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Bombas e
circulação
de água
d e
i ç ã o o:
Ed ment
n ç a d e
la vist lia
a
re r iofi
qu a
a
A Biodiversidade
e a sua importância em
ecossistemas «fechados»
editorial
A
aquariofilia já atingiu ou mesmo por situações de me- perando poder contar com todo
no nosso país um pa- nor credibilidade. o vosso apoio e colaboração
tamar de relevância, O mercado actual, em profun- para garantir o sucesso deste
quer ao nível quantitativo, ou da expansão, exige um apoio ri- projecto que, como poderão
seja, o número elevado de goroso e de confiança, traduzido observar, tem a qualidade ne-
aficionados, quer qualitativo, por uma maior e melhor difusão cessária. Nesta edição de lan-
revelando alguma maturidade de informação que sirva os inte- çamento, a publicidade encon-
e qualidade de aquários e co- resses dos leitores, fabricantes, tra-se completamente ausente.
nhecimentos de muitos aqua- importadores, distribuidores, lo- De futuro, para que a revista
riofilistas. jistas e amantes deste maravi- progrida e permaneça no mer-
Nos últimos anos temos as- lhoso hobby. cado, contamos com a publici-
sistido a um desenvolvimento A bioaquaria surge neste con- dade de todas as entidades e
muito significativo da aqua- texto com o objectivo de res- empresas do sector.
riofilia, quer seja nos próprios ponder a esta lacuna na aqua- Lançaremos a edição n.º 1,
conhecimentos dos aficio- riofilia nacional. Trata-se de um em papel, no primeiro trimes-
nados, quer seja no próprio projecto que pretende o envolvi- tre do ano. Apesar de parecer
sector que explora produtos mento de toda a cadeia de valor, algum tempo, é preciso com-
específicos para o hobby e os que parte de aquariofilistas para preender que é necessário ul-
próprios seres vivos. As tecno- aquariofilistas e que conta ainda trapassar algumas questões
logias da informação foram o com a participação de biólogos logísticas para que de futuro a
principal veículo impulsionador e de todos os que demonstrem revista não falhe a sua perio-
dos conhecimentos que exis- paixão pelo ambiente aquático. dicidade bimestral, e seja tam-
tem sobre a manutenção de Pretendemos reunir os me- bém capaz de cumprir prazos,
seres aquáticos em cativeiro lhores especialistas nacionais e garantindo ao mesmo tempo
através de fóruns na Internet, alguns internacionais neste pro- qualidade e isenção.
sites e revistas online. Contu- jecto. Estamos a estabelecer par-
do, é importante não esquecer A revista englobará a aqua- cerias com clubes, associações
as publicações em papel, que riofilia de água doce, salgada, e fóruns e a garantir também
representaram e continuam terá uma pequena componente conteúdos de alguns autores
a representar um importante relacionada com a problemática estrangeiros.
veículo de comunicação que ambiental marinha, a biologia, a Não podemos deixar de
não substitui nem se torna ob- aquacultura e o mergulho, todos agradecer a todos os nossos
soleto perante as novas tecno- os eventos realizados, notícias, colaboradores que têm sido
logias, tal como o mercado da aquários de sucesso, biofichas de fantásticos, nomeadamente to-
literatura em papel não sofreu peixes, plantas e invertebrados, dos os que contribuíram com
com o advento da Internet. aquariofilia na net e também conteúdos e, especialmente, os
No nosso país existe actu- será um espaço onde poderá dar que perderam muitas horas de
almente um vazio no que res- opiniões, tirar certas dúvidas e forma altruísta para a concreti-
peita a publicações periódicas certamente, se o desejar, de co- zação deste projecto.
dedicadas à aquariofilia. Assis- laborar.
timos no passado a algumas Assim, é com imenso prazer
tentativas falhadas, quer seja que lançamos esta edição n.º 0,
por falta de interesse, gestão, totalmente gratuita e online, es-
Um filtro vivo
Texto e fotografias:
Miguel Figueiredo
Aquariofilista que mantém peixes há
mais de 30 anos, tendo-se especiali-
zado em espécies africanas de água
Filtragem natural em água doce doce. O seu interesse pelos peixes
leva-o com frequência aos biótipos
de origem, estudando as espécies
A
final que filtragem a natu- tanto espaço como a Natureza... no seu meio natural. Segundo o Mi-
guel, o seu ideal de paraíso é estar
reza usa em lagos e rios? e certamente não queremos dentro de água, num longínquo rio
montar uma ETAR em nossa de uma floresta virgem qualquer,
Entre outras coisas, recorre a casa. observando tranquilamente os pei-
xes e segurando um camaroeiro,
muitas plantas. A ideia é atraente, usar as para poder colectar as espécies mais
As algas, as plantas aquáticas próprias plantas aquáticas para invulgares...
superiores e a grande quantida- filtrar o aquário, mas será que
de de plantas marginais, sugam E se fosse mesmo possivel...
funciona?
avidamente amónia, nitritos, ni- porque é que os outros aquario-
Em recife é possivel atingir
tratos, fosfatos e metais pesa- filistas não o faziam?
esse equilíbrio, através de uma
dos. Há vários anos atrás, em
grande proporção de rocha viva,
Hoje em dia, as ETAR’s mais 2000, eu tinha muito mais tem-
movimentação de água e luz,
avançadas usam enormes plan- po para me dedicar à aquariofilia
mas em água doce eu tinha dú-
tações de plantas palustres no e fiz uma experiência:
vidas, suspeitava que a quanti-
tratamento dos esgotos das ci- Instalei um aquário para ciclí-
dade necessária de plantas fosse
dades. deos com 120 cm e 240 litros.
enorme, tornando estes filtros
Porém, nós não dispomos de Um terço do aquário estava se-
impraticáveis.
Ceratophyllum submersum
Texto:
Nuno Prazeres Acumulação de
matéria dissolvida
Tem aquários de água doce e sal-
gada desde 1980. Os seus interes-
ses centram-se, essencialmente, na
modelização de biótopos e na ten-
tativa de criação de sistemas tão
auto-sustentados quanto possível.
e mudas de água
Método analítico para determinar uma solução adequada
C
omo sabemos, as mu- e a sua frequência, mais ineficaz temente eficazes?
danças parciais de água é a nossa acção, constituindo-se Em primeiro lugar, há que en-
são a mais directa res- mais como um adiar de um pro- contrar um parâmetro de con-
posta à acumulação de matéria blema inevitável e menos como trolo cujo crescimento represen-
nociva nos aquários. É intuitivo uma solução definitiva. te a degradação do ambiente do
perceber que, quanto mais baixa Como saber então se as nos- aquário. Tipicamente, a concen-
for a proporção da água mudada sas mudas de água são suficien- tração de nitratos será o factor a
1
M=Ax --1
p ( )
em que M é o valor máximo
que o parâmetro de controlo
atingirá, A é o aumento do valor
de controlo entre mudas regula-
res e p representa a proporção
em percentagem da água muda-
da.
que, em situações com uma mulação de detritos orgânicos e
Vejamos, então, os seguin-
quantidade razoável de peixes evaporação) sobe 5 µS/cm por
tes exemplos práticos que pres-
frequentemente alimentados que cada quinzena e, como o res-
supõem a resolução da fórmula
vivem em ambientes sem plan- ponsável pelo aquário pretende
em função de qualquer das três
tas, corre o risco de ser atingido. fazer trocas de água de quinze
variáveis:
Consequentemente, temos duas em quinze dias, a proporção mí-
Um aquariofilista faz uma tro- hipóteses: ou redimensionamos nima a utilizar será de cerca de
ca parcial de 10% da água todas o sistema de mudas para diaria- 11%.
as semanas com a concentração mente renovar uma quantidade
de nitratos a aumentar sempre mais apreciável da água ou, en-
5 ppm durante esses sete dias. Nota:
tão, há que limitar o número de
Os três exemplos têm como
Segundo a fórmula, a longo pra- peixes, de modo a que não se pressuposto o uso de água em
zo, com essa estratégia, o aquá- atinja esse valor de concentra- que os valores do parâmetro a
rio vai chegar a uma concentra- ção de nitratos. controlar são nulos, o que, na
ção de 45 ppm de nitratos, o que Noutro caso temos um aquá- maioria dos casos, não introduz
pode ser considerado demasia- um erro excessivo se estamos a
rio no qual se pretende evitar falar de nitratos. A fórmula pode
do para espécies mais sensíveis, que a conductividade aumente, ser ajustada para contemplar
pelo que parece mais prudente face ao valor inicial da água, valores não nulos do parâmetro
usar-se uma metodologia mais mais de 40 µS/cm. Sabendo nós de referência na água de subs-
agressiva – ou o aumento da fre- tituição, mas isso não é objecto
que a conductividade (via acu-
quência das mudas ou aumento deste artigo.
da proporção de água mudada
ou as duas coisas.
© Egmel
As ampulárias
Texto:
Tomás Mendes
C
omo é do conhecimen- de ampulária esteja a flutuar, que permite a sua sobrevivência
to de muitos, é bastante ele pode ainda estar vivo? Se em águas pouco oxigenadas e
comum encontrar ampu- pretende ter sucesso com estas também durante períodos de
lárias nas lojas ou a passear nos espécies maravilhosas ou saber seca. Durante estes períodos, en-
aquários domésticos. No entan- mais sobre elas, encontrou o ar- terram-se no areão e entram em
to, muitos são os que se descui- tigo certo. Assim, abordarei as hibernação, selando bem a sua
dam nos cuidados necessários questões mais elementares so- concha. O opérculo é-lhes tam-
para que estes seres vivam sau- bre as ampulárias e espero con- bém útil para os proteger contra
dáveis e felizes. Sabia que es- tribuir para o vosso sucesso com alguns predadores. Deste modo,
tes lindos caracóis amarelos (e as mesmas. devido ao desenvolvimento des-
não só!) podem atingir 15 cen- As ampulárias são, sem dúvi- ta placa óssea, aliado a outras
tímetros de comprimento? Sabia da, espécies bastante resisten- características que contribuíram
que mesmo que um espécime tes. Possuem um opérculo crucial para o seu sucesso evolutivo,
Q
uem não os conhece? São
criados em grande esca-
la em países da Ásia, como
a Tailândia, e chegam a Portugal e
a outros países a preços bastante
baixos. Tornam-se assim uma pre- Classe: Actinopterygii
N
esta edição descobrimos um
Naso, peixe imponente, ter-
ritorial mas, contudo, sociá-
vel, que vagueia pelo seu aquário
de recife.
Classe: Actinopterygii do uma elevação logo na zona
Ordem: Perciformes abaixo do olho; dentes são pe-
Família: Acanthuridae quenos, cónicos, com as pontas
© João Ribeiro
Género: Naso ligeiramente deprimidas; bar-
Espécie: Naso vlamingii (Valen- batana caudal direita até ligei-
ciennes, 1835) ramente arredondada com dois
Nome comum: Rufia longos filamentos, um em cada
Origem: Indo-Pacífico extremidade; dois espinhos ós- relo ao castanho com barras
Comprimento máximo: 60 cm seos em cada lateral da base da azuis irregulares ao longo dos
pH: 8,3 barbatana caudal, à semelhança flancos, e pequenos pontos azuis
Temperatura: 22-28ºC das outras espécies da mesma acima, por debaixo das barras e
família. na cabeça; banda larga azulada
Descrição: corpo alongado, anterior aos olhos; lábios azuis;
oval; rostro curto, revelan- Coloração: coloração do ama- barbatanas anal e dorsal ama-
© João Ribeiro
© João Ribeiro
@ Pedro Conceição
aquários marinhos!
P
ara alguns autores, a es- Origem: Indo-Pacífico, Mar Ver-
pécie atlântica Lysmata melho.
grabhami é considerada a Comprimento máximo: 5 cm,
mesma espécie. em aquário 3-4 cm.
@ Pedro Conceição
Bombas e
circulação
de água
A
zou-se no Aquário Vasco da Gama.
s bombas, de uma forma grande capacidade de movimen- Criou peixes-palhaço (Amphiprion
geral, podem ser divididas tação de água. ocellaris). Desde então tem-se dedi-
em 2 tipos – as bombas A maioria das bombas de cado à aquariofilia de recife. Escre-
ve e colabora regularmente com as
de centrifugação e as bombas centrifugação pode ser comple- revistas da especialidade e faz algu-
de diafragma e peristálticas. Nas tamente submersa, o que é a mas palestras em eventos públicos.
primeiras, a água é movimenta- causa de uma das suas poucas
da através de um movimento contrariedades, o facto de se- rada pode ser passada para a
de centrifugação de um propul- rem responsáveis pelo aqueci- água, permitindo, assim, que o
sor instalado na zona central da mento da água do aquário. Por seu “corpo” possa ser significa-
bomba. Estas são normalmente poderem estar submersas, são tivamente reduzido. Ora, a tem-
utilizadas como bombas de cir- também mais pequenas, isto peratura é um dos grandes pro-
culação e de retorno pela sua porque a temperatura que é ge- blemas dos aquários de recife e
Eric Weaver
o seu tamanho e o líquido se um pequeno rotor. Este rotor, ao
comece a deslocar. Estes mo- fazer movimentos circulares, vai
vimentos são normalmente se- criando diferenças de pressão
quenciais, fazendo com que os dentro do tubo que, por sua vez,
fluxos possam ser controlados vão provocando o deslocamento
de uma forma muito eficaz. Por do líquido no seu interior.
esta razão, este tipo de bombas Existem no mercado diversos
é usado normalmente em siste- tipos de bombas que podem fun-
mas de reposição de água e em cionar como bombas de retorno,
sistemas de doseamento, como mas só faz sentido falarmos des-
por exemplo, doseamento de tas se estivermos a pensar mon-
kalkwasser com a água de repo- tar um aquário com uma sump.
sição. Quando adquirimos uma
As bombas peristálticas fun- bomba, ela normalmente é de-
cionam praticamente da mesma finida pela sua capacidade de
forma que as de diafragma, mas débito. Este é normalmente me-
em vez de um diafragma têm dido em litros/hora (litros por
hora) e a medida apresentada tipo de tubo que usamos – mais ções em termos de colocação e
é sempre a medida do débito ou menos rugoso, a quantidade acondicionamento, deverão ser
caso tenhamos que transportar de curvas, etc. Assim, devemos factores a ter em conta. A fia-
água para uma zona que esteja tentar criar um percurso para bilidade de uma bomba é sem
à mesma altura que a bomba. água o mais directo possível evi- dúvida um dos factores mais
Assim, à medida que elevamos tando curvas muito acentuadas. importantes e, como tal, antes
a zona de descarga, mais baixo Neste caso, devemos evitar os de comprar qualquer modelo,
será o débito da bomba até, no ângulos rectos que criarão um convém que consigamos obter o
limite, deixar de conseguir fazer aumento de pressão nos tubos máximo de informação possível
o seu papel. É, assim, de fulcral e, consequentemente, um débi- sobre o equipamento em cau-
importância verificar o gráfico to mais reduzido. sa. Depois de nos certificarmos
que normalmente acompanha a Na escolha das nossas bom- da fiabilidade do equipamento,
bomba, para nos certificarmos bas temos que ter em atenção, devemos conseguir criar um sis-
se serve os nossos propósitos. além dos factores mencionados tema redundante. Assim, se um
Este gráfico mostra a diminui- atrás, outros que podem afectar dos equipamentos falhar, temos
ção de débito da bomba com- a nossa decisão. Assim, o con- sempre outro que permite que
parando-o com a elevação do sumo de energia, a resistência à tudo continue a funcionar, mes-
tubo de descarga. É importante água salgada, a fiabilidade e o mo que com um débito mais
frisar que não é só a altura que barulho que produzem, a tem- baixo. A paragem de uma bom-
diminui o débito de uma bomba. peratura que transferem para ba, principalmente se se tratar
Existem outros factores, como o a água, o tamanho e as restri- de uma bomba de retorno, pode
Dispersor
abram completamente para re- rio por hora. Não basta, no en- ostensivas quando olhamos para
ceber luz nos seus corpos, que tanto, dizer que temos 20x o vo- o layout como um todo. Como é
é, como já vimos anteriormente, lume em movimentação e achar óbvio, neste campo temos que
fundamental para a sua sobre- que temos um sistema perfeito. ter alguns cuidados. Entre eles
vivência. É necessário que as correntes está o facto de não devermos
Quando falamos de circulação sejam bem pensadas e que a colocar as bombas em locais
de água, temos também de pen- água, ou parte dela, seja dirigi- onde o seu manuseamento seja
sar nos organismos que temos da para a superfície de forma a dificultado, pois estas necessita-
no nosso aquário e nas suas ne- criar um efeito de onda que vai rão, ao longo do tempo, de ma-
cessidades. Existem corais que permitir melhores trocas com o nutenções periódicas. Assim, a
gostam de muita movimentação exterior e, consequentemente, colocação de bombas por baixo
e outros pura e simplesmente aumentar o Potencial Redox. da rocha viva é, de facto, uma
não gostam de movimentação. Bombas mais pequenas pode- má ideia. A melhor colocação,
Além de uma eficiente oxige- rão ser dirigidas para certas zo- neste caso, será perto da super-
nação, uma forte circulação de nas do aquário, especificamente fície e perto das laterais, pois
água no nosso aquário exerce para algum tipo ou tipos de co- não só estarão menos visíveis,
também outras funções: ral. É também muito importan- como também, como vimos an-
• exercita os peixes, evitando te, caso queiramos colocar uma teriormente, irão promover uma
que se tornem sedentários, au- parede de rocha viva, garantir melhor oxigenação da água e
xiliando o seu metabolismo; que existe circulação de água uma mais acentuada evapora-
• alimenta invertebrados e por trás desta parede, evitando ção da água. Esta evaporação
corais que retiram da água ele- assim, a estagnação de água ou é muito importante porque não
mentos importantes para a sua a acumulação de detritos. Estas só provoca o arrefecimento da
nutrição, promovendo a circula- bombas são normalmente cha- água, como possibilita a adição
ção dos organismos de que se madas de powerheads e não são de água de reposição, onde nor-
alimentam; mais do que bombas de circula- malmente adicionamos alguns
• permite que a mucosa pro- ção, normalmente com débitos suplementos (como veremos
tectora dos peixes seja constan- mais reduzidos. mais à frente).
temente renovada e limpa, evi- Um desafio grande que en- Quando colocamos bombas
tando assim problemas de pele; frentamos é conseguir colocar dentro do nosso aquário há um
• ajuda na redução do stress. as bombas dentro do aquário factor que nunca devemos des-
Como regra, podemos seguir (caso seja essa a nossa opção), curar, que é o facto de termos
a teoria de que o volume de água garantindo uma circulação eficaz que proteger a entrada da bom-
a movimentar poderá andar à e, ao mesmo tempo, conseguir ba. Muitos são os relatos de
volta de 20x o volume do aquá- que estas não sejam demasiado anémonas, corais e peixes que
Sustentabilidade do mercado
de marinhos ornamentais
E
doce), com cerca de 90% das Marinha e Pescas na Universidade
stima-se que entre 1,5 a
do Algarve, fez um estágio de 6 me-
2 milhões de pessoas de espécies comercializadas oriun- ses em produção de ornamentais
todo o mundo possuam das de ambientes naturais. São marinhos na Lusoreef Lda. e um es-
espécies tipicamente de recifes tágio de aprendizagem na Univ. do
um aquário marinho. Os Esta-
Algarve em 2004 em aquacultura de
do Unidos da América surgem de coral e têm como principais copépodes e cadeia trófica.
como o maior mercado, seguido fornecedores os países da zona
da Europa, com particular inci- do Indo-Pacífico, nomeadamen- toda a cadeia trófica. Estas áre-
dência na Grã-Bretanha, França te a Indonésia e as Filipinas. as encontram-se sobre grande
e Alemanha, seguidos do Japão. As zonas de recife apresen- pressão antropogénica: turismo
Apesar de bem difundida, a tam uma grande biodiversidade excessivo (devido à sua beleza
aquariofilia marinha represen- e uma enorme dinâmica ecoló- e variedade de espécies); sobre-
ta apenas 10% do mercado or- gica com elevada produtividade exploração dos recursos, com
namental (a restante de água primária, que serve de base a técnicas de pesca muito destru-
A
biodiversidade é um conceito que, em-
Texto:
bora o leitor decerto conhece e identifi- João Cotter & Paulo Torres
ca, não é fácil de definir e muito menos O primeiro autor tem um Mestrado
em Biologia e Gestão dos Recursos
de compreender toda a sua amplitude e impor- Marinhos. Foi Director Editorial da
revista Aquário Magazine. Tem de-
tância em qualquer sistema de suporte de vida. zenas de artigos de aquariofilia pu-
blicados e apresentadas algumas
Este artigo pretende ajudar o leitor a apreen- palestras em eventos públicos. É in-
vestigador no Instituto de Oceano-
der melhor este vasto e dinâmico conceito e a grafia da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa. É aquario-
sua importância, relacionando-o com um mun- filista desde a infância e dedica-se
do que todos nós conhecemos – a aquariofi- a aquários de recife (água salgada)
desde 1992. É moderador do fórum:
lia. Neste contexto, é fundamental perceber o www.aquariofilia.net.
papel que a biodiversidade existente em cada O segundo autor tem uma Licen-
ciatura em Biologia Marinha e um
aquário desempenha, garantindo a existência Mestrado em Biologia e Gestão de
Recursos Marinhos. É investigador
e continuidade de um «mini» ecossistema fun- no Laboratório Marítimo da Guia da
Faculdade de Ciências da Univer-
cional e saudável, essencial para o sucesso de sidade de Lisboa e é aquariofilista
desde 2000.
qualquer aquário.
Parte 1 mos, os genes que eles contêm conceito engloba várias escalas
e os intricados ecossistemas que do micro ao macrocosmo, consi-
A biodiversidade eles ajudam a construir no meio derando três níveis bem defini-
A biodiversidade ou diversi- ambiente». Vamos tentar per- dos de diversidade. O primeiro,
dade biológica, de acordo com o ceber melhor este conceito, as mais específico, está relaciona-
Fundo Mundial para a Natureza suas implicações, a sua exten- do com toda a variação genéti-
(1989), consiste na «…riqueza são e toda a sua importância. ca que existe, tanto intra como
da vida na terra, os milhões de Numa primeira abordagem, inter espécie e/ou população, e
plantas, animais e microorganis- denota-se, à partida, que este por isso é denominada diversida-
© Michael Scaduto
As florestas de mangal são ecossistemas extremamente importantes para a manutenção da biodiversidade
nos recifes de coral
© Paul J. Thompson
lista.
Determinados seres planc-
tónicos e planctonívoros sim-
plesmente não sobrevivem num
aquário porque, ou não encon-
tram a diversidade de alimento
de que necessitam, ou o am-
biente é demasiado adverso
para a sua sobrevivência (bom-
bas de água, demasiados preda-
dores por volume de água, etc.).
O equilíbrio é de tal ordem frágil
que os elos da cadeia trófica es-
tão e são facilmente quebrados.
Assim, estes sistemas requerem
inputs energéticos externos adi-
cionais.
O aquariofilista adiciona fre-
quentemente alimento a peixes,
corais e outros invertebrados.
Por outro lado, ocasionalmente
repõe biodiversidade através da
adição de seres marinhos cujas
populações decrescem com o
tempo (ex.: detritívoros). Al-
Produção de fitoplâncton para a aquariofilia
guns aquariofilistas simulam
ainda aumentos de produtivida-
natural num ambiente tropical? Num recife doméstico a pro- de primária, recorrendo à adição
Num aquário, ao contrário dutividade primária é escassa de concentrados de células fito-
do recife natural, temos verda- (quem é que pretende ver o de- planctónicas.
deiras barreiras físicas relativa- senvolvimento de microalgas no Se, por um lado, os sistemas
mente ao exterior. Não temos seu aquário?) e, mesmo quando domésticos são fechados peran-
trocas energéticas com outros não o é, dificilmente consegui- te habitats e biodiversidade ex-
habitats e não há, portanto, re- mos ter presente todos os ní- terna, por outro são nitidamente
posição autónoma de vida atra- veis tróficos que permitam, por abertos, já que beneficiam de
vés de movimentos migratórios. exemplo, que todos os nossos constantes inputs energéticos e
Estamos então perante um sis- peixes se alimentem autono- de diversidade através de uma
tema verdadeiramente fechado? mamente e que não requeiram «mãozinha» humana vinda do
Vejamos... qualquer tipo de intervenção nu- exterior.
Na próxima edição
analisaremos com maior
detalhe a biodiversidade
marinha e sua relevância
dentro de um aquário de
recife, nomeadamente as
relações ecológicas fun-
cionais.
PetFil 2006
3º salão dos animais de
estimação realizado nos
dias 22 a 24 de Setembro
em Lisboa.
R
ealizou-se no passado mês de Setembro na
FIL – Feira Internacional de Lisboa – a PetFil,
uma das maiores exposições do país de ani-
mais de companhia, seus produtos e acessórios. A
PetFil, com cerca de 15.000 m2, contou com cerca de
© Miguel Marques
300 expositores nas mais variadas áreas ligadas aos
animais de companhia, nomeadamente cães, gatos,
aves, animais exóticos, equinos e, como não podia
deixar de ser, a aquariofilia.
A aquariofilia fez-se representar por várias em-
presas nacionais de distribuição e representação de
marcas, lojas, associações, clubes e um fórum de
discussão online. Foi uma oportunidade de divulga-
ção de produtos, serviços e marcas, assim como de
estabelecimento de negócios. Para muitos visitantes
© Pedro Conceição
aquariofilistas foram também momentos de convívio,
© Miguel Marques
© Pedro Conceição
Evento do aniversário
do ReefForum
E
ntre outros aspectos, coral como zonas de elevada
Gustavo Duarte abordou produtividade e biodiversidade.
a importância e papéis da Anthony Calfo abordou a sus-
pigmentação nos corais como tentabilidade económica da pro-
factor protector dos mesmos, pagação de corais em cativeiro.
relacionando o estado de saúde Relatou algumas das suas expe-
dos mesmos com a fluorescência riências de aquacultura de corais
emitida, recorrendo-se à medi- e salientou a importância da pro-
ção através de um fluorómetro. pagação de corais como forma
Referiu também a gravida- de aliviar a pressão da captura
de da situação dos oceanos em nos recifes.
Anthony Calfo
Euphyllia sp.
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© Duarte Conceição
Contactos telefónicos
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57,5
contacte-nos
42 Novembro 2006 bioaquaria
Não perca a Próxima
edição...
A Biodiversidade e a sua
importância em sistemas
«fechados» - 2ª Parte
Depois dos conceitos, não perca o desen-
volvimento deste emocionante tema e
descubra a importância que cada organis-
mo pode ter directa ou indirectamente no
© Duane Moody
seu aquário.
Mitos do Aquário
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unte-se a Eric Borneman e desvende alguns dos pre-
© Manuel M. Almeida
Nudibrânquios
Belos, exóticos, misteriosos... e perigo-
sos. Conheça estes fascinantes seres que,
embora não muito desejados, são, sem
© António Guerra
sombra de dúvida, inigualáveis.
Leitos de folhas
Conheça um dos habitats e refúgios mais fantásti-
cos que se podem ter num aquário de água doce. Entrevista
Não perca a en-
trevista a Gustavo
Duarte, o Biólogo
Marinho e especia-
lista em corais que
esteve presente
no 2º Aniversário
do ReefForum.
© Nuno Prazeres