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Caminhos da Semiótica literária Introdução

suscita , o qual prolonga e renova infinitamente as suas sig- uma certa ingenuidade do olhar ou até mesmo uma sus-
nifica ções. Basta pensar, para alé m da atividade crítica , na
* pensã o metódica do julgamento. Os conceitos anal íticos
diversidade dos m étodos de aná lise cujos instrumentos teó- que eles então propuseram se enraizavam nos fundamentos
ricos extraordinariamente variados fazem do metadiscurso de lima teoria geral da linguagem , a montante da literatu-
sobre a literatura uma espécie de duplo do pr ó prio objeto ra , que era preciso reinserir na relatividade cultural de sua
literá rio. \Essas abordagens estã o centradas na origem do pr ó pria designa çã o. Elaborados, não sem dificuldade, na
texto (seu estabelecimento e sua gé nese, da abordagem fi- euforia estruturalista, esses novos instrumentos de descri-
lológica à cr ítica genética ), no pró prio texto (suas formas de ção viriam a sè interdefinir, a se homologar, a entrar em
expressão e de conte ú do, com que se preocupam a retó ri- uma hierarquia circunstanciada, e a reatar, sob uma luz re-
ca, a estil ística, a aná lise textual , a semiótica , a poética ), na novada , com problemáticas antigas , às quais eles garanti-
figura do autor ( como personagem de sua histó ria na críti- riam , num campo de pertinê ncia claramente estabelecido ,
ca biográfica , como inconsciente na crítica psicanal ítica ou um m ínimo de confiabilidade descritiva.
como sujeito social na sociocrítica ), e no contexto sócio- Podemos resumir sucintamente seu mé todo, dizen-
histórico, por fim ( as transformações dos gê neros, a histó ria do que a semió tica privilegiou quatro dimensões que, em-
social da recepção dos textos e a da instituição literá ria ) . bora n ão sejam propriamente do texto liter á rio, nele se ar-
A

Entre essas diferentes propostas, convé m " situar as ticulam de maneira espec ífica . E talvez pela sua composi-
orientações da semiótica. Interessando-se pelas condições çã o que se define em parte o uso literá rio da l íngua: a di-
da apreensão da significação, ela situou o texto e suas estru- mensão narrativa , a dimensão passional , a dimensão figura-
turas organizadoras no centro de suas investigações. Fazen- tiva e a dimensão enunciativa.
do uma espécie de “limpeza da situa çã o verbal ” , para reto- N A dimens ã o narrativa é a mais solidamente estabele-

mar uma expressão de Paul Valé ry,19 os semioticistas da li- cida. Ela consiste em desnudar as estruturas organizadoras
teratura, seguindo A. J. Greimas, consideraram com reser- de nossa intuiçã o narrativa , transformadas pela linguagem
va, e até com suspè ição, todos os termos legados pela tradi- nesses “seres de papel ” que são os atores, sujeitos de desejo
ção literá ria , solidificados pel ò uso e naturalizados como ou de medo, adquirindo competê ncias, agindo, lutando,
evidências, que filtram imperiosamente nosso acesso à tex- fracassando ou obtendo vitó rias. Organizações predicativas
tualidade: personagens, atmosfera, imagem, sentimento, de um tipo peculiar subtendem-lhes os percursos: as estru-
descri ção e narração, gêneros e estilo de escrita , etc. Rejei- turas actanciais se definem por uma composição modal
tando, pêlo menos provisoriamente, essas noções da práti- ( querer, dever, saber, poder, ser ou fazer) que comanda a
ca descritiva, eles quiseram fazer tá bula rasa paira assegurar transformação da rela ção de um sujeito com objetos de va-
lor ( os quais ele adquire pelo combate ou pela troca , e dos
quais ele é privado por despossessão ou por ren ú ncia ) e
19. VALERY, P. Poesia e pensamento abstrato. In: . Variedades. Tra-
, com outros sujeitos na mesma cena narrativa. As estruturas
dução de Maiza Martins de Siqueira . São Paulo: Iluminuras, 1991. p. 202. se desdobram em sequ ê ncias que a histó ria cultural , a dos

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