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Seminário II – Controle Processual da Incidência: Declaração

de Inconstitucionalidade
Aluno: Luis Eduardo de Santana Vicente

1. Quais são os instrumentos de controle de constitucionalidade? Explicar as diferentes


técnicas de interpretação adotadas pelo STF no controle de constitucionalidade. Explicar a
modulação de efeitos prescrita no artigo 27 da Lei n. 9.869/99.
Os instrumentos de controle de constitucionalidade no ordenamento jurídico
brasileiro podem ser divididos em dois grupos, quais sejam os instrumentos de Controle Difuso
e de Controle Concentrado da constitucionalidade, isto posto, temos que o sistema brasileiro
invoca os controles concentrados e difusos, ou seja, misto.
Desta forma, os instrumentos utilizados em controle difuso podem ser: a própria
ação ajuizada de modo incidental, seja ela ordinária ou ação constitucional, bem como a sede do
recurso extraordinário.
Por outro lado, os instrumentos utilizados para controle concentrado podem ser: a
Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIN, Ação Declaratória de Constitucionalidade –
ADECON, ação direta de inconstitucionalidade por omissão, arguição de descumprimento de
preceito fundamental mandado de injunção e a representação interventiva do PGR.
Do ordenamento jurídico Brasileiro é possível identificar variadas técnicas de
interpretação que são adotadas pelo STF, temos à interpretação conforme a Constituição e
declaração de inconstitucionalidade sem redução do texto.
A técnica da interpretação conforme a Constituição Federal evita com que uma lei
seja declarada nula, dando-lhe interpretação que a harmonize com o conjunto normativo da
constituição. Importante dizer que poderá o Tribunal dar à lei uma única interpretação,
declarando inconstitucionais as demais possíveis interpretações. Deste modo a norma
questionada continuará a ser válida e eficaz, desde que seja utilizada apenas a interpretação
proferida pela Corte.
A técnica da declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade é
empregada quando dentro do universo de interpretações possíveis a partir de determinado
enunciado, somente uma não possui conformidade com a Constituição, de modo que as demais
serão declaradas constitucionais. Desta forma será declarada parcialmente inconstitucional a
norma atacada.
Há ainda a declaração de inconstitucionalidade com pronuncia de nulidade. Nesse
caso, o STF além de retirar a vigência e/ou validade, também elimina o enunciado prescritivo.
Ou seja, o STF ao entender que a determinada norma deriva de certo enunciado, entende por
eliminá-lo do ordenamento positivo.
Temos a seguir o art. 27 da Lei n. 9.868/99:

“Art. 27 Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato


normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de
excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por
maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela
declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito
em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado”

A exposição de motivos do Projeto de Lei nº 2.960/97, que deu origem à lei


9.868/99, bem explica a modulação de efeitos:

“(...) Coerente com evolução constatada no Direito constitucional


comparado, a presente proposta permite que o próprio Supremo
Tribunal Federal, por uma maioria diferenciada, decida sobre os
efeitos da declaração de inconstitucionalidade, fazendo juízo rigoroso
de ponderação entre o princípio da nulidade...”

Em regra a declaração de inconstitucionalidade se dá com a pronúncia de nulidade.


Neste caso tanto o enunciado prescritivo, quanto as normas derivados dele são declarados nulos.
Já na declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto, um significado normativo
específico é declarado inconstitucional não havendo alteração na expressão literal, em virtude
das outras interpretações possíveis, cujo encontram-se em consonância com a Constituição
Federal. Dessa maneira o objetivo, torna-se preservar a constitucionalidade da lei ou ato
normativo excluindo-se algumas de suas possíveis interpretações. No caso da interpretação de
acordo com a Constituição Federal, ocorre uma restrição do significado de uma determinada
expressão literal, ou completa-se uma lacuna deixada pelo legislador. Por meio dessa via, não
ocorre a proclamação da ilegitimidade da lei, mas apenas ressalta-se que determinada
interpretação literal se compatibiliza com a Constituição Federal, ou, ainda, que para ser
considerada constitucional, é necessário um complemento ou restrição. Dessa forma, possibilita-
se que uma lei não seja declarada inconstitucional quando a mesma puder ser interpretada em
consonância com a Carta Magna.
A declaração de inconstitucionalidade, geralmente tem o poder de comprometer a
própria validade do preceito declarado inconstitucional, de forma a afastar completamente a sua
aplicação desde a origem (efeitos ex tunc). Porém, o STF pode também restringir os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade ou decidir que ela só tenha eficácia após seu trânsito em
julgado ou de outro momento que venha a ser fixado, de acordo com o art. 27 da Lei 9.868/99.
Nesses casos em que há modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade (efeitos
ex nunc), a vigência da norma só atinge os fatos futuros. Dessa forma, os efeitos gerados pela
norma declarada inconstitucional permanecerão, de forma a perder a força regulatória apenas a
partir do trânsito em julgado da declaração de inconstitucionalidade ou de momento específico
determinado pelo próprio STF.

2. Os conceitos de controle concreto e abstrato de constitucionalidade podem ser


equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado, respectivamente? Que espécie
de controle de constitucionalidade o STF exerce ao analisar a pretensão deduzida em ação
de reclamação (art. 102, I, “l”, da CF)? Concreto ou abstrato, difuso ou concentrado?
Entendo que sim, os conceitos de controle concreto e abstrato de
constitucionalidade podem ser equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado,
respectivamente.
Isso porque, o controle difuso de constitucionalidade é exercido de forma
incidental, na ocasião de apreciação do caso concreto de um relação jurídica. Por sua vez, o
controle concentrado de constitucionalidade é exercido através da análise da lei em tese, de
forma abstrata, não havendo uma análise da relação jurídica em um caso concreto.
O STF ao analisar pretensão deduzida em ação de reclamação realiza o controle
concreto ou difuso de constitucionalidade, vez que passa a analisar um caso específico para que
se garanta a autoridade da força vinculante da sua decisão, emanando normal individual e
concreta, produzindo efeito entre as partes, erga singulum.

3. Que significa afirmar que as sentenças produzidas em sede de ADIN e ADECON


possuem “efeito dúplice”? As decisões proferidas em sede de ADIN e ADECON sempre
vinculam os demais órgãos do Poder Executivo e Judiciário? E os demais órgãos do Poder
Legislativo? O efeito vinculante da súmula referida no art. 103-A, da CF/88, introduzido
pela EC n. 45/04, é o mesmo da ADIN? Justifique sua resposta.
Quando se fala no “efeito dúplice” das sentenças produzidas em sede de ADIN e
ADECON, significa dizer que a decisão de procedência de uma ADECON produzirá os mesmos
efeitos que uma decisão de improcedência de uma ADIN, ou, vice e versa. Logo, tanto na
decisão de improcedência de uma ADIN quanto na de procedência de uma ADECON, a norma
apreciada será declarada constitucional.
Por disposição do parágrafo único do artigo 28 da Lei 9.868/99, é certo que as
decisões proferidas em sede de ADIN e ADECON vinculam os demais órgãos do Poder
Executivo e Judiciário, excluindo-se o Poder Legislativo.
No que diz respeito a semelhança entre o efeito vinculante da Súmula, referida no
art. 103-A, da CF/88, e o efeito decorrente da decisão proferida em ADIN, infere que, mesmo
possuindo o processo de formação distinto, tanto as decisões proferidas em sede de ADIN
quanto a aplicação das Súmulas do art. 103-A tem eficácia contra todos, erga omnes, e efeito
vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública federal,
Estadual e Municipal.

4. O Supremo Tribunal Federal tem a prerrogativa de rever seus posicionamentos ou


também está inexoravelmente vinculado às decisões por ele produzidas em controle
abstrato de constitucionalidade? Se determinada lei tributária, num dado momento
histórico, é declarada constitucional em sede de ADECON, poderá, futuramente, após
mudança substancial dos membros desse tribunal, ser declarada inconstitucional em sede
de ADIN? (Vide ADI n. 223-MC, no site www.stf.jus.br).
O STF tem a prerrogativa de rever os seus posicionamentos tendo em vista que o
artigo 102, §2º da CF/88, determina que as decisões do órgão vinculam o poder Executivo e o
Judiciário, mas não o próprio Tribunal. Ademais, o STF tem a prerrogativa de rever seus
posicionamentos, mas desde que seja sobre o surgimento de fato novo que diga respeito a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade das decisões anteriormente proferidas.
Seguindo a linha de raciocínio acima destacada, imperioso destacar que,
determinada lei tributária, num dado momento histórico, pode ser declarada constitucional em
sede de ADECON, e, futuramente, após mudança na realidade fática, ser declarada
inconstitucional por meio de ADI. Porém, a mudança substancial dos membros desse Tribunal
não ensejará a alteração de lei já apreciada anteriormente, assunto já tratado pelo Ministro
Carlos Mário Velloso.

5. O parágrafo único do art. 741 do CPC prevê a possibilidade de desconstituição, por


meio de embargos à execução, de título executivo fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ou em aplicação ou
interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal. Pergunta-se: (i) A
declaração de inconstitucionalidade a que ele se refere é a proveniente de controle abstrato
ou também inclui aquelas emanadas em controle concreto? (ii) É necessário que a
declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do título executivo? Essa
alegação pode perfazer conteúdo de eventual exceção de pré-executividade ou restringe-se
aos embargos do devedor? (Vide anexo I).
A declaração de inconstitucionalidade a que se refere o artigo 741 do CPC pode ser
proveniente do controle abstrato e também do controle concreto, caso em que, por disposição
legal, se apresenta necessária uma resolução do Senado Federal atribuindo efeito vinculante,
erga omnes, a decisão interpartes.
Não é necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à
formação do título executivo, desde que não haja na decisão uma modulação dos seus efeitos,
pois, em regra, o efeito da declaração de inconstitucionalidade é ex tunc. No entanto, existe aqui
uma ponderação a ser feita, pois quando falamos em formação de título executivo judicial
estamos colocando em jogo o princípio da segurança jurídica decorrente das decisões judiciais.
E, neste contexto, se considerarmos as disposições dos artigos 467 e 468 do Código de Processo
Civil seria necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do
título executivo.
A declaração de inconstitucionalidade pode ser argüida em qualquer momento
processual, seja qual for o grau da instância judicial através de simples petição, desta forma,
pode ser matéria de argüição em sede de exceção de pré-executividade.

6. Contribuinte ajuíza ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária que


o obrigue em relação a tributo instituído pela lei n. X.XXX/SP, que seria, em seu sentir,
inconstitucional por violar a competência do Estado em matéria de imposto.
Paralelamente a isso, o STF, em sede de ADIN, declara constitucional a Lei n. Y.YYY/RJ,
de teor idêntico, fazendo-o, contudo, em relação a argumento diverso. Pergunta-se:
a) A sentença a ser proferida pelo juiz da ação declaratória está submetida ao efeito
vinculante da decisão do STF? Como deve o juiz da ação declaratória agir: (i)
examinar o mérito da ação, ou (ii) extingui-la, sem julgamento do direito material?
(Vide votos na Recl. N. 3014/SP no site www.stf.jus.br).
A sentença a ser proferida pelo juiz da ação declaratória, sim, está submetida ao
efeito vinculante da decisão do STF, visto que deverá obedecer ao art. 102, § 2º, da Constituição
Federal, ao tempo que, efeito vinculante é aquele que obriga aos demais órgãos do Poder
Judiciário, nas esferas federal, estadual e municipal, a obedecer a decisão proferida pelo STF.
Complementando o pensamento destacado, o art. 28, p.ú., da Lei n. 9.868/99, é taxativo ao
impor que a declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade tem eficácia contra
todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário.
O magistrado deve examinar o mérito da causa, haja vista que a declaração de
inconstitucionalidade pelo Supremo levou em consideração outro aspecto, seja ele processual ou
material.
b) Se o STF tivesse se pronunciado sobre o mesmo argumento veiculado na ação
declaratória (violação à competência do Estado em matéria de imposto), qual
solução se colocaria adequada?
Considerando que o STF se pronunciasse justa e especificamente em relação à
discutida violação à competência do Estado em matéria de imposto, outra medida não poderia
ser adotada pelo juiz senão a extinção do referido processo, com resolução do mérito, por estar
ele vinculado a decisão proferida pelo Supremo Tribunal.

c) Se referida ação declaratória já tivesse sido definitivamente julgada, poder-se-ia


falar em ação rescisória com base no julgamento do STF? E se o prazo para
propositura dessa ação (2 anos) estiver exaurido? (Vide Anexo II).
Nesse caso, é cabível a ação rescisória, desde que dentro do prazo legal de 02 anos.
Existe, contudo, um segundo entendimento no qual as hipóteses previstas pelos incisos do artigo
485 do CPC são taxativas e não albergariam a possibilidade de ingresso com ação rescisória em
casos como o apresentado. Porém, não concordo com este posicionamento, por entender que a
possibilidade de ação rescisória nestes casos está amparada pelo artigo 485, V, do Código de
Processo Civil.

Data de entrega: 19 de março de 2016.

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