Professional Documents
Culture Documents
Por Francœur
“Você fala muito a respeito de Deus, não fala? Seus livros estão cheios Dele. Você
constrói igrejas, templos, faz sacrifícios, pratica rituais, celebra cerimônias e tem uma
porção de ideias a respeito de Deus, não tem? Você repete a palavra, mas seus atos
não são divinos, são? Embora você venere aquilo que chama de Deus, seu
comportamento, suas ideias, sua existência não são divinos, são? Embora você repita
a palavra Deus, você explora os outros, não explora? Você tem seus deuses — hindus,
maometanos, cristãos e todos os demais. Você constrói templos e, quanto mais rico
fica, mais templos constrói. ” — Jiddu Krishnamurti
Nem todos dizem acreditar em Deus, alguns dizem não acreditar, mas, dentre a maioria
deles, vê-se que apenas dão a Ele/Ela outro nome. A maioria dos que nEle ou nEla
acreditam Lhe atribui diversas qualidades, refletindo as suas ideias particulares.
Por exemplo, existem os marxistas, que creem nas ideias pregadas pelo filósofo Karl
Marx, que buscaram originalmente eliminar a pobreza por uma distribuição mais justa
das riquezas. Estes dizem negar a existência de Deus, mas, ao mesmo tempo, falam em
um processo histórico que levará, no final, a uma justiça social, em que todos viverão
uma espécie de comunhão fraterna. Neste caso apenas estão renomeando Deus, devido
a associações com esta palavra feitas pelas instituições religiosas majoritárias que eles
rejeitam, mas reconhecem a existência de algo que interliga tudo, o processo histórico,
que pode ser visto como uma ideia de Deus, mesmo que se apresente com outro nome.
Existem aqueles que não falam de Deus, que não negam a sua existência, mas tampouco
a afirmam, como, por exemplo, os agnósticos, os quais dizem que não possuímos
capacidade cognitiva nem de negar, nem de afirmar a Sua existência. Muitos dos
agnósticos, no entanto, são cientistas da linhagem europeia, daí acreditam em leis que
permeiam todo universo, o que é uma forma de ver Deus, mesmo que não com este
nome.
Os budistas não costumam falar de Deus, mas tampouco O negam; consideram vão
elaborar concepções metafísicas de Deus, que todos nós deveríamos experenciar e cada
um, então, chegar às suas próprias conclusões. Enfatizam práticas de meditação e de
vida a fim de superar todas as ilusões inerentes a este universo.
Todas estas ideias possuem um fundo de Verdade, mas nenhuma delas compreende toda
a Verdade.
O politeísmo considera que há diversos deuses, que seriam seres ocultos, mais ou menos
poderosos, inerentes a todas as coisas do universo. Assim haveriam seres inerentes às
florestas, aos rios, aos mares, às montanhas, às rochas. Haveriam seres ocultos mais
abrangentes ou mais específicos. Uns abarcariam todas as espécies vegetais, outros um
determinado gênero de vegetais, e assim por diante. Isto parece a nós ser mais ou menos
assim, pelo menos no sentido aparente.
O monoteísmo afirma haver um só Deus, que governa tudo quanto há, mas não está
igualmente presente em tudo quanto há. Este Deus apresenta um ideal de como este
universo deveria ser, ou seja, possui uma concepção do que seria “errado” ou não
condizente com este ideal, e o que seria “certo”, ou em concordância com este ideal. Esta
é a concepção de Deus adotada pelos aderentes de uma boa parte, se não a maioria, dos
grupos religiosos majoritários em todo mundo.
O panteísmo também afirma haver um só Deus, que é todo este universo, daí está
igualmente presente em tudo quanto há. Considera daí que este universo é real, e que é
exatamente o único Deus. Não adota daí uma moralidade fixa tal como tende a fazer o
monoteísmo e ideias afins, visto que considera que tudo quanto há neste universo faz
parte de Deus.
O Monismo, uma elevada doutrina pregada por Thoth, o fundador das escolas iniciáticas
do Antigo Egito, também afirma haver um Só (UM Sol) Deus, mas que Este é
essencialmente indivisível, tudo que os inúmeros seres relativos veem é ilusório, é como
uma luz vista por um vidro colorido. Que não há essencialmente partes de Deus, embora
estas existem enquanto aparência mental. Deus está presente em tudo quanto há, e tudo
quanto há é Deus, mas também tudo quanto há, todas as coisas, não existem em
essência, só em aparência. Esta linhagem é expressa no Oriente sob o nome de Vedanta,
especialmente sob a sua vertente Advaita, não dualista. Um dos maiores mestres, no
Oriente, da Advaita Vedanta, é Ramana Maharshi, quem fez a passagem, deste mundo
aparente, em 1950.
A Verdade é infinitamente ampla, pode ser comparada ao Oceano, do qual cada pessoa
ou ser relativo colhe ou entende o que é capaz. Uns colhem por uma pequena colher,
outros por um copo, outros por um balde, enquanto outros conseguem atrair a água
para um imenso reservatório. Cada um traduz a Verdade segundo a sua capacidade, e a
reduz segundo o seu entendimento mais ou menos limitado.
Assim se deu com o Monismo, o qual era amplamente compreendido por diversos dos
sacerdotes e iniciados das escolas de mistérios da Antiguidade, mas, a partir de sua
divulgação inicial por Akenathon, foi sendo gradualmente reduzido à capacidade de
entendimento das pessoas do Ocidente.
Que todos nós aprendamos a refletir da melhor forma, sempre usando o mais fino
discernimento de que somos capazes!