You are on page 1of 6

Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.

926

Cabimento da Ação Revisional de Alimentos


Conforme preconiza o Código Civil, os pais contribuem na medida de sua
capacidade financeira para o sustento dos filhos, oferecendo-lhes um modo
de vida proporcional ao poder de sustentá-la. Quando fixado em valor
superior à capacidade financeira do alimentante, pode desfalcá-lo do
necessário ao seu próprio sustento. Assim, para que de fato isso não venha a
ocorrer, deve-se levar em conta o binômio possibilidade do alimentante e
necessidade do alimentando sob o prisma da proporcionalidade. De acordo
com as lições de Washington de Barros Monteiro:

"A A lei não quer o perecimento do alimentado, mas


também não deseja o sacrifício do alimentante."(Curso
de direito civil, Saraiva, 33ª ed., vol. II, 1996, p. 299).

Também deve ser levado em consideração que o pagamento de pensão em


montante inferior ao que o alimentando poderia receber implica em
desrespeito constitucional à sua dignidade como pessoa humana, bem como
ao dever dos pais de sustentar os filhos. Nesse sentido, observa-se que na
fixação de alimentos deve ser levado em conta as possibilidades financeiras
do alimentante e a realidade econômica do alimentado, de modo que as
necessidades deste sejam supridas sem que, para isso, haja desfalque do
necessário ao próprio sustento daquele.

Feita essa consideração, tendo em vista que a obrigação alimentar se


vincula à cláusula rebus sic stantibus, justifica-se a revisão sempre que, em
razão de fato superveniente à fixação da verba, houver alteração do binômio
possibilidade e necessidade, admite-se a majoração ou a redução da pensão
alimentícia, ou mesmo sua exoneração.

Assim, permite-se a revisão da verba alimentar sempre que houver


alteração no binômio alimentar, ou seja, quando existir mudança na
condição financeira do alimentante ou na situação de necessidade
do alimentado.

Como é sabido, na estipulação da verba alimentar, leva-se em consideração


a proporcionalidade entre as necessidades de quem a reclama e as
possibilidades de quem obrigado está a prestar o sustento, conforme
preconizam os Artigos 1.694 e 1.695, ambos do Código Civil, e, se a
pretensão é a de sua revisão, devem ser observados os critérios
estabelecidos no Artigo 1.699 do Código Civil, vejamos:

"Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier


mudança na situação financeira de quem os
supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as
circunstâncias, exoneração, redução ou
majoração do encargo."

Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060


www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br
Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.926

Logo, de acordo com a legislação pátria, permite-se a revisão da verba


alimentar sempre que houver alteração no binômio alimentar, ou seja,
quando existir mudança na condição financeira do alimentante ou na
situação de necessidade do alimentado.

Segundo bem pondera Cario Mário da Silva Pereira, em sua obra


INSTITUIÇÕES DO DIREITO CIVIL, vol. V, 8ª Edição, pag. 266, dispõe:

"O direito a alimentos, na ordem familiar, obedece a


certos requisitos, que se erigem mesmo em
pressupostos materiais de sua concessão ou
reconhecimentos: 1 - Necessidade. São devidos
os alimentos quando o parente que os
pretende não tem bens, nem pode prover, pelo
trabalho, à própria mantença. (...) 2 -
Possibilidade. Devem ser prestados por aquele
que os forneça sem desfalque do necessário ao
próprio sustento."

Diante do exposto, entendemos que fatos contemporâneos à ação que fixou


alimentos, mas não trazidos aos autos, podem ser apreciados na respectiva
ação revisional, de modo que se faz prevalecer a situação real sobre a
formalidade jurídica. Há ações de alimentos que transitam em julgado sem
que fatos contemporâneos e cruciais à fixação do quantum alimentar
tenham sido apresentados na causa.

Nos termos do art. 1.699, do Código Civil, contrario sensu, estes fatos
omissos não poderiam ser levados para apreciação em ação revisional de
alimentos, uma vez que ela só seria cabível quando sobreviesse mudança na
situação financeira de quem os supre ou de quem os recebe. Diz o artigo:
"Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de
quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao
juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do
encargo."

Assim, por exemplo, se uma sentença fixasse alimentos em ação na qual o


réu não alegou já ter outros filhos, por ter sido revel, ela não seria passível
de modificação em ação revisional, porque não houve "mudança na situação
financeira de quem os supre."

Na mesma linha de entendimento, não poderiam ser majorados os alimentos


fixados em sentença quando posteriormente ao seu trânsito em julgado
fosse descoberto que o alimentante ocultava a existência de patrimônio e
renda muito superiores que declarava possuir. Manter distorções de tal
ordem, ao interpretar literalmente o artigo supra citado, desrespeita os
princípios que embasam o sistema de fixação da obrigação alimentícia.

Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060


www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br
Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.926

O art. 1.699 do Código Civil substituiu o art. 15 da Lei 5.478/68, que era
muito criticado pela imperfeição técnica da redação, pelo qual se afirmava
que a sentença proferida em ação de alimentos não transitava em julgado:

"A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a


qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira
dos interessados."

Contudo, pode ser inferido de estudos de consagrados juristas que a


formação da coisa julgada nas ações de alimentos somente veda a
apresentação de fatos em ação revisional quando as circunstâncias que os
delineiam são totalmente idênticas às da ação anterior. Assim entende
Adroaldo Fabrício, citado por Yussef Said Cahali:

"Só caberia falar-se de alteração do julgado, relativização do princípio da


imutabilidade, substituição da sentença, se fosse reapreciada e rejulgada a
lide tal como se propusera anteriormente em juízo, com os mesmos dados e
configuração que se apresentava quando do julgamento primitivo. Mas a lide
é diversa, seja que o alimentante postule minoração do encargo (ou sua
extinção), seja que o alimentário busque a majoração dos alimentos que
antes obtivera, ou a concessão dos que lhe haviam sido denegados." (Dos
alimentos. Ed. RT, São Paulo, 4ª ed., 2002, p. 888 – grifo nosso)

Por sua vez, Cândido Rangel Dinamarco fala da possibilidade de revisão


sempre que a sentença não corresponda aos fatos. Assevera o autor, ao
comentar o art. 15 da Lei de Alimentos:

"Isso significa somente que, quanto às prestações futuras, nova declaração


pode sobrevir sobre a existência ou valor da obrigação, sempre que a
previsão probabilística contida na declaração judicial venha a ser contrariada
pelos fatos." (Instituições de direito processual civil. Malheiros, 5ª ed., v. III,
2005, p. 310 – grifo nosso)

Ressalta-se, ainda, a independência entre a ação que fixa o pagamento de


pensão alimentícia e a respectiva ação revisional, que podem inclusive
tramitar simultaneamente, de acordo com a abalizada opinião de Yussef Said
Cahali:

"Com invocação do art. 15 da Lei de Alimentos, tem-se permitido que a


revisão da obrigação alimentar, reconhecida na sentença, possa ser ajuizada
mesmo na pendência de recurso contra o julgado que fixou a pensão, ainda
que tal recurso tenha por objeto fatores que poderiam determinar
eventualmente a modificação do quantum; se atendida a impugnação
recursal do reclamante, a pretensão estaria prejudicada."

(Ob. cit., p. 914)

Portanto, a vedação para a revisão quando não houver "alteração na


situação financeira", somente pode ser interpretada como a situação em que

Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060


www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br
Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.926

se busca rediscutir exatamente os mesmos pontos já julgados na ação em


que foram fixados os alimentos.

Ademais, a interpretação literal do art. 1.699 desconsidera um dos pilares do


micro-sistema da fixação da pensão alimentícia, que é o binômio capacidade
de quem paga e a necessidade de quem os recebe (art. 1.694, § 1°, do
Código Civil), substituindo a realidade dos fatos pela presunção que foi
tomada, diante das circunstâncias, na ação que fixou os alimentos.

Dando-se, assim, à presunção, a qualidade de imutável, fere-se, também,


por conseqüência, o princípio constitucional do acesso ao Judiciário, art. 5°,
inc. XXXV, diante da violação decorrente do pagamento de pensão em
valores superiores à capacidade financeira do alimentante ou do
recebimento em quantidades inferiores ao que o alimentando poderia
receber.

Conforme estabelece o Código Civil, os pais contribuem na medida de sua


capacidade financeira para o sustento dos filhos (art. 1.568), oferecendo-lhes
um modo de vida proporcional ao poder de sustentá-la.

Quando fixado em valor superior à capacidade financeira do alimentante,


pode desfalcá-lo do necessário ao seu próprio sustento (art. 1.695). Por
certo, deve-se levar em conta o binômio possibilidade do alimentante e
necessidade do alimentando sob o prisma da proporcionalidade. De acordo
com as lições de Washington de Barros Monteiro:

"A A lei não quer o perecimento do alimentado, mas também não deseja o
sacrifício do alimentante" (Curso de direito civil, Saraiva, 33ª ed., vol. II,
1996, p. 299).
O problema é ainda mais grave nas situações em que por conta desta
distorção o alimentando recebe pensão superior ao que sobra para seus
irmãos, freqüentemente unilaterais, que se encontram sob a guarda do pai,
pois a Constituição Federal estabelece os mesmos direitos a todos os filhos
(art. 227, § 6°). Neste sentido, sobre a igualdade dos filhos:

"DIREITO CIVIL. REVISÃO DE ALIMENTOS. CELEBRAÇÃO DE NOVO


CASAMENTO, COM FILHOS. CABIMENTO.

O advento de prole resultante da celebração de um novo casamento


representa encargo superveniente que pode autorizar a diminuição do valor
da prestação alimentícia antes estipulado, uma vez que, por princípio de
eqüidade, todos os filhos comungam do mesmo direito de terem o seu
sustento provido pelo genitor comum, na proporção das possibilidades deste
e necessidades daqueles.

Recurso especial provido, em parte."

(REsp 244.015/SC, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado


em 19.04.2005, DJ 05.09.2005 p. 396)
Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060
www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br
Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.926

Também o pagamento de pensão em montante inferior ao que o


alimentando poderia receber implica em desrespeito constitucional à sua
dignidade como pessoa humana, bem como ao dever dos pais de sustentar
os filhos (arts. 227 e 229).

Os parâmetros acima expostos para o cabimento de ação revisional não são


aplicáveis nas hipóteses em que a fixação da prestação alimentar decorre de
transação, pois nela prevalece a manifestação da vontade, fundada no
interesse das partes, que determinam o que é justo pagar ou receber.

Mero arrependimento do acordo não seria motivo idôneo para sua rescisão,
porque somente as causas de invalidade do negócio jurídico serviriam para
este fim (art. 486, CPC), tais como os vícios do consentimento.

Nem seria motivo para ação revisional, porque diferentemente de uma


sentença que acolhe ou rejeita o pedido do autor, nos termos do art. 269,
inc. I, do Código de Processo Civil, na qual os fatos são essenciais para a
fixação do quantum alimentar, na sentença homologatória a vontade das
partes prevalece sobre os fatos que poderiam ter sido alegados por qualquer
uma delas (art. 268, inc. III, CPC).

Entretanto, há precedente do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio Grande do


Sul que admitiu a ação revisional de pensão fixada em acordo, sem que
tivesse havido alteração na situação financeira das partes.

"ALIMENTOS. REVISÃO. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALDIADE. Fixados os


alimentos desatendendo ao princípio da proporcionalidade, cabível sua
revisão. Evidenciadas as boas condições financeiras do alimentante,
adequado fixar os alimentos em patamar que permita ao filho usufruir do
mesmo padrão de vida do genitor. Apelo desprovido. (SEGREDO DE
JUSTIÇA)"

(Apelação Cível Nº 70023388721, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça


do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 18/06/2008)

Do voto se extrai:

"‘Fácil constatar que, quando da fixação dos alimentos não foi atendido a tal
critério. Foi feito um acordo, enquanto a mulher estava grávida, em que o
pai se dispôs a pagar 2 salários mínimos e mais despesas de educação. Só
que ele percebe R$ 12.000,00 como jogador de futebol e mais o que
eventualmente ganha com a venda de imagem. Esse valor corresponde a
5% do que ele ganha somente a título de salário. Assim, às claras, quando
foram fixados os alimentos, por acordo, deixou de ser atendido o critério da
proporcionalidade.

Assim, imperiosa a redefinição do encargo alimentar, ainda que não se trate


de alteração dos alimentos por mudança quer das possibilidades do
alimentante, quer das necessidades do alimentando’ (7ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em 27/05/2005 – fls. 178/179)."
Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060
www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br
Rodrigo Eduardo Garcia - oab/sp 178.926

Certamente este entendimento é o que melhor garante o direito à pensão


alimentícia justa.

Diante do exposto, entendemos que fatos contemporâneos à ação que fixou


alimentos, mas não trazidos aos autos, podem ser apreciados na respectiva
ação revisional, exceto nas sentenças meramente homologatórias de
transação sobre alimentos, porque nelas a vontade das partes prevalece
sobre os fatos que poderiam ter sido considerados.

Contudo, não podemos deixar de ressaltar a avançada decisão do Tribunal


gaúcho, acima mencionada, que em nosso entender fez prevalecer a
situação real sobre a formalidade jurídica.

Av. Araguari, 2438, - Uberlândia CEP: 38400-464 -– Tel (34) 3255-5060


www.garciaadvocacia.com.br - e-mail: garcia@garciaadvocacia.com.br

You might also like