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Caminhos da Semiótica literária Introdução gí


po). Dava-se prioridade ao texto-enunciado, e tudo aquilo as formas da instituição literá ria que enquadram e determi-
que pertencia à situação extralingu ística (a realidade, in- nam as significa çõ es do texto e sua eficá cia comunicativa.
clu ída a do sujeito da fala ) era por princ ípio exclu ído do Tal cr ítica pode parecer plenamente justificada se
campo da análise. O sujeito é pressuposto pela manifesta- considerarmos que os formalistas tiveram ou têm ainda, às 4
çã o do discurso, reconstitu ível a partir dos tra ços que deixa vezes, tend ê ncia a elaborar “ em abismo” instrumentos con-
nele, acessível por meio de numerosas instâ ncias de delega- ceituais cada vez mais sofisticados, fazendo refer ê ncia aos
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çã o que simulam sua presença no interior do texto ( o nar- está gios anteriores de sua conceptualização e se afastando
rador, o observador, os interlocutores ) , localizá vel por ope- mais e mais da realidade primeira de seu objeto. Esse traba-
rações enunciativas ( debreagem e embreagem, focalizaçã o, lho pode levar, como dizia Montaigne, a “ multiplicar as su-
ponto de vista e perspectiva ) , reconhecido como agente da tilezas ” , ensinando os homens a “ aumentar as d ú vidas”.21
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textualização, mas sempre cuidadosamente mantido den- Para n ós, todavia, esse julgamento crítico se baseia funda-
tro dos limites de pertin ência que- a teoria fixou. Essa posi- mentalmente num mal-entendido: podemos considerar, 1
çã o foi objeto de in ú meras discussões e, parece-nos, de com efeito, que o projeto semiótico é ser, ao mesmo tempo,
mal-entendidos lamentáveis, mesmo porque o trabalho so- uma sócio- e uma psico-semiótica. Parece-nos que descobrir
bre a literatura e a leitura implica , de uma maneira ou de estruturas imanentes nas formas é també m dotar-se dos
outra, o empenho das subjetividades. , meios de reconhecer as convenções que o uso pouco a pou-
A fim de precisar este ponto, é necessá rio determo- co estabeleceu , sedimentadas em estruturas e constru ídas
nos um momento sobre as críticas dirigidas hoje em dia à com regras impl ícitas. Essas convenções moldam as expec-
abordagem semiótica do texto: diretamente ou não, elas se tativas dos leitores. Elas asseguram, para á l é m do sistema da
referem quase sempre à ausência da enunciação. Elas ex- l íngua em si, a previsibilidade do conte údo, as hipóteses e
pressam , essencialmente, uma censura ao formalismo ligado inferê ncias da leitura. As estruturas assim compreendidas
ao princípio de imanê ncia reivindicado pelos semioticistas, deveriam estar também relacionadas com o sujeito, mas
segundo o qual os fenômenos “entram em um sistema fe- elas fazem parte agora de uma enunciaçã o enfraquecida, do
chado de relações” que levam a considerar a l íngua e o dis- s murm ú rio impessoal dos discursos que milh ões de falas en-

curso como objetos abstratos “em que contam somente as ;


gendraram, retomadas e repisadas: a fraseologia, as expres- \

relações entre os termosVo O desnudamento das estruturas sões fixas, os estereótipos, esses blocos pré-fabricados e “ pr é-
formais quebra o elo entre o discurso e seu sujeito, tira a A .moldados” de discursos atestam na superfície a impessoali-
obra da realidade histó rica de sua produ ção e recepção, ig- dade da enunciação. E à sedimentação, produto cultural
nora a cronologia, a historicidade ,, as condições de leitura , dessa práxis enunciativa , respondem a inovação e a ruptura, 1

20 . COQUET, Jean-Claude. La quête du sens: le langage en question. 21. MONTAIGNE , Michel de. Da experiê ncia . ín : .. Ensaios. Tra-
Paris: PUF,.1997. p. 2 e 235. ( Formes sémiotiques). dução de Sé rgio Milliet. Porto Alegre: Globo, 1961. p. 323.

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