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Resumo
Palavras-Chave: Imagem; imagem política; fake news; notícias falsas; redes sociais.
1 INTRODUÇÃO
1
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de
Especialista em Cultura Digital e Redes Sociais da Universidade do Vale do Rio do Sinos - UNISINOS.
2
Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo (PUCRS), e-mail: mktomedi@gmail.com
3
Orientadora do trabalho. Mestre em Comunicação (PUCRS), Especialista em Marketing (ESPM SUL),
Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo (UFSC) e estudante de Comunicação Social - Relações
Públicas (UFRGS).
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Outra mudança significativa aconteceu na forma como as pessoas consomem notícias. Uma
pesquisa da Confederação Nacional do Transporte revelou que 49% dos entrevistados usam a
internet todos os dias para se informar (VEJA, 2018a). Além disso, os veículos tradicionais,
como o rádio, a TV e o jornal impresso, vêm perdendo espaço para as novas mídias.
Pesquisadores afirmam que as mídias de interação online tornaram-se o palco para o
nascer da era da pós-verdade, a formação das bolhas sociais e a disseminação das fake news
(SANTOS; SPINELLI, 2018). Assim, potencializaram a divulgação de notícias falsas, agora
compartilhadas em grande escala, causando impactos negativos para o jornalismo, a democracia
e até para a saúde pública (JUSTINO, 2018). Criadas geralmente com objetivos políticos ou
financeiros, imitam o estilo jornalístico visando convencer. O assunto ganhou força, sobretudo,
após a última eleição presidencial dos Estados Unidos, com a vitória de Donald Trump
(LELLIS, 2018). Allcott e Gentzkow (2018) confirmam em estudo que, em média, cada
americano consumiu pelo menos uma notícia falsa durante os meses que antecederam o pleito.
Há relatos de que o fenômeno também interferiu nas últimas eleições da França (DOMINGOS,
2017).
No Brasil, um levantamento da Universidade de São Paulo (DW, 2018) constatou que
12 milhões de pessoas compartilham notícias falsas em redes sociais com regularidade. O
Buzzfeed News (SALI, 2018) também evidenciou um dado interessante: as dez notícias falsas
mais populares sobre a Operação Lava Jato têm maior engajamento do que as dez verdadeiras
mais populares. Segundo Ortellado (apud DEVENS, 2018), o Facebook só perde para a
televisão no ranking de fontes de informação dos brasileiros. Silverman (2016) concluiu que,
no Facebook, as notícias falsas mais populares tiveram maior repercussão do que as
verdadeiras.
Embora o assunto seja relevante, estudos que avaliam os impactos das fake news na
formação da opinião pública ainda são escassos. Atualmente, as preocupações com a divulgação
de fake news são maiores do que o conhecimento sobre os seus efeitos (NELSON, 2017). Diante
disso, esta pesquisa propõe-se a analisar de que forma o compartilhamento de fake news pode
influenciar na construção da imagem de uma figura política. Segundo levantamento da Revista
Veja (BERGAMASCO; AGUIAR; CAMPOS, 2018), que examinou cerca de 12 mil postagens
de 12 páginas do Facebook de notícias falsas, o deputado federal Jair Messias Bolsonaro é o
único personagem político de destaque no cenário brasileiro, entre os 30 mais envolvidos com
fake news, que possui, associadas ao seu nome, mais notícias falsas com viés positivo do que
negativo.
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Por isso, esta pesquisa se propõe a analisar de que forma o compartilhamento de notícias
falsas, no período pós-impeachment até o período pré-eleitoral, entre abril de 2016 e junho de
2018, influenciou na construção da imagem política de Bolsonaro. Conhecido por suas posições
conservadoras e declarações polêmicas, lançou-se, no dia 22 de julho, como candidato à
presidência da República pelo Partido Social Liberal (PSL) para o pleito de 2018.
Com base nessas premissas, foram pesquisadas fake news pró-Bolsonaro divulgadas em
páginas do Facebook no período de maio de 2016 a agosto de 2018. Quatro publicações que
tiveram alcance na rede social, promovendo uma notícia falsa de viés positivo ao deputado
federal, integram as análises. Para estabelecer uma base de referência no que tange à construção
da imagem política do candidato, utilizam-se dados de cinco pesquisas de intenção de voto do
Datafolha, divulgadas no período entre abril de 2016 e junho de 2018. Este estudo se utiliza das
técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. A primeira serviu como base para a construção
da revisão teórica que referencia o trabalho, desde a concepção até a conclusão (STUMPF,
2008). Por sua vez, a técnica de pesquisa documental (GIL, 2009) fundamenta a estrutura do
artigo, subsidiando a análise dos resultados desta abordagem.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
verdade: “A imagem-conceito não é da qualidade do verdadeiro, mas do que parece ser, do que
é reconhecido como tal”. O pesquisador analisa que a imagem pode ser o retrato fiel da
personalidade ou da identidade de uma empresa, como pode também não fazer absolutamente
nenhum sentido com a ideia projetada. Porém, se bem articulada, pode fortalecer a instituição.
No viés da ciência política, a imagem pública e institucional não estão atreladas ao
aspecto visual, mas sim a um fato cognitivo, relacionado à memória, ao contexto histórico e ao
imaginário social no qual ela é forjada (GOMES, 2004). Weber (2004, p. 261) acredita que a
imagem pública também faz alusão “[...] ao olhar, ao pensamento, ao espaço onírico”. Ela
defende que se trata do estatuto orientador da contemporaneidade, pois é um indicativo do
poder. Por outro lado, um grupo social pode formatar imagens públicas totalmente distintas a
respeito de uma mesma pessoa, empresa ou produto.
Ao analisar a imagem pública dos políticos, deve-se, portanto, considerar que ela é
construída de forma individual e simultânea, a partir da combinação de representações visuais
e mentais. Entre essas representações, destacam-se os discursos, as ações, a maneira como se
apresenta e, sobretudo, a forma como são interpretadas todas essas mensagens enviadas ao
público com o qual o sujeito se relaciona.
Grandes empresas, partidos políticos e a própria mídia têm o poder de influenciar na
forma como são estruturadas as imagens públicas. No entanto, esse poder é limitado. Segundo
Weber (2010), um indivíduo é capaz de construir ou desconstruir uma imagem com facilidade.
Essa transitoriedade possibilita que a imagem de um sujeito seja alterada para o bem ou para o
mal, de acordo com o desenrolar de um novo fato. Em outras palavras, um político, ainda que
desonesto, pode transparecer ao público o conceito de bom gestor se os valores associados a ele
estiverem de acordo com a imagem que ele quer vender.
Para Weber (2010), a política contemporânea é cada vez mais uma política de
aparências, caracterizada pela superficialidade e pela valorização do carisma, que aposta na
fragilidade da memória coletiva e na simplificação da história. Ampliando tal entendimento,
Gomes (2004) afirma que a imagem pública deixou de ter um papel de coadjuvante para se
tornar o eixo central da disputa política, em que seus participantes passaram a competir pela
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Com a difusão das redes sociais, essas ferramentas passaram a ter cada vez mais
protagonismo na construção das relações interpessoais. Segundo Recuero (2012), elas se
tornaram o principal espaço de sustentação de laços relacionais (interações entre pessoas
próximas, recíprocas e frequentes) e associativos (entre pessoas distantes, sem intimidade, que
não mantêm interação contínua, mas possuem interesses comuns e ideias semelhantes).
Esse é o tipo de conexão predominante no ambiente digital, que permite criar e manter
um número infinitamente maior de conexões do que o meio offline. Os laços associativos têm
a capacidade de aumentar a visibilidade de atores sociais e influenciar a construção do capital
social, a partir da geração de valor à imagem dessas pessoas. Conforme Recuero (2009), a
visibilidade é a matéria-prima para a criação de outros valores sociais, como a imagem pública
e a reputação. Na visão de Amaral (2018), a reputação difere da visibilidade, pois é um valor
que não pode ser mensurado com base em informações quantitativas. Assim, o número de
amigos ou seguidores e a quantidade de interações na rede são dados insuficientes para avaliar
a imagem pública. Já a qualidade de um conteúdo publicado, o seu impacto e a influência de
quem compartilha são referências que não podem ser quantificadas, mas estão diretamente
associadas à reputação de uma pessoa no ambiente virtual.
Uma vez que a reputação tem uma função essencial em nossas vidas,
influenciando desde atividades do dia-a-dia até a percepção que outros
indivíduos têm sobre nós, a preocupação com o controle destas informações é
cada vez maior. Por outro lado, a web também possibilita formas de obter mais
visibilidade para aqueles que conseguem gerenciar as impressões sobre sua
identidade com base em seus interesses pessoais. (AMARAL, 2018, p. 3).
do discurso emocional” (ZARZALEJOS, 2017, p.11). Apesar de não ser uma novidade, o termo
teve seu conceito revigorado com o aumento de informações produzidas e compartilhadas. Nas
mídias digitais, mentiras, rumores e fofocas se espalham em alta velocidade e usuários passaram
a acreditar mais uns nos outros do que na imprensa (SANTOS; SPINELLI, 2018).
Segundo Medeiros (2017), a falta de veículos de comunicação como agentes
intermediários no processo de formação da opinião pública contribui para a construção da
atmosfera perfeita para que as pessoas duvidem de tudo. Esse fenômeno também é chamado de
bolha social (PREGO, 2017). Trata-se de uma nova conjuntura nas quais um usuário interage
prioritariamente com pessoas que pensam igual a ele. Para a autora, esse cenário, sem espaço
ao contraditório, traz sinais de alerta e é o ambiente ideal para a difusão de notícias falsas.
As fake news são o principal problema ocasionado pelas bolhas sociais. Entretanto, as
notícias falsas não nasceram com as mídias digitais - há registros de manipulação da informação
para influenciar o processo político desde o Império Romano (ALMEIDA; DONEDA;
LEMOS, 2018). De acordo com Shu et al. (2017) e Nelson (2017), notícias falsas são veiculadas
desde a invenção da imprensa, em 1439. Porém, foram as mídias digitais que potencializaram
sua divulgação em uma sociedade hiperconectada (MACHADO, 2018).
Até pouco tempo, o termo era associado ao viés da comédia (NELSON, 2017). Notícias
eram criadas, alteradas e divulgadas pela internet com o intuito de fazer piadas. Esse sentido
prevaleceu até a eleição norte-americana de 2016. A partir de então, as fake news passaram a
adquirir um novo conceito. Allcott e Gentzkow (2018, p. 213-214) as classificam como
“notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsas, podendo enganar os leitores”.
Dois elementos são fundamentais para caracterizar uma fake news: o seu poder de capilaridade
e a velocidade com que se espalha (ALMEIDA; DONEDA; LEMOS, 2018).
Em geral, esses conteúdos circulam de forma mais rápida e abrangente, constatou o
estudo do professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts Deb Roy. Uma fake news tem
70% a mais de chance de ser retransmitida do que uma história real (DIZIKES, 2018). Isso
ocorre porque ela tem um estilo de redação que incentiva o compartilhamento ao criar uma
sensação de novidade e urgência ao leitor. Enquanto as notícias reais despertam apreensão,
tristeza, alegria ou confiança, as fake news apelam para sentimentos básicos como medo e raiva.
Entre as motivações do compartilhamento de fake news, estão as finalidades políticas
(ALMEIDA; DONEDA; LEMOS, 2018). Uma pesquisa do Pew Research Center revela que
14% das pessoas que afirmam já ter divulgado notícias falsas admitem que repassaram mesmo
sabendo que o conteúdo não era verdadeiro (BARTHEL; MITCHELL; HOLCOMB, 2018).
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Outro fator que estimula o compartilhamento de fake news é a negligência. Conforme uma
pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (VEJA, 2018b), menos de um terço dos
brasileiros checam a veracidade antes de repassar. A leitura das manchetes é o suficiente para
que usuários se sintam estimulados a compartilhar uma notícia falsa (SÁ, 2017).
Há também fake news que são criadas por interesse financeiro. Um estudo do Buzzfeed
(BATHKE, 2017) revela que, em abril de 2017, mais de 60 sites que divulgam informações
falsas lucraram com a publicidade online. Existem, ainda, situações em que as fake news são
compartilhadas por má apuração jornalística ou sensacionalismo (ALMEIDA; DONEDA;
LEMOS, 2018). Segundo Ortellado (apud DEVENS, 2018), não é necessário inventar uma
nova história para criar uma notícia falsa. O autor afirma que a maioria dos sites de fake news
simplesmente distorcem uma notícia da grande mídia com manchetes escandalosas ou
apresentam como verdade uma especulação (AVENDAÑO; BETIM, 2018).
Na avaliação de Avendaño e Betim (2018), a divulgação de fake news tornou-se uma
epidemia que percorre o mundo inteiro. Estudos indicam que essa disseminação cria empecilhos
para as pessoas diferenciarem o que é verdade do que não é. Dois em cada três adultos norte-
americanos acreditam que notícias falsas causam confusão sobre fatos recentes, segundo uma
pesquisa do Pew Research Center (BARTHEL; MITCHELL; HOLCOMB, 2018).
Essa impressão é compartilhada amplamente em todos os níveis educacionais, afiliações
políticas e as mais variadas características demográficas. Nesse contexto, as fake news
tornaram-se uma nova ferramenta para a guerra informativa e a sua difusão também é capaz de
provocar impactos sociais negativos. Santos e Spinelli (2018, p. 14) observam que “os
resultados do crescimento desse fenômeno atrapalham não só o jornalismo, mas principalmente
a democracia”.
Para Devens (2018), o aumento do número de notícias falsas na internet configura um
fenômeno de massa, com potencial para surtir efeitos na política. A preocupação em torno do
tema ganhou força, sobretudo, após as eleições presidenciais dos Estados Unidos (NELSON,
2017). Notícias falsas foram compartilhadas milhares de vezes na internet durante o período
(PARKINSON, 2018), e relatos dão conta que a proliferação delas tenha influenciado o pleito
norte-americano de 2016 (AVENDAÑO; BETIM, 2018). Uma análise do Buzzfeed
(SILVERMAN, 2016) mostrou que, nos três últimos meses de campanha, 20 fake news
relacionadas às eleições geraram quase nove milhões de interações no Facebook. Uma pesquisa
das universidades de Dartmouth, Princeton e Exeter mostrou que, durante a eleição
presidencial, um em cada quatro americanos leu conteúdo falso. No entanto, as fake news mais
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3 ANÁLISE
No dia 27 de maio de 2016, a página do Facebook “Patriota 1964” repercutiu uma fake
news baseada em uma suposta afirmação, que teria sido feita pelo então candidato à presidência
dos Estados Unidos Donald Trump. Neste estudo, essa postagem será definida como Fake News
nº 1. Em 21 de maio de 2018, a publicação tinha recebido 401 reações, 89 compartilhamentos
e 18 comentários, e a página possuía 21.027 seguidores. Trata-se de uma captura de tela com
uma mensagem escrita em inglês, que tenta simular uma frase da autoria de Trump, publicada
no seu Twitter. Em uma tradução livre, o candidato republicano afirma na postagem: “Jair
Bolsonaro deve ser o próximo presidente do Brasil”. A imagem ainda vem acompanhada da
repercussão do tuíte, que teria recebido 8.569 curtidas e 7.652 compartilhamentos. Essas
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informações também são inverídicas, posto que se trata de uma montagem. O Twitter do
presidente norte-americano não fez nenhuma menção ao político brasileiro na data referida.
A quarta e última fake news analisada foi divulgada no Facebook no dia 14 de fevereiro
de 2018 pela página “Jair Bolsonaro Presidente 2.0”. Neste estudo, a publicação será referida
como Fake News nº 4. Em 27 de agosto de 2018, data da análise, a postagem 371 reações, 57
compartilhamentos e 23 comentários, e a página possuía 70.278 seguidores. A Fake News nº 4
traz o link de uma suposta notícia, com a manchete “Xuxa declara apoio a Jair Bolsonaro”.
Originalmente, a manifestação teria sido publicada no Twitter da apresentadora da Globo da
seguinte forma: “Bolsonaro é aquele que representa esperança no país! Sem rancor, essa é só
minha opinião, amores!”. Contudo, a Revista Veja (CAMPOS, 2018) revelou que se tratava de
uma edição de imagem.
registrava 19%. Aécio, 17%, ocupava o terceiro lugar. Somente então aparecia o nome de Jair
Bolsonaro (PP), com 8% das intenções de voto: percentual quase três vezes menor do que o
presidente Lula. Ciro Gomes (PDT), com 7%; Luciana Genro (PSOL), com 2%; e Michel
Temer (PMDB), com 2%, completavam a lista. Os demais nomes tiveram 1% ou menos das
intenções de voto. Para completar, 17% dos entrevistados afirmaram que votariam em branco
ou nulo. Outros 5% não opinaram (DATAFOLHA, 2016a).
Em um segundo cenário, com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
no lugar de Aécio Neves, e os demais candidatos mantidos, Marina Silva passou a liderar a
pesquisa com 23% das intenções de voto, seguida por Lula, 22%. Alckmin aparecia na
sequência, com 9%. Bolsonaro mantinha-se em quarto lugar, com 8%, agora empatado com
Ciro Gomes. Luciana Genro e Michel Temer, ambos com 2%, fechavam a lista. Outros nomes
registram 1% ou menos das intenções de voto. Havia, ainda, 18% de votos nulo ou em branco,
e 6% preferiram não opinar (DATAFOLHA, 2016a).
tiveram 1% ou menos das intenções de voto. Para completar, 20% dos entrevistados afirmaram
que votariam em branco ou nulo. Outros 6% não opinaram (DATAFOLHA, 2016b).
Sem Aécio Neves, denunciado na Operação Lava Jato (OLIVEIRA; NETTO, 2017), o
governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi testado no primeiro cenário. Lula ficava na liderança
com 36% das intenções de voto, e Bolsonaro ocupava o segundo lugar com 18%. Marina Silva
(Rede), 10%, vinha na sequência. Em seguida, Alckmin e Ciro Gomes (PDT) surgiam com 7%
e Álvaro Dias (Pode) com 4%. Os demais candidatos registram 1% das intenções ou menos.
Brancos e nulos totalizaram 13% dos votos. Dois por cento preferiram não opinar
(DATAFOLHA, 2017b).
Com o então prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), o segundo cenário mantém
Lula, 36%, Bolsonaro, 18%, e Marina Silva, 11%, na liderança. Assim como Alckmin, Doria
empata com Ciro Gomes com 7%. Álvaro Dias segue com 4%. Os demais têm 1% ou menos.
Ainda teve 14% dos entrevistados que afirmaram votar nulo ou em branco. Outros 2% não
opinaram (DATAFOLHA, 2017b).
A última pesquisa analisada neste estudo foi divulgada pelo Datafolha, no site do
instituto, no dia 11 de junho de 2018 e será tratada neste estudo como Pesquisa Eleitoral nº 4.
Preso pela Operação Lava Jato (ABRANTES; MAX; GREGO, 2018), o ex-presidente Lula
(PT) passou a correr risco de ser impedido de concorrer nas eleições. Os resultados do estudo
revelaram que, na ausência do petista, Jair Bolsonaro, agora no PSL, assumia a liderança da
pesquisa. O levantamento foi realizado do dia 06 ao dia 07 de junho de 2018 e contou com
2.824 entrevistas em 174 municípios. A margem de erro é de 2% para mais ou para menos
(DATAFOLHA, 2018).
No primeiro cenário, com o ex-presidente, Lula mantinha a primeira posição com 30%
das intenções de voto, seguido por Bolsonaro, 17%, e Marina Silva (Rede), 10%. Alckmin
(PSDB) e Ciro Gomes (PDT) tiveram 6%, e Álvaro Dias (Pode) registrou 4%. Os demais
candidatos fizeram 1% ao menos. Brancos e nulos totalizaram 17% e 4% não opinaram
(DATAFOLHA, 2018).
Em um segundo cenário, sem Lula, Bolsonaro lidera sozinho a pesquisa com 19% das
intenções de voto, o melhor índice já registrado pelo parlamentar até então. Marina Silva, 15%,
e Ciro Gomes, 10%, vêm na sequência. Alckmin, 7%, Álvaro Dias, 4%, Manuela D’Ávila, 2%,
e Rodrigo Maia, 2%, completam a lista. Outros candidatos somaram 1% ou menos. O número
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de votos em branco ou nulos subiu para 28%. E 5% dos entrevistados não opinaram
(DATAFOLHA, 2018).
3.10 INTERPRETAÇÃO
corrupção que culminaram na prisão de dezenas de agentes públicos e privados, levando à perda
de credibilidade da classe política. Na contramão desse processo, Bolsonaro não havia sido alvo
de nenhuma investigação, segundo apurado até o término do presente estudo. A Fake News nº
2 aproveita-se dessa situação para alavancar a imagem do deputado, associando a ele um título
inexistente.
Para Weber (2010), uma pessoa é capaz de formar sua opinião a respeito de alguém com
facilidade e um sujeito pode alavancar repentinamente a sua popularidade, bem como arruinar
sua carreira, de acordo com o desenrolar de um novo fato que influencie na sua imagem. Sendo
assim, essa notícia falsa pode ter induzido a opinião das mais de cinco mil pessoas que
interagiram com a publicação. Após a divulgação da Fake News nº 2, a Pesquisa Eleitoral nº 2
apontou que o então pré-candidato registrou 15% das intenções de voto no primeiro cenário e
14% no segundo (DATAFOLHA, 2017a). Pela primeira vez, o deputado federal aparecia em
2º lugar nas pesquisas, empatado com Marina Silva. Ressalta-se que mudanças no cenário
político nacional também contribuíram para o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas. Entre
elas, a condenação e prisão de Lula por corrupção passiva e a entrada de Aécio Neves no elenco
de réus da Lava Jato. Outros nomes que chegaram a ser cogitados, como Luciano Huck e
Joaquim Barbosa, acabaram desistindo de concorrer.
Conforme Gomes (2004), a política transformou-se em um jogo de aparências. As
pessoas deixam-se levar pelo carisma, agem com superficialidade e têm memória frágil. Essa
disputa pela imagem estabeleceu um padrão de comportamento politicamente correto,
influenciando composições políticas e tornando-se fator decisivo para os resultados eleitorais.
Esse contexto foi o pano de fundo para a divulgação da Fake News nº 3, que exaltava uma
possível vitória de Bolsonaro no primeiro turno.
No entanto, a notícia era falsa e, provavelmente, foi difundida com o intuito de obter
vantagens políticas (ALMEIDA; DONEDA; LEMOS, 2018). O resultado jamais havia sido
apurado por nenhum instituto de pesquisa até então. A despeito da falsidade da informação, a
Pesquisa Eleitoral nº 3, divulgada poucos dias após a Fake News nº 3, revelou que Bolsonaro
consolidava sua popularidade, refletida no levantamento. Com 18% das intenções de voto, o
parlamentar isolou-se na vice-liderança, ficando apenas atrás do ex-presidente Lula.
Com poder de capilaridade e alta velocidade (ALMEIDA; DONEDA; LEMOS, 2018),
as fake news têm 70% a mais de chance de ser retransmitida do que uma história real, aponta
uma pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (DIZIKES, 2018). Todas essas
evidências estão presentes na Fake News nº 4. A notícia falsa utiliza a figura da apresentadora
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Xuxa para agregar relevância ao depoimento inventado, uma vez que, segundo Weber (2010),
a mídia tem o poder de influenciar na forma como são estruturadas as imagens públicas. Amaral
(2018) acrescenta que a influência da pessoa que compartilhou uma informação não pode ser
quantificada, mas está diretamente relacionada à construção da imagem no ambiente virtual.
Após a divulgação da Fake News nº 4, o Datafolha (2018) lançou a Pesquisa Eleitoral nº 4,
constatando que Bolsonaro havia mantido o mesmo percentual registrado na pesquisa anterior.
No entanto, no 2º cenário, na ausência do ex-presidente Lula, Bolsonaro assumia a liderança,
com 19% da intenção de votos.
No período analisado pelo estudo, compreendendo as quatro fake news, foi constado um
aumento da popularidade de Jair Bolsonaro, mensurada pelas pesquisas eleitorais examinadas.
O parlamentar saiu de 8%, índice registrado na Pesquisa Eleitoral Piloto, e chegou a atingir
19% das intenções de voto na Pesquisa Eleitoral nº 4. No intervalo entre as pesquisas, também
verificou-se que Bolsonaro figurava inicialmente na quarta posição entre a preferência do
eleitor e terminou como líder no cenário sem Lula como candidato.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A era digital trouxe uma série de desafios para a sociedade moderna, inclusive questões
relacionadas à área da comunicação. Em função do rápido avanço tecnológico, as pessoas ainda
estão passando por um período de adaptação a essas novas ferramentas. Consequentemente, é
necessário buscar novos aprendizados sobre os usos dessas tecnologias. Nessa sociedade
hiperconectada através de uma rede com alcance global instantâneo, a difusão de fake news se
agudizou e passou a ser um temor para algumas democracias do mundo moderno (MACHADO,
2018). No ambiente das mídias digitais, usuários passaram a acreditar mais uns nos outros do
que na própria imprensa, abrindo espaço também para discussões sobre assuntos ligados à
liberdade de expressão e à credibilidade dos governos e do jornalismo (SANTOS; SPINELLI,
2018).
O presente estudo identificou que o período em que foram divulgadas as notícias falsas
favoráveis a Jair Bolsonaro foi marcado pelo um fortalecimento da sua imagem política.
Contrapondo-se aos resultados desta pesquisa, estudos mostram que o poder de influência das
fake news não é tão grande. Allcott e Gentzkow (2018) descobriram que apenas 14% dos
americanos adultos enxergam as mídias sociais como a fonte de informação mais importante
para notícias eleitorais. Embora os sites de redes sociais venham sendo os principais
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