Detecção de Ilhamento por Taxa de Variação de Frequência: uma análise
crítica.
1. INTRODUÇÃO
A busca por fontes de energia elétrica de menor impacto ambiental tem
impulsionado a utilização de gerações de pequeno e médio porte conectadas aos sistemas de distribuição chamadas de Gerações Distribuídas (GDs). O uso das GDs pode ser benéfico para as concessionárias de energia, proprietários de GDs, e consumidores finais, pois em muitos casos proporciona melhoria na confiabilidade e na qualidade da energia, além de ser economicamente vantajoso (LAGHARI, et al., 2015). No entanto, ainda existem questões relevantes sendo estudadas tais como: alocação ótima de impacto das gerações distribuídas na coordenação dos dispositivos de proteção (GUTIERRES, et al., 2014) e a detecção de ilhamento não intencional (MARCHESAN, 2016).
O Ilhamento pode ocorrer como consequência de falhas no sistema, como
curtos-circuitos, rompimento de cabos, desligamento do alimentador para manutenção, entre outros. Porém, grande parte desses eventos se devem à característica do sistema de distribuição nacional ser aéreo, tornando suscetível a condições meteorológicas, acidentes de transito, queda de postes e árvores, entre outros. A operação ilhada não intencional pode causar sérios problemas aos sistemas de distribuição, sejam devido ao religamento fora de sincronismo do alimentador, à oscilação de tensão e frequência, às dificuldades operacionais para recomposição do sistema e a segurança de funcionários das empresas de energia e população em geral. (MURARO, 2014). A detecção do ilhamento não intencional é uma função de proteção obrigatória para todo o gerador conectado ao sistema interligado nacional (ANEEL, 2016). No entanto, alguns métodos como, por exemplo, os relés de sub/sobre frequência e taxa de variação de frequência podem não operar ou necessitarem de um grande tempo para a detecção em caso de baixo desbalanço de potência na ilha formada (MARCHESAN, 2016). As filosofias de detecção de ilhamento são, geralmente, fundamentadas no monitoramento da GD através dos parâmetros do gerador ou do sistema, que permitem identificar se existe a formação de ilhas (MAHAT et al, 2008).
2. MÉTODO DE TAXA DE VARIAÇÃO DE FREQUÊNCIA
O relé de taxa de variação de frequência (Rate of Change of Frequency –
ROCOF) é considerado sensível e confiável para detectar ilhamentos. O desbalanço entre a potência ativa gerada e consumida durante um ilhamento faz com que a frequência varie a uma certa taxa por segundo. A unidade que monitora a taxa de variação da frequência com o tempo (ANSI 81R), calcula a derivada da frequência no tempo e se esta exceder um limiar, o sistema é considerado ilhado. Esta metodologia é uma das mais utilizadas, visto que apresenta grande velocidade na detecção de ilhamento (MARCHESAN, 2016).
MAHAT et al (2008) apresenta a relação que equaciona o ROCOF em (1):
𝑑𝑓 ∆𝑃 = 𝑓 (1) 𝑑𝑡 2𝐻𝐺
Onde: ∆P é o desbalanço de potência da GD; H é o momento de inercia da
GD/sistema e G é a capacidade de geração da GD/sistema.
Entretanto, em eventos de baixo desbalanço de potência podem causar
situações nas quais a variação de frequência seja muito pequena e lenta, implicando na não detecção de ilhamento, originando uma zona de não detecção (ZND). A ZND e a ocorrência disparos falsos devido a curtos-circuitos e chaveamento de grandes cargas estão diretamente relacionada com os limiares que as proteções são ajustadas, sendo que a redução da zona de não detecção através de limiares mais restritos aumenta a probabilidade de disparos indevidos. FREITAS et al (2005) analisaram a disponibilidade e a segurança do ROCOF, atestando a capacidade de identificar um ilhamento com desbalanços pequenos. Por outro lado, é mais suscetível a disparos indevidos.
Para detecção de ilhamento, o algoritmo recebe a variação da frequência e
compara dentro dos limiares estabelecidos no ajuste do relé. Quando a taxa de variação de frequência ultrapassa o limiar, o evento é considerado um distúrbio e é iniciado uma contagem (temporizador) que se superar o tempo de ajuste (Tset), o algoritmo detecta o ilhamento e dispara o sinal (Trip=1) para desconectar a GD. É possível através da disponibilidade dos dados avaliar a sensibilidade da técnica - devido a disparos corretos, indevidos, a zona de detecção e o seu tempo de detecção.
A metodologia proposta é implementada no software MatLab®, e ajustado para
um limiar de 0,5 Hz/s e temporização de 200ms. Para avaliação da metodologia é utilizado o sistema IEEE 34 barras com a modificação proposta por MURARO (2014). Geração é conectada através de um transformador trifásico. Este artigo visa discutir casos de curto-circuito, chaveamento de cargas e ilhamentos, em condição de carga pesada, i.e., uso do 100% da capacidade nominal e potência da GD de 2,5 MW e carga leve, 50% da capacidade nominal e potência da GD de 1,0 MW.
3. SIMULAÇÕES & RESULTADOS
A Figura 1 apresenta um caso de
ilhamento causado pela abertura da linha 800-802. No momento da abertura passada pelo disjuntor uma potência de - 3,44 MW -0,528 MVAr. Isso evidencia em que no momento do ilhamento, há um excesso de geração de potência ativa e potência reativa. O excesso de potência ativa se manifesta produzindo um aumento na velocidade do gerador e consequentemente na frequência. A taxa variação é detectada pelo algoritmo fazendo o relé operar em 200,3 ms. Figura 1. Abertura seguido de Ilhamento detectado A Figura 2 apresenta um caso de ilhamento não detectado causado pela abertura da linha 800-802, para uma condição de carga leve. No momento da abertura passava pelo disjuntor uma potência de -3,08 MW -0,97 MVAr. Isso evidência um baixo desbalanço de potência ativa e reativa, provocando consequentemente uma pequena variação de frequência, ocasionando uma falha devido a pequena variação em relação aos ajustes.
Figura 2. Abertura seguido de Ilhamento não
detectado
A Figura 3 apresenta um caso de curto-
circuito monofásico na barra 802 com impedância de falta de 0 Ω, seguido de um ilhamento. Conforme o esperado, o método não atua durante o curto-circuito, mas atua corretamente na ocorrência do ilhamento enviando o sinal trip em 200 ms após o ilhamento.
Figura 3. Curto-circuito monofásico seguido
de ilhamento detectado.
A Figura 4 apresenta um caso de curto-
circuito monofásico com impedância de falta de 60 Ω, seguido de um ilhamento causado na barra 802. A figura permite observar que a variação de frequência transpassa o ajuste em dois momentos, não ocorrendo o acionamento do relé devido a estabilização dentro do tempo de ajuste.
Figura 4. Curto-circuito seguido de ilhamento
não detectado.
A Figura 5 apresenta um caso de abertura
da linha 854-852, não implicando em ilhamento. No momento da abertura passava pelo disjuntor uma potência de -2,25 MW -0,7 MVAr. O excesso de potência ativa e reativa provocam desbalanços de potência que implicam na variação da frequência e tensão. Esses pequenos desbalanços provocados pela abertura da linha se estabilizam em período menor do que o tempo de Figura 5. Abertura da linha. ajuste não provocando o disparo indevido do relé. A Figura 6 apresenta um caso de curto- circuito monofásico na barra 802 com impedância de falta de 0 Ω. Constata-se uma atuação correta do método não operando indevidamente durante o evento.
Figura 6. Curto-circuito monofásico
A Figura 7 apresenta um caso de curto-
circuito monofásico com impedância de falta de 0 Ω na barra 802. O curto-circuito gera uma grande variação de frequência fazendo com que o ROCOF opere indevidamente.
Figura 7. Curto-circuito monofásico com
disparo indevido
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresenta uma análise de desempenho da técnica de
detecção de ilhamento de GDs fundamentada na taxa de variação de frequência (Rate of Change of Frequency, ROCOF). São analisados os casos de curto-circuito, abertura seguido da ocorrência de um ilhamento ou não. Neste trabalho foi demonstrado o funcionamento da técnica, a qual na maioria dos casos dispara corretamente e não houve o disparo de forma indevida. É compreendido a necessidade de otimização dos limiares de ajuste que afetam diretamente a sensibilidade da técnica.
5. REFERÊNCIAS
BRASIL. ANEEL. Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no
Sistema Elétrico Nacional - PRODIST- Módulo 3 - Acesso ao Sistema de Distribuição. 2016.
FREITAS, W.; XU, W.; AFFONSO, C. M.; HUANG, Z. Comparative analysis
between ROCOF and vector surge relays for distributed generation applications. IEEE Transactions on Power Delivery, v. 20, n. 2, p. 1315-1324, 2005.
GUTIERRES, L. F. F.; MARCHESAN, G.; CARDOSO, G. Recloser-fuse
coordination protection for distribute generation systems: Methodology and Priorities for optimal disconnections. In: 12th IET International Conference on Developments in Power System Protection. DPSP, 2014.
JENKINS, N.; CROSSLEY, P.; KIRSCHEN, D.; STRBAC, G. Embedded
Generation. London, The Institution of Electrical Engineers (IEE), 2000. 292 p.
LAGHARI, J. A.; MOKHLIS, H.; KARIMI, M.; BAKAR, A. H. A.; MOHAMAD, H.
An islanding detection strategy for distribution network connected with hybrid DG resources. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 45, p. 662–676, 2015. Elsevier.
MAHAT, P.; CHEN, Z.; BAK-JENSEN, B. Review of Islanding Detection
Methods for Distributed Generation. In: DRPT; Abril 2008; Nanjing, China.
MARCHESAN, G. Detecção de Ilhamento em Sistema de Distribuição com
Geração Síncrona Distribuída. Tese (Doutor em Engenharia Elétrica), Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2016.
MURARO, M. R. Uma Proposta de Interconexão de Proteções para Detecção
de Ilhamento em Sistemas de Geração Distribuída. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica), Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria, 2014.
VIEIRA JUNIOR, J. C. M. Metodologias para Ajuste e Avaliação do
Desempenho de Relés de Proteção Anti-ilhamento de Geradores Síncronos Distribuídos. Tese (Doutor em Engenharia Elétrica), Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação, Universidade de Campinas, Campinas, 2006.
YADAV, A.; SRIVASTAVA, L. Optimal placement of distributed generation: An
overview and key issues. In: EPSCICON; Janeiro 2014; Thrissur, India.