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Acidente radioativo de Goiânia

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O acidente radioativo de Goiânia, Goiás, aconteceu no dia 13 de setembro de 1987. No ocorrido foram
contaminadas dezenas de pessoas que morreram acidentalmente pelas radiações emitidas por uma cápsula
do radioisótopo Cloreto de césio, de número 137, sendo chamado de Césio-137. Foi o maior acidente
radioativo do Brasil e o maior radiológico do Planeta [1].

A origem do acidente
Um equipamento de radioterapia no qual o colimador faz com que o feixe de radiação estreite. A
radioatividade é representada em vermelho e o raio gama é representado por amarelo.

Local da casa dos catadores de lixo localizado na Rua 57

A cápsula de Cloreto de Césio continha 74 Terabecquerels (TBq) em 1971. A Agência Internacional de


Energia Atômica descrevia que a cápsula possuía 51 milímetros de diâmetro e 48 milímetros de
comprimento, considera uma "cápsula tradicional internacional". O sólido usado especificamente na
máquina de radioterapia era o Césio-137 (que tem meia vida útil de 30 anos). A taxa de radiação em um
metro da fonte era de 4.56 gramas por hora. A pedra de Césio 137 foi feita no laboratório norte-americano
Oak Ridge National e era usado como fonte de radiação para a máquina de radioterapia do hospital de
Goiânia.

A cápsula de Cloreto de Césio fazia parte de um equipamento hospitalar utilizado para radioterapia que
utiliza o césio para irradiação de tumores, ou materiais sanguíneos (sangue e plasma sanguíneo). O
irradiador havia sido desativado em 1985 e se encontrava abandonado numa edificação pertencente ao
Instituto Goiano de Radioterapia. Dois catadores de sucata chamados Roberto dos Santos e Wagner Mota
invadiram o prédio abandonado e observaram um volume muito pesado, constatando ser um bloco de
chumbo, venderam para o dono de um pequeno ferro-velho, Devair Alves Ferreira, que vendo a
luminosidade estranha e bonita da pedra, fez um anel para a sua esposa, Maria Gabriela Ferreira, com
fragmentos do Césio-137, tendo o seu braço amputado no dia seguinte, devido a alta intensidade raios gama.

O local onde ficava a casa dos dois catadores de sucata pode ser localizado atualmente na Rua 57, no Setor
Central, em um lote vazio, coberto por uma espessa camada de 7 metros de concreto para impedir possível
vazamento de radiação e cerca de 70 metros atrás do Mercado Popular. [2]
[editar] O desmonte do equipamento radiológico
Foi no ferro-velho de Devair que a cápsula de Césio foi aberta para o reaproveitamento do chumbo, o dono
do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de cloreto de Césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal
de cozinha (NaCl), mas que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou
encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta para a mulher Maria
Gabriela, bem como o distribuíu para familiares e amigos. Pelo fato de esse sal ser higroscópico, ou seja,
absorver a umidade do ar, ele facilmente adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e
o organismo internamente. Devair passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital Marcílio Dias,
no Rio, e morreu sete anos depois.

[editar] A exposição à radiação


Tão logo expostas à presença do material radioativo, as pessoas em algumas horas começaram a
desenvolver sintomas: náuseas, seguidas de tonturas, com vômitos e diarréias. Alarmados, os familiares dos
contaminados foram inicialmente à drogarias procurar auxílio, alguns procuraram postos de saúde e foram
encaminhados para hospitais.

[editar] A demora na detecção


Os profissionais de saúde, vendo os sintomas, pensaram tratar-se de algum tipo de doença contagiosa
desconhecida medicando os doentes sintomaticamente. Maria Gabriela, esposa do dono do ferro velho,
desconfiou que aquele pó que emitia um brilho azul era o responsável pelas doenças que estavam ocorrendo
na sua família. Ela e um empregado do ferro-velho do marido levaram a cápsula de Césio para a Vigilância
Sanitária, que ainda permaneceu durante dois dias sobre uma cadeira, jogada. Durante a entrevista com
médicos, a esposa do dono do ferro velho relatou para a junta médica que os vômitos e diarréia se iniciaram
depois que seu marido desmontou aquele aparelho estranho. Só então, no dia 29 de setembro de 1987, foi
dado o alerta de contaminação por material radioativo de milhares de pessoas. Maria Gabriela foi um dos
pacientes tratados no Hospital Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Morreu no dia 23 de outubro de 1987 de
complicações relativas à contaminação com Césio. Foi a primeira vítima do Césio. Outra vítima,
considerada o retrato da tragédia, Leide das Neves Ferreira, depois de brincar com o pó azul, ingeriu
involuntariamente pequenas quantidades de Césio. A menina de seis anos foi a vítima com a maior dose de
radiação do acidente. Não conseguiu sobreviver e morreu no dia 23 de outubro de 1987, duas horas depois
da tia. Foi enterrada em um caixão blindado, erguido por um guidaste, por causa das altas taxas de radiação.
O governo da época tentou minimizar o acidente escondendo dados da população que foram submetidos a
uma triagem no estadio olimpico , os governantes da época escondiam a tragédia da população , dizendo ser
apenas um vazamento de gás , porém foi inevitavel e toda Goiânia passou a saber do que se tratava o
ocorrido , o governador deu a ordem que fossem desligados muitos dos aparelhos para que não
constatassem a contaminação do povo que assustados procuravam ajuda na busca de saber se estavam ou
não contaminados.

[editar] A contaminação
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a população da região. Desta 112
800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio, muitas com contaminação corporal externa revertida a
tempo. 129 apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta vindo a desenvolver sintomas e
medicadas. Porém, 49 foram internadas, sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro
não resistiram e acabaram morrendo. Dentre as pessoas contaminadas, destaca-se Leide das Neves Ferreira,
uma garota que maravilhada com o azul incandescente da pedra de Césio-137, espalhou-se por todo o seu
corpo e acabou comendo pedaços do radioisótopo. Acabou morrendo no dia 23 de Outubro de 1987 e o seu
enterro virou uma briga justicial, pois os coveiros e a população da época não aceitavam que ela fosse
enterrada em um caixão, mas sim cremada para que os seus restos mortais não contaminasse o solo do
cemitério e as outras covas. Depois de dias de impasse, Leide das Neves foi enterrada em um caixão de
chumbo lacrado para que a radiação não fosse transmitida. Muitas casas foram esvaziadas, e limpadores à
vácuo foram usados para remover a poeira antes das superfícies serem examinadas pela radioatividade. Para
uma melhor identificação foi usada uma mistura de ácido e tintas azuis. Telhados foram limpos à vácuo,
mas duas casas tiveram seus telhados removidos. Brinquedos, fotografias, utensílios domésticos, tudo foi
considerado material de rejeito. O que foi recolhido com a limpeza foi transferido para o parque Telma
Ortegal. Até a atualidade, todos os contaminados ainda desenvolvem enfermidades relativas à contaminação
radioativa, fato este muitas vezes não noticiado pela mídia brasileira. E após vinte anos do desastre
radioativo, as várias pessoas contaminadas pela radioactividade reclamam por não estarem recebendo os
medicamentos, que segundo leis intituídas deveriam ser distribuídas pelo governo. E muitas pessoas
contaminadas ainda vivem nas redondezas da região do acidente, entre as Ruas 57, avenida Paranaíba, Rua
74, Rua 80, Rua 70 e avenida Goiás, no entanto, essas pessoas não oferecem mais nenhum risco de
contaminação a população.

[editar] Lixo atômico


A limpeza produziu 13,4 toneladas de lixo atômico, que necessitou ser acondicionado em 14 contêineres
fechados hermeticamente. Dentro destes estão 1.200 caixas e 2.900 tambores, que permanecerão perigosos
para o meio ambiente por 180 anos. Para armazenar esse lixo atômico e atendendo às recomendações do
IBAMA, do CNEN e da CEMAm, o Parque Estadual Telma Ortegal foi criado em Goiânia, hoje pertencente
ao município de Abadia de Goiás, onde se encontra uma 'montanha' artificial. Assim, os rejeitos foram
enterrados em uma vala de aproximadamente 30 (trinta) metros de profundidade, revestida de uma parede
de aproximadamente 1 (um) metro de espessura de concreto e chumbo, e sobre a vala foi construída a
montanha.

[editar] Consequência
Após o acidente, os imóveis em volta do acidente radiológico tiveram os seus valores reduzidas a preços
insignificantes, pois quem morava na região queria sair daquele lugar, mas o medo da população da
existência de radiação no ar impedia a compra e construção de novas habitações.

Além da desvalorizações dos imóveis, por muito tempo a população local passou por uma certa
discriminação devido ao medo de passarem a radiação para outras pessoas, dificultando o acesso aos
serviços e educação.

Muitas lojas e o comércio que existiam antes do acidente acabaram fechando ou mudando, sobrando alguns
poucos comerciantes que ainda resistiam em continuar na região.

[editar] Revitalização da região

Mercado Popular da Rua 57 após a reforma


Somente no final dos anos 90, a região começou a passar menos "assustadora" para os novos inquilinos,
através de ações do governo municipal e estadual para a revitalização da região, com a revitalização de
prédios antigos na redondeza, revalorizando as casas que estavam nas mediações do acidente.

Em questão de poucos anos, o valor das casas da região central já estavam entre 2 ou 3 vezes maior do que
na época do acidente. No início de 2006, a prefeitura municipal de Goiânia resolveu revitalizar o antigo
Mercado Popular, sendo reinaugurado em novembro de 2006 com a edição 2007 da Casa Cor Goiás, com a
presença de autoridades municipais e estaduais. Em fevereiro de 2007, o Mercado Popular passou a ser um
ponto turístico da cidade, por possuir uma feira gastronômica todas as sextas-feiras às noites sempre
acompanhadas de música ao vivo.

Aos poucos a região atingida pelo acidente vai valorizando-se, aumentando o interesse de grandes
empreiteiras construírem prédios de luxo, onde antes eram apenas casebres abandonados.

Repercussão internacional do acidente


O acidente foi descrito em vários documentários internacionais, além de vários filmes sobre o assunto,
episódios de tv, músicas e livros.

• The Star Trek: O episódio "Thine Own Self" foi totalmente baseado no incidente.
• O livro Blindfold Game por Dana Stabenow faz menção ao incidente.
• Um episódio do desenho animado, As Novas Aventuras do Capitão Planeta foi escrita fazendo um
paralelo com o incidente, onde um grupo de crianças encontram um fonte radioativa em um
equipamento médico abandonado e consequentemente contaminam-se e a vizinhança, embora os
heróis intervenham antes que as mortes ocorram.
• O conto Witch Baby escrito por Francesca Lia Block menciona o incidente; muito dos personagens
foram feitos a partir de um artigo que a autora leu sobre o incidente.
• O incidente foi mencionado no curta-metragem Ilha das Flores escrita por José Furtado.
• No episódio Daddy's Boy do seriado americano House, M.D. é similar ao incidente.
• O cantor e compositor italiano Angelo Branduardi compôs a música Miracolo a Goiania, em 1988
no álbum Pane e Rose, no qual conta o dialógo entre as pessoas envolvidas no incidente.
• O cantor e compositor panamense Rubén Blades compôs a música El Cilindro, em 1992 no álbum
Amor y Control, que conta uma história sobre o incidente.
• Em 1990, Roberto Pires dirigiu o filme Césio 137 – O Pesadelo de Goiânia dramatizando o
incidente (Ficha Técnica no IMDb).
• No episódio dos Simpsons intitulado "Lady Bouvier's Lover", Milhouse chama Bart pergunta: "Ei
Bart, você queria ir brincar com uma máquina de Raio-X abandonada de um hospital?" E Bart
responde: "Com certeza!".
• A banda goianiense Punch, gravou atualmente o seu álbum chamado Césio 137.
• A banda goianiense HC-137 (Horrores do Césio 137) também iniciou suas atividades devido a esse
acidente.
• O acidente foi tema do programa da Rede Globo do dia 9 de agosto de 2007, Linha Direta.

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