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Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-RR-204100-05.2008.5.06.0143
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001BD809021EE747C.
A C Ó R D Ã O
7ª Turma
GDCMEN/acg/csn
Firmado por assinatura digital em 06/06/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP
2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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PROCESSO Nº TST-RR-204100-05.2008.5.06.0143
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É o relatório.
V O T O
1. CONHECIMENTO
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respectivos banqueiros e, de outro, não patrocinam a exclusão da atividade
do rol das Contravenções Penais.
Nesse passo, a conduta defensória, sugere acinte, porque a atividade é
ilícita, o empreendedor tem ciência da irregularidade, mesmo assim não se
intimida, contrata, assalaria, não concede os mínimos direitos inerentes,
despede sem nada pagar e, depois, atende a chamado judicial - é verdade que
trabalhista - e pontualmente defende-se, buscando auferir nítida vantagem -
mais uma - em detrimento da força humana contratada de modo clandestino,
que, assim, ficaria ao desabrigo de qualquer plano de seguridade e ao largo
do recebimento de direitos trabalhistas, restando violados inúmeros
regramentos legais imperativos e de caráter de proteção.
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invocam, sem desfaçatez, em socorro próprio, a ilicitude da atividade, como
vimos, neste caso.
E nem mesmo há receio de mencioná-la, tendo em vista que, regra
geral, inexiste atitude marcadamente repressiva estatal, ao ponto de inibir a
arguição ou entrincheirar a atividade em locais incertos e obscuros. A ação é
exercida à luz do dia e em todos os recantos da maior parte das cidades do
Brasil.
A caracterização de tamanha e inconcebível distorção, em prejuízo do
grupamento social maior, acabou por patrocinar a extensão dos seus
tentáculos a outros segmentos da contravenção penal e do mundo do crime,
conforme a todos é dado conhecer, destacando-se, em especial, o que ocorre
no Rio de Janeiro.
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tal entendimento levaria à ignorância dos propulsores fatores econômicos,
sociais, políticos e culturais da nossa sociedade. Exemplificativamente, não
podemos desconhecer o grande contingente de desempregados que a
sociedade abriga e a não rara necessidade de vinculação a subempregos ou
empregos que lhes deem chance de sobrevivência. Admitir essa realidade é
preciso. Rechaçá-la é, à falta de outra alternativa, entregar parte do honesto
contingente de mão-de-obra pátrio nos braços da contravenção e, quiçá, nos
do crime organizado.
Nessa Linha de pensamento, cito os recentes julgados do C.TST, in
verbis:
[…]
Por oportuno, a fim de que sejam visualizados os fundamentos
adotados, transcrevo a integralidade da decisão proferida pela Terceira
Turma do C. TST, em acórdão de lavra da Ministra Maria Cristina Irigoyen
Peduzzi reconhecendo a legalidade da relação empregatícia existente no
“jogo do bicho”, o que tem como consectário objetivo, o acolhimento dos
acessórios implícitos à relação de emprego, in verbis:
[...]
Este Tribunal, pela maioria dos seus membros, segue entendimento
nesse sentido, sendo exemplo o aresto seguinte, da lavra da eminente
Desembargadora Eneida Melo Correia de Araújo, relatora do Incidente de
Uniformização de Jurisprudência, Proc. nº IUJ - 00598-2002-017-06-00-6,
in verbis:
[…]
Nesse sentido, aliás, o verbete aprovado como Súmula na
uniformização de jurisprudência deste E. Regional, em sessão administrativa
realizada em 04 de dezembro de 2008, publicada no D.O.E. em 22/01/09. Eis
o teor do verbete sumular, in verbis:
[…]
Nada obstante, é de ser ressaltado que o Magistrado, ao decidir, não
está jungido a aplicar norma em desuso, e muito menos em caráter de
preferência, a outras que preservam fundamentos identificados com os
princípios gerais de direito e as demais normas de regência, sobretudo a
Constituição Federal, nada sugerindo, no sistema jurídico pátrio, que o
trabalho honesto possa ser alijado em favor de atividade ilícita
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enriquecedora, que desrespeita direitos de cidadania, valores sociais do
trabalho e a dignidade da pessoa humana (artigo 1º da Constituição Federal),
como bem lembrou a eminente Juíza antes citada.
Demais disso, impende destacar que esse posicionamento não encerra
afinamento com tais jogos ou práticas, mas tão somente o reconhecimento do
fato real, predominante, que assumiu esse caráter diante da ineficiência, da
tolerância dos organismos de Estado, encarregados da fiscalização e
repressão a crimes e contravenções. Ademais a espécie não trata do que está
observado na Súmula Vinculante 2 do e. STF.
Com apoio em tais fundamentos e tendo restado incontroversa,
nos autos, a prestação de serviços, através da própria peça de defesa que
também definiu a pessoalidade, subordinação, continuidade e
onerosidade, impõe-se o reconhecimento do liame empregatício
invocado.
Nesse diapasão, a tese defensória baseada na impossibilidade de
reconhecimento de vínculo de emprego, em face da ilicitude do objeto de
suas atividades, não merece prosperar. Como dito alhures, entendo que essa
ilicitude não é suficiente a obstar o reconhecimento do vínculo em questão,
sem que com isso haja violação ao disposto nos arts. 104 e 166 do Código
Civil atual e 82 e 145 do mesmo diploma legal datado de 1.916, na própria
OJ nº 199 da SDI-1 do C. TST e na Súmula Vinculante n. 02 do STF.
Desta feita, mantenho a sentença que reconheceu o liame
empregatício invocado, inclusive quanto à condenação ao pagamento
das seguintes verbas, com acréscimo de 50%: aviso prévio, saldo de salário
do mês de outubro/2008 e quatro dias do mês de novembro/2008; férias
proporcionais (6/12) + 1/3; 13º salário proporcional (6/12) e 40% do FGTS.
E de forma simples, sem acréscimo de 50%: o FGTS e as horas extras e
repercussões.
Nada obstante, observo que, à fl. 42, foram adunados recibos de
pagamento de horas extras - os recibos de pagamento de fl. 41 não dizem
respeito aos meses de salário açambarcados pela condenação -, os quais,
embora tenham sofrido impugnação tempestiva quanto à forma de
pagamento e ao número de horas quitadas (fl. 44), foram efetivamente
percebidos pela autora. Mister, pois, a reforma da sentença, no particular,
para determinar a compensação dos valores comprovadamente pagos a
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idêntico título.” (fls. 190/206 do documento sequencial
eletrônico)
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O acórdão regional, na forma como proferido, contraria
a diretriz consagrada na Orientação Jurisprudencial nº 199 da SbDI-1 do
TST, de seguinte teor:
“É nulo o contrato de trabalho celebrado para o desempenho de
atividade inerente à prática do jogo do bicho, ante a ilicitude de seu objeto, o
que subtrai o requisito de validade para a formação do ato jurídico.”
ISTO POSTO
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Emergindo da conotação fática delineada pelas
instâncias ordinárias a prática, em tese, da contravenção penal descrita
no art. 58 do Decreto-Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941, determinar
que se oficie ao Ministério Público do Estado de Pernambuco para as
providências que entender de direito.
Brasília, 6 de junho de 2018.
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