O ENSINO DE GEOGRAFIA POLÍTICA E GEOPOLÍTICA NAS ESCOLAS DE

ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO DOS DISTRITOS DE UBERLÂNDIA

(MARTINÉSIA, CRUZEIRO DOS PEIXOTOS, TAPUIRAMA E MIRAPORANGA)
– MG.

FRANCIELE LEMES GOMES1

VÂNIA RÚBIA FARIAS VLACH 2

RESUMO: O ensino de Geografia, principalmente da Geografia Política e da Geopolítica, é

de fundamental importância em todos os níveis do processo educativo. Para contribuir para a
formação e a consolidação da cidadania na sociedade brasileira, fez-se necessário conhecer a
aprendizagem dos temas de Geografia Política e Geopolítica nas escolas de Ensino
Fundamental e Médio, nos distritos de Uberlândia (MG), tendo em vista propor soluções
alternativas e, assim, auxiliar no processo ensino – aprendizagem da Geografia. Foram
aplicados questionários aos alunos e professores, além da realização de uma avaliação dos
livros didáticos utilizados nessas escolas. A pesquisa aponta que, ao contrário do que se
imagina, os alunos possuem alguns conhecimentos básicos sobre tais temas; porém,
evidenciaram limitações para sua aprendizagem. O maior obstáculo da aprendizagem é a falta
de recursos e material didático pertinente, que afeta diretamente o trabalho do professor e
aumenta o desinteresse dos alunos sobre os temas em questão.

Palavras-chave: Ensino de Geografia - Geografia Política – Geopolítica - Cidadania.

ABSTRACT: The teaching of Geography, mainly Political Geography and Geopolitics is of

fundamental importance in all levels of the educational process. To contribute to the
formation and the consolidation of the citizenship in the Brazilian society, it was necessary to
know the learning related to Political Geography and Geopolitics in the schools of
Fundamental and Medium Levels, in the districts of Uberlândia (MG), in order to propose
alternative solutions and help the teaching process, i.e., the learning of Geography. Students
and teachers were applied questionnaires, besides the accomplishment of an evaluation of the
textbooks used in the schools. The research points out that the students have some basic
knowledge on such themes; however, they evidenced limitations to their learning. The largest
obstacle for learning is the lack of resources and pertinent didactic material that directly
affects teacher's work and it increases the students' indifference on the themes.

KEYWORDS: Teaching of Geography – Political Geography – Geopolitics - Citizenship

1
Instituto de Geografia. Universidade Federal de Uberlândia.
Avenida Gonzaga, n° 1253 Tapuirama - Distrito de Uberlândia – MG. CEP: 38417-000
E-mail: francielelemes@yahoo.com.br
2
Profa. Dra. da Universidade federal de Uberlândia. Instituo de Geografia. Email: vaniarubia@netsite.com.br
Avenida Salin Suaid,12 – 401 Uberlândia – MG. CEP: 38408-016

O século XXI é marcado por significativas
discussões sobre educação e sua
importância na formação cidadã.
construção da cidadania pressupõe o
domínio de conhecimentos geográficos,
pois eles capacitam os indivíduos, tanto pra
o trabalho, como para as lutas sociais, pela
conquista de seus direitos e deveres,
efetivando uma prática política social -
democrática.
O ensino de Geografia, principalmente da
Geografia Política e da Geopolítica torna-
se, assim, de fundamental importância em
todos os níveis do processo educativo.
Diversos estudiosos enfrentaram
complexidade dessas disciplinas
contribuíram significativamente para a
compreensão de seus conceitos. Ainda
hoje, há certa confusão no que diz respeito
à Geografia Política e à Geopolítica. Além
disso, a maioria da população não conhece
seus temas e outros consideram que ambas
tratam dos mesmos conteúdos. Nem todos
os estudiosos se arriscam em discutir, com
profundidade, as diferenças entre elas.
Aroldo de Azevedo (1955) afirma que a
Geografia Política apresenta
seduções, mas também inúmeros perigos.
Para ele, a Geografia Política e a
Geopolítica dependem da História e da
Política e possuem campos de ação
semelhantes; porém, pertencem a ramos
diferentes:
2
Seria uma temeridade negar a
existência da Geografia Política,
uma das subdivisões da
A Geografia Humana, através da
qual o homem, constituindo uma
coletividade jurídica - o Estado,
vê-se estudado em suas relações
com o meio. Todavia a seu lado
aparece a Geopolítica, cujo
campo de ação muito se
aproxima do campo da primeira,
embora não seja ramo da
Geografia e, sim, um dos
aspectos da Ciência política.
(AZEVEDO, 1955, p. 42-43)
Na verdade, cada estudioso tem seu
próprio conceito de Geografia Política e
Geopolítica. Em geral, cada qual vê a
Geografia Política como uma disciplina
a estática, que estuda as relações da política
e com o espaço geográfico, e a Geopolítica
como disciplina dinâmica, que se preocupa
com as estratégias políticas e a obtenção de
poder sobre algum território (recursos
naturais, posição geográfica, etc.). Em
outras palavras,
A geografia política, tal como a
geografia social, econômica ou a
cultural, apóia–se em observações
estáticas dos fatores geográficos.
[...]
A geopolítica, pelo contrário, não
se satisfaz com a mera descrição
muitas física “fotografando” apenas esses
acidentes geográficos. Ela
preocupa-se com os “movimentos”
desses elementos, e com a sua
aplicação na formulação de uma
política que visa a fins
estratégicos. Adquire, dessa forma,
um caráter essencialmente
dinâmico, e é justamente nesse
ponto que ela mais se diferencia da
geografia política. (MIYAMOTO,
1995, p. 24-25).

É impossível falar de Geografia Política
sem citar o geógrafo alemão Friedrich
Ratzel (1844-1904), considerado o pai
desse ramo da geografia e da geografia
humana. É ele quem inicia o estudo do
espaço ou territorialidade do Estado,
afirmando que o território está sujeito a
grandes alterações ao longo da História;
isso é possível observar em suas obras:
Antropogeografia (1888) e Geografia
Política (1897). Siguenoli Miyamoto, no
livro “Geopolítica e poder no Brasil”,
registra que Ratzel afirmou que o Estado,
sequioso de poder, e que almejasse viver
em paz, sem ameaças à sua integridade,
deveria possuir uma grande extensão
territorial, e mantê-la (teoria do Espaço
Vital).
O sueco jurista Rudolf Kjéllen (1864-
1922), seguidor das idéias de Ratzel,
também merece destaque, no que diz
respeito à Geopolítica. Foi ele quem usou,
pela primeira vez, provavelmente em 1905,
no artigo “As grandes potências”, o termo
geopolítica para explicar suas teorias.
Alguns autores o consideram pai da
Geopolítica, porém, sabe-se que antes de
Kjellén, outros estudiosos já discutiam esse
tema.
José William Vesentini, no livro “Novas
Geopolíticas”, registra que a preocupação
fundamental de Kjéllen, em suas obras, era
com o poderio mundial e que ele definiu a
Geopolítica como “a ciência que estuda o
3
Estado como organismo Geográfico”.
Siguenoli Miyamoto, por sua vez, diz que
Kjéllen foi o autor da teoria organicista do
Estado e, de acordo com suas concepções,
o Estado é um organismo vivo que
apresenta, durante sua existência, diversas
fases. Como qualquer ser orgânico,
caracteriza-se por apresentar etapas como o
nascimento, o crescimento, o
desenvolvimento e a senilidade. Segundo
Miyamoto, Kjéllen considerou o Estado
um organismo supra – individual, portanto
sujeito às leis do crescimento, podendo,
nessas circunstâncias, ampliar o seu
território, não só pela colonização, mas
também pela amalgamação ou conquista de
áreas fronteiriças. Esses trechos deixam
clara a influência das teorias de Kjéllen
para a Geopolítica.
Além de Ratzel e Kjellén, as idéias de
Mahan (1840-1914), Mackinder (1861-
1947) e Haushofer (1869-1946) também
influenciaram a Geopolítica clássica.
O geógrafo inglês Halford Mackinder se
tornou grande teórico da Geopolítica
clássica, pois elaborou uma teoria
geoestratégica, visando à hegemonia
britânica no mundo. Privilegiava, em suas
teorias, o poder terrestre e as formulava
levando em consideração fatores políticos
e geográficos. Segundo ele, a Europa era o
coração do mundo (heartland). Quem
dominasse a Europa oriental, dominaria o
coração continental; quem dominasse o

coração continental, controlaria a ilha
mundo, quem dominasse essa ilha,
dominaria o mundo.
O oficial da marinha norte - americana
Alfred Thayer Mahan, por sua vez, foi um
grande defensor do poder marítimo. Autor
da obra “A influência do poder marítimo
sobre a história”, publicada em 1890,
Mahan acreditava que os fluxos do
comércio internacional dependiam
intrinsecamente do oceano e que um país
só se tornaria grande potência mundial se
controlasse as rotas marítimas.
O poder aéreo também foi discutido por
grandes estrategistas; entre eles, William
Mitchell, J.F. Von Seecket, Alexandre P.
Seversky e J. Douhet.
Miyamoto (1995) afirma que a conquista
dos ares tornou-se, a partir da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), um dos
fatores cruciais para assegurar um bom
resultado no combate militar, diminuindo e
rompendo barreiras muitas vezes difíceis
de serem transpostas por vias
convencionais.
Muitos estudiosos consideram o alemão
Karl Haushofer, professor da Universidade
de Munique, mero aplicador das idéias de
Mahan e Mackinder. Ele preocupava-se em
ampliar o espaço vital da Alemanha;
influenciado pelas idéias de Ratzel e
Kjéllen, acreditava no pressuposto de que o
espaço rege a História da humanidade e é o
fator mais decisivo na política mundial.
4
Suas teorias sobre espaço vital foram
amplamente discutidas e muitos as
associam, de maneira equivocada, com o
“Terceiro Reich” e a política expansionista
da Alemanha nazista (1933-1945). Esse foi
um dos motivos que levaram a Geopolítica
a enfrentar uma crise a partir do final da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
José William Vesentini (2000) afirma que
a Geopolítica passou a ser identificada com
o fascismo italiano e principalmente o
nazismo; praticá-la ou mesmo escrever
sobre ela, passou a ser algo não
recomendável no mundo acadêmico e
científico. A partir de meados da década de
1970, passou-se a discutir teorias a respeito
do embate entre capitalismo e socialismo, a
guerra fria e a sua lógica, e os riscos de
uma terceira guerra mundial.
Vesentini considera que essa retomada de
discussão sobre assuntos geopolíticos foi
uma iniciativa de Yves Lacoste e seu
grupo, reunido em torno da revista
Hérodote, cujo primeiro número foi
editado em 1976. Nesse mesmo ano, Yves
Lacoste escreveu a primeira edição do
livro “A Geografia, isso serve, em primeiro
lugar, para fazer a Guerra”. Neste livro, o
autor aponta o verdadeiro papel da
Geografia, o que causou, na época, um
escândalo na corporação dos geógrafos
universitários franceses.

Há que se registrar, ainda, que a Geografia
Política não se limita à abordagem dos
Estados:
O Estado, mesmo sendo a mais
acabada e mais incômoda das
formas políticas, não é a única.
Se a linguagem tivesse sido
criada para justificar o poder
político e as relações que ele
estabelece no espaço e no tempo,
o Estado certamente teria tido
um lugar privilegiado, mas não
estaria sozinho. Sem dúvida,
essa é uma das razões pelas
quais a “geografia política”, na
realidade a geografia do Estado,
permaneceu marginal e pouco
integrada no corpus geográfico.
Em vez de se interessar por
qualquer organização dotada de
poder político suscetível de se
inscrever no espaço, a geografia
política só viu e, em
conseqüência, só fez análise de
uma forma de organização: a do
Estado. (RAFFESTIN, 1993, p.
28)
A Geopolítica é, hoje, discutida
mundialmente; porém, com certa cautela,
por tratar de temas complexos e perigosos,
que envolvem estratégias políticas de
diversos países. De qualquer forma, a
Geopolítica e uma Geografia Política
renovada são de grande influência na
formação da cidadania, pois um cidadão
tem o dever de conhecer seu espaço, os
homens e as relações que estabelecem na
sociedade. E como disse o próprio
Lacoste:
5
Preparar-se para a guerra, seja para
a luta contra outros aparelhos de
Estados, como para a luta interna
contra aqueles que colocam em
causa do poder, ou querem dele se
apossar, é organizar o espaço de
maneira a ali poder agir do muno
mais eficaz possível. (LACOSTE,
2002, p. 31).
Fazer com que os homens adquiram essa
consciência crítica é uma das tarefas do
educador em Geografia que se preocupa
com a cidadania e democracia:
É preciso fazer com que aqueles
que ensinam a Geografia hoje
tomem consciência de que o
saber pensar o espaço pode ser
uma ferramenta para cada
cidadão, não somente um meio
de compreender melhor o mundo
e seus conflitos, mas também a
situação local na qual se
encontra cada um de nós.
(LACOSTE, 1985, p. 256)
De acordo com Vlach, o exercício
cotidiano da democracia é uma “arma”
contra a violência à vida humana, porque:
Estamos vivendo restrições aos
direitos mais elementares da
cidadania. Exercer a cidadania
remete, entre outros, à prática
democrática da discussão de
questões que envolvem poder,
política e território, qualquer que
seja sua escala. Essa nova
geopolítica deve, pois, se firmar
no cenário mundial
contemporâneo. (Vlach, 2003,
p. 69).
Diante disso, com o objetivo de despertar a
criticidade de alunos e professores, e
 6

contribuir para a formação e a Para o Ensino Fundamental, foram

consolidação da cidadania na sociedade aplicados 96 questionários aos alunos de 7ª
brasileira, fez-se necessário conhecer a e 8ª séries, da Escola Municipal Sebastião
aprendizagem dos temas de Geografia Rangel, em Tapuirama, Escola Municipal
Política e Geopolítica nas escolas de Antônio Martins da Silva, em Martinésia,
Ensino Fundamental e Médio, inclusive Escola Municipal Domingos Camim em
nos Distritos de Uberlândia, tendo em vista Miraporanga e Escola Municipal José
propor soluções alternativas e, assim, Marra da Fonseca, no Cruzeiro do
auxiliar no processo ensino – Peixotos.
aprendizagem da Geografia.
Como metodologia, utilizou-se a aplicação A seguir, os resultados obtidos:
de questionários3 aos professores de
Geografia das escolas de Ensino 1) Democracia é?
Fundamental e Médio e seus respectivos
alunos, para a caracterização das Ensino Fundamental
dificuldades dos docentes e discentes
3% 4% 5%
quanto ao ensino e aprendizagem de tais
temas; a seleção, análise e avaliação dos
livros didáticos, temas e atividades
pedagógicas propostas pelas escolas. E a
elaboração de sugestões didáticas, para 88%
facilitar a compreensão das relações entre
território, poder e cidadania.
Foram aplicados 110 questionários aos
alunos de ensino médio, da Escola
Estadual Professor José Ignácio de Sousa,
que atende aos estudantes dos distritos de
Martinésia e Tapuirama. Os distritos de
Miraporanga e Cruzeiro dos Peixotos não
oferecem o Ensino Médio.

3
Para a elaboração dos questionários foi utilizado
como base de apoio o material de assessoria
pedagógica da Série Parâmetros, Geografia para o
ensino médio. Geografia geral e do Brasil de
MOREIRA E SENE.
 7

Ensino Médio classes ricas. O restante dos alunos (4% do

ensino fundamental e 15% do ensino
6% 15% 3% médio), não conseguiu respondê-la.

A educação, dever da família e

do estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana,
76% tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando,
governo das classes ricas seu preparo para o exercício da
governo do povo, soberania popular
cidadania e sua qualificação para
o trabalho. (LDB, n° 9.394,
governo absoluto de um príncipe
1996, artigo 2°).
não souberam

Gráficos 1 e 2
Diante disso, questiona-se: Como preparar
o educando para o exercício da cidadania

88% dos alunos de Ensino Fundamental, e sem que conheça o significado do termo

76% dos alunos de Ensino Médio, democracia? Afinal, sem democracia não

concordam que democracia significa há cidadania.

governo do povo, soberania popular.

(doutrina ou regime político baseado nos 2) Você considera o Brasil um país

princípios de distribuição eqüitativa de democrático, no sentido amplo do termo?

poder), e demonstram possuir consciência

Ensino Fundamental
da importância do termo para cidadania.
Esse é um fato positivo. Porém, não se
22% 3% 17%
deve desconsiderar a porcentagem de
alunos que não souberam o que significa o
termo, mesmo pequena, é preocupante. 3%
dos alunos de ensino fundamental e 6%
dos alunos de ensino médio responderam 58%

que democracia é o governo de um

príncipe com poderes ilimitados e
absolutos; 5% dos alunos de ensino
fundamental e 3% dos alunos de ensino
médio afirmam que democracia é um tipo
de governo em que o poder pertence às
 8

3) O que você entende por Estado? Como

Ensino Médio
ele está organizado?

Ensino Fundamental
16% 10% 9%

3% 26%

65%

71%
sim teoricamente sim
não não souberam

Gráficos 3 e 4
Ensino Médio
58% dos alunos do ensino fundamental e
65% dos alunos do ensino médio
responderam que, teoricamente, sim, o 10% 17%

Brasil caminha rumo à democracia.

O país vive uma democracia política,
porém, deve-se admitir que existem outras
questões que precisam ser democratizadas; 73%
é necessário reivindicar, além da
democracia política, a social e a Conjunto de poderes políticos de um a
nação. Está organizado em duas esferas
econômica. 22% dos alunos do ensino de poder: legislativo e executivo

fundamental e 16% dos alunos do ensino

Instituição social politicam ente organizada
médio concordam com essa afirmativa, que exerce a soberania sobre um
território. Está organizado em três
quando respondem que vivem em um país esferas de poder: executivo, legislativo e
judiciário
desigual e corrupto; mas eles se não souberam

equivocaram ao dizer que no Brasil não há

Gráficos 5 e 6
democracia nem liberdade de escolha. Essa
liberdade existe, embora questionável
Claude Raffestin (1993) afirma que três
devido às diversas influências ideológicas;
sinais caracterizam o Estado: a população,
o fato é que cada cidadão é livre e,
o território e a autoridade. Concorda que o
portanto, responsável por seus atos.
Estado existe quando uma população
 9

exerce a soberania de um determinado Ensino Médio

território.
71% dos alunos de ensino fundamental e
12%
73% dos alunos de ensino médio
concordaram com concepção de Estado de
Raffestin e afirmaram que o Estado
brasileiro está organizado em três esferas
de poder: executivo, legislativo e 88%

judiciário.
Os dados apontam que a maior parte dos
alunos consegue definir precisamente o sim não

conceito de Estado. Contudo, há

demonstrações de desinteresse pelo Gráficos 7 e 8

assunto, o que se reflete na porcentagem de

alunos (3% do ensino fundamental e 10 do 25% dos alunos de ensino fundamental e
ensino médio) que não souberam o 12% dos alunos de ensino médio
significado do termo. consideram que o município de Uberlândia
está sendo bem administrado, alegando que
4) Seu município está bem administrado? o dinheiro dos impostos é investido em
O dinheiro dos impostos está sendo educação, saneamento básico, tratamento
investido de que maneira? do lixo, transporte coletivo e reforma de
postos de saúde e escolas.
Ensino Fundamental Todavia, é significativa a porcentagem de
alunos descontentes com a atual
25%
administração do município: 75% dos
alunos de ensino fundamental e 88% dos
alunos de ensino médio alegam não
conhecerem o destino do dinheiro dos
75% impostos, ou consideram que este é mal
distribuído. Afirmam que não há
preocupação com os distritos, queixam-se
da falta de investimento no ensino, saúde e
moradia, e que, no distrito sede, o dinheiro
 10

dos impostos é investido em obras exemplos mais citados foram: compra de

desnecessárias. votos; esquema de corrupção no Partido
É interessante ressaltar, com algumas raras dos Trabalhadores, desvio de verbas
algumas exceções, o interesse dos alunos públicas, “caixa dois”, “mensalão”,
pelo assunto e a forma crítica como o corrupção dos bingos e a máfia dos
discutiram o tema. sanguessugas, ou seja, o esquema de
superfaturamento com compras de
5) Você conhece algum exemplo de ambulâncias.
corrupção em seu município, em seu Esses dados indicam um fato positivo: ao
estado? E na esfera federal? contrário do que se imagina, os alunos da
zona rural demonstram interesse sobre a
Ensino Fundamental
realidade política do país.
30% É praticamente impossível não tomar
conhecimento dos diversos exemplos de
corrupção política, nos dias atuais. Porém,
25% dos alunos de ensino fundamental e
12% dos alunos de ensino médio,
70%
afirmaram não conhecer nenhum tipo de
corrupção no seu município, nem mesmo
Ensino Médio
na esfera federal. Este fato está
relacionado, com certeza, ao desinteresse
28%
dos mesmos pelo assunto.

6) O que você pensa que é possível fazer

para combater a corrupção?
72%

sim não
12% dos alunos do ensino fundamental e
30% dos alunos do ensino médio admitem

Gráficos 9 e 10 ser impossível combater a corrupção;

afirmam não reconhecer nenhuma
70% dos alunos de ensino fundamental e alternativa capaz de solucionar o problema.
72% dos alunos de ensino médio afirmam Um aluno argumentou: “Para combater a
conhecer algum tipo de corrupção, seja no corrupção no Brasil, teríamos que voltar no
município ou na esfera federal. Os tempo, pelo menos uns 500 anos”.
 11

4% dos alunos do ensino fundamental e suficiente para participar das eleições

11% dos alunos do ensino médio não políticas do país.
responderam à questão.
84% dos alunos do ensino fundamental e 7) Qual o verdadeiro motivo da “Guerra
59% dos alunos de ensino médio contra o terrorismo”, travada pelo governo
mostraram-se esperançosos e indicaram dos Estados Unidos, após os ataques ao
algumas questões para amenizar a World Trade Center?
corrupção. Dentre as mais citadas:
Ensino Fundamental
9Investir na educação e na formação de
cidadãos críticos de seus direitos e deveres
14% 12% 4%
e que saibam lutar por eles;
9Eleger com consciência e
responsabilidade os representantes do país;
9Diminuir o número de partidos políticos;
9Anular o voto, demonstrando indignação, 30% 40%

reivindicando mudanças na política

brasileira; Ensino Médio
9Investir em uma fiscalização rigorosa,
7% 10 14%
exigir a comprovação do trabalho de cada
um dos representantes do governo, e
mostrar, com detalhes, para a população, o
destino de toda verba obtida com os
impostos; 24% 45%
9Punir todos os corruptos com maior
rigor, confiscando todos os bens dos
Combater o terrorismo
envolvido, além das cassações dos
Guerra contra os países que não se alinham à
mandatos. nova Ordem mundial
Interessante ressaltar que, nesta questão, os Defebder a segurança nacional americana

alunos de ensino fundamental se Combater o fundamentalismo islâmico

destacaram em relação aos alunos de não souberam

ensino médio, pois apontaram sugestões

diversas e mostraram–se mais interessados, Gráficos 11 e 12

apesar de a maioria deles não ter idade


Tema mundialmente discutido, por
especialistas e leigos, principalmente após
os ataques ao World Trade Center (11 de
setembro de 2001), a “guerra contra o
terrorismo” é um dos mais importantes
fatos geopolíticos da história
contemporânea da humanidade. Mas, qual
o verdadeiro motivo dessa guerra travada
pelos Estados Unidos? A escola discute
essa questão com os alunos? E estes
possuem, de fato, conhecimento sobre o
tema?
40% dos alunos de ensino fundamental e
45% dos alunos de ensino médio disseram
que a “guerra contra o terrorismo”, é, na
verdade, a nova guerra dos Estados Unidos
contra os países que não se alinham à nova
ordem mundial, nem aos postulados do
sistema de livre mercado, mostrando, com
criticidade, certa indignação.
A nova guerra dos Estados unidos
consiste em abrir novas “fronteiras
econômicas” para o capital
estadunidense. Por conseguinte, a
invasão militar encabeçada por
esse país responde aos interesses
dos gigantes petrolíferos anglo-
americanos, aliados aos cinco
grandes fabricantes de armas dos
Estados Unidos: Lockheed Martin,
Raytheon, Norhrop Grummmman,
Boeing e General Dynamies.
(Chossudovsky, 2002, p. 91.)
12% dos alunos do ensino fundamental e
10% dos alunos do ensino médio não
responderam a questão, porque não sabiam
12
a resposta, indicando, mais uma vez, o seu
desinteresse por tais temas.
Os demais alunos (48% dos alunos do
ensino fundamental e 45% dos alunos do
ensino médio) como demonstram os
gráficos, afirmam que os motivos da guerra
são: combater o terrorismo nos chamados
“Estados do eixo do mal”; defender a
segurança nacional americana ou combater
o fundamentalismo islâmico.
Substituiu-se a noção coletiva das
causa profundas da Guerra
estadunidense, baseada na história,
pela necessidade de “combater o
mal”, de deter os chamados
“Estados delinqüentes”, de caçar
“Osama”, palavras repetidas
continuamente e que fazem parte
de uma campanha propagandista
cuidadosamente orquestrada.
(Chossudovsky, 200, p. 32)
Cabe aqui discutir a influência e poder da
mídia na formação e controle da opinião
pública. E admitir que ela oculta sua
submissão aos poderes econômicos e
políticos, e constrói “verdades” que, na
maioria das vezes, geram preconceitos
graves, manipulando a sociedade moderna.
É necessário defender a informação como
um bem público. A escola deve
transformar pessoas em cidadãos críticos e
participantes da organização do seu
espaço, deve assumir as novas tecnologias,
porém, permitir um conhecimento
profundo das funções da mídia,
denunciando seu caráter demagógico. Pois
 13

o seu poder é forte, mas não é superior à É consenso a importância da pesquisa para
inteligência humana. a educação escolar e a formação da opinião
pública. Os gráficos demonstram a
8) Como você obtém informações sobre
insuficiência de recursos para pesquisas
fatos políticos mundiais e conflitos étnicos
nos distritos. 42% dos alunos de ensino
e sociais?
fundamental e 58% dos alunos do ensino

Ensino Fundamental médio confirmam obter informações sobre

os fatos políticos mundiais e conflitos
7% 10% 42% étnicos e sociais apenas pelo livro didático,
televisão e explicações das professoras de
Geografia e História.
Outro dado significativo corresponde ao
fato de 41% dos alunos de ensino
41% fundamental e 30% dos alunos de ensino
médio obterem informações sobre os temas

Ensino Médio apenas pela televisão, o que mostra o poder

de influência desse recurso.
5% 7%
9) Você considera os conteúdos de
Geografia Política e Geopolítica,
trabalhados na disciplina de Geografia da
sua escola, suficientes para sua formação
30% 58% como cidadão crítico e democrático?

livro didático, televisão e pelas explicações das

professoras de Geografia e História Ensino Fundamental

televisão

televisão, internet e periódicos

não se intessam pelo assunto

52% 48%
Gráfico 13 e 14
 14

Ensino Médio 10) Qual das opções descreve o Estado

federal?
37%

19%

63%
17% 64%

sim não
as unidades internas gozam de relativa autonomia
política com relação ao poder central e têm seus
governantes eleitos diretamente
Gráficos 15 e 16
No Estado federal, as unidades internas não têm
autonomia política e seus governantes são
indicados pelo poder central
37% dos alunos de ensino fundamental e
não responderam
48% dos alunos de ensino médio
consideram os conteúdos de Geografia
Gráfico 17
Política e Geopolítica, trabalhados na
disciplina de Geografia da sua escola,
No Estado Federal, as unidades internas
suficientes para sua formação como
gozam de relativa autonomia política em
cidadão crítico e democrático e afirmam
relação ao poder central e têm seus
que as professoras explicam muito bem
governantes eleitos diretamente. A
esse tema.
característica mais importante da federação
52% dos alunos de ensino fundamental e
é a convivência entre os três poderes; o
63% dos alunos de ensino médio não estão
Brasil e os Estados Unidos são exemplos
satisfeitos com o ensino desses temas em
de Estados Federais.
suas escolas; relataram que faltam recursos
64% dos alunos concordaram com essa
didáticos, a carga horária é insuficiente, e
afirmativa. Enquanto 17% afirmaram que,
os professores não demonstram conhecer
ao contrário, as unidades internas não têm
os conteúdos como o desejado.
autonomia política e seus governantes são
indicados pelo poder central (é o caso da
Devido a uma maior complexidade, as
França), e 19% não responderam,
questões de 10 a 14 foram aplicadas
afirmando não saber o que significa o
somente aos alunos de ensino médio.
termo.
 15

11) Podemos considerar o Brasil um

21% 37%
Estado-Nação?

42%

Política econômica em que a dinâmica do mercado

regula as relações sociais, com mínima
participação do Estado.
Política econômica em que o Estado regula as
relações sociais, encarregando-se de programas
de saúde, educação, previdência, entre outros.
não souberam
sim não não souberam Fatia 4

Gráfico 18

O Estado-Nação existe quando o poder e a Gráfico 19

soberania de um determinado território
emanam do povo, que o exerce por meio 37 % dos alunos concordaram com a
de representantes eleitos, de acordo com afirmação de que o neoliberalismo
uma constituição. corresponde à política econômica em que a
40% dos alunos concordaram com esta dinâmica do mercado regula as relações
concepção e consideram o Brasil um sociais, com mínima participação do
Estado-Nação, pois, segundo eles, o país Estado.
possui uma diversidade cultural singular,
que marca a identidade brasileira. “O neoliberalismo nasceu logo
depois da segunda guerra
23% dos alunos mostraram-se confusos e mundial, na região da Europa e
responderam que o Brasil não constitui um da América do norte, onde
imperava o capitalismo. Foi uma
Estado-Nação, pois não há organização reação teórica e política
veemente contra o Estado
política e o povo não exerce, de fato,
intervencionista e de bem-
soberania sobre o território. estar...” (ANDERSON, 2003, p.
9).
37% dos alunos não respondem a questão,
por ignorarem o significado do termo. Entretanto, 42% dos alunos afirmaram que
o neoliberalismo corresponde à política
12) Qual opção descreve o neoliberalismo? econômica em que o Estado regula as
 16

relações sociais, encarregando-se de fortalecendo as privatizações; assim, o

programas de saúde, educação, Estado deixa de ter importância, diante do
previdência, entre outros. E 21% dos poder das grandes empresas.
alunos não responderam a questão. Os 32% dos alunos não conseguiram
dados confirmam que os alunos responder a questão. Essa porcentagem é
demonstram grande confusão e significativa e chama a atenção, não
desinteresse sobre o assunto, apesar de se somente por seu desinteresse pela
tratar de um tema discutido mundialmente globalização e suas conseqüências para o
e que está relacionado com a dinâmica de mundo, mas também pela forma como esta
mercado que afeta direta, ou indiretamente, temática é abordada em sala de aula, visto
qualquer cidadão. que faltam debates e dinâmicas
pedagógicas apropriadas, indispensáveis
13) Você acredita que, com o avanço da para o entendimento dos alunos sobre o
globalização, o fim do Estado está tema.
próximo?
14) Qual é o papel do prefeito e dos
vereadores como representantes eleitos
19%
32%
pelos cidadãos? Que poderes eles
representam, respectivamente?

Apenas 20% dos alunos responderam

49% corretamente a questão, afirmando que o
papel do prefeito é administrar o município
sim não não souberam
e os vereadores devem desenvolver
Gráfico 20 projetos visando o bem da população.
Ambos devem preocupar-se com educação,
49% dos alunos afirmaram que não, pois, moradia, saúde, transporte e lazer. O
segundo eles, o Estado é uma instituição prefeito representa o poder executivo e os
segura e essencial para a organização de vereadores, o poder legislativo.
um povo em um território. A globalização, 80% dos alunos não responderam
embora influencie e modifique a sua forma devidamente a questão e não souberam que
de atuação, não conseguirá extingui-lo. poderes representam o prefeito e os
19% dos alunos responderam que o avanço vereadores.
da globalização traz individualidades,

A seguir, os alunos de Ensino
Fundamental e Médio, conforme
solicitado, apontaram sugestões para
contribuir com a melhoria do ensino de
Geografia Política e Geopolítica em suas
escolas.
Registre-se a pertinência de suas sugestões
para que a educação e a preparação para a
cidadania sejam realmente alcançadas, e se
cumpra o que propõe a Lei de Diretrizes e
Bases da educação nacional para os
currículos dos referidos níveis de ensino:
1°. Os currículos a que se refere o
caput devem abranger,
obrigatoriamente, o estudo da
língua portuguesa e da
matemática, o conhecimento do
mundo físico e natural e da
realidade social e política,
especialmente do Brasil. (LDB, n°
9.394, 1996, artigo 26).
Os conteúdos curriculares da
educação básica observarão, ainda,
as seguintes diretrizes: I – a
difusão de valores fundamentais
ao interesse social, aos direitos e
deveres dos cidadãos, de respeito
ao bem comum e à ordem
democrática. (LDB, n° 9.394,
1996, artigo 27).
As sugestões apontadas:
9Disponibilizar recursos auxiliares, como
internet, kits didáticos, atlas, mapas, livros
atualizados e periódicos;
9Maior empenho do professor;
9Ensinar os temas utilizando-se da arte,
música e teatro;
9Trabalhar os temas com aulas de campo;
17
9Organizar palestras, mini-cursos e
debates sobre os temas.
Paralelamente, foram entrevistadas as
quatro professoras responsáveis pela
disciplina de geografia, no Ensino
Fundamental e a professora de geografia
do Ensino médio.
As professoras de ensino fundamental
afirmam trabalhar os respectivos conteúdos
de forma simplificada, sem fazer distinção
entre os temas. Abordam os temas a partir
do livro didático, e procuram levar, para a
sala de aula, questões atuais do mundo
relacionando-as com a realidade dos
alunos.
A professora de ensino médio afirma que,
como a geopolítica é um conteúdo
ensinado no 3° ano, ele é discutido com
maior cuidado nessa etapa; nos anos
anteriores, esses conteúdos só são
abordados quando surgem dúvidas e
questões dos alunos, em sala de aula.
Três professoras do ensino fundamental e a
professora do ensino médio destacaram
que sentem dificuldades em abordar os
temas de geopolítica em sala de aula e de
acompanhar a evolução dos fatos políticos
por falta de tempo para se dedicarem, e se
queixam da falta de cursos de atualização
para o professor. Apontam, também, como
limitação da aprendizagem desses temas, a
falta de interesse e conhecimento prévio
dos alunos, além da carência de material
adequado.
 18

Uma das professoras do ensino Concordam que as escolas públicas

fundamental e a professora do ensino
médio afirmaram não
dificuldades em abordar os temas, pois
procuram se informar diariamente sobre
política nacional e internacional por meio
de noticiários na televisão, “Folha de São
Paulo”, e revista “Veja”. Concordam,
porém, que a falta de
conhecimento prévio dos alunos sobre os
temas é uma limitação da aprendizagem, o
que é, sem dúvida, preocupante.
Como 2006 é ano de
professoras foram questionadas
desenvolvem, junto à comunidade escolar,
projetos que contribuam para a reflexão,
dos pais e alunos, sobre a realidade política
brasileira. Três professoras afirmaram que
desenvolvem tais projetos, mas se queixam
da falta de interesse e participação dos
pais.
Uma professora do ensino fundamental e a
professora do ensino médio disseram que
não desenvolvem esses projetos devido às
dificuldades e limitações dos pais para se
deslocarem até as escolas.
Todas as professoras se queixam da
insuficiência de recursos e materiais de
apoio à pesquisa nas escolas
trabalham; segundo elas,
possuem alguns mapas, livros, periódicos e
atlas antigos e alguns exemplares diários
do “Jornal Correio”.
apresentam dificuldades na abordagem dos
possuírem temas de Geografia Política e Geopolítica
e, para amenizar essas dificuldades,
indicam sugestões, como reestruturação do
espaço físico, aumento da carga horária da
disciplina, maior disponibilização de
recursos didáticos, formação continuada
interesse e para os professores, palestras e mini-cursos
para a comunidade escolar.
Abordar a questão do livro didático em
sala de aula exige uma reflexão sobre suas
eleição, as reais funções e a verificação de como ele
se está sendo utilizado nas escolas, como um
recurso de apoio ou como uma “bíblia”, a
ser seguida à risca, sem criticidade.
Faz-se necessário, igualmente, avaliar seu
conteúdo e as propostas de atividades
pedagógicas, se possuem textos
complementares, incluindo diferentes
opiniões sobre um determinado assunto, se
têm a preocupação de sugerir atividades,
sites da internet, filmes e documentários
para pesquisas, despertando no educando o
espírito crítico.
O livro adotado pelas referidas escolas de
Ensino Médio dos Distritos de Tapuirama
e Martinésia é “Território e Sociedade no
onde mundo globalizado: Geografia Geral e do
as escolas Brasil: Ensino Médio; volume único/ Elian
Alabi Lucci, Anselmo Lazaro Brando e
Cláudio Mendonça. 1°. Ed. – São Paulo:
Saraiva, 2005”.

Os autores demonstram certa preocupação
em trabalhar uma Geografia Crítica, para
que o aluno conheça e se reconheça no
espaço, adquirindo diversas visões sobre os
temas discutidos mundialmente.
Os autores abordam de forma abrangente
os temas relacionados à Geopolítica, meio
ambiente, economia e sociedade. A obra é
dividida em unidades temáticas,
subdividida em capítulos, nos quais os
utilizaram vários recursos, em diversas
seções: “Contexto e reflexão”, que
proporciona ao leitor se familiarizar com o
tema e expor suas idéias. “Reflexão e
discussão”, que corresponde a uma seção
de atividades de análise e interpretação de
textos de apoio, gráficos, tabelas, mapas-
imagem. “Espaço e arte” e “Contexto
literário”, que procuram promover um
diálogo entre a Geografia, as Artes e a
Literatura, revelando outro olhar sobre os
assuntos trabalhados. “Espaço e humor”,
que procura, por meio de charges, ressaltar
criticamente as questões discutidas nos
vários capítulos.
Além disso, os autores sugerem, ao final de
cada capítulo, algumas questões para
análise dos temas trabalhados; apontam, ao
final de cada unidade, questões de
vestibulares e do Exame Nacional do
ensino Médio (ENEM) e sugerem filmes e
leituras complementares.
Os autores dedicam uma unidade com
quatro capítulos à discussão do contexto
19
histórico e geopolítico do mundo atual,
enfatizando o capitalismo e o espaço
geográfico, o período entre – guerras, a
geopolítica da guerra fria, o golpe de 1964
no Brasil e o mundo bipolar; a ascensão
japonesa e alemã, a multipolaridade
econômica, a Rússia na nova ordem
Geopolítica, a supremacia norte-americana,
a doutrina Bush, a guerra e ocupação do
Iraque. Além disso, abordam, em outra
unidade, a questão energética mundial, a
geopolítica da água e do petróleo e, por
fim, discutem os conflitos étnicos e o
terrorismo mundial.
É importante destacar a forma crítica como
abordam os acontecimentos do 11 de
setembro de 2001, as intervenções
mundiais dos Estados Unidos nos séculos
XX e XXI, seu poder de decisão, sua
unipolaridade militar, sua política de
guerra, a imposição de seus valores e a
definição da sua forma de governo em
países com diferentes tradições e culturais.
Para discussão desse assunto, fazem
citações de autores conceituados, como
Noam Chomsky.
O livro didático utilizado pelas turmas de
7ª e 8ª séries da escola Municipal Sebastião
Rangel é “O espaço Geográfico mundial: o
mundo subdesenvolvido. Levon
Bololigian... [et. al.]. São Paulo: Atual,
2001. (- Geografia: espaço e vivência)”.
Os autores abordam questões de Geografia
Política e Geopolítica de forma objetiva,
 20

preocupando-se com as desigualdades Crítica. José William Vesentini, Vânia

econômicas, políticas e culturais do mundo Vlach. São Paulo: Ática, 2002”.
e a evolução tecnológica. Os autores procuram trabalhar uma
Os livros possuem páginas de conteúdos Geografia crítica, participativa,
com textos reflexivos e algumas atividades privilegiando a construção do
de análise e interpretação. Porém, não conhecimento do espaço historicamente
contemplam propostas de atividades produzido, respeitando e relacionando
complementares, recursos como sugestões assuntos globais com a realidade dos
de leitura, vídeos e internet. alunos.
O livro de 7ª série aponta a organização do O livro para a 7ª série aponta o mundo
espaço mundial, espaço, poder e territórios atual, sua unidade e diversidade. Os
nacionais; as transformações mundiais problemas econômicos, socioculturais e
recentes, a globalização e a fragmentação; políticos da América Latina da África e da
o subdesenvolvimento, as influências Ásia, assim como a geopolítica desses
externas e os problemas de integração na continentes.
América Latina, o continente africano e o No livro da 8° série, aborda-se o continente
asiático, seus problemas econômicos, europeu, seus problemas econômicos,
sociais e políticos, e a geopolítica do sociais e políticos, a Europa Oriental, a
Oriente Médio. antiga Iugoslávia, Eslovênia, Croácia,
No livro de 8ª série, discute-se os Estados Macedônia, Bósnia-Herzegovina e a guerra
Unidos e sua influência na economia, do Kosovo, a CEI, a construção do Império
cultura e geopolítica mundiais; os desafios Russo e a Federação Russa.
econômicos, políticos e sociais da Europa; Discute-se, ainda, os Estados Unidos,
a Rússia, do Império Russo à formação e a Canadá, Japão, Austrália e Nova Zelândia.
desagregação da União Soviética, o seu No último capítulo, os autores abordam
atual papel geopolítico, os movimentos algumas perspectivas para o século XXI,
separatistas e o poder central russo; os discutindo temas como a nova ordem e
conflitos e tensões na Comunidade dos hegemonia mundial.
Estados Independentes (CEI) e o
separatismo no leste Europeu.
As turmas de 7ª e 8ª séries das Escolas
Municipais Antônio Martins da Silva;
Domingos Camim e José Marra da
Fonseca, utilizam o livro “Geografia

Considerações finais
Para caminhar em direção à construção da
cidadania, num contexto social
democrático e igualitário, é fundamental
enfrentar as desigualdades da sociedade
brasileira, considerando, como disse Paulo
Freire (1987), que somente uma educação
libertadora e humanística contribuirá para
que cada indivíduo reconheça seus direitos
e deveres na sociedade.
A pesquisa aponta que, ao contrário do que
se imagina, os alunos apresentam alguns
conhecimentos básicos sobre os temas;
porém, deixaram evidentes as limitações
para a aprendizagem dos mesmos.
A razão das dificuldades na aprendizagem
dos temas de Geografia Política
Geopolítica pode estar relacionada com as
lacunas da qualificação do corpo docente,
com a falta de interesse de parte dos
alunos, com a precariedade do material
didático utilizado na sala de aula, ou até
com a falta de recursos que disponibilizem
as informações necessárias para a sua
aprendizagem.
No caso dos distritos analisados, a maior
limitação da aprendizagem, além da
insuficiência da carga horária da disciplina
de geografia, é a falta de recursos e
materiais didáticos diversificados
atualizados, o que afeta diretamente o
trabalho do professor e aumenta
desinteresse dos alunos.
21
O ensino de Geografia Política e
Geopolítica é importante em todos os
níveis do processo educativo, e qualquer
experiência ou prática educativa que
contribuam para a sua melhoria, é bem-
vindas.
Diante disso, faz-se necessário fornecer, às
escolas, algumas sugestões didáticas, para
facilitar a compreensão dos alunos sobre as
relações entre território, poder e cidadania
na sociedade brasileira, o que exige uma
valorização dos procedimentos básicos
para a análise dos fenômenos geográficos
(observação, descrição, interpretação,
análise e representação). Nesse sentido, é
fundamental a análise crítica de filmes,
documentários, músicas e periódicos que
e tratam esses temas, bem como organizar,
junto à comunidade escolar, palestras,
mini-cursos e debates, explorando as
singularidades do Brasil no mundo atual.
Essas sugestões devem ser consideradas
pelos professores, no intuito de se melhorar
a aprendizagem dos temas de Geografia
Política e Geopolítica. Se o papel da
Geografia é cada vez mais relevante na
gestão de uma cidade e de um Estado, não
se pode deixar de fazê-la (re)conhecida nas
escolas de Ensino Fundamental e Médio.
e
o

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