Mudança na estrutura das relações internacionais. Passagem do
equilíbrio de poder europeu para a política mundial. O mapa político asiático, africano, e extremo oriente era decidido por estadistas em Londres, Paris. “Assim, no espaço de meio século, um sistema multilateral de equilíbrio, cujo centro era a Europa, foi substituído por um sistema de bipolaridade global entre duas grandes potências extra europeias, os Estados Unidos e a União Soviética. ” “Mas, embora a autodestruição da Europa através de suas lutas intestinas seja habitualmente destacada como causa principal de seu declínio, dois outros fatores foram, a longo prazo, mais decisivos. O primeiro deles foi a concentração de poder nos dois flancos — um processo, em muitos aspectos, independente do que se passava na Europa. O segundo foi o surto de novos centros de gravidade política e novos campos de conflito na Ásia e na região do Pacífico, com os quais as potências europeias só indiretamente estavam relacionadas. ” Justificar a divisão em dois blocos de superpotências e dizer que é culpa do declínio europeu é uma interpretação negativa. Mas muito tempo antes a Europa já não era tão o centro, a Rússia já havia participando desse equilíbrio antes, e a partilha da África foi mais uma forma de mostrar como o equilíbrio de poder estava chegando a escalas globais. Muitos autores acreditavam que o equilíbrio poderia ser mundial porem que as decisões finais ainda seriam tomadas na europa. E também pensavam de forma pessimista sobre a Rússia e os EUA se tornarem grandes potências e passar e europa, porém depois da Guerra da Criméia esse pensamento passou a ser visto como otimismo. Apesar de Bismarck criar uma Alemanha forte, com a industrialização, não só a europa ocidental se industrializou, mas os EUA e a Rússia também, dessa forma até passando as potências europeias. “A ascensão dos Estados Unidos e, paralelamente, a ascensão da Rússia ao plano de potências mundiais foram, de fato, os acontecimentos decisivos que propiciaram o advento de um novo período na política mundial. ” Seeley acreditava que a Rússia e EUA iriam emergir como protagonistas com seu vapor e eletricidade, suas estradas de ferro, ou seja, a industrialização, e iriam deixar França e Alemanha para um segundo plano, e acreditava que a Grã-Bretanha poderia se unir aos EUA e Rússia como protagonistas também. Muitos, porém, não acreditavam nessa visão, por motivos de a Alemanha estar forte com Bismarck e no final do século XIX a Europa parecer ter se recuperado e voltado a estar forte. Porém, ninguém viu que a Alemanha forte de Bismarck estaria fadada ao tempo e que os EUA, que parecia pelo olhar europeu estar no isolacionismo, não significava que não se meteria em nenhuma questão mundial. E também não se levou em conta que ao longo do século XIX os EUA estiveram empenhados e não só, como para os europeus eram, ficar no continente norte-americano, mas eles pretendiam dominar todos o continente americano e outras áreas além do pacifico. “Esse exuberante e fervoroso expansionismo americano, que em seus múltiplos impulsos e arremetidas não reconhecia limites geográficos, colocou o crescente império americano em contato — e frequentemente em conflito — com os outros imperialismos do século XIX: francês e espanhol, britânico e russo. O resultado foi um desvio no eixo da política mundial. ” “Depois de 1815, os acontecimentos políticos eram representados em dois palcos, intercomunicantes mas separados; o palco mais vasto da política mundial emancipou-se d mais exíguo, o europeu, do qual o primeiro não passara, durante muito tempo, de simples pano de fundo, e enquanto as duas grandes potências nos flancos da Europa, a Inglaterra e a Rússia, desempenhavam seus papéis em ambos os palcos, os Estados Unidos estavam ainda confinados ao primeiro, ao passo que as potências continentais europeias atuavam, total ou predominantemente, no último.” O que é chamado com expansão da europa nos finais do século XIX era o fato da partilha da África e Ásia, na África os países europeus se juntaram para partilhar entre eles as áreas africanas, entretanto quando chegaram a Ásia e principalmente a China o quadro mudou, pois tanto o Japão, quanto os EUA e a Rússia eram países do pacifico e não eram estrangeiros vindos de longe. A China só não foi partilhada entre os países europeus, como foi a África, pois os países extra europeus Japão e EUA não deixaram, pois, essa área da China era de grande interesse para os dois se expandirem e para a sua própria segurança. “A ameaça de partilha da China, o temor de que o continente chinês caísse sob controle europeu, incitou à ação as potências extra europeias. O resultado foi o aparecimento de um sistema de política mundial que acabou por deslocar, finalmente, o sistema europeu. ” “Não obstante, foi no Extremo Oriente, onde seus interesses estavam diretamente em jogo, que os Estados Unidos começaram a assumir seu papel de potência mundial — e foram seus interesses no Extremo Oriente que originaram o conflito com a Rússia. ” “A nota de Hay de 1899, embora servisse de aviso geral de que os Estados Unidos não estavam dispostos a ver a Ásia oriental converter- se em campo de batalha das potências europeias e suas respectivas políticas, era primordialmente dirigida contra a Rússia, a única potência que, nessa época, podia efetivamente desafiar os Estados Unidos na região do Pacífico. ” “Em particular, sublinharam que a guerra deflagrada em 1914 não era, de início, uma guerra mundial, mas uma grande guerra europeia, só passando a mundial em 1917. Assim, argumenta-se, ainda em 1914 as questões europeias retinham sua primazia; o que levou à guerra não foi o imperialismo europeu, nem a expansão dos interesses econômicos e coloniais das potências europeias, nem o envolvimento das grandes potências extra europeias em suas rivalidades, mas - por essa altura, um anacronismo — a série completa dos velhos antagonismos europeus. ” “Que a Alemanha procurou estabelecer seu domínio sobre a Europa, não resta dúvida; porém, sua finalidade - ao invés dos anteriores rivais pela hegemonia europeia — não era europeia, mas, como Plehn formulou em 1913, era "obter a liberdade de participar na política mundial”. ” “Assim, podemos afirmar que a Primeira Guerra Mundial foi a reação da Alemanha a uma nova constelação de forças mundiais — como, de fato, foi a guerra de Hitler um quarto de século depois. Os objetivos de guerra alemães, explicados minuciosamente em 9 de setembro de 1914, eram a criação de dois vastos impérios: um no coração da Europa, outro na África central. ” “Mas, embora esses fatos pudessem tornar necessário meter na ordem a Inglaterra, no curso do processo, é provavelmente verdade que o propósito da Alemanha não era a destruição da Inglaterra, como Napoleão quisera, mas garantir a participação alemã no "futuro concerto de potências mundiais", estabelecendo um império alemão que ombreasse com o império britânico e se igualasse aos nascentes impérios mundiais da Rússia e dos Estados Unidos. ” “Embora a guerra de 1914 começasse na Europa, foi, portanto, desde o início, uma guerra mundial em concepção e nos planos. ” “Não é exagero, portanto, afirmar que a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917, constituiu um ponto importante na História assinalou a fase decisiva na transição de uma era europeia para uma era mundial da política. Foi importante ainda em outro sentido. Depois da revolução bolchevista na Rússia, em novembro de 1917, tomou forma tangível a divisão do mundo em dois grandes blocos de potências rivais, inspirados por ideologias manifestamente irreconciliáveis. ” “E foi para impedir que Lênin ganhasse o monopólio dos planos de edificação do mundo de pós-guerra que, em janeiro de 1918, Wilson publicou os seus famosos Quatorze Pontos. "Wilson ou Lênin", escreveu o socialista francês Albert Thomas; "Democracia ou Bolchevismo... Uma Escolha a Fazer”. ” “Mas, apesar dessa rivalidade, Wilson e Lênin tinham uma coisa em comum: a rejeição por ambos do sistema internacional existente. Ambos rejeitavam a diplomacia secreta, as anexações, a discriminação comercial; ambos se alhearam do equilíbrio de poder; ambos denunciaram o "peso morto do passado". Eram "os campeões revolucionários da época", "os profetas da nova ordem internacional”. ” “Em muitos aspectos, a característica mais significativa dos programas de Wilson e Lênin era não tomarem a Europa como centro, abrangendo o mundo inteiro: quer dizer, ambos apreenderam o método de apelar para todos os povos do mundo, independentemente de raça ou cor.” “Também é possível afirmar, com não menor segurança, que o sistema de bipolaridade em que hoje vivemos não é, simplesmente, o resultado das condições criadas pela Segunda Guerra Mundial. A emergência gradual da Rússia e dos Estados Unidos como superpotências e a decrescente importância dos Estados europeus são acontecimentos com raízes situadas para além do começo do século atual; constituem um dos mais nítidos sintomas do início de uma nova era. ”