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Capítulo VII

Nutrição, exercício e saúde na


rapariga e na mulher
Fátima Baptista e Nanna Meyer

FISIOLOGIA DA MULHER mona folículo-estimulante (FSH) e da hor-


mona luteinizante pela hipófise anterior.
Estas hormonas controlam a formação de
Puberdade óvulos pelos ovários ou de espermatozói-
des pelos testículos e a secreção de hor-
A puberdade constitui um processo bioló- monas sexuais (estrogénios, progesterona
gico em que se verifica a evolução da e androgénios) (Quadro VII.1).
criança para a idade adulta sexualmente
madura e apta para a reprodução. A evo- Em média, a sequência pubertal da gonadarca,
lução da maturidade sexual ou fertilidade adrenarca e menarca requer um período de quatro
é determinada pela estimulação das gó- anos e meio (amplitude de ano e meio a 6 anos).
nadas (ovários e testículos), através das Em geral, o primeiro sinal da puberdade é a ace-
leração do crescimento seguida por elevação do
hormonas segregadas pela hipófise. As mamilo (telarca). A adrenarca surge geralmente dois
gónadas começam a formar gâmetas fér- anos mais tarde após a telarca. Todavia, em aproxi-
teis (óvulos ou espermatozóides) e também madamente 20% das crianças o crescimento de
a segregar hormonas que promovem o pêlos púbicos pode constituir o primeiro sinal da
aparecimento dos caracteres sexuais adul- puberdade. A menarca é um acontecimento mais
tos. Para além do desenvolvimento sexual, tardio que ocorre depois do pico de velocidade em
verifica-se também uma aceleração do altura (Figura VII.1).
crescimento linear e ponderal e da matu-
ração das glândulas supra-renais. O salto de crescimento das raparigas
tem início dois anos mais cedo (média:
DESENVOLVIMENTO PUBERTÁRIO dez anos e meio; amplitude de variação
de nove anos e meio a catorze anos e
A puberdade envolve uma sequência meio); que o dos rapazes e num ano a sua
de passos maturativos dependentes da taxa de crescimento duplica, conduzindo
reactivação do eixo hipotálamo-hipófise- a um crescimento em altura de 6 a 11 cm.
-gónada, inibido entre a primeira infância O pico da velocidade da altura ocorre
e o início da puberdade. Verifica-se a entre os nove anos e meio e os treze
secreção da hormona libertadora das anos, enquanto o pico de velocidade do
gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo, peso ocorre um pouco mais tarde,
que por sua vez estimula a secreção de coincidindo usualmente com a idade da
gonadotrofinas, nomeadamente, da hor- menarca (média: 13 anos; amplitude de

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Nutrição, Exercício e Saúde

Quadro VII.1 • Sumário dos acontecimentos pubertais.

• Com o aumento do estrogénio gonadal (gonadarca), verifica-se na rapariga o desenvolvimento


da mama, o aumento e a redistribuição da gordura corporal e o crescimento vaginal e uterino.
O crescimento do esqueleto ocorre rapidamente em resultado da secreção inicial de baixos níveis
de estrogénio, o que conduz ao aumento da produção da hormona de crescimento, que por sua
vez estimula a produção do factor de crescimento insulino-mimético-I (IGF-I);
• O crescimento de pêlos púbicos e axilares (adrenarca) está dependente da secreção de andro-
génios pelo córtex das glândulas supra-renais (cuja actividade tem início por volta dos 6 anos)
e em menor grau da secreção de androgénios gonadais. A adrenarca tem pouca ou nenhuma
influência no crescimento do esqueleto. Embora temporariamente relacionada com a gonadarca,
a adrenarca é independente;
• A ocorrência da primeira menstruação (menarca) no final da puberdade está dependente da
estimulação do endométrio através de secreção suficiente de estrogénios gonadais.

variação: nove a dezassete anos e meio). dentes dos outros indicadores. A avalia-
A maioria das raparigas alcança o pico de ção da maturação sexual é baseada no
crescimento mais ou menos dois anos desenvolvimento de caracteres sexuais
após a telarca e um ano antes da menarca. secundários – mama e menarca nas rapa-
As evidências sugerem que a aceleração rigas, órgãos genitais nos rapazes e pêlos
do crescimento é devida ao estrogénio e púbicos em ambos os géneros. Ao con-
concomitante aumento na produção da trário dos outros indicadores, que podem
hormona de crescimento e estimulação ser monitorizados da infância à idade
secundária do IGF-I. adulta jovem, a utilização dos caracte-

Elevação do mamilo

Aparecimento de pêlos púbicos

Pico de velocidade em altura

Menarca

Mama de adulto

Pêlos púbicos de adulto

8 10 12 14 16 18
Idade (anos)

Figura VII.1 • Média de idade de ocorrência de eventos pubertais.

A avaliação do nível de maturidade res sexuais secundários é limitada à fase


varia de acordo com o sistema biológico pubertal do crescimento e maturação:
considerado. Os indicadores de maturi- • O estádio I corresponde à pré-puber-
dade biológica mais utilizados nos estu- dade (ausência de caracteres);
dos de crescimento são a maturação • O estádio II ao início da puberdade;
sexual, a maturação do esqueleto e a ma- • Os estádios III-IV à continuação da
turação somática, razoavelmente relacio- maturação de cada caracter;
nados. A erupção e calcificação dos dentes, • O estádio V ao final da puberdade,
embora utilizadas como indicadores de que na rapariga é sinalizado com a
maturidade, são relativamente indepen- menarca.

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Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


IDADE DA PUBERDADE LEPTINA
Embora a maior determinante da idade da Apesar de nem todos os estudos encon-
puberdade seja genética, outros factores trarem uma relação entre o início da
parecem influenciar o início ou a pro- puberdade e o peso (ou gordura corporal),
gressão da puberdade como a localização coloca-se a hipótese de que mecanismos
geográfica, a exposição à luz, a nutrição centrais de controlo da maturação do eixo
e a saúde em geral e também factores hipotálamo-hipófise-ovário estimulem o
psicológicos. Crianças com uma história aumento do peso (ou da massa gorda), até
familiar de puberdade precoce iniciam valores considerados limiares para a ocor-
mais cedo a puberdade, verificando-se rência dos acontecimentos pubertários.
uma correlação da idade da menarca entre A identificação da leptina revitalizou a
mães e filhas e entre irmãs. Crianças que importância da relação entre a gordura
habitem mais perto do Equador, em alti- corporal e a função reprodutiva. A lep-
tudes mais baixas, em áreas urbanas e tina é um péptido secretado pelo tecido
moderadamente obesas iniciam mais cedo adiposo, que circula no sangue ligado a
a puberdade comparativamente a crianças uma família de proteínas e que age no
que habitem em regiões de maior latitude, sistema nervoso central para regular os
em altitudes maiores, em áreas rurais e comportamentos alimentares e o equilí-
de peso normal. Existe ainda uma corre- brio energético. Várias observações supor-
lação entre o início e a duração da puber- tam a função da leptina na fisiologia do
dade: quanto mais cedo o início, maior a sistema reprodutivo.
duração. • A administração de leptina acelera
o início da puberdade nos animais
A diminuição da idade da menarca, observada em roedores;
crianças de países desenvolvidos, reflecte uma
• Os níveis de leptina dos rapazes au-
melhoria do estado nutricional e condições de
vida mais saudáveis. Parece ser crítica a obtenção mentam na puberdade;
de um peso de 48 kg para que ocorra a menarca. • Foram observados níveis baixos de
Possivelmente mais importante do que o peso leptina em atletas, pacientes com
corporal talvez seja o aumento da percentagem de anorexia e com atraso da puberdade;
massa gorda (de 16 para 23,5%) durante a puber- • Embora com um desenvolvimento
dade, o que por sua vez também é influenciado sexual normal, ratos com insuficiên-
pelo estado nutricional. Na realidade, nas raparigas cia de leptina, permanecem pré-
obesas (com mais de 20 a 30% do peso normal), -pubertais e não demonstram ovula-
a menarca ocorre mais cedo do que nas raparigas ção. A fertilidade é restaurada com
de peso normal. Inversamente, as raparigas com
administração de leptina.
anorexia e as que realizam exercício de forma
exaustiva, ou seja, as de baixos peso e percentagem Os níveis de leptina aumentam durante
de massa gorda, apresentam atraso da menarca ou a infância até ao início da puberdade,
amenorreia secundária. sugerindo que um nível limiar de leptina
(e consequentemente uma quantidade
A existência de outros factores deter- crítica de tecido adiposo, fonte de leptina)
minantes da ocorrência da menarca é seja necessário para que a puberdade se
evidenciada pelo seu atraso em raparigas inicie. Quanto mais elevados os níveis
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morbidamente obesas (com mais de 30% de leptina, mais cedo ocorre a idade da
de excesso de peso), diabéticas e rapa- menarca. Após a puberdade, os níveis de
rigas activas ou atletas de peso normal. leptina nos rapazes regressam aos valores
Raparigas com uma percentagem de massa pré-pubertais, devido a aparente supressão
gorda de 19% podem experimentar a me- pela testosterona. Nas raparigas, os níveis
narca mais cedo e raparigas com 27% de de leptina são mais elevados do que nos
massa gorda podem não apresentar sinais rapazes e diminuem também com a pro-
de puberdade. gressão dos estádios pubertários.

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Nutrição, Exercício e Saúde

Destaque

EXERCÍCIO FÍSICO NA PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA


Apesar de as crianças constituírem o grupo etário mais activo, um número pequeno
mas significativo de crianças apresenta níveis insuficientes de prática de actividade
física regular. As raparigas apresentam geralmente uma prática mais reduzida do
que os rapazes da mesma idade. Esta diferença é aumentada durante a adolescência,
uma vez que a diminuição do nível de actividade física, que se verifica a partir da
puberdade em ambos os géneros, é mais acentuada nas raparigas.
Para além de instrumento de desenvolvimento psicossocial e motor, a prática de
actividade física, sob diversos formatos ajustados à idade e nível de maturação,
constitui um instrumento de promoção da saúde. Alguns dos benefícios, como a
redução ou prevenção do excesso de peso e da obesidade são obtidos a curto prazo,
outros benefícios, como a prevenção de doenças cardiovasculares e da osteoporose,
são obtidos a longo prazo se os hábitos de prática forem incorporados e mantidos
num estilo de vida activo.

Crianças e adolescentes, e em particular as raparigas, tornam-se, assim, grupos-alvo de estratégias


de prevenção que têm por objectivo o aumento da prática de actividade física. O TAAG (Trial
of Activity in Adolescent Girls) constitui um modelo de intervenção baseado numa aproximação
sócio-ecológica em que o principal objectivo é aumentar o nível de actividade física de inten-
sidade pelo menos moderada das adolescentes do sexto ao oitavo ano de escolaridade, através
de modificações no envolvimento físico (por exemplo, o número de programas de actividade
física disponível fora da escola) e psicossocial (por exemplo, a percepção do nível de confiança
para a prática de actividade física, dos benefícios e barreiras de se tornar mais activa, do suporte
social, etc). Trata-se de um modelo de intervenção sustentado no facto das motivações,
preferências e barreiras para a prática, por serem diferentes entre rapazes e raparigas, requererem
intervenções específicas de acordo com o género. Enquanto que as motivações para a prática
relatadas pelos rapazes estão mais relacionadas com a oportunidade para a competição, o
reconhecimento, o aumento do vigor físico e o isolamento, nas raparigas, o controlo do peso
parece constituir um dos principais mediadores para a prática de actividade física.

A recomendação geral para ambos os géneros é, no entanto, a de uma acumulação


diária (prática intermitente com breves períodos de pausa ou recuperação), de
60 minutos de actividade física de intensidade pelo menos moderada, dos quais
20 a 30 minutos devem ser de actividade vigorosa, como correr, subir, descer e
saltar, complementadas com jogos, actividades ou exercícios que solicitem a força
e a flexibilidade do tronco, dos membros superiores e inferiores, duas a três vezes
por semana.
As propostas ou programas devem assim incluir jogos, actividades ou exercícios
que solicitem o sistema cardiovascular (movimentos de locomoção como, por
exemplo, nadar, pedalar, fugir, apanhar, procurar), que tenham impacto no
esqueleto (por exemplo, saltar e correr) e que melhorem a força e a flexibilidade
(por exemplo, subir, trepar, elevar, puxar, flectir, alongar ou esticar). As crianças
geralmente não necessitam de monitorizar a frequência cardíaca devido ao baixo
risco cardiovascular e à sua habilidade para ajustar o esforço à sua tolerância. A
força muscular pode melhorar com o treino tanto em rapazes como em raparigas
antes da puberdade devido sobretudo a adaptações neurais e não ao aumento da
massa muscular.
Embora os factores motivadores para a prática variem com a idade de desenvolvi-
mento, a necessidade de divertimento, o nível apropriado de dificuldade, a limi-
tação da competição, o apoio dos amigos/colegas e da família e o reconhecimento
do sucesso constituem alguns dos factores determinantes. A falta de segurança na
área de residência, a inexistência de espaços lúdicos e a limitação de transportes

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Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


públicos ou privados representam barreiras à prática da actividade física. Desen-
corajam-se períodos de inactividade de duas ou mais horas, especialmente durante
o dia.
No âmbito da promoção da actividade física, as escolas devem integrar aulas de
educação física em cada grau de ensino, aumentando o seu tempo útil e eliminando
ou diminuindo drasticamente as dispensas destas aulas. Devem informar os alunos
sobre os benefícios da prática de actividade física e oferecer facilidades de prática
fora do horário escolar. As escolas e a comunidade devem disponibilizar um
conjunto de actividades, desportivas mas não só, que sejam agradáveis e possam
ser praticadas no dia-a-dia, que possam ir ao encontro de diversos interesses étnicos
e de género, que promovam a confiança e o desenvolvimento do desempenho
motor e que disponibilizem oportunidades para todos os níveis de desempenho.
Os pais devem constituir um bom exemplo sendo fisicamente activos, demonstrar
interesse, encorajamento e orgulho, devem envolver-se nos programas das escolas
e/ou das comunidades, devem encorajar a actividade das crianças dentro de casa
e providenciar o transporte para as actividades no exterior. (Ver Destaque: Exercício
físico e saúde cardiovascular).

Ciclo menstrual monas inibem a libertação da GnRH e


diminuem a segregação de hormona lutei-
O ciclo menstrual pode ser dividido em nizante. Níveis reduzidos de hormona
três fases: luteinizante conduzem à diminuição dos
níveis plasmáticos de estrogénio e de pro-
• A fase folicular; gesterona e à degeneração do corpo lúteo
• A fase ovulatória; e início da hemorragia menstrual. Devido
• A fase luteínica. ao mecanismo de retrocontrolo negativo
A fase folicular é caracterizada pelo do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, níveis
desenvolvimento inicial e maturação dos diminuídos de estrogénio e progesterona
folículos ováricos, processos que se en- sanguíneos estimulam a libertação da
contram dependentes da segregação ade- GnRH do hipotálamo iniciando-se outro
quada da (FSH) e da hormona luteini- ciclo menstrual (Figura VII.2).
zante, respectivamente. Estas hormonas Em caso de gravidez, a hormona gona-
estimulam os folículos do ovário a pro- dotrofina coriónica, segregada pelo trofo-
duzirem estrogénios (em que o principal blasto (camada de células que envolve o
é o estradiol), cuja secreção aumenta à botão embrionário), surge em circulação
medida que os folículos se desenvolvem. e impede a luteólise, para que a função
Na fase ovulatória, o nível de estrogénios, esteroidogénica do corpo lúteo seja man-
ligeiramente aumentado na fase anterior, tida até que possa ser desempenhada pela
eleva-se rapidamente e conduz a um pico placenta (às oito a 10 semanas de gravi-
da hormona luteinizante, através de retro- dez). A progesterona formada pelo corpo
controlo positivo no hipotálamo e na lúteo prepara a mucosa do útero ou endo-
hipófise, que por sua vez causa a ruptura métrio para implantação do embrião se o
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do folículo e a libertação do óvulo. Este óvulo for fecundado. A produção de pro-


acontecimento marca o início da fase gesterona pela placenta tem início depois
luteínica. Nesta fase, após a libertação do da implantação. Se o óvulo não for fecun-
óvulo, o folículo permanece no ovário e dado, verifica-se uma atrofia do corpo
transforma-se numa pequena glândula lúteo e a ocorrência da menstruação.
endócrina, o corpo lúteo, que continua a O estrógenio é um termo aplicado a uma
segregar estrogénios mas também proges- família de hormonas, que inclui principal-
terona. Os níveis aumentados destas hor- mente o estradiol, o estriol e a estrona.

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o padrão normal da idade reprodutiva.


Nutrição, Exercício e Saúde

GONADOTROFINAS
LH
Por volta dos 40 anos os ciclos começam
novamente a alongar-se.
FSH
Um ciclo menstrual tem início no pri-
meiro dia de uma menstruação e termina
no dia precedente à menstruação seguinte.
Apesar de alguma variabilidade intra-
CICLO OVÁRICO
-individual, o padrão normal encontra-se
Maturação do Ovulação Corpo amarelo
associado à ocorrência de nove a 12 ciclos
folículo menstruais por ano, com uma duração de
P
24 a 35 dias de intervalo entre os ciclos
E2 menstruais (mediana: 28 dias).

Desvios destes padrões resultam frequentemente


em disfunções reprodutivas, algumas manifestas,
-12 -8 -4 0 +4 +8 +12 como a amenorreia e a oligomenorreia, e outras
Fase folicular Fase luteínica
mais subtis relacionadas a anovulação e com
Fase ovulatória alterações da fase luteal. Estas são causadas pela
deficiência de progesterona sem ou com encur-
Figura VII.2 • Concentrações sanguíneas da tamento da fase luteal (inferior a 10 dias quando
FSH, da hormona luteinizante (LH), do estra- o normal são 14 dias), provocada pela alteração
diol (E2) e da progesterona (P) ao longo do da pulsatilidade da libertação da LH. Estas disfun-
ciclo mestrual. ções reprodutivas apresentam consequências ao
nível da fertilidade, da saúde cardiovascular, óssea
e do metabolismo oxidativo a nível muscular.

O estradiol, que é o estrogénio mais po- A oligomenorreia é definida pela ocor-


tente, é uma hormona produzida prin- rência de ciclos menstruais intermitentes
cipalmente pelas gónadas (ovários) e con- com durações iguais ou superiores a 36
tribui para a maioria dos estrogénios dias (ocorrência de três a seis ciclos
circulantes durante os anos férteis. A sua menstruais por ano).
função é promover a hiperplasia, ou seja, A amenorreia é definida através dos
a divisão e crescimento celular. Também seguintes critérios:
é produzido pela placenta durante a gra-
videz. O estriol é um estrogénio fraco • Ausência de período menstrual aos
também secretado pela placenta e/ou me- 14 anos na ausência de crescimento
tabolizado a partir da estrona. A estrona ou de manifestação do desenvolvi-
mento de caracteres sexuais secun-
deriva principalmente da androstenediona
dários (amenorreia primária);
(androgénio fraco) nos adipócitos (células
• Ausência de período menstrual aos
do tecido adiposo). Ele contribui para o
16 anos apesar de normal cresci-
restante estrogénio circulante e está asso-
mento e manifestação de caracteres
ciado ao metabolismo da pós-menopausa
sexuais secundários (amenorreia pri-
onde a sua eficiência está aumentada. mária);
A duração dos ciclos menstruais é de- • Ausência num período maior do que
terminada pela duração da fase folicular, 3 meses, nas mulheres que já foram
que pode variar entre uma a três semanas, menstruadas (amenorreia secundária).
enquanto a fase luteínica demora em mé-
dia duas semanas. A menarca, ou ocor- A coordenação do ciclo menstrual é
rência da primeira menstruação, é seguida realizada através da interacção do eixo
de um período de cinco a sete anos de central hipotálamo-hipófise, dos sinais de
regularização dos ciclos menstruais, com retrocontrolo e das respostas locais ao
encurtamento da sua duração até alcançar nível do ovário. Em raparigas/mulheres

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com ausência de menstruação ou função

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


As raparigas que iniciam programas de treino
menstrual anormal, geralmente o diagnós- exaustivos antes da ocorrência da menarca, ou
tico ou as causas são baseadas numa das seja, antes da completa maturação da função
seguintes três categorias: hipotâlamica-hipofisária-gonadal, podem atrasar
o aparecimento da primeira menstruação e aumen-
• Hipogonadismo hipergonadotrófico tar, também, o risco de amenorreia secundária.
(insuficiência do ovário), ou seja, a A redução do peso corporal abaixo dos limites
falta de capacidade de resposta do compatíveis com a disponibilidade de energia para
ovário à estimulação das gonado- a regulação das principais actividades metabólicas
trofinas; constitui, no entanto, uma das explicações mais
• Hipogonadismo hipogonadotrófico fortes para a ocorrência destas disfunções hormo-
nais.
(insuficiência central), ou seja, a falta
de capacidade do hipotálamo ou da
hipófise e que é expressa através de
adiposo e o crescimento ficam compro-
baixos níveis de gonadotrofinas cir-
metidos. Observações de que as atletas
culantes;
amenorreicas consomem menos calorias
• Disfunção anovulatória (ausência de
ovulação). (1 250 a 2 150 kcal/dia) do que as atletas
eumenorreicas (ciclos menstruais normais)
(1 700 a 2 500 kcal/dia), com um nível de
Disfunções menstruais em atletas treino semelhante, confirmam que estes
comportamentos alimentares estão pre-
Uma das razões mais frequentes de con- sentes (Ver Tríade da mulher atleta).
sulta ginecológica pelas raparigas/mulheres
que praticam exercício físico de forma Gravidez
exaustiva (intensivo e/ou extensivo) é o
diagnóstico e tratamento de disfunções A gravidez é o resultado da fecundação
menstruais. A amenorreia secundária apre- do óvulo pelo espermatozóide e da sua
senta uma taxa de prevalência quatro a implantação na parede uterina com con-
20 vezes mais elevada nas atletas do que sequente crescimento e maturação. É um
na população em geral e é designada por processo que dura em média 38 semanas.
amenorreia atlética quando não consegue Todavia, devido à incerteza da data de
ser explicada por outros factores a não ser concepção, a duração da gravidez é esti-
o treino. mada com base na data do primeiro dia
Entre as atletas, a prevalência da ame- do último ciclo menstrual, ou seja, mais
norreia secundária parece ser maior entre ou menos 15 dias antes da concepção,
as que são jovens, as que treinam mais perfazendo um total de 40 semanas. Ao
exaustivamente, e nos desportos em que longo deste período de tempo as adapta-
a magreza pode possibilitar vantagens ções maternais da gravidez são sobretudo
competitivas, como nos desportos de forte controladas pelo feto, pelas suas necessi-
componente estética, de longa distância e dades de trocas de produtos metabólicos
por categorias de peso, estimando-se em e nutricionais com a mãe. Este controlo
50% a sua prevalência entre as mulheres envolve uma grande variedade de mensa-
que treinam sob estas condições. gens, transmitidas em muitos casos atra-
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Em períodos prolongados de insufi- vés de hormonas (maternais, placentárias


ciência energética, o corpo mantém as e fetais). Por exemplo, a insulina e a hor-
actividades necessárias à sobrevivência mona lactogénica da placenta, também
disponibilizando energia para a manuten- designada por somatotrofina coriónica,
ção celular de funções essenciais como a promovem adaptações do metabolismo
termorregulação e a locomoção, enquanto energético materno no sentido de limitar
que processos menos críticos como a fun- a utilização da glicose por parte da mãe
ção reprodutiva, a deposição do tecido e de a maximizar por parte do feto. Si-

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multaneamente, a hormona lactogénica


Nutrição, Exercício e Saúde

Quadro VII.2 • Contra-indicações absolutas


da placenta promove a lipólise como
para a prática de exercício durante a gravidez.
principal fonte de energia do comparti-
mento materno. • Doença cardiovascular com alterações he-
A ideia de que a gravidez constitui um modinâmicas significativas;
período de fragilidade e de que a reali- • Doença pulmonar restritiva;
zação de esforços associados ao exercício • Cérvix incompetente;
é prejudicial faz parte do passado. Este • Trabalho de parto precoce em gravidezes
facto é devido ao aumento da informação anteriores;
científica sobre a segurança e os bene- • Hemorragias persistentes no segundo e no
fícios do exercício maternal. No entanto terceiro trimestre de gravidez;
muitas questões permanecem sobre o que • Placenta prévia depois das 26 semanas de
gestação;
deve ou não ser feito durante a gravidez.
• Trabalho de parto precoce na actual gra-
videz;
O exercício pode produzir efeitos adversos de- • Ruptura de membranas;
vido a: • Pré-eclampsia/hipertensão induzida pela gra-
• Insuficiente disponibilidade de oxigénio e de videz.
energia para o trabalho muscular realizado pela
mãe e para o desenvolvimento do feto;
• Hipertermia, indutora de perturbações fetais;
• Aumento de contracções uterinas. Quadro VII.3 • Contra-indicações relativas
para a prática de exercício durante a gravidez.
No entanto, os estudos indicam que
mulheres saudáveis sem gravidezes com- • Anemia severa;
plicadas não necessitam de limitar a sua • Arritmia cardíaca maternal não avaliada;
prática com receio de efeitos nefastos. • Bronquite crónica;
Não existem diferenças consistentes entre • Diabetes tipo 1 mal controlada;
• Obesidade mórbida extrema;
mulheres com e sem prática de exercício
• Peso insuficiente extremo (IMC < 12 kg/m2);
relativamente à taxa de aborto espon- • Estilo de vida extremamente sedentário;
tâneo, perturbações fetais, complicações • Atraso de crescimento intra-uterino na actual
no parto e capacidade para terminar o gravidez;
tempo normal de gravidez, ou seja, inci- • Hipertensão mal controlada;
dência de trabalho de parto precoce. • Limitações ortopédicas;
Embora alguns resultados sugiram que o • Hipertiroidismo mal controlado;
exercício vigoroso pode conduzir ao nas- • Consumo elevado de tabaco.
cimento de bebés com menor peso, estes
bebés encontram-se dentro dos limites
do peso normal. Existem todavia contra-
-indicações para a prática do exercício Quadro VII.4 • Exercício de alto risco.
durante a gravidez relacionadas ou com a
condição maternal (Quadros VII.2 e VII.3) • Ski aquático e na neve;
ou com o tipo de exercício (Quadro VII.4). • Montanhismo;
Para as mulheres grávidas que não • Snowboard;
apresentam qualquer factor de risco, o • Mergulho;
Colégio Americano de Obstetras e Gine- • Scuba diving;
cologistas (ACOG: American College of • Bungee-jumping;
Obstetricians and Ginecologists) e o de • Equitação;
• Patinagem;
Medicina Desportiva (ACSM: American
• Ciclismo de montanha ou de estrada;
College of Sports Medicine) estabeleceram • Exercício vigoroso em altitude (para mu-
linhas de orientação para a prescrição do lheres não habituadas).
exercício (Quadro VII.5).

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Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Quadro VII.5 • Recomendações para a prática do exercício durante a gravidez e no pós-parto.

• Prática regular (pelo menos três vezes por semana), de exercício de intensidade leve a moderada,
com duração de 30 a 40 minutos por sessão. A intensidade vigorosa reduz o débito cardíaco nos
órgãos do tórax e abdómen, incluindo o útero;
• Evitar a realização de exercícios em decúbito dorsal depois do primeiro trimestre. Esta posição
está associada a uma diminuição do débito cardíaco na maioria das mulheres grávidas. Devem
ser igualmente evitados exercícios prolongados na posição de pé sem qualquer deslocamento;
• Exercícios (na posição de pé) podem, sob algumas circunstâncias, ser praticados com intensidades
semelhantes às anteriores à gravidez. Exercícios como pedalar ou nadar minimizam, todavia,
os riscos de lesão e facilitam a continuação do exercício durante a gravidez;
• Evitar exercícios com exigências elevadas ao nível do equilíbrio, ou seja, com elevado risco de
queda, especialmente no terceiro trimestre, e exercícios indutores de trauma abdominal, mesmo
que leve;
• A gravidez requer 300 kcal adicionais para manter a homeostase. Assim, as mulheres que fazem
exercício durante a gravidez devem ter particular cuidado para assegurar uma dieta adequada;
• Aumentar a dissipação de calor durante o exercício através de vestuário e hidratação adequados
num envolvimento físico confortável;
• A maioria das modificações fisiológicas e morfológicas durante a gravidez persistem quatro a
seis semanas após o parto. Assim, as rotinas de exercício devem ser reassumidas gradualmente
de acordo com a capacidade da mulher.

Durante o exercício as mulheres grá- tiva de esforço em vez da frequência


vidas devem saber reconhecer os sinto- cardíaca, devido a alterações cronotró-
mas e sinais para descontinuar o exercício picas durante a gravidez, que fazem com
e procurarem conselho médico (Quadro que os cálculos para a estimação da fre-
VII.6). quência cardíaca de treino não sejam
apropriadas.

Quadro VII.6 • Razões para interrupção do As linhas de orientação do ACOG diferenciam as


exercício. mulheres grávidas com prática de exercício regular
prévia à gravidez das que iniciam a sua prática
• Hemorragia vaginal; durante a gravidez. A recomendação para as mu-
• Dificuldades respiratórias antes do esforço; lheres com prática regular prévia é a da manu-
• Tontura; tenção do seu programa de treino, sem grandes
• Dor de cabeça; alterações. Todavia, muitas mulheres modificam a
• Dor no peito; intensidade, a duração e a frequência do exercício
• Fraqueza muscular; durante a gravidez devido a sintomas específicos
• Inchaço ou dor na barriga da perna (possi- e nível de conforto. Para aquelas mulheres que
bilidade de tromboflebite); planeiam iniciar um programa durante a gravi-
• Trabalho de parto prematuro; dez é necessário um consentimento médico e
• Diminuição de movimentos fetais; aconselha-se exercícios de baixo impacto ou sem
• Saída de líquido amniótico. impacto, tais como a marcha e a natação.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

Embora algumas mulheres grávidas Embora o exercício não seja recomen-


possam realizar provas de esforço má- dado para todas as grávidas, a maioria
ximo, geralmente não é recomendado a das mulheres, especialmente aquelas com
não ser por razões clínicas. Para moni- autorização médica, beneficiam dos pro-
torizar a intensidade do esforço, as linhas gramas de exercício pré-natal enquanto
de orientação do ACSM aconselham a o feto é sujeito a um risco mínimo (Qua-
utilização da escala da sensação subjec- dro VII.7).

321-376 321 02.05.08, 5:25 PM


322
Nutrição, Exercício e Saúde

Quadro VII.7 • Potenciais benefícios dos programas de exercício pré-natal.

Durante a gravidez:
• Melhoria da aptidão cardiorrespiratória e muscular;
• Melhoria do bem-estar psicológico através da redução de sentimentos de ansiedade, de stress e
de depressão;
• Diminuição do ganho de peso;
• Diminuição da incidência de dores nas costas;
• Melhoria da digestão e redução da obstipação;
• Aumento da reserva de energia.
Durante e após o parto:
• Redução da duração do trabalho de parto e da dor;
• Diminuição da necessidade de intervenções cirúrgicas;
• Facilitação da recuperação do trabalho de parto;
• Facilitação da recuperação do peso corporal e da aptidão muscular;
• Maior redução da barriga após o parto;
• Estabelecimento de hábitos de vida saudáveis.

Menopausa ções irregulares do climatério e finalmente


pela amenorreia da menopausa.
A menopausa espontânea é a paragem Por volta dos quarenta anos a dura-
permanente da menstruação resultante ção do ciclo menstrual aumenta, devido
da diminuição do funcionamento dos ao aumento da fase folicular, e a ano-
ovários. É determinada depois de 12 meses vulação torna-se mais prevalente. Esta
de amenorreia. A menopausa cirúrgica é mudança do ciclo menstrual que ante-
a paragem da menstruação devido à cede a menopausa é marcada pela dimi-
remoção dos dois ovários (ooforectomia) nuição dos níveis de inibina, hormona
com ou sem remoção do útero. A peri- segregada pelas células granulosas do
-menopausa, também designada por cli- ovário, tanto na fase folicular (inibina B)
matério, é o período de transição que como luteínica (inibina A), antecipando
antecede e sucede os ciclos menstruais a elevação dos níveis de FSH carac-
finais. Inclui o período imediatamente terísticos do período pós-menopausa
anterior à menopausa, marcado pelas (> 20 IU/L), apesar da ocorrência da
irregularidades dos ciclos menstruais e menstruação. Concomitantemente verifi-
o primeiro ano seguinte à menopausa. cam-se níveis normais da LH e níveis
A pós-menopausa refere-se ao período ligeiramente elevados de estrogénios,
que tem início a partir da menopausa, se embora nos limites normais. Na reali-
bem que este momento só pode ser deter- dade as mulheres atravessam parte da
minado depois de 12 meses de ame- peri-menopausa com níveis ligeiramente
norreia espontânea. A pré-menopausa em elevados de estrogénios, devido à res-
sentido geral inclui toda a idade fértil até posta dos ovários ao aumento da secre-
à menopausa. Em sentido estrito é o pe- ção da FSH, durante os dois a oito anos
ríodo de tempo entre o início do declínio que antecedem a menopausa. Neste pe-
da função ovárica e a menopausa. Con- ríodo de tempo, os folículos do ovário
sidera-se menopausa precoce quando apresentam uma acelerada taxa de perda
ocorre antes dos 40 anos. até ao seu esgotamento final. Esta perda
A transição da fertilidade optimal no acelerada parece iniciar-se quando o
período da pré-menopausa para a meno- número total de folículos é de aproxima-
pausa inicia-se com uma diminuição da damente 25 000, um número alcançado
reserva dos ovários mas com ciclos mens- na mulher normal por volta dos 37 a 38
truais regulares, seguida pelas menstrua- anos (Quadro VII.8).

321-376 322 02.05.08, 5:25 PM


323

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


ESTERÓIDES SEXUAIS E SAÚDE
Quadro VII.8 • Transição peri-menopáusica.

• Idade média de início: 46 anos; Doenças cardiovasculares


• Idade de inicio para 95% das mulheres: 39
a 51 anos;
• Duração média: 5 anos; A diminuição do nível de estrogénios,
• Duração para 95% das mulheres: 2-8 anos. que tem início vários anos antes da meno-
pausa e que é mais pronunciado com a
cessação dos períodos menstruais, parece
predispor a mulher para um aumento da
A transição peri-menopáusica repre- doença coronária. A doença das artérias
senta um continuum das modificações da coronárias (DAC) constitui a maior causa
regularidade menstrual e da fertilidade na de morte nos EUA e a terceira causa de
mulher pré-menopáusica para a amenor- morte das mulheres em Portugal, a seguir
reia e perda de fecundidade na mulher às doenças cérebro-vasculares e tumores
pós-menopáusica. malignos (INE, 2003)1 .

A estimação do início da menopausa apresenta Apesar de a DAC se desenvolver aproximada-


importantes implicações para a saúde da mulher, mente 10 a 15 anos mais tarde nas mulheres do
ao permitir estimar: que nos homens, aos 70 anos a razão homem/
/mulher para a incidência da DAC começa a
• A idade relacionada com a infertilidade e a
aproximar-se. Uma vez que a idade é o maior
resposta às terapias de fertilidade;
estimador da DAC nas mulheres, a influência da
• O tempo de iniciação da terapia hormonal de
menopausa (e do nível de estrogénios) é geral-
substituição;
mente confundida com a influência da idade no
• Os riscos de doenças crónicas. Uma vez que as
desenvolvimento da doença coronária.
mulheres passam cerca de um terço das suas
vidas no estado pós-menopáusico, as modifi-
cações associadas à menopausa e à diminuição Apesar da inexistência de uma relação
do nível dos estrogénios são cada vez mais directa, os estudos epidemiológicos suge-
prevalentes (Quadro VII.9). rem pelo menos três evidências da in-
fluência do nível de estrogénios na DAC:
• As taxas de DAC são substancial-
mente mais baixas nas mulheres pré-
menopáusicas do que nos homens
da mesma idade;
• Após o ajustamento para outros facto-
res de risco, o estudo de Framingham

Quadro VII.9 • Sintomas e sinais da menopausa.

• Paragem das menstruações;


• Sintomas vaso-motores: afrontamentos, calores súbitos, sudação, cefaleias;
• Sintomas psíquicos: humor depressivo, insónias, irritabilidade, perda da líbido;
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• Sintomas urogenitais: incontinência urinária, secura, ardor e prurido vulvovaginal, dispareunia,


urgência miccional e infecções urinárias, dificuldades sexuais;
• Sintomas cardiovasculares: aumento da pressão arterial e do colesterol, pré-cordialgias, alterações
no ECG;
• Outros: aumento do peso, modificações da pele e do cabelo, artralgias, dores ósseas.

1 http: www.ine.pt

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324

revelou que, comparativamente às


Nutrição, Exercício e Saúde

mulheres, os homens de 50 a 59 anos Quadro VII.10 • Efeitos cárdio-protectores


de idade apresentam três vezes e meia dos estrogénios.
mais risco de desenvolver DAC;
• Mulheres com menopausa precoce Efeitos vasculares
apresentam um risco aumentado de • Potenciação de factores relaxadores deri-
DAC comparativamente a mulheres vados do endotélio;
pré-menopáusicas da mesma idade. • Antagonismo dos canais de cálcio;
Muitos estudos epidemiológicos indi- • Inibição de factores de constrição vascular;
cam, ainda, uma diminuição do risco • Inibição dos efeitos constritores induzidos
de DAC nas mulheres com terapia pela angiotensina II;
• Modulação na libertação de neurotrans-
hormonal de substituição comparati-
missores;
vamente às mulheres sem esta terapia. • Inibição da biossíntese das células do mús-
As hipóteses sobre o mecanismo atra- culo liso;
• Inibição de hiperplasia miointimal.
vés do qual os estrogénios protegem a
mulher do desenvolvimento da DAC são Efeitos na fisiologia cardíaca
baseadas em estudos in vitro, animais e • Aumento do volume plasmático;
humanos. A hipótese mais antiga é a de • Aumento do volume sistólico;
que os estrogénios condicionam favora- • Aumento do débito cardíaco;
velmente o metabolismo dos lípidos. • Diminuição da resistência periférica.
Todavia somente 25 a 50% da redução do Efeitos no metabolismo e coagulação
risco conferida pelos estrogénios é atribuí- • Efeitos benéficos nos lípidos;
vel ao seu efeito nos lípidos. As hipóteses • Efeito antioxidante;
mais recentes sugerem acções benéficas • Efeito benéfico nos factores de coagulação;
dos estrogénios no tónus vascular coro- • Efeito benéfico na fibrinólise.
nário e periférico (Quadro VII.10).

Destaque

EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE CARDIOVASCULAR


Cerca de 30% das mortes causadas por doenças cardiovasculares poderiam ser
teoricamente prevenidas se todas as pessoas fossem suficientemente activas. Ser
suficientemente activo significa acumular pelo menos 30 minutos de actividade
física de intensidade moderada na maioria dos dias da semana. A actividade não
tem de ser realizada de forma contínua mas pode ser fraccionada em dois períodos
de 15 minutos ou em três períodos de 10 minutos. Exemplos:
• Percorrer 3 km em meia hora (marcha acelerada), ou percorrer 1,5 km em
15 minutos duas vezes ao dia ou 1 km em 10 minutos três vezes ao dia;
• Fazer ginástica durante meia hora (em estúdio ou na água), ou qualquer outra
actividade física que aumente o ritmo cardíaco e respiratório durante este período
de tempo, como pedalar ou nadar, etc.
Podem ser obtidos benefícios adicionais se as actividades forem mais prolongadas
ou mais intensas. Todavia, as actividades que fazem suar são consideradas de inten-
sidade vigorosa e não são recomendadas para a generalidade das pessoas idosas
sem consentimento médico.
Uma forma de quantificar a actividade física consiste na utilização de pedómetros,
que são instrumentos que contabilizam o número de passos dados e estão disponí-
veis nas lojas de desporto (cerca de 15 euros). As pessoas adultas devem acumular
pelo menos cerca de 10 000 passos por dia, que são contabilizados automatica-
mente pelo pedómetro. Este valor só é alcançado se for realizada uma prática diária
de 30 minutos de actividade física de intensidade moderada (Tabela VII.1).

321-376 324 02.05.08, 5:25 PM


325

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VIII.1 • Nível de actividade física de acordo com o número de
passos dados

Passos/dia Nível de actividade física

< 5 000 Adulto sedentário


5 000 a 7 500 Adulto com actividade reduzida
7 500 a 10 000 Adulto com alguma actividade
> 10 000 Adulto suficientemente activo

Para crianças e adolescentes 10 000 passos/dia parece, no entanto, ser insuficiente


para a prevenção de alguns factores de risco cardiovasculares, como o excesso
de peso e a obesidade. Para este grupo etário sugere-se 12 000 passos/dia para
as raparigas e 15 000 passos/dia para os rapazes. Estes valores significam, por
exemplo, que as raparigas com uma prática inferior a 12 000 passos/dia são mais
susceptíveis ao excesso de peso e à obesidade. Estes passos equivalem, de um
modo geral, a uma prática diária acumulada de actividade física de 120 minutos
para as raparigas e de 150 minutos para os rapazes.
Do ponto de vista social pode parecer irresponsável a separação de recomendações baseadas
no género. Todavia, o peso corporal, para além da actividade física é também determinado
por factores genéticos e nutricionais. É possível que as raparigas necessitem de uma menor
quantidade diária de passos para acomodar as diferenças de género relativas ao consumo
energético.

Osteoporose e fracturas ósseas


Tabela VII.2 • Critérios densitométricos de
categorização da densidade óssea.
A osteoporose é uma doença óssea meta-
bólica que se traduz por um aumento da
fragilidade e da susceptibilidade à frac- T-score Densidade óssea
tura. Em termos clínicos, considera-se > -1 Normal
existir osteoporose quando a densidade
mineral óssea apresenta um valor igual ≤ -1 e > -2,5 Osteopenia
ou inferior a -2,5 desvios-padrão, compa- ≤ -2,5 Osteoporose
rativamente aos valores de indivíduos ≤ -2,5 + fractura Osteoporose severa
adultos jovens do mesmo sexo (T-Score).
(Tabela VII.2) (ver Destaque Como se ava-
lia a saúde dos ossos, pág. 32????). -se relacionados com a idade (osteopo-
A osteoporose constitui a principal rose senil) e com a diminuição do nível
causa de fractura na mulher pós-meno- de estrogénios (osteoporose pós-meno-
páusica e no idoso do mundo ocidental, páusica). A osteoporose senil é caracte-
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

verificando-se em particular na anca, na rizada por perdas semelhantes de osso


coluna vertebral e no rádio. Devido à ele- cortical e trabecular, facilitando a ocor-
vada percentagem de mortalidade e mor- rência de fracturas do fémur superior e da
bilidade que lhes está associada, as frac- coluna vertebral e afecta, sobretudo, os
turas da anca e vertebrais são consideradas indivíduos com mais de 70 anos de am-
as mais graves. bos os géneros (relação mulher/homem
Embora existam várias causas de osteo- 2:1). A osteoporose pós-menopáusica evi-
porose, os tipos mais comuns encontram- dencia-se quase exclusivamente na mulher

321-376 325 02.05.08, 5:25 PM


326

(relação mulher/homem 8:1), ocorre na mulheres, de tal forma que a sua inci-
Nutrição, Exercício e Saúde

década imediatamente a seguir à meno- dência é o dobro da dos homens acima


pausa e é caracterizada pela perda des- desta idade.
proporcional de osso trabecular da coluna O risco de fractura aumenta por volta
vertebral e do rádio distal, predispondo- do salto de crescimento pubertário, ou
-os a fracturas. seja, nas raparigas entre os 11,5 e os 12,5
Comparando com os homens, cuja perda anos e nos rapazes entre os 13,5 e os
óssea se verifica geralmente depois dos 14,5 anos. A incidência anual de fracturas
50 anos, nas mulheres o início ocorre nos rapazes varia entre as 250 e as 300
mais cedo de forma lenta durante a ter- fracturas por 10 000 e nas raparigas entre
ceira e a quarta década de vida, após o as 160 e as 200 por 10 000. Dois terços
esqueleto ter alcançado o pico de massa das fracturas são causados por pequenos
óssea. Porém, o súbito declínio de pro- traumas e o local ósseo mais fracturado é
dução de estrogénios na mulher, durante a região distal do antebraço, que contri-
a menopausa, constitui um importante bui com quase cerca de 25% para o total
factor etiológico. Depois da menopausa a das fracturas. O pico de velocidade do
perda óssea é maior nos primeiros 5 a 10 crescimento, que antecede o pico de
anos (2 a 4% ao ano), sobretudo ao nível velocidade de deposição de mineral ósseo
do osso trabecular da coluna vertebral. em um ano a um ano e meio, traduz-se
Após 8 a 10 anos a média total de osso por uma diminuição temporária da densi-
perdido declina para menos de 1% ao ano. dade óssea, ou seja, o tamanho do osso
A maioria dos estudos sobre a epide- aumenta antes do aumento da sua massa.
miologia das fracturas é limitada aos adul- Este facto explica parcialmente uma das
tos ou trata de factores de risco associa- razões do pico de frequência da fractura
dos com a perda óssea. No entanto, a nesta idade.
incidência de fracturas na população é
bimodal com um dos picos a manifestar- Tem sido sugerida uma relação entre a ocorrência
-se na adolescência e o outro em idades de fracturas e a prática de actividade física de
mais avançadas, relacionado com o pro- intensidade elevada, associada, a jogos e a despor-
tos. No entanto, algumas destas ocorrências não
cesso de envelhecimento. Nas pessoas
podem ser atribuídas à actividade física uma vez
mais jovens, as fracturas dos ossos longos que alguns adolescentes apresentam maior predis-
predominam, e a sua incidência é maior posição à fractura devido a uma força óssea insu-
nos rapazes do que nas raparigas, en- ficiente. Este facto revela que muitas fracturas na
quanto aos 35 anos a incidência total de adolescência satisfazem o critério das fracturas de
fracturas aumenta substancialmente nas fragilidade nos adultos.

Destaque

EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE ÓSSEA


O dispêndio energético da actividade física constitui o aspecto mais importante na
prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, pulmonares e metabólicas. No
entanto, ao nível da prevenção e tratamento da osteoporose e de fracturas osteoporó-
ticas importa considerar a carga mecânica que é aplicada ao esqueleto. Por exemplo,
o potencial osteogénico ao nível da anca da prática de 30 minutos de marcha seis vezes
por semana, ou seja, de um total de 180 minutos de marcha a uma velocidade de 5
km/hora é equivalente a 10 minutos de step a uma cadência de 30 passos/minuto um
exercício que simula a subida e descida de um degrau, apesar de o dispêndio ener-
gético induzido pelos 180 minutos de marcha ser 10 vezes superior ao induzido pelos
10 minutos de step (780 kcal vs. 78 kcal, numa rapariga/mulher de 65 kg de peso).

321-376 326 02.05.08, 5:25 PM


327

Actividades locomotoras na posição de pé, em que o peso corporal é suportado

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


de uma forma activa, são preferíveis às actividades em que o peso corporal se
encontra suportado por outros meios, como é o caso da natação e do ciclismo.
Estas actividades não são geralmente recomendadas para a prevenção e tratamento
da osteoporose, embora constituam um excelente exercício para pessoas com
excesso de peso ou obesas, com problemas cardiovasculares, respiratórios e arti-
culares. O potencial osteogénico destas actividades ao nível do esqueleto axial, como
a anca e as vértebras, encontra-se diminuído. Para a prevenção e tratamento da
osteoporose devem realizar-se ainda exercícios que aumentem a força muscular
do tronco e dos membros como, por exemplo, a realização de movimentos de:
• Flexão e extensão das pernas, na posição deitada de barriga para cima;
• Extensão do tronco, na posição deitada de barriga para baixo;
• Preensão de um objecto que ofereça alguma resistência, como uma espuma,
embora possa ser qualquer outro objecto deformável;
• Extensão e flexão dos braços, na posição de pé com as mãos à altura e largura
dos ombros, apoiadas contra uma parede;
• Extensão e flexão das pernas a partir da posição sentada, ou seja, levantar e
sentar numa cadeira.
Recomenda-se a realização de uma série de 15 repetições, seguida de uma recupe-
ração de cerca de 30 segundos e depois a realização de uma segunda série de
15 repetições em cada um dos exercícios.
Uma vez que a perda óssea devida a imobilização é de cerca de 1 a 2% por mês,
ou seja, de 10 a 20% ao ano, uma perda óssea muito superior à que se observa
com a osteoporose pós-menopáusica e senil, é muito importante evitar a imobili-
zação. Se não for possível, devido a doença ou lesão, devem executar-se alguns
exercícios na posição de pé, mesmo que poucos, porque podem ajudar a prevenir
a perda óssea. As perdas ósseas são geralmente maiores nas regiões do esqueleto
mais sensíveis aos efeitos do exercício, ou seja, nas extremidades dos membros
superiores e inferiores, onde se situa geralmente o ponto de aplicação da carga.
A imobilização provoca perdas ósseas mais severas em pessoas jovens comparativa-
mente a pessoas idosas, uma vez que o desfasamento entre a prática habitual de
actividade física e o desuso é geralmente maior nos jovens, por serem mais activos.

Cancro da mama mama pelos estrogénios endógenos é evi-


denciada pelos seguintes factos:
O cancro da mama constitui a principal • O cancro da mama é 100 vezes mais
causa de morte por cancro na mulher comum na mulher do que no ho-
portuguesa (cerca de 20% de todos os mem;
cancros) (INE, 2003). Embora o cancro da • O cancro da mama ocorre invaria-
mama possa ocorrer em mulheres mais velmente depois da puberdade;
jovens, a sua incidência aumenta com a • O cancro da mama apresenta uma
idade, particularmente a partir dos 50 anos taxa de incidência superior nas mu-
com a menopausa. Para além da idade, lheres que previamente desenvol-
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

entre os factores de risco mais importantes veram cancro do endométrio;


encontra-se a actividade do ovário, parti- • Os tumores da mama contêm recep-
cularmente a existência de um período tores de estrogénio.
fértil longo, como é o caso das mulheres
que são menstruadas muito cedo e/ou as Outros factores de risco incluem a
que entram na menopausa mais tarde, por experiência reprodutiva, nomeadamente o
estarem mais expostas à acção dos estro- facto de a mulher nunca ter engravidado,
génios. A função promotora do cancro da pois a amamentação é um factor de pro-

321-376 327 02.05.08, 5:25 PM


328

tecção, particularmente antes dos 30 anos; Sintomas como a falta de memória e de capacidade
Nutrição, Exercício e Saúde

a ingestão elevada de gorduras animais, de concentração são geralmente reportados entre as


sobretudo nas mulheres pós-menopáu- mulheres após a menopausa. Alguns estudos
sicas; doença benigna da mama e história suportam a ideia de que as mulheres pós-meno-
páusicas sem terapia hormonal de substituição
familiar.
podem estar mais predispostas para a diminuição de
A estratégia de prevenção implica o algumas funções cognitivas comparativamente às
rastreio através de mamografia, inicial- mulheres com esta terapia hormonal.
mente aos 35 anos e, desde que não haja
alterações significativas, de dois em dois
anos dos 40 aos 50 anos e de ano a ano Apesar de estes problemas serem fre-
entre os 50 e os 65 anos, nas mulheres de quentemente associados à depressão e
baixo risco. ansiedade, outros factores possíveis tais
como modificações na estrutura e função
do cérebro, assim como na actividade
Função cognitiva neurotransmissora, estão actualmente a
ser explorados.
A função cognitiva é um termo geral A possibilidade de o estado pós-meno-
utilizado para fazer referência ao processo páusico de diminuição do nível de estro-
que envolve operações mentais tais como génio poder contribuir para a doença de
o tempo de reacção, a memória, a apren- Alzheimer, uma das formas mais comuns
dizagem, a resolução de problemas, a de demência, em que se verifica uma
formação de conceitos, a abstracção e deterioração geral das funções corticais
o processamento visuo-espacial. Existem superiores, constitui uma linha de investi-
evidências sugerindo que pelo menos o gação actual. A demência vascular é a se-
desempenho de algumas destas funções gunda doença mais comum causadora de
cognitivas se encontra associado ao nível demência e nalguns casos esta entidade e
de estrogénio circulante. a doença de Alzheimer sobrepõem-se. Mas
Apesar de o processo de envelheci- também aqui o estrogénio apresenta uma
mento ser certamente considerado um função relevante ao melhorar o fluxo cere-
factor de risco do declínio da função bral em mulheres com doença vascular.
cognitiva, a maioria das pessoas idosas
não ultrapassa os limites considerados
normais numa avaliação da função neuro- Depressão
psicológica. Têm sido, no entanto, relata-
das algumas diferenças no funcionamento Apesar de acontecimentos psicológicos e
cognitivo entre homens e mulheres, entre sócio-culturais influenciarem a presença e
diversas fases do ciclo menstrual em mu- a recorrência de problemas afectivos, os
lheres pré-menopáusicas, entre mulheres factores endócrinos podem estar na base
pós-menopáusicas com e sem terapia hor- de alguns sintomas psicológicos repor-
monal de substituição e entre mulheres tados durante os períodos que antecedem
com e sem diagnóstico de doença de e sucedem a menopausa (período clima-
Alzheimer. térico). Na literatura, o termo depressão
Tradicionalmente os homens superam pode referir-se a um estado emocional,
as mulheres em tarefas espaciais enquanto a um sintoma de várias doenças ou a um
as mulheres são mais fortes que os ho- diagnóstico clínico, dependendo do autor.
mens nas tarefas verbais. Nas mulheres, Uma vez que a incidência de depressão é
níveis mais elevados de estrogénio, como 1,4 a 2,7 vezes mais elevada nas mulhe-
na fase folicular e no início da sua eleva- res do que nos homens, são consideradas
ção a meio da fase luteal, foram associa- hipóteses que envolvem as hormonas
dos a resultados mais fracos em tarefas esteróides do ovário, ou seja, o estrogénio
espaciais e a melhores resultados em tare- e a progesterona. De um modo geral, o
fas verbais. estrogénio activa o sistema nervoso cen-

321-376 328 02.05.08, 5:25 PM


329

tral enquanto a progesterona apresenta adrenérgicos, serotonérgicos e dopaminér-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


propriedades inibitórias. Os mecanismos gicos, tanto a nível dos receptores destes
propostos para os efeitos anti-depressivos neurotransmissores como dos sistemas
do estrogénio incluem efeitos nos sistemas enzimáticos associados.

Destaque

EXERCÍCIO FÍSICO E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO


Existe a ideia de que o exercício físico é benéfico tanto na prevenção como no tra-
tamento de diversas condições clínicas como a DAC, a hipertensão, alguns tipos
de cancro, a diabetes e a osteoporose. Esta ideia encontra-se de tal modo bem
fundamentada pelos estudos realizados que da descrição dos efeitos do exercício
físico nestas condições se passou à sua prescrição através de recomendações.
Ao nível do bem-estar psicológico os efeitos do exercício não se encontram, todavia,
tão bem documentados. Vários estudos suportam uma influência positiva do exer-
cício no bem-estar psicológico, apesar de não se conhecer a direcção e os meca-
nismos desta influência, ou seja, não se saber, por exemplo, se o bem-estar psico-
lógico precede, sucede ou actua independentemente de um determinado tipo de
exercício físico. Esta influência não pode, contudo, ser reduzida a uma relação
neuroquímica, uma vez que podem ocorrer benefícios psicológicos sem modifi-
cações fisiológicas tal como é possível existirem modificações fisiológicas sem que
benefícios psicológicos possam ser percebidos.
Existem no entanto evidências de que diversos programas de exercício podem ter um
efeito de prevenção ou de terapia diferenciado em vários parâmetros psicológicos.
Estes programas podem ser ou não aeróbios, de curta, média ou longa duração, com-
petitivos ou não competitivos, individuais ou colectivos, numa única ou em várias
sessões, etc. De acordo com os estudos disponíveis sugerem-se as seguintes orientações
(com exemplos que não se esgotam nas actividades que se descrevem):
Depressão: exercício aeróbio de moderada intensidade e de fácil execução, como
a marcha (rápida), o jogging, pedalar (bicicleta ou cicloergómetro), nadar (se a habi-
lidade estiver adquirida); treino da força em circuito com ou sem cargas adicionais,
de intensidade igualmente moderada. Os programas de média (quatro meses) e
longa duração (um ano) parecem produzir mais efeitos positivos.
Ansiedade: o tipo e a intensidade do exercício não parecem ser cruciais. Observam-
-se efeitos positivos mesmo com poucas sessões, embora os resultados sejam melho-
res com uma adesão aos programas a médio prazo.
Gestão do stress: uma vez que uma aptidão cardiorrespiratória elevada está geral-
mente associada a uma resposta psicológica ao stress menos pronunciada, parece
que a função do exercício será mais de prevenção do que de tratamento. No entanto,
apesar desta limitação existem evidências de que o exercício aeróbio (contínuo, pelo
menos durante 20 minutos e com uma intensidade pelo menos moderada) pode
melhorar a resposta ao stress, em particular ao stress relacionado com o trabalho
ou o estilo de vida.
Humor: vários tipos de exercício, tanto aeróbio como anaeróbio, estão associados
a uma melhoria do humor, particularmente em pessoas com disfunções a este
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nível.
Auto-estima: atitudes, crenças e sentimentos sobre si próprio resultam do somatório
da avaliação de diferentes atributos, nomeadamente físicos, sociais, profissionais e
emocionais. Neste âmbito, os diversos subdomínios da auto-estima podem estar
associados de forma diferente a diversos programas de exercício, não existindo
linhas orientadoras para a sua prática.

321-376 329 02.05.08, 5:25 PM


330

combinada foi introduzida na década


Nutrição, Exercício e Saúde

CONTRACEPTIVOS E TERAPIAS
de 60 e melhorada desde essa data, par-
HORMONAIS ticularmente na redução na dose e no
ajustamento dos componentes esteróides
Métodos de contracepção utilizados, ou seja, na combinação do es-
trogénio e do progestagénio. O etinil-
-estradiol é o estrogénio sintético presente
Um contraceptivo é um método cujo na maioria das pílulas, sendo o seu com-
principal objectivo é evitar uma gravidez
ponente progestínico que varia, em função
não desejada. Actualmente encontram-se
de um determinado efeito terapêutico,
disponíveis vários métodos de contracep-
acessório à acção contraceptiva. Em Por-
ção, nomeadamente métodos de contra-
tugal encontram-se disponíveis contra-
cepção hormonal, métodos de barreira,
ceptivos orais com 20, 30, 35 e 40 mcg
dispositivos intra-uterinos, métodos cirúr-
gicos e naturais. Estes métodos diferem de etinil-estradiol.
na eficácia, conveniência e facilidade de Os mecanismos de acção da pílula
utilização, custo, exposição a doenças combinada como contraceptivo incidem
sexualmente transmitidas, influência nos particularmente na prevenção da ovula-
sintomas menstruais, assim como no de- ção (anovulação), na inibição do desen-
sempenho atlético, na aptidão física e no volvimento do endométrio para implan-
bem-estar geral. A contracepção constitui tação embrionária (disfunção endome-
um importante tópico para todas as mu- trial) e no aumento do muco cervical difi-
lheres sexualmente activas que não dese- cultando a espermo-migração (disfunção
jam engravidar e as mulheres atletas não cervical). A prevenção da ovulação é o
são uma excepção. efeito primário do estrogénio através de
bloqueio do desenvolvimento folicular,
enquanto os outros mecanismos de con-
Contracepção hormonal tracepção são sobretudo devidos ao efeito
do componente progestínico da pílula.
A contracepção hormonal inclui as pílulas A pílula combinada é muito efectiva
combinadas (estrogénio e progestagénio), quando tomada apropriadamente, com
os contraceptivos com progestagénios iso- uma taxa de falha de 0,1% por ano.
lados e a contracepção pós-coito. A con- As pílulas combinadas podem ser
tracepção pós-coito é geralmente reser- monofásicas, bifásicas ou trifásicas, de
vada para os casos de emergência de uma acordo com as combinações constantes
relação sexual desprotegida, por exemplo, ou variáveis em duas (bifásicas) ou três
a violação, ou de ineficácia de um método (trifásicas) etapas do ciclo. Assim, nas
contraceptivo de barreira. Nestes casos, a pílulas combinadas monofásicas todos
administração de elevadas doses de estro- os comprimidos contêm uma dose cons-
génio num prazo de 72 horas após o coito tante de estrogénio e progestagénio para
inibem a gravidez através da inibição da a totalidade do ciclo de tratamento, que
implantação do embrião. A contracepção é de 21 dias, enquanto que nas com-
pós-coito não deverá ser considerada binações variáveis os comprimidos apre-
como uma forma de rotina de controlo do sentam variação das doses dos seus com-
nascimento. ponentes activos. O seu uso inicia-se no
primeiro dia da menstruação e após os
PÍLULAS CONTRACEPTIVAS 21 dias de tratamento realiza-se uma pa-
ragem de sete dias durante a qual deve
Existem diversos tipos de pílulas contra- ocorrer a menstruação. Após esta pausa
ceptivas, também designadas por contra- reinicia-se uma nova carteira indepen-
ceptivos orais, nomeadamente as pílulas dentemente de ter ou não cessado a mens-
combinadas e as mini-pílulas. A pílula truação.

321-376 330 02.05.08, 5:25 PM


331

A mini-pílula é um contraceptivo oral cativa do volume das perdas menstruais

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


só com progestagénio, particularmente e eventual amenorreia (descritos 20% de
destinada às mulheres que estão a ama- casos ao fim de um ano de utilização).
mentar, uma vez que os estrogénios Efeitos proteicos: os estrogénios sinté-
diminuem a quantidade e a qualidade do ticos aumentam a produção hepática de
leite materno, mas também destinado às diversas globulinas, algumas das quais
mulheres que não podem tomar estrogé- envolvidas no processo de coagulação.
nios, como as mulheres com trombo- O aumento destes factores coagulantes
embolismo venoso prévio, com lúpus é insignificante nas não fumadoras com
eritematoso sistémico, com factores de menos de 40 anos e nas fumadoras com
risco na trombose venosa como a obesi- menos de 35 anos sem doença venosa
dade e as fumadoras abusivas com idade trombótica activa ou trombose prévia com
superior a 35 anos. Como já foi referido contraceptivos orais. O angiotensinogénio
nas pílulas combinadas, grande parte do é outra proteína cuja elevação se verifi-
efeito contraceptivo é devido à acção do cava geralmente com o uso da pílula
progestagénio, que isoladamente constitui combinada, conduzindo a aumentos da
um meio efectivo de contracepção. Toda- pressão arterial através da sua conversão
via, os contraceptivos com progestagénios para angiotensina. Todavia, a diminuição
isolados aumentam a frequência de he- do estrogénio nas novas pílulas limitou o
morragias uterinas intermenstruais, ame- seu impacto ao nível da pressão arterial.
norreia, quistos funcionais dos ovários Efeitos nos hidratos de carbono: se
e também ligeira androgenização. Estes existir alguma história de intolerância à
efeitos podem conduzir à interrupção glicose, a pílula combinada pode piorar a
deste anticontraceptivo. Para além da situação. No entanto, não existe risco au-
pílula diária, os progestagénios também se mentado de desenvolvimento da diabetes,
entre as utilizadoras ou antigas utiliza-
encontram disponíveis sob a forma de
doras.
injecção intramuscular e de anéis vaginais
Efeitos nos lípidos: é reconhecido o
em cada três meses, e de implante subdér-
efeito dos estrogénios na elevação do
mico em cada três a cinco anos.
colesterol das lipoproteínas de alta den-
sidade (HDL) e diminuição do colesterol
EFEITOS DAS PÍLULAS CONTRACEPTIVAS das lipoproteínas de baixa densidade
COMBINADAS (LDL). Este facto é considerado um efeito
benéfico na saúde cardiovascular. Muitos
Efeitos metabólicos: os efeitos atribuídos progestagénios têm precisamente o efeito
ao estrogénio da pílula incluem a náusea, inverso aumentando o LDL-C e baixando
a tensão mamária, as cefaleias e a reten- o das HDL. Todavia, o efeito total no me-
ção aquosa. A retenção aquosa é o resul- tabolismo lipídico da maioria das pílulas
tado da diminuição da excreção de sódio contraceptivas orais é quase nulo.
e raramente excede 1 a 2 kg de peso. Os Efeitos cardiovasculares: os efeitos
efeitos colaterais do componente proges- adversos são sobretudo trombóticos. O au-
tínico incluem sobretudo o aumento da mento dos factores de coagulação constitui
depressão, da irritabilidade e da fadiga, uma preocupação nas mulheres fumadoras
diminuição da libido e distensão abdo- acima dos 35 anos e nas não fumadoras
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minal, embora possa igualmente originar acima dos 40 anos. Em presença de his-
um aumento de peso devido a retenção tória de doença cardiovascular deve consi-
aquosa. Estes efeitos diminuem após adap- derar-se a utilização de outro método de
tação ao novo envolvimento hormonal, contracepção.
geralmente passados três a quatro ciclos A nível reprodutivo, não existem con-
menstruais. Os progestagénios sintéticos sequências adversas da utilização dos
suprimem, ainda, o crescimento endome- contraceptivos orais. As mulheres podem
trial provocando uma redução signifi- tentar engravidar imediatamente após a

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332

paragem da pílula, apesar de se acon- truais menos severas, este tipo de con-
Nutrição, Exercício e Saúde

selhar a espera do primeiro ciclo mens- tracepção pode constituir uma vantagem
trual após a sua interrupção, para que a competitiva para algumas atletas. O risco
contagem do tempo de gravidez possa ser de doença inflamatória pélvica também
mais exacta (cada vez menos importante se encontra diminuído, provavelmente
com a disponibilização da imagiologia devido à disfunção cervical que limita a
fetal). acção de bactérias no sistema reprodu-
A nível neoplástico as pílulas contra- tivo.
ceptivas orais têm demonstrado diminuir Os contraceptivos orais podem ser
a incidência de cancro no ovário. Uma ajustados de forma a calendarizar o me-
possível teoria explicativa para o desen- lhor possível a ocorrência do período
volvimento do cancro do ovário é desig- menstrual, apesar de não existir nenhuma
nada por teoria da ovulação incessante. associação entre a fase do ciclo menstrual
Pensa-se que a ovulação incessante e a e o rendimento desportivo. Níveis eleva-
subsequente reparação da superfície epi- dos de progesterona durante a fase luteal
telial do ovário, depois da ruptura devida do ciclo menstrual assim como durante
à ovulação, aumenta o risco de cancro do a gravidez estimulam a ventilação e a res-
ovário. Neste âmbito, acontecimentos que posta ventilatória à hipóxia e à hipercáp-
previnam a ovulação como a utilização nia. Uma vez que o sucesso nos desportos
da pílula contraceptiva oral e a gravidez de endurance está associado a uma dimi-
parecem apresentar protecção. Existem, nuição da elevação dos processos respi-
todavia, algumas preocupações contro- ratórios, o efeito da progesterona pode
versas relativamente ao cancro da mama, eventualmente ser negativo para algumas
particularmente nas mulheres nulíparas atletas.
utilizadoras de longo termo da pílula
contraceptiva.
A nível desportivo, uma vez que a CONTRA-INDICAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO
actuação do eixo hipotálamo-hipófise- DE CONTRACEPTIVOS ORAIS
-ovário pode ser suprimida devido a uma
baixa disponibilidade de energia ou Algumas das contra-indicações absolutas
devido ao stress, algumas atletas podem e/ou contracepção de elevado risco in-
desenvolver distúrbios menstruais em cluem mulheres fumadoras com idade
consequência da intensidade física e psi- superior a 35 anos, com doença vascular
cológica do seu treino. Esta supressão da coronária ou cerebral, com tromboflebite
função do ovário conduz a um estado de activa ou história de tromboflebite pro-
hipoestrogenismo com consequências funda, com doenças tromboembólicas,
cardiovasculares, músculo-esqueléticas e com carcinoma da mama em evolução,
reprodutivas. hepatite vírica activa, cancro da mama e
do endométrio, hemorragia vaginal inex-
plicada, cirrose hepática, colestase prévia
A gestão apropriada destas atletas inclui uma
redução da intensidade do treino, um aumento
desencadeada pela gravidez ou pela utili-
da ingestão calórica ou o início de uma terapia zação da pílula e amamentação até aos
de substituição hormonal. A pílula combinada é seis meses do pós-parto.
geralmente considerada uma boa fonte de estro- A adolescente beneficia geralmente do
génio para as mulheres deficientes em estrogénio. factor idade e raramente apresenta al-
guma doença em que os riscos da contra-
cepção oral superem as vantagens do seu
Uma vez que as mulheres que tomam
uso. Além de evitar a gravidez destacam-
contraceptivos orais apresentam geral-
-se os seguintes benefícios da pílula para
mente uma diminuição do fluxo mens-
a saúde da utilizadora:
trual, traduzindo-se numa perda menor
de sangue e de ferro (tornando a anemia • Diminuição do fluxo menstrual e de
menos comum), assim como dores mens- incidência de anemia;

321-376 332 02.05.08, 5:25 PM


333

• Redução das cólicas menstruais e desejados. Os métodos naturais incluem

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


portanto dos dias de incómodo; o método de Ogino-Knaus (método do
• Regularização e controlo do ciclo calendário) e a avaliação das alterações do
menstrual, sendo possível o seu muco cervical.
avanço ou atraso por diversos moti-
vos (viagem, casamento, competição
desportiva, etc.); Terapias hormonais
• Protecção contra algum tipo de in-
fecções ao nível do sistema repro- A terapia hormonal de substituição (THS)
dutivo; teve o seu início com o esforço de alívio
• Diminuição do risco de cancro do dos sintomas específicos associados à
ovário e do endométrio. diminuição da produção de estrogénios
na menopausa. No entanto, nas duas últi-
mas décadas o foco desta terapia mudou-
Outros métodos de contracepção -se do tratamento da sintomatologia a
curto prazo para a prevenção da saúde a
A contracepção de barreira inclui os longo prazo, particularmente das fracturas
preservativos femininos e masculinos, os osteoporóticas e das doenças cardiovas-
diafragmas e os espermicidas. Os preser- culares.
vativos masculinos, à excepção da absti- Durante e após o climatério verifica-se
nência, constituem a melhor defesa para uma diminuição da produção hormonal
a protecção das doenças sexualmente pelos ovários, especificamente, uma dimi-
transmitidas. Tal como os outros métodos nuição dos níveis de estradiol, de estrona
são um meio efectivo de contracepção se e de inibina, reflectindo a exaustão das
devidamente utilizados. Alguns contêm células granulosas. Em resposta aos baixos
espermicida, o que aumenta a sua eficá- níveis de estrogénios circulantes observa-
cia. O maior problema é a falta de conve- -se uma elevação dos níveis da FSH e da
niência e a fraca aderência. LH, apesar da elevação da FSH ser igual-
Os dispositivos intra-uterinos actuam mente devida aos baixos níveis de ini-
como contraceptivos através da criação bina. Os níveis de outras hormonas da
de condições desfavoráveis para a passa- hipófise como a prolactina, o cortisol e a
gem e sobrevivência dos espermatozóides hormona de crescimento, assim como de
na cavidade uterina. Constitui um método hormonas esteróides das supra-renais, não
de contracepção de longa duração, com
se modificam na menopausa. Após a me-
um tempo de actuação mínimo de cerca
nopausa, os níveis de FSH e de LH encon-
de dois anos, particularmente destinado
tram-se diminuídos somente nas mulheres
às mulheres que não planeiam uma
com terapia hormonal de substituição,
gravidez neste período. São efectivos mas
particularmente nas mais idosas. Todavia,
não aconselhados a todas as mulheres.
Existe um risco aumentado de infecção a substituição hormonal não conduz a
ou doença pélvica inflamatória devido à uma normalização dos níveis de FSH
introdução de um objecto estranho. Deve comparáveis aos valores pré-menopausa
ser usado unicamente por pares monogâ- devido à ausência continuada da produ-
micos estáveis. Pode ocasionalmente gerar ção de inibina.
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cólicas e hemorragia. Contrariamente à


crença popular não aumentam o risco de Regimes das terapias hormonais
gravidezes ectópicas comparativamente a
mulheres sem contracepção. de substituição
Os métodos cirúrgicos constituem uma
forma de contracepção quase definitiva e O estrogénio é dado à mulher numa va-
por isso devem ser considerados quando riedade de vias de administração, com-
a mulher possui já o número de filhos postos e doses. A via oral e a via sistémica

321-376 333 02.05.08, 5:25 PM


334

(transdérmica ou vaginal) constituem as


Nutrição, Exercício e Saúde

Riscos e benefícios das terapias


duas principais vias de administração dos
compostos estrogénicos e progestagéni- hormonais de substituição
cos. Na via de administração oral os níveis
de estradiol e de estrona circulante são Os riscos e benefícios das THS foram
de aproximadamente 75 e 330 pg/ml, res- estabelecidos sobretudo com base em
pectivamente, com um quociente estra- estudos de observação, em que os gru-
diol/estrona inferior a um, por o estradiol pos que são estudados e comparados
oral ser largamente convertido para estrona podem apresentar diferentes níveis de
pelo fígado. Nesta via de administração risco e de estilo de vida, uma vez que os
verifica-se uma maior sobrecarga meta- participantes que escolhem um determi-
bólica hepática e maior flutuação dos níveis nado tratamento podem ser muito dife-
de estradiol e de estrona circulantes. Com rentes daqueles que não fazem a mesma
a utilização de estradiol transdermal, os escolha. Este tipo de estudos demonstrou
níveis de estradiol e de estrona são de uma diminuição da taxa de mortalidade
aproximadamente 50 e 42 pg/ml, respec- cardiovascular nas mulheres em THS,
tivamente, com um quociente estradiol/ com estrogénio isolado ou combinado
/estrona superior a um. Na via transdér- (Tabela VII.3). Todavia, as consumidoras
mica verifica-se uma absorção regular e das THS podem apresentar uma menor
mantida e uma metabolização hepática predisposição para acontecimentos de
mais contínua. A aplicação vaginal pro-
saúde adversos, particularmente cardio-
porciona um perfil estrogénico seme-
vasculares, por serem mais saudáveis
lhante à via transdérmica. A via oral é a
mais utilizada na terapia hormonal de que as mulheres do grupo de controlo
substituição mas deve ser desaconselhada quando a terapia tem início. Existe ainda
em mulheres com problemas, dos quais a possibilidade de o aumento de con-
se destacam os seguintes: problemas de tacto com o sistema de cuidados de
absorção, hábito tabágico superior a um saúde por parte das mulheres com THS
maço por dia; história de trombofilia, possibilitar uma melhoria do estilo de
diabetes com hipertrigliceridémia e hepa- vida (diminuição do consumo de tabaco,
topatia grave. A via vaginal é geralmente aumento da prática de actividade física
aconselhada quando se pretende agir e melhoria dos comportamentos alimen-
particularmente ao nível das mucosas uro- tares), conduzindo à desigualdade entre
genitais. os grupos ao longo do tempo, apesar de
Nas mulheres com histerectomia (sem serem idênticos à partida.
útero), não há necessidade de prescrever No início dos anos 90 foram ini-
progestagénios e os estrogénios podem ciados grandes estudos randomizados
ser administrados isoladamente num es- para providenciar evidências definitivas
quema contínuo. Nas mulheres sem his- relativamente aos riscos e benefícios
terectomia os progestagénios são adicio- da THS na prevenção destas doenças.
nados à medicação para reduzir a inci- Neste tipo de ensaios clínicos os par-
dência de hiperplasia e cancro do útero, ticipantes foram aleatoriamente distri-
uma vez que a utilização do estrogénio buídos pelos grupos de tratamento,
em doses tradicionais de 0,625 mg ou minimizando possíveis diferenças entre
equivalente conduz a um aumento de os grupos relativamente ao estilo de
11% da incidência de hiperplasia do vida ou a factores relacionados com
endométrio nestas mulheres. O progesta- a saúde (ver Investigação em Prática
génio adicionado não deverá anular os – Women´s Health Initiave ).
efeitos positivos dos estrogénios no meta-
bolismo lipídico e na hemostase (coa-
gulação, fibrinólise).

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335

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.3 • Riscos e benefícios da THS (estudos não randomizados).

Benefícios Risco relativo

Diminuição da mortalidade por doença cardiovascular 0,5


Diminuição da osteoporose 0,4 a 0,7
Diminuição ou melhoria da doença de Alzheimer 0,5
Diminuição do cancro do cólon 0,5 a 0,7

Riscos

Aumento do cancro da mama 1,2


Aumento do tromboembolismo 2a3

Alternativas às terapias hormonais têm demonstrado diferenças na incidência


de determinadas doenças em diversos
de substituição países explicadas por diferenças no estilo
de vida, particularmente da dieta. Estes
FITOESTROGÉNIOS estudos evidenciaram uma baixa incidên-
cia do cancro da mama e da próstata, de
Apesar do reconhecimento dos benefícios doença cardiovascular e de osteoporose
da THS para a saúde e qualidade de vida associada às dietas tradicionais baseada
depois da menopausa, muitas mulheres na soja, que é rica em fitoestrogénios.
podem não optar por esse regime devido Existem ainda resultados que demonstram
a receio dos efeitos secundários negativos o benefício dos fitoestrogénios no alívio
e/ou a preferências por alternativas natu- dos sintomas das mulheres pós-menopau-
rais. sicas. Não existem, contudo, estudos que
investiguem o impacto dos fitoestrogénios
Os receios ou preocupações incluem o aumento na protecção contra a doença de Alzhei-
do risco de cancro do endométrio, para as mu- mer. Ao nível da mama a acção dos fito-
lheres que estão em THS sem oposição (do proges- estrogénios requer todavia clarificação,
tagénio), aumento do risco de cancro da mama, pois algumas evidências suportam o efeito
manutenção da menstruação com a terapia cíclica antiproliferativo dos fitoestrogénios se a
e aumento de peso. exposição se realizar antes da menarca, e
de aumento do risco do cancro da mama
As alternativas naturais têm sido tradi- após a sua ocorrência. Estas evidências
cionalmente direccionadas para o aumento permitem concluir sobre uma possível
do consumo de cálcio, para a diminuição estimulação do crescimento celular com
da ingestão de colesterol e para a prática concentrações muito elevadas e inibição
de exercício físico regular. Mais recen- com concentrações muito baixas de estro-
temente uma outra aproximação tem in- génios.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

cluído fontes dietéticas de estrogénio


conhecidas como fitoestrogénios. SELECTIVE ESTROGEN RECEPTOR
Os fitoestrogénios são compostos pro-
MODULATORS
duzidos pelas plantas, que apresentam
propriedades estrogénicas quando inge- Os selective estrogen receptor modulators
ridas por animais e humanos. O interesse (SERM) são modeladores selectivos dos
médico pelos fitoestrogénios deve-se em receptores estrogénicos, cuja acção mista,
parte aos estudos epidemiológicos que agonista ou antagonista do estrogénio,

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336

depende da resposta ao nível dos dife- xifeno, o tamoxifeno, o toremifeno e o


Nutrição, Exercício e Saúde

rentes tecidos-alvo, que por sua vez é droloxifeno. Este grupo de compostos
mediada pelo menos por dois tipos dife- encontra-se sob investigação intensa não
rentes de receptores. Assim, por exemplo, só para a prevenção e tratamento do can-
ao nível da mama os SERM apresentam cro da mama mas também para aplicação
uma acção antiestrogénica, enquanto ginecológica generalizada como a THS, a
ao nível do osso, a sua acção é agonista endometriose e a hiperplasia endometrial,
do estrogénio. O SERM perfeito deveria prevenção e tratamento da osteoporose,
potenciar todos os efeitos positivos do de doenças cardiovasculares e diminuição
estrogénio (ser agonista) e eliminar todos do risco de doença de Alzheimer. Estes
os seus efeitos negativos (ser antagonista), agentes constituem mais uma opção para
ao nível da mama, do útero e do sistema ser utilizada isoladamente ou em combi-
de coagulação. Exemplos de SERM utili- nação com a terapia hormonal de substi-
zados na prática clínica incluem o ralo- tuição.

Investigação em Prática
WOMEN’S HEALTH INITIATIVE
Objectivo: apesar da acumulação das evidências de estudos observacionais sobre
os benefícios da THS, particularmente nas doenças cardiovasculares e na osteopo-
rose, persistiam ainda muitas dúvidas relativamente aos seus riscos a longo prazo.
O Women‘s Health Initiative (WHI) é um estudo randomizado controlado, desenvol-
vido pelos institutos nacionais de saúde americanos com o objectivo de definir os riscos
e os benefícios das estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas (variáveis
independentes) para a redução da inciência de doenças cardiovasculares, particular-
mente do enfarte do miocário e do acidente vascular cerebral (AVC), do cancro da
mama, do endométrio e do cólon, do embolismo pulmonar, da fractura da anca e da
morte por outras causas (variáveis dependentes), em mulheres pós-menopáusicas apa-
rentemente saudáveis. As estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas nos
EUA, para este grupo da população, incluem dietas de baixo conteúdo calórico em
gordura, suplementos de cálcio e de vitamina D e a THS combinada ou só com estro-
génio.
Concepção: entre 1993 e 1998 o WHI envolveu 161 809 mulheres pós-menopáusicas
de 50 a 79 anos (média: 63 anos), recrutadas em 40 centros clínicos. Um dos compo-
nentes deste estudo envolveu 16 608 mulheres sem histerectomia, das quais 8 506 com
THS em regime combinado (estrogénio e progestagénio: 0,625 mg/dia de estrogénios
equino conjugados mais 2,5 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona) e 8 102
mulheres com placebo, como grupo de controlo. Este ensaio foi interrompido preco-
cemente devido às evidências de que os riscos excediam os benefícios de saúde depois
de um acompanhamento de 5,2 anos. Para a estimação do equilíbrio entre os riscos e
benefícios deste tipo de terapia nas variáveis dependentes seleccionadas foi concebido
um index global.
Resultados: os investigadores do WHI observaram pequenos, mas significativos, riscos
para a saúde. Comparativamente ao grupo de controlo, no grupo de mulheres com
THS verificaram-se mais oito casos de cancro da mama, mais sete de enfarte do
miocárdio, mais oito de AVC e mais oito de embolia pulmonar, mas menos cinco casos
de fractura da anca e menos seis de cancro do cólon, por cada 10 000 mulheres-anos.
O index global foi de 19 por 10 000 pessoas/ano. Os riscos relativos são apresentados
na Tabela VII.4.

321-376 336 02.05.08, 5:25 PM


337

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.4 • Riscos e benefícios da THS (Women’s Healter Initiative Study)

Variáveis dependentes Risco Intervalo % Nº de eventos


relativo de confiança
Ataque cardíaco 1,29 1,02 a 1,63 + 29% 286
Cancro da mama 1,26 1,00 a 1,59 + 26% 290
Acidente vascular cerebral 1,41 1,07 a 1,85 + 41% 212
Embolia pulmonar 2,13 1,39 a 3,25 + 113% 101
Cancro do cólon 0,63 0,43 a 0,92 - 37% 112
Cancro do endométrio 0,83 0,47 a 1,47 – 47
Fractura da anca 0,66 0,45 a 0,98 - 34% 106
Morte por outras causas 0,92 0,74 a 1,14 – 331

Conclusões: os resultados indicam que, na utilização da THS combinada por um período


médio de 5,2 anos em mulheres pós-menopáusicas sem histerectomia, o risco total
excede os benefícios, que os resultados deste ensaio não são consistentes com a reco-
mendação deste tipo de terapia para a prevenção primária de doenças crónicas e que
este regime não deve ser iniciado ou continuado para a prevenção da doença das
artérias coronárias.
Comentário: análises subsequentes deste estudo revelaram que no 5.º ano de tratamento
se verificou uma diminuição transitória inexplicável na ocorrência de eventos adversos
no grupo de controlo, em vez do seu aumento no grupo de tratamento, e que somente
cerca de 10% das mulheres tinha menos de 55 anos e estava nos primeiros anos da
menopausa. Neste contexto, as conclusões do WHI não podem ser generalizados a todas
as mulheres pós-menopaúsicas, particularmente àquelas com menos de 55 anos em que
a sintomatologia relacionada com a diminuição do nível de estrogénios está mais
prevalente. Nestas mulheres, os estudos de observação não evidenciaram qualquer risco
da THS a nível cardiovascular ou vascular.
Para mais informações consultar as posições da Sociedade Internacional e da Sociedade
Portuguesa de Menopausa.
Toda a informação relativa aos resultados do estudo disponibilizada em http://www.whi.org/

NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA Não existe outro período ao longo da


vida em que, durante uma década, ocor-
ram tantas modificações a nível biológico,
Adolescência psicológico, cognitivo ou social. Enquanto
que durante a infância as necessidades
De um modo geral a adolescência é defi- nutricionais são semelhantes em ambos os
nida pelo período de vida entre o início géneros, com a puberdade ocorre uma
da puberdade e o final da maturação diferenciação destas necessidades devido
sexual. A Organização Mundial de Saúde ao estabelecimento de diferenças na com-
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define a adolescência em termos crono- posição corporal e nas funções fisiológicas,


lógicos como o período compreendido características da maturação biológica.
entre os 10 e os 18 anos, todavia a ado- O pico de velocidade de crescimento, tanto
lescência ocorre entre os 8 e os 19 anos para a altura como para o peso, obriga a
nas raparigas e entre os 10 e os 22 anos uma necessidade energética e nutricional
nos rapazes, apresentando-se estes limites aumentada tendo em vista o desenvolvi-
como mais apropriados face à normal mento da puberdade e da função repro-
variação entre os géneros. dutiva. Com a cessação do crescimento, as

321-376 337 02.05.08, 5:25 PM


338

necessidades em energia e em macronu- jovens está associada a problemas de


Nutrição, Exercício e Saúde

trientes devem ser ajustadas para uma saúde cardiovasculares, endócrinos e psi-
superfície corporal maior. A mineralização cológicos e constitui um factor de risco
do esqueleto e a ocorrência do pico de premonitor da morbilidade e mortalidade
massa óssea, assim como as hemorragias na idade adulta.
menstruais e o aumento da necessidade A adolescência é igualmente reconhe-
de ferro, representam os principais aspec- cida como um período crítico de prepa-
tos nutricionais das adolescentes, no ração para uma gravidez saudável, uma
que respeita às necessidades em micronu- vez que os hábitos de vida entretanto
trientes. adquiridos condicionam o desenvolvi-
A alimentação fora do ambiente fami- mento fetal. A deficiência em ácido fólico,
liar, decorrente da progressiva indepen- desordens alimentares e o abuso de dro-
dência dos jovens, e o aumento da pres- gas constituem factores de complicação
são social para uma estética baseada na de uma eventual gravidez. A promoção
magreza aumentam o risco de desordens da saúde por diversos agentes constitui
alimentares ou de padrões de exercício um factor determinante da educação na
compulsivo. Uma maturação sexual pre- adolescência.
coce parece, igualmente, predispor as
adolescentes para uma maior preocupa- Avaliação do crescimento e estado
ção com a imagem e o peso corporal e,
consequentemente, para um maior risco nutricional
de desordens alimentares. Embora a prá-
tica desportiva esteja associada a um au- A simples avaliação do crescimento é,
mento da auto-estima, as atletas de elite provavelmente, a melhor forma de estimar
de várias modalidades em que a imagem a adequação do aporte nutricional e do
ou o peso corporal contribuem de forma estado de saúde em geral durante a ado-
significativa para o desempenho atlético, lescência. Geralmente utilizam-se tabelas
como na ginástica, na patinagem artística, normativas de crescimento, expressas em
na dança ou no fundo e meio-fundo, são percentis, para comparar o aumento do
também um grupo-alvo de uma grande peso e da altura de acordo com a idade e
pressão, potenciando o impacto de com- o género. Em geral, o crescimento é con-
portamentos alimentares prejudiciais para siderado normal se a relação entre o peso
a saúde e o desenvolvimento de desor- e a altura, para uma determinada idade,
dens alimentares (Ver Nutrição na mulher se encontrar entre os percentis 25 e 75.
atleta). Para além do peso e da altura, a utilização
Em oposição à dieta e à magreza en- do IMC de acordo com a idade constitui
contra-se a obesidade na adolescência. igualmente um bom procedimento para
Dados recentes do US Centers for Disease avaliar o crescimento e o estado nutricio-
Control and Prevention (EUA) demons- nal, nomeadamente o despiste do risco
tram aumentos significativos da incidên- associado à magreza extrema, ao excesso
cia do excesso de peso e da obesidade de peso e à obesidade (Tabela VII.5).
em crianças até aos 5 anos de idade. As
crianças e adolescentes de países desen-
volvidos são menos activas fisicamente
Necessidades energéticas
e mais predispostas ao excesso de peso.
A prevalência do excesso de peso e da Apesar dos escassos estudos sobre neces-
obesidade em raparigas de Lisboa e do sidades energéticas na adolescência, exis-
Porto variava, em 1995, entre 16 e 23%. tem evidências de que o dispêndio de
Apesar de estes números serem inferiores energia das adolescentes saudáveis (10 a
aos observados nos EUA (25,9 e 26,6%), 16 anos), com uma adequada compo-
são todavia preocupantes. A obesidade nos sição corporal e prática de actividade

321-376 338 02.05.08, 5:25 PM


339

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.5 • Valores de corte para o aumento do risco nutricional durante a adolescência.

Classificação Variáveis Intervalo e valor de corte

Normal Peso/altura Percentil 25 a 75


Peso insuficiente Peso/altura < percentil 25
Excesso de peso Peso/altura > percentil 75
Baixa estatura para idade Altura/idade < percentil 3
Magreza ou baixo IMC para idade IMC/idade < percentil 5
Risco de excesso de peso IMC/idade ≥ percentil 85 *
Obesidade IMC/idade ≥ percentil 95 *

* Valores baseados na OMS, 1995. Para maior detalhe da classificação ver Lobstein, T. et al., “Obesity in children and young people: a crisis in
public health.”

física, se situa entre 1 850 a 2 656 kcal/ na zona pélvica, dorsal, dos braços e do
dia, valores ligeiramente superiores aos peito. A percentagem de gordura corporal
anteriormente sugeridos pela OMS, 1 910 nas raparigas passa de valores médios de
a 2 140 kcal/dia. 15% no início da puberdade aos 9 anos
para valores que podem chegar aos 30%
Problemática é a existência de uma grande no final da puberdade.
variabilidade quanto à idade de início, duração e As necessidades energéticas durante a
intensidade do salto de crescimento, durante o qual adolescência podem ser estimadas recor-
se verificam as maiores necessidades energéticas rendo a tabelas de referência como as pu-
durante a adolescência (cerca de 2 500 kcal/dia).
blicadas nos EUA para Americanos e Cana-
dianos saudáveis suficientemente activos e
Além da altura e do peso, as modifi- conhecidas em Portugal como DDR (doses
cações na composição corporal, que por diárias recomendadas – Tabela VII.6).
sua vez tem implicações nutricionais, são É ainda possível estimar as necessi-
também características deste período. As dades energéticas durante a adolescência
modificações da composição corporal são recorrendo a equações que consideram
mediadas pelas hormonas sexuais, no para além da idade, o peso, a altura e o
caso da mulher pelos estrogénios e pela nível de actividade física. A equação que
progesterona. Uma vez alcançado o pico se apresenta é aplicável a raparigas dos
de velocidade de crescimento verifica-se 9 aos 18 anos com um IMC entre o 5.º e
nas raparigas um aumento significativo da o 85.º percentil.
acumulação de gordura, particularmente

Tabela VII.6 • Necessidades energéticas para mulheres suficientemente activas, de acordo com
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

a idade.

Faixa etária Critério Necessidades energéticas diárias (kcal/dia)

9 a 13 anos Dispêndio + deposição de energia 2 017 kcal (11 anos)


14 a 18 anos Dispêndio + deposição de energia 2 368 kcal (16 anos)
> 18 anos Dispêndio + deposição de energia 2 403 kcal (19 anos)

321-376 339 02.05.08, 5:25 PM


340

Necessidade energética diária (kcal/dia):


Nutrição, Exercício e Saúde

135,3 – [30,8 x idade (anos)] + [10 x peso (kg) + 934 x altura (m)] x nível de actividade física + 20

O nível de actividade física é expresso Uma vez que a obesidade na adoles-


através dos seguintes coeficientes: 1 – se- cência comparativamente à da infância é
dentária; 1,16 – insuficientemente activa; mais determinante para a obesidade na
1,31 – activa; 1,56 – muito activa. idade adulta, a adolescência constitui um
As necessidades energéticas são também período de vida crítico para a aprendi-
influenciadas pelo estádio de desenvolvi- zagem e controlo de comportamentos
mento pubertário, encontrando-se aumen- saudáveis ao nível alimentar e da activi-
tada no estádio II de Tanner, quando tem dade física.
início o salto de crescimento. A compo-
sição corporal, e particularmente a quan-
tidade de massa muscular, são igualmente Necessidades proteicas
factores decisivos da necessidade ener-
gética basal, que é superior nas raparigas Perante a escassez de estudos sobre as
com maior massa muscular. Não existem, necessidades proteicas durante as dife-
todavia, recomendações para estimar as rentes fases da adolescência, as recomen-
necessidades energéticas de acordo com dações nutricionais existentes para ado-
a quantidade de massa muscular. lescentes derivam de dados sobre crianças
Uma vez que um adequado aporte ener- e adultos. Considerando as diversas taxas
gético é determinante para o aporte em de crescimento entre os 10 e os 20 anos,
proteína, cálcio, ferro e outros micronu- pode-se assumir que um baixo aporte
trientes, adolescentes com baixo aporte proteico pode afectar significativamente
energético (< 1 800 kcal/dia) têm dificul- a manutenção e o crescimento de teci-
dade em atingir as recomendações diárias dos, órgãos e sistemas, com particular
para macro e micronutrientes. Devido a destaque para os tecidos muscular e ósseo.
uma maior exigência de energia e nutrien- Neste contexto, a síntese proteica deve
tes durante o pico de crescimento, pode ser superior à degradação que é maxi-
ocorrer um atraso da puberdade e do cres- mizada durante o crescimento com um
cimento linear em raparigas cujo consumo balanço de nitrogénio positivo. O aporte
de calorias e nutrientes seja insuficiente. energético total, e em particular o aporte
Do lado oposto ao do défice energético energético proveniente da proteína, cons-
surge a preocupação com o aumento da titui um factor limitativo do equilíbrio
obesidade nas adolescentes. Apesar da azotado. A restrição calórica através da
importância dos factores genéticos, fac- dieta poderá, assim, comprometer a sín-
tores ambientais, como o consumo de tese proteica e o próprio crescimento.
tabaco e de álcool e o início precoce da A maioria dos adolescentes não está,
actividade sexual, contribuem igualmente contudo, em risco de um aporte insufi-
para a obesidade das jovens, ou seja, ciente de proteína. De facto, estudos
aumentam o risco de um fraco padrão sobre os hábitos alimentares durante a
alimentar e baixa adesão ao exercício. adolescência demonstraram que o aporte
Outros factores como as dinâmicas fami- médio de proteína está, geralmente, acima
liares, a insegurança alimentar e uma se- das recomendações, tanto nos EUA como
lecção ou preferência por alimentos pouco em Portugal ou outros países desenvol-
saudáveis contribuem também para a vidos.
obesidade na adolescência. Adicional- Tal como para as necessidades ener-
mente, o aumento da resistência à insu- géticas, a idade biológica é mais deter-
lina, que se verifica no início da puber- minante para a estimativa das necessi-
dade, constitui uma predisposição natural dades proteicas do que a idade crono-
para um ganho excessivo de peso. lógica.

321-376 340 02.05.08, 5:25 PM


341

mendado. A adolescência constitui tam-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


As necessidades energéticas são superiores durante
o período do salto do crescimento. Obviamente bém um período de maior consumo de
que este facto também se aplica às necessidades hidratos de carbono processados. Dados
proteicas, já que o gasto de azoto e minerais é recolhidos no Sul da Europa demonstram
superior durante esta fase.
consumos acima de 100 g/dia de açú-
As necessidades proteicas podem ser cares simples, claramente superiores às
baseadas na altura ou no peso. As se- actuais recomendações (Quadro VII.11 e
guintes recomendações são fornecidas por Tabela VII.8).
agências governamentais norte-americanas
e europeias (Itália) (Tabela VII.7).
Quadro VII.11 • Recomendação para o con-
sumo de gorduras em adolescentes.
Tabela VII.7 • Recomendações para o consumo
• Gordura total: < 30% e não menos que
de proteína.
20% do valor calórico total;
• Gordura saturada: < 10% do aporte calórico
Idade DDRa SINHc total;
g/cm/db g/kg/da g/kg/d • Colesterol: < 300 mg/dia (a produção endó-
gena parece ser suficiente).
9 a 13 anos 0,95 1,24
11 a 14 anos 0,29
Perturbador parece ser o facto de algu-
14 a 18 anos 0,85 1,14 mas características protectoras, como um
15 a 18 anos 0,27 consumo elevado de hidratos de carbono
complexos e baixo de gordura saturada,
> 18 anos
típicas da dieta Mediterrânica e em países
19 a 24 anos 0,28 0,80 1,01 como Espanha, Portugal, Itália e Grécia,
a Food and Nutrition Board, Institute of Medicine. (2000). Dietary refe-
poderem estar a desaparecer. Actualmente
rence intakes. Washington, DC: National Academy Pres. o consumo de hidratos de carbono
b Food and Nutrition Board, Institute of Medicine. (1989). Recom-
baseia-se sobretudo em hidratos de car-
mended dietary allowances. Washington, DC: National Academy Press. bono processados, como os produtos de
c Italian Society of Human Nutrition (1996). Recommended dietary

allowances for the Italian Population, Revision. Rome: National Insti- pastelaria, doces e refrigerantes. A inges-
tute of Nutrition. tão de gordura saturada tem igualmente
aumentado através de um maior con-
Considerações sobre as gorduras e sumo de carne, de lacticínios gordos e de
os açúcares doces. Dados provenientes de Espanha,
onde se analisaram indivíduos do sexo
A alimentação diária dos adolescentes feminino, demonstraram um aporte de
norte-americanos e europeus é demasia- gordura de 39 a 45% do valor calórico
damente rica em gordura, ou seja, excede total. Este valor é superior ao observado
os 30% do aporte total de energia reco- nos EUA. Os dados são semelhantes para

Tabela VII.8 • Recomendação diária para o consumo de


hidratos de carbono e de fibra para raparigas adolescentes.
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

Nutriente 9 a 13 anos 14 a 18 anos

Hidratos de carbono (g/dia) > 130 > 130


Fibra (g/dia) 26 36
aFood and Nutrition Board, Institute of Medicine. Dietary reference intakes. DC:
National Academy Pres.

321-376 341 02.05.08, 5:25 PM


342

as mulheres na Grécia e Itália enquanto As diferenças de massa óssea que se estabelecem


Nutrição, Exercício e Saúde

que em Portugal o consumo de gordura durante a puberdade entre rapazes e raparigas, não
variava entre os 30 e os 33% em 1995. observáveis antes deste período, são devidas a
Felizmente, o consumo de azeite, de fruta um crescimento ósseo mais prolongado no sexo
masculino. Estas diferenças contribuem para uma
e de vegetais permanece elevado em
superioridade dos rapazes em 10% na altura e em
todos estes países, apesar de se verificar 25% no pico de massa óssea, comparativamente
uma tendência para a diminuição no con- às raparigas.
sumo de azeite. Torna-se imperativo a
promoção de iniciativas de educação ali-
mentar, tanto a nível urbano como rural, Em mulheres jovens, foi demonstrado
tendo em vista o abrandamento de ten- que a retenção de cálcio é bastante supe-
dências não saudáveis. Um bom exemplo rior durante no início da puberdade (Tanner
foi a iniciativa escandinava que conduziu I-III), comparativamente aos seus estádios
a uma diminuição do consumo dos níveis finais (Tanner IV-V). A retenção média de
de gordura de origem animal. As atletas cálcio durante o pico da velocidade de
deverão consumir maiores quantidades crescimento do esqueleto é de aproximada-
de hidratos de carbono relativamente às mente 200 mg/dia, variando consoante o
quantidades recomendadas (ver Nutrição aporte de cálcio. Aportes inferiores a 1 000
na mulher atleta). mg/dia (cerca de 800 a 900 mg/dia) con-
duzem a menor absorção e retenção de
cálcio, enquanto aportes de cálcio de 1 500
Aporte de cálcio e pico de massa mg/dia parecem potenciar retenções de
óssea aproximadamente 400 mg/dia em raparigas
durante este período de crescimento.
O consumo de cálcio das raparigas dimi- Entende-se por pico de massa óssea a
nui gradualmente desde a infância até à quantidade máxima de tecido ósseo que
adolescência de tal forma que muitas um indivíduo adquire e que é alcançado
raparigas dos 12 aos 19 anos não inge- em média por volta dos 20 a 30 anos. No
rem diariamente as 1 300 mg de cálcio entanto, a maioria da massa óssea é
recomendadas para esta faixa etária. adquirida durante a segunda década de
À excepção dos países escandinavos onde vida, especialmente nas caucasianas com
o consumo de lacticínios, fonte de cálcio, um aporte adequado de energia, de pro-
é relativamente elevado, os restantes paí- teína e de cálcio. Vários factores afectam
ses europeus apresentam um panorama o pico de massa óssea, nomeadamente
semelhante ao americano, onde o con- factores genéticos, hormonais, nutricio-
sumo médio de cálcio é reduzido. nais e mecânicos. Os factores genéticos
O cálcio é importante para a formação contribuem para cerca de 80% da varia-
da massa óssea e aumento da resistência ção da massa óssea. Os factores nutricio-
à fractura e a sua necessidade é mais nais e a actividade física constituem os
elevada, entre outros, em períodos de determinantes do estilo de vida capazes
crescimento acelerado, como é o caso da de influenciar complementarmente o pico
adolescência, período durante o qual é de massa óssea na juventude e conse-
formada cerca de 45% da massa óssea quentemente prevenir o risco de fractura
do esqueleto adulto. A formação óssea e relacionada com a idade. Entre os factores
a retenção de cálcio variam, todavia, ao nutricionais, o cálcio aparenta ser o mais
longo das diversas fases da adolescência. importante, apesar de muitos outros nu-
O ganho em altura e em massa óssea trientes afectarem a saúde do esqueleto
não ocorre de forma sincronizada, pelo (vitamina D, zinco, fósforo, vitamina C,
que poderá ser uma das razões para a vitamina K, ferro, magnésio, cobre, pro-
ocorrência transitória de uma maior fragi- teína). Apresentam-se os factores que
lidade e risco de fracturas durante a ado- durante a adolescência podem limitar a
lescência. maximização do pico de massa óssea:

321-376 342 02.05.08, 5:25 PM


343

• Atraso na ocorrência da menarca; Milk Matters , cujos materiais estão dis-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


• Irregularidade menstrual; poníveis no sítio do National Institutes of
• Consumo de álcool e de tabaco; Health (NIH), com ligação ao National
• Dietas restritivas (energia, lacticínios, Institute of Child Health & Human Deve-
proteína); lopment (NICHD). A pirâmide alimentar
• Baixo aporte de micronutrientes, para adolescentes compreende a inclusão
particularmente de cálcio; de cinco doses diárias de lacticínios (entre
• Aporte excessivo de proteína e de 1 200 e 1 500 mg/dia para raparigas dos
sódio; 11 aos 24 anos, e, mais especificamente,
• Inactividade física. 1 300 mg para raparigas dos 9 aos 18
anos) (Tabela VII.9).
A diminuição do aporte de cálcio é A Tabela VII.10 apresenta alguns dos
decorrente da diminuição do consumo de alimentos mais ricos em cálcio.
lacticínios nas adolescentes. A falta de Uma vez que a absorção de cálcio, que
informação, a alimentação fora de casa, varia de 25 a 40%, se encontra diminuída
a não ingestão do pequeno-almoço, a quando o cálcio provém de fontes vege-
substituição do leite por refrigerantes, tais, uma forma possível de aumentar a sua
a influência dos pais e em particular a absorção numa dieta vegetariana consiste
influência das filhas pelas mães, o gosto, na combinação de lacticínios com legumes,
a intolerância à lactose e as preocupações hortaliças e produtos de soja. Os vegeta-
com o corpo e com o peso são factores rianos restritivos (vegans), ou os adoles-
que parecem contribuir para a diminui- centes com intolerância à lactose devem
ção do consumo de cálcio neste período. incrementar a sua dieta com suplementos
Nos EUA foram implementadas cam- de cálcio (1 500 mg/dia de citrato ou car-
panhas de promoção tendo em vista o bonato de cálcio, ingeridos em pequenas
aumento do consumo de cálcio de doses de 300 a 500 mg ao longo do dia).
produtos lácteos como, por exemplo, os Devido a interacções significativas entre o

Tabela VII.9 • Estratégias para o aumento do aporte de cálcio durante a adolescência.

Factores de risco Estratégia para aumentar o aporte

Falta de conhecimento/educação Implementar programas de educação em larga escala


Influência maternal nos padrões Uma vez que o consumo de lacticínios das mães influencia o
alimentares dentro e fora consumo de lacticínios das filhas há que criar padrões alimentares em
do envolvimento familiar casa que incluam o pequeno-almoço e utilizem snacks como o leite
e o iogurte
Gosto/paladar Uma vez que constitui a principal razão para a restrição de lacticínios
nas adolescentes, há que educar para o consumo variado de lacticínios
(preparação de batidos, etc.)
Intolerância à lactose A má digestão de lactose não deve ser um factor restritivo para o aporte
de cálcio. Mesmo com a má digestão de lactose podem ser consumidos
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

alguns lacticínios (queijo, iogurte com culturas probióticas e leite


adicionado de lactase, se disponível) ingerindo-os em pequenas
quantidades ao longo do dia
Influência social As mensagens das campanhas para o consumo de lacticínios necessitam
de ser apropriadas para a faixa etária do público-alvo
Preocupação com o peso Programas de controlo de peso que enfatizem uma relação inversa entre
a percentagem de gordura corporal e o aporte de cálcio.

321-376 343 02.05.08, 5:25 PM


344
Nutrição, Exercício e Saúde

Tabela VII.10 • Fontes alimentares de cálcio.

Fontes alimentares Tamanho da porção Cálcio (mg)

Leite 240 ml 350


Iogurte com aroma/frutos 170 g 415
Iogurte natural 170 g 450
Queijo fresco 1 chávena 100
Sardinhas com espinhas 56 g 217
Queijo (tipo flamengo) 28 g 300
Espinafres (crus) 1 chávena 122
Leite de soja (fortificado) 240 ml 120
Tofu (simples) 125 g 300

cálcio, o ferro e o zinco, recomenda-se resistente à fractura, na condição de exis-


que a ingestão de suplementos de cálcio tir uma biodisponibilidade suficiente de
não seja simultânea a refeições ricas em cálcio. Embora a biodisponibilidade do
ferro ou em combinação com suplementos cálcio esteja também dependente do con-
de ferro ou multivitaminominerais. Se, por sumo de outros nutrientes, a maioria dos
um lado, um aporte proteico insuficiente, trabalhos de investigação tem abordado
como o existente em países subdesen- a importância do consumo de cálcio na
volvidos, pode limitar o crescimento do limitação ou favorecimento do efeito da
esqueleto, particularmente ao nível dos actividade física no mineral ósseo. Uma
ossos longos, por outro lado, um aporte observação recente sugere um limiar de
proteico excessivo conduz a um aumento 700 a 800 mg/dia a partir do qual se pode
da excreção urinária de cálcio. potenciar o efeito do exercício físico.
O exercício físico, desde que não seja À medida que o consumo se aproxima das
excessivo (para não comprometer a activa- necessidades requeridas, a actividade física
ção do eixo hipotalâmico-hipofisário- parece constituir um estimador mais impor-
-gonadal), constitui um estímulo essencial tante da massa óssea do que o consumo
para o desenvolvimento de um esqueleto de cálcio.

Destaque

COMO SE AVALIA A SAÚDE DOS OSSOS?


Actualmente a resistência do osso à fractura pode ser avaliada clinicamente através
de radiogrametria computorizada, de absorciometria radiográfica, de densitometria
de raio-X de dupla energia (DXA) e de ultra-som. É, todavia, através de DXA que
se faz o diagnóstico de osteoporose, massa óssea diminuída ou massa óssea normal,
uma vez que para as restantes metodologias não existem critérios de diagnóstico
bem estabelecidos.

DXA
Os locais ósseos possíveis de avaliação através de DXA são a coluna lombar (L1-L4),
a anca, o antebraço e o corpo inteiro. A densidade mineral óssea (DMO) avaliada
através de DXA é expressa em valores absolutos (g/cm2) e em valores relativos,

321-376 344 02.05.08, 5:25 PM


345

designadamente o Z-score e o T-score. A DMO resulta da razão entre o conteúdo

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


mineral ósseo e a área de osso examinada.

O Z-Score é a medida da diferença em desvios-padrão (DP) ou em percentagem (%), entre os


valores da DMO da pessoa avaliada e os valores da DMO de pessoas da mesma idade e género.
O T-score é a medida da diferença (em DP ou %) entre os valores da pessoa avaliada e os
valores de adultos jovens do mesmo género (20 a 30 anos, quando é alcançado o pico de
densidade óssea).

DIAGNÓSTICO DA OSTEOPOROSE
Em termos densitométricos, considera-se existir osteoporose quando a DMO está
diminuída pelo menos em 25% relativamente ao que é considerado normal. Esta
diminuição de 25% é expressa por um T-score de -2,5 DP. Para reduções da massa
óssea entre 10 e 25%, ou seja, para um T-score entre -1 e -2,5 DP, considera-se
existir massa óssea diminuída ou osteopénia. A osteoporose pode ser diagnosticada
numa mulher pós-menopáusica ou num homem de pelo menos 50 anos se o T-
score da coluna lombar, da anca ou do colo do fémur for = -2,5 DP. Em algumas
circunstâncias o rádio distal (também reconhecido por 33%, ou um terço) pode
ser utilizado.
Regiões ósseas a avaliar:
• Avaliar a DMO da coluna lombar e da anca em todos os pacientes;
• Avaliar a DMO do antebraço não dominante nas seguintes circunstâncias: quando
a anca ou a coluna não podem ser avaliadas ou interpretadas; em caso de hiper-
paratiroidismo; em caso de obesidade extrema em que o peso do paciente
ultrapassa o permitido pela mesa do densitómetro.
Interpretação de resultados em mulheres pré-menopáusicas e em homens com
menos de 50 anos:
• Utilizar o Z-score em vez do T-score, particularmente nas crianças;
• Expressar um Z-score ≤ -2 DP como “abaixo do valor esperado para a idade”
e > -2 DP como “dentro da amplitude esperada para a idade”;
• Avaliar preferencialmente a coluna e o corpo inteiro em crianças e adolescente
(< 20 anos).
Indicações para uma avaliação da DMO:
• Mulheres com pelo menos 65 anos de idade;
• Mulheres pós-menopáusicas com menos de 65 anos e com um ou mais factores
de risco para além da menopausa;
• Homens com mais de 70 anos;
• Adultos com fracturas de fragilidade;
• Adultos com doença e/ou medicação associada a massa óssea diminuída ou a
perda de massa óssea;
• Qualquer pessoa considerada para terapia farmacológica;
• Qualquer pessoa em tratamento da osteoporose, para monitorizar o efeito do
tratamento;
• Qualquer pessoa não tratada mas na qual a evidência de perda óssea deva con-
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

duzir ao tratamento.
As mulheres que interrompam uma THS devem ser consideradas para uma
densitometria de acordo com as indicações anteriores.

Official Positions of the International Society for Clinical Densitometry (2005)


http://www.iscd.org/Visitors/pdfs/ISCD_OP2005_000.pdf

321-376 345 02.05.08, 5:26 PM


346

homem (6%), devido a uma maior perda


Nutrição, Exercício e Saúde

Ferro e anemia ferropénica


e a uma menor reserva, uma vez que
Na mulher adulta, a quantidade total de quanto menor é a reserva de ferro maior
ferro corporal aproxima-se de 2,3 g, o é a sua absorção. A diminuição ou au-
equivalente a 42 mg/kg para uma mulher mento da capacidade de produção de
de 55 kg. Em condições normais a maioria glóbulos vermelhos encontra-se igual-
do ferro corporal encontra-se nos glóbulos mente associada a uma menor ou maior
vermelhos como hemoglobina, ou seja, na absorção de ferro. O ferro dos alimentos
forma de ferro funcional, e em pequenas de origem animal, como o ferro hémico
quantidades na mioglobina e em enzimas encontrado nas carnes, apresenta uma
respiratórias intracelulares. O remanes- maior biodisponibilidade comparativa-
cente do ferro corporal total é o resultado mente ao ferro não-hémico de origem
do aporte, da perda e da reserva diária. vegetal (Tabela VII.11). Outros compostos
A regulação do equilíbrio do ferro presentes nos alimentos podem por sua
ocorre principalmente pela via de absor- vez inibir ou promover a biodisponibili-
ção no tracto gastrointestinal. A biodis- dade do ferro quando consumidos em
ponibilidade do ferro varia de acordo simultâneo (Tabela VII.12).
com as características individuais, parti- Apesar da perda média diária de ferro
cularmente com o género, e com as carac- dos adolescentes ser inferior à dos adultos
terísticas dos alimentos situando-se entre (1g/dia) este valor encontra-se elevado em
1 a 50%. A mulher absorve maior quanti- mais 0,3 a 0,5 mg/dia em mulheres jovens
dade de ferro (13%) comparativamente ao menstruadas. Complicações gastrointes-

Tabela VII.11 • Fontes alimentares de ferro.

Fonte Tamanho da porção Quantidade de ferro (mg)

Animal (~40% hémico e 60% não hémico)


Fígado 85g 9
Carne de Vaca 85g 3
Galinha 85g 1
Peixe 85g 1
Porco 85g 1
Ovo 1 inteiro 1
Vegetal (100% não hémico)
Cereais, desidratados, fortificados 28 g 6
Espinafres, cozinhados 1/ chávena 3
2

Milho doce 1/ chávena 2


2

Massa, cozinhada 1 chávena 2


Arroz, cozinhada 1 chávena 2
Legumes, cozinhados 1/ chávena 2
2

Aveia, cozinhada 1 chávena 1,5


Passas 1/ chávena 1
4

Fruta 1 peça 0,5

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347

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.12 • Promotores e inibidores da biodisponibilidade de ferro.

Promotores Exemplos Inibidores Exemplos

Alimentos ricos em Citrinos, em fruta ou Fitatos Cereais em grão, legu-


vitamina C sumo mes, produtos de soja
Alimentos fermentados Miso (grão de soja fer- Taninos Chá, café, infusões,
(pH baixo) mentado), sauerkraut cacau
(couve fermentada)
Ferro hémico Carne vermelha, peixe Cálcio Leite, queijo e iogurte
ou aves
Ácidos orgânicos Ácido cítrico e tartárico Péptidos de proteína Proteína de soja,
vegetal legumes, oleaginosas
Álcool Cerveja, vinho, licores Oxalatos Ruibarbo, morangos

tinais com perda de sangue potenciam, Em consequência, estas perdas não


igualmente, a perda de ferro para além do conseguem geralmente ser compensadas
processo normal de turnover. pelas quantidades diárias de ferro reco-
O ferro é armazenado no organismo mendadas. De facto, vários estudos mos-
principalmente na forma de ferritina, en- tram que somente 28% das adolescentes
contrada no fígado, na medula óssea, no norte-americanas entre os 12 e 19 anos
baço e nos músculos-esqueléticos. A ferri- consome diariamente o equivalente às
tina circulante, ainda que pouca, é utili- recomendações, ou seja, 18 mg/dia. A di-
zada como índice de análise das reservas ferença entre a quantidade de ferro reco-
de ferro, uma vez que há uma boa cor- mendada e aquela que é ingerida ainda
relação com as reservas da medula óssea. aumenta mais ao longo do ciclo de vida
Neste contexto, a ferritina plasmática re- da mulher.
presenta o parâmetro mais importante na A anemia ferropénica representa o esta-
detecção inicial de uma deficiência em do mais grave da deficiência em ferro que
ferro. se inicia com a diminuição das reservas de
A anemia ferropénica constitui uma das ferro e progride para a deficiência de ferro
deficiências nutricionais mais prevalentes sem anemia (sem modificação da hemo-
nos países desenvolvidos. Os grupos da globina e do hematócrito) (Tabela VII.13).
população mais afectados pela anemia Apesar da falta de consenso sobre os
ferropénica são as crianças, os adolescen- efeitos da fase I da depleção de ferro na
tes, as mulheres em idade fértil e as grá- saúde, as evidências apontam para um
vidas. impacto negativo das fases II e III no cres-
cimento linear, na mineralização óssea,
na eritropoiese, assim como na função
Durante a adolescência as necessidades de ferro imunitária. A prevalência da anemia ferro-
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

aumentam devido ao crescimento acelerado,


pénica nas adolescentes é de 2 a 3%, e
à expansão do volume plasmático e ao incremento
da massa esquelética. O crescimento necessita de a da deficiência de ferro sem anemia de
uma elevada taxa de deposição de ferro (0,2 mg/ 11%. Uma vez que o risco da anemia se
dia), principalmente durante a fase do salto de encontra aumentado nas pessoas com
crescimento (0,9 mg/dia). Adicionalmente, nas ado- deficiência de ferro, torna-se importante
lescentes as perdas menstruais aumentam as neces- a monitorização das fases iniciais da de-
sidades diárias de ferro, particularmente quando a pleção, particularmente nas crianças, nas
hemorragia menstrual é abundante (> 80 ml/mês). adolescentes e em mulheres de idade fértil,

321-376 347 02.05.08, 5:26 PM


348
Nutrição, Exercício e Saúde

Tabela VII.13 • Fases da depleção, deficiência, anemia e de sobrecarga de ferro.

Fases Reserva Funcionalidade Transporte


Ferritina plasmática Hemoglobina hematócrito Saturação da transferrina

Reserva normal de ferro Normal Normal Normal


Fase I – depleção de ferro Normal Normal Baixo
Fase II – eritropoiese deficiente ou
deficiência de ferro sem anemia Baixa Normal Baixo

Fase III – anemia ferropénica Baixa Baixa Baixo


Sobrecarga de ferro Alta Alta Normal

visto que com a gravidez as necessidades objectivos dos agentes educativos de pes-
de ferro duplicam. Alguns sinais e sinto- soas adultas devem reforçar a prática regu-
mas da deficiência em ferro são, habi- lar de actividade física, assim como a adop-
tualmente, a fadiga generalizada, a fadiga ção de hábitos alimentares equilibrados.
precoce associada à realização de activi-
dades com exigência física, a diminuição
da função imunitária, o atraso do cresci- Necessidades energéticas
mento, infecções e palidez da pele.
De acordo com as DDR, as necessidades
energéticas para mulheres suficiente-
NUTRIÇÃO PARA MULHERES mente activas com mais de 18 anos são
de 2 403 kcal/dia (ver Tabela VII.7). No
EM IDADE FÉRTIL entanto, tal como para a adolescência,
equações que considerem para além da
Atingir e manter um peso corporal ade- idade, o peso, a altura e o nível de activi-
quado, não só é crucial para a preparação dade física conduzem a estimações mais
de uma gravidez saudável, como também exactas. Neste âmbito, para mulheres com
é fundamental para a prevenção de doen- mais de 18 anos e com um IMC entre
ças crónicas, como a diabetes tipo 2, as 18,5 e 24,9 kg/m2, a necessidade energé-
doenças cardiovasculares, alguns tipos de tica diária pode ser estimada de acordo
cancro e a osteoporose. Os principais com a seguinte equação:

354,1 – [6,91 x idade (anos)] + [9,36 x peso (kg) + 726 x altura (m)] x nível de actividade física

em que o nível de actividade física é ex- tida mais seguro para a concepção de
presso através dos coeficientes referidos planos alimentares, é importante avaliar
na Tabela VII.14. as diferenças devidas ao nível da activi-
De salientar que a variabilidade do dade física, de modo a tornar as linhas
gasto energético diário é bastante ele- orientadoras mais específicas.
vada, uma vez que é aproximadamente Devido ao aumento da incidência do
de 160 kcal. Assim, se forem utilizados excesso de peso e da obesidade nos
dois desvios-padrão para estimar o gasto países mais desenvolvidos foram elabo-
energético diário para um valor médio radas equações específicas para estimar
de 2 570 kcal, a estimativa varia entre as necessidades energéticas de mulheres
as 2 250 kcal e as 2 890 kcal. Apesar do com mais de 18 anos e um IMC = 25 kg/
valor médio representar o ponto de par- /m2.

321-376 348 02.05.08, 5:26 PM


349

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.14 • Nível de actividade física e respectivo coeficiente para determinação da
necessidade energética diária (mulheres com mais de 18 anos e IMC de 18,5 a 24,9 kg/dia.

Nível de actividade física Coeficiente Descrição

Sedentária 1,00 Somente actividades da vida diária (AVD)


Insuficientemente activa 1,12 AVD mais caminhada cerca de 3 km por dia
Activa 1,27 AVD mais caminhada cerca de 11 km por dia ou equivalente
Muito activa 1,45 AVD mais caminhada cerca de 27 km por dia ou equivalente

Necessidade energética diária (kcal/dia) =


448 – [7,95 x idade (anos)] + [11,4 x peso (kg) + 619 x altura (m)] x nível de actividade física

O nível de actividade física é expresso através dos seguintes coeficientes:


1,00 – sedentária; 1,16 – insuficientemente activa; 1,27 – activa; 1,44 – muito activa

O excesso de peso e a obesidade cons- NECESSIDADES DE HIDRATOS DE CARBONO


tituem actualmente uma grande preo-
cupação de vários países desenvolvidos. As mulheres fisicamente activas podem
Nos EUA, a obesidade é mais prevalente beneficiar de uma maior quantidade rela-
em mulheres do que em homens. De tiva de hidratos de carbono, especialmente
facto, entre os 20 e os 74 anos de idade, se praticarem actividades de natureza
62% das mulheres têm excesso de peso aeróbia. As recomendações das DDR su-
e 34% são obesas. De acordo com o gerem 130 g de hidratos de carbono por
Centro Norte-Americano para o Controlo dia, apesar de um consumo diário de
de Doenças e com estudos do NHANES 100 g ser provavelmente suficiente para
(1974-2000), a ingestão calórica diária 50% destas mulheres. No entanto, mu-
aumentou em ambos os sexos, mas em lheres fisicamente activas poderão ne-
maior proporção nas mulheres. Este facto cessitar pelo menos de 200 g/dia ou de
em combinação com um estilo de vida 5 g/kg de peso corporal.
sedentário é provavelmente a causa mais
comum de excesso de peso e obesidade Esta necessidade deve-se ao facto de o hidratos de
em adultos. carbono serem o principal combustível do músculo
e de a sua disponibilidade quer no músculo quer
no fígado ser limitada. Por esta razão, há neces-
Necessidades de macronutrientes sidade de restabelecer diariamente os respectivos
níveis de glicogénio, especialmente em mulheres
que treinem diária ou bi-diariamente, cujas neces-
As necessidades em macronutrientes não sidades se situam entre os 7 e os 10 g/kg/dia.
são diferentes entre os géneros, durante
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

esta fase do ciclo da vida. A variação


aceitável de macronutrientes na distribui- Para mulheres que pratiquem exercício
ção da alimentação diária, proposta pelas em dias alternados (quatro vezes por se-
DDR é de 45 a 65% para os hidratos mana), a uma intensidade leve a mode-
de carbono, 10 a 35% para proteína, e 20 rada durante 30 a 60 minutos, as DDR
a 35% para a gordura. são, provavelmente, suficientes. A escolha
das fontes de hidratos de carbono deve
favorecer os alimentos não processados

321-376 349 02.05.08, 5:26 PM


350

ricos em fibra, como os cereais integrais, ponsáveis pelo aumento do consumo de


Nutrição, Exercício e Saúde

frutos, vegetais e legumes; deve consumir- gordura saturada na dieta. A carne ver-
-se com moderação alimentos mais pro- melha pode ainda gerar algumas subs-
cessados como pão branco, arroz branco, tâncias tóxicas, que poderão aumentar o
massa processada, compotas, mel e sumo risco de certo tipo de cancros, parti-
e reduzir os doces (pastelaria, confeitaria cularmente do cólon. Dados do Nurse’s
e gelados). As DDR para a quantidade de Health Study demonstraram que as mu-
fibra são de 25 g por dia para mulheres lheres que consomem carne vermelha
nesta fase da vida. semanalmente possuem um risco de de-
Tem sido demonstrado que a fibra reduz senvolver cancro do cólon mais baixo
o colesterol total, o LDL-C e diminui o do que aquelas que a consomem diaria-
risco de doença cardiovascular. Dados do mente. O peixe poderá ser uma melhor
Nurses’ Health Study indicam uma re- opção para a saúde, uma vez que fornece
dução de aproximadamente 20% no risco ácidos gordos Ω -3, que estão associados
de doença coronária por cada incremento a um risco inferior de desenvolver doença
de 10 g de fibra alimentar. Ainda no mes- cardiovascular, tanto em homens como
mo estudo, assim como noutros, foi tam- em mulheres.
bém evidenciada uma relação entre a De um modo geral, a proteína da soja
quantidade e a qualidade dos hidratos de é considerada como uma fonte natural de
carbono ingeridos (por exemplo, índice e estrogénio para as mulheres, podendo
carga glicémica), e o risco de desenvolver reduzir não só o risco de cancro da mama
diabetes tipo 2. No entanto, é necessário e de doença cardiovascular, mas também
desenvolver estudos prospectivos para con- afectar a densidade mineral óssea, parti-
firmação destes resultados. cularmente após a menopausa. Uma dieta
vegetariana que elimine a maioria das
NECESSIDADES PROTEICAS fontes animais (vegan) tem de incluir a
proteína da soja, uma vez que esta é a
Não existem diferenças entre homens e única proteína vegetal completa em ami-
mulheres relativamente às necessidades noácidos essenciais. Nas dietas vegetaria-
proteicas. Estas necessidades são sobre- nas com lacticínios ou lacticínios e ovos,
tudo estimadas a partir do peso corporal, a combinação de vegetais com proteínas
do nível e do tipo de actividade física. As dos lacticínios, soja ou ovos permite atin-
necessidades para homens ou mulheres gir os requisitos de aminoácidos essen-
sedentários são de 0,8 g/kg/dia. Estas ne- ciais.
cessidades são mais elevadas em adultos
fisicamente activos, particularmente se as Uma preocupação própria das mulheres reside no
actividades forem de natureza aeróbia ou facto de dietas com elevado teor de proteína
de força, uma vez que a intensidade do causarem excreção urinária de cálcio. De facto,
as mulheres com níveis elevados de ingestão de
exercício e a sua duração aumentam a proteína parecem correr um maior risco de osteo-
taxa oxidativa da proteína. Se o exercício porose.
ocorrer na maioria dos dias da semana e
o objectivo for o aumento da quantidade Dados do Nurses’ Health Study revelam
de massa magra, a ingestão proteica deve um aumento de 20% do risco de fractura
ser aproximadamente 1,2 a 1,8 g/kg/dia. do punho nas mulheres que consomem
As necessidades proteicas são também pelo menos cinco doses de carne ver-
mais elevadas para indivíduos que ini- melha por semana, em comparação com
ciem um programa de musculação. as que comem menos de uma dose por
As fontes proteicas podem ser dividi- semana. A proteína de fonte animal pa-
das em fontes animais e vegetais. As rece causar maiores perdas urinárias de
fontes animais, como a carne vermelha, cálcio do que a proteína vegetal. Em con-
para além da proteína, fornecem ferro, traste, a ingestão reduzida de proteína
zinco e vitamina B12 mas são também res- poderá afectar negativamente a densidade

321-376 350 02.05.08, 5:26 PM


351

mineral óssea. Assim, parece ser impor- quer associação. Serão necessários mais

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


tante, para as mulheres entre os 30 e os dados para compreender se, de facto,
50 anos, equilibrar a ingestão de pro- existe uma ligação entre a ingestão de
teína com outros nutrientes, uma vez que gordura e o cancro da mama.
neste período ocorre uma perda de cerca
de 0,5% ao ano da densidade mineral NECESSIDADES DE MICRONUTRIENTES
óssea.
As mulheres adultas jovens e pré-meno-
NECESSIDADES DE GORDURA páusicas (18 a 50 anos) estão em risco
relativamente a uma ingestão insuficiente
Não existem DDR estabelecidas para a de vitamina B e E, cálcio, magnésio e
gordura, quer para homens quer para ferro. Estes, assim como outros micro-
mulheres, a partir dos 12 meses de idade. nutrientes, para além de prepararem a
Uma vez que a gordura é altamente ca- mulher para a gravidez, ajudam a prevenir
lórica, recomendam-se dietas com níveis doenças relacionadas com o envelheci-
baixos de gordura para controlar o peso. mento, como a osteoporose e as doenças
No entanto, em termos da saúde geral, cardiovasculares. Apresentam-se algumas
recomenda-se a inclusão de quantidades considerações sobre as vitaminas B, o
moderadas de gordura, particularmente cálcio e o ferro. As DDR relativas a estes
de gorduras vegetais que contenham micronutrientes encontram-se na Tabela
ácidos linoleicos (Ω -6) e ácidos linoléni- VII.16 (ver “Nutrição na gravidez e lacta-
cos (Ω -3), bem como ácidos gordos mo- ção em mulheres fisicamente activas”).
nossaturados. Os estudos mostram que Muitas mulheres não asseguram um
estas gorduras se encontram favoravel- bom estado nutricional previamente à
mente associadas a um risco mais baixo ocorrência de uma gravidez. A mulher em
de doença cardiovascular e de diabetes idade fértil raramente consome quantida-
tipo 2. Apesar de a maioria das pirâmides des adequadas de ácido fólico, necessário
alimentares e das orientações dietéticas à síntese do ácido desoxirribonucleico
dos países desenvolvidos confinarem todos e à divisão de células e essenciais ao
os tipos de gordura ao topo da pirâmide, desenvolvimento do feto. Recomenda-se
a Pirâmide da Alimentação Saudável pro- que todas as mulheres em idade fértil
posta por Walter Willett em 2003, sugere ingiram diariamente um suplemento multi-
a inclusão diária de óleos vegetais, o que vitamínico-mineral que contenha ácido
é uma prática habitual dos países mediter- fólico, a fim de reduzir o risco de malfor-
rânicos. Os ácidos gordos polinsaturados, mações no recém-nascido, particular-
particularmente os ácidos gordos α -lino- mente associadas ao tubo neural, como a
lénicos e os monoinsaturados (azeite, óleo espinha bífida. As mulheres precisam de
de canola, óleo de soja e óleo de semente ser informadas acerca da necessidade de
de linho), bem como os ácidos gordos atingirem um nível de folato adequado
Ω -3 (óleos de peixe), são particularmente antes da gravidez, uma vez que o cordão
úteis na redução do risco de doença espinal se fecha por volta do 28.º dia, que
cardiovascular tanto no homem como na habitualmente coincide com o reconhe-
mulher. cimento inicial do início da gravidez.
Existem muitos estudos centrados em Além disso, a ingestão de vitaminas B12
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

descobrir se a gordura se encontra asso- e B6 poderá ter efeitos benéficos sobre a


ciada ao cancro da mama. Enquanto os manutenção de normais níveis de homo-
primeiros estudos de caso-controlo suge- cisteína. Níveis elevados de homocisteína
riam que uma dieta com elevado teor no plasma estão associados a um maior
de gordura poderia estar associada a um risco de doença cardiovascular.
maior risco de cancro da mama, os dados O cálcio promove o crescimento linear
mais recentes de uma análise feita a oito e radial dos ossos durante a adolescência
estudos prospectivos não revelou qual- e previne a perda de mineral ósseo du-

321-376 351 02.05.08, 5:26 PM


352

Os estudos demonstram que uma dieta rica em • Fósforo: constituinte dos cristais de
Nutrição, Exercício e Saúde

vegetais de folha verde, alimentos fortificados como hidroxiapatite; razão cálcio/fósforo


os cereais de pequeno-almoço e suplementos de deve ser de 2/1 para uma formação
ácido fólico aumentam o nível de folato no plasma adequada de cristais de hidroxiapa-
e diminuem o nível de homocisteína prevenindo
tite no osso;
desta forma o risco de doença cardiovascular.
• Magnésio: a sua redução diminui a
secreção paratiroideia, o que, por
rante a vida adulta. As mulheres adultas sua vez, diminui os níveis de vita-
jovens e pré-menopáusicas apresentam mina D;
geralmente uma baixa ingestão de cálcio. • Boro e manganésio: importantes para
Dados do Continuing Survey of Food Inta- a formação e remodelação óssea;
kes by Individuals (CSFII) 1994-96 nos EUA, • Zinco: regula a secreção de calcito-
indicam que só 16% das mulheres com nina da glândula tiróide e influencia
idades entre os 20 e os 29 anos, 14% das a remodelação óssea;
mulheres entre os 30 e os 39 anos e 12% • Iodo: influencia a remodelação óssea;
das mulheres entre os 40 e os 49 anos • Cobre: induz uma diminuição da
consomem 100% da respectiva quanti- remodelação óssea;
dade recomendada de cálcio. As razões • Vitamina K: coenzima durante a pro-
dução de proteínas específicas que
para estes aportes tão reduzidos vão desde
ajudam o metabolismo ósseo; o seu
preferências de gosto até padrões alimen-
envolvimento é no entanto contro-
tares restritivos para efeitos de controlo
verso;
de peso. As jovens têm de ser informadas • Fluoreto: estimula a formação óssea.
sobre os benefícios dos alimentos ricos
em cálcio e as opções alternativas para Apesar de as adolescentes correrem um
alcançarem uma dieta equilibrada em maior risco de forte redução das reservas
cálcio. As opções alternativas para as de ferro e de anemia, as mulheres em
dietas vegan (sem qualquer alimento de idade fértil revelam geralmente uma
origem animal) incluem vegetais com folhas diminuição das reservas de ferro que, na
verdes, produtos à base de soja e ali- preparação para a gravidez, tem de ser
mentos fortificantes (cereais de pequeno- corrigida. Para mais, a deficiência de ferro
-almoço, alimentos desportivos e sumo de poderá conduzir à fadiga, e, na mulher
laranja), podendo sugerir-se suplementos activa, a uma má adaptação ao treino.
de cálcio (citrato ou carbonato de cálcio) Assim, as orientações dietéticas para
para as que se encontram em dietas res- esta população incluem alimentos ricos
tritivas e que não querem aumentar o em ferro e em vitamina C (isto é, carnes
seu aporte de alimentos ricos em cálcio. magras, vegetais com folhas verdes, nozes,
A recomendação de cálcio para mulheres passas de uva, laranjas e kiwis) e, pro-
entre os 19 e os 50 anos de idade é de vavelmente, suplementos de ferro para
1 000 mg/dia (ver Nutrição na adolescên- mulheres com deficiência de ferro ante-
cia, para as fontes e absorção de cálcio). riormente diagnosticada, com ou sem
Tendo em vista a maximização da saúde anemia. Outras anemias nutricionais in-
óssea, deveria também ser enfatizado cluem a anemia de ácido fólico e de vita-
um equilíbrio entre o aporte e o dispêndio mina B12 (anemia megaloblástica nutri-
energético, assim como uma dieta rica em cional). Enquanto a deficiência de ácido
fólico é a segunda anemia nutricional
nutrientes, incluindo proteínas e outros
mais comum entre as mulheres adultas
micronutrientes como os que se apresen-
jovens, logo a seguir à anemia de defi-
tam:
ciência em ferro, a anemia de deficiência
• Vitamina D: importante para a absor- em vitamina B12 é relativamente rara.
ção de cálcio intestinal; regula os Apesar de as fontes alimentares deve-
níveis de cálcio no sangue; rem ser a primeira prioridade na obtenção

321-376 352 02.05.08, 5:26 PM


353

de um nível adequado de nutrientes, a peso varia durante os três trimestres e é

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


dieta, por si só, pode não ser suficiente maior durante o segundo e o terceiro,
para algumas mulheres em todos os pe- enquanto no primeiro o aumento de peso
ríodos da idade adulta. Está demonstrado se limita a cerca de 1 a 2,5 kg. Em geral,
que os suplementos dietéticos são efica- o aumento total de peso varia entre 11,5
zes na obtenção de maiores aportes gerais a 16 kg mas esta variação depende do
de vitaminas B, vitamina C e vitamina D, peso antes da gravidez. A Tabela VII.15
e que os suplementos multivitamínicos e apresenta as variações do aumento de peso
minerais ajudam a ultrapassar aportes de relativamente ao IMC da mulher.
ácido fólico, ferro e vitamina D insufi- As mulheres fisicamente activas têm
cientes. Os suplementos de cálcio corri- geralmente maior probabilidade de ter
gem o baixo aporte de cálcio em mulhe- um peso próximo do limiar inferior do
res com restrições ao nível dos lacticínios. que é considerado um peso normal (18,5
Problemático é, contudo, o facto de a a 24,9 kg/m2). Neste caso, deverá ser
maioria das pessoas que recorrem a su- dada atenção a um aumento normal de
plementos serem geralmente as que têm peso durante a gravidez, uma vez que
uma melhor alimentação. este tem probabilidade de vir a determi-
nar o peso do recém-nascido. Para além
disso, as mulheres que praticam exercício
NUTRIÇÃO NA GRAVIDEZ E possuem normalmente uma maior preo-
cupação com a saúde, consumindo uma
LACTAÇÃO EM MULHERES variedade de suplementos nutricionais,
FISICAMENTE ACTIVAS como as ajudas ergogénicas e herbáceas,
que poderão ser prejudiciais para o feto.
É, por conseguinte, primordial proceder-
Considerações gerais -se a uma cuidadosa avaliação do estado
nutricional, do uso de suplementos e
A gravidez e a amamentação constituem substâncias, da história da prática de exer-
períodos de enormes alterações fisiológicas cício e de outros hábitos, antes da con-
no organismo de uma mulher, que re- cepção.
querem uma selecção muito cuidadosa de O aumento do peso materno durante a
recursos dietéticos, não só durante a sua gravidez influencia o peso com que o
ocorrência como também na sua prepa- bebé nasce. O peso do recém-nascido
ração antes da concepção. A gravidez parece ser um determinante importante
divide-se em três trimestres. O aumento de não só para a saúde do bebé como para

Tabela VII.15 • Aumento de peso recomendado durante a gravidez de acordo com o IMC da
pré-grávida.

IMC anterior à gravidez (kg/m2) Aumento total de peso recomendado (kg) Variação mensal do peso recomendada* (kg)

Peso insuficiente (< 18,5) 12,5 a 18 2,3


© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

Peso normal (18,5 a 24,9) 11,5 a 16 1,8


Excesso de peso 7,0 a 11,5 1,2
(≥ 25 a 29,9)
Obesa (≥ 30) 6,0 (mínimo) 0,9

*aumento de peso durante o segundo e o terceiro trimestres


Baseado em Institute of Medicine. Nutrition during Pregnancy. Part I Weight Gain. Washington DC: Food and Nutritition Board.
National Academy of Sciences, 1990; American College of Obstetricians and Gynecologists. Nutrition During Pregnancy. Technical
Bullitin 179. Washington DC: ACOG, 1993 (Level III).

321-376 353 02.05.08, 5:26 PM


354

O peso do recém-nascido e a idade gestacional A anemia de deficiência em ferro está


Nutrição, Exercício e Saúde

são determinantes importantes da morbilidade e igualmente relacionada com um aumento


mortalidade infantis. Um recém-nascido de termo do risco de parto antes do termo, baixo
pesa cerca de 3,5 kg e nasce entre a 37.ª e a 42.ª peso do recém-nascido e baixo nível de
semana. Os bebés que pesam menos de 2,5 kg
ferro no bébé. As mulheres que desejam
são considerados bebés de baixo peso e os que
nascem antes da 37.ª semana são considerados engravidar deverão medir os seus níveis
bebés nascidos antes do termo. de ferro e devem ser encorajadas a fazer
uma suplementação em caso de deficiên-
cia de ferro e de anemia antes da gra-
o desenvolvimento de factores de risco
videz, uma vez que esta rotina poderá
em idades mais tardias. Por exemplo, um
tornar-se difícil durante a gravidez. A DDR
crescimento e desenvolvimento intra-
para o ferro é de 18 mg/dia (ver Nutrição
-uterino deficiente poderão aumentar o
na adolescência).
risco de doença cardiovascular, metabó-
Ainda que seja aconselhado o recurso
lica ou endócrina ao longo da vida.
a suplementos mutivitamínico-minerais
O baixo peso ao nascimento, tanto no
antes e durante a gravidez, deverá preca-
homem como na mulher, está associado
ver-se a super-suplementação de certos
a um maior risco de doença cardiovas-
micronutrientes. De facto, uma suplemen-
cular, diabetes tipo 2, hipertensão e hiper-
tação de vitamina A acima de 10 000 IU
lipidemia. É claro que os bébés com baixo
no início da gravidez poderá também
peso, filhos de mães subalimentadas, se
causar malformações.
encontram em maior risco de complica-
Finalmente, as mulheres com um erro
ções de saúde. Neste grupo podem ser
hereditário de fenilcetonúria (PKU) são
incluídas mulheres com um nível sócio-
aconselhadas a seguir estritamente as suas
-económico baixo e mulheres com pro-
dietas restritivas em fenilalanina, antes e
blemas alimentares anteriores ou com
durante a gravidez, a fim de reduzirem o
dependência de exercício. Em contraste,
risco de atraso mental e de microcefalia
o excesso de peso e a obesidade na mu-
dos seus bébés. As restrições dietéticas
lher grávida aumentam o risco de diabe-
para as mulheres com fenilcetonúria tra-
tes mellitus gestacional e de complicações
duzem-se na exclusão de alimentos ricos
no parto, bem como de obesidade infantil,
em proteínas, que são naturalmente altos
macrossomia e malformações congénitas
no aminoácido essencial de fenilalanina.
do bébé, independentemente do consumo
O facto de um bebé nascer livre de
de ácido fólico.
complicações e de boa saúde depende
Um nível baixo de ácido fólico aumenta
grandemente dos cuidados que a mãe
o risco de parto antes do termo, peso
tomou antes e durante a gravidez, nomea-
baixo no nascimento e atraso no cresci-
damente ao nível do aumento correcto de
mento fetal. As recomendações relativas
peso, nutrição adequada, suplementação
ao ácido fólico, antes e durante a gravidez,
vitamínica e mineral e abstinência de
incluem 400 mg e 600 mg por dia, res-
álcool, tabaco e drogas.
pectivamente. Apesar de existirem boas
fontes dietéticas de ácido fólico, normal-
mente é necessária uma suplementação Necessidades durante a gravidez
antes e durante a gravidez, para ir de en-
contro às recomendações e reduzir o risco
de malformações do tubo neural. Para as NECESSIDADES ENERGÉTICAS
mulheres que praticam um vegetarianismo A avaliação das necessidades energéticas
rígido, poderá ser também necessária uma da mulher durante a gravidez é estimada
suplementação de vitamina B12, uma vez de modo semelhante ao de outro período
que o folato e a vitamina B12 são factores do ciclo de vida da mulher mas com os
de risco independentes para as malforma- ajustamentos necessários à condição de
ções do tubo neural. grávida (Quadro VII.12).

321-376 354 02.05.08, 5:26 PM


355

Quadro VII.12 • Necessidade energética diária antes da gravidez. Em casos de sedenta-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


(NED). rismo ou de actividade física insuficiente,
é seguro recomendar-se entre 50 a 60 g
• 1.º trimestre: NED (mulher adulta) + 0 (re- de proteína por dia. Contudo, uma mulher
serva energética da gravidez);
• 2.º trimestre: NED (mulher adulta) + 160 kcal
que pratique diariamente exercício, de
(8 kcal/semana x 20 semanas) + 180 kcal; intensidade moderada ou vigorosa, deverá
• 3.º trimestre: NED (mulher adulta) + 272 kcal considerar um aporte de 70 a 90 g/dia,
(8 kcal/semana x 34 semanas) + 180 kcal. o que equivale a 1,2 a 1,7 g/kg/dia de pro-
teína e iguala as necessidades proteicas
dos atletas (1,2 a 1,6 g/kg/dia). As neces-
Para justificar a necessidade adicional sidades proteicas são facilmente satisfeitas
de energia da gravidez, recomenda-se, através de uma alimentação equilibrada.
geralmente, um acréscimo de cerca de Os suplementos em pó ou em compri-
300 kcal/dia durante o segundo e o ter- midos não são necessários e põem em
ceiro trimestre, das quais 60% deverão risco a saúde do feto, uma vez que in-
provir de hidratos de carbono (50 g), 15% cluem, frequentemente, outros ingredien-
de proteínas (10 a 15 g) e cerca de 25% tes para além das proteínas como, por
de gordura (10 g). Não serão necessários exemplo, ervas, extractos de plantas, ami-
quaisquer ajustes durante o primeiro tri- noácidos livres, creatina e outras ajudas
mestre. As necessidades energéticas para ergogénicas.
suportar o exercício durante a gravidez Para satisfazer as necessidades em hi-
excedem as 300 kcal suplementares reco- dratos de carbono da gravidez, as DDR
mendadas, mas dependem da intensidade já especificadas para mulheres durante
e duração do programa de exercício. Após o primeiro trimestre e um acréscimo de
o primeiro trimestre, as necessidades ener- 50 g durante o segundo e o terceiro tri-
géticas devem ter em conta as alterações mestre deverão ser suficientes. Estes hi-
de peso e por isso é fundamental voltar a dratos de carbono adicionais são facil-
calcular as necessidades energéticas utili- mente incorporados nas refeições ou nos
zando o novo peso. Deverá ter-se cuidado lanches, mas não devem ser confundidos
em fazer a distinção entre necessidades com os hidratos de carbono ingeridos
energéticas para a gravidez (+ 300 kcal) para suportar a actividade e o exercício
e a energia necessária para a prática de físico durante a gravidez. Os hidratos de
exercício durante a gravidez (entre 200 carbono são a principal fonte de energia
a 1 000 kcal/dia). Assim, as necessidades para a prática de exercício de intensi-
calóricas diárias para a grávida fisica- dade pelo menos moderada, enquanto
mente activa devem variar entre 2 700 a que, durante a prática de exercício de
3 200 kcal. baixa intensidade, também é mobilizada
uma considerável quantidade de gordura.
NECESSIDADES DE NUTRIENTES Apesar de não haver contra-indicações
para a prática de exercício durante a
As necessidades de nutrientes durante a gravidez, os níveis de glicose no sangue
gravidez aumentam entre 10 a 100% para baixam significativamente durante a sua
responderem à exigência materna e fetal prática, devido a uma maior utilização
(Tabela VII.16). por parte do músculo ou a uma defi-
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

Relativamente aos macronutrientes, as ciente produção de glicose hepática


necessidades proteicas são geralmente 10 g (gluconeogénese). Independentemente
mais elevadas para a grávida (a DDR para da causa, o baixo nível de glicose pas-
proteínas em mulheres não grávidas é de sível de causar hipoglicémia na grávida
0,8 g/kg/dia), ainda que as mulheres que durante o exercício poderá afectar o
praticam exercício possam ter necessida- desenvolvimento fetal, ainda que seja
des mais elevadas, que deverão ser melhor necessário efectuar mais estudos para
calculadas relativamente à massa corporal confirmar estes resultados.

321-376 355 02.05.08, 5:26 PM


356
Nutrição, Exercício e Saúde

Tabela VII.16 • Valores diários de referência para os nutrientes, comparando as necessidades


de mulheres adultas não grávidas (19 a 50 anos), grávidas e em amamentação.

Nutriente por dia Mulher adulta Mulher grávida Mulher em amamentação

Energia (kcal) 2 200 2 500 2 700


Proteína (g) 50 60 65
Vitamina A (µ g RE) 700 770 1 300
Vitamina D (µ g) 5 5 5
Vitamina E (mg a tocoferol) 15 15 19
Vitamina K (µ g) 90 90 90
Vitamina C (mg) 75 85 120
Tiamina (mg) 1,1 1,4 1,4
Riboflavina (mg) 1,1 1,4 1,6
Vitamina B6 (mg) 1,3 1,9 2,0
Niacina (mg) 14 18 17
Ácido fólico (µ g DFE) 400 600 500
Vitamina B12 (µ g) 2,4 2,6 2,8
Ácido pantoténico (mg) 5 6 7
Biotina (µ g) 30 30 35
Colina (µ g) 425 450 550
Cálcio (mg) 1 000 1 000 1 000
Fósforo (mg) 700 700 700
Magnésio (mg) 320 350 310
Ferro (mg) 18 27 9
Zinco (mg) 8 11 12
Iodo (µ g) 150 220 290
Selénio (µ g) 55 60 70
Crómio (µ g) 25 30 45
Cobre (µ g) 900 1 000 1 000
Manganésio (mg) 1,8 2,0 2,6
Molibdénio (µ g) 45 50 50
Flúor (mg) 3 3 3

Para reduzir o risco de hipoglicémia materna Para as mulheres que praticam exer-
deverá consumir-se entre 15 a 30 g de hidratos cício de uma forma intensa ou prolon-
de carbono adicionais por cada sessão de exer- gada as necessidades diárias de hidratos
cício de 30 a 45 minutos. Estes hidratos de car- de carbono devem ser expressas em rela-
bono adicionais devem ser consumidos 30 minu-
ção ao peso corporal prévio à gravidez e
tos antes ou durante o exercício de intensidade
moderada. baseadas na duração, intensidade e fre-
quência do exercício. Um aporte ade-

321-376 356 02.05.08, 5:26 PM


357

quado consiste na ingestão de 5 a 7 g/kg/ vegetal, a fim de satisfazer as necessida-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


dia de hidratos de carbono, para um pro- des energéticas gerais. A gordura a ingerir
grama diário com duração entre 90 a 120 deverá ser calculada com base no peso
minutos. A atleta grávida deverá ter à antes da gravidez e deverá situar-se entre
disposição bebidas desportivas ou água 0,8 a 1,5 g/kg/dia. As fontes provêm de
e uma barra/gel energético e ser cui- uma variedade de alimentos, onde se inclui
dadosa no que diz respeito à manutenção a carne magra cozinhada, ocasionalmente
de líquidos e hidratos de carbono durante peixe cozinhado, lacticínios e ovos, azeite,
o exercício. Recomenda-se a ingestão de tofu ou outras fontes de soja, óleos vege-
30 a 60 g de hidratos de carbono e de 500 tais, nozes e sementes. Para as mulheres
a 1 200 ml de líquido por cada hora de sedentárias, o aporte de gordura durante
exercício, contudo, tal depende da sua a gravidez deverá ser mantido abaixo de
intensidade, de factores ambientais e da 30% da energia total, a fim de manter o
aptidão física da grávida. Uma vez que aporte calórico a níveis recomendados e
a hipoglicémia materna pode afectar o prevenir um aumento de peso excessivo.
desenvolvimento do feto, será mais seguro Contudo, a recomendação de ácidos gor-
para as atletas grávidas seguirem sessões dos essenciais é ligeiramente mais ele-
mais curtas, mas com maior frequência. vada durante a gravidez e a amamenta-
De seguida, apresentamos exemplos de ção, nomeadamente 13 g para o ácido
fontes de hidratos de carbono que contêm linoleico durante as duas fases, e 1,4 g e
15 g, 30 g e 50 g, necessários para apoiar 1,3 g para o ácido α -linolénico, durante
a mulher durante a gravidez, enquanto a gravidez e a aleitação, respectivamente.
mantém o seu estilo de vida activo (Tabe- Enquanto a ingestão de líquidos nas
las VII.17 e VII.18). grávidas que não praticam exercício de-
À medida que as necessidades energé- verá aumentar 30 ml/dia para responder
ticas aumentam na grávida activa, podem às necessidades de expansão de volume
ser consumidas maiores quantidades de plasmático, líquido amniótico e cresci-
gordura, particularmente as de origem mento dos tecidos, as grávidas que prati-

Tabela VII.17 • Fontes que fornecem entre 15 a 30 g de hidratos de carbono.

Fontes de hidratos de carbono antes do exercício Fontes de hidratos de carbono durante o exercício

1/2 pãozinho ou 1 fatia de pão 0,5 L de bebida desportiva


1 banana 1/2 barra energética + barra energética + 0,5 L de água
1 iogurte de fruta 1/ pãozinho branco + 0,5 L de água
2

1/2 barra energética 2 porções de gomas + 0,5 L de água

Tabela VII.18 • Fontes que fornecem 50 g de hidratos de carbono.


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Fontes de hidratos de carbono para refeições Fontes de hidratos de carbono para lanches

1 fatia grossa de broa Sanduiche com 2 fatias de pão


1 chávena de arroz integral 2 peças de fruta
1 batata de tamanho médio 1 iogurte de fruta com 80 g de mistura de muesli
1 1/ chávena de massa (p.ex. esparguete) integral 1 barra de cereais + 1 chávena de leite magro
4

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358

2,0 L de líquido. A desidratação durante


Nutrição, Exercício e Saúde

Quadro VII.13 • Prevenção da hipertermia da a gravidez pode ter efeitos perigosos para
mulher grávida que pratica exercício.
o feto e poderá conduzir a um parto antes
• Temperatura e humidade: de termo. Deste modo, a ingestão de lí-
– Considerar os períodos mais frescos do quidos durante e entre as refeições, assim
dia para a prática do exercício; como antes, durante a após o exercício,
– Evitar nadar em água quente ou banhos/ é uma estratégia importante para evitar a
/saunas muito quentes. desidratação. Para a jovem grávida activa,
• Vestuário: deve ser encorajado o consumo de 2,5 a
– Usar roupas leves e que possibilitem a 3 L de líquidos por dia, através de água,
transpiração durante a prática de exer- sumos, sumos diluídos, chás herbáceos,
cício. sopas e leite. Se a actividade física estiver
• Consumo de líquidos antes, durante e após limitada a 3 a 4 caminhadas por semana,
o exercício:
um acréscimo de 250 a 500 ml por dia
– 500 ml antes;
– 500 a 1 200 ml/hora durante; deverá ser suficiente, o que equivale a
– 750 a 1 000 ml após. uma ingestão diária total de líquido de
• Sintomas de mal-estar provocado pelo calor: aproximadamente 2,5 L.
– Náusea, tontura, dor de cabeça, descoor- Durante a gravidez, os micronutrientes
denação. são necessários em quantidades crescen-
• Um(a) parceiro(a) de treino poderá ajudar tes (Tabela VII.19). Recomenda-se a inges-
a reforçar a ingestão de líquidos e a prática tão diária de um suplemento vitamínico-
de exercício em segurança; mineral prescrito por um médico ou nutri-
• Intensidade e duração do exercício: cionista/dietista, tanto antes da concepção
– Considerar uma intensidade mais baixa, como durante a gravidez, a fim de reduzir
com uma duração menor.
o risco de nascimento pré-termo e/ou com
baixo peso. Uma atenção especial deve
ser dada ao ácido fólico para a redução
cam exercício devem elevar ainda mais a do risco de malformações, ao ferro, ao
ingestão de líquidos devido às perdas cálcio para as mulheres que só comem
induzidas pelo exercício. A grávida activa pequenas ou nenhumas quantidades de
deverá ser informada acerca dos efeitos lacticínios, assim como ao zinco e à vita-
perigosos da hipertermia do feto induzida mina B12, para as que seguem dietas vege-
pelo exercício. Para mais, é imperativo tarianas ou de restrição energética. Deverá
proceder-se à substituição de electrólitos, dar-se resposta às necessidades crescentes
particularmente do sódio, juntamente com adicionais resultantes do exercício através
a ingestão aumentada de líquidos para de um maior aporte de energia para cobrir
uma manutenção constante dos níveis de as necessidades energéticas. As mulheres
hidratação. activas com uma história de distúrbio ali-
mentar deverão ser encorajadas a trabalhar
Assim, existem regras específicas para a ingestão com um nutricionista/dietista para deter-
de líquidos, antes e durante a prática de exercício, minar os potenciais défices nutricionais
que se aplicam a mulheres que praticam exercí- antes e após a gravidez.
cio de intensidade vigorosa ou com temperaturas Ao iniciarem a gravidez, as mulheres
ambientais elevadas. devem ser informadas sobre os perigos
dos suplementos dietéticos e vitamínico-
Em geral, as mulheres devem consumir minerais tomados acima dos níveis das
500 ml de líquidos, entre 30 a 60 minutos DDR. A sobredosagem de algumas vita-
antes da sessão e de 500 a 1200 ml por minas solúveis na gordura e de minerais
cada hora de treino. Após o exercício, a pode ser prejudicial e deverá ser evitada
perda de líquidos deve ser reposta a 150 (Tabela VII.19).
a 200%, ou seja, 1 kg de perda de líquido Muitos suplementos dietéticos contêm
deve ser substituído por cerca de 1,5 a produtos herbáceos e botânicos, que po-

321-376 358 02.05.08, 5:26 PM


359

que as mulheres com fenilcetenúria devam

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Tabela VII.19 • Níveis máximos toleráveis de ter alguma atenção ao utilizarem aspar-
aporte de nutrientes durante a gravidez. tame por este conter fenilalanina. Uma
vez que a sacarina adoçante atravessa a
Nutriente Nível máximo tolerável placenta e pode ser retida nos tecidos
fetais, as grávidas devem moderar a inges-
Cálcio (mg) 2 500
tão de sacarina. Os nitritos contidos nas
Fósforo (mg) 3 500 carnes curadas e no peixe fumado podem
Magnésio (mg) 350 igualmente prejudicar o feto, pelo que
estes devem ser consumidos em quanti-
Vitamina D (IU) 2 000
dades reduzidas durante a gravidez.
Vitamina A (IU) 5 000 a 10 000 O uso de álcool, apesar dos seus efei-
Vitamina C (mg) 2 000 tos negativos sobre o feto, ainda é comum
num número considerável de grávidas. As
Vitamina B6 (mg) 100
mulheres devem abster-se do consumo
Vitamina E (mg) 1 000 de bebidas alcoólicas durante a gravidez.
Ferro (mg) 45 O consumo elevado de bebidas alcoólicas
durante a gravidez aumenta o risco de
Zinco (mg) 40
atraso mental, dificuldades de aprendi-
Manganésio (mg) 11 zagem e causa graves deficiências, inclu-
Selénio (µ g) 400 sivamente as que podem ser observadas
na síndrome alcoólica do feto. Mesmo o
Niacina (mg) 35
consumo moderado de álcool (não mais
Ácido fólico sintético (µ g) 1 000 do que uma bebida por dia) pode levar a
Colina (mg) 3 500 um crescimento fetal deficiente e poderá
reduzir a futura fertilidade da mulher.
Iodo (µ g) 110
A cafeína do café, chá e dos refrige-
rantes não parece representar uma grande
ameaça para o feto, desde que consumida
dem constituir uma ameaça para o feto. em pequenas quantidades, ainda que exista
A lista seguinte apresenta as ervas e os alguma literatura que aponta para um
estimulantes a serem evitados durante a aumento do risco de aborto espontâneo
gravidez (Tabela VII.20). e baixo peso ao nascimento nas mulheres
Os aditivos alimentares como, por que consumam mais de 150 mg de ca-
exemplo, os adoçantes artificiais são na feína por dia. A cafeína pode atravessar a
generalidade considerados seguros, ainda placenta e pode afectar o ritmo cardíaco

Tabela VII.20 • Produtos ervanários a evitar antes, durante a após a gravidez.

Alfalfa Uva-espim Cimicifuga Bodelha (Focus vesiculosos)


Angélica chinesa Equinácea Óleo de onagra Matricária
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Dong quai Eufrásia Ginseng Pilriteiro


Efedra (Ma Huang) Gingko Óleo de junípero Kava kava
Gengibre Hidraste Zimbro
Borragem Maracujá Rosmaninho
Noz de cola Erva-de-São-João
Folha de artemísia

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360

e a respiração do feto. Algumas investiga- – Dormir com a cabeça elevada;


Nutrição, Exercício e Saúde

ções feitas em animais revelaram que – Consumir frequentemente peque-


o consumo de elevadas quantidades de nas refeições;
cafeína poderá aumentar o risco de morte – Evitar produtos alimentares irritan-
súbita no bébé. É, por conseguinte, acon- tes como a cafeína e o chocolate,
selhável limitar o consumo de cafeína a e os salgados ou picantes.
menos de 300 mg/dia (Tabela VII.21). • Obstipação
– Ingerir alimentos ricos em fibra;
– Aumentar a ingestão de líquidos;
Tabela VII.21 • Conteúdo de cafeína nas be- – Ser fisicamente activa.
bidas mais comuns. • Desejos, aversões e pica alimentar
– Optar por alimentos naturais em
Bebida Conteúdo vez de substâncias artificiais ou
de cafeína (mg) químicas;
– Procurar ajuda profissional relativa-
Expresso/bica (1 dose) 40
mente aos desejos.
Café de máquina (1 chávena) 85 • Diabetes: a diabetes existente ou não
Café instantâneo (1 chávena) 60 controlada na grávida favorece o au-
mento de malformações congéni-
Chá preto (1 chávena) 30
tas, de aborto e de morte neonatal.
Coca-cola (1 lata) 36 A diabetes mellitus gestacional (DMG)
Guaraná (3 a 4 g) 160 aparece depois da 24.ª semana em
cerca de 7% das grávidas. Para mais
informações sobre o controlo da
Durante a gravidez é comum a ocor- DMG, deverá consultar as normas
rência de algumas queixas e complica- da American Diabetes Association
ções com implicações nutricionais. A lista (ver Referências bibliográficas). As
seguinte apresenta uma perspectiva geral mulheres com DMG correm maior
dos problemas mais comuns e sugestões risco de contrair diabetes tipo 2 após
de possíveis soluções. Para informação a gravidez. A probabilidade de ocor-
adicional consultar a posição oficial da rência de DMG está aumentada nas
Associação Americana de Dietética (Ame- mulheres que antes da gravidez
rican Dietetic Association) sobre nutrição apresentam obesidade;
para mulheres grávidas (ver Referências • Tensão arterial alta: 8 a 10% das grá-
bibliográficas). vidas desenvolvem hipertensão pro-
vocada pela gravidez. Nos casos
• Náusea e vómito: constitui a queixa
mais graves (pré-eclampsia e eclam-
mais comum durante a gravidez.
psia) poderá ocorrer proteinúria,
A situação mais complicada é a hi-
convulsões e coma. Hipertensão cró-
peremese gravídica em que o estado
nica, história de pré-eclampsia numa
nutricional pode estar comprometido
gravidez anterior, nuliparidade, idade
e requerer hospitalização.
materna inferior a 20 anos ou supe-
– Consumir frequentemente peque-
rior a 40 anos, obesidade, mudança
nas refeições;
de parceiros e factores genéticos
– Evitar cheiros desagradáveis;
aumentam o risco. A hipertensão in-
– Ingerir uma quantidade suficiente de
duzida pela gravidez aumenta a pro-
líquidos;
babilidade de parto antes do termo,
– Ser fisicamente activa num ambien-
limitação do crescimento intra-ute-
te ao ar livre.
rino, morte neonatal, morbilidade
• Azia
e mortalidade materna. Os mecanis-
– Evitar a posição deitada após as re-
mos envolvidos referem-se a redu-
feições;
zida corrente sanguínea e forneci-

321-376 360 02.05.08, 5:26 PM


361

mento de nutrientes ao feto. Os ra- mulheres são aconselhadas a amamentar

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


dicais livres libertados devido à hi- até ao 6.º mês pós-parto, sem introdução
póxia da placenta podem prejudicar de quaisquer líquidos ou alimentos líqui-
o sistema vascular materno, havendo, dos adicionais devido ao risco de infec-
no entanto, necessidade de inves- ções por contaminação, à possibilidade
tigação adicional. Apesar de existi- de insuficiência de alimentos fornecidos
rem vários meios nutricionais (su- e ao risco potencial de interrupção da
plementação de cálcio e vitamina C produção de leite. Considerando os efei-
e E) para diminuir a pressão arterial tos positivos para o bébé, recomenda-se
em mulheres com pré-eclampsia, a amamentação até aos 12 meses, ou, se
nenhuma destas soluções parece re- possível, ainda até mais tarde. No entanto,
duzir o risco de parto antes do termo os líquidos e os alimentos triturados devem
ou de morbilidade e mortalidade ser progressivamente introduzidos após o
materna ou infantil; 6.º mês.
• Doenças transmitidas pelos alimen- O volume do leite secretado aumenta
tos: as grávidas correm um risco rapidamente nos primeiros dias pós-parto
mais elevado relativamente às doen- para cerca de 500 ml no quinto dia,
ças transmitidas pelos alimentos e 650 ml no 1.º mês, e 700 ml aos três
devem ser aconselhadas a limitar a meses. O volume parece manter-se ra-
ingestão dos seguintes produtos: zoavelmente estável até ao processo de
– Sumos não pasteurizados; desmame. O leite humano materno for-
– Lacticínios naturais ou não pasteu- nece a energia e os nutrientes adequados
rizados (leite, queijos); aos seis primeiros meses de vida. De
– Couve-de-bruxelas crua; facto, a mãe poderia facilmente alimen-
– Carnes, galináceos, ovos, peixe e tar dois bébés em simultâneo.
marisco meio cozinhados (meio
crus); COMPOSIÇÃO DO LEITE
– Peixe com alto nível de metilmer-
cúrio (tubarão, peixe espada, ca- Estima-se que o volume de leite necessário
vala e peixe paleta); para mais à amamentação seja cerca de 750 ml/dia
informações deverão consultar-se durante os primeiros seis meses e de 600 ml/
organizações a nível local. /dia nos seis meses seguintes. Para poder
afectar adversamente o volume de leite
produzido, a nutrição materna tem de ser
Composição do leite materno e muito grave. O conteúdo proteico do
leite humano é de cerca de 8 a 9 g/L e
necessidades durante a lactação contém cerca de 25% de lactoalbumina
(soro) e caseína, e enormes quantida-
Após o parto, a hormona prolactina faz des de imunoglobulina A e lactoferrina.
com que a mama inicie a secreção de O conteúdo proteico não é afectado pela
leite. Durante os primeiros dois a sete dias subnutrição materna. O conteúdo pro-
pós-parto, é secretado o colostro, que é teico do leite de vaca é de 35 g/L, tor-
um líquido amarelo denso que contém nando-o inapropriado para um bébé
elevadas quantidades de factores imunitá- devido à sua elevada carga osmótica e
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rios, proteínas, minerais e outros nutrien- consequente perda de nutrientes como,


tes. O colostro é fundamental para a por exemplo, de ferro. A gordura fornece
imunidade do bébé, uma vez que fornece aproximadamente 50% da energia do
anticorpos importantes para o sistema leite materno variando grandemente em
imunitário ainda minimamente desenvol- cada mamada. O conteúdo de gordura é
vido. O leite maduro é secretado após mais elevado no final de cada sessão de
o 21.º dia, sendo fornecido um leite de amamentação quando comparado com
transição até esse dia. Actualmente as o do início, constituindo um sinal para o

321-376 361 02.05.08, 5:26 PM


362

bébé parar de mamar. O conteúdo de


Nutrição, Exercício e Saúde

NECESSIDADES ENERGÉTICAS E DE NUTRIENTES


ácido gordo também é maior no fim do
dia e a dieta da mãe (composição de O conteúdo calórico de 1 L de leite ma-
ácidos gordos) é determinante da compo- terno (5% de proteína, > 50% de gordura,
sição do leite humano. O leite humano cerca de 38% de lactose) é cerca de 700
contém lactose, sendo a galactose a mais kcal/L de leite. Considerando a conversão
importante fonte de energia para o desen- de energia da dieta para o leite materno
volvimento cerebral do bébé. (eficácia de 80%), estima-se que 100 ml
A concentração de vitaminas e de mi- de leite contenham aproximadamente
nerais no leite humano dependem da 85 kcal e que durante os primeiros seis
dieta da mãe, do seu estado nutricional meses são segregados 780 ml/dia e nos
e do uso de suplementos dietéticos. seis meses seguintes 600 ml/dia. Tudo isto
A Tabela VII.22 apresenta os micronu- somado, chega às 640 kcal e 510 kcal por
trientes que se encontram mais depen- dia de necessidades energéticas adicionais
dentes da dieta da mãe (alta prioridade). durante os primeiros seis meses e nos seis
Os micronutrientes de prioridade mais meses seguintes, respectivamente. Contudo,
baixa estão menos dependentes do aporte as mulheres durante a fase pós-parto têm
materno e a sua suplementação é bené- maiores depósitos de energia e, assim,
fica sobretudo para a mãe e não para o recomenda-se unicamente o aumento de
bébé. 330 kcal e 400 kcal durante os primeiros
As deficiências de micronutrientes são seis meses e os seis meses seguintes da
raras nos países desenvolvidos, podendo, amamentação (Quadro VII.14).
no entanto, ocorrer ainda algumas defi- Para a mulher que amamenta e que
ciências. Por exemplo, baixas concentra- também pratica exercício, a NED deve
ções de vitamina B12 no leite humano e
insuficiência no bébé podem ocorrer com Quadro VII.14 • Necessidade energética diá-
uma abordagem muito rígida a uma dieta ria (NED) para mulheres que amamentam
vegetariana por parte da mãe. O nível de (19 a 50 anos)
vitamina D dos bébés também pode ser
baixo devido a baixos níveis de vitamina D NED adulta + energia do leite materno
no leite humano e a uma reduzida expo- – perda de peso
sição solar do bébé. Finalmente, o flúor • Primeiros seis meses: NED adulta + 500
poderá constituir um outro micronutriente kcal – 170 (energia do leite materno –
alvo de preocupação após os primeiros perda de peso) kcal;
• Seis meses seguintes: NED adulta + 400
seis meses pós-parto, dependendo do kcal – 0 (energia do leite materno – perda
nível até onde o conteúdo de flúor do de peso) kcal.
leite humano decresce.

Tabela VII.22 • Micronutrientes de alta vs baixa prioridade durante a aleitação.

Micronutrientes de alta prioridade Micronutrientes de baixa prioridade

Vitamina A Vitamina D
Tiamina Ácido fólico
Riboflavina Cálcio
Vitaminas B6 e B12 Ferro
Iodo Cobre
Selénio Zinco

321-376 362 02.05.08, 5:26 PM


363

incluir o factor de actividade física ade-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


12 g mais elevadas nos primeiros seis
quado. Parece que as mulheres que pra- meses de aleitação e nos seis meses se-
ticam exercício durante a amamentação guintes, respectivamente. São necessárias
ajustam facilmente o seu aporte calórico quantidades maiores de quase todos os
ao dispêndio energético através de uma nutrientes, excepto de ferro, apesar de
maior ingestão de alimentos. depender de cada mulher e da poten-
Uma das maiores preocupações após a cial perda de sangue durante o parto.
gravidez é a retenção do peso e o conse- O treino aeróbio vigoroso, particular-
quente aumento do risco para o excesso mente em altitudes onde a aceleração da
de peso ou obesidade nos anos seguintes. eritropoiese aumenta as necessidades de
Os estudos revelam que, em média, as ferro, pode requerer necessidades ainda
mulheres retêm entre 0,5 a 1 kg do peso maiores. Devido ao hipoestrogenismo
corporal em cada gravidez. prolongado durante a amamentação e à
Os principais determinantes para a elevada necessidade de cálcio por parte
retenção de peso pós-parto são o peso do bebé, a densidade mineral óssea e o
prévio à gravidez, o aumento de peso cálcio urinário materno diminuem nesta
durante a gravidez e o ganho suplementar fase. No entanto, as perdas de densidade
pós-parto, sendo este último o que se óssea são rapidamente recuperadas após
encontra mais associado à obesidade e às a amamentação, particularmente após
doenças que lhe estão associadas. o início da menstruação. Não se reco-
Uma perda de peso segura de 0,5 a menda o aporte de mais cálcio para além
1 kg/semana poderá ser alcançada através da recomendação para mulheres em
de um decréscimo do consumo de gor- amamentação (1 200 mg/dia).
dura e de açúcar e de um aumento da
actividade física. As mulheres que ama-
mentam podem apresentar um maior risco
de deficiência nutricional se adoptarem NUTRIÇÃO NA MENOPAUSA
um programa de perda de peso de grande
restrição calórica e uma prática de exer-
A prevenção de doenças crónicas rela-
cício vigorosa.
cionadas com a idade, tendo em vista o
A prática de exercício, de leve a mo-
derada intensidade, não afecta a compo- prolongamento da qualidade de vida da
sição e o volume do leite materno (se se mulher e da sua capacidade funcional,
mantiver o nível de hidratação) nem o estão no centro da transição menopáu-
aumento de peso do bebé. A prática de sica. A manutenção de um peso corporal
exercício vigoroso parece diminuir, pelo saudável e a prevenção do aumento de
menos temporariamente, algumas das peso, comum na menopausa, são fac-
propriedades imunitárias do leite materno. tores chave para a redução do risco de
Além disso, a produção de ácido láctico obesidade, doença cardiovascular, dia-
associada ao exercício vigoroso poderá betes tipo 2, e alguns tipos de cancro,
afectar a aceitação do leite por parte do como o cancro da mama, do endométrio
bebé. É necessário, no entanto, um maior e colo-rectal. Considera-se que a mulher
número de estudos para a definição de adulta tem uma abordagem a um estilo
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orientações relativamente à amamentação de vida saudável quando conjuga acti-


após exercício vigoroso, típico das atletas vidade física diária com uma dieta varia-
de alto rendimento. da e rica em produtos integrais, vegetais
As necessidades de proteínas e de mi- e fruta, proteína vegetal da soja e dos
cronutrientes durante a amamentação legumes, proteína animal magra, lacti-
são apresentadas no Quadro VII.14, no cínios magros e ácidos gordos essenciais
início da secção sobre a gravidez. As de óleos vegetais, peixe, nozes e semen-
necessidades proteicas diárias são 15 g e tes, entre outros factores não dietéticos.

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doença cardiovascular está definido em


Nutrição, Exercício e Saúde

Excesso de peso e obesidade


14 g/1 000 kcal, com uma recomendação
Cerca de 50% das mulheres que entram de 21 g por dia. Os outros nutrientes são
na menopausa têm excesso de peso ou necessários em quantidades semelhantes
são obesas. As alterações hormonais du- às recomendadas para as mulheres com
rante a transição menopáusica, nomea- idades entre os 31 e os 50 anos. As DDR
damente o decréscimo da produção e para as mulheres entre os 51 e os 70 anos
secreção de hormonas sexuais, podem de idade são apresentadas na Tabela VII.23,
tornar mais difícil a regulação da ingestão no final desta secção.
de alimentos. Na realidade, dados rela-
tivos a animais revelam que a ausência de
Tabela VII.23 • Valores diários de referência
estrogénio aumenta a ingestão de alimen- para mulheres entre os 51 e os 70 anos de
tos ad libitum. É comum na mulher me- idade.
nopáusica ou pós-menopáusica a ingestão
de alimentos com elevados níveis de gor-
Nutriente Quantidade
dura e de açúcar, o que pode contribuir
para o aumento de peso que se verifica Vitamina A (µ g RE) 700
durante este período da vida. Alguns estu- Vitamina D (µ g) 10
dos evidenciam que as mulheres com ida-
des entre os 30 e os 55 anos aumentam Vitamina E (mg α tocoferol) 15
em média 2 kg, havendo alguns grupos Vitamina K (µ g) 90
étnicos com aumento de peso superior. Vitamina C (mg) 75
Para além do aumento de peso verificam-
se igualmente alterações na composição Tiamina (mg) 1,1
corporal, nomeadamente um aumento da Riboflavina (mg) 1,1
massa gorda e uma redução da massa Vitamina B6 (mg) 1,5
magra, com consequências na diminuição
Niacina (mg) 14
do metabolismo basal. As mulheres com
excesso de peso, especialmente de gor- Folato (µ g DFE) 400
dura visceral, encontram-se em maior risco Vitamina B12 (µ g) 2,4
de desenvolverem diabetes tipo 2 do que
Ácido Pantoténico (mg) 5
os seus pares masculinos com quantida-
des semelhantes de gordura visceral pois Biotina (µ g) 30
a menopausa per se já resulta numa cres- Colina (mg) 425
cente resistência à insulina. Na meno- Cálcio (mg) 1 200
pausa, as mulheres desenvolvem assim
um maior risco de doença cardiovascular Fósforo (mg) 700
do que os homens devido à ausência de Magnésio (mg) 320
protecção dos estrogénios. Ferro (mg) 8
Zinco (mg) 8
Nutrição após a menopausa Iodo (µ g) 150
Devido à elevada prevalência de excesso Selénio (µ g) 55
de peso e obesidade nas mulheres à me- Crómio (µ g) 20
dida que envelhecem, a nutrição deve Cobre (µ g) 900
focar-se no equilíbrio energético desejável
para um peso saudável. Em geral, as mu- Manganésio (mg) 1,8
lheres pós-menopáusicas dos 51 aos 70 Molibdénio (µ g) 45
anos, têm maiores necessidades de vita- Flúor (mg) 3
mina D, vitamina B6 e cálcio, e menores
necessidades de ferro e de crómio. O aporte A bold: micronutrientes necessários em quantidades dife-
de fibra para um nível de protecção da rentes de outros períodos da vida).

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A hipertensão afecta 52% das mulheres como, por exemplo, as isoflavonas, pode

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


com mais de 45 anos de idade e repre- ter um efeito facilitador no crescimento
senta um importante factor de risco da das células do tumor (ver Fitoestrogénios,
doença cardiovascular. É do conhecimento p. 23 e Cancro da Mama, p. 15).
geral que a hipertensão pode ser significa- As medidas-chave para a prevenção de
tivamente diminuída através do recurso à fracturas ósseas numa idade mais avan-
dieta DASH (Dietary Approaches to Stop çada baseiam-se numa dieta adequada,
Hypertension Diet). A dieta DASH con- na ingestão suplementar de cálcio e vita-
siste numa dieta rica em frutos e vegetais mina D e num estilo de vida activo.
(oito a 10 doses) e lacticínios magros. Resultados do Women´s Health Initia-
É uma dieta com baixos níveis de gordura tive evidenciam uma redução de 29% do
total, particularmente no que diz respeito risco de fractura da anca em mulheres dos
às gorduras saturadas. Os estudos de- 50 aos 79 anos, cuja adesão à suplemen-
monstraram que a dieta DASH, associada tação de 1 000 mg de cálcio e de 400 IU
à restrição de sódio, pode reduzir a de vitamina D por dia foi superior a 80%,
pressão sanguínea tanto em indivíduos num período de sete anos. Esperam-se
hipertensos como normotensos. Aportes geralmente maiores benefícios em grupos
elevados de sódio, nomeadamente, supe- de risco com osteoporose, com aporte
riores a 2 400 mg/dia, constituem um risco insuficiente de cálcio e de vitamina D,
independente de eventos cardiovasculares com incidência de fracturas mais elevada,
entre indivíduos com excesso de peso. e desde que a suplementação seja de pelo
A ênfase sobre o consumo de soja por menos 700 IU/dia de vitamina D.
parte das mulheres tem vindo a crescer A ingestão suficiente de vitamina D é
devido à baixa incidência de doença essencial para a absorção intestinal do
cardiovascular em países como o Japão e cálcio e para um normal metabolismo
a China, onde se consomem quantidades ósseo. A vitamina D é obtida através da
consideráveis de proteína da soja. A pro- dieta ou pela sua síntese na pele sob a
teína da soja também se encontra asso- acção da luz solar. Com a idade, há um
ciada a uma incidência mais baixa do decréscimo progressivo da produção en-
cancro da mama em países onde esta dógena de vitamina D aumentando, deste
é consumida em quantidades elevadas. modo, a dependência de fontes dietéticas.
Contudo, é necessária mais investigação, Apesar de o efeito isolado do cálcio no
uma vez que alguns estudos revelaram risco de fractura ser reduzido, a sua com-
um impacto negativo favorecendo a proli- binação com a vitamina D resulta num
feração de tumores. Relativamente à saúde decréscimo substancial da incidência de
óssea, a proteína da soja pode ajudar a fractura. Considera-se que a satisfação das
atenuar a perda óssea. necessidades de cálcio e vitamina D atra-
Finalmente, a proteína da soja, e parti- vés da alimentação e/ou suplementação
cularmente os extractos de isoflavona, constituem a primeira medida no trata-
têm sido estudados numa tentativa de mento da osteoporose e na prevenção da
aliviar os sintomas da menopausa, mas fractura de mulheres pós-menopáusicas.
com um sucesso variável. Apesar de a Ainda que a perda de peso seja um factor im-
proteína da soja, ingerida como proteína perativo no controlo de outras doenças crónicas,
intacta ou como extractos de isoflavona, o peso per se também pode ser um factor de
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poder ser potencialmente benéfica, a sua protecção do risco de fractura nas mulheres insu-
adopção deverá ser discutida com o mé- ficientemente activas.
dico, uma vez que nem todas as mulheres
estão em risco de doença cardiovascular Apesar do fraco suporte científico sobre a
ou de osteoporose. Deve ainda conside- influência negativa da gordura alimentar
rar-se que existem muitos tipos de cancro no risco de cancro da mama, as mulheres
da mama e que o recurso adicional a devem ser informadas de que a ingestão
compostos com propriedades estrogénicas de álcool pode aumentar este risco.

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Dados de uma meta-análise baseada em conveniente de recomendação, esta deve


Nutrição, Exercício e Saúde

53 estudos com cerca de 60 000 mulheres ser expressa relativamente ao peso cor-
revelaram um aumento do risco de can- poral. Assim, recomenda-se a ingestão de
cro da mama em 7% por cada 10 g adi- 5 a 7 g/kg/dia para atletas de desportos
cionais de álcool consumidos por dia. As com uma componente estética e de força/
orientações actuais recomendam para as /potência significativa e 7 a 10 g/kg/dia para
mulheres uma ingestão moderada de atletas de desportos de natureza aeróbia
álcool, limitada a um copo por dia. e de equipa.
Para além dos hidratos de carbono, as
dietas com baixas calorias, típicas das
NUTRIÇÃO NA MULHER ATLETA atletas femininas, revelam igualmente falta
de proteína e de gordura, nomeadamente
de ácidos gordos essenciais. Apesar de as
Aporte energético e nutricional necessidades proteicas das atletas serem
mais elevadas do que as das não atletas,
Verifica-se geralmente uma inadequação não se verificam diferenças quando ex-
entre a ingestão calórica e de nutrientes pressas por kg de peso corporal (nível
e as necessidades associadas a períodos recomendado: 1,4 a 1,6 g/kg/dia para des-
específicos do ciclo de treino e de com- portos com forte componente aeróbia ou
petição da mulher atleta, uma vez que o estética; 1,5 a 1,8 g/kg/dia para desportos
aporte alimentar se mantém relativamente de força/potência; até 2 g/kg/dia para atle-
constante. tas adolescentes). As atletas que seguem
No caso de uma adolescente é possível dietas hipocalóricas devem aumentar a
que a taxa de crescimento seja limitada e ingestão de proteína a fim de prevenir a
a altura final mais reduzida (por exemplo, perda pela oxidação da proteína mus-
as ginastas). Muitas atletas com aporte de cular.
energia insuficiente (com ou sem distúr- É do conhecimento geral que uma in-
bios alimentares) e/ou um elevado dispên- gestão de energia abaixo das 1 800 kcal/
dio de energia associado ao exercício dia conduz a limitações na ingestão de
micronutrientes. A ingestão de ferro, cál-
poderão sofrer de disfunção menstrual e
cio, magnésio, zinco, vitamina B e de
comprometer a saúde óssea, também co-
anti-oxidantes encontra-se relacionada
nhecida como a tríade da mulher atleta,
com a ingestão de energia. As atletas de
que será debatida mais à frente, neste
desportos com forte componente estético
capítulo.
(ginástica, dança, mergulho, patinagem)
As dietas deficientes em energia são têm maiores probabilidades de ingestão
tipicamente baixas em hidratos de car- de energia abaixo das 2000 kcal/dia, en-
bono. É necessária a ingestão de pelo me- quanto as atletas com distúrbios alimen-
nos 2 000-2 400 kcal/dia para repor o tares, independentemente do desporto
glicogénio muscular com hidratos de praticado, apresentam ingestões abaixo
carbono suficientes durante períodos de das 1 800 kcal/dia. Por conseguinte, estas
treino intenso. Contudo, algumas mulhe- atletas possuem um risco elevado de
res raramente consomem estas quanti- desenvolverem deficiências em micronu-
dades de calorias. Fadiga prematura, perda trientes.
de desempenho, incapacidade para ter- A deficiência nutricional mais comum
minar um exercício e recuperação defi- entre as atletas femininas é a anemia de
ciente do treino devem ser usados como deficiência de ferro. Esta anemia tem uma
indicadores-chave da insuficiência de prevalência semelhante nas raparigas e
hidratos de carbono nas atletas. Uma vez mulheres atletas e nas não atletas. Fadiga
que a ingestão de hidratos de carbono, excessiva, falta de ar, incapacidade de re-
expressa através da percentagem de inges- cuperar entre breves mas intensos perío-
tão calórica total, não constitui uma forma dos de actividade, palidez, consumo de

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oxigénio máximo reduzido e menor de- pós-exercício que contenha aproxi-

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


sempenho atlético são sintomas da defi- madamente 10 g de proteína (copo
ciência em ferro. Enquanto a anemia de de leite, cereais com leite, iogurte,
deficiência em ferro ocorre em apenas sanduiche com manteiga de noz);
2 a 3% das jovens atletas, existe muito • Micronutrientes: as necessidades de
maior prevalência da deficiência em ferro cálcio, ferro, zinco, magnésio, vita-
sem anemia e da redução da reserva de minas B e antioxidantes devem ser
ferro. Por conseguinte, as atletas devem satisfeitas através do aumento da
ser monitorizadas através de indicadores densidade nutricional da dieta, in-
bioquímicos, incluindo um painel de ferro cluindo lacticínios magros, carne
completo (isto é, hemograma, ferritina magra, peixe, cereais integrais, nozes,
plasmática e coeficiente de saturação da fruta e vegetais. Poderá ser neces-
transferrina plasmática), particularmente sário um suplemento vitamínico-
no que diz respeito às que se encontram -mineral e suplementos de cálcio e
envolvidas em desportos de natureza vitamina D para atletas do sexo
aeróbia e que treinam ou vivem em alti- feminino que sigam dietas hipocaló-
tudes mais altas. ricas. Deverá também ser conside-
rado um suplemento de ferro no
COMPONENTES CRÍTICAS RELATIVAMENTE À caso de deficiência em ferro;
DIETA PARA RAPARIGAS ATLETAS • Padrão alimentar: as atletas devem
ingerir pequenas quantidades de
• Ingestão de energia: a ingestão de comida várias vezes ao dia, preve-
energia não deve ser inferior a 2 000 nindo eventual quebra do nível de
kcal/dia e, na maioria dos casos, energia e assegurando um desem-
deve compensar o dispêndio energé- penho atlético optimal. As atletas
tico associado ao treino. Perante a não devem iniciar o treino ou a
necessidade de perda de peso, indu- competição com fome ou com sede.
zir défices na ordem das 200 a 300 Uma preparação adequada inclui
kcal/dia e procurar aconselhamento uma refeição rica em hidratos de
com um nutricionista/dietista despor- carbono, moderada em proteínas e
tivo recor-rendo tanto a estratégias baixa em gordura, tomada 3 a 5 horas
dietéticas como de treino que pro- antes do treino ou da competição,
movam a saúde e minimizem o risco com um possível lanche ingerido
de distúrbios alimentares; 1 a 2 horas antes da sessão e os lí-
• Ingestão de hidratos de carbono: as quidos devem ser consumidos com a
refeições devem fornecer pelo menos refeição (250 a 500 ml) e 30 minutos
50 a 75 g de hidratos de carbono antes do esforço físico (500 ml). As
(por exemplo, arroz, massa, batatas), atletas devem ainda consumir bebi-
sendo o restante facultado pelos lan- das desportivas durante e imedia-
ches (fruta, sumos, iogurte, cereais, tamente após os treinos prolongados
pão integral ou barras de cereais), (> 60 a 90 minutos). Recomenda-se
bebidas desportivas e barras energé- igualmente um lanche rico em pro-
ticas ingeridas durante e após o teínas após esforços intensos ou pro-
exercício; longados.
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• Ingestão de proteína: as refeições


devem fornecer a maioria das neces-
sidades proteicas diárias (15 a 25 g Anorexia atlética
por refeição, a partir de fontes ricas
em proteína, juntamente com lan- As atletas apresentam maior risco de dis-
ches que contenham alguma pro- túrbios alimentares e de alimentação des-
teína (por exemplo, iogurte, queijo, regrada do que as mulheres não atletas
nozes), e um snack de recuperação e os atletas do sexo masculino. Dados

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recentes sobre atletas de alta competição importante que poderá precipitar um dis-
Nutrição, Exercício e Saúde

norueguesas mostram que a prevalência túrbio alimentar. Esta pressão pode derivar
de distúrbios alimentares clínicos ou sub- de expectativas sociais onde a magreza é
clínicos é de cerca de 20%, incluindo muito frequentemente associada ao sucesso.
1 a 3% de distúrbios alimentares clínicos. As atletas envolvidas em desportos em
Os distúrbios alimentares são mais preva- que a magreza pode possibilitar vantagens
lentes nas atletas de alta competição do competitivas, nomeadamente os desportos
que nas de nível desportivo inferior e com uma grande componente estética, de
estabelecem-se tipicamente durante os natureza aeróbia ou com categorias por
anos da adolescência. pesos, correm maior risco de desenvolvi-
A anorexia atlética é considerada um mento de um distúrbio alimentar. Além
distúrbio alimentar subclínico específico disso, o ambiente desportivo caracteriza-
da população atlética, com as seguintes se por um envolvimento em que as for-
características (Quadro VII.15). mas do corpo são amplamente expostas.
Tal como acontece com as não atletas, As atletas partilham quartos, cacifos e du-
o percursor principal dos distúrbios ali- ches, e o vestuário desportivo permite
mentares nas atletas é a dieta ou uma uma fácil comparação das formas do corpo,
alimentação restritiva com o objectivo de figura e tamanhos.
perder peso. Apesar de, provavelmente, a
dieta não ser suficiente para despoletar Se existir uma predominância de atletas mais altas
um distúrbio alimentar, o facto de se tratar e mais magras, as outras poderão interpretar a
magreza como um factor determinante no desem-
de uma atleta de um desporto que enfa- penho desportivo.
tiza a magreza é-o. A pressão para man-
ter ou atingir um peso corporal baixo e, Os desportos de competição também
particularmente, uma percentagem de atraem as perfeccionistas, as atletas com
gordura corporal muito baixa é um factor tendências compulsivo-obessivas orienta-

Quadro VII.15 • Características da anorexia atlética.

Características essenciais
• Perda de peso > 5% do peso do corpo esperado; *
• Ocorrência tardia da menarca (sem menstrução até aos 16 anos);
• Disfunção menstrual (amenorreia e oligomenorreia);
• Queixas gastrointestinais;
• Ausência de doença ou de distúrbio clinicamente comprovado que explique a perda de peso
• Distorção da imagem corporal;
• Receio excessivo do aumento de peso ou de ficar obesa; *
• Restrição da ingestão de energia (< 1 200 kcal/dia); *
• Utilização de métodos de purga (por exemplo, indução de vómitos, laxantes, diuréticos);
• Compulsão alimentar periódica;
• Exercício compulsivo.

Critérios para o receio da obesidade


• Perda de peso > 5% do peso corporal esperado;
• Atraso da puberdade;
• Ausência de doença clinicamente comprovada ou de distúrbio afectivo para explicar o aumento
de peso;
• Receio excessivo de ficar obesa; *
• Restrição da ingestão de energia (< 1 200 kcal/dia). *
* Critérios absolutos necessários ao diagnóstico, enquanto os restantes são considerados relativos e não têm de estar presentes para
permitirem o diagnóstico. O receio da obesidade constituiu o distúrbio inicial a partir do qual derivou a anorexia atlética.

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369

das para níveis de realização elevados.

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


Americano de Medicina Desportiva pu-
Geralmente a perda de peso inicial per- blicou em 1997 a sua primeira posição
mite não só a melhoria do desempenho oficial sobre a tríade (actualizada em
atlético como favorece o comentário sobre 2007), chamando a atenção de médicos
a aparência corporal por parte do trei- e treinadores para a sua gravidade e facul-
nador e colegas. Estes factos reforçam a tando orientações estandardizadas para a
intensificação do comportamento da atleta. prevenção e tratamento de atletas com
Todavia, a partir de uma alimentação des- um ou mais componentes da tríade.
regrada a atleta pode desenvolver um Recentemente, reconheceu-se que cada
distúrbio alimentar ao qual se encontra componente da tríade ocorre num contí-
associada não só uma descida significa- nuo e que as atletas que evidenciam uma
tiva do desempenho atlético como a tríade das suas componentes podem eventual-
da mulher atleta. mente ser diagnosticadas com esta sín-
Outros riscos associados a distúrbios drome. Por exemplo, nem todas as atletas
alimentares incluem a perda do treinador com disfunções menstruais apresentam
ou de um ente querido e a vivência de padrões de alimentação desregrados, ou
períodos vulneráveis como, por exemplo, revelam uma diminuição da massa óssea.
a adolescência ou um período de rea- O facto de cada componente poder ocor-
bilitação de uma lesão. Também pode ser rer num espectro facilita a identificação
possível que uma atleta se sinta simples- da tríade antes de se estabelecer uma
mente “esmagada” com o volume e inten- condição clínica. Os estádios intermédios
sidade do treino e tente voltar a sentir o da tríade podem ser encontrados numa
controlo através da restrição da ingestão atleta com uma inadvertida (desconhe-
alimentar. Alguns dados também supor- cendo este facto) baixa ingestão de ener-
tam a noção de que a alimentação des- gia, não devido a um distúrbio alimentar
regrada se pode desenvolver mais facil- mas talvez a um conflito de horário entre
mente em atletas com uma especialização as sessões de treino e a escola, a padrões
desportiva precoce. de refeições da família, etc., ou com dis-
túrbios menstruais sem os sinais e os sin-
tomas de um distúrbio alimentar.
Tríade da mulher atleta
Apesar de esta atleta não possuir o mesmo nível
A tríade da mulher atleta foi reconhecida de risco que uma outra atleta com um distúrbio
em 1992 e representa uma síndrome em alimentar, deverá, no entanto, seguir tratamento,
que a alimentação desregrada, a amenor- uma vez que esta situação intermédia poderá
reia e a osteoporose se encontram inter- evoluir para uma síndrome clínica.
relacionadas (Figura VII.3). O Colégio
Assim, qualquer atleta que apresente
Desordens alimentares uma condição subclínica da tríade e das
suas componentes deverá considerar a
sua condição clínica em risco.
Apesar de se desconhecer a prevalên-
cia exacta da tríade, alguns estudos com
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atletas mostram que cerca de 30% das


estudantes integradas no desporto univer-
sitário dos EUA e de 60% das atletas de
alta competição da Noruega estão em
Amenorreia Osteoporose risco de tríade. De salientar que neste
último estudo, o número de mulheres
Figura VII.3 • A tríade da mulher atleta. não atletas em risco de tríade também foi
elevado, devido ao facto de não entra-

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370

rem em competições mas serem activas. Apesar de a massa óssea trabecular,


Nutrição, Exercício e Saúde

Os resultados destes estudos indicam que relativamente à cortical, constituir o tipo


a tríade existe não só nas mulheres atle- de tecido e a coluna vertebral, relativa-
tas, mas também em mulheres jovens mente a outros locais esqueléticos, cons-
normalmente activas. tituir o local ósseo onde os efeitos dele-
térios da tríade da mulher atleta se fazem
ETIOLOGIA DA TRÍADE DA MULHER ATLETA sentir com maior gravidade, foi igualmente
observada osteopénia, ou seja, massa óssea
A alimentação desregrada constitui o diminuída, em outros locais esqueléticos.
cerne da tríade da mulher atleta e está A diminuição de mineral ósseo (geral-
relacionada com o conceito de disponi- mente na ordem dos 10 a 20%), obser-
bilidade energética insuficiente. A dispo- vada nas atletas amenorreicas, não é, no
nibilidade energética é expressa através entanto, acompanhada de um aumento da
da diferença entre consumo e o dispêndio excreção urinária de cálcio, frequente-
de energia. Estudos realizados evidenciam mente observada na osteoporose tipo I ou
que uma baixa disponibilidade energética, pós-menopáusica.
devida a restrição da ingestão calórica, ao Idealmente, uma carga de treino e uma
aumento do dispêndio energético asso- ingestão calórica adequadas, de modo a
ciado ao treino ou a ambos, induz alte- assegurar o funcionamento menstrual nor-
rações na normalidade do padrão pulsátil mal, capacitam a mulher atleta jovem a
da LH. De salientar que a regularidade do poder optimizar o seu pico de massa óssea.
ciclo menstrual associada a uma produção Quando estes factores falham, os efeitos
adequada de estrogénio e de progesterona negativos da tríade da mulher atleta pode-
se encontra dependente de uma secreção rão ser minimizados através de uma redu-
pulsátil normal da LH. Se a disponibili- ção do volume ou da intensidade do
dade energética se mantiver baixa por um treino, do aumento de peso e de terapias
período de tempo prolongado aumenta a hormonais, apesar de estas não se encon-
probabilidade de ocorrência de distúrbios trarem bem estabelecidas.
menstruais graves, como a oligomenorreia Com a regularização do ciclo mens-
e a amenorreia. trual, embora sejam esperados aumentos
Tal como nos distúrbios alimentares, a da DMO a curto prazo (cerca de 1 ano),
disfunção menstrual ocorre igualmente a tendência a médio (cerca de 4 anos) e
num espectro, com a amenorreia a situar- a longo prazo (> 5 anos) é para uma esta-
-se num dos extremos. A ideia central bilização dos ganhos alcançados inicial-
para a prevenção de distúrbios menstruais mente, ganhos estes que não são todavia
reside na optimização da dieta, especial- suficientes para que os valores da DMO
mente, na ingestão de energia e de hi- destas atletas venham a ser considerados
dratos de carbono. normais para a idade.
O efeito protector do estrogénio no A capacidade de normalização da DMO
tecido ósseo encontra-se bem estabele- destas atletas, após a regularização dos
cido na mulher. O estrogénio aumenta a ciclos menstruais, parece estar depen-
eficiência da absorção intestinal do cál- dente não só da extensão do período de
cio, diminui a sua excreção urinária e tempo durante o qual se verificaram as
reduz a taxa de remodelação óssea, que, irregularidades como da idade da atleta
se excessiva, favorece a reabsorção em relativamente ao pico de massa óssea.
detrimento da formação óssea. Condições As consequências de uma massa óssea
crónicas de hipoestrogenismo estão asso- diminuída ou de osteoporose numa jovem
ciadas a uma limitação do aumento da incluem o risco de fractura de fadiga du-
massa óssea ou à sua diminuição e como rante a prática desportiva assim como de
consequência à osteoporose, ou seja, a fracturas relacionadas com osteoporose
terceira componente da tríade. prematura. Para além do risco de fractura,

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371

Recomenda-se que as atletas com uma

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


as atletas com amenorreia apresentam um
risco de doença cardiovascular aumen- disfunção menstrual aumentem a inges-
tado devido a disfunção endotelial rela- tão de cálcio até 1 500 mg/dia. A edu-
cionada com o efeito protector dos estro- cação sobre nutrição desportiva deverá
génios. centrar-se na função da energia e dos nu-
trientes dos alimentos num desempenho
TRATAMENTO DA TRÍADE DA MULHER ATLETA desportivo com êxito, uma vez que as
consequências a longo prazo para a saúde
As atletas praticantes de qualquer des- não têm grande interesse para a atleta.
porto devem ser examinadas no que diz A prevenção de doenças e de lesões
respeito às duas componentes da tríade, através de uma reposição adequada pode
idealmente no início da época desportiva também constituir um recurso importante
(exame físico de pré-participação). É a para a educação e iniciação de alterações
gravidade da tríade que define a neces- do comportamento alimentar. Em caso de
sidade de tratamento da atleta. hipoestrogenismo, é comum a utilização
terapêutica de contraceptivos orais (ver
O tratamento é mais eficaz quando se utilizar uma Efeitos das pílulas contraceptivas combi-
abordagem de equipa que inclua um médico, um nadas). Todavia, se a disponibilidade ener-
nutricionista/dietista desportivo e um psicólogo ou gética se mantiver baixa, os efeitos posi-
terapeuta. Será também útil ter um fisiologista do tivos da correcção dos níveis de estrogénio
exercício na equipa.
com um contraceptivo oral ao nível do
osso serão limitados. Finalmente, a chave
As atletas que sofrem de distúrbios ali- de uma recuperação com sucesso reside
mentares clínicos devem seguir tratamento
no acompanhamento por parte dos mem-
psicológico enquanto as atletas com dis-
bros da equipa e da adesão da atleta.
túrbios subclínicos da tríade podem ne-
Perante uma recusa de tratamento, o
cessitar unicamente de acompanhamento
treinador, em conjunto com a equipa de
médico e de uma consulta com um nutri-
tratamento, deverá definir critérios para
cionista/dietista desportivo especializado
a manutenção da carreira desportiva da
em distúrbios alimentares nos atletas.
atleta. Em caso de não aceitação das con-
O tratamento relacionado com a nutrição
dições de tratamento, a atleta deverá ser
consiste na correcção do risco nutricional,
retirada do treino e da competição.
particularmente do défice energético, atra-
vés da utilização de um plano de dieta A educação é a chave do sucesso
progressivo que vá ao encontro das ne- na prevenção da tríade. Para além das
cessidades energéticas do treino/com- atletas, os modelos educativos deveriam
petição diário e semanal da atleta. incluir os pais e, particularmente, os trei-
Recomenda-se pequenos incrementos nadores, uma vez que os seus comen-
de calorias suplementares (100 a 300 kcal/ tários e expectativas podem muitas vezes
/dia), sob a forma de hidratos de carbono servir de perpetuadores de um estado
e proteínas, recorrendo a alimentos que de vulnerabilidade já existente. A educa-
sejam familiares e de que a atleta goste, ção deve centrar-se sobre a alimentação
uma vez que uma alteração radical da saudável durante o treino, a competição
ingestão habitual poderá promover os pa- e a manutenção de um peso corporal
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

drões do distúrbio alimentar. Uma estra- desejável.


tégia inicial, simples mas eficaz, consiste O ATHENA (Athlete Targeting Healthy
na introdução da utilização diária de um Exercise & Nutrition Alternatives – Atle-
suplemento líquido rico em calorias para tas que têm como Alvo Alternativas de
satisfazer as necessidades energéticas. Exercício e Nutrição) é um dos programas
A orientação nutricional imediata deverá mais conhecidos no âmbito da prevenção
incluir o cálcio, promovendo o recurso a dos distúrbios alimentares. O ATHENA
lacticínios e/ou a suplementação de cálcio. é um programa de prevenção de âmbito

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escolar para atletas femininas adoles- clínicos. Existe, no entanto, um grande nú-
Nutrição, Exercício e Saúde

centes. O seu curriculum consiste em mero de distúrbios subclínicos, que pode-


oito sessões de 45 minutos que decorrem rão evoluir para condições patológicas.
integradas nas actividades habituais de A anorexia atlética constitui um distúrbio
treino de uma equipa. Os conteúdos e alimentar subclínico, incluído na categoria
sequência do ATHENA foram concebidos da alimentação desregrada. Os distúrbios
para reduzir a alimentação desregrada e alimentares não especificados (EDNOS –
o uso de substâncias adelgaçantes, pro- Eating Disorders Not Otherwise Specified),
movendo, simultaneamente, o exercício e apesar de menos graves do que a AN e a
a nutrição saudáveis. A característica BN, não deixam de ser considerados dis-
chave do ATHENA é o facto de as atletas túrbios alimentares clínicos. A maioria dos
serem ensinadas a tornarem-se elas mes- EDNOS é muito semelhante à AN e à BN,
não contemplando todavia todos os crité-
mas educadoras e de os treinadores ac-
rios da DSM-IV (Diagnostic and Statistical
tuarem como agentes facilitadores. Esta
Manual – Manual de Diagnóstico e de
abordagem denomina-se ensino pelos Estatística, através do qual a Associação
pares e tem mostrado resultados eficazes Psiquiátrica Americana define os critérios
na melhoria dos padrões alimentares da de diagnóstico dos distúrbios alimentares).
atleta. Os distúrbios alimentares clínicos são ge-
ralmente diagnosticados por um médico
ou psiquiatra.
DISTÚRBIOS ALIMENTARES CLÍ-
NICOS E SUBCLÍNICOS Distúrbios alimentares clínicos

Os distúrbios alimentares abrangem um Os distúrbios alimentares clínicos ocorrem


vasto espectro de comportamentos ali- predominantemente nas mulheres jovens
mentares não saudáveis (Figura VII.4). caucasianas das sociedades ocidentais
A anorexia nervosa (AN) e a bulimia ner- com idades entre os 16 e os 35 anos,
vosa (BN) são condições extremas con- com uma prevalência de 0,3 a 1% para
sideradas como distúrbios alimentares a AN e de 1 a 2% para a BN. Apesar

Comportamento alimentar
normal

Anorexia Bulimia
nervosa nervosa

EDNOS EDNOS
Restrição Voracidade
alimentar ocasional

Distúrbio
Eating Disorder Not Otherwibe Specipied voracidade
(Distúrbios alimentares não específicados) alimentar

Figura VII.4 • Espectro dos distúrbios alimentares.

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de o número de jovens que procura ajuda Em muitos casos de AN, é normal a pessoa

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


ter provavelmente aumentado, dados da afectada por este distúrbio negar comple-
Noruega revelam igualmente uma subida tamente a possibilidade de ter um pro-
para 9% das mulheres que sofrem de AN, blema alimentar ou um problema que
de BN ou de EDNOS. venha a despoletar o distúrbio alimentar.
Outros sinais frequentes são o cresci-
ANOREXIA NERVOSA mento excessivo de pêlos na face e quei-
xas de frio. O afastamento social é um
O desenvolvimento da AN tem início du- sintoma comum a todos os indivíduos
rante a adolescência. O primeiro padrão afectados por um distúrbio alimentar clí-
visível é a restrição alimentar, ou seja, nico ou subclínico. Finalmente, as pessoas
fazer dieta, que em determinado mo- que sofrem de AN são normalmente per-
mento se torna incontrolável. Devido à feccionistas em tudo o que fazem.
inter-relação existente entre os diferentes
distúrbios alimentares, é possível o desen- BULIMIA NERVOSA
volvimento de uma compulsão alimentar
periódica e/ou de BN. Quanto maior for Comparativamente à AN, o início da BN
o tempo de prevalência do distúrbio, dá-se tipicamente de uma forma similar
maior será a dificuldade de recuperação mas numa idade mais tardia. A sobre-
da AN ou de qualquer outro distúrbio posição dos dois distúrbios é de tal forma
alimentar, enquanto um diagnóstico pre- comum que muitos indivíduos com BN
coce seguido do respectivo tratamento também apresentam os critérios de diag-
constitui um factor determinante para a nóstico da AN, em determinado mo-
cura desta doença. Parece, todavia, que mento. No entanto, a restrição energética
cerca de 10 a 20% dos indivíduos com acaba por ser substituída pela alimen-
AN não serão curados deste distúrbio. tação compulsiva, que resulta num au-
A AN também é reconhecida como mento de peso, seguido de ciclos perió-
um distúrbio alimentar associado a uma dicos de alimentação compulsiva e de
taxa de mortalidade elevada, em que o purga. A BN não é um distúrbio de curto
suicídio e as complicações médicas são prazo. Em média, um historial dura cerca
as consequências fatais mais comuns. de cinco anos ou mais, após a apresen-
Independentemente do grau de recupe- tação do distúrbio. Existem dois tipos de
ração, alguns aspectos como a preocupa- BN, nomeadamente a BN purgativa e a
ção com o peso, com a imagem corporal BN não purgativa (Quadro VII.17).
e com os padrões alimentares poderão Os indivíduos afectados pela BN apre-
nunca desaparecer. sentam um peso, normal ou ligeiramente
Para além dos factores mencionados nos acima do normal, que sofre frequente-
critérios de diagnóstico (Quadro VII.16), mente grandes flutuações. Estas pessoas
a restrição alimentar é provavelmente o receiam permanentemente o aumento de
sinal de aviso mais comum de que uma peso e sofrem geralmente de depressão
pessoa pode sofrer de AN. Este é normal- e de outras complicações psicológicas.
mente acompanhado da negação da fome Vários sinais físicos como o edema e o
e de uma prática excessiva de exercício. aumento das glândulas parótidas, cáries
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

Quadro VII.16 • Critérios de diagnóstico da anorexia nervosa.

• Perda significativa do peso corporal ou manutenção de um peso corporal extremamente baixo


(85% do peso normal para a altura), ou ambas;
• Receio exagerado de ganhar peso ou de ficar gorda;
• Grau elevado de insatisfação acerca do corpo e distorção da imagem corporal;
• Amenorreia nas mulheres após a menarca.

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374
Nutrição, Exercício e Saúde

Quadro VII.17 • Critérios de diagnóstico da bulimia nervosa.

• Episódios periódicos de alimentação compulsiva (consumo de uma grande quantidade de comida


num período de tempo curto), seguidos de purgas (consumo de laxantes, diuréticos, clisteres ou
vómito auto-induzido), que ocorram pelo menos duas vezes por semana durante três meses;
• Sentido de falta de controlo durante os episódios periódicos de alimentação compulsiva e de purga;
• Grau elevado de insatisfação acerca do corpo e distorção da imagem corporal.

dentárias, lábios e mãos gretados e língua EDNOS também são considerados como
inflamada ajudam a identificar os pacien- distúrbios alimentares clínicos e caracteri-
tes com BN. Apesar de não constituir um zam-se por um ou mai dos critérios do
critério de diagnóstico, a disfunção mens- DSM-IV apresentados no Quadro VII.18.
trual é comum nos indivíduos que sofrem
de BN e o excesso de prática de exercício
é frequentemente usado como um método Distúrbios alimentares subclínicos
de purga.
Desde 1980, ano em que o distúrbio ali-
DISTÚRBIOS ALIMENTARES NÃO mentar subclínico é proposto como con-
ceito, que muitos estudos têm revelado
ESPECIFICADOS que a mulher demonstra uma patologia
Os distúrbios alimentares não especifi- alimentar e preocupações com o peso
cados referem-se a distúrbios que não corporal significativos, sem que as carac-
integram todos os critérios da AN ou da terísticas manifestadas se enquadrem nos
BN como, por exemplo, uma mulher com critérios definidos para os distúrbios ali-
todos os critérios da AN à excepção de mentares clínicos. Os distúrbios alimen-
um peso corporal ligeiramente acima do tares subclínicos podem igualmente ser
limiar de diagnóstico, ou uma mulher com independentes de qualquer causa psicoló-
ciclos periódicos de alimentação compul- gica. As mulheres com distúrbios alimen-
siva com uma duração inferior a três me- tares subclínicos apresentam padrões
ses. Apesar do peso e da imagem corpo- de alimentação desregulada com ou sem
ral constituírem a área de enfoque central a utilização de métodos patológicos de
das pessoas com EDNOS, o peso corporal controlo de peso. Constituem grandes
encontra-se habitualmente dentro dos desafios a identificação de mulheres que
limites normais. Todavia, a maioria destas sofram destes distúrbios, pois não são
pessoas vêm a desenvolver AN ou BN. Os facilmente identificáveis, assim como a

Quadro VII.18 • Critérios de diagnóstico dos distúrbios alimentares não especificados.

• Todos os critérios da AN, excepto a amenorreia;


• Todos os critérios da AN, excepto o facto do peso se encontrar dentro dos limites normais apesar
da sua perda significativa;
• Todos os critérios da BN, excepto o facto de os ciclos periódicos de alimentação compulsiva/
/purga ocorrerem com uma frequência inferior a duas vezes por semana e com uma duração
inferior a três meses;
• Recurso regular a um comportamento compensatório inapropriado a um indivíduo com peso
corporal normal, após a ingestão de pequenas quantidades de comida;
• Mastigar e cuspir repetidamente, mas sem engolir, grandes quantidades de comida;
• Distúrbio de alimentação compulsiva periódica (binge eating disorder – BED): episódios recor-
rentes de alimentação compulsiva na ausência do recurso regular a comportamentos compensa-
tórios inapropriados característicos da BN.

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375

litar as práticas alimentares saudáveis na

Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher


definição do que são padrões alimentares
normais e desregulados. As mulheres com escola podem ajudar a introduzir e a re-
distúrbios alimentares subclínicos podem forçar uma alimentação normal. Os pro-
necessitar de ajuda profissional para evitar cessos educativos para crianças e adoles-
o desenvolvimento de um distúrbio ali- centes devem integrar informação sobre a
mentar clínico. dimensão e a forma do corpo e enfatizar
as mudanças normais que ocorrem no
desenvolvimento humano. A educação
Tratamento, consequências e pre- nas escolas deve igualmente centrar-se na
venção dos distúrbios alimentares alimentação para a saúde, no bem-estar e
num estilo de vida activo. Os professores
e os pais devem motivar os jovens para
O tratamento dos distúrbios alimentares a prática de actividade física, realçando
depende da gravidade do distúrbio e é o prazer do sentimento de controlo do
normalmente dividido em tratamento com peso. Para contrapor os efeitos negativos
ou sem internamento do paciente. O tra- das mensagens passadas pela publicidade
tamento em regime de internamento é relativas à imagem corporal, é importante
frequentemente procurado pelos pacientes ensinar as crianças e os jovens a identi-
que correm risco de vida. Independen- ficarem imagens corporais irrealistas e
temente da natureza do tratamento, o mensagens escondidas. Acima de tudo, o
seu sucesso depende de uma abordagem reconhecimento precoce de preocupações
multidisciplinar com uma equipa consti- com o peso e com a dieta com o subse-
tuída por profissionais com experiência de quente tratamento podem evitar um dis-
distúrbios alimentares na área da medi- túrbio alimentar.
cina, psicologia ou psiquiatria e da nutri-
ção.
Os distúrbios alimentares afectam a Dieta crónica
função gastrointestinal, cardiovascular,
renal, oral, sanguínea, imunitária e endó- Permanecer cronicamente em dieta, em
crina, podendo algumas, como a função oposição a um distúrbio alimentar, signi-
cardiovascular, falhar durante o distúrbio. fica restringir a ingestão de energia de
Contudo, o funcionamento normal dos uma forma consistente e com sucesso
diversos sistemas é recuperado após o para manter um peso corporal médio ou
indivíduo voltar a alimentar-se, excepto abaixo da média. Uma pessoa em dieta
no que diz respeito ao sistema esquelé- permanente e preocupada com os alimen-
tico em que a osteoporose e o risco de tos, as calorias, e/ou o peso, subordina as
fractura permanecem aumentados, espe- suas estratégias de exercício ao controlo
cialmente no caso da AN. No caso do de peso. Estas pessoas podem igualmente
BED, a principal consequência a longo ser fumadoras por razões de controlo
prazo é a obesidade, que aumenta o risco de peso. É do conhecimento geral que a
de muitas doenças crónicas. nicotina afecta a taxa metabólica de re-
A vida familiar, o ambiente social e a pouso, ajudando algumas mulheres a
pressão por parte dos colegas constituem manter o peso corporal baixo e que os
aspectos importantes que podem predis- indivíduos que deixam de fumar podem
© LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS

por uma jovem para um distúrbio alimen- ganhar algum peso. O tabaco é, todavia,
tar. O primeiro passo para um envolvi- um dos principais factores de risco de
mento mais construtivo é a redução da muitas doenças, e os benefícios de deixar
crítica ou dos reparos constantes sobre a de fumar em qualquer momento da vida
forma ou o peso do corpo e a educação são muito mais importantes do que pe-
dos pais e professores sobre os efeitos quenas alterações do peso corporal, quando
destrutivos deste tipo de comportamentos. estas ocorrerem. Estar cronicamente em
Encorajar as refeições em família e faci- dieta pode conduzir a uma perda de ener-

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376

gia e de eficácia na execução das tarefas


Nutrição, Exercício e Saúde

Referências Bibliográficas
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de variação de peso venham a causar uma Beals, K. A. e Manore, M. M. (2002), “Disor-
doença grave, mas constituem um factor ders of the female athlete triad among colle-
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Sundgot-Borgen, J. e Torstveit, M. K. (2004),
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forma restritiva rígida têm maior proba- Clin J Sport Med, 14: 25-32.
bilidade de sofrerem de uma compulsão Torstveit, M. K. e Sundgot-Borgen, J. (2005),
alimentar periódica relativamente aos ali- “The female athlete triad: are elite athletes at
mentos que restringiram. Este tipo de rigi- increased risk?”, Med Sci Sports Exerc, 37:
dez na restrição alimentar também se 184-193.
Torstveit, M. K. e Sundgot-Borgen, J. (2005),
encontra ligado à obesidade, enquanto “Low bone mineral density is two to three
que a restrição alimentar aplicada de uma times more prevalent in non-athletic preme-
forma flexível (ajustada às refeições ante- nopausal women than in elite athletes: a
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321-376 376 02.05.08, 5:26 PM

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