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MEMORIAL:
HISTÓRIA, PERCURSO E REFLEXÃO DA MINHA AÇÃO DOCENTE
MEMORIAL:
HISTÓRIA, PERCURSO E REFLEXÃO DA MINHA AÇÃO DOCENTE
Agradeço de coração a minha orientadora Profa. Dra. Renata de Souza Reis que
mesmo a distância me apoiou muito nesta empreitada, assim como agradeço a
tutora presencial Francine Nunes da Silva assim como os tutores a distância das
disciplinas, à minha família, meus companheiros do grupo do “WhatsApp” do curso
aos quais recorri muitas vezes por apoio.
“A liberdade, que é uma conquista, e
não uma doação exige uma
permanente busca. Busca
permanente que só existe no ao
responsável de quem a faz.
Ninguém em liberdade para ser livre;
pelo contrário, luta por ela
precisamente porque não a tem.”
Paulo Freire
RESUMO
The importance of remember the docent practice. This paper written as work of
conclusion of postgraduation course in teaching of sociology for basic education by
the Federal University of São João Del-Rei in the modality of Distance Education, as
Bosi (1983) says when speak remember in the most of time is not revive but rethink
with the ideas of today so to remember the way I’ve walked into today is an act of
reflation.
This paper is justified because it talks about the memory and the memory is
formulation of sense to docent job, cause my job is a reflexive job and because as a
teacher I am influenced by my experiences and my personal history which is
reflected in my work at class room. So, I believe there's no neutrality. Freire (1983)
said education while an act of knowledge, is also a political act.
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8
4. A EXPERIÊNCIA DOCENTE.......................................................................................... 21
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 28
1. INTRODUÇÃO
Engenheiros do Hawaii
Naquela época, ainda havia poucas vagas na única escola pública do bairro,
a Escola Municipal Sampaio Correia, a escola não era acessível a todos, no entanto
era considerada uma escola de qualidade e eu sonhava em estudar lá, mas não
consegui, era necessário ficar ao menos dois dias na fila, minha família nunca se
dispôs a ficar nesta fila, não me recordo porque razão.
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Nossa família não tinha muito, mas não nos faltava nada na infância, naquela
época meu pai já era aposentado como estivador e trabalhava no Sindicato Nacional
dos Marinheiros e Moços de Máquina em Transporte Marítimos e Fluviais na avenida
Venezuela no Centro do Rio fazendo serviços de banco e de entrega de
documentos.
por aluno que estudava lá, era mais acessível, por isso meu pai decidiu nos
matricular lá, porém embora eu gostasse da professora eu já era alfabetizado e as
crianças que estudavam lá ainda estavam nesta fase, assim nem eu nem minha
irmã nos adaptamos e foi só com o advento do governo de Leonel Brizola que houve
uma expansão no sentido de universalização do ensino básico com a criação dos
Centros Integrados de Educação Pública (CIEP), mas conhecidos popularmente
como “brizolões” e uma vizinha tentou nos matricular lá, sem êxito até que minha
família entrou numa crise financeira profunda, nosso pai foi trabalhar como caseiro
nos levando com ele e depois de passar em alguns lugares sem estudar nos
mudamos para cidade de Itaguaí, lá que sozinho fui me matricular no CIEP Djalma
Maranhão.
Foi um choque a nova escola, era uma escola de tempo integral pensada
para ser de qualidade, no entanto, era para lá que as crianças que nunca tiveram
acesso à escola iam, era violento, eu apanhava todos os dias e foi muito difícil, aos
poucos passei a não gostar da escola, pois eu era quieto e o mundo que a escola
me oferecia estranho e embora gostasse de estudar e passasse horas eu e os livros
em casa e logo parei de frequentar aquela escola, as vezes tentava estudar a noite,
não conseguia, muitas vezes pela violência, e demorou muito para com 30 anos,
terminar meus estudos tanto o ensino fundamental quanto médio em 6 meses
dentro do Centro de Ensino Supletivo Paulo Decourt, que na época funcionava na
Unicamp, quando eu já morava na região de Campinas no estado de São Paulo e
trabalhava como gari numa empresa de limpeza urbana da cidade vizinha de
Paulínia.
3. A FORMAÇÃO ACADÊMICA
No início dos anos 2000 me mudei para o estado de São Paulo, em busca de
trabalho e buscando me afastar dos fantasmas, isto é, das tristezas que me
acompanharam na adolescência no Rio de Janeiro, meu estado natal. Em São Paulo
conheci o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do polo regional
da Grande São Paulo, onde acompanhei o acampamento Camilo Torres pelas
cidades de Cajamar e Franco da Rocha, mais por aproximação ideológica, uma vez
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Eu morava sozinho, e o que ganhava como gari dava para me sustentar, mas
nesta época que já morava na cidade de Paulínia e o que eu ganhava era para
pagar aluguel, me manter, mas não sobrava para pagar uma faculdade, pois nesta
região os cursos superiores então custavam muito além do que eu podia pagar.
muitos problemas e mesmo por desemprego, algo muito difícil e assim que consegui
um emprego resolvi estudar.
Embora eu tivesse uma tendência natural em gostar da política, não era algo
tão natural, estudar sistemas partidários, estudar tendências da democracia,
comportamento eleitoral, era algo que não me agradava tanto, pois a meu ver não
parecia algo prático, eu era mais militante social, não mais tão marxista como no
período do MST, já que a convivência com outros autores ampliou meus horizontes,
mas ainda assim eu queria ir a campo, não me agradava pensar em ficar sentado
pensando na arquitetura política, eu queria estar com pessoas, na comunidade. Fora
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isso, a política me parecia muito difícil, me recordo de certa vez que um professor
argentino pediu a leitura de cinco livros para prova, eu que neste período já era
casado e já lecionava como professor temporário de sociologia só li três, por falta de
tempo, mas também de interesse e o professor leu e comentou minha prova e
cobrou as duas questões que havia deixado em branco e me justifiquei dizendo que
não queria ser cientista político e sim sociólogo e é claro, levei uma bronca do
professor tão grande que não me esqueci mais, ainda assim, ele me deixou com a
nota necessária para a aprovação.
Figura 4- Escola Estadual Itinerante Sementes do Amanhã do acampamento do MST de Matelândia, PR.
Figura 5 - Escola Básica Augusto Roa Bastos do assentamento Comuneros, Minga Guazú, Alto Paraná,
Paraguai.
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Figura 6 - Escola básica 393 do Assentamento Paraje Nueva Argentina, Colônia Wanda, Província de Misiones,
Argentina.
No ano de 2015 após cinco anos me formei e apesar nos estágios como
bacharel e das experiências, inclusive fora do país, nos projetos da universidade e
nos congressos, acabei optando ao fim por permanecer como professor ao invés de
seguir a carreira como bacharel.
O curso foi extremante rico pra mim, me deu uma base muito rica, foi difícil,
muitas vezes pensei que não iria me formar, mas foi muito legal, neste período fiz
amigos de muitas nacionalidades, conheci outros países, Argentina e Paraguai, mas
também tive a oportunidade de participar de um laboratório de observação de
eleições, de participar de encontros do MERCOSUL Social em Brasília e em Foz do
Iguaçu, aprendi falar espanhol, mas não nego que durante todo o curso tive dúvidas,
eu no começo do meu período na UNILA queria voltar a estudar na rural.
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Figura 7 - Foto dos formandos de ciências política e sociologia 2015 primeiro semestre da UNILA
4. A EXPERIÊNCIA DOCENTE
Nunca fui um grande idealista, aquela pessoa que tomou a docência como
uma missão, na verdade são as experiências que me mostram a cada dia o sentido
de estar numa sala de aula e não nego, em grande parte, este sentido se
desenvolveu ligado a minha própria necessidade de sobrevivência, de estar
entregado e das oportunidades que a vida tem me oferecido, mas esta experiência
não se resume a isso, se não lecionar não faria sentido. O posso pessoalmente dizer
é que tenho muitos problemas em fazer o que não faz sentido e por isso, quando
vejo um aluno, se destacando e progredindo, isso tem todo o sentido para mim e em
parte é o que dá sentido à minha ação docente.
Uma vez ouvi uma história, não sei sua origem, porém ela sintetiza bem o que
quero dizer, ela diz:
Certa vez chamaram um ceifador, perguntaram quanto você ganha por dia,
ele respondeu que ganhava três dinheiros, então ofereceram lhe dez dinheiros por
dia, se ele ceifasse o vento durante todo o dia. Sua função era simples, ceifar um
espaço limpo, sem vegetação e no mesmo lugar por todo o dia, após poucos dias
ele entregou o trabalho e justificou ao dizer: “Não consigo ver sentido no que faço”,
desta mesma forma, me sentiria muito mal lecionar apenas significasse satisfazer
uma necessidade de sobrevivência, especialmente com o que enfrentamos todos os
dias, isto é, salas cheias, com 40 e 45 alunos, onde muitos insistem em jogar
baralho e explicar a matéria é quase uma missão impossível e tudo isso pesa
demais, não posso negar, as vezes saiu da sala de aula desejando nunca mais ter
que entrar nela, mas são os pequenos resultados, ver os estudantes progredindo,
que dá sentido ao que faço.
concurso no Estado de São Paulo, assumi na mesma escola que ainda trabalho há
pouco mais de um ano e meio e foi muito difícil, quando cheguei enfrentei a
realidade de salas lotadas, de não ter direito se que de imprimir minhas provas,
assim eu tinha que copiá-las na lousa e os alunos chegaram a me jogaram lixo na
cabeça e muitas vezes eu no meu intimo implorava para voltar para o Paraná e foi
um ano assim e o pior é que meu salário tinha baixado cerca de um terço ao mesmo
tempo que os custos aumentaram e desta forma eu mal conseguia manter a mim e
minha família, devido as dívidas que fiz por conta da mudança.
Como professor me esforço, quero saber mais, muitas vezes sou muito crítico
ao sistema apostilado e ao currículo engessado da Rede Estadual de São Paulo,
pois quero aprender, quero ensinar e ter relação com as necessidades dos
estudantes, quero usar jogos, quero de alguma forma fazer a diferença, mas não é
simples assim, não há efeito prático em tudo que um professor faz, os filmes
pedagógicos com os professores que transformam salas da periferia e são quase
que heróis muitas vezes não funcionam na prática da sala de aula para a nossa
realidade, as vezes o máximo que dá pra fazer é copiar a matéria na lousa, torcer
para os estudantes copiarem e não brigarem na sala de aula, esta é muitas vezes a
realidade de um professor da periferia, é a realidade na qual me enquadro!
alunos deixem de jogar baralho durante a aula, mas a gente aprende com estas
turmas muito, a dureza da vida deles, passar necessidade, vir de uma família e
comunidade degradada, as vezes o que você tem a dizer não é o mais importante
para aquele momento, é aí que é preciso ter humildade e na minha experiência
pessoal nunca usar uma postura autoritária teve efeito real, pelo contrário, quando
tentei só ampliou a distância entre eu e os estudantes que estavam na minha frente.
Já tive estudantes na minha sala que tinham deficiência, as vezes eles não
conseguiam avançar como os outros da mesma sala, precisei inclusive da ajuda dos
outros estudantes que se tornaram apoiadores na sala de aula, devido as condições
que se tinha naquelas circunstâncias para lecionar para eles, porém o que eles
conseguiram avançar fez toda a diferença e é assim, tem alunos que conseguem ir
bem na minha matéria, outros não tão bem, mas que são ótimos em cálculo. Desta
mesma forma, as vezes apesar esforços, um professor não consegue da mesma
forma avançar em todas as turmas, há muito mais variáveis do que a mera vontade
e esforço pessoal, no entanto, o esforço é de contribuir para que o aluno vá além,
dentro da contribuição que a escola pode dar, que é sim importante é o sentido de
estar numa sala de aula.
talvez seja sim, porém não como regra, talvez apenas como exceção, daí a
educação escolar é limitada, ela é essencial como oportunidade individual, uma vez
que num mundo de competição jamais todos poderiam ser médicos, advogados
importantes ou empresários bem sucedidos mesmo se quisessem, estes são os
limites de uma sociedade capitalista, embora eu ainda, neste momento histórico,
tenha dificuldade de ver uma alternativa ao capitalismo, mas a escola em si é
nascida como necessidade da sociedade capitalista, como destaca Althusser.
Não obstante, não me curvo a uma visão fatalista da educação, pois como
destaca Freire (1996) correndo o risco, se assim fizer de tornar preconceituoso,
infeliz no sentido de não ver sentido no que faço, pelo contrário, ao invés de uma
visão fatalista, assim como a educação teve um papel importante na minha própria
vida, vejo a importância de me tornar um professor ético e comprometido e
sobretudo esperançoso.
Me recordo de uma das entrevistas que fiz para o meu trabalho de conclusão
de curso na graduação sobre políticas educacionais voltada para as áreas rurais,
uma delas foi com a coordenadora de educação do campo do NRE de Foz do
Iguaçu, ela falou sobre o trabalho com os quilombolas de São Miguel do Iguaçu, ela
disse que devido a situação de pobreza, distanciamento e abandono que viviam eles
tinham dificuldades de aceitar a identidade quilombola, pelo contrário, buscavam
fugir. Desta forma as políticas educacionais se não acompanhadas de políticas
sociais tinham pouco efeito prático.
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Muitas vezes é preciso compreender o tempo dos alunos é outro, que ele
precisa desenvolver maturidade, daí o que se ensina hoje requer compreensão,
tempo, por isso, não podemos perder a vontade ou simplesmente a ética de ensinar
com desejo, ao passo que tudo parece simplesmente nos forçar a apenas seguir,
pois se a educação não é tudo, não dá conta de tudo, ela é sim muito importante,
tem uma função importante para nos formarmos como humanos, e sobretudo para
classe trabalhadora ela representa poder.
5. CONCLUSÃO
Espero que este modesto relato eu possa contribuir para entender um pouco
da realidade, dos sonhos e das angustias de um professor, de seu trabalho de
ensinar não de forma individual, mas com a contribuição de outros professores
formar um mosaico, algo muito importante, tanto pra mim no papel de refletir sobre
minha profissão como para se pensar a realidade de uma sala de aula a partir de
quem está dentro dela, isto é, professores e alunos.
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6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA