produtos algarvios:
nas entradas, tártaro de atum amarelo com funcho, rúcula,
abacate e alcaparras (€18), salada de lulas grelhadas com
vegetais murchos e vinagrete de limão confitado (€12) ou ceviche
de cavala com salada algarvia (€12); nos pratos principais, peixe
fresco do dia no carvão, temperado com limão, azeite, ervas
e alcaparras crocantes (€32) ou carabineiros grelhados
(€48/3 unidades), para partilhar. A carne não fica de fora,
aconselhando-se o frango piripiri à la Maré (€18), com molho
tradicional (leve, médio e extra-picante). Para terminar, deixe-se
tentar pelo arroz-doce tradicional com gelado de canela (€10,50).
Seja para almoçar, petiscar ou jantar, a localização, no areal,
continua a ser a mais-valia deste restaurante e bar de praia, que
conta também com uma programação de festas, com destaque
para as sextas-feiras, dia de sunset White Friday.
Praia do Barranco das Belharucas, Pinhal do Concelho, Albufeira
> T. 289 500 100 > seg-dom 9h-23h, serviço à la carte 12h-21h30
Tudo no
restaurante
Princesa faz
lembrar o
verão, desde
os simples
petiscos, como
as gambas
com alho e os
chocos grelha-
dos, ao tártaro
de atum
D.R.
VISÃO 105
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Manifesto
O QUE ANDAMOS A GOSTAR (OU NEM POR ISSO) DE DESCOBRIR POR AÍ
F L O R B E L A A L V E S falves@visao.pt
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COMER E BEBE R
LUÍS FERRAZ
Midori Sintra
Parque de diversões
A nova carta de um dos mais antigos restaurantes japoneses do País é uma janela
para a imaginação do chefe Pedro Almeida
O Hassun é um Primeiro, as boas notícias: a nova carta seu elegante sotaque australiano, explica as suas
reflexo dos do restaurante Midori, no Penha Longa escolhas, todas portuguesas, como o branco
produtos da Resort, em Sintra, é uma aventura – Horácio Simões Grande Reserva 2016, uma edição
estação, feito liga-se Japão a Portugal, sem filtros, e limitada, ou o Filipa Pato 2017, outro “branco
de pequenas tempera-se com as memórias do chefe fresco, para combinar com peixe fresco”, resume.
amostras da Pedro Almeida. A má, que na verdade Antes de chegar a esta nova fase, o chefe
imaginação do também é boa, é que o Midori está mais pequeno, Pedro Almeida passou mais de um ano a fazer
chefe, como desde que, no ano passado, se decidiu apostar experiências com centenas de pratos, num
a cabeça de numa cozinha mais livre e arriscada, ideal para ser laboratório de ingredientes e de ideias que
camarão frita
servida num restaurante com menos mesas e evoluíram até aqui. No sushi, por exemplo, estão
com plâncton
enormes janelas viradas para o jardim (midori muitas das suas influências portuguesas, algumas
e aioli de yuzu,
e o suspiro de
significa verde). Nada mais apropriado, então, do delas de infância. Conta que em miúdo teve “a
cogumelos que chegar-se à sala por uma porta quase invisível sorte de aprender com três grandes cozinheiros,
shitake com e começar-se pelo Hassun, reflexo dos produtos a avó, a mãe e o pai, que era especialista em
pipis e miso da estação, feito de pequenas amostras da petiscos”, ri-se. Por isso, os nigiris, que também
imaginação do chefe: o falso tofu de couve-flor se comem à mão, esticam a corda com atum
com yuzu, uma surpresa; o crocante de nori com fumado e muxama, carapau braseado com azeite
toro de cebolada, que se derrete na boca; a cabeça de alho ou toro na brasa. Quando chega à mesa
de camarão frita com plâncton e aioli de yuzu, o Oshazuke, arroz cozido com cogumelos, ovo
como um dia de verão; e o suspiro de cogumelos e trufa, não há como escapar ao cheiro intenso e
shitake com pipis e miso, uma obra-prima para delicioso. Come-se com precaução, para poder
quem adora. Tudo para comer à mão, claro está. analisar cada uma das suas camadas, e porque
Seguem-se o miso de caldo-verde, um repetente, e ainda nos falta provar o pregado com caldeirada,
os sashimis de salmonete e de lula, todos comuns mais uma aliança bem-sucedida. Depois do
aos dois menus de degustação disponíveis – o Kiri clímax, nada como regressar à base com a frescura
(€95 ou €145, com vinhos), de sete momentos, e o das cerejas e a leveza do pão de ló Castela, doce e
Yama (€130 ou €190), de nove. Vale a pena deixar amargo na medida certa, como tudo o que é bom.
os vinhos com a sommelier Andrea Smith que, no Rosário Mello e Castro
Penha Longa Resort > Estrada da Lagoa Azul, Sintra > T. 21 924 9011 > ter-sáb 19h30- 23h
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COME R E B E B E R
comer&beber@visao.pt
D.R.
O restaurante O nome do restaurante é o mesmo da dezena de pratos de carne. O rio dá as enguias
fica na aldeia aldeia de avieiros onde se encontra, à que merecem destaque especial – as mais
de Escaroupim, beira do Tejo, praticamente sobre as pequenas fritas, com um bom arroz de feijão a
felizmente águas, sete quilómetros a montante de acompanhar, as outras grelhadas ou cozinhadas
preservada Salvaterra de Magos: Escaroupim. Foi no tacho, em caldeiradas e ensopados deliciosos;
e que conta aqui que se fixou uma comunidade de dá as “folhas de oliveira”, como chamam aos
a história dos pescadores de Vieira de Leiria, após anos de linguadinhos, fritos com arroz de tomate ou de
“avieiros”, contínuo vai e vem, entre a pesca do sável, no feijão, outra delícia; e dá a lampreia e o sável que,
comunidade de Tejo, pelo inverno fora, e a pesca no mar, no nas respetivas épocas, são pratos emblemáticos
pescadores de
resto do ano, quais “nómadas do rio”, como lhes (uma em arroz, outro frito com açorda de ovas).
Vieira de Leiria
chamou Alves Redol. No princípio, dormiam nos Do mar chega mais peixe, como o robalo e o
que ali se fixou
barcos estreitos e compridos, depois em cabanas linguado, em regra destinados ao grelhador.
de caniço e, por fim, em pequenas casas de Ainda nos peixes, um aceno especial para o
madeira pintadas com cores vivas. Fixaram-se. arroz de bacalhau com farinheira, malandrinho
A aldeia de Escaroupim, felizmente preservada, e guloso, e outro para o bacalhau no forno
conta esta história, e o restaurante faz parte dela, à lagareiro. Nas carnes há boas sugestões de
respeitando os seus valores, tanto nas instalações caça, como a tarte de perdiz, e outras propostas
– casa de madeira, sala envidraçada e luminosa, a considerar, como a carne de alguidar com
com cadeiras de madeira forradas a azul, batatas a murro, as migas à alentejana com porco
caminhos de mesa da mesma cor sobre toalhas preto, e os vários bifes. Doçaria interessante
amarelas e brancas, guardanapos igualmente com a panacotta e o toucinho do céu em maior
coloridos –, como na gastronomia. evidência. Garrafeira centrada na Região do Tejo
A ementa é extensa e diversificada: mais de com outras referências, nomeadamente Alentejo
uma dúzia de pratos de peixe e perto de uma e Douro. Serviço eficiente e simpático.
Largo dos Avieiros, Escaroupim, Salvaterra de Magos > T. 263 107 332 / 91 253 9228 > seg-qua 12h-15h, sex-sáb 12h-15h,
19h30-21h30 > €20 (preço médio)
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Quinta de Camarate
Taberna do Valentim Branco Doce 2017
Viana do Castelo Uvas das castas
Alvarinho (56%)
Figura entre os restaurantes e Loureiro (44%),
clássicos de Viana do aroma a frutos
Castelo e deve a sua tropicais; paladar
nomeada, sobretudo, à também frutado
frescura do peixe e à arte com volume e
de o grelhar. Isto é verdade, bom equilíbrio.
mas redutor, porque não Doce, sem ser late
tem em devida conta alguns harvest ou colheita
cozinhados no tacho, como tardia. É para
o arroz de peixe e a beber jovem, como
aperitivo, ou para
Vinhos em 2018
a Taberna do Valentim está
melhor ainda, depois da
cobertura da esplanada, que
Três Bagos Sauvignon
permite o seu funcionamento Blanc Branco 2017
durante todo o ano.
A vitrina dispensa muitos
Num ano em que se provam tantos vinhos bons, Monocasta,
clientes de consultarem o tempo, esse desmancha-prazeres, dá cabo fermentado e
estagiado, durante
a ementa, porque decidem da produção quatro a cinco me-
logo ali, mas convém
saber que há outras coisas ses, em inox (80%)
“Todos os dias chegam ao mercado novos e em barricas de
apetecíveis, como as vinhos que são outros tantos desafios para
pataniscas de bacalhau, carvalho francês
os enófilos”, escrevi eu, há pouco tempo, nesta (20%), tem aromas
as petingas fritas e a sopa coluna, a chamar a atenção dos apreciadores tropicais e a maçã
de peixe, por exemplo. para a qualidade e diversidade da oferta e a verde, típicos da
Para grelhar, há sempre
incitar uma melhor escolha. Referia-me aos casta; paladar
espécies de qualidade, como
vinhos portugueses, lançados nos últimos meses, que são fresco com estru-
robalo, linguado, rodovalho
e, no verão, sardinha.
mesmo bons e que valem, muitos deles, bem mais do que tura, acidez e equi-
Também no fogão preparam- custam. Semanas depois, calhou provar um duo Quinta líbrio cativantes.
-se pratos saborosos e de Camarate, o Branco Doce e o Branco Seco, lançados Pronto para beber,
apreciados, como o arroz simultaneamente. Ao escrever a nota de prova do mas com potencial
de peixe, que leva tamboril, primeiro, então publicada, reparei neste pormenor: foi de evolução em
raia e garoupa ou corvina; criado em 1986, com as castas Moscatel de Setúbal, garrafa. €9,50
o ensopado de peixe, que Riesling e Gewurztraminer; as castas estrangeiras foram
substituídas, na década de 90, por duas dos Vinhos
é feito na cataplana; e a
caldeirada, com tamboril, Verdes: Loureiro e Alvarinho; em 2007, o Loureiro deu
Esporão Colheita
raia, congro e cherne ou lugar ao Verdelho (com mais complexidade) e, depois, a Regional Alentejano
corvina. A lampreia à
bordalesa, ou em arroz, e o
Moscatel foi caindo e acabou por sair do lote, em 2009.
Quanto ao Branco Doce, começou por ser Fernão Pires,
Branco 2017
sável frito com arroz branco com a marca Palmela, a seguir Moscatel de Setúbal e Só Antão Vaz e só
e salada, à maneira do Alto Fernão Pires, já com a marca Camarate, e mais de uvas cultivadas
Minho, são imperdíveis nas recentemente passou a ser Alvarinho e Loureiro. É um na Herdade do
suas épocas. Boa doçaria pormenor revelador, porque, com as técnicas atuais, fazer Esporão, segundo
tradicional e regional com bem os vinhos está ao alcance de qualquer um; melhorá- práticas de agri-
realce para o leite-creme, cultura biológica,
-los, indo à procura das castas ideais, já supõe que elas
as rabanadas e a pera com fermentação
existam nas vinhas (e não é por capricho que, na Quinta
bêbeda. Garrafeira parcial em cubas
de Camarate, há uma coleção ampelográfica com mais de betão e estágio
adequada, sendo o vinho
da casa um bom Alvarinho.
de 560 castas diferentes, de todo o mundo); e dar-lhes de quatro meses,
Serviço eficiente caráter exige abertura de espírito, talento e coragem. sobre borras finas.
e simpático. Fazer vinho é, portanto, um desafio exigente, sobretudo Cristalino, belís-
quando tudo pode ruir, por causa do tempo, como sima cor palha,
aconteceu com o recente escaldão. A chuva na floração aroma citrino, com
Avenida Campo do Castelo, 45, e os ataques fortíssimos do míldio e do oídio causaram notas de fruta bran-
Viana do Castelo > Tel. 258 827 505 prejuízos, mas ainda havia expectativas de boa colheita, ca, paladar fresco
> seg-sáb 12h30-14h30, 19h30- que o escaldão deitou por terra. As perdas são enormes.
-21h30 > €25 (preço médio)
e final elegante.
€9,99
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SA IR
D.R.
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POR LISBOA
ROSA RUELA
Para lá
das armas
Conseguir ver logo além da
primeira impressão não é
para todos, mas treina-se.
Ou a vida acaba a ensinar-
nos a fazê-lo e com mais
frequência e mestria. Pensei
nisso quando um destes
dias passei rente à fachada
da Espingardaria Central A.
Montez, na Praça D. João da
Câmara, 3, ao Rossio, e não
torci o nariz.
Embora me delicie com o seu
lettering pintado em pedra
rebocada (expressão que
aprendi com um projeto em
Design de Comunicação de
Carolina Cravinho), a ideia
de que lá dentro se vendem
sobretudo armas levou-me
sempre a afastar-me sem
MARCOS BORGA
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Lg. Miguel Bombarda, 3, Vila Nova de Gaia > T. 22 099 3371 > seg-dom 12h-21h30
> Encerra entre nov. e fev.
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JÁ NAS
BANCAS
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COMPRA R
Vista Alegre
Arte, engenho e imaginação
Na fábrica da marca portuguesa, em Alcobaça, trabalha-se o vidro e o cristal, entre a modernidade
do design e os saberes de antigamente. A coleção “Única” é a novidade mais artística
A linha de montagem sucede-se com sobre a relação entre o Homem e a Natureza,
a elegância de uma dança, como se num processo que é “artístico e intuitivo, sem
um maestro imaginário conduzisse recurso a moldes, por isso, nenhuma peça é igual
quem ali trabalha o vidro, tubos de à outra”, descreve, entusiasmada com esta
ferro que rodopiam no ar, peças que liberdade. Já Bruno Escoval, autor de Ripple e
entram e saem dos fornos fumegantes Caneleto, diz que o facto de as coisas não saírem
(as temperaturas podem chegar aos 1 000oC), à primeira faz parte do encanto. “É um trabalho
ajustes que se fazem na fase de seleção final. muito próximo do vidreiro, que implica tempo
A coreografia não está estudada, mas parece, até e capacidade de experimentar.” Nas peças Ripple,
porque manipular o calor e o frio não é para por exemplo, o vidro fica à mercê da gravidade,
todos. Exceção feita ao mestre António Esteves, deixando-se cair como uma gota antes de lapidar,
que por ali se mexe com a naturalidade de quem explica, enquanto pega numa jarra e a vira ao
começou a soprar o vidro no dia em que fez contrário. Trilogy, de Hugo Amado, é uma
12 anos. “Achava bonito ver a fusão do material, homenagem a quem dedica vidas inteiras a esta
o calor”, conta. Passou por várias fábricas, com arte, que tem na técnica da garrafa de seis vinhos
destaque para o Estúdio Jasmim, na Marinha um marco. “Quem queria ser vidreiro tinha de
Grande, e aprendeu com os melhores. Já estava dominá-la”, conta Hugo, que é responsável,
reformado, mas quis juntar-se ao staff da fábrica há 24 anos, pelo Gabinete de Desenvolvimento
de vidro e cristal da Vista Alegre, antiga Atlantis, de Produto dos Cristais Atlantis. “Uma vez que
em Alcobaça, onde lidera uma equipa de quatro trabalhamos estas peças sem moldes, o mestre
elementos (um deles uma mulher, caso raro Esteves pode depois usar os dedos [protegidos
nestas andanças), responsável pela Única. De art por um jornal molhado] e nós podemos fazer
crystal e vidro, esta nova coleção é soprada, e experiências, inclusivamente com as cores.
trabalhada à mão por artesãos, e divide-se em O melhor é quando as coisas acontecem
quatro linhas, imaginadas por três designers da por acaso e depois temos de perceber como
Vista Alegre. Em Portal, Diana Borges reflete repeti-las”, ri-se. R.M.C.
A fábrica de
vidro e cristal
da Vista Ale-
gre e o Museu
da Atlantis
organizam vi-
sitas guiadas,
de segunda
a sexta-feira,
em vários
horários,
mediante
marcação
prévia, indivi-
duais ou em
grupo.
D.R.
À venda nas lojas Vista Alegre e em www.vistaalegre.com > a partir de €380
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Festas do Mar
Cascais
António Zambujo dá
início às Festas do
Mar, de regresso à
D.R.
Baía de Cascais, para
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Museu Nacional de Arte
Contemporânea do Chiado
> R. Serpa Pinto 4, Lisboa
> T. 21 343 2148 > 17 ago,
sex 19h30 > grátis
D.R.
Musicbox > R. Nova do Carvalho, 24, Lisboa > T. 21 347 3188 > 16 ago, qui 22h30 > €10
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Inimigo Exposto
Lisboa
Já vimos isto... Pedro
Santana Lopes ves-
tido de futebolista,
agarrado ao joelho,
encimado por uma
legenda, em que o
videoárbitro o avisa
para deixar de fazer
fitas (à semelhança de
Neymar, no Mundial
D.R.
de Futebol)? Esta e
Tavira
mento satírico Inimigo
Público, apresentam-
-se, aqui, em duas
versões: o esboço
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E.S.T.A.R. Odemira/Aljezur
Artes sem rede
À quinta edição, os Encontros de Teatro e Animações de Rua estreiam-se em Vila Nova
de Milfontes, antes de descerem para Odeceixe
D.R.
Forte de S. Clemente, Vila Nova de Milfontes, Odemira > 20, 21 ago, sex 16h, 22h, sáb 22h, 23h > Areal da Praia, Miradouro da Praia,
Largo 1º Maio, Odeceixe, Aljezur > 23-25 ago, qui 16h, 19h, 22h, sex e sáb 19h, 22h, 22h30, 23h > grátis
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Janelas da Alma Vila do Conde
M/6
Os 700 anos da fundação M/6
do Mosteiro de Santa Clara
constitui, este ano, o tema
daquele que é considerado o
maior teatro musical de rua do
País, em que os atores – 400
voluntários, de várias idades
– são a própria comunidade.
O título, Janelas da Alma,
evoca as muitas janelas do
mosteiro, de onde as monjas
em clausura assistiam às
movimentações da vila,
nomeadamente, a chegada e
a partida dos barcos no rio ou
M/6
o movimento dos mercados M/6
no terreiro. Era, ainda, a
partir dessas janelas que
cantavam e distribuam pão.
Começaram, em junho, os
ensaios deste espetáculo, que
decorre agora entre esta sexta
e segunda-feira, 17 a 20, com
textos de Amauri Alves e José
Coutinhas, coprodução de
Marcelo Lafontana, e que fará
o público recuar no tempo.
O teatro musical de rua integra
o projeto Um Porto para o
Mundo, que tem como objetivo
apresentar a candidatura da M/6
construção e da reparação M/6
naval em madeira a Património
Imaterial da UNESCO,
enaltecendo uma técnica dos
estaleiros, onde chegaram a
ser construídas as caravelas
dos Descobrimentos. F.A.
Cais da Alfândega (junto à Nau
Quinhentista), Vila do Conde > 17-20
ago, sex-seg 22h > T. 252 248 400
> €5 (adultos), €1 (3-12 anos)
M/6
M/6
M/6
M/6
DR
imobiliária – tema
Maryline
a que os habitantes
de várias cidades
do nosso país não
Tentar a sorte
estarão alheios
–, enquanto, para
outros, construiu
uma personagem
arrogante, que não
Uma jovem da província quer ser atriz. O segundo filme, realizado pelo também ator conseguiu descolar
Guillaume Gallienne, fala sobre o caminho atribulado na perseguição de um sonho do papel de diva
que há na atriz.
O filme é Aquarius,
É um filme levezinho, de verão, às suas origens campestres. À sua frente, do brasileiro Kleber
que sabe bem ver quando o que uma mesa igualmente cinzenta, a servir de Mendonça Júnior,
queremos é estar duas horas cenografia. É-lhe dito para agarrar na peça estreou-se em 2016
e é, agora, exibido ao
protegidos do calor de lá de fora. de mobiliário, como se fosse algo de muito
ar livre nesta terça,
Maryline é a história de uma importante para si. Está a fazer uma audição.
21, no Convento do
rapariga de província, que sonha Maryline vai sendo pontuado por Carmo, integrado no
ser atriz e que decide, por isso, mudar-se flashbacks, em que se percebe a vida que Cinema nas Ruínas.
para a grande cidade, Paris, tentando a sua esta rapariga tinha na aldeia – um lugar O ciclo começa nesta
sorte. Adeline d’Hermy ficou com o papel remoto e desesperançado, que lhe deu segunda, 20, com
de protagonista, num piscar de olhos à o empurrão final para fugir dali e perseguir Peregrinação, de
icónica Monroe que não será mera o seu sonho, aquando da morte do pai. João Botelho, e acaba
coincidência. Esta Maryline com “e” As cenas por que a aspirante a atriz passa são a 1 de setembro, com
também é loira e naïf – é essa inocência, clichés, uns atrás dos outros: o do abuso dos Cinema Paraíso, de
associada a uma certa dose de tontice, que auditores, o da timidez e das vergonhas por Giuseppe Tornatore.
torna a sua persona tão cativante no grande que passa, o da não postura, o das rábulas à Da programação
ecrã. Guillaume Gallienne chegou a referir sua falta de cultura e incapacidade de falar fazem ainda parte
que quem o inspirou a escrever e a realizar fluentemente inglês. A consciencialização filmes como: Nico,
esta história foi uma mulher que conheceu que nos possa ser feita acerca do preconceito 1988, de Susanna
há 16 anos, uma mulher modesta e humilde, com que, por vezes, tratamos os outros Nicchiarelli,
cuja narrativa de vida o tocou bastante. nunca é demasiada, e o ar arrefecido com A Viagem de Chihiro,
O filme começa com um plano de frente que, durante duas horas, isso nos é lembrado de Hayao Miyazaki
de Maryline, um pouco nervosa, rosada, é bom para ajudar-nos à interiorização dessa e No Coração da
com um pano cinzento atrás de si, a fazer ideia. A rematar o texto, referência ainda Escuridão, de Paul
Schrader. C.M.S.
de cenário. Esta usa um vestido de alças às à participação da cantora e atriz Vanessa
florezinhas, com camisola por baixo, a aludir Paradis. Cláudia Marques Santos
Convento do Carmo
> Lg. do Carmo, Lisboa
De Guillaume Gallienne, com Adeline D'Hermy, Vanessa Paradis e Alice Pol > 107 minutos > 20 ago-1 set (exceto 26
ago), seg-dom 21h30 > €8
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AF_200x90mm_PRIMA.pdf 1 31/07/2018 13:02:03
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O que há de novo
Talentos emergentes
Escolhas e tendências
Tribos urbanas
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L IVROS E DI S C OS
Macbeth Jo Nesbo
Ambição eterna
Um encontro feliz entre o génio de Shakespeare
e a prosa frenética de um autor maior do policial nórdico
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O Banco do Tempo
que Passa Hubert Reeves
D.R.
Nas noites quentes de
Catarina Gomes
consciência da migalha que
somos na saia do universo,
para usar a expressão do
poeta holandês Lucebert.
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L IVROS E DIS C OS
Ye Kanye West
Um disco em forma de divã
O rapper norte-americano está de regresso à velha
forma, depois dos equívocos mediáticos, pessoais
1/1 Liars
e artísticos Nem um ano passou sobre
a edição do último disco da
banda, o aclamado TFCF,
A vida não tem corrido muito bem a Kanye West, apresentado em Lisboa na
tendo em conta o seu apoio a Trump, o última edição do festival
cancelamento da digressão por alegados problemas Mexefest, e os Liars já
mentais ou, ainda, as declarações sobre a estão de regresso com um
escravatura ter sido “uma escolha”. Uma carreira novo trabalho, que marca
construída por discos geniais afundou-se, quase igualmente a sua estreia
por completo, com o seu ego gigantesco a pesar no pântano na composição de bandas
mediático. Com uma humildade até agora pouco conhecida, o sonoras para cinema. Para
artista norte-americano responde, do melhor modo que sabe, Ye é um álbum os fãs, 1/1, título tanto do
apresentando um trabalho em que se reafirma como um dos de apenas sete disco como do filme, é
melhores produtores de hip-hop de sempre e um rapper faixas, com também um regresso ao
pouco mais de passado: conta com Aaron
como também há poucos. Ye é um disco cru e direto – talvez
20 minutos, Hemphill, o antigo membro
o mais pessoal –, no qual Kanye aborda a depressão, a
que é também da banda nova-iorquina que
infidelidade, a adição aos opiáceos e os pensamentos suicidas: saiu no ano passado (tendo
“E eu penso em matar-me, e eu amo-me muito mais do que um exercício
terapêutico, formado os Nonpareils),
vos amo, a vocês, portanto hoje pensei em matar-vos”, diz, em deixando os Liars como um
registo de spoken word, em I Thought About Killing You. Este bem revelado
no manifesto projeto unipessoal do líder
tema serve de mote para as confissões, os desabafos e até os australiano Angus Andrew.
inscrito na
pedidos de desculpa seguintes, tudo embalado por uma Ao todo, alinham-se 15
capa: “I hate
sonoridade soul e R&B, a puxar para uma nostalgia do being/ Bi-Polar/ temas eletrónicos (só num
passado e a aconchegar o futuro no confuso presente. “Não te it’s awesome” destes, Helsingor Lane, é
enganes, miúda, eu continuo a amar-te”, canta em No (“Detesto ser/ que se ouve a voz de Angus,
Mistakes. “Continuamos todos a ser os mesmos miúdos de Bipolar e, mesmo assim, pouco
sempre”, diz em Ghost Town, um dos melhores temas, feito / é fantástico”) mais do que sussurrada), a
com os amigos 070 Shake, Kid Cudi e PARTYNEXTDOOR, e resvalar para o dubstep. Têm
no qual também declara: “Tenho tentado tudo para que me por objetivo dar a conhecer,
amem, mas tudo o que faço só vos afasta cada vez mais de através da música, a
mim.” Com discos destes, talvez não. M.J. conturbada mente de Lissa,
a protagonista do filme: uma
jovem de 20 anos que vive na
Pensilvânia rural, a braços
com problemas de drogas e
desilusões amorosas com
muito sexo à mistura. Não
é de admirar que todo este
disco seja uma montanha-
-russa de ambientes, que,
no espaço de uma faixa, vão
desde as sonoridades mais
contemplativas até à euforia
total. Apesar da ligação
à obra cinematográfica,
o disco sobrevive por si
próprio, assumindo-se como
um exercício artístico um
pouco mais abstrato do que
é habitual nos Liars. E é
precisamente isso que faz
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TV
Estreia 17 ago, sex
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Amor(a) à primeira vista
Tem o encanto de um prédio do século XX, revestido a azulejo, com tetos trabalhados
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detalhes para descobrir
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O gosto dos outros
Estelle
Valente Gosta de fado
e, quando pre-
Lanzarote Espanha
Esteve cinco dias na casa de José
Disco “Gisela João” Saramago em Lanzarote, a fotografar
para um livro que sairá em breve, da
Não é só porque é um “grande álbum” jornalista Anabela Mota Ribeiro. “Fiquei
que Estelle Valente escolhe o primeiro apaixonada por aquela ilha negra,
disco da fadista Gisela João, com vulcânica. Senti-me na Lua, em Marte.
quem tem crescido profissionalmente. Melhor, senti-me fora deste mundo.
DIANA TINOCO
“Mudou a minha vida e, nesse sentido, É tudo muito tranquilo, percebi por que
representa tudo para mim.” razão Saramago escolheu viver ali.”
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J OGOS
Palavras cruzadas O S T E R M O S - C H AV E D A AT U A L I D A D E
> > HORIZON TAIS >> 1. O futebolista português Cristiano Ronaldo disse
que a opção pelo (…) “foi uma decisão fácil”, tendo em conta a dimensão do
clube campeão italiano, pelo qual assinou por quatro anos. Mulo. // 2. Caminhar.
Mata de arecas. // 3. Televisão (abrev.). Mamífero cervídeo de grande porte, que
vive nas regiões frias do Hemisfério Norte e que é domesticável. // 4. Estrofe
de oito versos. Designa carência ou ausência (prep.). // 5. Aguardente (gír.). De
modo nenhum. // 6. Que tem as mesmas características. Bill (…), fundador da
Microsoft, tem o hábito de partilhar connosco as suas leituras preferidas – este
ano, escolheu cinco, com temas que vão do “porque é que acontecem coisas
más às pessoas boas?” ou “para onde vai a Humanidade?”. // 7. Nove mais um.
Costume. // 8. Indica lugar, tempo, modo, causa, fim e outras relações (prep.).
Casta de uva preta. // 9. A mim. Risca de cor diferente. // 10. Hospedo. Assalta.
// 11. Arca em que os comediantes transportavam os seus vestuários
e adereços. Guarnecer de asas. >> V E RT I CAI S >> 1. Cano que conduz o
metal derretido para o molde. Algarve – o bom, o novo, e o renascido – lugares
e (…) diferentes para descobrir o futuro da região, longe das multidões.
// 2. Caminhada ou outro qualquer modo de deslocação para chegar de um
lugar a outro, mais ou menos distante. Tecido fino como escumilha. // 3. Seis
em numeração romana. Pancada (interj.). Red. de maior. // 4. Incorreta. Observe.
// 5. Evoluciona. Língua falada outrora a sul do Loire. // 6. Qualquer pessoa que
não se sabe ou não se deseja nomear. Substância utilizada para condimentar
os alimentos. // 7. Larva que se cria nas feridas dos animais (Brasil). Ânsia da
morte. // 8. A si mesmo. Pessoa ou coisa que está próxima de quem fala.
// 9. Os (…) descobriram que os ratos também são “parvos” – como se o que
leva alguém a não abrir mão de uma opção claramente errada não fosse
intrigante q. b., uma investigação conclui que os ratos fazem o mesmo.
// 10. Contr. dos pron. “me” e “a”. Mulher ou qualquer fêmea que teve um ou
mais filhos. Baú. // 11. Gemido de agonia. Sufixo de abundância. Rio da Suíça.
// 4. Errada, Veja. // 5. Evolui, Oc. // 6. Tanas, Sal. // 7. Ura, Agonia. // 8. Se, Esta. // 9. Cientistas. // 10. Ma, Mãe, Arca. // 11. Ulo, Oso, Aar.
// 8. Em, Vianesa. // 9. Me, Listra. // 10. Alojo, Ataca. // 11. Sóraco, Asar. >> VERTICAIS >> 1. Jito, Ideias. // 2. Viagem, Ló. // 3. VI, Truz, Mor.
>> HO R I ZO NTA I S >> 1. Juventus, Mu. // 2. Ir, Arecal. // 3. Tv, Rena. // 4. Oitava, Sem. // 5. Ardosa, Não. // 6. Igual, Gates. // 7. Dez, Uso.
© Todos os direitos reservados. A cópia ou distribuição não autorizada é proibida. Ficheiro gerado para o utilizador 81780 - nsergiobarros@gmail.com - 172.17.21.102 (17-08-18 11:29)
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Principal acionista: Luís Delgado (100%)
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Subdiretora: Sara Belo Luís corpo feminino. O CUIDADO BODY
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Gabinete Editorial: José Carlos de Vasconcelos (Coordenador)
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Editores: Alexandra Correia (Sociedade), Filipe Fialho (Mundo), Inês Belo precisas. A sua tecnologia patenteada
(VISÃO Se7e), João Carlos Mendes (Grafismo), Manuel Barros Moura (visao.pt) BODY PALP, inspirada na terapia das
e Pedro Dias de Almeida (Cultura) ventosas, desestrutura os capitons
Redatores Principais e Grandes Repórteres: Cláudia Lobo, José Plácido
instalados, tonifica o corpo, reposiciona
Júnior, Miguel Carvalho, Patrícia Fonseca e Rosa Ruela
Redação: André Moreira, Carmo Lico (online), Cesaltina Pinto, Clara Cardoso,
os volumes e remodela a silhueta. A sua
Clara Soares, Clara Teixeira, Florbela Alves (Coordenadora VISÃO Se7e/Porto), técnica Push-Up inédita remodela as
Joana Loureiro, José Pedro Mozos, Luísa Oliveira, Luís Ribeiro (Coordenador nádegas, que recuperam volume e forma.
Sociedade), Margarida Vaqueiro Lopes, Nuno Aguiar, Octávio Lousada Oliveira,
Paulo C. Santos, Paulo Zacarias Gomes, Rosário Mello e Castro (Coordenadora VISÃO
Sete), Rui Antunes, Sandra Pinto, Sara Rodrigues, Sara Santos (redes sociais), Sara Sá,
Sílvia Caneco, Sílvia Souto Cunha, Sónia Calheiros, Susana Lopes Faustino, Susana
Silva Oliveira, Teresa Campos (Coordenadora Radar) e Vânia Maia SWAROVSKI TRUSSARDI
Grafismo: Paulo Reis (Editor adjunto), Teresa Sengo (Coordenadora),
Ana Rita Rosa, Edgar Antunes, Hugo Filipe e Patrícia Pereira
Eyewear Collection
SOUND OF DONNA
Os seus passos ecoam pelas escadas,
Infografia: Álvaro Rosendo e Manuela Tomé
Fotografia: Fernando Negreira (Coordenador), Diana Tinoco, o vento sopra no seu cabelo...
José Carlos Carvalho, Lucília Monteiro, Luís Barra e Marcos Borga Elegante mas não convencional, Sound of Donna é
Copydesk: Rui Carvalho
uma fragrância que não deixa ninguém indiferente.
Secretariado: Sofia Vicente (Direção), Teresa Rodrigues (Coordenadora),
Ana Paula Figueiredo e Luís Pinto A sua família olfativa é nova: Oriente/Floral/Gulosa/
Colunistas: Adolfo Mesquita Nunes, António Lobo Antunes, Capicua, A nova coleção FW-18-19 da Swarovski aposta em Amadeirada. Nas notas de cabeça, verdes e vivas, o sumo
Germano Silva, Isabel Moreira, João Semedo, José Eduardo Martins, Paul Krugman, modelos cheios de brilho, glamour e formas originais, da tangerina namora as amêndoas verdes crocantes
Pedro Norton, Ricardo Araújo Pereira, Rita Rato e Thomas Piketty dedicadas às mulheres modernas e multifacetadas. e a frescura incomparável da magnólia. Nas notas de
Colaboradores Texto: Manuel Gonçalves da Silva, Manuel Halpern, Miguel Judas Inspirada na sua coleção de joalharia, a linha da coração, a sensualidade hipnótica da tuberosa é realçada
Ilustração: João Fazenda (Boca do Inferno), Susa Monteiro (António Lobo Antunes)
Centro de Documentação: Gesco
Eyewear exala os elementos de design característicos pela inequívoca feminilidade da rosa e pela suave carícia
Redação, Administração e Serviços Comerciais: Rua Calvet de Magalhães, e exclusivos da Swarovski. Modelos femininos, do heliotrópico. Nas notas de base, o equilíbrio subtil de
nº 242, 2770-022 Paço de Arcos – Tel.: 214 698 000 Fax: 214 698 500 modernos e fáceis de usar, destacam a beleza dos três elementos que habitualmente contrastam: madeira
Delegação Norte: Rua Conselheiro Costa Braga nº 502 – 4450-102 MATOSINHOS cristais Swarovski, proporcionando um brilho de sândalo, patchuli e acorde Mont Blanc. Este último
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Gestora de Marca – Ana Ribas – aribas@trustinnews.pt
Gestor de Marca – José Carolino – jmcarolino@trustinnews.pt
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BOCA DO INFERNO
Ver futebol:
um desporto caro
POR RICARDO ARAÚJO PEREIRA
H
á 30 anos quase não havia futebol na te- lhores momentos e às vezes nem isso porque, “por
levisão. Agora quase não há outra coisa. razões a que somos alheios, só foi possível captar os
Naquela altura era preciso ouvir os relatos últimos instantes deste lance”. Agora vemos todos
na rádio. Agora há canais de televisão que os jogos da primeira divisão, vários da segunda e
transmitem o jogo e outros que transmi- alguns treinos. Além dos campeonatos estrangeiros
tem um jornalista a ver o jogo e a relatá-lo. e das competições internacionais. Parece que, neste
Em breve, aposto, teremos outro canal a momento, para ter acesso a todos os jogos, é preciso
fazer o relato do canal que está a fazer o pagar mais ou menos 50 euros por mês, ou seja, 600
relato. Imagino que uma estação de baixo euros por ano. Há o campeonato inglês, que é o me-
orçamento, que não tenha dinheiro para lhor do mundo. O espanhol, que é o segundo melhor.
subscrever o canal que está a dar o jogo, passe a usar O italiano, onde joga Cristiano Ronaldo. O francês,
esta estratégia em breve: fazer o relato do relato. que tem Leonardo Jardim. Entretanto, Paulo Sousa e
“Neste momento, o jornalista que está a ver o jogo Vítor Pereira estão na China. E ainda falta a Liga dos
diz que o Benfica está a atacar. Parece que a bola foi Campeões, claro. Os campeonatos mais obscuros
para fora. Diz que agora é pontapé de baliza.” É como foram ganhando os chamados “factores de interes-
se um vizinho nosso tivesse um vizinho que tem um se”. Um dos “factores de interesse” mais comuns é a
vizinho que o deixa ver o jogo. presença de “jogadores bem conhecidos do futebol
E há ainda os comentários ao futebol, os comen- português”. Que “pontificam” em certas equipas.
tários aos comentários, as pessoas que assinalam o Assistir ao jogo da equipa chinesa em que “pontifica”
excesso de comentários, e as que, como eu, além de um jogador “bem conhecido do futebol português”
observarem tudo isto, ainda se observam a si mesmas porque “actuou” no Estoril entre 2013 e 2015 é, de re-
a observar, imaginando assim obter algum tipo de pente, uma absoluta necessidade. Não é ironia, estou
salvação. Quando eu tinha 15 anos os jogos não eram mesmo curioso por saber o que fará Sebá ao serviço
transmitidos, salvo raríssimas excepções. Havia o do Chongqing Lifan, clube em que pontifica. Já estou
Domingo Desportivo, que dava o resumo dos me- a poupar dinheiro para subscrever todos os canais.
Há canais
de televisão
que transmitem
o jogo e outros
que transmitem
um jornalista
a ver o jogo
e a relatá-lo.
Em breve,
aposto, teremos
ILUSTRAÇÃO: JOÃO FAZENDA
outro canal
a fazer o relato
do canal que está
a fazer o relato
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