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Neurociências e o Processo de Aprendizagem
Neurociências e o Processo de Aprendizagem
Autoras: Luciana Ramalho Pimentel da Silva / Tamires Araujo Zanão
Como citar este documento: PIMENTEL-SILVA, Luciana Ramalho; ZANÃO, Tamires Araujo. Neurociên-
cias e o processo de Aprendizagem. Valinhos: 2016.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação 06
Assista a suas aulas 25
Unidade 2: Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sis-
33
tema nervoso
Assista a suas aulas 55
Unidade 3: Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido
62
nervoso
Assista a suas aulas 84
Unidade 4: Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral 91
Assista a suas aulas 110

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Neurociências e o Processo de Aprendizagem
Autoras: Luciana Ramalho Pimentel da Silva / Tamires Araujo Zanão
Como citar este documento: PIMENTEL-SILVA, Luciana Ramalho; ZANÃO, Tamires Araujo. Neurociên-
cias e o processo de Aprendizagem. Valinhos: 2016.

Sumário
Unidade 5: Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade) 117
Assista a suas aulas 132
Unidade 6: Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado 140
Assista a suas aulas 157
Unidade 7: Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia
164
do desenvolvimento, fatores pré, peri e pós-natais)
Assista a suas aulas 181
Unidade 8: Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado 188
Assista a suas aulas 207

3
3/215
Apresentação da Disciplina
Ver, aprender, pensar, lembrar, sentir, movi- Estamos longe de desvendar todos os misté-
mentar-se. Somos frutos de experiências e rios do cérebro, mas a neurociência já trou-
vivências, interagimos com o meio e uns com xe grandes avanços para a compreensão do
os outros. Podemos dizer que tudo que vive- sistema nervoso e de processos normais e
mos e o que faz com que sejamos nós mesmos patológicos. Nesta disciplina, você poderá
é, de certa forma, algo que foi “aprendido” e aprender sobre a estrutura e funcionamento
está armazenado em nosso cérebro. Além, do sistema nervoso e os mecanismos bioló-
é claro, das funções biológicas que regulam gicos por trás de diversas funções, além de
o funcionamento do nosso organismo e co- encontrar as principais contribuições que a
mandam ações conscientes e inconscientes, neurociência trouxe para compreendermos
indispensável à manutenção da vida. a biologia da aprendizagem, tanto do pon-
A neurociência busca responder às inúme- to de vista neurológico quanto educacio-
ras questões sobre o nosso sistema nervo- nal. Discutiremos também como os recentes
so e, dentro dele, sobre um dos órgãos mais achados da neurociência permitem otimizar
complexos que conhecemos dentre todos os o processo ensino-aprendizagem.
seres vivos, o cérebro humano: como se es- Não importa qual sua formação básica: você
trutura, seus mecanismos biológicos e como verá que a neurociência está mais próxima de
o sistema nervoso orquestra e integra das nós do que imaginamos e que todas as áre-
mais simples às mais complexas funções. as do conhecimento podem tanto contribuir
4/215
quanto se beneficiar de suas descobertas.
Não poderia ser diferente para a educação.

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Unidade 1
Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação

Objetivos

1. Apresentar a definição de neurociên-


cia.
2. Apresentar conceitos iniciais sobre o
sistema nervoso através de um breve
histórico do desenvolvimento da neu-
rociência ocidental.
3. Conceituar neuroeducação.

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Introdução

Afinal, o que é neurociência e o que faz um rofisiologia, neurobiologia, neuropsicolo-


neurocientista? Quase todos nós já ouvi- gia, a própria neurologia, entre outras. As-
mos falar em neurologia, precisamos ou co- sim como o neurocientista pode ser médico,
nhecemos alguém que precisou dos servi- biólogo, psicólogo e até mesmo engenheiro.
ços de um neurologista ou temos uma boa Podemos agrupar as neurociências em cin-
ideia do que trata a neurologia. E quanto à co grandes disciplinas, que integram fer-
neurociência? O que, afinal, significa o ter- ramentas e conceitos de diversas outras:
mo neurociência? Você já ouviu falar dessa a neurociência molecular, a neurociência
fascinante área do conhecimento? celular, a neurociência sistêmica, a neuro-
Poderíamos dizer, simplificadamente, que a ciência comportamental e, por fim, a neu-
neurociência é a ciência que estuda o siste- rociência cognitiva. Todas contribuem para
ma nervoso e neurocientista é o profissional elucidar a estrutura, função e alterações ou
que utiliza diversas técnicas para responder doenças do sistema nervoso (LENT, 2010).
a questões sobre ele. Porém, a neurociência, As neurociências vêm tomando grande
na verdade, não é uma única ciência. Trata- e crescente destaque nos últimos anos e
-se de um conjunto de abordagens e áreas parece, mesmo para nós, neurocientistas,
que se ocupam de questões sobre o sistema que tudo aquilo que for acrescido do prefi-
nervoso, tais como a neuroanatomia, neu- xo “neuro” é neurociência ou nela está in-
7/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
cluído. Não deixa de ser verdade, afinal, se Note que nos referimos ao encéfalo como
pensarmos que o sistema nervoso comanda o “culpado” por comandar o que somos e
nosso organismo e ainda é responsável pela como interagimos com o meio externo. É que
interface que torna possível nossa intera- “cérebro” compreende apenas o telencéfalo,
ção com o mundo e tudo o que nele se en- a parte do sistema nervoso que adquirimos
contra através de comportamentos, ações e mais recentemente do ponto de vista evolu-
emoções. tivo e que comanda diversas funções, inclu-
Aliás, foi basicamente esse tipo de intera- sive as chamadas funções superiores, como
ção que nos trouxe a neurociência. Foi as- memória, linguagem e emoções. Encéfa-
sim, movidos pela curiosidade de entender, lo, nesse caso, é um termo mais adequado,
entre outras coisas, como nos relacionamos pois compreende tudo o que está contido
com o mundo, quem somos, o que somos e na caixa craniana: o cérebro, e também o
o que nos motiva, que provavelmente che- cerebelo e o tronco encefálico, além de ser
gamos ao sistema nervoso, mais propria- responsável pelas mais variadas funções,
mente ao encéfalo, como o “culpado” por desde simples às mais complexas (BEARS;
trás de tudo isso. CONNORS; PARADISO, 2002).

8/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
cias, além de descobrir através da história
Para saber mais da neurociência ocidental como os neuroci-
entistas foram delineando o que era o siste-
Fique atento: frequentemente, traduzimos a pa-
ma nervoso e gradativamente desvendan-
lavra inglesa brain como “cérebro”, mas o correto
do seus diversos níveis, ora mostrando que
seria traduzir como “encéfalo”, enquanto cere-
eram mais simples, ora mais complexos do
brum é que significa “cérebro”, em português.
que postulávamos.

Para os propósitos deste texto, utilizare- 1 UM BREVE HISTÓRICO DAS


mos o termo “cérebro” quando tratarmos
NEUROCIÊNCIAS NO OCIDENTE
de funções mais específicas dessa região e
“encéfalo” para nos referir a funções de out- As questões que levantamos sobre o funcio-
ras regiões dele. Por sua vez, o termo neuro- namento do nosso sistema nervoso e qual
ciência ou neurociências, no plural, signifi- seu envolvimento em funções biológicas e
cará o mesmo, o conjunto de ciências que comportamentos são tão ou mais antigas
tentam compreender o sistema nervoso. que o surgimento da ciência em si. Podem-
Nesta aula, você vai encontrar conceitos ini- os arriscar dizer que devem ter surgido junto
ciais sobre o sistema nervoso e neurociên- com a nossa própria capacidade de pensar.

9/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Muitas das ciências que auxiliam à neuro-
ciência em suas questões são igualmente Para saber mais
antigas e bem estabelecidas, mas a neuro- Desde a Antiguidade, colocamos o coração como
ciência como a conhecemos hoje é relativa- o responsável por emoções e sentimentos, como
mente jovem. Por isso, não é difícil rastrear a paixão. Isso deve-se ao fato de que diversas
seu histórico na medicina ocidental, desde situações com envolvimento de emoções são
as bases que permitiram seu desenvolvi- acompanhadas de atividades do sistema ner-
mento até a atualidade. voso que nos fazem “sentir” o coração, como o
Na Grécia antiga, o famoso erudito aumento da frequência cardíaca e dilatação dos
Hipócrates (460-370 a.C.), considerado pai vasos sanguíneos.
da medicina ocidental, já associava o cére-
bro ao intelecto, acreditando que nele es- Durante o império romano, Galeno (130-
tava o centro da inteligência. Entretanto, o 200 d.C.), médico grego que concordava
filósofo Aristóteles (384-322 a.C.), pensa- com Hipócrates, concluiu algumas obser-
dor grego de grande influência, contestava vações importantes sobre o sistema nervo-
essa ideia e acreditava que o centro do in- so a partir de suas dissecções em animais.
telecto e emoções era o coração. De forma astuta embora um tanto empíri-
ca, Galeno atribuiu ao cérebro, por sua con-

10/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
sistência macia, funções como as sensações outras estruturas do cérebro, como os ven-
e a memória, enquanto ao cerebelo, mais trículos cerebrais, associados à teoria dos
rígido, devia ser reservado controlar a mus- quatro humores e ao funcionamento geral
culatura. Galeno acreditava que para sentir, do encéfalo. Para Galeno, os ventrículos, es-
lembrar e esquecer algo seria necessário paços ocos, conectavam-se com os nervos,
que o tecido nervoso apresentasse certa que também acreditava serem ocos como
flexibilidade, maleabilidade, enquanto que os vasos sanguíneos, por onde passariam os
para controlar os músculos seria preciso fir- humores responsáveis pelo movimento, por
meza (HERCULANO-HOUZEL, 2008). exemplo.
Embora não fossem exatamente esses Não cabe aprofundarmos esse assunto
os mecanismos por trás das sensações, aqui, mas você pode encontrar mais detal-
memória e do controle muscular, o raciocí- hes interessantes sobre essa e outras teo-
nio de Galeno estava em uma direção, de rias da medicina antiga, inclusive da neuro-
certa forma, correta. Hoje, sabe-se que o logia, em A Sombra do Plátano: crônicas de
cérebro realmente comanda funções como história da medicina, de Joffre M. de Rezende
a memória e o cerebelo está envolvido, entre (REZENDE, 2009).
outras coisas, com o movimento. Galeno fez
ainda diversas observações empíricas sobre
11/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
as funções que apenas os seres humanos
Link apresentam, mais refinadas que as funções
básicas dos animais, estariam localizadas
REZENDE, J.M. À sombra do Plátano: crônicas de na mente. Aqui, nasce uma longa discussão,
história da Medicina. Disponível em: <http:// que segue até os dias atuais, sobre a mente
static.scielo.org/scielobooks/8kf92/pdf/re- estar ou não localizada no cérebro.
zende-9788561673635.pdf> Acesso em: 9 out.
2016. Nos séculos seguintes, cientistas foram
identificando outras estruturas e funções
As teorias de Galeno sobre os ventrícu- do sistema nervoso. Conheceríamos a orga-
los cerebrais e humores foram reforçadas nização anatômica e divisão geral do siste-
por comparações com as primeiras máqui- ma nervoso até o fim do século XVII. Logo
nas hidráulicas, fazendo crer que o cérebro após, descobriu-se também que o sistema
também funcionasse assim, por líquidos nervoso é composto de substância bran-
bombeados através dos nervos; e chegaram ca – relacionada aos nervos – e substância
até a época de Rene Descartes (1596-1650), cinzenta (córtex cerebral), que processar-
filósofo francês que acreditava que o com- ia as informações conduzidas pelos ner-
portamento humano era muito complexo vos. Finalmente, entre os séculos XVIII e XIX,
para ser assim explicado. Para Descartes, mostrou-se, com bases em evidências ver-
12/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
dadeiramente científicas, que Galeno es- cautela, esperança, peso e até mesmo cor
tava errado nesse aspecto e que os nervos da pele. Felizmente, o francês Marie-Jean-
na verdade eram como fios que conduziam Pierre Flourens (1794-1867) e outros cien-
eletricidade e não como vasos ocos. tistas, na busca de dados sobre a relação
Entretanto, mesmo usando experimen- entre estrutura e função no sistema ner-
tações científicas (questionáveis, é cer- voso, usando métodos como a ablação ex-
to), em alguns momentos as neurociências perimental, mostraram que a frenologia
cometeram “deslizes” como a frenologia estava equivocada. O tamanho do cérebro
(BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002). não se correlaciona com o formato do crâ-
nio. Porém, algumas características não es-
No início do século XIX, o médico alemão tavam de todo erradas, como, por exemplo,
Franz Joseph Gall (1758-1828) mediu o a linguagem estar localizada na região fron-
crânio de centenas de indivíduos com dif- tal do cérebro.
erentes características de personalidade
e concluiu que as dimensões, saliências e Foram observações como as do neurologis-
regiões do crânio eram reflexo dos giros na ta também francês Paul Broca (1824-1880)
superfície do cérebro e estariam relaciona- que de fato chamaram atenção para a lo-
das com diversas características individu- calização de funções específicas no cére-
ais e sentimentos, como bondade, firmeza, bro. Broca estudou o caso de um paciente
13/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
com uma lesão no córtex cerebral, mais es- celulares conectados como uma teia única.
pecificamente, no lobo frontal esquerdo do A teoria reticular apoiava as suposições de
cérebro que compreendia bem a fala, mas que o cérebro tinha funções desempenha-
era incapaz de falar. Essa região é conheci- das por extensas áreas conectadas (HERCU-
da até hoje por área de Broca e está relacio- LANO-HOUZEL, 2008).
nada com a articulação das palavras.
Os estudos da localização das funções no Para saber mais
cérebro continuaram pelo século XIX e XX A coloração de Golgi é uma técnica histológica
e, como sempre, teorias muitas vezes opos- que permite a visualização ao microscópio de al-
tas tentavam explicar o funcionamento do guns tipos de células nervosas impregnadas por
cérebro. O italiano Camilo Golgi (1843- precipitados de prata, com riqueza de detalhes
1926) e o espanhol Santiago Ramón y Cajal sem precedentes para a época e que é utilizada
são exemplos das discussões ferrenhas que até os dias de hoje.
sempre permearam as neurociências. Golgi
(criador da técnica histológica que leva seu Por sua vez, Ramón y Cajal (usando a col-
nome, a coloração de Golgi) defendia a Teo- oração de Golgi e “armado” de um mi-
ria Reticular, segundo a qual o tecido nervo- croscópio muito mais potente) defendia a
so era um emaranhado de prolongamentos teoria neuronal, segundo a qual o tecido
14/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
nervoso era composto de células bem de- de Golgi e Cajal e exemplos das imagens da
limitadas, com um espaço entre elas e or- técnica de coloração de Golgi e dos desen-
ganizadas em circuitos. Seus achados, além hos de Cajal).
de gerar ilustrações que impressionam até
hoje pela precisão e riqueza de detalhes,
forneceram as bases que sustentavam a te- Link
oria da localização delimitada de funções SALLET, P.C. Prêmio Nobel: dinamite, neuroci-
no sistema nervoso. ências e outras ironias. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/rpc/v36n1/a07v36n1.
Apesar de acreditarem em teorias comple-
pdf> Acesso em: 9 de out. 2016.
tamente opostas, Golgi e Cajal dividiram o
prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia, em O trabalho de Cajal também forneceu as
1906, por suas imensas contribuições para a bases para responder às perguntas da neu-
medicina, porém não sem trocarem farpas e rofisiologia da época, mais condizentes
discordâncias até mesmo durante o discur- com a existência de células individualiza-
so de entrega do prêmio (no artigo “Prêmio das, mas capazes de se conectar de alguma
Nobel: dinamite, neurociências e outras iro- forma. O espaço entre essas células nervo-
nias” (SALLET, 2008), você pode encontrar sas individualizadas foi mais tarde chama-
mais detalhes sobre as teorias, a premiação do de sinapse pelo neurofisiologista inglês
15/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Charles Sherrington (1857-1952). A teo- Os “mapas” de funções elaborados por
ria neuronal permitiu também que Eugen- Penfield, conhecidos como homúnculos de
io Tanzi (1856-1934) e depois dele Donald Penfield, ao contrário da frenologia, são
Hebb (1904-1985) explorassem a função aceitos até hoje. A recíproca foi verdadeira e
dos neurônios no processo de aprendizado. a neurociência também conseguiu explorar
No final do século XIX e início do século XX, a atividade elétrica do próprio córtex para
conceitos antigos, como a noção de eletri- obter pistas sobre a localização das funções.
cidade animal demonstrada pelo médico, O uso do eletroencefalograma (EEG), técni-
físico e filósofo italiano Luigi Galvani (1737, ca descoberta pelo psiquiatra alemão Hans
1798), permitiriam que novos conceitos Berger (1873-1941) nos anos 1920, permi-
fossem investigados, como a representação tiu demonstrar a presença de diversos tipos
dos movimentos e sentidos no córtex cere- de ondas cerebrais, detectadas pelo couro
bral. A estimulação elétrica do córtex por cabeludo e associadas ao raciocínio, repou-
uma fonte externa levou os neurocirurgiões so, sono e até mesmo alterações e lesões
Harvey Cushing (1869-1939) e Wilder Pen- cerebrais (BEARS; CONNORS; PARADISO,
field (1891-1976) a tirar importantes con- 2002).
clusões sobre a localização dos movimen-
tos e sensações no cérebro.
16/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
2 AS NEUROCIÊNCIAS NA ATUA-
LIDADE Para saber mais
Por definição, metabolismo é o conjunto de re-
Hoje, ainda temos divergências entre neu- ações químicas pelas quais as moléculas de um
rocientistas das mais diversas formações, organismo são sintetizadas ou degradadas, com
teorias sendo formadas, outras sendo pos- liberação de energia. O metabolismo cerebral
tas em xeque, mas, felizmente, o desen- aqui se refere ao consumo de oxigênio pelas cé-
volvimento da tecnologia permite grandes lulas nervosas. O raciocínio é o seguinte: se uma
avanços rumo à uma melhor e mais clara célula fica mais ativa, significa que seu metabo-
compreensão sistema nervoso. A partir dos lismo aumenta e, assim, aumenta seu consumo
anos 1950, o conhecimento sobre o metab- de oxigênio.
olismo cerebral começou a ser usado e am-
pliado para entender mais sobre as funções
Considerando que o metabolismo de células
cerebrais.
em funcionamento aumenta, estudos ten-
tavam estabelecer uma relação entre alter-
ações do metabolismo e funções cerebrais,
no entanto essas relações só foram melhor
delineadas e compreendidas com o adven-
17/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
to de técnicas mais elaboradas, como a res- desativadas sistematicamente conforme
sonância magnética funcional (RMf). Aqui, necessário (BEARS; CONNORS; PARADISO,
mais uma vez, conceitos já bem estabeleci- 2002).
dos foram usados como base de novas de- A compreensão de comportamentos com-
scobertas e, assim, a RMf foi usada pela pri- plexos, como as memórias e aprendizado, a
meira vez em seres humanos na década de capacidade de tomar decisões e os padrões
1990. de consumo têm sido usado por novas
A RMf iniciou uma explosão de conhecimen- “neurociências”, como a neuroeducação e a
tos sobre o funcionamento do encéfalo sem neuroeconomia. Parece que, de certa forma,
precedentes, por ser não invasiva e bastante nem os defensores das teorias que explica-
detalhada. Estudos com RMf têm permitido vam o encéfalo como algo contínuo, nem
compreender que, apesar dos esforços para, aqueles que defendiam a localização exata
literalmente, colocar todas as funções cere- de funções em regiões limitadas estavam
brais no seu devido lugar, a localização de de todo errados, não é mesmo?
funções e comportamentos tão complexos
não está restrita a apenas uma região. É fru-
to de uma extensa e igualmente complexa
rede de estruturas interligadas, ativadas e
18/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
3 NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO: em sala de aula mais eficiente e agradável,
A RECENTE NEUROEDUCAÇÃO como otimizar a memorização, o que moti-
va o aprendizado e como superar limitações
A neuroeducação é uma das áreas que sur- neurológicas relacionadas ao aprendizado
giram como resultado dos achados encon- são exemplos de perguntas levantas pela
trados por diversas disciplinas, como a psi- neuroeducação.
cologia e a pedagogia, em pesquisas sobre Estudos em neuroeducação têm mostra-
o sistema nervoso, nesse caso, mais espe- do como técnicas muitas vezes inusitadas,
cificamente sobre as chamadas funções como a meditação, e outras até mais óbvi-
cognitivas, como aprendizagem, memória, as, como a música, podem contribuir para o
atenção e linguagem, junto às necessidades processo ensino-aprendizagem e a que mu-
e dificuldades do dia a dia de uma sala de danças estruturais e fisiológicas do sistema
aula (TOKUHAMA-ESPINOSA, 2011). nervoso estariam associadas. Muito ainda
A neuroeducação busca, principalmente, há a ser descoberto e, certamente, as neu-
responder a questões sobre como otimizar o rociências só têm a ganhar com o desen-
processo de aprendizagem usando conhec- volvimento dessa jovem aprendiz, a neuro-
imentos sobre a estrutura e função do siste- educação.
ma nervoso. Como tornar o aprendizado
19/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Link
Há muitos portais interessantes sobre o tema na
internet; um deles é o da Revista Neuroeducação.
Disponível em: <http://revistaneuroeducacao.
com.br/> Acesso em: 9 de out. 2016.

20/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Glossário
Encéfalo: divisão do sistema nervoso central que corresponde às estruturas que estão contidas
dentro do crânio: o cérebro, o tronco encefálico e o cerebelo.
Empírico: diz-se daquilo que foi concluído a partir de experiências vividas, de observações, do
cotidiano, mas sem comprovação científica. Embora um raciocínio empírico possa estar correto,
não é baseado em métodos científicos. De forma empírica, sem evidências científicas seguras,
podemos até concluir algo verdadeiro, porém corremos o risco de atribuí-lo a razões e mecanis-
mos equivocados.
Córtex cerebral: camada mais externa do cérebro, que corresponde à substância cinzenta e onde
são processadas as complexas funções cerebrais. Apresenta um padrão de sulcos e giros que de-
limitam os lobos cerebrais.
Ablação experimental: método que consiste em lesionar ou destruir criteriosamente estruturas
e regiões do sistema nervoso, a fim de verificar que funções seriam prejudicadas e, dessa forma,
averiguar as funções exercidas por determinada região.
Lobo(s) cerebral(ais): divisões do córtex cerebral a partir do padrão de sulcos e giros. Em geral,
são nomeados de acordo com as adjacências ósseas a que estão relacionadas: lobo frontal, lobo
parietal, lobo temporal etc.

21/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
?
Questão
para
reflexão

A neurociência, assim como outras ciências, tem vários exem-


plos de observações corretas explicadas por raciocínios equi-
vocados que, depois, foram corretamente compreendidos
após experimentações científicas, devido às limitações da
época em que foram estudados. Mas o que seria da ciência se
teorias não fossem questionadas? Reflita sobre a importân-
cia de se levantar questionamentos para a ciência, conside-
rando que ela é baseada em um processo de aprendizagem, e
qual sua relação com o processo ensino-aprendizagem.
22/215
Considerações Finais

• A neurociência se ocupa do estudo do sistema nervoso e suas funções. Neu-


rocientistas são profissional de diversas áreas de formação;
• ao longo da história, de forma direta ou indireta, pesquisadores de diversas
áreas foram, através de erros e acertos, descobrindo e desmistificando fatos
sobre o sistema nervoso;
• a busca de respostas sobre o sistema nervoso tem levado à junção ou contri-
buição das neurociências para outros campos e proporcionado o surgimento
de novas áreas do conhecimento;
• a neuroeducação busca, principalmente, responder a questões sobre como
otimizar o processo de aprendizagem usando conhecimentos sobre a estru-
tura e função do sistema nervoso.

23/215
Referências

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso.


Porto Alegre: Artmed, 2002.
HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Uma breve história da relação entre o cérebro e a mente. In: LENT,
Roberto (Org.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koo-
gan, 2008. p. 2-17.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2010.
REZENDE, Joffre Marcondes de. À sombra do Plátano: crônicas de história da medicina. São Pau-
lo: Editora Fap-unifesp, 2009. Disponível em: <http://static.scielo.org/scielobooks/8kf92/pdf/
rezende-9788561673635.pdf>. Acesso em: 09 out. 2016.

SALLET, Paulo Clemente. Prêmio Nobel: dinamite, neurociências e outras ironias. Rev. Psiquiatr.
Clín., [s.l.], FapUNIFESP, v. 36, n. 1, p.37-40, 2009. (SciELO). Disponível em: <http://www.scielo.
br/pdf/rpc/v36n1/a07v36n1.pdf>. Acesso em: 9 out. 2016.

TOKUHAMA–ESPINOSA, Tracey. Why Mind, Brain, and Education Science is the “New” Brain-
Based Education, 2011. Disponível em: <http://education.jhu.edu/PD/newhorizons/Journals/
Winter2011/Tokuhama1>. Acesso em: 10 nov. 2016.

24/215 Unidade 1 • Introdução à neurociência: o que é e qual sua relação com a educação
Assista a suas aulas

Aula 1 - Tema: Introdução à neurociência: O que Aula 1 - Tema: Introdução à neurociência: O que
é e qual sua relação com a educação. Bloco I é e qual sua relação com a educação. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
e2140301b5e02e644aeca5c73cf514eb>. 3010d4eb7bcd91a9520267b58fce181a>.

25/215
Questão 1
1. Podemos simplificadamente definir “neurociência” como:

a) a ciência que estuda o cérebro;


b) a ciência que estuda o encéfalo;
c) a ciência que estuda o sistema nervoso, sua estrutura, funções e doenças;
d) a ciência que estuda os nervos;
e) a ciência que estuda técnicas para avaliação do sistema nervoso.

26/215
Questão 2
2. A neurociência tem contribuição de profissionais:

a) apenas médicos, como neurologistas e psiquiatras;


b) apenas da área da saúde;
c) apenas de físicos e engenheiros;
d) de neurocientistas;
e) de qualquer área de formação.

27/215
Questão 3
3. Quais são cinco as grandes disciplinas básicas que compõem as neuro-
ciências?

a) Neurociências molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva.


b) Neurociências química, física, fisiologia, anatomia e histologia.
c) Neurociências básica, aplicada, clínica, translacional e social.
d) Neurociências genética, histologia, anatomia, psicologia e medicina.
e) Neurociências estrutural, funcional, sistêmica, comportamental e cognitiva.

28/215
Questão 4
4. Segundo a teoria neuronal, o tecido nervoso é composto de:

a) uma teia única e conectada de células;


b) várias células individualizadas, com espaços entre si;
c) uma única célula com números e extensos prolongamentos;
d) várias células individualizadas, numerosas e sem espaço entre si;
e) uma única célula com prolongamentos que se comunicam entre si.

29/215
Questão 5
5. Que técnica de avalição permitiu às neurociências um avanço sem igual
no estudo das funções do encéfalo?

a) Ablação experimental.
b) Frenologia.
c) Eletroencefalograma.
d) Ressonância magnética funcional.
e) Coloração de Golgi.

30/215
Gabarito
1. Resposta: C. ciência celular, a neurociência sistêmica, a
neurociência comportamental e, por fim, a
A neurociência, mais especificamente as neurociência cognitiva.
neurociências, é a disciplina que se ocupa
em elucidar a estrutura, função e alterações 4. Resposta: B.
do sistema nervoso.
A teoria neuronal defendia que o sistema
2. Resposta: E. nervoso era formado por várias células ner-
vosas individualizadas, com um espaço en-
Qualquer profissional, de qualquer área de tre si, mas capazes de se comunicar.
formação, pode contribuir com seu conhe-
cimento, de forma direta ou indireta, para 5. Resposta: D.
responder às questões da neurociência.
Várias técnicas criadas pela neurociência ou
3. Resposta: A. por elas aproveitadas e melhoradas contri-
buíram para o melhor entendimento do fun-
Vimos que as neurociências podem ser cionamento do encéfalo e, principalmente,
agrupadas em cinco níveis ou grandes dis-
do cérebro, porém a ressonância magnética
ciplinas: a neurociência molecular, a neuro-
31/215
Gabarito
funcional, por suas características, é a que
mais tem elucidado questões sobre a fun-
ção deles.

32/215
Unidade 2
Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso

Objetivos

1. Apresentar a definição de sistema


nervoso.
2. Conceituar e classificar o sistema ner-
voso através das divisões anatômica e
funcional.
3. Compreender as funções básicas dos
principais órgãos e estruturas do sis-
tema nervoso.

33/215
Introdução

O sistema nervoso é um dos conjuntos de rinho séssil (que vive preso em seu substra-
órgãos mais complexos do corpo humano e to), mas não seria o suficiente para nós, se-
também dentre todos os animais que pos- res humanos, pois vivemos em sociedade,
suem algum tipo de sistema nervoso. Pou- interagimos uns com os outros, viajamos e
cos animais têm um sistema nervoso tão nos adaptamos a praticamente todos os lu-
complexo quanto o do ser humano, embora gares aonde vamos (MACHADO, 1998).
tal complexidade não seja sinônimo de su- Assim, vale ressaltar que esse grau de com-
perioridade. Cada ser vivo tem apenas o sis- plexidade está relacionado com a igual
tema nervoso que é mais adequado às ne- complexidade de funções e comportamen-
cessidades que enfrenta para se adaptar ao tos comandadas pelo sistema nervoso em
meio e sobreviver. Uma anêmona-do-mar questão. Logo, necessidades mais comple-
tem um sistema nervoso muito simples, xas levaram ao desenvolvimento de um sis-
que responde a estímulos físicos e também tema nervoso igualmente mais intrincado.
químicos (se você já tentou tocar uma anê-
mona-do-mar sabe do que estou falando), Nós dependemos inteiramente do nosso
para que a mesma possa se alimentar e se sistema nervoso, de um simples passo que
proteger contra predadores. Isso é mais do damos até as nossas complexas emoções,
que suficiente para a anêmona, um ser ma- do controle da temperatura corporal a com-
portamentos motivados, como a fome e a
34/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
consequente busca por alimento. Você deve ção segue os chamados planos anatômicos.
estar pensando que sentir fome e se ali- Além disso, também é possível classificá-lo
mentar é algo simples e natural. Pode pare- com base em diversos critérios. Qualquer
cer simples, mas o comportamento alimen- divisão do sistema nervoso serve apenas
tar envolve uma série de regiões encefálicas para fins didáticos, pois as várias partes que
e redes neuronais complexas. Tudo isso e o compõem estão intimamente relaciona-
tudo que fazemos, pensamos e sentimos é das e integradas tanto morfológica quanto
comandado pelo sistema nervoso. Assim, a funcionalmente. Uma divisão baseia-se de
função principal do sistema nervoso é nos acordo com os critérios desejados a serem
adaptar ao meio, através da percepção de estudados, podendo ser anatômico (com
condições internas, externas e a adequa- base em sua morfologia macroscópica),
da resposta fisiológica e comportamental embriológico (pelas características do de-
(MACHADO, 1998; BEARS; CONNORS; PA- senvolvimento a partir da primeira célula
RADISO, 2002). que formará determinados tecidos, órgãos
Para estudá-lo, a fim de desvendar toda a e sistemas), funcionais (pelas funções se-
sua complexidade, convencionou-se dividir melhantes que cada divisão exerce) e seg-
o sistema nervoso em diversos segmentos mentação (aparente divisão em segmentos
e estruturas, cuja localização e identifica- que certas partes do sistema nervoso apre-

35/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
sentam devido à conexão com os nervos) assim chamado por estar envolvido com o
(MACHADO, 1998). processamento do movimento) (MACHA-
São usados termos aceitos internacional- DO, 1998, DÂNGELO; FATTINI, 2001).
mente (a nomina anatomica). Essa padroni- Não se preocupe em decorar todos os no-
zação facilitaria o entendimento dos acha- mes. Ao final desta aula, você estará mais
dos sobre o sistema nervoso por qualquer familiarizado com alguns e poderá fazer
anatomista, embora não sem alguma con- associações mais facilmente. Neste tema,
fusão devido a traduções e uso de outros você terá uma introdução sobre neuroana-
idiomas diferentes do latim. Porém, não é tomia: a divisão da anatomia que estuda a
difícil aprender e recordar o básico. A no- organização do sistema nervoso. Irá des-
menclatura das estruturas do sistema ner- cobrir mais detalhadamente como se en-
voso, em geral, vem das estruturas com que contra organizado o sistema nervoso com
estão relacionadas (como os ossos do crâ- base na sua divisão anatômica e na divisão
nio adjacentes ao córtex cerebral), da sua funcional, ao passo que acompanhará tam-
aparência (como o hipocampo, que signi- bém um pouco das funções que estruturas
fica “cavalo marinho” em grego, devido ao inclusas em ambas as divisões executam,
formato que lembra o referido animal) ou além dos envoltórios e o liquor, que fazem
da sua função (a exemplo do córtex motor, sua sustentação e proteção.
36/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
1 PARA COMEÇAR: LOCALIZA- dorsal). Por fim, o plano transverso divide o
ÇÃO ANATÔMICA corpo em uma metade superior (ou cranial),
que está acima e outra inferior (ou caudal),
O estudo da anatomia é guiado por eixos e abaixo dele (DÂNGELO; FATTINI, 2002).
planos imaginários que fornecem referên- Existe ainda o que está, no meio, entre duas
cias para a localização de estruturas no estruturas ou na parte de dentro, mais próx-
corpo. Não é diferente com a neuroanato- imo ao meio do corpo: seria a referência
mia (embora seja diferente para o estudo medial. Assim podemos localizar qualquer
de outros animais não bípedes). Para os estrutura tomando como referência uma
fins deste tema, você precisa saber ape- estrutura vizinha e também nomeá-la de
nas as referências dadas pelos três planos acordo com a posição que ocupa. Agora,
anatômicos, que serão úteis para ajudá-lo a você pode encontrar o lobo frontal do seu
localizar as estruturas: plano sagital, fron- cérebro: ele está localizado posteriormente
tal e transverso. O plano sagital divide o à sua testa (osso frontal) e recebe esse
corpo em duas metades laterais, a direita e nome porque se relaciona com o osso fron-
a esquerda. O plano frontal divide o corpo tal e, lógico, é o lobo localizado mais fron-
entre o que está à frente, ou seja, anterior talmente. Nele, temos o giro frontal superi-
(ou ventral), e atrás, que seria posterior (ou or (imaginando que o plano transversal está
37/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
abaixo dele, logo o giro é superior), o giro
frontal inferior e o giro frontal médio, en-
tre os dois outros giros (DÂNGELO; FATTINI,
2002). Você pode consultar atlas de anato- Link
mia on-line a fim de visualizar as estruturas 1. Asclépio Atlas de Anatomia.
que serão descritas a seguir, além de obter
Disponível em: <http://guiadeanatomia.com/
outras informações sobre anatomia huma-
anatomia.html>. Acesso em: 8 out. 2016.
na e neuroanatomia.
2. Atlas ZygoteBody.

Disponível em: <https://zygotebody.com>.


Acesso em: 8 out. 2016 (em inglês).

3. Atlas 3D biodigital.

Disponível em: <https://human.biodigital.


com/index.html>. Acesso em: 8 out. 2016 (em
inglês).

38/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
2 DIVISÕES DO SISTEMA NER- 2.1. Sistema nervoso central:
VOSO: CRITÉRIO ANATÔMICO medula espinal

Segundo o critério anatômico, o sistema A medula é uma massa cilíndrica, com duas
nervoso se divide em duas partes principais: dilatações (intumescências causadas pela
sistema nervoso central (SNC) e sistema presença maciça de corpos de neurônios
nervoso periférico (SNP). que irão emitir seus axônios para formar os
nervos que inervam os membros superiores
O SNC é responsável por receber estímulos,
e inferiores). A medula não ocupa a coluna
processá-los e desencadear respostas. Já o
inteiramente, terminando no início da colu-
SNP conduz os estímulos do meio externo e
na lombar. Ao final da medula, encontra-se
das vísceras para o SNC e também faz o ca-
a cauda equina, um conjunto de filetes
minho inverso, levando as respostas do SNC
nervosos com aparência de uma cauda de
para as vísceras e meio externo. O SNC com-
cavalo que continua pela coluna, após o fim
preende todas as estruturas que estão con-
da medula.
tidas dentro da coluna vertebral e da caixa
craniana, mais protegidas: a medula espinal Na medula, a substância cinzenta está lo-
e o encéfalo, respectivamente (MACHADO, calizada na parte interna e tem o formato da
1998). letra “H”. Na parte externa, está a substân-
39/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
cia branca. Da medula partem 31 pares de 2.2 Sistema nervoso central: en-
nervos medulares, uma para cada um dos 31 céfalo
segmentos vertebrais da coluna. A medula
processa os primeiros estágios de funções O encéfalo é tudo que está contido na caixa
motoras e sensitivas, e reflexos mais primi- craniana: o tronco encefálico, o mesencé-
tivos, que exigem processamento mais rápi- falo, o cerebelo, diencéfalo e o telencéfalo.
do, para nos proteger de situações nocivas As funções do encéfalo são bem mais com-
(MACHADO, 1998; LENT, 2008). plexas que aquelas desempenhadas pela
medula e sua morfologia é irregular e mais
complexa (LENT, 2010).
Para saber mais
Um exemplo é o reflexo de flexão. Quando tocamos 2.2.1 Tronco encefálico, cerebe-
uma superfície quente, retiramos a mão rapida- lo e mesencéfalo
mente e de maneira involuntária. O processamen-
O tronco encefálico é composto por bulbo,
to da informação sensorial e a resposta motora são
ponte e mesencéfalo. É como uma haste que
feitos na medula e só depois chegam ao encéfalo,
conecta a medula ao cérebro e lembra um
para nos fazer perceber a dor (LENT, 2008).
cone invertido. Da sua face ventral parte a

40/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
maioria dos nervos cranianos. O tronco en- tônus muscular, propriocepção da cabeça
cefálico exerce diversas funções, a maioria e do corpo e motricidade fina e também
vitais, como controle do ciclo sono-vigília, em funções mais complexas, como a apren-
modulação da excitação do córtex cerebral, dizagem motora e a memória de procedi-
controle de funções viscerais (como bati- mentos.
mentos cardíacos e peristaltismo), controle O mesencéfalo é a continuação do tronco
da coordenação motora junto com o cere- encefálico. Está situado superiormente à
belo, além de ser caminho de inúmeras vias ponte. Participa do controle da dor, proces-
e feixes que vão do córtex em direção ao samento dos estímulos visuais e auditivos,
resto do corpo e vice-versa. integra estímulos sensoriais do ambiente e
O cerebelo está situado dorsalmente ao a respectiva resposta motora, inclusive al-
tronco encefálico e inferiormente ao mes- gumas de origem emocional. Possui estru-
encéfalo e cérebro. Sua aparência lembra turas que participam de circuitos relaciona-
um pequeno “cérebro”, como o nome já diz. dos à memória e emoções e outras por onde
Possui dois hemisférios (duas metades) e o liquor flui entre as cavidades do sistema
vários lobos, divididos em córtex e núcleos. nervoso. Alguns pares de nervos cranianos
Está envolvido principalmente no controle emergem a partir do mesencéfalo (MACHA-
motor: manutenção do equilíbrio corporal, DO, 1998; LENT, 2008).
41/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
com funções como organizar e distribuir as
Para saber mais conexões sensoriais e motoras com o córtex
cerebral, controle de ciclos fisiológicos, de
Alguns neurônios do mesencéfalo são muito sen-
comportamentos motivados (como a fome,
síveis ao efeito tóxico do álcool. O alcoolismo pode
a sede e o comportamento sexual) e da reg-
levar a uma perda de memória grave por destrui-
ulação da homeostase em geral.
ção desses neurônios; é a chamada Síndrome de
Korsakoff. O telencéfalo é a estrutura mais robusta
do SNC, situada superiormente ao diencé-
2.1.2 Diencéfalo e telencéfalo falo e dividida em córtex cerebral e núcleos
da base.
Diencéfalo e telencéfalo formam o que
chamamos de cérebro, propriamente dito.
O diencéfalo se continua superiormente
com o mesencéfalo e por ele passam cali-
brosos feixes de fibras que comunicam o
diencéfalo e o telencéfalo com as regiões
situadas inferiormente. O diencéfalo é for-
mado pelo tálamo, hipotálamo e subtálamo,

42/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
O córtex é marcado por giros e sulcos que
Para saber mais variam entre os indivíduos. Entretanto, al-
guns se destacam por serem de localização
Nos seres humanos, durante o processo evolutivo,
e identificação mais fácil: o sulco longitudi-
o cérebro ganhou muito tecido nervoso, cresceu
nal, na face superior do cérebro, que o sepa-
e acabou se dobrando sobre si mesmo e sobre o
ra em hemisfério direito e esquerdo; e o sul-
diencéfalo, tornando-se cheio de reentrâncias: os
co central, na face lateral, que separa o lobo
sulcos e giros. Isso permitiu um enorme ganho de
frontal, do lobo parietal. Anteriormente ao
função em um menor espaço.
sulco central está o giro pré-central, que
No telencéfalo, encontra-se o padrão in- processa informações motoras e, posterior-
verso da medula: a substância cinzenta é a mente, está o giro pós-central, que proces-
camada mais externa e a substância bran- sa informações sensoriais (LENT, 2010).
ca é a camada mais interna. Na substância O córtex está dividido nos seguintes lobos
branca, estão mergulhados os núcleos da principais: frontal, parietal, temporal e oc-
base, aglomerados de corpos neuronais que cipital (todos visíveis na face lateral do cére-
se relacionam funcionalmente com outros bro, se relacionam com os ossos adjacentes,
núcleos e estruturas do SNC (LENT, 2010). de mesmo nome), lobo límbico (composto
de regiões de outros lobos assim agrupadas
43/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
por estarem envolvidas no processamento 2.2 Sistema nervoso periférico
emocional) e lobo da ínsula, um lobo mais
antigo do ponto de vista evolutivo e que O SNP, como o nome diz, compreende as
acabou encoberto por outros giros (LENT, estruturas periféricas, fora do eixo central
2010). e desprovidas de proteção óssea. Conecta o
sistema nervoso central com todo o corpo,
O córtex exerce funções extremamente
sendo composto por nervos, gânglios e ter-
complexas: interpreta todos os estímulos
minações nervosas. Os nervos medulares
sensoriais que recebemos em conjunto, in-
são do tipo misto, formados pela junção de
tegra diversas áreas do SNC e SNP para ger-
uma raiz motora anterior eferente (leva co-
ar respostas motoras e comportamentos
mandos motores aos músculos e vísceras) e
complexos; é onde as memórias são arma-
uma raiz sensitiva aferente (que leva infor-
zenadas, processa as emoções, o reconhec-
mações sensoriais dos músculos e vísceras
imento de rostos e objetos, a noção do que é
do corpo, exceto da cabeça) para o encé-
socialmente aceitável ou não, a linguagem,
falo. Cada raiz sensitiva possui um gânglio
o sono, atenção e inúmeras outras funções
nervoso, que contém os corpos neuronais
(LENT, 2010).
cujos prolongamentos vão até o encéfalo. É
interessante notar que, em geral, os hemis-

44/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
férios cerebrais comandam lados opostos 3 DIVISÕES DO SISTEMA NER-
do corpo: as fibras que saem do córtex cere- VOSO: CRITÉRIO FUNCIONAL
bral trocam de lado na altura do tronco en-
cefálico, antes de descer pela medula (LENT, 3.1 Sistema nervoso somático e
2008). visceral
Na cabeça, o SNP é composto pelos 12
De acordo com sua função, o sistema ner-
pares de nervos cranianos e seus gânglios,
voso pode ser dividido em sistema nervoso
que partem do tronco encefálico e do mes-
somático (SNS) e visceral (SNV), mas esse é
encéfalo. Os nervos cranianos podem ser
um critério apenas didático (ambos são par-
mistos, exclusivamente motores ou apenas
te do SNP). O SNS relaciona o indivíduo com
sensitivos. Já as terminações nervosas são a
o meio: é composto pelos componentes
porção final dos nervos que fazem contato
aferentes e eferentes do SNP que inervam
com músculos e órgãos e podem ser senso-
a pele e músculos do corpo e da cabeça. O
riais ou motoras (MACHADO, 1998).
SNS Processa as informações sensoriais de
tato, pressão, temperatura, dor, posição e
devolvem comportamentos motores, em
geral conscientes.

45/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Já o SNV é responsável pela inervação das de controle visceral inconsciente (mas pode
vísceras (músculos lisos, cardíaco, glându- ter um certo controle consciente, como é o
las e vasos): é formado pelos componentes caso do esvaziamento da bexiga urinária)
aferentes e eferentes do SNP que levam in- em resposta às informações sensoriais in-
formações sensoriais das vísceras, como ternas (aferentes viscerais).
distensão do músculo da bexiga e do es- O SNA também atua em resposta a estímu-
tômago e devolvem ações motoras como los externos, como a contração da pupila de
aumento do peristaltismo, esvaziamento acordo com o estimulo luminoso do ambi-
da bexiga, aumento ou diminuição da fre- ente. Por sua vez, SNA é dividido em siste-
quência cardíaca. A parte eferente do SNV ma nervoso simpático e parassimpático e
é chamada de sistema nervoso autônomo existem diferenças anatômicas e funcionais
(MACHADO, 1998). entre eles, entretanto são complexas e fo-
gem às necessidades desse tema.
3.2 Sistema nervoso autônomo

Formado apenas pelo componente efer-


ente motor do SNV, devido à sua anatomia
e função mais complexas. Exerce funções

46/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
3.2.1 Sistema nervoso simpáti- las salivares, ambos atuam aumentando
co e parassimpático a salivação. Entretanto, a saliva produzida
por indução do simpático é mais espessa,
As principais diferenças entre as duas di- enquanto a secreção salivar induzida pelo
visões são: a localização dos neurônios, o parassimpático é mais fluida e abundante
tamanho de suas fibras pós-ganglionares, (LENT, 2010). Você pode visualizar todas as
diferenças fisiológicas (tipos de neurotrans- divisões e estruturas abordadas nesse tema
missores e extensão da área que controlam) no Quadro 1.
e farmacológicas (relacionadas aos fárma-
cos que induzem respostas em cada um).
Muitas vezes, simpático e parassimpáti-
co têm funções opostas em um órgão, mas
o correto seria dizer que em geral suas
funções são complementares, visando
manter a homeostase e o funcionamento
geral do organismo. Por exemplo, o simpáti-
co determina a dilatação e o parassimpáti-
co a contração da pupila. Já nas glându-
47/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Quadro 1 – Quadro didático apontando as divisões anatômica e funcional do sistema ner-
voso abordadas nesse tema e as estruturas que compõem cada uma.

SNC
Medula
Encéfalo
espinal
Cérebro Tronco encefálico
Cerebelo
Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Ponte Bulbo
Tálamo,
Córtex Núcleos
hipotálamo, Córtex Núcleos
cerebral da base
subtálamo
SNP
Nervos cranianos Nervos espinais
SNS
Aferentes – cabeça Eferentes – cabeça Aferentes – corpo Eferentes – corpo
meio externo meio externo meio externo meio externo
SNV
Aferentes – Eferentes –vísceras Aferentes – Eferentes –
vísceras cabeça cabeça vísceras corpo vísceras corpo
Fonte: MACHADO, 1998; LENT, 2008.

48/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
5 ENVOLTÓRIOS DO SISTEMA O liquor é um líquido aquoso, transparente
NERVOSO E LIQUOR e pobre em proteínas produzido por certas
células nervosas nos ventrículos (cavidades
O sistema nervoso é envolvido pelas menin- do encéfalo). O liquor circula por todo o
ges e pelo liquor (ou líquido cefalorraqui- sistema nervoso, dentro do espaço subarac-
diano). As meninges são três finas camadas noideo (entre a aracnoide e a pia-máter,
de tecidos que protegem e sustentam o sis- onde são feitas as punções para coleta de
tema nervoso, além de participar da sua ir- líquor e aplicação de anestesia raquidiana) e
rigação sanguínea e inervação, chamadas sua função é absorver de choques mecâni-
de dura-máter (mais externa, próxima aos cos e deixá-lo mais leve (ao “boiar” nesse
ossos, espessa e resistente, que se invagi- líquido, um encéfalo de 1,5kg no ar, pesa
na entre estruturas do encéfalo, dando-lhe apenas cerca de 50g imerso em liquor).
sustentação), aracnoide (localizada entre a
dura e a pia-máter) e pia-máter (mais del-
gada e interna, próxima ao tecido nervoso)
(MACHADO, 1998).

49/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Para saber mais
Curiosamente, o tecido nervoso percebe as sen-
sações vindas de todas as partes do corpo, po-
rém não tem terminais sensoriais nele próprio.
Estímulos sensoriais, como a dor, são sentidas
pelos terminais nervosos das meninges. A dor de
cabeça, por exemplo, pode percebida nas menin-
ges. Por isso, cirurgias no cérebro podem ser fei-
tas com o paciente acordado e anestesia local.

50/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Glossário
Substância cinzenta e substância branca: na substância cinzenta predominam os corpos dos neurô-
nios, que confere aspecto mais escuro a essa camada quando vista em peças anatômicas fixadas. Já
na substância branca predominam os axônios dos neurônios, o que confere aspecto esbranquiçado.
Aferência e eferência: aferência diz respeito às informações sensoriais do meio externo e interno
(periféricas) que são levadas para o SNC. Por sua vez, eferências são as informações processadas pelo
SNC que são levadas para músculos e vísceras.
Propriocepção: capacidade de sentir e reconhecer a posição do próprio corpo e de partes deles no
espaço, assim como a direção que seguem, força exercida etc.
Motricidade fina: habilidade de executar movimentos finos e delicados, como a escrita.
Homeostase: capacidade do organismo de manter o meio interno equilibrado e em condições ótimas
para seu funcionamento, como temperatura estável, níveis de sódio e glicose ideais etc., de forma
autorregulada.
Núcleos e gânglios: ambos são aglomerados de corpos de neurônios, porém núcleos encontram-se
no SNC, enquanto gânglios estão no SNP.

51/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
?
Questão
para
reflexão

Imagine uma situação simples do seu dia a dia e tente


associar as estruturas e funções que estão sendo envol-
vidas. Descreva em um papel as atividades (andar, ves-
tir-se, ministrar uma aula), as ações tomadas (mexer a
mão, segurar um lápis, falar) e quais estruturas do sis-
tema nervoso estariam envolvidas. Descreva os tipos de
estímulos (tato, temperatura, visão) percebidos e a res-
posta do seu corpo.

52/215
Considerações Finais

• O sistema nervoso é dividido com base em critérios anatômicos em


sistema nervoso central (SNC) e periférico (SNP);
• o SNC compreende os órgãos e estruturas contidos no esqueleto axial,
enquanto o periférico compreende estruturas que se projetam para
todo o corpo;
• o sistema nervoso também pode ser dividido com base em critérios
funcionais em sistema nervoso somático (SNS) e visceral (SNV);
• o SNA é uma divisão tanto anatômica (faz parte do SNP) quanto fun-
cional (é a divisão do SNV que controla a parte motora das vísceras);
• o SNA é dividido em simpático e parassimpático;
• o sistema nervoso é envolvido pelas meninges e por um fluido cha-
mado liquor, que o sustentam e protegem.

53/215
Referências

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o siste-
ma nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002.
DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2.
ed. São Paulo: Atheneu, 2001.
LENT, Roberto. A estrutura do sistema nervoso. In: LENT, Roberto (Org.). Neurociência da mente
e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 20-42.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2010.
MACHADO, Angelo. Neuroanatomia funcional. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1998.

54/215 Unidade 2 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica I: organização e função do sistema nervoso
Assista a suas aulas

Aula 2 - Tema: Fundamentos de Neuroanatomia Aula 2 - Tema: Fundamentos de Neuroanatomia


funcional I: Organização e função do sistema funcional I: Organização e função do sistema
nervoso. Bloco I nervoso. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
e5d7bb7094b2d89164be7ecf69d1c3a8>. eb9b5f7b41d426687e27b4915a5ae063>.

55/215
Questão 1
1. Quais são os três planos que auxiliam na localização de estruturas anatô-
micas?

a) Planos sagital, frontal e coronal.


b) Planos ortogonal, sagital e frontal.
c) Planos sazonal, frontal e coronal.
d) Planos, eixos e linhas.
e) Planos, eixos e suturas.

56/215
Questão 2
2. O sistema nervoso pode ser dividido:

a) com base em critérios anatômicos, embrionários, funcionais e segmentar;


b) com base na semelhança física das estruturas;
c) com base em critérios de sua localização;
d) com base em diferenças de estruturas e funções;
e) com base em critérios definidos por cada anatomista.

57/215
Questão 3
3. De acordo com o critério anatômico, o sistema nervoso se divide em:

a) sistema nervoso central e somático;


b) sistemas neurais e centrais;
c) sistema nervoso autônomo e periférico;
d) sistema nervoso central e periférico;
e) sistema neurais e periféricos.

58/215
Questão 4
4. São exemplos de estruturas anatômicas que compõem o encéfalo:

a) Nervos e gânglios.
b) Meninges e líquor.
c) Telencéfalo e diencéfalo.
d) Medula espinal e nervos mistos.
e) Telencéfalo e nervos espinais.

59/215
Questão 5
5. Assinale a alternativa correta sobre o sistema nervoso autônomo:

a) É uma divisão do sistema nervoso central.


b) È o componente eferente do sistema nervoso visceral.
c) È uma divisão baseada em critérios anatômicos.
d) È o componente aferente do sistema nervoso periférico.
e) È uma divisão baseada em critérios embriológicos.

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Gabarito
1. Resposta: A. 3. Resposta: D.

Os planos que orientam a localização ana- De acordo com o critério anatômico, a prin-
tômica são os planos sagital, frontal e coro- cipal divisão do sistema nervoso é em siste-
nal, que dividem o corpo em regiões de re- ma nervoso central e periférico.
ferência (direita, esquerda, superior, inferior
etc.). 4. Resposta: C.

2. Resposta: B. O encéfalo é composto por todas as estrutu-


ras e regiões contidas dentro do crânio, como,
O sistema nervoso pode ser dividido com por exemplo, telencéfalo e diencéfalo, além de
base em vários critérios para fins didáticos, tronco encefálico, mesencéfalo e etc.
como os critérios anatômicos, embrioná-
rios, funcionais e segmentar. 5. Resposta: B.

O sistema nervoso autônomo é a parte efe-


rente do sistema nervoso visceral, ou seja,
os nervos motores que comandam e regu-
lam as vísceras.
61/215
Unidade 3
Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso

Objetivos

1. Introduzir o conceito de tecido nervo-


so.
2. Apresentar os elementos constituin-
tes do tecido nervoso e suas caracte-
rísticas morfológicas e funcionais.
3. Conceituar a comunicação neuronal
através das sinapses e da neurotrans-
missão.

62/215
Introdução

Desde que o ser humano começou a ques- Com o advento de técnicas histológicas de
tionar a fonte de seus movimentos, pens- fixação (para conservar e enrijecer o teci-
amentos, sentidos e emoções, um longo do até que seja possível cortá-lo em fatias
caminho já foi percorrido e diversos ob- muito finas) e de coloração (que nada mais
stáculos superados. Hoje, sabemos que são que empregar uma série de substâncias
muito ainda há para se questionar e desco- químicas com afinidade por certas molécu-
brir, porém, após superadas algumas lim- las e partes da célula, dando cor a elas),
itações, é fato que nosso sistema nervoso é foi possível observar essas unidades mi-
o responsável por manter nosso organismo croscópicas usando colorações que tingiam
em equilíbrio e ainda permitir a nossa in- algumas células, enquanto outras não eram
teração com o meio e com uns aos outros. “coloridas”. Franz Nissl (1860-1919) criou
Por sua vez, outro fato é que, desde as bri- a chamada coloração de Nissl (muito útil
gas entre os “inimigos” acadêmicos Cami- e usada até hoje praticamente da mesma
lo Golgi (1843-1926) e Santiago Ramón y forma de quando criada, no final do século
Cajal (1852-1934), sabemos que a unidade XIX), mas foi a coloração de Golgi que per-
básica do tecido nervoso são minúsculas mitiu a observação e descrição em detalhes
células, assim como se acreditava ser para das células do sistema nervoso, os famosos
todos os nossos tecidos. neurônios e suas companheiras principais,

63/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
as células da glia. Aprimorando a técnica e Pode-se dizer que “ver” o tecido nervoso por
análise de Golgi, Cajal descreveu alguns ti- dentro, com seus neurônios, células da glia
pos de neurônios e como eles se organiza- e sua organização típica foi um dos maiores
vam com uma riqueza de detalhes impres- passos dados pela neurociência e permitiu
sionante para a época. Observou que há um a compreensão de muitos dos mistérios so-
espaço entre os neurônios, que não se tocam bre o sistema nervoso.
fisicamente. Mais tarde, Charles Sherrington Nesta aula, você estudará a estrutura e
(1857-1952) chamou esse espaço de sinapse funções do tecido nervoso – a morfologia
(BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002). dos neurônios e células da glia, ou seja, sua
Depois disso, a neurociência foi descobrin- estrutura básica, as partes dos neurônios,
do que as propriedades únicas que as células suas funções, como se dá a comunicação
nervosas apresentam é o que torna possível neuronal –, verá em mais detalhes as sinaps-
todas as funções que nosso encéfalo é ca- es químicas e estudará é o papel da glia. Só
paz de exercer, como aprender, por exemplo. para que você entenda melhor, a morfolo-
Aliás, podemos dizer que aprendemos algo, gia é área que estuda a estrutura, a forma
mas que, muito antes de nos darmos conta dos seres vivos.
desse processo, nossos próprios neurônios A morfologia pode ser dividida em anato-
também estão em aprendizado. mia, que estuda a parte macroscópica, ex-
64/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
terna; e histologia, que se ocupa da estru- minadas funções no organismo. Os tecidos
tura microscópica dos tecidos, interna. O se agrupam em órgãos e esses, por sua vez,
foco são as células nervosas, portanto você em sistemas. O tecido nervoso se diferen-
terá o ponto de vista microscópico e de for- cia por ser sensível a estímulos: sua função
ma crescente: de suas partes centrais, para é receber estímulos do meio ambiente e do
as partes periféricas, juntamente com suas meio interno do organismo e processar uma
funções. Porém, é importante ter em men- resposta adequada, que pode ser a ação de
te que essa é apenas uma divisão didática. um órgão, contração muscular, um com-
O sistema nervoso funciona de modo glob- portamento, a percepção de uma sensação,
al, com todos os seus elementos perfeita- tudo para manter a homeostase e permitir
mente integrados, como em uma orquestra a interação com o meio externo. As células
bem afinada e regida de modo que o resul- que os constituem são de dois tipos: neurô-
tado final é uma harmoniosa música. nios e células da glia (MOURA-NETO, 2008).
Para facilitar o estudo, você poderá acom-
1 O TECIDO NERVOSO panhar fotos de lâminas de tecido nervoso e
outras informações e conceitos sobre técni-
Um tecido é um conjunto de um ou mais tipos cas de histologia em atlas de microscopia e
de células especializadas em realizar deter- patologia disponíveis on-line.

65/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
2 O NEURÔNIO

Link Os neurônios são células do tecido nervoso


que se diferenciam por serem excitáveis: são
1. MOL – Microscopia online. Seu guia interativo
capazes de serem estimulados, recebendo
de histologia.
informações tanto do meio externo, ou seja,
Disponível em: <http://www.icb.usp.br/ o que vemos, ouvimos, sentimos, quanto do
mol/0indicedemodulos.html>. Acesso em: 22 meio interno, do próprio organismo, como
out. 2016. a temperatura corporal, a quantidade de
2. Anatpat Unicamp. substâncias dissolvidas no sangue etc. São
também capazes de interpretar esses es-
Disponível em: <http://anatpat.unicamp.br/
tímulos e responder com alguma ação ou
bineuro.html>. Acesso em: 22 out. 2016.
comportamento, como gerar contração
3. Atlas eletrônico de histologia. muscular e aumentar a sudorese a fim de
Disponível em: <http://www.dominiopubli-
regular a temperatura corporal, caso esteja
co.gov.br/download/texto/ur000002.pdf>.
alta, por exemplo.
Acesso em: 22 out. 2016. Possuímos cerca de 85 bilhões de neurô-
nios, distribuídos em diversas regiões, e
66/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
há muitos tipos de neurônios, sendo essa
grande variedade morfológica que permite Para saber mais
que nosso sistema nervoso execute tan- Até pouco tempo, acreditava-se que tínhamos
tas funções diferentes, entretanto a estru- cerca de 100 bilhões de neurônios. Calma, não
tura básica dos neurônios é a mesma. Um perdemos neurônios. Devemos esse número a
neurônio típico é basicamente composto de um grupo de neurocientistas brasileiros. Eles de-
corpo celular e prolongamentos neuronais senvolveram uma técnica que permite contar o
e, assim como qualquer célula, é totalmente número de neurônios presentes numa “sopa” de
envolvido pela membrana plasmática, que cérebro de forma simples e inovadora, levando a
separa o meio interno da célula do meio ex- neurociência brasileira a ganhar o reconhecimen-
terno (LENT, 2010). to da comunidade científica mundial (LENT, 2010).

2.1 Corpo celular

O corpo celular dos neurônios, também


chamado de soma neuronal, varia muito de
forma e tamanho, conforme a localização
e a função exercida no tecido nervoso: há

67/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
corpos celulares com formato piramidal, diversos tipos de neurônios, embora todas
estrelado, fusiforme, entre outros, que vari- possuam alguns elementos importantes,
am aproximadamente de 5 a 150µM. como proteínas complexas que atraves-
sam total ou parcialmente. Algumas dessas
proteínas formam canais por onde passam
Para saber mais apenas alguns íons ou moléculas específicas
Pode ser difícil imaginar quão pequena é essa e, assim, contribuem para a manutenção de
célula que comanda todo nosso corpo e mente. cargas elétricas diferentes dentro e fora da
Para ter uma ideia do tamanho de um neurônio célula. No citoplasma neuronal, assim como
em metros, por exemplo, basta dividir esse valor em outros tipos de células, estão mergulha-
por 1 milhão. Assim, um neurônio de 5µM teria dos o núcleo, que contém o material genéti-
0,000005m. co, e várias organelas citoplasmáticas,
pequenas estruturas com diversas funções
A membrana plasmática do neurônio fun- fisiológicas.
ciona como uma barreira que limita o meio
O retículo endoplasmático rugoso (organe-
interno da célula, chamado de citoplasma
la que recebe esse nome porque está asso-
(ou pericárdio). Além disso, a membrana
ciado a ribossomos, o que lhe confere uma
plasmática também é diferente entre os
aparência rugosa) forma os grumos obser-
68/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
vados por Nissl ao microscópio óptico, con- 2.2 Prolongamentos
hecidos como corpúsculos de Nissl. Assim
como outras células, o neurônio possui um Do corpo celular do neurônio partem diver-
citoesqueleto, um arcabouço de proteínas sos prolongamentos, alguns mais delicados,
que dão sustentação e permitem o trans- outros mais calibrosos, os chamados neuri-
porte de organelas e moléculas ao longo da tos. Os neuritos, por sua vez, podem ser de
célula e seus prolongamentos. O corpo celu- dois tipos: dendritos e axônios (MACHADO,
lar pode ser comparado ao motor do neurô- 1998).
nio, pois concentra suas funções metabóli-
cas, produzindo todas as proteínas (inclu- 2.2.1 Dendritos
sive os neurotransmissores) que a célula
necessita, além de ser local de recepção de Os dendritos são prolongamentos em geral
estímulos que chegam pelos dendritos e de- curtos, bastante numerosos e muito rami-
pois são conduzidos para o axônio (MACHA- ficados. A palavra dendrito vem do grego
DO, 1998). déndron e significa “árvore”, devido à ca-
racterística ramificação desses prolonga-
mentos como os galhos de uma árvore, de
um diâmetro maior para ramos de diâmetro
menor.
69/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
Os dendritos são responsáveis pela recepção axônio é o prolongamento eferente, ou seja,
dos estímulos que chegam ao neurônio, ou que leva a informação do sistema nervoso
seja, são as terminações aferentes da célula em direção a outras regiões, como uma re-
e recebem as informações que chegam do sposta a algum estímulo que foi recebido
ambiente, do próprio organismo ou de out- pelo neurônio.
ro neurônio (MACHADO, 1998). Ao contrário dos dendritos, que se rami-
ficam apenas no local onde se encontram,
2.2.2 Axônios o axônio alcança comprimentos variados.
Na espécie humana, pode variar de alguns
O axônio (do grego axón, que significa “eixo”) milímetros a até um metro ou mais. Esse
é um prolongamento único, cilíndrico e fino, último é o caso do axônio de um neurônio
que parte do corpo celular numa região de- motor que deixa a medula espinal e seg-
nominada cone de implantação. Pode ram- ue seu caminho pela perna até chegar ao
ificar, mas, ao contrário dos dendritos, gera dedão do pé, inervando a musculatura re-
ramos de mesmo diâmetro e pode apresen- sponsável pelo movimento do dedo. Os ax-
tar uma arborização em sua porção termi- ônios também podem ser envolvidos por
nal, onde se comunicam com os dendritos uma camada de lipídios (gordura), que fun-
de outros neurônios ou com uma célula ciona como um isolante elétrico, a bainha
efetuadora. Dessa forma, dizemos que o
70/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
de mielina. Os neurônios cujo axônio possui 3 O POTENCIAL DE AÇÃO
bainha de mielina são chamados de fibras
mielínicas, enquanto os que não possuem A membrana plasmática de qualquer célula
são classificados como fibras amielínicas. permite que o meio interno da célula apre-
Isso é importante porque a transmissão da sente uma carga mais negativa (rica em íons
informação entre fibras (axônios) mielínicas potássio) que o meio externo (com maior
e amielínicas é muito diferente. concentração de íons cloro e sódio). Porém,
os canais que atravessam a membrana dos
Existem pequenos espaços entre uma porção
neurônios são de dois tipos e exclusivos do
da bainha de mielina e outra (os nós de Ran-
tecido nervoso: canais sensíveis a mudanças
vier, você verá mais sobre o assunto no tópi-
elétricas (canais voltagem-dependente) e
co “células da glia”). Como a gordura é um
canais que reconhecem certas substâncias
isolante elétrico, o impulso nervoso passa
químicas (canais ligante-dependente), os
“saltando” a mielina, pulando de um espaço
chamados neurotransmissores. Os íons es-
de membrana sem mielina para o próximo
tão constantemente saindo e entrando da
rapidamente. Já nos axônios amielínicos, o
célula a fim de manter a diferença de car-
impulso percorre toda a membrana contin-
gas estável. Essa diferença eletroquímica é
uamente, logo a transmissão é mais lenta
responsável por causar uma diferença de
(MACHADO, 1998).
71/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
potencial, conhecida por potencial de re- começa no cone de implantação, região rica
pouso. em canais dependentes de voltagem.
Porém, os estímulos que os neurônios re- O interessante é que a despolarização leva
cebem têm a capacidade de modificar o po- a mudanças que fazem com que a membra-
tencial de repouso. Assim, ao serem excit- na volte ao normal e ainda fique impossibil-
ados, respondem com o potencial de ação, itada de gerar um novo potencial de ação.
gerado pela inversão das cargas elétricas da No entanto, se o potencial gerado contin-
membrana. De forma bastante simplificada, uar com força suficiente, pode estimular o
ocorre o seguinte: em “repouso”, o interior próximo trecho de membrana do axônio
do neurônio é mais negativo que o meio exter- que ainda estava em repouso e o despolar-
no (ou seja, membrana negativa por dentro iza. Isso acontece em pequenos trechos da
e positiva por fora). Se um estímulo chega membrana por vez, em sequência, até que
ao neurônio e “perturba” o repouso, a carga essa série de potenciais de ação, que con-
mais negativa do interior da membrana sai stitui o impulso nervoso, chega ao terminal
e torna o meio interno menos negativo que o axonal do neurônio. Cada potencial de ação
meio externo (agora a membrana está pos- dura cerca de 1 milissegundo e o impulso
itiva por dentro e negativa por fora). Esse nervoso ao longo do axônio é conduzido a
processo é chamado de despolarização e uma velocidade de 20 a 200 m/seg (MOU-
72/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
RA-NETO, 2008; BEARS; CONNORS; PARA- so segue o princípio do “tudo ou nada”, ou
DISO, 2002). seja, não há meio-termo. Ou o potencial
de ação gerado é intenso o suficiente para
despolarizar a membrana neuronal ou não
Para saber mais há despolarização e, consequentemente, o
Mais uma vez, para que você tenha uma ideia impulso nervoso “morre” e não é passado
da velocidade de condução do impulso nervoso, adiante. Por fim, quando o impulso nervo-
transforme esse dado: multiplique 200m/s por so chega ao terminal axonal, pode provocar
3,6 e você terá o valor em quilômetros por hora. a liberação de neurotransmissores. Agora,
São exatos 720km/h. Impressionante, não? muda a linguagem de comunicação entre
os neurônios: de elétrica para química, a
É como se fosse aquela onda feita por torce- neurotransmissão.
dores em um estádio de futebol. Uma filei-
ra de pessoas começa e se levanta com os 4 SINAPSES E NEUROTRANSMIS-
braços erguidos, logo a segunda fila também SORES
se levanta, enquanto a primeira já voltou a
sentar-se e, assim, a ola “caminha” através Você já sabe que a linguagem falada pelos
da arquibancada. A transmissão do impul- neurônios é um sinal elétrico, o potencial

73/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
de ação. Mas o impulso nervoso não pode possuem funções nervosas mais simples e
vencer o espaço existente entre dois neurô- precisam responder rapidamente ao ambi-
nios. Como ocorre, então, a transmissão do ente para poder sobreviver.
impulso nervoso de um neurônio a outro? A sinapse química, ou apenas sinapse, é mais
A resposta está na sinapse (do grego syn- abundante no sistema nervoso adulto e sua
apsis ”conexão”), o local onde dois neurô- estrutura e funcionamento são mais com-
nios fazem contato. Existem dois tipos de plexas. A sinapse é formada por um neurô-
sinapses: elétricas e químicas. As sinapses nio chamado pré-sináptico, por um segun-
elétricas são chamadas de junções comu- do neurônio, o neurônio pós-sináptico e
nicantes. Nelas, a transmissão do impulso pelo espaço entre eles, a fenda sináptica. O
nervoso ocorre de maneira direta entre as impulso nervoso chega ao terminal axonal
células, através de proteínas especiais que do neurônio pré-sináptico. Se for intenso o
as conectam, e por isso é muito mais rápi- suficiente, provoca a liberação dos neuro-
da. São muito abundantes durante o desen- transmissores na fenda sináptica, que se di-
volvimento do tecido nervoso, mas acabam fundem até chegar aos dendritos do neurô-
por se tornar pouco comuns no sistema ner- nio pós-sináptico. Proteínas na membrana
voso humano adulto. No entanto, são mui- (os receptores) do neurônio pós-sináptico
to comuns em animais invertebrados, que reconhecem a molécula de neurotransmis-
74/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
sor e desencadeiam um novo potencial de inibir a ação do próximo neurônio, “desli-
ação nesse segundo neurônio. Imagine que gando” o potencial de ação) como o GABA
você vive no início do século XX e quer sa- (ácido gama-aminobutírico); alguns são
ber um pouco mais sobre os neurônios que hormônios, como a ocitocina e a vasopressi-
Cajal anda descrevendo, por isso você es- na ou um gás, como o óxido nítrico. Os neu-
creve uma carta para ele. Você transforma rotransmissores têm diferentes funções:
o que gostaria de perguntar a ele em pala- atuam em circuitos ligados a sensação de
vras escritas e envia a carta. Nesse exemplo, prazer e bem-estar, como a dopamina e a
você é um neurônio pré-sináptico. A distân- serotonina e outros estão associados ao
cia entre você e Cajal é a sinapse, a sua per- aumento dos batimentos cardíacos, como
gunta é o impulso nervoso que deve chegar a adrenalina, por exemplo (MOURA-NETO,
ao neurônio pós-sináptico e a carta é o neu- 2008; BEARS; CONNORS; PARADISO, 2002).
rotransmissor.
Há vários tipos de neurotransmissores, pro- 5 CÉLULAS DA GLIA
duzidos por tipos diferentes de neurônios:
A palavra glia vem do grego e significa “cola”.
há os neurotransmissores excitatórios (que
São as células mais numerosas do tecido
estimulam os neurônios), como o glutama-
nervoso e de menor tamanho. Relacionam-
to; neurotransmissores inibitórios (que irão
75/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
se diretamente com os neurônios, tanto no
sistema nervoso central (SNC) quanto no Para saber mais
sistema nervoso periférico (SNP), exercendo
Os astrócitos participam da barreira hematoen-
diversas funções (MOURA-NETO, 2008). As
cefálica, uma estrutura vascular que seleciona o
principais células da glia são:
que entra e sai do tecido nervoso. Fármacos que
a) Astrócitos: tipo de glia mais numeroso atuam no sistema nervoso devem ser capazes
do sistema nervoso central. São célu- de atravessar a barreira hematoencefálica, o
las com formato de estrela de dois ti- que torna o estudo e síntese dessas substâncias
pos: astrócitos fibrosos (localizados na um desafio.
substância branca) e astrócitos proto-
plasmáticos (presentes na susbtância
cinzenta). De seus prolongamentos Os astrócitos dão sustentação, isolamento
partem expansões conhecidas por e proteção aos neurônios, armazenam gli-
pés astrocitários, que envolvem vasos cose como fonte de energia para uso dos
sanguíneos do tecido nervoso. Assim, neurônios, participam de processos de cica-
formam uma barreira altamente se- trização do tecido nervoso e captam o glu-
letiva que retira do tecido nervoso os tamato da fenda sináptica, que em excesso
íons potássio em excesso e substân- é tóxico aos neurônios.
cias tóxicas aos neurônios.
76/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
b) Oligodendrócitos e células de Schwann envolvem o axônio e formam
Schwann: são pequenas células cu- mielina, enquanto outras o envolvem
jos prolongamentos que partem do da mesma forma, mas não mielinizam.
corpo celular envolvem os axônios c) Microgliócitos: células capazes de re-
dos neurônios, formando a bainha de alizar fagocitose, ou seja, de englobar
mielina. Cada prolongamento irá for- e digerir partículas e detritos celu-
mar um “internó” de mielina, alterna- lares. São ativadas em reposta a in-
do por regiões de membrana “nuas”, fecções, inflamação, traumas (lesões
sem mielina, os nós de Ranvier. Cada mecânicas do tecido), isquemia (lesão
oligodendrócito pode prover bainha por falta de irrigação sanguínea) etc.
de mielina para 50 axônios ou mais. Realizam a destruição de microorgan-
Já as células de Schwann são equiva- ismos invasores e “limpam” detritos
lentes aos oligodendrócitos no SNP. de células nervosas mortas.
Atuam formando a bainha de mielina
de axônios que formam os nervos per- d) Células ependimárias: conjunto de
iféricos. Cada célula de Schwann é ca- células que reveste as cavidades do
paz de envolver apenas um axônio por SNC e estão envolvidas, principal-
vez. Além disso, algumas células de mente, no transporte de moléculas
entre o líquor e o tecido nervoso.
77/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
Há ainda um tipo de glia que permanece
indiferenciado, ou seja, com capacidade
de se tornar outros tipos de células: as cé-
lulas-tronco neurais. Ao contrário do que
se pensava, o cérebro adulto ainda possui
a capacidade originar outros neurônios ou
glia em algumas regiões específicas, que
podem migrar e substituir células lesiona-
das (MOURA-NETO, 2008; LENT, 2010).

78/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
Glossário
Diferença de potencial: grandeza física gerada pela diferença de cargas elétricas entre dois
pontos, permitindo o fluxo de partículas carregadas em um condutor de um ponto a outro, a cor-
rente elétrica.
Células efetuadoras: são células não neuronais que recebem a “ordem” dada pelo sistema ner-
voso para exercer alguma função ou comportamento, como uma célula muscular que se contrai
ou uma célula secretora que libera um hormônio.
Estímulo: qualquer evento que chegue por vias aferentes, na forma de sinal elétrico, captado por
receptores que se comunicam com o meio ambiente ou com o meio interno, como uma imagem,
som, dor, emoção, toque ou uma dor visceral, a distensão da bexiga quando está cheia, o alimen-
to no estômago etc.

79/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
?
Questão
para
reflexão

Considerando a estrutura das células nervosas que você


acabou de estudar, reflita sobre a relação entre estrutu-
ra e função. O que faz um neurônio ser capaz de se co-
municar com outras células nervosas? Que importância
isso tem para o funcionamento do sistema nervoso?

80/215
Considerações Finais (1/2)

• O tecido nervoso é formado por unidades independentes, os neurônios e as


células da glia;
• os neurônios possuem um corpo celular e prolongamentos, os dendritos e
axônios;
• o que determina a existência dos vários tipos neuronais e as diferentes fun-
ções que exercem é a grande variedade de formatos do corpo celular, den-
dritos e axônios, dos neurotransmissores que produz e o local onde se en-
contram o potencial de ação é um fenômeno elétrico que se propaga ao
longo do axônio na forma do impulso nervoso e quando chega ao terminal
axonal provoca a liberação dos neurotransmissores;
• as células nervosas não se tocam diretamente e se comunicam através das
sinapses, que podem ser elétricas ou químicas, sendo as últimas as mais re-
levantes no sistema nervoso humano adulto;

81/215
Considerações Finais (2/2)

• as células da glia têm função de sustentação, alimentação do tecido, reno-


vação de neurotransmissores, defesa imunológica, cicatrização e regenera-
ção.

82/215
Referências

BEAR, Mark F.; CONNORS, Barry W.; PARADISO, Michael A. Neurociências: desvendando o siste-
ma nervoso. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2010.
MACHADO, Angelo. Tecido Nervoso. In: MACHADO, Angelo. Neuroanatomia funcional. 2. ed.
Rio de Janeiro: Atheneu, 1998. p. 17-33.
MOURA-NETO, Vivaldo e LENT, Roberto. Como funciona o sistema nervoso. In: LENT, Roberto
(Org.). Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
p. 62-88.

83/215 Unidade 3 • Fundamentos de neuroanatomia funcional básica II: Organização e função do tecido nervoso
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Aula 3 - Tema: Fundamentos de Neuroanatomia Aula 3 - Tema: Fundamentos de Neuroanato-


Funcional Básica II: Organização e função do mia Funcional Básica II: Organização e função
tecido nervoso. Bloco I do tecido nervoso. Bloco II
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84/215
Questão 1
1. Por definição, podemos dizer que o tecido nervoso é:

a) um conjunto de órgãos com capacidade de responder a estímulos;


b) um conjunto de células excitáveis com função de integrar estímulos e resposta, gerando um
comportamento ou ação;
c) um conjunto de células agrupadas porque são semelhantes, mas não relacionadas;
d) um conjunto de sistemas capazes de responder a estímulos, o sistema nervoso;
e) um conjunto de órgãos nervosos com funções semelhantes.

85/215
Questão 2
2. Os neurônios são divididos em:

a) corpo celular, membrana e prolongamentos;


b) cabeça, corpo e membrana;
c) corpo celular, dendritos e axônio;
d) corpo, prolongamentos e axônio;
e) cabeça, neuritos e prolongamentos.

86/215
Questão 3
3. As sinapses podem ser dos tipos:

a) Junção comunicante e elétricas.


b) Elétricas e de repouso.
c) Químicas e neurotransmissoras.
d) De ação e de repouso.
e) Elétricas e químicas.

87/215
Questão 4
4. O que são sinapses químicas?

a) São junções conhecidas antes mesmo da descoberta dos neurônios.


b) É o contato entre dois neurônios, onde ocorre a liberação do neurotransmissor.
c) É um espaço virtual para a troca de impulsos elétricos.
d) É o contato químico entre um neurônio e uma célula da glia.
e) É o espaço que existe quando dois neurônios não se comunicam.

88/215
Questão 5
5. São exemplos de células da glia:

a) Neurônios, astrócitos, gliócitos.


b) Astrócitos, neurocitos, microgliócitos.
c) Neurócitos, microglia, microgliócitos.
d) Astrócitos, microgliócitos, oligodendrócitos.
e) Neurônios, microgliócitos e gliócitos.

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Gabarito
1. Resposta: B. municantes e as sinapses químicas, chama-
das apenas de sinapses.
Um tecido é formado por células que se
agrupam para exercer determinadas fun- 4. Resposta: B.
ções. O tecido nervoso é constituído por
células excitáveis, capazes de responder a Uma sinapse química é o local de contato en-
estímulos do ambiente ou do próprio orga- tre dois neurônios, onde são liberadas subs-
nismo. tâncias químicas, os neurotransmissores.

2. Resposta: C. 5. Resposta: D.
Os neurônios têm um copo celular, ou soma Dentre os tipos de células da Glia, estão os
neuronal, e prolongamentos de dois tipos, astrócitos, os microgliócitos e os oligon-
os dendritos e axônios. dendrócitos.

3. Resposta: E.
Existem dois tipos de sinapses, as sinapses
elétricas, também chamadas de junções co-

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Unidade 4
Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral

Objetivos

1. Apresentar as divisões do córtex cere-


bral.
2. Definir e introduzir conceitos iniciais
sobre funções cognitivas e suas rela-
ções com o córtex cerebral.
3. Relacionar funções cognitivas e suas
interfaces com a educação.

91/215
Introdução

A busca do homem por relações entre áreas


do cérebro com funções, sentimentos e ha- Para saber mais
bilidades humanas é bastante antiga. Na
Segundo Gall, mesmo funções muito específicas
Antiguidade, gregos já estudavam lesões
como “atração ao vinho” ou “amor aos animais”
cerebrais de feridos em guerras. Durante a
teriam uma região determinada responsável por
Idade Média, filósofos acreditavam que as
elas e quando uma destas funções fosse muito
funções mentais mais complexas estariam
desenvolvida seria possível observar uma proemi-
relacionadas a apenas três áreas particu-
nência no crânio na região correspondente, como
lares do cérebro. Já no século XIX, o famoso
se o cérebro “aumentasse” quando exercitado da
anatomista Franz Joseph Gall desenvolveu
mesma forma como acontece com os músculos
uma teoria chamada Frenologia, a qual con-
ao serem trabalhados. Outros cientistas prova-
sistia na crença de que cada característica
ram que Gall estava equivocado.
ou sentimento humanos estariam direta-
mente relacionados com uma região espe-
Depois de Gall, outros pesquisadores como
cífica do cérebro.
Broca e Wernicke encontraram relações ad-
equadas de funções com áreas cerebrais ao
estudarem indivíduos que tiveram lesões
específicas e suas consequentes alterações
92/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
de comportamento. Devido a essas desco-
bertas, por algum tempo acreditou-se que Para saber mais
seria possível localizar todas as formas com- Wernicke propôs que funções mentais mais sim-
plexas de atividades mentais. Hoje, sabe- ples e elementares, relacionadas aos sentidos e
mos que não é bem assim. Algumas funções, a movimentos básicos, estariam localizadas em
principalmente as mais elementares, como áreas únicas do córtex cerebral, enquanto fun-
visão, audição, movimento, de fato pos- ções mentais mais complexas seriam resultado da
suem regiões às quais estão diretamente interconexão entre áreas distintas, estando espa-
relacionadas, como o córtex visual primário cialmente distribuídas pelo cérebro.
está relacionado com a visão ou o córtex
motor primário com movimentos. Ou seja, Ainda, cada função importante é, em geral,
determinadas áreas estão mais envolvidas e desempenhada por mais de uma via neural
relacionadas com um tipo de função do que e, quando uma região sofre injúrias e fica
com outras, mas a maioria das funções re- comprometida, outras partes podem assu-
quer a ação integrada de neurônios de dif- mir parcialmente a função desempenhada
erentes regiões do cérebro. anteriormente pela região lesada. A seguir,
você compreenderá melhor as divisões do
córtex cerebral, as principais funções e ha-

93/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


bilidades mentais e qual a importância des- ho do crânio, o que poderia trazer diversos
sas para a educação. prejuízos, como dificultar a sustentação da
cabeça, tornando mais difícil para o homem
1 O CÓRTEX CEREBRAL se locomover devido ao “peso” dessa.

O córtex cerebral humano é formado por


uma camada bastante enrugada que reco- Para saber mais
bre os dois hemisférios cerebrais (direito e
O córtex humano possui aproximadamente de
esquerdo) como se fosse a casca de uma ár-
2 a 4 mm de espessura e é formado por subs-
vore, constituindo, assim, a parte mais ex-
tância cinzenta que contém o corpo celular dos
terna do cérebro. Essas dobras que formam
neurônios.
elevações e depressões chamadas de giros
(elevações) e sulcos (depressões) são im-
portantes, pois permitem que o córtex au-
mente a área de processamento neuronal,
tornando-se mais extenso, sem que para
isso seja necessário aumentar o taman-

94/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


izado bem na frente do cérebro, na região da
Para saber mais testa; o lobo occipital, que fica na parte “de
trás” da cabeça, na região mais inferior; o
Outros mamíferos, como baleias, golfinhos e ele-
lobo temporal, que fica na região acima das
fantes, também possuem essas “dobras” encon-
orelhas e o lobo parietal, localizado aprox-
tradas em humanos. Recentemente, a neurocien-
imadamente na região superior da cabeça,
tista brasileira Suzana Herculano-Houzel e sua
no “topo”, atrás do lobo frontal. O córtex
equipe encontraram relações entre a espessura do
está envolvido com processamentos de alto
córtex e essas dobras, indicando que, se o córtex
nível, como memória, atenção, linguagem
for muito espesso, não consegue ficar “amassa-
e percepção, que são funções chamadas de
do”, “dobrado”, explicando, assim, por que alguns
funções cognitivas, como veremos a seguir
animais possuem córtices enrugados, enquanto
(KANDEL, 1995).
outros são lisos. Essa pesquisa foi tão importante
que foi publicada em uma das revistas científicas
de maior renome, a Science.

Anatomicamente, o córtex pode ser dividi-


do em quatro partes distintas, chamadas de
lobos cerebrais, que são: lobo frontal, local-

95/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


2 DIVISÕES DO CÓRTEX CERE- • Lobo parietal: relacionado com sen-
BRAL E INTRODUÇÃO ÀS FUN- sação tátil e imagem corporal.
ÇÕES COGNITIVAS • Lobo temporal: relacionado à audi-
ção, memória, emoção e aprendizado.
Como dito, alguns processos mentais estão
• Lobo occipital: relacionado principal-
mais relacionados a determinadas regiões
mente à visão.
do cérebro, enquanto outros são mais di-
fusos. A seguir, os lobos e as suas funções
mais características (BEAR, 2002; KANDEL,
1995):
• Lobo frontal: relacionada ao planeja-
mento de ações futuras, controle dos
movimentos, fala, escrita e linguagem
articulada. Esse lobo é o que possui
maior importância cognitiva, e, em-
bora outros primatas também o pos-
suam, são os humanos que detêm os
lobos frontais mais desenvolvidos.
96/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
O córtex cerebral é organizado de maneira
Para saber mais bastante curiosa. Cada um dos hemisférios
está relacionado principalmente com as
Foi Paul Broca, em 1861, que deu início a inves-
funções do outro lado. Ou seja, o hemisfé-
tigação científica dos distúrbios dos processos
rio direito “comanda” as sensações e movi-
mentais ao perceber que um paciente com uma
mentos do lado esquerdo do corpo e o lado
lesão no lobo frontal esquerdo era capaz de com-
esquerdo “comanda” o que ocorre no lado
preender palavras, mas não de produzi-las, pos-
direito. Interessante, não?
tulando que essa região era, portanto, respon-
sável pela produção da fala. Essa descoberta foi Outra característica bastante importan-
bastante importante pois, diferentemente de te do córtex cerebral se deve ao fato de os
Gall, Broca utilizou um método científico, basea- hemisférios direito e esquerdo não serem
do em observações de fatos realmente relaciona- simétricos nem equivalentes em relação às
dos (lesão específica com alterações de compor- suas funções.
tamento), estabelecendo a localização de uma Dentre essas funções cerebrais, estão as
função complexa como a fala. Além disso, através funções cognitivas, que são funções men-
desta descoberta, mostrou-se pela primeira vez a tais superiores, de maior complexidade e
relação do hemisfério esquerdo com a linguagem que exigem a coordenação de partes dis-
(LURIA, 1981). tintas do cérebro. O estudo do modo como
97/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
o cérebro processa as informações e a ma- 3 AS PRINCIPAIS FUNÇÕES COG-
neira como essas informações do mundo NITIVAS
externo fazem sentido para nós e, ainda,
como podem ser utilizadas nas mais diver- Como dito anteriormente, as funções cogni-
sas atividades humanas são assuntos estu- tivas envolvem partes distintas do cérebro,
dados pela Psicologia Cognitiva e possuem pois é um processo complexo que precisa
estreita relação com a Pedagogia e a Neu- da integração de diversas capacidades. Va-
roaprendizagem, visto que através dessas mos entender melhor as funções cognitivas
pode-se compreender o processo da apren- (KANDEL, 1995; LEE, 2005).
dizagem.
a) Percepção: está relacionada com os
A seguir, você poderá iniciar os estudos das sentidos (como visão, audição, tato,
principais funções cognitivas, que são: per- podendo envolver integração de di-
cepção, atenção, memória, linguagem e versos lobos) através dos quais po-
funções executivas. demos perceber o mundo e seus ele-
mentos a nossa volta, tornando-nos
capazes de reconhecer, organizar,
dar significado e sentido aos objetos
e seres que nos cercam. A percepção
98/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
não é uma função cognitiva perfeita e estímulo/informação ou dividida para
ilusões visuais podem acontecer, por mais de um elemento. Nas ativida-
exemplo. Isso porque nosso cérebro des do dia a dia, dificilmente estamos
está acostumado a buscar padrões, focados em apenas um elemento ou
encontrar semelhanças, agrupar el- tarefa e com frequência precisamos
ementos e algumas imagens podem fazer várias coisas ao mesmo tempo.
“enganar” nosso cérebro. Quando dirigimos, por exemplo, te-
mos de prestar atenção no carro que
está na frente, mas também na sinali-
Link zação das ruas, no limite de velocida-
BALDO, M.V.C. & HADDAD, H. Ilusões: o olho má- de, nos pedestres e em vários outros
gico da percepção. Disponível em: <http://www. elementos. Também é possível que a
scielo.br/pdf/%0D/rbp/v25s2/a03v25s2. atenção ocorra de modo não cons-
pdf>. Acesso em: 19 dez. 2016. ciente ou subliminar quando não es-
tamos focando em algo “de propósi-
b) Atenção: pode ser entendida como to”, mas o elemento é relevante para
a capacidade de concentração que nós, chamando-nos a atenção.
pode ser focada em um determinado

99/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


c) Memória: é fácil perceber a importân- Existem diversas subdivisões possí-
cia da memória tanto para as tarefas veis para a memória e mesmo “tipos”
cotidianas como para o aprendizado. diferentes, podendo ser chamadas de:
Mas o que é memória, afinal? Trata-se (GROOME, D et al., 2016).
do processo de guardar informações e I. Declarativas ou explícitas: englobam
experiências para possível recupera- eventos autobiográficos, próprios e
ção no futuro. Essa habilidade permi- particulares de cada pessoa (como
te que informações adquiridas sobre lembrar-se de como você se sentiu na
o mundo e sobre nós mesmos sejam última viagem que fez) e conhecimen-
usadas para lidar com situações fu- tos de fatos (como saber que a capital
turas baseadas em experiências pas- do Brasil é Brasília).
sadas. Os processos de pensar e solu-
cionar problemas estão diretamente
relacionados com a memória e é tam-
Para saber mais
As memórias declarativas ou explícitas podem
bém a memória que nos possibilita ser ainda subdividias em memória episódica
adquirirmos a linguagem, função hu- (eventos autobiográficos, próprios de cada indi-
mana bastante importante que será víduo) e memória semântica (conhecimento de
tratada a seguir. fatos, comumente aprendidos na escola).

100/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


II. Não declarativa ou implícita: dá-se d) Linguagem: atividades envolvendo
através da repetição e prática, con- linguagem são absolutamente co-
solida-se de maneira mais lenta, mas muns no nosso cotidiano: nós con-
também dificilmente é esquecida versamos com nossos familiares, ou-
após ser adquirida. É a memória para vimos as notícias do jornal, falamos
habilidades e hábitos, como andar de ao telefone. Mas não é impressionan-
bicicleta. te que, através de sons emitidos de
Em relação ao tempo de duração, as nossas bocas, nós possamos nos fa-
memórias podem ser divididas em zer entender por outros seres de nos-
imediatas, recentes e remotas. A pas- sa espécie e também entendermos
sagem de tempo entre a memória re- quando outros querem passar alguma
cente para a memória remota não é mensagem para nós, tanto de forma
bem delimitada, mas sabe-se que as falada quanto escrita? A habilidade
informações são transferidas gradu- para a linguagem possui intercone-
almente de áreas temporais para es- xões com outras capacidades cogni-
truturas onde serão armazenadas de tivas, sem dúvida, mas trata-se tam-
modo mais permanente. bém de uma habilidade relativamente
autônoma. Muitos dos conhecimen-

101/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


tos sobre o funcionamento da lingua- sentimentos, emoções e coisas ab-
gem vieram de estudos de distúrbios stratas ou realizar cálculos matemáti-
de linguagem ocasionados por lesões cos de cabeça. A linguagem é uma ha-
cerebrais, como já citados nesta aula. bilidade tão importante que permitiu
Para a maioria dos indivíduos, princi- ao homem passar conhecimentos de
palmente para os destros, as funções uma geração para outra, possibilitan-
de linguagem ficam localizadas no do que os conhecimentos adquiridos
hemisfério esquerdo. não fossem perdidos. Imagina como
A linguagem simbólica é uma das car- seria se não tivéssemos registros das
acterísticas tipicamente humanas e a descobertas já feitas? Certamente,
que mais diferencia o homem das de- não teríamos as tecnologias que pos-
mais espécies. Mesmo animais como suímos hoje e o mundo seria muito
papagaios que podem emitir palavras diferente do que conhecemos.
ou outros animais que podem ser tre-
inados para reconhecer palavras fala-
das não possuem a capacidade de
atribuir significados abstratos como
nós, homens, fazemos para comunicar
102/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
para determinadas situações, além de
Link estarem relacionadas com a flexibili-
dade cognitiva, possibilitando pensar
SABBATINI, R. M. E. A Evolução da Inteligên- em soluções criativas para problemas,
cia. Parte 5: Linguagem e Evolução. Disponí- adaptando-se a situações novas.
vel em: <http://www.cerebromente.org.br/
n12/mente/evolution/evolution05_p.html>.
Acesso em 15 dez. 2016. Link
FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conati-
e) Funções executivas: essas funções vas e executivas na aprendizagem: uma abordagem
estão relacionadas principalmente neuropsicopedagógica. Disponível em: <http://
ao lobo frontal e envolvem habili- pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
dades de planejamento, execução e arttext&pid=S0103-84862014000300002>.
resolução de tarefas, incluindo hab- Acesso em: 15 dez. 2016.
ilidades de tomada de decisões, ra-
ciocínio, estratégias e lógica. Também As funções cognitivas são, portanto, funda-
incluem o autocontrole, impedindo mentais para a aprendizagem. Não é pos-
que sejam realizados impulsos e von- sível aprender um conteúdo novo sem que
tades que podem não ser adequados a atenção esteja voltada para o que se quer
103/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral
aprender, ou que a memória mantenha as
informações guardadas para serem utiliza-
das quando necessário. Aprender também
envolve funções executivas, através de es-
colhas e autocontrole, por exemplo. Quem
nunca sentiu vontade de fazer outra coisa
ao invés de estudar, mas manteve-se firme
ao texto? Aprender ainda está relacionado
com a maneira como percebemos o mundo
e tudo isso não seria possível se não pudés-
semos nos comunicar uns com os outros,
passando o que aprendemos e questionan-
do sobre o que ainda não entendemos, at-
ravés da linguagem.

104/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


Glossário
Funções cognitivas: habilidades mentais que permitem o raciocínio, a aquisição e manutenção
de conhecimentos que constituem o intelecto. Entre essas funções, estão a percepção, a memó-
ria, a linguagem, a atenção e funções executivas.
Cognição: processos mentais do conhecimento que ocorrem através da percepção, da atenção,
dos sentidos, pensamentos, memórias e representações.
Simbólica: referente a símbolos. Atribuição de mais de um significado para um ser, coisa, objeto
ou imagem. Qualquer coisa usada para representar ou substituir outra.

105/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


?
Questão
para
reflexão

A neurociência e a neuroaprendizagem trazem diversos esclare-


cimentos sobre a forma como os conhecimentos são adquiridos
e como podem ser mantidos e preservados pelos indivíduos, as-
suntos de suma importância para a aprendizagem. Mas de que
forma os conhecimentos da neuroaprendizagem possibilitam
práticas pedagógicas que promovam e facilitem a aquisição de
conhecimentos? Como os alunos podem ser orientados em rela-
ção a funções cognitivas como atenção, memória, funções exe-
cutivas? Qual seria o papel da linguagem para estes objetivos?
106/215
Considerações Finais
• O córtex cerebral é formado por dois hemisférios distintos anatômica e fun-
cionalmente e a busca por encontrar relações entre suas regiões e funções
é bastante antiga;
• as principais funções cognitivas são: percepção, atenção, memória, lingua-
gem, funções executivas e todas estão relacionadas com a aprendizagem,
havendo relações entre córtex e tais funções,

107/215
Referências

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lo, v. 25, supl. 2, p. 6-11, Dec. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=s-
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BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso.


Porto Alegre: Artmed, 2002.
FONSECA, V. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma
abordagem neuropsicopedagógica. Rev. Psicoped., São Paulo, v. 31, n. 96, 2014. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000300002>.
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GROOME, D.; EYSENCK, M. W.; ESGATE A. An introduction to applied cognitive psychology.
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108/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


LENT, R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São Paulo:
Atheneu, 2010.
LURIA, A. R. Fundamentos da neuropsicologia. São Paulo: Rd da USP, 1981.
SABBATINI, R. M. E. A Evolução da Inteligência. Parte 5: Linguagem e Evolução. Disponível em:
<http://www.cerebromente.org.br/n12/mente/evolution/evolution05_p.html>. Acesso em: 29
out. 2016.
SALLET, P. C. Prêmio Nobel: dinamite, neurociências e outras ironias. Rev. Psiquiatr. Clín.,
[s.l.], FapUNIFESP, v. 36, n. 1, p.37-40, 2009. SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0101-
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Acesso em: 9 out. 2016.

109/215 Unidade 4 • Introdução às funções cognitivas e o córtex cerebral


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Aula 4 - Tema: Introdução às funções cognitivas Aula 4 - Tema: Introdução às funções cognitivas
e o córtex cerebral. Bloco I e o córtex cerebral. Bloco II
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e61829cedf78a7dc8f46116dce557907>. 1d/680e2a8d1ad94de77b65bfe0b2463295>.

110/215
Questão 1
1. Sobre a relação entre processos mentais e estruturas cerebrais, é correto
afirmar:

a) Hoje, todos os processos mentais podem ser facilmente localizados no cérebro.


b) É recente a busca por relações entre processos mentais e estruturas cerebrais.
c) Alguns processos mentais específicos podem ser localizados com certa precisão no cérebro,
outros não.
d) As descobertas do anatomista Gall são consideradas corretas e utilizadas até hoje.
e) Não há relações diretas entre processos mentais e estruturas cerebrais.

111/215
Questão 2
2. São funções cognitivas:

a) Visão, audição e tato.


b) Visão, audição, tato, olfato e gustação.
c) Memória, atenção, audição e percepção.
d) Percepção, atenção, olfação e funções executivas.
e) Percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas.

112/215
Questão 3
3. Em relação aos dois hemisférios cerebrais (direito e esquerdo), é correto
afirmar:

a) Os hemisférios cerebrais não são divididos em direito e esquerdo.


b) Ambos os hemisférios são responsáveis pelas mesmas funções.
c) Os dois hemisférios são iguais tanto em relação à estrutura como em relação à função.
d) Os dois hemisférios são distintos estruturalmente.
e) O hemisfério direito é “responsável” pelo que ocorre no lado direito do corpo e o hemisfério
esquerdo é “responsável” pelo lado esquerdo.

113/215
Questão 4
4. Sobre a linguagem, assinale a alternativa correta:

a) É uma função cognitiva comum a todos os primatas.


b) É uma habilidade complexa que possui caráter simbólico apenas na espécie humana.
c) Papagaios capazes de dizer palavras conseguem compreender o significado abstrato delas.
d) Para a maioria dos indivíduos destros, a linguagem está localizada no hemisfério direito.
e) É uma função executiva secundária.

114/215
Questão 5
5. O córtex cerebral humano:

a) pode ser dividido em quatro lobos;


b) é bastante espesso e por isso o homem pode ser mais “inteligente”;
c) tem o lobo frontal como região menos relacionada a funções cognitivas;
d) pode ser comparado com o tronco de uma árvore;
e) é bastante liso e homogêneo o que o diferencia de outros animais.

115/215
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: B.

À medida que aumenta a complexidade A Linguagem é uma função cognitiva bas-


dos processos mentais, a localização exata tante importante e através dela é possível
dessas funções torna-se inapropriada, vis- passar e adquirir conhecimentos. Apenas os
to que várias regiões podem ser recrutadas seres humanos possuem linguagem simbó-
para executá-las. lica, ou seja, são capazes de atribuir senti-
dos abstratos para as palavras e as ideias.
2. Resposta: E.
5. Resposta: A.
São funções cognitivas: percepção, atenção,
memória, linguagem e funções executivas. O córtex cerebral pode ser dividido em 4 lo-
bos: frontal, temporal, parietal e occipital.
3. Resposta: D.

Os dois hemisférios cerebrais, apesar de pa-


recerem similares, são distintos tanto estru-
turalmente quanto funcionalmente.

116/215
Unidade 5
Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)

Objetivos

1. Definir o que é neuroplasticidade.


2. Apresentar como a neuroplasticidade
ocorre (componentes biológicos).
3. Apresentar dicotomias entre compor-
tamentos inatos e aprendidos.
4. Apresentar relações entre aprendiza-
gem e neuroplasticidade.

117/215
Introdução

A sobrevivência e sucesso da espécie huma- de? A resposta é parecida com a que explica
na são surpreendentes. O homem é capaz porque o homem pode viver em ambientes
de viver em contextos bastante diversos: tão diferentes, ou seja, as bases neurológi-
em locais muito frios, como o Alaska ou em cas da aprendizagem estão relacionadas à
locais muito quentes, como Mali (África); capacidade do ser humano de adaptar-se,
em elevadas altitudes, como La Paz e abaixo moldar-se às situações.
do nível do mar, como em Amsterdã; em Isso tudo é resultado de um longo processo
regiões desérticas, como em Dubai; e ain- evolutivo no qual as condições extremas e
da em locais alagados, como Veneza. Mas o as instabilidades do ambiente, juntamente
que permitiu ao homem esta variedade de com o desenvolvimento do sistema nervoso
possibilidades? e do cérebro, propiciaram as capacidades
A resposta é: sua capacidade de adaptação. de adaptar-se, flexibilizar-se e de aprender.
A habilidade de moldar-se às necessidades A definição de inteligência da enciclopédia
e de se adaptar as situações adversas foi o Britânica também traz o termo “adaptar”:
que permitiu que habitássemos essa grande “inteligência é a capacidade de se adaptar
variedade de regiões da Terra. efetivamente ao ambiente”, mudando a si
O que exatamente isso tem a ver com o tema mesmo, o ambiente ou mudando-se para
da aula, aprendizagem e neuroplasticida- outro ambiente.
118/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
1 O QUE É NEUROPLASTICIDADE? da por muitos anos, principalmente se o
evento teve importância significativa para o
Neuroplasticidade consiste na habilidade sujeito. Tanto no exemplo do cérebro lesio-
do sistema nervoso de sofrer alterações de nado como no acontecimento novo temos
suas funções ou estruturas para se adequar a ocorrência de neuroplasticidade (LENT,
às necessidades geradas pelo meio ambi- 2008).
ente. É o que acontece, por exemplo, quan-
do parte do cérebro é lesionado devido a um 2 COMO OCORRE A NEURO-
acidente, podendo ocasionar um redirecio- PLASTICIDADE?
namento de determinadas funções para
partes preservadas do cérebro que antes O desenvolvimento do sistema nervoso ini-
não possuíam tais atribuições. cia-se muito antes do nascimento, na fase
Mas não precisamos nem pensar em algo embrionária, mas continua após o nasci-
tão grave ou complexo. Algo muito simples mento. Nesse período inicial, chamado de
e corriqueiro, como quando nos deparar- período crítico, o sistema nervoso é ima-
mos com algum acontecimento novo, pode turo e o ambiente o influencia fortemente.
ocasionar alterações sinápticas que façam O período crítico é diferente para regiões
com que aquela situação fique memoriza- e sistemas neurais diversos, sendo que al-

119/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


guns comportamentos são naturais, ina-
tos, como o ato das tartarugas marinhas se Para saber mais
dirigirem ao mar logo após saírem do ovo. O ato de as tartarugas recém-nascidas de ovos
Já outros comportamentos e ações tem um postos em praias correrem para o mar é um exem-
período “certo” para ocorrer e, uma vez que plo de comportamento inato. Comportamentos
não se derem dentro deste período, jamais inatos são comportamentos geneticamente des-
poderão ser adquiridos de maneira ideal. tinados a ocorrerem, não são flexíveis nem muda-
No caso da linguagem nos seres humanos, dos pela experiência, e se dão sempre da mesma
por exemplo, esse período vai até meados forma. Elas são “programas” para agirem dessa
da adolescência (OTTA et al., 2003). forma, mesmo que o animal se encontre isolado,
sem outros membros de sua espécie para ensi-
nar lhes como agir. Diferem de comportamentos
aprendidos, que dependem da experiência e que
podem ser aprendidos (OTTA et al., 2003).

Após o término do período crítico, o sistema


nervoso ainda possui alguma capacidade
de neuroplasticidade, mas na idade adulta
120/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
a neuroplasticidade é diferente da ontoge- Mas é possível que o sistema nervoso se
nética (que ocorre durante o crescimento regenere? Até pouco tempo acreditava-se
do indivíduo, através do desenvolvimento e que não, mas pesquisas mais atuais apon-
da aprendizagem). No adulto, ocorre prin- tam para uma resposta menos definitiva
cipalmente plasticidade relacionada às si- e, em algumas situações, através da neu-
napses, que está diretamente relacionada rogênese, isso é possível.
com a memória e também com a aprendi- Neurogênese, portanto, consiste na capaci-
zagem (LENT, 2008). dade dos neurônios de se proliferarem. No
O sistema nervoso e mais restritamente os início da vida, a proliferação de neurônios
neurônios são de extrema importância para já era bem conhecida, evento que ocorre
as capacidades cognitivas, necessárias para antes dessas células do sistema nervoso se
a aprendizagem. Perder neurônios está rela- diferenciarem, ou seja, se “adequarem” às
cionado com o decaimento de funções inte- funções e características da região cerebral
lectuais importantes, como memória, orien- a que passam a pertencer.
tação e linguagem. É o que ocorre na doença A grande boa notícia é que na fase adulta
de Alzheimer, por exemplo. Assim, em caso algumas regiões do cérebro mantêm a ca-
de lesões neuronais seria de grande interes- pacidade de neurogênese, graças à pre-
se que houvesse regeneração dessas células. sença de células-tronco (células não dif-
121/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
erenciadas que podem dar origem à diver- 3 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DA
sos tipos de células). No entanto, as célu- NEUROPLASTICIDADE
las-tronco presentes no encéfalo não são
iguais àquelas presentes nos embriões. No Existem diferentes tipos de neuroplastici-
feto, as células-tronco podem se diferenciar dade, que podem ser divididas em:
em qualquer tipo celular e no encéfalo adul-
1) Morfológica: relacionado às estrutu-
to essas células possuem mais restrições.
ras e formas das partes constituintes
dos neurônios (axônios e dendritos)
e às sinapses na ontogênese. Nos
Link adultos, são caracterizadas principal-
SWAMINATHAN, N. Cientistas testemunham a mente por formação de novas sinaps-
neurogênese. Scientific American Brasil. Dispo- es e por plasticidade de axônios no
nível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/ sistema nervoso periférico. Em aspec-
noticias/cientistas_testemunham_a_neuro- tos gerais, possuem forte intensidade
genese.html> . Acesso em: 15 dez. 2016. de neuroplasticidade em crianças em
desenvolvimento e intensidade mais
fraca em adultos.

122/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


2) Funcional: refere-se às alterações na Um fenômeno curioso da neuroplasticidade
fisiologia neuronal (principalmente é a síndrome do membro fantasma, que
durante a fase ontogenética) e sináp- consiste em indivíduos que continuam ten-
tica (em adultos). Tanto em crianças do sensações (incluindo dor) em membros
como em adultos apresentam forte do corpo mesmo após a amputação destes.
intensidade de plasticidade. Esse fenômeno é amplamente documenta-
3) Comportamental: esse aspecto ocorre do e hoje se sabe que se deve à neuroplasti-
tanto em crianças como em adultos cidade funcional.
e possui intensidade forte na neuro- Os membros do corpo possuem áreas no
plasticidade. Está relacionado a alter- córtex cerebral responsáveis por receber
ações ocorridas através da aprendiza- suas informações e, quanto mais utilizada a
gem e da memória e de certo modo é região do corpo, maior é sua representação
o aspecto que depende mais da von- no cérebro. Assim, as mãos, que são muito
tade e empenho dos indivíduos para utilizadas para diversas tarefas, por exem-
ocorrer, visto que, ao longo de quase plo, apresentam grande área de represen-
toda a vida, podemos nos expor à situ- tação no córtex cerebral. Após o membro ser
ações que gerem plasticidade neuro- amputado, a região do córtex anteriormente
nal comportamental. responsável por essa região fica inativa, pois
123/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
não lhe chegam mais informações prove- 4 INATO VS. APRENDIDO
nientes do membro agora inexistente. No
entanto, no cérebro o tecido continua vivo Como rapidamente visto anteriormente
e regiões vizinhas responsáveis por rece- nesta aula, há uma dicotomia importante
ber informações de outras partes do corpo entre comportamentos inatos e aprendidos.
que não a amputada passam a se apropri- Para alguns exemplos óbvios, parece ser
ar dessa região. A área de representação do fácil e seguro dizer que algo é inato (como
membro fantasma pode ser, assim, ativada o exemplo já usado da corrida das tarta-
por regiões corporais vizinhas. rugas recém-nascidas para o mar) ou que
outros comportamentos são aprendidos,
como a habilidade de escrita (embora sejam
Link necessárias características inatas aos seres
humanos para a aquisição dessa aprendiza-
SILVA, A. B. Dor é a sensação mais bem documen-
gem, ainda podemos dizer que se trata de
tada. Folha de S.Paulo Ciência, São Paulo, 26 nov.
algo aprendido, adquirido).
2000. Disponível em: <http://www1.folha.uol.
com.br/fsp/ciencia/fe2611200004.htm>. Para a maioria dos casos, no entanto, definir
Acesso em: 15 dez. 2016. um comportamento como inato ou apren-
dido trará possibilidades de erros e equívo-
124/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
cos, visto que a maioria dos comportamentos são complexos e oriundos da combinação de car-
acterísticas inatas e aprendidas (OTTA; RIBEIRO; BUSSAB, 2003).

Link
A dicotomia sobre inato VS. aprendido é vastamente discutida na literatura científica em estudos de
psicologia e etologia. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/revistacfh/article/
view/25381/22302>. Acesso em: 15 dez. 2016.

Para saber mais


Estudos com gêmeos idênticos (monozigóticos) e de gêmeos fraternos (dizigóticos), bem como de crianças
adotadas, são de grande interesse para a ciência. No caso de gêmeos idênticos criados de modo separado,
são de grande ajuda para compreender componentes inatos e aprendidos dos comportamentos, visto que
se trata de pessoas geneticamente iguais com contextos sociais e de aprendizado diferentes.

125/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


Para saber mais
Um estudo importante conhecido como “o estudo de Minessota de gêmeos idênticos criados em sepa-
rado”, realizado por Bouchard, demonstra que há uma alta correlação de escolha profissional e de QI em
gêmeos monozigóticos criados em separado em relação à gêmeos não idênticos criados em separado,
revelando que a genética possui um fator importante para a determinação da personalidade e das capa-
cidades intelectuais. O próprio Bouchard, no entanto, salienta que o ambiente e o aprendizado não devem
ser menosprezados.

5 APRENDIZAGEM E NEUROPLASTICIDADE

O sistema nervoso central e seus neurônios são formados através de componentes inatos, ge-
néticos e permitem a formação de organismos bastante complexos – nós, seres humanos – com
aparatos suficientes e capazes de aprender.
Mas qual a relação, afinal, da aprendizagem com a neuroplasticidade? A aprendizagem consiste
em mudanças de comportamentos que são possíveis através de experiências com o meio ex-
terno. É o resultado da relação entre nossas capacidades físicas neurológicas e o meio em que
vivemos.
126/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)
Relembre-se que a neuroplasticidade é a
propriedade do sistema nervoso de se mo-
dificar (função ou estrutura) para se ade-
quar às demandas do meio ambiente, se
adaptar. Temos, assim, que a neuroplastici-
dade é uma das bases para o aprendizado.
É a neuroplasticidade que permite que es-
tabeleçamos novas relações entre os acon-
tecimentos e criemos memórias, ou seja,
aprendamos.

127/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


Glossário
Inato: refere-se ao que faz parte do indivíduo desde o seu nascimento, natural do indivíduo, ine-
rente.
Ontogenético: termo utilizado para se referir ao desenvolvimento e evolução de um indivíduo
em específico, de acordo com sua espécie. Por exemplo: crianças costumam começar a andar por
volta de 1 ano de idade, mas cada criança tem o seu próprio “momento” ontogenético de andar,
podendo ser um pouco antes ou um pouco depois.
Neurogênese: processo de geração de neurônios através de células-tronco. No início da vida,
dá-se de modo mais amplo, mas estudos recentes indicam que esse processo continua ao longo
da vida em algumas regiões específicas.

128/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


?
Questão
para
reflexão

Como você viu, a aprendizagem necessita tanto de


componentes internos, inatos e biológicos como situa-
cionais, relacionados a contextos sociais e do meio ex-
terno. Reflita sobre possíveis ações e limitações para
promover melhores condições de aprendizado no Brasil,
levando-se em conta que a neuroplasticidade é uma de
suas bases.

129/215
Considerações Finais

• A capacidade de adaptação do ser humano foi essencial para possibilitar a


ocupação e sobrevivência nos mais diversos locais da terra, bem como para
a aprendizagem;
• a neuroplasticidade consiste na habilidade do sistema nervoso de sofrer al-
terações para se adequar as necessidades geradas pelo meio ambiente;
• a neuroplasticidade está presente em crianças e em adultos, mas em crian-
ças é mais abrangente;
• há diferentes tipos de neuroplasticidade, entre eles: morfológico, funcional
e comportamental;
• existem comportamentos inatos e aprendidos, mas a maioria dos compor-
tamentos humanos são complexos e consistem na combinação de elemen-
tos tanto inatos quanto aprendidos;
• neuroplasticidade é uma das bases para a aprendizagem.

130/215
Referências

LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.


LENT, R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São Paulo:
Atheneu, 2010.
OTTA, E.; RIBEIRO, F. L.; BUSSAB, V. S. R. Inato VS. Adquirido: a persistência da dicotomia. Revista
de Ciências Humanas, EdUFSC, n. 34, p. 283-311, 2003. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.
br/index.php/revistacfh/article/view/25381/22302> Acesso em: 15 nov. 2016.

SILVA, A. B. Dor é a sensação mais bem documentada. Folha de S.Paulo Ciência, São Paulo, 26
nov. 2000. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe2611200004.htm> Aces-
so em: 2 nov. 2016.
SWAMINATHAN, N. Cientistas testemunham a neurogênese. Scientific American Brasil. Dis-
ponível em: <http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/cientistas_testemunham_a_neurogenese.
html> Acesso em: 10 nov. 2016.

131/215 Unidade 5 • Bases neurológicas da aprendizagem (neuroplasticidade)


Assista a suas aulas

Aula 5 - Tema: Bases neurológicas da aprendi- Aula 5 - Tema: Bases neurológicas da aprendi-
zagem (neuroplasticidade). Bloco I zagem (neuroplasticidade). Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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38cf006de7a9f1886d6773a4274c40ac>. f02371f7f53789abeb4057cbbd2f6474>.

132/215
Questão 1
1. O que é neuroplasticidade?

a) A ciência que estuda o cérebro.


b) A ciência que estuda o encéfalo.
c) Estudo do plástico e seus componentes.
d) A ciência que estuda os nervos.
e) Habilidade do sistema nervoso de sofrer alterações de suas funções ou estruturas para se
adequar às necessidades geradas pelo meio ambiente.

133/215
Questão 2
2. Sobre os conceitos de inato e adquirido, podemos afirmar:

a) Inato é tudo aquilo que é desenvolvido por meio da aprendizagem.


b) Adquirido refere-se aos conhecimentos aprendidos por meio de experiências ao longo da
vida.
c) Humanos não apresentam comportamentos inatos, apenas adquiridos.
d) O ato de as tartarugas correrem para o mar ao nascerem é um exemplo de comportamento
adquirido, desenvolvido por observação do comportamento dos pais.
e) Animais não humanos não apresentam comportamentos adquiridos, apenas inatos.

134/215
Questão 3
3. Sobre tipos e características da neuroplasticidade, é correto afirmar que:

a) existem tipos diferentes de neuroplaticidade, incluindo morfológico, funcional e comporta-


mental;
b) existe apenas um tipo de neuroplasticidade, a neuroplasticidade morfológica;
c) a neuroplasticidade comportamental refere-se às alterações na fisiologia neuronal (princi-
palmente durante a fase ontogenética) e sináptica (em adultos);
d) a neuroplasticidade morfológica está relacionada a alterações ocorridas através da apren-
dizagem;
e) o fenômeno do membro fantasma já foi desmistificado pela ciência.

135/215
Questão 4
4. Período crítico na neuroplasticidade é:

a) o momento em que as células estão sobrecarregadas;


b) igual para todas as regiões cerebrais;
c) o momento em que as células morrem;
d) um período dentro do qual determinada habilidade/capacidade pode ser adquirida e/ou de-
senvolvida;
e) inexistente para a linguagem em humanos.

136/215
Questão 5
5. Sobre gêmeos, sabemos que:

a) são uma aberração da natureza, uma anomalia;


b) é um fenômeno muito raro em humanos;
c) são de interesse especial para a ciência;
d) os fraternos são monozigóticos;
e) apenas os idênticos são de interesse para a ciência.

137/215
Gabarito
1. Resposta: E. ciência celular, a neurociência sistêmica, a
neurociência comportamental e, por fim, a
Neuroplasticidade é a habilidade do sis- neurociência cognitiva.
tema nervoso de sofrer alterações de suas
funções ou estruturas para se adequar às 4. Resposta: D.
necessidades geradas pelo meio ambiente.
Período crítico é o período dentro do qual
2. Resposta: B. determinada habilidade/capacidade pode
ser adquirida e/ou desenvolvida. O período
Sobre os conceitos de inato e aprendido (ad- crítico varia entre regiões cerebrais (para a
quirido), é correto afirmar que adquirido re- linguagem em humanos vai até a adoles-
fere-se aos conhecimentos aprendidos por cência).
meio de experiências ao longo da vida.
5. Resposta: C.
3. Resposta: A.
Estudos com gêmeos idênticos e fraternos
Vimos que as neurociências podem ser são de grande interesse para a ciência. No
agrupadas em cinco níveis ou grandes dis- caso de gêmeos idênticos criados de modo
ciplinas: a neurociência molecular, a neuro- separado, são de grande ajuda para com-
138/215
Gabarito
preender componentes inatos e aprendidos
do comportamento.

139/215
Unidade 6
Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado

Objetivos

1. Apresentar características do desen-


volvimento neurológico.
2. Diferenciar dificuldades escolares de
transtornos de aprendizagem.
3. Classificar os transtornos de aprendi-
zagem através dos subtipos funcio-
nais.

140/215
Introdução

“É de pequenino que se torce o pepino.”


Essa expressão popular antiga reflete o sen- Link
so comum de a infância ser muito impor- MUSTARD, J.F. Desenvolvimento Cerebral Ini-
tante para a formação do indivíduo adulto, cial e Desenvolvimento Humano. Disponível em:
mostrando uma ideia de causa e conse- <http://www.enciclopedia-crianca.com/si-
quência entre o aprendizado nos primeiros tes/default/files/textes-experts/pt-pt/2532/
anos de vida e o comportamento da vida desenvolvimento-cerebral-inicial-e-desen-
adulta. Tal percepção dos “antigos” é bas- volvimento-humano.pdf>. Acesso em: 15 dez.
tante correta. Embora essa relação seja um 2016.
tanto óbvia, o desenvolvimento da criança e
de suas capacidades intelectuais e compor- Em relação ao sistema nervoso propria-
tamentais é um assunto um tanto complexo mente dito, também são diversos os fatores
e multifatorial, devendo-se à interação de que contribuem para um desenvolvimento
eventos biológicos, psicológicos e sociais. saudável. O período inicial do seu desen-
volvimento – que vai desde a concepção,
passando pela gestação e saúde da mãe
durante a gravidez, até aproximadamente
os 8 anos de idade – estabelece a base das
141/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado
funções cerebrais e cognitivas mais com-
plexas. O comprometimento do desenvolvi-
mento neurobiológico inicial poderá trazer
interferências negativas para a estrutu-
Para saber mais
ra biológica e suas funções, modificando, Os seres humanos ao nascer possuem o sistema
inclusive, os constituintes neuroquími- nervoso imaturo, ou seja, são totalmente depen-
cos do cérebro. Assim, eventos adversos dentes da mãe. Isso não é comum para a maioria
em qualquer estágio do desenvolvimento das espécies animais. Camundongos, por exem-
embrionário, fetal e neonatal do sistema plo, são capazes de andar logo após o nascimento
nervoso da criança podem trazer graves e buscar pela mãe para mamar enquanto bebês
consequências para o comportamento e o humanos executam poucos movimentos e são
aprendizado deste indivíduo por toda a sua incapazes de realizar atos pela sua sobrevivência
vida. Nesta aula, você estudará sobre as (apenas chorar). Curiosamente, apesar de poucas
disfunções neurológicas e suas associações capacidades motoras, os humanos já nascem com
com a aprendizagem. capacidades intelectuais para aprender algumas
características de linguagem e reconhecimento
de dimensões sensoriais.

142/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


1 DESENVOLVIMENTO NEURO- incluindo o hipocampo; estrutura impor-
LÓGICO tante para a memória e o sistema límbico;
estruturas relacionadas à emoções como
Como já foi dito, a infância é de extrema im- medo, o que pode influenciar no comporta-
portância no desenvolvimento neurológico. mento e nas funções cognitivas relaciona-
A estimulação dos sentidos é fundamen- das à memória e novamente ao aprendiza-
tal para o desenvolvimento dos indivíduos do. Ainda, o hipocampo, que está envolvido
nos primeiros anos de vida e, quando ela nesse processo, conecta-se e “troca infor-
não ocorre, pode acarretar em prejuízos de mações” com o córtex pré-frontal, que, por
aprendizagem. Tanto estímulos sensoriais sua vez, está associado a funções cognitivas
externos como internos ao cérebro podem superiores (CIASCA, S., 2015).
provocar a produção aumentada (o estres-
se é uma das causas) de corticosteroides,
hormônios produzidos pelas glândulas su-
prarrenais que podem comprometer o siste-
ma nervoso, afetando sistemas e órgãos,
inclusive o cérebro. Quando isso ocorre, há
o comprometimento de circuitos neurais,

143/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


primeira infância para que a aprendizagem
Para saber mais da criança possa se dar de modo adequa-
do. Por outro lado, caso isso não ocorra, di-
O córtex pré-frontal está associado com pro-
ficuldades de aprendizado podem ocorrer.
cessos cognitivos complexos, envolvendo, entre
Mas, quando falamos em dificuldades de
outras atribuições, o planejamento de ações e a
aprendizado, estamos falando exatamente
sequência apropriada dessas para atingir um de-
do quê?
terminado objetivo, análise de riscos e tomada de
decisões. Está ainda interligado com outras di- É importante salientar que dificuldades es-
versas regiões do cérebro, recebendo e enviando colares ou de aprendizado podem signifi-
informações sensoriais, cognitivas e emocionais. car muitas coisas e, igualmente, podem ter
várias causas. Apesar de o componente bi-
2 DIFICULDADES ESCOLARES VS. ológico ser fundamental e necessário para
TRANSTORNOS DE APRENDIZA- o aprendizado, não podemos esquecer que
GEM seres humanos são seres biopsicossociais,
ou seja, somos o resultado da interação de
Então, resumidamente, temos vários me- aspectos biológicos, com componentes psi-
canismos e componentes biológicos que cológicos e sociais. Portanto, fatores rela-
devem se desenvolver adequadamente na cionados à vida pessoal da criança, como
144/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado
questões familiares, afetivas e financeiras, sileira apresenta transtornos de aprendiza-
podem ocasionar dificuldades escolares, gem. Ao se deparar com uma criança com
que são diferentes de transtornos de apren- dificuldades escolares e de aprendizado, os
dizagem. profissionais devem fazer a correta aval-
Transtornos de aprendizagem consistem iação da situação, estabelecendo através
em déficits e dificuldades intrínsecas do in- de critérios (que serão discutidos adiante),
divíduo causadas, aí sim por disfunções do para cada caso em questão, quais as pos-
sistema nervoso central. Essas dificuldades síveis causas. Identificar as causas é impor-
são persistentes durante toda a vida e po- tante para buscar meios de solucionar ou
dem ser de diferentes naturezas, incluindo minimizar as dificuldades, sejam elas cau-
dificuldades de compreensão oral, leitura, sadas por um transtorno de aprendizagem
escrita, raciocínio matemático, entre out- propriamente dito ou por questões não rel-
ras. acionadas a disfunções do Sistema Nervoso
Central. Na presente aula, daremos atenção
Enquanto dados apontam para cerca de especial para os transtornos de aprendiza-
40% das crianças brasileiras com dificul- gem.
dades escolares no início da alfabetização,
apenas cerca de 3 a 5% da população bra-

145/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


3 COMO É FEITA A CLASSIFICA- do, e o CID – Classificação Internacional de
ÇÃO DOS TRANSTORNOS DE Doenças, esse último publicado pela Orga-
APRENDIZAGEM? nização Mundial de Saúde (CIASCA, 2015).
Os manuais buscam padronizar a classifi-
Quando falamos de doenças ou transtor- cação de doenças, sinais e sintomas, mas é
nos, é importante que diversos profission- importante ter em mente que os diagnósti-
ais usem os mesmos critérios para diagnos- cos devem ser utilizados para auxiliar no
ticar alguém. Desse modo, independente tratamento ou na diminuição dos prejuízos
do profissional escolhido, saber que alguém e sofrimentos que a doença ou transtorno
tem transtorno X deve significar que este in- podem trazer ao indivíduo e a todos a sua
divíduo tem algumas características impor- volta, mas não devem ser utilizados para
tantes semelhantes à outra pessoa com o definir alguém. Afinal, somos muito mais
mesmo diagnóstico. Tentando resolver esse complexos do que poderia ser definido por
problema, foram criados manuais como um manual, não é mesmo? Cada pessoa é
o DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico única e apresenta muitas particularidades
de Transtornos Mentais, que é um manual que jamais poderiam ser catalogadas em
americano, mas traduzido e utilizado por sua totalidade.
profissionais de diversas partes do mun-

146/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


Levando em conta a ressalva de que uma ular situações-problema similares aos reais
pessoa jamais será igual a outra, mesmo e observar se a solução oferecida pela cri-
que ambas apresentem as características ança está de acordo com o esperado. Ess-
necessárias para serem classificadas com es testes são padronizados, ou seja, foram
o mesmo diagnóstico, os manuais são bas- aplicados em muitas crianças saudáveis di-
tante importantes também por possibilitar vididas por idade e escolaridade. Assim, é
que cientistas e pesquisadores busquem determinado o desempenho esperado que
formas de tratamento para situações de- um indivíduo em idade e escolaridade sim-
terminadas, trazendo benefícios para toda ilar deveria obter. Um transtorno de apren-
uma população. dizagem será caracterizado por desempen-
De acordo com o DSM, os transtornos de ho abaixo dessa média quando, além desse
aprendizagem são classificados através de desempenho inferior nos testes, também
critérios específicos do desenvolvimento e houver correlação anatomofuncional, que
o diagnóstico é feito através de testes que é determinado por exames neurológicos e
simulam situações de leitura, problemas pela observação comportamental através
matemáticos, orientação espacial, entre do uso de escalas de desenvolvimento. Es-
outros. Podem ser utilizadas também es- sas escalas identificam quando determina-
calas de inteligência, com o papel de sim- das habilidades surgiram e desapareceram

147/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


ao longo do desenvolvimento neurológico Na avaliação de crianças com dificuldades
da criança analisada. São várias as escalas de aprendizagem, é fundamental incluir a
utilizadas e igualmente existem muitos tes- avaliação da atitude da criança (como se
tes para avaliar as capacidades cognitivas. veste, cuidados de higiene e reação ao tes-
No que tange ao exame neurológico tradi- te), bem como os aspectos cognitivos bási-
cional, são diversas etapas que consistem cos, a afetividade e o humor.
em: inspeção de fácies e atitude, medidas
de crânio e avaliação de coluna, equilíbrio 4 CLASSIFICAÇÃO DOS TRANS-
(estático e dinâmico), amplitude dos mov- TORNOS DE APRENDIZAGEM
imentos e força muscular, tônus muscular,
Até chegar à classificação atual, a classi-
trofismos, coordenação, reflexos, sensibili-
ficação dos transtornos de aprendizagem
dade, nervos cranianos, linguagem, sistema
passou por diversas mudanças. Hoje, ela se
nervoso autônomo (respiração, deglutição
dá por subtipos funcionais ligados a fatores
e controle de esfíncteres) e estado mental
do desenvolvimento (CIASCA, 2015):
(orientação em tempo e espaço). Existem
ainda outros exames mais sensíveis a sinais a) Transtornos de aprendizagem verbais:
menores indicativos de problemas neu- grupo heterogêneo relacionado a di-
rológicos. ficuldades da linguagem oral, escrita,
148/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado
velocidade de leitura, desempenho
perceptivo, soletração e processa- Link
mento visual, motor e auditivo. Estu- ZORZI, J. L.; CIASCA, S. M. Caracterização dos er-
dos relacionam esses comprometi- ros ortográficos em crianças com transtorno de
mentos com o hemisfério esquerdo aprendizagem. Disponível em: <http://www.
do cérebro e são os transtornos de scielo.br/pdf/rcefac/v10n3/v10n3a07>.
aprendizagem mais comuns. Entre Acesso em: 18 nov. 2016.
eles, estão: dislexia, disgrafia, disorto-
grafia e discalculia. Os transtornos de aprendizagem mais co-
b) Transtornos de aprendizagem não muns são a dislexia, a disgrafia e a discalcu-
verbais: são distúrbios de coordena- lia (MUSTARD, 2016; CIASCA, 2015):
ção psicomotora, organização espa-
• Dislexia: falha no processamento de
cial, cálculos matemáticos. Estão pro-
leitura e da escrita, com dificuldade
vavelmente relacionados ao hemisfé-
de traduzir sons em símbolos gráfi-
rio direito do cérebro.
cos, bem como dificuldade de com-
preender material escrito. A dislexia
afeta de 5 a 15% da população com

149/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


TA, possuindo, assim, a maior incidên- desta habilidade. As dificuldades po-
cia dentre os transtornos específicos. dem estar relacionadas a diferentes
Pode ser subclassificado como visual aspectos, como construção de frases
(com comprometimento do lobo oc- e caligrafia. Três a 10% da população
cipital), fonológica (quando é o lobo com transtorno de aprendizagem
temporal que está comprometido) e possuem diagóstico de disgrafia.
mista (comprometimento de diversos
lobos).
• Discalculia: dificuldades com concei-
Link
Associação Brasileira de Dislexia. Disponível em:
tos e símbolos matemáticos, incluindo
<http://www.dislexia.org.br/>. Acesso em: 19
reconhecimento numérico, e envolve
dez. 2016.
capacidades de percepção, abstração
e memória. Atinge de 3 a 6% da po- SILVA, S. S, L., Conhecendo a dislexia e a impor-
pulação com transtornos de aprendi- tância da equipe interdisciplinar no processo de
zagem. diagnóstico. Disponível em: <http://pepsic.bv-
salud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
• Disgrafia: nesse transtorno, o proble-
d=S0103-84862009000300014>. Acesso em:
ma está na aquisição da escrita, po-
19 dez. 2016.
dendo ir da incapacidade à diminuição
150/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado
Para saber mais
Embora a dislexia seja caracterizada pela dificul-
dade na leitura e na escrita, alguns escritores fa-
mosos tiveram dislexia. Acredita-se que Agatha
Christe, uma das autoras com mais livros vendi-
dos até hoje, possuía o transtorno. Sobre o assun-
to, ela teria dito: “Eu, por mim mesma, sempre me
reconheci ... como a ‘mais lenta’ da família. Isto
era inteiramente uma verdade e eu sabia disto e
aceitava isto”.

151/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


Glossário
Constituintes neuroquímicos: substâncias químicas presentes no cérebro, entre as quais po-
dem ser hormônios e neurotransmissores, como a adrenalina e a sertralina.
Trofismos: investigação de distúrbios da pele e da musculatura, verificando a ocorrência de de-
formidades e más formações.
Transtornos: seguindo a definição presente no DSM e nos referindo a transtornos mentais, trans-
torno pode ser caracterizado pela perturbação clínica na regulação emocional, com prejuízos
cognitivos ou comportamentais, causando disfunções nos processos psicológicos, biológicos ou
no funcionamento mental.

152/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


?
Questão
para
reflexão

Na sociedade atual, estamos habituados a termos so-


luções rápidas para tudo e as dificuldades e frustrações
são evitadas a todos os custos. Tristezas são erronea-
mente caracterizadas como depressão, assim como
crianças ativas e “brincalhonas” podem ser diagnostica-
das como tendo transtorno de atenção e hiperatividade.
Em que ponto isso pode refletir na supermedicalização
e uso de critérios irreais para diagnosticar crianças com
dificuldades escolares? Será que isso tem ocorrido tam-
bém para os transtornos de aprendizagem?
153/215
Considerações Finais

• O desenvolvimento neurológico é fundamental para o desenvolvimento


cognitivo da criança;
• comprometimentos no desenvolvimento neurológico podem trazer preju-
ízos para toda a vida;
• dificuldades escolares podem ter multicausas;
• transtornos de aprendizagem têm ao menos uma causa biológica;
• transtornos de aprendizagem podem ser subdivididos em verbais e não ver-
bais.

154/215
Referências

BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso.


Porto Alegre: Artmed, 2002.
CIASCA, S. et al. Trantornos de Aprendizagem – Neurociência e Interdisciplinaridade. Ribeirão
Preto: Booktoy, 2015.
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M. Fundamentos da Neurociência e do Comporta-
mento. Rio de Janeiro: Editora Prentice-Hall do Brasil, 1995.
LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed. São
Paulo: Atheneu, 2010.
MUSTARD, J. F. Desenvolvimento Cerebral Inicial e Desenvolvimento Humano. Disponível em:
<http://www.enciclopedia-crianca.com/sites/default/files/textes-experts/pt-pt/2532/desen-
volvimento-cerebral-inicial-e-desenvolvimento-humano.pdf> Acesso em: 20 nov. 2016.

SILVA, S. S. L. Conhecendo a dislexia e a importância da equipe interdisciplinar no processo de


diagnóstico. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 26, n. 81, p. 470-475, 2009. Disponível em: <http://
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862009000300014&lng=pt&n-
rm=iso>. Acesso em: 19 dez. 2016.

155/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


ZORZI, J. L., CIASCA, S. M. Caracterização dos erros ortográficos em crianças com transtorno de
aprendizagem. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v10n3/v10n3a07>. Acesso em:
18 nov. 2016.

156/215 Unidade 6 • Introdução às disfunções neurológicas associadas ao aprendizado


Assista a suas aulas

Aula 6 - Tema: Introdução às disfunções neuro- Aula 6 - Tema: Introdução às disfunções neuro-
lógicas associadas ao aprendizado. Bloco I lógicas associadas ao aprendizado. Bloco II
Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/
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60dcf390816c709f6632213ab98d2a94>. 1d/366841339410c037c2d45ab3cf1c1e4f>.

157/215
Questão 1
1. Sobre o desenvolvimento neurológico nos humanos, é correto afirmar:

a) Os seres humanos, em comparação com os outros mamíferos, nascem preparados para bus-
car a sobrevivência.
b) O período gestacional não possui importância para o desenvolvimento neurológico da crian-
ça, visto que apenas após o nascimento essa será estimulada.
c) O desenvolvimento neurológico inicia-se ainda durante a gestação e continua durante os
primeiros anos da infância.
d) Desenvolvimento neurológico não está associado a transtornos de aprendizagem.
e) O desenvolvimento neurológico humano termina com o nascimento.

158/215
Questão 2
2. É um exemplo de transtorno de aprendizagem:

a) Discalculia
b) Afasia
c) Prosopagnosia
d) Heminegligência
e) Paralisia

159/215
Questão 3
3. Sobre os manuais diagnósticos, é correto afirmar:

a) Servem para definir os indivíduos.


b) Duas pessoas com o mesmo diagnóstico são exatamente iguais.
c) Entre os manuais diagnósticos existentes, está o CIT – Classificação Internacional de Trans-
tornos.
d) Entre os principais manuais diagnósticos existentes, está o DSM – Manual Diagnóstico e Es-
tatístico de Transtornos Mentais.
e) O hemisfério direito é “responsável” pelo que ocorre no lado direito do corpo. E o hemisfério
esquerdo é “responsável” pelo lado esquerdo.

160/215
Questão 4
4. Sobre a avaliação de transtornos de aprendizagem:

a) É necessário fazer avaliações por meio de testes que envolvam habilidades matemáticas e de
leitura e exames neurológicos, para comprovar disfunção do sistema nervoso.
b) É caracterizado apenas por dificuldades na escola.
c) Cerca de 40% das crianças no Brasil são diagnosticadas com transtorno de aprendizagem.
d) São passageiras, deixando de existir na fase adulta.
e) Não está relacionada a dificuldades na escola.

161/215
Questão 5
5. A disgrafia:

a) é caracterizada pela falha no processamento da leitura;


b) é a dificuldade relacionada a conceitos e símbolos matemáticos;
c) afeta de 3 a 6% da população mundial;
d) é o transtorno de aprendizagem mais incidente;
e) consiste na falha da aquisição da escrita.

162/215
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: A.
O desenvolvimento neurológico dos seres Embora crianças com transtorno de apren-
humanos inicia-se na concepção e continua dizagem geralmente apresentem dificulda-
até aproximadamente os 8 anos de idade. des escolares, para fazer o diagnóstico de
transtorno de personalidade é necessário
2. Resposta: A. fazer avaliações por meio de testes que en-
volvam habilidades matemáticas e de leitu-
Discalculia é um exemplo de transtorno de ra e exames neurológicos, para comprovar
aprendizagem. disfunção do sistema nervoso.

3. Resposta: D. 5. Resposta: E.
DSM é um dos principais manuais diagnós- A disgrafia é a falha na aquisição da escri-
ticos para transtornos mentais e sua sigla ta e pode estar relacionada com dificulda-
significa: “Manual Diagnóstico e Estatístico des de formação de frases e caligrafia, entre
de Transtornos Mentais”. outros. Afeta de 3 a 10% da população com
transtornos de aprendizagem.

163/215
Unidade 7
Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desen-
volvimento, fatores pré, peri e pós-natais)

Objetivos

1. Apresentar o desenvolvimento neuro-


lógico e suas funções.
2. Apresentar os fatores genéticos de-
sencadeadores de distúrbios neuroló-
gicos (fatores genéticos, epigenéticos,
pré-natais, perinatais e pós-natais).
3. Introdução das condições associadas
ao risco neurológico (síndromes gené-
ticas, TDAH e deficiência intelectual).

164/215
Introdução
São diversas as áreas que buscam com- de medidas preventivas sejam tomadas. A
preender o neurodesenvolvimento e suas observação de que crianças com dificul-
relações com a aprendizagem, entre elas a dades escolares já apresentavam em idades
neuropsicologia, a genética e a neuroim- anteriores à fase escolar comportamentos
agem. Para que a aprendizagem ocorra, é anormais e comprometimentos cognitivos,
necessário que haja formação de funções motores e de linguagem salientam a im-
que possibilitem a consolidação do conhec- portância dessas observações como modo
imento. Isso ocorre através da interação en- preventivo de danos maiores na aprendiza-
tre aspectos genéticos e ambientais e, para gem.
se dar de modo correto, é preciso que esses
fatores estejam em condições favoráveis, Entre os diversos sinais e sintomas, desta-
com o adequado desenvolvimento do siste- cam-se os elementos de ordem neurobi-
ma nervoso central e a adequada estimu- ológica que devem servir como alerta para
lação ambiental. tal investigação. Entre eles, estão o históri-
co familiar, ou seja, investigar se parentes
A identificação precoce de dificuldades de “de sangue” próximos, como pais e irmão,
aprendizagem, baixo rendimento escolar já foram diagnosticados com transtornos
e de transtornos de aprendizagem é muito de aprendizagem, doenças psiquiátricas e
importante, pois possibilita que uma série de dificuldade de aprendizado. Isso porque
165/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
essas doenças e características possuem problemas de equilíbrio são alguns outros
componentes biológicos genéticos, que po- eventos que devem ser observados ao longo
dem ser passados de pais para filhos. do desenvolvimento infantil. No presente
Outros elementos a serem investigados in- texto, você estudará de forma introdutória
cluem patologias que possam ter ocorrido a fascinante fisiopatologia das disfunções
durante a gravidez (hipertensão arterial, neurológicas durante o desenvolvimento,
uso de drogas incluindo o álcool, ameaças em especial as que estão associadas às di-
de aborto), bem como o parto propriamente ficuldades de aprendizagem (RODRIGUES et
dito, inquirindo aos pais, quando possível, al., 2014).
se a criança em questão nasceu de parto
normal ou cesariana, se nasceu a termo, se
estava com o peso abaixo do esperado etc.
Link
A avaliação de patologias deve incluir ainda MESQUITA, M.A. Efeitos do álcool no recém-nasci-
a investigação de dimorfismos, alterações do. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
de pele, de membros e cabeça. Hipotonia, eins/v8n3/pt_1679-4508-eins-8-3-0368.
atrasos motores, dificuldades de aquisição pdf>. Acesso em: 25 nov. 2016.
de linguagem, ocorrência de crises febris,
infecções, epilepsias, tiques, tremores e
166/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
1 O DESENVOLVIMENTO NEU- tos neuropsicológicos, que envolvem as di-
ROLÓGICO E SUAS FUNÇÕES versas habilidades cognitivas e regulação
emocional e, por sua vez, podem ser avalia-
São muitos os elementos envolvidos no neu- dos por diagnósticos clínico-pedagógicos
rodesenvolvimento, incluindo fenômenos que avaliam, entre outras coisas, a aprendi-
genéticos e ambientais que influenciam na zagem.
formação de neurônios e do sistema ner-
voso em geral. Para compreender o estado
patológico, isto é, quando “algo dá errado” Para saber mais
é fundamental primeiramente saber como é Estudos multicêntricos internacionais têm obti-
o funcionamento adequado das estruturas do informações e agrupado dados genéticos que
em questão. Assim, para compreender as incluem conteúdos sobre mutações, alelos predi-
consequências das “falhas” do sistema ner- tores de doenças, influência de fatores ambien-
voso relacionadas ao aprendizado é preciso tais para a expressão desses genes, entre outros
primeiramente conhecer as etapas normais aspectos genéticos. Esses bancos de dados ge-
do desenvolvimento neurológico humano. néticos são chamados de GWAS (Genomic-Wide
A genética contribui para a formação do Association Study”).
cérebro, pré-requisito para os construc-
167/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
2 FATORES GENÉTICOS DESEN- dos pais. Condições como distúrbios
CADEADORES DE DISTÚRBIOS psiquiátricos, deficiência intelectual,
NEUROLÓGICOS autismo e transtornos de aprendiza-
gem sofrem influências genéticas e
Os fatores desencadeadores de distúrbios investigar a ocorrência destas entre
neurológicos são cinco, sendo (RODRIGUES familiares próximos é um importante
et al,, 2014): passo para fazer o diagnóstico.
1) Fatores genéticos: entre os ditos mais 2) Fatores epigenéticos: consistem em
populares, está o “filho de peixe, pei- mecanismos de regulação do DNA.
xinho é”. São as características gené- Costumam ser mais estáveis do que
ticas que estão atrás dessa expressão os componentes genéticos. Essas al-
e que fazem com que sejamos pare- terações podem ocorrer em doenças
cidos com nossos pais, mas não ape- autoimunes, síndromes e distúrbios
nas características físicas. Aspectos psiquiátricos, como o autismo.
cognitivos e afetivos também pos-
suem componentes biológicos. São
várias reações bioquímicas que são
governadas por nosso DNA, herdado
168/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
versos transtornos e déficits, inclu-
Para saber mais sive de aprendizagem. Esse período
é fundamental para a formação do
O autismo é um distúrbio com diferentes níveis de
sistema nervoso e o uso de drogas (lí-
comprometimento e, por isso, recebe a denomi-
citas, como cigarro e tabaco ou ilíci-
nação de “espectro”, variando desde formas mais
tas, como crack, maconha e cocaína)
brandas as mais severas. Em geral, pessoas com
pode levar a alterações biológicas e/
espectro autista apresentam dificuldades de in-
ou comportamentais ou mesmo in-
teração social com outros humanos, dificuldades
viabilizar o feto.
na comunicação devido à ecolalia (fala repetida)
ou ausência de fala e aspectos comportamentais, 4) Fatores perinatais: o parto é um mo-
com ações e movimentos estereotipados e repeti- mento delicado tanto para a mãe
tivos, além de intolerância a mudanças na rotina. quanto para a criança que nasce. Em-
Embora se saiba da importância do componente bora os bebês humanos a termo não
genético, a forma como isto se dá ainda é incerta. nasçam com o desenvolvimento neu-
rológico e motor finalizado, a prema-
3) Fatores pré-natais: durante a gravi- turidade pode trazer sérios riscos ao
dez são muitos os fatores q ue po- bebê, pois seu desenvolvimento deve
dem influenciar na ocorrência de di- ser suficiente para enfrentar as intem-
169/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
péries do mundo fora do útero, como
a respiração, a capacidade de sucção
para mamar, circulação, etc. Entre os
fatores a serem analisados além da
prematuridade, estão o peso do bebê
Link
ao nascer, a ocorrência de crises epilé- Para compreender melhor o neurodesenvol-
ticas, anóxia perinatal, hipoglicemia vimento de bebês filhos de mães adolescen-
e abstinência de drogas (bebês filhos tes. BARROS, M.C.M et al. Neurocomporta-
de mães usuárias de drogas podem mento de recém-nascidos a termo, pequenos
ter diversos problemas de formação e para idade gestacional, filhos de mães ado-
de neurodesenvolvimento, incluindo lescentes. Disponível em: <http://www.scie-
a inviabilidade do feto e a prematuri- lo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
dade). d=S0021-75572008000300006>. Acesso em:
20 nov. 2016.

170/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
comprometer o neurodesenvolvimen-
Para saber mais to e, por conseguinte, a aprendiza-
gem. Mas não são apenas componen-
Entre as diversas drogas existentes, o álcool é uma
tes biológicos que estão relacionados
droga legal que, quando usado durante a gravidez
à fase pós-natal. Como já foi dito an-
pela mãe, pode levar ao espectro de desordens fe-
teriormente, os bebês humanos são
tais alcoólicas, causando alterações físicas, men-
frágeis e muito dependentes de adul-
tais, comportamentais e de aprendizado no feto.
tos e, neste período inicial da vida em
O cigarro, outra droga lícita, pode aumentar em
que a criança é mais vulnerável, aci-
até 40% os riscos de problemas de desenvolvi-
dentes podem acarretar em sequelas
mento da criança. Assim, os efeitos deletérios das
neurológicas que também podem
drogas lícitas são bastante consideráveis e não
trazer prejuízo para as funções cogni-
podem ser menosprezados (MESQUITA, 2016).
tivas e o aprendizado.
5) Fatores pós-natais: os primeiros anos Após o nascimento, todo o desenvolvimento
da infância são fundamentais para o da criança deve ser acompanhado de perto
desenvolvimento perfeito do cérebro pelos cuidadores e por profissionais compe-
e de suas capacidades. Infecções, in- tentes. O desenvolvimento neuropsicomo-
flamações e diversas doenças podem tor é de especial interesse no que tange à
171/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
aprendizagem. Atrasos no desenvolvimen- criança e aspectos motores e comporta-
to neurológico são comumente associados mentais dela estão incluídos na lista de fa-
a doenças pediátricas, psiquiátricas e difi- tores a serem considerados. Devido a algu-
culdades de aprendizagem acadêmica. Es- mas características similares, como o mau
sas afecções podem ser causadas tanto por desempenho escolar, transtornos de apren-
doença neurológica como ser desencadead- dizagem são comumente confundidos com
as por maus tratos e/ou por condições insu- transtorno de déficit de atenção e hipera-
ficientes de atendimento às demandas e ne- tividade (TDAH), transtornos do espectro
cessidades da criança, incluindo condições autista, distúrbio específico de linguagem,
físicas e psicológicas (RODRIGUES et al., deficiência intelectual, entre outros. O di-
2014). agnóstico diferencial entre transtorno de
Mas como avaliar o desenvolvimento psico- aprendizagem e outras comorbidades é im-
motor? Algumas escalas ajudam os profis- portante para que sejam tomadas medidas
sionais da saúde a verificarem se o desen- que permitam o melhor tratamento possível
volvimento neuropsicomotor da criança em (RODRIGUES et al., 2014).
questão está dentro do esperado para sua Todavia, cuidado, é de suma importância
faixa etária. Avaliação clínica de linguagem, observar esses aspectos, mas também é im-
observação de relacionamentos sociais da portante lembrar que algumas diferenças
172/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
entre indivíduos são esperadas e que pode trole inibitório), juntamente com memória
refletir apenas especificidades e particulari- operacional (de curto prazo), atenção, lin-
dades e não déficits ou transtornos. Apenas guagem, coordenação psicomotora, veloci-
uma avaliação cuidadosa e completa real- dade de deslocamento, ritmo, percepção
izada por profissionais habilitados poderá temporal e espacial. O desenvolvimento in-
confirmar suspeitas e avaliar o grau de com- adequado dessas funções, principalmente
plexidade dos problemas enfrentados pela entre os primeiros cinco anos de vida, pode
criança. ser indicativo de doenças ou problemas
neurológicos (KANDEL et al., 2005).
3 CONDIÇÕES ASSOCIADAS DE Há vários fatores e condições que au-
RISCO NEUROLÓGICO mentam a probabilidade de alterações do
desenvolvimento neurológico ocorrerem e
As habilidades neuropsicomotoras en-
que estão associados a prejuízos escolares.
volvem diversos elementos que são essen-
Entre as principais condições associadas de
ciais para um rendimento escolar adequado.
risco, estão: transtornos do espectro autis-
Entre elas, estão as funções executivas (que
ta, deficiência intelectual, TDAH e deficiên-
englobam capacidades de planejamento,
cia intelectual e serão apresentadas a seguir
análises de risco e tomada de decisões e con-
(RODRIGUES et al., 2014):
173/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
1) Síndromes genéticas: essas doenças auxiliar no atraso do desenvolvimen-
podem ser bastante heterogêneas e to, na prevenção de piora do quadro,
de gravidade variável. Têm como ori- no planejamento familiar e prepa-
gem anomalias no genoma, podendo ração da sociedade (escola e família)
ser de origem cromossômica (o ser hu- para a melhor adequação do indivíduo
mano possui 46 cromossomos dividi- com síndrome genética e dos demais
dos em 23 pares) ou de microdeleções ao seu redor. Entre os exemplos de
(pequenos “defeitos”). Diversos tipos síndrome genética, estão a síndrome
de alterações de neurodesenvolvi- de Turner, quando o indivíduo apre-
mento, a depender do tipo e grav- senta apenas um cromossomo X, com
idade das falhas genéticas, podem menos material genético do que o nor-
ocorrer. Em relação à aprendizagem e mal; e Síndrome de Down, caracteri-
vida escolar, esses indivíduos podem zada por três cromossomos de núme-
apresentar desde disfunções leves até ro 21 e atrasos e dificuldades cogni-
deficiências intelectuais graves. Como tivas em diferentes níveis. O autismo
já salientado, apenas a identificação é uma doença que, apesar de possuir
precoce e a tomada de medidas ade- um forte componente genético, ainda
quadas para minimizar e, quando pos- tem sua origem desconhecida.
sível, solucionar o problema podem
174/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
2) Transtorno de déficit de atenção e evidências do crescimento indevido
hiperatividade: o TDAH é um distúr- do diagnóstico de TDAH, pois muitas
bio do desenvolvimento que como crianças têm seus comportamentos
características principais, como o compatíveis, como brincadeiras e in-
próprio nome indica, incluem défic- quietudes característicos da idade,
it de atenção e comportamento hip- interpretados como indícios de TDAH.
erativo, além da impulsividade. Ess- Novamente, apenas profissionais
es comportamentos e características competentes poderão fazer o diag-
geralmente aparecem antes dos 12 nóstico diferencial.
anos de vida e são persistentes na 3) Deficiência intelectual: indivíduos
adolescência para a maioria dos afe- que apresentam deficiência intelec-
tados por esse transtorno. Os sinais tual são caracterizados pelos pre-
neurológicos precoces incluem atra- juízos significativamente abaixo da
so motor, de fala, agitação e inqui- média para tarefas intelectuais e so-
etação extremos e diferentes das de- ciais, levando-as a apresentar não
mais crianças de mesma faixa etária apenas prejuízos escolares, mas tam-
e educacional, além de dificuldades bém desenvolvimento social e afe-
de funções executivas no geral. Há tivo prejudicados e empobrecidos.
175/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
Os primeiros sinais costumam estar
presentes nos primeiros três anos de
vida e incluem: pouca iniciativa, inter-
ação pobre com o ambiente e com as
outras pessoas, atraso no desenvolvi-
mento da postura e motor, déficit na Link
compreensão e na utilização adequa- AMARAL, A.C.T et al., Avaliações das habili-
da de símbolos, entre outros. dades cognitivas, da cognição e neuromoto-
ras das crianças com risco de alterações do de-
senvolvimento. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1413-65382005000200003>. Acesso em:
19 dez. 2016.

176/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
Glossário
Dimorfismos: termo utilizado na biologia para fazer referência a existência de dois aspectos ou
condições diferentes. O dimorfismo sexual, por exemplo, é caracterizado pelas características de
fisionomia presentes em homens ou em mulheres.
Genoma: toda a informação genética hereditária de um indivíduo, presente na sequência de seu
DNA.
Anóxia perinatal: caracterizado pela ausência ou insuficiência de oxigênio durante o trabalho de
parto e/ou parto. Está relacionada com diversas condições associadas à dificuldade escolar e de
aprendizagem, como autismo, dislexia e discalculia.

177/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
?
Questão
para
reflexão

No presente texto, foi salientada a importância da identifi-


cação precoce de disfunções neurológicas e do correto diag-
nóstico para que medidas preventivas e de minimização de
danos fossem tomadas. Entre essas medidas, estão ações
educativas tanto para possibilitar o melhor do aproveita-
mento acadêmico do indivíduo com as alterações de neuro-
desenvolvimento como para promover a sua inserção social
no meio em que vive. Você consegue citar alguns exemplos
de medidas?
178/215
Considerações Finais

• O desenvolvimento neurológico está correlacionado com diversas funções;


• os cinco fatores desencadeadores de distúrbios neurológicos são: genéti-
cos, epigenéticos, pré, peri e pós-natais;
• as habilidades neuropsicomotoras e as condições associadas de risco neuro-
lógico estão relacionadas com a aprendizagem, ou seja, o comprometimen-
to neuropsicomotor geralmente acarreta em prejuízos de aprendizagem.

179/215
Referências
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da comunicação e neuromotoras de crianças com risco de alterações do desenvolvimento. Rev.
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BARROS, M. C. M. et al. Neurocomportamento de recém-nascidos a termo, pequenos para a
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t&pid=S0021-75572008000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 dez. 2016.
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso.
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MESQUITA, Maria dos Anjos. Efeitos do álcool no recém-nascido. Einstein (São Paulo), São Pau-
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cação precoce às estratégias de intervenção. São Paulo: Book Toy, 2014.
180/215 Unidade 7 • Fisiopatologia das disfunções neurológicas associadas ao aprendizado (neurobiologia do desenvolvimento,
fatores pré, peri e pós-natais)
Assista a suas aulas

Aula 7 - Tema: Fisiopatologia das disfunções Aula 7 - Tema: Fisiopatologia das disfunções
neurológicas associadas ao aprendizado. Bloco neurológicas associadas ao aprendizado. Bloco
I II
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181/215
Questão 1
1. Sobre os fatores desencadeadores de distúrbios neurológicos:

a) São cinco, incluindo fatores genéticos, epigenéticos, pré-natais, perinatais e pós-natais.


b) Os fatores pré-natais se referem ao momento do nascimento.
c) Fatores epigenéticos são mais instáveis do que os fatores genéticos.
d) Os fatores pós-natais não são fundamentais para o neurodesenvolvimento, pois os indiví-
duos já nascem “prontos”.
e) Não há relações diretas entre distúrbios neurológicos e fatores genéticos.

182/215
Questão 2
2. De acordo com a leitura fundamental, é correto afirmar que:

a) o álcool e o cigarro não trazem prejuízos para o feto, pois são drogas lícitas. Apenas drogas
ilícitas podem ocasionar prejuízos no neurodesenvolvimento;
b) algumas escalas ajudam os profissionais da saúde a verificarem se o desenvolvimento neu-
ropsicomotor da criança em questão está acima do esperado para sua faixa etária;
c) entre as principais condições associadas de risco neurológico para prejuízos escolares, es-
tão: transtornos do espectro autista, deficiência intelectual, TDAH e deficiência intelectual;
d) alterações do desenvolvimento neurológico não estão associadas a prejuízos escolares, pois
o desempenho escolar depende da determinação do aluno em aprender;
e) a maioria das crianças com TDAH tem o desaparecimento dos sintomas logo no início da
adolescência.

183/215
Questão 3
3. Sobre indivíduos que apresentam deficiência intelectual, podemos afirmar:

a) Não apresentam sinais da deficiência intelectual nos primeiros anos de vida.


b) Apesar das dificuldades cognitivas, essas pessoas não apresentam alterações comporta-
mentais.
c) Têm como principais características a impulsividade, hiperatividade e déficit de atenção.
d) Apresentam não apenas prejuízos escolares, mas também desenvolvimento social e afetivo
empobrecidos.
e) Preferem o uso de símbolos para se expressarem.

184/215
Questão 4
4. Sobre as síndromes genéticas:

a) Indivíduos que possuem as mesmas síndromes genéticas possuem comprometimentos


idênticos.
b) Entre os exemplos de síndrome genética, estão a síndrome de Turner e a síndrome do ninho
vazio.
c) Síndrome de Down, caracterizada pela ausência de um cromossomo de número 21.
d) Atrasos e dificuldades cognitivas não são características de síndromes genéticas.
e) Têm como origem anomalias no genoma, podendo ser de origem cromossômica ou de mi-
crodeleções.

185/215
Questão 5
5. A respeito do neurodesenvolvimento:

a) O parto é um momento menos crítico e não deve ser encarado com preocupação quando
cuidados pré-natais foram feitos.
b) São diversas as áreas que buscam compreender o neurodesenvolvimento e suas relações
com a aprendizagem.
c) A identificação precoce de dificuldades de aprendizagem e de transtornos de aprendizagem
deve ser evitada, pois apenas traz mais ansiedade para os pais, visto que nada pode ser feito
para minimizar os danos.
d) Habilidades neuropsicomotoras estão relacionadas apenas aos movimentos e não estão re-
lacionadas com a aprendizagem
e) O uso de drogas é inócuo durante a gravidez, podendo trazer prejuízos apenas se a mãe
apresentar dificuldades devido ao uso das drogas para cuidar do bebê após o nascimento.

186/215
Gabarito
1. Resposta: A. dades no âmbito das funções cognitivas e
intelectuais, mas também desenvolvimen-
Os fatores desencadeadores de distúrbios to social e afetivo prejudicados e empo-
neurológicos são 5, incluindo fatores gené- brecidos.
ticos, epigenéticos, pré-natais, perinatais e
pós-natais. 4. Resposta: E.
2. Resposta: C. As síndromes genéticas têm como origem
anomalias no genoma, podendo ser de duas
A única alternativa correta é a C: entre as origens: cromossômica ou de microdele-
principais condições associadas de risco ções.
neurológico para prejuízos escolares, estão:
transtornos do espectro autista, deficiência 5. Resposta: B.
intelectual, TDAH e deficiência intelectual.
São diversas as áreas que buscam compre-
3. Resposta: D. ender o neurodesenvolvimento e suas re-
lações com a aprendizagem, entre elas a
Indivíduos que apresentam deficiência in- neuropsicologia, a neurologia, a genética e
telectual apresentam não apenas dificul- a neuroimagem.
187/215
Unidade 8
Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado

Objetivos

1. Conceituar neuroeducação.
2. Pontuar conceitos sobre aprendizado
do ponto de vista neurológicos.
3. Revisar contribuições da pesquisa
neurocientífica para o aprendizado.

188/215
Introdução

As neurociências têm mais em comum com cação neuronal. De fato, se um circuito de


a educação do que a jovem e crescente neu- neurônios que participa de um determina-
roeducação poderia imaginar. Sabemos que do processo é ativado repetidamente, te-
os neurônios, a unidade básica do sistema mos um processo de aprendizagem através
nervoso, são capazes de aprender. Embora do estabelecimento de novas sinapses ou
do ponto de vista fisiológico “aprendizado” do reforço de sinapses existentes. Essa ca-
signifique algo específico para o sistema pacidade de o tecido nervoso se reinventar
nervoso, no geral, podemos dizer que circu- conforme a necessidade é a famosa neu-
itos de neurônios aprendem e detêm o con- roplasticidade (LENT, 2010). Dessa forma,
hecimento de determinada função. Além podemos dizer que os neurônios aprendem
disso, do ponto de vista cognitivo, cérebro para que possamos aprender: assim, ad-
e mente estão conectados e integram di- quirimos conhecimento e desenvolvemos
versos processos biológicos que permitem capacidades cognitivas.
que o indivíduo adquira conhecimento, ou Visto que a neurociência tem como objeto
seja, cognição, como memória, linguagem e de estudo o sistema nervoso e suas funções,
atenção. ela não poderia deixar de se questionar
E, como não poderia deixar de ser, todos como o cérebro aprende, melhor dizendo,
esses processos têm por base a comuni- como um indivíduo aprende. O sistema ner-
189/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
voso é o responsável por coordenar nosso começou a se ocupar de como otimizar o
corpo e orquestrar funções e comporta- processo de aprendizagem. Como usar ao
mentos que permitem nossa sobrevivência nosso favor o conhecimento sobre mecanis-
e interação com o meio; logo, corpo, men- mos normais e patológicos? Que técnicas de
te e cérebro estão em estreita relação, algo aprendizado seriam melhores? São capazes
que não pode ser ignorado. de gerar mudanças fisiológicas no cérebro?
Dessa forma, questões naturalmente ob- Alteram algum comportamento? Como so-
servadas no cotidiano de uma sala de aula brepujar dificuldades de aprendizado? Mui-
acabaram se tornando também perguntas tas dessas perguntas estão sendo respon-
das neurociências: por que uns aprendem didas, enquanto se busca intensamente a
mais rápido que outros? Por que uns têm resposta de outras e ainda novas questões
mais facilidade para cálculos e outros para surgem.
biológicas, por exemplo? O que está por trás Neste tema, você verá o que a neurociência
de dificuldades do aprendizado? Existem tem feito pela educação e como essa união,
diferenças no cérebro que expliquem es- a neuroeducação, explica diversos compor-
sas observações? Mais ainda, ao passo que tamentos como frutos de funções cerebrais
as bases neurobiológicas do aprendizado especificamente ligadas ao processo de
eram desvendadas, a neurociência também aprendizado como um processo cognitivo.
190/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
Você verá como surgiu a neuroeducação, interdisciplinar que já vem trilhando seus
depois como a neurociência tenta explicar passos há um certo tempo. A psicologia é
questões ligadas ao aprendizado e também uma das áreas que trabalha com a pedago-
como tenta otimizar esse processo e auxiliar gia para explicar comportamentos e distúr-
a superar dificuldades com embasamento bios ligados ao aprendizado desde muito
neurobiológico. Mergulhe no cérebro e des- antes do advento de modernas técnicas de
cubra que o simples dia a dia ou uma sala de pesquisa em neurociência para avaliação
aula são grandes laboratórios de pesquisa do funcionamento cerebral. Com a ajuda
neurocientífica e que, mais que um proces- de técnicas como a ressonância magnéti-
so cognitivo, aprender é mudança de com- ca funcional (RMf), a teoria tem encontra-
portamentos. do suas bases biológicas. A neuroeducação
é a área que, junto com áreas afins como a
1 NEUROCIÊNCIAS, EDUCAÇÃO psicologia, a pedagogia e a neurociência
E UM POUCO MAIS: A NEUROE- cognitiva, busca compreender o processo
DUCAÇÃO de ensino-aprendizagem (TOKUHAMA–ES-
PINOSA, 2011), sob a ótica interdisciplinar.
Embora seja considerada uma vertente da
neurociência, a neuroeducação é uma área

191/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


2 CONTRIBUIÇÕES DA NEURO- nios formam circuitos e redes que também
CIÊNCIA: ENTENDENDO O PRO- são capazes de aprender, remodelando-se
CESSO DE APRENDIZAGEM conforme necessário, fazendo uso da neu-
roplasticidade.
Somos o que aprendemos, somos fruto do
que aprendemos. Todos os nossos compor-
tamentos resultam de algum tipo de apren- Para saber mais
dizado, que, por sua vez, é processado pelo Inclusive, alguns sistemas de inteligência artifi-
sistema nervoso. Viver é um grande apren- cial de computadores são inspirados em circuitos
dizado, com toda a licença poética. A pala- neurais. O computador utiliza uma lógica capaz
vra aprendizado se aplica a vários níveis e de “aprender” por tentativa e erro.
processos. Nos neurônios, há estruturas es-
pecializadas em formar conexões com out- Embora o cérebro seja a região do encéfalo onde
ros neurônios, em resposta a um estímulo estão localizadas funções neurais e mentais mais
vindo do meio interno, do organismo, ou do complexas e relacionadas ao aprendizado, hoje
meio externo, por isso os neurônios apren- sabe-se que outras estruturas, como o cerebelo,
dem formando novas conexões. No cérebro, também estão associadas ao processo de apren-
mais precisamente no encéfalo, os neurô- dizado (LENT, 2010).

192/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


A neurociência tem demonstrado que pro- serão retidos por variados períodos de tem-
cessos mentais considerados distintos es- po na memória, de forma seletiva (LENT,
tão na verdade interligados e são inter- 2010; TOKUHAMA-ESPINOSA, 2011).
dependentes. Estudos com RMf mostram
a ativação em maior ou menor de grau de
redes formadas por várias regiões durante
Para saber mais
a execução de tarefas até mesmo as mais Evento é qualquer informação que possa formar
simples. A aprendizagem é um exemplo dis- memória, vinda do meio interno ou externo: um
so. O aprendizado é um processo neural do cheiro, sensação, pensamento, imagem, som, ob-
qual outros fazem parte. Aprender é modu- jeto, pessoa, situação etc.
lar e modificar comportamentos com base
na experiência. Sem memória, não há ex- Aprendizagem e memória são tão próximos
periência, não há arquivo nem recuperação que os termos costumam ser usados como
do que foi vivenciado; logo, não há apren- sinônimos. Porém, assim como a atenção e
dizado. Para formar memória, é preciso a emoções, são processos distintos, embo-
participação de outros processos, como ra interdependentes. A neuroeducação faz
motivação, atenção e emoções. Aprendiza- uso de noções como essa sobre o funciona-
mento do cérebro para melhor compreen-
gem é também a aquisição de eventos que
der o aprendizado educacional.
193/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
3 BUSCANDO APRENDER – E EN- Ao longo da vida, é muito importante ad-
SINAR – MELHOR quirir reserva cognitiva, mas, sem exercício
físico, nada feito!
Uma grande questão da neuroeducação é A paideia, sistema educacional da Gré-
como tornar o aprendizado mais eficiente, cia Antiga, já incluía exercício físico no seu
seja compreendendo melhor as suas bases conjunto de saberes educativos. Não é à
biológicas ou buscando ferramentas, sejam toa. O exercício promove aumento da ca-
ações mais eficientes do ponto de vista neu- pacidade de raciocínio, memória, atenção
robiológico e cognitivo, isto é, que levam em e aprendizado, devido a maior oxigenação
conta como o aprendizado funciona para do cérebro, indução da formação de novos
“dar certo”. neurônios e liberação de neurotransmisso-
A neurociência tem contribuído com vários res. E, quanto mais cedo é praticado, pode
exemplos. Um deles é o exercício físico. Já se proteger de desordens neurológicas futuras
sabe que o exercício físico é capaz de indu- (VIVAR et al., 2012).
zir o processo de neuroplasticidade, reforçar Os resultados de pesquisas neurocientíficas
a memória, a capacidade de concentração podem levar, inclusive, a mudanças curricu-
e proteger o tecido nervoso do envelheci- lares. Nos Estados Unidos, neurocientistas
mento e de doenças neurodegenerativas.
194/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
mostraram que fazer de 20 a 60 minutos mento do hipocampo, estrutura encefáli-
de exercício moderado a intenso antes das ca relacionada à memória e às emoções e
aulas melhora significativamente o desem- promoveria melhor retenção de memória
penho escolar dos estudantes. As pesqui- dentro de até 4h depois de sua prática, pe-
sas também possibilitaram programas com ríodo ideal para aprender. Acredita-se que
exercícios físicos para estudantes com pro- isso se deve à liberação de neurotransmis-
blemas de disciplina e dificuldades de apren- sores durante o exercício que se prolonga e
dizado e encontram resultados promissores. se estende para diversas regiões do cérebro
A sugestão dos neurocientistas é fazer exer- (VAN€DONGEN et al., 2016). E a idade não
cício físico antes e depois do período de aulas é desculpa. Adultos também se beneficiam
ou de alguma atividade cognitiva, levando às dos efeitos do exercício físico na otimização
mudanças neurobiológicas que otimizariam do aprendizado. Imagine o que alguns mi-
o aprendizado durante as aulas e ainda se nutos de exercício podem fazer por aquela
prolongariam por um bom tempo, ajudan- aula difícil de matemática? Ou pelo estu-
do a reter o conhecimento (KOHL III; COOK, dante com dificuldade de concentração?
2013; RATEY; HAGERMAN, 2013). A música é outro objeto de estudo da neu-
Estudos com ressonância magnética mos- rociência que traz seus benefícios para o
traram que o exercício físico levaria ao au- aprendizado. Muitos processos cerebrais es-
195/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
tão envolvidos no simples fato de ouvir uma devido a uma educação deficiente e, assim,
música, mais ainda em aprender a tocar um se beneficiaram do ensino musical (KRAUS
instrumento. O aprendizado musical, assim et al., 2014).
como qualquer novo aprendizado, promove
remodelação de circuitos neurais em áreas
do cérebro relacionadas ao processamento
de sons. Acontece que essas regiões tam- Para saber mais
bém participam de outras habilidades como Há uma curiosidade polêmica em relação à pes-
leitura e linguagem. Dessa forma, o apren- quisa neurocientífica sobre os efeitos da música
dizado musical pode ser uma forma de po- no cérebro. Na década de 1990, pesquisadores
tencializar o aprendizado em geral, visto que demonstraram que estudantes que escutavam
este depende de funções cognitivas como a Mozart, mais especificamente a Sonata para dois
linguagem. Um estudo mostrou que houve pianos em Ré Maior, por pelo menos 10 minutos,
mudanças neurofisiológicas no cérebro de apresentavam um incremento do raciocínio espa-
crianças de baixa renda que participavam ço-temporal (RAUSCHER et al., 1998). Entretanto,
nenhum grupo de pesquisa conseguiu replicar os
de um programa educacional de música.
mesmos resultados posteriormente.
Essas crianças estariam sob maior risco de
apresentarem dificuldades de aprendizado

196/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


Muitas outras ferramentas são alvo de es- conforme a capacidade avaliada (como
tudo da neurociência e podem contribuir atenção, habilidades de leitura, agressivi-
para a neuroeducação, algumas inusitadas, dade e empatia) (BAVELIER; GREEN, 2016).
como técnicas de meditação. A meditação Pesquisadores sugerem cautela na interpre-
seria capaz de otimizar o recrutamento de tação desses resultados. Mais estudos são
redes neurais. Desse modo, tarefas seriam necessários para melhor esclarecer os me-
executadas com o uso de menos de redes, canismos neurobiológicos relacionados aos
além de trazer benefícios como melhora da jogos eletrônicos. Além disso, seu uso está
concentração e controle emocional. Há es- inserido em contextos muito variados. En-
colas que já utilizam a meditação e obser- quanto isso, jogos específicos também têm
vam melhora na disciplina entre os alunos sido usados como ferramenta terapêutica,
(KOZASA et al., 2011; DESBORDES et al., trazendo resultados positivos em pessoas
2014). com lesões cerebrais, como AVC e ajudando
Há também aquela ferramenta que, mui- na melhora de habilidades sociais de crian-
tas vezes, é encarada por pais e educadores ças com transtornos do espectro autista.
como “vilã”, os jogos de video game. Estu- A neurociência contribui com o aprendiza-
dos apontam pontos positivos e negativos do também quando busca compreender os
em relação ao aprendizado, que mudam mecanismos fisiopatológicos de alterações
197/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
neurológicas e psiquiátricas. É o caso dos Além da pesquisa sobre estrutura e função
transtornos do espetro autista, cujas des- do sistema nervoso, a neurociência se ocu-
cobertas sobre os mecanismos neurobio- pa de outra questão, que, na verdade, é uma
lógicos subjacentes (pesquisas apontam incumbência de qualquer área do conheci-
que há desequilíbrio de neurotransmisso- mento: educar. Existem linhas de pesquisa
res e alterações corticais que resultam em em divulgação científica em neurociência,
dificuldade de focar o olhar e compreender em que o foco é divulgar o conhecimento
emoções) podem ajudar e direcionar práti- produzido nos laboratórios e avaliar o im-
cas pedagógicas para pessoas com altera- pacto desse conhecimento sobre neuroci-
ções do desenvolvimento e aprendizado. ências na sociedade. Crianças e adolescen-
tes, muitas vezes, são o público-alvo dessa
instrução, por seu papel como multiplica-
Link dores. No Brasil, há diversas iniciativas para
difundir neurociências (ADESTRO et al.,
O cérebro no autismo. Disponível em: <http://re- 2013).
vistapesquisa.fapesp.br/2011/06/16/o-c%-
C3%A9rebro-no-autismo/>. Acesso em: 10
nov. 2016.

198/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


Neurocientistas brasileiros aplicaram um
questionário de estigma em epilepsia a cri-
Link anças e adolescentes para avaliar o impacto
1. CEPID BRAINN – Brazilian Institute of Neuros- do uso do termo “epiléptico” em compara-
cience and Neurotechnology (Instituto Brasileiro ção a “pessoas com epilepsia”. Os resulta-
de Neurociência e Neurotecnologia, em portu- dos mostraram que a opinião dos jovens
guês) é um centro de pesquisa, inovação e difu- era muito mais pessimista quando o ter-
são do conhecimento em neurociência. Disponí- mo epiléptico era empregado. Por exemplo,
vel em: <http://www.brainn.org.br/>. Acesso 37% achavam que “pessoas com epilepsia”
em: 10 nov. 2016. tinham mais dificuldade de aprendizado,
contra 70% que achavam que “epilépticos”
2. ABCérebro TV – Uma iniciativa para divulgação
teriam mais dificuldade em aprender. A di-
científica em neurociências. Mais detalhes em “O
vulgação desse trabalho e de dados sobre
programa ABCérebro TV apresenta: divulgação
epilepsia que desmistifiquem a doença visa
científica em epilepsia”. Disponível em: <http://
diminuir o preconceito e contribuir para que
www.jecn.org:7080/joomla/images/pdfs/
essas pessoas levem uma vida normal, inclu-
edicao_jecn_new-Vol_19_n4_DEC_2013_
sive dentro das salas de aula (FERNANDES;
v5.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2016.
BARROS; LI, 2009).

199/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


A divulgação científica de pesquisas em al- do cérebro com sistemas de inteligência ar-
terações neurológicas e psiquiátricas, como tificial e computadores podem ser conheci-
o AVC (acidente vascular cerebral), esclero- mento necessário em aulas de graduações
se múltipla, depressão e autismo, contribui não necessariamente ligadas à área de bi-
para a inclusão dessas pessoas na socie- ológicas. Isso é neuroeducação. Embora
dade e também para diminuir a incidência não exista uma receita de sucesso, visto que
dos fatores de risco associados a elas, como a aprendizagem é um processo multifatori-
é o caso do AVC. al e individual, a neurociência e a neuroed-
Por fim, a neurociência pode também dar ucação ajudam a compreender o aprendiza-
uma força para o ensino de diversas disci- do e seus distúrbios, que fatores contribuem
plinas. Fatos sobre o cérebro, seu funcio- para o processo e como criar ferramentas
namento e distúrbios neurológicos, con- para otimizá-lo, a caminho de uma edu-
textualizados em situações cotidianas, po- cação que possa incluir a todos. De quebra,
dem fazer sucesso em aulas de biologia. aprendemos a ser melhores educadores.
Os neurotransmissores são moléculas que
podem fazer parte de uma aula de química.
O neurônio e o impulso nervoso podem fig-
urar numa aula de física. E as comparações
200/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado
Glossário
Doenças neurodegenerativas: doenças neurológicas causadas pela degeneração gradativa do
tecido nervoso, como o mal de Alzheimer. Não há cura para essas doenças, entretanto hábitos de
vida saudáveis, como praticar de exercício físico, aprender coisas novas e praticar atividades de
lazer, podem retardar seu aparecimento ou diminuir a gravidade dos sintomas.
Reserva cognitiva: conhecimentos e habilidades adquiridos e armazenados ao longo da vida,
como leituras, diferentes idiomas, o exercício de uma função de trabalho, etc. A reserva cognitiva
ajuda a retardar e diminuir a severidade de doenças neurodegenerativas, assim como os efeitos
do envelhecimento natural. Atividades como palavras-cruzadas, leitura, estudar novos idiomas
e até mesmo assistir à TV são formadores de reserva cognitiva.
Ressonância magnética funcional: técnica de imagem do cérebro que usa um sinal gerado pela
oxigenação do tecido para determinar que áreas estão funcionando em repouso ou durante a
execução de uma tarefa. Considerando que áreas com maior consumo de oxigênio representa-
riam áreas com neurônios em maior atividade, pesquisadores pedem aos indivíduos que execu-
tem alguma tarefa de memória, linguagem, motora e etc., para ver que regiões do cérebro estão
participando daquela função e os processos normais ou patológicos que estão envolvidos.

201/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


?
Questão
para
reflexão

Seja o neurocientista: faça uma pergunta que poderia


ser respondida pela neuroeducação. Pense em um pro-
blema, como a dificuldade de aprendizado que acompa-
nha certa síndrome ou doença. Que técnicas poderiam
ser usadas para entender os mecanismos do processo
de aprendizagem nesses casos e que ferramentas pode-
riam ser propostas para melhorar o processo?

202/215
Considerações Finais
• A neuroeducação é uma área interdisciplinar que busca agregar conheci-
mento de várias áreas para compreender e melhorar o aprendizado;
• a neurociência contribui para a compreensão do processo de aprendizagem
no cérebro e que fatores o influenciam;
• pesquisas mostram que exercício físico, música, meditação e outras ferra-
mentas podem auxiliar o aprendizado;
• a neuroeducação pode se beneficiar da utilização do conhecimento produ-
zido na área como conteúdo educativo.

203/215
Referências

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206/215 Unidade 8 • Neuroeducação: a neurociência explicando e otimizando o aprendizado


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1d/3efdc2a90692741d7cbe4a0995ab6a40>. 8118f6303cfab203ca3a221b25aa>.

207/215
Questão 1
1. Podemos conceituar neuroeducação como:

a) uma área do conhecimento independente;


b) uma área interdisciplinar que atua com outras áreas afins como a psicologia;
c) uma ciência que surgiu ao mesmo tempo que a neurociência;
d) uma área do conhecimento que estuda a educação;
e) uma área do conhecimento despreocupada das bases biológicas do aprendizado.

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Questão 2
2. Sobre aprendizagem, é correto afirmar:

a) É um processo que depende de poucos fatores para acontecer.


b) É o produto de um processo apenas psicológico.
c) Acontece independentemente de outros processos mentais.
d) É o mesmo que memória; são sinônimos.
e) É a capacidade de modular comportamentos e depende de vários processos mentais para
acontecer.

209/215
Questão 3
3. Assinale, dentre as afirmações, a seguir, a opção correta:

a) A ciência provou que o exercício físico não exerce efeitos sobre o aprendizado.
b) Apenas exercícios intensos exerceriam efeito sobre o cérebro.
c) O exercício físico é benéfico para o aprendizado, mas apenas a longo prazo.
d) O exercício físico é capaz de induzir mudanças neurobiológicas que favorecem o aprendiza-
do.
e) Apenas tarefas como leitura e escrita são suficientes para o aprendizado.

210/215
Questão 4
4. Segundo os resultados de pesquisas científicas, a melhora do aprendi-
zado com o exercício, jogos e meditação é resultado de:

a) diminuição da concentração;
b) melhora da concentração e raciocínio;
c) aumento da agressividade;
d) diminuição da concentração e raciocínio;
e) diminuição das habilidades sociais.

211/215
Questão 5
5. As neurociências também podem atuar junto à neuroeducação para:

a) mostrar que ambas são áreas independentes;


b) conscientizar apenas pessoas com doenças neurológicas;
c) difundir o conhecimento científico e usá-lo como ferramenta didática;
d) deixar as pessoas conscientes de suas limitações;
e) promover o uso de técnicas como meditação e jogos de video game.

212/215
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: D.
A neuroeducação é uma área interdisci- O exercício físico é capaz de induzir mudan-
plinar, que recebe contribuições de áreas ças neurobiológicas favoráveis ao aprendi-
como a psicologia e a pedagogia para ex- zado e melhora a capacidade de concentra-
plicar seus fenômenos e que vem se bene- ção e raciocínio. O treino cognitivo é muito
ficiando das neurociências para encontrar importante, mas estudos mostram que sem
as bases neurológicas de questões como o exercício não é o bastante.
aprendizado.
4. Resposta: B.
2. Resposta: E.
São mecanismos apontados pelas pesqui-
Aprendizagem é a capacidade de modular e sas como favoráveis para a aprendizagem o
modificar comportamentos com base na ex- aumento da capacidade de concentração e
periência e para acontecer precisa de outros raciocínio, melhora da atenção e memori-
processos mentais, como memória, atenção zação.
e motivação.

213/215
Gabarito
5. Resposta: C.

As neurociências podem contribuir para a


educação através da difusão dos conheci-
mentos adquiridos para conscientizar as
pessoas em geral sobre prevenção e des-
mistificação de doenças neurológicas.

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