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A Seguridade vem de uma necessidade histórica para resguardar o

indivíduo que por algum motivo não possa suprir sozinho sua existência, sendo,
portanto, o meio de amparar tais sujeitos em quaisquer momentos de fragilidade
em suas vidas. Trata-se de um instrumento para combater a miséria que atinge
a sociedade, como demonstra Beveridge:

“O Seguro Social, completamente desenvolvido, pode proporcionar a


segurança dos rendimentos; é um combate à Miséria. Mas a miséria é
apenas um dos cinco gigantes, que se nos deparam na rota da
reconstrução, e, sob vários aspectos, o mais fácil de combater. Os
outros são a Doença, a Ignorância, a Imundície e a Preguiça.”1

No Brasil, movimentos humanistas que tiveram maior disseminação após


a ditadura militar, passaram a exercer certa pressão no Estado para que
houvessem medidas que resguardassem o indivíduo, tanto contra as práticas
abusivas impostas pelo sistema capitalista que pregava a ideia de liberdade na
proporção de sua propriedade privada, quanto contra as práticas do próprio
Estado, sejam elas omissivas ou positivas.

Com a reivindicação das classes trabalhadoras, exige-se intervenção do


Estado em prol de uma proteção social, para assistir as pessoas que por algum
motivo não podem prover seu sustento, superando a ideia de que o liberalismo
é um sistema igualitário, no qual o sujeito tem instrumentos jurídicos-formais
isonômicos, ideia esta que é uma ilusão vendida pela burguesia da época.

Observa-se que o trabalho e suas condições tiveram grande influência


para o desenvolvimento histórico da seguridade social, pois foi através das lutas
das classes assalariadas, que foram constituídas novas ideologias, estratégias
e políticas públicas como o fome zero, que hoje é utilizada como exemplo a nível
internacional de uma concepção garantista.

Hoje, a Seguridade Social tem natureza de direito social fundamental, de


caráter solidário (artigo 3º da CF), no qual consiste na atuação conjunta dos
Poderes Públicos visando assegurar os direitos relativos a Seguridade Social
que é gênero e, são espécies de políticas sociais constitucionais: a saúde

1
William Beveridge. O plano Beveridge. Trad. Amir de Andrade. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio, 1943.
(artigos 196 a 200 da CF), previdência (artigos 40, 201 e 202 da CF) e assistência
social (artigos 203 e 204 da CF). No qual, a sociedade deve participar das ações
do sistema financiando-a.2

A maior crítica a Seguridade Social é que seu tripé está descalço, sem
cabeça, nem pé. Que mesmo estando constitucionalmente amparado lhe falta
eficácia devido a sua inversão de finalidade, não há de fato a consolidação do
princípio da solidariedade devido a destituição de recursos para garantir o
sistema de privilégios no qual quem ganha mais recebe mais, quem ganha
menos recebe menos privilégios.

O principal exemplo dessa questão, é o debate sobre a reforma


previdenciária, na qual são ofertados maiores privilégios para os membros do
judiciário, tornando parte desse “benefício” aos filhos e cônjuges dos
magistrados, sendo um absurdo se comparado com “o benefício” instituído às
famílias de baixa renda, tal como o bolsa família, ou bolsa escola, sendo
desproporcional. Sendo que naquele observa-se “um direito”, neste uma
“caridade”.

A ideia de reforma social e moral de forma que inclua todas as classes e


que não seja segregada, no sentido de ao invés de criar projetos para pessoas
abaixo da linha da pobreza, dever-se-ia ampliar a prática de política pública de
forma que alcance a todos, sem distinção. Fazendo assim uma reeducação
escolar, filosófica de todos os segmentos da sociedade, de forma a tornar essas
práticas comuns, porém sem desumanizar.

Porém, mesmo com a ciência de que o atual sistema está entrando em


colapso, mesmo que tenham havido grandes mudanças. Ocorre que até o
momento a mercantilização de algo que é direito coletivo: a seguridade social, a
assistência e a previdência são tratadas como mercadorias para potenciais
consumidores de serviços3.

2
LEITÃO, André Stuart. Manual de Direito Previdenciário, 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
3
SPOSATI, Aldaiza. Descaminhos da seguridade social e desproteção social no Brasil. Ciênc. saúde
coletiva [online]. 2018, vol.23, n.7, pp.2315-2325. ISSN 1413-8123. http://dx.doi.org/10.1590/1413-
81232018237.10202018.
Destarte, observa-se que a luta coletiva por políticas públicas está
deveras enfraquecida, pela segmentação da seguridade, pela “proteção social
privada” oferecida por empresas, bancos e pelo próprio serviço público através
de seguros sociais privados. Ou seja, o problema persiste e de forma mascarada
capitalizando as necessidades e interesses coletivos mesmo após os
movimentos dos trabalhadores.

Em dado momento, Mota alega que a questão social é despolitizada, ouso


descordar, tendo em vista que ela deveria ser despolitizada, porém isso não
ocorre e, é algo que não tem se mostrado de fato efetivo, como exemplo, seria
possível a criação de um plano decenal que atravesse as disputas e mandatos
políticos e realmente beneficie o cidadão, de forma a não se tornar uma disputa
de “migalhas” para autopromover o executivo próximo às eleições.4

A maior dificuldade em relação a intersetorialidade é sua continuação,


seja pela falta de profissionais da área, ou ainda por questões políticas como a
simples mudança de governo. Então, muitas vezes a assistência vem de fora e
com pouca intervenção do Estado.

A influência do sistema financeiro na previdência social é gritante, pois a


seguridade vem alcançando em sua maior parte o valor per capita e, dificilmente
chega a quem realmente precisa e não pode financiar.

Durante 30 anos de vigência da Constituição de 1988, a commodity de


proteção social seguiu pregando a desigualdade, invertendo a sua finalidade que
é de caráter isonômico. E, para que haja o equilíbrio, de fato, do tripé, devem ser
encaminhados novos mecanismos devem ser estimulados, de forma
educacional e instrumental, tornando o indivíduo ciente de seus direitos,
conduzindo à ideia de justiça social ser algo tão natural como respirar, saindo do
mínimo existencial para a dignidade humana de fato.

4
MOTA, A. E. Seguridade Social Brasileira: desenvolvimento histórico e tendências Recentes. In:
______. et al. (Org.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2007. p.
40-48.

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