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Arqueologia Bíblica

Arqueologia

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 02

Cap. 1 — CONCEITO GERAL DE ARQUEOLOGIA BÍBLICA .................................................... 02

Cap. 2 — ARQUEOLOGIA E CONFIRMAÇÃO DA BÍBLIA ......................................................... 08

Cap. 3 — DESCOBERTAS MAIS EXPRESSIVAS .......................................................................... 11

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Cap. 4 — O DILÚVIO E A ARQUEOLOGIA ................................................................................... 16

Cap. 5 — A ARCA DE NOÉ E A ARQUEOLOGIA ......................................................................... 18

Cap. 6 — A CONTROVÉRSIA DO O SANTO SUDÁRIO .............................................................. 18

Cap. 7 — MANUSCRITOS DO MAR MORTO ................................................................................ 18

CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 22

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Arqueologia

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos, muita crítica tem sido levantada quanto à confiabilidade histórica da Bíblia. Estas
críticas baseiam-se geralmente na falta de evidência de fontes externas confirmando o registro bíblico. E
sendo a Bíblia um livro religioso, muitos eruditos tomam a posição de que ela é parcial e não é confiável a
menos que haja evidência externa confirmando-a. Em outras palavras, a Bíblia é culpada até que ela seja
provada inocente, e a falta de evidências externas colocam o registro bíblico em dúvida.
Este padrão é extremamente diferente do aplicado a outros documentos antigos, mesmo que muitos
deles, se não a maioria, contém um elemento religioso. Eles são considerados acurados a menos que a
evidência demonstre o contrário. Embora não seja possível verificar cada incidente descrito na Bíblia, as
descobertas arqueológicas feitas desde a metade do século XVIII têm demonstrado a confiabilidade e
plausibilidade da narrativa bíblica. Veremos alguns exemplos dignos de nota no decorrer do estudo. Eis

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alguns para começar:
 A descoberta do arquivo de Ebla no norte da Síria nos anos 70 tem mostrado que os escritos bíblicos
concernentes aos Patriarcas são de todo viáveis. Documentos escritos em tabletes de argila de cerca de 2300
A.C. mostram que os nomes pessoais e de lugares mencionados nos registros históricos sobre os Patriarcas
são genuínos. O nome "Canaã" estava em uso em Ebla - um nome que críticos já afirmaram não ser utilizado
naquela época e, portanto, incorretamente empregado nos primeiros capítulos da Bíblia. A palavra "tehom"
("o abismo") usada em Gênesis 1:2 era considerada como uma palavra recente, demonstrando que a história
da criação foram escrita bem mais tarde do que o afirmado tradicionalmente. "Tehom", entretanto, era parte
do vocabulário usado em Ebla, cerca de 800 anos antes de Moisés. Costumes antigos, refletidos nas histórias
dos Patriarcas, também foram descritos em tabletes de argila encontrados em Nuzi e Mari.
 Os Hititas eram considerados como uma lenda bíblica até que sua capital e registros foram
encontrados em Bogazkoy, Turquia. Muitos pensavam que as referências à grande riqueza de Salomão eram
grandemente exageradas. Registros recuperados mostram que a riqueza na antiguidade estava concentrada
como o rei e que a prosperidade de Salomão é inteiramente possível. Também já foi afirmado que nenhum
rei assírio chamado Sargon, como registrado em Isaías 20:1, existiu porque não havia nenhuma referência a
este nome em outros registros. O palácio de Sargon foi então descoberto em Khorsabad, Iraque. O evento
mencionado em Isaías 20 estava inclusive registrado nos muros do palácio. Ainda mais, fragmentos de um
obelisco comemorativo da vitória foram encontrados na própria cidade de Asdode.
 Outro rei cuja existência estava em dúvida era Belsazar, rei da Babilônia, nomeado em Daniel 5. O
último rei da Babilônia havia sido Nabonido conforme a história registrada. Tabletes foram encontrados mais
tarde mostrando que Belsazar era filho de Nabonido e co-regente da Babilônia. Assim, ele podia oferecer a
Daniel "o terceiro lugar no reino" (Daniel. 5:16) se ele lesse a escrita na parede. Aqui nós vemos a natureza
de "testemunha ocular" do registro bíblico freqüentemente confirmada pelas descobertas arqueológicas.1

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Bryant Wood, da Associates for Biblical Research.
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Capítulo I
CONCEITO GERAL DE ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A arqueologia bíblica é o estudo dos povos e dos eventos da Bíblia, feito por meio do intrigante registro
soterrado. O arqueólogo escava e analisa rochas, muros e prédios em ruínas, cidades devastadas, bem como
desenterra cerâmica, tabuinhas de argila, inscrições, túmulos e outros restos antigos, ou artefatos, dos quais
colhe informações. Tais estudos não raro aprimoram a compreensão das circunstâncias em que a Bíblia foi
escrita e sob as quais viveram os homens de fé da antiguidade, bem como as línguas que eles e os povos ao
redor empregavam. Ampliaram nosso conhecimento de todas as regiões mencionadas na Bíblia: Palestina,
Egito, Pérsia, Assíria, Babilônia, Ásia Menor, Grécia e Roma.
A arqueologia bíblica é uma ciência relativamente nova. Foi somente em 1822 que a decifração da
Pedra de Roseta desvelou os hieróglifos egípcios. A escrita cuneiforme assíria foi decodificada mais de 20

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anos depois. Escavações sistemáticas foram iniciadas na Assíria em 1843 e no Egito em 1850.
Alguns dos Principais Sítios e Achados. A arqueologia tem servido para confirmar muitas
particularidades históricas dos relatos bíblicos referentes a estas terras e para confirmar pontos anteriormente
postos em dúvida por críticos modernos. Demonstrou-se que o cepticismo com respeito à Torre de Babel, a
negação da existência dum rei babilônio chamado Belsazar e dum rei assírio chamado Sargão (cujos nomes,
até o século 19 d.C., não eram encontrados em fontes fora do registro bíblico), e outras críticas adversas
quanto aos dados bíblicos relacionados com essas terras não têm nenhuma base. Ao contrário, desenterrou-se
uma abundância de evidência que se harmoniza plenamente com os relatos bíblicos.
Babilônia. Escavações feitas na antiga cidade de Babilônia e em torno dela revelaram os sítios de
diversos zigurates, ou torres-templos piramidais, escalonados, inclusive o templo arruinado de Etemenanki,
dentro dos muros de Babilônia. Registros e inscrições encontrados a respeito de tais templos freqüentemente
contêm as palavras: "Seu topo atingirá os céus", e o Rei Nabucodonosor é registrado como dizendo: "Ergui o
topo da Torre escalonada em Etemenanki, de modo que seu topo se rivalizasse com os céus." Um fragmento
encontrado ao N do templo de Marduque, em Babilônia, relatou a queda de tal zigurate, nas seguintes
palavras: "A construção deste templo ofendeu os deuses. Numa noite, derrubaram o que havia sido
construído. Espalharam-nos por toda parte, e tornaram estranha a sua linguagem. Impediram seu progresso."
(Bible and Spade [Bíblia e Pá], de S. L. Caiger, 1938, p. 29) O zigurate situado em Uruk (a Ereque bíblica),
segundo verificado, foi feito de argila, tijolos e asfalto. — Veja Gên 11:1-9.
Perto da Porta de Istar, em Babilônia, foram descobertas cerca de 300 tabuinhas cuneiformes
relacionadas com o período do reinado do Rei Nabucodonosor. Entre listas do nome de trabalhadores e de
cativos que então viviam em Babilônia, aos quais eram fornecidas provisões, aparece o de "Yaukin, rei da
terra de Yahud", isto é, "Joaquim, o rei da terra de Judá", levado para Babilônia no tempo da conquista de
Jerusalém por Nabucodonosor, em 617 AEC. Ele foi solto da casa de detenção por Avil-Marduque (Evil-
Merodaque), sucessor de Nabucodonosor, e foi-lhe concedida uma porção diária de alimentos. (2Rs 25:27-
30) Cinco dos filhos de Joaquim também são mencionados nestas tabuinhas. — 1Cr 3:17, 18.

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Encontrou-se abundante evidência do panteão de deuses de Babilônia, inclusive do deus principal,


Marduque, mais tarde comumente chamado de Bel, e do deus Nebo, ambos mencionados em Isaías 46:1, 2.
Grande parte das informações nas inscrições do próprio Nabucodonosor tratam do seu vasto programa de
construções, que tornou Babilônia uma cidade tão magnificente. (Veja Da 4:30.) O nome do seu sucessor,
Avil-Marduque (chamado Evil-Merodaque em 2Rs 25:27), aparece num vaso descoberto em Susa (Elão).
Perto da moderna Bagdá, as escavações na última metade do século 19 resultaram em serem achadas
numerosas tabuinhas e cilindros de argila, inclusive a agora famosa Crônica de Nabonido. Todas as objeções
ao registro do capítulo 5 de Daniel, quanto a Belsazar governar em Babilônia na ocasião da queda desta,
foram rechaçadas por este documento, que provou que Belsazar, filho mais velho de Nabonido, era co-
regente com seu pai, e que, na parte final de seu reinado, Nabonido confiou o governo de Babilônia ao seu
filho Belsazar.
Mostrou-se similarmente que Ur, a antiga cidade de Abraão (Gên 11:28-31), era uma destacada

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metrópole, com civilização altamente desenvolvida. Como cidade sumeriana, estava situada à margem do rio
Eufrates, próxima do golfo Pérsico. Escavações feitas ali por Sir Leonard Woolley indicam que estava no
ápice do seu poder e prestígio no tempo da partida de Abraão para Canaã (a. 1943 AEC). Seu templo-
zigurate é o mais bem preservado de todos os já encontrados. Os túmulos reais de Ur forneceram abundantes
objetos de ouro e jóias de altíssimo calibre artístico, também instrumentos musicais, tais como a harpa. (Veja
Gên 4:21.) Um pequeno machado de aço (e não simplesmente de ferro) também foi encontrado. (Veja Gên
4:22.) Aqui, também, milhares de tabuinhas de argila revelaram muitos pormenores sobre a vida quase
quatro mil anos atrás. — Veja UR N.° 2.
No sítio da antiga Sipar, às margens do Eufrates, a cerca de 32 km de Bagdá, encontrou-se um cilindro
de argila relativo ao Rei Ciro, conquistador de Babilônia. Este cilindro conta a facilidade com que Ciro
capturou a cidade e também delineia sua política, de fazer os povos cativos que moravam em Babilônia
retornar à terra natal deles, harmonizando-se assim com o relato bíblico a respeito de Ciro, como o
profetizado conquistador de Babilônia, e sobre o retorno dos judeus à Palestina, durante o reinado de Ciro.
— Is 44:28; 45:1; 2Cr 36:23.
Assíria. Perto de Corsabade, junto a um tributário setentrional do rio Tigre, descobriu-se, em 1843, o
palácio do rei assírio Sargão II, numa plataforma abrangendo quase 10 hectares, e o subseqüente trabalho
arqueológico feito ali trouxe este rei, mencionado em Isaías 20:1, da obscuridade secular para uma posição
de proeminência histórica. (FOTO, Vol. 2, p. 240) Em um de seus anais, ele afirma ter capturado Samaria
(740 AEC). Registra também a captura de Asdode, mencionada em Isaías 20:1. Outrora considerado por
muitos peritos de destaque como não tendo existido, Sargão II é agora um dos mais conhecidos reis da
Assíria.
Nínive, capital da Assíria, foi o sítio de escavações onde desenterraram o imenso palácio de
Senaqueribe, contendo cerca de 70 aposentos, com lajes esculpidas que revestiam 3.000 m das paredes. Uma
delas retrata os prisioneiros judeus sendo levados ao cativeiro após a queda de Laquis, em 732 AEC. (2Rs
18:13-17; 2Cr 32:9) De interesse ainda maior são os anais de Senaqueribe encontrados aqui em Nínive,

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registrados em prismas (cilindros de argila). Em certos prismas, Senaqueribe descreve a campanha assíria
contra a Palestina no reinado de Ezequias (732 a.C.), porém, notavelmente, o jactancioso monarca não faz
nenhuma afirmação de ter tomado a cidade, confirmando assim o relato da Bíblia. O relato do assassinato de
Senaqueribe, às mãos de seus filhos, é também registrado numa inscrição de Esar-Hadom, sucessor de
Senaqueribe, e o assassinato é mencionado numa inscrição do rei seguinte. (2Rs 19:37) Em adição à menção
do Rei Ezequias, por Senaqueribe, os nomes dos reis Acaz e Manassés, de Judá, e os nomes dos reis Onri,
Jeú, Jeoás, Menaém e Oséias, de Israel, e também de Hazael, de Damasco, aparecem em registros
cuneiformes de diversos imperadores assírios.
Pérsia. Perto de Behistun, no Irã (antiga Pérsia), o Rei Dario I (521-486 AEC; Esd 6:1-15) mandou
esculpir uma imensa inscrição, no alto dum penhasco de rocha calcária, descrevendo sua unificação do
Império Persa e atribuindo seu êxito a seu deus, Auramazda. De valor primário é o fato de a inscrição ter
sido registrada em três línguas, a babilônica (acadiana), a elamita e a antiga persa, servindo assim de chave

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para decifrar a escrita cuneiforme assírio-babilônica, até então não decifrada. Milhares de tabuinhas de argila
e inscrições, na língua babilônica, podem agora ser lidas em resultado desse trabalho.
Susã, cenário dos eventos registrados no livro de Ester, foi escavada por arqueólogos franceses entre
1880 e 1890. (Est 1:2) O palácio real de Xerxes, abrangendo cerca de 1 ha, foi descoberto, revelando o
esplendor e a magnificência dos reis persas. Os achados confirmaram a exatidão de pormenores registrados
pelo escritor de Ester, conforme relacionados com a administração do reino persa e com a construção do
palácio. O livro The Monuments and the Old Testament (Os Monumentos e o Velho Testamento), de I. M.
Price (1946, p. 408), comenta: "Não existe nenhum evento descrito no Velho Testamento cujo ambiente
estrutural possa ser tão vívida e exatamente restaurado por meio das próprias escavações como ‗Susã, o
Palácio‘.‖
Mari e Nuzi. A antiga cidade real de Mari (Tell Hariri) perto do rio Eufrates, a uns 11 km ao NNO de
Abu Kemal, no SE da Síria, foi o sítio de escavações a partir de 1933. Descobriu-se um enorme palácio,
abrangendo uns 6 ha e contendo 300 aposentos, e seus arquivos forneceram mais de 20.000 tabuinhas de
argila. O conjunto palaciano incluía não somente os apartamentos reais, mas também escritórios
administrativos e uma escola para escribas. Grandes pinturas murais ou afrescos decoravam muitas das
paredes, os banheiros estavam equipados de banheiras, e encontraram-se na cozinha formas para bolos. A
cidade parece ter sido uma das mais notáveis e brilhantes do período do começo do segundo milênio AEC.
Os textos nas tabuinhas de argila incluíam decretos reais, editais, contas, e ordens para a construção de
canais, comportas, diques e outros projetos de irrigação, bem como correspondência sobre importações,
exportações e assuntos estrangeiros. Faziam-se freqüentes recenseamentos, envolvendo tributação e
alistamento militar. A religião tinha destaque, especialmente a adoração de Istar, a deusa da fertilidade, cujo
templo também foi encontrado. Praticava-se a adivinhação assim como em Babilônia, pela observação de
fígados, pela astronomia e por métodos similares. A cidade foi na maior parte destruída pelo rei babilônio
Hamurábi. De interesse especial foi a ocorrência dos nomes Pelegue, Serugue, Naor, Tera e Harã, todos

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alistados como cidades da Mesopotâmia setentrional e refletindo os nomes dos parentes de Abraão. — Gên
11:17-32.
Nuzi, antiga cidade ao L do Tigre e ao SE de Nínive, escavada durante 1925-1931, forneceu um mapa
inscrito de argila, o mais antigo já descoberto, bem como evidência de que já no século 15 AEC comprava-se
e vendia-se ali a prestações. Desenterraram-se cerca de 20.000 tabuinhas de argila, consideradas como
escritas por escribas hurritas na língua babilônica. Estas contêm uma abundância de pormenores a respeito da
jurisprudência daquele tempo, envolvendo coisas tais como adoção, contratos matrimoniais, direitos de
herança e testamentos. Certos aspectos mostram um paralelo relativamente similar aos costumes descritos no
relato de Gênesis a respeito dos patriarcas. O costume de um casal sem filhos adotar um do sexo masculino,
quer livre quer escravo, para cuidar deles, para sepultá-los e para ser seu herdeiro, mostra similaridade com a
declaração de Abraão a respeito do seu escravo de confiança, Eliézer, em Gênesis 15:2. Descreve-se a venda
do direito de primogenitura, relembrando o caso de Jacó e Esaú. (Gên 25:29-34) Os textos mostram também

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que a posse de deuses de família, muitas vezes pequenas estatuetas de argila, era encarada como equivalente
a possuir uma escritura de propriedade, de modo que aquele que estivesse de posse dos deuses era
considerado como tendo o direito de propriedade ou de herdá-la. Isto talvez explique a situação envolvendo
Raquel tomar os terafins de seu pai, e a grande preocupação deste em recuperá-los. — Gên 31:14-16, 19, 25-
35.
Egito. A visão mais de perto fornecida pela Bíblia sobre o Egito gira em torno da entrada de José ali, e
da subseqüente chegada e peregrinação da família inteira de Jacó naquele país. Os achados arqueológicos
mostram que esse quadro é extremamente preciso, e não seria razoável que algum escritor que tivesse vivido
muito mais tarde o apresentasse assim (como alguns críticos tentaram dizer que se deu com o escritor dessa
parte do relato de Gênesis). Conforme declara o livro New Light on Hebrew Origins (Nova Luz Sobre as
Origens Hebraicas), de J. G. Duncan (1936, p. 174), a respeito do escritor do relato sobre José: "Ele utiliza o
título correto em uso, e exatamente conforme era usado no período mencionado, e, quando não existe
nenhum equivalente hebraico, simplesmente adota a palavra egípcia e a translitera para o hebraico." Os
nomes egípcios, a posição de José como encarregado da casa de Potifar, as casas de prisão, os títulos de "o
chefe dos copeiros" e "o chefe dos padeiros", a importância que os egípcios atribuíam aos sonhos, o costume
de os padeiros egípcios carregarem cestos de pão na cabeça (Gên 40:1, 2, 16, 17), a posição de primeiro-
ministro e administrador de alimentos, conferida por Faraó a José, o modo de empossá-lo no cargo, a aversão
dos egípcios aos pastores de ovelhas, a forte influência dos magos na corte egípcia, a fixação dos israelitas
peregrinantes na terra de Gósen, os costumes egípcios de sepultamento — todos estes, e muitos outros
pontos descritos no registro bíblico, são claramente consubstanciados pela evidência arqueológica obtida no
Egito. — Gên 39:1–47:27; 50:1-3.
Em Carnac (antiga Tebas), às margens do rio Nilo, um enorme templo egípcio contém uma inscrição
em seu muro S, confirmando a campanha do rei egípcio, Sisaque (Xexonque I), na Palestina, descrita em 1
Reis 14:25, 26, e 2 Crônicas 12:1-9. O gigantesco relevo que representa suas vitórias mostra 156 prisioneiros
palestinos manietados, cada um representando uma cidade ou aldeia, cujo nome é fornecido em hieróglifos.

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Entre os nomes identificáveis acham-se os de Rabite (Jos 19:20), Taanaque, Bete-Seã e Megido (onde foi
escavada parte de uma estela, ou coluna inscrita, de Sisaque) (Jos 17:11), Suném (Jos 19:18), Reobe (Jos
19:28), Hafaraim (Jos 19:19), Gibeão (Jos 18:25), Bete-Horom (Jos 21:22), Aijalom (Jos 21:24), Socó (Jos
15:35) e Arade (Jos 12:14). Ele até mesmo alista o "Campo de Abrão" como uma de suas capturas, sendo
esta a mais antiga referência a Abraão nos registros egípcios. Encontrou-se também nesta área um
monumento de Mernepta, filho de Ramsés II, contendo um hino em que se pode encontrar a única referência
ao nome Israel nos antigos textos egípcios.
Em Tell el-Amarna, a cerca de 270 km ao S de Cairo, uma camponesa descobriu acidentalmente
tabuinhas de argila que levaram à descoberta de muitos documentos em acadiano, procedentes dos arquivos
reais de Amenotep III, e de seu filho, Aquenatão. As 379 tabuinhas publicadas abrangem correspondência
dirigida ao Faraó da parte de príncipes vassalos das numerosas cidades-reinos da Síria e da Palestina,
inclusive alguma do governador de Urusalim (Jerusalém), e revelam um quadro de feudos guerreantes e

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intrigas, que concorda plenamente com a descrição bíblica daqueles tempos. Os "habirus", a respeito dos
quais são feitas numerosas queixas nessas cartas, têm sido relacionados por alguns com os hebreus, mas a
evidência indica que eles, ao invés disso, eram diversos povos nômades que ocupavam um nível social baixo
na sociedade daquele período.
Elefantina, uma ilha do Nilo, com este nome grego, no extremo S do Egito (próxima a Assuã), era o
lugar duma colônia judaica depois da queda de Jerusalém, em 607 AEC. Grande número de documentos
escritos em aramaico, mormente em papiro, foram descobertos aqui em 1903, com datas a partir do quinto
século AEC e do reinado do Império Medo-Persa. Os documentos mencionam Sambalá, governador de
Samaria. — Ne 4:1.
Sem dúvida, os achados mais valiosos, feitos no Egito, têm sido os fragmentos e os trechos de livros
bíblicos, em papiro, tanto das Escrituras Hebraicas como das Gregas, remontando ao primeiro século antes
de Cristo. O clima seco e o solo arenoso do Egito o tornaram depósito inigualável para a preservação de tais
documentos em papiro.
Palestina e Síria. Cerca de 600 sítios datáveis têm sido escavados nessas regiões. Muitas das
informações obtidas são de natureza geral, apoiando o registro bíblico numa base ampla, ao invés de se
relacionarem especificamente com certos pormenores ou eventos. Como exemplo, fizeram-se esforços, no
passado, de desacreditar o relato da Bíblia sobre a desolação completa de Judá durante o exílio babilônico.
As escavações, porém, consubstanciam coletivamente a Bíblia. Como declara W. F. Albright: "Não existe
um único caso conhecido de uma cidade de Judá propriamente dita ter sido continuamente ocupada durante
todo o período do exílio. Apenas para salientar o contraste, Betel, situada um pouco além das fronteiras
setentrionais de Judá nos tempos pré-exílicos, não foi destruída naquele tempo, mas foi continuamente
ocupada até a parte final do sexto século." — The Archaeology of Palestine (A Arqueologia da Palestina),
1971, p. 142.
Bete-Sã (Bete-Seã), antiga cidade-fortaleza que guardava a via de acesso ao vale de Jezreel do lado L,
foi um sítio de extensas escavações que revelaram 18 níveis diferentes de ocupação, exigindo a escavação até

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a profundidade de mais de 21 m. O relato bíblico mostra que Bete-Sã não se achava entre as aldeias
originalmente ocupadas pelos invasores israelitas, e que, no tempo de Saul, era ocupada pelos filisteus. (Jos
17:11; Jz 1:27; 1Sa 31:8-12) As escavações em geral apóiam este registro e indicam uma destruição de Bete-
Sã algum tempo depois da derrota dos israelitas perto de Silo. (Je 7:12) De interesse especial foi a descoberta
de certos templos cananeus em Bete-Sã. Primeiro Samuel 31:10 declara que os filisteus colocaram a
armadura do Rei Saul "na casa das imagens de Astorete e prenderam seu corpo morto à muralha de Bete-Sã",
ao passo que 1 Crônicas 10:10 afirma que "puseram a armadura dele na casa do seu deus, e o crânio dele
prenderam à casa de Dagom". Dois dos templos escavados eram do mesmo período e um deles fornece
evidência de ser o templo de Astorete, ao passo que se acha que o outro seja o de Dagom, assim se
harmonizando com os textos acima quanto à existência de dois templos em Bete-Sã.
Eziom-Géber era a cidade portuária de Salomão no golfo de Acaba. É possível que seja a atual Tell el-
Kheleifeh, que foi escavada durante 1937-1940 e apresentou evidência de uma fundição de cobre,

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encontrando-se escória de cobre e pedaços de minério de cobre num aterro baixo nesta região. No entanto, as
conclusões originais do arqueólogo Nelson Glueck, a respeito do sítio, foram radicalmente revistas por ele
num artigo em The Biblical Archaeologist (O Arqueólogo Bíblico, 1965, p. 73). Sua opinião de que se
empregara ali um sistema de alto-forno de fundição baseava-se na descoberta do que se imaginava serem
"buracos de chaminé" no prédio principal escavado. Ele chegou agora à conclusão de que esses buracos nas
paredes do prédio são o resultado da "decomposição e/ou da queima de vigas de madeira colocadas no
sentido da largura das paredes, para fins de junção ou de escoramento". O prédio, que antes se pensava ser
uma fundição, é, segundo se crê agora, um depósito de cereais. Ao passo que ainda se crê que realmente
foram realizadas ali operações metalúrgicas, não se acha agora que tenham tido a envergadura anteriormente
suposta. Isto salienta que o significado atribuído aos dados arqueológicos depende primariamente da
interpretação individual do arqueólogo, interpretação esta que de forma alguma é infalível. A própria Bíblia
não menciona nenhuma fundição de cobre em Eziom-Géber, descrevendo somente a fundição de itens de
cobre num certo lugar no vale do Jordão. — 1Rs 7:45, 46.
Hazor, na Galiléia, foi descrita como sendo "a cabeça de todos estes reinos", no tempo de Josué. (Jos
11:10) Escavações feitas ali mostraram que a cidade abrangia antigamente uns 60 ha, tendo uma grande
população, o que a tornava uma das principais cidades daquela região. Salomão fortificou a cidade, e a
evidência daquele período indica que talvez fosse uma cidade para carros. — 1Rs 9:15, 19.
Jericó foi submetida a escavações durante três expedições diferentes (1907-1909; 1930-1936; 1952-
1958), e as sucessivas interpretações dos achados demonstram novamente que a arqueologia, igual a outros
campos das ciências humanas, não é fonte de informações positivamente estáveis. Cada uma das três
expedições produziu dados, mas cada uma chegou a conclusões diferentes sobre a história da cidade e
especialmente sobre a data da sua queda diante dos conquistadores israelitas. De qualquer modo, pode-se
dizer que os resultados conjuntos apresentam o quadro geral fornecido no livro Biblical Archaeology
(Arqueologia Bíblica; 1963, p. 78), de G. E. Wright, que declara: "A cidade sofreu terrível destruição, ou
uma série de destruições durante o segundo milênio a.C., e permaneceu virtualmente desocupada durante

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gerações." A destruição foi acompanhada por um intenso incêndio, conforme mostra a evidência escavada.
— Veja Jos 6:20-26.
Em Jerusalém, em 1867, descobriu-se antigo túnel de água, que da fonte de Giom penetrava na colina
por trás dela. Isto talvez ilustre o relato da captura da cidade por Davi, em 2 Samuel 5:6-10. Em 1909-1911,
o inteiro sistema de túneis ligados com a fonte de Giom foi desobstruído. Um túnel, conhecido como o Túnel
de Siloé, tinha em média 1,80 m de altura e fora aberto em rocha maciça numa distância de uns 533 m desde
Giom até o reservatório de Siloé, no vale de Tiropeom (dentro da cidade). Parece assim ser o projeto do Rei
Ezequias, descrito em 2 Reis 20:20, e 2 Crônicas 32:30. De grande interesse foi a antiga inscrição encontrada
na parede do túnel, em antiga escrita hebraica monumental, descrevendo a escavação do túnel e sua extensão.
Esta inscrição é usada para fins de comparação ao se datar outras inscrições hebraicas encontradas.
Laquis, a 44 km ao OSO de Jerusalém, era uma das principais fortalezas que protegiam a região
colinosa da Judéia. Em Jeremias 34:7, o profeta fala das forças de Nabucodonosor lutando contra "Jerusalém

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e contra todas as cidades de Judá que sobravam, contra Laquis e contra Azeca; porque elas, as cidades
fortificadas, eram as que restavam dentre as cidades de Judá". Escavações feitas em Laquis produziram
evidência de destruição por fogo duas vezes num período de poucos anos, o que se acredita representar dois
ataques dos babilônios (618-617 e 609-607 AEC), ficando ela depois desabitada por um longo período.
Nas cinzas do segundo incêndio encontraram-se 21 óstracos (pedaços de cerâmica com inscrições), que
se acredita representarem correspondência pouco antes da destruição da cidade no ataque final de
Nabucodonosor. Conhecidos como as Cartas de Laquis, estes escritos refletem um período de crise e de
ansiedade, e parecem ter sido escritos em remanescentes postos avançados das tropas judaicas a Yaosh,
comandante militar em Laquis. A carta número IV contém a declaração: "Que YHWH [isto é, Jeová] faça
que meu senhor ouça hoje mesmo boas novas. . . . estamos vigiando os sinais de fogo de Laquis, segundo
todos os sinais que meu senhor der, porque não vemos Azeca." Esta passagem expressa notavelmente a
situação descrita em Jeremias 34:7, citada acima, e aparentemente indica que Azeca já havia caído ou pelo
menos deixara de enviar sinais de fogo ou de fumaça conforme esperado.
A carta número III, escrita por "Osaías", inclui o seguinte: "Que YHWH [isto é, Jeová] faça que meu
senhor ouça notícias de paz! . . . E foi relatado ao teu servo, dizendo: ‗O comandante do exército, Conias,
filho de Elnatã, desceu a fim de ir ao Egito e a Hodavias, filho de Aijá, e mandou seus homens obterem dele
[suprimentos].‘" Este trecho pode muito bem representar o fato de que Judá recorria ao Egito em busca de
ajuda, o que fora condenado pelos profetas. (Is 31:1; Je 46:25, 26) Os nomes Elnatã e Osaías, que ocorrem
no texto completo desta carta, também são encontrados em Jeremias 36:12 e Jeremias 42:1. Outros nomes
que aparecem nas cartas também ocorrem no livro de Jeremias: Gemarias (36:10), Nerias (32:12) e Jaazanias
(35:3). Não se pode asseverar que eles, em algum caso, representem as mesmas pessoas, mas a própria
coincidência é notável, visto Jeremias ter sido contemporâneo daquele período.
De interesse especial é o freqüente uso do tetragrama nestas cartas, mostrando assim que, naquele
tempo, os judeus não tinham aversão ao uso do nome divino. Também é de interesse a impressão dum selo
de argila encontrada, que se refere a "Gedalias, que está sobre a casa". Gedalias é o nome do governador

9
Arqueologia

nomeado sobre Judá por Nabucodonosor após a queda de Jerusalém, e muitos acham provável que esta
impressão do selo se refira a ele. — 2Rs 25:22; compare isso com Is 22:15; 36:3.
Megido era uma cidade-fortaleza estratégica que dominava um importante passo para o vale de Jezreel.
Foi reconstruída por Salomão e é mencionada junto com as cidades-armazéns e cidades para carros do seu
reinado. (1Rs 9:15-19) Escavações feitas no sítio (Tell el-Mutesellim), uma colina artificial de 5,3 ha,
descobriram o que alguns peritos (mas não todos) acham ter sido cavalariças capazes de acomodar cerca de
450 cavalos. De início, estas construções foram atribuídas ao tempo de Salomão, mas, peritos posteriores
modificaram a data delas para um período posterior, talvez o tempo de Acabe.
A Pedra Moabita foi uma das mais antigas descobertas de importância na região ao L do Jordão. Foi
encontrada em 1868 em Dhiban, ao N do vale do Árnon, e apresenta a versão do rei moabita Mesa da sua
revolta contra Israel. (Veja 2Rs 1:1; 3:4, 5.) A inscrição diz em parte: "Eu (sou) Mesa, filho de Quemós-[. .
.], rei de Moabe, o dibonita . . . Quanto a Onri, rei de Israel, ele humilhou Moabe por muitos anos (lit.: dias),

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porque Quemós [o deus de Moabe] estava irado com a sua terra. E seu filho o sucedeu, e ele também disse:
‗Humilharei Moabe.‘ No meu tempo ele falou (assim), mas eu triunfei sobre ele e sobre a sua casa, sendo
que Israel pereceu para sempre! . . . E Quemós disse-me: ‗Vai, toma Nebo de Israel!‘ De modo que fui de
noite e lutei contra ele desde a alvorada até o meio-dia, tomando-o e matando a todos . . . E tomei dali os
[vasos] de Yahweh, arrastando-os perante Quemós." (Ancient Near Eastern Texts [Textos Antigos do
Oriente Próximo], editado por J. B. Pritchard, 1974, p. 320) De modo que a pedra não somente menciona o
nome do Rei Onri de Israel, mas também, na 18.a linha, contém o nome de Deus na forma do tetragrama.
A Pedra Moabita menciona também muitos lugares referidos na Bíblia: Atarote e Nebo (Núm 32:34,
38); o Árnon, Aroer, Medeba e Díbon (Jos 13:9); Bamote-Baal, Bete-Baal-Meom, Jaaz e Quiriataim (Jos
13:17-19); Bezer (Jos 20:8); Horonaim (Is 15:5); Bete-Diblataim e Queriote. (Je 48:22, 24) Apóia assim a
historicidade de todos estes lugares.
Ras Shamra (a antiga Ugarit), na costa N da Síria, defronte da ilha de Chipre, forneceu informações
sobre uma adoração bastante similar à praticada em Canaã, inclusive seus deuses e deusas, templos,
prostitutas "sagradas", ritos, sacrifícios e orações. Encontrou-se um recinto, entre um templo de Baal e outro
templo devotado a Dagom, que continha uma biblioteca de centenas de textos religiosos, considerados como
datando desde o século 15 até o começo do século 14 a.C. Os textos poéticos, mitológicos, revelam muito
sobre as divindades cananéias El, Baal e Axerá, e a forma degradante de idolatria que acompanhava sua
adoração. Merrill F. Unger, no seu livro Arqueologia do Velho Testamento (1985, p. 88, Imprensa Batista
Regular), comenta: "A literatura épica de Ugarite ajudou a revelar a profundidade da depravação que
caracterizava a religião cananéia. Sendo politeísmo de tipo extremamente degradante, a prática de culto
cananeu era bárbara e inteiramente licenciosa." Encontraram-se também imagens de Baal e de outros deuses.
Um anteriormente desconhecido tipo de escrita alfabética cuneiforme (diferente da escrita cuneiforme
acadiana) distinguia estes textos. Ela segue a mesma ordem que o hebraico, mas acrescenta outras letras para
perfazer o total de 30. Assim como em Ur, desenterrou-se também uma acha-de-armas de aço.

10
Arqueologia

Samaria, a capital grandemente fortificada do reino setentrional de Israel, foi construída sobre uma
colina que se elevava cerca de 90 m acima do nível do vale. A prova de sua força de resistir a longos sítios,
tais como os descritos em 2 Reis 6:24-30, no caso da Síria, e em 2 Reis 17:5, no caso do poderoso exército
assírio, é indicada pelos restos de sólidas muralhas duplas, em alguns pontos formando um baluarte de 10 m
de largura. A alvenaria encontrada no sítio, reputada como remontando ao tempo dos reis Onri, Acabe e Jeú,
representa excelente mão-de-obra. O que parece ser a plataforma do palácio mede cerca de 90 m por cerca de
180 m. Encontraram-se grandes quantidades de peças, placas e painéis de marfim na área do palácio, e estes
talvez se relacionem com a casa de marfim de Acabe, mencionada em 1 Reis 22:39. (Veja Am 6:4.) No canto
NO do cume encontrou-se um grande reservatório cimentado, medindo cerca de 10 m de comprimento e uns
5 m de largura. Poderia ser o "reservatório de Samaria" em que se lavou o carro de Acabe, removendo-se o
seu sangue. — 1Rs 22:38.
Suscitaram interesse 63 cacos de cerâmica com inscrições a tinta (óstracos), considerados como datando

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do oitavo século antes de Cristo. Recibos de remessas de vinho e de óleo de outras cidades para Samaria
mostram um sistema israelita de escrever números pelo uso de traços verticais, horizontais e inclinados. Um
recibo típico reza como segue:
No décimo ano.
Para Gaddiyau [provavelmente o mordomo da tesouraria].
De Azah [talvez a aldeia ou distrito que remetia o vinho ou o óleo].
Abi-ba`al 2
Ahaz 2
Sheba 1
Meriba`al 1
Tais recibos também revelam o uso freqüente do nome Baal como componente de nomes, cerca de 7
nomes incluindo este nome para cada 11 que continham alguma forma do nome Yahweh provavelmente
indicando a infiltração da adoração de Baal, conforme descrita no relato bíblico.
A destruição ardente de Sodoma e Gomorra, e a existência de poços de betume (asfalto) naquela região
são descritas na Bíblia. (Gên 14:3, 10; 19:12-28) Muitos peritos acham que as águas do mar Morto talvez se
tenham elevado no passado e tenham estendido a extremidade meridional do mar numa considerável
distância, cobrindo assim o que talvez tenha sido o lugar dessas duas cidades. Explorações feitas nesta região
mostram ser ela uma área queimada, de óleo e asfalto. A respeito deste assunto diz o livro Light From the
Ancient Past (Luz do Passado Remoto), de Jack Finegan (1959, p. 147): "Uma cuidadosa pesquisa da
evidência literária, geológica e arqueológica aponta para a conclusão que as infames ‗cidades da planície‘
(Gênesis 19:29) estavam na área que agora está submersa . . . e que sua ruína foi realizada por um grande
terremoto, provavelmente acompanhado por explosões, relâmpagos, ignição de gás natural e conflagração
geral."
Relacionada com as Escrituras do NT. O uso, por parte de Jesus, de uma moeda de um denário
portando a efígie de Tibério César (Mr 12:15-17) é confirmado pela descoberta de um denário de prata com a

11
Arqueologia

efígie de Tibério e que foi posto em circulação por volta do ano 15 EC. (Veja Lu 3:1, 2.) O fato de que
Pôncio Pilatos era então o governador romano da Judéia foi também confirmado por uma laje de pedra
encontrada em Cesaréia, com os nomes latinos Pontius Pilatus e Tiberieum.
O livro de Atos dos Apóstolos, que fornece clara evidência de ter sido escrito por Lucas, contém
numerosas referências a cidades e suas províncias, e a autoridades de diferentes tipos e com diversos títulos,
que detinham cargos em determinada época — uma apresentação repleta de possibilidades de erro por parte
do escritor. (Observe também Lu 3:1, 2.) Todavia, a evidência arqueológica apresentada demonstra notável
grau de exatidão por parte de Lucas. Assim, em Atos 14:1-6, Lucas coloca Listra e Derbe no território da
Licaônia, mas dá a entender que Icônio se achava em outro território. Os escritores romanos, inclusive
Cícero, referiram-se a Icônio como ficando na Licaônia. No entanto, certo monumento descoberto em 1910
mostra que Icônio era considerada como sendo deveras uma cidade da Frígia, ao invés de da Licaônia.
Similarmente, uma inscrição descoberta em Delfos confirma que Gálio era procônsul da Acaia,

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provavelmente em 51-52 d.C. (At 18:12) Cerca de 19 inscrições, que datam do segundo século AEC até o
terceiro século EC, confirmam a exatidão do uso, por parte de Lucas, do título governantes da cidade
(singular, po·li·tár·khes) como se aplicando às autoridades de Tessalônica (At 17:6, 8), sendo que cinco
destas inscrições se referem especificamente àquela cidade. Semelhantemente, a referência a Públio como o
"homem de destaque" (pró·tos) de Malta (At 28:7) emprega o título exato a ser usado, conforme indicado
pela sua ocorrência em duas inscrições maltesas, uma em latim e a outra em grego. Textos mágicos, bem
como o templo de Ártemis, foram encontrados em Éfeso (At 19:19, 27); escavações feitas ali também
revelaram um teatro capaz de acomodar cerca de 25.000 pessoas, e inscrições que se referiam aos
"promotores de festividades e jogos", semelhantes àqueles que intervieram em favor de Paulo, e também de
um "escrivão", semelhante ao que acalmou a turba naquela ocasião. — At 19:29-31, 35, 41.
Algumas dessas descobertas induziram Charles Gore a escrever sobre a exatidão de Lucas, no A New
Commentary on Holy Scripture (Novo Comentário Sobre a Escritura Sagrada): "Deve-se, naturalmente,
reconhecer que a arqueologia moderna quase que obrigou os críticos de São Lucas a lhe dar um veredicto de
notável exatidão em todas as suas alusões a fatos e eventos seculares." — Editado por Gore, Goudge e
Guillaume, 1929, p. 210.
Valor Comparativo da Arqueologia. A arqueologia tem apresentado informações proveitosas que
ajudaram na identificação (não raro experimental) de lugares bíblicos, tem desenterrado documentos escritos
que contribuíram para melhor entendimento das línguas originais em que as Escrituras foram escritas e tem
lançado luz sobre as condições de vida e as atividades dos povos e dos governantes antigos mencionados na
Bíblia. Todavia, no que tange à relação da arqueologia com a autenticidade e a confiabilidade da Bíblia, e
com a fé nela, nos seus ensinos e nas suas revelações dos propósitos e das promessas de Deus, deve-se dizer
que a arqueologia é um suplemento não-essencial e uma confirmação não-exigida da veracidade da Palavra
de Deus. Conforme o expressou o apóstolo Paulo: "A fé é a expectativa certa de coisas esperadas, a
demonstração evidente de realidades, embora não observadas. Pela fé percebemos que os sistemas de coisas

12
Arqueologia

foram postos em ordem pela palavra de Deus, de modo que aquilo que se observa veio a existir das coisas
que não aparecem." (He 11:1, 3) "Estamos andando pela fé, não pela vista." — 2Co 5:7.
Isto não significa que a fé cristã não tenha qualquer base no que pode ser visto, ou que ela trate apenas
de intangíveis. Mas é verdade que, em todo período e época, sempre houve ampla evidência contemporânea
ao redor das pessoas, bem como nelas mesmas e em suas próprias experiências, que as podia convencer de
que a Bíblia é a verdadeira fonte de revelação divina e que ela não contém nada que não se harmonize com
fatos demonstráveis. (Ro 1:18-23) O conhecimento do passado à luz das descobertas arqueológicas é
interessante e apreciado, mas não é vital. O conhecimento do passado à luz da Bíblia é, por si só, essencial e
solidamente fidedigno. A Bíblia, com ou sem a arqueologia, dá verdadeiro significado ao presente e ilumina
o futuro. (Sal 119:105; 2Pe 1:19-21) Na realidade, é fraca a fé que precisa depender de tijolos que se
desintegram, de vasos quebrados e de muros desmoronantes, para sustentá-la e servir-lhe de muleta.
Incertezas subjacentes às conclusões. Embora as descobertas arqueológicas às vezes tenham fornecido

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uma resposta conveniente para refutar os que fizeram reparos aos relatos bíblicos ou que criticaram a
historicidade de certos eventos, e embora tais achados tenham ajudado a desanuviar a mente de pessoas
sinceras que ficaram impressionadas demais com os argumentos de tais críticos, ainda assim, a arqueologia
não silenciou os críticos da Bíblia, nem é ela um alicerce realmente sólido para se basear a crença no registro
da Bíblia. As conclusões tiradas da maioria das escavações feitas dependem, mormente, do raciocínio
dedutivo e indutivo dos investigadores, os quais, um tanto parecidos a detetives, reúnem as provas do caso a
favor do qual argúem. Até mesmo em tempos modernos, embora os detetives possam descobrir e reunir um
impressionante conjunto de evidências circunstanciais e materiais, qualquer caso alicerçado puramente em
tais evidências, se não dispuser do depoimento de testemunhas dignas de crédito, diretamente relacionadas
com o assunto em pauta, será considerado fraquíssimo, se levado a um tribunal. Decisões baseadas
unicamente em tal evidência têm resultado em crassos erros e injustiças. Isso se deve dar ainda mais quando
há um intervalo de 2.000 ou 3.000 anos entre os investigadores e o tempo da ocorrência.
Um paralelo similar é feito pelo arqueólogo R. J. C. Atkinson, que diz: "Basta apenas pensar em quão
difícil seria a tarefa dos futuros arqueólogos, se tivessem de reconstruir os rituais, os dogmas e a doutrina das
Igrejas Cristãs a partir somente das ruínas de igrejas, sem a ajuda de qualquer registro escrito ou inscrição.
Temos, assim, a situação paradoxal de que a arqueologia, o único método de investigação do passado do
homem na ausência de registros escritos, torna-se cada vez menos eficaz como meio de inquirição quanto
mais ela se aproxima daqueles aspectos da vida humana que são os mais especificamente humanos." —
Stonehenge, Londres, 1956, p. 167.
Complicando ainda mais o assunto, há o fato de que, em adição à sua óbvia incapacidade de conseguir
mais do que uma aproximação no que tange a colocar em foco o passado remoto, e apesar de seus esforços
de manter um ponto de vista puramente objetivo ao considerar a evidência que escavam, os arqueólogos,
como os demais cientistas, não obstante estão sujeitos a falhas humanas, e a inclinações e ambições pessoais,
que podem estimular raciocínios falíveis. Indicando o problema, o professor W. F. Albright comenta: "Por
outro lado, há perigo em se procurar novas descobertas e novos pontos de vista às custas de trabalho mais

13
Arqueologia

sólido, feito anteriormente. Isto se dá, em especial, em campos como a arqueologia e a geografia bíblicas,
onde o domínio dos instrumentos e dos métodos de investigação é tão árduo, que existe sempre uma tentação
de negligenciar o método sólido, substituindo o trabalho lento e mais sistemático por combinações espertas e
palpites brilhantes." — The Westminster Historical Atlas to the Bible (Atlas Histórico da Bíblia, de
Westminster), editado por G. E. Wright, 1956, p. 9.
Diferenças na datação. É importante compreender isto ao se considerar as datas propostas pelos
arqueólogos com respeito às suas descobertas. Ilustrando isto, Merrill F. Unger diz: "Por exemplo, Garstang
data a queda de Jericó em c. 1400 a.C. . . .; Albright apóia a data de c. 1290 a.C. . . .; Hugues Vincent,
famoso arqueólogo palestino, sustenta a data de 1250 a.C. . . .; ao passo que H. H. Rowley considera Ramsés
II como o Faraó da Opressão, e o Êxodo como tendo ocorrido sob seu sucessor, Marnipta [Mernepta] por
volta de 1225 a.C." (Archaeology and the Old Testament, p. 164, n. 15) Ao passo que argumenta a favor da
fidedignidade do processo e da análise arqueológicos modernos, o Professor Albright reconhece que "ainda é

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dificílimo para o não-especialista achar seu caminho por entre as datas e as conclusões conflitantes dos
arqueólogos". — The Archaeology of Palestine, p. 253.
É verdade que o relógio de radiocarbono tem sido empregado, junto com outros métodos modernos,
para datar os artefatos encontrados. Sem embargo, que este método não é inteiramente exato é evidenciado
pela seguinte declaração, feita por G. Ernest Wright, em The Biblical Archaeologist (1955, p. 46): "Pode-se
notar que o novo método do Carbono 14, de datar restos antigos, não resultou ser tão isento de erros como se
esperava. . . . Certas medições produziram resultados obviamente errados, provavelmente por vários motivos.
No momento, só se pode confiar nos resultados, sem opor dúvida, depois de se terem feito várias medições
que forneceram resultados virtualmente idênticos, e quando a data parece ser correta à base de outros
métodos de computação [o grifo é nosso]." Mais recentemente, The New Encyclopædia Britannica
(Macropædia [A Nova Enciclopedia Britânica], 1976, Vol. 5, p. 508) declarou: "Qualquer que seja a causa, .
. . é evidente que falta às datas fornecidas pelo carbono-14 a exatidão que historiadores tradicionais
gostariam de ter."
Valor relativo das inscrições. Descobriram-se e estão sendo interpretadas milhares e milhares de
inscrições antigas. Albright declara: "Os documentos escritos constituem, sem comparação, o único mais
importante conjunto de materiais descobertos pelos arqueólogos. Por isso, é extremamente importante obter
uma idéia clara de seu caráter e de nossa capacidade de interpretá-los." (The Westminster Historical Atlas to
the Bible, p. 11) Podem ter sido escritos em cacos de cerâmica, em tabuinhas de argila, em papiro ou podem
ter sido esculpidos em granito. Seja qual for o material, as informações que transmitem ainda devem ser
pesadas e testadas quanto à sua fidedignidade e seu valor. Erros ou patentes falsidades podem ser e foram,
com freqüência, assentados por escrito em pedra, bem como em papel.
Como ilustração, o registro bíblico declara que o Rei Senaqueribe, da Assíria, foi morto por seus dois
filhos, Adrameleque e Sarezer, e foi sucedido no trono por outro filho, Esar-Hadom. (2Rs 19:36, 37)
Todavia, uma crônica babilônica declarava que, no 20.° dia de tebete, Senaqueribe foi morto por seu filho
numa revolta. Tanto Beroso, sacerdote babilônio do terceiro século antes de Cristo, como Nabonido, rei

14
Arqueologia

babilônio do sexto século AEC, em seus escritos, forneceram o mesmo relato, no sentido de que Senaqueribe
foi assassinado por apenas um de seus filhos. No entanto, num mais recentemente descoberto fragmento do
Prisma de Esar-Hadom, o filho que sucedeu Senaqueribe, Esar-Hadom declara especificamente que seus
irmãos (plural) se revoltaram e mataram seu pai, e então fugiram. Comentando isto, Philip Biberfeld, em
Universal Jewish History (História Universal Judaica; 1948, Vol. I, p. 27), diz: "A Crônica Babilônica,
Nabonido e Beroso estavam equivocados; apenas o relato da Bíblia mostrou ser correto. Foi confirmado em
todos os mínimos pormenores pela inscrição de Esar-Hadom e mostrou ser mais exato no tocante a este
evento da história assírio-babilônica do que as próprias fontes babilônicas. Trata-se dum fato de suma
importância para a avaliação até mesmo de fontes contemporâneas que não concordam com a tradição
bíblica."
Problemas de decifração e de tradução. Há também necessidade de devida cautela por parte do cristão
quanto a aceitar, sem questionar, a interpretação dada a muitas inscrições encontradas em diversas línguas

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antigas. Em alguns casos, como o da Pedra de Roseta e da Inscrição de Behistun, propiciou-se aos
decifradores de línguas considerável visão de uma língua antes desconhecida, através de apresentações
paralelas desta língua junto com outra já conhecida. Todavia, não se deve esperar que tais ajudas solucionem
todos os problemas ou permitam pleno entendimento da língua, com todos os matizes de significados e
expressões idiomáticas. Até mesmo a compreensão das línguas bíblicas básicas, o hebraico, o aramaico e o
grego, progrediu consideravelmente em tempos recentes, e essas línguas ainda se acham em estudo. Quanto à
inspirada Palavra de Deus, podemos corretamente esperar que o Autor da Bíblia nos habilite a obter o
entendimento certo de sua mensagem mediante as traduções disponíveis em línguas modernas. Isto não se
dá, porém, com os escritos não-inspirados de nações pagãs.
Ilustrando esta necessidade de cautela, e também manifestando de novo que um enfoque objetivo dos
problemas existentes em decifrar inscrições antigas freqüentemente não é tão destacado como se poderia
pensar, o livro O Segredo dos Hititas, de C. W. Ceram, contém a seguinte informação a respeito de
destacado assiriologista que trabalhou na decifração da língua "hitita" (1959, tradução de M. Amado, pp.
106-112): "Sua obra é absolutamente fenomenal: uma brilhante miscelânea de equívocos extravagantes e
notáveis percepções. . . . Alguns de seus erros eram sustentados por argumentos tão convincentes que
décadas de estudos foram necessárias para suplantá-los. Seus engenhosos raciocínios baseavam-se em tal
riqueza de erudição filológica que não se tornava coisa fácil separar o joio do trigo." O escritor descreve
então a forte obstinação deste perito quanto a qualquer modificação de suas descobertas; após muitos anos,
ele, por fim, concordou em fazer algumas alterações — apenas para mudar justamente as leituras que, mais
tarde, mostraram ser as corretas! Ao relatar a disputa violenta, cheia de recriminações pessoais, que surgiu
entre este perito e outro decifrador da escrita cuneiforme "hitita", o autor declara: "Contudo, o próprio
fanatismo que produz tais disputas é uma necessária força motivadora para que os sábios façam descobertas."
Por isso, embora o tempo e o estudo tenham eliminado muitos erros no entendimento das inscrições antigas,
faremos bem em compreender que investigações posteriores provavelmente resultarão em correções
adicionais.

15
Arqueologia

A preeminência da Bíblia como a fonte de conhecimento fidedigno, de informações verídicas e de


orientação segura, é destacada por esses fatos. Como conjunto de documentos escritos, a Bíblia fornece-nos
o quadro mais claro do passado do homem, e chegou até nós, não por escavações, mas por ter sido
preservada pelo seu Autor: Deus. É "viva e exerce poder" (He 4:12) e é a "palavra do Deus vivente e
permanecente". "Toda a carne é como a erva, e toda a sua glória é como flor da erva; a erva se resseca e a
flor cai, mas a declaração do Senhor permanece para sempre." — 1Pe 1:23-25.2

Capítulo II
ARQUEOLOGIA E CONFIRMAÇÃO BÍBLICA

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Chama-se Arqueologia Bíblica o estudo científico de restos e achados históricos, especificamente, da
Bíblia e relativos às religiões judaica e cristã. Os relatos das peregrinações cristãs datadas, aproximadamente,
do século IV, constituem a única fonte de informação sobre sítios arqueológicos bíblicos até o século XIX,
quando teve início a moderna exploração histórica na Palestina.
―Dentro da ciência da arqueologia, que rapidamente se desenvolve, o estudo especial da ‗arqueologia
bíblica‘ seleciona aquele material remanescente da Palestina e países limítrofes que se relaciona com o
período bíblico e sua narrativa. Esse material inclui o resto de edifícios, artes, inscrições e qualquer artefato
que ajude a compreender a história, a vida e os costumes dos hebreus e daqueles povos que, à semelhança
dos egípcios, fenícios, sírios, assírios e babilônios, entraram em contato com eles e puderam influenciá-los.
O interesse pelos lugares e tempos mencionados na Bíblia proveu o incentivo inicial para muitas das
primeiras escavações, e o quadro lato do pano de fundo histórico, religioso e ético da Bíblia, atualmente
possuído devido às descobertas arqueológicas muito tem contribuído para explicar, ilustrar e, algumas vezes,
corroborar as declarações bíblicas e contradizer teorias insuficientemente baseadas nos fatos.‖3

A Arqueologia Confirma o AT
A arqueologia é um campo de estudo de base muito mais sólida do que a alta crítica. Os
arqueólogos, por escavarem os restos de civilizações passadas, aumentaram de muitas maneiras nosso
entendimento sobre como as coisas eram nos tempos antigos. Por isso, não surpreende que o registro
arqueológico repetidas vezes se harmonize com o que lemos na Bíblia. Ocasionalmente, a arqueologia até
mesmo tem vindicado a Bíblia perante os críticos dela.
A Identidade de Belsazar. Um exemplo interessante de como a arqueologia às vezes chega mesmo a
vindicar a Bíblia perante seus críticos é o caso da identidade de Belsazar. Segundo o livro de Daniel, o

2
Estudo Perspicaz da Escrituras, vol. 1, art. “Arqueologia”.
3
J. D. Douglas, O Novo Dicionário da Bíblia, art. “Arqueologia”.
16
Arqueologia

último governante de Babilônia, antes de esta cair diante dos persas, era chamado Belsazar. (Daniel 5:1-30)
Visto que, fora da Bíblia, não parecia haver nenhuma menção de Belsazar, levantou-se a acusação de que a
Bíblia estava errada e que este homem nunca existiu. Mas, no século 19, em algumas ruínas no sul do Iraque,
descobriram-se diversos cilindros pequenos, com inscrições cuneiformes. Verificou-se que incluíam orações
pela saúde do filho mais velho de Nabonido, rei de Babilônia. O nome deste filho? Belsazar.
Portanto, existia um Belsazar! Mas, será que ele era rei por ocasião da queda de Babilônia? A maioria
dos documentos encontrados subseqüentemente referiam-se a ele como filho do rei, príncipe herdeiro. Mas
um documento cuneiforme descrito como o ―Relato Versificado de Nabonido‖ lançou mais luz sobre a
verdadeira posição de Belsazar. Relatou: ―Ele [Nabonido] confiou o ‗Acampamento‘ ao seu (filho) mais
velho, o primogênito, as tropas em toda a parte no país ele mandou pôr sob (o comando) dele. Largou (tudo),
confiou-lhe o reinado.‖8 De modo que se confiou o reinado a Belsazar. Certamente, para todos os fins e
objetivos, isso fez dele um rei! Este relacionamento entre Belsazar e seu pai, Nabonido, explica por que

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Belsazar, durante aquele banquete final em Babilônia, ofereceu fazer de Daniel o terceiro governante no
reino. (Daniel 5:16) Visto que Nabonido era o primeiro governante, o próprio Belsazar era apenas o segundo
governante de Babilônia.
Salomão e Moabe. De fato, muitas descobertas arqueológicas demonstram a exatidão histórica da
Bíblia. Por exemplo, a Bíblia relata que, depois de o Rei Salomão ter assumido o reinado de seu pai, Davi,
Israel usufruiu grande prosperidade. Lemos: ―Judá e Israel eram muitos, em multidão, iguais aos grãos de
areia junto ao mar, comendo e bebendo, e alegrando-se.‖ (1 Reis 4:20) Em apoio desta declaração, lemos: ―A
evidência arqueológica revela que houve uma explosão populacional em Judá durante e depois do décimo
século a.C., quando a paz e a prosperidade trazidas por Davi tornaram possível construir muitas cidades
novas.‖
Mais tarde, Israel e Judá tornaram-se duas nações, e Israel conquistou a vizinha terra de Moabe. Em
certa ocasião, Moabe, sob o Rei Mesa, revoltou-se, e Israel formou uma aliança com Judá e com o vizinho
reino de Edom, para guerrear contra Moabe. (2 Reis 3:4-27) Notavelmente, em 1868, em Jordão, descobriu-
se uma estela (uma esculpida laje de pedra), inscrita na língua moabita com o relato do próprio Mesa sobre
este conflito.
Daí, no ano 740 AEC, Deus permitiu que o rebelde reino setentrional de Israel fosse destruído pelos
assírios. (2 Reis 17:6-18) Falando sobre o relato bíblico deste evento, a arqueóloga Kathleen Kenyon
comenta: ―Poder-se-ia suspeitar que parte disso fosse uma hipérbole.‖ Mas, será que é? Ela acrescenta: ―A
evidência arqueológica da queda do reino de Israel é quase mais vívida do que a do registro bíblico. . . . A
completa obliteração das cidades israelitas de Samaria e Hazor, e a acompanhante destruição de Megido, é a
evidência arqueológica fatual de que o escritor [bíblico] não exagerou.‖
Ainda mais tarde, a Bíblia nos conta que Jerusalém, sob o Rei Joaquim, foi sitiada pelos babilônios e foi
tomada. Este evento está registrado na Crônica Babilônica, uma tabuinha cuneiforme descoberta pelos
arqueólogos. Lemos nela: ―O rei de Acade [Babilônia] . . . sitiou a cidade de Judá (iahudu) e o rei tomou a
cidade no segundo dia do mês de adaru.‖ Joaquim foi levado a Babilônia e encarcerado. Mais tarde, porém,

17
Arqueologia

segundo a Bíblia, ele foi solto da prisão e deu-se-lhe uma subsistência alimentar. (2 Reis 24:8-15; 25:27-30)
Isto é apoiado por documentos administrativos encontrados em Babilônia, que alistam as rações dadas a
―Yaukîn, rei de Judá‖.
Referente à relação entre a arqueologia e os relatos históricos da Bíblia, o Professor David Noel
Freedman comentou: ―Em geral, porém, a arqueologia tende a apoiar a validez histórica da narrativa bíblica.
O amplo esboço cronológico, desde os patriarcas até os tempos do N[ovo] T[estamento], correlaciona-se
com os dados arqueológicos. . . . Descobertas adicionais provavelmente confirmarão a atual posição
moderada, de que a tradição bíblica tem raízes históricas, e foi fielmente transmitida, embora não seja
história no sentido crítico ou científico.‖
A Queda de Jericó. Significa isso que a arqueologia concorda com a Bíblia em todos os casos? Não,
pois há diversos desacordos. Um deles é a conquista dramática de Jericó, descrita no início deste capítulo.
Segundo a Bíblia, Jericó foi a primeira cidade conquistada por Josué, quando conduziu os israelitas à terra de

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Canaã. A cronologia bíblica indica que a cidade caiu na primeira metade do século 15 AEC. Depois da
conquista, Jericó foi completamente queimada e foi deixada desabitada por centenas de anos. — Josué 6:1-
26; 1 Reis 16:34.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o Professor John Garstang escavou o sítio que se acreditava ser
Jericó. Ele descobriu que a cidade era bem antiga, e que ela havia sido destruída e reconstruída muitas vezes.
Garstang constatou que, durante uma destas destruições, os muros desabaram como que num terremoto, e a
cidade foi completamente queimada. Garstang achava que isso ocorreu por volta de 1400 AEC, não muito
longe da data indicada pela Bíblia para a destruição de Jericó por Josué.
Depois da guerra, a arqueóloga Kathleen Kenyon fez escavações adicionais em Jericó. Ela chegou à
conclusão de que os muros desmoronados, identificados por Garstang, datavam de centenas de anos antes do
que ele pensava. Ela, de fato, identificou uma grande destruição de Jericó no século 16 AEC, mas disse que
não havia cidade no lugar de Jericó durante o século 15 — quando a Bíblia diz que Josué invadiu a terra. Ela
passa então a relatar possíveis indícios de outra destruição que poderia ter ocorrido no lugar em 1325 AEC, e
sugere: ―Se a destruição de Jericó há de ser associada com uma invasão sob Josué, esta [última] data é a
sugerida pela arqueologia.‖
Significa isso que a Bíblia está errada? De modo algum. Temos de lembrar-nos que, ao passo que a
arqueologia nos oferece uma janela para o passado, esta janela nem sempre oferece uma vista clara. Às vezes
está decididamente fosca. Conforme observou um comentador: ―A evidência arqueológica, infelizmente, é
fragmentária, e, portanto, limitada.‖ Isto se dá especialmente com os primeiros períodos da história israelita,
quando a evidência arqueológica não é clara. De fato, a evidência é menos clara em Jericó, visto que o sítio
sofreu grande erosão.
As Limitações da Arqueologia. Os próprios arqueólogos admitem as limitações da sua ciência. Por
exemplo, Yohanan Aharoni explica: ―Quando se trata de interpretação histórica ou histórico-geográfica, o
arqueólogo sai do domínio das ciências exatas, e precisa depender de critérios e hipóteses para chegar a um
quadro histórico compreensivo.‖ Sobre as datas atribuídas a diversas descobertas, ele acrescenta: ―Sempre

18
Arqueologia

devemos lembrar, portanto, que nem todas as datas são absolutas e são em variados graus suspeitas‖, embora
ele ache que os arqueólogos de hoje podem ter mais confiança nas suas datas do que os do passado.
O Mundo do Antigo Testamento faz a pergunta: ―Quão objetivo ou realmente científico é o método
arqueológico?‖ Responde: ―Os arqueólogos são mais objetivos quando desenterram os fatos, do que quando
os interpretam. Mas, as suas preocupações humanas afetam também os métodos que usam ao ‗escavar‘. Não
podem deixar de destruir sua evidência ao cavarem através de camadas de terra, de modo que nunca podem
testar suas ‗experiências‘ por repeti-las. Isto torna a arqueologia ímpar entre as ciências. Além disso, torna a
reportagem arqueológica uma tarefa muito difícil e cheia de armadilhas.‖
De modo que a arqueologia pode ser muito útil, mas, assim como qualquer outro empreendimento
humano, é falível. Ao passo que consideramos com interesse as teorias arqueológicas, nunca devemos
encará-las como verdades incontestáveis. Quando os arqueólogos interpretam seus achados dum modo que
contradiz a Bíblia, não devemos automaticamente presumir que a Bíblia esteja errada e que os arqueólogos

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estejam certos. Sabe-se que as interpretações deles têm mudado.
É de interesse notar que o Professor John J. Bimson, em 1981, examinou de novo a questão da
destruição de Jericó. Estudou de perto a ocorrência da destruição ardente de Jericó, a qual — segundo
Kathleen Kenyon — ocorreu em meados do século 16 AEC. Segundo ele, a destruição não somente se ajusta
ao relato bíblico da destruição da cidade por Josué, mas o quadro arqueológico de Canaã, como um todo,
enquadra-se perfeitamente na descrição bíblica de Canaã quando foi invadido pelos israelitas. Por isso, ele
sugere que a datação arqueológica está errada e propõe que esta destruição realmente ocorreu em meados do
século 15 AEC, durante a vida de Josué. 4

Evidências Arqueológicas Confirmam o NT


As descobertas arqueológicas também têm ilustrado e confirmado aquilo que lemos nas Escrituras do
Novo Testamento. Assim, em 1961, o nome de Pôncio Pilatos foi encontrado numa inscrição nas ruínas dum
teatro romano em Cesaréia.16 Até esta descoberta, havia apenas evidência limitada, à parte da própria Bíblia,
da existência deste governante romano.
No Evangelho de Lucas, lemos que João Batista iniciou seu ministério ―quando . . . Lisânias era
governante distrital de Abilene‖. (Lucas 3:1) Alguns duvidaram desta declaração, por Josefo mencionar um
Lisânias que governou Abilene e que morreu em 34 AEC, muito antes do nascimento de João. No entanto, os
arqueólogos descobriram uma inscrição em Abilene que menciona outro Lisânias, que era tetrarca
(governante distrital) durante o reinado de Tibério, que governou como César em Roma quando João iniciou
seu ministério.17 Este facilmente pode ter sido o Lisânias mencionado por Lucas.
Lemos em Atos que Paulo e Barnabé foram enviados para fazer uma obra missionária em Chipre e que
ali encontraram um procônsul chamado Sérgio Paulo, ―homem inteligente‖. (Atos 13:7) Em meados do
século 19, em escavações feitas em Chipre, descobriu-se uma inscrição datando de 55 EC, a qual menciona

4
A Bíblia Palavra de Deus ou de Homem? págs. 43-53.
19
Arqueologia

este mesmo homem. Sobre isso diz o arqueólogo G. Ernest Wright: ―Esta é a única referência que temos a
este procônsul, fora da Bíblia, e é interessante que Lucas nos forneça seu nome e título corretos.‖
Durante a estada de Paulo em Atenas, ele disse que havia observado um altar dedicado ―A um Deus
Desconhecido‖. (Atos 17:23) Em outras partes do território do Império Romano descobriram-se altares
dedicados em latim a deuses anônimos. Um deles foi encontrado em Pérgamo, com uma inscrição em grego,
como seria o caso em Atenas.
Mais tarde, enquanto Paulo estava em Éfeso, sofreu oposição violenta por parte dos prateiros, cujo
rendimento provinha da fabricação de santuários e imagens da deusa Ártemis. Éfeso era chamada de
―guardiã do templo da grande Ártemis‖. (Atos 19:35) Em harmonia com isso, descobriram-se diversas
estatuetas de Ártemis, de terracota e de mármore, no lugar da antiga Éfeso. No último século, escavaram-se
os restos do próprio enorme templo.5
A Fidedignidade da Bíblia. Isto ilustra o fato de que os arqueólogos muitas vezes divergem entre si.

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Portanto, não surpreende que alguns discordem da Bíblia, ao passo que outros concordam com ela. Não
obstante, alguns eruditos estão chegando a respeitar a historicidade da Bíblia de modo geral, se não em todos
os pormenores. William Foxwell Albright representava uma escola de pensamento quando escreveu: ―Tem
havido um retorno geral ao apreço da exatidão da história religiosa de Israel, tanto no aspecto geral como nos
pormenores fatuais. . . . Em suma, agora podemos novamente tratar a Bíblia do começo ao fim como
documento autêntico de história religiosa.‖
De fato, a própria Bíblia leva o marco de história exata. Os acontecimentos estão relacionados com
tempos e datas específicos, dessemelhantes dos da maioria dos antigos mitos e lendas. Muitos
acontecimentos registrados na Bíblia são apoiados por inscrições que datam daqueles tempos. Onde ocorre
uma diferença entre a Bíblia e alguma inscrição antiga, a discrepância freqüentemente pode ser atribuída à
aversão dos antigos governantes de registrar suas próprias derrotas, e ao seu desejo de magnificar os seus
êxitos.
Deveras, muitas daquelas antigas inscrições são mais propaganda oficial do que história. Em contraste,
os escritores bíblicos demonstram uma rara franqueza. Principais personagens ancestrais, tais como Moisés e
Arão, são revelados em todas as suas fraquezas e em seus pontos fortes. Até mesmo as falhas do grande rei
Davi são reveladas com honestidade. As faltas da nação como um todo são repetidas vezes expostas. Este
candor recomenda as Escrituras Hebraicas como verazes e fidedignas, e dá peso às palavras de Jesus, que
disse, ao orar a Deus: ―A tua palavra é a verdade.‖ João 17:17.
Albright prosseguiu: ―De qualquer modo, a Bíblia sobreleva-se em conteúdo a toda a primitiva literatura
religiosa; e sobreleva-se de modo igualmente impressionante a toda a literatura subseqüente na simplicidade
direta da sua mensagem e na catolicidade [alcance abrangente] do interesse que desperta em homens de todas
as terras e tempos.‖ É esta ‗mensagem sobrelevante‘, em vez de o testemunho de eruditos, que prova a
inspiração da Bíblia, conforme veremos em capítulos posteriores. Mas, notemos neste respeito que os

5
A Bíblia Palavra de Deus ou de Homem? págs. 63-65.
20
Arqueologia

pensadores racionalistas modernos deixaram de provar que as Escrituras Hebraicas não são história verídica,
ao passo que estes próprios escritos fornecem toda a evidência de serem exatos.6

Capítulo III
DESCOBERTAS MAIS EXPRESSIVAS DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

―A Arqueologia provê uma amostra de antigas ferramentas, vasos, muros, prédios, armas e
adornos. A maioria destes pode ser posta em ordem cronológica e, com segurança, identificada com

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termos apropriados e contextos contidos na Bíblia. Neste sentido, a Bíblia preserva com exatidão, em
forma escrita, seu antigo ambiente cultural. Os pormenores das histórias bíblicas não são o produto
fantasioso da imaginação dum autor, mas antes, são reflexos autênticos do mundo no qual ocorreram
os eventos registrados, desde os seculares até os miraculosos.‖7

Manuscritos do Mar Morto


Uma das grandes descobertas da arqueologia bíblica deu-se em meados do século XX, quando foram
encontrados os manuscritos do mar Morto. Em couro e papiro, esses documentos são de inestimável valor
para o estudo do ambiente judaico pré-cristão.
Sob o nome de manuscritos do mar Morto tornaram-se conhecidos os documentos descobertos em 1947
em grutas e ruínas do território da Jordânia. As jarras de cerâmica que continham os rolos escritos de couro e
papiro foram encontradas por Mohamed al-Dib, um pastor de 15 anos, na região de Khirbet Qumran, cerca
de dois quilômetros a noroeste do mar Morto. Nas décadas de 1950 e 1960, em áreas próximas, descobriram-
se outros documentos que também ficaram conhecidos com o mesmo nome.
Especialistas de várias nacionalidades dedicaram-se a decifrar os manuscritos. Segundo a hipótese mais
aceita, eles foram postos nas 11 grutas de Qumran por membros da seita judaica dos essênios, que ali
viveram de meados do século II a.C. até 68 da era cristã, e cuja existência é mencionada pelos historiadores
Flávio Josefo, Tácito e Plínio. Os documentos teriam sido enterrados durante a guerra dos judeus contra os
romanos, no ano 70 da era cristã, para serem mais tarde recuperados. Além dos rolos contidos em ânforas --
mais de 600, entre textos bíblicos e não-bíblicos, alguns em bom estado de conservação -- descobriram-se
numerosos utensílios, moedas, tecidos etc., e uma vasta necrópole com mais de mil túmulos.
Muitos documentos foram adquiridos por museus e bibliotecas de diversos países, e alguns dos mais
valiosos encontram-se na Universidade Hebraica de Jerusalém. Os especialistas em geral concordam em

6
A Bíblia Palavra de Deus ou de Homem? págs. 53-54.
7
The Archaelogical Encyclopedia of the Holy Land.
21
Arqueologia

datá-los de meados do século III a.C. a 68 da era cristã, a maior parte deles escritos durante os séculos I a.C.
e I da era cristã. Com exceção do livro de Ester, todos os do cânon judaico-palestino foram encontrados em
Qumran.
Os mais importantes dentre os manuscritos são: um rolo do livro de Isaías, em excelente estado de
conservação, com cerca de duas mil variantes do texto aceito pela exegese hebraica; uma paráfrase livre, em
aramaico, do Gênesis; uma tradução aramaica do livro de Jó, com apenas 38 colunas parcialmente
conservadas; 13 manuscritos com textos dos profetas e salmos, incluindo referências históricas à vida da
comunidade; vários livros apócrifos judaicos, como o Livro dos jubileus, o Livro de Enoc, os Testamentos de
Levi e Neftali, com a tradução em hebraico ou aramaico de obras até então só conhecidas em traduções
gregas ou etíopes; a Regra da comunidade ou Manual de disciplina, da qual está completo um manuscrito
que mistura doutrina teológica com prescrições práticas; a Regra da congregação, que determina
especialmente a precedência entre o Messias sacerdotal e o Messias militar e político; e A guerra dos filhos

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da luz contra os filhos da treva, que prevê o massacre de todos os pagãos e judeus estranhos à comunidade.

Fragmento dos manuscritos do Mar Morto,


documentos do primórdio do cristianismo.

Pedra de Rosetta
Nome pelo qual é conhecido o fragmento de basalto negro, encontrado nas proximidades da
cidade de Rosetta, no Baixo Egito, em 1799. Permitiu ao francês Jean-François de Champollion decifrar a
escrita hieroglífica, em 1822. Encontra-se no Museu Britânico.

22
Arqueologia

A Pedra de Rosetta, fragmento


de uma estela de basalto negro

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que permitiu a decifração dos
hieróglifos (Museu Britânico, Londres)

Obelisco de Salmanasar
Salmanasar III foi rei da Assíria de 859 a 825 a.C. Filho e sucessor de Assur-Nasirpal II, consolidou e
ampliou o segundo império assírio com a conquista da Síria e do Urartu. Tornou-se conhecido por sua
crueldade. O fim de seu reinado foi marcado pela disputa de poder entre seus herdeiros, que levou a uma
guerra civil.
Como seu pai, Assurbanipal II, Salmanasar utilizou também o obelisco em vez de estelas para narrar
com relevos figurados e textos apropriados suas empresas militares. Obelisco é um monumento vertical
alongado e quadrangular construído sobre um pedestal e que apresenta o formato de pirâmide ou cone em
sua parte superior. No antigo Egito, costumavam ser erguidos em duplas, cercando a entrada dos túmulos ou
dos templos, e estavam associados, na maioria das vezes, ao culto do Sol.
O mais conhecido é o Obelisco Negro (2,02 m; Museu Britânico), chamado popularmente assim devido
à cor do seu alabastro. Ele apresenta sobre cada um de seus quatros ladros cinco quadros em relevo com a
representação de cenas de vassalagem de diversos reis e Estados submetidos e entrega de tributos forçados
(barras de metal, marfim, madeira, objetos manufaturados e animais domésticos ou selvagens, entre outros).
Num desses quadros aparece a entrega do tributo israelita, no tempo do rei Jeú, da casa de Omri.8

8
Federico Lara Peinado.- El arte de Mesopotamia.- Historia 16. Madrid; 1989. Págs. 92-93
23
Arqueologia

O obelisco negro

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(Museu Britânico)

Pedra Moabita

Os moabitas chegaram ao apogeu por volta do século IX, mas deles só restam poucos vestígios, como a
"pedra moabita" — uma das mais antigas inscrições alfabéticas conhecidas.
Os moabitas viveram na Palestina oriental, entre os séculos XIV e IV a.C. Etnicamente próximos dos
israelitas, são citados no Antigo Testamento em numerosas passagens da história de Israel. Seu ancestral,
Moab, era filho de Ló, sobrinho de Abraão. Cultuavam o deus Kemos, correspondente moabita de Iavé para
os israelitas. Davi, futuro rei de Israel, que tinha a moabita Rute por ancestral, buscou proteção no reino de
Moab contra Saul. Depois venceu e subjugou aquele reino, de onde Salomão trouxe esposas para seu harém.
No início do século IX a.C., o rei Mesa reconquistou terras perdidas por Moabe e mandou gravar a
pedra moabita. Nela ele apresenta sua versão a respeito do conflito entre Moabe e Israel.Seguiu-se um
período de estabilidade e florescimento, até que no século VIII os assírios chegaram à região. Nessa época,
os israelitas deixaram de conviver com os moabitas, apesar das afinidades lingüísticas, culturais e religiosas,
porque Isaías e outros profetas condenavam suas práticas religiosas.
Moabe participou, no início do século VI a.C., da coalizão que enfrentou a Babilônia. O historiador
judeu Flávio Josefo (século I da era cristã) situa a derrota moabita no ano 582 a.C. Nos séculos seguintes, a
região de Moab sofreu invasões de nômades até que foi conquistada pelos nabateus, provavelmente ao final
do século IV a.C.

24
Arqueologia

O Código de Hamurábi
Chama-se Código de Hamurábi o conjunto de leis promulgado pelo imperador babilônico Hamurábi no
século XVIII a.C., que unificou o direito costumeiro sumério e Arcádio.
O nome de Hamurábi, rei que levou a Babilônia ao máximo esplendor, permanece indissociavelmente
ligado a um dos mais importantes códigos jurídicos da antiguidade.
Hamurábi foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica, chamada dinastia dos amorritas. Filho de
Sinmuballit, quinto rei da dinastia, reinou aproximadamente de 1792 a 1750 a.C. Com Hamurábi, a
Babilônia tornou-se herdeira de toda a civilização milenar sumério-acádica. Pouco depois de ascender ao
trono, o jovem soberano deu início à fusão de semitas e sumérios em uma unidade política e civil, imposta
não só pelas armas, mas também pela ação administrativa e pacificadora.
Hamurábi restaurou os templos importantes do país, abriu novos canais e reparou os antigos, para dar
impulso à agricultura na planície mesopotâmia. Os tributos, em forma de dízimo, eram pagos em dinheiro ou

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produtos, que eram recolhidos aos armazéns do estado e vendidos com lucro. Hamurábi, porém, passou à
história sobretudo como legislador original. Consolidou a tradição jurídica, harmonizou os costumes e
estendeu o direito e a lei a todos os súditos.
Entre dezembro de 1901 e janeiro de 1902, uma delegação francesa na Pérsia, sob a direção de Jacques
de Morgan, desenterrou das ruínas da acrópole de Susa o monumento que contém o código de Hamurabi.
Consiste em um tronco de cone de dura pedra negra de 2,25m de altura, 1,60m de circunferência na parte
superior e 1,90m de base. Toda a superfície está coberta por denso texto cuneiforme, de escrita acádica. Num
alto-relevo, vê-se Hamurabi a receber de Shamash, deus dos oráculos, as leis da eqüidade da justiça,
dispostas em 46 colunas de 3.600 linhas.
O código não é uma coletânea sistemática de leis, mas um agrupamento de disposições casuísticas, de
ordem civil, penal e administrativa. É um corpo de leis dividido em 282 artigos, escrito em língua e estilo
oficial e preciso: suas disposições concernem à família, ao cultivo dos campos, ao comércio, ao trabalho e à
compra de escravos. A base de seu direito penal é a lei de talião, enraizada nas civilizações antigas, que
consiste em infligir ao criminoso o mesmo dano causado por ele.
Parece ter sido preocupação de Hamurabi evitar todo tipo de abuso e somente o contínuo estado de
guerra o impediu de imprimir a seu país uma organização política mais eficiente. A Babilônia mergulhou
num período de trágica regressão a partir de sua morte, que se deu em 1750 a.C.

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Arqueologia

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Parte superior da Estela onde
Está inscrito o Código de Hamurábi
(Museu de Louvre, Paris)

A Tumba de Tutankhamen (Tutacâmon)


Sepulcro do faraó egípcio Tutankhamen, descoberto em 1922 pelos arqueólogos George Carnarvon e
Howard Carter. Abrigava obras de arte e mobiliário pertencente ao faraó, que estão conservados no museu
do Cairo.
O faraó Tutankhamen reinou apenas dez anos, porém tornou-se mais famoso do que qualquer um de
seus antecessores e sucessores pelo fato de sua tumba ter sido descoberta intacta em 1922.
Tutankhamen era genro do grande faraó Akenaton IV, que realizou no Egito uma ampla reforma
religiosa e social, e provavelmente irmão de Smenkhkare, co-regente de Akenaton. Acredita-se que a morte
do faraó e de seu co-regente abriu caminho para a ascensão de Tutankhamen ao trono. Por ser muito jovem,
o vizir e regente, Ay, e o comandante das tropas imperiais, Horemheb, tornaram-se seus principais
conselheiros.
Sob a tutela de Ay e Horemheb, o jovem faraó mudou seu nome, de Tutankhaten para Tutankhamen
("imagem viva de Amon"), mudou-se de Tell al-Amarna para Mênfis, capital administrativa próxima ao
lugar em que mais tarde surgiria o Cairo, e decretou a restauração do culto de Amon e seu panteão -- que
Akenaton havia substituído pela veneração monoteísta do deus solar Aton -- e devolvia todos os templos e
privilégios à casta sacerdotal de Tebas.
Em seu reinado, os egípcios invadiram a Síria para ajudar um antigo aliado, o reino Mitani, envolvido
em disputas com vassalos dos hititas. Quando os reforços enviados pelo rei hitita para ajudar seus vassalos
estavam a caminho, Tutankhamen morreu de forma inesperada. Tinha aproximadamente 18 anos e como
nenhum de seus filhos sobreviveu, Ay sucedeu-o, provavelmente casando-se com a viúva do faraó. Sua

26
Arqueologia

tumba foi duas vezes invadida por saqueadores, capturados antes de praticarem danos maiores. Somente em
1922, durante exploração na necrópole do vale dos reis, uma missão arqueológica britânica dirigida por
Howard Carter descobriu o sepulcro e várias câmaras intactas. Em seu interior encontrou, junto ao sarcófago
e à múmia do faraó, um enorme tesouro em ouro, jóias e obras de arte.

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Sarcófago de Tutacâmon
(Museu Egípcio, Cairo)

Estela de Merneptá
Conhece-se como estela o monumento monolítico, com ou sem inscrições e baixos-relevos, erguido
para assinalar locais sagrados, sobretudo funerários. A estela de Merneptá é uma das mais conhecidas. Nela,
Merneptá, filho de Ramsés II, se gaba da conquista de Israel: a única menção conhecida de Israel em antigos
textos egípcios.

Estela de Ur-Nammu
Ur-Nammu (c.2000 a.C) foi um soberano sumério. Primeiro rei da dinastia de Ur, publicou o mais
antigo código de leis da Mesopotâmia. Em seu reinado foi erigido o grande zigurate de Sin.

27
Arqueologia

O zigurate de Ur remonta ao reino de


Ur-Nammu (2113-2095 a.C.) e tem 21 m de altura.

Outras Estruturas Bíblicas Desencavadas


Entre as mais interessantes estão:

* O palácio de Jericó onde Eglom, rei de Moabe, foi assassinado por Eúde (Juízes 3:15-30).
* O Portão leste de Siquém onde Gaal e Zebul observaram a aproximação das tropas de Abimeleque (Juízes
9:34-38).
* O Tempo de Baal / El-Berite em Siquém, onde foram obtidos fundos para o reinado de Abimeleque e onde
os cidadãos de Siquém se refugiaram quando Abimeleque atacou a cidade (Juízes 9:4, 46-49).
* O tanque de Gibeão onde as forças de Davi e Is-Bosete lutaram pelo reinado de

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Israel (2 Samuel 2:12-32).
* A Piscina de Hesbom, que foi comparada aos olhos da mulher sulamita (Cântico
dos Cânticos 7:4).
* O palácio real de Samaria onde os reis de Israel viveram (1 Reis 20:43; 21:1, 2;
22:39; 2 Reis 1:2; 15:25).
* O tanque de Samaria onde o carro do rei Acabe foi lavado após sua morte (1 Reis 22:29-38).
* O aqueduto sob Jerusalém, cavado pelo rei Ezequias para prover água durante o cerco assírio (2 Reis
20:20; 2 Crônicas 32:30).
* O palácio real da Babilônia onde o rei Belsazar deu um grande banquete e Daniel interpretou a escrita na
caiadura da parede (Daniel 5).
* O palácio real em Susã onde Ester foi a rainha do rei persa Assuero (Ester 1:2; 2:3, 5, 9, 16).
* O portão real em Susã onde Mordecai, tio de Ester, se assentou (Ester 2:19, 21; 3:2, 3; 4:2; 5:9, 13; 6:10,
12).
* A praça da cidade em frente ao portão real, onde Mordecai encontrou Hataque, eunuco de Assuero (Ester
4:6).
* A fundação da sinagoga em Cafarnaum onde Jesus curou um homem que tinha um espírito imundo
(Marcos 1:21-28) e deu o sermão do pão da vida (João 6:25-59).
* A casa de Pedro em Cafarnaum onde Jesus curou a sogra de Pedro e outras pessoas (Mateus 8:14-16).
* O poço de Jacó onde Jesus falou à mulher samaritana (João 4).
* O tanque de Betesda em Jerusalém, onde Jesus curou um homem enfermo (João 5:1-14).
* O tanque de Siloé em Jerusalém, onde Jesus curou um homem cego (João 9:1-4).
* O tribunal em Corinto onde Paulo foi julgado (Atos 18:12-17).
* O teatro em Éfeso onde ocorreu a revolta dos artífices (Atos 19:29).
* O Palácio de Herodes em Cesaréia onde Paulo foi mantido sob guarda (Atos 23:33-35).

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Arqueologia

Outras Confirmações de Eventos Bíblicos


O evento bíblico mais documentado é o dilúvio universal descrito em Gênesis 6-9. Diversos
documentos babilônicos foram descobertos e descrevem o mesmo dilúvio.
A Lista de Reis Sumérios, por exemplo, indica que todos os reis reinaram por longos anos. E então veio
uma grande inundação, e após este acontecimento, os reis sumérios reinaram por períodos bem menores.
Este é o mesmo padrão de acontecimento encontrado na Bíblia. Os homens tinham uma maior longevidade
antes do dilúvio e menor após o mesmo. O 11o. tablete do Épico de Gilgamesh descreve uma arca, animais
levados até a arca, pássaros sendo soltos durante a grande inundação, a arca repousando sobre uma montanha
e um sacrifício oferecido após a arca estar parada.
A estória de Adapa conta sobre um teste de imortalidade envolvendo alimento, similar à estória de Adão
e Eva no Jardim do Éden.
Os tabletes de argila sumérios registram a confusão de línguas assim como se observa no histórico

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bíblico da Torre de Babel (Gênesis 11:1-9). Existiu uma era de ouro onde toda a humanidade falava a mesma
língua. As línguas foram então confundidas pelo deus Enki, senhor da sabedoria. Os babilônios têm registros
similares onde os deuses destruíram a torre do templo e "dispersaram-nos e tornaram suas línguas estranhas."
Outros exemplos de confirmações extra-bíblicas de eventos bíblicos:
 Campanha em Israel do Faraó Sisaque (1 Reis 14:25-26), registrado nos muros do Templo de Amon
em Tebas, Egito.
 Revolta de Moabe contra Israel (2 Reis 1:1; 3:4-27), registrado na Inscrição Mesha.
 Queda de Samaria (2 Reis 17:3-6, 24; 18:9-11) a Sargão II, rei da Assíria, registrado nos muros de
seu palácio real.
 Derrota de Asdode por Sargão II (Isaías 20:1), como registrado nos muros de seu palácio real.
 Campanha do rei assírio Senaqueribe contra Judá (2 Reis 18:13-16), como registrado no Prisma
Taylor.
 Cerco de Laquis por Senaqueribe (2 Reis 18:14, 17), como registrado nos relevos de Laquis.
 Assassinato de Senaqueribe por seus próprios filhos (2 Reis 19:37), como registrado nos anais de seu
filho Esar-Hadom.
 Queda de Nínive como predito pelos profetas Naum e Sofonias (2:13-15), registrado no Tablete de
Nabopolazar.
 Queda de Jerusalém por Nabucodonosor, rei de Babilônia (2 Reis 24:10-14), como registrado nas
Crônicas Babilônicas.
 Cativeiro de Joaquim, rei de Judá, em Babilônia (2 Reis 24:15-16), como registrado nos Registros de
Alimentação Babilônicos.
 Queda de Babilônia para os medos e os persas (Daniel 5:30-31), como registrado no Cilindro de
Ciro.
 Libertação dos cativos da Babilônia por Ciro o Grande (Esdras 1:1-4; 6:3-4), como registrado no
Cilindro de Ciro.

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Arqueologia

 A existência de Jesus como registrado por Josephus, Suetônio, Thallus, Plínio o Jovem, o Talmude e
Lucian.
Expulsão de judeus de Roma durante o reinado de Cláudio (A.D. 41-54) (Atos 18:2), como registrado por
Suetônio.

Capítulo IV
O DILÚVIO E A ARQUEOLOGIA

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O registro do Dilúvio na Bíblia encontra-se em Gên. 6.17; 7.6-7,10,17; 9.11,15,28; 10.1,32; 11.10 / Mat.
24.38-39 / Luc. 17.27 / 2 Ped. 2.5).
"Depois disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque tenho visto que és justo diante
de mim nesta geração (Gn 7.1). Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e
quarenta noites, e exterminarei da face da terra todas as criaturas que fiz. (Gn 7.4). Noé entrou na arca com
seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, por causa das águas do dilúvio. (Gn 7.7)."

História de muitas tradições:


Quando ouvimos a palavra "dilúvio", pensamos quase imediatamente na Bíblia e na história da arca de
Noé. Essa história maravilhosa do Velho Testamento viajou com o cristianismo através do mundo. E assim
se tornou a tradição mais conhecida do dilúvio, embora não seja de modo algum a única. Nos povos de todas
as raças existem diferentes tradições de uma inundação imensa e catastrófica. Os gregos contavam a lenda do
dilúvio de Deucalião; ja muito antes de Colombo, corriam entre os primitivos habitantes do continente
americano numerosas histórias a respeito de uma grande inundação. Na Austrália, na Índia, na Polinésia, no
Tibete, em Caxemira, na Lituânia, há histórias de uma grande inundação que vem sendo transmitidas de
geração a geração até nossos dias. Serão todas mitos, lendas, produtos da imaginação?
É bem provável que todas elas reflitam a mesma catástrofe universal. Mas esse formidável
acontecimento deve ter ocorrido num tempo em que já havia seres pensantes que o presenciaram e Ihe
sobreviveram, podendo transmitir a notícia as gerações futuras. Os geólogos julgavam poder solucionar o
velho enigma com o auxílio de sua ciência, apontando como causa a alternância de épocas de calor e
períodos glaciários que assinalaram a evolução da Terra. Por quatro vezes subiu o nível dos mares quando
começavam a derreter-se as tremendas camadas de gelo que cobriam os continentes, em alguns lugares com
muitos milhares de metros de espessura. As águas de novo desencadeadas mudavam o aspecto da paisagem,
inundavam litorais e vales profundos, exterminando homens, animais e plantas. Em suma, todas as tentativas
de explicação terminavam em especulações e hipóteses. Mas conjeturas são o que menos interessa ao

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Arqueologia

historiador. Ele exige sempre uma demonstração clara e material. E essa não existia; nenhum cientista,
qualquer que fosse a sua especialidade, pudera dá-la. E a verdade é que foi por puro acaso, isto é, graças as
escavações que visavam algo completamente diferente, que se apresentou a prova insofismável da existência
do dilúvio. E isso aconteceu num sítio de escavações realizadas em Ur dos Caldeus!

Expedições Arqueológicas:
Havia já seis anos que os arqueólogos americanos e ingleses estudavam o terreno junto ao Tell al
Muqayyar, que nessa época dava a impressão de uma obra colossal. Quando o trem de Bagdá se detinha
nesse local por um instante, os viajantes olhavam com espanto para os gigantescos montes de areia retirada.
Trens inteiros de terra eram removidos, examinados cuidadosamente, passados na peneira; lixo milenar era
manejado como se se tratasse de valioso tesouro. A atividade, os cuidados, as fadigas e o zelo de seis anos
produziram uma colheita prodigiosa. Aos templos sumérios com armazéns, fábricas e tribunais, as ricas

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habitações dos cidadãos, seguiram-se, de 1926 a 1928, achados de tal brilho e esplendor que obscureceram
tudo o que se conseguira ate então.
Refiro-me aos "túmulos reais de Ur", como batizou Woolley, na exultação da descoberta, os túmulos de
sumérios notáveis cujo esplendor verdadeiramente régio foi revelado num monte de entulho de quinze
metros de altura. Esse monte de entulho ficava ao sul do templo, e os túmulos estavam dispostos numa longa
fila, uns ao lado dos outros. As câmaras tumulares de pedra eram verdadeiros tesouros: estavam cheias de
todas as preciosidades de Ur. Taças e copos de ouro, bilhas e vasos de formas maravilhosas, utensílios de
bronze, mosaicos de madrepérola, lápis-lazúli e prata rodeavam os mortos reduzidos a pó. Encostadas as
paredes havia harpas e liras. Um moço, "herói da terra de Deus", pois assim era intitulado por uma inscrição,
tinha na cabeça um elmo de ouro. Um pente de ouro, ornado de flores de lápis-lazúli, enfeitava o cabelo da
bela suméria Puabi, a "Lady Shub-ad", como a chamaram os ingleses. Coisas mais belas não haviam sido
encontradas nem mesmo nas famosas câmaras mortuárias de Nefertiti e Tutancamon. E, contudo, os túmulos
reais de Ur eram mil anos mais antigos do que aquelas!
Mas, a par das riquezas, os túmulos reais reservavam outro espetáculo sinistro e impressionante para os
homens de nosso tempo, uma cena que não podemos considerar sem um ligeiro calafrio. Nas câmaras
mortuárias foram encontradas parelhas de animais de tiro, os esqueletos ainda atrelados aos grandes carros
carregados de artísticos utensílios domésticos. Era evidente que todo o cortejo fúnebre seguira os defuntos
notáveis a morte, como deixavam perceber os esqueletos que os cercavam, com vestidos de festa e ornados
de jóias. Vinte continha o túmulo da bela Puabi, e outras criptas continham ate setenta esqueletos.
Que teria acontecido ali em épocas passadas? Não havia o menor indício de que aquela gente tivesse sofrido
morte violenta. Tudo indicava que eles haviam acompanhado os defuntos a cripta em solene cortejo, com
carros cheios de tesouros puxados por animais. E, enquanto pelo lado de fora o túmulo era emparedado, lá
dentro eles oravam, pedindo o último repouso para o senhor morto. Depois tomavam uma droga, reuniam-se
pela ultima vez em volta dele e morriam voluntariamente... a fim de poderem servi-lo também na outra vida!

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Arqueologia

Durante dois séculos, os habitantes de Ur haviam depositado seus homens notáveis naqueles túmulos.
Com a abertura da mais profunda e última câmara tumular, os pesquisadores do século XX decidiram
continuar com as escavações.
Aprofunda-se as escavações:
Com a chegada do verão de 1929, aproximava-se do fim a sexta campanha de escavação no Tell al
Muqayyar. Woolley pôs mais uma vez seus auxiliares nativos a trabalhar no monte dos "túmulos reais". Não
podia descansar, queria ter certeza se a terra sob o túmulo real mais profundo poderia oferecer descobertas
durante o novo período de escavações. Depois de retirados os alicerces do túmulo, algumas centenas de
golpes de pá revelaram que embaixo havia mais camadas de entulho. A que profundidade do passado
chegariam aqueles mudos cronômetros? Quando surgiria, debaixo daquela colina, a primeira povoação
assente em solo virgem? Era isso o que Woolley queria saber! Lentamente, com muito cuidado, a fim de ter
certeza, mandou abrir poços e ficou ali para examinar as camadas extraídas. "Quase imediatamente se

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fizeram descobertas que confirmaram nossas suposições", escreve ele mais tarde em seu relatório. "Sob o
pavimento dos túmulos reais foram encontradas, numa camada de cinzas de madeira, numerosas tabuinhas
de terracota cobertas de inscrições dum tipo muito mais antigo que as encontradas nos túmulos. A julgar pela
escrita, as tabuinhas poderiam ser situadas mais ou menos no século XXX a.C. Deviam ser, pois, uns
duzentos ou trezentos anos mais antigas do que os túmulos."
A medida que se aprofundavam os poços, apareciam novas camadas com cacos de cântaros, potes,
tigelas. O fato de a cerâmica continuar extraordinariamente inalterada chamou a atenção dos exploradores.
Parecia ser exatamente igual as peças encontradas nos túmulos reais. Donde se concluía que, durante muitos
séculos, a civilização dos sumérios não sofrera modificações dignas de nota. Devia ter atingido um alto grau
de desenvolvimento em tempos muitíssimo remotos.
Quando, depois de muitos dias, um dos trabalhadores gritou para Woolley que haviam chegado ao fundo, ele
desceu lá pessoalmente para se certificar. Com efeito, ali terminava bruscamente todo e qualquer vestígio
humano. No solo intacto, repousavam os últimos fragmentos de utensílios domésticos; aqui e ali havia
vestígios de fogo. "Finalmente!", pensou Woolley. Com cuidado, examinou o solo do fundo do poço e viu
que era limo, puro limo do tipo que só se formava pela sedimentação na água! Limo naquele lugar? Woolley
procurou uma explicação. Só podia ser areia de rio, uma acumulação de aluviões do Eufrates em outras eras.
Aquela camada devia ter-se formado quando o grande rio estava avançando seu delta mais para o
interior do Golfo Pérsico. Até hoje continua esse avanço da foz do rio para o Golfo, onde a nova terra se
estende cerca de vinte e cinco metros a cada ano mar adentro. Quando Ur estava em seu apogeu, o rio
Eufrates passava tão perto dela que a grande torre escalonada se espelhava nas suas águas, e do alto do seu
santuário devia avistar-se o Golfo Pérsico. As primeiras habitações deviam ter sido construídas sobre o limo
do antigo delta.
Medidas realizadas no terreno e cálculos feitos com mais cuidado levaram Woolley a um resultado
completamente diverso e a nova conclusão. "Vi que estávamos num nível muito alto. Era difícil de aceitar
que a ilha sobre a qual fora construída a primeira povoação se elevasse tanto acima da várzea."

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Arqueologia

O fundo do poço, onde começava a camada de limo, ficava muitos metros acima do nível do rio. Não podia
ser, portanto, aluvião do Eufrates. Que significava, pois, aquela extraordinária camada de limo? Como se
formara? Nenhum dos seus colaboradores conseguiu dar uma resposta conclusiva. Continuaram, pois,
aprofundando o poço. Superexcitado, Woolley observava, enquanto cesta após cesta ia saindo da escavação e
o conteúdo era imediatamente examinado. As pás continuaram cavando, um metro, dois metros... era ainda
puro limo. A cerca de três metros de profundidade, a camada de limo terminou tão bruscamente como havia
começado. Que viria a seguir?
As cestas que apareceram a luz do dia, a seguir, deram uma resposta que nenhum daqueles homens
podia ter imaginado. Não podiam acreditar no que viam. Esperavam terra virgem, mas o que lhes aparecia ali
sob o sol implacável era novo entulho, depois mais entulho, detritos de outrora, e, entre eles, numerosos
cacos de barro, sob uma camada de quase três metros de puro limo, topavam de novo com restos de
habitações humanas. Mas tanto o aspecto como a técnica da cerâmica haviam mudado notavelmente. Acima

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da camada de limo, havia bilhas e escudelas evidentemente feitas no torno; aquelas, ao contrário, eram ainda
modeladas a mão. Por mais que fosse peneirado com cuidado o conteúdo das cestas, sob a crescente
expectativa dos homens, não se descobriram restos de metal em parte alguma. A ferramenta primitiva que
apareceu consistia em silex polido. Devia ser da Idade da Pedra!

A descoberta do Dilúvio:
Naquele dia, um telégrafo da Mesopotâmia transmitia para o mundo a mais extraordinária notícia que
ouvidos humanos já ouviram: "Descobrimos o dilúvio!" A tremenda descoberta realizada em Ur ocupou as
manchetes da imprensa dos Estados Unidos e da Inglaterra.
O dilúvio - essa era a única explicação possível para a enorme jazida de lama sob a colina de Ur que
separava nitidamente duas épocas humanas. O mar havia deixado aí seus vestígios incontestáveis sob a
forma de restos de pequenos animais marinhos. Woolley quis ter certeza o mais depressa possível. Podia ser
que um acaso, se bem que improvável, tivesse iludido a ele e aos seus colaboradores. Mandou escavar um
poço a uns trezentos metros do primeiro.
As pás puseram a descoberto o mesmo perfil: cacos de olaria, camadas de limo, restos de objetos de barro
moldados a mão.
A fim de afastar toda e qualquer dúvida, mandou finalmente escavar ainda outro poço na massa de
escombros, num lugar onde as habitações humanas se erguiam sobre uma colina natural; portanto, em
camadas situadas acima do depósito de limo.
A uma profundidade mais ou menos igual aquela em que nos dois outros poços acabavam de repente as
vasilhas feitas no torno, aí também deixaram de aparecer. Imediatamente abaixo, seguiam-se vasilhas feitas a
mão... exatamente como Woolley imaginara e havia esperado. Somente aí faltava, naturalmente, a camada de
limo divisória. "Cerca de cinco metros abaixo de um pavimento de tijolos", observa Woolley," a que
podíamos atribuir com relativa segurança a data de 2700 anos a.C., encontramos as ruínas daquela cidade
que existira antes do dilúvio."

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Arqueologia

Até onde se estenderia a camada de limo? Que regiões teriam sido abrangidas pela catástrofe? Uma pesquisa
regular dos vestígios da grande inundação está sendo levada a efeito atualmente, em outros sítios no sul da
Mesopotâmia. Outros arqueólogos descobriram em Kish, ao nordeste da antiga Babilônia, onde o Eufrates e
o Tigre, fazendo grandes curvas, se aproximam um do outro, um novo e importante ponto de referência. Em
dado momento, toparam com uma camada de terreno de aluvião, se bem que aí tenha apenas meio metro de
espessura. Por meio de sondagens, consegue-se estabelecer a extensão geral da enorme inundação. Segundo
Woolley, a catástrofe cobriu, ao nordeste do Golfo Pérsico, uma extensão de seiscentos e trinta quilômetros
de comprimento por cento e sessenta de largura.
Após inúmeras pesquisas e tentativas de interpretação sem resultados concretos, havia muito que se tinha
abandonado a esperança de solucionar o grande mistério do dilúvio, que parecia recuar para épocas
remotíssimas, insondáveis para o homem. Então, eis que o trabalho incansável e seguro de Woolley e de seus
colaboradores produzia para os cientistas um resultado espantoso: não só fora descoberta uma imensa e

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catastrófica inundação que lembrava o dilúvio da Bíblia, freqüentemente considerado pelos céticos como
lenda ou fantasia, mas agora se apresentava como acontecimento ocorrido numa época histórica
determinável.
Ao pé da velha torre escalonada dos sumérios, em Ur, no baixo Eufrates, podia-se descer por uma
escada ao fundo de um estreito poço e ver e apalpar os restos de uma imensa inundação, uma camada de limo
de quase três metros de espessura. E, pela idade das camadas que indicavam estabelecimentos humanos e nas
quais se podia ler o tempo como num calendário, podia-se também determinar quando ocorrera essa
inundação. Ocorreu por volta de 4000 a.C.!
Capítulo V
A ARCA DE NOÉ E A ARQUEOLOGIA

A busca pela Arca de Noé tem recebido atenção internacional nas últimas duas décadas. Dezenas de
expedições à região do Ararate na Turquia Oriental, a maioria das quais compostos por grupos cristãos norte-
americanos, têm gerado numerosas afirmações - sem no entanto prova alguma.
De acordo com a Bíblia, a Arca de Noé era uma grande barcaça construída de madeira e
impermeabilizada com betume. Suas dimensões eram aproximadamente 450 pés de comprimento, 75 pés de
largura e 45 pés de altura com três andares interiores. Aparentemente, uma "janela" foi construída ao seu
teto. (Gênesis 6:14-16). As dimensões da Arca tornam-a a maior embarcação marítima conhecida existente
antes do século XX e suas proporções são surpreendentemente semelhantes às encontradas nos grandes
transatlânticos atuais.
A Bíblia diz que o barco de Noé repousou sobre "os montes de Ararate" (Gênesis 8:4). "Ararate"
provavelmente se refere uma região (o antigo reino de Urartu) e não um monte específico. Após a saída de
Noé e sua família para a montanha, o barco virtualmente desapareceu das páginas da Bíblia. Os escritores
bíblicos que vieram posteriormente nunca deram indicativos de que soubessem que a Arca ainda podia ser
vista.

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Arqueologia

O monte atualmente denominado "Ararate" é semelhante a uma cadeia com dois picos gêmeos. É muito
interessante observar que existem diversas referências no decorrer da história que relatam sobre um grande
barco em uma montanha nesta região. As mais antigas referências (início do século III D.C) sugerem que era
de conhecimento geral que a Arca ainda podia ser vista no Monte Ararate.
Reportes durante o século passado envolvem visitas à embarcação, coleta de madeira e fotografias
aéreas. Em geral, acredita-se que pelo menos uma parte da Arca ainda está intacta, não no pico mais alto,
mas em algum lugar acima do nível dos 10.000 pés. Aparentemente encoberta por neve e gelo na maior parte
do ano, apenas em alguns verões quentes a estrutura pode ser localizada e visitada. Algumas pessoas dizem
terem andado no seu teto, outras terem andado na parte interna.
Nos anos 80, a "arca-logia" obteve certo ar de respeitabilidade com a participação ativa do ex-astronauta
da NASA James Irwin em expedições à montanha. Além disso, as investigações sobre a Arca também foram
aceleradas com a dissolução da União Soviética, pois a montanha estava justamente na fronteira entre União

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Soviética e Turquia. As expedições à montanha eram consideradas como uma ameaça à segurança pelo
governo soviético.
Infelizmente, visitas posteriores aos locais descritos não produziram evidências adicionais, o paradeiro
revelado pelas fotografias é atualmente uma incógnita e as diferentes visões não indicam o mesmo local.
Além disso, o astronauta James Irwin faleceu, uma testemunha visual recentemente se retratou publicamente
e existem poucas novas expedições à montanha nos anos 90.
Porém ainda existem alguns esforços. Mesmo considerando que a Associates for Biblical Research não
está direcionada para qualquer um destes esforços, temos pesquisado documentos antigos, procurado por
relatos de testemunhas visuais e renovado esforços para mapear o local de repouso da Arca. Existem ainda
muitas expedições pendentes. Se realmente estiver lá, certamente saberemos.

Capítulo VI
A CONTROVÉRSIA DO SANTO SUDÁRIO

Sudário era uma espécie de véu com que se cobria a cabeça dos mortos na antiguidade. Neste
sentido, chama-se de santo sudário ou sudário de Turim a mortalha ou lençol de linho supostamente
pertencente ao sepulcro de Cristo. Descoberto em 1354 e conservado desde 1578 na catedral de Turim. Há
muita controvérsia a respeito. Uns dizem datar do primeiro século enquanto outros afirmam remontar ao
período entre 1260 e 1390.
Testes químicos feitos na Itália comprovam pelo menos uma coisa: que o tecido envolveu realmente um
corpo, afastando a hipótese de fraude, pelo menos no que diz respeito ao aspecto biológico. As marcas
encontradas no Santo Sudário – uma das relíquias mais sagradas da Igreja Católica e que teria envolvido
Jesus Cristo depois da crucificação – são de um corpo humano. A revelação foi feita num simpósio
organizado pelo Centro de Sindologia (estudo do Sudário) de Turim, na Itália, onde está guardado o manto.
Participaram do simpósio 40 cientistas de 10 países. "Pesquisas físicas e químicas, feitas com a ajuda de

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Arqueologia

computadores, permitiram estabelecer que a imagem humana visível na tela não é uma pintura, mas o
resultado da oxidação e da desidratação de um corpo humano", afirmou Gian Maria Zaccone, vice-presidente
do Centro Internacional de Sindologia. Os cientistas não conseguiram, no entanto, explicar como ocorreu a
oxidação. Idade da peça permanece um mistério O tecido tem traços de sangue humano e pólen de plantas
que existem em Jerusalém. Mas ainda persiste a polêmica sobre a idade do tecido, pois análises com o
elemento carbono 14, feitas em 1988, indicaram que a peça remonta à Idade Média. O simpósio reconheceu
essas análises, mas acrescentou que não se pode descartar uma possível contaminação do tecido, o que
alteraria os resultados. O Santo Sudário será exposto novamente para o público, de 12 de agosto a 22 de
outubro, na Catedral de Turim.

Capítulo VII

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MANUSCRITOS DO MAR MORTO —
GRANDE FONTE DE AJUDA NA COMPREENSÃO DA BÍBLIA

Teresa Cristina Akil

Intrigantes, inquietantes, polêmicos e esclarecedores. Apenas um misto de palavras pode definir o que
são os Manuscritos do Mar Morto e sua importância para os estudiosos da religião.
Descobertos em 1947 por um garoto beduíno que pastoreava cabras ao largo das cavernas de Qumrã,
nos arredores do Mar Morto, e vendidos pelo amigo desse pastorzinho a um estudioso judeu e um padre,
esses rolos de pergaminho, pele e bronze achados em jarros de barro, que já viajaram o mundo, passando
pelas mãos de estudiosos e catedráticos, têm feito uma verdadeira revolução no estudo do judaísmo e do
cristianismo do século I.
Apresentados ao mundo, os Manuscritos do Mar Morto tem influenciado e esclarecido, desmistificado e
reafirmado vários pontos do panorama bíblico.
Mas, apesar disso tudo, perguntas ficam no ar sempre que esses manuscritos são citados, pois,
constantemente, ouve-se muita polêmica ao seu redor. A primeira pergunta que logo se faz é qual o
importante legado que esses pergaminhos deixaram para a estudo bíblico? Como e porque esses antigos
escritos podem ajudar na compreensão do século I, do judaísmo e do cristianismo primitivo?
Essa intrigantes perguntas vão aos poucos sendo respondidas quando se começa a descobrir o dia-a-dia da
comunidade de Qumrã, seus hábitos, leis e crenças. Quando se começa a tomar conhecimento do que
realmente se passava no panorama político, econômico e social da época dos qumramitas. Miraculosamente,
uma novo modo de pensar é revelado quando se toma contato com esse admirável novo mundo bíblico.
E mais, passa-se a ver que os Manuscritos do Mar Morto foram um descoberta de valor inestimável,
pois tanto confirmam a integridade e validade do texto bíblico (vide o rolo do livro de Isaías, onde, em todo
texto, achou-se apenas sete variantes, sendo seis palavras diferentes, porém sinônimas, e uma que, apesar de
não ser sinômina, em nada alterava a integridade do livro) como também esclarecem o texto, pois tiram o
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Arqueologia

véu do mistério que encobria o real modo de pensar, viver e acreditar das pessoas mais próximas a época do
início do cristianismo.
A Comunidade de Qumrã
Comumente incluída na seita dos essênios, a comunidade inicial era formada de doze leigos e três
sacerdotes, que simbolicamente representavam as doze tribos de Israel e os três clãs levíticos (cf.Gn 46:11).
Provavelmente, eles acreditavam ser um novo povo de Deus e, no seio do seu país, da terra de Israel, o
restante fiel que obedeceria perfeitamente a lei de Moisés e a todas as revelações particulares dadas a Levi e
seus descendentes.
E mais, criam constituir um verdadeiro templo onde poderá se desenvolver uma liturgia segundo a
vontade de Deus. Inspirados em Isaías 28:16, acreditavam que quem quisesse viver nessa comunidade
deveria comportar-se sempre em perfeito estado de pureza como no templo ou como no santo dos santos.
Para atingir esses alvos, tinham três objetivos: estabelecer a aliança segundo os decretos eternos, expiar em

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favor do país e dar aos maus sua retribuição.
Baseados em Isaías 40:3, uma nova comunidade partiu para o deserto, a fim de preparar o caminho para a
vinda escatológica de Deus. Ainda almejando ser uma assembléia santa, povo consagrado a Deus, eles
dedicavam-se ao estudo aprofundado das Lei e as suas práticas. Já no deserto de Qumrã, a comunidade
passou a receber novos membros e, com isso, a estabelecer um código penal, no qual encontravam-se leis
como tempo de aprovação para integrar a comunidade, excomunhão ou exclusão e procedimentos gerais.
Único lugar de salvação, a comunidade de Qumrã, agora distanciada do templo de Jerusalém, lugar de
culto do judaísmo, apegou-se a profecia de Ezequiel 44:15 e passou a considerar-se independente de
Jerusalém. E mais, cria que o verdadeiro templo era a própria comunidade e que os sacrifícios agradáveis a
Deus eram os espirituais.
Nessas comunidades-templo, tornava-se necessário, tanto para os sacerdotes como para os leigos, viver
em perfeito e constante estado de pureza ritual, por isso valorizavam os rituais purificatórios. Por isso, a
água, desempenhava um papel importante na vida dos qumramitas, como testemunha a existência de
cisternas e piscinas no recinto das construções comunitárias.
Se por um lado a comunidade é adepta do batismo, chegando inclusive a crer que o batismo, por si só é
incapaz de proporcionar uma verdadeira purificação, pois este depende essencialmente do Espírito de
santidade, que Deus, por ocasião de sua visita, difundirá como aspersão, por outro lado obrigava seus
membros a absterem-se de participar do culto sacrílego exercido pelo clero no templo de Jerusalém e,
conseqüentemente, dos sacrifícios. Para os qumramitas, bastava a lei de Levítico 19:2: "Sede santos, porque
eu, Javé vosso Deus, ou santo". Além disso, eles consideravam o sacrifício de "louvor dos lábios", unido a
uma conduta irrepreensível, superior aos sacrifícios sangrentos.
Com pontos teológicos comuns ao do judaísmo do Antigo Testamento, a comunidade Qumrã era
adeptos da prática da oração, da observância do sábado, o qual era destinado para o louvor e das festas
solenes como a de Pentecostes.
A importância dos manuscritos do mar morto.

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Arqueologia

Diferentemente da opinião do crítico literário Robert Alter, que diz que "os rolos do Mar Morto são
escritos de valor literário e espiritual menor, pois não oferecem qualquer conexão significativa entre o
pensamento bíblico e o pensamento rabínico primitivo, e que os seus autores - os qumramitas - estavam
fisicamente isolados do corpo político dos judeus" ("How The important are the Dead Sea Scrolls?", pp. 34-
41), é indiscutível o valor, a importância e a significação básica que os rolos têm para a real compreensão do
desenvolvimento do judaísmo e do cristianismo. Como é sabido, os rolos "representam aspectos diversos da
real condição do judaísmo durante três séculos do período intertestamentário - com todas as suas
complexidades sectárias e heterodoxas".
E mais, boa parte dos manuscritos datam claramente do período asmoneu, um período que, nas palavras
de Menachem Stern, "(...)levou a independência espiritual e material da nação judaica tanto na Judéia quanto
fora. (...) No século II a.C. um estado judaico expandiu-se sobre toda a Palestina, (...) que tornou-se religiosa
e nacionalmente, a Grande Judéia, e esse fato imprimiu sua marca no caráter religioso, cultural e étnico na

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nação por um longo período. (...) houve um vigoroso desenvolvimento religioso e um fortalecimento do
judaísmo nas nações da Diáspora". Importantísmos, vários do rolos de Qumrã refletem claramente este
desenvolvimento.
Por outro lado, outros rolos datam do início da dominação romana (63.a.C.), a destruição da segunda
comunidade judaica, quando outros acontecimento e mudanças abalaram a nação judaica. Nesse caso, os
manuscritos do Mar Morto são uma rica e inesperada fonte de novos conhecimentos sobre esses dois
períodos, onde encontra-se acontecimentos e personalidades do judaísmo palestino que até então
desconhecidos.
Extremamente relevantes para a história do pensamento e da espiritualidade judaica, os manuscritos do
Mar Morto oferecem ao estudioso tanto leituras de excepcional interesse para a reconstrução do texto
original da Bíblia como também a história da religião bíblica será grandemente afetada e desmistificada.
Afinal, os manuscritos colocam os estudiosos em melhor posição para, por exemplo, comparar os salmos do
Saltério canônico com o conjunto de hinos helenísticos posteriores encontrados em Qumrã ou ainda poder
melhor estudar das leis da escravatura na Palestina sob o domínio Persa, com base nos papiros de Samaria.
Além de importantes, os manuscritos do Mar Morto causaram grande impacto. Um impacto que tanto se
estendeu para uma forçosa mudança de mentalidade com relação as seitas judaicas do período
intertestamentário. Ou seja, a partir dos rolos de Qumrã passou-se a entender mais e melhor sobre, por
exemplo, os essênios, fariseus e saduceus. Por outro lado, o impacto dos rolos também foi sentido no que se
refere a visão do movimento apocalíptco e o seu lugar na história dos últimos tempos da religião bíblica, pois
até então considerado um fenômeno tardio e de vida curta no judaísmo (entre o séc II e I), o apocalipcismo
passou a ser aceito como surgido a partir do século IV a.C.
Como se terá a oportunidade de ler mais adiante, os rolos do Mar Morto também foram, e
ainda são, também muito importantes para uma melhor compreensão do Novo Testamento. Nunca
deixando de lado a prudência nas comparações, pode-se dizer que muitas são as semelhanças nas
crenças, instituições comunitárias, vocabulário e formas literárias dos qumramitas e dos cristãos

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Arqueologia

primitivos.
Se pegarmos, por exemplo, os apóstolos João e Paulo, encontrar-se-á muitas semelhanças entre seus
escritos e os rolos. Em João encontramos, entre outros pontos, o dualismo-luz-trevas que também
aparece freqüentemente nos textos de Qumrã. Enquanto em João 12:35-36 lemos "Jesus lhes disse:
Por pouco tempo a luz está entre vós. Caminhai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos
apreendam: quem caminha nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes luz, crede na luz, para
vos tornardes filhos da luz", no rolo de "Regras da Comunidade" na coluna 3 linha 19 a 25, lê-se que
"Na morada da Luz... Nas mãos do Príncipe das Luzes está a dominação de todos os Filhos da Justiça
— eles caminham nas vias da Luz - e nas mãos do Anjo das Trevas está a dominação dos Filhos da
Perversidade - e eles caminham nas vias das Trevas. E é por causa do Anjo das Trevas que se dividem
os Filhos da Justiça... e todos os espíritos de sua parcela tentam fazer cambalar os Filhos da Luz, mas o
Deus de Israel e o Seu Anjo de verdade ajudam todos os Filhos da Luz".

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Quanto a Paulo, vemos várias semelhanças entre o livro de Efésios e os rolos "Regra dos Filhos da Luz"
e "Regras da Comunidade". Por exemplo, em Efésios 5:5 lemos "é bom que saibais que nenhum fornicário
ou impuro ou avarento... tem herança no reino de Cristo e de Deus", no rolo "Regra dos Filhos da Luz",
coluna 3, linhas 21-22, lemos "tu purificaste o espírito perverso de grande pecado, para que se mantenha em
vigilância com o exército dos Santos e entre em comunhão com a Assembléia dos Filhos do Céu".
Em Efésios 5:12 temos outro paralelo. Enquanto na carta de Paulo lemos "Vede, pois, cuidadosamente
como andais: não como tolos, mas como sábios", no rolo "Regras da Comunidade", coluna 4, linhas 23-24,
lemos "até o presente, os Espíritos da verdade e de perversidade lutam no coração do homem: eles caminham
na sabedoria e na loucura".
Nesse sentido, pode-se dizer que os manuscritos nos alargam, e mais um vez, clareiam nosso visão
ainda um pouco embaçada do início do cristianismo e sua teologia. Apresentados como um dado novo e
original, os manuscritos do Mar Morto, estão avalizando ou sugerindo um cristianização das idéias
qumramitas, sem, todavia, sugerir que este tenha derivado da seita de Qumrã.
Importante em todas as área do estudo bíblico, os manuscritos do Mar Morto tem feito uma verdadeira
revolução nos conceitos e idéias pré-estabelecidas sobre um período de cerca de 2.000 atrás, onde emergiram
o cristianismo e o judaísmo rabino, como poderemos ver a seguir.

Ajuda na Compreensão do Panorama do Judaísmo do Séc. I


Entre outras coisas foi a partir deles que se passou a ter uma nova concepção da mentalidade
intertestamental, bem como do seu modo de viver e fé. Por outro lado, se teve de rever conceitos, como por
exemplo o que se apregoava a respeito da língua falada nesse período. Segundo foi apurado nos manuscritos,
três quartos dos textos, foram compostos em hebraico, desmentindo a idéia de que o aramaico tivesse
superado o hebraico e ocupado o lugar de língua principal dos judeus da Palestina no século I a. D.
Outra coisa relevante dos manuscritos para o judaísmo é através do rolo de Levítico e de outros
fragmentos bíblicos e parabíblicos foi constatado que, sendo eles redigidos em escrita paleo-hebraica, no

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Arqueologia

século II a.C., havia judeus palestinos que continuavam a usar a escrita hebraica original em textos do
Pentateuco. E mais, esses rolos e outros fragmentos bíblicos encontrados nas cavernas, mostram que, na
época em que os manuscritos foram escondidos, ainda não existia uma versão única e canonizada das
escrituras, mas sim versões diferentes dos mesmos textos que circulavam entre os palestinos.

Ajuda na Compreensão do Panorama do Novo Testamento


Apesar de todas essas revelações do manuscritos do Mar Morto a cerca do judaísmo serem
surpreendentes, é a relação dos documentos com o Cristianismo e o Novo Testamento que mais se ocupam a
atenção do estudiosos. Afinal, várias idéias e práticas descritas nos rolos encontram eco nas idéias e práticas
atribuídas aos primeiros cristãos
Uma das mais importantes dessas semelhanças diz respeito à refeição sagrada. Refeições comunais são
descritas em detalhes em passagens de dois rolos, o "Manual da Disciplina" e a "Regra Messiânica", onde,

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antes de comer, um sacerdote oficiante deveria das graças pelo pão e pelo vinho. No Novo Testamento uma
cena semelhante a essa é narrada pelos primeiros cristãos: antes da sua crucificação, Jesus tomou o pão e o
vinho da ceia pascal, os abençoa e distribui aos seus discípulos para que o comam (II Co 11:23-26).
Outra afinidade entre os manuscritos e o cristianismo é o batismo. Para os cristãos primitivos, o batismo
é um sinal de entrada na fé, talvez até um pré-requisito, aparecendo no Novo Testamento como algo quase
imprescindível para a salvação ("Quem crer e for batizado será salvo"). Em alguns rolos, principalmente no
"Manual de Disciplina" existe menção do batismo, no qual é dito que penitentes teriam se negado a entrar
nas águas. Somando-se a isso tem-se as cisternas de água achadas em Khirbet Qumrã.
Somando-se ao batismo, tem-se a passagem do livro de Atos 2:44-45, que diz que os primeiros cristãos
viviam juntos "(...) e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos,
segundo as necessidades de cada um". Da mesmo forma, o "Manual de Disciplina" prescreve que aqueles
que entrassem na comunidade deveriam ter suas riquezas colocadas num fundo comum para uso de todos os
membros.
Tendendo a compartilhar do mesmo cenário cultural e histórico, os manuscritos do Mar Morto e o Novo
Testamento, demonstram preocupações idênticas, terminologias e idéias teológicas correlatas. Um exemplo
clássico é a expressão "Filhos da Luz", utilizada para designar o virtuoso povo de Deus, que é encontrada
tanto em alguns dos rolos quanto em um dos evangelhos (Lc 16:8). Além do título específico "Filhos da
Luz", o dualismo luz/trevas aparece tanto em alguns dos rolos quanto em alguns dos livros do Novo
Testamento, principalmente no evangelho e nas epístolas de João. Outro exemplo é o modo como tanto os
textos do Novo Testamento e os rolos utilizam as escrituras judaicas para justificar suas crenças.
Outro dado a se considerar é que tanto na maior parte dos rolos como no Novo Testamento, encontra-se uma
crença num Deus intimamente envolvido com os assuntos humanos. Um Deus que pune e recompensa seu
povo como Ele acha que deve. Entre Deus e a humanidade, entretanto uma miríades de anjos agiam como
intermediários. Anjos aparecem em vários rolos; auxiliam os humanos na batalha, guiam suas ações e
cultuam a Deus. Já no Novo Testamento, da mesma forma, os anjos aparecem. Em Lucas 1 e 2 os anjos tanto

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Arqueologia

anunciam a vinda de Jesus como também dizem a Maria e José o que fazerem. Já em Apocalipse, os anjos
tanto cultuam a Deus como executam as punições de Deus contra os ímpios.
Outra semelhança a se considerar é a existente entre a doutrina dos "Dois Espíritos" encontrada tanto no
Manual de Disciplina como em algumas passagens do Novo Testamento. De acordo com o "Manual de
Disciplina", as almas humanas são guiadas por dois seres espirituais ou anjos: o espírito da luz tenta guiar a
humanidade pelos caminhos da equidade e é quem governa sobre todos os indivíduos justos; já os Espírito
das Trevas, tenta as pessoas a agirem iniquamente e tem total domínios sobre os iníquos. No Novo
Testamento, Satã aparece diversas vezes como um espírito que tenta as pessoas a praticar o mal, chegando a
tentar inclusive a Jesus (Mt. 4:1-11). Também 1 Jo. 4:16, fala do espírito do anticristo que, sendo oposto ao
espírito da verdade, opõe-se ao povo de Deus e tenta desviá-lo do bom caminho.
Interessante também é o fato de que tanto os cristãos primitivos como os autores de alguns dos rolos
buscarem alternativa ou substituição para o sacrifícios de sangue. Para os primeiros cristãos a alternativa foi

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o vicário sacrifício e morte de Jesus, que, diz Hebreus, foi um sacrifício por excelência que tornou obsoleto
todos os demais. Nos rolos, essa mesma idéia aparece quando se lê no "Manual de Disciplina" que um
indivíduo virtuoso poderia redimir os pecados do outro através do seu próprio sofrimento. Percebe-se que
tanto o "Manual de Disciplina" como o "Novo Testamento" beberam da imagem do "servo sofredor" de
Isaías 52 e 53.
Encerrando, podemos citar o rolo encontrado na Caverna 4 e batizado de "O Messias Perfurado", onde uma
figura messiânica, geralmente identificada como o "Príncipe da Congregação", aparece agindo como
salvador. Seu papel era liderar as tropas de Israel na batalha contra as nações e recuperar a glória nacional de
Israel. Um papel mais ou menos semelhante é atribuído a Jesus no Novo Testamento - em sua segunda vinda
ele viria com os exércitos do céu para executar a vingança contra os inimigos do povo de Deus (Mateus 24,
Apoc. 9).
Todos esses paralelos existentes entre os manuscritos do Mar Morto e o Novo Testamento servem,
entretanto, para demonstrar um ponto importante: eles atestam inequivocamente que diversas tradições
cristãs registradas no Novo Testamento estavam "em casa" no universo do judaísmo antigo. E mais,
mostram-se impregnados pelo rico legado literário de uma era de crise do povo judaico. Uma era que
ocasionou e marcou os estágios iniciais do cristianismo.

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Arqueologia

Curso de Arqueologia

A arqueologia pesquisa os vestígios deixados pelas antigas civilizações com o objetivo de


estudá-las. Para a realização de seu trabalho o arqueólogo estuda o material encontrado em
campo, em escavações, estuda documentos, obras de arte e quaisquer outros documentos
referentes a povos que viveram no passado. O levantamento dos locais a serem pesquisados
também é função do arqueólogo. As esculturas, ferramentas, fósseis e todo material coletado é
levado, pelo profissional, para análises de laboratório e depois de classificado é destinado a
preservação em museus.
Para o exercício da profissão o arqueólogo precisa de contato direto com áreas diversificadas
de conhecimento como é o caso da geologia, biologia, antropologia, física, história e sociologia.
As matérias básicas do curso são história geral e matemática. O aluno começa, desde cedo, a
realizar trabalhos de campo, com coletas e análises, tendo como suporte, matérias como, por
exemplo, anatomia comparada e antropometria, que ajudam o aluno na análise dos ossos e a
determinar certas características físicas de uma civilização antiga. Os alunos de arqueologia
aprendem também a fazer restauração de materiais encontrados nas coletas que muito
provavelmente apresentam danos causados pelo tempo.

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Os arqueólogos podem trabalhar em sítios arqueológicos, como fiscais do patrimônio
cultural, cuidando para que não aconteçam desmatamentos, escavações ou poluição da área. Se
optar pela área de pesquisa, o profissional faz levantamentos bibliográficos sobre os
conhecimentos produzidos na área e também trabalha com mapas e fotos aéreas de locais que
podem se caracterizar como sítios arqueológicos.
Se o interesse do arqueólogo for mais voltado para um trabalho de campo, ele pode se
dedicar ao salvamento arqueológico que consiste na coleta de dados, análise de locais onde
serão realizadas obras, realiza escavações e encaminha o material encontrado aos museus que se
dedicarão à sua preservação.
O curso tem duração mínima de três anos, a titulação é de arqueólogo e não há regulamentação
obrigatória para o exercício profissional.

CONCLUSÃO

―Deus tem conservado dois registros históricos de Seu relacionamento especial com o ser humano e
de Suas revelações a este. A Bíblia, escrita originalmente em pergaminhos e chegada, com grande
dificuldades, às nossas mãos, é um deles. O outro registro é constituídos pelas ruínas e os idiomas
desconhecidos dos países de onde veio a Bíblia.‖9
A arqueologia tem, em pelo menos duas dezenas de anos de investigações topográficas e
arqueológicas, recolhido os fios da vida primitiva escondidos sob milhares de montículos que ocultavam
antigas cidades e , com eles, teceu um painel que concorda perfeitamente com as vidas e os acontecimentos
em torno das personagens citadas pela Bíblia.
A arqueologia tem trazido à luz dos nossos dias milhares de evidências ―externas‖ que confirmam
as narrações das Escrituras.

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9
“Suplemento Arqueológico”, na Bíblia Thompson, por G. Frederick Owen, D.D., Ed. D.
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Arqueologia

BIBLIOGRAFIA

A Bíblia — Palavra de Deus ou de Homem? Tatuí: Torre de Vigia.


CROUSE, Bill. 1992. "Noah's Ark: Its Final Birth," Bible and Spade 5:3, pp. 66-77.
Estudo Perspicaz das Escrituras, 3 vols. Tatuí: Torre de Vigia.
GOLB, Norman. Quem Escreveu os Manuscritos do Mar Morto? Rio de Janeiro, 1996,Editora Imago.
LIVINGSTON, David. 1993. "The Date of Noah's Flood: Literary and Archaeological Evidence," Bible and
Spade 6/1: 13-17.
MARTÍNEZ, Florentino García. Textos de Qumran. Petrópolis, 1995, Editora Vozes.

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MILLARD, Alan. Descobertas dos Tempos Bíblicos. São Paulo: Editora Vida.
ORRÚ, Gerusário F. Os Manuscritos de Qumran e o Novo Testamento. São Paulo, 1993, Edições Vida
Nova.
POUILLY, Jean. Qumrâ. São Paulo, 1992, Editora Paulinas.
SANKS, Hershel. Para Compreender os Manuscritos do Mar Morto. Rio de Janeiro, 1993, Editora Imago.
SHEA, William. 1988. "Noah's Ark?" Bible and Spade 1/1: 6-14.
UNGER, Merril F. Arqueologia do Velho Testamento. Imprensa Batista Regular.

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