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variação: nove a dezassete anos e meio). dentes dos outros indicadores. A avalia-
A maioria das raparigas alcança o pico de ção da maturação sexual é baseada no
crescimento mais ou menos dois anos desenvolvimento de caracteres sexuais
após a telarca e um ano antes da menarca. secundários – mama e menarca nas rapa-
As evidências sugerem que a aceleração rigas, órgãos genitais nos rapazes e pêlos
do crescimento é devida ao estrogénio e púbicos em ambos os géneros. Ao con-
concomitante aumento na produção da trário dos outros indicadores, que podem
hormona de crescimento e estimulação ser monitorizados da infância à idade
secundária do IGF-I. adulta jovem, a utilização dos caracte-
Elevação do mamilo
Menarca
Mama de adulto
8 10 12 14 16 18
Idade (anos)
morbidamente obesas (com mais de 30% de leptina, mais cedo ocorre a idade da
de excesso de peso), diabéticas e rapa- menarca. Após a puberdade, os níveis de
rigas activas ou atletas de peso normal. leptina nos rapazes regressam aos valores
Raparigas com uma percentagem de massa pré-pubertais, devido a aparente supressão
gorda de 19% podem experimentar a me- pela testosterona. Nas raparigas, os níveis
narca mais cedo e raparigas com 27% de de leptina são mais elevados do que nos
massa gorda podem não apresentar sinais rapazes e diminuem também com a pro-
de puberdade. gressão dos estádios pubertários.
Destaque
GONADOTROFINAS
LH
Por volta dos 40 anos os ciclos começam
novamente a alongar-se.
FSH
Um ciclo menstrual tem início no pri-
meiro dia de uma menstruação e termina
no dia precedente à menstruação seguinte.
Apesar de alguma variabilidade intra-
CICLO OVÁRICO
-individual, o padrão normal encontra-se
Maturação do Ovulação Corpo amarelo
associado à ocorrência de nove a 12 ciclos
folículo menstruais por ano, com uma duração de
P
24 a 35 dias de intervalo entre os ciclos
E2 menstruais (mediana: 28 dias).
• Prática regular (pelo menos três vezes por semana), de exercício de intensidade leve a moderada,
com duração de 30 a 40 minutos por sessão. A intensidade vigorosa reduz o débito cardíaco nos
órgãos do tórax e abdómen, incluindo o útero;
• Evitar a realização de exercícios em decúbito dorsal depois do primeiro trimestre. Esta posição
está associada a uma diminuição do débito cardíaco na maioria das mulheres grávidas. Devem
ser igualmente evitados exercícios prolongados na posição de pé sem qualquer deslocamento;
• Exercícios (na posição de pé) podem, sob algumas circunstâncias, ser praticados com intensidades
semelhantes às anteriores à gravidez. Exercícios como pedalar ou nadar minimizam, todavia,
os riscos de lesão e facilitam a continuação do exercício durante a gravidez;
• Evitar exercícios com exigências elevadas ao nível do equilíbrio, ou seja, com elevado risco de
queda, especialmente no terceiro trimestre, e exercícios indutores de trauma abdominal, mesmo
que leve;
• A gravidez requer 300 kcal adicionais para manter a homeostase. Assim, as mulheres que fazem
exercício durante a gravidez devem ter particular cuidado para assegurar uma dieta adequada;
• Aumentar a dissipação de calor durante o exercício através de vestuário e hidratação adequados
num envolvimento físico confortável;
• A maioria das modificações fisiológicas e morfológicas durante a gravidez persistem quatro a
seis semanas após o parto. Assim, as rotinas de exercício devem ser reassumidas gradualmente
de acordo com a capacidade da mulher.
Durante a gravidez:
• Melhoria da aptidão cardiorrespiratória e muscular;
• Melhoria do bem-estar psicológico através da redução de sentimentos de ansiedade, de stress e
de depressão;
• Diminuição do ganho de peso;
• Diminuição da incidência de dores nas costas;
• Melhoria da digestão e redução da obstipação;
• Aumento da reserva de energia.
Durante e após o parto:
• Redução da duração do trabalho de parto e da dor;
• Diminuição da necessidade de intervenções cirúrgicas;
• Facilitação da recuperação do trabalho de parto;
• Facilitação da recuperação do peso corporal e da aptidão muscular;
• Maior redução da barriga após o parto;
• Estabelecimento de hábitos de vida saudáveis.
1 http: www.ine.pt
Destaque
(relação mulher/homem 8:1), ocorre na mulheres, de tal forma que a sua inci-
Nutrição, Exercício e Saúde
Destaque
tecção, particularmente antes dos 30 anos; Sintomas como a falta de memória e de capacidade
Nutrição, Exercício e Saúde
Destaque
nível.
Auto-estima: atitudes, crenças e sentimentos sobre si próprio resultam do somatório
da avaliação de diferentes atributos, nomeadamente físicos, sociais, profissionais e
emocionais. Neste âmbito, os diversos subdomínios da auto-estima podem estar
associados de forma diferente a diversos programas de exercício, não existindo
linhas orientadoras para a sua prática.
CONTRACEPTIVOS E TERAPIAS
de 60 e melhorada desde essa data, par-
HORMONAIS ticularmente na redução na dose e no
ajustamento dos componentes esteróides
Métodos de contracepção utilizados, ou seja, na combinação do es-
trogénio e do progestagénio. O etinil-
-estradiol é o estrogénio sintético presente
Um contraceptivo é um método cujo na maioria das pílulas, sendo o seu com-
principal objectivo é evitar uma gravidez
ponente progestínico que varia, em função
não desejada. Actualmente encontram-se
de um determinado efeito terapêutico,
disponíveis vários métodos de contracep-
acessório à acção contraceptiva. Em Por-
ção, nomeadamente métodos de contra-
tugal encontram-se disponíveis contra-
cepção hormonal, métodos de barreira,
ceptivos orais com 20, 30, 35 e 40 mcg
dispositivos intra-uterinos, métodos cirúr-
gicos e naturais. Estes métodos diferem de etinil-estradiol.
na eficácia, conveniência e facilidade de Os mecanismos de acção da pílula
utilização, custo, exposição a doenças combinada como contraceptivo incidem
sexualmente transmitidas, influência nos particularmente na prevenção da ovula-
sintomas menstruais, assim como no de- ção (anovulação), na inibição do desen-
sempenho atlético, na aptidão física e no volvimento do endométrio para implan-
bem-estar geral. A contracepção constitui tação embrionária (disfunção endome-
um importante tópico para todas as mu- trial) e no aumento do muco cervical difi-
lheres sexualmente activas que não dese- cultando a espermo-migração (disfunção
jam engravidar e as mulheres atletas não cervical). A prevenção da ovulação é o
são uma excepção. efeito primário do estrogénio através de
bloqueio do desenvolvimento folicular,
enquanto os outros mecanismos de con-
Contracepção hormonal tracepção são sobretudo devidos ao efeito
do componente progestínico da pílula.
A contracepção hormonal inclui as pílulas A pílula combinada é muito efectiva
combinadas (estrogénio e progestagénio), quando tomada apropriadamente, com
os contraceptivos com progestagénios iso- uma taxa de falha de 0,1% por ano.
lados e a contracepção pós-coito. A con- As pílulas combinadas podem ser
tracepção pós-coito é geralmente reser- monofásicas, bifásicas ou trifásicas, de
vada para os casos de emergência de uma acordo com as combinações constantes
relação sexual desprotegida, por exemplo, ou variáveis em duas (bifásicas) ou três
a violação, ou de ineficácia de um método (trifásicas) etapas do ciclo. Assim, nas
contraceptivo de barreira. Nestes casos, a pílulas combinadas monofásicas todos
administração de elevadas doses de estro- os comprimidos contêm uma dose cons-
génio num prazo de 72 horas após o coito tante de estrogénio e progestagénio para
inibem a gravidez através da inibição da a totalidade do ciclo de tratamento, que
implantação do embrião. A contracepção é de 21 dias, enquanto que nas com-
pós-coito não deverá ser considerada binações variáveis os comprimidos apre-
como uma forma de rotina de controlo do sentam variação das doses dos seus com-
nascimento. ponentes activos. O seu uso inicia-se no
primeiro dia da menstruação e após os
PÍLULAS CONTRACEPTIVAS 21 dias de tratamento realiza-se uma pa-
ragem de sete dias durante a qual deve
Existem diversos tipos de pílulas contra- ocorrer a menstruação. Após esta pausa
ceptivas, também designadas por contra- reinicia-se uma nova carteira indepen-
ceptivos orais, nomeadamente as pílulas dentemente de ter ou não cessado a mens-
combinadas e as mini-pílulas. A pílula truação.
minal, embora possa igualmente originar acima dos 40 anos. Em presença de his-
um aumento de peso devido a retenção tória de doença cardiovascular deve consi-
aquosa. Estes efeitos diminuem após adap- derar-se a utilização de outro método de
tação ao novo envolvimento hormonal, contracepção.
geralmente passados três a quatro ciclos A nível reprodutivo, não existem con-
menstruais. Os progestagénios sintéticos sequências adversas da utilização dos
suprimem, ainda, o crescimento endome- contraceptivos orais. As mulheres podem
trial provocando uma redução signifi- tentar engravidar imediatamente após a
paragem da pílula, apesar de se acon- truais menos severas, este tipo de con-
Nutrição, Exercício e Saúde
selhar a espera do primeiro ciclo mens- tracepção pode constituir uma vantagem
trual após a sua interrupção, para que a competitiva para algumas atletas. O risco
contagem do tempo de gravidez possa ser de doença inflamatória pélvica também
mais exacta (cada vez menos importante se encontra diminuído, provavelmente
com a disponibilização da imagiologia devido à disfunção cervical que limita a
fetal). acção de bactérias no sistema reprodu-
A nível neoplástico as pílulas contra- tivo.
ceptivas orais têm demonstrado diminuir Os contraceptivos orais podem ser
a incidência de cancro no ovário. Uma ajustados de forma a calendarizar o me-
possível teoria explicativa para o desen- lhor possível a ocorrência do período
volvimento do cancro do ovário é desig- menstrual, apesar de não existir nenhuma
nada por teoria da ovulação incessante. associação entre a fase do ciclo menstrual
Pensa-se que a ovulação incessante e a e o rendimento desportivo. Níveis eleva-
subsequente reparação da superfície epi- dos de progesterona durante a fase luteal
telial do ovário, depois da ruptura devida do ciclo menstrual assim como durante
à ovulação, aumenta o risco de cancro do a gravidez estimulam a ventilação e a res-
ovário. Neste âmbito, acontecimentos que posta ventilatória à hipóxia e à hipercáp-
previnam a ovulação como a utilização nia. Uma vez que o sucesso nos desportos
da pílula contraceptiva oral e a gravidez de endurance está associado a uma dimi-
parecem apresentar protecção. Existem, nuição da elevação dos processos respi-
todavia, algumas preocupações contro- ratórios, o efeito da progesterona pode
versas relativamente ao cancro da mama, eventualmente ser negativo para algumas
particularmente nas mulheres nulíparas atletas.
utilizadoras de longo termo da pílula
contraceptiva.
A nível desportivo, uma vez que a CONTRA-INDICAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO
actuação do eixo hipotálamo-hipófise- DE CONTRACEPTIVOS ORAIS
-ovário pode ser suprimida devido a uma
baixa disponibilidade de energia ou Algumas das contra-indicações absolutas
devido ao stress, algumas atletas podem e/ou contracepção de elevado risco in-
desenvolver distúrbios menstruais em cluem mulheres fumadoras com idade
consequência da intensidade física e psi- superior a 35 anos, com doença vascular
cológica do seu treino. Esta supressão da coronária ou cerebral, com tromboflebite
função do ovário conduz a um estado de activa ou história de tromboflebite pro-
hipoestrogenismo com consequências funda, com doenças tromboembólicas,
cardiovasculares, músculo-esqueléticas e com carcinoma da mama em evolução,
reprodutivas. hepatite vírica activa, cancro da mama e
do endométrio, hemorragia vaginal inex-
plicada, cirrose hepática, colestase prévia
A gestão apropriada destas atletas inclui uma
redução da intensidade do treino, um aumento
desencadeada pela gravidez ou pela utili-
da ingestão calórica ou o início de uma terapia zação da pílula e amamentação até aos
de substituição hormonal. A pílula combinada é seis meses do pós-parto.
geralmente considerada uma boa fonte de estro- A adolescente beneficia geralmente do
génio para as mulheres deficientes em estrogénio. factor idade e raramente apresenta al-
guma doença em que os riscos da contra-
cepção oral superem as vantagens do seu
Uma vez que as mulheres que tomam
uso. Além de evitar a gravidez destacam-
contraceptivos orais apresentam geral-
-se os seguintes benefícios da pílula para
mente uma diminuição do fluxo mens-
a saúde da utilizadora:
trual, traduzindo-se numa perda menor
de sangue e de ferro (tornando a anemia • Diminuição do fluxo menstrual e de
menos comum), assim como dores mens- incidência de anemia;
Riscos
rentes tecidos-alvo, que por sua vez é droloxifeno. Este grupo de compostos
mediada pelo menos por dois tipos dife- encontra-se sob investigação intensa não
rentes de receptores. Assim, por exemplo, só para a prevenção e tratamento do can-
ao nível da mama os SERM apresentam cro da mama mas também para aplicação
uma acção antiestrogénica, enquanto ginecológica generalizada como a THS, a
ao nível do osso, a sua acção é agonista endometriose e a hiperplasia endometrial,
do estrogénio. O SERM perfeito deveria prevenção e tratamento da osteoporose,
potenciar todos os efeitos positivos do de doenças cardiovasculares e diminuição
estrogénio (ser agonista) e eliminar todos do risco de doença de Alzheimer. Estes
os seus efeitos negativos (ser antagonista), agentes constituem mais uma opção para
ao nível da mama, do útero e do sistema ser utilizada isoladamente ou em combi-
de coagulação. Exemplos de SERM utili- nação com a terapia hormonal de substi-
zados na prática clínica incluem o ralo- tuição.
Investigação em Prática
WOMEN’S HEALTH INITIATIVE
Objectivo: apesar da acumulação das evidências de estudos observacionais sobre
os benefícios da THS, particularmente nas doenças cardiovasculares e na osteopo-
rose, persistiam ainda muitas dúvidas relativamente aos seus riscos a longo prazo.
O Women‘s Health Initiative (WHI) é um estudo randomizado controlado, desenvol-
vido pelos institutos nacionais de saúde americanos com o objectivo de definir os riscos
e os benefícios das estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas (variáveis
independentes) para a redução da inciência de doenças cardiovasculares, particular-
mente do enfarte do miocário e do acidente vascular cerebral (AVC), do cancro da
mama, do endométrio e do cólon, do embolismo pulmonar, da fractura da anca e da
morte por outras causas (variáveis dependentes), em mulheres pós-menopáusicas apa-
rentemente saudáveis. As estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas nos
EUA, para este grupo da população, incluem dietas de baixo conteúdo calórico em
gordura, suplementos de cálcio e de vitamina D e a THS combinada ou só com estro-
génio.
Concepção: entre 1993 e 1998 o WHI envolveu 161 809 mulheres pós-menopáusicas
de 50 a 79 anos (média: 63 anos), recrutadas em 40 centros clínicos. Um dos compo-
nentes deste estudo envolveu 16 608 mulheres sem histerectomia, das quais 8 506 com
THS em regime combinado (estrogénio e progestagénio: 0,625 mg/dia de estrogénios
equino conjugados mais 2,5 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona) e 8 102
mulheres com placebo, como grupo de controlo. Este ensaio foi interrompido preco-
cemente devido às evidências de que os riscos excediam os benefícios de saúde depois
de um acompanhamento de 5,2 anos. Para a estimação do equilíbrio entre os riscos e
benefícios deste tipo de terapia nas variáveis dependentes seleccionadas foi concebido
um index global.
Resultados: os investigadores do WHI observaram pequenos, mas significativos, riscos
para a saúde. Comparativamente ao grupo de controlo, no grupo de mulheres com
THS verificaram-se mais oito casos de cancro da mama, mais sete de enfarte do
miocárdio, mais oito de AVC e mais oito de embolia pulmonar, mas menos cinco casos
de fractura da anca e menos seis de cancro do cólon, por cada 10 000 mulheres-anos.
O index global foi de 19 por 10 000 pessoas/ano. Os riscos relativos são apresentados
na Tabela VII.4.
trientes devem ser ajustadas para uma saúde cardiovasculares, endócrinos e psi-
superfície corporal maior. A mineralização cológicos e constitui um factor de risco
do esqueleto e a ocorrência do pico de premonitor da morbilidade e mortalidade
massa óssea, assim como as hemorragias na idade adulta.
menstruais e o aumento da necessidade A adolescência é igualmente reconhe-
de ferro, representam os principais aspec- cida como um período crítico de prepa-
tos nutricionais das adolescentes, no ração para uma gravidez saudável, uma
que respeita às necessidades em micronu- vez que os hábitos de vida entretanto
trientes. adquiridos condicionam o desenvolvi-
A alimentação fora do ambiente fami- mento fetal. A deficiência em ácido fólico,
liar, decorrente da progressiva indepen- desordens alimentares e o abuso de dro-
dência dos jovens, e o aumento da pres- gas constituem factores de complicação
são social para uma estética baseada na de uma eventual gravidez. A promoção
magreza aumentam o risco de desordens da saúde por diversos agentes constitui
alimentares ou de padrões de exercício um factor determinante da educação na
compulsivo. Uma maturação sexual pre- adolescência.
coce parece, igualmente, predispor as
adolescentes para uma maior preocupa- Avaliação do crescimento e estado
ção com a imagem e o peso corporal e,
consequentemente, para um maior risco nutricional
de desordens alimentares. Embora a prá-
tica desportiva esteja associada a um au- A simples avaliação do crescimento é,
mento da auto-estima, as atletas de elite provavelmente, a melhor forma de estimar
de várias modalidades em que a imagem a adequação do aporte nutricional e do
ou o peso corporal contribuem de forma estado de saúde em geral durante a ado-
significativa para o desempenho atlético, lescência. Geralmente utilizam-se tabelas
como na ginástica, na patinagem artística, normativas de crescimento, expressas em
na dança ou no fundo e meio-fundo, são percentis, para comparar o aumento do
também um grupo-alvo de uma grande peso e da altura de acordo com a idade e
pressão, potenciando o impacto de com- o género. Em geral, o crescimento é con-
portamentos alimentares prejudiciais para siderado normal se a relação entre o peso
a saúde e o desenvolvimento de desor- e a altura, para uma determinada idade,
dens alimentares (Ver Nutrição na mulher se encontrar entre os percentis 25 e 75.
atleta). Para além do peso e da altura, a utilização
Em oposição à dieta e à magreza en- do IMC de acordo com a idade constitui
contra-se a obesidade na adolescência. igualmente um bom procedimento para
Dados recentes do US Centers for Disease avaliar o crescimento e o estado nutricio-
Control and Prevention (EUA) demons- nal, nomeadamente o despiste do risco
tram aumentos significativos da incidên- associado à magreza extrema, ao excesso
cia do excesso de peso e da obesidade de peso e à obesidade (Tabela VII.5).
em crianças até aos 5 anos de idade. As
crianças e adolescentes de países desen-
volvidos são menos activas fisicamente
Necessidades energéticas
e mais predispostas ao excesso de peso.
A prevalência do excesso de peso e da Apesar dos escassos estudos sobre neces-
obesidade em raparigas de Lisboa e do sidades energéticas na adolescência, exis-
Porto variava, em 1995, entre 16 e 23%. tem evidências de que o dispêndio de
Apesar de estes números serem inferiores energia das adolescentes saudáveis (10 a
aos observados nos EUA (25,9 e 26,6%), 16 anos), com uma adequada compo-
são todavia preocupantes. A obesidade nos sição corporal e prática de actividade
* Valores baseados na OMS, 1995. Para maior detalhe da classificação ver Lobstein, T. et al., “Obesity in children and young people: a crisis in
public health.”
física, se situa entre 1 850 a 2 656 kcal/ na zona pélvica, dorsal, dos braços e do
dia, valores ligeiramente superiores aos peito. A percentagem de gordura corporal
anteriormente sugeridos pela OMS, 1 910 nas raparigas passa de valores médios de
a 2 140 kcal/dia. 15% no início da puberdade aos 9 anos
para valores que podem chegar aos 30%
Problemática é a existência de uma grande no final da puberdade.
variabilidade quanto à idade de início, duração e As necessidades energéticas durante a
intensidade do salto de crescimento, durante o qual adolescência podem ser estimadas recor-
se verificam as maiores necessidades energéticas rendo a tabelas de referência como as pu-
durante a adolescência (cerca de 2 500 kcal/dia).
blicadas nos EUA para Americanos e Cana-
dianos saudáveis suficientemente activos e
Além da altura e do peso, as modifi- conhecidas em Portugal como DDR (doses
cações na composição corporal, que por diárias recomendadas – Tabela VII.6).
sua vez tem implicações nutricionais, são É ainda possível estimar as necessi-
também características deste período. As dades energéticas durante a adolescência
modificações da composição corporal são recorrendo a equações que consideram
mediadas pelas hormonas sexuais, no para além da idade, o peso, a altura e o
caso da mulher pelos estrogénios e pela nível de actividade física. A equação que
progesterona. Uma vez alcançado o pico se apresenta é aplicável a raparigas dos
de velocidade de crescimento verifica-se 9 aos 18 anos com um IMC entre o 5.º e
nas raparigas um aumento significativo da o 85.º percentil.
acumulação de gordura, particularmente
Tabela VII.6 • Necessidades energéticas para mulheres suficientemente activas, de acordo com
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a idade.
135,3 – [30,8 x idade (anos)] + [10 x peso (kg) + 934 x altura (m)] x nível de actividade física + 20
allowances for the Italian Population, Revision. Rome: National Insti- pastelaria, doces e refrigerantes. A inges-
tute of Nutrition. tão de gordura saturada tem igualmente
aumentado através de um maior con-
Considerações sobre as gorduras e sumo de carne, de lacticínios gordos e de
os açúcares doces. Dados provenientes de Espanha,
onde se analisaram indivíduos do sexo
A alimentação diária dos adolescentes feminino, demonstraram um aporte de
norte-americanos e europeus é demasia- gordura de 39 a 45% do valor calórico
damente rica em gordura, ou seja, excede total. Este valor é superior ao observado
os 30% do aporte total de energia reco- nos EUA. Os dados são semelhantes para
que em Portugal o consumo de gordura durante a puberdade entre rapazes e raparigas, não
variava entre os 30 e os 33% em 1995. observáveis antes deste período, são devidas a
Felizmente, o consumo de azeite, de fruta um crescimento ósseo mais prolongado no sexo
masculino. Estas diferenças contribuem para uma
e de vegetais permanece elevado em
superioridade dos rapazes em 10% na altura e em
todos estes países, apesar de se verificar 25% no pico de massa óssea, comparativamente
uma tendência para a diminuição no con- às raparigas.
sumo de azeite. Torna-se imperativo a
promoção de iniciativas de educação ali-
mentar, tanto a nível urbano como rural, Em mulheres jovens, foi demonstrado
tendo em vista o abrandamento de ten- que a retenção de cálcio é bastante supe-
dências não saudáveis. Um bom exemplo rior durante no início da puberdade (Tanner
foi a iniciativa escandinava que conduziu I-III), comparativamente aos seus estádios
a uma diminuição do consumo dos níveis finais (Tanner IV-V). A retenção média de
de gordura de origem animal. As atletas cálcio durante o pico da velocidade de
deverão consumir maiores quantidades crescimento do esqueleto é de aproximada-
de hidratos de carbono relativamente às mente 200 mg/dia, variando consoante o
quantidades recomendadas (ver Nutrição aporte de cálcio. Aportes inferiores a 1 000
na mulher atleta). mg/dia (cerca de 800 a 900 mg/dia) con-
duzem a menor absorção e retenção de
cálcio, enquanto aportes de cálcio de 1 500
Aporte de cálcio e pico de massa mg/dia parecem potenciar retenções de
óssea aproximadamente 400 mg/dia em raparigas
durante este período de crescimento.
O consumo de cálcio das raparigas dimi- Entende-se por pico de massa óssea a
nui gradualmente desde a infância até à quantidade máxima de tecido ósseo que
adolescência de tal forma que muitas um indivíduo adquire e que é alcançado
raparigas dos 12 aos 19 anos não inge- em média por volta dos 20 a 30 anos. No
rem diariamente as 1 300 mg de cálcio entanto, a maioria da massa óssea é
recomendadas para esta faixa etária. adquirida durante a segunda década de
À excepção dos países escandinavos onde vida, especialmente nas caucasianas com
o consumo de lacticínios, fonte de cálcio, um aporte adequado de energia, de pro-
é relativamente elevado, os restantes paí- teína e de cálcio. Vários factores afectam
ses europeus apresentam um panorama o pico de massa óssea, nomeadamente
semelhante ao americano, onde o con- factores genéticos, hormonais, nutricio-
sumo médio de cálcio é reduzido. nais e mecânicos. Os factores genéticos
O cálcio é importante para a formação contribuem para cerca de 80% da varia-
da massa óssea e aumento da resistência ção da massa óssea. Os factores nutricio-
à fractura e a sua necessidade é mais nais e a actividade física constituem os
elevada, entre outros, em períodos de determinantes do estilo de vida capazes
crescimento acelerado, como é o caso da de influenciar complementarmente o pico
adolescência, período durante o qual é de massa óssea na juventude e conse-
formada cerca de 45% da massa óssea quentemente prevenir o risco de fractura
do esqueleto adulto. A formação óssea e relacionada com a idade. Entre os factores
a retenção de cálcio variam, todavia, ao nutricionais, o cálcio aparenta ser o mais
longo das diversas fases da adolescência. importante, apesar de muitos outros nu-
O ganho em altura e em massa óssea trientes afectarem a saúde do esqueleto
não ocorre de forma sincronizada, pelo (vitamina D, zinco, fósforo, vitamina C,
que poderá ser uma das razões para a vitamina K, ferro, magnésio, cobre, pro-
ocorrência transitória de uma maior fragi- teína). Apresentam-se os factores que
lidade e risco de fracturas durante a ado- durante a adolescência podem limitar a
lescência. maximização do pico de massa óssea:
Destaque
DXA
Os locais ósseos possíveis de avaliação através de DXA são a coluna lombar (L1-L4),
a anca, o antebraço e o corpo inteiro. A densidade mineral óssea (DMO) avaliada
através de DXA é expressa em valores absolutos (g/cm2) e em valores relativos,
DIAGNÓSTICO DA OSTEOPOROSE
Em termos densitométricos, considera-se existir osteoporose quando a DMO está
diminuída pelo menos em 25% relativamente ao que é considerado normal. Esta
diminuição de 25% é expressa por um T-score de -2,5 DP. Para reduções da massa
óssea entre 10 e 25%, ou seja, para um T-score entre -1 e -2,5 DP, considera-se
existir massa óssea diminuída ou osteopénia. A osteoporose pode ser diagnosticada
numa mulher pós-menopáusica ou num homem de pelo menos 50 anos se o T-
score da coluna lombar, da anca ou do colo do fémur for = -2,5 DP. Em algumas
circunstâncias o rádio distal (também reconhecido por 33%, ou um terço) pode
ser utilizado.
Regiões ósseas a avaliar:
• Avaliar a DMO da coluna lombar e da anca em todos os pacientes;
• Avaliar a DMO do antebraço não dominante nas seguintes circunstâncias: quando
a anca ou a coluna não podem ser avaliadas ou interpretadas; em caso de hiper-
paratiroidismo; em caso de obesidade extrema em que o peso do paciente
ultrapassa o permitido pela mesa do densitómetro.
Interpretação de resultados em mulheres pré-menopáusicas e em homens com
menos de 50 anos:
• Utilizar o Z-score em vez do T-score, particularmente nas crianças;
• Expressar um Z-score ≤ -2 DP como “abaixo do valor esperado para a idade”
e > -2 DP como “dentro da amplitude esperada para a idade”;
• Avaliar preferencialmente a coluna e o corpo inteiro em crianças e adolescente
(< 20 anos).
Indicações para uma avaliação da DMO:
• Mulheres com pelo menos 65 anos de idade;
• Mulheres pós-menopáusicas com menos de 65 anos e com um ou mais factores
de risco para além da menopausa;
• Homens com mais de 70 anos;
• Adultos com fracturas de fragilidade;
• Adultos com doença e/ou medicação associada a massa óssea diminuída ou a
perda de massa óssea;
• Qualquer pessoa considerada para terapia farmacológica;
• Qualquer pessoa em tratamento da osteoporose, para monitorizar o efeito do
tratamento;
• Qualquer pessoa não tratada mas na qual a evidência de perda óssea deva con-
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duzir ao tratamento.
As mulheres que interrompam uma THS devem ser consideradas para uma
densitometria de acordo com as indicações anteriores.
visto que com a gravidez as necessidades objectivos dos agentes educativos de pes-
de ferro duplicam. Alguns sinais e sinto- soas adultas devem reforçar a prática regu-
mas da deficiência em ferro são, habi- lar de actividade física, assim como a adop-
tualmente, a fadiga generalizada, a fadiga ção de hábitos alimentares equilibrados.
precoce associada à realização de activi-
dades com exigência física, a diminuição
da função imunitária, o atraso do cresci- Necessidades energéticas
mento, infecções e palidez da pele.
De acordo com as DDR, as necessidades
energéticas para mulheres suficiente-
NUTRIÇÃO PARA MULHERES mente activas com mais de 18 anos são
de 2 403 kcal/dia (ver Tabela VII.7). No
EM IDADE FÉRTIL entanto, tal como para a adolescência,
equações que considerem para além da
Atingir e manter um peso corporal ade- idade, o peso, a altura e o nível de activi-
quado, não só é crucial para a preparação dade física conduzem a estimações mais
de uma gravidez saudável, como também exactas. Neste âmbito, para mulheres com
é fundamental para a prevenção de doen- mais de 18 anos e com um IMC entre
ças crónicas, como a diabetes tipo 2, as 18,5 e 24,9 kg/m2, a necessidade energé-
doenças cardiovasculares, alguns tipos de tica diária pode ser estimada de acordo
cancro e a osteoporose. Os principais com a seguinte equação:
354,1 – [6,91 x idade (anos)] + [9,36 x peso (kg) + 726 x altura (m)] x nível de actividade física
em que o nível de actividade física é ex- tida mais seguro para a concepção de
presso através dos coeficientes referidos planos alimentares, é importante avaliar
na Tabela VII.14. as diferenças devidas ao nível da activi-
De salientar que a variabilidade do dade física, de modo a tornar as linhas
gasto energético diário é bastante ele- orientadoras mais específicas.
vada, uma vez que é aproximadamente Devido ao aumento da incidência do
de 160 kcal. Assim, se forem utilizados excesso de peso e da obesidade nos
dois desvios-padrão para estimar o gasto países mais desenvolvidos foram elabo-
energético diário para um valor médio radas equações específicas para estimar
de 2 570 kcal, a estimativa varia entre as necessidades energéticas de mulheres
as 2 250 kcal e as 2 890 kcal. Apesar do com mais de 18 anos e um IMC = 25 kg/
valor médio representar o ponto de par- /m2.
frutos, vegetais e legumes; deve consumir- gordura saturada na dieta. A carne ver-
-se com moderação alimentos mais pro- melha pode ainda gerar algumas subs-
cessados como pão branco, arroz branco, tâncias tóxicas, que poderão aumentar o
massa processada, compotas, mel e sumo risco de certo tipo de cancros, parti-
e reduzir os doces (pastelaria, confeitaria cularmente do cólon. Dados do Nurse’s
e gelados). As DDR para a quantidade de Health Study demonstraram que as mu-
fibra são de 25 g por dia para mulheres lheres que consomem carne vermelha
nesta fase da vida. semanalmente possuem um risco de de-
Tem sido demonstrado que a fibra reduz senvolver cancro do cólon mais baixo
o colesterol total, o LDL-C e diminui o do que aquelas que a consomem diaria-
risco de doença cardiovascular. Dados do mente. O peixe poderá ser uma melhor
Nurses’ Health Study indicam uma re- opção para a saúde, uma vez que fornece
dução de aproximadamente 20% no risco ácidos gordos Ω -3, que estão associados
de doença coronária por cada incremento a um risco inferior de desenvolver doença
de 10 g de fibra alimentar. Ainda no mes- cardiovascular, tanto em homens como
mo estudo, assim como noutros, foi tam- em mulheres.
bém evidenciada uma relação entre a De um modo geral, a proteína da soja
quantidade e a qualidade dos hidratos de é considerada como uma fonte natural de
carbono ingeridos (por exemplo, índice e estrogénio para as mulheres, podendo
carga glicémica), e o risco de desenvolver reduzir não só o risco de cancro da mama
diabetes tipo 2. No entanto, é necessário e de doença cardiovascular, mas também
desenvolver estudos prospectivos para con- afectar a densidade mineral óssea, parti-
firmação destes resultados. cularmente após a menopausa. Uma dieta
vegetariana que elimine a maioria das
NECESSIDADES PROTEICAS fontes animais (vegan) tem de incluir a
proteína da soja, uma vez que esta é a
Não existem diferenças entre homens e única proteína vegetal completa em ami-
mulheres relativamente às necessidades noácidos essenciais. Nas dietas vegetaria-
proteicas. Estas necessidades são sobre- nas com lacticínios ou lacticínios e ovos,
tudo estimadas a partir do peso corporal, a combinação de vegetais com proteínas
do nível e do tipo de actividade física. As dos lacticínios, soja ou ovos permite atin-
necessidades para homens ou mulheres gir os requisitos de aminoácidos essen-
sedentários são de 0,8 g/kg/dia. Estas ne- ciais.
cessidades são mais elevadas em adultos
fisicamente activos, particularmente se as Uma preocupação própria das mulheres reside no
actividades forem de natureza aeróbia ou facto de dietas com elevado teor de proteína
de força, uma vez que a intensidade do causarem excreção urinária de cálcio. De facto,
as mulheres com níveis elevados de ingestão de
exercício e a sua duração aumentam a proteína parecem correr um maior risco de osteo-
taxa oxidativa da proteína. Se o exercício porose.
ocorrer na maioria dos dias da semana e
o objectivo for o aumento da quantidade Dados do Nurses’ Health Study revelam
de massa magra, a ingestão proteica deve um aumento de 20% do risco de fractura
ser aproximadamente 1,2 a 1,8 g/kg/dia. do punho nas mulheres que consomem
As necessidades proteicas são também pelo menos cinco doses de carne ver-
mais elevadas para indivíduos que ini- melha por semana, em comparação com
ciem um programa de musculação. as que comem menos de uma dose por
As fontes proteicas podem ser dividi- semana. A proteína de fonte animal pa-
das em fontes animais e vegetais. As rece causar maiores perdas urinárias de
fontes animais, como a carne vermelha, cálcio do que a proteína vegetal. Em con-
para além da proteína, fornecem ferro, traste, a ingestão reduzida de proteína
zinco e vitamina B12 mas são também res- poderá afectar negativamente a densidade
mineral óssea. Assim, parece ser impor- quer associação. Serão necessários mais
Os estudos demonstram que uma dieta rica em • Fósforo: constituinte dos cristais de
Nutrição, Exercício e Saúde
Tabela VII.15 • Aumento de peso recomendado durante a gravidez de acordo com o IMC da
pré-grávida.
IMC anterior à gravidez (kg/m2) Aumento total de peso recomendado (kg) Variação mensal do peso recomendada* (kg)
Para reduzir o risco de hipoglicémia materna Para as mulheres que praticam exer-
deverá consumir-se entre 15 a 30 g de hidratos cício de uma forma intensa ou prolon-
de carbono adicionais por cada sessão de exer- gada as necessidades diárias de hidratos
cício de 30 a 45 minutos. Estes hidratos de car- de carbono devem ser expressas em rela-
bono adicionais devem ser consumidos 30 minu-
ção ao peso corporal prévio à gravidez e
tos antes ou durante o exercício de intensidade
moderada. baseadas na duração, intensidade e fre-
quência do exercício. Um aporte ade-
Fontes de hidratos de carbono antes do exercício Fontes de hidratos de carbono durante o exercício
Fontes de hidratos de carbono para refeições Fontes de hidratos de carbono para lanches
Quadro VII.13 • Prevenção da hipertermia da a gravidez pode ter efeitos perigosos para
mulher grávida que pratica exercício.
o feto e poderá conduzir a um parto antes
• Temperatura e humidade: de termo. Deste modo, a ingestão de lí-
– Considerar os períodos mais frescos do quidos durante e entre as refeições, assim
dia para a prática do exercício; como antes, durante a após o exercício,
– Evitar nadar em água quente ou banhos/ é uma estratégia importante para evitar a
/saunas muito quentes. desidratação. Para a jovem grávida activa,
• Vestuário: deve ser encorajado o consumo de 2,5 a
– Usar roupas leves e que possibilitem a 3 L de líquidos por dia, através de água,
transpiração durante a prática de exer- sumos, sumos diluídos, chás herbáceos,
cício. sopas e leite. Se a actividade física estiver
• Consumo de líquidos antes, durante e após limitada a 3 a 4 caminhadas por semana,
o exercício:
um acréscimo de 250 a 500 ml por dia
– 500 ml antes;
– 500 a 1 200 ml/hora durante; deverá ser suficiente, o que equivale a
– 750 a 1 000 ml após. uma ingestão diária total de líquido de
• Sintomas de mal-estar provocado pelo calor: aproximadamente 2,5 L.
– Náusea, tontura, dor de cabeça, descoor- Durante a gravidez, os micronutrientes
denação. são necessários em quantidades crescen-
• Um(a) parceiro(a) de treino poderá ajudar tes (Tabela VII.19). Recomenda-se a inges-
a reforçar a ingestão de líquidos e a prática tão diária de um suplemento vitamínico-
de exercício em segurança; mineral prescrito por um médico ou nutri-
• Intensidade e duração do exercício: cionista/dietista, tanto antes da concepção
– Considerar uma intensidade mais baixa, como durante a gravidez, a fim de reduzir
com uma duração menor.
o risco de nascimento pré-termo e/ou com
baixo peso. Uma atenção especial deve
ser dada ao ácido fólico para a redução
cam exercício devem elevar ainda mais a do risco de malformações, ao ferro, ao
ingestão de líquidos devido às perdas cálcio para as mulheres que só comem
induzidas pelo exercício. A grávida activa pequenas ou nenhumas quantidades de
deverá ser informada acerca dos efeitos lacticínios, assim como ao zinco e à vita-
perigosos da hipertermia do feto induzida mina B12, para as que seguem dietas vege-
pelo exercício. Para mais, é imperativo tarianas ou de restrição energética. Deverá
proceder-se à substituição de electrólitos, dar-se resposta às necessidades crescentes
particularmente do sódio, juntamente com adicionais resultantes do exercício através
a ingestão aumentada de líquidos para de um maior aporte de energia para cobrir
uma manutenção constante dos níveis de as necessidades energéticas. As mulheres
hidratação. activas com uma história de distúrbio ali-
mentar deverão ser encorajadas a trabalhar
Assim, existem regras específicas para a ingestão com um nutricionista/dietista para deter-
de líquidos, antes e durante a prática de exercício, minar os potenciais défices nutricionais
que se aplicam a mulheres que praticam exercí- antes e após a gravidez.
cio de intensidade vigorosa ou com temperaturas Ao iniciarem a gravidez, as mulheres
ambientais elevadas. devem ser informadas sobre os perigos
dos suplementos dietéticos e vitamínico-
Em geral, as mulheres devem consumir minerais tomados acima dos níveis das
500 ml de líquidos, entre 30 a 60 minutos DDR. A sobredosagem de algumas vita-
antes da sessão e de 500 a 1200 ml por minas solúveis na gordura e de minerais
cada hora de treino. Após o exercício, a pode ser prejudicial e deverá ser evitada
perda de líquidos deve ser reposta a 150 (Tabela VII.19).
a 200%, ou seja, 1 kg de perda de líquido Muitos suplementos dietéticos contêm
deve ser substituído por cerca de 1,5 a produtos herbáceos e botânicos, que po-
Vitamina A Vitamina D
Tiamina Ácido fólico
Riboflavina Cálcio
Vitaminas B6 e B12 Ferro
Iodo Cobre
Selénio Zinco
A hipertensão afecta 52% das mulheres como, por exemplo, as isoflavonas, pode
poder ser potencialmente benéfica, a sua protecção do risco de fractura nas mulheres insu-
adopção deverá ser discutida com o mé- ficientemente activas.
dico, uma vez que nem todas as mulheres
estão em risco de doença cardiovascular Apesar do fraco suporte científico sobre a
ou de osteoporose. Deve ainda conside- influência negativa da gordura alimentar
rar-se que existem muitos tipos de cancro no risco de cancro da mama, as mulheres
da mama e que o recurso adicional a devem ser informadas de que a ingestão
compostos com propriedades estrogénicas de álcool pode aumentar este risco.
53 estudos com cerca de 60 000 mulheres ser expressa relativamente ao peso cor-
revelaram um aumento do risco de can- poral. Assim, recomenda-se a ingestão de
cro da mama em 7% por cada 10 g adi- 5 a 7 g/kg/dia para atletas de desportos
cionais de álcool consumidos por dia. As com uma componente estética e de força/
orientações actuais recomendam para as /potência significativa e 7 a 10 g/kg/dia para
mulheres uma ingestão moderada de atletas de desportos de natureza aeróbia
álcool, limitada a um copo por dia. e de equipa.
Para além dos hidratos de carbono, as
dietas com baixas calorias, típicas das
NUTRIÇÃO NA MULHER ATLETA atletas femininas, revelam igualmente falta
de proteína e de gordura, nomeadamente
de ácidos gordos essenciais. Apesar de as
Aporte energético e nutricional necessidades proteicas das atletas serem
mais elevadas do que as das não atletas,
Verifica-se geralmente uma inadequação não se verificam diferenças quando ex-
entre a ingestão calórica e de nutrientes pressas por kg de peso corporal (nível
e as necessidades associadas a períodos recomendado: 1,4 a 1,6 g/kg/dia para des-
específicos do ciclo de treino e de com- portos com forte componente aeróbia ou
petição da mulher atleta, uma vez que o estética; 1,5 a 1,8 g/kg/dia para desportos
aporte alimentar se mantém relativamente de força/potência; até 2 g/kg/dia para atle-
constante. tas adolescentes). As atletas que seguem
No caso de uma adolescente é possível dietas hipocalóricas devem aumentar a
que a taxa de crescimento seja limitada e ingestão de proteína a fim de prevenir a
a altura final mais reduzida (por exemplo, perda pela oxidação da proteína mus-
as ginastas). Muitas atletas com aporte de cular.
energia insuficiente (com ou sem distúr- É do conhecimento geral que uma in-
bios alimentares) e/ou um elevado dispên- gestão de energia abaixo das 1 800 kcal/
dio de energia associado ao exercício dia conduz a limitações na ingestão de
micronutrientes. A ingestão de ferro, cál-
poderão sofrer de disfunção menstrual e
cio, magnésio, zinco, vitamina B e de
comprometer a saúde óssea, também co-
anti-oxidantes encontra-se relacionada
nhecida como a tríade da mulher atleta,
com a ingestão de energia. As atletas de
que será debatida mais à frente, neste
desportos com forte componente estético
capítulo.
(ginástica, dança, mergulho, patinagem)
As dietas deficientes em energia são têm maiores probabilidades de ingestão
tipicamente baixas em hidratos de car- de energia abaixo das 2000 kcal/dia, en-
bono. É necessária a ingestão de pelo me- quanto as atletas com distúrbios alimen-
nos 2 000-2 400 kcal/dia para repor o tares, independentemente do desporto
glicogénio muscular com hidratos de praticado, apresentam ingestões abaixo
carbono suficientes durante períodos de das 1 800 kcal/dia. Por conseguinte, estas
treino intenso. Contudo, algumas mulhe- atletas possuem um risco elevado de
res raramente consomem estas quanti- desenvolverem deficiências em micronu-
dades de calorias. Fadiga prematura, perda trientes.
de desempenho, incapacidade para ter- A deficiência nutricional mais comum
minar um exercício e recuperação defi- entre as atletas femininas é a anemia de
ciente do treino devem ser usados como deficiência de ferro. Esta anemia tem uma
indicadores-chave da insuficiência de prevalência semelhante nas raparigas e
hidratos de carbono nas atletas. Uma vez mulheres atletas e nas não atletas. Fadiga
que a ingestão de hidratos de carbono, excessiva, falta de ar, incapacidade de re-
expressa através da percentagem de inges- cuperar entre breves mas intensos perío-
tão calórica total, não constitui uma forma dos de actividade, palidez, consumo de
recentes sobre atletas de alta competição importante que poderá precipitar um dis-
Nutrição, Exercício e Saúde
norueguesas mostram que a prevalência túrbio alimentar. Esta pressão pode derivar
de distúrbios alimentares clínicos ou sub- de expectativas sociais onde a magreza é
clínicos é de cerca de 20%, incluindo muito frequentemente associada ao sucesso.
1 a 3% de distúrbios alimentares clínicos. As atletas envolvidas em desportos em
Os distúrbios alimentares são mais preva- que a magreza pode possibilitar vantagens
lentes nas atletas de alta competição do competitivas, nomeadamente os desportos
que nas de nível desportivo inferior e com uma grande componente estética, de
estabelecem-se tipicamente durante os natureza aeróbia ou com categorias por
anos da adolescência. pesos, correm maior risco de desenvolvi-
A anorexia atlética é considerada um mento de um distúrbio alimentar. Além
distúrbio alimentar subclínico específico disso, o ambiente desportivo caracteriza-
da população atlética, com as seguintes se por um envolvimento em que as for-
características (Quadro VII.15). mas do corpo são amplamente expostas.
Tal como acontece com as não atletas, As atletas partilham quartos, cacifos e du-
o percursor principal dos distúrbios ali- ches, e o vestuário desportivo permite
mentares nas atletas é a dieta ou uma uma fácil comparação das formas do corpo,
alimentação restritiva com o objectivo de figura e tamanhos.
perder peso. Apesar de, provavelmente, a
dieta não ser suficiente para despoletar Se existir uma predominância de atletas mais altas
um distúrbio alimentar, o facto de se tratar e mais magras, as outras poderão interpretar a
magreza como um factor determinante no desem-
de uma atleta de um desporto que enfa- penho desportivo.
tiza a magreza é-o. A pressão para man-
ter ou atingir um peso corporal baixo e, Os desportos de competição também
particularmente, uma percentagem de atraem as perfeccionistas, as atletas com
gordura corporal muito baixa é um factor tendências compulsivo-obessivas orienta-
Características essenciais
• Perda de peso > 5% do peso do corpo esperado; *
• Ocorrência tardia da menarca (sem menstrução até aos 16 anos);
• Disfunção menstrual (amenorreia e oligomenorreia);
• Queixas gastrointestinais;
• Ausência de doença ou de distúrbio clinicamente comprovado que explique a perda de peso
• Distorção da imagem corporal;
• Receio excessivo do aumento de peso ou de ficar obesa; *
• Restrição da ingestão de energia (< 1 200 kcal/dia); *
• Utilização de métodos de purga (por exemplo, indução de vómitos, laxantes, diuréticos);
• Compulsão alimentar periódica;
• Exercício compulsivo.
escolar para atletas femininas adoles- clínicos. Existe, no entanto, um grande nú-
Nutrição, Exercício e Saúde
Comportamento alimentar
normal
Anorexia Bulimia
nervosa nervosa
EDNOS EDNOS
Restrição Voracidade
alimentar ocasional
Distúrbio
Eating Disorder Not Otherwibe Specipied voracidade
(Distúrbios alimentares não específicados) alimentar
de o número de jovens que procura ajuda Em muitos casos de AN, é normal a pessoa
dentárias, lábios e mãos gretados e língua EDNOS também são considerados como
inflamada ajudam a identificar os pacien- distúrbios alimentares clínicos e caracteri-
tes com BN. Apesar de não constituir um zam-se por um ou mai dos critérios do
critério de diagnóstico, a disfunção mens- DSM-IV apresentados no Quadro VII.18.
trual é comum nos indivíduos que sofrem
de BN e o excesso de prática de exercício
é frequentemente usado como um método Distúrbios alimentares subclínicos
de purga.
Desde 1980, ano em que o distúrbio ali-
DISTÚRBIOS ALIMENTARES NÃO mentar subclínico é proposto como con-
ceito, que muitos estudos têm revelado
ESPECIFICADOS que a mulher demonstra uma patologia
Os distúrbios alimentares não especifi- alimentar e preocupações com o peso
cados referem-se a distúrbios que não corporal significativos, sem que as carac-
integram todos os critérios da AN ou da terísticas manifestadas se enquadrem nos
BN como, por exemplo, uma mulher com critérios definidos para os distúrbios ali-
todos os critérios da AN à excepção de mentares clínicos. Os distúrbios alimen-
um peso corporal ligeiramente acima do tares subclínicos podem igualmente ser
limiar de diagnóstico, ou uma mulher com independentes de qualquer causa psicoló-
ciclos periódicos de alimentação compul- gica. As mulheres com distúrbios alimen-
siva com uma duração inferior a três me- tares subclínicos apresentam padrões
ses. Apesar do peso e da imagem corpo- de alimentação desregulada com ou sem
ral constituírem a área de enfoque central a utilização de métodos patológicos de
das pessoas com EDNOS, o peso corporal controlo de peso. Constituem grandes
encontra-se habitualmente dentro dos desafios a identificação de mulheres que
limites normais. Todavia, a maioria destas sofram destes distúrbios, pois não são
pessoas vêm a desenvolver AN ou BN. Os facilmente identificáveis, assim como a
por uma jovem para um distúrbio alimen- ganhar algum peso. O tabaco é, todavia,
tar. O primeiro passo para um envolvi- um dos principais factores de risco de
mento mais construtivo é a redução da muitas doenças, e os benefícios de deixar
crítica ou dos reparos constantes sobre a de fumar em qualquer momento da vida
forma ou o peso do corpo e a educação são muito mais importantes do que pe-
dos pais e professores sobre os efeitos quenas alterações do peso corporal, quando
destrutivos deste tipo de comportamentos. estas ocorrerem. Estar cronicamente em
Encorajar as refeições em família e faci- dieta pode conduzir a uma perda de ener-
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