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MULDOON, James.

Popes, Lowyers, and infidels: The Church and the Non-Chistian


worls 1250-1550. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1979.

Capítulo I. Relações cristã com os infiéis: A teoria


(p.3)
 Os canonistas discutiram a questão dos direitos dos infiéis definindo algumas linhas
dentro da tradição canônica;
 IMPORTANTE: Em primeiro lugar esses canonistas definiram o status dos cristãos
cismáticos e dos heréticos.
 Esses cristãos colocavam-se fora da Igreja, pensando fora da jurisdição da Igreja;
 Os canonistas também dedicaram um bom tempo sobre o status dos judeus que moraram
na Europa cristã, considerando, por exemplo até que ponto era permitida a prática do culto
judeu, como também participar da vida pública de uma sociedade cristã;
 Os sarracenos também foram alvo dessas leis;
 Os muçulmanos apresentavam dois problemas para os canonistas: havia
muçulmanos que viviam, assim como os judeus, na Europa, mas também existia aqueles
que viviam nas bordas da Espanha.
 Os canonistas tentaram amontoar esses vários tipos de pessoas, definindo-os como
uma classe de pessoas chamada extra ecclesiam.
 Passaram a discutir sobre os não cristãos em seus terrenos para pensar acerca dos demais
povos que encontram.

(p.4)
 DECRETUM DE GRACIANO QUE ORIENTAVA SOBRE OS NÃO CRISTÃOS
(1140): Inicialmente o tratamento canônico dados aqueles que não eram membros da
Igreja eram centrados no estudo dos Decretum, que consistia em uma coleção de cânones
elaborados por Graciano, publicado por volta de 1140.
 O maior de interesse de Graciano foi focar nos cristãos heréticos e cismáticos. Teve
pouca atenção sobre os Judeus e muito menos sobre os infiéis;
 “um dos cânones encorajava debates entre Cristãos e infiéis, então esses descrentes
deviam ser conduzidos para a verdadeira fé pela força do argumento racional”.
 JUDEUS: o casamento entre cristãos e judeus era desencorajado, por acreditava-se que
tal prática podia prejudicar os casamentos cristãos;
 Em todas as menções que são feitas nos decretais, os não-cristãos são vistos como
habitantes do território cristão, bem como sujeitos dos governantes cristãos;
 A visão sobre os infiéis na primeira metade do século XII mostra como estava a relação
dos cristãos com os não-cristãos.
 A igreja tinha pouco contado nesse período com sociedades além das “fronteiras” cristãs;
 Pode-se dizer que havia um contato apenas com os cismáticos da Igreja Oriental, pois as
cruzadas mal haviam começado;
 Com os Decretales do papa Gregório IX (1227-41) publicado em 1234, os judeus e infiéis
passaram a ocupar maior espaço na visão do papado sobre o mundo.
 O Decretales, diferentemente do Decretum foi compilado sobre a preocupação de deixar
claro como identificar tais pessoas.
 No quinto livro é dedicado três capítulos, exclusivamente, para tratar sobre não cristãos,
heréticos, cismáticos, judeus e sarracenos.
 IMPORTÂNCIA DA CATEGORIZAÇÃO DOS INFIÉIS: De acordo com o autor,
embora essas categorias fossem pouco detalhadas, deu abertura para que os canonistas
pudessem estudar com maiores detalhes essas pessoas.
(p.5)
 Com relação aos judeus, os decretais não pareciam ter muita novidade, mas já com os
infiéis, esse documento reconhecia que as cruzadas haviam modificado as relações entre
cristãos e seus vizinhos;
 Cristãos que comercializavam armas e outros materiais de guerra com os inimigos da
cristandade eram excomungados, mas outro decretal restringiu essa proibição.
 Muldoon afirma que pouco se escreveu sobre a relação entre cristão e infiéis,
especialmente na época das cruzadas. Tal situação provavelmente de deu porque os
canonistas estavam mais preocupados em “regulamentar” a sociedade cristã;
 O interesse dos canonistas “naqueles fora da Igreja, com exceção dos heréticos e
cismáticos, foi limitado ao efeito que essas pessoas puderam ter sobre os cristãos”.
 Até então, não fazia sentido para esses canonistas dissertarem sobre a relação entre
cristãos e infiéis uma vez que a Igreja era contra estados individuais cristãos;
 Mas na primeira metade do século XIII, Sinibaldo Fieschi, mais conhecido como Papa
Inocente IV (1243-54), “desenvolveu uma base legal para a teoria de relações papais com
as sociedades não cristãs;
 Não é claro porque Inocêncio IV teve essa iniciativa, mas é válido ressaltar, segundo o
autor, que esse papa foi o precursor da missão mongol;
(p.06)
 Para Muldoon, o ponto que inaugura o interesse de Inocêncio em discutir sobre a relação
entre o papado e os infiéis foi seu comentário tecido a partir do decreto do papa Inocêncio
III(1198-1216).
 Decretal Quod super his
 Inocêncio IV questiona a parte que trata sobre os votos de ir em cruzada a Terra Santa e
quais as circunstâncias essa jornada pode ser permitida ou negada;
 Inocêncio IV questiona: “É lícito invadir as terras de posses infiéis, e se é lícito, por que
é lícito?”.
 Inocêncio IV não restringiu a discussão apenas ao caso das cruzadas no oriente próximo,
mas também a outras sociedades infiéis;
 Inocêncio IV prolongou a discussão sobre os direitos papais. No caso das cruzadas: o
papa tinha o direito de ordenar uma invasão cristã na Terra Santa e autorizar indulgências
para aqueles que foram lá lutar”. Tudo isso porque os sarracenos haviam confiscado o
que pertencia aos cristãos por meio de uma guerra injusta;
 Além desse argumento, Inocêncio IV tinha mais dois argumentos:
1) Lembrava aos leitores que o papa era o herdeiro dos imperadores de Roma pelos
termos da Doação de Constantino (Donation of Constantine). Argumento fomado
quando Cosntantino concebeu as terras ocidentais do Império Romano ao papa
Silvester I (314-35), e especialmente Judéia como umas as regiões inclusas.
Diante dessas considerações o papa como Herdeiro da Terra Santa, tem por direito
promover uma guerra justa.

(p.07)
 Inocêncio tinha consciência da contestação desse argumento, uma vez que o documento
de autenticidade era questionado;
 O documento foi incluso no Decretum pelo sucessor de Graciano;
 2) O segundo argumento de Inocêncio era de que as cruzadas eram por defesa!
 Tratado entre Frederico II (1194-1250) com o sultão egípcio al-Kamil, assinado em Jaffa
em 1229.
 Importante: Inocênio IV não estava interessado em justificar as cruzadas, pois a teoria
da guerra justa já o fazia. “O que o interessava era o problema se ou não os cristãos
podiam confiscar terras legitimamente, outras além da Terra Santa, que os muçulmanos
ocuparam”.
(p.8)

 Inocêncio IV procurou justificar o direito de posse sobre os infiéis a partir da Bíblia


e da Lei Romana;
 Na Bíblica procurou respostas no livro de Gênesis
 Na verdade, Inocêncio buscou respostas nas origens da propriedade privada!
 Também procura nas figuras que detinham o poder das leis, desde o tempo dos patriarcas,
passando pelos príncipes.
 Eleição do Rei Saul como rei dos israelitas inicia a sociedade política, distinguindo-se da
regra patriarcal;
 A eleição de Saul era, para Inocêncio IV, a evidência de que as criaturas racionais tinham
o direito de escolher seus próprios governantes;

(p.09)
 A propriedade privada e de “autorregulamentação” é direito de todo homem;
 Inocêncio IV demoliu a alegação de que, pela responsabilidade das igreja pelas
almas de todos , autorizava cristãos a promoverem guerras contra os infiéis;
 No entanto, Inocêncio não deixa de argumentar quando o papa, tendo responsabilidades
com todas as almas pode justificar a intervenção na sociedade dos infiéis;
 O argumento de Inocêncio ia em paralelo com alguns canonistas, estabelecendo algumas
condições de QUANDO o poder papal podia intervir;
 Os canonistas que discutiam sobre a natureza da autoridade eram divididos em duas
categorias: DUALISTAS X HIEROCRATAS
 Ambos concordam que o poder vem de Deus;
 Eles se dividem quando questionam se “toda a autoridade legítima na sociedade cristã
deve vir através da mediação da igreja”.
 DUALSITAS: “argumentavam que o poder secular podia existir legitimamente sem a
intervenção eclesial porque o soberano recebeu isso de Deus através das pessoas”.
 HIEROCRATAS: “condenavam a legitimidade do poder secular que não era obtido de
Deus através da Igreja. Na visão hierocrática, o papa era a autoridade máxima indiscutível
em todas as matérias dentro da sociedade cristã”.
 DUALISTAS: reconheciam o poder secular como uma esfera autônoma de jurisdição
sem estar sob o controle da Igreja; neste caso o papa tinha PODER INDIRETO sobre os
governantes seculares, entretanto, como eram membros da Igreja, estavam sujeitos à
jurisdição eclesial.
 De modo geral, a diferença entre ambos, consistia na questão se o papa podia intervir
direta ou indiretamente sobre os assuntos seculares.
(p.10)

 Inocêncio IV reconheceu a linha de argumento DUALISTA;


 Inocêncio argumentava que cada infiel era livre para escolher seus governantes, mas o
papa, ainda sim era o responsável pelas almas diante de Deus;
 Cristo como pastor instruiu Pedro e seus sucessores a cuidar de suas ovelhas
 “O rebanho de Cristo compreendia todos os homens, e assim o evangelho devia ser
pregado a todos os homens”.
(p.11)
 “Inocêncio argumentou que o papa podia julgar os infiéis nos casos em que eles violassem
a lei natural se seus próprios governantes não os punissem primeiro”.
 ADORAÇÃO DE ÍDOLOS ERA CONTRA LEI NATURAL: “A única outra violação
da lei natural que ele mencionou foi a adoração de ídolos; isso era proibido porque era
sabido de todos os homens que havia apena um único criador, aquele que deveria ser
adorado. Esse criador não foi identificado com os vários homens feitos de ídolos pelos
povos enganados”.
 A conversão não podia ser forçada! Ela devia ser um ato voluntário!
 O exército cristão só podia sair dos territórios
(p.12)
 De acordo com o próprio Inocêncio, somente o papa tinha o poder de autorizar um ataque
a uma sociedade infiel.
 Inocêncio também lançou questões sobre: 1) se os infiéis tinham direito à terras que
haviam anteriormente habitado, mas agora eram dos cristãos; 2) se os governantes infiéis
admitiam pacificamente os missionários em seus reinos.
 Primeira questão: era a mais fácil de responder – Inocêncio argumentava que nenhum
infiel podia argumentar sobre uma posse anterior porque a cristianização da Europa não
foi forçada como a islamização da Terra Santa; pois seus governantes tornaram-se cristãos
por vontade própria;
 Se o povo se tornar cristão e o soberano continuar infiel: Inocêncio alegava que isso
seria possível desde que o soberano não impedisse as práticas cristãs em seus terrenos;
(p.13)
 Apesar de assegurar o domínio do líder infiel, Inocêncio também se preocupou com o
bem-estar dos cristãos submetidos ao seu poder.
 Questão de casamento entre infiel e um convertido (Pauline Privilege): ambos podem
manter o matrimônio, mas desde que o infiel não seja um empecilho ao cristão praticar
sua crença. Caso ocorra essa interferência, o parceiro cristão pode deixar legalmente o
esposo infiel, mesmo que o casamento fosse válido aos olhos da Igreja;
 A fé muçulmana não podia ser tratada como igual à fé cristã;
(p.15)
 Bernardo de Clairvaux: Apoiava a ideia da superioridade do poder espiritual.
Acreditava que as “duas espadas” citadas na bíblia deviam ser seguradas pela Igreja, o
poder espiritual e o temporal;
 Pico do poder papal entre o pontificado de Inocêncio III e Inocêncio IV;

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