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Nelson Colossi*
Aldo Consentino**
Etty Guerra de Queiroz***
RESUMO
Este trabalho insere-se na linha atual de preocupações advindas de uma
sociedade em constante transformação, como conseqüência dos caminhos
tomados para o desenvolvimento, particularmente sobre as mudanças que
ocorrem nas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. Tem como
perspectiva a exposição e discussão das transformações que afetam estas
instituições, tomando como base a compreensão do modelo de campo de
forças de Lewin. Buscou-se observar a configuração do campo de forças
nas IES, bem como das transformações em curso, para finalmente chamar
a atenção para uma tendência dentro do campo de força das instituições,
* Administrador de Empresas pela
que se concentra na propagação do ensino colaborativo. Universidade Federal do Rio Grande
do Sul ( UFRGS ), Doutor em
Palavras-chave: IES, mudanças organizacionais, ensino colaborativo. Administração Universitária pela
George Washington University.
Professor no Curso de Mestrado e
Doutorado em Administração da
Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC).
ABSTRACT E-mail: colossi@cse.ufsc.br
** Engenheiro Eletricista pela Universidade
Societies transforming itself as a consequence of the direction choosen Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
for its own development. It is worried about the changes that occur within Doutorando em Engenharia da
Produção pela Universidade Federal
the upper-education institutions in Brazil (IES).This work focus on these
de Santa Catarina (UFSC).
changes, having as perspective the presentation and quarrel of the hashings E-mail: ac@cse.ufsc.br
and their effect over these institutions. By observing the Lewin‘s Field
*** Administradora de Empresas pela
of forces, as well as of the occurring changes and finally, pay attention to Universidade Federal de Viçosa
the tendencies within the Field of forces, which concentration in itself is (UFV), Mestranda em Administração
the growing of the collaborative learning. pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC).
Key words: IES, organization changes, collaborative learning. E-mail: egqueiroz@bol.com.br
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conhecimento teórico e prático. Pois, de acordo com A Universidade é um exemplo de instituição que
as palavras de REALE (2000), nada é mais perigoso faz parte desse sistema, cabendo-lhe o compromisso
do que a oferta excessiva e indiscriminada de de gerar o saber, o qual está relacionado com a
informações. Trata-se de discutir as finalidades verdade, justiça, igualdade e com o belo. A verdade,
essenciais do ensino, para que se chegue a conclusões como base para a construção do conhecimento; a
mais certeiras, no que diz respeito a sua implementação. justiça, em que se ampara a relação entre os homens;
a igualdade, porque é parte fundamental na consecução
2 A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO da estabilidade social; e a beleza, como um instrumento
através do qual se expressam sentimentos, o que diminui
INSTITUIÇÃO SOCIAL
a superioridade do apelo racional que é parte das
No que se refere ao ensino superior essa situação opções de busca do homem.
permanece. Muitas vezes tal discussão apresenta um
caráter paradoxal. Quando observadas as normas e leis 3 EVOLUÇÃO E PROJEÇÃO DO ENSINO
que o regulamentam vêm inúmeras reflexões, devido às SUPERIOR NO BRASIL
várias formas de interpretação dadas pelos interessados
na matéria. Suas propostas de implementação refletem O interesse da sociedade pela educação superior
a resistência que existe em função da necessidade de tem aumentado significativamente. Na realidade, pode-
acompanhar os modelos de visão que atendem aos seus se dizer que a história do progresso humano coincide
interesses. Apesar de pressões da Lei de Diretrizes e com a história dessas instituições.
Bases de 1996, das mudanças globais, de transformações No Brasil, a educação superior é parte integrante
na percepção quanto à qualidade de ensino, há uma da história da sociedade brasileira. A literatura mostra
tendência à manutenção das características atuais do que a chegada da Família Real Portuguesa em 1808,
ambiente ligado ao ensino superior, pois sua estrutura de fugindo das forças napoleônicas, foi a razão inicial
poder é composta por diferentes blocos de interesse. para a criação das primeiras escolas superiores
Nas raízes da expansão do ensino superior, observa-se brasileiras, devido principalmente a pressões
a predominância dos critérios de busca de atendimento exercidas pelas elites da sociedade de forma geral.
de necessidades voltados para o mercado, ou seja, Alguns levantamentos revelam o aparecimento das três
prevalecem critérios econômicos. Ocorre, assim, a primeiras instituições de ensino superior no Brasil:
comercialização do ensino superior, a predominância de Escola de Medicina do Rio de Janeiro, Escola de
critérios utilitaristas, com o prejuízo de ações que Medicina da Bahia e Escola de Engenharia e Arte
privilegiem os aspectos sociais e o atendimento aos Militar do Rio de Janeiro.
interesses de um pequeno grupo. Cabe discutir a forma Algumas datas ilustram, também, a trajetória da
de compreensão empregada ao ambiente de Educação educação superior no Brasil. Em 1827 foram criados
Superior, que deve ser muito mais do que a simples os Cursos de Ciências Jurídicas em São Paulo e em
categorização do status educacional de um indivíduo. Olinda. Em 1889, a República se desenvolve com a
A educação superior é uma instituição social, cujo criação de 14 Escolas Superiores. A Universidade de
papel fundamental é formar a elite intelectual e científica Manaus, criada em 1909, mostrou a força do ciclo da
da sociedade a que serve. Uma instituição social borracha e, em 1912, a Universidade do Paraná, no
caracteriza-se pela estabilidade e durabilidade de sua contexto do ciclo do café. Posteriormente foram criadas
missão. Além disso, é estruturalmente assentada em a Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, de Minas
normas e valores emanados do grupo ou sociedade em Gerais, em 1927, de São Paulo, em 1937, e, em 1961,
que se insere. Uma instituição social é, fundamentalmente, a Universidade de Brasília.
um ideal, uma doutrina. Assim, a educação superior é Hoje, o ensino superior no Brasil viabiliza-se em
uma instituição social, estável e duradoura, concebida a cerca de 900 instituições de ensino. Pouco mais de
partir de normas e valores da sociedade. É, acima de uma centena é constituída como universidade. As
tudo, um ideal que se destina, enquanto integrador de demais são estabelecimentos isolados de ensino
um sistema, à qualificação profissional e promoção do superior ou federações de escolas integradas. Segundo
desenvolvimento político, econômico, social e cultural. dados oficiais do Ministério da Educação de 1994,
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do conhecimento ou nas informações, é necessário da seguinte forma: o sistema social é dividido em
empreender estudos sobre todas as forças que partes, segundo a forma de associação dos padrões,
favoreçam a construção de um conceito. atitudes e expectativas e normas de comportamento.
Nas mudanças organizacionais, ou seja, em que Observando instantes de mudança, de LEWIN
o campo de força tende para uma resultante, qual (1965), nota-se que eles podem ser divididos em três
seja, melhoria de desempenho, aumento de fases: ruptura do estado estável inicial, depois um
produtividade ou reorganização administrativa, existem período de turbulência com probabilidade de
forças de impulso e forças de reação contrárias a estes adaptação e, finalmente, um período de consolidação
impulsos ou a essas mudanças. LEWIN (1965) da mudança em uma nova circunstância de
adverte que as forças impulsionadoras podem estabilidade. LEWIN (1965) trabalhou a idéia de que
despertar e ativar as forças de restrição, e é por isto o status quo representa um equilíbrio entre a barreira
que nem sempre as forças impulsionadoras são as de mudanças e as forças que estão favorecendo estas
que melhor proporcionam aumento do desempenho mudanças, isto desde o ano de 1928, data em que
organizacional. Muitas vezes é a redução das forças consagrou sua Teoria de Campo. Ele acreditava que
restritivas o meio mais eficaz de encorajar mudanças uma diferença entre as forças pelo enfraquecimento
e aumentar o desempenho da organização. do estado das barreiras ou um fortalecimento da
Baseando-se nesta teoria, pode-se afirmar que direção das forças é o suficiente para produzir um
um programa de mudança planejada destina-se a criar abalo que desencadeia o início da mudança.
ou aumentar as forças impulsionadoras de mudança na
organização e, ao mesmo tempo, remover ou 5 CAMPO DE FORÇAS EM IES NO BRASIL:
enfraquecer as forças restritivas ou de resistência a
EM BUSCA DA TRANSFORMAÇÃO
mudanças. As forças impulsionadoras são
representadas pelas mais variadas estratégias de Na figura 1, a seguir, que relaciona a situação das
mudança e inovação organizacional, enquanto as forças forças de mudanças no ensino superior no Brasil, há
restritivas podem ser reunidas para fim técnico didático, uma representação da situação onde se encontram
em três grupos básicos: a) forças oriundas da cultura tensões/forças que são geradas pelas necessidades
organizacional; b) forças impulsionadas por interesses relacionadas aos acontecimentos ligados à educação
pessoais; c) forças oriundas de percepções diferentes superior no Brasil, bem como às transformações
de objetivos da organização. As forças de restrições políticas, sociais e econômicas que ocorrem e suas
representadas por valores, cultura e interesses pessoais correspondentes resistências. As forças que tendem
(que guiam e influenciam os comportamentos dos para uma locomoção, ou seja, as forças impulsionadoras
indivíduos) atenuam a força impulsionadora. do campo de forças do ambiente das IES, também
LEWIN (1965) é o responsável pelo conceito correspondem a novas frentes de necessidades
de resistência a mudanças. Entretanto, seu modelo é reconhecidas pelo próprio ambiente.
muito diferente do que é utilizado nos dias atuais. Tal Analisando o campo de forças das IES, fica clara
conceito foi desenvolvido baseado na pessoa como a existência de forças que impulsionam as mudanças
um campo complexo de energias no qual todo em seu ambiente interno, conforme mostra a figura,
comportamento é concebido através da mudança em dentre as quais pode-se citar: a) a nova Lei de
algum estado do campo. Para o autor, a resistência a Diretrizes e Bases, que estabelece critérios para
mudanças pode ocorrer e deve vir de algum lugar credenciamento e descredenciamento; b) o provão,
dentro do sistema. Isto vem ao encontro das idéias como uma forma de avaliação de desempenho nos
de KOTTER (1997), segundo o qual há possibilidade cursos; etc.) a avaliação institucional, que em conjunto
para a resistência estar localizada de forma individual, oferece garantias de expansão do ensino com
mas isto é muitas vezes mais provável de ser qualidade e qualificação do docente e pessoal técnico-
encontrado em qualquer lugar do sistema. Uma breve administrativo. No cenário econômico têm-se: perda
revisão do trabalho de LEWIN é necessária para do poder aquisitivo da classe média; modificações
avaliar sua perspectiva. Alguns autores descrevem a de valores sobre o ensino superior; competição entre
forma de mudança organizacional e social de LEWIN novas instituições e aumento de custos da educação.
NOVA LDB
SITUAÇÃO ATUAL
RESISTÊNCIA NATURAL A MUDANÇAS
Credenciamento e recredenciamento
Provão
Avaliação institucional DEFESA DE INTERESSE DE GRUPOS,
Qualificação docente e do pessoal técnico- PRIVILÉGIOS PESSOAIS E
administrativo INSTITUCIONAIS
GLOBALIZAÇÃO
CONCEPÇÃO DE QUALIDADE
MEDO DE ACOMPANHAR
Cultura da qualidade em educação superior NOVAS POSTURAS
EDUCACIONAIS
Ênfase no ensino centrado do aluno
Acresce-se a isto o aparecimento de novas nuanças conexão de tráfego de dados, favorecendo o usuário
políticas que acompanham o processo de globalização, em termos da qualidade em educação superior.
exercendo influência direta no sistema educacional. As mudanças organizacionais atingem
As trocas decorrentes da internacionalização dos subsistemas dentro da sociedade, relacionados com
mercados podem se constituir na competição de a estrutura, cultura, tecnologia, ambiente e pessoas.
instituições internacionais de ensino superior passando Mudar seria alterar as variáveis estruturais e os
a ser tratadas como um empreendimento, muitas vezes aspectos que se relacionam com elas. Na tecnologia,
em detrimento do seu objetivo mais comum. Há obtêm-se mudanças pelas alterações no processo de
também, entre as forças impulsionadoras da trabalho, no produto e em equipamentos. O ambiente
globalização, as inovações tecnológicas do ensino, organizacional pode sofrer mudanças pela troca de
como a Internet, que, de acordo com pesquisas do local de trabalho, entre as pessoas dentro da empresa,
Instituto Brasileiro de Pesquisa (2000), vem sendo por alterações em suas atitudes, comportamentos,
intensificada pelo crescimento na adoção de habilidades e perspectivas. No subsistema social
computadores e pelo aumento na velocidade de denota-se a possibilidade de mudanças de valores,
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comportamentos, normas e cultura. Ressalta-se que, encontram dificuldades para atuar no mercado de
no caso da cultura, deve haver uma reserva na medida trabalho. Para o autor, o mercado “vive uma constante
em que, conforme RIBEIRO (1969), trata-se de uma evolução (obrigatória, pela competitividade dos dias
réplica conceitual da realidade que é transmitida de hoje) que não foi acompanhada no decorrer da
através de símbolos de geração a geração. Assim, educação desse novo profissional”. (1999, p.2).
torna-se mais fácil mudar a estrutura do que a cultura, PALDÊS (1998) concorda com esses argumentos,
uma vez que esta exige uma reformulação nos valores ao afirmar que uma das finalidades do ensino superior é
centrais da organização. constituir-se na etapa final da formação cultural e
A compreensão da dinâmica do processo de profissional do cidadão, endereçando-o para as funções
mudanças dentro das organizações, e especificamente de investigação científica, produção e difusão do
no caso das IES, revela os caminhos possíveis para conhecimento. Todavia, o recém-graduado subitamente
uma redução nas barreiras impostas, pois atribui um vê-se em um mundo onde a globalização, a
maior domínio da situação pelo conhecimento do todo. instantaneidade das comunicações e os modernos
Assim acontece quando se reconhecem as tensões recursos tecnológicos eliminaram os limites geográficos,
ou forças ligadas às necessidades relacionadas à estabelecendo novos parâmetros geopolíticos, que
educação superior no Brasil. É o caso da busca por geram rápidas e profundas transformações, cada vez
uma maior flexibilidade no sistema de ensino, que na mais aceleradas e bruscas.
atualidade exige uma reformulação para a adequação Autores, entre os quais pode-se citar CAMPOS
das necessidades impostas. et al. (citado em MONTEIRO , COSENTINO e
MERLIN, 2000), afirmam que essa nova configuração
tende a ser desenvolvida a partir de três ambientes
6 A UNIVERSIDADE DO PRÓXIMO MILÊNIO: distintos, caracterizados pela conexão, colaboração e
ENSINO COLABORATIVO comunicação. O ambiente conectivo possibilita
conexões rápidas e flexíveis entre indivíduos, grupos e
Muito se tem falado de novas modalidades de sociedades. Já o ambiente colaborativo permite a
ensino, criadas através da utilização de tecnologias utilização das conexões para a resolução conjunta de
de última geração. Qualquer tecnologia dentre as problemas e a produção de novos conhecimentos. E,
existentes, mesmo as mais antigas, apresenta por fim, o ambiente comunicativo permite a construção
vantagens e desvantagens, afetas a cada situação em de um significado mútuo para os novos conhecimentos.
particular, sem que haja um claro predomínio em Todo esse novo contexto educacional é
termos de eficácia. O problema não reside enfatizado por MASON (1998), quando estabelece
especificamente na tecnologia, senão na forma de que as tendências ou correntes ligadas ao ensino na
ensino: evidências no sentido da caracterização de educação superior são grandemente influenciadas pela
uma nova Universidade, com novas modalidades importância da interatividade no processo de
pedagógicas de ensino e aprendizagem sendo aprendizagem. Para o autor, tais requerimentos tendem
propostas (MONTEIRO, COSENTINO e MERLIN, a promover uma mudança de regras, que transforma
2000; WOODS JR. 2000; CENA, 2000). o professor de ‘sábio’ em ‘guia’, gerando, com isso,
Para muitos estudiosos, como WOODS JR. a necessidade de desenvolver habilidades ou
(2000), a estrutura de ensino e a formação profissional competências para a gestão do conhecimento e para
nacional são geralmente precárias, não tendo o trabalho em grupo. Tais especificidades propiciam
condições de acompanhar as exigências de mudanças a chamada aprendizagem cooperativa.
ocorridas no mercado de trabalho. Isto se considerados Portanto, a mudança tenderá a ocorrer também
o distanciamento entre o conteúdo das disciplinas, por meio da experiência do professor ou instrutor.
constante nos currículos, e a velocidade das Nesse caso, o professor transforma-se em condutor,
transformações nos vários campos do conhecimento em bandeirante ou desbravador de conhecimentos.
científico e tecnológico, característica da atualidade. Associado a esse novo papel exige-se a configuração
Sobre o tema, FERREIRA (1999) destaca que os de novas tendências ou correntes pedagógicas, que
profissionais graduados costumam ter uma formação efetivamente representem transformações similares,
diferenciada das demandas da realidade. Portanto, não só nos alunos (ou aprendizes, como se quer hoje),
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REFERÊNCIAS
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MONTEIRO, A. V.; COSENTINO, Aldo; MERLIN, L. Tendências pedagógicas e ensino à distância: conjeturas em direção a
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VELOSO, N. A. Administração em educação. Rio de Janeiro: Livros Técnicos, 1999.
WOOD JR, Thomaz. Reformando o ensino e o aprendizado de gestão da produção e operações. In: SIMPOI, 2., 2000.
São Paulo. Anais... São Paulo: EAG/FGV, 2000.
RESUMO
Este artigo apresenta uma análise teórica sobre as relações entre avaliação e aprendizagem
na educação superior. Tendo por base a perspectiva fornecida por um conjunto de pesquisas
a respeito da avaliação no contexto do ensino universitário, analisamos a influência que as
práticas de avaliação exercem sobre a abordagem dos alunos em relação à aprendizagem.
Também exploramos o conceito de estilo de pensamento, fundamentados nos escritos de
Sternberg (1997). Ao final, tecemos algumas considerações acerca da importância das escolhas
avaliativas exercidas pelos professores que atuam na graduação.
Palavras-chave: ensino superior, avaliação da aprendizagem.
RESUMEN
Este artículo presenta un análisis teórico sobre las relaciones entre evaluación y
aprendizaje en la enseñanza superior. Teniendo como base la perspectiva suministrada
por un conjunto de investigaciones sobre la evaluación en el contexto de la enseñanza
universitaria, analizamos las influencias que las prácticas de evaluación ejercen sobre
el abordaje de los alumnos en relación al aprendizaje. También exploramos el concepto
de estilo de pensamiento, a partir de los escritos de Sternberg (1997). Al final, tejemos
algunas consideraciones acerca de la importancia de las elecciones evaluativas realizadas
por el profesor que se desempeña en la graduación.
Palabras clave: enseñanza superior, evaluación del aprendizaje.
Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009 • 201
ABSTRACT
This article presents a theoretical analysis of the relationship between assessment and learning in
higher education. Based on the perspective provided by a set of research projects on assessment
in higher education, we analyze the influence that assessment practices exert on the students’
approach to learning. Also, we explore the concept of thinking styles, based on the writings by
Sternberg (1997). Finally, we dedicate some thoughts to the importance of teachers’ assessment
choices at the undergraduate level.
Keywords: higher education, learning evaluation.
202 • Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009
INTRODUÇÃO
Um observador atento à mídia internacional, nas últimas duas décadas, por
certo, percebeu importantes mudanças na educação superior, em diversos países. A
Conferência Mundial sobre Educação Superior, realizada em Paris, pela Unesco, no
final dos anos 90, afirmou um processo de transformação universitária em todo o
mundo (Bernheim; Chaui, 2008, p. 27). O conhecimento na sociedade contempo-
rânea e as expectativas das nações em relação a um futuro econômico desejado, por
exemplo, têm exercido papéis importantes na produção dessas transformações. De
modo ainda mais amplo, esse movimento está relacionado às profundas mudanças
sociais, econômicas e culturais, no qual a universidade é chamada a rever teorias,
modelos, conceitos e práticas. Nesse cenário, destacamos a importância de investi-
gar e repensar a avaliação da aprendizagem na educação superior.
No centro das mudanças na educação superior estaria o desafio de redesenhar
o currículo, pois as mudanças ali configuradas indicariam a medida efetiva de
transformação realizada em qualquer instituição universitária (Bernheim; Chaui,
2008, p. 31). A arquitetura do currículo precisa considerar diversas questões; en-
tretanto desejamos, neste artigo, destacar e analisar a relação entre avaliação e
aprendizagem. Conforme argumentamos mais adiante, as práticas avaliativas uti-
lizadas pelos professores na graduação, por exemplo, podem influenciar o desen-
volvimento dos estudantes.
Há outros avanços a serem introduzidos nos currículos da educação superior.
Deseja-se, por exemplo, currículos capazes de delinear experiências de aprendiza-
gem por meio das quais os estudantes cultivem o pensamento crítico e reflexivo,
desenvolvam capacidades de elaboração teórico-conceitual, aprendam a resolver
problemas complexos, e que elaborem competências coerentes às novas exigências
do mundo do trabalho. Mas as transformações desejadas no currículo devem in-
cluir, entre outros itens, uma revisão nos fundamentos e nas práticas de avaliação da
aprendizagem dos educandos desse nível de ensino.
As transformações na educação superior não podem ser separadas das mudanças
nas ideias e práticas que a constituem, bem como dos sujeitos que ali encontramos.
Além disso, uma vez que essas transformações precisam estar articuladas ao currí-
culo, é importante considerar a centralidade das experiências de aprendizagem –
como são concebidas, desenvolvidas e avaliadas. Isso apresenta diversas implicações,
tais como repensar a própria noção de educação que norteia os currículos dos cursos
na universidade e as diversas práticas pedagógicas exercidas pelos professores, entre
elas a avaliação.
Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009 • 203
No cenário amplo da investigação educacional, o debate sobre a avaliação da
aprendizagem na educação superior precisa ainda ser ampliado e atrair um número
maior de interlocutores. Tal como constatado por Chaves (2004, p. 2), apenas re-
centemente, na literatura educacional brasileira, têm surgido trabalhos que discutem
esse tema. Embora esse debate esteja concentrado particularmente nas últimas duas
décadas, as análises realizadas fornecem algumas lições importantes. Se desejamos
que os estudantes desenvolvam um pensamento criativo e reflexivo, por exemplo,
teremos de desenhar um currículo compatível com essa expectativa, o que implica
não somente selecionar novos conteúdos e competências para serem trabalhados
com os alunos, mas repensar de modo amplo os diversos aspectos do processo de
ensino-aprendizagem, incluindo as práticas de avaliação que estamos utilizando no
ensino universitário.
A importância da avaliação no contexto das práticas educacionais é talvez uma
marca de nossa época. Isso reflete a obrigatoriedade dessa prática nos projetos educa-
cionais, em qualquer nível de ensino, bem como a complexidade das questões sobre
avaliação. Assim, por exemplo, como formar indivíduos capazes de elaboração teó-
rico-conceitual, se nossas práticas de avaliação estiverem atentas somente à tarefa de
classificar os estudantes em relação às suas capacidades de reter determinado conjunto
de informações factuais? A avaliação da aprendizagem na educação superior, de modo
geral, ainda deveria avançar das práticas focalizadas que Luckesi (1994) denominou
de “verificação da aprendizagem”. A avaliação precisa ser exercida como uma “produ-
ção de sentidos”, o que não pode estar restrito à utilização de instrumentos que apenas
explicam o passado (Dias Sobrinho, 2008, p. 194). Além disso, a avaliação precisa
guardar relação com as finalidades sociais mais amplas da educação, com o que de-
sejamos no futuro. Finalmente, a adesão a uma ou outra forma de avaliação necessita
ser vista também como um ato moral, pois nossas escolhas qualificam o modo como
vemos e interagimos com nossos alunos (Villas Boas, 2000, p. 150).
Transformar o currículo, desenhar experiências de aprendizagem e decidir sobre
estratégias de avaliação representam alguns dos principais desafios com os quais con-
vivem os professores universitários. Nesse sentido, há várias perguntas que devem ser
consideradas em relação à avaliação. O que avaliar? Como avaliar? Quais os melhores
métodos para avaliar a aprendizagem dos estudantes na graduação, considerando as
diretrizes atuais para a educação superior? Certamente, há diversas formas de respon-
der a cada uma delas. Tais escolhas são complexas e até mesmo subjetivas (Gerard,
2002), que envolvem muito mais que instrumentos e métodos, pois mobilizam valores
e solicitam uma visão bastante ampla sobre o ato de educar.
204 • Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009
Tradicionalmente, as práticas de avaliação da aprendizagem na educação supe-
rior recaem sobre um conjunto limitado de escolhas. Geralmente, tais estratégias
se concentram no uso de procedimentos da “avaliação somativa”, exercidos ao final
de determinado período ou unidade de ensino. Isso implica, por exemplo, a ma-
nutenção de uma antiga e persistente cultura avaliativa que tende a destacar parti-
cularmente a utilização de provas escritas para avaliar o grau de aprendizagem dos
alunos. Além disso, esse reducionismo parece alterar a percepção dos professores
quanto à variedade de atividades que podem ser envolvidas na avaliação, tendo em
mente inferir o desempenho dos estudantes (Depresbiteris, 2004, p. 54). Também
poderíamos questionar se a insistência na utilização da avaliação somativa tem-se
mostrado efetivamente produtiva na educação superior.
É interessante considerar que as formas predominantes de avaliação da aprendi-
zagem na educação superior refletem não somente as escolhas pedagógicas exercidas
pelos professores, mas também as diretrizes curriculares dos cursos universitários,
ou, ainda, de modo mais amplo, a própria cultura institucional que os influencia.
Repensar a avaliação nesse cenário, portanto, é um desafio complexo, que reúne
diversas questões e perspectivas a serem analisadas. Neste artigo, entretanto, desen-
volvemos uma elaboração teórica circunscrita a uma direção determinada. Tendo
por base algumas investigações sobre a avaliação da aprendizagem na educação su-
perior, analisamos a influência que exercem as práticas avaliativas utilizadas pelos
professores sobre o desenvolvimento cognitivo dos estudantes.
O texto está organizado da seguinte forma: inicialmente exploramos algumas
questões sobre a avaliação e aprendizagem na educação superior; em seguida, ana-
lisamos as relações entre avaliação e abordagem de aprendizagem, e estilos de pen-
samento; ao final, apresentamos algumas considerações sobre a importância das
escolhas avaliativas dos professores que atuam na graduação.
Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009 • 205
Um aspecto central do desenvolvimento cognitivo e social durante a vida aca-
dêmica, na graduação, reside justamente em “tornar-se estudante”, tendo em vista,
inclusive, conquistar espaço e sucesso dentro da comunidade de determinado cur-
so. Nesse processo, os estudantes recebem a influência de diversas fontes e forças
modeladoras, que atuam em seu desenvolvimento cognitivo, bem como em outros
aspectos relacionados ao modo como experimentam e se adaptam às expectativas
da vida acadêmica. Entre elas, destacamos as experiências avaliativas a que são sub-
metidos na graduação.
Com base na análise de várias publicações de pesquisa, a respeito da avaliação
na educação superior, no período entre 1980 e 2002, Struyven, Dochy e Janssens
(2005) argumentam que a avaliação exerce importante influência sobre a aprendiza-
gem dos estudantes. De um lado, as expectativas em relação às estratégias avaliati-
vas utilizadas pelos professores determinam o modo como eles lidam com as tarefas
acadêmicas e se preparam para as atividades de avaliação. Em complemento, as
experiências de avaliação proporcionadas aos estudantes influenciam suas atitudes
futuras em relação à aprendizagem.
As experiências de avaliação são parte importante do currículo, não só na edu-
cação superior como nos demais níveis educacionais. É possível afirmar que tais
experiências avaliativas são formativas sob diversos aspectos. Elas podem influenciar
o modo como os estudantes planejam e utilizam o tempo dos estudos, atribuem
prioridade e significado às diversas tarefas acadêmicas, e, de modo amplo, como eles
se desenvolvem academicamente. Além disso, quando expostos à cultura avaliativa
de determinado curso, e, portanto, sujeitos às rotinas, prioridades e conhecimentos
atrelados a determinadas formas de avaliação, os estudantes tendem a desenvolver
atitudes e práticas em relação à aprendizagem.
Há uma conexão delicada entre o engajamento dos estudantes e suas visões so-
bre a avaliação na educação superior. Alguns estudos mostraram que o modo como
os estudantes tomam notas é influenciado pelas expectativas quanto às formas de
avaliação utilizadas pelos professores (Rickards; Friedman, 1978; Nolen; Haladyna,
1990). As pesquisas de Ramsden (1997, 1981) sugerem que pode haver perda na
qualidade das experiências de aprendizagem de estudantes universitários, em razão
de métodos de avaliação inapropriados e da carga excessiva de tarefas acadêmicas, o
que também encorajaria atitudes superficiais de aprendizagem.
De modo amplo, pode-se afirmar que existe relação entre as formas de avaliação
adotadas pelos professores e as atitudes de aprendizagem apresentadas pelos alunos
na graduação. Diferentes tipos de avaliação tendem a determinar a atitude de apren-
206 • Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009
dizagem dos estudantes; entretanto, ela seria dinâmica e modificável, em função do
contexto de aprendizagem e das práticas avaliativas experimentadas pelos estudan-
tes (Struyven; Dochy; Janssens, 2005, p. 333). Isso destaca o importante papel dos
professores, que podem influenciar a abordagem de aprendizagem adotada pelos
estudantes. No entanto, o conhecimento a respeito das formas como os professores
podem melhor orientar os alunos quanto a suas abordagens de aprendizagem de-
pende ainda de muita investigação.
Na próxima seção, avançamos nossa análise, explorando as relações entre as
práticas de avaliação adotadas pelos professores e as abordagens de aprendizagem
assumidas pelos alunos.
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tendo em vista determinada atividade ou forma de avaliação, mas sem a intenção
de relacionar os conhecimentos estudados a uma perspectiva conceitual mais ampla
(Snow; Corno; Jackson, 1996, p. 282).
A aprendizagem profunda se refere a certas práticas de ensino que priorizam a
autonomia dos estudantes, os processos interpretativos e a elaboração conceitual.
Além disso, haveria relação entre esse estilo de aprendizagem e a motivação intrín-
seca. A aprendizagem superficial, por seu turno, estaria relacionada a práticas de
ensino mais diretivas, que priorizam a memória e nas quais os estudantes assumem
papéis mais passivos.
Algumas estratégias de avaliação solicitam aos estudantes que forneçam deter-
minados tipos de resposta, que atendam a critérios de objetividade, que possam ser
previstas e, portanto, articuladas em uma pergunta, tal como nos testes de múltipla
escolha. Esse tipo de avaliação, comumente realizada sob a perspectiva somativa,
tem por objetivo distinguir o conhecimento objetivo e factual, e atende melhor as
expectativas de uma aprendizagem superficial.
Mas a avaliação pode ser “profunda”, no sentido de envolver procedimentos e
pressupostos que têm em mente outro nível de aprendizagem. Nesse caso, as ativi-
dades de avaliação podem solicitar, por exemplo, que os estudantes desenvolvam
compreensão conceitual e análise interpretativa, a fim de explorar diferentes pers-
pectivas sobre determinado contexto ou conjunto de dados. Esse tipo de experiên-
cia de avaliação encoraja os estudantes a explorar uma gama ampla de habilidades
cognitivas, por meio de atividades que envolvem a aprendizagem contextualizada e
situações autênticas. Isso ocorre em avaliações de natureza formativa, como o traba-
lho com estudo de caso, portfólio, mapas conceituais e resolução de problemas.
As pesquisas sobre as atitudes dos alunos em relação à aprendizagem e o debate
sobre suas implicações para o desenho de novas práticas pedagógicas vêm avançan-
do há décadas. Se, de um lado, observamos, entre os teóricos, o argumento de que
deveríamos transformar e avançar as práticas de ensino de forma a adaptá-las às
abordagens de aprendizagem dos alunos, por outro, há uma preocupação relaciona-
da à influência exercida pelas práticas avaliativas acerca de como os alunos decidem
por determinada abordagem de aprendizagem.
Segundo as pesquisas realizadas por Marton e Säljo (1997), a percepção dos
estudantes, quanto às práticas de avaliação dos professores, apresenta forte rela-
ção com a abordagem de aprendizagem que aqueles adotam quando se dedicam
a uma tarefa acadêmica. Os estudos de Biggs (1999) e Cowman (1998) sugerem
que as formas de avaliação exercidas pelos professores influenciam as abordagens
208 • Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009
de aprendizagem que os alunos desenvolvem na graduação. Biggs (1999) mostrou
que o formato das atividades de avaliação definidas pelos professores vão encora-
jar os estudantes a utilizar determinadas abordagens de aprendizagem. A pesquisa
realizada por Cowman (1998) revela, por exemplo, que as atitudes dos estudantes
em relação à aprendizagem estavam diretamente relacionadas às suas interpretações
sobre as atividades de avaliação. Isso sugere que as formas como os estudantes são
avaliados nos cursos de graduação podem exercer uma influência modeladora não
somente sobre seus desempenhos, mas sobre a formação de suas atitudes em relação
à aprendizagem (Struyven; Dochy; Janssens, 2005, p. 332).
Outras pesquisas apontam que as práticas pedagógicas dos professores univer-
sitários têm impacto sobre as crenças dos alunos a respeito da aprendizagem, e in-
fluenciam os resultados obtidos por eles (Northcote, 2003). Um estudo realizado por
Eklund-Myrskog (1998) indicou que, tal como observado em outros levantamentos,
as concepções de aprendizagem dos estudantes estão relacionadas aos contextos educa-
cionais a que são expostos, incluindo as práticas de avaliação. A pesquisa desenvolvida
por Entwistle e Tait (1990) assinalou que a abordagem profunda em relação à apren-
dizagem estaria relacionada à percepção da relevância das atividades acadêmicas. Em
complemento, haveria relação entre a abordagem de superfície e a percepção de que a
carga de trabalho solicitada pelos professores é muito pesada e pouco significativa.
O conjunto dessas pesquisas nos alerta sobre o impacto que exercem as práticas
pedagógicas dos professores sobre o desenvolvimento dos estudantes na graduação,
particularmente no que diz respeito a suas aprendizagens. E aqui destacamos o
papel exercido pelas decisões dos professores relacionadas às formas de avaliação
que utilizam com os alunos. Mas é interessante salientar que é a percepção dos
estudantes sobre os elementos do ambiente de aprendizagem que determina como
eles aprendem, e não necessariamente o contexto educacional em si (Struyven; Do-
chy; Janssens, 2005, p. 331). Isso parece sugerir a necessidade de os professores, na
educação superior, estarem atentos ao modo como os alunos percebem suas práticas
avaliativas. Nesse sentido, uma das questões a considerar, por exemplo, seria a im-
portância dos educandos terem clareza quanto às finalidades dos métodos usados,
bem como os critérios de avaliação praticados pelos professores.
Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009 • 209
valiação e avaliação entre pares. Tais métodos solicitam não somente outras práticas
dos professores, mas novas atitudes dos alunos em relação à aprendizagem e o exer-
cício de determinados estilos de pensamento.
Há pouco mais de uma década, Richard Sternberg (1997), em seu livro Thinking
Styles, apresenta interessante perspectiva para pensar a relação entre desenvolvimen-
to cognitivo e avaliação dos estudantes na educação superior. O conceito de estilo
de pensamento refere-se ao modo como um sujeito prefere usar suas habilidades
(Sternberg; Zhang, 2005). Não é, portanto, uma habilidade em si mesma.
Sternberg argumenta, a propósito das relações entre estilos de aprendizagem e
a educação, que o modo como os estudantes desenvolvem suas inteligências, seus
“estilos de pensamento”, seria influenciado pelas expectativas institucionais. Assim,
o sucesso de um estudante na universidade estaria relacionado à habilidade de se
“adaptar” ou “conformar” ao estilo predominante de pensamento institucional.
Nesse sentido, um bom desempenho na vida acadêmica refletiria, de forma signi-
ficativa, a capacidade de os estudantes se adaptarem às expectativas de “estilos de
pensamento”, evidenciadas no modo como os professores ensinam e como avaliam.
Os alunos perceberiam na avaliação uma mensagem não somente sobre o que deve-
riam aprender, mas como deveriam pensar.
Os argumentos apresentados por Sternberg (1997) fornecem uma perspectiva
com muitas questões a considerar. A relação entre avaliação e aprendizagem seria
tal que a natureza da aprendizagem, experimentada pelos estudantes, e seus estilos
de pensamento poderiam ser bastante influenciados pelas estratégias de avaliação
utilizadas pelos professores. Isso torna importante não somente o método escolhido
pelo professor, mas também suas expectativas – o que tem em mente quando utiliza
determinada forma de avaliação.
Desse modo, é significativa a recorrente preocupação dos estudantes no que diz
respeito, por exemplo, ao “jeito” como supostamente os professores “gostam” da
redação das respostas em uma prova escrita, ou da estrutura e do conteúdo de um
trabalho. Nesse cenário, haveria relação entre o sucesso nas avaliações e o conheci-
mento do “jeito” de demonstrar a aprendizagem preferido pelos professores, ou que
é destacado na cultura de um curso. Mas essa abordagem também pode nos ajudar
a pensar as razões do fracasso dos estudantes na graduação. O fracasso poderia re-
sultar não apenas da ausência de inteligência ou da capacidade para aprender, mas
da falta de compatibilidade entre os estilos de pensamento de determinados alunos
em relação àqueles destacados ou solicitados pelos professores – na forma como
avaliam, por exemplo.
210 • Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009
Diante da leitura apresentada por Sternberg (1997), nos parece necessário repen-
sar não somente as estratégias de avaliação utilizadas na educação superior, mas ou-
tras questões articuladas às escolhas dos professores, o modo como são transmitidas
aos estudantes, e as expectativas explicitadas, ou não, em suas práticas de avaliação.
Enfim, deveríamos avançar nas discussões sobre avaliação e formação de professores
na educação superior.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Exploramos neste artigo um conjunto de questões sobre avaliação e aprendizagem
na educação superior, destacando a importância das escolhas realizadas pelos profes-
sores. Tendo por base alguns estudos que conectam avaliação e aprendizagem, argu-
mentamos que as práticas de avaliação exercidas pelos professores apresentam diversas
implicações sobre as atitudes de aprendizagem mostradas pelos estudantes. Assim,
por exemplo, quando os professores optam por avaliar a aprendizagem dos alunos por
meio de provas escritas, ao final do bimestre, eles estabelecem algumas condições,
projetam expectativas e desenham um quadro a ser interpretado pelos estudantes. Tal
interpretação reflete-se no modo de agir dos estudantes em sala de aula – como dife-
renciam conteúdos do currículo e desenvolvem hábitos de estudo – e, de modo mais
amplo, na aprendizagem, que exerce papel considerável em suas formações.
As escolhas exercidas pelos professores podem ampliar ou limitar as oportunida-
des para que os estudantes demonstrem o que aprenderam. Além disso, as práticas
de avaliação podem ser mais ou menos restritivas em relação à possibilidade de
fornecer feedback ao aluno sobre seu desempenho durante o processo de ensino-
aprendizagem. Tais aspectos são fundamentais na atualidade, considerando a im-
portância que as práticas de avaliação formativa vêm conquistando.
De acordo com o método de avaliação que os professores decidem utilizar, en-
tram em cena determinadas expectativas, e são colocadas em ação estratégias pró-
prias para verificar os resultados da aprendizagem dos estudantes. Além disso, dife-
rentes métodos de avaliação são utilizados em momentos diferenciados do processo
de ensino-aprendizagem, de acordo com os propósitos investigativos do professor.
Assim, pode ser feita uma avaliação diagnóstica inicial, outra para acompanhar o
desenvolvimento cognitivo do aluno em determinado espaço de tempo, ou ainda ter
caráter somativo, realizada ao final do período de aprendizagem.
Neste texto, exploramos algumas possíveis relações entre as escolhas avaliativas
dos professores e a aprendizagem dos alunos. Seja qual for a prática avaliativa do
professor, e mesmo que sua escolha lhe pareça trivial, ela será um marco de referên-
Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 43, maio/ago. 2009 • 211
cia para a abordagem de aprendizagem dos estudantes. Os esforços a serem empre-
endidos, a estratégia de estudo e os conteúdos a serem priorizados, serão decididos
com base em suas percepções sobre aquela escolha, o que faz com que a avaliação
exerça destacada influência sobre a aprendizagem dos estudantes – embora não seja
isso o desejado pelos professores.
Uma pergunta recorrente entre muitos docentes reside em qual a melhor forma de
avaliar os estudantes. Essa pergunta é complexa, e não se resume em considerar quais
métodos podem ser utilizados, segundo apenas suas características. Essa escolha pre-
cisa levar em conta tanto o tipo de aprendizagem que queremos adotar quanto as pos-
síveis respostas dos alunos a ela. Diversas pesquisas sugerem que, mesmo conhecendo
muito sobre as características e formas de aplicação de diversos métodos de avaliação
na educação superior, ainda não sabemos o suficiente a respeito de como conseguir, de
maneira sistemática, que os estudantes experimentem determinadas formas de apren-
dizagem. Há muitas perguntas ainda a fazer, e respostas a obter.
Existe uma última questão a destacar. É fundamental que os professores avan-
cem no estudo da avaliação e suas relações com a aprendizagem. Mas não se trata
apenas de aprofundar o domínio teórico sobre os diversos métodos hoje disponíveis
na literatura educacional. Tendo em perspectiva o horizonte das questões e pesqui-
sas apresentadas neste artigo, salientamos a importância dos educadores refletirem
sobre suas práticas avaliativas, considerando a profunda influência que estas exer-
cem sobre a aprendizagem dos alunos. As escolhas avaliativas dos professores, afinal,
são capazes de moldar os trajetos de aprendizagem dos estudantes, e, portanto, de
transformar a natureza de suas experiências educacionais na graduação. Esta é uma
tarefa complexa, sem dúvida, mas também fundamental, tendo em vista as trans-
formações desejadas na educação superior.
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1
Mestre em Educação pela UFG. Especialista em Formação socioeconômica do Brasil. Especialista em
Linguagem e Matemática das Séries Iniciais. Especialista em Planejamento Educacional. Pedagoga. Professora
de Didática e Prática de Ensino UnU – Inhumas – UEG. E-mail: lindalpessoni@yahoo.com.br.
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Introdução
O ato de avaliar não foi inventado ou começou a ser praticado apenas com o
aparecimento da escola, pois essa é uma questão inerente ao ser humano que o acompanha
desde o início de seu percurso na terra. Diante de cada obstáculo, de cada decisão a ser
tomada faz-se uma avaliação, selecionam-se as medidas mais coerentes para solucionar os
problemas e encaminhar mudanças necessárias. Lima (1994) considera que a avaliação é o
contínuo realizar de escolhas do mais simples até os mais complexos julgamentos que
fazemos em nossas vidas. No cotidiano, a avaliação não é um momento estanque, isolado do
contexto, ela é uma mola propulsora que retroalimenta o fazer das pessoas constantemente,
vive-se e avalia-se ao mesmo tempo o que está vivendo. Avaliar é condição necessária para a
própria existência do ser humano que realiza escolhas, revê as ações empreendidas, elabora
outras com o objetivo de alcançar os propósitos planejados.
Quando voltamos nosso olhar para o universo escolar será que vamos nos deparar
com as mesmas finalidades do processo avaliativo que adotamos no nosso cotidiano? Que
princípios norteiam esse processo nas instituições educativas? A avaliação educacional
também é utilizada como um mecanismo para diagnosticar a situação, acompanhar e escolher
maneiras diversificadas para promover mudanças qualitativas na vida dos alunos em relação
as suas expectativas de aprendizagem?
Hoffmann (2001, p. 8) afirma que “a questão é saber qual o sentido da avaliação em
sua essência humana (de julgamento de valores, de uma ação refletida), tomando consciência
da finalidade dos processos avaliativos que, dependendo dos princípios em que se fundam,
são exercidos a favor ou contra o educando”.
Historicamente, a avaliação no cotidiano escolar tem produzido ao longo dos anos
muitos estigmas e prejuízos para inúmeros alunos do sistema de ensino – tanto público quanto
privado, da educação infantil à universidade. As concepções e práticas avaliativas adotadas
pela maioria dos educadores – em todos os níveis de ensino – têm produzido muitos
equívocos e, em grande parte, estão sendo exercidas mais contra do que a favor do educando.
Para Hoffmann (1993, 1998), a tentativa de mudar a concepção de avaliação tem
encontrado maior resistência entre os professores do ensino médio e do ensino superior, por
acreditarem que prática inovadora de avaliação só é possível no ensino fundamental. A autora
afirma que, nos encontros e seminários, constata-se o descrédito dos professores frente uma
possível mudança na feição classificatória da avaliação, além de haver uma retificação das
práticas existentes.
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Luckesi (1999) chama a atenção para o fato de que a aplicação de exames, provas
sistematizada pela escola moderna2 tem influenciado até os dias atuais concepções e práticas
avaliativas que discriminam, humilham e excluem inúmeras pessoas do direito de ter sucesso
na educação formal.
Desconstruir a ideia de avaliação como verificação de aprendizagem de conteúdos
trabalhados num determinado período é desconstruir a lógica de uma vida inteira de
submissão a esse ritual que acompanha basicamente toda a extensão da vida escolar.
Geralmente, a avaliação só é reconhecida se estiver expressa em forma de provas, testes,
exames, trabalhos escritos e for realizada em momentos estanques, separados da aula.
Conferir o que o aluno aprendeu – pode ser muito mais o que memorizou – passa ser mais
importante do que como aprendeu. Neste sentido, a avaliação não é usada como diagnóstico,
mas como um veredicto, uma sentença final dada a um processo que nem se quer tem
momento de réplica3. Assim, “a avaliação deixa de cumprir a sua função primordial:
identificar e analisar o que foi aprendido, o que ainda é preciso aprender, para que se organize
o trabalho com vistas à aquisição da aprendizagem” (BOAS, 2005, p. 163).
É preocupante constatar que a própria universidade, centro por excelência de
pesquisas, debates, questionamentos, persiste com concepções e práticas avaliativas
autoritárias e conservadoras. Não há, em seu interior, muitos debates sobre mudanças das
práticas avaliativas por considerar que o ensino neste nível não pode “se dar o luxo de
afrouxar” a forma de avaliar, ou seja, “ainda está presente a necessidade da nota. Parece ser
ela a garantia da seriedade e do rigor do trabalho” (BOAS, 2005, p. 165).
O pouco espaço destinado à discussão sobre avaliação no ensino superior é
constatado pelo pequeno número de títulos de livros, dissertações e teses sobre o assunto; se
comparado a outros níveis de ensino, a produção dessa temática é de certa forma tímida, como
aponta Chaves (2004, p. 2): “a reflexão teórica sobre as questões pedagógicas e mais
2
A escola moderna se sistematizou a partir das pedagogias dos jesuítas e de Comênio, além de refletir o projeto
burguês que no século XVI e XVII se afirmava como sistema econômico e político que em sua essência é
seletivo e excludente. A escola moderna, em que pesem as influências das pedagogias vinculadas às religiões
indicadas, foi sistematizada pelos intelectuais burgueses, mediante a pressão das camadas populares da
sociedade, especialmente, pelas reivindicações dos sindicalistas. Está ancorada no ideário liberal, destacando-se,
a laicidade, igualdade formal e a universalidade: na organização dos Sistemas Nacionais de Educação Pública
constituídos e/ou fiscalizados pelo Estado. A Pedagogia jesuítica advém de uma ordem religiosa criada pelo ex-
militar Inácio de Loyola, no século XVI, para combater o protestantismo. A ordem estabeleceu-se sob a rígida
disciplina e desenvolveu uma pedagogia extremante rigorosa com ênfase na repetição, memorização, estímulo a
competição entre os alunos e as torturantes formas de avaliar conhecidas como sabatinas – repetir durante aos
sábados as lições da semana. Já a Pedagogia Comeniana advém de João Amós Comênio, considerado o maior
educador e pedagogo do século XVII. Conhecido como o pai da Didática; elaborou inúmeros manuais
detalhando minuciosamente os procedimentos a ser seguidos pelo mestre para “ensinar tudo a todos”, além de
acreditar que o medo era um excelente fator de motivação para o estudo. (Ver ARANHA, 2006).
3
Ato ou efeito de replicar. Contestação, refutação (Minidicionário Aurélio, 1993, p. 474)
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A universidade percorreu um longo caminho até adquirir a forma atual, mas, apesar
de muitas mudanças, algumas características permanecem muito próximas do período de sua
criação, com fortes resquícios de um ensino tradicional4. A prática pedagógica centra
basicamente na concepção de que o ato de ensinar se restringe ao fato de o professor
transmitir o conhecimento para o aluno, sendo a avaliação o momento de conferir a
aprendizagem através de testes, provas e trabalhos em que os alunos são hierarquizados e
classificados pelas notas, consideradas produto final de um bimestre, semestre, ou ano de
estudo. Luckesi (1999, p. 18) afirma que “o exercício pedagógico é atravessado mais por uma
pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem” e que “esses fatos não
se dão por acaso”. Tais práticas já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVI e XVII –
no processo de emergência da sociedade burguesa – e exercem muita influência, ainda hoje,
no campo educativo. O autor descreve que herdamos, das normas de estudo da pedagogia
jesuítica, um ensino que prima a eficiência na oratória do professor com especial atenção ao
ritual de provas e exames; e da pedagogia Comeniana, herdamos o medo da reprovação – o
medo de reprovar nos exames finais do curso superior estimulava os alunos a estudar, pois a
instalação do medo das provas nos alunos era considerada um excelente estímulo para que
eles estudassem.
O ensino superior preserva práticas pedagógicas incompatíveis com a sua própria
natureza de ser – espaço privilegiado para o debate, confronto de vários pontos de vista,
desenvolvimento do pensamento crítico e contestador. Demo (2004, p. 6) diz que “aparece aí
um paradoxo dos mais gritantes: os profissionais da inovação não se inovam”. A oportunidade
de os alunos reconstruírem o conhecimento através da pesquisa, do debate, das produções
acadêmicas é substituída pela aula, ou melhor, pela exposição do professor que domina o
conteúdo e o repassa de forma magistral. O conhecimento não é reconstruído pelo aluno, mas
apenas é ouvido, memorizado e repetido nas provas. Perde-se aí a oportunidade de inovar.
Para Demo (2004, p. 6),
4
“Entende-se usualmente por ensino tradicional a idéia que ensinar é só dar aula, transmitindo a matéria, sem
preocupar com a aquisição do conhecimento pelo aluno. A ênfase é na memorização, valorizando o que o
professor diz.” (CASTANHO, 2001, p. 80).
73
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entidade do saber por excelência, acha que sua excelência está nas
aulas.
O autor não condena a aula em si, mas, questiona sua forma, ou melhor, condena de
maneira veemente a redução do ensino na universidade ao mero instrucionismo, reprodutivo
que não ultrapassa a questão quantitativa de repasse de conteúdos. A concepção de ensino
nessa perspectiva considera que para dar aula no ensino superior basta ter um excelente
domínio do conteúdo a ser ministrado, conseguido através dos títulos, e instrumentos
rigorosos de avaliação para controlar a qualidade inerente a esse nível de ensino. Demo
(2004), Cunha (2005), Bordas (2006) criticam a valorização extremada dada à aula no ensino
superior em detrimento de outras formas, principalmente, a falta de associá-la à pesquisa.
Veiga et al. (2000, p. 175) defende a aula universitária como espaço possível de
inovação quando professores e alunos têm oportunidade de aliar o ensino, a pesquisa e a
extensão. Para a autora:
A aula é, então, dinamizada pela relação pedagógica, porque registra,
em situação concreta, a maneira de viver a relação como vínculo
libertador que proporciona o exercício da autonomia. É ainda durante
a aula que professores e alunos recriam o processo educativo: tomam
decisões quanto a concepção, execução, avaliação e revisão do
processo de ensinar, aprender e pesquisar, alicerçados pela pesquisa.
Para Demo (2004, p. 105), “pesquisar supõe rever o conhecimento existente, colocar
novas perguntas e dúvidas, abalar o que já está estabelecido, procurar novas fundações e
fundamentações”. Cunha (2005) aponta que na graduação o ensino parece ser descolado da
pesquisa, sendo considerado como campo quase exclusivo da pós-graduação. Uma das causas
levantadas por ela é que o ensino tradicional e a pesquisa são realizados com lógicas
diferentes, sendo o primeiro baseado em certezas e o segundo, na dúvida. Bordas (2006)
critica o lugar singular assumido pela pesquisa no meio universitário, expressa em produção
científica exigida pelas agências controladoras que financiam os seus projetos.
Os autores defendem que a relação ensino e pesquisa é a forma de conceber a aula
como momento de indagar, questionar, duvidar das certezas científicas, não para refutá-las,
mas, para reconstruí-las. O que eles propõem são aulas mais interativas, dialogadas,
instigantes, para que o aluno possa indagar, buscar, associar, comparar, relativizar, duvidar e
questionar a própria validade dos conteúdos trabalhados. O aluno deixa de ser um receptáculo
de informações e passa a ter oportunidade de reconstruir o conhecimento, num processo que
mobiliza o pensamento reflexivo, crítico e autônomo.
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Uma nova concepção de docência universitária que contraponha os ranços que estão
impregnados na concepção de ensinar, de aprender e de avaliar se faz urgente. A aula apenas
expositiva, centrada na simples transmissão de informação, como fonte de verdade, traz
conhecimentos soltos e fragmentados que acabam se sobrepondo uns aos outros. O ensino e a
aprendizagem se colocam em campos opostos não formando uma unidade dialética no
processo. Pimenta (2002, p. 210) afirma que “o desafio aí está: superar um modelo centrado
na fala do professor em que se toma o dizer do conteúdo como ato predominante do ensino e a
repetição do aluno como ato de aprendizagem”.
Essa mudança de paradigma exige um processo de reflexão para apreensão de novas
concepções sobre o saber científico, saber escolar, metodologia, processo de ensinar, processo
de aprender, entre outras. A trajetória escolar e pessoal do aluno, suas dificuldades, seus
interesses e sua experiência profissional deve fazer parte da atenção dos docentes
universitários. Trata-se de uma questão de compromisso ético-profissional, pois, ensinar
ultrapassa as questões cognitivas e se apóia também nos domínios afetivos. O professor deve
ser criativo e estimular seus alunos a extrapolar o previsível, a trilhar novos caminhos na
busca de superar os seu próprios limites, numa concepção de conhecimento que envolva
flexibilidade, movimento, desafios, incentivo a dúvida e valorização do erro como parte
integrante de um projeto coletivo de construção do saber por docentes e discentes. Castanho
(2001) propõe que o professor universitário desenvolva práticas criativas na sala de aula como
possibilidade de ir rompendo com a postura tradicional
A formação pedagógica do docente necessita ser cuidadosamente articulada com os
saberes e metodologias específicas de sua área num processo que seja permeado por uma
abordagem reflexiva que propicie competência de investigação, de questionamentos e de
percepção da complexidade do ato de ensino e do ato de aprendizagem. Alarcão (2007)
adverte que o professor deve escutar, conhecer e não subestimar a capacidade do aluno. Nessa
ótica, a formação docente acompanha toda a vida do professor que constantemente está
ensinando e aprendendo com as novas e velhas situações vividas com seus alunos. Nenhum
curso universitário abarca todos os saberes necessários à formação docente de qualidade, mas
é imprescindível uma releitura da aula universitária, pois parte da estrutura formativa se
consolida aí e pode se cristalizar para sempre.
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Uma visão panorâmica das atuais práticas pedagógicas e avaliativas no ensino superior
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esse assunto nesse nível de ensino. No entanto, parece não haver o mesmo interesse por
grande parte dos docentes que atuam no ensino superior em relação a mudanças nas práticas
avaliativas. A discussão encontra resistência praticamente em todos os cursos – nas áreas de
exatas, humanas, biológicas, nos bacharelados e nas licenciaturas (CHAVES, 2004;
MENDES, 2006).
Como pensar em mudanças de paradigmas, no tocante à avaliação, na educação
infantil, ensino fundamental e médio sem questionar os paradigmas de avaliação impregnados
no ensino superior, que é o lócus de formação dos docentes que irão atuar nesses níveis de
ensino? Como exigir mudanças nas práticas avaliativas desses professores, se eles foram
submetidos a práticas autoritárias e conservadoras a vida inteira?
Hoffmann (1991; 1993; 1998) alerta para o perigo da reprodução das práticas
avaliativas pelo professor inscritas em suas experiências como aluno que são marcas muito
mais profundas que qualquer influência teórica poderia produzir na formação do docente.
Ações autoritárias e discriminatórias se sobrepõem a qualquer discurso teórico modernizante
proferido por professores no ensino superior. Chaves (2004, p. 4) também afirma que
Outra percepção da autora ao aprofundar estudos sobre esta questão “é que o ensino
superior não está isento dos problemas mais gerais constatado nesse campo e que, tanto na
teoria quanto na prática, a avaliação nesse nível de ensino se reveste de rituais e atitudes
discriminatória” (CHAVES, 2004, p. 4). Como reverter essa questão em todos os níveis de
ensino se a própria universidade se exime de refletir sobre isso? O que temem os professores
do ensino superior quando o assunto é refletir e inovar suas práticas pedagógicas e
avaliativas? Sordi (2000, p. 234) afirma que “os docentes reagem mal quando querem indagar
sobre suas práticas avaliativas por estarem convictos da qualidade do trabalho que
desenvolvem e por considerar o ensino superior um nível de exigência inegociável”.
Apesar desses impasses, a universidade é um campo privilegiado para o debate, para
o confronto de pontos de vista antagônicos e ressignificaçao do saber. Sem mudanças
paradigmáticas na universidade como um todo, e aqui especificamente abordado nos cursos
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Conheça na íntegra a proposta inovadora de formação docente implantada no Curso de Pedagogia da UFG pela
professora Solange M. O. Magalhães, “Da complexidade a complexidade da educação superior”, 2009.
8
Para maiores esclarecimentos consultar o texto da autora: Universidade processo de ensino- aprendizagem e
inovação. In Anais do 9° Encontro de pesquisa em educação da ANPED Centro Oeste. Educação tendências e
desafios de um campo em movimento, Brasília, 2008.
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9
Conheça o processo avaliativo pelas vozes dos alunos no trabalho de pesquisa realizado pela autora com alunos
do Ensino Fundamental, Médio e Superior entre 2006 e 2007. OLIVEIRA, Ilda Amaral. Avaliação no Ensino
Superior: a contestação revelada em memoriais de alunos. Anais VII Redestrado. Bueno Aires, 2008.
10
Para conhecer as experiências de avaliação mediadora desenvolvida por Hoffmann no ensino superior,
consultar suas obras: Uma avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola a universidade, 1993.
Ver também: Pontos e contrapontos: do pensar ao agir em avaliação, 1998.
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Mendes (2005) considera que não tem sido nada fácil estruturar um processo
avaliativo diferenciado no ensino superior e que a proposta passa por uma disposição de
professores e alunos em discutir e definir diretrizes para a construção de uma nova proposta
pedagógica. A autora descreve que de modo geral a avaliação no ensino superior não acontece
diferente dos outros níveis de ensino: o professor explica o conteúdo, tira dúvidas, aplica
exercícios, dá prova e fecha esse ciclo com a nota. Afirma também que esse tipo da avaliação
não contribui para o desenvolvimento do aluno, pois apenas verifica o produto final da
aprendizagem. Para quebrar esse ciclo vicioso, a autora propõe a construção de uma avaliação
formativa11; começando pelo próprio questionamento da prática avaliativa tradicional que não
reflete sobre a concepção de educação que está por trás dos elementos como prova, nota e
reprovação.
Mendes (2006), em sua tese de doutorado12 – Formação de professores e avaliação
educacional: o que aprende os estudantes das licenciaturas durante sua formação –
investigou as concepções e práticas avaliativas impregnadas nos cursos de formação dos
profissionais da educação. A autora objetivou compreender os nexos entre o fazer cotidiano
do trabalho pedagógico, no que se refere à avaliação e o processo de formação dos
professores. Os resultados evidenciam que as práticas avaliativas nos cursos de licenciaturas
estão basicamente centradas na perspectiva técnica: provas, trabalhos, seminários. Não é dada
à maioria dos futuros professores oportunidade de discutir as múltiplas funções que pode
assumir a avaliação, como também são oferecidas poucas oportunidades de vivenciar durante
o curso, novas práticas de avaliação. Mendes (2006) acredita que se faz necessário criar uma
nova cultura para os cursos de formação de professores.
Para desenvolver uma avaliação formativa e emancipadora é preciso estar atento às
situações da sala de aula e isso exige atitude apreciativa do professor frente às atitudes dos
alunos durante a correção de atividades, elaboração e explicação de um conceito, organização
de trabalhos, apresentação de pesquisas, aplicação do conteúdo discutido, troca de pontos de
vistas, como “também através de verificações de caráter mais formal, tais como provas
escritas dissertativas, de questões objetivas ou práticas, ou também as menos formais, como
observação, entrevista, dentre varias situações” (MENDES, 2005, p. 181).
11
Segundo Perrenoud (1999, p. 103) “É formativa toda avaliação que ajuda o aluno a aprender e a se
desenvolver, ou melhor, que participa da regulação das aprendizagens e do desenvolvimento no sentido de um
projeto educativo”
12
A pesquisa foi realizada com 195 licenciados que estavam cursando o último ou penúltimo período de uma
instituição federal de ensino e 7 coordenadores.
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Considerações finais
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Conheça as alternativas propositivas no campo da avaliação universitária sistematizada pela autora.
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científicos das disciplinas com os pedagógicos podem contribuir para fortalecer a formação
dos docentes. Mendes (2006, p. 148) aponta que cabe aos cursos de formação de professores
serem referência para a construção de uma escola crítica. Nessa perspectiva, cabe à
universidade promover aos licenciados condições de elaborarem uma nova concepção de
ensinar, aprender e avaliar. Portanto, a universidade deverá ser a primeira a levantar questão
sobre os equívocos atribuídos a avaliação; ela é uma instituição que tem em sua essência a
inquietude, a pesquisa, a contestação. Essa cultura que a avaliação serve para verificar a
aprendizagem, hierarquizar, selecionar, controlar, punir pertence a outro tempo que não mais
faz sentido na atualidade. Segundo Coêlho (2006, p. 54), a universidade é uma instituição que
cultiva o trabalho da razão e da formação humana e se “institui e se autojustifica à medida que
faz crítica de si mesma, da sociedade, da cultura, da existência humana, dos saberes, das
idéias, dos conceitos, das teorias, dos métodos, e da prática”.
Essa breve revisão de literatura sobre a avaliação no ensino superior permitiu
delinear uma visão panorâmica da situação circunscrita no ensino superior e perceber que os
professores tendem a repetir práticas oriundas dos seus cursos de formação. Também foi
possível perceber que existe um movimento por parte de pesquisadores e professores na busca
de novos caminhos – novas propostas na forma de ensinar, de aprender e avaliar. O que se
espera é que a universidade amplie o debate sobre suas práticas pedagógicas e avaliativas e
que dê a devida atenção às inovações que têm sido propostas por alguns pesquisadores e
professores do ensino superior.
Referências
ALARCÃO, Isabel. Que bom aprender! In: ENGERS, Maria Emilia Amaral; e MOROSINI,
Marília Costa. Pedagogia Universitária e aprendizagem. Porto Alegre: Edipucrs, 2007.
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CASTANHO, Maria Eugenia L. M. A criatividade na sala de aula. In: VEIGA, Ilma Passos e
CASTANHO, Maria Eugenia( orgs). Pedagogia Universitária: a aula em foco. Campinas,
SP: Papirus, 2000,.
CHAUÍ, Marilena. A universidade publica sob nova perspectiva. Rev. Bras. Educ. 2003, nº
24, p. 5-15.
CUNHA, Maria Isabel da. A universidade: desafios políticos e epistemológicos. In: CUNHA,
Maria Isabel da (org). Energias emancipatórias em tempos neoliberais. Araraquara, São
Paulo. Junqueira e Marin, 2006.
ESTEBAN, Maria Tereza. O que sabe quem erra?: Reflexão sobre avaliação do fracasso
escolar. RJ DP&A. 2001.
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ISAIA, Silvia Maria de Aguiar. Desafios a docência superior: pressupostos a considerar. In:
RISTOFF, Dilvo; SEVEGNANI Palmira (orgs). Docência na educação superior. Brasília:
Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2006.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar – 9 ed. São Paulo: Cortez,
1999.
PIMENTA, Selma Garrido e ANASTASIOU, Léa das Graças C. Do ensinar a ensinagem. In:
______. Docência na universidade. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
SORDI, Mara Regina Lemes de. Alternativas propositivas no campo da avaliação: por que
não? In: CASTANHO, Sergio; CASTANHO, Maria Eugenia (orgs). Temas e textos em
metodologia do ensino superior – Campinas: SP: Papirus, 2001.
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_________. Aula universitária e inovação. In: VEIGA, Ilma Passos; CASTANHO, Maria
Eugenia (orgs). Pedagogia Universitária: a aula em foco. Campinas, SP: Papirus, 2000.
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(*)
Jane Rangel Alves Barbosa
Introdução
Paulo Freire
A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve
acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Por meio dela, os resultados que
vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados
com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades e, também, reorientar o
trabalho docente. Assim, a avaliação é uma tarefa complexa que não se resume a realização de
provas e atribuições de notas.
A escola não pode estar desvinculada da vida, do mundo que a rodeia, mas tem de estar
em sintonia com a comunidade e com o tempo em que vivemos. Logo, a escola responsável não
ensina a memorizar, mas a refletir, fazer relações entre dados, informações e idéias, desafiar o
senso comum, aprender a pesquisar, saber trocar idéias, ou seja, aprender a aprender aprendendo.
Na nossa sociedade, reservamos às escolas o poder de conferir notas e certificados que,
atestam o conhecimento ou a capacidade do indivíduo, tornando assim imensa a responsabilidade
de quem avalia. A avaliação é comumente, acompanhada de dúvidas, incertezas e, muitas vezes,
de incoerências.
A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do
professor como dos alunos. Mas, para a grande maioria das pessoas que passaram por uma escola,
(*)
Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, professora da Universidade Castelo Branco e
do Instituto Superior de Educação da Zona Oeste – Isezo/Uezo/Faetec.
há sempre a lembrança de sabatina, prova exame, verificação, avaliação. Isso se deve, sem
dúvida, a experiências negativas com relação à avaliação.
O professor entra na sala de aula e anuncia: – Hoje é dia de prova. Pode-se observar a
ansiedade em todos os alunos. Uns, têm um ar pensativo, outros tentam encontrar uma inspiração
e/ou refletem profundamente. Mas, o último pensamento de todos em relação à prova é a nota.
Assim, o termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões como: fazer
prova, fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar de ano. Esta associação, tão presente ainda em
nossas escolas, é resultante de uma concepção pedagógica ultrapassada, mas tradicionalmente
dominante. Nela, a educação é concebida como mera transmissão e memorização de informações
prontas e o aluno é visto como um ser passivo e receptivo. Em conseqüência, a avaliação se
restringe a medir a quantidade de informações retidas. Nessa abordagem, em que educar se
confunde com informar, a avaliação assume um caráter seletivo e competitivo.
No presente trabalho, entendemos a escola como local privilegiado para a construção de
conhecimento e valores, que possibilitem a compreensão da nossa sociedade e a organização da
ação educacional com vistas à equidade, à autonomia e, conseqüentemente, à inclusão dos
indivíduos na vida cidadã. Logo, faz-se necessário focalizar a avaliação da aprendizagem como
um processo contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes
dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos, a fim
de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento do trabalho do professor e da
escola como um todo.
Assim, a avaliação deve ser focalizada como um processo orientador e interativo que deve
ser “a reflexão transformada em ação”. Ação essa que nos impulsione a novas reflexões.
Todos nós educadores desejamos uma escola de qualidade, prazerosa e competente, que permita a
transformação da sociedade. Queremos uma escola que possibilite aos alunos uma vida cidadã
plena, dentro de uma sociedade humana, democrática, justa, ética e solidária, em consonância
com o nosso tempo e com a natureza do trabalho didático – pedagógico.
Dentro de uma concepção pedagógica contemporânea, a educação é concebida como a
vivência de experiências múltiplas e variadas, tendo em vista o desenvolvimento motor,
cognitivo, afetivo e social do aluno. Na sucessão de experiências vivenciadas, os conteúdos são
os instrumentos utilizados para ativar e mobilizar os esquemas mentais operatórios de
assimilação. Nesse contexto, o aluno é ativo, dinâmico e sujeito, que participa da construção de
seu próprio conhecimento.
Instituto Super ior de Educação da Zona Oeste/Faetec/Sect-RJ.
Democratiz ar , v.II, n .1 , jan ./ abr . 2008 .
Dentro dessa visão, em que educar é formar e aprender é construir o. Próprio saber, a
avaliação assume dimensões mais abrangentes. Ela não se reduz apenas a realização de provas e
atribuições de notas. Sua conotação se amplia e se desloca, no sentido de verificar em que medida
os alunos estão alcançando os objetivos propostos nos projetos pedagógicos para o processo
ensino-aprendizagem.
Tais objetivos se traduzem em mudança de comportamentos motores, cognitivos, afetivos
e sociais. Se o ato de ensinar e aprender consiste em tentar realizar esses objetivos, o ato de
avaliar consiste em verificar se eles estão sendo realmente atingidos e em que grau se dá essa
consecução, para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem e na construção de seu saber. Nessa
perspectiva, a avaliação assume um sentido orientador, cooperativo e interativo.
No pensar de Haydt, tal concepção é reafirmada:
A educação: não mudou apenas os métodos de ensino, que se tornaram ativos, mas
incluir também a concepção de avaliação. Antes, ela tinha um caráter seletivo, uma vez
que era vista apenas como uma forma de classificar e promover o aluno de uma série
pra outra ou de um grau para outro. Atualmente, a avaliação assume novas funções, pois
é um meio de diagnosticar e de verificar em que medida os objetivos propostos para o
processo ensino-aprendizagem estão sendo atingidos (Haydt, 1988, p.14).
A avaliação deve ser a “reflexão transformada em ação”. Ação essa que nos impulsione as novas
reflexões. Reflexão permanente do educador sobre sua realidade e acompanhamento, passa a
passo, do educando na sua trajetória de construção do conhecimento. Um processo interativo,
através do qual educando e educadores aprendem sobre si mesmos e sobre a realidade escolar no
ato próprio da avaliação. Não se deseja uma avaliação autoritária que assuma a responsabilidade
pelo diagnóstico do desempenho do aluno e a partir daí, tomam-se decisões fora do alcance que a
própria avaliação oferece.
A avaliação deixa de ser um momento final do processo educativo para se transformar na
busca incessante de compreensão das dificuldades do educando e na dinamização de novas
Instituto Super ior de Educação da Zona Oeste/Faetec/Sect-RJ.
Democratiz ar , v.II, n .1 , jan ./ abr . 2008 .
Considerações finais
Luckesi
A avaliação do processo de desenvolvimento e aprendizagem dos alunos não pode ser pensada
em si mesma, deve ser realizada em sintonia com o Projeto Político-Pedagógico da Escola,
construído coletivamente, que norteia o planejamento e a metodologia da sala de aula.
Assim entendida, a avaliação da aprendizagem é processo orientador e interativo,
constituindo um desafio para o professor e também não sendo uma atividade solitária do
professor: ela tem que ser compartilhada com os alunos, pais, professores e gestor escolar.
Daí podemos concluir que a avaliação é um processo contínuo, participativo, com função
diagnóstica e investigativa, cujas informações devem proporcionar o redimensionamento da ação
pedagógica e educativa, reorganizando as próximas ações de todos, no sentido de avançar no
entendimento do processo de aprendizagem.
Entretanto, para o professor avançar rumo ao sucesso de todos os alunos, é necessário
desconstruir preconceitos, estereótipos e mitos culturalmente enraizados na comunidade escolar
tais como Penna Firme (1996) destaca:
• Professor bom é aquele que reprova.
• Repetir é bom para o aluno pegar base.
• Esse menino não tem jeito para o estudo.
• As famílias pobres não dão valor ao estudo.
Uma escola que tem a preocupação com a aprendizagem de todos, que acredita nas
potencialidades dos alunos, conseqüentemente, trabalha para o sucesso, estimula a auto-estima e
não precisa preocupar-se com o binômio aprovação-reprovação, pois sabe que, no processo de
aprendizagem, o aluno sempre alcança progresso e deve prosseguir do ponto em que parou.
Admitir a idéia de começar tudo de novo é desconsiderar a natureza do processo.
Finalmente, no processo ensino-aprendizagem, na interação professor-aluno, pode
concluir que juntos, acertamos, assumimos riscos, alcançamos objetivos. A avaliação não pode
servir para selecionar e excluir o aluno desse processo, pois tal prática é uma violência ao direito
à educação. A avaliação deve sempre servir para redimensionar o planejamento do professor e
subsidiar o fazer pedagógico. Por conseguinte, voltada para a transformação, a avaliação é muito
mais do que a expressão de determinar conceitos para os alunos, ela expressa a postura do
educador responsável, ético-político, competente e comprometido com a construção do
conhecimento e do desenvolvimento de capacidades, habilidades, competências e atitudes numa
escola democrática e cidadã.
Referências
ALVES, R.A. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1984.
DEMO, P. Avaliação Quantitativa. Campinas: Autores Associados, 1999.
DEMO, P. Professor do Futuro e Reconstrução do Conhecimento. Petrópolis: Vozes, 2004.
HAYDT, R. C. C. Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1988.
HOFFMANN, J. Avaliar para promover – as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001.
evaluate the learning process is a task that can be perceived in different ways. The aim is to think
deeply about the evaluation of the learning process as being interactive with students and
educators gaining knowledge on their own and, at the same time, gathering information about the
school reality during the evaluation action. The evaluation must be reflection transformed into
action . Action which drives us to new reflection. Permanent reflection from the part of the
educator on his reality and a sistematic continuous following of students during their knowledge
construction.
Key-words: Educational evaluation; learning; interaction.
O processo avaliativo não tem sido nada fácil para seus atores. Essa
constatação só vem reforçar a necessidade de refletirmos sobre o nosso fazer
pedagógico no ensino superior. A complexidade que o tema envolve serve de
justificativa e nos deixa um pouco aliviados, quando nos sentimos amarrados pelo
sistema educacional e insatisfeitos com a nossa prática em sala de aula. De
qualquer forma, essa complexidade permite-nos também questionar e refletir
sobre o que fazer. Então, poderíamos perguntar: Como se dá, passo a passo, a
nossa prática avaliativa? A partir dela, o que entendemos por avaliação?
Além do mais, por mais óbvio que possa parecer, é preciso estudar para
aprender, para compreender o mundo, para usufruir o patrimônio acumulado pela
humanidade e transformar esse mundo, para participar ativamente,
conscientemente desse mundo, para sermos cidadãos e fazer de nossos alunos
profissionais comprometidos com a sociedade em que vivem. Infelizmente, assim
como na educação básica, os alunos do ensino superior também são incentivados
a estudar apenas para tirar nota e não para aprender, o que nem sempre é a
mesma coisa. Essa é uma forte perversão do processo ensino-aprendizagem
(VASCONCELLOS, 1995).
Como escolhemos o que deve ser cobrado em uma avaliação? Será que o
que perguntamos em uma prova é realmente o que o aluno precisa saber? As
respostas para essas questões devem ser encontradas nos objetivos do ensino.
Freitas (1995) defende que a avaliação não pode estar desvinculada dos
objetivos. O que pretendemos com o conteúdo que passamos aos nossos
alunos? Tendo essa resposta, conseqüentemente teremos a resposta para as
duas primeiras perguntas. Para uma prática avaliativa transformadora temos,
necessariamente, que deixar de fazer avaliação de cunho meramente decorativo.
O enunciado prolixo de uma questão não pode ser mais importante do que
a própria capacidade de resolução de um problema. Para mudar, precisamos fugir
do uso de questionários que só enfatizam a memorização, podemos fazer a
avaliação sócio-afetiva, ou seja, observarmos as atitudes, os valores, os
interesses, os esforços dos alunos, a participação, o comportamento, o
relacionamento, a criatividade, a iniciativa, etc. Mas tudo isso sem vincular à nota,
afinal, como é possível medir e contar acertos sobre esses aspectos? Podemos
sim avaliar, no sentido de acompanhar o desenvolvimento sócio-afetivo de nossos
alunos e saber o quanto esse aspecto tem influenciado positiva ou negativamente
no desenvolvimento cognitivo dos mesmos. Quanto à nota de participação, se
usada, somente com critérios bem objetivos tais como, dar nota àqueles que
entregarem as atividades solicitadas, aos que fizerem todas as tarefas, aos que
estiverem presentes nas aulas, aos que trouxerem o material, enfim, somente
podemos avaliar quantitativamente os aspectos mais objetivos para não cairmos
na subjetividade, muitas vezes, discriminatória e preconceituosa (Vasconcellos,
1995).
Outra prática interessante para ser implementada com rigor e seriedade é a
auto-avaliação como parte da formação do educando. Isto não significa de forma
alguma, solicitar ao aluno que se atribua uma nota. A auto-avaliação significa criar
situações em que o aluno precise comparar sua atuação, refletir sobre ela e
avaliá-la a partir de critérios previamente discutidos e definidos pelo coletivo da
sala de aula.
Quinto princípio: é extremamente necessário alterar a
nossa postura diante dos resultados
Esse princípio deve ser considerado como um dos mais importantes para
que realmente ocorra uma mudança em nossa prática meramente verificativa. Se
não pararmos de agir com a intenção de apenas quantificar o que nossos alunos
sabem e depois publicarmos os resultados, de nada vai adiantar tentarmos
implementar qualquer um dos princípios anteriormente apresentados. Perceber as
necessidades/ dificuldades dos alunos e conseguir intervir na realidade para
ajudar na superação faz-se necessário. Aqui, o erro passa a ser muito importante
para o nosso trabalho. O erro revela que o aluno precisa de nossa ajuda. Através
de seu erro saberemos com ajudá-lo e o que, ou em que, ele precisa de nossa
ajuda. Se não pudermos fazer nada pelos alunos que não aprenderam, então qual
será o nosso papel? Será que somos capazes de ensinar apenas aos alunos que
não têm nenhuma dificuldade? Com certeza não.
Diário reflexivo
Auto-avaliação
Portfólio
Trabalho monográfico
Por meio de um projeto de pesquisa e com a ajuda de um professor
orientador, o aluno vivencia o processo de produção de conhecimento, a partir da
problematização de uma dada realidade. Esse trabalho avaliativo é mais comum
nos cursos de graduação, especialmente para os alunos de iniciação científica.
Seminário
Entrevista
Conselho de turma
Por fim, ousamos propor que a avaliação aconteça de forma coletiva. Que
haja momentos para que professores e alunos possam discutir os problemas de
aprendizagem e propor sugestões em conjunto para solucioná-las. E o mais
importante: que a decisão de reprovar um aluno passe pela avaliação de um
conselho criado especialmente para participar do processo de avaliação formativa
e que esse conselho se reúna durante todo o semestre letivo e não apenas ao
final. De qualquer modo, o conselho de turma deve ter um acompanhamento
criterioso de todos os alunos de uma turma e deve ser mais abrangente por contar
com a avaliação dos professores e alunos da turma.
Publicação Eletrônica.
Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/orgaos/edipucrs/>
ISBN: 978-85-7430- 982-8 (on-line)
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às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código
Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998,
Lei dos direitos Autorais).
APRESENTAÇÃO
Introdução............................................................................................... 09
Sobre os Autores..................................................................................... 11
As Organizadoras
10
SOBRE OS AUTORES
12
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
13
Sobre os Autores
14
1. ESPECIFICIDADES DA AVALIAÇÃO
QUE CONVÉM CONHECER
Marlene Correro Grillo
Valderez Marina do Rosário Lima
16
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
17
GRILLO, M. C.; LIMA, V. M. R. — Especificidades da avaliação que convém conhecer
Uma reflexão inicial remete para o entendimento da conjunção dos três gran-
des constituintes da ação pedagógica: ensino, aprendizagem e avaliação, o que
leva a considerá-los como uma totalidade. Nessa perspectiva, o ensino é consi-
derado como a organização de situações capazes de contribuir para a produção
do conhecimento pelo aluno; a aprendizagem, como um processo de construção
pelo aluno de significados próprios, mediante sínteses sobre o que ele vivencia
e o que busca conhecer; e avaliação, como um componente de diagnóstico e de
reorientação do ensino e da aprendizagem pela compreensão da prática docente
e da trajetória acadêmica do aluno.
Aprofundando a reflexão, vêm à tona concepções, crenças e conhecimentos
que traduzem modelos teóricos de homem e de sociedade, pois a prática pedagó-
gica não ocorre num vazio a-histórico; antes, responde a uma proposta político-
pedagógica de educação. Os conteúdos constituintes de uma matriz curricular e
apresentados num programa de ensino são selecionados a partir de um projeto
de homem concreto, coerente com o seu tempo, que responda às demandas da
sociedade. Os aspectos operacionais da avaliação, em consequência, exigem dos
avaliadores crença nas concepções propostas em referencial teórico para a ocor-
rência de uma avaliação a serviço da aprendizagem.
Nesse texto, tal referencial está sintetizado nos três princípios que seguem,
destacados por Grillo (2003).
18
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
perceber ser essa a forma preferida pelo professor, uma perspectiva de produto,
ou procurará apropriar-se do conteúdo analisado e debatido a cada aula, assumin-
do uma atitude participativa se o professor valorizar o processo de aprendizagem
e buscar outras formas de avaliação além da prova. Mostra-se, assim, a força da
avaliação no contexto educacional, em qualquer nível de ensino, capaz de gerar
um currículo oculto que leva o aluno a se preparar conforme o professor ensina
e principalmente avalia.
19
GRILLO, M. C.; LIMA, V. M. R. — Especificidades da avaliação que convém conhecer
Referências
GRILLO, M. Por que falar ainda em avaliação. In: ENRICONE, D.; GRILLO, M.
(Org.). 2. ed. Avaliação: uma discussão em aberto. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 1996.
20
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
21
2. qUESTÕES SOBRE
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM:
a voz dos professores1
Valderez Marina do Rosário Lima
Marlene Correro Grillo
1
Versão revisada e ampliada de GRILLO, M. C.; LIMA, V. M. do R. Dimensões conceituais e
operacionais da avaliação. In: LIMA, V. M. do R. (Org.). A gestão da aula universitária na PUCRS.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
ções e contribuir para a reflexão que se faz necessária quando o tema abordado
é avaliação da aprendizagem.
24
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
8, pois o conceito parece marcar mais o aluno do que a nota e, quando esta é uti-
lizada, o aluno suporta melhor até mesmo as mais baixas. No entanto, em ambos
os casos, a descrição qualitativa do desempenho e a explicitação da relação com
critérios esperados podem ajudar na compreensão dos resultados.
Contudo, o mais importante, quando se trata desta questão, é evitarem-se
qualificações como aluno conceito A, aluno conceito C, ou ainda aluno nota
10, para que não constituam marcas definitivas na história da vida escolar dos
alunos como bons ou maus estudantes, acompanhadas de sentimentos de êxi-
to ou de fracasso; antes faça-se referência a tais situações, afirmando-se que o
aluno ainda não alcançou ou está em processo de, pois os resultados decor-
rentes das avaliações têm muito reconhecimento na academia, no ambiente
escolar, na sociedade e mesmo entre os alunos, influindo na autoestima e na
autoimagem.
25
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
26
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
27
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
28
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
falam muito, embora nem sempre tragam contribuições relevantes; outros, mais
tímidos, contribuem menos e talvez estejam bastante presentes sem, no entanto,
evidenciarem-no abertamente.
Um objetivo de aprendizagem pode, ainda, estar classificado ao mesmo tempo
nas áreas afetiva e cognitiva, por conta da especificidade do curso ou da disci-
plina formadora de profissionais que exigem competências específicas, como En-
fermagem, Psicologia, Medicina, Serviço Social, bem como estágios e disciplinas
teórico-práticas. Apresentam-se como exemplos situações em que o aluno precisa
desempenhar-se adequadamente num trabalho comunitário, numa relação espe-
cífica com os alunos, no atendimento a pacientes, numa atividade de estágio,
entre outras. Nesse raciocínio, a atribuição de notas à participação, ao respeito ao
outro, à solidariedade, ao saber escutar terá sentido, já que essas dimensões, nes-
sas situações, são objeto da aprendizagem. Os alunos, nesses casos, deverão ser
informados que tais aprendizagens atitudinais fazem parte do conteúdo específico
e, como tal, são passíveis de avaliação. Na ausência de um sistema de avaliação
que considere separadamente as duas dimensões, cabe ao professor, em enten-
dimento com os alunos, estabelecer critérios que permitam avaliar as dimensões
cognitiva e afetiva, constituindo uma nota única.
Tal procedimento, no entanto, não exclui a utilização de aconselhamentos
orais ou escritos, recomendações que, numa linguagem coloquial, podem auxiliar
o aluno a melhor entender o significado da nota a que fez jus.
29
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
30
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
cessitam ser bem planejados pelo professor para evitar que se tornem aula exposi-
tiva ministrada pelos alunos, quando um grupo responsável pelo seminário expõe
aos demais colegas o conteúdo de um texto ou de um capítulo de livro didático.
É muito difícil que tal atividade não leve à apatia e ao desinteresse dos demais
colegas, que reservam então esse tempo para atualizar cadernos ou outras tarefas
atrasadas, isso se permanecerem em aula. Embora seja comum atribuir-se a um
grupo de alunos a responsabilidade da organização de um seminário, o professor
pode, ele mesmo, organizar toda a dinâmica, propondo questões, orientando
estudos e pesquisas que possam levar além do que está sendo estudado no am-
biente da aula.
Entretanto, há sempre um conteúdo cognitivo a ser estudado num seminário,
constituindo o pano de fundo da atividade, a partir da qual se desenvolvem outras
dimensões de aprendizagens, como a afetiva e a social. E isso ocorre num espaço
de trabalho cooperativo que exige cumprimento de tarefas com responsabilidade
e participação de cada um e de todos. É neste momento que aflora a dificuldade
do professor: o que avaliar, como avaliar, a que atribuir nota ou conceito?
Alguns docentes ensaiam a atribuição da mesma nota a todos os participantes
de um mesmo grupo, já que trabalharam juntos. Mas diante do questionamento
se todos trabalharam igualmente, a possibilidade de nota única não se sustenta e
não responde ao docente de forma satisfatória. Outros professores preferem não
atribuir nota, mas entendem que, se o trabalho “não valer nota”, os alunos não se
comprometem, havendo desinteresse e mesmo evasão da sala de aula.
A solução mais recomendada nesses casos é que, após a conclusão do semi-
nário, seja proposta alguma atividade como uma produção textual, a resposta a
uma questão integradora, a elaboração de afirmações sobre o conteúdo estudado,
a formulação de novas questões que o estudo sugira, entre várias outras ativida-
des que efetivamente necessitem da presença qualitativa do aluno para serem
realizadas. Se os alunos forem previamente comunicados, certamente não haverá
desinteresse nem ausências.
O professor poderá complementar a solicitação, estimulando a responsabilida-
de ao propor a cada aluno ou grupo uma ficha de autoavaliação para ser realizada
junto aos colegas de trabalho sobre:
• participação nas atividades preparatórias e nas discussões;
• contribuição com textos complementares;
31
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
32
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Considerações finais
33
LIMA, V. M. R.; GRILLO, M. C. — Questões sobre avaliação da aprendizagem: a voz dos professores
Referências
34
3. cRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO A
SERVIÇO DA APRENDIZAGEM
Rosana Maria Gessinger
Marlene Correro Grillo
Ana Lúcia Souza de Freitas
36
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
37
GESSINGER, R. M. et al. — Critérios de avaliação a serviço da aprendizagem
38
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
39
GESSINGER, R. M. et al. — Critérios de avaliação a serviço da aprendizagem
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
A explicitação de tais critérios é tanto mais útil quanto melhor indicar o que
deve ser executado pelos alunos enquanto o trabalho está sendo realizado (di-
mensão formativa) e as características que tal trabalho deve apresentar como
resultado dessa aprendizagem (dimensão somativa).
41
GESSINGER, R. M. et al. — Critérios de avaliação a serviço da aprendizagem
42
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
sempre uma perda de informação quando se precisa passar das constatações ad-
vindas da avaliação para categorias mais concisas e comunicáveis como notas ou
graus, e que, em parte, não cabem nessas comunicações (GIMENO SACRISTÁN;
PÉREZ GÓMEZ, 1998). Há, então, um empobrecimento inevitável da informação
sobre todo o desempenho do aluno, especialmente se ele faz parte de uma turma
numerosa. Por exemplo, ao comunicar ao aluno um grau cinco sem explicitar
quais critérios foram atendidos ou desatendidos, o professor dificulta a reorienta-
ção pelo próprio aluno, o qual, por não compreender a origem da nota que lhe
foi atribuída, exime-se de sua responsabilidade e passa a afirmar que o professor
“lhe deu” tal grau.
Aconselhamentos, pareceres, recomendações realizadas oralmente ou obser-
vações escritas nos trabalhos dos alunos, numa linguagem simples e informal,
podem resolver em parte este problema, desde que se minimize a ideia contabi-
lista de avaliação, segundo a qual esta sempre deve ser concluída com uma nota.
Antes de ser produto, a avaliação é predominantemente processo e como tal ne-
cessita ser considerada não só pelo professor. O aluno também precisa entender
a necessidade da sua participação, do seu comprometimento, do valor de leituras
constantes e do comparecimento às aulas para a sua formação, mesmo que isso
não valha nota, para usar palavras que estamos acostumados a ouvir.
Cabe chamar a atenção sobre os alunos que recebemos atualmente. Diferenças
marcantes entre eles sempre existiram, talvez hoje mais acentuadas em razão das
condições socioeconômicas que todos conhecemos. Entretanto, essas diferenças
não devem constituir-se como fator de exclusão. Isso exige compreensão e sen-
sibilidade do professor para buscar alternativas pedagógicas que contemplem as
singularidades, contribuindo para a redução das desigualdades na aprendizagem
dos alunos, por meio de ações como monitorias ou de outras a serem criadas para
que eles possam apropriar-se do conhecimento.
Referências
43
GESSINGER, R. M. et al. — Critérios de avaliação a serviço da aprendizagem
44
4. AUTOAVALIAÇÃO:
por que e como realizá-la?
Marlene Correro Grillo
Ana Lúcia Souza de Freitas
O interesse por uma prática avaliativa que auxilie os alunos a aprender expli-
ca o empenho de muitos educadores em revisar procedimentos didáticos, com
ênfase na avaliação. Buscando-se, ainda, uma proposta que auxilie na formação
de um aluno autônomo e protagonista de sua aprendizagem, reconhecemos a
avaliação formativa como ponto de partida. Trata-se de uma prática contínua,
realizada durante os processos de ensinar e de aprender, objetivando a melhoria
da aprendizagem enquanto ela se realiza. Tendo como foco específico o proces-
so e não apenas os seus produtos, configura-se como orientação permanente da
aprendizagem, tanto para o professor como para o aluno, que assumem, solidaria-
mente, compromissos recíprocos. Esta modalidade avaliativa transcende a lógica
classificatória da avaliação de resultados, que reduz a avaliação à atribuição de
uma nota ou conceito ao final de determinado espaço de tempo.
O trabalho pedagógico deixa de ser exclusividade do professor e passa a ser par-
tilhado com o aluno, que vai, aos poucos, consolidando a autoconfiança ao perceber-
se capaz de tomar decisões sobre a aprendizagem da qual ele é o autor. Levando-se
em conta que a reelaboração das ideias só pode ser realizada pelo próprio aluno, e
que o conhecimento não se dá por acumulação e sim por reconstrução dos saberes
adquiridos, a avaliação formativa evolui necessariamente para a autoavaliação. Esta
se insere na proposta de avaliação formativa e pressupõe uma relação baseada na
reciprocidade e na partilha; portanto, não se reduz a um instrumento e nem se realiza
GRILLO, M. C.; FREITAS, A. L. S. — Autoavaliação: por que e como realizá-la?
46
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
1
Mediação pedagógica: competência do professor para auxiliar o aluno a relacionar o já conhecido
ao novo, para tornar os saberes significativos, por meio de revisões, reorganizações de conteúdos e
apresentação de exemplos.
2
De acordo com o Art. 68 do Estatuto e Regimento Geral da PUCRS, “o grau G1 é expressão da
aprendizagem obtida por meio de instrumentos e procedimentos como um conjunto de verificações,
exercícios, trabalhos teórico-práticos, projetos e/ou atividades, relatórios, de acordo com as
peculiaridades da disciplina”.
47
GRILLO, M. C.; FREITAS, A. L. S. — Autoavaliação: por que e como realizá-la?
48
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Referências
49
5. OS DESAFIOS DO PLANEJAMENTO
E DA PRÁTICA DE AVALIAÇÃO EM
AMBIENTES ON-LINE
Márcia de Borba Campos
Uma vez que se pode observar um maior uso de ambientes virtuais de ensino
e de aprendizagem como suporte às aulas presenciais ou como sala de aula vir-
tual para disciplinas semipresenciais ou a distância, vale discutir sobre questões
relacionadas ao uso de ambientes on-line para que se possa planejar para avaliar
e, com o resultado da avaliação, melhor planejar o processo de ensino e de apren-
dizagem mediante o uso de tecnologias de informação e comunicação.
Existem variados modelos de educação a distância e, consequentemente, de
cursos e de aulas: há cursos a distância que direcionam os encontros presenciais
para atividades avaliativas, outros para aulas de recuperação ou estudo em grupo;
há os que são totalmente assíncronos e outros que combinam atividades síncro-
nas e assíncronas; alguns são baseados na aprendizagem colaborativa, outros no
ensino individualizado; há cursos direcionados para poucos e outros para muitos
alunos; alguns utilizam material impresso e outros uma variedade de mídias digi-
tais; alguns funcionam baseados exclusivamente na internet, outros em satélites e
videoaulas; etc. Portanto, essa variedade faz com que princípios de planejamento
e de avaliação se diferenciem para além do uso dos recursos tecnológicos, mas se
aproximem da educação presencial enquanto reflexo do fazer pedagógico e das
concepções de aprendizagem.
CAMPOS, M. B. — Os desafios do planejamento e da prática de avaliação em ambientes on-line
A complexidade da avaliação
52
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
como verdadeiros e estáveis. Desta forma, uma vez que o professor não pode se
fazer representar, devem ser organizadas estratégias de elaboração e atualização
do ambiente on-line, bem como de acompanhamento e avaliação das aprendi-
zagens que não se limitem à geração de relatórios numéricos sem o registro das
particularidades do percurso cognitivo dos alunos em formação.
Não se deseja a eliminação dos aspectos quantitativos. Nunes e Vilarinho
(2006) também entendem que quantidade e qualidade não são excludentes, mas,
sim, complementares. Em ambientes on-line, as informações quantitativas podem
trazer subsídios aos professores, não somente no sentido de que um aluno não
acessou um determinado conteúdo, mas que determinado fórum não foi acessa-
do, ou que tal atividade não foi realizada pela maioria dos alunos, por exemplo.
Essas informações devem ser consideradas pelo professor como subsídios que
indicam a necessidade de retomadas ao planejamento do ensino e do ambiente
virtual de ensino e de aprendizagem (AVEA) utilizado. Ainda, relatórios de acesso
permitem a elaboração de estratégias para que sejam resgatados alunos que não
estão participando das atividades a distância. Assim, aliados a outras estratégias
qualitativas, os dados quantitativos também podem auxiliar a minimizar/evitar a
evasão de alunos.
Avaliação em movimento
53
CAMPOS, M. B. — Os desafios do planejamento e da prática de avaliação em ambientes on-line
AVEA muito possivelmente essa postura será potencializada. Também, se, no pre-
sencial, o professor pouco considera os resultados da avaliação como estratégia
para rever seus métodos e materiais, ou se a correção detalhada não chega até o
aluno, no ensino a distância dificilmente serão consideradas a qualidade das parti-
cipações e as formas de realização de avaliação, que demandam diálogo contínuo
com os alunos em formação e com o próprio plano de ensino, no exercício de ir e
vir do planejamento para a ação. A questão que permanece é que o planejamento
pode potencializar diferentes formas de ensinar e aprender e que a avaliação deve
trazer indicativos tanto para o professor quanto para os alunos.
Grillo e Lima (2008) alteram a frase de Nóvoa “Diz-me como ensinas e dir-te-
ei quem és e vice-versa” para “Diz-me como avalias e eu te direi como ensinas”.
Seguindo essa corrente, a mesma frase poderia ser substituída por “Diz-me como
avalias e eu te direi como será teu ambiente virtual, e vice-versa”. Justifica-se essa
reescrita a partir de alguns princípios de avaliação também descritos por Grillo e
Lima (idem):
• A avaliação configura todo o cenário pedagógico e explicita a prática de-
senvolvida: se a avaliação se procede de forma pontual, numa perspectiva
de produto, e não de processo, o aluno participará somente das atividades
que “valem nota” e dos questionários apresentados ao final de cada unida-
de temática e ocorrerão muitos silêncios virtuais nos espaços interativos.
Se a avaliação se procede como processo, haverá o estabelecimento de
uma rede social, com diferentes formas de avaliação além de provas e
questionários, e também o diálogo como fonte para a avaliação.
• A avaliação está presente em toda a ação pedagógica: quando o profes-
sor planeja o ambiente virtual de uma disciplina, ele disponibiliza mate-
riais, define recursos de comunicação e planeja atividades. Num processo
proativo, faz um julgamento de como espera que as aulas transcorram e
prepara o ambiente virtual. Contudo, como o planejamento e a avaliação
são práticas construídas no cotidiano, deve-se aplicar o planejamento com
plasticidade. Duarte (2007) observa que a atuação do professor deve ser
flexível para permitir a adaptação às necessidades dos alunos em todo o
processo de ensino e de aprendizagem. Então, se o professor não altera
sua prática e tampouco o ambiente virtual que apoia suas aulas, a avalia-
ção dificilmente fará parte de toda ação docente.
54
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
(...) Quando optamos por explorar um texto em vez de uma aula expositiva,
fazemos essa escolha baseados em um planejamento e em uma avaliação.
Não são escolhas aleatórias, mas feitas com base em uma concepção de
aprendizagem, do entendimento do que seja conhecimento, (...), ou seja,
baseamo-nos na teoria, mas não em qualquer teoria.
55
CAMPOS, M. B. — Os desafios do planejamento e da prática de avaliação em ambientes on-line
56
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
57
CAMPOS, M. B. — Os desafios do planejamento e da prática de avaliação em ambientes on-line
deve ser entendida como atribuição de uma nota ou conceito. Nunes e Vilarinho
(2006) consideram-na como elemento-chave para alunos e professores conscienti-
zarem-se de suas dificuldades e conquistas. Muitos ambientes virtuais possuem o
recurso de diário, que são individuais, que poderiam ser utilizados para a elabora-
ção e o acompanhamento da autoavaliação pelos alunos e professor, por exemplo.
Os ambientes virtuais, em sua maioria, disponibilizam recursos e serviços que
permitem coletar informações sobre as necessidades e características dos alunos,
sobre o processo de aprendizagem dos mesmos como um todo, e também indi-
vidualmente. Cabe aos professores propor diferentes atividades de avaliação com
criatividade, inovando nos procedimentos de acordo com a turma, os objetivos pe-
dagógicos, os prazos, a finalidade daquela avaliação. Para tanto, as atividades pro-
postas devem estar bem definidas, claras e completas no que se referem, também,
aos recursos on-line que irão apoiá-las. Por exemplo, se uma discussão deve ocorrer
num determinado fórum, esse precisa ter sido criado com antecedência, bem como
as regras de participação. Se um trabalho deve ser entregue até dia tal, deve ser
criada uma sala de entrega com essa restrição, por exemplo. Ainda, buscando essa
clara apresentação, deve-se determinar se os alunos podem entregar trabalhos além
do prazo definido, se há alguma limitação no que refere ao tamanho e formato do
arquivo, se é para ser feito individualmente ou em grupos, se há decréscimo na
nota, etc. Portanto, além de definir se é para citar, exemplificar, descrever, discutir,
analisar, etc., devem-se explicitar os critérios e procedimentos avaliativos.
Moore (2007) explica as expectativas de alunos de educação a distância a
partir do que eles dizem esperar em termos de avaliação e feedback das tarefas
propostas (p.150):
• avaliação justa e objetiva;
• respeito ao trabalho desenvolvido;
• explicação e justificativa da nota dada;
• indicação clara de como podem melhorar em termos de respostas especí-
ficas às perguntas e em geral;
• incentivo e renovação da confiança a respeito de sua capacidade e progresso;
• críticas e conselhos construtivos;
• oportunidade para responder, se desejado;
• resposta na ocasião certa (isto é, antes da próxima tarefa a ser entregue).
58
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Considerações finais
59
CAMPOS, M. B. — Os desafios do planejamento e da prática de avaliação em ambientes on-line
Referências
BARILLI, Elomar Christina Vieira Castilho. Avaliação: acima de tudo uma questão
de opção. In: SILVA, Marcos; SANTOS, Edméa. (Org.). Avaliação da aprendizagem
em educação online. São Paulo: Loyola, 2006, p.153-170.
DUARTE, Rosângela de Abreu Amadei. Monitoria em educação a distância: apoio
e interlocução no processo ensino-aprendizagem. In: SCHOLZE, Lia et al. (Org.).
Escola de gestores da educação básica: relato de uma experiência. Brasília: Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007, p.171-183.
GONÇALVES, Maria Ilse Rodrigues. Avaliação no contexto educacional online. In:
SILVA, Marcos; SANTOS, Edméa. (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação
online. São Paulo: Loyola, 2006, p.171-181.
GRILLO, Marlene Correro; LIMA, Valderez Marina do Rosário. Dimensões
conceituais e operacionais da avaliação. In: GRILLO, Marlene et al. (Org.). A
gestão da aula universitária na PUCRS. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008, p.67-82.
LUIS, Suzana Barrios; SANTIAGO, Maria Eliete. Formação docente e avaliação: um
olhar sobre a prática profissional de professores e suas experiências formativas. In:
SIMPÓSIO SOBRE AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: UMA REFLEXÃO CRÍTICA, 1993,
Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Fundação Cesgranrio, 1993. Disponível em
<http://www.anped.org.br/reunioes/24/T0885589165170.doc>. Acesso em: 03 mar.
2010.
MOORE, Michael G. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo:
Thomson Learning, 2007.
NUNES, Lina Cardoso; VILARINHO, Lúcia Regina Goulart. Avaliação da
aprendizagem no ensino online: em busca de novas práticas. In: SILVA, Marcos;
SANTOS, Edméa. (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online. São
Paulo: Loyola, 2006, p.109-121.
PENNA FIRME, Thereza. Os Avanços da Avaliação no Século XXI. Disponível em
<http://www.cenpec.org.br/modules/editor/arquivos/c8a0633f-4d01-eae6.pdf>.
Acesso em: 03 mar. 2010.
PILOTTO, Fernando G. Ensino, avaliação e educação a distância. In: OLIVEIRA,
Celmar Corrêa de; PILOTTO, Fernando Gonçalves. Educação a distância em
processo. Porto Alegre: C. C. O / F. G. P/ Evangraf, 2005, p.85-94.
60
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
61
6. O USO PEDAGÓGICO DO CINEMA:
estratégias para explorar e avaliar filmes
em sala de aula
Helena Sporleder Côrtes
64
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Trabalhar o cinema na sala de aula, explorando com o aluno, este outro uni-
verso de conhecimento e emoções que pode expandir sua capacidade de perce-
ber e compreender o mundo em que vive, implica, portanto, a necessidade de
avaliar se esta percepção se desenvolveu e encaminhou a compreensão preten-
dida, o que demanda o estabelecimento de um plano de ação pedagógica capaz
de sustentar a exploração didática e a correspondente avaliação das atividades de
aprendizagem decorrentes da ‘leitura’ do filme assistido.
Todavia, tanto quanto um texto não é um amontoado de frases ou palavras
desconectadas, pois que tem uma estrutura formal que lhe garante sentido, uma
65
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
66
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
67
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
68
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
69
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
Sob esse prisma, se é fato que ‘não há texto sem contexto’, a contextualiza-
ção da proposta é o primeiro passo a empreender: a mensagem fílmica aborda
um determinado conteúdo que é fonte de informação (e formação), mas, dada a
linguagem específica dos materiais audiovisuais, tal conteúdo se expõe/propõe à
recepção e discussão sempre de maneira socialmente situada. A relação entre o
texto cinematográfico e suas condições de existência e uso acontece numa situ-
ação comunicativa que é definida por diferentes contextos, como explica Casetti
(In CHAGAS, s/d, p.2), quais sejam:
70
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
A utilização do cinema como recurso em sala de aula deve, sob essa perspec-
tiva, ser ‘avaliada’ e, não, apenas ‘verificada’, em termos da presença maciça dos
alunos ou das suas superficiais indicações de ‘gostei’ ou ‘não gostei’ da atividade.
Para efetivamente avaliar a (provável) aprendizagem decorrente de uma situação
de uso do cinema no ensino, é preciso planejar cuidadosamente as estratégias de
ação pedagógica que, em seu conjunto, deverão encaminhá-la, sendo o filme ‘um’
dos recursos selecionados para tanto. Assistir a um filme, então, será ‘uma’ entre
as variadas e desafiadoras atividades que o professor deve definir para organizar
seu trabalho docente, sempre buscando
71
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
72
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Tal como realça Machado (2006), a Sétima Arte é capaz de ensinar muitas li-
ções ‘no escurinho do cinema’ (ou da sala de projeção, na escola), pela força das
imagens e pela multiplicidade de recursos técnicos de que se utiliza – o roteiro,
a cenografia, a música, a interpretação dos atores, os efeitos sonoros e visuais, os
figurinos, a direção de arte são apenas alguns dos tópicos organizados para dar
vida e argumentos que consolidam a proposta de uma obra cinematográfica.
Um filme com potencial expressivo para atingir diretamente a sensibilidade
dos alunos em relação a certos valores/atitudes ou temas relevantes para estudo
pode revelar, talvez, como sugere Morán (2000), o uso mais importante do cine-
ma como recurso de ensino: despertando a curiosidade e a motivação, facilita o
desejo de aprofundar as questões levantadas, abala possíveis resistências e pre-
conceitos construídos a partir do senso comum e estimula a vontade de aprender.
Outra função capital para a escolha de um filme no ensino é a da ilustração
dos conteúdos em desenvolvimento – ajudando a compor cenários desconhecidos
dos alunos, o cinema é um manancial inestimável de contextualização do tempo
e do espaço, no passado, no presente ou no futuro. O trabalho com os fatos e
personagens que compuseram a história da humanidade, ou a indicação da loca-
lização contextualizada de povos e países distantes, serve não só ao óbvio ensino
de História e Geografia, como permite a inserção de outros e variados elementos
passíveis de exploração por inúmeras disciplinas curriculares, na medida em que
contextualiza, ilustra e ‘dá vida’ ao conteúdo de ensino – sempre tendo em vista a
necessidade de reconhecer (e, portanto, advertir) que o filme é uma obra autoral,
73
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
sempre baseada na visão parcial de seus realizadores. Daí porque seja importante
lembrar que o professor deve chamar a atenção para o fato de que “Todo passo,
no processo de análise de materiais audiovisuais, envolve transladar. E cada trans-
lado implica decisões e escolhas. Existirão sempre alternativas viáveis às escolhas
concretas feitas” (ROSE, 2002, p.343). Assim, o que é deixado de fora pode ser
tão importante quanto o que foi incluído na obra – e essa, provavelmente, seja
uma das características que confere tanta força mobilizadora à discussão reflexiva
deste tipo de material.
Apresentando o registro da realidade em detalhes preciosos (como nos docu-
mentários), ou (re)construindo essa realidade pela ficção, o cinema é uma mídia
ímpar para a ilustração do mundo já vivido pelos homens e para as possibilidades
de antever sua vida, numa articulação permanente entre o ‘fato’ e o ‘ficto’, capaz
de (re)dimensionar a percepção dos alunos e enriquecer o trabalho pedagógico
em todas as áreas do conhecimento.
A terceira função a destacar, aqui, como sugestão para o uso didático do
cinema, é a sua possibilidade de ser proposto como recurso de fixação e/ou
integração do conteúdo de ensino, isto é, para formar ou fixar conceitos em es-
tudo, e/ou para integrá-los sob uma perspectiva mais ampla a questões com que
mantenham algum tipo de relação. Nesse caso, quando aborda adequadamente
alguns dos conteúdos conceituais específicos da disciplina, o filme pode orientar
sua percepção e interpretação na direção desejada: os elementos e modo de ope-
ração próprios da linguagem audiovisual colaboram decisivamente para que cer-
tos conceitos sejam mais compreensíveis, facilitando sua articulação com outros
contextos e situações. A busca de uma abordagem interdisciplinar, tão cara aos
educadores contemporâneos, pode ser estimulada pelo uso criterioso de materiais
fílmicos que a encaminhem – o mediador competente incentivará que os vários
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, possivelmente imbricados na
obra selecionada, constituam os ‘fios’ necessários à tessitura de uma compreensão
consistente e plural, desenvolvendo a postura crítica dos estudantes. É justamente
na rede de saberes articulados que o caracteriza, “que o cinema, como instru-
mento e objeto da ação pedagógica, pode atuar na construção da experiência da
significação” (CHAGAS, s/d).
Se associado ao uso do vídeo no ensino (hoje, seu suporte mais comum),
muitas outras funções podem ser atribuídas ao filme com recurso pedagógico.
74
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
75
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
qualquer das funções que se tenha previamente definido, pode ser mais bem
aproveitada se encaminhar um debate ou discussão posterior.
Para tanto, um bom roteiro de questionamentos, estruturado de modo a fazer
emergir os conceitos envolvidos, pode fazer a diferença, na boa exploração di-
dática de materiais fílmicos. Respondidas, primeiro, pelo professor, várias dessas
questões podem integrar um questionário a ser entregue aos alunos, preparando
o debate coletivo. Dentre as sugestões que Mandarino (2002) e Morán (2000)
apontam para o uso do vídeo em sala de aula, alguns tópicos podem ser reconfi-
gurados para o uso do cinema com este propósito, independentemente da função
priorizada:
Há ainda outros e muitos pontos a considerar, porém, como uma peça au-
diovisual é “um somatório de diversos elementos que devem funcionar de forma
76
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
77
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
78
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Enfim, trabalhar com filmes em sala de aula pode ser extremamente gratifican-
te, pois, se bem planejado e encaminhado, esse trabalho invariavelmente tende a
superar as expectativas dos professores, em relação aos resultados alcançados. Fil-
mes exibidos por inteiro, quando o tempo disponibilizado pelos períodos de aula
79
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
for o adequado para permitir a exploração imediata (o que se revela mais fácil nas
grades curriculares dos cursos de formação superior), “são projetados com início,
meio e fim, e a construção de seu sentido depende da construção individual que
o espectador faz antes, durante e depois de suas projeções” (CARVALHO, 2007,
p.50-51). Por isso, se o professor necessita planejar cuidadosamente a exibição
e as atividades de exploração didática deste material, baseando-se nos objetivos
traçados, a avaliação dessa estratégia de ação deve ser igualmente criteriosa, pois
80
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Sob esse enfoque, o cinema, hoje, talvez seja uma mídia insubstituível, con-
centrando em si mesmo a riqueza da linguagem audiovisual no auge de suas
possibilidades como arte e técnica de lidar com as imagens. Também por causa
disso, é necessário
ensinar a morfologia das imagens (como elas se estruturam e como podem ser
transformadas); desvendar a sintaxe das imagens (como elas se relacionam e
podem mudar de sentido); ensinar a gramática da narrativa audiovisual (como
ela fabrica o mais poderoso discurso da história da humanidade): estes são os
desafios. (GERBASE, 1998, p.45)
Vivemos num tempo que é definido por nossa intimidade com as tecnologias e
num mundo que é percebido e editado pelas imagens midiáticas. Essa é a realidade
a partir da qual os agentes educacionais têm que organizar sua ação formativa: assim,
se esse é um mundo dominado pela mídia, “um mundo ‘midiatizado’, a educação tem
que ser, mais do que nunca, o espaço da ‘mediação’, isto é, da articulação reflexiva e
crítica entre esse mundo e as finalidades educativas”. (CÔRTES, 2009, p.52).
Também Carvalho (2007, p.53) enfatiza que “levar o cinema para dentro da
sala de aula significa retirar alguns ‘muros’ que separam as instituições de ensino
superior do mundo que as cerca”. Se a projeção de filmes pode estimular a refle-
xão crítica e o debate sobre os grandes temas contemporâneos que atravessam a
formação acadêmica, discutindo os eventos históricos, políticos, sociais, econômi-
cos e culturais, e fazê-lo de modo a qualificar a formação humana que ambiciona-
mos desenvolver através de nossa atuação, há que construir as condições de uma
mediação pedagógica à altura deste desafio.
Referências
ALMEIDA, M. J. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 2001.
ARAUJO, F.A.M. Música, Cinema e História. Disponível em: <http://www.
webartigos.com/articles/17048/1/MUSICA-CINEMA-E-HISTORIA/pagina1.html>.
Acesso em: 09 mar. 2010.
BLOOM, Benjamin. Taxionomia dos objetivos educacionais – Vol. 2: Domínio
Afetivo. Porto Alegre: Globo, 1974.
81
CÔRTES, H. S. — O uso pedagógico do cinema: estratégias para explorar e avaliar filmes em sala de aula
83
7. DIFERENTES FORMAS DE
EXPRESSÃO DA APRENDIZAGEM
Valderez Marina do Rosário Lima
Marlene Correro Grillo
João Batista Siqueira Harres
1
Maiores esclarecimentos sobre o tema são encontrados no texto “Critérios de avaliação a serviço
da aprendizagem” na presente publicação.
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
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LIMA, V. M. R. et al. — Diferentes formas de expressão da aprendizagem
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
2
Maior aprofundamento desses temas encontra-se em LIMA, V. (Org.) A gestão da aula universitária
na PUCRS. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
89
LIMA, V. M. R. et al. — Diferentes formas de expressão da aprendizagem
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Essas são algumas sugestões apresentadas como exemplo, podendo ser utili-
zadas ou adaptadas, dependendo das especificidades de cada situação de apren-
dizagem. Em cada caso, o professor deverá tornar claros, aos alunos, os critérios
de avaliação.
O portfólio é um instrumento que possibilita ao aluno expressar as aprendi-
zagens realizadas durante um determinado período de tempo. Trata-se de uma
seleção feita pelo aluno de materiais significativos e que representam a sua traje-
tória na construção de conhecimentos. Pode incluir ensaios, relatórios, resenhas,
fichamentos de textos, gráficos, gravuras, mapas, fotografias, recortes, entre ou-
tros, e pode ser construído em meio eletrônico, utilizando-se, no caso específico
do Moodle, os recursos “Diário” ou “Blog”, entre outros.
91
LIMA, V. M. R. et al. — Diferentes formas de expressão da aprendizagem
3
Maiores esclarecimentos sobre o tema são encontrados no texto “Autoavaliação: por que e como
realizá-la?” na presente publicação.
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Algumas recomendações
93
LIMA, V. M. R. et al. — Diferentes formas de expressão da aprendizagem
Referências
94
8. QUESTÕES DE PROVA E SUAS
ESPECIFICIDADES
Valderez Marina do Rosário Lima
Rosana Maria Gessinger
Marlene Correro Grillo
muitas vezes subjazem a tais questões podem ser responsáveis pela falta de inte-
resse do aluno, levando-o a responder sem empenho e sem criatividade, utilizan-
do-se de respostas padrão, já conhecidas, repetidas em aula ou encontradas nos
livros didáticos.
O tema deste texto é bastante antigo; as primeiras publicações sobre o assunto,
traduzidas ou de autoria de especialistas nacionais, datam por volta da década de
70 (GRONLUND, 1974; MEDEIROS, 1981; VIANNA, 1978; SILVA; VEIGA NETO,
1977) e continuam válidas até o momento. O que mudou ao longo do tempo foi
o tratamento dos resultados fornecidos por esses estudos, que passam a ser con-
siderados numa perspectiva compreensiva da aprendizagem do aluno, com uma
função predominantemente diagnóstica e formativa, e não classificatória e finalis-
ta, herança de uma racionalidade técnica há muito superada. É nessa ótica que se
espera sejam utilizadas as informações aqui apresentadas.
Como toda prática intencional, a prática educativa exige avaliação de resul-
tados. Somente com o diagnóstico do que de fato foi obtido, professor e aluno
podem orientar-se na organização ou reorganização das respectivas atribuições
que lhes cabem nesse processo. Esse conhecimento pressupõe instrumentos váli-
dos, que identifiquem o objetivo desejado, e precisos, que forneçam informações
fidedignas (MEDEIROS, 1981).
A prova é apenas uma das várias possibilidades de que dispõe o professor para
avaliar a aprendizagem do aluno e, ao mesmo tempo, a própria ação pedagógica, e é
constituída, mais comumente, por dois tipos de questões: dissertativas, também deno-
minadas de discursivas ou de resposta livre, e questões objetivas. As primeiras solicitam
ao aluno a organização e a expressão das próprias ideias, diferenciando-se das segun-
das, as objetivas, que solicitam a identificação da resposta correta a partir da análise
de alternativas plausíveis apresentadas; são as questões de associação, de asserção e
razão, de escolha múltipla e de resposta alternativa ou de completamento e de redação
de uma única resposta curta (uma data, um nome, um acontecimento, um local).
Ambos os tipos – de resposta livre ou objetiva – têm características específicas
que os tornam mais recomendáveis para avaliar determinados objetivos de aprendi-
zagem do que outros. Ao mesmo tempo apresentam vantagens e desvantagens em
relação às situações que se pretende avaliar. Vários autores, como Vianna (1978)
e Medeiros (1981), elaboram uma comparação entre esses dois tipos, em relação a
aspectos diferenciados, o que pode auxiliar o professor a tomar decisões na orga-
96
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
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LIMA, V. M. R. et al. — Questões de prova e suas especificidades
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POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
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LIMA, V. M. R. et al. — Questões de prova e suas especificidades
100
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
dados, fenômenos. Nesta categoria deve ser proposto ao aluno apreciar, julgar,
concluir, recomendar, tomando-se como referência critérios claros que sustentem
a resposta elaborada. Esses critérios podem ser determinados pelo aluno (o que
já pode ser objeto da avaliação); ou pelo professor. São exemplos de questões da
categoria Avaliação: julgar um trabalho, aplicando determinados critérios; avaliar
criticamente argumentos, crenças, ideias sobre determinados temas. São exemplos
de raízes da categoria avaliação, segundo Vianna (1978):
1. Qual dos procedimentos abaixo é aceitável para... (determinado fim) e,
ao mesmo tempo, está de acordo com o seguinte critério (o maior, o mais
barato, o mais preciso, etc.)?
2. Qual das afirmações apresentadas nas várias alternativas está de acordo
com o seguinte critério...?
Cabe chamar a atenção de que a simples utilização da raiz não garante que
o item se classifique no nível cognitivo indicado, pois este é assegurado pela si-
tuação de aprendizagem proposta e não pela formulação verbal. Muitas vezes, o
nível cognitivo complexo que a formulação parece solicitar é a simples repetição
de uma atividade várias vezes realizada em aula.
As raízes apresentadas como exemplos podem ser utilizadas para questões
de respostas curtas, ampliadas para questões mais extensas, ou em questões ob-
jetivas de escolha múltipla, neste caso, seguidos de quatro ou cinco alternativas.
Tais exemplos podem, ainda, ser utilizados como pergunta ou como afirmação
incompleta.
Com o intuito de conferir praticidade às considerações iniciais, são sintetiza-
das, a seguir, recomendações gerais para orientar o professor nas decisões ao
elaborar uma prova.
101
LIMA, V. M. R. et al. — Questões de prova e suas especificidades
Referências
102
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
103
9. CONTRIBUIÇÕES PARA A
ELABORAÇÃO DE QUESTÕES DE
RESPOSTA LIVRE
Marlene Correro Grillo
Rosana Maria Gessinger
Expressões como comente, qual sua opinião, escreva o que sabe, discuta são
vagas e genéricas; não fornecem orientação segura e podem originar tanto uma
longa dissertação quanto uma resposta breve que demanda poucas linhas, levan-
do a um julgamento fundamentado em subjetividades, pela falta de clareza sobre
o que exatamente está sendo questionado e pelo desconhecimento dos critérios.
Poderiam ser melhoradas se fossem desdobradas em perguntas diretas como: des-
creva cinco características do processo...; posicione-se favorável ou contrariamente
a tal fato, justificando seu posicionamento; apresente pelo menos duas limitações
de uma determinada situação, indicando duas medidas possíveis de solucioná-
las.
Quando o aluno é solicitado a aplicar o que aprendeu em situações novas,
a assumir posição favorável ou contrária a algum fato e argumentar, a formular
conclusões, a organizar ideias elaborando uma produção pessoal, a estabelecer
relações de causa e efeito, a resposta será consequentemente mais elaborada.
São questões complexas que desencadeiam atividades que vão além da simples
memorização e evocação, desde que a resposta não seja definições, descrições,
situações encontradas em livros didáticos, em apostilas ou já examinadas em aula.
São válidas, ainda, questões que demandam consulta bibliográfica. Questões des-
se tipo são adequadas para avaliar habilidades como análise, síntese, avaliação,
elaboração de pesquisa bibliográfica, e são recomendadas em casos em que o
aluno necessitará empregar esta competência em situações futuras.
A formulação da questão discursiva exige sempre clareza para que o aluno
compreenda o que está sendo solicitado e tenha condições de organizar seu co-
nhecimento numa modalidade de produção pessoal. A dificuldade, se é que ela
existe, não deve estar na compreensão da questão, e sim na sua resolução, em-
bora seja comum ouvir professores afirmarem que o entendimento da questão faz
parte da avaliação; tal afirmação reitera a responsabilidade do professor ao propor
questões claras e sem ambiguidades. Nem sempre é fácil para o aluno interpretar
a instrução do item, se esse apresentar problemas de elaboração.
A definição dos critérios de avaliação é outro fator que influi fortemente na
compreensão da questão, devendo ser conhecidos pelo aluno e estar a serviço da
aprendizagem. Devido à importância do estabelecimento de critérios ao formular-
se questões de resposta livre, recomenda-se a leitura do texto “Critérios de avalia-
ção a serviço da aprendizagem”, que integra a presente publicação.
106
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
107
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões de resposta livre
108
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
109
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões de resposta livre
110
10. CONTRIBUIÇÕES PARA A
ELABORAÇÃO DE QUESTÕES
OBJETIVAS
Marlene Correro Grillo
Rosana Maria Gessinger
Questão de lacunas
Questão de associação
112
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Exemplo:
Questão X: Relacione os compositores (Coluna A) com as obras (Coluna B),
numerando os parênteses. Alguns elementos da coluna A poderão ser repetidos
ou não constar na coluna B.
Coluna A Coluna B
1. Verdi ( ) La Traviata
2. Donizetti ( ) Carmem
3. Rossini ( ) Othelo
4. Puccini ( ) Guarani
5. Bizet ( ) Lo Schiavo
6. Carlos Gomes
Exemplo:
INSTRUÇÃO PARA AS QUESTÕES 1, 2 e 3
113
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Questão 1
( ) Joaquim Nabuco empenhou-se na campanha abolicionista,
PORQUE
era tribuno privilegiado e sagaz jornalista.
Questão 2
( ) A Revolução da Chibata foi uma rebelião de populares e da escola Militar
do Rio de Janeiro,
PORQUE
Osvaldo Cruz conseguiu que o presidente Rodrigues Alves decretasse a vaci-
nação obrigatória contra a febre amarela e a varíola.
Adaptado do Concurso Vestibular Verão 2007/PUCRS
Questão 3
( ) O uso do ácido acetilsalicílico é contraindicado no tratamento da dengue
PORQUE
ele pode ocasionar a dengue hemorrágica em indivíduo já infectado anterior-
mente.
Cada um dos tipos de questão já apresentados – de associação, de lacunas e
de asserção e razão – pode tanto constituir uma prova inteira como ser adaptado
à modalidade de escolha múltipla, a partir de reorganizações diversas dos ele-
mentos que os constituem (palavras, frases, símbolos, mapas, gráficos, etc.). Ao
professor compete decidir sobre a forma de item que melhor se ajuste à natureza
do objeto da avaliação num determinado momento.
114
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Escolha múltipla com mais de uma afirmativa correta: o item de escolha múl-
tipla pode apresentar, ainda, várias alternativas corretas e incorretas, que o aluno
deverá reconhecer como verdadeiras e/ou falsas e assinalar numa chave de res-
postas fornecida pelo professor. Nesse caso, deve-se fazer preceder a questão de
115
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
uma instrução específica para alertar o aluno de que foi modificada a lógica da
prova. O número de alternativas numa mesma prova deve ser sempre o mesmo,
geralmente quatro ou cinco. Essa modalidade de questão reúne um conjunto de
afirmativas verdadeiras e falsas a serem identificadas pelo aluno. Convém que, na
instrução, seja destacado o assunto de que tratam as afirmativas para melhor en-
caminhar o raciocínio do aluno. Vale dizer que só devem ser incluídas afirmativas
pertencentes ao mesmo conteúdo, o que dá um sentido de problema. É indispen-
sável cuidado na elaboração da chave de correção correspondente, incluindo só
combinações possíveis.
Exemplo 1:
INSTRUÇÃO: Responder à questão X, considerando as afirmativas a seguir,
que tratam dos sujeitos que atuam no espaço agrário brasileiro.
I – Posseiro é o agricultor que ocupa terras abandonadas; legalmente pode
valer-se de usucapião para reclamar a posse definitiva das terras após ocupá-las
por certo tempo, dependendo dos casos estabelecidos em lei.
II – Gato é o especulador de terras que se apropria de grandes áreas, falsifican-
do títulos de propriedade rural.
III – Grileiro é o empresário que arregimenta trabalhadores que vivem na sua
localidade para levá-los a outras regiões do país com promessas que costumam
não ser cumpridas, podendo, inclusive, gerar trabalho escravo.
IV – Meeiro é o trabalhador, geralmente desprovido de terras, que oferece sua
mão de obra e seus equipamentos em troca de uma parte da produção, conforme
firmado com o proprietário da terra a ser trabalhada.
116
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Exemplo 2:
INSTRUÇÃO: Responder à questão X com base nas afirmativas referentes à
organização demográfica do Brasil.
I. O Brasil está entre os dez países com maior desigualdade social do mundo.
II. A taxa de fecundidade do Brasil está em torno de 4,3 filhos por mulher, e a
taxa de fertilidade está diminuindo.
III. Os dados referentes ao IDH possibilitam localizar o Brasil no grupo de
países situados na faixa de 0,8 a 1,0.
IV. Desde a década de 1950, a população absoluta do Brasil está diminuindo,
graças às políticas governamentais de controle da natalidade.
Questão X. Estão corretas APENAS as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) I, II e IV.
d) II, III e IV.
e) III e IV.
Adaptado do Concurso Vestibular Inverno 2008 PUCRS
Exemplo:
INSTRUÇÃO PARA A QUESTÃO X: Assinale a alternativa que completa corre-
tamente as lacunas.
Questão X: Se ninguém ________ a respeito, como ____________ tomar uma
decisão?
a) se manifestar – se poderá
b) se manifestar – poder-se-á
c) manifestar-se – poder-se-á
d) manifestar-se – se poderá
117
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Exemplo:
INSTRUÇÃO: Relacione os conflitos sociais que eclodiram na Primeira Repúbli-
ca, apresentados na coluna 1, com as respectivas características, apresentadas na
coluna 2, numerando os parênteses.
118
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
119
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Comentário:
O enunciado está incompleto, pois falta o verbo, que tornaria claros o proble-
ma e o objetivo da questão. A questão 1 poderia ser melhorada com a inclusão do
verbo na raiz, o qual definiria o problema, como segue:
120
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Comentário:
A questão não apresenta um problema nem uma afirmação incompleta. A
rigor, não constitui uma questão de escolha múltipla pela ausência de problema,
mas um conjunto de afirmações do tipo Verdadeiro-Falso.
121
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Comentário:
Embora em alguns casos se aceite uma breve contextualização do tema ao se
propor um problema, a questão acima apresenta dados desnecessários para ser
respondida. Poderia ser apresentada como segue:
Questões que solicitam ao aluno a organização e expressão das próprias ideias
são denominadas questões de
a) resposta livre.
b) associação.
c) lacunas.
d) asserção e razão.
Comentário:
As expressões Pesquisa Educacional e Conflitos, apresentadas respectivamente
nas raízes das questões 1 e 2, têm similaridade com as alternativas “a” das duas
questões, o que pode dar pistas ao aluno.
122
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Evite sinais estranhos ao item (a alternativa correta não deve ser mais
precisa, nem mais longa ou mais elaborada).
Comentário:
A alternativa correta, mais detalhada, destaca-se das demais pela extensão,
fornecendo pista ao aluno e induzindo-o à resposta correta. A alternativa “a” de-
veria conter apenas uma afirmação: “oferecem maior amostragem de conteúdo”
ou “demandam menos tempo para correção”.
Comentário:
Não há concordância gramatical entre a raiz e a alternativa “a”; a raiz termina
com o artigo indefinido “um”, e a alternativa “a” inicia com um substantivo femi-
nino. Tal problema pode ser solucionado colocando-se o artigo diante de cada
alternativa, como segue:
O conhecimento do aluno sobre informações fatuais pode ser mais bem ava-
liado com
123
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Comentário:
Falta paralelismo gramatical entre as alternativas. A questão se ajustaria melhor
se a raiz fosse transformada em afirmação incompleta e se as alternativas seguis-
sem a convenção do paralelismo gramatical, conforme segue:
Os termos negativos devem ser evitados no enunciado de um item de escolha
múltipla porque
a) podem passar desapercebidos pelo aluno.
b) exigem a construção de uma alternativa mais longa.
c) tornam a redação das alternativas mais difícil.
d) dificultam a avaliação pelo professor.
124
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Comentário:
A questão propõe mais de um problema: número de sílabas e separação silá-
bica. Poderia ser desdobrada em duas questões, pois, da forma como está apre-
sentada, acrescenta uma dificuldade desnecessária: exigência de dois acertos por
alternativa em conteúdos diferentes.
Exemplo: Quando o indivíduo age de acordo com uma filosofia de vida que
desenvolveu, atingiu, segundo Bloom,
a) a categoria denominada acolhimento.
b) a categoria denominada resposta.
c) a categoria denominada valorização.
d) a categoria denominada caracterização.
Comentário:
A expressão a categoria denominada, repetida em todas as alternativas, deve
ser levada para a raiz:
Quando o indivíduo age de acordo com uma filosofia de vida que desenvol-
veu, atingiu, segundo Bloom, a categoria denominada
a) acolhimento.
b) resposta.
c) valorização.
d) caracterização.
125
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Comentário:
Todos os nomes listados devem pertencer a uma mesma categoria, mantendo
homogeneidade entre si. No presente caso, todos deveriam ser políticos. A alter-
nativa “a” é absurda.
Comentário:
A colocação desordenada de alternativas numéricas ou alfabéticas pode acres-
centar uma dificuldade que independe da dificuldade da questão, como por exem-
plo, erro do aluno na transcrição para a folha de respostas. Assim, as alternativas
deveriam ser apresentadas como segue:
a) 0,4%.
b) 2,5%.
c) 3,6%.
d) 4,0%.
126
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Comentário:
A alternativa “b” inclui a “a” e a alternativa “d” inclui a “c”. Menos de 20% é
também menos de 40%. Mais de 60% é também mais de 40%.
Comentário:
Há mais de uma alternativa correta. Se houver necessidade, pode-se usar a
forma de escolha múltipla com mais de uma resposta, conforme já foi explicado.
127
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Exemplos:
Assinale V ou F conforme julgar a afirmativa verdadeira ou falsa.
1. (V) (F) Questões objetivas oferecem maior amostragem do conteúdo a
ser avaliado do que questões de resposta livre.
2. (V) (F) Questões objetivas possibilitam ao aluno expressar as próprias
ideias.
3. (V) (F) De acordo com o Projeto Pedagógico Institucional da PUCRS, a
avaliação orienta a tomada de decisões, tendo como funções o diagnóstico
e a mediação.
128
POR QUE FALAR AINDA EM AVALIAÇÃO?
Consistem numa afirmação que o aluno deve julgar verdadeira ou falsa. Caso a
julgue verdadeira, ele deverá somente assinalar Verdadeira (V). Caso a julgue fal-
sa, ele deve marcar F no espaço correspondente e escrever dentro dos parênteses
as expressões que, substituindo as sublinhadas, tornem a afirmação verdadeira.
Exemplos:
Assinale V se a afirmativa for verdadeira, e F se for falsa. Se for falsa, preencha
a lacuna entre parênteses com as palavras que, substituindo as palavras sublinha-
das, tornam verdadeiras as afirmações. (As questões 1, 2 e 3 já estão respondidas
nos exemplos para mostrar como deve ser a resposta do aluno).
(V) (F) (...............................) Questões dissertativas possibilitam avaliar a cria-
tividade do aluno.
Comentário: Como a questão é verdadeira, o aluno apenas assinala V e deixa
vazia a lacuna entre parênteses.
(V) (F) (questões dissertativas) Nas questões objetivas, o aluno tem oportuni-
dade de organizar sua própria resposta.
(V) (F) (questões objetivas) Habilidade de leitura do aluno e acerto casual
influem nas respostas a questões dissertativas.
129
GRILLO, M. C.; GESSINGER, R. M. — Contribuições para a elaboração de questões objetivas
Considerações finais
Referências
130