You are on page 1of 3

 PESQUISAR PUBLICAR CADASTRE-SE ENTRAR

jusbrasil.com.br
21 de Novembro de 2017

As três fases do crime de lavagem de dinheiro

A regra do art. 1º, da Lei 9.613/98 tipifica o crime de lavagem de dinheiro, que pode
ser praticado mediante diversas ações, como por exemplo, ocultar, ou dissimular. Em
sede doutrinária, a complexa dinâmica do branqueamento de capitais é subdividido em
três fases: ocultação, dissimulação e integração dos bens, direitos ou valores à
economia formal.

O caminho da lavagem de dinheiro se inicia logo após a obtenção do bem, direito ou


valor proveniente da prática do crime antecedente. Com isso, o agente que possui a
intenção de lavar pode iniciar a fase de ocultação ou conversão[1] do proveito ilícito.
Trata-se de momento em que o sujeito ativo busca esconder os ativos derivados da
atividade ilícita, com o intuito futuro de mascarar sua origem espúria.

Na ocultação, o objetivo principal consiste em inserir o ativo na economia formal,


afastando-o da origem ilícita, de modo a dificultar o rastreamento do crime. Essa
inserção poderá ocorrer, por exemplo, com o fracionamento de grandes somas em
dinheiro em quantias menores, a fim de que não haja obrigação de comunicação das
transações[2].

Segundo parcela da doutrina, a ocultação pode ocorrer de forma mais singela, quando,
por exemplo, o cidadão simplesmente esconde o dinheiro, enterrando-o ou guardando
em fundo falso[3], mas desde que tenha a intenção futura de conferir aparência de
licitude ao ativo. A simples ocultação, sem qualquer finalidade ou intenção posterior de
mascarar a origem do ativo, desconfigura a prática de lavagem de dinheiro na
modalidade "ocultar"[4], ainda que se possa cogitar, na hipótese, da prática de
favorecimento real, conforme sustentado em artigo aqui publicado[5].

A segunda fase da lavagem, denominada de dissimulação, estratificação ou


escurecimento, consiste no ato - ou conjunto de atos - praticados com o fim de
disfarçar a origem ilícita do ativo, com a efetivação de transações, conversões e
movimentações várias[6], que distanciem ainda mais o ativo de sua origem ilícita:

"É um ato um pouco mais sofisticado do que o mascaramento original, um passo


além, um conjunto de idas e vindas no círculo financeiro ou comercial que
atrapalha ou frustra a tentativa de encontrar sua ligação com o ilícito antecedente.
São exemplos de dissimulação as transações entre contas correntes no país ou no
exterior, a movimentação de moeda via cabo, a compra e venda sequencial de
imóveis por valores artificiais (...)"[7].
Precisa de Orientação Jurídica?
A fase derradeira da lavagem consiste na integração dos benefícios financeiros como
se lícitos fossem. Nessa etapa, o dinheiro é incorporado na economia formal,
geralmente através da compra de bens, criação de pessoas jurídicas, inversão de
negócios, tudo com registros contábeis e tributários capazes de justificar o capital de
forma legal[8]. Trata-se do último estágio de conversão do ativo ilícito em lícito,
aumentando ainda mais a dificuldade de identificação de sua origem, mormente pelas
sucessivas e complexas etapas de mascaramento.

Por fim, em que pese se poder dividir, doutrinariamente, a lavagem de dinheiro em


três etapas, mister ressaltar que o crime de branqueamento de capitais é de tipo misto
ou conteúdo variado, de modo que a prática de qualquer das condutas (ocultação,
dissimulação ou integração) configura o crime[9], conforme se reconhece na
jurisprudência:

"PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. OCULTAÇÃO. SIMULAÇÃO. DEPÓSITO DOS


VALORES OBTIDOS ILICITAMENTE EM CONTAS DE TERCEIROS. QUADRILHA.
INDÍCIOS. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. Para fins didáticos, o crime de
lavagem de dinheiro se dá em três fases, de acordo com o modelo do GAFI - Grupo
de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro, a saber: colocação (separação
física do dinheiro dos autores do crime; é antecedida pela captação e concentração
do dinheiro), dissimulação (nessa fase, multiplicam-se as transações anteriores,
através de muitas empresas e contas, de modo que se perca a trilha do dinheiro
[paper trail], constituindo-se na lavagem propriamente dita, que tem por objetivo
fazer com que não se possa identificar a origem dos valores ou bens) e integração
(o dinheiro é empregado em negócios lícitos ou compra de bens, dificultando ainda
mais a investigação, já que o criminoso assume ares de respeitável investidor,
atuando conforme as regras do sistema). Todavia, o tipo penal do art. 1º da
Lei nº 9.613/98 não requer a comprovação de que os valores retornem
ao seu proprietário, ou seja, não exige a comprovação de todas as fases
(acumulação, dissimulação e integração). (...)" - g. N. - (TRF-4 - RCCR
50080542920124047200, Rel. José Paulo Baltazar Junior, D. E. 9.4.2014)

Bruno Augusto Vigo Milanez - OAB/PR 48.165

Felipe Foltran Campanholi - OAB/PR 56.970

Ana Paula Kosak - OAB/PR 84.955

[1] GODINHO COSTA, Gerson. O tipo objetivo da lavagem de dinheiro. In: BALTAZAR
JUNIOR, José Paulo; MORO, Sérgio Fernando (Orgs.). Lavagem de dinheiro:
Comentários à lei pelos juízes das varas especializadas em homenagem ao Ministro
Gilson Dipp. Porto Alegre, Livraria do Advogado, 2007. P. 32.

[2] CALLEGARI, André Luis; WEBER, Ariel Barazzetti. Lavagem de Dinheiro. São
Paulo: Atlas, 2014. P. 15.

[3] BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Lavagem de Dinheiro:


aspectos penais e processuais penais. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p.
67
Precisa de Orientação Jurídica?
[4] Nesse sentido: "A guarda e ocultação de dinheiro em espécie, supostamente
produto de crime, não configura o delito do artigo 1º, VI, da Lei nº 9.613/98."
(TRF-4 - ACR 128322420074047000, Rel. José Paulo Baltazar Junior, D. E.
1.8.2013)

[5] https://milanezefoltran.jusbrasil.com.br/artigos/425859611/lavagem-de-dinheiro-
ou-favorecimento-real

[6] MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime de Lavagem de Dinheiro. 3ª ed. São


Paulo: Atlas, 2015, p. 182.

[7] BADARÓ, G. H.; BOTTINI, P. C. Lavagem ... Op. Cit., p. 66.

[8] CALLEGARI, A. L.; WEBER, A. B. Lavagem ... Op. Cit., p. 23; GODINHO COSTA,
G. O tipo... Op. Cit., p. 32.

[9] BADARÓ, G. H.; BOTTINI, P. C. Lavagem ... op. Cit., p. 27.

Disponível em: http://milanezefoltran.jusbrasil.com.br/artigos/437012041/as-tres-fases-do-crime-de-lavagem-de-dinheiro

Precisa de Orientação Jurídica?

You might also like