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MACROECONOMIA I

Professora Dra. Juliana Franco Afonso

GRADUAÇÃO

Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Direção Executiva de Ensino
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Direção Operacional de Ensino
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Gerência de Projetos Especiais
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Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Silvio César de Castro
Distância; AFONSO, Juliana Franco.
Designer Educacional
Macroeconomia I. Juliana Franco Afonso. Amanda Peçanha Dos Santos
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Projeto Gráfico
234 p.
“Graduação - EaD”. Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
1. Macro. 2. Economia . EaD. I. Título. Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
CDD - 22 ed. 338 Editoração
CIP - NBR 12899 - AACR/2 Kleber Ribeiro da Silva
Qualidade Textual
Produção de Materiais
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Ilustração
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Marta Kakitani
Impresso por: Bruno Cesar Pardinho
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha-
mos com princípios éticos e profissionalismo, não
somente para oferecer uma educação de qualida-
de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-
-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo-
cional e espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cur-
sos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais
de 100 mil estudantes espalhados em todo o
Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá,
Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de
300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de
graduação e pós-graduação. Produzimos e revi-
samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil
exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo
MEC como uma instituição de excelência, com
IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os
10 maiores grupos educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades
de todos. Para continuar relevante, a instituição
de educação precisa ter pelo menos três virtudes:
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
promover a educação de qualidade nas diferen-
tes áreas do conhecimento, formando profissio-
nais cidadãos que contribuam para o desenvolvi-
mento de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quando
investimos em nossa formação, seja ela pessoal seja
profissional, transformamo-nos e, consequentemente,
transformamos também a sociedade na qual estamos
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com
os desafios que surgem no mundo contemporâneo.
O Centro Universitário Cesumar, mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica
e se encontram integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades e aplicando conceitos teóricos em
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal
objetivo “provocar a aproximação entre você e o con-
teúdo”, desta forma, possibilita o desenvolvimento da
autonomia em busca dos conhecimentos necessários
para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimen-
to e construção do conhecimento deve ser apenas ge-
ográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que
o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja,
acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enque-
tes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões.
Além disso, lembre-se de que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
AUTORA

Professora Dra. Juliana Franco Afonso


Economista com Doutorado e Mestrado em Teoria Econômica pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialista em Consultoria
Econômica Financeira de Empresas pela mesma Universidade. É professora
de Economia na Unicesumar e na Faculdade Cidade Verde.

Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e


publicações, acesse seu currículo disponível no endereço a seguir:

<http://lattes.cnpq.br/4882579117919191>.
APRESENTAÇÃO

MACROECONOMIA I

SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro (a) aluno (a), é com muita satisfação que apresentamos a você o livro que fará parte
da disciplina de Macroeconomia I. O objetivo principal deste livro é introduzir você ao
estudo sobre os determinantes do produto, do emprego e da renda sob a ótica dos clás-
sicos, da teoria Keynesiana e, por fim, a análise desenvolvida por Hicks e Hansen, que faz
uma reinterpretação da teoria keynesiana, com a elaboração do modelo de equilíbrio
macroeconômico, denominado de modelo IS-LM.
Este livro está constituído por cinco unidades. Na Unidade I, apresentarei a você o conceito
da macroeconomia, o que ela estuda e seus objetivos. Também apresentarei a evolução
histórica das principais teorias macroeconômicas, desde as teorias clássicas, desenvolvidas
no século XVIII, passando por Keynes, no século XX, até as teorias mais contemporâne-
as. Nessa unidade, você também aprenderá como é realizada a contabilidade nacional, ou
seja, como é calculado o Produto Interno Bruto e a Renda Nacional e, por fim, como um país
é uma grande empresa, também aprenderemos sobre o Balanço de Pagamento do país.
Na Unidade II, aprenderemos sobre o sistema monetário nacional, começando com a
definição de moeda, sua evolução histórica e as funções que ela deve desempenhar
para que seja considerada moeda forte. Nessa unidade, também aprenderemos os fato-
res condicionantes da oferta e da demanda por moeda, ou seja, estudaremos o processo
de criação dela, na economia, seu efeito multiplicador e a relação da demanda por mo-
eda com a taxa de juros da economia.
Conhecidos os determinantes da oferta e demanda por moeda, a Unidade III irá se concen-
trar em ensinar como o governo utiliza a Política Monetária para estimular o crescimento eco-
nômico e quais são os instrumentos que utiliza para alcançar tais objetivos. Por fim, apresen-
tarei a você os principais produtos financeiros que são negociados no mercado monetário.
A Unidade IV está focada na teoria clássica de determinação da produção, da renda e do
emprego na economia, ou seja, a formação da Oferta Agregada. Aprenderemos sobre
os principais postulados desta corrente teórica e o conceito de equilíbrio com pleno
emprego. Desta forma, aprenderemos como é determinado o nível de emprego na eco-
nomia e o equilíbrio no mercado de trabalho. Também estudaremos como é formada a
demanda agregada clássica e a relação entre poupança, investimento e taxa de juros.
Por último aprenderemos como se dá o equilíbrio macroeconômico entre a Oferta Agre-
gada e a Demanda Agregada clássica e os efeitos de política monetária e fiscal.
Na última unidade do livro, a Unidade V, apresentarei a teoria keynesiana de determi-
nação da renda, dos juros e do emprego. Aprenderemos quais são suas propriedades
básicas e as principais divergências com a teoria clássica. Estudaremos como se dá o
equilíbrio no mercado monetário, relacionando a renda e a taxa de juros para a constru-
ção da curva LM. Também estudaremos como se dá o equilíbrio no mercado de bens e
serviços e quais são as diferentes combinações de taxa de juros e a renda que equilibra
este mercado, dando origem à curva IS. Por fim, estudaremos o equilíbrio simultâneo do
modelo IS-LM de Hicks e Hansen e os impactos da política econômica e fiscal na deter-
minação do equilíbrio. BOM ESTUDO!
09
SUMÁRIO

UNIDADE I

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA

15 Introdução

16 Objetivos da Macroeconomia

18 Evolução da Teoria Macroeconômica

24 Contabilidade Nacional 

35 Balanço de Pagamento

40 Considerações Finais

45 Referências

46 Gabarito

UNIDADE II

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA

49 Introdução

50 As Funções da Moeda e sua Importância 

55 Oferta de Moeda

65 Demanda por Moeda 

74 Considerações Finais

80 Referências

81 Gabarito
10
SUMÁRIO

UNIDADE III

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS

85 Introdução

86 A Moeda e a Taxa de Juros

99 Objetivos de Política e a Política Monetária 

111 Produtos Financeiros 

125 Considerações Finais

131 Referências

132 Gabarito

UNIDADE IV

MACROECONOMIA CLÁSSICA

135 Introdução

136 A Oferta Agregada Clássica

139 A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no


Mercado

149 Oferta e Demanda Agregada Clássica

155 Poupança, Investimento e Taxa de Juros no Modelo Clássico

160 Equilíbrio Entre Oferta e Demanda no Modelo Clássico e Política Fiscal

166 Considerações Finais

175 Referências

176 Gabarito
11
SUMÁRIO

UNIDADE V

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM

179 Introdução

180 O Modelo Keynesiano

196 Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS

208 Equilíbrio no Mercado Monetário: A Curva LM

214 O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária

226 Considerações Finais

232 Referências

233 Gabarito

234 Conclusão
Professora Dra. Juliana Franco Afonso

INTRODUÇÃO À

I
UNIDADE
MACROECONOMIA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Desenvolver, no aluno, uma visão panorâmica sobre a
macroeconomia.
■■ Apresentar a evolução histórica das principais teorias
macroeconômicas.
■■ Conhecer os agregados monetários e sua forma de mensuração por
meio do Sistema de Contabilidade Nacional.
■■ Apresentar as contas que fazem parte do Balanço de Pagamento e
suas especificidades.

Plano de Estudo
■■ Objetivos da Macroeconomia
■■ Evolução da Teoria Macroeconômica
■■ Contabilidade Nacional
■■ Balanço de Pagamento
15

INTRODUÇÃO

Caro(a) aluno(a), esta unidade introduzirá você ao estudo inicial da macroecono-


mia, que tem como objetivo estudar o comportamento das variáveis econômicas e
as políticas utilizadas pelo governo, que afetam e determinam o nível de consumo
e investimentos na economia, o câmbio e a balança comercial, os determinantes
das variações de preços e salários, o controle do estoque de moeda, a definição
do orçamento do governo por meio dos impostos, a formação das taxas de juros
e a dívida pública.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

É importante entendermos que nós estamos inseridos em um ambiente eco-


nômico, e que as variáveis econômicas influenciam nossas decisões correntes e
futuras de gastos e investimentos o tempo todo. Qualquer leigo em economia
sabe que pegar empréstimos quando a taxa de juros está alta é problema, que gas-
tar mais do que ganha pode levar à falência tanto pessoal como empresarial, que
abrir uma empresa em plena recessão econômica é arriscado. Portanto, podemos
concluir que a macroeconomia lida com os problemas do dia a dia.
Além de definir o que é macroeconomia, apresentarei a você, nesta unidade,
a evolução histórica das principais teorias macroeconômicas, que vai desde o
desenvolvimento da teoria clássica com Adam Smith, no século XVIII, até os
dias de hoje, com as novas teorias contemporâneas. Também apresentarei os
principais agregados macroeconômicos e como é determinado o produto nacio-
nal em suas três abordagens: do produto, da demanda e da renda. Estudaremos,
por meio da apresentação do fluxo circular da renda, que estas três aborda-
gens são equivalentes.
Você já se perguntou como é contabilizado o dinheiro que entra e sai de nossa
economia? Ou se tem mais dinheiro entrando ou saindo? Para responder a estas
questões, estudaremos a estrutura do balanço de pagamentos, que representa o
resumo contábil das transações econômicas de um país com o resto do mundo.
Assim, espero que estude, com entusiasmo, esta unidade que foi elaborada
especialmente para você. Tenha uma boa leitura!

Introdução
16 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
OBJETIVOS DA MACROECONOMIA

Os agentes econômicos (pesquisadores, famílias, empresários, governantes, entre


outros) tomam decisões baseadas em sua racionalidade e, por isso, necessitam
se aprofundar no conhecimento, pela da busca incessante da verdade, baseada
em informações que possam transcrever a realidade do objeto de estudo. Para
isto, o agente econômico deve trabalhar sobre dados relacionados a diferentes
situações, que, posteriormente, se refletirão em informações seguras para com-
parações e julgamentos.
Neste sentido, a macroeconomia é a parte da teoria econômica que trata do
estudo sobre o comportamento da economia como um todo, buscando enten-
der como se dá o aumento do produto, da renda e do emprego ao longo de um
determinado período de tempo.
De acordo com Dornbusch et al. (2006), a macroeconomia abrange as
políticas que afetam o consumo das famílias, o investimento, a taxa de câmbio
e a balança comercial, os determinantes das variações dos preços e salários, as

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
17

políticas fiscal e monetária, o volume de moeda em circulação, o orçamento do


governo e a dívida pública e, por fim, o comportamento da taxa de juros. Assim,
a macroeconomia busca entender o comportamento destas variáveis econômi-
cas e seus efeitos sobre o produto, a renda e a demanda agregada.
Na macroeconomia, estudamos os mercados, de forma agregada, ou seja,
estudamos o mercado de bens e serviços como um todo, o mercado de trabalho
como um todo e de forma específica, individual. A área da economia que trata
os mercados de forma específica é chamado de microeconomia.
Segundo Dornbusch et al. (2006), as pesquisas macroeconômicas possuem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

três tópicos principais de análise:


■■ Primeiro - como explicaríamos períodos de desemprego alto
e persistente?
■■ Segundo - quais são as causas da inflação e como combatê-las?
O que causa as hiperinflações?
■■ Terceiro - o que determina a taxa de crescimento do produto?
Por que alguns países crescem mais rapidamente que outros?

Para responder estas questões, várias teorias foram desenvolvidas com o objetivo
de desmistificar as causas do desemprego, da inflação e do crescimento econô-
mico e definir quais políticas econômicas (política fiscal, monetária, cambial,
comercial) deveriam ser adotadas pelo governo para alcançar determinado fim.
Por exemplo, alguns estudiosos dizem que o governo não tem muito o que
fazer para conter o alto desemprego, e que o melhor a ser feito é a instituição de
políticas de compensação apropriadas, como: seguro desemprego, bolsa família,
entre outros. Por outro lado, outros estudiosos defendem o uso de uma polí-
tica fiscal especial, como o corte de impostos, a redução do IPI (Imposto Sobre
Produto Industrializado) sobre os automóveis e eletrodomésticos, em 2009. Estes
pontos de vista são sustentados por líderes das duas principais tradições inte-
lectuais da macroeconomia: a teoria clássica e keynesiana, que estudaremos nos
próximos capítulos de nosso livro.

Objetivos da Macroeconomia
18 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EVOLUÇÃO DA TEORIA MACROECONÔMICA

No século XVIII, surge, na Inglaterra, um economista, filósofo e professor de


“Filosofia Moral”, na Universidade de Oxford, chamado Adam Smith, conside-
rado o precursor da moderna teoria econômica e o pai da escola clássica. Em
1776, publicou a obra A Riqueza das Nações, na qual procurou demonstrar as
principais diferenças entre economia política,  ciência política, jurisprudência
e ética. Na obra, como é de se esperar, estão diversas e fortes críticas ao sistema
mercantilista, devido à sua intervenção sem limites na economia.
Em sua obra, Smith procurou apresentar um modelo teórico para explicar
o desenvolvimento econômico das nações: a divisão do trabalho. Segundo ele,
seria a divisão do trabalho o responsável por garantir que os custos de produção
fossem reduzidos e, assim, os preços das mercadorias, gerando um aumento de
bem-estar para a população. Além da divisão do trabalho, a livre concorrência
e a acumulação de capitais também são fontes importantes para o desenvolvi-
mento econômico (PINHO; VASCONCELLOS, 2004).

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
19

Smith entendia que a atuação da livre concorrência, sem intervenção do


governo nas decisões de mercado, levaria a sociedade ao crescimento econô-
mico guiado por uma “mão invisível”. Para ele, a iniciativa privada, buscando o
lucro máximo, acaba gerarando um aumento da concorrência, que impacta na
redução dos preços e promove o bem-estar de toda a comunidade. E é esta “mão
invisível” que orienta todas as decisões da economia, não necessita da interfe-
rência do Estado, sendo este o princípio do liberalismo econômico.
De acordo com Vasconcellos e Garcia (2008), a ideia de Smith era de que a
produtividade da mão de obra era proveniente da divisão do trabalho, que passa
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a ser necessária por causa do aumento das trocas decorrentes da ampliação dos
mercados. Assim, as economias de mercado tinham a capacidade de utilizar de
maneira eficiente todos os recursos disponíveis, de forma a alcançar sempre o
nível de pleno emprego, segundo o qual não existiria desemprego voluntário,
e este seria garantido pela flexibilidade de preços e salários.
Para Smith, o Estado tem apenas como papel oferecer proteção à sociedade,
criação e manutenção de instituições necessárias ao bom andamento do estado.
As teorias desenvolvidas por ele foram estudadas e aprimoradas por vários segui-
dores, que contribuíram para a constituição do conjunto de obras que fazem
parte da teoria clássica. Dentre seus principais seguidores, que se destacam pelas
importantes contribuições à Ciência Econômica, estão: Thomas Malthus, David
Ricardo, Stuart Mill e Jean Baptiste Say, todos de meados dos séculos XVIII e XIX.
Jean Baptiste Say instituiu a chamada Lei de Say, supondo que tudo o que
seria produzido seria vendido, ou seja, “a oferta cria sua própria demanda”. Desta
forma as empresas produziam sem se preocupar com a demanda, concentrando-se
apenas no modo de produção. Assim, a teoria clássica foi a base teórica do sis-
tema capitalista de produção, que se instituiu na Europa, em fins do século XVIII.
A partir de 1920, com o término da Primeira Guerra Mundial, surgem muitos
debates sobre a aplicabilidade das teorias neoclássicas para explicar os proble-
mas da atividade econômica (alto nível de desemprego e recessão econômica).
Estas críticas atingem o seu auge com a Crise de 1929, decorrente da quebra da
Bolsa de Valores de Nova York, evidenciando a insuficiência da teoria clássica e
neoclássica para solucionar a crise que os EUA e os países da Europa Ocidental
estavam enfrentando.

Evolução da Teoria Macroeconômica


20 UNIDADE I

Neste cenário, a teoria macroeconômica ganha um novo impulso com o eco-


nomista inglês John Maynard Keynes e a publicação de sua obra Teoria Geral
do Emprego, dos Juros e da Moeda, em 1936. A contribuição de Keynes teve um
impacto tão grande em relação ao rompimento com a teoria clássica, que ficou
conhecida como a revolução keynesiana.
Ao contrário dos economistas clássicos, Keynes não acreditava que os paí-
ses capitalistas tinham a capacidade de promover, de forma automática, o pleno
emprego, e que os preços e salários de uma economia não eram perfeitamente
flexíveis, como diziam os clássicos - por exemplo, o mercado de trabalho é regu-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lado por contratos - assim, os trabalhadores não conseguem ajustar os seus salários
de forma automática.
De acordo com Keynes (1992), o poder dos sindicatos de trabalhadores
faz com que os salários sejam rígidos, dando origem ao chamado desemprego
involuntário, ou seja, a economia opera abaixo do pleno emprego. Este pos-
tulado significa que o emprego só aumenta, se o salário real dos trabalhadores
(expresso em bens de consumo dos assalariados) diminuir, e as empresas pude-
rem obter mais lucros.
Keynes defendeu que, para que a economia pudesse ser elevada novamente
ao pleno emprego, o governo deveria intervir por meio de políticas públicas que
incentivassem o crescimento da demanda agregada por bens e serviços, reduzindo
a capacidade ociosa das empresas e estimulando, com isso, mais contratações de
mão de obra. Desta forma, a sua teoria inverte o sentido da Lei de Say ao enfatizar o
papel da demanda agregada de bens e serviços como geradora do nível de emprego.
Assim, para tirar uma economia que está em um estado de recessão econô-
mica, o governo deve intervir por meio de uma política de gastos públicos. Isto
significa o fim da crença clássica no laissez-faire, como mecanismo de ajuste dos
mercados ( PINHO; VASCONCELLOS, 2004).
Os argumentos da teoria keynesiana influenciaram muito a política econô-
mica dos países, após 1930, principalmente, nos anos que se seguiram à Segunda
Guerra Mundial. Em 1937, John Hicks publicou um artigo com o nome Mr.
Keynes and the classics: a suggested interpetation, que apresenta uma estrutura
teórica conhecida como Modelo IS-LM, que foi a base para a formação da sín-
tese neoclássica, no período pós guerra (LOPES; VASCONCELLOS, 2000).

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
21

A síntese neoclássica constituiu-se em um movimento acadêmico que


procurou introduzir os princípios da teoria keynesiana no pensamento da
economia neoclássica. Inicialmente, foi desenvolvida por John Hicks, mas foi
popularizada pelo economista matemático Paul Samuelson, com a publicação de
seu livro Economics. A partir de então, as formulações de política são realizadas
com base nessa estrutura teórica, que admitia que a economia poderia alcançar
um equilíbrio com desemprego, abrindo espaço para a utilização de políticas
monetárias e fiscais na promoção do pleno emprego.
No fim da década de 1950, surge a chamada curva de Phillips, que pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

cura relacionar a inflação com a taxa de desemprego, sendo esta uma medida
(proxi) do nível de atividade da economia. Segundo este modelo teórico, have-
ria um trade-off entre inflação e desemprego, uma vez que, quanto maior o
desemprego, menor seria a taxa de inflação, e vice-versa. Desde o seu surgi-
mento, a teoria sofreu vários ajustes de acordo com a conjuntura econômica e
questionamentos teóricos. Apesar de adaptações, a maneira como as variáveis
desemprego e inflação relacionam-se varia de país a país e ao longo do tempo
(BLANCHARD, 2007).
Assim durante a primeira metade da década de 1960, os formuladores de
política tinham como instrumento o modelo IS-LM, que representa o equilíbrio
no mercado de bens e serviços (IS) e no mercado monetário (LM), e, por isso,
analisa os componentes da demanda agregada e a curva de Phillips que retrata
as condições de oferta agregada.
De acordo com Blanchard (2007), a relação da curva de Phillips mostrou-se
verdadeira até a década de 1970, quando os choques do petróleo de 1973 e 1979
provocaram aumento no nível de preços, ou seja, a inflação subiu por razões não
inerentes a custos relativos ao trabalho, mas sim por causa do aumento do preço
do petróleo, sendo uma inflação de custo, e não de demanda.
As mudanças na conjuntura internacional fizeram com que as críticas dos
economistas Edmund Phelps (1967) e Milton Friedman (1968) ganhassem noto-
riedade. Segundo eles, os indivíduos preocupam-se com a evolução das variáveis
reais e não nominais, assim, as expectativas de evolução dos preços são impor-
tantes. Neste sentido, propõem a inclusão da expectativa da inflação na análise
da curva de Phillips, que fica conhecida como curva de Phillips modificada.

Evolução da Teoria Macroeconômica


22 UNIDADE I

Agora, o importante é considerar de que forma os agentes formam suas expec-


tativas. Friedman defendia as chamadas “expectativas adaptativas”, por meio das
quais os agentes formulavam suas expectativas de inflação baseados na inflação
passada. Por outro lado, Robert Lucas e Thomas Sargent defendem as “expecta-
tivas racionais”, nas quais os agentes possuem todas as informações e têm pleno
domínio do instrumental macroeconômico, ou seja, inflação esperada é igual
à inflação realizada. Neste sentido, surgem as análises da curva de Phillips com
expectativas adaptativas e racionais, esta última chamada de versão aceleracio-
nista (BLACHARD, 2007).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Pinho e Vasconcellos (2004), os grandes modelos macroeco-
nométricos foram desenvolvidos pelos autores adeptos à síntese neoclássica, com
destaque para Jonh R. Hicks, Roy F. Harrod, James E. Meade, Franco Modigliane,
Willian Phillips, entre outros.
Durante as décadas de 1970 e 1980 surge a escola das expectativas racionais,
também conhecida como novos clássicos. Esta escola defende que os agentes
econômicos formam as suas expectativas sobre o comportamento futuro de uma
determinada variável econômica, baseado nas informações passadas e presentes,
assim, não cometem erros sistemáticos. Neste sentido, vão se formando quatro
grandes escolas do pensamento macroeconômico: os keynesianos, os neoclás-
sicos, os novos clássicos e os pós-keynesianos.
Os pós-keynesianos surgem a partir da década de 1970 e fazem uma relei-
tura de Keynes. Defendem que as deficiências na demanda agregada é que são
responsáveis pelos níveis de desemprego verificados em muitos países, pela redu-
ção da atividade econômica e desaceleração da taxa de crescimento do produto.
A demanda agregada da economia é formada pelas despesas com bens de con-
sumo e pelos gastos com investimento realizados pelas empresas (gastos com
bens de capital). No entanto estes dependem das expectativas dos empresários
com relação à lucratividade do investimento e ao seu custo de oportunidade, ou
seja, o empresário avaliará se vale mais a pena investir na empresa ou deixar o
capital aplicado em ativos do mercado financeiro. Agindo assim o empresário
está sendo racional.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
23

Por outro lado, os gastos com bens de consumo dependem da renda auferida
pela população. Quando maior a renda , maior o consumo. No entanto o rendi-
mento recebido depende do emprego. Em períodos de alto investimento, novos
postos de trabalho são criados, estimulando a renda e o consumo. Assim, temos
que o investimento determina o nível de emprego, o qual determina a renda e
que, por sua vez, determina o consumo. Para os pós-keynesianos, quando há uma
deficiência de demanda agregada, significa que há uma deficiência na geração de
novos investimentos, assim, o governo deve atuar estimulando os investimentos.
De acordo com Lopes e Vasconcellos (2000), os neoclássicos e os novos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

clássicos são frequentemente denominados de monetaristas, e os economistas


pós-keynesianos podem ser distribuídos em três grupos: os neo-ricardianos,
os fundamentalistas e regulacionistas.
Finalmente, devem ser lembrados os institucionalistas cuja principal carac-
terística é destacar em suas análises o papel das instituições e da tecnologia na
formação dos preços e alocação de recursos. Eles entendem que a estrutura de
poder e o controle das várias instâncias decisórias devem ser incorporadas à
análise econômica.

Nos dias atuais, qual teoria macroeconômica é utilizada pelos governos dos
países capitalistas?

Evolução da Teoria Macroeconômica


24 UNIDADE I

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONTABILIDADE NACIONAL

Como o objetivo da macroeconomia é estudar a determinação e o comporta-


mento dos grandes agregados nacionais, este tópico concentrará as suas análises
na medição das variáveis que representam o fluxo de bens e serviços da economia
como um todo, que são medidos com base em um sistema contábil denominado
sistema de contas nacionais.

DETERMINAÇÃO DO PRODUTO NACIONAL

A medida mais ampla da atividade econômica agregada é o Produto Interno


Bruto (PIB), que pode ser mensurado pela abordagem do produto, da demanda
e da renda. Os conceitos de produto, renda e despesas são equivalentes. Esta
igualdade pode ser representada de forma simplificada com base no fluxo cir-
cular da renda representado pela Figura 1.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
25

Receita (=PIB) MERCADO DE Despesas (=PIB)


BENS E
SERVIÇOS
Bens e Bens e
serviços serviços
vendidos comprados

EMPRESAS FAMÍLIAS

Insumos Terra,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

para a trabalho e
produção capital
MERCADO DE
FATORES DE
Salários, aluguéis PRODUÇÃO Renda (=PIB)
e lucros (=PIB)
Fluxo de moeda
Fluxo de bens e serviços
Figura 1 - Fluxo circular da renda
Fonte: Mankiw (2006).

De acordo com a Figura 1, as empresas, ao produzirem bens e serviços, contra-


tam os fatores de produção que são fornecidos pelas famílias. Estes fatores, ao
serem empregados no processo produtivo, são remunerados, gerando renda às
famílias, que é, inicialmente, gasta na aquisição de bens e serviços fornecidos
pelas empresas. Desta forma, as famílias geram renda para as empresas. Com
base neste fluxo podemos estabelecer a seguinte identidade macroeconômica
(MANKIW, 2006):

PRODUTO AGREGADO = DESPESA AGREGADA = RENDA AGREGADA

Contabilidade Nacional
26 UNIDADE I

Assim, o Produto Interno Bruto (PIB) pode ser medido sob a ótica da produ-
ção, da renda e da despesa agregada.
■■ Produto Interno Bruto sob a ótica do produto agregado: é
o valor total de mercado de todos os bens finais e serviços pro-
duzidos dentro de um país durante um dado período de tempo
(MANKIW, 2006).
■■ Produto Interno Bruto sob a ótica da renda agregada: repre-
senta a soma das rendas recebidas pelos produtores, incluindo os
lucros e os impostos pagos ao governo, cujo conceito chave é a

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
renda nacional (ABEL; BERNANKE; CROUSHORE,2008). Na
renda nacional estão inclusos:
»» salários dos empregados;
»» renda dos proprietários;
»» aluguel;
»» lucros empresariais;
»» juros líquidos;
»» impostos sobre a produção e as importações;
»» pagamentos (líquidos) de transferências correntes das
empresas;
»» superávit corrente de empreendimentos governamentais.
■■ Produto Interno Bruto sob a ótica da despesa agregada:
representa a soma das despesas totais com bens e serviços finais
(BLANCHARD, 2007).

O PIB sobre a ótica da demanda/despesa agregada pode ser representado pela


seguinte equação:

Y=C+I+G+X-M

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
27

Em que,
Y = PIB = produção total = renda total = despesa total;
C = consumo;
I = investimento;
G = compras de bens e serviços pelo governo;
M = importações;
X = exportações.
Blanchard (2007) interpreta da seguinte forma os componentes do PIB na abor-
dagem da demanda agregada:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Consumo (C) - são os bens e serviços comprados pelos consu-


midores e que variam de alimentos a passagens aéreas, passando
pelas férias, pelo carro novo e assim por diante. O consumo é o
maior componente do PIB.
■■ Investimento (I) - também chamado de investimento fixo.
Pode ser não residencial, que é o gasto feito pelas empresas em
estruturas, equipamentos e software; e residencial, que é o gasto
na construção de novas casas e novos edifícios.
■■ Gastos do Governo (G) - são os bens e serviços comprados
pelos governos federal, estadual e municipal.
■■ Exportações (X) - são as vendas de bens e serviços para o
resto do mundo.
■■ Importações (M) - são as compras de bens e serviços do resto
do mundo.

De acordo com Mankiw (2006), as principais características do PIB são:


■■ a produção é valorada a preços de mercado;
■■ registrar somente o valor dos bens finais, não dos bens inter-
mediários (o valor é contado somente uma vez);
■■ incluir tanto bens tangíveis (alimentos, vestuário,carros) como
intangíveis (serviços em geral);
■■ não incluir transações envolvendo bens produzidos no passado;
■■ medir o valor da produção dentro dos limites geográficos de
um país.

Contabilidade Nacional
28 UNIDADE I

Podemos verificar pela equação do PIB, sob a ótica da demanda agregada, que
um aumento do consumo, do investimento, dos gastos do governo e das expor-
tações causam elevação no PIB e vice-versa, e que o aumento nas importações
causam a redução. Assim, quando o governo quer estimular o crescimento eco-
nômico, ele pode adotar políticas que gerem aumento em uma das variáveis que
compõem a fórmula do PIB, no entanto deve levar em consideração os impac-
tos que isto pode gerar na economia, como nos preços, mas estudaremos estes
impactos em capítulos posteriores.
O que devemos entender é que, no Brasil, o governo está presente em inú-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
meras atividades econômicas, seja como produtor de bens e serviços, como
consumidor ou como regulador dos mercados. No caso de produtor de bens e
serviços por meio das empresas estatais ou de economia mista, esta atividade é
registrada na contabilidade nacional como se fosse uma empresa privada. Mas
o que entraria na conta gastos do governo?
Na conta gastos do governo (G) são registradas as despesas com a oferta de
bens públicos cujo fomento destas atividades provêm da arrecadação de impos-
tos, taxas e contribuições. Lopes e Vasconcellos (2000) definem bens públicos
aqueles bens e serviços que não podem ser promovidos pelo mecanismo de
mercado, como: justiça, segurança nacional, administração pública etc. Mas e
a oferta de serviços educacionais e de saúde? Estes são providos pelo governo
como forma de fazer uma redistribuição de renda.
Os impostos arrecadados pelo governo podem ser distribuídos em duas
categorias:
i. Impostos diretos - inclui os impostos que incidem diretamente
sobre a renda e riqueza das pessoas jurídicas (empresas) e físicas
(população). São eles: IRPJ, IRPF, CSLL, IPTU, ITR;
ii. Impostos indiretos - são aqueles que incidem sobre a produ-
ção e comercialização dos bens e serviços, como: IPI, ICMS, IX,
IM, PIS, COFINS.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
29

Nesse sentido, a presença do governo na economia com a cobrança de impos-


tos faz com que a função consumo keynesiana no mercado de bens e serviço
seja representada por (DORNBUSCH et al. , 2006) :

C = C0 + c(Y - T)
C = C0 + cYd

Em que,
C = consumo total;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

C0 = consumo autônomo (que não depende da renda);


c = propensão marginal a consumir;
Y = PIB = renda total = produção total = despesa total;
Yd = renda disponível;
T = tributos.

Desta forma, percebemos que a carga tributária reduz a renda disponível, e é


esta que devemos levar em consideração, quando analisamos o consumo agre-
gado da economia, pois é esta renda de que os consumidores realmente dispõe
para gastar ou poupar. A função consumo keynesiana, diz-nos que ele depende
do consumo autônomo, nível mínimo de consumo na economia que independe
da renda e da propensão marginal a consumir da renda disponível (c). Esta pro-
pensão marginal a consumir varia de 0 a 1, quanto mais próximo de 1 maior
será a propensão marginal a consumir e, assim, maior será o impacto da renda
na determinação do consumo. Por outro lado, quanto mais próximo de 0 for a
propensão marginal a consumir da renda disponível, maior será a propensão
marginal a poupar desta economia. Como temos a identidade de que poupança
é igual a investimento, significa que nesta economia a demanda agregada acaba
sendo incentivada mais pelo investimento do que pelo consumo em si. Mas estas
são questões que estudaremos a partir da Unidade 3 de nosso livro.

Contabilidade Nacional
30 UNIDADE I

Sabemos que o governo não pode gastar (G) mais do que arrecada com im-
postos, taxas e contribuições (T). Quando G < T temos um superávit do go-
verno, quando os G > T temos um déficit público. No entanto o déficit deve
ser financiado de alguma forma, senão alguém vai ficar sem receber. Mas
quais as formas de financiamento do déficit público?
Algumas formas são:
■■ lançamento e novos impostos, como a CPMF, o conhecido imposto do
cheque;
■■ aumento da carga tributária;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ lançamento de títulos da dívida pública, como Letras do Tesouro Nacio-
nal, que podem ser compradas no site do Tesouro Direto.
Fonte: a autora.

Com a introdução do governo, podemos chegar a mais dois conceitos sobre o pro-
duto: produto a custo de fatores (Pcf) e o produto a preços de mercado (Ppm).
Quando excluímos no cálculo do produto os impostos indiretos e incluímos
os subsídios pagos pelo governo, temos o conceito de produto a custo de fato-
res (Pcf). Por outro lado, quando incluímos, no cálculo do produto, os impostos
indiretos e excluímos os subsídios, estamos trabalhando com o conceito de pro-
duto a preços de mercado (Ppm). Neste sentido, temos a seguinte relação:

Ppm = Pcf + impostos indiretos - subsídios

Podemos verificar por esta relação que os impostos indiretos aumentam os preços
de mercado dos produtos e serviços da economia e quem os paga são os consu-
midores. Por outro lado, quando o governo subsidia os custos de produção de
determinados bens e serviços, os consumidores são beneficiados.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
31

PIB REAL E PIB NOMINAL

O produto é medido em termos monetários e, em um país como o Brasil, que


possui inflação, temos dificuldade de interpretar a sua evolução. Neste sentido,
devemos saber diferenciar o PIB nominal do PIB real.
Valor nominal é o valor de um bem medido em reais na data em que o paga-
mento é efetuado. Assim, o PIB nominal é a produção de bens e serviços, avaliada
a preços correntes. Devido à inflação ou à desvalorização da moeda, antes de
fazermos qualquer comparação ou operação aritmética envolvendo o valor de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

um bem, é necessário uniformizar a unidade de medida, ou seja, é necessário


calcular os valores reais ou a preços constantes. Neste sentido, o PIB real é a pro-
dução de bens e serviços avaliada a preços constantes, e são estes que utilizamos
para verificar se houve, ou não, crescimento econômico.
Para tirar o efeito da inflação sobre a evolução dos agregados monetários,
utilizamos os chamados índices de preços. No deflacionamento do PIB nominal,
utilizamos o deflator implícito do PIB, que corresponde à razão entre a soma
de todos os preços no período corrente (atual), multiplicados pelas quantidades
do período corrente e a soma de todos os preços do período base, multiplicado,
pelas quantidades do período base, veja (HOFFMAN, 2009):

Deflator do PIB =
ΣQtPt x 100
ΣQ0P0
Desta forma, o deflator do PIB também pode ser medido como sendo a razão
entre o PIB nominal e o PIB real multiplicada por cem.

Deflator do PIB = PIB nominal x 100


PIB real

Contabilidade Nacional
32 UNIDADE I

O valor real, portanto, responde à seguinte pergunta: quanto o valor teria subido
em determinado período se os preços permanecessem os mesmos do ano-
-base? Para isso, deve-se excluir do valor nominal o efeito da inflação. Isto pode
ser realizado por meio de algum índice que sirva de deflator para o período.
Matematicamente, isso não é nada mais do que a seguinte fórmula:

PIB real = PIB nominal x 100


Deflator do PIB

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O deflator implícito do PIB para o período de 1995 a 2011 está apresentado na
tabela a seguir:
Tabela 1 - Deflator implícito do PIB, ano-base 1995.

ANO DEFLATOR DO PIB


1995 100
1996 118,13
1997 123,29
1998 129,49
1999 139,66
2000 148,00
2001 163,68
2002 183,91
2003 213,62
2004 228,76
2005 246,36
2006 255,93
2007 270,55
2008 297,45
2009 323,03
2010 354,14
2011 351,70
Fonte: adaptado de Ipeadata ([2018], on-line) .
1

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
33

Exemplo 1:
Segundo dados disponíveis no Ipeadata, o PIB nominal do Brasil para o
período de 2008 a 2011, estão apresentados na Tabela 2. Dado que o deflator
implícito do PIB para os anos de 2008, 2009, 2010 e 2011 são: 297,45; 323,03;
254,14 e 351,70, calcule o PIB real para os períodos de 2008 a 2011, sendo 1995
o ano-base, ou seja, calcule o PIB real a preços de 1995.
Tabela 2 - PIB nominal brasileiro

ANO PIB NOMINAL (MILHÕES)


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

2011 4.376.382,00

2010 3.885.847,00

2009 3.333.039,00

2008 3.109.803,00
Fonte: adaptado de Ipeadata ([2018], on-line)1.

Solução:
FÓRMULA

O Pib real de 2011 a PIB real = 4.376.382,00 x 100 = 1.244.350,87


preços de 1995 é: 351,70

O Pib real de 2010 a PIB real = 3.885.847,00 x 100 = 1.097.262,95


preços de 1995 é: 354,14

O Pib real de 2009 a PIB real = 3.333.039,00 x 100 = 1.031.804,79


preços de 1995 é: 323,03

O Pib real de 2008 a PIB real = 3.109.803,00 x 100 = 1.045.487,65


preços de 1995 é: 297,45

Assim podemos verificar que o valor do PIB real a preços de 1995, quando tira-
mos a inflação do período, é bem menor. Agora, podemos calcular o crescimento
econômico, pela seguinte fórmula:

Contabilidade Nacional
34 UNIDADE I

∆% = [ PIB real t -1] x 100


PIB real t - 1
Tabela 3 - Cálculo do crescimento real do PIB

ANO PIB REAL CRESCIMENTO

2008 1.045.487,65

∆% = [ 1.031.804,79 -1] x 100 = -1,31%

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
2009 1.031.804,79
1.045.487,65

2010 1.097.262,95 ∆% = [ 1.097.262,95 -1] x 100 = 6,34%


1.031.804,79

2011 1.244.350,87 ∆% = [ 1.244.350,87 -1] x 100 = 13,4%


1.097.262,95
Fonte: a autora.

Assim, temos, em nosso exemplo, que a economia brasileira decresceu em 2009


em relação a 2008, mas apresentou alta recuperação real nos anos subsequentes.

O deflator do PIB do Brasil é calculado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Ge-


ografia e Estatística. As séries históricas trimestral e anual do deflator implí-
cito estão disponíveis no site do Ipeadata disponível em: < www.ipeadata.
gov.br/>.
Fonte: a autora.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
35
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

BALANÇO DE PAGAMENTO

Todo dinheiro estrangeiro ou divisas, que entra no Brasil e sai dele em um deter-
minado período, é contabilizado em uma demonstração financeira nacional
chamada balanço de pagamentos, que representa o resumo contábil das transa-
ções econômicas de um país com o resto do mundo.
Na definição utilizada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), o balanço de
pagamentos é o registro sistemático das transações econômicas realizadas, durante
determinado período de tempo, entre residentes e não residentes de um país.
Definem-se residentes as pessoas físicas ou jurídicas domiciliadas em um
país: indivíduos com residência fixa, mesmo imigrantes, filiais de empresas
estrangeiras sediadas no país, funcionários em serviço no exterior, indivíduos
que se encontram, transitoriamente, no exterior, entre outros. Este balanço de
pagamentos é elaborado pelo Banco Central, tendo como referência as transa-
ções realizadas pelos residentes do país, no caso o Brasil, e os residentes de outros
países. Toda entrada de divisas constitui um crédito, e toda saída de divisas cons-
titui um débito, veja o Quadro 1 a seguir:

Balanço de Pagamento
36 UNIDADE I

Quadro 1 - Entrada e saída de divisas

CRÉDITO DÉBITO

Exportação de bens e serviços Importação de bens e serviços

Entrada de divisas por meio de doa- Pagamentos de doações e indeniza-


ções e indenizações de estrangeiros ções a estrangeiros

Entrada de divisas por meio de em-


Pagamentos de empréstimos
préstimos de estrangeiros

Venda de ativos financeiros para


Compras de ativos estrangeiros

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estrangeiros

Recebimento de fretes Pagamento de fretes

Recebimento de royalties etc. Pagamento de royalties etc.

Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcelos (2000).

Assim, todos os dias existem entradas e saídas de moeda estrangeira no


Brasil. Quando as operações de crédito são superiores às operações de débito, o
saldo do balanço de pagamento é superavitário, significando que está entrando
mais moeda estrangeira do que saindo dólar, por exemplo, e o dólar desvalori-
za-se em relação ao real, ocasionando valorização na taxa de câmbio nominal.
Por outro lado, quando as operações de crédito são menores que as operações
de débito, o saldo do balanço de pagamento é deficitário, significando que está
saindo mais moeda estrangeira do que entrando, e o dólar valoriza-se em relação
ao real, ocasionando desvalorização nominal da taxa de câmbio. Por isso, quando
vemos, no noticiário, que a balança comercial é deficitária (exportações meno-
res que as importações), a taxa de câmbio tende a se desvalorizar e vice-versa.
De acordo com Feijó (2007), a estrutura do balanço de pagamento segue
três contas analíticas:
■■ Transações correntes - referem-se à movimentação de mercadorias e de
serviços (inclusive, os serviços de remuneração de capitais – juros e divi-
dendos) – pagamentos e recebimentos de rendas de capital e trabalho e
transferências unilaterais de renda.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
37

■■ Conta capital – registra as transferências unilaterais de ativos reais, ati-


vos financeiros ou ativos intangíveis entre residentes e não residentes.
■■ Conta financeira – registra todos os tipos de fluxos de capitais entre o
país e o resto do mundo. Diferentemente, a estrutura do balanço de paga-
mento é apresentada como se segue:
Quadro 2 - Estrutura do balanço de pagamentos

BALANÇO DE PAGAMENTOS

A. BALANÇA DE TRANSAÇÕES CORRENTES


I. Balanço comercial: exportações FOB* – importações FOB.
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II. Balanço de serviços: transportes (fretes etc), seguros, viagens interna-


cionais, turismo, rendas de capital (juros, lucros, dividendos), envio de
royalties, patentes, assistência técnica, comissões, aluguel de equipamen-
tos, entre outros.
III. Transferências unilaterais: remessas feitas por empregado migrantes e
doações.
Saldo em transações correntes ( I + II + III)

B. BALANÇA MOVIMENTO DE CAPITAIS


IV. Investimentos: investimentos estrangeiros diretos.
V. Reinvestimentos.
VI. Empréstimos e financiamentos de médio e longo prazo.
VII. Empréstimos de curto prazo.
VIII. Amortizações.
IX. Capitais de curto prazo.
X. Erros e omissões.
Saldo de capital (IV+ V+ VI +....+XI)

C. ERROS E OMISSÕES
SALDO DO BALANÇO DE PAGAMENTOS (A+ B+C)

D. TRANSAÇÕES COMPENSATÓRIAS
XI. Variações das reservas internacionais.
XII. Operações de regularização.
XIII. Atrasados comerciais.
Fonte: adaptado de Feijó (2007).

(*) FOB – Free on board. As despesas incluídas no valor das mercadorias são as
incorridas até o embarque destas.

Balanço de Pagamento
38 UNIDADE I

Assim, as contas do balanço de pagamentos contabilizam as diferentes transações


internacionais de um país, sendo que os créditos entram com sinal positivo e o
débito negativo. O saldo em transações correntes (TC) é chamado de poupança
externa do país. Quando o saldo é positivo, dizemos que estamos transferindo
bens e serviços para o resto do mundo, assim, a poupança externa é negativa. Por
outro lado, quando há déficit no saldo em transações correntes, dizemos que a
poupança externa é positiva, ou seja, estamos absorvendo recursos do resto do
mundo para financiar o nosso consumo e nossos investimentos.
A conta movimento de capitais (MK) inclui as contas que representam direi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tos e obrigações de residentes no país com não residentes, inclui os investimentos
estrangeiros diretos, os reinvestimentos das empresas multinacionais já locali-
zados no país, os empréstimos e financiamentos de curto, médio e longo prazo,
o pagamento de empréstimos (amortização), o capital especulativo direcionado
às aplicações do mercado financeiros.
A conta erros e omissões serve para arrumar erros no registro das operações,
visto que muitas das transações com o exterior são lançadas com valores esti-
mados. O resultado do balanço de pagamentos deve estar em equilíbrio, e isto
ocorre quando o total de créditos é igual ao total de débitos. Assim, temos que:
■■ se o SBP = 0, o BP está em equilíbrio;
■■ se o SBP > 0, o BP está superavitário;
■■ se o SBP < 0, o BP está deficitário.

O que ocorre quando o saldo do balanço de pagamentos não está em equilíbrio?


A resposta a essa pergunta levanta a importância das contas que fazem parte das
transações compensatórias. Quando o saldo do BP é positivo, significa que temos
excesso de divisas ou ouro, e estas são direcionadas à conta denominada varia-
ção de reservas. Quando o saldo do BP é deficitário, este poderá ser coberto por
uma saída de divisas ou de ouro da conta variação de reservas.
E quando usamos as contas operações de regulamentação e atrasados
comerciais?
A conta operações de regulamentação é utilizada quando são realizadas
operações com instituições internacionais, como os empréstimos feitos com

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
39

o FMI (Fundo Monetário Internacional) para cobrir déficits de BP. Já a conta


atrasados comerciais refere-se ao não pagamento de um compromisso no prazo,
que também é uma forma de financiar o déficit do BP.
A balança comercial do Brasil tem grande importância para a geração de sal-
dos positivos do balanço de pagamento. Desta forma, a Figura 2 apresenta o saldo
da balança comercial e o volume de exportações e importações brasileiras, no
período de 1995 a 2016. Podemos verificar que, logo após a implantação do Plano
Real, com a valorização do real em relação ao dólar, até 2001, a balança comer-
cial brasileira foi deficitária. Com a mudança do regime, de cambial para regime
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de câmbio flexível administrado, verifica-se que o saldo da balança comercial é


superavitário até 2008, quando sofre uma queda decorrente da crise financeira
de 2008 na economia internacional.

(US$ milhões)
350000
300000
250000
200000
150000
100000
50000
-
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016

-50000
-100000
Saldo da Balança Comercial
Exportações
Importações
Figura 2 - Evolução do Saldo da Balança Comercial no período de 1995 a 2016
Fonte: adaptado de Banco Central ([2018], on-line)2.

Verifica-se, na Figura 2, que o pior resultado foi em 2015, no auge da crise


política do governo, que, mesmo com o câmbio desvalorizado, a balança
comercial registrou um saldo negativo de US$ 54. 733 milhões, com recupe-
ração em 2016.

Balanço de Pagamento
40 UNIDADE I

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, aprendemos que a macroeconomia é a parte da teoria econô-


mica que trata do estudo sobre o comportamento da economia como um todo,
buscando entender como se dá o aumento do produto, da renda e do emprego
ao longo de um determinado período de tempo. Suas principais teorias origi-
naram-se no século XVIII, com o lançamento da obra A Riqueza das Nações,
desenvolvida pelo economista inglês Adam Smith, considerado o precursor da
teoria clássica.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Também aprendemos que a medida da atividade econômica agregada de
um país é definida pelo Produto Interno Bruto (PIB), que pode ser mensurado
pela abordagem do produto, da demanda e da renda, sendo o mais utilizado nas
análises de impacto de políticas, a definição do PIB pela ótica da demanda ou
despesa agregada. No entanto, em um país como o Brasil, que possui inflação,
devemos tirar o efeito desta do cálculo do PIB para que possamos interpretar
corretamente a sua evolução, assim, na medição do crescimento econômico de
um país utilizamos PIB real.
Vimos, pela equação do PIB sob a ótica da demanda agregada, que um
aumento do consumo, do investimento, dos gastos do governo e das exporta-
ções causam elevação no PIB e vice-versa, e que um aumento nas importações
causam redução.
Finalizamos esta unidade aprendendo como são contabilizados os recursos
monetários que entram e saem de nossa economia, por meio da demonstra-
ção financeira denominada balanço de pagamentos, que é realizada pelo Banco
Central e tem de estar em equilíbrio, ou seja, o total de créditos deve ser igual
ao total de débitos, quando isto não acontece, o Balanço de Pagamentos está em
desequilíbrio. Quando há um superávit, significa que há um excesso de divi-
sas (moeda estrangeira), que é então enviado para conta variação de divisas do
Banco Central. Quando há déficit, significa que saiu mais divisas do que entrou,
e o balanço de pagamentos precisa ser financiado, o que pode ser feito de várias
formas: entrada de divisas da conta variação de divisas, empréstimos de insti-
tuições internacionais, como o FMI, ou deixar de realizar algum pagamento.

INTRODUÇÃO À MACROECONOMIA
41

1. Em 2015, o PIB do Brasil foi de X bilhões de reais. No entanto, em um cenário hi-


potético, no ano de 2016, todos os componentes do PIB mantiveram-se constan-
tes, exceto as importações, que cresceram 60%. Dessa forma, podemos afirmar
que o PIB do Brasil, em 2016, em relação ao de 2015, iria:
a) Crescer.
b) Diminuir.
c) Manter-se igual.
d) Manter-se igual, em 2016, e variar, em 2017.
e) Não é possível determinar.
2. Para fins de compreensão, digamos que, em determinado ano fictício, o Brasil
apresentou a seguinte composição econômica:

Taxa de juros – 15% ao ano. Importações – R$ 75.000,00


Consumo – R$ 305.000,00 Exportações – R$ 55.000,00
Gastos do governo – R$ 250.000,00 Dívida pública – R$ 120.000,00
Investimentos – R$ 115.000,00 Produção agrícola – R$ 80.000,00

Com base nos dados apresentados e no livro Economia e Sociedade, marque a


alternativa que representa o valor CORRETO do Produto Interno Bruto (PIB):
a) R$ 1.000.000,00
b) R$ 850.000,00
c) R$ 800.000,00
d) R$ 690.000,00
e) R$ 650.000,00
42

3. A política fiscal é uma das maneiras que o governo possui para intervir e regu-
lar a atividade econômica do país. Para isso, ele manipula seus próprios níveis
de gastos e de arrecadação de tributos, adotando políticas expansionistas ou
contracionistas. Dessa forma, caso o governo queira realizar uma política fiscal
expansionista, ele poderá:
a) Aumentar os gastos e reduzir os tributos.
b) Aumentar os gastos e aumentar os tributos.
c) Reduzir os gastos e reduzir os tributos.
d) Reduzir os gastos e aumentar os tributos.
e) Aumentar ou reduzir os gastos e aumentar os tributos.
4. O PIB – Produto Interno Bruto – representa a soma de todos os bens e serviços
finais produzidos no país em um determinado período de tempo. Sendo assim,
com base nos indicadores abaixo, assinale a alternativa que apresenta a fór-
mula CORRETA para a determinação do PIB:

A Consumo E Exportações
B Importações F Investimento
C Gastos do governo G Produção agrícola

a) A+B+C+E+F+G.
b) A-B+C+E+F+G.
c) A+B+C-E+F.
d) A-B+C+E+F.
e) A+B+C-E.
5. Considere que o PIB nominal do Brasil para o ano de 2001 é de R$ 1.315.756 e
que o deflator implícito é 164, em relação a 1995. Calcule o valor do PIB real a
preço de 1995 e assinale a alternativa correta:
a) R$ 802.290,24.
b) R$ 803.292,42.
c) R$ 1.083.290,24.
d) R$ 1.292.803,42.
e) R$ 802.392,42.
43

O texto abaixo faz parte da análise sobre a conjuntura brasileira para o primeiro trimes-
tre de 2017, realizada por Marcelo José Nonnenberg, do IPEA.

“O comércio exterior brasileiro parece estar rentes caiu fortemente entre 2015 e 2016,
entrando em um novo ciclo de preços. Nos passando de US$ 59,4 bilhões para US$
últimos 12 meses, os preços das expor- 23,5 bilhões. A queda do déficit corrente
tações começam a dar mostras de forte em 2016 foi devido, principalmente, ao
recuperação. Esse aumento é mais intenso aumento do superávit comercial em US$
nas commodities, mas é observado tam- 27,4 bilhões, ao mesmo tempo em que o
bém nos demais produtos de exportação. déficit da conta serviços experimentou uma
Ao mesmo tempo, os preços das importa- redução de US$ 6,5 bilhões com relação a
ções se mantêm constantes, causando uma 2015. Já o déficit da conta de renda primá-
expressiva melhora dos termos de troca. ria manteve-se razoavelmente constante,
Por outro lado, a taxa de câmbio vem se alcançando US$ 41,0 bilhões em 2016. Em
valorizando, com efeitos opostos sobre as janeiro deste ano, esse valor foi um pouco
exportações e as importações. No acumu- superior ao verificado no mesmo mês do
lado do ano até fevereiro, as exportações ano passado, atingindo US$ 5,3 bilhões.
cresceram 23,6%, principalmente devido Em compensação, o ingresso líquido de
ao aumento de 41,7% dos básicos. Esse capitais externos também caiu bastante
crescimento, por sua vez, reflete tanto um em 2016, na comparação com o ano ante-
aumento generalizado dos preços de expor- rior. O saldo da conta capital e financeira
tação quanto um aumento das quantidades passou de US$ 55,6 bilhões em 2015 para
exportadas de básicos e semimanufatura- US$ 16,4 bilhões em 2016, uma queda de
dos. Já as importações cresceram 12% no US$ 39,2 bilhões. Apesar de essa queda ser
acumulado do ano, devido basicamente ao maior do que a observada na conta de tran-
aumento de 22,6% dos produtos interme- sações correntes, é preciso lembrar que a
diários, em especial dos produtos agrícolas conta erros e omissões também cresceu
e alimentícios. O déficit em transações cor- fortemente em 2016.”
Fonte: Nonnenberg (2017, on-line)3.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Princípios de Macroeconomia, 6 edição


N. Gregory Mankiw
Editora: Cengage Learning
Sinopse: o estudo de economia é um dos mais fascinantes
e complexos de todas as ciências. Constitui-se, portanto, em
estimulante desafio o domínio dos seus princípios fundamentais,
conjugados com a necessidade do entendimento das inúmeras
dificuldades com que a economia global vem se defrontando.
Para melhor compreender o mundo e poder participar
ativamente dele é preciso ter à mão um manual completo e
atualizado. Esta obra, além dos ferramentais consagrados, dispõe também das mais recentes
descobertas da economia e dos instrumentos de política econômica para utilizá-la. Pensando
nisso, N. G. Mankiw escreveu, em linguagem clara e amigável, Introdução à economia, levando em
conta três razões principais que, segundo ele, o estudante tem para aprender economia: entender
o mundo em que vive; ser um participante mais perspicaz da economia; e compreender melhor os
potenciais e os limites da política econômica.
45
REFERÊNCIAS

ABEL, A. B.; BERNANKE, B. S.; CROUSHORE, D. Macroeconomia. 6. ed. São Paulo: Pe-
arson Addison Wesley, 2008.
BLANCHARD, O. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2007.
DORNBUSH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill do
Brasil, 2006.
FEIJÓ, C. A. et al. Contabilidade Social. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
HOFFMANN, R. Estatística para Economistas. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2009.
KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Atlas,
1992.
LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia Básico e Inter-
mediário. São Paulo: Atlas, 2000.
MANKIW, N.G. Macroeconomia. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.
______. Introdução à Economia: princípios de micro e macroeconomia. 3. ed. Rio
de Janeiro: Pioneira Thomson, 2006.
PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Economia. 5. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2004.
VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos de Economia. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

REFERÊNCIAS ON-LINE

1 Em: <www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 15 fev. 2018.


2 Em: <www.bcb.gov.br/htms/infecon/seriehist_bpm6.asp>. Acesso em: 15 fev.
2018.
3 Em: <www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/170310_CC34_
setor_externo.pdf>. Acesso em: 15 ev. 2018.
GABARITO

1. B
2. E
3. A
4. D
5. A
Professora Dra. Juliana Franco Afonso

II
SISTEMA MONETÁRIO:

UNIDADE
OFERTA E DEMANDA DE
MOEDA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar as funções da moeda e sua importância para a atividade
econômica.
■■ Conhecer o processo de criação de moeda na economia e seu efeito
multiplicador.
■■ Conhecer os determinantes da demanda por moeda e sua relação
com a taxa de juros.

Plano de Estudo
■■ As funções da moeda e a sua importância
■■ Oferta de moeda
■■ Demanda por moeda
49

INTRODUÇÃO

Hoje, no século XXI, não conseguimos nem imaginar como era o mundo antes
do aparecimento da economia monetária. Como as pessoas faziam as trocas de
bens e serviços?
Pois é, caro(a) aluno(a), o mundo não era tão fácil até o século XV, quando
as primeiras moedas metálicas começam a aparecer. Antes, as trocas eram rea-
lizadas por um mecanismo denominado escambo, ou seja, trocas diretas de
mercadorias. Mas para que a troca pudesse ser realizada, havia a necessidade
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de ocorrer uma coincidência de desejos entre dois indivíduos, o que dificultava


muito as trocas, pois nem sempre isso acontecia.
Com a evolução do comércio e com o aparecimento das cidades, no entanto,
a sociedade começa a adotar a moeda mercadoria, ou seja, uma mercadoria com
aceitação por toda a sociedade para servir como intermediária de troca. Agora,
as trocas passam a ser realizadas de forma indireta. Várias mercadorias funciona-
ram como moeda, como o sal, em Roma, daí a denominação da palavra salário,
visto que os trabalhadores eram remunerados com sal. A evolução deste meca-
nismo deu origem à moeda metálica de ouro e prata, que ganha rapidamente
a aceitação do público e passa a ser utilizada em grande escala nas transações
comerciais. Quando isso acontece, surge a economia monetária nos países que
ainda estavam se formando.
Diante do exposto, meu objetivo é apresentar a você como se deu o sur-
gimento da moeda e suas transformações, ao longo dos séculos, até chegar na
moeda como a conhecemos, nos dias de hoje, e como isto foi importante para a
evolução da sociedade. Além disso, apresentarei a definição de oferta de moeda,
a sua mensuração e o processo de criação de moeda pelos bancos comerciais.
Isso mesmo! Os bancos comerciais também têm o poder de criar moeda, e não
apenas o Banco Central. A este processo de criação de moeda pelos bancos
comerciais damos o nome de multiplicador da moeda, e estudaremos o impacto
disso na economia.
Boa leitura!

Introdução
50 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AS FUNÇÕES DA MOEDA E SUA IMPORTÂNCIA

Começarei este item apresentando a você como se deu a evolução da moeda, ao


longo da história da humanidade, até chegarmos ao padrão que temos hoje. Em
seguida, aprenderemos quais são as funções que a moeda deve desempenhar na
economia para que seja considerada forte.

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA

A moeda é um objeto de aceitação geral, garantida por lei, que é utilizado na


troca de bens e serviços. No entanto a história da humanidade revela-nos que,
por muitos séculos, o homem fez trocas sem a presença da moeda, realizando
escambo, ou seja, um indivíduo A troca as mercadorias que produz com exce-
dente por outras mercadorias produzidas pelo indivíduo B. Assim, o escambo
era a troca direta de mercadoria, que apresentava várias barreiras à evolução das
transações comerciais, visto que, para que a troca fosse realizada, era necessá-
rio que existisse uma contraparte que tivesse exatamente a necessidade oposta,
tinha de haver coincidência de desejos, o que nem sempre acontecia.
Outra dificuldade era quanto à divisibilidade do produto. Imagine um pecua-
rista que necessitasse de apenas dois quilos de trigo. Por causa destas dificuldades,

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


51

a sociedade começa a buscar outras formas para agilizar as trocas e começam a


aparecer as moedas – mercadorias, ou seja, começa a se utilizar uma mercadoria
como moeda de troca. Agora, as trocas passam a ser indiretas. Veja o Esquema 1:

ESCAMBO: TROCA DIRETA


PRODUTO X PRODUTO Y

MOEDA MERCADORIA: TROCA INDIRETA


PRODUTO X MOEDA-MERCADORIA PRODUTO Y
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Esquema 1 - Fluxo de Mercadoria


Fonte: a autora.

Quando a sociedade passa a definir uma mercadoria que servirá como inter-
mediária de troca, começa a surgir o conceito de moeda. Isso facilitou muito as
transações comerciais que eram realizadas nas feiras dentro das áreas feudais,
propiciando o surgimento das cidades. Várias mercadorias foram utilizadas como
moeda: sal, arroz, trigo, peixe, entre outras, dependia da região e do momento
histórico. Até a palavra salário teve sua origem pela utilização do sal, em Roma,
para o pagamento de serviços prestados. Mas, mesmo tendo facilitado as tran-
sações comerciais, este tipo de moeda continuava a apresentar os problemas de
perecibilidade, divisibilidade e estocagem, a evolução da moeda - mercadoria
para a moeda metálica - era uma questão de tempo.
As primeiras moedas metálicas utilizadas como instrumento monetário eram
feitas com metais não preciosos, como o cobre, o bronze e o ferro. Mas como
estes metais existiam em abundância, comprometiam uma das funções básicas
da moeda, que é servir como reserva de valor, comprometendo a sua aceitação
geral pela sociedade (LOPES; ROSETTI, 1998).
A substituição de metais não nobres pelo ouro e pela prata ocorreu de forma
progressiva. Como eles eram escassos, o seu valor mantinha-se relativamente está-
vel ao longo do tempo, favorecendo a sua aceitação irrestrita (LOPES; ROSETTI,
1998). Assim, a existência de uma economia monetária só aparece de forma defi-
nitiva a partir do século XV, com a utilização da moeda metálica feita de ouro
e prata, utilizada em grande escala como intermediária de troca. Até o século

As Funções da Moeda e sua Importância


52 UNIDADE II

XIX, o crescimento da produção destes metais acompanhou a evolução e cres-


cimento dos negócios, pela descoberta de novas minas nas Américas, no século
XVI, e na Austrália e África do Sul, no século XIX (LOPES; ROSSETTI, 1998).
Este tipo de moeda resolve o problema da perecibilidade e da divisibilidade,
mas traz outros dois: o custo do transporte, decorrente de seu volume, e o risco
de assaltos. Este último foi determinante para a decisão de se manterem as moe-
das em casas de custódia, em troca de certificados de depósito, os quais, por
comodidade e segurança, começaram a circular no lugar dos metais monetários.
Tais certificados davam a seus titulares o direito de retirar o equivalente de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ouro e prata junto às casas de custódia, a qualquer momento. Com o aumento
da circulação dos certificados de depósito com lastro em ouro e prata, estava
criada uma nova modalidade de moeda denominada moeda-papel, com garan-
tia de plena conversibilidade.
Com o aumento da utilização deste tipo de moeda pelos agentes, as casas de
custódia verificaram que a conversão da moeda-papel em metais preciosos não
era solicitada ao mesmo tempo por todos os seus detentores e, todos os dias,
novos depósitos eram realizados. Diante disto, as casas de custódia começa-
ram a emitir certificados de depósito sem lastro de conversão, dando origem à
moeda fiduciária ou papel-moeda.
A emissão de certificados sem lastro em metais preciosos permitiu às casas
de custódia realizarem operações de empréstimos, mediante a cobrança de juros,
emissão de títulos e ações. Com a evolução destas operações, os recibos de cus-
tódia passaram a ser fracionariamente conversíveis até chegarem aos dias atuais
em que a moeda é de emissão privativa do Estado, e não há conversibilidade.
Segundo Lopes e Rossetti (1998), foi a partir da crise de 1929-1933, chamada
Grande Depressão, que começou a quebra da bolsa de valores de Nova York, as
moedas nacionais deixaram de ter garantias com lastro metálico proporcional,
prevalecendo as seguintes características dos sistemas monetários:
■■ inexistência de lastro metálico;
■■ inconversibilidade absoluta;
■■ monopólio estatal das emissões.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


53

À medida que a sociedade evolui, as formas de pagamentos das transações comer-


ciais também se modificaram e, ao lado do papel-moeda de emissão privativa do
Estado, desenvolveu-se outra modalidade de moeda: a moeda bancária, escri-
tural ou invisível.
São as moedas criadas pelos bancos comerciais, por meio das operações de
empréstimos, ou seja, transferência de recursos dos agentes superavitários para os
agentes deficitários. Os bancos perceberam que era possível emprestar uma parcela
dos depósitos à vista realizados pelo público, pois era improvável que todos sacas-
sem seus recursos ao mesmo tempo, passando a manter, sob a forma de encaixes,
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

apenas uma parcela dos depósitos à vista, emprestando o valor restante. Fazendo
isto os bancos criam moeda escritural, e o volume de meios de pagamentos torna-
-se muito superior ao saldo de papel-moeda emitido pelo Banco Central.
É importante destacar que o depósito do público, nos bancos comerciais, é
considerado moeda, pois é uma promessa de pagar quando lhe for requerido.
Já o cheque, por sua vez, é apenas o mecanismo de conversão do depósito em
moeda manual, ou seja, nada mais é do que uma ordem de transferência de fun-
dos, da mesma forma o cartão de crédito.

CARTÃO DE CRÉDITO E OFERTA DE MOEDA


A evolução das formas de moeda está vinculada ao objetivo de tornar mais
fáceis as transações entre os agentes econômicos e os aspectos relaciona-
dos à redução dos custos de transação.
Hoje a grande maioria das compras são realizadas por cartões de débito e car-
tões de crédito. O primeiro permite o acesso ao saldo da sua conta corrente,
que faz parte da oferta monetária, mas o cartão de crédito permite que você
tome dinheiro emprestado para realizar compras a prazo, neste sentido não
representa oferta de moeda, pois é um passivo, ou seja, uma dívida. Seu crédi-
to disponível é a quantidade que você pode tomar emprestado.
Fonte: Krugman e Wells (2007).

As Funções da Moeda e sua Importância


54 UNIDADE II

AS DIFERENTES FUNÇÕES DA MOEDA

Com a evolução econômica e social, as transações passaram das trocas dire-


tas (escambo) para as trocas indiretas. A mercadoria de aceitação geral pela
sociedade para a realização das trocas indiretas é denominada moeda. Seu uso
generalizado gerou consenso a respeito das funções que deve exercer. Segundo
Krugman e Wells (2007), a moeda desempenha três funções principais na eco-
nomia moderna:
■■ intermediária de trocas;

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ unidade de conta;
■■ reserva de valor.

a) Intermediária de trocas

É a razão principal de sua existência. Esta função possibilitou à sociedade passar


de uma economia de escambo para uma economia monetária, visto que não há
mais a necessidade de haver coincidência de desejos entre as mercadorias para
que as trocas aconteçam. Segundo Lopes e Vasconcellos (2000), há vários bene-
fícios trazidos por esta função da moeda: permite mais especialização e divisão
social do trabalho, reduz o tempo das transações e fornece à sociedade a liber-
dade de escolha do que e quando consumir.
A existência de uma economia monetária, ao ajudar a sociedade a desco-
brir quais os bens de que necessita e em que quantidade, orienta as empresas a
decidir o que produzir.

b) Unidade de conta ou medida de valor

A moeda serve como uma unidade padrão de medida utilizada para comparar
o valor de diversos bens e serviços que são expressos por meio dos preços. Além
disso, é por meio da moeda que podemos somar itens distintos.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


55

c) Reserva de valor

Quando se recebe moeda por alguma transação que se tenha realizado, não é
preciso gastar todo o dinheiro imediatamente. Pode-se guardá-lo para uso pos-
terior. Isto significa que a moeda serve como reserva de valor. Mas para que esta
função seja cumprida é necessário que a moeda tenha o seu valor estável, possi-
bilitando que a pessoa que a possui consiga quantificar o seu poder de compra.
Neste sentido a inflação leva à deterioração do valor da moeda e à perda de sua
função como reserva de valor.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OFERTA DE MOEDA

Neste item, aprenderemos como é realizada a oferta de moeda na nossa econo-


mia, ou seja, quais são os mecanismos utilizados pelo Banco Central, no processo
de criação e emissão de moeda, assim como o processo de criação de moeda rea-
lizado pelos bancos comerciais.

OFERTA MONETÁRIA

Para que possamos entender o processo de criação de moeda, definida como


meios de pagamento, devemos conhecer o que estamos considerando como
moeda. É importante esclarecer que, em um sistema cuja moeda é lastreada por
uma determinada mercadoria (ouro, por exemplo), a sua circulação depende do
estoque de ouro no país, mas, em um sistema sem lastro, onde temos a moeda
fiduciária, o responsável pelo controle de oferta de moeda é o Banco Central,
sendo este o único órgão emissor da moeda nacional. Assim, devemos enten-
der o que é oferta de moeda na visão do Banco Central.

Oferta de Moeda
56 UNIDADE II

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Definimos como meios de pagamento o total de haveres monetários possuídos
pelo setor não bancário, de liquidez imediata. O estoque de meios de pagamento
(M) é representado por ( LOPES; VASCONCELLOS, 2000):

M = PMPP + DV
Sendo
M : estoque de meios de pagamento ou oferta de moeda
PMPP: papel-moeda em poder do público, emitido pelo Banco Central
DV: depósitos à vista, nos bancos comerciais

O papel-moeda em poder do público - PMPP é a moeda manual ( moeda metá-


lica + papel-moeda), e o depósito à vista - DV é a moeda escritural ou bancária, é o
valor que o correntista tem depositado nos bancos comerciais. Mas o que dizer das
aplicações financeiras (depósitos a prazo) que rendem juros e possuem alta liquidez?
Segundo definição do Banco Central, as aplicações financeiras são denomi-
nadas quase-moeda cujo surgimento levou a novos conceitos sobre agregados
monetários, classificados de acordo com seus graus de liquidez como afirmam
Lopes e Vasconcellos (2000):

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


57

■■ M1 = Papel moeda em poder do público


+ depósitos à vista
■■ M2 = M1 + título público em poder do
setor privado
■■ M3 = M2 + depósitos de poupança
■■ M4 = M3 + depósitos a prazo e outros
títulos privados

O conceito M1 é o que utilizamos para mensurar o total de oferta de moeda na


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

economia. Do total de moedas criadas pela Casa da Moeda, parte fica como
caixa no Banco Central (reserva), e parte é emitida, veja:

Papel-moeda em circulação = Papel-moeda emitido - Caixa do Banco


Central

Do papel-moeda em circulação, retiramos o dinheiro que fica na forma de


reserva ou caixa nos bancos comerciais e chegamos ao conceito de papel-mo-
eda em poder do público:

Papel-moeda em poder do público = Papel-moeda em circulação - Caixa


nos bancos comerciais.

O processo de criação de moeda

O Banco Central possui o monopólio da emissão de moeda na economia,


mas os bancos comerciais também têm o poder de criar moeda, denominada
moeda escritural. O processo de criação de moeda pelos bancos comerciais é
resultado dos empréstimos de uma fração do dinheiro que é captado de seus
correntistas sob a forma de depósitos à vista. Ao fazer isto, o banco abre novos
depósitos, cria meios de pagamentos adicionais, gerando um efeito multipli-
cador da moeda.

Mas como se dá o processo de criação de moeda pelos bancos comerciais?

Oferta de Moeda
58 UNIDADE II

Para responder esta pergunta, devemos primeiro entender as contas do sis-


tema bancário. O Quadro 1 apresenta o balanço patrimonial simplificado dos
bancos comerciais:
Quadro 1 - Balanço patrimonial simplificado dos bancos comerciais

BALANÇO CONSOLIDADO DOS BANCOS COMERCIAIS


ATIVO PASSIVO

(Aplicação de Recursos) (Origem de Recursos)


Caixa dos Bancos Comerciais Depósito à vista

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reservas Compulsórias Depósito de poupança
Reservas Voluntárias Depósito a prazo
Empréstimos Empréstimos
Títulos Repasses do BNDES e
CEF
Imobilizado Patrimônio líquido
Fonte: adaptado de Mishkin (2002).

Verifica-se, pelo Quadro 1, que os bancos possuem, em seu passivo, os recur-


sos próprios na conta denominada patrimônio líquido e recursos de terceiros,
representados pelos depósitos à vista (dinheiro em conta corrente) e a prazo
(aplicações financeiras do público em títulos de dívida privada, como cader-
neta de poupança, CDB, LCI, LCA etc.), captados junto ao público, além de
outros capitais de terceiros como recursos captados de outros bancos (mercado
interbancário), repasses do BNDES, Caixa Econômica Federal. Em seu ativo,
os bancos constituem as reservas bancárias, que são encaixes utilizados para
fazer frente às suas obrigações (saques diários, descontos de cheques e duplica-
tas), imobilizando o que é necessário às suas atividades operacionais, e possui
a conta investimento, pois eles também investem em títulos públicos e privados
e concedem empréstimos ao setor privado e público com a cobrança de juros
(LOPES; VASCONCELLOS, 2000).
Vamos entender um pouco mais sobre as reservas bancárias. Os bancos for-
mam três tipos de reservas (MISHKIN, 2002):
■■ Caixa dos bancos comerciais - consiste na parcela dos depósitos à vista
(moeda corrente) que fica guardada no banco para compensar o excesso

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


59

de pagamentos sobre recebimentos em papel-moeda, isto é, excesso de


saques em relação aos depósitos.
■■ Reservas voluntárias no Banco Central - são a parcelas dos depósitos à
vista que o banco comercial transfere ao Banco Central para atendem ao
excesso de pagamentos frente a recebimentos na compensação de che-
ques e duplicatas.
■■ Reservas compulsórias no Banco Central - são parcelas dos depósitos
à vista, obrigatoriamente recolhidas pelo Banco Central. São utilizadas
para dois objetivos principais: controlar a oferta de moeda na economia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

e garantir a segurança do sistema bancário, quando os bancos precisam


recorrer a empréstimos no Banco Central.

Assim, a cada R$ 1,00 de depósito à vista, uma parcela fica na forma de reserva
ou encaixe, e o restante o banco utiliza para realizar empréstimos, criando moeda
bancária ou discricionária uma vez que o repasse dos recursos a um terceiro não
reduz os meios de pagamento (oferta de moeda) do depositante. Assim, se a taxa
de reservas bancárias for de 20%, significa que para cada R$ 1,00 de depósito à
vista do público, os bancos emprestam R$ 0,80 e deixam R$ 0,20 na forma de
reserva. Se a taxa de reserva aumentar para 50%, o montante de recursos dispo-
níveis para empréstimo reduz, tornando o crédito mais restrito e, muitas vezes,
mais caro, pois os bancos podem tentar compensar aumentando a taxa de juros
de mercado.

Exemplo 1 do processo de criação de moeda:

Para analisarmos o processo de criação de moeda pelos bancos comerciais,


vamos supor que o público deposite todos os seus recursos no sistema bancá-
rio na forma de depósitos à vista e que os bancos comerciais têm um nível de
reservas compulsórias de 50%. Isso significa que metade do dinheiro depositado
pode ser emprestado, mas que a outra metade deve ser guardada. Suponhamos
também que você deposite R$ 10.000 no Banco A, e este terá depósitos de R$
10.000 e poderá emprestar a metade deles, isto é, R$ 5.000. O que acontece agora
é que os R$ 5.000 emprestados pelo Banco A serão depositados pelo devedor no
Banco B que, por sua vez, repetirá a história, emprestando R$ 2.500 e guardando

Oferta de Moeda
60 UNIDADE II

R$ 2.500. A história repete-se ao longo de dez transações, como podemos ver na


Tabela 1, na qual a coluna de depósitos exibe o total de criação secundária de
moeda (saldos em conta-corrente sacáveis à vista), que tende a R$ 19.881, isto
é, quase o dobro da quantidade de papel-moeda original.
Tabela 1 - Processo de criação de moeda

TRANSAÇÃO BANCO DEPÓSITOS EMPRÉSTIMOS


1 A 10.000,00 5.000,00
2 B 5.000,00 2.500,00

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
3 C 2.500,00 1.250,00
4 D 1.250,00 625,00
5 E 525,00 262,50
6 F 313,00 156,50
7 G 156,00 78,00
8 H 78,00 39,00
9 I 39,00 19,50
10 J 20,00 10,00
    19.881,00  
Fonte: a autora.

Este resultado pode ser facilmente encontrado, aplicando a fórmula do multi-


plicador bancário:

1
Multiplicador � Bancário� =
nível � de
� reservas � compulsória

Assim, ao aplicar a fórmula apresentada, temos:


1
Multiplicador Bancário  2
0, 50

Resposta: o multiplicador bancário = 2 significa que cada R$ 1,00 de reserva


mantido por um banco serve de base para R$ 2,00 de depósitos bancários, em
conta corrente, ou a cada R$1,00 de depósito à vista, criou-se R$ 2,00 de moeda
bancária, por meio dos empréstimos.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


61

Exemplo 2 do processo de criação de moeda:

Vamos supor, agora, que o público retenha 10% dos meios de pagamento na
forma de papel-moeda, e os bancos continuem a manter 50% dos depósitos na
forma de reserva. Imaginemos uma expansão inicial na base monetária de R$
10.000. Qual seria a expansão total dos meios de pagamento?
Para responder a esta questão, devemos conhecer a fórmula do multipli-
cador monetário também conhecido como multiplicador da base monetária,
conforme Lopes e Vasconcellos (2000).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

1
Multiplicador � Monetário = m � =
1 − d (1 − r )

Considere d a parcela dos meios de pagamento que o público mantém como


depósito à vista e r a relação reservas/depósitos à vista dos bancos comerciais.
No exemplo d = 90% e r = 50%, assim, a expansão total dos meios de paga-
mento para cada R$ 10.000 injetado na economia seria:
1
Multiplicador Monetário m 1 8181 x R 10 0000 R$18.181
1 0, 9 1 0, 5

Resposta: para cada R$ 1,00 de depósito à vista, o banco cria R$1,81, o total da
expansão monetária pelo aumento de R$ 10.000 na base monetária foi de R$
18.181,00.
Podemos perceber, pelos dois exemplos, que o valor do multiplicador é tanto
maior quanto maior for a preferência do público por depósito à vista em rela-
ção à retenção de papel-moeda. No primeiro exemplo, consideramos o depósito
de 100% da renda recebida pelo público e o valor do multiplicador era de m
= 2. No segundo exemplo, consideramos que a população retém 10% da renda
recebida na forma de papel-moeda e 90% são colocados nos bancos comerciais
como depósito à vista, e o valor do multiplicador reduz para m =1,81. Também
podemos verificar que o aumento das reservas bancárias reduz o valor do mul-
tiplicador. Em síntese temos:

Oferta de Moeda
62 UNIDADE II

• Quando d m

• Quando r m
Na realidade, para definirmos o multiplicador da moeda na prática, é importante reco-
nhecer que o Banco Central controla as reservas bancárias e a moeda em circulação
(PMPP), mas não controla o percentual de depósitos à vista nos bancos comerciais,
visto que cada cidadão decide o quanto depositar nos bancos. Assim é importante
entendermos o conceito de base monetária (KRUGMAN; WELLS, 2007):

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
� ( B ) = papel − moeda � com
Base � Monetária � o � público ( PMPP ) + Reservas � ( R )

A base monetária representa a quantidade de moeda que pode ser controlada


pelo Banco Central. É importante frisar que a base monetária não é o mesmo
que oferta de moeda por duas razões: a primeira é porque as reservas bancárias
não são consideradas parte da oferta de moeda, pois não estão disponíveis para
gastos, e segundo, os depósitos em conta corrente, que fazem parte da oferta
de moeda, pois estão disponíveis para gastos, não são parte da base monetária.
A Figura 2 mostra os dois conceitos em um esquema. O círculo à direita
representa a oferta de moeda, e o da esquerda, a base monetária. Como se pode
observar, a moeda em circulação (que está fora dos bancos) é parte tanto da base
monetária quanto da oferta de moeda.
Base Oferta
Monetária Monetária

Moeda
Reserva em
Depósito
dos Circulação
em conta
Bancos Corrente

Figura 1 - Base monetária e oferta de moeda


Fonte: a autora.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


63

Agora, podemos definir novamente o multiplicador monetário como sendo a


razão entre oferta de moeda e base monetária (LOPES; VASCONCELLOS, 2000):
� Pagamento � ( M )
Meios � de
� ( m ) =�
multiplicador � monetário
Base � Monetária � ( B )

Assim se a oferta de moeda for de R$ 1.000 e a base monetária de R$ 400,00, o


multiplicador monetário será de:
1 000
multiplicador monetário m 3
400
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INSTRUMENTOS DE CONTROLE MONETÁRIO

O Banco Central atua na economia controlando a oferta de moeda e faz isso por
três mecanismos principais (MISHKIN, 2002):
i. controle das reservas compulsórias;
ii. utilização da política de redesconto;
iii. operações de open-market.

a) Reservas compulsórias

O Banco Central é que determina a taxa de reservas compulsórias que os ban-


cos comerciais devem recolher ao Banco Central para cada R$ 1,00 de depósito
à vista. Vimos que o aumento do percentual de reservas reduz o tamanho do
multiplicador bancário e, consequentemente, o montante de criação de moeda
pelos bancos. Assim, quando a autoridade monetária quer reduzir a Oferta de
Moeda na economia, ele pode aumentar a taxa de reservas bancárias, tendo os
bancos menos recursos disponíveis para emprestar, a multiplicação da moeda
será menor na economia. Por outro lado, quando o Banco Central quer aumen-
tar a oferta de moeda por meio da maior disponibilidade de crédito concedidos
pelos bancos comerciais, ele reduz a taxa de reservas compulsória, e o efeito será
o aumento no tamanho do multiplicador bancário.

Oferta de Moeda
64 UNIDADE II

b) Política de redesconto

Quando os bancos comerciais buscam empréstimos junto ao Banco Central, a


taxa de juros cobrada é denominada taxa de redesconto, que é usada pelo Banco
Central tanto para sinalizar as taxas de juros a serem praticadas pelos bancos
comerciais em suas concessões de empréstimos como para determinar a dispo-
sição dos bancos a buscarem empréstimos junto ao Banco Central para financiar
parte de suas operações de crédito.
Se a taxa de redesconto for muito alta e estiver acima da taxa de mercado

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(taxa de empréstimo dos bancos), os bancos serão mais cautelosos na concessão
de crédito para evitarem recorrer a empréstimos do Banco Central para cobrir a
sua liquidez. Quando os bancos fazem isso, a oferta de moeda reduz.
De outra forma, se a taxa de redesconto estiver abaixo da taxa de juros de
mercado, os bancos possuem incentivos para expandir as suas operações de cré-
dito, tornando-se, inclusive, líquidos, recorrem a empréstimos do Banco Central,
obtendo um ganho com a diferença entre a taxa paga pelo empréstimo junto ao
Banco Central e a taxa de juros que ganha com os empréstimos.

c) Operações de open-market

Este é o principal instrumento de controle monetário adotado no Brasil. O


Banco Central opera no mercado de Títulos Públicos, ora comprando, ora
vendendo. Quando o banco tem o objetivo de reduzir a Oferta de Moeda
na economia, ele atua vendendo parte dos títulos públicos de sua carteira,
retirando, assim, moeda de circulação. Já quando o banco tem o objetivo
de expansão monetária, ele compra títulos públicos que estão em poder do
público, amplia a sua carteira e gera uma monetização na economia, ou seja,
aumenta a moeda em circulação.
É importante destacar que o Tesouro Nacional pode financiar o seu défi-
cit por meio da venda de títulos junto ao público e ao Banco Central. Quando
o governo vende os títulos ao Banco Central, ocorre uma expansão monetária,
monetizando o déficit público.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


65
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DEMANDA POR MOEDA

Agora que já aprendemos como é determinada a oferta de moeda em nossa eco-


nomia, estudarems os fatores que determinam a demanda por moeda realizada
pelos agentes econômicos (famílias, empresas, governo). Também veremos a
relação existente entre a taxa de juros e a demanda por moeda.

TEORIAS DA DEMANDA POR MOEDA

Estudamos, até agora, os fatores que envolvem a oferta de moeda realizada pelo
Banco Central e pelos bancos comerciais. Devemos, agora, analisar quais fato-
res determinam a demanda por moeda pelo público e pelas empresas, isto é,
quais razões levam os indivíduos a reterem um determinado volume de moeda.
Segundo os economistas clássicos do século XVIII e XIX (Adam Smith,
David Ricardo, John Stuart Mill, Jean Baptiste Say e Frederic Bastiat), existem,
fundamentalmente, duas razões principais para os indivíduos reterem moeda
(LOPES; ROSSETTI, 1998):

Demanda por Moeda


66 UNIDADE II

i. Demanda por moeda para transação - os indivíduos necessitam reter


moeda para saldar compromissos passados e realizar transações corren-
tes. Assim, quanto maior o volume de trocas realizadas pelo indivíduo
maior será a sua necessidade de reter moeda. Ao considerarmos que as
trocas dependem da renda, podemos concluir que a demanda por moeda
está diretamente relacionada ao maior ou menor nível de renda.
ii. Demanda por moeda para precaução - os indivíduos retêm moeda
para fazer frente à imprevisibilidade de certas despesas, é uma reserva
de contingência.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A demanda agregada de moeda para o motivo transação, segundo a versão clás-
sica, pode, então, ser expressa, como segue (LOPES;ROSSETTI, 1998):

L = k .P.Y

Sendo
L: demanda agregada de moeda
k: proporção de moeda retida pelo público em relação a um dado nível
de renda
Y: nível de renda ou produto
P: nível geral de preços

Por esta equação, podemos verificar que quanto maior o nível de renda (Y)
maior será a demanda por moeda. Resta-nos entender quais fatores determi-
nam maior ou menor valor da proporção k. Segundo Lopes e Rossetti (1998),
estes fatores são:
■■ a forma com os agentes econômicos (o público e as empresas) distribuem
as suas despesas ao longo do tempo;
■■ o intervalo entre pagamentos e recebimentos, definidos por hábitos
e práticas econômicas das empresas. Por exemplo, quando vamos ao
supermercado, normalmente, pagamos as compras à vista, mas a ener-
gia elétrica que consumimos em nossa residência, pagamos com um
prazo de 30 dias;

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


67

■■ a facilidade de créditos concedidos pelos bancos reduz a necessidade de


retenção de moeda para a cobertura de gastos não programáveis, isto é,
para o motivo precaução;
■■ a existência de substitutos próximos da moeda denominados de quase-mo-
eda, (cartão de débito, cheques, transferências eletrônicas), por terem uma
alta liquidez, reduz a necessidade de manutenção de encaixes monetários;
■■ o maior ou o menor nível da taxa real de juros (taxa nominal de juros des-
contada a taxa de inflação), definida como um custo de oportunidade de
retenção da moeda. Assim, quanto maior for a taxa real de juros, maior
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

será o custo de retenção da moeda e menor será a propensão “k” de reter


moeda por parte do público e das empresas;
■■ quanto maior a inflação na economia (perda do poder de compra do
dinheiro) maior será a demanda por moeda para transação, visto que
precisará de maior volume de moeda para a compra do mesmo produto
ou serviço.

Segundo os economistas clássicos, como a maioria dos fatores que determinam


a propensão do indivíduo em reter moeda (k) é definida de forma institucio-
nal, se uma economia não estiver em um clima inflacionário, esta proporção “k”
é considerada constante no curto prazo, e a demanda por moeda varia direta-
mente com o nível geral de preços.
Em 1936, foi lançado o livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda,
escrito pelo economista John Maynard Keynes. Este livro propôs uma teoria alter-
nativa à teoria clássica sobre a demanda por moeda. Segundo a versão keynesiana,
a demanda por moeda não é realizada apenas para fins transacionais ou para
precaução, mas também para atender oportunidades de especulação. Assim, a
demanda por moeda, na versão keynesiana passou a ser vista sob a influência
de três motivos principais (LOPES ; ROSSETTI, 1998):
■■ motivo transação;
■■ motivo precaução;
■■ motivo especulação ou portfólio.

Demanda por Moeda


68 UNIDADE II

O primeiro e o segundo motivos são semelhantes à versão clássica, mas o motivo


especulação é, especificamente, keynesiano. Considera-se a moeda como um
ativo financeiro, sendo uma forma alternativa aos títulos e às aplicações finan-
ceiras para se guardar a riqueza. A característica da moeda como um ativo
financeiro é que ela não rende juros, pois possui liquidez imediata, assim, o juro
representa um custo de oportunidade, aquilo que o indivíduo deixará de ganhar
se retiver moeda em vez de aplicar em um título que pague juros. Diante disto,
quanto maior a taxa de juros, maior será o custo de oportunidade e menor será
o estímulo para reter moeda.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, a demanda por moeda, na versão keynesiana, é representada como
segue (LOPES; ROSSETTI, 1998):
L = Lt ( �Y )� + Ls ( � i )

em que
L: é a demanda total de moeda
Lt: demanda de moeda para transação e precaução
Ls: demanda de moeda para especulação
Y: nível de renda real
i: taxa de juros

A Figura 3 a seguir apresenta a demanda por moeda para transações na versão


keynesiana. Verifica-se, pelo gráfico (a), que a demanda por moeda varia direta-
mente com a variação da renda nacional, sendo independente da taxa de juros.
Pelo gráfico (b), podemos verificar que o montante da demanda por moeda para
transações desloca-se à medida que ocorrem deslocamentos no montante da
renda nacional. Isto é, quando há crescimento da renda na economia, a demanda
de moeda para o motivo transações também aumenta.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


69

Lt i Y0 Y1

∆Lt
>0
∆Y

0 Y 0 Lt0 Lt1 Lt

(a) (b)
Figura 2 - Demanda agregada de moeda para transação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Fonte: adaptado de Lopes e Rossetti (1998).

A Figura 4 apresenta a demanda por moeda pelo motivo especulação e transação


reunidos. O gráfico (a) apresenta a demanda por moeda pelo motivo especula-
ção, indicando que a retenção de moeda é uma função negativa da taxa de juros.
No entanto a taxas de juros muito baixas a retenção de moeda é perfeitamente
elástica em relação a taxa de juros denominado de armadilha de liquidez. O grá-
fico (b) apresenta a demanda por moeda total e, segundo a versão keynesiana,
quanto maior a taxa de juros, menor a preferência pela liquidez monetária, no
entanto há um determinado volume de demanda por moeda que permanece
inalterado, independente da taxa de juros, que representa a parcela da demanda
por moeda retida para transações.

i i Y0 Y1

Lt Ls

0 Ls 0 L

(a) (b)

Figura 3 - Demanda total de moeda


Fonte: adaptado de Lopes e Rossetti (1998).

Demanda por Moeda


70 UNIDADE II

Assim, a relação entre a taxa de juros e a quantidade de moeda demandada pelo


público é representada por uma curva com inclinação para baixo: se a taxa de
juros for muito baixa, por exemplo, 2% ao ano, como nos EUA, os juros sacri-
ficados por reter moeda são relativamente baixos, e maior será a sua retenção
para o motivo transação. Por outro lado, se a taxa de juros for alta, em torno de
14% ano, como no caso brasileiro, o custo de oportunidade para reter moeda é
muito alto, e as pessoas tenderão a reter menor quantidade de moeda.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Quando você toma uma decisão de investimento em ativos financeiros, ana-
lisa a rentabilidade real dos ativos? Considera a inflação e suas análises?

A TAXA DE JUROS E A DEMANDA POR MOEDA

Vimos que a taxa de juros é um importante fator que determina as decisões


dos agentes em reter, ou não, moeda. Neste sentido, é importante entendermos
o conceito da taxa real de juros, que é o retorno de uma aplicação financeira,
descontado a inflação do período, ou seja, é o retorno em termo de poder de
compra. Matematicamente, representa a diferença entre a taxa nominal de juros
e a inflação. Veja:
r=i-π
em que
r : taxa de juros real
i: taxa de juros nominal
π: taxa de inflação

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


71

Então, qual é a taxa de juros que afeta a demanda por moeda?

Em relação à demanda para especulação, o indivíduo determinará como alocar


a sua riqueza, comparando o retorno de diferentes ativos em termos de poder
de compra. O retorno real de um título é a taxa de juros real, já a moeda não
possui retorno nominal, e seu retorno será a própria variação do seu poder de
compra, que é medido pela taxa de inflação. Assim, ao decidir entre comprar
títulos ou reter moeda, o agente compara os dois retornos: taxa real de juros e a
taxa de inflação. A diferença entre o retorno do título e o da moeda será a pró-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

pria taxa nominal de juros i.


Assim, podemos concluir que a taxa de juros relevante para determinar a
demanda por moeda é a taxa nominal de juros, que, segundo Carvalho (2007),
mostra o quanto o indivíduo está perdendo em termos reais ao reter moeda em
relação à alternativa de investir em títulos.

Efeito Fisher
No entanto, em uma economia inflacionária, para induzir um indivíduo a adqui-
rir um determinado título, a taxa nominal de juros terá que se ajustar à sua
expectativa com relação à inflação futura, sendo denominado efeito Fisher. Veja:
i = r +�π e

em que πe é a taxa de inflação esperada.

Assim, a taxa nominal de juros eleva-se ou por aumento da taxa real de juros
ex ante ( aquela que se espera receber ao fazer determinada aplicação), ou por
aumento na expectativa de inflação. Portanto, a demanda por moeda pode ser
expressa como uma função da renda, da taxa real de juros ex ante e da expecta-
tiva de inflação (CARVALHO, 2007):
d
M e
L f Y r
P

Demanda por Moeda


72 UNIDADE II

d
M 
sendo   a demanda real de moeda.
 P

O efeito Fisher traz importantes implicações na determinação da política econô-


mica. Ao introduzir a taxa nominal de juros como variável explicativa da demanda
por moeda e a expectativa de inflação como um dos elementos que determina
o tamanho da taxa de juros nominal, no momento presente, criamos um vín-
culo entre comportamento futuro do agregado monetário e a taxa de inflação no
momento presente, ou seja, se os agentes esperam que o Banco Central aumente a
oferta de moeda no futuro, esta informação passa a ser incorporada nas expectati-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vas de inflação dos agentes no momento presente (o aumento da oferta de moeda
gera inflação), elevando a taxa de juros nominal. Isto reduz a demanda por moeda,
gerando excesso de oferta, o que levará ao aumento dos preços, no presente, para
equilibrar a oferta e a demanda por moeda. Neste sentido, a inflação pode ocorrer
antes mesmo da emissão monetária (LOPES; VASCONCELLO, 2000).
Por outro lado, se houver expectativa de que o Banco Central reduzirá a oferta
de moeda no futuro, as expectativas de inflação serão para baixo, e a taxa de juros
nominal reduz no presente, aumentando a demanda por moeda para transação,
e os preços terão de reduzir para equilibrar o mercado monetário. Assim, se o
governo tiver credibilidade, ele consegue reduzir a inflação no presente, com um
simples anúncio de que no futuro adotará políticas restritivas.

Trabalho de James Tobin

Outro trabalho importante na definição da demanda por moeda foi o traba-


lho de James Tobin, publicado em 1958, em que inclui na função demanda por
moeda a rentabilidade dos diversos ativos existentes e o estoque de riqueza a
ser alocado. Veja:
d
M M e
L r1 r2 rn W
P P
em que
r1, r2,... rn: rentabilidade real dos n ativos existentes na economia (máqui-
nas, equipamentos, ações , títulos etc.)

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


73

πe: expectativa de inflação


W: estoque de riqueza

Segundo este modelo de Tobin, a demanda por moeda varia, inversamente,


com a rentabilidade dos demais ativos e com a expectativa de inflação e, positi-
vamente, com a riqueza ( CARVALHO, 2007). Veja:
■■ Se o estoque de riqueza (W) aumentar, aumentará a demanda por todos
os ativos, inclusive a moeda.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ Se a rentabilidade de qualquer ativo se elevar, aumentará a demanda por


este ativo, reduzindo a dos demais ativos.
■■ Se aumentar a expectativa de inflação, significa uma queda na rentabili-
dade da moeda (perda do poder de compra), reduzindo a demanda por
moeda, fazendo com que as pessoas procurem outros ativos.

Dada uma inflação de 6 % ao ano, o que compensa mais: aplicar o seu di-
nheiro na poupança, rendendo 7% ao ano de juros nominal, aplicar em Títu-
los do governo com um rendimento nominal de 11% ano, ou gastar todo o
dinheiro comprando bens e serviço?

Desta forma, podemos verificar que a demanda por moeda depende do custo de
oportunidade da moeda, que é medido pela rentabilidade dos ativos financeiros.
Vimos que a taxa de juros é utilizada como medida desta rentabilidade, assim, o
indivíduo decidirá se reterá moeda para utilizar em suas transações comerciais
ou se deixará este recurso aplicado em ativo financeiro (títulos) que rende juros,
sendo esta uma forma de substituir o consumo presente pelo consumo futuro.

Demanda por Moeda


74 UNIDADE II

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, aprendemos como uma economia monetária, com a utilização


da moeda como intermediário de troca, melhora a vida de todos nós. Com o
aparecimento da moeda, as trocas foram facilitadas, permitindo que o comér-
cio e a indústria pudessem se desenvolver. Vimos que, com o aparecimento das
moedas metálicas cunhadas em ouro e prata, muitos problemas encontrados nas
moedas mercadorias, como sal, trigo e, até mesmo, o gado, foram solucionados.
No entanto outros problemas apareceram, sendo o principal os assaltos ocor-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ridos durante o transporte da moeda para se realizar as trocas. Surge, assim, o
aparecimento das casas de custódia, onde as pessoas podiam depositar as suas
moedas feitas com metais preciosos em troca do recebimento dos certificados de
depósito, com garantia de plena conversibilidade, denominada de moeda-papel.
Como a conversão da moeda-papel em metais preciosos não era solicitada
ao mesmo tempo por todos os seus detentores, as casas de custódia começaram
a emitir certificados de depósito sem lastro de conversão, dando origem à moeda
fiduciária ou papel-moeda.
Hoje, a oferta de moeda na economia é definida pela classificação M1 do
Banco Central, representado pelo papel-moeda em poder do público (papel-mo-
eda + moeda metálica) mais os depósitos à vista, que é o dinheiro que deixamos
nos bancos em nossa conta corrente. Aprendemos que os bancos deixam parte
destes depósitos na forma de reservas e a outra parte ele empresta, criando meios
de pagamentos na economia, gerando, assim, um efeito multiplicador da moeda.
Também aprendemos que existem três motivos para retermos moeda: quere-
mos moeda para pagar nossas contas e comprar bens e serviços, para nos prevenir
da ocorrência de eventos que gerem despesas extras e, por último, para aplicar
em títulos financeiros que rendem juros.
Neste sentido, aprendemos que existe relação direta entre a renda e a demanda
por moeda e uma relação inversa entre a demanda por moeda e a taxa de juros,
sendo, agora, este visto como um custo de oportunidade.

SISTEMA MONETÁRIO: OFERTA E DEMANDA DE MOEDA


75

A TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA

O economista clássico norte-americano Irving Fisher, ao estudar a demanda por moeda


pelo motivo transação, verificou que havia relação direta entre o aumento do volume de
moeda na economia com o aumento do nível geral de preços. Para explicar como isto
acontecia, elaborou uma equação conhecida como equação quantitativa da moeda,
que fornece uma relação entre a quantidade de moeda em circulação e o valor total das
transações realizadas e liquidadas em moeda. A expressão algébrica é dada por:

MV = PT
em que
M: e a quantidade total de moeda
V: velocidade de circulação da moeda
P: nível geral de preços
T: número de transações
Assim, o produto da quantidade de moeda, pela sua velocidade de circulação, é igual
à soma de todos os preços multiplicados pelo volume de mercadorias transacionadas.
A velocidade de circulação da moeda representa o giro de uma unidade monetária em
um dado período de tempo, representando quantas vezes esta moeda muda de mãos
por causa das trocas. Por exemplo, quando você gasta R$ 10,00 em uma padaria para
pagar o seu café da manhã, esta mesma nota de R$ 10,00 vai ser utilizada pelo dono da
padaria para dar troco e a pessoa que pegou o troco pode utilizar esta nota para pagar
outros itens, como o estacionamento, e assim por diante.
Para facilitar o entendimento desta teoria, podemos transformar a equação quantitativa
da moeda, utilizando, no lugar do número de transações (T), o produto (renda) da eco-
nomia (Y), representado pelo PIB nominal. Podemos reescrever a equação quantitativa
da moeda da seguinte forma:
MV = PY
em que
Y : produto real
V: velocidade renda da moeda
Esta equação diz que a quantidade de moeda nominal multiplicada pela velocidade da
moeda é igual ao PIB nominal.
Podemos reescrever a equação apresentada para estabelecer uma relação entre a quan-
tidade de moeda (M) e o produto nominal (PY):
76

1
M =� PY
V
Supondo constante a velocidade de circulação da moeda (V), a equação quantitativa
fornece a primeira explicação para o surgimento da inflação, visto que toda variação
no estoque de moeda deverá gerar a variação proporcional no produto nominal (PY).
Considerando que, no curto prazo, o produto seja constante, decorrente da demora na
resposta da produção, temos que a variação na quantidade de moeda (aumenta o con-
sumo) acarretará aumento proporcional no nível de preços. Assim, o aumento contínuo
da oferta na oferta de moeda leva ao aumento contínuo da inflação.
O mecanismo de transmissão ocorre da seguinte forma: o aumento da oferta de mo-
eda leva os indivíduos a aumentarem a demanda por bens e serviços, como o setor
produtivo não responde tão rapidamente ao aumento da demanda, pode ocorrer ex-
cesso de demanda, levando a posterior aumento de preços para restaurar o equilíbrio
no mercado de bens e serviços.

Fonte: Lopes e Vasconcellos (2000)..


77

1. Sobre a evolução histórica da moeda, tem-se que a existência de uma economia


monetária só aparece de forma definitiva a partir do século XV, com a utilização
da moeda metálica, feita de ouro e prata, utilizada em grande escala como in-
termediária de troca. Sobre este tipo de moeda, leia as afirmativas e assinale
a alternativa correta:
I. A moeda metálica resolve o problema da perecibilidade e da divisibilidade
encontrada em outros tipos de moeda mercadoria, mas traz outros dois: o
custo do transporte, decorrente de seu volume, e o risco de assaltos.
II. O custo dos transportes da moeda metálica foram determinantes para a deci-
são de se manterem as moedas em casas de custódia.
III. Quando a moeda metálica era colocada nas casas de custódias, eram dados
em troca certificados de depósito, os quais, por comodidade e segurança, co-
meçaram a circular no lugar dos metais monetários.
IV. Os certificados de custódia davam a seus titulares o direito de retirarem o
equivalente de ouro e prata junto às casas de custódia a qualquer momento.
a) Somente I e II estão corretas.
b) Somente II e III estão corretas.
c) Somente I, II e IV estão corretas.
d) Somente I, III e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.
2. Na versão clássica, a oferta de moeda é determinada pelo Banco Central, sen-
do exógena ao sistema, por outro lado, a demanda por moeda é determinada
por dois motivos principais. Assinale a alternativa que apresenta esses dois
motivos:
a) Transação e especulação.
b) Precaução e transação.
c) Especulação e precaução.
d) Propensão ao entesouramento e transação.
e) Especulação e investimento.
78

3. Vamos admitir que se ampliem os intervalos entre pagamentos e recebimentos,


que se torne mais difícil conseguir crédito junto aos bancos e que se verifique que-
da na taxa de juros, qual o impacto disto na oferta de moeda?
a) A oferta de moeda tende a cair.
b) A oferta de moeda permanece inalterada.
c) A oferta de moeda tende a aumentar.
d) A oferta de moeda só aumentará se, além dos fatores definidos, existirem
substitutos próximos da moeda, como cartão de débito.
e) Todas as alternativas estão erradas.
4. Com relação ao processo de criação de moeda, vamos supor que 80% dos meios
de pagamentos são retidos pelo público, sob a forma de depósitos à vista, nos
bancos comerciais. Destes depósitos à vista, 30% são recolhidos pelo Banco Cen-
tral do Brasil sob a forma de recolhimentos compulsórios, e 7,5% são retidos pelo
próprio banco comercial para reserva de caixa. Diante disso, calcule o valor do
multiplicador monetário:
Fórmula:
1
Multiplicador � Monetário = m � =
1 − d (1 − r )
Sendo d a parcela dos meios de pagamento que o público mantém como depó-
sito à vista, e r a relação reservas/depósitos à vista dos bancos comerciais.
5. Supondo que o multiplicador monetário seja igual 2,5, calcule a expansão dos
meios de pagamentos (oferta de moeda) quando o Banco Central aumenta
R$ 1.000.000,00 na base monetária.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Macroeconomia
Oliver Blanchard
Editora: Pearson Education
Sinopse: por meio dessa edição de Macroeconomia, o autor Olivier Blanchard
teve dois objetivos principais: estreitar o contato com os fatos macroeconômicos
atuais – como a introdução de uma nova moeda na Europa Ocidental, a
eliminação dos déficits orçamentários nos Estados Unidos, a transformação
da Europa Oriental, a crise na Ásia. Esses eventos – e muitos mais – estão
descritos no livro, em boxes pormenorizados, cada um deles mostrando como a
macroeconomia pode ser aplicada para entender o que aconteceu; o segundo
objetivo foi oferecer uma visão integrada da macroeconomia. 
Agora o livro se organiza em duas partes importantes, um fundamento e um conjunto de três
extensões principais. O fundamento apresenta uma visão integrada do curto prazo, do médio
prazo e do longo prazo. As três extensões examinam o papel das expectativas, as implicações
da abertura, e as patologias, do desemprego elevado à hiperinflação. Isto tem duas vantagens:
permite ao leitor obter rapidamente uma visão integrada da macroeconomia e das flutuações de
curto prazo ao crescimento.

Caro(a) aluno(a), sugiro este vídeo para que você possa ampliar um pouco mais seu
conhecimento sobre a evolução da moeda. Ele apresenta, de forma simples e didática,
como se deu a evolução da moeda na economia brasileira até a implantação do Plano
Real. Você conhecerá todos os tipos de moeda que tivemos. Confira o vídeo no link :
<www.youtube.com/watch?v=i6pPim5TQLM>.

Material Complementar
80
REFERÊNCIAS

CARVALHO, F. J. C. et al. Economia Monetária e Financeira. Rio de Janeiro: Campus,


2007.
KRUGMAN, P; WELLS, R. Introdução à Economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
LOPES, J.; ROSSETTI, J. Economia Monetária. São Paulo: Atlas, 1998.
LOPES, L. M; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia. São Paulo: Atlas,
2000.
MISHKIN, F. The economics of money, banking and financial markets. 6. ed. atu-
alizada. Addison Wesley Longman, 2002.
81
GABARITO

1. D
2. B
3. C

Questão 4:
Sendo d a parcela dos meios de pagamento que o público mantém como depósito
à vista, e r a relação reservas/depósitos à vista dos bancos comerciais,
no exemplo d = 80% e r = 37,5%, assim o valor do multiplicador monetário é:

1 1
Multiplicador Monetário m 2
1 d 1 r 1 0, 8 1 0, 375

Resposta: o valor do multiplicador monetário é igual a 2, significando que, para cada


R$ 1,00 de depósito à vista, o banco cria R$ 2,00.
Questão 5:
Dado que a base monetária aumentou R$ 1.000.000,00, e que o multiplicador mo-
netário é igual a 2,5, o aumento da oferta de moeda é de:

� Pagamento � ( M )
Meios � de
� ( m ) =�
multiplicador � monetário
Base � Monetária � ( B )
Meios de Pagamento M 2 5 x R 1.000.000 R 2.500.000, 00
Resposta: o meios de pagamento aumentaram R$ 2.500.000,00.
Professora Dra. Juliana Franco Afonso

POLÍTICA MONETÁRIA E

III
UNIDADE
PRODUTOS FINANCEIROS

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar o conceito de moeda e sua relação com a determinação
da taxa de juros.
■■ Ensinar como o governo utiliza a política monetária para estimular o
crescimento econômico e os instrumentos que utiliza para alcançar
seus objetivos.
■■ Mostrar os principais produtos financeiros que são negociados no
mercado monetário.

Plano de Estudo
■■ A moeda e a taxa de Juros
■■ Objetivos de política e política monetária
■■ Produtos financeiros
85

INTRODUÇÃO

Este estudo visa apresentar a você, de forma simples e objetiva, como a taxa
de juros é determinada no mercado monetário, e o que acontece na economia
quando esta taxa está fora da sua condição de equilíbrio. Como órgão emissor
da moeda, o Banco Central também é a instituição executora da política mone-
tária na economia, a qual consiste no uso de mecanismos operacionais que visam
controlar a oferta de moeda e a taxa básica de juros.
Mostrarei que o governo utiliza-se de meios para alcançar seus objetivos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

macroeconômicos que se configuram em: prover o crescimento econômico da


nação, controle da inflação, redução do desemprego, distribuição equitativa
da renda e equilíbrio no balanço de pagamento. Para alcançar tais objetivos, o
governo utiliza-se de várias políticas: política fiscal, política de renda, política
cambial e política monetária. Neste sentido, apresentarei cada uma delas e sua
importância, com destaque para a execução da política monetária e seus instru-
mentos de operacionalização.
Veremos, também, que determinados objetivos de política não conseguem
ser alcançados de forma conjunta, ou seja, que existe um trade off de política
(relação inversa) fazendo com que alguns grupos de agentes econômicos fiquem
prejudicados enquanto outros grupos são beneficiados.
Por fim, apresentarei a vocês os produtos financeiros que são negociados no
mercado monetário, considerados ativos de renda fixa, de baixo risco, alta liqui-
dez e reduzidos prazos de resgate. Veremos que estes ativos são importantes na
formação das duas principais taxas de juros da economia: a taxa Selic e a taxa
DI, que são os principais indexadores dos títulos de dívida pública e privada.
Assim, por meio deste estudo, você conhecerá as principais oportunidades
de investimentos de baixo risco e suas formas de remuneração, podendo ser a
porta de entrada para que se torne também um investidor, que comece a fazer
o dinheiro trabalhar para você em vez de trabalhar para ele.
Boa leitura!

Introdução
86 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A MOEDA E A TAXA DE JUROS

Sabemos que a remuneração da moeda é dada pela taxa de juros, sendo conside-
rada como um custo de oportunidade. Neste sentido, devemos entender como as
taxas de juros são formadas na economia. Para simplificar nosso entendimento,
vamos supor que exista apenas uma taxa de juros que é paga sobre os ativos
financeiros não monetários tanto no curto como no longo prazo. Utilizaremos
esta simplificação para entendermos a formação da taxa de juros na formação
do equilíbrio, no mercado monetário. Entendido como as taxas de juros são for-
madas, apresentarei a você quais são as taxas de juros do mercado financeiro.

TAXA DE JUROS DE EQUILÍBRIO

De acordo com Krugman e Wells (2007), o modelo de determinação da taxa


de juros com base na preferência do público por liquidez está fundamentada
no fato de que a taxa de juros é determinada no mercado de oferta e demanda
por moeda, por meio de uma condição de equilíbrio.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


87

O equilíbrio, no mercado monetário, ocorre quando a quantidade ofertada


(Ms) de moeda é igual à sua quantidade demandada. Aquela é determinada pelo
Banco Central, e esta é determinada pela decisão dos agentes em reter moeda,
dada pela fórmula:
L Pf Y i

em que
P: nível geral de preço
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Y: renda ou produto nacional


i: taxa de juros nominal

Substituindo-se as equações de demanda e oferta nesta condição de equilí-


brio, obtém-se a equação da curva LM, que representa o equilíbrio no mercado
monetário:
LM:
M =� L
M Pf Y i

Esta equação de equilíbrio também pode ser expressa em termos da demanda


agregada real:
M
f Y i
P
A Figura 1 mostra o equilíbrio no mercado monetário. A curva de oferta de
moeda, M, é vertical porque é determinada pelo Banco Central. Diferentemente,
a curva de demanda por moeda é negativamente inclinada, pois quanto maior a
taxa de juros maior o custo de oportunidade. Assim, de maneira simples, pode-
mos perceber, pela Figura 1, que a taxa de juros de equilíbrio é aquela igual à
demanda e à oferta de moeda.

A Moeda e a Taxa de Juros


88 UNIDADE III

Taxa de
juros Oferta

Equilíbrio

i0
Demanda

Quantidade

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de moeda
nominal
Figura 1 - Equilíbrio no mercado de moeda
Fonte: a autora.

Mas o que aconteceria se a taxa de juros não fosse a taxa de equilíbrio?

Vamos supor que a taxa de juros está mais elevada que a taxa de juros de equilíbrio
(i1 > i0) . Quando isso acontece, a demanda por moeda pela população é menor
que a oferta de moeda, pois as pessoas preferem ter menos dinheiro líquido em
mãos, aplicando o máximo que puderem em ativos que rendem juros (depósitos a
prazo, renda fixa etc.). O aumento da demanda por estes tipos de ativos, também
denominados títulos financeiros, provocará a redução dos juros pagos por eles,
pois suas entidades emissoras não terão que oferecer altos pagamentos de juros
para atrair dinheiro, e a taxa de juros converge para a taxa de juros de equilíbrio.
Por outro lado, se a taxa de juros está mais baixa que a taxa de juros de
equilíbrio (i1 < i0), a população preferirá ter mais dinheiro líquido a ter dinheiro
aplicado nos ativos financeiros que rendem juros e, na tentativa de transferir a
sua riqueza, acabam pressionando a taxa de juros para cima, em direção à taxa
de juros de equilíbrio.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


89

Qual o efeito do aumento na oferta de moeda sobre a taxa de juros?

O Banco Central pode adotar uma política monetária expansionista (aumento


da oferta de moeda) com o objetivo de baixar a taxa de juros. A Figura 2 apre-
senta o que acontece quando a oferta de moeda aumenta:

Taxa de
juros Oferta
Oferta2
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Equilíbrio

Equilíbrio
i0
Demanda

Quantidade
de moeda
nominal
Figura 2 - Efeito de um aumento na oferta de moeda sobre a taxa de juros
Fonte: a autora.

Pela Figura 2, podemos ver como se dá o mecanismo de transmissão da polí-


tica monetária: um aumento da oferta de moeda pelo Banco Central desloca a
curva de oferta de moeda para a direita. Ao mesmo nível de taxa de juros (i0), a
demanda por moeda permaneceria a mesma, ocasionando um excesso de oferta
de moeda. Como consequência, a taxa de juros cai, até que o mercado alcance
um novo equilíbrio. A uma taxa de juros mais baixa, a preferência do público
por reter liquidez aumenta.

A Moeda e a Taxa de Juros


90 UNIDADE III

Qual o efeito da redução na oferta de moeda sobre a taxa de juros?

O Banco Central pode adotar a política monetária contracionista (reduzindo a


oferta de moeda) com o objetivo de aumentar a taxa de juros. A Figura 3 apre-
senta o que acontece quando a oferta de moeda reduz:

Equilíbrio
Taxa de
juros Oferta2 Oferta

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Equilíbrio

i0
Demanda

Quantidade
de moeda
nominal
Figura 3 - Efeito de uma redução da oferta de moeda sobre a taxa de juros
Fonte: a autora.

Pela Figura 3, podemos ver que uma redução oferta de moeda pelo Banco Central
desloca a curva de oferta de moeda para a esquerda. Ao mesmo nível de taxa de
juros (i0), a demanda por moeda permaneceria a mesma, ocasionando um excesso
de demanda por moeda. Como consequência a taxa de juros sobe até que o mer-
cado alcance um novo equilíbrio. A uma taxa de juros mais alta, a preferência
do público por reter liquidez reduz, visto que o custo de reter moeda aumenta,
e o público aumenta a sua demanda por ativos financeiros que rendem juros.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


91

Qual o efeito do aumento na renda nacional sobre a taxa de juros?

Taxa de
juros Oferta2
Oferta
Equilíbrio2

Equilíbrio

i0
Demanda
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Quantidade
de moeda
nominal
Figura 4 - Efeito do aumento da renda sobre a taxa de juros
Fonte: a autora.

O aumento de renda da população causa impacto positivo da demanda por


moeda. A oferta de moeda é determinada pelo Banco Central, e este aumento da
demanda por moeda, dada a taxa de juros, ocasiona um excesso de demanda por
liquidez, e a taxa de juros começa a aumentar na economia, pois o setor finan-
ceiro aumentará a remuneração dos títulos para atrair dinheiro. Isto acontece
até que novo equilíbrio seja alcançado, agora, com a taxa de juros mais elevada.
Segundo Blanchard (2007), como o equilíbrio dos mercados financeiros
implica aumento da renda, leva ao aumento da taxa de juros, podemos derivar
a curva LM, que representa o equilíbrio no mercado monetário como sendo a
função entre taxa de juros e renda nacional ou produto nacional. Veja:

A Moeda e a Taxa de Juros


92 UNIDADE III

MS

curva LM

A’ A’
Taxa de juros, i

Taxa de juros, i
i’ i’

M d’
(para Y>Y)
A A
i i

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
M d (para Y)

M/P Y Y’
Moeda (real), M/P Renda, Y
(a) (b)
Figura 5 - Derivação da curva LM
Fonte: Blanchard (2007).

Assim, para cada oferta de moeda, o equilíbrio dos mercados monetários indica
que o aumento do nível de renda (que aumenta a demanda por moeda) leva ao
aumento da taxa de juros. Diante disso, podemos constatar que o crescimento
econômico, com aumento do emprego e da renda, gera aumento da demanda
por moeda para o motivo transação, e dada a oferta de moeda, a taxa de juros
de equilíbrio da economia eleva-se.

A determinação da Taxa de Juros em uma economia com inflação: regra


de Taylor
Em uma economia, como a brasileira, cuja política monetária é conduzida
sob um regime de meta de inflação, a taxa de juros básica da economia é
determinada segundo a proposta de Taylor, que leva em consideração qua-
tro fatores básicos: (a) a inflação; (b) a taxa de juros real de equilíbrio; (c) a
diferença entre a inflação observada e a meta; e (d) o hiato entre o produto
efetivo e o potencial. De acordo com a proposta original de Taylor, a taxa
básica de juros é obtida pela seguinte equação:

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


93

it t r* g yt h t
*

em que
ti: taxa básica de juros nominais no período t
π*: taxa real de juros de equilíbrio
πt = taxa média da inflação de um determinado período de tempo
π*: meta de inflação
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PIB real PIB potencial


yt hiato do produto 100
PIB potencial
Segundo Mendonça et al. (2005), os dois primeiros fatores (inflação e taxa
de juros real) servem de referência para o caso em que a economia encon-
tra-se funcionando no nível potencial. Já os outros dois fatores subsequen-
tes representam os objetivos da política monetária, sendo que os parâme-
tros de ajuste se referem ao trade-off de curto prazo entre a inflação e o
produto. O terceiro fator indica quando a inflação está acima da meta a taxa
de juros aumenta e quando a inflação está abaixo da meta a taxa de juros
se reduz. Já o quarto fator indica que, no caso de uma diferença positiva (ou
negativa) entre o produto efetivo e o produto potencial (capacidade total
de produção da economia), deve haver um aumento (ou uma queda) na
taxa de juros.
Fonte: adaptado de Mendonça et al. (2005, on-line)1.

TAXA DE JUROS DO MERCADO FINANCEIRO

Agora que já sabemos como as taxas de juros são formadas no mercado mone-
tário, é importante sabermos que existem várias taxas de juros que são tomadas
como base ou referência nas transações financeiras. Vamos aprender sobre as
principais: taxa DI, taxa Selic, taxa referencial de juros (TR), taxa financeira
básica (TBF) e taxa de juros de longo prazo (TJLP).

A Moeda e a Taxa de Juros


94 UNIDADE III

A taxa Selic

Primeiramente, conheceremos o Selic ou Sistema Especial de Liquidação


e Custódia que foi desenvolvido pelo Banco Central do Brasil e a Andima
(Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), em 1979, voltado a
operar com títulos públicos de emissão do Banco Central e do Tesouro Nacional.
Esse sistema é constituído, na verdade, num grande computador que tem por
finalidade controlar e liquidar, financeiramente, as operações de compra e de
venda de títulos públicos e manter sua custódia física e escritural.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Os pagamentos no Selic processam-se por meio de reservas bancárias, e as
transferências dos títulos entre os investidores somente são autorizadas pelo sis-
tema mediante movimentações nessas reservas (ASSAF NETO, 2014).
A taxa de juros apurada diariamente nas negociações destes títulos é conhecida
como taxa Selic. Esta taxa é fixada pelo Banco Central pelo Copom (Comitê de
Política Monetária), sendo considerada a de mais baixo risco. Por isso, é utilizada
como a taxa de referência para as demais taxas de juros do mercado financeiro.
Segundo o Banco Central, a sua formulação básica é dada por (ASSAF
NETO, 2014):
252
k j xV j
Taxa Selic a.a. 1 1 x100 ao ano
Vj

em que
Kj: taxa diária aplicada a j - ésima operação
Vj: valor (R$) da j = ésima operação

Verifica-se que a taxa Selic é determinada pela capitalização da taxa média pon-
derada das operações por dia útil, que, por resolução do Banco Central, são 252
dias úteis no ano. Por meio do Selic, as instituições financeiras podem adquirir
e vender títulos todos os dias, criando uma taxa diária conhecida como overni-
ght e representativa das operações de um dia útil.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


95

Como os títulos negociados no Selic são de grande liquidez e, teoricamente,


de risco mínimo (títulos públicos), a taxa definida no âmbito desse sistema é
aceita como uma taxa livre de risco da economia, servindo de importante refe-
rencial para a formação dos juros de mercado (taxa básica de juros).

A taxa DI

A Cetip ou Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados


passou a funcionar, a partir de 1986, como um sistema bastante semelhante
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

ao Selic, porém abrigando títulos privados. É uma das maiores empresas de


liquidação financeira e custódia da América Latina, e suas atividades são regu-
lamentadas e fiscalizadas pelo Banco Central. A Cetip constitui-se como um
mercado de balcão, organizado para registro da negociação de títulos e valores
mobiliários de renda fixa.
Registra, custodia e liquida também títulos públicos estaduais e municipais,
emitidos após 1992, títulos esses representativos de dívidas de responsabili-
dade do Tesouro Nacional bem como todos os créditos securitizados da União,
da dívida agrícola, dos títulos da dívida agrária e dos certificados financeiros
do Tesouro.
O principal título do sistema Cetip é o certificado de depósito interfinan-
ceiro (CDI), que permite transferência de recursos (liquidez) entre as instituições
do sistema financeiro. A Cetip opera, também, com outros títulos, como CDB,
debêntures, “Commercial Papers” (notas promissórias), Letras Financeiras do
Tesouro (LFT) etc. (ASSAF NETO, 2014).
Mas como acontecem as operações financeiras na Cetip?
Essas operações processam-se por transferências bancárias de fundos (che-
ques ou outra forma equivalente), e somente após as respectivas compensações
é que o sistema providencia as transferências da custódia dos títulos.
As taxas CDI ou DI são formadas nas trocas financeiras do mercado inter-
bancário, sendo, como a Selic, utilizada como referência no mercado financeiro,
e utilizada na formação das demais taxas de juros. Este mercado procura man-
ter o equilíbrio do sistema, transferindo recursos de agentes superavitários, para
aqueles que demandam liquidez.

A Moeda e a Taxa de Juros


96 UNIDADE III

Os dois sistemas de liquidação e custódia (Selic e Cetip) têm por obje-


tivo básico promover a boa liquidação das operações do mercado monetário,
propiciando mais segurança e autenticidade aos negócios realizados. Por sua
importância no volume de operações no mercado monetário, ambos divulgam,
periodicamente, duas taxas de juros amplamente adotadas pelos agentes econô-
micos, a taxa Selic e a taxa Cetip (ASSAF NETO, 2014).
Atualmente, com a entrada em funcionamento do Sistema Brasileiro de
Pagamentos (SBP), a liquidação das operações na Cetip faz-se no momento zero,
ou seja, no mesmo dia, e não mais no dia seguinte, mediante a compensação de

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cheques. Em termos de liquidação financeira das operações, os sistemas Selic e
Cetip passaram a ter o mesmo procedimento de pagamento (ASSAF NETO, 2014).

Como a taxa Selic influencia as demais taxas de juros, como a do financia-


mento de veículos?

Como já descrito, a taxa Selic é a taxa média ponderada e ajustada de operações


de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais. O Copom
(Comitê de Política Monetária) determina a meta para a taxa Selic, a qual serve
apenas para balizar as taxas praticadas pelo mercado. Eventualmente, a mesa de
operações do mercado aberto do Banco Central pode entrar no mercado, ora
vendendo títulos, ora resgatando títulos públicos para garantir que a taxa diária
fique próxima da meta determinada pelo Copom.
Segundo os analistas do site “Minhas Economias”, as taxas de juros de mercado
para os financiamentos de longo prazo são definidas levando em considera-
ção as expectativas dos agentes financeiros em relação à evolução da taxa Selic,
através do mercado de derivativos, principalmente o mercado de DI Futuro da
BM&FBovespa. Os relatórios e dados divulgados pelo Banco Central, dados eco-
nômicos e outras tantas informações afetam as taxas de juros a todo instante.
Diante disto, a definição de uma meta para a taxa Selic, nas reuniões do Copom
serve para balizar as expectativas do mercado em relação aos próximos passos
do Banco Central na condução da política monetária.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


97

Na figura a seguir, tem-se o histórico da taxa Selic meta, desde jul. 1996.
HISTÓRICO TAXA SELIC META
45

40

35
Taxa Selic (% ao ano)

30

25
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

20
12,75
15

10

5
jul-96
jan-97
jul-97
jan-98
jul-98
jan-99
jul-99
jan-00
jul-00
jan-01
jul-01
jan-02
jul-02
jan-03
jul-03
jan-04
jul-04
jan-05
jul-05
jan-06
jul-06
jan-07
jul-07
jan-08
jul-08
jan-09
jul-09
jan-10
jul-10
jan-11
jul-11
jan-12
jul-12
jan-13
jul-13
jan-14
jul-14
jan-15
Figura 6 - Histórico da taxa Selic
Fonte:Minhas Economias (2015, on-line)2.

Taxa referencial de juros (TR)

Segundo Kerr (2011), a taxa referencial (TR) foi criada em 1991 com o objetivo
de ser uma taxa referencial dos juros e promover a substituição da indexação
presente na economia que era realizada pela ORTN (Obrigações Reajustáveis
do Tesouro Nacional), Bônus do Tesouro Nacional (BTN) entre outros. A TR é
obtida pela média ponderada mensal das taxas de remuneração dos títulos de
dívida privada: Certificados de Depósitos Bancários (CDB) e dos Recibos de
Depósitos Bancários (RDB) prefixados das trinta maiores instituições financei-
ras cujo rendimento médio é atrelado ao CDI. Sobre a média apurada das taxas
dos CDBs/RDBs, é aplicado um redutor que varia mensalmente.
Esta taxa é apurada e anunciada mensalmente pelo governo e utilizada no
cálculo do rendimento de vários investimentos, tais como:  títulos públicos, cader-
neta de poupança, FGTS, títulos da dívida agrária  e outras operações, como
empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), pagamentos a prazo
e seguros em geral.

A Moeda e a Taxa de Juros


98 UNIDADE III

Taxa de juros de longo prazo (TJLP)

A TJLP foi criada para remunerar os contratos de longo prazo. Segundo Assaf
Neto (2014), esta taxa veio substituir, definitivamente, a indexação na economia
brasileira, tendo um prazo de vigência de três meses.
Segundo Kerr (2011), são considerados os seguintes fatores no cálculo da
TJLP: a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional e prêmio
de risco, que incorpora a taxa de juros real internacional e um componente de
risco Brasil perspectiva de médio e longo prazo.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A TJLP é aplicada em:
■■ linhas de financiamento do BNDES;
■■ recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT);
■■ fundo de participação PIS-PASEP;
■■ Fundo de Marinha Mercante (FMM).
A Figura 7 apresenta a evolução da taxa Selic e da TJLP. Verifica-se que, quando a
inflação está alta, o Banco Central aumenta a taxa Selic para desaquecer o mercado.

18,00
16,00
14,25
14,00 13,75
12,00 12,50

10,00
8,00 7,50
6,00
6,00
5,00
4,00
2,00
0,00
jan-06
jul-06
jan-07
jul-07
jan-08
jul-08
jan-09
jul-09
jan-10
jul-10
jan-11
jul-11
jan-12
jul-12
jan-13
jul-13
jan-14
jul-14
jan-15
jul-15
jan-16
jul-16
jan-17

Selic TJLP

Figura 7 - Histórico da taxa Selic e TJLP


Fonte: Portal Apeop (2017, on-line)3.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


99

Com juros mais altos, as pessoas e empresas tendem a consumir menos e, por-
tanto, a atividade econômica cede, assim como a inflação. No entanto a TJLP
também é uma taxa de juros básica, pois pauta os empréstimos do BNDES e não
muda com as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom). Assim, na
prática, há duas taxas básicas de juros: uma taxa de juros baixa para quem tem
acesso ao BNDES, e outra taxa de juros alta que baliza os empréstimos para as
demais pessoas e empresas.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OBJETIVOS DE POLÍTICA E A POLÍTICA MONETÁRIA

Esta seção destina-se ao estudo da política monetária, procurando mostrar os


seus objetivos, os instrumentos utilizados pelo Banco Central no seu exercício e
sua verdadeira eficácia. Inicialmente, apresentarei o conceito de política monetá-
ria e como ela pode ser utilizada para que o governo possa alcançar os objetivos
da política econômica global. Em seguida, serão analisados os instrumentos
utilizados pelo Banco Central na condução da política monetária.

OBJETIVOS DE POLÍTICA MACROECONÔMICA

Antes de começarmos nossa análise sobre os objetivos da política monetária,


devemos entender que esta é utilizada para que o governo alcance objetivos econô-
micos globais. Mas quais são esses objetivos? Vasconcellos (1994) define-os como:
a) alto nível de emprego;
b) estabilidade de preços;
c) distribuição de renda socialmente justa;
d) crescimento econômico e desenvolvimento econômico.

Objetivos de Política e a Política Monetária


100 UNIDADE III

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo este autor, as questões relativas ao aumento do nível do emprego e ao
controle da inflação são consideradas como conjunturais, de curto prazo, cons-
tituindo-se nas chamadas políticas de estabilização. Alguns textos colocam
também como meta de curto prazo o equilíbrio no balanço de pagamentos,
visto que o seu déficit gera redução de divisas (moeda estrangeira) na economia.
Já com relação à distribuição equitativa da renda, alguns economistas,
como Mário Henrique Simonsen, argumentam que, no processo de crescimento,
ocorre desigualdade com mobilidade, ou seja, o indivíduo permanece pouco na
mesma faixa salarial e tem facilidade de ascensão. Isso seria um fator importante
para a convivência com a má distribuição de renda (VASCONCELLOS, 1994).
A quarta meta macroeconômica refere-se ao crescimento econômico, que
representa o crescimento da renda nacional per capita, isto é, que a produção
de bens e serviços supere o crescimento populacional. A renda per capita é uti-
lizada como um indicador para medir a melhoria do bem-estar e do padrão de
vida da população, pois está implícito o aumento do emprego e da renda. No
entanto possui falhas, pois não leva em consideração indicadores sociais, como:
concentração de renda, taxa de analfabetismos, mortalidade infantil, entre outros
indicadores sociais.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


101

Assim, podemos dizer que um país está realmente melhorando seu nível de
desenvolvimento econômico e social se, em conjunto com o aumento da renda
per capita, houver melhora dos indicadores sociais (pobreza, desemprego, meio
ambiente, moradia etc.). Vasconcellos (1994) afirma que, se existe desemprego
e capacidade ociosa das empresas, o produto da economia pode ser aumentado
por meio de políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Mas há
um limite à quantidade do que se pode produzir com os recursos disponíveis.
Assim, se a economia alcançar o pleno emprego dos recursos produtivos para
aumentar o produto além desse limite, exigirá:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

■■ aumento nos recursos disponíveis;


■■ ou avanço tecnológico (ou seja, tecnologia mais avançada, novas manei-
ras de organizar a produção).

No entanto os objetivos de política macroeconômica não são independentes


uns dos outros, podendo, inclusive, ser conflitantes. Atingir uma meta pode aju-
dar a alcançar outras ou até mesmo a abandonar. Por exemplo, o crescimento
econômico pode reduzir o problema da pobreza, quando este gera aumento do
nível de emprego e renda, mas, por outro lado, pode gerar inflação, quando este
aumento da renda aumenta o consumo das famílias, dada a oferta de bens e
serviços na economia. Neste sentido, temos um conflito entre as metas de redu-
ção de desemprego e a estabilidade de preços. Veja a explicação de Vasconcellos
(1994, p. 200):
Se essa redução de desemprego é obtida pelo aumento das compras,
isso pode aumentar a inflação. O aumento das compras (por exemplo,
de automóveis) reduz o desemprego, porque pessoas que estão desem-
pregadas serão contratadas para trabalhar nas fábricas de automóveis;
quando as famílias compram mais casas, os operários da construção
encontram trabalho com mais facilidade. No entanto, à medida que
a economia aproxima-se do pleno emprego de recursos, estes passam
a escassear, provocando um aumento dos custos de produção, e o au-
mento das compras tende a agravar a inflação, porque é muito provável
que os produtores repassem o aumento de custos de produção para
os preços de seus produtos. Isso só não ocorrerá se, ao mesmo tem-
po, estiver ocorrendo um significativo aumento de produtividade que
compense a elevação dos custos.

Objetivos de Política e a Política Monetária


102 UNIDADE III

Por outro lado, políticas de estabilização da inflação podem gerar aumento da


taxa de desemprego, visto que tais políticas reduzem a demanda de bens e servi-
ços, gerando queda da atividade econômica e, consequentemente, do emprego e
da renda. Podemos definir estas relações inversas entre taxas de inflação e taxas
de desemprego, como trade off (relação inversa), explicado por uma teoria cha-
mada curva de Phillip, que surgiu, na década de 1950.
Segundo Dornbusch e Ficher (1991), a curva de Phillips corresponde à uma
curva de oferta agregada, positivamente inclinada, que relaciona preços e pro-
duto. Assim, aumentos de preços (inflação) estão associados a variações positivas

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da produção agregada e, portanto, do emprego.
Diante do exposto até aqui, podemos verificar que o administrador público
(policy-maker) tem de fazer uma escolha quanto à ênfase a ser dada a diferentes
objetivos, visto que cada combinação afeta diferentes grupos na sociedade, de
formas diferente, e qualquer escolha estará sujeita à objeção política pelos repre-
sentantes dos grupos para os quais a escolha alternativa é pior.
Quando analisamos os partidos políticos, geralmente, conseguimos prever a
alternativa de política econômica a ser escolhida, a partir do conhecimento prévio
das políticas de campanha e, assim, prever os futuros impactos do novo governo
na economia. Para atingir estes objetivos globais da economia, o governo pode
atuar sobre a capacidade produtiva (produção agregada) e despesas planejadas
(demanda agregada), visando permitir à economia operar a pleno emprego dos
fatores de produção, com baixas taxas de inflação e distribuição equitativa de
renda. Os principais instrumentos utilizados pelo governo são:
■■ política fiscal;
■■ política cambial e comercial;
■■ política de rendas (controle de preços e salários);
■■ política monetária;

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


103

De forma simplificada, podemos dizer que a política fiscal refere-se à utilização


do governo de instrumentos que controlem a arrecadação tributária (política tri-
butária) e o controle dos gastos governamentais (política de gastos). Se o objetivo
do governo for o crescimento econômico e a redução do nível de desemprego,
ele pode estimular os gastos do setor privado em consumo de bens e serviços e
investimento, reduzindo a carga tributária; porém, se o objetivo da política for
a redução da inflação, as medidas adotadas pelo governo, normalmente, são a
redução dos gastos públicos ou o aumento da carga tributária. Por outro lado,
quando o governo visa melhorar a distribuição de renda, a política fiscal deve ser
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

utilizada de forma seletiva, em benefício dos grupos menos favorecidos, como


a implantação, na economia brasileira, do imposto de renda pelo método pro-
gressivo, ou seja, quem ganha mais paga mais impostos. Outro exemplo são os
gastos do governo em regiões e setores mais atrasados e a utilização de subsídios.
A política cambial e comercial estão relacionadas ao setor externo da eco-
nomia. A primeira refere-se ao controle do governo sobre a taxa de câmbio, ou
seja, adoção do regime de câmbio fixo ou flutuante, entre outros. E a segunda
diz respeito aos instrumentos de incentivo às exportações e controle às impor-
tações, como altas taxas alfandegárias, cotas de importação, isenção de impostos
a produtos exportados etc.
A política de rendas está relacionada ao controle do governo sobre os pre-
ços e salários na economia, normalmente, relacionados ao objetivo do governo
de combate à inflação. São exemplos de política de renda: o controle sobre os
preços das tarifas de água, de energia, do petróleo, política de salário mínimo,
política de preços mínimos da agricultura, entre outros.
Em relação à política monetária, esta é definida, segundo Lopes e Rossetti
(1998, p. 253), como “o controle da oferta de moeda e das taxas de juros, no sen-
tido de que sejam atingidos os objetivos da política econômica global do governo”.
Estes objetivos variam de acordo com o estágio e padrão de desenvolvimento
econômico do país, dos propósitos políticos dos governantes, dos problemas de
conjuntura de cada período e do conjunto de credos e valores sociais.

Objetivos de Política e a Política Monetária


104 UNIDADE III

O que aconteceu com a demanda de carros novos e eletrodomésticos da


linha branca quando o governo reduziu o valor do IPI (imposto sobre o pro-
duto comercializado), no período de 2008 a 2014? Que tipo de política é
esta?

INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como vimos, uma das formas de o governo atingir os objetivos das políticas
globais é pela da utilização da política monetária, que consiste no controle do
governo sobre a quantidade de moeda, o crédito e a taxa de juros, que é reali-
zada pelos seguintes instrumentos de política (CARVALHO, 2007):
■■ emissões de moeda pelo Banco Central;
■■ reservas compulsórias (percentual sobre os depósitos que os bancos comer-
ciais devem reter junto ao Banco Central);
■■ operações de open market (compra e venda de títulos públicos);
■■ política de redescontos (empréstimos do Banco Central aos bancos
comerciais);
■■ regulamentação sobre crédito e taxa de juros.

Emissão de moeda pelo Banco Central

A quantidade de moeda na economia é definida como a somatória da moeda


manual (papel-moeda e moeda metálica em poder do público) e moeda escri-
tural (depósito à vista do público nos bancos comerciais). Esta quantidade de
moeda depende das mudanças na base monetária, que é constituída pelo papel-
-moeda e moeda metálica em poder do público, papel-moeda e moeda metálica
mantida em caixa pelos bancos comerciais e pelas reservas voluntárias e com-
pulsória depositadas no Banco Central.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


105

Além da base monetária, a oferta de moeda também depende das mudan-


ças do multiplicador monetário, que representa a criação de moeda pelos bancos
comerciais por meio dos empréstimos. Assim, podemos representar a variação da
oferta de moeda na economia pela seguinte fórmula (LOPES; ROSSETTE, 1998):
∆M = k ∆B �

Sendo
ΔM = variação dos meios de pagamentos ou oferta monetária
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

K = Multiplicados dos meios de pagamentos


ΔB = variação da base monetária
A base monetária pode ser alterada pelo Banco Central com as seguintes finali-
dades ( CARVALHO, 2007):
■■ financiar déficits orçamentários do governo;
■■ conceder empréstimos de liquidez aos bancos comerciais;
■■ realizar operações de compra e venda de moeda estrangeira, as quais
são necessárias às transações econômicas do país com as economias
internacionais.

Quando o Banco Central, com o aumento da moeda em circulação, pelo seu


efeito multiplicador, gera um aumento da demanda agregada da economia, esti-
mula a produção e a renda, podendo gerar um aumento do nível generalizado
de preços, ou seja, inflação.

Fixação da taxa de reservas compulsórias

A fixação da taxa de reservas que os bancos comerciais devem recolher sobre os


depósitos à vista ao Banco Central é um dos instrumentos de política monetá-
ria mais utilizados para controle do efeito multiplicador da moeda. Quando ao
Banco Central aumenta a taxa de reservas compulsórias, ele reduz a proporção
de depósitos à vista que os bancos comerciais podem utilizar na realização de
empréstimos (criação de meios de pagamento), o que reduz o valor do multipli-
cador monetário “k” e, assim, leva a uma contração da oferta de moeda.

Objetivos de Política e a Política Monetária


106 UNIDADE III

Por outro lado, quando o Banco Central reduz as taxas de reservas com-
pulsórias, a proporção dos depósitos à vista que podem ser direcionados aos
empréstimos aumenta, os bancos comerciais concedem mais empréstimos e o
valor do multiplicador monetário “k” aumenta, e, consequentemente, aumenta
a oferta de moeda na economia.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No Brasil, as taxas de reservas compulsórias são aplicadas não apenas sobre
os depósitos à vista, mas também sobre os depósitos a prazo (dinheiro apli-
ca nas cadernetas de poupança, CDB etc.).
Fonte: a autora.

Operações de open marketing

As operações de open marketing consistem na compra e venda de títulos da


dívida pública de emissão do Banco Central ou do Tesouro Nacional. Por este
instrumento, o Banco Central consegue influenciar, com rapidez e flexibilidade,
a oferta de moeda e a taxa de juros de curto prazo (taxa Selic).
Quando o Banco Central objetiva estimular o crescimento econômico pela
demanda agregada, ele pode expandir a oferta de moeda, realizando operações
de resgate dos títulos da dívida pública em poder do público bancário e não
bancário. Dada a demanda por moeda, o aumento da oferta de moeda causa
a redução da taxa de juros básica da economia. Já quando o Banco Central
deseja reduzir a oferta de moeda, ele vende ao público e aos bancos títulos da
dívida pública, retirando moeda da economia na proporção dos títulos adqui-
ridos. A retração da oferta de moeda, dada a demanda por moeda, causa o
aumento da taxa de juros.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


107

A Figura 8 apresenta, de forma resumida, as operações de mercado aberto


e seus efeitos na economia. Veja:

Expansão dos Meios


Compra de títulos da de Pagamento
Dívida Pública pelo
Banco Central
Redução da taxa de
Juros
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Redução dos Meios


de Pagamentos
Venda de títulos da
Dívida Pública pelo
Banco Central Expansão da taxa de
Juros
Figura 8 - Síntese das operações de mercado aberto
Fonte: a autora.

Segundo Lopes e Rossetti (1998), as operações de mercado aberto possibilitam:


■■ o controle diário do volume de oferta de moeda;
■■ a manipulação das taxas de juros de curto prazo;
■■ uma alternativa de investimento para o público e para as instituições
financeiras;
■■ a criação de liquidez para os títulos públicos, possibilitando o financia-
mento dos gastos públicos.

Diante do que foi apresentado até aqui, temos que se o objetivo de política for
o controle da inflação, a medida de política monetária seria diminuir o estoque
monetário da economia, e isto poderia ser feito pelo aumento da taxa de reserva
compulsória ou pela venda de títulos no mercado aberto (open market). Mas, se
a meta for o crescimento econômico, o processo seria o inverso.

Objetivos de Política e a Política Monetária


108 UNIDADE III

Funcionamento operacional do Mercado Aberto

O funcionamento do mercado aberto é relativamente simples. Segundo Assaf


Neto (2014), quando o Banco Central deseja captar recursos do mercado, ele efe-
tua a venda primária (leilão primário) de títulos públicos de sua propriedade.
A colocação desses títulos é realizada por meio do recebimento de propostas
feitas por instituições financeiras junto aos dealers, os quais são instituições que
representam o Banco Central nas operações de venda primária. Cabe ao Banco
Central aceitar, ou não, as propostas. A instituição financeira que adquire o título

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
no leilão primário pode revende-lo no mercado secundário cujo instrumento
operacional é o open market (mercado aberto). Por este mecanismo, a institui-
ção financeira vende o título ao público com compromisso de recompra em data
futura, mediante remuneração, chamada operações compromissadas.
O spread bancário, receita financeira da instituição, é formado no diferen-
cial entre a taxa de juros que é ganha na compra do título e a taxa de juros que
é paga na sua venda. Quando um banco vende um título público, com compro-
misso de recompra, comporta-se como se estivesse tomando empréstimos no
mercado para financiar suas operações, entregando os títulos como garantia. No
entanto, caso o investidor decida permanecer com o título e a instituição des-
fizer-se dele, ocorre a operação definitiva, ou seja, a liquidação da transação.
Neste contexto, é formada a taxa Selic, que representa a taxa média diária das
operações compromissadas, conhecidas como overnight (ASSAF NETO, 2014).
Outro aspecto importante é que o investidor, como eu e você, não é obri-
gado a manter o título até o seu vencimento, pode revendê-lo antecipadamente.
No entanto, neste caso, as negociações ocorrem à taxa do dia, pode ser diferente
da taxa contratada, não conseguindo o investidor garantir a taxa prometida na
compra do título. Além disso, há a incidência do Imposto de Renda sobre a ren-
tabilidade dos títulos, que obedece à seguinte regra:

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


109

Quadro 1 - Alíquotas do imposto de renda

PRAZO IR (ALÍQUOTA)
Até 180 dias 22,5%
De 181 a 360 dias 20%
De 361 a 720 dias 17,50%
Acima de 720 dias 15%
Fonte: adaptado de Tesouro Direto ([2018], on-line)5.

Como podemos verificar, a maior rentabilidade ocorre quando deixamos o nosso


capital aplicado por um prazo acima de dois anos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O rendimento dos títulos da dívida pública podem ser de dois tipos: pré-
-fixados ou pós-fixados. A remuneração é atrelada a um indexador, como:
taxa Selic, taxa referencial – TR, índice de inflação como o IPC-A, IGP-M ou
variação cambial.
Fonte: adaptado de Tesouro Direto ([2018], on-line)6.

Política de Redesconto

Uma das funções do Banco Central é ser banco dos bancos, o que significa que,
se os bancos comerciais precisarem de liquidez, em última instância, o Banco
Central deve atuar suprindo os bancos de moeda, por meio de desconto de títu-
los dos bancos comerciais a uma taxa pré-fixada, chamada taxa de redesconto.
O controle dos meios de pagamentos por este instrumento de política mone-
tária resulta das seguintes operações (LOPES; ROSSETTI, 1998):
■■ Alteração da taxa de redesconto. Quando o Banco Central quer aumen-
tar a liquidez dos bancos, ele reduz a taxa de redesconto e, quando quer
evitar que os bancos adquiram empréstimos, ele aumenta a taxa de redes-
conto, o que aumenta o custo de oportunidade dos empréstimos.

Objetivos de Política e a Política Monetária


110 UNIDADE III

■■ Mudança nos prazos concedidos aos bancos comerciais para resgate dos
títulos redescontados. Quanto menores os prazos de resgate, maior será
o percentual dos depósitos à vista deixados como reservas de caixa nos
bancos comerciais e, assim, menor será a oferta de moeda e vice-versa.
■■ Fixação de limites operacionais. Quanto menores os limites operacionais
de crédito, menor será o montante de empréstimos e, assim, da oferta de
moeda e vice-versa.
■■ Restrição dos tipos de títulos redescontáveis. Quanto maiores forem as
restrições, menores serão as possibilidades oferecidas aos bancos para se

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
socorrerem junto ao Banco Central, em caso de dificuldade de caixa. Assim,
os bancos adotaram políticas mais conservadoras na concessão de cré-
dito, e a oferta monetária é restringida. O contrário também é verdadeiro.

Regulamento sobre o crédito e a taxa de juros

Representam intervenções diretas das autoridades monetárias sobre o controle do


volume de crédito e o seu preço. Os mecanismos de controle podem ser: controle
do volume e da destinação do crédito; controle da taxa de juros dos emprésti-
mos e determinação dos prazos, limites e condições dos empréstimos. Quanto
mais rígido o controle, menor a oferta de liquidez.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


111
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

PRODUTOS FINANCEIROS

O mercado monetário encontra-se estruturado com o objetivo de controlar a


liquidez monetária da economia e a determinação das taxas de juros. Os ativos
negociados neste mercado têm como característica os reduzidos prazos de res-
gate, alta liquidez e são responsáveis pela formação das taxas de juros básicas da
economia: a taxa Selic e a taxa DI.
São negociados no mercado monetário os papéis emitidos pelo Tesouro
Nacional com o objetivo de financiar o orçamento da união (Títulos Públicos
Federais), os títulos públicos de nível estadual e municipal. Também são negocia-
dos os títulos representantes de dívida privada, como: Certificados de Depósitos
Interfinanceiros (CDI), Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Debêntures,
commercial papers, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do
Agronegócio (LCA), entre outros.
Com exceção do CDI cuja negociação é de exclusividade das instituições
financeiras, os outros ativos são oportunidades de investimento para nós. Assim,
vamos conhecer algumas formas de obter renda que estão ao alcance de qual-
quer pessoa, inclusive ao seu.

Produtos Financeiros
112 UNIDADE III

Uma característica comum destes ativos é que eles são considerados renda
fixa de baixo risco para o investidor. A principal característica que define uma
renda como fixa é que a sua rentabilidade é previamente definida no momento
da aplicação financeira. Os investimentos em renda fixa ainda podem ter a sua
remuneração (taxa de juros por exemplo) pré-fixada e pós-fixada, a diferença é
que os pré-fixados você já sabe exatamente a rentabilidade que receberá, já com
o pós-fixado sabe-se, previamente, qual será a forma de cálculo da sua rentabi-
lidade, mas ela pode variar. Mesmo assim, este último é uma renda fixa porque
o valor inicial do investimento é preservado.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
De acordo com Assaf Neto (2014), as aplicações em rendas fixas podem ser
divididas em três grupos de emissores: o governo (emissão de Títulos Públicos),
Bancos (DCBs, RDBs, Letras Hipotecárias, Poupança, Letras de Câmbio,
Previdência Privada) e empresas (debêntures, commercial papers). Vamos apren-
der um pouco mais sobre cada um deles:

TÍTULOS DA DÍVIDA PÚBLICA

Muitos investidores acreditam que investir em papéis do governo é a melhor


opção quando se trata de segurança. Na verdade, eles têm razão. Pense bem: caso
o governo “quebre”, imagine como estará o restante da economia.
O governo sabe desse desejo dos investidores em possuir seus papéis e tam-
bém tem interesse nesses investimentos de títulos públicos. De acordo com o
portal do Ministério da Fazenda, títulos públicos são ativos de renda fixa e pos-
suem a finalidade primordial de captar recursos para o financiamento da dívida
pública bem como para financiar atividades do governo federal, como educação,
saúde e infraestrutura. Pois, bem, pensando nisso, há algum tempo o governo
possibilitou investimentos em seus papéis de forma mais simples e acessível a
praticamente qualquer investidor. Trata-se de um sistema de investimento cha-
mado Tesouro Direto. Por meio deste sistema, o investidor pode, de forma
totalmente informatizada, comprar os papéis do governo que mais se adaptam
ao perfil do investidor.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


113

Vamos conhecer alguns desses papéis? O quadro a seguir apresenta os prin-


cipais títulos públicos brasileiros negociados pelo Tesouro Direto:
Quadro 2 - Títulos Públicos Federais do Brasil

TIPOS DE TÍTULOS CARACTERÍSTICAS


Títulos com rentabilidade definida (taxa
LTN - Letras do Tesouro Nacional fixa) no momento da compra.
Forma de pagamento: no vencimento.
Títulos com rentabilidade diária vincu-
lada à taxa de juros básica da economia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(taxa média das operações diárias com


LFT - Letras Financeiras do Tesouro títulos públicos registrados no sistema
Selic, ou, simplesmente, taxa Selic).
Forma de pagamento: no vencimento.
Título com rentabilidade vinculada à
variação do IPCA, acrescida de juros defi-
NTN-B – Nota do Tesouro Nacional – série
nidos no momento da compra. Forma de
B:
pagamento: semestralmente (juros) e no
vencimento (principal).
Título com rentabilidade vinculada à
variação do IPCA, acrescida de juros de-
NTN-B Principal – Nota do Tesouro Nacio- finidos no momento da compra. Não há
nal – série B pagamento de cupom de juros semestral.
Forma de pagamento: no vencimento.
Títulos com rentabilidade prefixada,
acrescida de juros definidos no momento
NTN-F – Notas do Tesouro Nacional – da compra.
série F
Forma de pagamento: semestralmente
(juros) e no vencimento (principal).
Fonte: adaptado de Tesouro Direto ([2018], on-line)6.

E se você quiser investir nesses papéis, como poderá fazer isso?

No lançamento do programa, bastava apenas R$ 200,00 (duzentos reais) para


você começar a investir, isso com a comodidade de operar com os papéis sem sair
de casa, pois as transações são feitas diretamente via internet. É possível ao inves-
tidor definir sua estratégia de investimento, se de curto, médio ou longo prazo.

Produtos Financeiros
114 UNIDADE III

Além disso, as taxas cobradas são muito inferiores que a maioria de papéis de
renda fixa existentes no mercado. O investidor pode, ainda, caso necessitar,
converter os papéis em dinheiro por vender a preços de mercado todas as quar-
tas-feiras, dia em que o Tesouro oferece a recompra a preços de mercado.
Outro benefício é fiscal, pois, diferente dos fundos de investimento que
possuem o chamado “come-cotas” (que é a cobrança antecipada de parte do
Imposto de Renda duas vezes por ano), no caso do Tesouro Direto, a cobrança
do Imposto de Renda sobre os rendimentos só é feita no momento da venda ou
do vencimento do título.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Podem investir nesses papéis qualquer pessoa residente no Brasil que possua
Cadastro de Pessoa Física - CPF e esteja cadastrada em alguma das instituições
financeiras habilitadas a operar no Tesouro Direto.

Vale a pena conhecer esta opção de investimento. O Tesouro Nacional dis-


ponibiliza um portal com informações e regras que o investidor é convidado
a acessar. O portal é: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br>.
Fonte: a autora.

TÍTULOS DE DÍVIDA PRIVADA

• Caderneta de Poupança
A caderneta de poupança é o tipo de investimento mais tradicional, conservador
e popular do Brasil. Envolve baixos riscos e, por isso, sua remuneração nominal
também é baixa, atualmente, em torno de 0,5% ao mês, aplicada sobre os valo-
res atualizados pela TR (Taxa Referencial), com capitalização mensal creditada
na data de aniversário da aplicação (FORTUNA, 2008). As principais vantagens
das aplicações na poupança são:

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


115

■■ liquidez imediata;
■■ investimentos de até R$ 60 mil são garantidos pelo Fundo Garantidor de
Crédito. Assim, em caso de falência do banco este valor fica garantido;
■■ há isenção de incidência do Imposto de Renda para pessoas físicas. Já as
pessoas jurídicas sofrem incidência do IR sobre os rendimentos com as
seguintes alíquotas:
–– aplicações de até 180 dias: 22,5%;
–– aplicações de 181 a 360 dias: 20%;
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

–– aplicações de 362 a 720 dias: 17,5%;


–– aplicações acima de 720 dias: 15%.

• CDB - Certificado de Depósito Bancário e RDB - Recibo de Depósitos


Bancários

Quando se fala de tradição, temos que, obrigatoriamente, falar de CDB e RDB.


Estes papéis são conhecidos como depósitos a prazo e são os mais tradicionais
títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras para captação de recur-
sos. Esses produtos permitem que o banco e o cliente saibam, com antecedência,
as condições de remuneração para o prazo e os valores negociados.
O CDB e o RDB são títulos de captação de recursos financeiros, emitidos
pelos bancos. Quem compra estes títulos está emprestando dinheiro aos ban-
cos, recebendo uma remuneração em troca, a taxa de juros.
Que diferença existe entre CDB e RDB? A diferença básica entre os dois
títulos é que o CDB pode ser transferido por meio de endosso, sendo, por-
tanto, negociado no mercado. Já os RDBs são, obrigatoriamente, nominativos e
intransferíveis, determinando, muitas vezes, variações nas taxas de juros pagas
aos aplicadores.
Vamos entender como funciona a remuneração dos CDB/RDBs:
CDB/RDB pré-fixado: o investidor recebe, no vencimento, a remuneração
negociada, conhecida, antecipadamente, e constante no contrato. Nesta moda-
lidade, não existe exigência legal de prazo mínimo. Esta definição fica a cargo
de cada instituição financeira.

Produtos Financeiros
116 UNIDADE III

CDB/RDB pós-fixado: os índices de remuneração do CDB são obtidos pela


variação do indexador escolhido na contratação. Existe, atualmente, uma
exigência legal quanto ao prazo mínimo de contratação de CDB, conforme
o indexador utilizado.

As aplicações em CDB podem ser feitas por qualquer pessoa que seja corren-
tista de um banco e tenha dinheiro para investir. O prazo varia de 30 a 180 dias,
e o valor mínimo depende da modalidade disponível no banco. Geralmente, os
bancos oferecem taxas maiores de acordo com o valor investido.
No CDB há incidência do Imposto de Renda, que varia de 15% a 22,5%,

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de acordo com o tempo investido, pago no resgate da aplicação. Não há taxa de
administração. Se o valor ficar aplicado por menos de 30 dias, será cobrado o
Imposto sobre Operação Financeira (IOF).
O risco de aplicação em CDBs é baixo, pois está associado à solidez do banco.
O investidor só perde a aplicação caso a instituição vá à falência, porém o FGC
(Fundo Garantidor de Crédito) garante o valor de até R$ 250 mil por CPF, se a
instituição for associada ao Fundo.
A rentabilidade do CDB é atrelada ao CDI. Assim, um CDB pode render:
■■ 100% do CDI;
■■ mais que 100% do CDI;
■■ menos que 100% do CDI.

Exemplo 1
Um CDB que rende 100% do CDI e este teve uma taxa acumulada de 11,60%,
nos últimos 12 meses, teria rendido exatamente 11,60%, no mesmo período.

Exemplo 2
Caso seu CDB renda 90% do CDI, e o CDI foi de 11,60%, nos últimos 12 meses, a
rentabilidade do seu investimento, no mesmo período, será de 10,44% (11,60 * 0,90).

Exemplo 3
Se um CDB oferece remuneração, por exemplo, de 90% do CDI ao investidor,
e o valor do CDI é de 7%, e for deixado capital investido durante 100 dias, qual
será a rentabilidade líquida do investidor?

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


117

■■ 90% de 7% = 6.3%
■■ IR de 22,5 % = 0,225 x 6.3% = 1,42%
■■ Rentabilidade Líquida = 6,3 % - 1,42% = 4,88%

Em um momento de juros já baixos, com inflação girando em cerca de


5,5%,  o ganho já começa a perder da inflação.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

• Previdência complementar privada


Talvez, os produtos mais “famosos” na prateleira das rendas sejam os de previ-
dência complementar privada. Dentre esses produtos estão o PGBL e o VGBL.
O que são estes produtos e para quem se destinam?
PGBL: a sigla vem de plano gerador de benefício livre (veja o P de plano,
é uma boa dica para você não confundir com o outro tipo). As regras do PGBL
são simples na sua essência: trata-se de um plano que visa compor uma reserva
matemática para benefício futuro. Muito parecida com o FAPI, não concorda?
O PGBL é oferecido pela maioria dos grandes bancos, e vai outra dica: como
se trata de um produto que vai vincular você a uma instituição financeira por
muitos anos, é preciso saber com quem você vai “casar”, não é mesmo? Se a ins-
tituição financeira entrar em dificuldades, apesar da administração do plano
ser à parte da própria instituição (inclusive tem CNPJ diferente), pode ser que o
plano seja “contaminado” pela falta de confiança dos investidores.
No PGBL, as contribuições são individuais, ou seja, cada participante tem o
seu plano. Pode ocorrer de o empregador querer pagar o plano como um bene-
fício ao funcionário (seria ótimo, não é verdade?), mas ao dinheiro acumulado
somente o participante pode ter acesso.
Para quem se destina o PGBL?

Produtos Financeiros
118 UNIDADE III

Aqui vão dicas importantes:


1. O PGBL é destinado a quem declara IRPF no formulário completo e que
utilizará os pagamentos ao plano para abatimento de imposto de renda.
2. Para ter esse benefício, o participante do plano também precisa contri-
buir para a previdência oficial.
3. Caso o plano seja para um filho menor, o responsável pode abater os
valores pagos na sua declaração. Importante: somando-se todas as contri-
buições para o PGBL (próprio ou para filhos menores) o teto máximo de
abatimento é de 12% da renda bruta tributável anual. Caso o filho menor

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tenha mais de 16 anos de idade, é preciso que este menor também con-
tribua para a previdência oficial para poder contar com o benefício do
abatimento de IR. Exemplo: imagine alguém que tenha uma renda bruta
anual de R$ 200.000,00. Este contribuinte poderá abater então até 12%
dessa renda a título de previdência privada, ou seja, R$ 24.000,00 (desde
que, é claro, tenha de fato contribuído para isso. É necessário compro-
vação). Ficaria assim: a base de cálculo do IR passaria de R$ 200.000,00
para R$ 200.000,00 – R$ 24.000,00 = R$176.000,00.
4. Em caso de saque antecipado, o valor sacado será tributado (lembre-se
de que o Leão não é tão manso assim), de acordo com a tabela progres-
siva do IRPF. Geralmente, os percentuais são elevados, podendo chegar
a 27,5% do montante (capital mais juros acumulados).
5. Em caso de recebimento do valor na forma de renda mensal, o valor rece-
bido entrará como rendimento tributável (igualzinho ao FAPI) e deverá
ser somado às outras rendas tributáveis para compor a base de cálculo
do IRPF.

Portanto, meu caro, pense bem antes de escolher o plano. Isto porque, se você
não se enquadrar na regra número 1 apresentada, ou seja, se não declarar no for-
mulário completo (ou declara como isento), ou ainda se já atingiu o teto máximo
de abatimento de 12% a título de previdência complementar, mas deseja contri-
buir além desse teto, o ideal para você é o VGBL.
VGBL: a sigla vem de vida gerador de benefício livre (preste atenção no V de
vida). Esta forma de previdência complementar privada guarda todas as caracte-
rísticas do PGBL na questão de rendimentos, portabilidade, porém, uma diferença
importantíssima é o tratamento fiscal: ao contrário do PGBL, no VGBL não há

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


119

benefício fiscal algum. Não se podem abater valores pagos neste plano (que na
verdade é uma forma de seguro de vida) na declaração de IRPF.
Porém a vantagem é que, caso você necessite resgatar o valor total ou parcial
antes da época prevista para recebimento de benefícios, o Imposto de Renda a ser
cobrado incidirá somente nos rendimentos, como acontece em qualquer outra apli-
cação financeira. Isso é ótimo, caso a pessoa decida investir em outro tipo de ativo
financeiro, como um imóvel, por exemplo, durante o período em que está acumu-
lando esses valores. O resgate não trará nenhum prejuízo em relação a impostos.
Estas são apenas algumas características dos planos PGBL e VGBL. Existem
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

outras, e eu recomendo entrar nos portais das empresas que oferecem esses produ-
tos e simular alguns planos que estejam dentro de seu perfil de renda e interesse.
Recomende isso também a quem você assessorar.

• Letras Hipotecárias – LH
São títulos emitidos por instituições financeiras autorizadas a conceder crédi-
tos hipotecários, como as sociedades de crédito imobiliário e bancos múltiplos
com carteira imobiliária e a Caixa Econômica Federal, com lastro em financia-
mentos habitacionais.
São emitidas com juros pré-fixados, flutuantes e pós-fixados em TR, TJLP
ou TBF no prazo mínimo de 180 dias, pois, se resgatados antes desse prazo, não
remuneram o investidor. O prazo máximo é o do vencimento dos créditos hipo-
tecários caucionados em garantia.

• Letras de Crédito Imobiliário – LCI


São títulos de crédito, lastreados por crédito imobiliário, garantidos por hipo-
teca ou por alienação fiduciária de imóvel. Suas principais características são
(BM&BOVESPA, 2007, on-line)7:
■■ títulos de renda fixa;
■■ emissão exclusiva de instituições financeiras autorizadas pelo Banco
Central, com carteira de crédito imobiliário;
■■ emisão sob forma de certificado ou escritural, obrigatoriamente, regis-
trada na CETIP;

Produtos Financeiros
120 UNIDADE III

■■ nominativas, transferíveis e de livre negociação no mercado secundário;


■■ o preço unitário de emissão é de R$ 1.000,00 (mil reais);
■■ garantia do emissor e FGC – Fundo Garantidor de Crédito;
■■ lastro de créditos imobiliários (recebível/imóvel), garantidos por primeira
hipoteca ou alienação fiduciária;
■■ a LCI poderá contar com garantia pessoal, tais como aval e fiança, adi-
cional de instituição financeira;
■■ a LCI não poderá ter prazo de vencimento superior ao prazo de quais-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
quer dos créditos imobiliários que lhe servem de lastro,
■■ a pessoa física é isenta de Imposto de Renda, mas à pessoa jurídica a tri-
butação vai em linha com a de renda fixa,
■■ prazos de aplicação: no caso da Caixa Econômica Federal, atualmente, a
instituição mais ativa em crédito imobiliário, no Brasil, o prazo mínimo
dessa aplicação é de dois meses, e o máximo de 24 meses (2 anos);
■■ aplicação mínima: R$ 30.000,00 e o BB aceita a partir de R$ 1.000,00.
■■ Remuneração: atrelada ao CDI, normalmente, entre 80% e 95% do CDI.
Fonte: Caixa Econômica Federal ([2018], on-line)8.

Exemplo 1
Suponha um título de LCI que remunere 90% do CDI ( 14,13% ano). Qual o valor
da sua rentabilidade líquida se você tivesse deixado aplicado no período de 1 ano?
Solução:
0,9 x 14,13 = 12,7% ano
Resposta: a rentabilidade é de 12,7% ao ano, visto que não paga IR.

• Letras de Crédito Agrícola - LCA

Letras de crédito agrícola é um tipo de título de dívida privadam emitido pelos


bancos a fim de captar recursos para participantes da cadeia do agronegócio.
Ou seja, quando compramos um LCA, estamos emprestando dinheiro ao banco
para ele alocar nosso dinheiro nos financiamentos voltados ao crédito rural.
Sabe-se que a emissão da Letra é condicionada à existência e à disponibilidade,

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


121

no banco, de direitos e créditos relacionados com a produção, a comercialização,


o beneficiamento ou a industrialização de produtos ou insumos agropecuários
ou máquinas e implementos, utilizados na atividade agropecuária.
No Banco do Brasil, a aplicação mínima é de R$ 50.000,00, e o resgate no
primeiro dia útil após a carência de 90 dias da aplicação. É importante salientar
que cada banco tem suas próprias regras quanto ao limite mínimo de aplicação.
Estes ativos têm como principal características (BM&FBOVESPA, 2017,
on-line)7:
■■ risco do investimento: muito baixo, pois possui cobertura do FGC (até
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

R$ 250.000,00 por CPF e por instituição financeira);


■■ tem como remuneração um percentual do CDI;
■■ rendimentos isentos de Imposto de Renda para pessoa física;
■■ alíquota de IOF reduzida a zero;
■■ o LCA é lastreado pelas garantias reais exigidas nos empréstimos agrícolas
como soja, café, boi ou outra mercadoria para ficarem aptos a consegui-
rem algum financiamento no banco;
■■ resgates antes do vencimento ou antes do prazo de carência não pagam
juros;
■■ resgates podem ser feitos a partir de 90 dias (quando indexada ao CDI),
a depender do contrato.

• Debêntures

São títulos de dívida de médio e longo prazos, emitidos por sociedades anô-
nimas privadas, que conferem ao investidor (debenturista) um direito de
crédito contra a mesma, de acordo com as características constantes na escri-
tura de emissão. É negociado em Bolsas de Valores e no Mercado de Balcão
(ASSAF NETO, 2014).
Normalmente, os recursos captados com o lançamento de debêntures são uti-
lizados para financiamento de projetos, reestruturação de passivos ou aumento
do capital de giro das empresas. Cada debênture emitida representa uma fração

Produtos Financeiros
122 UNIDADE III

do total da dívida contraída pela companhia, no ato da emissão, e pode ser nego-
ciada no mercado secundário. Apesar de terem características de títulos de renda
fixa (ou seja, tem índices de remuneração previamente conhecidos, sejam pré
ou pós fixados), as debêntures podem ter características de renda variável, como
prêmios, participação no lucro da empresa ou mesmo conversibilidade em ações
da companhia emissora. Quem adquire uma debênture passa a ser credor da
empresa, recebe juros periódicos pelo “empréstimo” e, no vencimento, recebe
de volta o valor pago pelo título inicialmente.
As debêntures têm algumas classificações, e é importante que você as conheça.

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Essas classificações são quanto à posse, à espécie e à garantia (ABRASCA, 2008,
on-line)9.
Quanto à posse, as debêntures podem ser:
■■ nominativas - quando consta o nome do titular nos certificados que são
emitidos fisicamente.
■■ escriturais - são emitidas em meio eletrônico, não existindo a emissão
física do certificado, embora sejam, mesmo assim, nominativas.

Quanto à espécie, podem ser:


■■ simples ‒ ou seja, não conversíveis, quando conferem ao debenturista um
crédito a ser pago com correção monetária e juros.
■■ conversíveis em ações ‒ quando os debenturistas podem receber seu cré-
dito com correção e juros (como nas simples), ou podem convertê-las em
ações da empresa emissora, passando, assim, da condição de dono de um
crédito para dono de uma “fração” da empresa, ou seja, passa a ser um sócio.
■■ permutáveis ‒ são debêntures que possibilitam ao detentor, dentro de con-
dições prévias definidas na escritura de emissão da debênture, a permuta
deste papel por ações de outra empresa que não a emissora da debênture.

Quanto à garantia, as debêntures podem ser (ASSAF NETO, 2014):


■■ com garantia real: quando a garantia é oferecida por bens integrantes do
ativo da empresa emissora ou de terceiros, vinculados por hipoteca ou
penhor, por exemplo;

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


123

■■ com garantia subordinada: quando os debenturistas passam a ter privi-


légio sobre os acionistas, no ativo remanescente, em caso de liquidação
da empresa;
■■ com garantia flutuante: quando os credores têm preferência geral sobre
os ativos da empresa, não impedindo, no entanto, a negociação destes
bens que compõem o ativo;
■■ com garantia quirografária e sem garantia: neste caso, não há nenhuma
garantia ou privilégio sobre o ativo da empresa. O debenturista concorre
em igualdade de condições com todos os credores quirografários em caso
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de liquidação, sem nenhum tipo de preferência sobre os demais credores.

Obedecida à legislação, as debêntures podem ser remuneradas das formas a


seguir (ABRASCA, 2008, on-line)9:
■■ taxa de juros prefixada;
■■ taxa referencial (TR), observado o prazo mínimo de quatro meses para o
vencimento ou período de repactuação. Somente as empresas de leasing
podem emitir com este indexador;
■■ taxa de juros flutuantes, observado o prazo mínimo de 120 dias para o
vencimento ou período de repactuação, admitindo-se que os interva-
los de reajuste da taxa utilizada como referencial ocorram em prazo não
inferior a 30 dias;
■■ taxa de juros fixa e cláusula de atualização com base em índice de pre-
ços, atendido o prazo mínimo de um ano para vencimento ou período
de repactuação.

• Commercial papers

Os commercial papers são títulos de dívida, emitidos por empresas, que podem,
ou não, ser financeiras, direcionados ao financiamento das necessidades de capi-
tal de giro como compra de estoques, pagamentos de fornecedores, entre outros.
Possuem um prazo de duração mais curto que o das debêntures e, por isso, são
mais indicadas para investidores com interesse em aplicações a curto prazo,
sendo o prazo mínimo de um mês, e o máximo de um ano.

Produtos Financeiros
124 UNIDADE III

A rentabilidade destes títulos é por meio dos juros pagos pelas empresas
(emissoras dos títulos) aos investidores, podendo ser pré-fixados e pós-fixados.
Também há a possibilidade de emissão de commercial papers fixados em dóla-
res. A garantia desses títulos está vinculada à saúde financeira da empresa, tendo
um risco maior para o investidor (ASSAF NETO, 2014).
O commercial paper tem como principal função permitir ao setor produ-
tivo a captação de recursos, no mercado financeiro, a curto prazo, a juros mais
baixos que os bancários. Assim, obtem-se de capital de giro e pode, até mesmo,
vir a financiar projetos de ampliação, desenvolvimento de produtos/serviços ou

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mesmo pagamento de impostos (CETIP, 92018], on-line)11.

POLÍTICA MONETÁRIA E PRODUTOS FINANCEIROS


125

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo, aprendemos que a taxa de juros é determinada no mercado de


oferta e demanda por moeda, por meio de uma condição de equilíbrio: quando
a quantidade ofertada de moeda é igual à quantidade demandada de moeda. A
demanda por moeda é determinada pela decisão dos agentes em reter moeda
para transação e especulação (aplicação financeira). Por outro lado, a quanti-
dade ofertada é determinada pelo Banco Central.
Aprendemos que, quando o Banco Central atua, estimulando ou retraindo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

a oferta de moeda, ele adota um mecanismo chamado política monetária, a qual


é operacionalizada pelos seguintes instrumentos: política de redesconto, reser-
vas compulsórias, operações de open market (mercado aberto) e regulamentação
sobre crédito e taxa de juros. Quando o Banco Central quer aumentar a oferta
de moeda na economia, com o objetivo de estimular a produção, a renda e o
emprego, ele adota a política expansionista, e isto acontece ao reduzir a taxa de
redesconto e a taxa de reservas compulsória, ao comprar títulos da dívida pública
pertencentes ao público e aos bancos, ao flexibilizar a regulação sobre o créditos
e ao aumentar a base monetária com a emissão de moeda.
Uma consequência destas medidas é a redução da taxa de juros, que esti-
mula os investimentos, o consumo e o aparecimento da inflação. Assim, quando
o Banco Central tem como objetivo o combate à inflação de demanda, ele atua
adotando uma política monetária restritiva, realizando o processo inverso.
Aprendemos, também, que as duas principais taxas de juros da nossa eco-
nomia são a taxa de juros Selic, definida no mercado de títulos, a partir das
operações de mercado aberto, e a taxa DI, formada do mercado de emprésti-
mos interbancários. Essas taxas são utilizadas como uma referência, visto que
são um custo de oportunidade para as instituições financeiras.

Considerações Finais
126

FUNDOS DE INVESTIMENTO EM RENDA FIXA


Fundo de Investimento é uma forma de aplicação financeira formada pela união de vá-
rios investidores que se juntam para a realização de um investimento financeiro, organi-
zada sob a forma de pessoa jurídica, tal qual um condomínio, visando a um determinado
objetivo ou retorno esperado, dividindo as receitas geradas e as despesas necessárias
para o empreendimento.
Com o objetivo de dar maior transparência ao investidor ao comparar fundos em ins-
tituições diferentes, algumas regras foram estabelecidas com respeito, por exemplo, à
nomenclatura do fundo. A denominação do fundo deverá conter a expressão “Fundo
de Investimento”, com o acréscimo da referência à classe do fundo, podendo ter ainda
expressões que indiquem o tratamento tributário específico a que estejam sujeitos o
fundo ou seus cotistas.
A administração e a gestão do fundo são realizadas por especialistas contratados. Os
administradores tratam dos aspectos jurídicos e legais do fundo, os gestores da estraté-
gia de montagem da carteira de ativos do fundo, visando ao maior lucro possível com o
menor nível de risco.
Todo o dinheiro aplicado nos fundos é convertido em cotas, que são distribuídas entre
os aplicadores ou cotistas, que passam a ser proprietários de partes da carteira, propor-
cionais ao capital investido. O valor da cota é atualizado diariamente e o cálculo do saldo
do cotista é feito multiplicando o número de cotas adquiridas pelo valor da cota no dia.
Os principais fundos de renda fixa são:
• Fundo Referenciado DI: aplicam em títulos pós-fixados como os títulos da dívida
pública referenciados pela taxa DI (taxa dos depósitos interbancários). São indica-
dos para cenários de alta de juros.
• Fundos de renda fixa: aplicam em títulos pós-fixados e pré-fixados de dívida públi-
ca. Indicado para cenários de queda dos juros.
• Fundos de renda fixa crédito: aplicam parte dos recursos em títulos de dívida pri-
vada, com juros mais elevados.
• Fundos de renda fixa multi-índices: aplicam no mercado futuros de índices de in-
flação ou de juros.
• Fundos de renda fixa alavancados: aplicam em derivativos para aumentar a renta-
bilidade de sua carteira. São indicados para os investidores que não se importam
em correr riscos.
Fonte: adaptado de InfoMoney (2018, on-line)11.
127

1. Se você sempre recebe exatamente o que esperava de uma aplicação financeira,


estará aplicando em uma operação de renda fixa. Já se você não sabe o quanto
ganhará no período de aplicação e, se o valor inicialmente investido (principal)
será preservado, então, você aplicou em operações de renda variável. Sobre os
tipos de renda assinale a alternativa correta:
a) A caderneta de poupança é o tipo de investimento em renda variável. Envolve
baixos riscos, e por isso sua remuneração nominal também é baixa, atualmen-
te em torno de 0.5% ao mês, aplicada sobre os valores atualizados pela TR
(taxa referencial), com capitalização mensal, creditada na data de aniversário
da aplicação.
b) O CDB e RDB são conhecidos como depósitos a prazo e são os mais tradicio-
nais títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras para captação
de recursos. Esses produtos permitem que o banco e o cliente saibam, com
antecedência, as condições de remuneração para o prazo e valores negocia-
dos.
c) Letras de Crédito Imobiliário – LCI são títulos de crédito de renda variável,
lastreados por crédito imobiliário garantidos por hipoteca ou por alienação
fiduciária de imóvel.
d) Os títulos públicos do governo são ativos de renda variável e possuem a fina-
lidade primordial de captar recursos para o financiamento da dívida pública,
bem como para financiar atividades do governo federal, como educação, saú-
de e infraestrutura.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
2. As operações com títulos públicos são acertados diretamente entre os operado-
res das instituições financeiras, credenciadas a operar no mercado monetário,
que repassam as informações, via terminal, ao Selic, para que ocorra a transfe-
rência do dinheiro e, a seguir, dos títulos envolvidos nas operações. Sobre tipos
de títulos públicos e suas características, leia as afirmativas e assinale a alter-
nativa correta:
I- As Letras Financeiras do Tesouro são papéis com rendimento pós-fixado, as-
sim, quando a taxa Selic varia, impacta na rentabilidade destes títulos.
II- As Letras do Tesouro Nacional são papéis com rendimento pré-fixado e, desta
forma, a variação de seu indexador não impacta na rentabilidade prometida
pelo título, na data da sua compra.
III- Os investidores que são pessoas físicas são isentos do pagamento de imposto
de renda sobre a rentabilidade dos títulos públicos em seu poder.
IV- O investidor em títulos públicos só pode resgatar seus recursos investidos na
data de vencimento dos títulos, ficando seu capital bloqueado durante este
período.
128

a) Somente I e II estão corretas.


b) Somente II e III estão corretas.
c) Somente I, II e IV estão corretas.
d) Somente I, III e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.
3. Vamos supor que o Banco Central do Brasil decida utilizar os instrumentos de
economia monetária para estimular o crescimento econômico e o nível de em-
prego e renda. Sobre o uso destes instrumentos para alcançar estes objetivos de
política econômica, leia as afirmativas e assinale a alternativa correta:
I- O Banco Central pode aumentar a taxa de redesconto para estimular que os
bancos concedam crédito, aumentando a oferta de moeda na economia, com
consequente queda na taxa de juros, estimulando o aumento do consumo e
dos investimentos, gerando crescimento econômico.
II- O Banco Central pode reduzir a taxa de recolhimento compulsório sobre os
depósitos à vista para estimular o crédito e, assim, o aumento da oferta de
moeda, que, como consequência, gera aumento do produto e da renda.
III- Outra forma de estimular o crescimento econômico é por meio de operações
de mercado aberto, quando o Banco Central entra vendendo títulos públicos
para retirar moeda da economia.
IV- Quanto maiores os prazos concedidos aos bancos comerciais para resgate
dos títulos redescontados, menor será o percentual dos depósitos à vista, dei-
xados como reservas de caixa, nos bancos comerciais, e, assim, maior será a
oferta de moeda, estimulando a demanda agregada na economia e, assim, a
produção, gerando crescimento econômico.
a) Somente I e II estão corretas.
b) Somente II e IV estão corretas.
c) Somente I, II e IV estão corretas.
d) Somente I, III e IV estão corretas.
e) Todas estão corretas.
129

4. Dado o equilíbrio no mercado monetário, em que a demanda por moeda é igual


à oferta de moeda, quando a taxa de juros da economia é superior à taxa de juros
de equilíbrio do mercado monetário, temos que:
a) A demanda por moeda pela população é menor que a oferta de moeda, e a
taxa de juros tende a cair, convergindo para a taxa de juros de equilíbrio.
b) A demanda por moeda pela população é superior à oferta de moeda, e a taxa
de juros tende a subir mais ainda, afastando-se da condição de equilíbrio.
c) A curva de oferta de moeda desloca-se para a direita.
d) A curva de oferta de moeda desloca-se para a esquerda.
e) A curva de demanda por moeda desloca-se para a esquerda.
5. Se um CDB oferece remuneração, por exemplo, de 85% do CDI ao investidor, e
o valor do CDI é de 11%, ao deixar o seu capital investido durante 3 anos, com
a incidência de uma alíquota de 15% de IR, qual será a rentabilidade líquida do
investidor?
a) Aproximadamente de 9,35% ao ano.
b) Aproximadamente de 9,00% ao ano.
c) Aproximadamente de 8,35% ao ano.
d) Aproximadamente de 7,95% ao ano.
e) Aproximadamente de 8, 95% ao ano.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Manual de Macroeconomia: Básico e Intermediário


Luiz Martins Lopes e Marco Antônio Vasconcellos
Editora: Atlas, 3. ed.
Sinopse: este livro objetiva apresentar de forma clara e didática os
principais conceitos e modelos que fazem parte da moderna análise
macroeconômica. O livro reúne tópicos de macroeconomia básica e
intermediária, ministrados nas disciplinas de Macroeconomia I, II e III da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Universidade
de São Paulo – FEA-USP.

Caro(a) aluno(a), indico este vídeo para que você possa ampliar um pouco mais seu conhecimento
sobre produtos financeiros. Ele apresenta as características dos principais títulos de renda fixa.
Você pode acessá-lo neste link: <www.youtube.com/watch?v=2a8Jx9SdtAQ>.
131
REFERÊNCIAS

ASSAF NETO, A. Mercado Financeiro. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
BLANCHARD, O. Macroeconomia. 4. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2007.
CARVALHO, F. J. C; PIRES, S. F. E; SICSU, J.; PAULA, L. F. R; STUDART, R. Economia Mo-
netária e Financeira. Rio de Janeiro: Campus, 2007.
DORNBUSCH, R. FICHER, S. Macroeconomia. 5. ed. São Paulo: Makron Books, 1991.
FORTUNA, E. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 17. ed. Rio de Janeiro: Qua-
litymark Editora, 2008.
KERR, R. B. Mercado Financeiro e de Capitais. São Paulo: Pearson, 2011.
KRUGMAN, P; WELLS, R. Introdução a Economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
LOPES, J.; ROSSETTI, J. Economia Monetária. São Paulo: Atlas, 1998.
VASCONCELLOS, M. C. S. Economia: Micro e Macro. 4. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 1994.

REFERÊNCIAS ON-LINE

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2018.
2 Em: <http://minhaseconomias.com.br/indicadores-financeiros/o-que-e-taxa-se-
lic >. Acesso em: 19 fev. 2018.
3 Em: <www.portal.apeop.org.br/depois-da-selic-e-hora-da-tjlp/>. Acesso em: 19
fev. 2018.
4 Em: <www.tesouro.fazenda.gov.br/detalhes-da-tributacao-do-tesouro-direto>.
Acesso em: 19 fev. 2018.
5 Em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto/>. Acesso em: 19 fev.
2018.
6 Em: <www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-precos-e-taxas-dos-titulos>.
Acesso em: 19 fev. 2018.
7 Em: <www.bmfbovespa.com.br>. Acesso em: 19 fev. 2018.
8 Em: <http://www.caixa.gov.br/voce/poupanca-e-investimentos/letras-credito-i-
mobiliario/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 19 fev. 2018.
9 Em: <http://www.debentures.com.br/downloads/textostecnicos/cartilha_de-
bentures.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2018.
10 Em: <www.infomoney.com.br/onde-investir/fundos-de-investimento>. Acesso
em: 19 fev. 2018.
11 Em: <https://www.cetip.com.br/valores-mobiliarios/commercial-paper>. Acesso
em: 19 fev. 2018.
GABARITO

1. B
2. A
3. B
4. A
5. D
Professora Dra. Juliana Franco Afonso

MACROECONOMIA

IV
UNIDADE
CLÁSSICA

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar a oferta agregada clássica.
■■ Entender como é determinado o nível de emprego na economia e o
equilíbrio no mercado de trabalho.
■■ Apresentar a demanda agregada clássica.
■■ Conhecer a relação entre poupança, investimento e taxa de juros.
■■ Aprender como é determinado o equilíbrio macroeconômico no
modelo clássico e os efeitos da política fiscal.

Plano de Estudo
■■ A oferta agregada clássica
■■ A demanda e a oferta de trabalho no modelo clássico e o equilíbrio
de mercado
■■ Oferta e demanda agregada clássica
■■ Poupança, investimento e taxa de juros no modelo clássico
■■ Equilíbrio entre oferta e demanda agregada no modelo clássico e
política fiscal
135

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, introduzirei você ao conhecimento das principais teorias do


modelo clássico sobre como é determinado o nível de emprego, a renda e a produ-
ção na economia. Para isto, esta unidade está dividida em cinco tópicos principais.
O primeiro tópico volta as suas análises ao setor produtivo nacional, ou seja,
apresentarei a você como a teoria clássica explica a formação do nível de produ-
ção da economia a qual denominamos de oferta agregada. Faremos isto dentro
de uma visão de curto prazo.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Ainda analisando o lado da oferta, aprenderemos, no tópico dois, como é


determinado o nível de emprego na economia e, para isso, apresentarei como
é formada a função demanda e oferta de trabalho e como ambas as funções se
relacionam com o salário real da economia, de forma a determiná-lo.
No tópico três, voltamos nossa atenção para a demanda. Com base na teo-
ria quantitativa da moeda, já estudada em unidades anteriores de nosso livro,
derivaremos a demanda agregada no modelo clássico e verificaremos qual é o
papel da determinação do nível de emprego e renda na economia.
Avançando em nossas análises, estudaremos, na sequência, como são forma-
das a oferta de fundos na economia e a demanda de recursos para investimento
e suas relações com a taxa de juros.
Por fim, apresentarei a você como o mercado de bens e serviços equilibra-se
no modelo clássico, determinando a taxa de juros real da economia e o impacto
da política fiscal do governo, pelo do aumento dos gastos públicos para estimu-
lar o nível de emprego e renda, visando promover o crescimento econômico.
Para aprofundar os estudos da macroeconomia, esta unidade sugere a lei-
tura de material complementar para que você possa ampliar o seu conhecimento.
Como economistas, devemos conhecer todas as teorias que são a base para a
formação de políticas públicas dos governos. Portanto, tenha uma boa leitura!

Introdução
136 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A OFERTA AGREGADA CLÁSSICA

Utilizamos, nesta unidade, o termo “clássico” para designar as correntes de pen-


samento estruturalistas, que se baseiam em simplificações, para poder estudar
como a economia funciona. De acordo com os teóricos desta corrente (Adam
Smith, David Ricardo, Jean B. Say), as hipóteses básicas da teoria clássica são:
■■ flexibilidade de preços e salários - esta hipótese garante que as forças
de mercado de oferta e demanda tende a equilibrar a economia ao pleno
emprego dos fatores de produção.
■■ neutralidade da moeda - como o nível de atividade econômica e o emprego
é determinado pelas forças de mercado, a quantidade de moeda afeta ape-
nas o nível geral de preços e salários. Isto significa dizer que o aumento da
oferta de moeda gera apenas inflação e não estimula a produção, a renda
e o emprego (variáveis reais).
■■ validade da Lei de Say - segundo esta lei, a “oferta cria sua própria
demanda”, dessa forma, a demanda agregada não é vista como fator deter-
minante do nível do produto.

MACROECONOMIA CLÁSSICA
137

Partindo destas hipóteses, podemos definir a oferta agregada clássica como


sendo “o total de produto que as empresas e famílias estão dispostas a oferecer
em um determinado período de tempo, a um determinado padrão de preços”
(LOPES; VASCONCELLOS, 2000, p. 88).
Como simplificação do modelo, tem-se a hipótese de que cada empresa não
tem poder sozinha de afetar o nível de preços das mercadorias e dos fatores de
produção, sendo cada firma tomadora de preços. Desta forma parte-se de uma
estrutura de mercado de concorrência perfeita.
A oferta agregada clássica é representada por meio de uma função de pro-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

dução, que apresenta a relação entre quantidade produzida e a utilização de


diferentes fatores de produção como trabalho e capital (máquinas, equipamentos,
edifícios etc.) a um dado nível tecnológico. Genericamente, a função de produ-
ção pode ser definida como (DORNBUSCH et al., 2006) :

Y F K NT
Y = produto agregado
K = estoque de capital utilizado
N = quantidade de trabalho utilizada (hora - homem)
T = nível tecnológico.

Podemos verificar pela função exposta que o nível de produto (Y) responde
positivamente a qualquer das variáveis que o determina, ou seja, se o volume
de capital, trabalho e nível tecnológico aumentar, o produto também aumenta
e vice-versa. Desta forma, a função de produção determina o máximo que uma
economia pode produzir para uma dada combinação de capital e trabalho, com
uma dada tecnologia.
Além disso, no modelo clássico, a função de produção apresenta retornos
constantes de escala, isto é:

zY F zK zN
Para que o nível de produto seja multiplicado por “z”, os fatores de produção
capital e trabalho também devem ser multiplicados por “z”, assim, se quisermos
dobrar a produção, também devemos dobrar o número de trabalhadores e capital.

A Oferta Agregada Clássica


138 UNIDADE IV

No curto prazo, o fator de produção capital é considerado fixo, sendo o fator


de produção trabalho variável. Se isto é verdade, temos que a função de produ-
ção de curto prazo apresenta rendimentos marginais decrescentes em relação
ao fator de produção variável, ou seja, o aumento de uma unidade de trabalho,
aumentará o nível de produto em proporção cada vez menor. Desta forma, dize-
mos que a produtividade marginal do trabalho é decrescente.
Ao considerar o trabalho (N) como único fator variável, podemos apresen-
tar a função de produção de curto prazo, como se segue:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Y F K NT
ou

Y = F �( � N )
Y = produto agregado
K = volume fixo de estoque de capital
N = volume variável de quantidade de trabalho utilizada
T = nível tecnológico considerado como dado

Graficamente, podemos representar esta função de produção como:

Y
Y = F(N)

Produtividade Marginal do Trabalho: é a


inclinação da reta tangente à função de
produção em cada um de seus pontos

N
Figura 1 - Função de produção agregada
Fonte: adaptado de Mankiw (2004).

Verifica-se, pela Figura 1, que o nível de produto aumenta conforme aumenta a


utilização do trabalho (N), e que o incremento de produção decorrente de uma

MACROECONOMIA CLÁSSICA
139

unidade adicional de trabalho é cada vez menor, ou seja, a produtividade mar-


ginal do trabalho é decrescente, representado, na Figura 1, pela reta tangente à
função de produção. Assim, tem-se que, no curto prazo, o nível de produto é
determinado pela quantidade utilizada de trabalho.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O que acontece à função de produção de curto prazo se a utilização de tra-


balho reduzir?

A DEMANDA E A OFERTA DE TRABALHO NO


MODELO CLÁSSICO E EQUILÍBRIO NO MERCADO

Caro(a) aluno(a), nesta seção aprenderemos quais são os fatores da econo-


mia que determinam a oferta e a demanda de trabalhadores, na teoria clássica.
Estudaremos como os salários são determinados na economia e a influência
deste mercado na curva de oferta clássica.

DEMANDA DE TRABALHO

Como vimos na seção anterior, no curto prazo, o nível de produto agregado é


determinado pela utilização do fator de produção trabalho. Assim, devemos
iniciar esta seção entendendo como é definido o nível de emprego na economia.
Considerando uma estrutura de mercado do tipo concorrência perfeita,
composto por um grande número de pequenas empresas que, individualmente,
não conseguem afetar o nível de preço dos produtos e dos fatores de produção.
Tem-se que as firmas contratarão mão de obra para alcançar os seus objetivos
de maximização de lucro.

A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no Mercado


140 UNIDADE IV

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O lucro das empresas representa a diferença entre a receita com a venda das mer-
cadorias ou serviços e os custos para produzir tais mercadorias e serviços. Veja:
LUCRO===� RECEITATOTAL
LUCRO
LUCRO � RECEITATOTAL
� RECEITATOTAL
� �� � ��
−−−CUSTOTOTAL
CUSTOTOTAL
CUSTOTOTAL
LUCRO pY wN rK

em que:
w = salário nominal por unidade de trabalho (N)
r = custo por unidade do capital (K)
p = preço do produto (Y)
K = volume de capital
N = volume de trabalho

MACROECONOMIA CLÁSSICA
141

Como vimos na seção anterior, no curto prazo, o nível de produto agregado (Y)
é uma função da utilização de trabalho, assim, podemos reescrever a função do
lucro como (LOPES; VASCONCELLOS, 2000):
LUCRO = pF ( N ) − ( w.N + rK )

Dado que, em um mercado de concorrência perfeita, as empresas não determi-


nam os preços de seus produtos, nem os salários de seus funcionários, sendo
ambos determinados pelo mercado, a decisão da empresa restringe-se a definir
a quantidade de mão de obra que contratará para produzir determinado nível
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

de produto, dado o capital e a tecnologia existentes na empresa, de modo que


possa maximizar o seu lucro.
Desta forma, a empresa maximizará o lucro quando:

LUCRO = pF ( N ) − ( w.N + rK )

Fazendo a derivada primeira em relação a N temos:

∆LUCRO ∆F ( N ) ∆N
= p. − w. =0
∆N ∆N ∆N

Considerando FN =� ∆F∆(NN ) , a produtividade marginal do trabalho e substituindo


na equação acima, temos:
w
p.FN − w = 0 � ou � FN = �
p

Assim, a empresa contratará trabalhador até o ponto em que a produtividade


w
marginal do trabalho (FN) iguale-se ao salário real ( p ). Como a produtividade
marginal do trabalho é decrescente, a empresa só contratará mais trabalho se
o salário real diminuir acompanhando a redução da FN. Desta forma, tem-
-se que a demanda por trabalho (Nd) possui relação inversa com o salário real
(MANKIW, 2004):
 w
� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �Nd = Nd  
 p

A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no Mercado


142 UNIDADE IV

Graficamente podemos representar a demanda por trabalho na economia como:

W
p

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
N d = FN

N
Figura 2 - Demanda de mão de obra no modelo clássico
Fonte: adaptados de Mankiw (2004).

Para a empresa, em sua decisão de contratação, o que interessa é o custo da mão


de obra em termos de produto, ou seja, o seu salário real, e não o salário nominal
(w) em termos monetários. Assim, se o preço recebido pela empresa na venda de
seus produtos aumentar, mas o salário nominal aumentar proporcionalmente,
o custo real da mão de obra será o mesmo, logo, ela não contratará mais tra-
balhadores. Mas, se o preço recebido pela empresa, na venda de seus produtos,
aumentar mais que proporcional ao aumento do salário nominal ou se este não
se alterar, o custo real da mão de obra reduzirá, e a empresa contratará mais tra-
balhadores. Por outro lado, se o salário nominal aumentar mais que os preços, o
salário real aumentará, e as empresas reduzirão os postos de trabalho para eco-
nomizar, demitindo pessoas. Todos estes deslocamentos ocorrem ao longo da
curva de demanda por mão de obra.
Com a inserção de máquinas e tecnologia no processo produtivo aumen-
tam a produtividade do trabalho, e quando isto acontece, dado o salário real,
a demanda por trabalho aumenta, sendo representada por um deslocamento
para a direita da curva de demanda por trabalho apresentada na Figura 3. Veja:

MACROECONOMIA CLÁSSICA
143

W
p

W N d = FN
p
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

N1 N2 N
Figura 3 - Deslocamento da demanda de mão de obra
Fonte: adaptado de Mankiw (2004).

Desta forma, podemos verificar, pela Figura 3, que, inicialmente, a demanda por
trabalho era N1 ao salário real w/p, com o aumento do fator de produção capital
ou com o aumento do nível tecnológico, a função de produção aumenta, repre-
sentando que com o mesmo nível de trabalho, produz-se muito mais, ou seja, a
produtividade do trabalho aumentou, assim, as empresas estão dispostas a con-
tratar mais trabalhadores, e a curva de demanda desloca-se para a direita e o
número de postos de trabalho aumenta para N2.

OFERTA DE TRABALHO

Entendido como é determinada a demanda por trabalhador, no modelo clás-


sico, agora, definiremos como é determinada a oferta de trabalho que é realizada
w
pelas famílias e é afetada pelo salário real ( p ), e não nominal (w), ou seja, pelo
poder de compra recebido pelo trabalho.
De acordo com a teoria clássica, o mercado de trabalho atua em um nível de
pleno emprego, ou seja, não existe desemprego involuntário, no qual o indi-
víduo procura trabalho, independentemente do nível salarial e não encontra.
Existe apenas desemprego friccional e voluntário. De acordo com Vasconcellos
(2011), o desemprego friccional é aquele decorrente dos deslocamentos de

A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no Mercado


144 UNIDADE IV

mão de obra de uma atividade para a outra, ou seja, da mudança de emprego; e


o desemprego voluntário, ocorre quando o indivíduo decide não trabalhar em
determinado nível salarial.
Assim, temos que, na teoria clássica, outra hipótese simplificadora é de que
o indivíduo deve decidir livremente entre trabalho e lazer. O trabalho gera uma
renda ao indivíduo para poder consumir bens que lhe proporcionarão certa
satisfação, mas o trabalho em si não gera nenhum prazer. Já o lazer é uma satis-
fação em si mesmo.
Assim, cada hora que o indivíduo dedica ao trabalho é uma hora a menos

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dedicada ao lazer e vice-versa. Desta forma, a decisão de quanta horas trabalhar
dependerá da maximização de uma função utilidade, representada por uma
cesta de bens composta pela renda e pelo lazer. (LOPES; VASCONCELLOS, 2000).
O salário real representa o quanto o indivíduo pode consumir a mais de
bens para cada hora adicional de trabalho. De acordo com Dornbusch et al.
(2006), alterações no salário real podem implicar dois efeitos na decisão das
famílias: o efeito substituição e o efeito renda. Vimos que é o salário real que
estimulará o indivíduo a trocar o lazer por mais horas de trabalho, assim, vamos
supor que houve um aumento no salário real da economia. Pelo efeito substi-
tuição, o aumento do salário real tornou o custo relativo do lazer mais elevado,
aumentando a oferta de trabalho. Pelo efeito renda, o aumento do salário real
fez com que os indivíduos aumentassem o seu poder de compra, demandando
mais bens e mais lazer. Desta forma, a inclinação da curva de oferta de trabalho
depende de qual dos dois efeitos (substituição e renda) é mais predominante,
já que, pelo efeito substituição, a oferta de trabalho aumenta, mas pelo efeito
renda a oferta diminui.
Para facilitar o entendimento, iremos supor que o efeito substituição é pre-
ponderante para que a curva de oferta de trabalho apresente-se positivamente
inclinada, evidenciando que, quanto maior o salário real, mais o indivíduo
estará disposto a ofertar horas de trabalho em detrimento do lazer. Posto desta
forma, podemos dizer que a curva de oferta de trabalho reflete a chamada desu-
tilidade marginal do trabalho, que representa o tamanho do salário real que

MACROECONOMIA CLÁSSICA
145

seria necessário para induzir as famílias a dedicarem mais tempo ao trabalho e


menos tempo ao lazer.
Dessa forma, a oferta de trabalho pode ser representada pela seguinte equa-
ção (MANKIW, 2004):
 w
N s =� N s  
 p

em que N5 = oferta de trabalho.


Observa-se, pela equação, que a oferta de trabalho possui relação positiva
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

com o salário real. Graficamente, podemos apresentar a oferta de trabalho como


uma curva positivamente inclinada. Veja:

W
p Ns

N
Figura 4 - Oferta de trabalho positivamente inclinada
Fonte: adaptado de Mankiw (2004).

Uma hipótese simplificadora da oferta de trabalho é considerarmos fixa a jor-


nada de trabalho e o número de pessoas com idade economicamente ativa. Ao
multiplicarmos essas duas variáveis, encontramos a oferta de trabalho, que é
independente do salário, isto seria representado por uma curva de oferta de tra-
balho vertical, como apresentada na Figura 5. Veja:

A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no Mercado


146 UNIDADE IV

Ns
W
p

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
N
Figura 5 - Oferta de trabalho vertical
Fonte: adaptado de Mankiw (2004).

Pela Figura 5, verificamos que, quando a oferta de trabalho é fixa, ela é indepen-
dente do salário real, ou seja, para qualquer nível de salário a oferta de trabalho
é sempre a mesma.

EQUILÍBRIO NO MERCADO DE TRABALHO NO MODELO


CLÁSSICO

Agora que já aprendemos como são determinadas a demanda e a oferta de tra-


balho no modelo clássico, analisaremos como é determinado o nível de emprego
e o salário real no mercado de trabalho. Como estamos nos baseando em um
mercado de concorrência perfeita, temos, de um lado, um grande número de
pessoas ofertando trabalho, e de outro, um grande número de empresas deman-
dando trabalhadores. Neste tipo de estrutura de mercado, nem estes ou aquelas
possuem poder para fixar o valor dos salários, sendo ele determinado pelo meca-
nismo de mercado. Assim, o salário real ( w
p )* e o nível de emprego de equilíbrio
N* ocorre no ponto em que a oferta de trabalho seja igual à demanda por tra-
balho: N5 = Nd. Graficamente, o equilíbrio é determinado pelo cruzamento das
curvas de oferta e demanda por trabalho. eja:

MACROECONOMIA CLÁSSICA
147

W
p Excesso de oferta de trabalho

W² Ns
p

W*
p
Excesso de demanda de trabalho

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

p
Nd

N* N
Figura 6 - Equilíbrio no mercado de trabalho
Fonte: Mankiw (2004. Adaptado.)

Como podemos observar pela Figura 6, quando o salário real estiver acima do
2 *
nível de equilíbrio ( wp  wp ), o número de horas de trabalho oferecidas pelas
famílias será superior ao requerido pelas empresas, havendo um excesso de
oferta de trabalho, caracterizando uma situação de desemprego. A concorrên-
cia entre os trabalhadores para conseguir emprego ocasionará a redução dos
salários nominais que, dado os preços das mercadorias, reduz o salário real. A
um salário mais baixo, menos trabalhadores estarão dispostos a ofertar horas a
mais de trabalho em troca de lazer, assim, a oferta de trabalho reduz. Por outro
lado, com o salário real mais baixo, as empresas decidirão contratar mais horas
de trabalho, aumentando a demanda. Isto ocorrerá até que as duas quantidades
igualem-se e o salário real de equilíbrio seja atingido, sendo inferior ao inicial.
Por outro lado, quando o salário real estiver abaixo do nível de equilíbrio
1 *
( wp  wp ), haverá excesso de demanda por trabalho, sendo esta uma situação de
superemprego. A este salário menos pessoas estão dispostas a trocar lazer por
trabalho, e a concorrência entre as empresas acaba elevando os salários nomi-
nais que, dado os preços dos produtos, eleva o salário real. Conforme o salário
real vai subindo, mais pessoas estarão dispostas a trocar lazer por mais horas de
trabalho, e a oferta de trabalho aumenta, por outro lado, menos empresas estão

A Demanda e a Oferta de Trabalho no Modelo Clássico e Equilíbrio no Mercado


148 UNIDADE IV

dispostas a contratar mais horas de trabalhos por salários mais altos, e a demanda
reduz. Este processo continua até que a quantidade demandada e a ofertada de
trabalho igualem-se e o salário real de equilíbrio seja atingido.
Assim, pode-se afirmar que, em um mercado de concorrência perfeita, sem
desemprego involuntário e com perfeita flexibilidade do valor dos salários, o
mecanismo de mercado leva ao equilíbrio de pleno emprego.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Pleno emprego no Brasil: interpretando os conceitos e indicadores
De acordo com a autora deste artigo, Anita Kon, o emprego e o rendimento
real do trabalho no Brasil cresceram tanto de forma quantitativa como qua-
litativa no período de 2010 a 2012, apresentando uma melhora no padrão
de crescimento do mercado de trabalho do país. As baixas taxas de desem-
prego verificadas no período levaram alguns economistas a anunciarem a
proximidade do pleno emprego no país. Desde meados do ano de 2010,
a economia brasileira iniciou uma fase de recuperação das perdas de em-
pregos verificadas no ano anterior, devidas aos impactos da crise financeira
internacional. Em dezembro daquele ano, a taxa de desocupação divulga-
da pelo IBGE se situou no patamar de 5,3% da PEA, fechando o ano com
uma média de 6,7%, consideravelmente inferior à média histórica anterior.
A continuidade da diminuição gradativa das taxas em 2011, quando a mé-
dia anual atingiu 6% e no mês de dezembro foi registrado o nível de 4,7%,
o menor indicador desde 2002 - ano em que as estatísticas de emprego do
IBGE haviam sofrido uma reformulação metodológica.
Para ter acesso ao artigo completo, acesse o link: < http://revistas.ufpr.br/
ret/article/viewFile/28159/18699>.
Fonte: Kon (2012).

MACROECONOMIA CLÁSSICA
149
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

OFERTA E DEMANDA AGREGADA CLÁSSICA

Nesta seção, retomaremos o que já aprendemos sobre a oferta agregada clássica


para entendermos como é determinado o produto de pleno emprego na economia,
ou seja, qual é o nível de produto e renda em que todos os fatores de produção
disponíveis em um país estão empregados. Também aprenderemos sobre os
determinantes da demanda agregada, a partir da teoria quantitativa da moeda.

OFERTA AGREGADA CLÁSSICA

Agora que já sabemos como é definido o nível de emprego e salário de equilíbrio


no mercado de trabalho e o formato da função de produção, podemos deter-
minar o produto de pleno emprego, que será a oferta agregada da economia.
Vimos, no início desta unidade, que a oferta agregada clássica é representada
por uma função de produção que depende do nível tecnológico, do estoque de
capital e das condições do mercado de trabalho, que determina o salário real da
economia. Assim, podemos representar a oferta agregada pela seguinte expres-
são (LOPES; VASCONCELLOS, 2000):

Oferta e Demanda Agregada Clássica


150 UNIDADE IV

w
Ys Ys KT
p
Ys = produto de pleno emprego ou oferta agregada
K = estoque de capital utilizado
w
p = salário real de equilíbrio
T = nível tecnológico

Verifica-se que todas as variáveis que afetam o nível do produto de pleno emprego

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da economia são variáveis reais (salário real, tecnologia, estoque de capital), e não
variáveis nominais (preço e salário nominal). Por exemplo, se ocorrer aumento
dos preços dos produtos, as empresas verificarão que o salário real diminuiu e
ampliarão a demanda por trabalho, gerando excesso de demanda. Isto ocasionará
elevação dos salários nominais até que o salário real volte ao seu nível de equi-
líbrio. Desta forma, podemos verificar que a oferta agregada de pleno emprego
é inelástica (independe) ao nível de preços, sendo vertical, conforme a Figura 7:

OA
P
Y*= produto de equilíbrio
Yp= produto de pleno emprego

Y*=Yp Y
Figura 7 - Oferta agregada de pleno emprego
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcelos (2000).

Desta forma, tem-se que alterações no produto de pleno emprego só podem ser
obtidas por mudanças que afetem o mercado de trabalho, como: elevação da

MACROECONOMIA CLÁSSICA
151

produtividade marginal do trabalho (que impacta na demanda de trabalho) ou


mudanças populacionais que impactam a oferta de trabalho, como : migrações,
aumento da taxa de crescimento populacional etc.
A Figura 8 apresenta como o equilíbrio alcançado no mercado de trabalho
define o produto de pleno emprego:

W
p

Ns
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.


p

W*
p


p
Nd

N* N
(a) Equilíbrio no mercado de trabalho

Y = F(N)

Y*

N* N

(b) Produção de Pleno emprego


Figura 8 - Equilíbrio no mercado de trabalho e produção de pleno emprego
Fonte: adaptado de Dornbusch et al. (2006).

Oferta e Demanda Agregada Clássica


152 UNIDADE IV

Pela Figura 8, verificamos que, primeiramente, temos a determinação no nível


de emprego pelo mecanismo de mercado, apresentado no painel (a), com a defi-
nição do salário real de equilíbrio. Definido o nível de emprego de equilíbrio
e também o nível de pleno emprego, leva à produção Y*, que é a produção de
pleno emprego.

DEMANDA AGREGADA CLÁSSICA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A demanda agregada representa a quantidade demandada de bens e serviços
a um dado nível de preços. De acordo com Lopes e Vasconcellos (2000), no
modelo clássico a demanda agregada pode ser derivada da teoria quantitativa
da moeda, já estudada na Unidade II. Veja:
MV = PY

em que
Y : produto real (PY é o produto nominal)
V: velocidade renda da moeda
M: quantidade de moeda
P: nível geral de preços

Esta equação mostra que, no equilíbrio, a oferta de moeda é igual à demanda


por moeda, e que esta é proporcional à quantidade do produto real Y. Assim,
ao supormos que a velocidade de circulação da moeda (V) é constante, e que a
oferta de moeda é dada pelo Banco Central, temos uma relação inversa entre o
nível geral de preços e produto real. A Figura 9 apresenta esta relação inversa:

MACROECONOMIA CLÁSSICA
153

D1 = (M1, V0)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

D0 = (M0, V0)

Y
Figura 9 - Demanda agregada no modelo clássico
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2000).

Pela Figura 9, podemos observar que, para determinada oferta de moeda (M0),
quanto menor o nível de preços, maior será o estoque real de moeda ( M 0 ), para
P
realizar as transações e, consequentemente, maior a quantidade de bens e serviços
a ser demandada (Y). Também podemos observar pela Figura 9 que ampliações
na oferta de moeda de M0 para M1 desloca a demanda agregada para a direita,
indicando que, para qualquer nível de preço, a demanda agregada se ampliará.

Mas qual é o papel da demanda agregada no modelo clássico?

No modelo clássico, são as condições de oferta (tecnologia e estoque de fatores de


produção) que determinam o nível de produto na economia. Assim, a demanda
agregada tem o papel de determinar apenas o nível de preços. Desta forma, de
acordo com Simosen e Cysne (2007), a demanda agregada não representa res-
trição à expansão da oferta, visto que, no modelo clássico, o que domina é a Lei
de Say, em que “a oferta cria sua própria demanda”. Segundo esta teoria, toda a
renda gerada no processo de produção é gasta na aquisição dos bens e serviços
da economia, não havendo insuficiência de demanda agregada. Mas para que

Oferta e Demanda Agregada Clássica


154 UNIDADE IV

esta lei seja válida, só deve existir um tipo de demanda por moeda, o motivo
transação, sendo o motivo especulação descartado.
Desta forma, dado que o nível de produto é definido pela oferta agregada e a
oferta de moeda fixada pelo Banco Central, sendo definida exogenamente, cabe à
demanda agregada a função apenas de determinar o nível geral de preços. Assim,
alterações da demanda agregada, decorrentes de alterações da oferta de moeda,
apenas impactam o nível de preços, sem impactar o nível de produto real. Veja:
P

OA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
P1
D1 = (M1, V0)

P0
D0 = (M0, V0)

Y* = Yp Y
Figura 10 - Efeito do aumento da demanda agregada no modelo clássico
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2000).

Podemos, desta forma, concluir que a política monetária só terá influência sobre
as variáveis reais (nível de produto, emprego, salário real e preços relativos) se
houver alguma imperfeição no mercado, como rigidez de preços e salários. Mas
como estas imperfeições não são consideradas no modelo clássico, podemos dizer
que uma política monetária expansionista, com aumento da oferta de moeda,
só causará aumento dos preços e salário nominais, ou seja, inflação, sendo esta
a chamada neutralidade da moeda.

MACROECONOMIA CLÁSSICA
155
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

POUPANÇA, INVESTIMENTO E TAXA DE JUROS NO


MODELO CLÁSSICO’

Veremos, neste tópico, que o consumo, a poupança e o investimento agregado


dependem da taxa de juros da economia no modelo clássico.

CONSUMO E POUPANÇA NO MODELO CLÁSSICO

Em uma economia fechada com governo, o consumo agregado é uma função


crescente da renda disponível (Yd), sendo esta representada pela seguinte equação:
Yd = Y − tY

em que
Y : renda
t: carga tributária

Poupança, Investimento e Taxa de Juros no Modelo Clássico’


156 UNIDADE IV

O consumo agregado é representado pela seguinte equação (BLANCHARD, 2007):


C = � c0 + c� 1 Yd

em que C0 e C1 são ambos parâmetros, C0 é o consumo autônomo, que é inde-


pendente da renda ou é o nível de consumo quando Yd = 0, e C1 é a propensão
marginal a consumir da renda disponível que varia de 0 a 1, ou seja, representa
o efeito sobre o consumo de uma determinada variação na renda disponível. Por
exemplo, se C1 = 0,70 um aumento de R$1,00 na renda disponível levará a um
aumento de 70 centavos no consumo. Podemos representar a propensão margi-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
nal a consumir pela seguinte fórmula:
∆C
c1 =�
∆Yd

em que C0 e C1 crepresentam a variação no consumo e a variação na renda


disponível.
Dado que a renda disponível no modelo clássico ou é poupada ou é consu-
mida temos:
Yd � = C + S

em que S é a poupança agregada.


Desta forma, qualquer variação na renda disponível será dividida entre con-
sumo e poupança. Daí porque será maior do que 0 e menor do que 1. Desta
forma podemos ver que as funções poupança e consumo são intimamente rela-
cionadas, e qualquer aumento na renda disponível gerará aumento no consumo
e também aumento na poupança. O grau em que tanto o consumo como a pou-
pança aumentaram depende da propensão marginal a consumir. Assim, podemos
apresentar a função poupança como se segue (BLANCHARD, 2007):
� S � = Yd − C

Substituindo a função consumo na equação, temos:


S = (Y − T ) − c0 + c1 (Y − T ) 

S = −c0 + (1 − c1 ). (Y − T )]

MACROECONOMIA CLÁSSICA
157

A expressão (1 - C1) representa a propensão marginal a poupar, que mede


a extensão em que a poupança varia em decorrência de uma dada variação na
renda disponível. Assim, podemos verificar que quanto maior for o valor de
(propensão marginal a consumir) menor será a propensão marginal a pou-
par da renda. Por exemplo, se C1 = 0,70, e a Yd aumentar de R$1,00, o consumo
aumentará 70 centavos. Mas o que acontece aos 20 centavos remanescentes do
adicional de renda disponível? Estes serão poupados.
Desta forma podemos considerar a decisão de alocação da renda disponí-
vel entre poupança e consumo como sendo uma escolha intertemporal entre
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

consumir hoje ou no futuro, entendendo desta forma que o indivíduo poupa no


presente para poder consumir no futuro, sendo assim a poupança considerada
como uma transferência de poder de compra do indivíduo ao longo do tempo.
No entanto o indivíduo só poupará se puder consumir mais no futuro que no
presente, desta forma o sacrifício presente do consumo exige uma remuneração
ou prêmio, que é representado pela taxa de juros, que remunerará a poupança do
indivíduo. Assim quanto maior a taxa de juros maior será o custo de oportuni-
dade de consumir hoje que no futuro, e a maior será o estímulo a poupar. Desta
forma podemos escrever que a poupança varia positivamente em relação à taxa
de juros, enquanto o consumo possui uma relação negativa com a taxa de juros:
S = S (r )
C = C (r )

em que
S = poupança agregada
C = consumo agregado
r = taxa de juros real
É importante ressaltar que, para que a poupança renda juros, ela deve ser cana-
lizada na forma de aquisição de títulos (caderneta de poupança, CDB, LCI etc.).
Desta forma, podemos deduzir que o volume de poupança corresponde à oferta
de fundos no mercado financeiro e será tanto maior quanto maior a taxa de juros.
Graficamente, podemos apresentar a função poupança como:

Poupança, Investimento e Taxa de Juros no Modelo Clássico’


158 UNIDADE IV

S = S(r)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
S
Figura 11 - Função poupança
Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

DEMANDA DE INVESTIMENTO NO MODELO CLÁSSICO

Dado que a poupança representa o volume de fundos disponíveis no mercado


financeiro, temos que a demanda por estes fundos são realizados por aqueles
que desejam realizar investimentos. No modelo clássico, investimento representa
o acréscimo ao estoque de capital da economia, visando ampliar a produção
futura. A decisão de investimento tem como objetivo a maximização do lucro
e dependerá se a produtividade marginal do capital (retorno adicional gerado
pela introdução de uma unidade a mais de capital) for maior que o seu custo
adicional (MANKIW, 2004).
O custo do investimento é representado pela taxa de juros cobrada pelas ins-
tituições financeiras na concessão dos empréstimos. Também pode ser medida
pelo custo de oportunidade (taxa de juros) em que o detentor de recursos
incorre por não aplicar a sua poupança em títulos e decidir aplicá-lo no setor
produtivo, realizando investimento. Portanto, a demanda por recursos para rea-
lizar investimentos está negativamente relacionada com a taxa de juros, isto é,
quanto maior a taxa de juros menor é a demanda por investimento e vice-versa.

MACROECONOMIA CLÁSSICA
159

Assim, podemos representar a função investimento clássica como:


I = �� I ( r )

Sendo
I = demanda de investimento
r = taxa real de juros, sendo essa a diferença entre a taxa de juros nomi-
nal e a variação no nível geral de preços (inflação)

Desta forma, temos que a taxa real de juros de equilíbrio da economia é deter-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

minada pela preferência intertemporais das famílias entre consumir ou poupar


e pela produtividade marginal do capital, que é decrescente em relação à taxa de
juros real, representada pela demanda por investimento. Graficamente, temos:

r
S = S(r)

r2

r* I = I(r)

r1

I* = S* S, I
Figura 12 - Equilíbrio entre poupança e investimento
Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

Pela Figura 12, verifica-se que a taxa real de juros de mercado será aquela que
equilibra a oferta e a demanda por fundos, representada pelo volume de poupança
e investimento. Se a taxa real de juros estiver acima da de equilíbrio, haverá
maior oferta de fundos que demanda, e a taxa de juros reduzirá, ampliando os
investimentos e diminuindo a poupança. Isto acontece até que ambas as quan-
tidades se igualem.

Poupança, Investimento e Taxa de Juros no Modelo Clássico’


160 UNIDADE IV

O processo inverso acontece se a taxa de juros estiver abaixo da taxa de


equilíbrio. Neste caso, devido ao baixo juros, a demanda por recursos para inves-
timento supera a oferta de recursos, visto que a uma taxa muito baixa as pessoas
preferem consumir a poupar. O excesso de demanda por recursos faz com que
as taxas de juros aumentem até que o mercado se equilibre.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
O que acontece com a taxa de juros real quando o governo adota uma polí-
tica fiscal contracionista, com redução dos gastos públicos?

EQUILÍBRIO ENTRE OFERTA E DEMANDA AGREGADA


NO MODELO CLÁSSICO E POLÍTICA FISCAL

No modelo clássico, temos que o equilíbrio no mercado de bens e serviços, em


uma economia fechada sem governo, é dado pela seguinte identidade:

Oferta Agregada = Demanda Agregada


ou
Y = DA

Considerando apenas o consumo e o investimento, temos que a DA = C +I; subs-


tituindo na condição de equilíbrio temos:

Y=C+I

Como o consumo e o investimento dependem da taxa de juros real, podemos


reescrever a equação como:

Y = C(r) + I(r)

MACROECONOMIA CLÁSSICA
161
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Sabemos que a função poupança é:

S=Y-C

e dado que o nível de poupança na economia também depende da taxa de juros real:

S = S(r)

temos a seguinte identidade de equilíbrio macroeconômico:

S(r) = I(r)

Por esta identidade, verificamos que a taxa de juros real tem a função de equili-
brar o mercado de bens e serviços.
De acordo com Lopes e Vasconcellos (2000), esta identidade de equilíbrio
macroeconômico independe do formato da função consumo ou poupança e
pode ser representado pelo seguinte gráfico:

Equilíbrio Entre Oferta e Demanda Agregada no Modelo Clássico e Política Fiscal


162 UNIDADE IV

r
S = S(r)

r* I = I(r)

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
I* = S* S, I
Figura 13 - Equilíbrio no modelo clássico para uma economia fechada sem governo
Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

Desta forma, podemos perceber a importância da taxa de juros para atingir o


equilíbrio macroeconômico em que o investimento planejado é igual à pou-
pança. Assim, dado que o produto de equilíbrio, em uma economia fechada e
sem governo, é representado por: Y = C + I, a taxa de juros real deve ser tal, que
possa gerar uma poupança suficiente para financiar os investimentos que geram
o aumento do PIB (Y).
Ao introduzir o governo em nossas análises, temos de acrescentar mais duas
variáveis na equação de demanda agregada: os impostos (T), que subtraem a renda
do setor privado; e os gastos do governo (G), que são elementos adicionais da
demanda. Tanto os impostos como os gastos do governo são considerados como
variáveis exógenas, isto é, são determinadas fora do mecanismo de equilíbrio.
Podemos representar o equilíbrio macroeconômico em uma economia fechada
com governo da seguinte forma (LOPES; VASCONCELLOS, 2000):

Y=C+I+G

Agora, a decisão de consumo das famílias dependerá da renda disponível (Yd =


Y - T) e da taxa real de juros (r), desta forma, a equação consumo e a poupança
podem ser apresentadas da seguinte forma:

MACROECONOMIA CLÁSSICA
163

C = C(Y - T;r) e S = (Y - T; r)

Os impostos representam a receita do governo, e para manter a igualdade entre


oferta agregada e demanda agregada, toda a arrecadação deve ser gasta pelo
governo. Assim, tem-se que: T = G. Desta forma, o equilíbrio no mercado de
bens e serviços é representado pela seguinte igualdade:

S(Y - T; r) + T = I(r) + G
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Então, temos que a oferta de recursos, proveniente da poupança e da arrecadação


tributária deve ser igual à demanda de recursos para financiar os investimentos
e os gastos do setor público. Graficamente, podemos representar este equilí-
brio como:
r
S+T

r* I+G

S* + T* = I* + G* S, I, T, G
Figura 14 - Equilíbrio no modelo clássico para uma economia fechada com governo.
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2000).

Por meio da igualdade S + T = I + G, podemos desmembrar a poupança nacio-


nal em poupança pública e privada. Veja:

S + (T - G) = 1
Sendo
S = Sp , a poupança privada
(T –G) = Sg, a poupança pública

Equilíbrio Entre Oferta e Demanda Agregada no Modelo Clássico e Política Fiscal


164 UNIDADE IV

Temos que a poupança nacional é dada por:

S = Sp + Sg

Assim, o investimento é financiado tanto pela poupança público como pela pou-
pança privada.

Sp + Sg = 1

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como os T e G são exógenos, não interferem na inclinação das curvas de oferta
e demanda de recursos, mas sim em suas posições, ou seja, quanto maior a arre-
cadação de impostos e os gastos governamentais, mais para a direita estarão
ambas as curvas.
Vejamos o impacto da política fiscal neste modelo: Vamos supor uma polí-
tica fiscal e expansionista com aumento dos gastos do governo (G). Neste caso,
a curva de demanda de recursos desloca-se horizontalmente na magnitude dos
gastos do governo, passando de I + G0 para I+G1.
r
S+T

I + G1

r* I + G0

-∆I -∆C S, I, T, G
Figura 15 - Política fiscal expansionista: aumento dos gastos do governo
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2000).

MACROECONOMIA CLÁSSICA
165

Pela Figura 15, percebemos que o aumento dos gastos do governo provocou o
aumento da demanda por recursos, que dada a oferta, gerou pressão sobre os
recursos existentes, fazendo com que o setor financeiro aumentasse a taxa de
juros para aumentar a poupança. No entanto o aumento da taxa de juros redu-
ziu os investimentos privados no montante ΔI, pois aumentou o custo do capital,
e também reduziu o consumo em ΔC, porque aumentou o custo de oportuni-
dade, ou seja, o consumo presente ficou relativamente mais caro em relação ao
consumo futuro. Desta forma, a variação dos gastos do governo gerou:

∆G = � − ( ∆C � + ∆I )
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Posto desta forma, percebemos que, no modelo clássico, o aumento dos gastos
do governo apenas alteraram a composição da demanda, elevando a taxa de juros
da economia, não gerando o aumento do produto e da renda, visto que este tipo
de gastos não altera as condições tecnológicas, nem a alocação de fatores de pro-
dução. Assim, a política fiscal expansionista no modelo clássico apenas elevou
a participação dos gastos públicos em detrimento dos gastos privados, repre-
sentados pela redução do consumo e investimento. Este fenômeno é conhecido
como crowding-out ou efeito deslocamento. Desta forma não afetou a oferta
agregada que se encontra no nível de pleno emprego.

Equilíbrio Entre Oferta e Demanda Agregada no Modelo Clássico e Política Fiscal


166 UNIDADE IV

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, aprendemos que, no modelo clássico a oferta agregada da eco-


nomia é determinada por uma função de produção agregada, que representa a
relação entre a quantidade produzida e a utilização de fatores de produção (esto-
que de capital, trabalho etc.) de acordo com uma dada tecnologia. Aprendemos
que, no curto prazo, o fator de produção capital é mantido fixo, sendo o fator
trabalho variável. Por causa disto, a função de produção apresenta rendimentos
marginais decrescentes, conforme aumenta a quantidade produzida.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Como o objetivo das empresas é a maximização do lucro, estas contratarão
trabalhadores até quando o produto marginal do trabalho for igual ao salário
real, isto é, até que a receita adicional gerada na contratação de uma hora a mais
de trabalho seja igual ao seu custo. Desta forma, a demanda por mão de obra é
determinada pelas empresas. Já a oferta é determinada pelas famílias, que dada
a hipótese de pleno emprego, decidirão entre trabalho e lazer, tendo como fator
de decisão o salário real.
Analisando o lado da demanda agregada, podemos concluir que, para a teo-
ria clássica, a demanda agregada tem um papel passivo na determinação do nível
de produção da economia. Sendo esta demanda derivada da teoria quantitativa
da moeda, vimos que um aumento da oferta de moeda impactará apenas o nível
geral de preços, não influenciando o nível de produto e emprego, isto porque os
preços são considerados flexíveis. Assim, o aumento dos preços reduz o salário real
e menos pessoas querem trabalhar a este salário, tendo as empresas que aumen-
tar o salário nominal. No fim das contas, só gera aumento de salários e preços.
A política fiscal, por sua vez, apenas altera a composição da demanda, man-
tendo inalterada a oferta agregada da economia. Assim, pela teoria clássica, não
existe qualquer forma de o governo afetar o nível de emprego ou o produto agre-
gado da economia, nem pela política monetária, nem pela política fiscal. Então,
o governo deve deixar o mercado funcionar livremente. Esta foi a principal crí-
tica de Keynes, como veremos na próxima unidade.

MACROECONOMIA CLÁSSICA
167

A LEI DE WALRAS E DETERMINAÇÃO DA DEMANDA AGREGADA CLÁSSICA


Nesta etapa, aprenderemos como deduzir a demanda agregada clássica a partir da
identidade de Walras. De acordo com esta identidade, em uma economia com n mer-
cados, temos que, se houver excesso de demanda em um mercado, haverá escassez de
demanda em outro (ou outros), que compensará o excesso de demanda verificado no
primeiro. Desta forma, temos a definição da Lei de Walras, segundo a qual, em uma
economia composta por n mercados, se n-1 estiverem em equilíbrio, n-ésimo mercado
também estará.
Para iniciar as nossas análises, vamos, primeiramente, considerar as seguintes hipóteses
simplificadoras:
vi. A demanda por trabalho é uma demanda derivada, isto é, as empresas irão contratar
mais trabalhadores se a demanda pelos bens e serviços que produzem aumentar,
dado que as empresas demandam trabalho para gerar produção. Posto desta forma,
consideramos que os indivíduos realizarão demanda por produtos, moeda e títulos.
vii. A segunda hipótese é que as famílias não rasgam nem dinheiro, nem títulos.
Dado que, no equilíbrio macroeconômico, a oferta agregada é igual à demanda agrega-
da, temos que o valor da renda nacional R é igual ao produto nacional (PY), uma vez que
tudo que é produzido esgota-se na remuneração dos fatores de produção, envolvidos
na produção. Assim, temos:
n
R Ri P Y
i 1

Onde
Ri = renda nominal de cada indivíduo
R = Somatória da renda individual ou renda nacional
P . Y = produto real
Dadas as hipóteses simplificadoras, temos que os indivíduos alocarão a sua renda na
demanda por produtos, moeda e títulos. Essas demandas são representadas pelas se-
guintes equações:
Equação demanda por produto (bens e serviços):
n
Y =d
∑Yid
i =1

sendo Yid a demanda individual por produto.


168

Equação demanda por títulos (Bonds):


n
∆B = d
∑∆Bid
i =1
sendo Bid a demanda individual por títulos, que altera o seu estoque.
Equação demanda por moeda:

n
∆M = d
∑∆M id
i =1
sendo M id a demanda individual por moeda, que altera o seu estoque.
Como toda a renda nacional (R) deve ser alocada na demanda destes três mercados,
podemos escrever que:

R = PY d + ∆B d + � ∆M d
Posto desta forma, verificamos que os indivíduos destinam a sua renda para adquirir
bens e serviços, ou para aumentar o seu estoque de moeda ou de títulos. Desta forma,
podemos deduzir:
Se no equilíbrio a renda é igual o produto:
R=P.Y
E a renda nacional é igual à soma das demandas nos mercados de produto, título e
moeda, temos:
PY d Bd Md P.Y
Simplificando temos:

P (Y d Y) Bd Md 0
sendo a variação do estoque desejado de moeda representado pela fórmula:

∆M d = � M d − M 0
169

em que
ΔMd = Md - m0
Substituindo na fórmula de equilíbrio macroeconômico temos:

P (Y d Y) Bd Md M0 0

De acordo com a chamada conexão wickseliana, os bancos, ao fixarem a taxa de juros,


adquirem o excesso de oferta de títulos a esta taxa, convertendo-os em moeda confor-
me o desejo dos agentes. Se isto é verdade, as alterações na oferta de moeda em um
dado período serão iguais às variações no estoque de títulos demandados pelas famí-
lias. Isto pode ser representado como:
M − M 0 � = − ∆B d
− M 0 � = − ∆B d − M

Voltando à condição de equilíbrio de mercado, temos:

P (Y d Y) Bd Md M0 0
P (Y d − Y ) + ∆B d + M d − ∆B d − M = 0
P (Y d − Y ) + M d − M = 0

P (Y d Y) Md M
Nova condição de

em que equilíbrio

P(Y d - Y) = o excesso da demanda por produtos


- (Md - M) = o excesso da demanda por moeda
Desta forma verificamos que o excesso de demanda por produto é igual ao excesso de de-
manda por moeda com sinal investido. Dado que, de acordo com a teoria quantitativa da
moeda, a demanda por moeda pelo motivo transação é proporcional ao produto nominal:
M d = kPY
e que k = I/V, inverso da velocidade renda da moeda.
Considerando k =1 e substituindo a equação apresentada na condição de equilíbrio,
temos:
P (Y d − Y ) + M d − M = 0
P (Y d − Y ) + PY − M = 0
170

Simplificando temos:

∆PY d = M
Por esta fórmula, podemos verificar que a equação quantitativa da moeda pode ser in-
terpretada como uma função de demanda por produto. Assim dada a oferta de moeda
(M), um aumento nos preços reduz a demanda por produto ( ), e uma redução dos
preços aumenta a demanda por produto.
Fonte: Simonsen e Cysne (2007).
171

1. No modelo clássico, alterações no salário real podem implicar dois efeitos na de-
cisão das famílias: o efeito substituição e o efeito renda. A inclinação da curva
de oferta de trabalho depende de qual dos dois efeitos (substituição e renda)
é mais predominante. Dado um aumento do salário real na economia, qual é a
inclinação da curva de oferta de trabalho se o efeito renda for superior ao efeito
substituição? Assinale a alternativa verdadeira.
a) A curva de oferta é positivamente inclinada.
b) A curva de oferta é vertical.
c) A curva de oferta é horizontal.
d) A curva de oferta é negativamente inclinada.
e) A curva de oferta é convexa.
2. Vamos supor uma economia hipotética em que a função consumo é representa-
da pela seguinte equação: C = 1.000 + 0,76Yd. Dado que a renda, na teoria clássi-
ca, é gasta com consumo ou é poupada, se a renda disponível (Yd) aumentar em
R$ 100.000, qual será o aumento da poupança? Assinale a alternativa correta:
a) A poupança aumenta em R$ 76.000,00.
b) A poupança aumenta em R$ 7.600,00.
c) A poupança aumenta em R$ 0,76.
d) A poupança aumenta em R$ 24.000,00.
e) A poupança aumenta em R$ 0,24.
3. Supondo uma economia fechada com governo, a função de demanda agregada
inclui os gastos com o governo (G) e a arrecadação pública por meio dos impos-
tos (T), fazendo com que a função consumo e a poupança sejam determinadas
pela renda disponível e pela taxa de juros real. Desta forma, qual é o efeito de
uma política fiscal contracionista, com redução dos gastos públicos sobre a con-
dição de equilíbrio no mercado de bens e serviços? Sobre esta questão, leia as
afirmativas.
I. A redução dos gastos do governo provoca uma redução da demanda por
recursos, que dada a oferta, gerou uma pressão sobre os recursos existentes,
fazendo com que o setor financeiro reduza a taxa de juros.
II. A redução dos gastos do governo é representada por um deslocamento da
curva de demanda por recursos para a direita.
III. A redução da taxa de juros aumenta os investimentos privados no montante
ΔI, pois reduz o custo do capital e também aumenta o consumo em ΔC, pois
reduz o custo de oportunidade, ou seja, o consumo presente ficou relativa-
mente mais barato em relação ao consumo futuro.
172

IV. A política fiscal contracionista, no modelo clássico, apenas reduziu a partici-


pação dos gastos públicos em favor dos gastos privados, representados pelo
aumento do consumo e investimento, mas não alterou a renda e o produto
de equilíbrio.
Podemos afirmar que estão corretas as afirmativas:
a) I e II, apenas.
b) II e IV , apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
4. No modelo clássico, temos que o equilíbrio no mercado de bens e serviços, em
uma economia fechada com governo, é dada pela seguinte identidade: oferta
agregada = demanda agregada, e que esta pode ser derivada da teoria quantita-
tiva da moeda. Assim sobre o modelo clássico e a teoria quantitativa da moeda,
leia as afirmativas e assinale a alternativa correta:
I. Na teoria clássica, o aumento da oferta de moeda eleva o nível de emprego e
a renda na economia.
II. O aumento da oferta de moeda provocará alterações nos preços da economia,
ou seja, gera inflação, segundo a teoria clássica.
III. A maior propensão da sociedade a poupar reduz a taxa de juros, aumentando
os investimentos.
IV. Quando o progresso técnico torna o fator trabalho mais produtivo, o nível de
emprego aumenta, desde que a oferta de trabalho reaja positivamente ao sa-
lário real.
Podemos afirmar que estão corretas as afirmativas:
a) I e II, apenas.
b) II e IV , apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
173

5. Considerando o modelo clássico de determinação no nível de


emprego, na economia, e as hipóteses simplificadoras de con-
corrência perfeita, flexibilidade de preços e salários e validade
da teoria quantitativa da moeda, leia as afirmativas e assinale a
alternativa correta.
I. Dada a teoria quantitativa da moeda: MV = PY, se o estoque de
moeda (M) e a velocidade de circulação da moeda (V) mantive-
rem-se constantes, o aumento do produto (Y) implicará queda
dos preços.
II. O progresso técnico eleva a produtividade do trabalho e deslo-
ca para cima e para a direita a função de produção Y = f(N) e a
curva de demanda por trabalho, e as empresa estarão dispostas
a pagar um salário real mais elevado para obter a mesma quan-
tidade de trabalho.
III. Segundo a teoria quantitativa da moeda, o aumento da oferta
de moeda aumenta na mesma proporção o valor do salário no-
minal e não tem qualquer impacto sobre o nível de emprego.
IV. O progresso técnico, ao aumentar a produtividade do trabalho,
reduz o nível de preços e aumenta o salário real.
Podemos afirmar que estão corretas as afirmativas:
a) I e II, apenas.
b) II e IV , apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) I, II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Macroeconomia
Rudiger Dornbusch, Stanley Fischer, Richard Startz
Editora: McGrawHill, 11 edição
Sinopse: o livro apresenta explicações simples, abordagem dos conceitos com
enfoque acima da tecnicidade e a discussão de fatos empíricos que explicam e
testam a teoria macroeconômica. Apresenta um conjunto de modelos simples
que pode ser aplicado em situações específicas para análise macroeconômica.
Também traz a abordagem de novos temas, como medidas alternativas contra
o desemprego, política monetária heterodoxa e estímulo fiscal durante a
Grande Recessão e uma discussão sobre as bolhas e o colapso que levaram à
atual crise.
175
REFERÊNCIAS

BLANCHARD, O. Macroeconomia. ed. 4. São Paulo: Prentice Hall, 2007.


DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill
do Brasil, 2006.
KON, A. Pleno emprego no Brasil: interpretando os conceitos e indicadores. Revista
Economia & Tecnologia (RET). vol. 8, n. 2, p. 5-22, abr/jun 2012. Disponível em:
<http://revistas.ufpr.br/ret/article/viewFile/28159/18699>. Acesso em: 19 fev. 2018.
LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de Macroeconomia Básico e Inter-
mediário. São Paulo: Atlas, 2000.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. ed. 5. Rio de Janeiro: LTC 2004.
_____. Introdução à Economia: Princípios de Micro e Macroeconomia. 3. ed. Rio de
Janeiro: Pioneira Thomson, 2006.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. ed. 5. São Paulo: Atlas, 2011.
SIMONSEN, M.H. e CYSNE, R.P. Macroeconomia. ed. 3. São Paulo: Atlas, 2007.
GABARITO

1. D
2. D
3. C
4. C
5. E
Professora Dra. Juliana Franco Afonso

V
MACROECONOMIA

UNIDADE
KEYNESIANA E OS
MODELOS IS-LM

Objetivos de Aprendizagem
■■ Apresentar as propriedades básicas do modelo keynesiano.
■■ Entender como se dá o equilíbrio no mercado de bens e serviços no
modelo IS.
■■ Entender o mecanismo de equilíbrio no mercado de ativos ou
monetário no modelo LM.
■■ Aprender a dinâmica do equilíbrio macroeconômico no modelo
IS-LM e os efeitos da política monetária e fiscal.

Plano de Estudo
■■ O modelo keynesiano
■■ Equilíbrio no mercado de bens e serviços: a curva IS
■■ Equilíbrio no mercado monetário: a curva LM
■■ O modelo IS – LM e o efeito de política fiscal e monetária
179

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, iremos nos aprofundar um pouco mais no universo da macroe-


conomia. Começarei apresentando a você o modelo keynesiano e suas principais
propriedades para a determinação da renda, do produto e do emprego, na eco-
nomia, fazendo uma análise comparativa com o modelo clássico. Também
apresentarei o modelo IS – LM, também conhecido como Análise Hicks-Hansen,
o qual é incorporado ao mercado de ativos e a determinação da taxa de juros,
que passa, agora, a também determinar o nível de investimento da economia.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O modelo IS-LM representa a determinação simultânea da taxa de juros e


da renda, que equilibra tanto o mercado de bens e serviços como o mercado de
ativos. Assim, para que possamos entender a dinâmica deste modelo, devemos,
antes, compreender como se dá o equilíbrio em cada um destes mercados, tam-
bém chamado de equilíbrio parcial.
Iniciaremos nossa discussão pelo equilíbrio no mercado de bens e serviço.
A curva IS relaciona a renda com a taxa de juros, apresentando as diferentes
combinações destas variáveis que equilibram o mercado de bens e serviços na
economia. Aprenderemos que, para obtermos esta relação entre renda e taxa de
juros, o modelo keynesiano simples deve ser ampliado, com a introdução da taxa
de juros na determinação do investimento. Além disto, também apresentarei a
você o conceito do multiplicador da renda keynesiano.
Em seguida, deduziremos a curva LM, que é o equilíbrio no mercado de ativos,
também relacionando renda e taxa de juros. Para isso, recordaremos os concei-
tos e as fórmulas da demanda e da oferta de moeda, já estudados no capítulo II.
Após entendido como se dá o equilíbrio nestes dois mercados, analisaremos
o equilíbrio simultâneo entre eles e os efeitos das políticas fiscal e monetária,
analisando cada uma separadamente. Por fim, estudaremos situações em que são
utilizadas combinações de políticas fiscal e monetária e seus impactos na renda
e taxa de juros de equilíbrio. Portanto, tenham uma boa leitura!

Introdução
180 UNIDADE V

O MODELO KEYNESIANO

Desde o século XVIII, com o surgimento


da Revolução Industrial e a consequente
implantação do Sistema Capitalista de pro-
dução, a teoria clássica vinha dominando o
pensamento dos agentes econômicos, com
suas bases simplificadoras em que, na ausên-
cia de imperfeições de mercado (como o

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
surgimento de monopólios e oligopólios),
Fonte: Independent (2015, on-line)1.
conjugado com a ausência de intervenção
governamental, a economia tenderia a um equilíbrio de pleno emprego. No
entanto a teoria clássica não conseguia explicar o que estava ocorrendo com
a economia mundial na chamada Grande Depressão, que teve seu ápice com
a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929. O livre mercado não foi
capaz de recolocar as economias na retomada do crescimento, apresentando
altos níveis de desemprego e recessão econômica.
Nesse cenário, começam a ganhar destaques, teorias heterodoxas que iam
contra a ortodoxia clássica, e a que teve maios destaque foi a teoria desenvolvida
pelo economista inglês John Maynard Keynes, apresentada na obra chamada
Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936. Nela, Keynes
dá outro norte para a causa da Grande Depressão, voltando sua atenção para
o problema da insuficiência de demanda agregada, desenvolvendo o chamado
princípio da demanda efetiva.

O PRINCÍPIO DA DEMANDA EFETIVA

Para Keynes (1992), o nível de produto e renda de uma economia é determi-


nado pela demanda agregada, e não pelas condições de oferta agregada, como
postulavam os clássicos. Segundo ele, o empresário toma a decisão de quantos
trabalhadores contratar e o nível de produção a realizar, baseado em sua expec-
tativa de vendas, defrontando-se com duas curvas virtuais:

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


181

■■ curva de oferta agregada de bens e serviços - representa a renda necessá-


ria para o empresário oferecer determinado volume de emprego;
■■ curva de demanda agregada de bens e serviços - representa a renda que o
empresário espera ganhar por oferecer determinado número de emprego.

Posto desta forma, a oferta agregada apresenta custos marginais crescentes


(aumento do custo total por contratar uma hora a mais de trabalho) e, assim,
o aumento do emprego também implica aumento da renda necessária para o
empresário. Por outro lado, a demanda agregada representa o quanto o empre-
sário espera receber com base nas expectativas de gastos dos consumidores
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

(consumo das famílias) e dos empresários (investimento).


As hipóteses básicas da teoria keynesiana são (KEYNES, 1992):
i. O nível de produção da economia é determinado pelo número de trabalha-
dores empregados, com base em quanto os empresários esperam vender.
ii. O volume de emprego é determinado pelo ponto de intersecção da
oferta e demanda agregada, e não no mercado de trabalho, como no
modelo clássico. Assim, reduções salariais não servem para induzir o
aumento do emprego se os empresários não tiverem mais expectati-
vas de demanda.
iii. A taxa geral de juros e o nível geral de preços são rígidos.
iv. Os trabalhadores lutam por aumentos dos salários nominais, e não
reais, havendo uma inflexibilidade para baixo dos salários nominais.
Isto acontece porque, mesmo que uma categoria de trabalhadores, em
uma situação de desemprego, aceitasse trabalhar por salários nominais
mais baixos, isto em nada garantiria que os empresários contratassem
mais trabalhadores, como preconizava a teoria clássica.
v. A depreciação do capital é considerada inexistente.
vi. Inexistência de transferência (receita ou envio) de receita líquida para
o exterior.
vii. Há equilíbrio sem pleno emprego.
viii. A arrecadação tributária do governo é constituída apenas por impos-
tos diretos; supõe-se a inexistência de impostos indiretos, de subsídios
e de outras receitas correntes do governo.

O Modelo Keynesiano
182 UNIDADE V

ix. Todos os lucros auferidos pelas empresas da economia são distribuí-


dos aos sócios e acionistas.

De acordo com Silva (2015), Keynes propõe entender como a economia se


comporta, baseado no princípio da demanda efetiva, segundo a qual o nível de
atividade decorre das decisões de produzir das empresas, regidas por expecta-
tivas (de curto prazo) com relação à intensidade da demanda, no momento em
que os novos produtos chegarem ao mercado. Para Keynes, essas expectativas
são influenciadas pelo comportamento efetivo da demanda no passado recente.
Ainda segundo Silva (2015), Keynes institui o conceito de demanda efe-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tiva deprimida, que representa as expectativas de curto prazo pessimistas dos
empresários, que têm como consequência equipamentos ociosos e trabalhado-
res desempregados. A grande novidade deste tratamento é que a subutilização de
recursos produtivos é vista como um fenômeno de equilíbrio, pois os empresá-
rios que corretamente antecipam uma demanda baixa, produzem pouco, vendem
pouco e, tendo evitado a acumulação involuntária de estoques, estarão satisfeitos
com a decisão de produzir menos, adequando os seus custos à demanda esperada.
Por outro lado, expectativas otimistas fazem com que os empresários aumen-
tem o nível de produto, gerando um fluxo de renda ao remunerar os fatores de
produção contratados, induzindo novas decisões de gasto. No entanto, para
Keynes, parte destas decisões de gasto tem caráter autônomo em relação a esses
fluxos de renda e não aumentará com a produção. Se isto não é levado em consi-
deração nas decisões de produção, as expectativas das empresas serão frustradas,
estoques de produtos serão acumulados, e rapidamente, voltarão atrás. Para
Keynes, não há mecanismos de mercado capazes de garantir que o gasto autô-
nomo atinja precisamente o valor consistente com o produto potencial, sendo
esta a principal contribuição de Keynes à macroeconomia (SILVA, 2015).
Assim, o princípio da demanda efetiva determina o produto tanto no curto
quanto no longo prazo, e para assegurar o pleno emprego, cabe ao governo garan-
tir a demanda adequada. Assim, Keynes propõe uma atuação mais efetiva do
Estado, por meio dos gastos públicos, complementando a demanda privada e
incentivos aos investimentos, com a redução da carga tributária.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


183

Com relação à intervenção do Estado, na economia, a principal proposta de


Keynes consiste no desenvolvimento de mecanismos fiscais compensatórios que
permitissem contrabalançar a falta de gastos privados, permitindo manter o con-
sumo elevado. São exemplos destes mecanismos: seguro desemprego, assistência
social, tributação progressiva, entre outros (LOPES; VASCONCELLOS, 2000).

O MODELO KEYNESIANO SIMPLES


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Vamos, agora, aprender como que é definia a oferta agregada no modelo keyne-
siano e suas principais diferenças, como o modelo clássico, tratado na Unidade
IV de nosso livro.

Oferta agregada

No modelo keynesiano simples, o produto é determinado pela demanda agre-


gada, quando não há restrições pelo lado da oferta, ou seja, considera-se que a
economia apresente fatores de produção desempregados, de forma que, para
qualquer nível de demanda, as empresas possam aumentar a sua produção sem
pressionar o nível de preços dos fatores e dos produtos, ou seja, os preços são con-
siderados constantes. Assim, a curva de oferta agregada de bens e serviços (OA)
representa o quanto as empresas esperam vender de produtos no mercado, sendo:

OA = Renda nacional = Produto nacional real

De acordo com Vasconcellos (2011), existe a oferta agregada potencial e a oferta


agregada efetiva. A OA potencial é a produção máxima que pode ser alcançada
por uma economia quando ocorre pleno emprego dos fatores de produção, já a
OA efetiva refere-se à produção que está sendo efetivamente colocada no mer-
cado, que pode ocorrer com recursos abaixo do nível de pleno emprego, isto é,
com a presença de capacidade ociosa no setor produtivo e desemprego de mão
de obra. Evidentemente, a OA efetiva será igual à OA potencial, quando os fato-
res de produção estiverem plenamente empregados.

O Modelo Keynesiano
184 UNIDADE V

No modelo keynesiano, dado que os preços são constantes, o mecanismo de


ajuste será a quantidade produzida, ou seja, as empresas produzem de acordo
com a demanda efetiva. Desta forma, a curva de oferta agregada (OA) keyne-
siana é horizontal. Veja:
P OA

Modelo Clássico
Pleno emprego

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
P

Modelo Keynesiano
Desemprego

Yp Y
Figura 1 - Oferta agregada keynesiana e clássica
Fonte: adaptada de Lopes e Vasconcelos (2000) .

A curva de OA horizontal indica que, quando os fatores de produção não estão


plenamente empregados, o mecanismo de ajuste deixa de ser via preços quando
existe excesso de demanda ou excesso de oferta, transformando em alterações
apenas na quantidade produzida. O desemprego keynesiano ocorre pela insufici-
ência da demanda agregada para absorver a produção agregada de pleno emprego.

Demanda agregada

Até agora, trabalhamos o conceito de demanda agregada para a economia fechada,


vamos, agora, acrescentar o setor externo em nossas análises, acrescentando um
elemento de demanda, as exportações, e um elemento de vazamento de renda
para o exterior, as importações. Posto desta forma, a demanda agregada de bens
e serviços é composta pela demanda dos quatro macroagentes econômicos, a
saber (BLANCHARD, 2007):

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


185

DA = C + I + G + X − M
ou
DA = C + I + G + NX
sendo
C = Demanda de bens de consumo pelas famílias
I = Demanda de investimentos pelas empresas (I)
G = Demanda do governo
NX = Demanda líquida do setor externo (Exportações X - Importações Aí)
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O formato da curva de demanda agregada é negativamente inclinada, pois a ma


dada renda nominal Y, quando o nível de preços P eleva-se, renda real (Y ) reduz,
P
indicando relação inversa entre P e Y, conforme podemos verificar
na Figura 2:

Curva de Demanda
Agregada (DA)

Y
Figura 2 - Curva de demanda agregada
Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

Esta relação inversa entre preços e quantidades de produto agregado é expli-


cada pela ocorrência de três tipos de efeitos: efeito-riqueza, efeito taxa de
juros e efeito taxa de câmbio, que podem ser resumidos da seguinte forma
(VASCONCELLOS, 2011):

O Modelo Keynesiano
186 UNIDADE V

a) efeito-riqueza (ou efeito-pigou) - dada renda nominal constante (Y)


uma queda do nível de preços, leva ao aumento do valor real da riqueza
dos consumidores, estimulando-os a gastar mais. Desta forma, a queda
da inflação deve elevar o consumo agregado, que é um dos componen-
tes da demanda agregada;
b) efeito taxa de juros - o aumento da renda real, decorrente da queda da
inflação, faz com que os consumidores necessitem de menos moeda para
comprar bens e serviços, e a demanda por moeda, pelo motivo transação,
reduz. As famílias poderão utilizar esta “sobra” de moeda para aplicações
financeiras, aumentando a demanda de títulos e, assim, a oferta de recur-

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sos, que tende a provocar a queda da taxa de juros de mercado. Essa queda
da taxa de juros, além de baratear os empréstimos bancários, e, portanto,
estimular o consumo de muitas famílias, poderá viabilizar muitos projetos
de investimentos, já que muitos empresários, em vez de aplicarem seus
recursos no mercado financeiro, tendem a aplicá-los em investimentos
produtivos, como na ampliação de sua empresa, na modernização de equi-
pamentos etc. Ou seja, a queda do nível geral de preços tende a provocar
a queda da taxa de juros, que deve levar ao aumento tanto do consumo
como do investimento agregado, dois dos elementos da demanda agre-
gada de bens e serviços;
c) efeito taxa de câmbio - a queda do nível geral de preços internos torna
nossos produtos mais competitivos, relativamente, aos preços dos pro-
dutos importados. Esse efeito estimula as exportações (X) e desestimula
as importações agregadas (M), elevando a demanda agregada.

HIPÓTESES DO MODELO KEYNESIANO SIMPLES

O modelo keynesiano simples é composto por quatro hipóteses principais


(VASCONCELLOS, 2011):
a) desemprego de recursos - a demanda agregada da economia está em nível
abaixo da produção (AO) de pleno emprego, desta forma, no modelo sim-
plificado, os preços são mantidos constantes e as variáveis consideradas
em valores reais (deflacionados).

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


187

b) curto prazo - no curto prazo, o estoque de fatores de produção (nível tec-


nológico, capital e mão de obra) são considerados constantes. No entanto
o nível de utilização destes fatores variáveis, ou seja, a força de trabalho e
a capacidade instalada são fixas, mas sua utilização varia.
c) a curva de oferta agregada é fixada: a oferta agregada (OA) é afetada dire-
tamente pelo estoque dos fatores de produção: mão de obra (N), capital
(K) e pelo nível de conhecimento tecnológico (T), ou seja: OA =f(N,K,T).
Como esses fatores são relativamente constantes a curto prazo, segue que
a OA permanece fixada a curto prazo. Isto pode ser representado pelo
gráfico da Figura 3:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

P OA

Y0 Y1 Yp Y
Figura 3 - Oferta agregada keynesiana de curto prazo
Fonte: adaptada de Vasconcelos (2011).

No gráfico da Figura 3, verifica-se que, em situação de desemprego, quando o


nível de produto passa de Y0 para Y1, a curva de OA permanece fixa, embora a
quantidade produzida varie, decorrente da maior utilização do estoque de fato-
res de produção. Isto mostra que não houve aumento da capacidade de produção
da economia, apenas do nível de produção, visto que está se operando com capa-
cidade ociosa. Posto desta forma, verifica-se que não há deslocamento da curva
de OA, mas movimentos ao longo da curva de OA.

O Modelo Keynesiano
188 UNIDADE V

d) a curto prazo, apenas a demanda agregada provoca variações no nível


de equilíbrio da renda nacional - a oferta agregada é fixa no curto
prazo, e as variações na renda nacional são decorrentes das variações
na demanda agregada (DA), ressaltando o papel desta dentro da teoria
keynesiana. Assim, no curto prazo, para tirar a economia de uma situ-
ação de desemprego, a política econômica deve procurar elevar a DA,
sendo este o princípio da demanda efetiva. Isto pode ser verificado no
gráfico da Figura 4:

P OA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DA2
DA1

Y0 Yp Y
Figura 4 - Equilíbrio macroeconômico keynesiano de curto prazo
Fonte: adaptada de Vasconcelos (2011).

Pela Figura 4, verificamos que, quando a demanda agregada é estimulada, por


exemplo, por uma expansão fiscal, com aumento dos gastos do governo, a renda
e a produção de equilíbrio aumentam, saindo da situação de desemprego (Y0) e
indo em direção à situação de pleno emprego (Yp).

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


189

COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS: CONSUMO (C),


INVESTIMENTO (I), GASTO DO GOVERNO (G), EXPORTAÇÃO (X)
E IMPORTAÇÃO (M)

Agora, aprenderemos quais são as relações funcionais entre as variáveis econô-


micas, em nível agregado, e analisar como se pode atuar sobre elas, aplicando
os instrumentos de política econômica. Para isto, devemos aprender, separada-
mente, as funções que determinam o comportamento de cada uma das variáveis
componentes da demanda agregada.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Função Consumo

Uma das principais contribuições de Keynes foi instituir que o consumo agre-
gado das famílias é composto por um componente autônomo e por outro que
representa uma função crescente da renda nacional (Y). A função consumo linear
simplificada é expressa, segundo Blanchard (2007):
C = � C0 + cY

em que
Co = consumo autônomo, independentemente da renda, no gráfico é o
intercepto
c = propensão marginal a consumir, é o coeficiente angular ou a inclina-
ção do gráfico

A propensão marginal a consumir (PMgC) é o acréscimo de consumo, dado


um acréscimo na renda nacional e pode ser representado pela seguinte fórmula:

∆C
PMgC = c =� 0 < c <1
∆Y

O Modelo Keynesiano
190 UNIDADE V

A propensão marginal a consumir é positiva e menor do que um, porque, dado


um aumento na renda, as famílias poupam uma parte. Já o consumo autônomo
é a parcela do consumo que não depende da renda, mas de outros fatores, como
a riqueza já acumulada do indivíduo, herança, renda futura etc.
Graficamente, a função consumo pode ser representada como se segue:

C
C = C0 + cY

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
C

C0

Y
Figura 5 - Função consumo agregado
Fonte: adaptada de Blanchard (2007).

Função Poupança

A poupança (S) da sociedade é a diferença entre a renda disponível e o consumo,


ou seja, é a parcela não consumida da renda nacional, em dado período de tempo.

S =Y −C

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


191

A função poupança é definida como:

S = � −C0 + (1 − c ) Y

Sendo (1-c) a propensão marginal a poupar, que é o acréscimo da poupança


agregada, dado um acréscimo na renda nacional, isto é:
∆S
PMgS = (1 − c ) = �
∆Y

Graficamente, podemos representar a função poupança como:


Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

S = -C0 + (1 - c)Y

1-C

0
Y
-C0
Figura 6 - Função poupança agregado
Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

Exemplo 1: Suponhamos que a função consumo seja dada como: C = 8 + 0,70Y.


Sabemos, então, que a função poupança é o complemento da função consumo,
assim, temos: S = - 8 + 0,3y.

O Modelo Keynesiano
192 UNIDADE V

Portanto, PMgC= c = 0,7 e a PMgS = (1-c) = 0,3, graficamente, podemos


representar estas funções como se segue:

C, S S = 8 + 0,7Y

S = -8 + 0,3Y
0,7

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
0,3
8

0
Y
-8
Figura 7 - Função consumo e poupança agregado
Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

Função Investimento

O investimento agregado é o principal determinante do crescimento do pro-


duto e do emprego, desempenhando duplo papel. De acordo com Vasconcellos
(2011), pode ser entendido como:
a) investimento visto como elemento da demanda agregada - ocorre
quando são realizados gastos com instalações, equipamentos, constru-
ções etc., antes de o investimento maturar e resultar em acréscimos da
produção, ou seja, refletimos-nos ao curto prazo;
b) investimento visto como elemento de oferta agregada - ocorre após a
maturação dos investimentos, quando aumenta a capacidade produtiva.

De acordo com o modelo keynesiano simples, existem duas hipóteses sobre o


investimento (KEYNES, 1992):

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


193

i. Primeira hipótese: em uma análise de curto prazo o investimento afeta


apenas a demanda agregada. Apenas no longo prazo é que a oferta agre-
gada (aumento da capacidade produtiva) é afetada.
ii. Segunda hipótese: o investimento é autônomo em relação à renda nacional.

Desta forma, no modelo básico, o investimento não depende da renda nacional,


podendo ser expresso como:

I = I0
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Assim, qualquer que seja o nível de renda, o investimento é um valor constante.


Graficamente, temos:
I

I = I0
I0

Y
Figura 8 - Função investimento
Fonte: adaptada de Vasconcellos (2011).

No investimento autônomo, assume-se que os empresários tomam suas decisões


de investir sem levar em consideração o nível de renda presente. O investimento
depende de outras variáveis, como as taxas de juros, rentabilidade esperada,
rentabilidade passada, disponibilidade de crédito, entre outros. No entanto não
incluiremos estas variáveis em nossas análises.
Avançando um pouco, veremos que o investimento pode ser considerado
parcialmente autônomo, sendo uma parcela dependente diretamente do nível
de renda da economia, ou seja, quanto mais alta a renda, mais alto será o nível
de investimento. Veja, em Blanchard (2007), que:

O Modelo Keynesiano
194 UNIDADE V

I = � I 0 + dY

em que
■■ I0 = investimento autônomo
■■ d = propensão marginal a investir

Função Gastos do Governo

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
No modelo keynesiano simples, também se supõe que os gastos do governo são
autônomos em relação à renda nacional. Assim:

G =� G0

Os gastos públicos são considerados exógenos, isto é, não são determinados por
outras variáveis econômicas, mas se formam institucionais de acordo com os
objetivos da política econômica adotada.

Função Imposto

No modelo keynesiano simples, a tributação também é suposta autônoma, não


depende da renda nacional.
T =�T0

Mas esta é uma hipótese simplificadora. Assim, a função imposto pode ser repre-
sentada por uma parte autônoma e outra dependente do nível de renda:

T = �T0 + tY
em que
T0 = tributação autônoma
t = propensão marginal a tributar e (0< t < 1)

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


195

A primeira alteração decorrente da introdução do governo é na função consumo,


visto que, agora, devemos adotar o conceito de renda disponível do setor privado
(Yd), que acaba por determinar o consumo das famílias, e não a renda nacional
(Y). Já vimos isto, na Unidade III, mas retomaremos este conceito, devido à sua
importância. A função consumo fica, de acordo com Lopes e Vasconcellos (2000):
C C0 cY

Sendo
Yd = (Y − T )
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Substituindo a função renda disponível da função consumo, temos:

C = � C0 + c (Y − T )

dado que
T = �T0 + tY

Substituindo a função tributo na equação do consumo, temos:

C = � C0 + c (Y − T0 − tY )
ou
C = � C0 − T0 + c (Y − tY )
Assim, o aumento da tributação reduz o consumo e a demanda agregada da
economia.

Função Exportação

As exportações também são consideradas autônomas em relação à renda nacio-


nal, dado que são afetadas pela renda dos outros países.

X =� X 0

O Modelo Keynesiano
196 UNIDADE V

Função Importação

As importações correspondem à demanda de residentes por bens e serviços pro-


duzidos no exterior. Desta forma, ela é posta como função crescente da renda
interna, numa proporção fixa (m), que representa a propensão marginal a
importar da renda. Assim, temos:
M = mY
em que
m = propensão marginal a importar.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Por esta equação, podemos verificar que quanto maior a renda nacional, maior
será a importação.

O que acontece com a demanda agregada quando a renda do resto do


mundo aumenta?

EQUILÍBRIO NO MERCADO DE BENS E SERVIÇOS: A


CURVA IS

Agora que já aprendemos como são determinadas as variáveis que compõem a


demanda agregada da economia, analisaremos como se dá o equilíbrio no mer-
cado de bens e serviços.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


197
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

DETERMINAÇÃO DO EQUILÍBRIO, IGUALANDO A OFERTA


AGREGADA E A DEMANDA AGREGADA

Já estudamos que o equilíbrio macroeconômico se dá quando:

OFERTA AGREGADA (OA) = DEMANDA AGREGADA (DA)

Como:
AO = Y
DA = C + I + G + X − M

A condição de equilíbrio é apresentada como:

Y =C + I +G+ X −M

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


198 UNIDADE V

Graficamente, esta condição de equilíbrio é apresentada por uma reta de 45 graus


que representa os pontos possíveis de equilíbrio entre DA (eixo das ordenadas)
e OA (renda nacional, eixo das abscissas). Cada ponto da reta representa uma
condição de equilíbrio. Já o ponto de equilíbrio específico (Ponto E) é determi-
nado pela demanda agregada (VASCONCELLOS, 2011).
No modelo Keynesiano, o equilíbrio dá-se abaixo da renda de pleno emprego
Yp, apresentando um equilíbrio com desemprego, como mostra a Figura 9.

DA = OA

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DA
DA = C + I + G + X - M

A0
45º

Y(AO)
Y* Yp

Renda de equilíbrio
entre a DA e OA
Figura 9 - Equilíbrio de curto prazo, em termos de oferta e demanda agregadas
Fonte: adaptado de Vasconcellos (2011).

Na Figura 9, mostramos o nível de produto (Y) no eixo horizontal. A reta de 45o for-
nece o nível de demanda agregada no eixo vertical, que é igual ao nível de produto.
O ponto E é o ponto de equilíbrio do produto, no qual a quantidade produzida é
igual à quantidade demandada. A qualquer nível mais alto da produção de equilíbrio
(Y*), a demanda agregada está abaixo do nível de produto, as empresas começam
a acumular estoques e a passam a produzir menos. Assim, no ponto E, as pessoas
estão comprando o volume que desejam comprar, e não há uma tendência para que
haja variação no nível de produção, a não ser que a demanda agregada se altere.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


199

Desta forma, temos que as variações da Demanda Agregada levam a varia-


ções no produto e na renda de equilíbrio e sofre elevação de valor determinada
pelo aumento de valor de qualquer um dos componentes autônomos das variá-
veis que a influenciam positivamente, a saber:
■■ os investimentos;
■■ os gastos do governo;
■■ as exportações.
Elevações da demanda agregada também são causadas pela redução do valor dos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

componentes autônomos das variáveis que a influenciam negativamente, como:


■■ a tributação;
■■ as importações.

O MULTIPLICADOR DOS GASTOS KEYNESIANOS

Neste item, desenvolveremos uma resposta à seguinte questão: quanto o aumento


de R$ 1,00 no gasto autônomo aumenta o nível de equilíbrio da renda?
A resposta a esta questão está no desenvolvimento do conceito do multiplica-
dor que, segundo Dornbush et al. (2006, p.93) é “o montante pelo qual a produção
varia, quando a demanda agregada autônoma aumenta em uma unidade”.
No equilíbrio do modelo Keynesiano simples, temos:

Y =C + I +G+ X −M

Dadas as seguintes funções:


Função consumo: C = C0 + c(Y - T)
Função investimento: I = I0
Função tributação: T = T0 + tY
Função gastos do governo: G = G0
Função exportação: X = X0
Função importação: M = mY

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


200 UNIDADE V

Substituindo estas funções na equação de equilíbrio, temos:

Y = C0 − T0 + c (Y − tY ) + I 0 + G0 + X 0 − mY

Isolando a renda, temos:

Y + mY − c (Y − tY )� = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0

Y � ( 1� − c (1 − t ) + m� ) = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Assim, a nova condição de equilíbrio para uma economia aberta será a seguinte:
1
Y * �= ( C0 + I0 + G0 + X 0 − T0 )
1 − c (1 − t ) + m �

em que
1
α=
1 − c (1 − t ) + m�
é o multiplicador de gastos keynesiano da economia aberta
e
A0 = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0 = nível de gastos autônomos

Uma análise do multiplicador mostra que:


■■ Quanto maior a propensão marginal a consumir da renda (c), maior será
o multiplicador.
■■ Quanto menor a propensão marginal a tributar (t), maior será o multipli-
cador, porque eleva o aumento induzido do consumo autônomo.
■■ Quanto menor a propensão marginal a importar (m), maior será o
multiplicador.

Quanto maior o valor do multiplicador, mais inclinada é a curva de demanda


agregada na economia, indicando que as variações na demanda agregada, cau-
sada pelas variações nos gastos autônomos, provocam maior variação da renda
e na produção de equilíbrio.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


201

O gráfico apresentado, na Figura 10, apresenta a variação da renda e da pro-


dução de equilíbrio, decorrente da variação dos gastos autônomos.

DA2 = α. A’0
E’
DA
∆A0
DA1 = α. A0

A’0 E
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

∆Y

A0

45º

Y1 Y2 Y(AO)
Figura 10 - Efeito de um aumento nos gastos autônomos
Fonte: adaptada de Dornbusch et al. (2006).

Podemos verificar, pela Figura 10, que, quando ocorre aumento na demanda
agregada autônoma, a curva de demanda agregada desloca-se para cima de DA1
para DA2. O equilíbrio move-se do ponto E para o ponto E’. O aumento da pro-
dução de equilíbrio ΔY = Y2 – Y1 é maior que a variação dos gastos autônomos
ΔDA, por causa do efeito multiplicador da renda.
Podemos escrever a variação da renda de equilíbrio, decorrente da variação
de demanda agregada autônoma, da seguinte forma:
Y A0

Agora analisaremos qual será o efeito na determinação da renda de equilíbrio


se houver redução na alíquota dos impostos. Isto está ilustrado na Figura 11:

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


202 UNIDADE V

DA2 = α’. A0
DA
E’

DA1 = α. A0

∆Y 1
α=
1 - C(1 - t ) + m
A0

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
45º

Y1 Y2 Y(AO)

Figura 11 - Efeito de um aumento nos gastos autônomos


Fonte: adaptada de Dornbusch et al. (2007).

Pela Figura 11, vemos que uma redução na alíquota do imposto de renda
aumenta a renda disponível do consumidor (Yd = Y – T) , ficando este com a maior
parcela da renda para gastar, causando um deslocamento da curva de demanda
agregada de DA1 para DA2. A redução da alíquota do imposto, aumenta o valor
do multiplicador keynesiano, a curva de demanda agregada torna-se mais incli-
nada, e o nível de equilíbrio da renda aumenta de Y1 para Y2.
Exemplo: Vamos supor que, inicialmente, a demanda agregada autônoma é
A0= 500, a propensão marginal a consumir é c= 0,7, a alíquota do imposto de
renda é t = 0,15 e a propensão marginal a importar é m = 0,10. Qual é o valor
do multiplicador? Qual é o valor da renda de equilíbrio?

1
Y* 500 1 339, 34
1 0, 7 1 015 0,10

O valor do multiplicador é α = 3,28, e a renda de equilíbrio é Y* = 1.339,34.


Interpretação do multiplicador: para cada R$ 1,00 de despesa autônoma, gera-
-se de renda R$ 3,28.
Agora, vamos supor que um corte no imposto reduza a alíquota para t=
0,10. Qual o valor do multiplicador? Qual será a nova renda de equilíbrio
na economia?

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


203

1
Y* 500 1 851, 85
1 0, 7 1 010 0,10

O valor do multiplicador é agora α = 3,70, e a renda de equilíbrio é Y* = 1.851,85.


Interpretação do multiplicador: para cada R$ 1,00 de despesa autônoma,
gera-se de renda R$ 3,30.
Verificamos que uma redução do imposto em 0,05, o multiplicador keyne-
siano aumentou em Δα = 0,42, impactando na renda de equilíbrio que teve uma
variação positiva de ΔY* = 512,51.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

O que acontece com o multiplicador da renda keynesiano se houver aumen-


to na alíquota do imposto de renda? Ele aumentará ou reduzirá?

A CURVA IS

Ampliaremos, agora, a condição de equilíbrio, introduzindo a taxa de juros


como variável explicativa do investimento, o que constituirá o chamado equilí-
brio de mercado de bens e serviços, representado pela curva IS de Hicks-Hansen.
A função investimento passa a ser apresentada, segundo Lopes e Vasconcellos
(2000), como:
I = � I 0 − dr

em que
r = taxa de juros real
d = é sensibilidade (elasticidade) do investimento em relação à taxa de juros
I0 = investimento autônomo

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


204 UNIDADE V

No modelo keynesiano, vimos que o investimento era determinado exogena-


mente, mas, no modelo de Hicks-Hansen, o investimento é considerado endógeno,
sendo determinado pela taxa de juros da economia. Podemos verificar, pela fun-
ção investimento, apresentada anteriormente, que ele possui uma relação inversa
com a taxa de juros. Assim, quanto menor a taxa de juro, maior será o investi-
mento. Isso pode ser visto na Figura 12:
r

r1

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
r2

I1 I2 I
Figura 12 - Demanda de investimentos, em função da taxa de juros
Fonte: adaptado de Vasconcellos (2011).

Neste modelo, a taxa de juros é um fenômeno estritamente monetário, sendo


independente dos planos de investimento e de poupança. O equilíbrio no mer-
cado de bens e serviços pela relação IS, fica:

Y = C0 − T0 + c (Y − tY ) + I 0 − dr + G0 + X 0 − mY

Isolando a renda, temos:


Y + mY − c (Y − tY ) = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0 − dr
Y � ( 1� − c (1 − t ) + m ) = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0 − dr

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


205

Assim, a nova condição de equilíbrio para uma economia aberta será a seguinte:
1 1
Y* C0 I0 G0 X 0 T0 .dr
1 c 1 t m 1 c 1 t m

sendo
1
α= o multiplicador de gastos keynesiano da economia aberta.
1 − c (1 − t ) + m�

e
A0 = C0 + I 0 + G0 + X 0 − T0 = nível de gastos autônomos
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Simplificando, podemos escrever a equação de equilíbrio (IS) como:

Y* A0 dr

A curva IS representa as várias combinações de renda e de taxa de juros que


equilibram o mercado de bens e serviços. Graficamente, é representada como:

Qualquer ponto sobre a curva IS repre-


r1 senta o equilíbrio no mercado de bens e
serviços:
Oferta agregada = Demanda agregada

r2
IS

Y1 Y2 Y
Figura 13 - Curva IS
Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

O intercepto da curva IS é dado pelos gastos autônomos (αA0), que determinam


a sua posição. Já a inclinação da curva é dada por (-dr), que mostra a relação
inversa entre a taxa de juros e a renda.

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


206 UNIDADE V

Propriedades da inclinação da Curva IS:

■■ Redução da taxa de juros gera aumento no investimento.


■■ Aumento no investimento (I) provoca aumento na demanda agregada, que
gera aumento na produção de equilíbrio, por meio do efeito multiplicador.
■■ Uma i mais baixa, portanto, leva O aumento na produção de equilíbrio
no mercado de bens. A curva IS tem inclinação decrescente no sentido
de refletir isso.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
■■ Variações em i e Y não causam deslocamentos da curva IS, apenas movi-
mentos ao longo da curva IS.
■■ Quanto maior for a elasticidade do investimento em relação à taxa de juros
(d), mais horizontal é a curva IS, ou seja, menor será sua inclinação. Isto
significa que pequena variação na taxa de juros provoca grande variação
no investimento e, portanto, na demanda agregada e na renda. Por outro
lado, a baixa elasticidade do investimento em relação à taxa de juros (d)
apresenta curva IS mais inclinada (próxima da vertical), significando que
são necessárias grandes variações na taxa de juros para que haja variações
no investimento e, assim, na demanda agregada e na renda de equilíbrio.
■■ Quanto maior for o valor do multiplicador dos gastos (α), variações no
investimento gerarão grandes expansões na demanda agregada e na renda,
levando a uma curva IS próxima da horizontal. Quando o multiplicador
é elevado, as variações da taxa de juros causam grandes impactos sobre
o investimento e, assim, sobre a demanda agregada e a renda.

Fatores que causam o deslocamento da curva IS:

■■ A curva IS desloca-se para a direita (e para cima) quando aumentam os


gastos autônomos, como: os gastos do governo, o consumo, o investi-
mento as e exportações e quando os impostos (T) caem.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


207

■■ A curva IS desloca-se para a esquerda (e para baixo) quando caem os gas-


tos autônomos, e os impostos aumentam.
■■ Dado o valor da taxa de juros, o montante do deslocamento é dado pelo
valor do multiplicador dos gastos vezes a variação na despesa.

A Figura 14 apresenta o impacto no equilíbrio do mercado de bens e serviços,


quando o governo adota uma política fiscal expansionista com aumento dos
gastos públicos.

r
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

r1
IS2
IS1
αΔG

Y1 Y2 Y
Figura 14 - Elevação dos gastos públicos e o efeito multiplicador na curva IS
Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

Podemos, assim, verificar, que o impacto inicial do aumento dos gastos públi-
cos, dado a taxa de juros, é o deslocamento para a direita e para cima da curva
IS. Isso mostra que, quando o governo aumentou os seus gastos, ele estimulou
a demanda agregada, e assim, gerou aumento na produção e na renda de equi-
líbrio da economia.
A magnitude do deslocamento da curva IS é dada pelo incremento dos gastos
público vezes o multiplicador (αΔG), representado pelo deslocamento horizon-
tal da curva IS, como pode ser visto na Figura 14.

Equilíbrio no Mercado de Bens e Serviços: A Curva IS


208 UNIDADE V

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
EQUILÍBRIO NO MERCADO MONETÁRIO: A CURVA LM

A curva LM representa o equilíbrio no mercado financeiro ou monetário, expresso


em termos efetivos, ou seja, o equilíbrio ocorre quando a taxa de juros torna a
oferta efetiva de moeda igual à demanda efetiva por moeda.
Como vimos na Unidade II, a oferta de moeda é determinada pelo Banco
Central, sendo uma variável exógena. Já a demanda por moeda é determinada pela
decisão dos agentes em reter moeda pelo motivo transação e pelo motivo portfólio.
Quanto ao motivo transação, a demanda por moeda (L) está diretamente
relacionada com o nível de renda da economia, assim, quanto maior o nível de
renda, maior será o volume de transações e maior será a demanda por moeda.
Pelo motivo portfólio, temos que a demanda por moeda está inversamente rela-
cionada com a taxa de juros, pois esta funcionará como sendo um custo de
oportunidade em reter moeda, ou seja, o indivíduo só reterá moeda se a taxa de
juros estiver baixa, de outra forma, ele aplicará em títulos que são remunerados
a taxa de juros. Assim, a demanda por moeda reduz com o aumento da taxa de
juros e vice-versa.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


209

A curva LM pode, assim, ser expressa, de acordo com Lopes e Vasconcellos


(2000):
M
L Y r
P

Em que
P =nível geral de preço
Y = renda ou produto nacional
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

R = taxa de juros real


M
P
= oferta real de moeda controlada pelo Banco Central
L (Y, r)= demanda por moeda que varia positivamente com a renda e
negativamente com a taxa de juros

Considerando a função demanda linear por moeda, temos:


L = eY − fr

em que
e = sensibilidade (elasticidade) da demanda por moeda em relação à renda
f = sensibilidade (elasticidade) da demanda por moeda em relação à taxa
de juros

Quando o valor destas elasticidades é maior que um, dizemos que são altas,
pois a variação de 1% na renda ou na taxa de juros causa variação mais que pro-
porcional na demanda por moeda, ou seja, acima de 1%. Já quando o valor das
elasticidades é menor do que um, dizemos que são baixas, e a variação de 1% na
renda ou na taxa de juros causa variação abaixo de 1% na demanda por moeda.
Podemos escrever o equilíbrio entre a oferta e a demanda por moeda como:
M
= eY − fr
P

Isolando a taxa de juros, obtemos a equação da curva LM, que representa as várias
combinações de renda e a taxa de juros que equilibram o mercado monetário:

Equilíbrio no Mercado Monetário: A Curva LM


210 UNIDADE V

e 1M 
r =� Y � −  
f f P

Em que
e
■■ f = é a inclinação da curva LM

■■ 1 M = é o intercepto da curva LM
f P
Graficamente, a determinação da curva LM pode ser apresentada pelos gráfi-
cos da Figura 15.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
M
P

r2 L2(Y2)

r1 L1(Y1)

M
P
(a) Equilíbrio entre oferta e demanda por moeda

r LM

r2 Qualquer ponto sobre a curva IM repre-


senta o equilíbrio no mercado monetário:
Oferta de moeda = Demanda por moeda

r1

Y1 Y2 Y
(b) Curva LM
Figura 15 - Determinação da curva LM
Fonte: adaptado de Lopes e Vasconcellos (2000).

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


211

No gráfico (a), podemos ver que a demanda por moeda responde, positiva-
mente, às variações na renda, mas, negativamente, à taxa de juros. Assim, dada a
oferta de moeda, quando a renda aumenta de Y1 para Y2, a demanda por moeda
aumenta, representada por um deslocamento para a direita da curva de demanda
por moeda. No entanto com maior demanda por moeda pelo motivo transação,
dada a oferta, temos excesso de demanda pressionando os bancos a aumenta-
rem a taxa de juros. Conforme os juros vão aumentado, o excesso de demanda
vai reduzindo até que seja anulado, e novo equilíbrio monetário acontece a uma
taxa de juros mais elevada (r2). Os dois equilíbrios monetários que mostram as
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

combinações diferentes de renda e taxa de juros são representados, no gráfico


(b), pela curva LM.

INCLINAÇÃO DA CURVA LM

De acordo com Blanchard (2007), os fatores que afetam a inclinação da curva


LM são:
■■ A elasticidade da demanda por moeda em relação à renda (e): quanto
maior for esta elasticidade, maior será a inclinação da curva LM, visto que
pequena variação da renda levará a uma grande expansão da demanda
por moda, exigindo maior elevação da taxa de juros para compensar o
excesso de demanda. Por outro lado, se a elasticidade da demanda por
moeda for baixa em relação à renda, a Curva LM é menos inclinada,
próxima da horizontal, ou seja, para qualquer alteração na renda, será
necessária apenas pequena alteração da taxa de juros para manter o mer-
cado monetário em equilíbrio.
■■ A elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros (f):
quanto maior for esta elasticidade, menor será a inclinação da curva LM,
visto que qualquer variação da renda exigirá pequena mudança na taxa
de juros para compensar o excesso de demanda e manter o mercado
monetário em equilíbrio. Mas, se a elasticidade da demanda por moeda
em relação à taxa de juros for baixa, a curva LM tende a uma horizontal,
indicando que qualquer alteração no nível de renda exigirá grande alte-
ração na taxa de juros para manter o mercado monetário em equilíbrio.

Equilíbrio no Mercado Monetário: A Curva LM


212 UNIDADE V

A Figura 16 a seguir apresenta a inclinação da curva LM de acordo com o valor


das elasticidades:
Curva LM mais inclinada:
- Elasticidade renda da demanda por
moeda elevada
r LM - Elasticidade juros da demanda por
moeda baixa

r2 Curva LM menos inclinada:


- Elasticidade renda da demanda por
LM moeda baixa
- Elasticidade juros da demanda por

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
r1 moeda elevada

Y1 Y2 Y

Figura 16 - Inclinação da curva LM


Fonte: adaptado de Blanchard (2007).

Em síntese, podemos verificar, pelo gráfico da Figura 16, que a curva LM é mais
inclinada (mais vertical) quando a elasticidade renda for alta e a elasticidade juros
da demanda por moeda for baixa. Por outro lado, a curva LM é menos inclinada
(mais horizontal) quando a elasticidade renda for baixa e a elasticidade juros da
demanda por moeda for alta.

DESLOCAMENTO DA CURVA LM

Segundo Blanchard (2007), a posição da curva LM é dada pela oferta real de


moeda ( M ) e sofre um deslocamento DA quando:
P M
■■ a curva LM desloca-se para baixo quando a oferta real de moeda ( )
P
aumenta, porque se requer taxa de juros (r) mais baixa, de modo a man-
ter o equilíbrio nos mercados financeiros;
M
■■ a curva LM desloca-se para cima quando a oferta real de moeda ( ) dimi-
P
nui, porque se requer taxa de juros (r) mais elevada de modo a manter o
equilíbrio nos mercados financeiros.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


213

Desta forma, podemos concluir que, dados os preços constantes, o desloca-


mento da curva LM é determinado pela política monetária. Vejamos isto no
gráfico da Figura 17:

LM3
r LM1
LM2
Aumento da Oferta de moeda:
Curva LM desloca-se para a direita de
LM1 para LM2
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Redução da Oferta de moeda:


Curva LM desloca-se para a esquerda
de LM1 para LM3

Y
Figura 17 - Deslocamento da curva LM
Fonte: adaptada de Blanchard (2007).

Agora que nós já aprendemos como é determinado o equilíbrio no mercado de


bens e serviços, incluindo a taxa de juros em nossas análises, e como é determi-
nado o equilíbrio no mercado monetário, devemos aprender como é definido o
equilíbrio geral em nossa economia. Como é determinada a taxa de juros e o
nível de renda que equilibram, simultaneamente, os dois mercados: mercado
de bens e de ativos? Esta questão será respondida no próximo tópico.

O que acontece à curva LM, se ocorrer uma redução no nível de geral de


preços na economia, ou seja, uma deflação?

Equilíbrio no Mercado Monetário: A Curva LM


214 UNIDADE V

O MODELO IS – LM E O EFEITO DE POLÍTICA FISCAL


E MONETÁRIA

O equilíbrio simultâneo no mercado de bens e serviços e no mercado monetá-


rio ocorre no ponto em que as curvas IS e LM interceptam-se, como indicado
na Figura 18. À taxa de juros r* e ao nível de renda y* os dois mercados estão,
simultaneamente, em equilíbrio. Veja:

r
LM

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
F
Equilíbrio entre IS_LM
r*

IS

Y* Y
Figura 18 - Equilíbrio simultâneo no mercado de bens e serviços
Fonte: adaptada de Dornbusch et al. (2006).

No ponto E de equilíbrio, podemos dizer que a economia está em estado de repouso


ao nível de taxa de juros r* e de renda Y*. Qualquer ponto fora desta condição
está em áreas de desequilíbrio macroeconômico. Isso está apresentado no gráfico
da Figura 19, onde podemos verificar quatro áreas de desequilíbrio macroeco-
nômico que, de acordo com Dornbusch et al. ( 2006) podem ser definidas como:
i. Área I: esta região caracteriza-se pelo excesso de oferta de bens (EOB) e
de moeda (EOM), pressionando tanto a redução da produção como da
taxa de juros.
ii. Área II: esta região caracteriza-se pelo excesso de oferta de moeda (EOM),
pressionando a taxa de juros para baixo, e o excesso de demanda por bens
(EDB) pressionando a ampliação do produto.
iii. Área III: esta região caracteriza-se pelo excesso de demanda por bens
(EDB) e de moeda (EDM), pressionando tanto a ampliação da renda
como da taxa de juros.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


215
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

iv. Área IV: esta região se caracteriza pelo excesso de demanda de moeda
(EOM) pressionando a taxa de juros para cima, e excesso de oferta por
bens (EDB) , pressionando a redução da produção.

EOB: excesso de oferta de bens


EDB: excesso de demanda de
I bens
r EOM EOM: excesso de oferta de
EOB moeda
LM EDM: excesso de demanda de
moeda
II
EOM
EDB IV
EDM
EOB

III
EDM
EDB IS

Y
Figura 19 - Áreas de desequilíbrios macroeconômico
Fonte: adaptado de Dornbush et al. (2006).

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


216 UNIDADE V

MAS COMO SE DÁ O AJUSTAMENTO NA ECONOMIA?

Dados os preços constantes e de acordo com a teoria keynesiana, sempre que hou-
ver desequilíbrio no mercado de bens, o ajuste se dará via quantidade produzida,
alterando o nível de produto e, assim, da renda. Por outro lado, os desequilíbrios no
mercado de ativos ou monetário são corrigidos via alterações na taxa de juros. Assim,
excesso de oferta reduz a taxa de juros, e excesso de demanda aumenta a taxa de juros.
Entendido como se dá o ajustamento macroeconômico, agora, apresentarei
a equação de equilíbrio simultâneo do modelo IS-L, que pode ser obtido com

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
base na seguinte relação de equilíbrio da IS (LOPES; VASCONCELLOS, 2000):

Y A0 dr

Substituindo a relação de equilíbrio da LM na IS, temos:

e 1 M
Y A0 d Y
f f P

Isolando a renda:
e 1 M
Y d Y A0 .d
f f P
e 1 M
Y 1 d A0 d
f f P
1 1 M 1
Y A0 d
e f P e
1 d 1 d
f f

Multiplicando numeradores e denominadores por f, temos:

1 M 1
Y f A0 d
f d .e P f d .e
Sendo esta a equação de renda de equilíbrio no modelo IS-LM:

  M 
 f A0 + d  P  
Y* =α   
 [ f + α .d .e ] 
 

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


217

Agora, vamos substituir a equação da renda de equilíbrio na curva LM para achar


a taxa de juros de equilíbrio:
e 1M 
r* =� Y * � −  
 f  f P

M
f A0 d
e P 1 M
r*
f f d .e f P
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Já que já aprendemos como encontrar a taxa de juro e o nível de renda no modelo


IS-LM e também como se dá o mecanismo de ajustamento, estamos aptos a apren-
der sobre os impactos das políticas econômicas no modelo IS-LM. Vamos, então,
começar as nossas análises sobre os impactos da política monetária.

IMPACTO DE POLÍTICA MONETÁRIA

Para facilitar as nossas análises gráficas, consideraremos a curva IS linear, supondo


que o Banco Central tenha gerado uma expansão monetária na economia. O
efeito da política monetária dá-se em duas etapas:
Etapa 1: de acordo com nosso estudo sobre a curva LM, um aumento da oferta
de moeda, dada a taxa de juros, leva, inicialmente, a um desequilíbrio no por-
tfólio (oferta de moeda >demanda por moeda), provocando redução da taxa de
juros de modo a equilibrar o mercado de ativos: moeda e títulos. A curva LM
desloca-se para a direita e para baixo, como apresentado no gráfico da Figura 20.
Etapa 2: a queda na taxa de juros estimula o investimento, fazendo com que
a demanda agregada eleve-se, gerando desequilíbrio no mercado de bens (IS)
pois a demanda > oferta de bens, este excesso de demanda é atendido pelas fir-
mas, pela redução de seus estoques e de sua capacidade ociosa. Desta forma, as
firmas ampliam a produção e a renda. Conforme a renda aumenta, a demanda
por moeda pelo motivo transação também aumenta, fazendo com que a taxa
de juros volte a subir, mas ela não volta ao padrão inicial. Desta forma, o equilí-
brio no modelo IS-LM passa do ponto E1 para o E2, com uma renda e produção
mais elevada e com menor taxa de juros de equilíbrio.

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


218 UNIDADE V

r
LM1
LM2

E1
r1
r2 E2

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IS

Y1 Y2 Y
Figura 20 - Efeito de uma política monetária expansionista
Fonte: adaptado de Dornbusch et al. (2006).

MAS QUAIS SÃO OS FATORES QUE REVELAM A EFICÁCIA


DA POLÍTICA MONETÁRIA NA GERAÇÃO DO CRESCIMENTO
ECONÔMICO?

O quanto a política monetária consegue estimular a economia dependerá de dois


fatores: a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros e elasti-
cidade do investimento em relação à taxa de juros.
Com relação à elasticidade da demanda por moeda em relação a taxa de
juros, temos duas situações:
a. elasticidade alta: pequena variação da taxa de juros será o suficiente para
ajustar o mercado de ativos, e a curva LM é menos inclinada. A pouca
variação na taxa de juros, gerará, também, pequena variação nos inves-
timentos e, assim, na demanda agregada, na produção e na renda. Desta
forma, a política monetária tem pouca eficácia.
b. elasticidade baixa: é necessário grande alteração na taxa de juros para ajus-
tar o mercado de ativos, e a curva LM é mais inclinada. Como a taxa de
juros sofre uma significativa variação, gerará, também, variação signifi-

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


219

cativa nos investimentos e, assim, na demanda agregada, na produção e


na renda. Desta forma, a política monetária tem mais eficácia para esti-
mular a economia.

Podemos verificar isto, analisando dois casos especiais, apresentados na Figura


21. O primeiro caso, gráfico (a), é chamado de Armadilha da Liquidez, no qual
a demanda por moeda é infinitamente elástica em relação à taxa de juros, e a
política monetária é ineficaz.

r
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

E1
r1 LM1

IS

Y1 Y2 Y
(a) Armadilha da Liquidez

LM1 LM2

r1
r2

IS

Y1 Y2 Y
(b) Caso Clássico
Figura 21 - Casos especiais e eficácia da política monetária
Fonte: adaptado de Dornbusch et al. (2006).

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


220 UNIDADE V

O segundo caso é o chamado Caso Clássico, em que a demanda por moeda


independe da taxa de juros, sendo a elasticidade igual a zero (inelástica). Neste
caso, a LM é vertical, e o efeito da política monetária é completo para estimular
a renda e a produção na economia.
Desta forma, podemos concluir que quanto mais inclinada for a curva LM
ou quanto menor for a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa
de juros, maior será a eficácia da política monetária.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IMPACTO DE POLÍTICA FISCAL

Vamos avaliar o impacto de uma política fiscal expansionista, por meio da


ampliação dos gastos do governo, apresentado na Figura 22:

r
E2 LM

r2
E1

r1

IS2
αΔG
IS1

Y1 Y2 Y3 Y
Figura 22 - Efeito de uma política fiscal expansionista
Fonte: adaptado de Dornbush et al. (2006).

O aumento dos gastos do governo ampliam a demanda agregada, levando ao des-


locamento da curva IS para a direita e para cima. A magnitude deste deslocamento

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


221

é representado pela variação dos gastos vezes o multiplicador da renda keyne-


siano simples (αΔG), sendo igual ao deslocamento horizontal da curva IS. No
entanto, conforme a renda vai aumentando em direção a Y3, também aumenta
a demanda por moeda dada a oferta de moeda fixa, a taxa de juros eleva-se para
manter o equilíbrio no mercado monetário. Esta elevação da taxa de juros reduz
a demanda por investimentos, ameniza o impacto expansionista da política fis-
cal, e o equilíbrio ocorre no ponto E2, apresentando taxa de juros e nível de renda
e produção maior que a do nível inicial (r2, y2), mas menor do que seria se a taxa
de juros fosse mantida constante (r1, y3).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Mas o quanto a política fiscal conseguirá estimular a economia, dependerá


dos seguintes fatores:
a. do tamanho do multiplicador da renda que determina a magnitude do
deslocamento da IS.
b. da elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros - quanto
maior for esta elasticidade, menos inclinada será a LM, e maior será o
impacto da política fiscal. Isto acontece porque é necessário, apenas uma
pequena variação da taxa de juros para equilibrar o mercado monetário,
e como o aumento dos gastos públicos leva a um aumento da demanda
por moeda, a taxa de juros eleva-se pouco, e os investimentos caem pouco.
c. da elasticidade do investimento em relação à taxa de juros - quanto maior
esta elasticidade, menor será o efeito da política fiscal, visto que pequena
elevação na taxa de juros, causa grande queda nos investimentos, com-
pensando o aumento nos gastos públicos.
Vamos, agora, analisar a eficácia da política fiscal expansionista do caso da
Armadilha da Liquidez e no Clássico. Estes casos estão apresentados na Figura
23 . O gráfico (a) apresenta o caso da Armadilha da Liquidez já estudado. Neste
caso, o aumento dos gastos públicos eleva a demanda agregada, deslocando a
IS para a direita. Uma vez que a taxa de juros não se altera, não há redução do
investimento, sendo o impacto da política fiscal igual à magnitude do multipli-
cador da renda keynesiano . É o máximo da eficácia da política fiscal.

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


222 UNIDADE V

E1 E1
r1 LM1

IS2
IS1

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Y1 Y2 Y
(a) Armadilha da Liquidez

LM1
r

r2

r1

IS2
IS1

Y1 Y
(b) Caso Clássico
Figura 23 - Casos especiais e eficácia da política fiscal
Fonte: adaptado de Dornbush et al. (2006).

O gráfico (b) representa o Caso Clássico em que a curva LM é vertical, e a demanda


por moeda independe da taxa de juros. Neste caso, a política fiscal é totalmente ine-
ficaz, pois o maior gasto do governo não gera qualquer alteração da renda, apenas
eleva a taxa de juros, que provoca redução no investimento na mesma proporção
do aumento dos gastos públicos - ocorrendo apenas substituição dos gastos pri-
vados para o público, sendo denominado efeito deslocamento (crowding-out).

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


223

A política fiscal brasileira: limites e entraves ao crescimento


O Brasil dos anos 90 lidou com agendas fiscais múltiplas, mas a defesa da
estabilização monetária e das exigências da nova estratégia de desenvolvi-
mento prevaleceu sobre as demais. A reinserção da economia brasileira no
mundo globalizado abriu a possibilidade de controlar a inflação e acirrou o
debate em torno do papel da política fiscal.
A carga tributária experimentou o primeiro movimento de alta na implan-
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

tação do Plano Real, alcançando 29,76% do PIB em 1995. A modernização


da administração fazendária e a majoração das alíquotas dos impostos pro-
duziram altas constantes da carga tributária, que atingiu 37,37% em 2005.
O aumento da carga tributária teve como consequência a perda de competi-
tividade dos produtos nacionais no mercado interno e internacional, além de
criar distorções no setor produtivo, nas relações entre as esferas de governo
e reforçar os problemas de distribuição de renda pessoal. O esforço tributário
não serviu à melhoria da oferta de serviços públicos e de infraestrutura.
Para saber mais, acesse link disponível em: <www.eco.unicamp.br/docprod/
downarq.php?id=1761&tp=a>.
Fonte: Lopreato (2007).

COMBINAÇÃO DE POLÍTICA MONETÁRIA E FISCAL

Normalmente, o governo tem uma variedade de objetivos que devem ser atingi-
dos pelas políticas econômicas adotadas, por causa disso ele se utiliza de vários
instrumentos de forma combinada para alcançar as suas metas. Até agora, tra-
tamos os efeitos das políticas fiscal e monetária como sendo independentes, no
entanto, em muitos casos, existe reação de uma política sobre os efeitos da outra,
e é sobre isto que estudaremos agora.
Vamos supor que o governo tem como um de seus objetivos a estabilidade
do nível de produção e renda na economia, ou seja, que y permaneça constante.
Um exemplo é a adoção de políticas assistencialistas, em períodos de recessão
econômica, com ampliação dos gastos públicos como forma de compensar a

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


224 UNIDADE V

queda dos gastos privados. Vamos supor que o Banco Central resolve fazer a
política restritiva, contraindo a oferta de moeda na economia, deslocando a LM
para cima e para a esquerda, pressionando a elevação da taxa de juros e a redu-
ção da renda. Assim, partindo de um equilíbrio inicial no Ponto 1, temos que a
economia caminha para novo equilíbrio no Ponto 2, mas, antes que isto aconteça,
o governo amplia os gastos públicos para manter a renda constante, e a curva
IS desloca-se para cima e para a direita. O resultado é o equilíbrio no Ponto 3,
onde o nível de renda permaneceu constante, mas com grande elevação da taxa
de juros (r3), como pode ser visto no gráfico da Figura 24:

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
r
LM2
3
LM1

r2

2 1
r1

IS2

IS1

Y1 Y2 Y
Figura 24 - Política fiscal expansionista, em resposta à política monetária
Fonte: adaptada de Lopes e Vasconcellos (2000).

Outro exemplo de combinação de política é quando o Banco Central tem como


objetivo a estabilidade da taxa de juros e o Tesouro Nacional, ou seja, o governo
resolve adotar a política fiscal expansionista. Da mesma forma que, no gráfico

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


225

anterior, partindo de um ponto de equilíbrio inicial (Ponto 1), primeiramente, a


política fiscal expansionista descolará a curva IS para cima e para a direita (IS2),
pressionando a taxa de juros para cima, e a economia caminha para o ponto de
equilíbrio 2. Para manter a taxa de juros constante, o Banco Central aumenta a
oferta de moeda, deslocando a curva LM para a baixo e para a direita (LM2), o
que provoca grande ampliação na renda e evita o aumento da taxa de juros. O
equilíbrio final dá-se no Ponto 3. Veja na Figura 25:

r
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

LM1
2 LM2

r1 3
1

IS2

IS1

Y1 Y2 Y
Figura 25 - Política monetária expansionista visando à estabilidade da taxa de juros em resposta à política
fiscal expansionista
Fonte: adaptada de Lopes e Vasconcellos (2000).

Podemos perceber, nesta situação, que, mesmo a oferta da moeda sendo con-
siderada exógena, quando o Banco Central tem por objetivo manter estável a
taxa de juros, a oferta de moeda fica condicionada à política fiscal, tornando-se,
assim, uma variável endógena.

O Modelo IS – LM e o Efeito de Política Fiscal e Monetária


226 UNIDADE V

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste livro, você aprendeu que, no modelo clássico, a oferta agregada é deter-
minada pela função de produção, a qual representa a quantidade máxima que
a economia pode produzir, decorrente da combinação dos fatores de produção
disponíveis e do nível de tecnologia. No modelo clássico, havíamos aprendido
que a Lei de Say, em que a oferta cria sua própria demanda, assim, os empresá-
rio não tinham que se preocupar com o mercado, deviam focar suas estratégias
na produção.

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Durante as primeiras décadas do século XX, no entanto, as principais eco-
nomias mundiais (EUA, Inglaterra, Alemanha, outras) entram em profunda
recessão econômica, com altos níveis de desemprego, e a teoria clássica não conse-
guia dar explicações de como os países poderiam retornar a crescer. Diante deste
contexto, emerge uma nova explicação teórica para a crise, a teoria keynesiana.
Nós aprendemos que o modelo keynesiano de determinação da produção e
da renda está baseado no conceito da demanda efetiva. Por este conceito, quem
determina a oferta agregada na economia é a demanda agregada, pois o empresá-
rio definirá o quanto produzir, baseado em suas expectativas de vendas, ou seja,
de demanda esperada. Assim, se o empresário visualizar que terá poucas ven-
das, reduzirá a sua produção, trabalhando com capacidade ociosa, produzindo
apenas a quantidade que espera vender. Posto desta forma, o modelo keyne-
siano admite que o equilíbrio macroeconômico possa ocorrer sem estar em um
nível de pleno emprego dos fatores de produção, como postulavam os clássicos.
Ao avançarmos em nossas análises, aprendemos o modelo IS-LM, que
determina o equilíbrio simultâneo no mercado de bens e de ativos, por meio
da relação entre taxa de juros e renda. Esse modelo, também conhecido como
Análise Hicks – Hansen, mantém os pressupostos básicos do modelo keynesiano
simples, com a demanda agregada, determinando o nível de produção da eco-
nomia, mantidos os níveis de preços constantes.

MACROECONOMIA KEYNESIANA E OS MODELOS IS-LM


227

Efeito da variação dos preços no Modelo IS-LM


O último caso a ser analisado é o efeito decorrente da variação dos preços no Modelo
IS-LM, o chamado efeito pigou. Para compreender os impactos das variações de preços,
vamos acrescentar a função consumo à riqueza real dos indivíduos. Agora, o consumo
das famílias é determinado pelo consumo autônomo, por uma fração que varia com a
renda disponível (propensão marginal a consumir da renda) e pela riqueza real dos indi-
víduos. Quanto maior a riqueza dos indivíduos, maior será o consumo.
Consideraremos, também, que a oferta real de moeda ( ) faça parte da riqueza do indi-
víduo, desta forma, a variação da oferta real de moeda impacta tanto na posição da LM
como da IS.
Suponhamos, agora, uma redução do nível de preços na economia. Qual seria o im-
pacto de uma deflação na condição de equilíbrio apresentada no modelo IS-LM?
Podemos responder esta questão analisando o gráfico apresentado na f igura a seguir:

Figura - Efeito pigou, supondo queda no nível de preços


Fonte: adaptada de Lopes e Vasconcellos (2000).
228

Partindo do ponto de equilíbrio inicial (E1), a redução do nível geral de preços na econo-
mia, primeiramente, leva ao aumento na oferta real de moeda, deslocando a curva LM1
para a direita, indo para LM2. No entanto o aumento de saldos reais ampliará a riqueza
dos indivíduos, impactando no aumento do consumo autônomo e também no nível de
investimentos, dado que a taxa de juros real reduziu. Desta forma a curva IS também
se desloca para a direita, e o equilíbrio da economia ocorrerá no ponto E2, a uma taxa
de juros e nível de produto de equilíbrio mais elevados (r2, y2), ampliando o impacto
expansionista da queda dos preços.
Mas o que aconteceria no caso de aumento do nível de preços? Partindo de uma si-
tuação inicial de equilíbrio ( ponto E1) o aumento do nível geral de preços na economia,
primeiramente, leva a uma redução real da oferta de moeda na economia, deslocando
a curva LM agora para cima e para a esquerda. O aumento do nível geral de preços faz
com os salários reais reduzam-se e também a riqueza real do indivíduo, decorrente da
perda do poder de compra da moeda, ocasionada pela inflação. Isto impacta no consu-
mo autônomo e também no nível de investimentos, que se reduzirá, visto que a taxa
de juros real aumentou. Desta forma, a curva IS também desloca-se para a esquerda, e o
equilíbrio da economia ocorrerá em um ponto com uma taxa de juros e nível de produto
de equilíbrio mais baixos do que o encontrado no equilíbrio inicial.
Fonte: Lopes e Vasconcellos (2000).
229

1. O multiplicador da renda keynesiano representa o montante pelo qual a produção


varia quando a demanda agregada autônoma aumenta em uma unidade. Um au-
mento na propensão marginal a consumir deste multiplicador tende a gerar:
a) Aumento no multiplicador e fazer uma dada variação nas despesas de gover-
no ter impacto menor na produção de equilíbrio.
b) Aumento no multiplicador e fazer uma dada variação nas despesas de gover-
no ter impacto maior na produção de equilíbrio.
c) Redução no multiplicador e fazer uma dada variação nas despesas de gover-
no ter impacto menor na produção de equilíbrio.
d) Redução no multiplicador e fazer uma dada variação nas despesas de gover-
no ter impacto maior na produção de equilíbrio.
e) O multiplicador mantém-se constante.
2. Dado que a condição de equilíbrio, no modelo keynesiano, é dado pela igualdade
entre a oferta agregada e a demanda agregada, ou seja, Y = C + I + G + X – M. Ao
incluir as funções de cada variável neste modelo encontramos que a renda de equi-
líbrio é determinada pelo multiplicador keynesiano (α) e pelos gastos autônomos
(C0 + I0 + G0 + X0- T0). Diante disto um aumento nos gastos do governo (G0) gerará:
a) Redução na produção e redução do multiplicador.
b) Aumento na produção e aumento do multiplicador.
c) Aumento na produção e nenhuma variação do multiplicador.
d) Nenhuma variação do multiplicador e, por conseguinte, nenhuma variação
na produção.
e) Aumento na produção e redução variação do multiplicador.
230

3. Partindo de uma posição de equilíbrio inicial no modelo IS – LM, o que acontece


com a renda e a taxa de juros de equilíbrio se o governo adotar a política fiscal
contracionista, com o aumento dos impostos. Leia as afirmativas e assinale a
alternativa correta:
a) A curva LM desloca-se para a cima e para direita, aumentando a renda e redu-
zindo a taxa de juros.
b) A curva IS desloca-se para cima e para a direita, e tanto a taxa de juros como
a renda elevam-se.
c) A curva IS desloca-se para baixo e para a esquerda e tanto a taxa de juros como
a renda reduzem-se.
d) A curva IS desloca-se para baixo e para a esquerda, a taxa de juros aumenta e
a renda reduzem-se.
e) Com o aumento dos impostos, tanto a curva IS como a LM deslocam-se para a
esquerda e para baixo, reduzindo a taxa de juros e a renda.
4. Vamos considerar o modelo IS-LM com as seguintes hipóteses: ausência dos
casos “clássico” e da “armadilha da liquidez” e a curva IS é dada pelo “modelo
Keynesiano simplificado”, supondo que os investimentos não dependam da taxa
de juros. Com base nessas informações, é correto afirmar que:
a) o aumento nos investimentos autônomos reduz o produto.
b) a política monetária contracionista reduz o produto.
c) o aumento no consumo autônomo eleva o produto.
d) a elevação nas exportações reduz as taxas de juros.
e) a política fiscal expansionista reduz as taxas de juros, mas eleva o produto.
5. Considere o modelo keynesiano básico para a economia fechada e sem governo.
Admitindo que a economia esteja em equilíbrio a tal ponto que a elevação de
50 unidades monetárias no investimento provoca um aumento de 250 unidades
monetárias no produto, neste caso:
a) A propensão marginal a consumir é de 0,8.
b) A propensão marginal a poupar é de 0,8.
c) O multiplicador da renda keynesiano é de 0,2.
d) O multiplicador da renda keynesiano é de 2.
e) A propensão média a consumir é de 0,8.
MATERIAL COMPLEMENTAR

Macroeconomia
N. Gregory Mankiw
Editora: LTC; Edição: 8ª, Nova Edição, 2014.
SINOPSE: Macroeconomia oferece uma análise das diferentes teorias
econômicas, sua relação com correntes políticas e consequências dos
acontecimentos no mundo em curto prazo – como o ciclo de negócios
e as políticas de estabilização – e longo prazo – como o crescimento
econômico, a taxa natural de desemprego, a persistência da inflação e os
efeitos do endividamento do governo. Com esse enfoque, seu objetivo é,
em última instância, ensinar ao leitor a aplicar os princípios econômicos
as questões relativas aos mais variados contextos, cenários e sistemas,
com uma linguagem acessível e objetiva. Enfatizando o caráter empírico
da disciplina, a obra proporciona uma ampla gama de ferramentas de
aprendizagem, como estudos de caso, gráficos, notas matemáticas ,
resumos dos capítulos, conceitos-chave, questões para revisão, problemas
e aplicações, todas atualizadas quanto aos últimos acontecimentos que
impactaram a economia de alguma forma.

Material Complementar
REFERÊNCIAS

BLANCHARD, O. Macroeconomia. ed. 4. São Paulo: Prentice Hall, 2007.


DORNBUSH, R.; FISCHER, S. e; STARTZ, R. Macroeconomia. São Paulo: McGraw-Hill
do Brasil, 2006.
KEYNES, J. M. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Atlas,
1992.
LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M A S. Manual de Macroeconomia Básico e Inter-
mediário. São Paulo: Atlas, 2000.
MANKIW, N. G. Macroeconomia. ed. 5. Rio de Janeiro: LTC, 2004.
VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. ed. 5. São Paulo: Atlas, 2011.
SILVA, A. C. M. (org.) et al. Escolas da Macroeconomia / Conselho Regional de Eco-
nomia 1ª região. 1. ed. Rio de Janeiro: Albatroz, 2015.

REFERÊNCIA ON-LINE

1
Em: <http://www.independent.co.uk/news/business/analysis-and-features/john-
-maynard-keynes-new-biography-reveals-shocking-details-about-the-economists-
-sex-life-10101971.html>. Acesso em: 19 fev. 2018.
233
GABARITO

1. B
2. C
3. C
4. C
5. A
CONCLUSÃO

Caro (a) aluno (a) este material foi desenvolvido com objetivo de ajudar na sua for-
mação profissional, visto que saber avaliar os efeitos das variáveis macroeconômi-
cas sobre os agentes econômicos (famílias, empresas, governo), buscando entender
a relação de causa e efeito entre as variáveis, é a base para a formulação de políticas
e estratégias empresariais.
Na Unidade I, aprendemos sobre os principais fundamentos da teoria macroeconô-
mica que busca explicar o comportamento da economia como um todo, como se dá
o aumento do produto, da renda e do emprego, ao longo de um determinado pe-
ríodo de tempo. Estudamos as diferentes correntes teóricas que dão base à formu-
lação de políticas macroeconômicas e sua evolução histórica. Aprendemos como
é calculada a formação da Renda Nacional ou Produto Interno Bruto e a construção
do Balanço de Pagamentos.
As Unidades II e III estão centradas na dinâmica do Sistema Monetário Nacional,
como são formadas a oferta e a demanda por moeda e sua relação com a taxa de ju-
ros da economia. Na Unidade IV, estudamos o modelo clássico de determinação da
oferta e demanda agregada de bens e serviços na economia. Vimos como o merca-
do de bens e serviços equilibra-se, determinando a taxa de juros real da economia.
Por fim, na Unidade V, aprendemos os princípios base da teoria keynesiana de deter-
minação da renda, dos juros e do emprego. Vimos que uma das principais divergên-
cias com a teoria clássica está baseada no princípio da demanda efetiva, em que é a
demanda agregada que determina o nível de produção e emprego na economia, e
não apenas uma função de produção baseada no pleno emprego dos fatores. Admi-
te-se equilíbrio macroeconômico com desemprego. Também aprendemos sobre o
modelo IS-LM, que utiliza tanto os postulados da teoria keynesiana como da teoria
clássica para explicar como é determinado o equilíbrio simultâneo do lado real e
monetário de nossa economia e qual a taxa de juros e nível de produto que equili-
bra estes dois mercados.

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