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A crise do Petróleo dos anos 70

Descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser o principal fornecedor de energia,
gerando um progresso acelerado aos países que se industrializaram e formaram grandes
potências econômicas.

Se o petróleo era o elemento principal da economia das grandes potências, originando


progresso e riqueza, o mesmo não acontecia aos países que produziam o precioso ouro negro.
O Oriente Médio tornou-se desde o fim da Primeira Guerra Mundial, o principal produtor de
petróleo do mundo, o que levou à cobiça dos europeus, que dominaram a região por décadas,
colonizando e explorando as suas riquezas. Aos poucos, os países do Oriente Médio foram
adquirindo a sua independência política, mas sem ter o controle da sua principal riqueza, que
até 1970, tinha mais de 90% da sua produção petrolífera controlada por sete companhias, as
chamadas “Sete Irmãs”.

Nas décadas de 1960 e 1970, a economia mundial estava totalmente dependente do petróleo,
sem ele não havia progresso. Cientes desta dependência, os países produtores decidiram unir
suas forças, rompendo com o cartel das “Sete Irmãs”. Surgia a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo, a OPEP (OPEC, em inglês), e a luta contra as grandes companhias
petrolíferas começou a ser travada, com vitórias lentas, mas definitivas, para os países
produtores do óleo negro.

Não só interesses econômicos moveram esta luta, mas principalmente, políticos. O conflito
entre árabes e israelenses, marcados pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, e pela Guerra do
Yom Kippur, em 1973, em que os árabes sofreram derrotas e humilhações indeléveis, foi o
principal fator que fez do petróleo uma arma econômica. Para pressionar os Estados Unidos e
a Europa, que apoiaram Israel nos conflitos, os árabes uniram-se, reduzindo a produção do
petróleo, forçando o aumento drástico no preço do barril, originando a maior crise do
petróleo, que afetou toda a economia mundial. A Europa e o Japão foram os que mais
sofreram, sendo obrigados a racionar energia. Os Estados Unidos travaram o consumo e
investiu nas suas reservas. Os países em desenvolvimento como o Brasil, foram os mais
afetados, pois o encarecimento desta fonte de energia gerou um desequilíbrio nas suas frágeis
economias. Com a crise petrolífera de 1973, encerrava-se o chamado “Milagre Econômico
Brasileiro”, e o país entraria em colapso econômico, crise que se veio a agravar, só
encerrando depois do fim da ditadura militar.

A crise do petróleo de 1973 não seria a única, mais duas viriam, uma em 1979, com a queda
do Xá Reza Pahlavi e a Revolução Islâmica Iraniana, outra em 1990, que deflagrou a Guerra
do Golfo; mas seria a pior delas, pois só então o mundo apercebeu-se da dependência que
tinha em relação ao petróleo e, de quem eram os verdadeiros donos do petróleo, ou seja, os
países que o produziam e o exportavam. Desde então, os países buscaram alternativas ao
petróleo, investindo em outras fontes de energia. E o mundo árabe passou a ter voz no cenário
político internacional. A crise de 1973 pôs fim à fartura do petróleo, iniciando à consciência
de que o ouro negro era finito, e que o a sua extinção é uma questão de tempo.

A Criação da OPEP

Quando descoberto no início do século XX, o petróleo passou a ser a fonte de energia mais
utilizada pelas nações industrializadas. A sua produção estava restrita a poucos lugares do
planeta, sendo o Oriente Médio, o principal produtor. Dominando pelos europeus, os países
produtores não tinham direito algum sobre as suas riquezas naturais. Mesmo quando
alcançaram a independência política, caíram no domínio absoluto das grandes companhias
petrolíferas. Muitas vezes, menos de 10% do petróleo comercializado ficava no país produtor.
Somente a partir do fim da Segunda Guerra Mundial é que os países produtores de petróleo
vão tomar consciência da exploração a que se submetiam, e da necessidade de reter a riqueza
que se esvaía, beneficiando apenas as grandes companhias. Iniciou-se uma luta progressiva
dos produtores petrolíferos, com poucos avanços durante décadas.
Um fato marcante aconteceu em 1959, quando se reuniu na cidade do Cairo, no Egito, o
Primeiro Congresso Árabe do Petróleo, contando com a participação da Venezuela. Durante o
congresso, deliberou-se que os países produtores tivessem uma maior integração na indústria
petrolífera e, que se criasse companhias nacionais que operariam ao lado das sociedades
privadas. Naquele ano as grandes companhias impuseram uma redução de 18% sobre os
preços de referência do petróleo do Oriente Médio.
Sete grandes companhias, chamadas de “Sete Irmãs”, controlavam a produção do petróleo no
mundo, sendo elas cinco americanas, a Standard Oil of New Jersey (conhecida pelo mundo
como Esso e Exxon nos EUA), a Standard Oil of California (hoje parte da Chevron), a Gulf
Oil (também parte da Chevron), a Mobil Oil e a Texaco; uma britânica, a British Petroleum; e,
uma anglo-holandesa, a Royal Dutch-Shell. Em agosto de 1960, a Esso tomou a iniciativa de
impor uma outra redução de 18% sobre os preços do petróleo, fazendo com que o preço do
barril chegasse a um patamar inferior ao ano de 1953. Como reação à baixa no valor do barril
do petróleo, os países produtores responderam com energia ao cartel dos consórcios
internacionais, conclamando uma reunião em Bagdá, no Iraque, em 14 de setembro de 1960,
da qual participaram representantes da Arábia Saudita, Iraque, Irã, Kuwait e Venezuela. Na
reunião foi assinado o “Convênio de Bagdá”, documento que criou a Organização dos Países
Produtores de Petróleo (OPEP). A organização definiu como objetivo principal do seu
estatuto, a coordenação e unificação das políticas petroleiras dos países membros,
determinando melhores meios de salvaguardarem seus interesses ante as companhias
petrolíferas. Além dos cinco países fundadores, outros se juntaram a OPEP, constituindo 12
membros na época da crise, em 1973: Irã, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Venezuela, Líbia,
Argélia, Indonésia, Emirados Árabes, Nigéria, Qatar e Equador. Atualmente, 13 países são
membros da OPEP, sendo Angola o décimo terceiro membro, que entrou para a organização
em 2007. O Gabão fez parte da OPEP de 1975 a 1994, sendo um ex-membro. O Equador, que
se tornou membro em 1973, deixou a organização em 1992, voltando a fazer parte dela em
2007. A participação da Indonésia está em processo de revisão, pois já não é considerado pela
OPEP um país exportador de petróleo líquido. Com a formação da OPEP, uma nova página
seria escrita na história do petróleo. Sua ascensão eliminaria futuramente, as tramas do
monopólio das Sete Irmãs no mercado de energia. Também transformaria o petróleo em arma
de negociação entre as nações, interferindo e influenciando em vários conflitos mundiais
surgidos no Oriente Médio ao longo das décadas. Mas as vitórias econômicas da OPEP só
viriam a partir de 1970. Até lá, nacionalizações do petróleo e pressões econômicas sobre o
mundo definiram a consolidação da OPEP como organização de peso.

A Guerra de 1967, a OPAEP e o Acidente do Oleoduto de Tapline em 1970

Em maio de 1967, Síria, Jordânia e Egito lideraram uma invasão a Israel, para tirar o Estado
judaico do mapa. Explodia uma guerra que duraria apenas seis dias, mas que deixaria
conseqüências históricas definitivas. Israel infligiria aos árabes a mais humilhante derrota de
todos os tempos. Na Guerra dos Seis Dias, os israelenses tomariam aos egípcios a península
do Sinai e a Faixa de Gaza; aos sírios as colinas de Golã; e, aos jordanianos, a Cisjordânia e
Jerusalém. A derrota mostrou a fragilidade dos exércitos dos países árabes ante ao exército
israelense.
Além da derrota, o mundo árabe ressentiu-se do apoio explícito do mundo ocidental a Israel,
excepcionalmente o apoio dos Estados Unidos. Em novembro, a Organização das Nações
Unidas (ONU), aprovou a Resolução nº 242, condenando a invasão dos israelenses aos
territórios árabes, pedindo a retirada imediata da zona de ocupação, além de conclamar uma
solução justa para a questão dos refugiados palestinos. Apesar da resolução da ONU, não foi
aplicado esforço algum para que ela fosse cumprida.
No rebote da Guerra dos Seis Dias surgiu mais uma organização para defender os interesses
dos produtores de petróleo, a Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo
(OPAEP). A organização foi fundada em 9 de janeiro de 1968, por um documento assinado
entre países árabes, em Beirute, no Líbano. O acordo foi assinado pela Arábia Saudita, Líbia e
Kuwait. Juntar-se-iam aos três países fundadores a Argélia, o Bahrein, os Emirados Árabes
Unidos e o Qatar, em 1970; a Síria e o Iraque, em 1972; o Egito, em 1973; e, a Tunísia, em
1982, que deixaria a organização em 1986. A OPAEP só admite países árabes como membros.
A 3 de maio de 1970, um pequeno acidente na Síria, que geraria a ruptura de um oleoduto,
iniciaria a primeira retaliação dos árabes às grandes companhias petrolíferas, era o começo da
grande crise petrolífera que culminaria em 1973.
Até 1970, dez anos passados da fundação da OPEP, os resultados obtidos pelos países
exportadores de petróleo foram restritos a um pequeno aumento de impostos pagos pelas
companhias estrangeiras, que continuavam a controlar 80% das exportações de petróleo bruto
e 90% da produção do Oriente Médio e da África do Norte. Médio Oriente e África possuíam
60% das reservas mundiais de petróleo, estando vinculados a contratos das grandes
companhias, que previam a estas, mediante o pagamento de determinadas quantias, a
concessão sem limites da exploração do óleo extraído do subsolo árabe. 97% deste óleo iam
para as mãos das concessionárias a preços que se mantinham praticamente inalterados desde a
Segunda Guerra Mundial.
Naquele maio de 1970, um trator a operar na Síria, próximo ao oleoduto de Tapline (Trans
Arabic Pipe Line), filial da Aramco (Arabian American Company), chocou-se contra as
instalações por onde passavam, anualmente, 30 milhões de toneladas de petróleo, que vinham
da Arábia Saudita com destino ao porto libanês de Sidon. O acidente parecia ser fácil de ser
resolvido pelos diretores da Texaco, Standard Oil of Califórnia, Esso e Mobil Oil (as “quatro
irmãs” sócias da Aramco), bastaria um pedido de autorização para entrar no território sírio e
reparar o oleoduto, um procedimento rotineiro nos campos petrolíferos. Inesperadamente, a
autorização foi negada pelo governo sírio, que manteve o veto ao acesso a seu território por
nove meses. O transtorno atingiu à Europa Ocidental, que se viu subtraída de 60 mil barris de
petróleo por dia, gerando grandes prejuízos econômicos.

Nacionalizações de Empresas Petrolíferas e Aumento dos Preços do Petróleo

Os reveses dos exploradores de petróleo estavam apenas a começar, duas semanas após o
acidente do Tapline, Argélia, Iraque e Líbia enviaram os seus ministros do petróleo a um
encontro em Argel, que se decidiram unir contra as companhias petrolíferas internacionais,
trazendo exigências como a revisão dos contratos, o aumento de preços e impostos sobre o
óleo extraído dos seus subsolos.
Os resultados do encontro surtiram efeito logo em julho, quando a Argélia aumentou os
impostos sobre os lucros de uma das companhias francesas que exploravam o seu subsolo. No
mesmo mês, a Líbia nacionalizou as companhias que distribuíam o seu petróleo, convocando
a seguir, a Esso e a Occidental Petroleum a debaterem o aumento dos preços. O coronel
Muammar Khaddafi, presidente líbio, intimidou a Occidental Petroleum a reduzir 100 mil
toneladas diárias de petróleo.
A união dos paises produtores de petróleo contra o truste das companhias internacionais
aumentou o poder de barganha. Os três maiores campos petrolíferos do mundo estavam no
golfo Pérsico, em El Ghuar, na Arábia Saudita; Borkan, no Kuwait; e Kirkut, no Iraque. Os
três países decidem aumentar os impostos sobre os lucros das concessionárias.
Em novembro de 1970, Houari Boumédienne, presidente da Argélia, nacionalizou a Mobil Oil
e a Newmont. Em dezembro, a OPEP reuniu-se em Caracas, na Venezuela, decidindo que a
partir de então, o preço do petróleo seria unificado, eliminando assim, as diferenças que
haviam de um país produtor para o outro. Os preços foram alinhados pelo que era praticado
mais alto, sendo aumentados. Na reunião, constituíram ainda, um comitê especial para
negociar com as sociedades petrolíferas em nome dos países do golfo Pérsico. O petróleo
tornou-se mais caro, consequentemente, os produtos nos Estados Unidos e na Europa.
Mas dois membros do comitê formado na reunião de Caracas, Ahmed Yamani, ministro
saudita, e Jamshid Amouzegar, ministro iraniano; revelam à mídia do ocidente que vão
moderar o debate a favor dos interesses dos norte-americanos. Irã e Arábia Saudita eram
aliados tradicionais dos Estados Unidos, esta posição marcaria o inicio das divergências entre
os países produtores de petróleo. As divergências entre os árabes, os conflitos árabe-
israelense, e ganância das grandes potências em resolver os seus interesses, entrelaçavam-se
de forma perigosa, começando a desenhar a crise do petróleo.

O Prelúdio da Crise de 1973

A derrota na Guerra dos Seis Dias, em 1967, deixou os países árabes feridos em seu orgulho,
dispostos a uma revanche. Líderes egípcios como Gamal Abdel Nasser e o seu sucessor,
Anwar Sadat, conclamavam que somente uma nova guerra poderia obrigar Israel a devolver
os territórios anexados. Em 1971, Sadat vociferava que se os israelenses não deixassem a
zona de ocupação até o fim do ano, deflagraria a guerra. As ameaças não se concretizaram
naquele ano.
Em fevereiro de 1971, as companhias petrolíferas internacionais são obrigadas a ceder,
fazendo uma oferta superior às pretensões dos produtores: 35 centavos de dólar como
referência do preço do barril de petróleo, com dois aumentos anuais correspondentes à
inflação e à demanda; contra os 12 e 17 centavos de dólar por barril que a OPEP esperava. As
concessionárias garantiram assim, os investimentos e o controle da produção, indo buscar o
lucro exorbitante aos principais compradores do golfo Pérsico, a Europa e o Japão, que reféns
do petróleo, arcaram com os aumentos na sua economia, pagando um grande preço social.
Esta crise travou o crescimento dos japoneses e dos europeus, favorecendo os Estados
Unidos, ameaçados pela concorrência nipônica e europeia. Esta garantia das grandes
companhias fez com que elas reinvestissem os lucros com a venda do petróleo em pesquisas
de novas fontes de energia, satisfazendo os norte-americanos.
As divergências entre os membros da OPEP precipitaram os acontecimentos. A Argélia e a
Líbia foram as que mais protestaram contra as decisões, exigindo que as companhias fossem
obrigadas a reinvestir maior parte dos lucros do petróleo nos países produtores. Diante do
impasse, a Líbia terminou por privatizar a British Petroleum Company, composta pela Esso,
Shell, Britsh Petroleum, Mobil Oil e Compagnie Française de Pétroles. A Argélia, por sua vez,
nacionalizou as empresas petrolíferas francesas.
Em 1972, realizou-se o Congresso Árabe do Petróleo, em Argel, onde os participantes
recomendaram à OPEP que o petróleo fosse posto a serviço da nação árabe. Era o prelúdio do
uso do petróleo como “arma econômica”, que seria usada no próximo conflito árabe contra
Israel. A consciência desse poderio atingia todos os países árabes, o incentivo às nações
produtoras de petróleo de apropriarem-se progressivamente das suas próprias riquezas
alastrou-se. Era preciso valorizar esta riqueza e através dela, consolidar maior participação
dos árabes na política internacional. Estes objetivos começariam a ser testados em outubro de
1973, quando explodiu uma nova guerra entre árabes e israelenses.

Deflagrada a Guerra e a Crise

O ano de 1973 foi marcado por encontros diplomáticos entre vários líderes árabes. Um
encontro no Cairo, entre o presidente da Síria, Hafez Assad; o rei Hussein, da Jordânia; e, o
monarca saudita Faiçal Ibn Abdul Aziz al Saud; despertou a curiosidade da imprensa
ocidental, que vislumbrava uma possível ação militar contra Israel. A iminência da guerra
aumentou quando o presidente egípcio Anwar Sadat, o líder argelino Houari Boumédienne e o
presidente da organização de libertação da Palestina, Yasser Arafat, encontraram-se.
Sucessivas reuniões das lideranças árabes precediam uma imensa nuvem de guerra no Médio
Oriente.
No dia 6 de outubro de 1973, as suspeitas são confirmadas, forças militares egípcias
ocuparam, em seis horas, toda a margem oriental do canal de Suez. Simultaneamente, os
sírios avançaram sobre as colinas de Golã. A luta bélica estava iniciada, era o feriado judaico
do Yom Kippur, por isto o quarto conflito árabe-israelense ficou conhecido como a Guerra do
Yom Kippur, ou a Guerra do Kippur-Ramadã. Os conflitos estenderam-se de 6 a 26 de
outubro de 1973.
A Guerra do Yom Kippur ficou caracterizada por misturar a política internacional com o
petróleo. Os Estados árabes tinham a consciência da importância do petróleo na economia
mundial, e de que eram os maiores produtores do ouro negro. Esta evolução na relação dos
produtores com o petróleo, levou-os a ter maior autonomia ante a exploração das companhias
petrolíferas e, maior força política nas questões internacionais. Enquanto violentos combates
eram travados nos campos de luta, o Iraque decretava a nacionalização dos bens da Mobil Oil
e da Esso, na Barash Petroleum Company (consórcio com a mesma composição da já
nacionalizada Iraq Petroleum Company), limitando parte dos interesses norte-americanos nas
suas jazidas petrolíferas. A OPAEP, dez dias após o inicio da guerra, reuniu-se no Kuwait,
decididos a usar o petróleo como arma de guerra. Na reunião foram tomadas medidas que
reduziam a produção de óleo destinada aos Estados Unidos e demais países que apoiavam
Israel. A decisão estava disposta a ir ao embargo total aos norte-americanos e aos países vistos
pelos árabes como não amigos, como a Holanda, que apoiava abertamente Israel; a Rodésia; a
África do Sul e Portugal.
O mundo ocidental, especificamente os EUA, apoiavam Israel, mas necessitavam do petróleo
árabe. As companhias petrolíferas norte-americanas pressionaram o governo de Washington a
mudar de tática em relação à diplomacia que tinham com o Oriente Médio. A decisão da
OPAEP de usar o petróleo como barganha política, exigiu que o mundo e os EUA apoiassem
os árabes na Guerra do Yom Kippur, algo diplomaticamente impossível para aqueles países.
Era o início das mudanças no jogo político econômico do petróleo, mostrando ao mundo que
as relações internacionais entre produtores e consumidores atingiam um outro patamar. Os
produtores começavam a controlar as suas jazidas, há décadas exploradas pelas companhias
internacionais, obtendo finalmente, maiores benefícios econômicos e poder de barganha
política para os seus interesses. A disposição dos árabes em usar o petróleo como arma
poderosa, levou o mundo a uma grande crise econômica, em 1973, que ficou conhecida como
a crise do petróleo.

A Crise de 1973 e as Consequências para o Mundo

O uso do petróleo como arma de guerra teve consequências dramáticas para a economia dos
países que dele dependiam. A Europa consumia 80% do petróleo que provinha do Oriente
Médio e o Japão 90%. Quando os árabes iniciaram o embargo do petróleo, reduzindo a
produção até o limite oficial de 15% com variações de um produtor para o outro, os europeus
foram obrigados a racionar combustível, impondo a proibição da circulação de veículos em
dias definidos da semana; os japoneses fizeram reduções drásticas de consumo de energia,
afetando a produtividade das suas indústrias.
A crise atingiu aos países em desenvolvimento, considerados amigos pelos árabes, de forma
indelével, já que se utilizavam do petróleo como fonte de energia barata, tendo o seu valor
aumentado bruscamente. O Brasil recorreu ao racionamento de combustível, viu a mentira do
chamado “Milagre Econômico” esvair-se, entrando em um dos períodos mais difíceis da sua
economia.
Curiosamente, o embargo que tinha como objetivo principal atingir os Estados Unidos, não
consegue o propósito. Os Estados Unidos eram menos dependentes do petróleo árabe,
tomando medidas de cautela relativas às reservas que possuíam e ao consumo. Foram
beneficiados pelo freio nas economias europeias e japonesa, concorrentes diretas dos seus
produtos. O embargo aos norte-americanos foi suspenso em março de 1974. Um mês antes,
Irã e Arábia Saudita, principais aliados árabes dos Estados Unidos, receberam uma
considerável quantidade de aviões de guerra norte-americanos. Naquele ano, a Aramco
aumentou os seus investimentos na Arábia Saudita de 500 para 800 milhões de dólares.
As companhias petrolíferas, conhecidas por “Sete Irmãs”, tiveram grandes lucros com a crise,
pois eram as únicas com condições de fazer os maiores lances no mercado negro do petróleo,
dominando a produção e o transporte do produto árabe, vendendo-o por preços exorbitantes
aos consumidores. Com a crise, as “Sete Irmãs” viram os seus lucros, em 1973, a atingirem
um aumento de 159%.
A alta explosiva nos preços do petróleo enriqueceu muitos países árabes, que viram a renda
per capita subir para os 5 mil dólares anuais. Qatar, Kuwait, Arábia Saudita, Emirados Árabes
Unidos e Líbia, formaram o conjunto de países novos ricos do Oriente Médio.
A crise do petróleo de 1973 afetou o mundo inteiro. As consequências, em princípio daninhas
para a economia do mundo, foram, ao longo do tempo, benéficas e positivas. Foi a partir dela
que se teve a consciência da dependência que a economia mundial tinha do petróleo, da
fragilidade dessa dependência, e da necessidade de investir-se em outras fontes de energia. No
Brasil, o desenvolvimento da utilização do álcool como combustível foi uma consequência da
crise do petróleo.
Se a crise petrolífera de 1973 serviu para a busca de novas fontes de energia no mundo, ela
conseguiu aumentar as diferenças econômicas entre os países ricos e pobres, fomentando um
quadro de desigualdade social por todo o planeta. Não solucionou o conflito entre árabes e
israelenses, que continuam a insurgir revoltas e guerras na região, ceifando milhares de vidas.
Após 1973, o mundo testemunharia mais duas grandes crises do petróleo, que continuou a ser
usado como arma política: a de 1979, originada pela deposição do Xá Reza Pahlavi e a
Revolução Islâmica, no Irã; e, a de 1991, desencadeada pela Guerra do Golfo. O petróleo
continua a ser um grande provedor de energia, conseguindo movimentar a economia mundial.
Os esforços para substituí-lo por outras fontes exigiram investimentos em estudos, com o
objetivo de oferecer outras alternativas quando o ouro negro for esgotado. Esta consciência só
foi possível graças à crise de 1973 e as suas consequências históricas, que marcaram os
últimos anos do século XX.
Guerra do Golfo
O conflito começou no ano de 1991. Nesse ano Saddam Hussein era o presidente do Iraque e
estava interessado no seu país vizinho Kuwait. O Iraque faz fronteira com Arábia Saudita,
Jordânia, Irã, Turquia, Síria e Kuwait. Kuwait é um país de pouquíssima extensão territorial
mas possui inúmeras reservas de petróleo em seu território.O Iraque sempre cobiçou o
território Kuwaitiano devido a esses poços de petróleo e Saddam Hussein resolveu unificar
Kuwait ao seu território, para ter posse do petróleo. Usou o pretexto de que Kuwait estava
desvalorizando o preço do petróleo iraquiano e assim em 2 de Agosto de 1990 invadiu o
Kuwait. Esse ato provocou uma forte reação da comunidade internacional. A ONU condenou
a ação e dois dias depois estabeleceu um boicote militar, financeiro e comercial ao Iraque.
Desse modo ninguém mais importava ou exportava nada do Iraque e ninguém mais poderia
comprar o petróleo do Iraque, que era praticamente seu único produto de venda. Assim, o
Iraque ficou isolado.
Em 28 de Agosto, Saddam Hussein ignorou a ordem da ONU e unificou o território de
Kuwait ao território iraquiano. A ONU, em resposta, autorizou o uso da força para retirar as
tropas iraquianas do Kuwait. Então, em 17 de Janeiro de 1991 um ataque aéreo liderado pelos
Estados Unidos começou. Participavam, além dos E.U.A., a Grã Bretanha, França, Síria,
Arábia Saudita e Egito. Percebe-se que até alguns países do Oriente Médio ajudaram pelo fato
de não gostarem do governo autoritário de Saddam Hussein.
Assim, a primeira guerra contra o Iraque começou: A Guerra do Golfo de 1991.
Recebeu o nome de Guerra do Golfo pois aconteceu no Golfo Pérsico, que é a região do
Oriente Médio que compreende Catar, Kuwait, Arábia Saudita, Irã e Iraque. O bombardeio
aconteceu em diversos pontos do Iraque e a capital iraquiana, Bagdá, também foi
bombardeada, ocasionando inúmeras mortes. Foi iniciada uma operação estadunidense
chamada Operação Tempestade no deserto, que tinha como objetivo retirar as tropas
iraquianas do Kuwait.
Um fato que marcou essa guerra foi o uso da imprensa, principalmente televisiva. O mundo
todo pôde acompanhar em tempo real a guerra, os bombardeios, os mísseis inteligentes e todo
o potencial armamentista dos Estados Unidos através do canal CNN. Houve uma incrível e
lastimável inversão de papéis: a guerra não ficou conhecida pelo número de mortos e
feridos(que foram muitos) e sim pelas imagens que pareciam ser de filmes de ficção
científica. Foi mais uma estratégia estadunidense para mostrar seu arsenal bélico e aumentar
sua influência no mundo, principalmente no Oriente Médio.
Os iraquianos não podiam se refugiar no Norte nem no Sul do país pois eram áreas de
moradia dos Curdos e dos Xiitas, respectivamente. Ambos eram massacrados pelos iraquianos
e guardavam grande ódio deles. Com o fim da operação Tempestade no deserto, os iraquianos
se retiraram de Kuwait mas no caminho da saída, foram queimando todos os poços de
petróleo que encontravam pelo caminho. A figura abaixo mostra isso:
A queima dos poços de petróleo Kuwaitianos causaram danos a economia de Kuwait, ao meio
ambiente já que a atmosfera foi poluída durante dias( o petróleo em chamas só apaga depois
de vários dias) e a saúde da população que sofria os efeitos da fumaça ocasionando vários
casos de doenças respiratórias como o câncer de pulmão.
Apesar da derrota, Saddam Hussein continuou no poder do Iraque mas sofria as
consequências da ofensiva estadunidense e do boicote imposto pela ONU. O Iraque estava
destruído e com a imagem denegrida perante o mundo. Seu petróleo agora podia ser
comprado, mas não se dava dinheiro e sim alimentos e remédios. Porquê se pegassem em
dinheiro, fariam armas.
O próximo conflito ocorreria em 2003 e seria chamado de Invasão ou Ocupação do Iraque.
Começou quando os Estados Unidos através de uma união com o Reino Unido e outras
nações(chamada de Coligação) resolveu atacar o Iraque com o pretexto de este estar criando
armas de destruição em massa e atentados terroristas, tendo até mesmo ligação com a Al-
Qaeda. É claro que nada disso era verdade, afinal, o Iraque estava arruinado pelo boicote e
como poderia estar comprando armas sem dinheiro?
Mesmo assim a Coligação, sem permissão da ONU, atacou o Iraque. Depois do ataque as
armas de destruição em massa e os terroristas não foram achados e os Estados Unidos
mudaram seu discurso dizendo que a ocupação servia para a libertação de países e criação da
democracia e da paz mundial. Assim, Saddam Hussein é procurado e só é achado em 2004
quando é executado através do enforcamento. A morte de Saddam Hussein causou conflitos
no Iraque porque agora o poder passaria a ser disputado pelos curdos, xiitas e sunitas. A
imagem mostra a derrubada das estátuas do ditador iraquiano Saddam Hussein:
Assim, a guerra contra o Iraque “termina”. Mas apenas teoricamente. Apesar dos Estados
Unidos terem anunciado o fim da guerra, todos os dias morrem estadunidenses por homens
bomba e pela insatisfação da população iraquiana em relação a permanência de tropas
estadunidenses no Iraque.

Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)

Organização internacional, fundada em 1961, integrada por 11 países que, no seu conjunto,
são responsáveis pelo fornecimento de uma parte significativa do petróleo consumido pela
economia mundial. Sobretudo nos anos de 1970, a OPEP usou essa influência como
instrumento de pressão sobre os países ocidentais. Os membros da OPEP são os seguintes:
Argélia, Venezuela, Indonésia, Irão, Iraque, Qatar, Kuwait, Líbia, Arábia Saudita, Emirados
Árabes Unidos e Nigéria. A sede da OPEP fica em Viena. Embora haja um Conselho Diretivo,
as decisões de fundo são tomadas em reuniões formais de delegados dos países-membros, que
têm geralmente lugar de seis em seis meses.
A constituição da OPEP resultou da consciência da importância do petróleo na ordem
político-econômica mundial do nosso tempo.
Desta forma, a OPEP tem podido funcionar como organismo de pressão, por diversas vezes,
nomeadamente no que diz respeito à fixação dos preços e das condições de circulação do
petróleo bruto, bem como, direta ou indiretamente, dos seus derivados. Isso sucedeu, por
exemplo, em 1973, quando a organização resolveu aumentar bruscamente os preços de venda.
Nesta circunstância, tratava-se de um meio de exercer pressão sobre o Ocidente, em virtude
do seu apoio a Israel contra as nações árabes do Médio Oriente. O resto da década seria
marcada por outras situações do mesmo tipo, que efetivamente criaram dificuldades aos
países visados, incluindo um embargo decretado à exportação para os Estados Unidos da
América e para a Holanda.
A capacidade de pressão da OPEP, no entanto, viu-se muito diminuída nos anos 80, uma vez
que se atenuou a dependência do Ocidente face à sua produção petrolífera - fosse porque se
impulsionou a exploração de fontes alternativas de energia, fosse porque passou a haver
oportunidade de recorrer a outros fornecedores, como era o caso da União Soviética.

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